ANTOLOGIA
org. daniel minchoni
DoBurro Edições Maloqueirista segunda edição. 2012
berimba de jesus brunon berkeras bruno pastore caco pontes carolina moreira cena7 dan mabe danilo zamai donanena enivo emerson alcalde freddy gagarin giovanni baffo gegê moreira geraldo ladera jerry batista leila monsegur luciana araújo luís alexandre lobot magrela mc brejeiro do cajado makarrão nast pique priscylla de cássia roberto bieto rocha sammir mauad sinhá sola tinho tché zinho trindade zumi
© BURRO, livro do sarau DoBurro / Org. Daniel Minchoni São Paulo: Edições Maloqueirista / Jovens Escribas 2011 DoBurro 2a edição - 2012 Coordenação editorial Berimba de Jesus / Daniel Minchoni Projeto Gráfico Victor Meira / Daniel Minchoni Capa Vine / Enivo
Edições Maloqueirista edicoesmaloqueirista@gmail.com poesiamaloqueirista.blogspot.com
Jovens Escribas
www.jovensescribas.com.br
“Vamos dar valor a quem trabalha. Vamos dar valor a quem dá murro. O burro é quem merece uma medalha. O burro é quem trabalha. O burro é quem dá murro. O burro é que trabalha de verdade. Bota água na cidade. trabalha na construção. No meu burro não tem dia nem tem hora. Saio pelo mundo fora procurando diversão. Eu sei vocês todos reconhecem Que o burro é quem merece ter no peito um medalhão.” “Você disse que é brabo nascimento Você cortou o rabo do jumento Eu não quero pagamento, nascimento Eu quero é outro rabo no jumento.”
Elino Julião
à rua, minha mãe aos poetas, minha voz ao sola, meus pés ao coletivo 132, meu corpo a todos, minhas partes
quem não guenta joga mário.
Quem vai ler esta merda?
quando idealizei o sarau do burro não pensei que fosse ter esse 9 2009, espírito indomado. de povo de rua. quando comecei a fazer, não sabia nem no que ia dar. quando comecei a formatar fazendo, dar cara a prêmio, não imaginava que, hoje, olhando pra trás, fosse julgar possível essa bagunça organizada. auto gestão. hoje sinto que mais que um espaço pra livre experimentação o sarau se tornou um dos poucos espaços poéticos abertos ao diálogo. o formato sem microfone e sem inscrição, coisa insana em sampaulo, permite que se dialogue uma poesia com outra. simples assim. se um poeta fala alguma coisa que fere firme ou foge, é possível responder na lata. sem deixar a rima esfriar, sem ter que remeter a uma poesia remota, que faltou há 30 minutos atrás. no sarau do burro a lira é pesada, e a resposta direta, sem titubear. quem tem boca fala, quem tem língua vai. a entrada e as palavras são francas. o sarau do burro é vírgula, não é ponto final.
burro drummond de assumpção poeta e doutor em literatura
10 José Henrique Calazans
tu
co come do come tud o tu com
e aca e acaba e aca caba e aca
beça eça abeça
o coletivo 132
Quem vai ler esta merda?
o coletivo 132 é uma obra nascida da amizade selada entre 11 ( jerry), os amantes da arte – portanto, poetas – jerry batista marina josefovic (zumi), marcelo d’alia (tché), marcus vinícius teixeira (enivo), guilherme provenzano e marília rosa. embalados pelos preceitos do graffiti, eles co-criam com outros artistas e colaboradores um processo que tem origem na vontade de fazer germinar boas ideias, sustentadas por incessantes pesquisas individuais e coletivas, e desemboca na presença de praticantes dos mais variados estilos artísticos na cultura paulista, nacional e internacional. as palavras desse poema são expressas pelos integrantes do coletivo 132 por meio da arte-educação de crianças e jovens, de eventos para exposição de obras próprias e de outros artistas, dos projetos voltados à descoberta, valorização e reconhecimento de talentos, de trabalhos comerciais, de ações fundamentadas em causas culturais, educacionais e sociais – que também permeiam os conceitos, motivos e intenções de suas criações – e do compartilhamento de desafios e conquistas. toda essa empreitada se encerra na colheita de frutos como este livro, oferecido pelas mãos de daniel minchoni. a ele, nosso agradecimento. de coração.
tudo come e acaba
cabe
tudo comeรงa e acaba na cabeรงa ricardo aleixo
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tinho
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opções uns usam a força, outros a fraqueza. os que tomam a decisão correta se fodem!
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em sana realidade. dentro da clínica, a realidade é diferente. a realidade é mais real. mas, nem todos percebem. e esses poucos que percebem. vão perceber que é melhor não questionar.
- a gente não gosta de “galinho de briga”, é bom você se comportar. - “consigliere”, temos um problema. - quando “eu achar” que você está “bem”, poderá nos deixar. - é esse “seu olhar”. - enfermeiro, pode sedá-lo. - é para ele se “acalmar”.
17 burrount gegê moreira
- vai tomar o medicamento? - ou vamos ter que te amarrar?
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d: tché p: zinho trindade
a batalha quantas vezes não me senti um nada, um mísero nada. um cigarro queimando, morrendo lentamente. são nesses momentos que derrubamos o golias que nos habita.
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lobot
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do chico d: brunon berkeras p: danilo zamai
24 do burrot giovanni baffo
domingo não desfira seu veneno em meu terno amarelo se você não percebeu o domingo está belo vamos sair sorrir ao sol vamos olhar pipas no céu vem que esqueço o futebol… lavar o carro a dois fazer churrasco acém vem me alegrar, meu bem.
em dobro ela pensa o que fazer em dobro eu acho que to ficando doido ela é séria em seus contornos eu ainda comemoro os gols do gordo
ela não pergunta por quê, eu não pergunto como mas todos os dias são pra gente. é o suficiente, ponto.
25 do jumento geraldo ladera
eu sofro um pouco ela chega tarde, eu passo o dia morto eu sou pedro, mas ela não é o lobo eu fotografo com celular ela é fotógrafa de lomo ela é lenore, eu sou o corvo eu fui indicado, ela foi eleita pelo povo ela ladra quando eu não mordo ela socorre e eu só corro ela é minha vacina, eu sou o seu soro eu trago prensado, ela deixa ele solto eu sou seu fusca azul, ela é meu soco eu tiro as pedradas que saem do forno ela lança os grooves que me botam torto eu espalho meus tags, ela registra seus logos ela é meu pagamento em dia, eu sou seu suborno ela é toda regata e sainha, eu sou casaco e gorro eu sou seu haikai de 3 linhas, ela é meu poema longo
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27 do jumbaio d: zumi p: caco pontes
tendência se ele tem casa eu moro de aluguel se ele tenta ser doce sou o próprio mel te chama pra beber no bar mais caro comigo, é conhaque fiado e churrasco no bairro é carona no busão, banho de cachoeira carona na estrada, dormir abraçados na esteira escapar à rotina é a nossa diversão. e de uma coisa pode ter certeza, baby: que nesta matilha, eu sou o rei leão!
d: leila monsegur p: priscylla de cรกssia
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quis por querer abrigo, corpo, mĂŁos e calor. quis por querer antes, depois, durante e durante amor. mas vocĂŞ tanto fez, que agora tanto faz.
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do ASNO priscylla de cássia
embora eu tenha acabado de amanhecer meus olhos noite. borboleta despenca no vazio do estômago enquanto versos rabiscados revelam saudade. meu corpo madrugada desperta bocas com segundas e terceiras intenções. beijo o pulso de olhos fechados. esqueço. o excesso exposto por si mesmo. há vontade. filtro os pensamentos por precaução. céu igual contradição e embora eu tenha acabado de amanhecer meus olhos noite.
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sola
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32 doNKEY`S emerson alcalde
atentado poético al. alto. al. aljazira. al qaeda. al qalde olha que louco mano, os muçulmanos estão comemorando e eu ateu não to me conformando não consegui nesse pico deixar meu nome assinado se tivesse lançado seria o pixador mais caçado meu retrato falado ia tá espalhado oferecendo recompensa destacaria na capa da imprensa fugiria sem deixar pista os repórteres falariam: essa obra é de algum esquerdista! refugiado na periferia chamariam a swat e a cia. pra me prender sem provas culpariam o pcc mas quando acontecesse a retaliação não estaria sozinho, estaria com meus irmãos devotos, seguidores que só vão parar quando pixar todas as torres os moleques foram treinados, largados, mal alimentados o sofrimento foi frenético pra se tornar terrorista e cometer o atentado poético e com a gravação de um vídeo feito em celular postaria na internet e assim iria pronunciar: vocês me criaram, me educaram com seus filmes, desenhos e seriados que aqui sempre passaram por isso, borrei sua paz de vermelho o símbolo mais alto, assim como um espelho meu nome lá no alto vai refletir e só assim, pra vocês, eu passo a existir
clichê moderno. nunca deixei saberem dos meus vazios dos espaços em branco do exíguo da minha mente a solidão é um prato cheio para minha dor aprendi desde cedo que tirar amor nos versos é sinal de fraqueza.
minha angústia descrevo em palavras que timbro com sentimentos imaginários tentando passar para quem sente lê minhas utopias e mente conseguir entrar em meu mundo e compreender meu pecado. tachado de calores capricornianos vou buscando a luz que me consuma em estradas onde sobreviventes engolem a fé de quem ainda acorda para descansar nos braços santos que nunca os acolhem como o combinado. busco principalmente a poesia de poeta otário que cansou de ser sozinha pois é clichê poeta ser só triste e solitário. quem mente dizendo o que sente perde a risca do que realmente é errado. - e sabe.
33 DO JEGUE carolina moreira
aprendi com o mundo que sonhos são irreais no denso instante em que parei de sonhar.
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DELE enivo
35 DO ANALFABETO pique
quanto tempo dura a partida entre duas partes? idas e vindas divididas em dívidas de bar doce lar do quinto dia inútil do mês à espera da sobra do almoço e da sorte no jogo o maço amassado no bolso e o café fraco no gosto da boca alheia ao beijo
36 DO BURRICO rocha
antônimo de mauricinho é maloqueiro sinônimo de estelionatário é banqueiro antônimo de favela é condomínio sinônimo de polícia é extermínio antônimo de maconha é pedra de crack sinômino de viciado é piripaque antônimo de americano é iraquiano sinônimo de hipocrisia é vaticano antônimo de israel é palestina sinônimo de ouro branco é cocaína antônimo de adolf hitler é malcolm x sinônimo de mãe chorando é giroflex antônimo de maradona é rei pelé sinônimo de africanismo é candomblé antônimo de alisado é cabelo black sinônimo de pé de pato é pé de breque antônimo de toneladas é mililitros sinônimo de 7 palmos é 9 milímetros antônimo de heavy metal é samba raiz sinônimo de salário mínimo é povo infeliz antônimo de feira preta é fashion week sinônimo de favelado é bolchevique antônimo de emocore é hip hop sinônimo de tiroteio é globocop antônimo de conte lopes é beira mar sinônimo de traficante é super star antônimo de fusquinha é lamborghini sinônimo de kassab é mussolini antônimo de george bush é hugo chavez sinônimo de haibusa é aeronaves antônimo de b.b.c é al jazeera sinônimo de poka grana é muita ira antônimo de duque de caxias é zumbi dos palmares sinônimo de melhorias é tudo pros ares!
37 do tÉcnico quando perde d: enivo p: donanena
introspecção, uma viagem ao eterno ideias póstumas plantadas no velho vaso. enraizadas. frutos frescos de velhos esquecimentos-adubos. a independência da cabeça regada de mentes. naturais mentes. mentem com naturalidade.
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39 DO JERICÓ d: dan mabe p: berimba de jesus
tragédia paulistana jabaquara conheceu conceição que foi apresentada por são judas o qual dizem que é santo os dois com saúde trabalharam na praça da árvore na santa cruz se casaram e foram morar na vila mariana. conceição pariu ana rosa e tudo foi um paraíso, só que conceição conheceu vergueiro que foi apresentado por são joaquim o qual também dizem que é santo. e ela traiu jabaquara na liberdade na cara larga. pra se vingar jabaquara foi a um puteiro e conheceu a sé, que foi apresentada por são bento, o qual, também dizem que é santo. e a sé deu a luz a tiradentes e armênia. jabaquara discutiu com conceição pelas bandas do tietê e injuriado matou conceição afogada. foi parar no carandiru. santana, irmão de jabaquara, ficou com a sé, assumindo ana rosa, tiradentes e armênia, e foram todos morar no jardim são paulo. mas num belo passeio de domingo pela parada inglesa, todos morreram atropelados na linha um azul do metrô, e foram enterrados como indigentes no tucuruvi.
40 do TRABALHADOR de carga zinho trindade
cotidiano, começa o dia, maria e zé levantam às 5 pois é, com fé tomam um café, 2 vezes passado, pra aproveitar o pó, né. molha o pão de antes de ontem amolecido fica, como é o coração pai nosso, ave maria a reza de cada dia meu pai ilumine mais uma batalha da vida um novo dia, mais uma correria beijo nas crianças, a mais velha tá na responsa o ponto tá daquele jeito, o campo tá minado paga conta, pega fila ônibus lotado, imagine o trem lotação também é o vai e o vem atravessando a ponte, observo meus irmãos apertados muitos angustiados, eu tomei meu café e o guerreiro ao meu lado? uns vem em pé, outros sentados da janela que estou, vejo um carro importado uma madame, com um poodle, com um latido bem chato deve estar indo ao shopping, é claro o marido deve ser empresário, ou deputado um senhor acende uma bituca de cigarro o moleque, no farol, ganha seu trocado a prostituta faz seu ponto, não é nada fácil na quebrada, tá moiado os polícia colaram e saíram com o camburão estrumbado sô trabalhador, senhor, leva que é pra cumprir o mandato dei sorte hoje, amanhã pode tá embaçado é época de eleição, quer fazer bonito pros bacana, pra ser o próximo candidato quer limpar a cidade, devia começar pelo outro lado é lá que ficam os safados, colarinho engomado lixo tóxico que explora o busão lotado estou à margem, mas eles que são os marginalizados eu, eu sou um simples trabalhador, ganho o meu suado observando da janela do busão lotado apenas sonho para que esse lixo todo seja mudado e os meus filhos não precisem molhar o pão no café fraco quero ser livre, sentir a leve brisa do meu barraco e não me sentir um escravo, sendo maltratado por capitães do mato que enquadram, matam e são engravatados. observo tudo da janela do busão lotado e apertado é mais um dia de trabalho.
sola
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quem nĂŁo sente dor dilacera lĂngua perde dedos e dentes fica em pedaços anestesiado num corpo-nada. quero minha dor.
.... tirei as facas aumentei e amenizei minha frente olhar antepassado vi o filho de frente encarnei o racho interiorizei esse exú olhar as gravuras e guardá-las e expor um chifre em areté .... 43 do cul d: bruno pastore p: sinhá | bruno pastore
44 DO ANARFA pique
coloque palavras na minha boca seis colheres de sopa cheias de apetite e disfarce. teimosa evidência em fino envoltório de forma quebradiça aparência borra os detalhes apaga o que não encaixa rabisca aquilo que não rasga
45 do inhĂł d: zumi p: berimba de jesus
seria toda noite entre velas teu corpo ressuscitando inexpugnĂĄvel se possĂvel
46 do ruço d: magrela p: cena7
vidro virtual não aguento mais olhar pra tua cara de vidro me irrito, xingo e lembro... essa tela não pesa nada só não a quebro pois sei que vai demorar muito pra te ver ao vivo.
47 DO BESTA freddy gagarin
saúde hoje me deu uma vontade imensa de fumar um cigarro mas eu resisti, tomei uma garrafa de café, dois copos de vodka e uma porção de torresmo e a vontade de fumar passou. fico muito orgulhoso de como eu consigo cuidar bem da minha saúde.
o balsâmico mijo do mendigo de segunda a domingo mesma meta seta e alvo o mundo mudo muda e passa o líquido seca
48 do INGUINORANTE d: makarrão p: cena7
nunca cessa e naquele cantinho o bálsamo curtindo... tem vez que sólido vira e irrita quem frequenta a praça teu lar das épocas de boa praça haja paciência pra entender que a culpa circunda anulando o verdadeiro atingido que deitado em crack e cachaça anuncia quando passa paga mico sendo o mendigo facebook o mais curtido.
caí no pé do pecado. ele veio assim, me olhando de lado. no momento propício levou até o último pedaço. falou de regras, desejos e submissão. entregou um molde menor que meu tamanho. marcou a coxa com dois riscos cruzados. procurei sua voz e seus olhos, silenciaram. virei o corpo, rosto e larguei sua mão. ficamos na intenção de sermos dois.
49 Do dA COR de QUANDO FOGE d: makarrão p: magrela
50 do QUADRÚPEDE d: makarrão p: leila monsegur
tempestade minha invenção, minha criação é você a construção da minha memória a memória da minha pele o esquecimento a saudade dos teus olhos nos meus olhos o instante vazio na minha cabeça as horas que habitam teu nome cada partícula do ar que respiro o labirinto onde caminho final começo confusão és aquilo fora de mim e que só percebo mergulhando nessa tempestade que chamam razão amor você canção cada rocha na praia cada risco na areia te devolve a mim em marejadas me amarrando a tua lembrança como quem perdido em alto mar teme esquecer o aroma da terra.
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jerry batista
54 DO ESTúpido caco pontes
perdizes quase me perdi procurando por ti em ladeiras das perdizes ó, minha flor e diretriz bela e audaciosa como marlene dietrich a última vez que te vi foi na esquina da mtv tomando cerveja encantando todos ao seu redor quando penso em você chego a sentir dó de mim mesmo que ultimamente anda tão só, querendo às vezes algo mais do que apenas conversar e tendo como desculpa cinema cult para comentar quase me perdi procurando por ti em ladeiras das perdizes ó, minha flor e meretriz
yasmim só quero a semana inteira passear contigo na joão cachoeira lá na lorena , yasmim de mãos dadas com minha pequena tão serena yasmim que linda morena sou de yasmim, sim seu novo poema, viajando e surfando , yasmim por todo o sistema com harpas yasmim e oboés minha cantiga diz que és yasmim , ah... yasmim por que tão boa tu és para mim?
55 do teimoso mc brejeiro
yasmim (parte 1) carol ah.. yasmim, ah..ah...yasmim por que por que faz tão bem tão bem pra mim tua auréola tem perfume dourado yasmim é perfumada como talco yasmim, vou me empenhar por você no palco
56 do mulo mc brejeiro
yasmim (parte 2) carol yasmim yasmim é puro teu coração és a menininha da consolação yasmim , yasmim sim yasmim me gusta desfila prada lá na rua augusta yasmim yasmim é puro teu coração é a menininha da consolação yasmim yasmim sim yasmim me gusta desfila prada na rua augusta yasmim é dela um poema sim como sou dela então pego pra mim yasmim
quis ser o teu medo de perca a mudança de espírito ligação entre o ar e a terra quis criar mil artifícios para te segurar nas minhas garras inventar todas as mentiras e você cair nas minhas tramas fazer-te minha para sempre. e na contagem irregular dos meus números mudar as linhas anuais que entrei em contato com tua alma quis que você criasse meu sonho e não fizesse um pesadelo.
57 do perissodátilo carolina moreira
o sabor do âmago na língua. quis de tudo ser teu apelo mais profundo e profano saborear teu sexo com meu desejo insano banhar-me em teu calor suor amargo de mulher fazer-te ser quem quer na carícia de meus braços ignorar teus dramas dar-te todos meus abraços amassos numa noite de frio e luar.
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roberto bieto
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62 do cavalinho buchudo emerson alcalde
oqueelatinha a senhora estava andando pela rua quando caiu o que ela tinha? tonturas, dores, fome, frio? oqueelatinha? não se sabia. ela não dizia o que tinha nossa! você viu? mas o que ela tinha? lá, tinha um cãozinho deitado tremendo de frio. latia, lambia a tia. a multidão parou pra perguntar o que ela tinha o que ela tinha? antes as pessoas não perguntavam o que ela tinha mas agora todos querem saber O QUÊ ela tinha lá tinha si tinha dó tinha ré tinha fá tinha sol tinha PRE tinha mas afinal o que é latinha? uma lata pequena - o antônimo de latão? não! não? não!? a senhora morreu deitada no chão abraçada com a única coisa que tinha; suas latinhas
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cronos como cosmos somos!... ... cromo?... como cromossomos somos...
do tolinho zumi
como cromossomos somos::: como cromo, somos... somos... cromossomos! somos... como? cromo somos?... cromossomos... como somos?... cosmos somos... cosmos cronos?... cronos somos... cromossomos, cosmos somos!... somos cosmos?... cronos s么o... s么o como?... cronos cromos... cronos somos... cromossomos!... como cronos???...
conserve-se não num estacionamento vinte quatro horas gratuito, essa conversa não serve. conserve-se não com a fé de quem sabe até onde a água da pé, e se muda a maré? 64 do pensar morreu um geraldo ladera
conserve-se temos falta de tempo e conhecimento de sobra temos o suficiente em cimento e vontade pra obra temos um retrovisor e espaço pra manobra temos um desfibrilador pra um coração que assopra conserve-se tomem goles, tomem sustos, tomem nota tomem gosto pela cena, tomem com a cara na porta hoje em dia é comprometimento e andar pela corda tantos bambas pra quantas rodas enquanto santas são pelas corjas familiares é o cotidiano conserve-se digamos que a hérnia nesse disco riscado seja devido a desvios posturais que a falta de atitude acarreta. então com tantas retas, queremos curvas para respostas certas, queremos dúvidas teremos obstetras para partos sem luvas não bastam pernas abertas, nós as queremos úmidas.
e quando passar esse tempo qualquer que seja o segundo que eu me perca em seus tempos ignorando os contratempos do mundo
65 do burro de la roqueta c: nast p: donanena
do latim burrus c: nast p: freddy gagarin
motocicleta estava dirigindo a noite, olhei para o retrovisor e vi que vinha uma motocicleta. passados quatro segundos olhei para o retrovisor novamente e percebi que a motocicleta era um fusca com um farol queimado.Â
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68 do manman bourik luciana araújo
sobre o lixo na cidade, o lixo da população sobre o lixo na cidade, o lixo da população. o amor que eu procuro. meu amparo absoluto de estado, de noção, de desconforto. sobre o medo. ai! que susto! e continua o movimento daquela cidade onde todos daquela cidade tinham o mesmo pai! e o caos, e a cor. tudo era tão magnífico e brilhante que o fascínio impera! e esconde todo o esgoto. que corre, que me instiga, e que responde a muitas questões dessa sociedade. tá ventando! uh, meu olho! flutuam edificações recortadas de seu espaço necessário. e fragmentavam realidades particulares, onde o egoísmo cega o amargo, adoça o luxuoso e massageia tantos egos... que a merda fede, e o perfume não anula.
69 do Equus asinus d: sinhĂĄ p: giovanni baffo
em casa de menino de rua o Ăşltimo a dormir apaga a lua
berimba de jesus é poeta, comunicador, editor da revista não funciona e integrante do coletivo poesia maloqueirista. publicou diversos livretos entre os anos de 2001 e 2005, os livros “feito a mão” (independente, 2006), apanágio (independente, 2007) e “encarna” (annablume, 2008). brunon berkeras é mc cogumelado, dj nas horas vagas, ex-graffiteiro e master em web designer de paint brush. bruno pastore nasceu onde a literatura ainda é possível: numa rua num ponto extremo de guarulhos e de lá caminha rumo ao exílio. eremita ancorou no graffiti e na poesia, além de ser pai, educador social e suspeitar profundamente de tais posições. caco pontes é poeta, ator, produtor cultural e ex-estelionatário. pai de martim, autor de o incrível acordo entre o silêncio & o alter ego (annablume, 2008), prepara sensacionalíssimo, a sair pelo selo poesia maloqueirista, faz vocal, percussão, corpo e letras nos projetos musicais arrimo e experimento prosótypo. participa do projeto barrafonda, com a cia. são jorge de variedades. carolina moreira é autora de poesia engavetada, escreve para transformar, sede de degustar, vomitar, experimentar, com voracidade ou doçura, todas coisas que este universo pode oferecer à sua mente que é pura palavra.
70
cena7, como michel prefere ser chamado, se mistura com arte desde os 15, artista plástico, poeta e produtor cultural, agora com 26 é um dos idealizadores do sarau do fórum de hip hop, é do coletivo povo (pessoas organizadas vencem opressão) mas, foi sempre pelas ruas com sprays e latex que trilhou seu caminho.
Burrus Estudiantesis
dan mabe é artista plástico, já expôs seu trabalho em lisboa, londres, frankfurt, é integrante do coletivo 132. atualmente seus trabalhos tratam de temáticas ligadas ao cotidiano urbano. danilo zamai é poeta e escritor guarulhense que se envereda pelos caminhos da literatura. donanena é marina cintra, paulistana caótica expulsando pensamentos de 28 anos de sobrevivência. enivo é graffiteiro e faz parte do coletivo132. emerson alcalde é ator, arte-educador, dramaturgo e poeta. morador de cangaíba. membro da cia extremos atos. freddy gagarin é agente funerário, cantor de rap e escritor de poesia nas horas vagas. tem 27 anos e mora em guarulhos, sp. giovanni baffo só curte poema curto. gegê moreira (sub.comandante-chefe dark scouts) cursou gestão ambiental, escreve, pinta e faz esculturas de bambu, escoteiro-punkado das ideias, desenvolve projetos de educação ambiental e produz hortaliças orgânicas. geraldo ladera. 30 anos. natural desaguador de ideias. distribuidor de assuntos aleatórios. tonto. ivan de oliveira (mc brejeiro do cajado) é brasileiro. rapper. escritor. poeta. networking. cuidador. dramaturgo. diretor e empresário da finivan. financiamento e investimento, empréstimos desconto em folha de pagamento. 14/08/1967 são bernardo do campo.
jerry batista - artista plástico e arte-educador especializado na linguagem do graffiti brasileiro. leila monsegur. artista multidisciplinar, mergulha no universo onírico a partir dos elementos sinestésicos das diferentes vertentes artísticas. integra o coletivo de performance multidisciplinar “membrana experimental fiat lux”. luciana araújo é atriz e cineasta. desenvolve um projeto de livre improvisação com poesia no grupo marco nalesso e a fundação. integrante do coletivo de performance urubus e do projeto de livre improvisação entre música e pintura: cuidado tinta fresca. formada em cinema pela faap. luís alexandre lobot é graffiteiro, desenhista , operador de frequências sonoras e diretor da turma da janela no sarau do burro. magrela é uma intensa paulistana. makarrão é artista de rua e arte educador. nast adora papéis de diversas cores, texturas, épocas, e os trata como se fossem palavras. e assim, cria suas poesias visuais, misturando o brasil e o mundo, sonho e realidade. pique é carango sá. priscylla de cássia é fotógrafa, idealizadora do projeto gracias a la vida.
rocha é rapper do grupo da zona leste de são paulo q.i. alforria e da banca audácia, escreve desde dos 12 anos de idade e tem como características a brincadeira com palavras e rimas que misturam política e malandragem das ruas. samir mauad, paulistano, 32anos, casado, reservista, escritor de rua, poeta, repentista, pichador, há 8 anos escreve odeie seu ódio e ou ame seu amor. sinhá quer o sagrado das ruas e a calma de estar em si. longe da frieza dos mundos. amor por tintas e palavras. sola tem como livro de cabeceira: escolha o título ( jovens escribas, 2006). tinho ou walter nomura, tem 38 anos, formado em artes pela faap, faz graffiti desde pequenininho e ainda teima em continuar. tché é graffiteiro e faz parte do coletivo132. zinho trindade é poeta, ator e mc free style. herdou a tradição familiar na pesquisa e divulgação da cultura popular afrobrasileira. autor do livro de poesias tarja preta, participou do pelas periferias vol 4 e hip hop: dentro do movimento. sua banda é zinho trindade e o legado de solano e seu programa é hip hop cozinha. zumi é graffiteira e faz parte do coletivo132.
71 do magarac
roberto bieto, 30 anos, formado em publicidade e propaganda (caspér líbero). integrante do coletivo urubus e do cuidado tinta fresca e do grupo marco nalesso e a fundação.
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doempaca
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do mata-burro _________________________
tu
co e aca come e acaba do come e aca beรงa tud o caba eรงa tu com e aca abeรงa tudo come e acaba cabe tudo comeรงa e acaba na cabeรงa ricardo aleixo
Até chegar, digamos, a este SARAU: volto ao BURRO. E volto ao grito. MINCHONI solta o verbo no começo do evento. Jumento chamando para a luta. A turma, ali, sentada no chão da sala da galeria. Todos pipocam poemas, contículos. Trechos de romance. Tem quem cante. Tem quem só abra os ouvidos. Da alma. Feito eu. Fiquei quieto, ali, no primeiro - e único encontro. Gosto de acompanhar a arte de cada um. Conhecer novos corações à flor. Até que o MINCHONI me convocou. Aí eu disse uns cantos. Cisquei uns ciscos. E fiz outros amigos. Gosto disto: de ir fazendo companheiros de guerra. Como bem faz o MINCHONI. Nessa militância, nessa dança. marcelino freire, ESCRITOR