DO SER POETA A PALHACADA poema processo de performance OU registro de daniel minchoni DE SER PALHACO A POÉTICA
SELO DOBURRO, 2019
ITAÚ CULTURAL E INSTITUTO SINGULARIDADES
DO SER POETA A PALHACADA poema processo de performance OU registro de daniel minchoni DE SER PALHACO A POÉTICA
Daniel Minchoni Orientador: Mestre e Doutor
João Cezar De Castro Rocha
SELO DOBURRO, 2019
ITAÚ CULTURAL E INSTITUTO SINGULARIDADES
dedicado à memória dos que são uma ilha de edição
RETRATO QUASE APAGADO EM QUE SE PODE VER PERFEITAMENTE NADA I Não tenho bens de acontecimentos. O que não sei fazer desconto nas palavras. Entesouro frases. Por exemplo: - Imagens são palavras que nos faltaram. - Poesia é a ocupação da palavra pela Imagem. - Poesia é a ocupação da Imagem pelo Ser. Ai frases de pensar! Pensar é uma pedreira. Estou sendo. Me acho em petição de lata (frase encontrada no lixo) Concluindo: há pessoas que se compõem de atos, ruídos, retratos. Outras de palavras. Poetas e tontos se compõem com palavras. II Todos os caminhos - nenhum caminho Muitos caminhos - nenhum caminho Nenhum caminho - a maldição dos poetas. III Chove torto no vão das árvores. Chove nos pássaros e nas pedras. O rio ficou de pé e me olha pelos vidros. Alcanço com as mãos o cheiro dos telhados. Crianças fugindo das águas Se esconderam na casa. Baratas passeiam nas formas de bolo... A casa tem um dono em letras. Agora ele está pensando no silêncio líquido com que as águas escurecem as pedras... Um tordo avisou que é março. IV Alfama é uma palavra escura e de olhos baixos. Ela pode ser o germe de uma apagada existência. Só trolhas e andarilhos poderão achá-la. Palavras têm espessuras várias: vou-lhes ao nu, ao fóssil, ao ouro que trazem da boca do chão. Andei nas pedras negras de Alfama. Errante e preso por uma fonte recôndita. Sob aqueles sobrados sujos vi os arcanos com flor! V Escrever nem uma coisa Nem outra A fim de dizer todas Ou, pelo menos, nenhumas. Assim, Ao poeta faz bem
Desexplicar Tanto quanto escurecer acende os vaga-lumes. VI No que o homem se torne coisal, corrompem-se nele os veios comuns do entendimento. Um subtexto se aloja. Instala-se uma agramaticalidade quase insana, que empoema o sentido das palavras. Aflora uma linguagem de defloramentos, um inauguramento de falas Coisa tão velha como andar a pé Esses vareios do dizer. VII O sentido normal das palavras não faz bem ao poema. Há que se dar um gosto incasto aos termos. Haver com eles um relacionamento voluptuoso. Talvez corrompê-los até a quimera. Escurecer as relações entre os termos em vez de aclará-los. Não existir mais rei nem regências. Uma certa luxúria com a liberdade convém. VIII Nas Metamorfoses, em 240 fábulas, Ovídio mostra seres humanos transformados em pedras vegetais bichos coisas Um novo estágio seria que os entes já transformados falassem um dialeto coisal, larval, pedral, etc. Nasceria uma linguagem madruguenta, adâmica, edênica, inaugural Que os poetas aprenderiam - desde que voltassem às crianças que foram As rãs que foram As pedras que foram. Para voltar à infância, os poetas precisariam também de reaprender a errar a língua. Mas esse é um convite à ignorância? A enfiar o idioma nos mosquitos? Seria uma demência peregrina. IX Eu sou o medo da lucidez Choveu na palavra onde eu estava. Eu via a natureza como quem a veste. Eu me fechava com espumas. Formigas vesúvias dormiam por baixo de trampas. Peguei umas idéias com as mãos - como a peixes. Nem era muito que eu me arrumasse por versos. Aquele arame do horizonte Que separava o morro do céu estava rubro. Um rengo estacionou entre duas frases. Uma descor Quase uma ilação do branco. Tinha um palor atormentado a hora. O pato dejetava liquidamente ali. Manoel de Barros
CÂNTICO NEGRO Vem por aqui” — dizem-me alguns com os olhos doces Estendendo-me os braços, e seguros De que seria bom que eu os ouvisse Quando me dizem: “vem por aqui!” Eu olho-os com olhos lassos, (Há, nos olhos meus, ironias e cansaços) E cruzo os braços, E nunca vou por ali... A minha glória é esta: Criar desumanidades! Não acompanhar ninguém. — Que eu vivo com o mesmo sem-vontade Com que rasguei o ventre à minha mãe Não, não vou por aí! Só vou por onde Me levam meus próprios passos... Se ao que busco saber nenhum de vós responde Por que me repetis: “vem por aqui!”? Prefiro escorregar nos becos lamacentos, Redemoinhar aos ventos, Como farrapos, arrastar os pés sangrentos, A ir por aí... Se vim ao mundo, foi Só para desflorar florestas virgens, E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada! O mais que faço não vale nada. Como, pois, sereis vós Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem Para eu derrubar os meus obstáculos?... Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós, E vós amais o que é fácil! Eu amo o Longe e a Miragem, Amo os abismos, as torrentes, os desertos... Ide! Tendes estradas, Tendes jardins, tendes canteiros, Tendes pátria, tendes tetos, E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios... Eu tenho a minha Loucura ! Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura, E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios... Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém! Todos tiveram pai, todos tiveram mãe; Mas eu, que nunca principio nem acabo, Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo. Ah, que ninguém me dê piedosas intenções, Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: “vem por aqui”! A minha vida é um vendaval que se soltou, É uma onda que se alevantou, É um átomo a mais que se animou... Não sei por onde vou, Não sei para onde vou Sei que não vou por aí! José Régio
LISBON REVISITED (1923) Não: não quero nada Já disse que não quero nada. Não me venham com conclusões! A única conclusão é morrer. Não me tragam estéticas! Não me falem em moral! Tirem-me daqui a metafísica! Não me apregoem sistemas completos, não me enfileirem conquistas Das ciências (das ciências, Deus meu, das ciências!) — Das ciências, das artes, da civilização moderna! Que mal fiz eu aos deuses todos? Se têm a verdade, guardem-na! Sou um técnico, mas tenho técnica só dentro da técnica. Fora disso sou doido, com todo o direito a sê-lo. Com todo o direito a sê-lo, ouviram? Não me macem, por amor de Deus! Queriam-me casado, fútil, quotidiano e tributável? Queriam-me o contrário disto, o contrário de qualquer coisa? Se eu fosse outra pessoa, fazia-lhes, a todos, a vontade. Assim, como sou, tenham paciência! Vão para o diabo sem mim, Ou deixem-me ir sozinho para o diabo! Para que havemos de ir juntos? Não me peguem no braço! Não gosto que me peguem no braço. Quero ser sozinho. Já disse que sou sozinho! Ah, que maçada quererem que eu seja de companhia! Ó céu azul — o mesmo da minha infância — Eterna verdade vazia e perfeita! Ó macio Tejo ancestral e mudo, Pequena verdade onde o céu se reflecte! Ó mágoa revisitada, Lisboa de outrora de hoje! Nada me dais, nada me tirais, nada sois que eu me sinta.
Deixem-me em paz! Não tardo, que eu nunca tardo... E enquanto tarda o Abismo e o Silêncio quero estar sozinho! Álvaro de Campos
Aonde quer que eu vá, eu descubro que um poeta esteve lá antes de mim. Sigmund Freud
O palhaço não é tirano nem miserável mas se veste de tiranias e misérias para mostrar tiranos e miseráveis Luan Luando
Eu posso ser o palhaço dos meus leitores se me der vontade, mas nunca dos poderosos. Roberto Bolaño
Longe é um lugar que existe, dentro da gente. eu estou sempre me procurando e sempre que eu me encontro eu descubro que mudei de endereço Bianca Ramoneda
A POÉTICA DE SER PALHAÇO OU A PALHAÇADA DO SER POETA. 2018, reveillon. Hora das promessas e projeções para um ano no mínimo amedrontador. Primeiramente um funk: esse ano, pra curar urucubaca, eu vou pular 7 catracas1. Segundamente: Marighella2. Terceiramente: mar na goela. Agora vamos ao que interessa. Neste ano seria preciso organizar minha pesquisa. Se é que é organizável. Pelo menos no campo conceitual, porque na minha cabeça está evidente e muito bem, obrigado. “não sei onde eu tô indo, mas sei que eu tô no meu caminho”3. Pois bem, a promessa pro ano foi de elaborar quem sabe uma peça performance ou um mestrado informal pra documentar onde tenho pisado. O corpo do poeta palhaço, a performance do poeta palhaço ou algo do tipo: A PALHAÇADA DO POETA OU A POÉTICA DO PALHAÇO. Um jogo de cena. Logo, logos, como bom poeta palhaço em plena expansão do eu e inquieto com os moldes da universidade branca eurocêntrica cistemática macha e afins, mesmo em estudos de descolonização do pensamento (ou decoloniais pra usar um termo fresh), achei que não caberia minhas vontades. Fazer uma tese informal pareceu caminho mais sensato aos meus anseios, mesmo sabendo que em algum momento precisaria ou precisarei enquadrar, minha vontade é de primeiro escrever como deve ser pra depois vir com a tesoura do desejo, desejo de mudar imposto pela metodologia científica. Posto isso, e sem xurumelas, pus olhos e talvez punhos pra isso. Missão que não me parece fácil. Elegi alguns mestres informais. Consultei-os e -as e minha ideia não foi muito bem recebida, acho, de primeira. Muitas vezes, não querer enquadrar, pode inclusive ser taxado de preguiça ou de medo da academia, aconselhou alguém que consultei. Caminho que gostaria de evitar na atual conjuntura onde um antiacademicismo tacanho é um traço de uma bárbarie tosca, terraplanista, até diria, pra evitar mencionar nomes. Enfim, terminei entrando nessa especialização meio sem querer querendo ou sem ter a real dimensão do que estava fazendo (pensava ser um curso de extensão) e eis-me aqui, bicho de 7 cabeças. “Não discuto com o destino, o que pintar eu assino”4 do mesmo Leminski, poeta sempre sabe que “distraídos venceremos”5, ou não, já que o fracasso está sempre esperto. Quando dei por mim, estava aqui. E por que não resgatar essa vontade, por que não dar ao público o poeta palhaço versão tese-tensão-tesão? Seus conceitos e trunfos, seus truques, quimeras e quetais?
1 MINCHONI, Daniel: Funk das 7 catraca, [2017]. Disponível em: https://www.youtube.com/ watch?v=rSMxzT10qBY, acesso 10/10/2018. 2 Carlos Marighella, (Salvador, 5 de dezembro de 1911 – São Paulo, 4 de novembro de 1969) foi considerado o inimigo número um da ditadura e lutou ferozmente até ser vitimado por ela. Carlos Marighella (Mano Brown, Racionais Mcs)” (ATENÇÃO: está no ar a Rádio Libertadora.) (temos presente em nossos estúdios: Carlos Marighella) Carlos Marighella / essa mensagem é para os operários de São Paulo/ Da Guanabara, Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Rio Grande Do Sul / Incluindo os trabalhadores do interior/ Para criar o núcleo do exército de libertação / Carlos Marighella, Carlos Marighella/ Carlos Marighella (Carlos Marighella) o poder pertence ao povo / (Carlos Marighella) nosso lema é unir as forças revolucionarias / (Em qualquer parte do Brasil, compatriotas de todas parte / Podem surgir dos bairros, das ruas, dos conjuntos residenciais / Das favelas, mocambos, malocas e alagados / (O dever de todo revolucionário é fazer revolução) / Cada patriota deve saber manejar sua arma de fogo / (Carlos Marighella) aumentar sua resistência física (Carlos Marighella) / O principal meio para destruir seus inimigos é aprender a atirar / (Carlos Marighella) / Carlos Marighella, atenção, atenção, atenção // A postos para o seu general / Mil faces de um homem leal (vamo! Oi!) / A postos para o seu general / Mil faces de um homem leal // Protetor das multidões / Três encarnações de célebres malandros / De cérebros brilhantes / Reuniram-se no céu / O destino de um fiel, se é o céu o que Deus quer / Consumado, é o que é, assim foi escrito / Mártir, o mito ou Maldito sonhador / Bandido da minha cor / Um novo Messias / Se o povo domina ou não / Se poucos sabiam ler / E eu morrer em vão / Leso e louco sem saber / Coisas do Brasil, super-herói, mulato / Defensor dos fracos, assaltante nato / Ouçam, é foto e é fato a planos cruéis / Tramam 30 fariseus contra Moisés, morô / Reaja ao revés, seja alvo de inveja, irmão / Esquinas revelam a sina de um rebelde, óh meu / Que ousou lutar, honrou a raça / Honrou a causa que adotou / Aplauso é pra poucos / Revolução no Brasil tem um nome / Vejam o homem / Sei que esse era um homem também / A imagem e o gesto / Lutar por amor / Indigesto como o sequestro do embaixador // O resto é flor, se tem festa eu vou / Eu peço, leia os meus versos, e o protesto é show / Presta atenção que o sucesso em excesso é cão / Que se habilita a lutar, fome grita horrível / A todo ouvido insensível que evita escutar / Acredita lutar, quanto custa ligar? / Cidade chama vida que esvai por quem ama / Quem clama por socorro, quem ouvirá? / Crianças, velhos e cachorros sem temor / Clara meu eterno amor, sara minhas dores / Pra não dizer que eu não falei das flores // Da Bahia de São Salvador Brasil / Capoeira mata um mata mil, porque / Me fez hábil como um cão / Sábio como um monge / Antirreflexo de longe / Homem complexo sim / Confesso que queria / Ver Davi matar Golias / Nos trevos e cancelas / Becos e vielas / Guetos e favelas / Quero ver você trocar de igual / Subir os degraus, precipício / Ê vida difícil, ô povo feliz // Quem samba fica / Quem não samba, camba / Chegou, salve geral da mansão dos bamba / Não se faz revolução sem um fura na mão / Sem justiça não há paz, é escravidão // / Revolução no Brasil tem um nome // A postos para o seu general / Mil faces de um homem leal / A postos para o seu general / Mil faces de um homem leal // / Nessa noite em São Paulo um anjo vai morrer / Por mim e por você, por ter coragem de dizer // discurso de marighella: Todos nós devemos nos preparar para combater / É o momento para trabalhar pela base / Mais embaixo pela base / Chamemos os nossos amigos mais dispostos / Tenhamos decisão / Mesmo que seja enfrentando a morte / Por que para viver com dignidade / Para conquistar o poder para o povo / Para viver em liberdade / Construir o socialismo, o progresso / Vale mais a disposição / Cada um deve aprender a lutar em sua defesa pessoal / Aumentar a sua resistência física / Subir ou descer / Numa escada de barrancos / A medida que se for organizando a luta revolucionária / A luta armada, a luta de guerrilha / Que já venha com a sua arma / (Atenção) / Muito obrigado Marighella pela sua participação (Carlos Marighella) / Muito obrigado Carlos Marighella / Carlos Marighella / Eh Marighella agradecemoslhe pela sua participação para o Brasil / Que com estes princípios se pode obter as mudanças / Carlos Marighella hoje vem para falarmos a cerca da conferencia da Orla / Marighella que impressoes voce teve da conferencia / Marighella em que outro aspecto você considera importante / Entre os vários temas tratados na conferencia da OLAS? / Marighella e sobre a questão da tomada do poder pelas forças revolucionarias / Também discutida na OLAS? / O que você tem a dizer a respeito? / Marighella, passando a outro ponto / Muito obrigado Marighella pela sua colaboração com o nosso programa! / https://www.youtube.com/ watch?v=5Os1zJQALz8 3 Cita ou recita Raul. SEIXAS, Raul: No fundo do quintal da escola, O dia em que a Terra parou [1977]. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=Ty2YCVOXjz4, acesso 10/10/2018. ⁴ Leminski, Paulo. Caprichos & Relaxos. Ed. Brasiliense, São Paulo, 1983 ⁵ Leminski, Paulo. Distraídos Venceremos. Ed. Brasiliense, São Paulo, 1987.
SUJEITO-TEMA:
A POÉTICA DE SER PALHAÇO OU A PALHAÇADA DO SER POETA. A performance de poesia falada e seus ecos nas pessoas. Não pretendo me alongar na minha objeção em relação ao termo objetotema. Prefiro muito mais adentrar e alongar em meu corpo de pesquisa com minha pessoa-tema. Pretendo-me para estudo de caso e para tanto vou me enquadrar no campo conceitual das artes comparadas, traçando paralelos (será?) entre as linguagens e suas diluições nos campos da performance, poesia, clown e stand-up poetry, bem como nas possibilidades criativas que surgem desse hibridismo de conceitos. Essa pesquisa, pretende partir de um campo mais intuitivo, como descrito na carta anterior. No entanto, gostaria de dar uma margem pra possíveis processos de estudo posteriores, reunindo material, conceitos e pensamentos acerca do tema e elaborando uma crítica direcionada ao meu trabalho que pra efeitos de contextualização darei um breve resumo de minha história. Sou natalense do Ipiranga, ou paulistano de Natal. Minhas influências poéticas até os 17 anos foram escolares regulamentares ou informais da música: samba e rap, em especial, talvez algo de mpb. Aos 17 anos, mudo pra Recife onde tenho um contato muito potente com a cultura popular, primeiro através da capoeira, mas logo mudo novamente pra Natal, aos 18, onde fico por mais 7 anos e dou início à minha pesquisa de clown e poética. Inicialmente me interesso pela poesia, fascinado pelas culturas populares (as cantigas de roda, coco, capoeira, chulas e afins), muito influenciado pelos repentistas e emboladores de coco como performers. O vigor dessas manifestações me causa tão forte impressão, que consciente que seria no mínimo ridículo um paulistano se amatutando pra escrever cordel, ou mesmo entendendo que, de certo modo, um cordel apaulistanizado soaria como rap, opto por extrair a performance e o improviso dessas formas de manifestação da cultura. Daí, o interesse pela arte do clown e do improviso, baseado na “expansão do eu” foi natural. Vestir a menor máscara do mundo pra se chocar com a sociedade e provocar e depois optar pela máscara menor ainda - apenas a alcunha de poeta - me pareceram processos naturais e derivados desse período de ruptura na minha vida. Então, desde 1998 atuo e crio como poeta performer e desde 2000 como clown, e o tempo todo com essas figuras borradas na minha pesquisa, sem considerar muita distinção, embora intuitivamente expondo mais em ambientes de literatura e teatro e performance que de circo propriamente. Apenas pra situar,
hoje organizo e participo de diversos eventos que promovem a poesia e palavra e meu corpo atua sempre nessa expansão do “eu” pesquisada nas técnicas de palhaço. Pretendo desenvolver conceitualmente na pesquisa. O formato inicial proposto seria produção teórica com base em pesquisa bibliográfica, mas partindo disso e à deriva de minha intuição, surgiram desdobramentos, que tornaram mesmo um projeto de intervenção em diálogo com teóricos da área (programação, espetáculos, seminários etc.) e uma produção criativa, expressa através de um poema, como concretização de conhecimentos obtidos no curso, que gostaria de apresentar numa microperformance/aula com o conteúdo da pesquisa a ser apresentado de forma poética e palhaça em um sarau dialógico de complemento da pesquisa. Também é resultado dessa pesquisa a possibilidade de um livro objeto registro de performance do poeta palhaço e sua escolha gráfica no decorrer da formação. O resultado vem a seguir, bicho de 7 cabeças.
A EXPANSÃO DO
E xU
A crise do Poeta Palhaço: a cena é de formalidades: tão risível pra ser poeta quão cabeçudo pra ser palhaço rosário de dúvidas, trancelim de incertezas: É possível pensar um cavalo pelas cordas que o amarram? Tanto por pensar que essas amarras são o que definem? Quanto por pensar na possibilidade que no desenho? Imagem é tudo? E cede? O que importa de fato? nos anteversos é o É. ancestralmente, o ser, mais que o “ou” o “e”.
Imagem é tudo? E cede?
Ser poeta e poeta e performer poeta e palhaço poeta e escritor poeta, o póéta já é
perfomance é o saber-ser, paul zumthor UM ESTADO DE SER, sem definição precisa
e nisso todas as possibilidades
Todos os caminhos - nenhum caminho Muitos caminhos - nenhum caminho Nenhum caminho - a maldição dos poetas. Todos os caminhos - nenhum caminho Muitos caminhos - nenhum caminho Nenhum caminho - a maldição dos poetas. já diria com o barro, o Manoel, de Barros
?
ser vagal é contra liberal ou neo-liberal? a
L I B E R D A D E
ANT ES POESI A
é a prova dos 9s,
QU E
RI T UA L, QUANTO
RITMO, RITO.
É
TÃO
fora.
SAC RO PROFANO.
Disposto demais pra ser
TA N TO QUANTO
LÁ LÔ
Um tratamento de choque pra espiritualidades arredias o paradigma do trauma: cultura: arte ciência religião é
TERRITÓRIO DE AUTORIDADE, POSSESSÃO
A DERROTA DO PATHOS DO MYTHO PEDE NOVA EMPREITADA O PALHAÇO COMO AUTORIDADE DA DESCONSTRUÇÃO A IMANTIZAÇÃO DO POETA NO PALHAÇO SEM NARIZ
~ A EXPANSAO DO EU
obsolesc(i)ência programada: o rito da ampliação da consciência nada é definitivo, tudo está em jogo (acaso) e desse jogo se tiram as teorias: movimento, improvisação, repetição, repetição, repetição, rerepetição, encaixe
o tempo da piada é o tempo do poema e tudo isso são os nossos tempos o poeta domina o tempo das coisas seu público conduz suas imagens como projeção que provoca transformações A POESIA FALADA o amor pelo kaos e pelos kosmos
kaos amor kosmos = kaosamorosmose,
diria o poeta performer Shima relêdamelindró
ANIANTÔNIANTÔNIANA U M
T R A T A D O
P R A
V O C Ê S
Ivre é neoliberal? o poeta ILIvro de vro s o li bra som
e ed livr s ou bra som
e livr s ou sobra vro s li de ou sobra e d
Talequal essa, por exemplo?
A contra fórmula. A reformulação.
Xikilin aldeia benedita parati cantú vertis (cantos vértices) Chifruda norma Xikilin aldeia benedita Roca Volta irê vitrine arcos drummond Xikilin aldeia benedita isto é o vazio
(
)
isto é o desmonte (d e s m a n c h e)
função forma Entre FUNÇÃO e FORMA não existe distinção. FORMA e FUNÇÃO são a MESMA COISA. INDIVISÍVEIS. A COISA EM SI. E não mais nem menos. Abaixo do CÉU e acima do CHÃO. A linha tênue de fusão é o que conta. O ponto de fricção. Onde se formam as arestas. No estado do ser. \\
A linguagem é o ponto em si. A linguagem é o ponto. A linguagem é. A linguagem. \\
Uma nova linguagem forma de conteúdo e sofrimento
o poeta palhaço trilha o caminho perverso: O CAMINHO DO ENFRENTAMENTO SOCIAL. Vestir a roupa que pra mostrar as mazelas da sociedade. E isso é tocar na própria ferida, pois o poeta como o palhaço nunca são isentos. Em todas as suas possibilidades: brincante, exús e exús-mirins, erês, hotxuás. Pelos menos os bons e verdadeiros não, nunca. Mostrar as amarras que lhe cabem pra sociedade
não lhe
cabe
vestir a carapuça. Mostrar a sociedade carapuça que te veste. Ser a própria carapuça da sociedade quando mostrar-lhe a face, a própria face espelho disforme e folgada que te veste. A cara da sociedade é a cara puça. A cara do poeta é a prov a. A do palhaço a prov ocação. Tudo junto e misturado. Bateu, tomou. Terra deu, terra come. Quem embalou que cuide. Nenhuma submissão. A gente é agente da mudança. SENTIPENSAR. Pensar com o corpo e agir. Provocar o ruído da inquietação. As fissuras na estrutura social. É noise.
Sempre mais amplo que a monocultura Nunca lutar contra a própria natureza.
Ser.
Seremos complexos assim.
Permacultura. Permear e ser permeável. a troca de farpas, o atrito faz com que a sociedade ande. Romper com padrões tateando conceitos e preconceitos. DIGESTÃO CULTURAL. Antropofagia.
Regurgitofagia.
Vazio agudo e sempre cheio de tudo3. POR UMA DIETA VARIADA a quebra do paradigma da maçã. A sedução se dá pela pele, pelos pelos, pelos poros.
3
Vazio agudo ando meio cheio de tudo. Paulo Leminski
Porosidade de contato. Amorosidade. Animosidade. A idade do ser palhaço. O próximo passo, tirar o nariz e virar poeta. O palhaço velho, o poeta. A menor máscara do mundo na face, a menor máscara do mundo no mundo: o nome. A popular brincadeira. A alcunha crachá pra se ser ainda mais quem se é. FADADO AO FRACASSO GLORIOSO. Monumento à derrota dos fetiches capitais, sociais, culturais. A pantomina da esfinge demorando ensimesmada ao ver passar outrens. O ponto de contato, o de mutação, o outro. A mudança. A dança em si.
Farofa de presente de natal. Tudo junto e misturado. Farofa geral, uma beleza. TUDO É TUDO. Tudo é Florestidade. Restauro necessário de sempre: trocar a roda do trem em movimento: saber o que se é. Saber o que se vê. Saber se ouvir e ouvir os outros. Tudo que se move, movimenta. Saber ler com rapidez o movimento das coisas, os balés da tormenta. SAPIÊNCIA. Quem viu a onça não está mais aqui.
É preciso ouvir a onça, disse o índio.
Gerar experiência e DEIXAR O SILÊNCIO FALAR POR SI.
O TEMPO DA PIADA. A CONVICÇÃO DO CAMINHO.
M E R G U L H A R
N A
E ST R A N HEZ A
À VONTADE E MÚLTIPLO como pessoas e plantas
KATINGUEIRA - vai florir? - será? - a terra é um banco de sementes - nada nada. - molhei demais? De menos? Filosofo sobre o vasinho e a colheita fazendo uma mea-culpa. É possível florescer no caos? A linguagem ainda é o que nos possibilita? Ou limita? Seca campo de pesquisa? Abre novos espaços. Infantilmente se pode desertificar ou agroflorestar? Semeadura. Cavalgadura. Sou cavalo de exú. Roberto Piva Provocar como vocação. Sem a origem bíblica da palavra. Perseguir o novo tem desses percalços. Cavalgar no lombo do tempo. Perdido, por hora. Também vai saber.
TUDO VOLTA PRO CENTRO DA TERRA. A travessia está no sangue. Nada é inato. Em si em finda. Não, jáinda. Coletividade no criar.
A N C E S T R A L I D A D E.
não há criação que não coletiva. TUDO é coletivo. Nações são florestas. Nada se inicia na gente. Também vai saber. Mas os nossos vazinhos podem alimentar a terra. É preciso estar em constante estado de semente.
O MISTÉRIO é a maior ancestralidade. De onde vem? Da mesma semente? Desde os primeiros. ARTE PALHAÇA, ARTE POÉTICA. ARTE É SINCERIDADE. SINCERICÍDIO. Seja o que for seja você mesmo. Arte uma forma de empreender radicalidade. Seja o que for seja original. Personalidade. Personalidade, é o que mais importa independente de humildade. E se você tem de sobra pode contar com a minha amizade. rpw Também vai saber. “O fracasso e o sucesso são impostores. Ninguém fracassa tanto como imagina. Ninguém tem tanto sucesso como imagina.” Rudyard Kipling
tu
co come do come tud 0 tu com tudo come
e aca e acaba e aca caba e aca e acaba
beça eça abeça cabe
“tudo começa e acaba na cabeça” Ricardo Aleixo
“tudo começa e acaba na cabeça” Ricardo Aleixo
E NO NÃO DITO QUE DEUS É DEUS.
ARTE É O QUE É.
Não sei onde vou, mas vou com minhas pernas e penas. a poética de palhaçar é ser o que se há.
EU NÃO CAIBO EM MIM A PALHAÇADA DO POETA É DESE N S I M E S M A
A b
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R.
AUMENTAR.
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SOMOS O QUE SOMOS porque somos bichos sociais. SOMOS já inclui MUITOS e TODOS. SÓ É POSSÍVEL SER SENDO COLETIVO. Responder a história com a própria historicidade. U B U N T U . Rainha
GINGA.
Nzinga. KALUNGA.
EXU é o rito do riso do povo
preto. Quer dizer que só quando surgiu o nariz vermelho o povo preto sorriu? Douglas Yesus Arte de provocar. E os povos originários? Também? HOTXUÁ é a sabedoria de uma sociedade que se sabe risível. Nenhum totem não é risível. Oferta e demanda. Mudar
imaginários, imaginar. E o povo mesmo? A cultura popular? Antes do nariz vermelho não se ria dos
BRINCANTES?
poeta palhaço irmanados poeta exu, como diria Nelson Maca. Hotxuá. As imagens que se formam na poesia se formam no corpo,
O sacerdote do riso. O bruxo do riso. O feiticeiro do riso. O espírito da poesia. Krahô, povo do riso no tocantins.
QUEM RI, NÃO TEM RAZÃO BRANCA, TEM JUÍZO. QUEM RI DOS PODERES.
Kalunga: o lugar da razao:
a forca que transbordou o vazio. Razao lugar. Lugar rito. Lugar ritmo. Lugar. nenhum
Profano é meu templo. Pois meu templo é amplo. Meu templo é todo canto. A espiritualidade de todo lugar. Meu corpo é meu templo. Meu corpo é meu lar. Meu lar é onde meu corpo consegue estar. E mais, onde meu corpo ecoa. Onde meu pensamento voa. Repercute, percussiona. Registro de performance. Exemplar de performance. Registro é o que está no meu corpo. Em todos os corpos. Registros de performances. Exemplares de performers. Sabedoria espacial. Tridimensionalidade. ORALIDADE. Sabedoria do corpo. O corpo da voz. A vociferação, a voz fera solta por todos os cantos, de todos os jeitos. O mistério, o segredo. A diferença entre os dois. O exercício da vida, exercício da invenção: E no lugar de OU: O GRANDE POETA E. outro registro, o da soma. Excluir pela soma. Tudo que se acumula é tecitura.
“A memória é uma ilha de edição” wally salomão A s s i m e t r i a s
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d e s n i v e l a m e n t o s .
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UMA COISA NÃO É MAIS A MESMA COISA SE O PERCURSO NÃO É MAIS O MESMO, SE O TEMPO NÃO É MAIS O MESMO, SE A COISA NÃO É MAIS A MESMA.
SÊ.
Pensamento espiralado. A ciência antes da escrita. FILOSOFALARES. A consciência do todo também. Pensamento fala. A função do poeta, do griot, Filosofia urgente e diária. do palhaço, do brincante, Sabeciência do povo. do hotxuá, do exu. De ouvido, de boca, de corpo todo.COSMOVISÃO, COSMOGRAMA.
Musoni, kala, tukula, luvemba. ESPIRALA: o ainda não visto, o nascer do sol, o cume o pino, a se pôr. O ciclo que se recicla e vem de outro jeito sempre sendo o mesmo. A reinvenção em ciclos. DIKENGA DIA KONGO. Perigoso pensar em algo como bom ou como mal. Bom e mal. Amarelo preto vermelho branco. A A A
DANÇA DANÇA DANÇA
DA DAS DA
MORTE. CABAÇAS. KALUNGA.
Na horizontalidade aprendemos sobre o mundo. Na verticalidade aprendemos sobre nós. Sol solo. Solo sol. As raízes no entre. Sol e Solo enraizados pelo meio. A inversão do olhar pra extremos. Se há algo que precisa religar são as relações entre pessoas.
N’ BA KISSE ( ) DUALIDADE
TONAL
EEU EXU EUU TECNOLOGIA DE ENCRUZA
identidade indígena. acabocaram – encantamento – arte kopenati posso ser quem você é sem deixar de ser quem sou. Consciente do Coletivo. Posso viver sua experiência sem deixar de ser eu.
PRESENÇA. A importância do momento. Olha o momentoooo. . . passou. passou.
Neste plano e tempo. ARTE KRAHÔ. HOTXUA. O sacerdote do riso.
O palhaço natural não tem nariz vermelho.
O palhaço é semeadura. Ritual poético. R i t m o d e v i d a. Rito vital. Dia-adia. Persona poética. Estado de espírito. Irremediável. Irredutível. A EXPANSÃO DO EU. A construção da identidade. Decolonialidade do pensamento e dos corpos. Descolonização A reinvenção do EU. EU ESTADO DE ESPÍRITO, EU ESTADO DE PULSÃO. O EU INDOMADO PELO ESTADO. EU CONVICTO.
poder / / / profundidad
o silêncio dá conta? A ausência da escrita. O silêncio da escrita. Isso dá conta? Uma folha seca? A sombra da folha seca?
AUTOR A U T O R IDADE
C E R CA S E R CADINHO
O respeito é ancestral. Na base, o RESPEITO é fundamental.Nelson Maca
Fala mais alto? ESCUTA MAIS ALTO. Me sinto oca por dentro. Todos meus ancestrais reunidos dentro de mim. Minha Aldeia. OCA nunca oca. Tenho que cuidar dessa casa de quem veio antes. Dessa reunião tribal dentro do meu peito. Nas minhas costas e cabeça.
TEMPO - TEMPLO
EGO CÔMICO Pelo fim da cultura do CEP. Catraca, espetáculo e prédio.
M I G R O “Isso
é
o
verdadeiro
C O M I G O . ministério
da
cultura.”Alembergh
Quindins
EU INSTITUTO, EU CENTRO CULTURAL. Todos somos. “Alfanje sementes Rupturas reflexos Travessias interiores Corpo, meu quilombo Haikai oferenda” (Indícios, Neide Almeida – Nós, 20 poemas e 1 oferenda)
um dúbio, de minha parte:
Alforje porto Migra comigo Atravesso meu sangue Corpo ilha nunca estanque esfinge oferenda
PROCURO UM POEMA MÁQUINA GERADORA DE ANGÚSTIA PRA ARTISTAS GANHAREM SENTIDOS E PREENCHIMENTOS NA VIDA.
PARADIGMA DA AUSÊNCIA E DA POTÊNCIA.
MÁQUINA REGULADORA DE PONTOS COMPLEXOS.
PONTOS DE TENSÃO.
DE ATENÇÃO. “Favela é de Baco” Jaílson Silva HABITUS. Campo social. Capitais Sociais, econômico e simbólicos. Interiorizar a exterioridade E exteriorizar a interioridade. A predisposição pra não gostar nos faz criar subterfúgios morais. PARADIGMA DA POTÊNCIA. Lucha simbólica. Campo simbólico. LINGUAGEM. Novas formas de dizer e de tensionar.
“Ouvir o que os movimentos querem dizer com o repertório que trazem” Neide Almeida
N Ã O
S U B M E T E R
improviso é ferramenta de gestão de conflitos. conhecimento espiralado. vivência. repertório improviso. perspectiva da ignorância. contexto social experiência radical. O mestre ignorante de RANCIERE.
observar pra quê? absorver
?êuq arp ravresbo
revrosba
riscos aleatórios. caos desordenado. desorientação criativa.
Sou porque somos. Por que pensamos como pensamos? Por que agimos como agimos? Por que somos como somos? Por que porquês? Pra que porquês? Pra que pra quês?
AUTOPOIESIS PODER PROCURA POETA POETA PROCURA PODER fazer poesia virar romance. Poesia POP. Poesia popular. Um diapasão anacrônico. Digital. Somos filhos de sufistas. É PRECISO CORAGEM PRA PENSAR. FALO PORQUE VOCÊ ME ESCUTA. Curadoria é diferente de tutoria.
Comunalidade.
João tinha razão: Nosostrearmos.
Sentipensar.
VIVIR CORAÇONADO “não adianta mudar o conceito sem mudar o paradigma”Neide Almeida Artistas de linguagem. Linguagem binária. Alg0r1tmo. Poesia quântica, computação quântica. A máquina parou. O futuro é uma câmara de gás. O que valida? O que te valida?
Pensamento com prazo e prazer de validade.
TEORIA AFETIVA. Conservação, transformação, complexo. Cultura ontogênica e/ou filogênica. “O indivíduo afeta o sistema. E o sistema afeta o indivíduo”Humberto Maturana A democracia é uma obra de arte. Sempre exposta. à fraturas. Minmese • Techné • Poiesis. Adaptação: o meio afeta o indivíduo e o organismo só afeta o que o transforma. Acoplamento estrutural. Existencialismo. ERREI FEIO. ERREI BRUTO.
“O museu é uma escola. O artista aprende comunicar. O público aprende fazer conexões.” Luis Camnitzer
Arte é a moldura?
“Quando se deixa de ser original é quando se encontra algo novo.” Harrel Fletcher / Miranda July
“O que você faria pra que sua família, vizinhos, amigos e colegas visitassem sua casa para conhecer uma obra de arte contemporânea?” MUAC em tu casa
VIVER É CONHECER.
Extrair é diferente de observar. NÃO CAIR NA TENTAÇÃO DA CERTEZA. Lidar com qualitativo e Subjetivo (experiência) em relação ao que é objetivo (experimento). Trazerpraperto.Especialmenteosseusesuas. Poesia útil. Restauração de afetos. I l h a
e
e r o s ã o .
M O S ( Ç ) S O R O C A .
PISA NO CHÃO UM PERIGO: E PLANTA NA MENTE.ESQUECIMENTO D I Á L O G O. Arte dialógica. Diálogo existe? Diálogo é boca? Não. Diálogo são os olhos? Não. Diálogo são os dedos? Não. Diálogo é o que se dá entre. No entreaberto, no entre tudo, no entre sem bater e no entretanto também. Por que não? Diálogo é entre quantas pessoas? “Uma? Duas? Dez? Cem? Milágrimas, sinta o milagre”Alice Ruiz É entre pessoas? Só?
O Nariz, a máscara, a expansão do EU em se despir do que se projeta, a provocação: “tudo começa e acaba na cabeça”Ricardo Aleixo mas sempre percorrendo o corpo todo, vermelho como o nariz, o verso, o reverso, a inversão da lógica do jeito de fazer. Um poeta vem de antes do antes. Do fundo profundo do ser, da era pré-gutenberg. Escrever é dar vida à imagens. Imprimir é só documentar. O registro é a vida. Impressão do próprio corpo. Tinto sangue. Pôr em movimento as palavras é fazer da POESIA ESPORTE NACIONAL. Dar corpo ao poema é enfrentar o descrédito ad infinitum, a romantização do ser objetivo.
A BUSCA ABSURDA DO ERRO. A BUSCA DO ERRO COMO META,
ERRORISMO POÉTICO, O EQUÍVOCO COMO VOZ.
FAZER SE FAZ FAZENDO. ERRANDO É QUE SE VIVE. ERRANDO QUE SE APRENDE. SE APREENDE. SE ARREMEDA. “EXPERIMENTAR O EXPERIMENTAL”WALLY SALOMÃO
desorientações: explicações possíveis: com vistas a atingir a EXPANSÃO
DO EU, a proposta é um corpo erro poético como corpo provocação inverso e transgressão trans versão de imagens, equívoco voz rumando ao poeta de antes, através do fazer experimental o ouvir canal. Ouvir catalisador. Ouvir pra reunir novamente em torno da fogueira nas rodas dos devires.
REVER LEITURAS VÁLIDAS – vá pra grécia. ANTIGA. mente. jáinda? J Á I N D A . Não se fazem mais ANTIGAMENTES como FUTURAMENTES. Michel Melamed já não se fazem mais
FUTURAMENTES
O melhor tempo é aqui.
como
ANTIGAMENTES.
O presente é agora.
JÁGORA . A ÁGORA DO AGORA .
A abertura do tempo e espaço.
VER-RE VALIDAR LEITURAS – volte da grécia, mente ANTIGA. jáinda? Bárbara mesa, Aprender Fazendo. Fazer ruptura. Fazer construir. Fazer ruir. Grandes Problemas. Como desenhar trabalhos de um jeito que os seres humanos amam? Problemas Complexos. Problemas. Complexos. Tirar o que não é trabalho do trabalho. Tirar coisas. Muito simples. Só o que você precisa e tudo que você precisa.
TUDO E SÓ.
CONHECIMENTO É PRA COMPARTILHAR: RESPONSABILIDADE HUMANA.
Vocabular a mudança. Vocabulário É P A R T E D A I D E I A .
VOCÊ NÃO EXISTE. AGORA VOCÊ EXISTE. Campo intuitivo e pragmático. Indissociável. Empírico falar. Você precisa de algo, conte a alguém e aja. Vida em sociedade não é sobre todo mundo fazer tudo. Mas alguém tem que carregar o piano. Acometido de uma certa medida de TRISTEZA . não tem fim... P r o f u n d a. Melancholia. “No fundo profundo do peito. Esse fruto apodrecendo a cada dentada” Duda Machado
P. S . o . S . P
insegurânsias e medos. Como criar uma linguagem pra documentação e registro do próprio trabalho sem perder as características de invenção? Como criar documentação pra o registro do trabalho sem perder a natureza própria e dimensão da invenção de linguagem? DIVER G E N T E. MISSÃO: o que se está a criar com isso?
NÃO NEGOCIÁVEL: SE ADAPTAR. Não, nunca. “Não, não vou por aí! Só vou por onde Me levam meus próprios passos...” José Régio AssiMetria de sentipensares. Marginais de elite. Mirada Equivocada. Turva. OMNIA EST. pertenço e sou pertencido. Se o outro se move eu me movo junto. Forma e conteúdo não se separam. Forma é conteúdo. Homologia. Cultura da negativa. A unidade parte da dupla. Criar a diferença. A diferença entre Caçar e Coletar. Sistema e método. Ou É.
Momento relato: uma fase da vida eu achava que era POETA, mas descobri que era PROCURA. CURIOSO talvez seja a PALAVRA. INVESTIGADOR talvez seria um ofício mais justo, oficial. BUSCA é meu nome. “longe é um lugar que existe, dentro de você” “eu estou sempre me procurando e sempre que eu me encontro eu descubro que mudei de endereço” Bianca Ramoneda FRASE PRA PENDURAR NUM COLAR: O oCoU é mais perto da mão que do coração.
PHALÁCIA. ECOS DO ÓCIO. “É como se de repente a ampliação do olhar fizesse com que a paisagem ganhasse contornos de obras de arte” Janelas d’Orsay - NINGUÉM O - Ocu é mais - ? O O O
que que que
sobra? permanece? falta?
A KASA DA MÃE D’ÁGUA -RDENTE. Um furo no tempo. “E nessa loucura de dizer que não te quero. Vou negando as aparências, disfarçando as evidências.” Chitãozinho & Xororó. MEMENTO. Olha um momento . . . PASSOU. Memória do afeto. A festa de formatura. Um furo no tempo da memória. A JANELA COMO MEDIADORA DA ARTE. A arte como mediadora da vida. I M E D I A Ç Õ E S . Idéias novas vêm de ideias velhas. INDISICANÁLISE, os saberes indígenas na psicanálise. Capoeira balançou deu rolê e voltou a jogar. Nosso cérebro é igual cebola: diversas camadas? Não, é de chorar? “Descascando cebolas, eu pensei em você. Chorei, Chorei.” Michel Melamed A HIERARQUIA CRIA O ÓDIO. Esse não é meu papel: a receita do bolo não é o bolo. A experiência é que constrói. Aquilo que dói nunca deixa de ser novidade. Nem que seja o riso. O riso de outrem. Se você vê tudo, você não vê nada.
O erro. O Equívoco. Alzheimer dos tempos (a modernidade). Só nos resta esquecer. Aquilo que nem sei que nem sei. Aquilo que sei que não sei. O que sei. Ou o que sei. Aquilo que sei. Que não sei. Aquilo que nem sei. Que nem sei. Memória – vazinho vazio – revisitar. InconsCiente “reconsolidação” da memória.
Pode? Pode. Memes conceito. “Aonde quer que eu vá, eu descubro que um poeta esteve lá antes de mim.” SIgmund Freud
“Aonde quer que eu vá, eu descubro que um MEME esteve lá antes de mim”, Like Freud Stones. Bradicárdio. A vanguarda do Atraso. DISFORIA TARDIA DÉLIKOS -ATIVAS ALTERN Pq Pra Quê? KORTÉX
COLUNA sustentação mais flexível “Tudo é uma questão de manter. A mente quieta. A espinha ereta. E o coração tranquilo.” Walter Franco “A cadeia (da produtividade, também) é um lugar tão ruim que nem quem merecia estar lá merecia estar lá.”Artur Omar
Amor de matrix não sai do chat. Código binário contrapondo
ao crossfit do conhecimento. Viver é ir lá. Conhecimento é vida. Presença. Estar é ser. Serestar.
EST ( ) PO ( ) POL ( )
( ) ÉTICA ( ) IHTICA ( ) NDA
“O palhaço não é tirano nem miserável mas se veste de tiranias e misérias para mostrar tiranos e miseráveis” Luan Luando “Não foi esse país que me prometeram”? “Eu posso ser o palhaço dos meus leitores se me der vontade, mas nunca dos poderosos.” Roberto Bolaño Cultura da bolinha. Formar gente que olhe nos olhos. O buraco na pedra, o tímpano da terra, a conversa com o mundo. Gente que gosta de inventar. Que gosta de desatar nós. “O bom é criar. Quem cria, gosta. Quem não gostou, paciência. Pois bem, quem gostou, gostou. Gosto de criar. Quem cria nunca se acaba.” Seu Espedito Seleiro
“Toda criança tem o dever de brincar”Alembergh Quindins “Nó encanta e desencanta” Dona Toinha “Criar dentro da propriedade com pouca terra dá ração pro animal e o manejo” Zé Artur Aroeira, Angicos. Uma aqui, ota lá, ota lá, aí da fruito. O bárbaro que destrói, homenageia. Tropogún. Gramão. Sítio Tabuleiro. Reis do Couro. Araripe. Babaçual. O vento com saudade de mar. Quem é esse homem? O homem que tece a teia dos significados. Mãe D’água, talhados, encantados. VER-RE REVER.
Arte toska. Formação em ferro. Exu, suporte em arenito. Azagaya. A ignorância permite. Tuiuiu. Damiana. Ponte do castelo. Encantado. Olho d’água. ISSO NÃO EXISTE. AGORA EXISTE. “O OPERÁRIO DO AFETO”7 tu iu you TU YOU IU TO YOU IU “Aquilo que a gente chama de casa é um quarto de brinquedos” Alembergh Quindins
A linguagem, a poesia, o sonho. A nossa causa é uma brincadeira. O jogo. Poeta Procura, poeta encontro. A criança. O encantado. O brinquedo. A brincadeira. DOCES BÁRBAROS. O medo do psiulênpsiu. Deixar o silêncio chegar antes. Deixar o silêncio vazar. Deixar o Vazio chegar antes. O ciúme. O cume.
T R A N S P O F A G I A.
Baderna: substantivo feminino PEJORATIVO • PEJORATIVAMENTE: 1. situação em que reina a desordem; confusão, bagunça. 2. divertimento noturno; boêmia, noitada. 3. conflito entre muitas pessoas; briga, rolo. 4. POR METONÍMIA grupo de pessoas desprezíveis; corja, súcia. Origin: ⊙ ETIM segundo Antônio Soares, do antr. Marieta Baderna, dançarina it. que esteve no Rio de Janeiro em 1851, provocando "um certo frisson " Similar: confusão, patuscada, súcia, alvoroço, bagunça, BALBÚRDIA, barafunda, desordem, desorganização, distúrbio, miscelânea, mistura, pandemônio, perturbação, rebuliço, tumulto, bambochata, bandarrice, beberronia, berzundela, boêmia, borga, brincadeira, bródio, comedela, comezaina, divertimento, farra, festa, festança, folga, folgança, folguedo, folia, franciscanada, funçanada, funçanata, função, funçonata, galhofa, galhofada, galhofaria, gandaia, gaudério, gáudio, gebreira, groma, guinalda, opa, pagode, pagodeira, pagodice, pândega, pangalhada, papazana, paródia, pepineira, ramboia, ramboiada, rapioca, rega-bofe, regalório, reinação, reinata, suciata, troça, bando, cacaria, cachorrada, cáfila, cambada, canalha, canzoada, caterva, corja, farândola, malta, mamparra, matilha, matula, matulagem, parranda, partida, quadrilha, récua, saparia, sequela, ralé, Opposite, arrumação, calma, coordenação, desconfusão, disciplina, método, ordem, ordenação, organização, preceito, quietude, regra, regulamento, sossego, tranquilidade. 1
Vale atentar para a Origin Etimológica: A palavra que hoje define a ausência de regras surgiu no final do século 19, quando uma companhia de dança italiana veio à então capital do Império do Brasil, o Rio de Janeiro. A viagem era uma forma de manifestação contra a perseguição politica: ocupada pela Áustria, a Itália mantinha como forma de protesto entre os revolucionários a decisão de não promover a vida artística enquanto a ocupação durasse. Parte dessa companhia, a bailarina Marietta Maria Baderna, filha do médico e músico Antônio Baderna, teria buscado o Brasil como exílio em 1849. Talentosa, logo conquistou uma legião de fãs, admiradores tanto de seus passos de dança quanto de seu espírito rebelde e contestador. Inovadora, ela foi alvo de críticas ao introduzir elementos do lundum (dança afrobrasileira praticada por escravos) entre os passos da dança clássica - em meio a uma sociedade conservadora e escravista. Maria Baderna esteve no Rio de Janeiro em 1851, provocando "um certo frisson", de acordo com o dicionário Houaiss. O termo "baderna" está associado aos seus admiradores, chamados de "os badernas", que entoavam o nome da musa ao final de suas apresentações. O coro era mal visto pela sociedade da época, que associou o barulho e a paixão incontida dos fãs a algo ruim.
Segundo o dicionário Michaelis, mito é uma palavra de origem grega (mythos) que tem os seguintes significados: 1. Fábula que relata a história dos deuses, semideuses e heróis da Antiguidade pagã. 2. Interpretação primitiva e ingênua do mundo e de sua origem. 3. Tradição que, sob forma alegórica, deixa entrever um fato natural, histórico ou filosófico. 4. Exposição simbólica de um fato. 5. Coisa inacreditável. 6. Enigma. 7. Utopia. 8. Pessoa ou coisa incompreensível. 2
PARA UM CIDADÃO NAS NUVENS Quem falará o que não deve? Se os poetas estão de greve? querem um pouco de atenção reles migalhas do seu pão Quem colocará fogo na neve? Se os poetas estão de greve querem um pouco de afeição reles migalhas do seu cão Quem flutuará em plomo leve? Se os poetas estão de greve? querem um pouco da tensão reles migalhas do seu chão Quem fará do eterno breve? Se os poetas estão de greve? querem um pouco de aflição reles migalhas do seu não Quem fará o que não deve? Se os poetas estão de greve? Quem falará o que não breve? Se os poetas estão de neve? Quem colocará fogo na greve? Se os poetas estão de leve? Quem flutuará na greve? Se os poetas estão de breve? agora um suinguizinho pra vocês deve breve leve neve greve leve neve breve breve greve neve leve pão cão não pão
não não cão não
chão pão chão chão cão chão
SEMANA DE ARTE BADERNA uma proposta política e poética pra 2022
_________________________________ PROGRAMAÇÃO - retire suas credenciais _________________________________ SEGUNDA-FEIRA (manhã) - (café da manhã artistas e frutas saudáveis) pauta aberta: QUEIMANDO NA FOGUEIRAS DAS VAIDADES. almoço com artistas (tarde) pauta aberta: A ARTE É O BOBO DA CORTE DA ARTE: A ARTE DE RIDICULARIZAR A ARTE. jantar dançante com artistas (noite) pauta aberta: QUEM FALARÁ O QUE NÃO DEVE SE OS POETAS ESTÃO DE GREVE?
TERÇA-FEIRA (manhã) - (café da manhã artistas e frutas saudáveis) pauta aberta: A ESTética DO PLÁGIO, A ESTÉTICA DO REREMIX almoço com artistas (tarde) pauta aberta: ERRORISMO POÉTICO: ERRAR É HUMANO. jantar dançante com artistas (noite) pauta aberta: QUEM COLOCARÁ FOGO NA NEVE SE OS POETAS ESTÃO DE GREVE?
QUARTA-FEIRA (manhã) - (café da manhã artistas e frutas saudáveis) pauta aberta: O MATRIARKADO DE PINDORAMA E OUTRAS MUMUNHAS almoço com artistas (tarde) pauta aberta: T R A N S P O F A G I A E SUAS ARTIMANHAS jantar dançante com artistas (noite) pauta aberta: A PROPAGAÇÃO DO KAOS. A RENOVAÇÃO NO CHAOS.
QUINTA-FEIRA (manhã) - (café da manhã artistas e frutas saudáveis) pauta aberta: HORA DE DORMIR: DORMIR almoço com artistas (tarde) pauta aberta: HORA DE COMER: COMER jantar dançante com artistas (noite) pauta aberta: HORA DE VADIAR: VADIAR
SEXTA-FEIRA PERNAS PRO AR QUE NINGUÉM É DE FERRO!Ascenso
Ferreira
SÁBADO E DOMINGO ARTISTA BRASILEIRO NÃO TRABALHA EM DIA SANTO
Este livro foi composto nas tipologias Kingthings Trypewriter 2 Brandon Grotesq DIN Alternate Cordelina bagpack DIN Alternate Blackoak Std Bohem Press Baloo Bebas Neue (OTF) diversos tamanhos, impresso em papel pólen bold 90gm2 na gráfica PSI7 em setembro de 2019 para o SELO DOBURRO como trabalho de conclusão da Especialização em Gestão Cultural Contemporânea: da Ampliação do Repertório Poético à Construção de Equipes Colaborativas, para o Itau Cultural e Instituto Singularidades.
link com apresentação: www.youtube.com/watch?v=Mu_GBI-zl4c https://youtu.be/n2PPqMgASNY