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2. AS ORIGENS DO CANDOMBLÉ, UMBANDA E QUIMBANDA

SEITAS ESPÍRITAS E AFROS

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AS ORIGENS DO CANDOMBLÉ, UMBANDA E QUIMBANDA

2.1 CANDOMBLÉ

Candomblé é uma dança religiosa, através da qual as pessoas homenageiam seus orixás. É literalmente o culto dos orixás. A presença do orixá é necessária tanto na Umbanda como no Candomblé. Os nagôs, grupo de africanos oriundos da Nigéria deram origem ao Candomblé, que é muito diferente da Macumba, do Maracatu, da Quimbanda e da Umbanda. Esta última é uma forma de culto afro inteiramente brasileiro.

Segundo Tácito da Gama Leite Filho a palavra Umbanda origina-se de “Kandombile (culto e oração)”, mas também pode referir-se “às danças dos escravos nas fazendas ao som de atabaques”.5

No candomblé o cerimonial é diferente dos demais cultos afros. Os segredos são passados de geração em geração, através da família. Assim, palavras, músicas e certos aspectos dos rituais foram conservados. A ritualística se divide em duas partes: os preparativos para o culto, em que se iniciam até dois dias antes, sendo um ritual secreto, e as cerimônias do culto. Tudo é bem organizado, cada grupo tem seu líder que coordena os trabalhos, orientando e cuidando para que tudo transcorra de maneira satisfatória.

Geralmente uma festa de Candomblé começa com a matança de animais, em meio aos cânticos e danças sagradas. O sangue dos animais é aspergido sobre as pedras dos orixás secretamente. Qualquer cerimônia é aberta com cânticos rituais

5. LEITE FILHO, Tácito da Gama. Seitas Mágico-Religiosas. 2ª ed. Rio de Janeiro: JUERP, 1994, p. 51.

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a Exu. Qualquer oferenda precisa ser precedida das oferendas a Exu. Nessas festas, os orixás baixam obrigatoriamente, primeiro no pai-de-santo ou mãe-de-santo; depois nos demais filhos ou filhas-de-santo. Quando o orixá se incorpora, cumprimentam-se com o abraço umbandístico – ombro direito/esquerdo, em seguido é cantado os pontos para a entidade do dia.

Aqui se faz necessário um esclarecimento importantíssimo. Nos terreiros de Umbanda não é comum baixarem ou incorporarem os Orixás. Quem incorpora são as entidades consideradas inferiores aos Orixás: pretos velhos, caboclos, crianças e exus. O orixá só baixa quando é previamente invocado.

2.2 UMBANDA

A palavra Umbanda é de origem africana e designava originariamente o grão-sacerdote do culto banto ou também o evocador dos espíritos ou o feiticeiro. Apresenta-se como um sincretismo exótico de práticas fetichistas e ritos católicos, deuses africanos e santos católicos, doutrinas kardecistas e ensinamentos cristãos.

Se a Umbanda fosse um movimento puramente cultural ou étnico, com a exclusiva finalidade de conservar ou mesmo reintroduzir tradições, usos ou costumes africanos, ameríndios ou outros quaisquer de caráter folclórico arreligiosos, mas permanecendo nos limites da moral natural, ela não seria um problema da Igreja, mas do Ministério da Educação e Cultura.

Entretanto, a Umbanda se apresenta primariamente como um movimento religioso. Os elementos culturais que ela apresenta ou fomenta, são todos eles impregnados de idéias nitidamente religiosa e estão em função quase exclusiva destas idéias. O que pode coexistir pacificamente em um só indivíduo é a cultura e religião, porém, é impossível a união harmoniosa de duas ou mais religiões distintas num mesmo ser racional e pensante. O sincretismo religioso é um absurdo filosófico e só pode ser defendido por quem desconhece os elementos essenciais da religião. Pode ser possível ser ao mesmo tempo cristão e japonês, não é, todavia, admissível ser ao mesmo tempo cristão e budista. Pode alguém ser cristão e árabe, mas não cris-

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tão e muçulmano. Isso porque sua doutrina sobre Deus é panteísta, e como tal contesta e deve contestar toda uma longa série de verdades cristãs: Nega a Trindade; nega a existência de um Deus pessoal e distinto do mundo; nega a doutrina cristã a respeito da origem e da criação do Universo; nega a criação da lama humana; nega a divindade de Jesus Cristo, etc.

Em sua doutrina sobre o homem, a Umbanda endossa a doutrina espírita kardecista da reencarnação, contestando mais outra seqüência de verdades claramente ensinadas por Cristo. Nega a redenção pela paixão e morte de Cristo; nega a graça de Deus e toda a doutrina cristã do sobrenatural; nega a unicidade da vida terrestre; nega o juízo particular e o final depois da morte; nega a existência do inferno, etc.

A Umbanda identifica-se substancialmente com o Espiritismo, pois praticam evocação dos espíritos (necromancia), tentam colocar os espíritos direta e sensivelmente ao serviço do homem (magia) e aceitam a teoria da reencarnação.

2.3 QUIMBANDA

Quando da chegada dos escravos no Brasil, todos conheciam a palavra Umbanda e principalmente Quimbanda -muito mais usada- corrente entre eles para designar os “sacerdotes do fetiche”. 6

Com o passar do tempo, Quimbanda se tornou uma variante da Umbanda. Assim, a Quimbanda ficou sendo conhecida como a imagem invertida da Umbanda. Tudo que se passa no reino da Umbanda, que se intitula magia branca (a do bem), tem o seu equivalente na Quimbanda, que é denominada de magia negra (a do mal). Segundo Tácito da Gama Leite Filho “não há razão para desvincular a Quimbanda da Umbanda, a não ser o interesse das umbandistas de oferecerem ao povo uma imagem positiva da sua religião, como praticando apenas o bem”.7 Umbanda e Quimbanda vivem entrelaçadas.

6. Quando, no século XV, os portugueses se encontraram com os nativos africanos, verificaram que eles veneravam uns objetos fora do comum, de formas humanas uns, outros simples enfeites trazidos no peito, nos pulsos, por todo o corpo, e deram o nome a estes objetos de “feitiço”. Hoje a palavra “fetiche” designa um objeto animado ou inanimado, feito pelo homem (feiticeiro) ou produzido pela natureza, ao qual se atribui poder sobrenatural e se presta culto. 7. LEITE FILHO, Tácito da Gama. Seitas Mágico-Religiosas. 2ª ed. Rio de Janeiro: JUERP, 1994, p. 62.

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Sendo a Umbanda mais conhecida do que a Quimbanda seria de se presumir que esta fosse originária daquela. Mas, é exatamente ao contrário. A Quimbanda precede a Umbanda.

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