A CIDADE E OS SEUS SIGNOS GRÁFICOS - Grafite e Pichação como Intervenções Urbanas

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A CIDADE E OS SEUS SIGNOS GRÁFICOS GRAFITE E PICHAÇÃO COMO INTERVENÇÕES URBANAS

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STEFANI MESQUITA DA SILVA

A CIDADE E OS SEUS SIGNOS GRÁFICOS GRAFITE E PICHAÇÃO COMO INTERVENÇÕES URBANAS

SÃO PAULO 2017


A CIDADE E OS SEUS SIGNOS GRÁFICOS GRAFITE E PICHAÇÃO COMO INTERVENÇÕES URBANAS

Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) apresentado por Stefani Mesquita da Silva, ao Centro Universitário Senac, como um dos requisitos para a obtenção do titulo de Bacharel em Arquitetura e Urbanismo. Orientador: Prof. Dr. Nelson Urssi

SÃO PAULO 2017


#AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente à minha família, principalmente aos meus pais, com quem convivi durante todo esse tempo, que me deram força e tiveram a capacidade de acreditar e investir em mim acima de tudo; a instituição que me proporcionou um ambiente criativo e desenvolvedor, contribuindo para minha formação no curso de Arquitetura e Urbanismo; aos meus colegas com quem estive durante esses anos, que me trouxeram experiências fantásticas e diversidades incríveis de conhecimento, e todos que direta ou indiretamente fizeram parte da minha vida acadêmica, realizando meu sonho. Dedico, também, este trabalho aos meus professores que me acompanharam durante minha graduação, em especial ao professor Nelson Urssi pela paciência na orientação e incentivo, que foram fundamentais para a desenvolvimento deste trabalho.


#ABSTRACT MESQUITA DA SILVA, Stefani. THE CITY AND YOUR GRAPHIC SIGNS: GRAFITTI AND PICHAÇÃO AS URBAN INTERVENTIONS. (80p.). Term Paper (Graduation in Architecture and Urbanism) – Centro Universitário Senac, São Paulo, Brazil, 2017. The focus of this work is the elaboration of an exhibition project, aiming at an already existing space, the Matilha Cultural. With a focus on urban art, the project aims to create a connection with a city, ministering around the concept of art and presenting as expressions of graffiti and pixo, taxed as transgressors in a curated space. It is a great channel of communication, connected with the city, the public, here and now; establishing a script focused on street art, bringing together the occupied places through a path that is intended to promote not only the use of public space, but also a creative act capable of transforming a landscape that appropriates characteristics of its cultural origin integrated with path that shows a way to know more about these expressions. Key words: Street Art; Architecture; Project; Graffiti; Exhibition.


#RESUMO MESQUITA DA SILVA, Stefani. A CIDADE E OS SEUS SIGNOS GRÁFICOS: GRAFITE E PICHAÇÃO COMO INTERVENÇÕES URBANAS. . (80 f.). Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Arquitetura e Urbanismo) – Centro Universitário Senac, São Paulo, Brasil, 2017. O foco do trabalho é a elaboração de um projeto expositécnico, visando um espaço já existente, o Matilha Cultural. Com o enfoque em arte urbana, o projeto pretende estabelecer uma conexão com a própria cidade, ministrando em torno do conceito de arte e apresentando as expressões de grafite e pichação, taxados como transgressores em um espaço com curadoria. É um grande canal de comunicação, conectado diretamente com a cidade, com o público, com o aqui e agora; estabelecendo um roteiro focado em arte na rua, reunindo os locais ocupados através de um percurso que se destina a promover não só o aproveitamento do espaço público, como um ato criativo capaz de transformar uma paisagem que se apropria de características de sua origem cultural integrada ao trajeto percorrido que mostre uma forma de conhecer melhor essas expressões. Palavras-chave: Arte Urbana; Arquitetura; Projeto; Grafite; Exposição.


1. INTRODUÇÃO

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2. A ARTE DE RUA NO CONTEXTO URBANO 2.1. A história do grafite em São Paulo 2.2. Grafitódromo 2.3. Cidade ocupada: Grafite contra Pichação 2.4. Do erudito ao popular 2.5. Apropriação da arquitetura

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3. DERIVA URBANA 4. O URBANO E SUA CONEXÃO SOCIAL

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5. TERRITÓRIOS POLÍTICOSIMBÓLICOS E DE RESISTÊNCIA

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6. AÇÃO CULTURAL NOS ESPAÇOS COMPARTILHADOS

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7. ARQUITETURA PARASITA E OS ESPAÇOS PÚBLICOS

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8. ESTUDO DE CASOS 8.1. Casa Amarela 8.2. Mapa dos Graffitis 8.3. Bienal de Artes de São Paulo 8.4. InstaWalk Rio de Janeiro 8.5. Escritório de Arte Humanar 8.6. Exposição em Nome do Pixo 8.7. Arte fora do museu 8.8. Adidas Urban Art 8.9. Roteiro de Arte Urbana 8.10. Estação Grafite 8.11. Documentário: Pixo

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SUMARIO

8.12. B_arco 8.13. Ópera da Lua 8.14. Exposição Niggaz da hora – Graffiti, memória e juventude 8.15. Documentário: Cidade Cinza 8.16. Exposição: Di – Pichar é Humano 8.17. Exposição: Entre concreto e aço

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9.POESIA NAS ESQUINAS

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10. FUNDAMENTAÇÃO EXPOSITÉCNICA CONECTADA COM O EXTERIOR

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11. CATÁLOGO CONSOLIDADO

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12. CONSIDERAÇÕES

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13. REFERÊNCIAS 13.1. Bibliográficas 13.2. Digitais

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14. LISTA DE IMAGENS

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Costumo falar que o muro veio primeiro, por isso que a pixação existe. Ele não é construído para a gente pixar e sim para separar as pessoas. Quando você ocupa um muro que foi feito para separar, está juntando as pessoas mesmo que seja através de um conflito. Mas você também está reivindicando o uso público daquilo. O muro é mais autoritário do que o pixo, porque ele é uma intervenção privada e permanente no espaço público, é efêmero. (IVSON, 2016).


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INTRODUCAO

A ideia que se tem do grafite e da pichação no espaço urbano demonstram a busca por participação social, sendo a integração à sociedade vinda através dos dizeres e modos de falar das periferias fixadas atentamente, formando os “murais urbanos”, com suas diversas formas de expressão que configura esse ato de ocupação como transgressor. O que o grafite e a pichação nos mostram como pertinente, é trazer à tona uma existente camada marginalizada da sociedade que clama por visibilidade com suas reivindicações, e isso reafirma seu processo transgressor, nascido nas ruas, sendo ferramenta de protesto, elevando-a a uma ala grandiosa e rica para diversas interpretações e problemas sociais.

No muro também observamos a disputa do espaço entre a arte urbana e a propaganda, e como está submetido a uma relação de poder quando defini e separa o espaço privado e público; é nesses espaços que eles deixam suas marcas, apropriam-se do local, transformam essas ruínas em um território marginal no qual buscamos compreender pela detecção de alguns imaginários urbanos, por meio da conformação de novas estratégias de percepção, usos e representações por entre-o-lugar. O propósito que se pretende alcançar neste de trabalho de conclusão de curso é um projeto de expositécnica, com uma ocupação de um olhar cultural, realizando uma oficina de educação para trabalhar a percepção dessa arte de rua, focando em palestras, debates e filmes independentes; tudo isso vinculado ao roteiro cultural da região do República em São Paulo, um pequeno bairro, onde se reuniam hippies e os artistas de vanguarda, expondo suas obras e ideias.

Durante os eventos que acontecerão no espaço, serão feitas dinâmicas em que a experiência que cada um tem com a arte de rua serão essenciais para a formação da cidade e da cultura urbana. O conceito é de observar o uso dos espaços públicos para estimular as relações interações interpessoais, entre pessoas e a cidade, facilitando a criação de atividades. Uma possível mudança do ponto de vista do grafite, é com a proposta de combater o preconceito gerado em torno dele, transformando muros e pontos ilustrados em pontos turísticos da cidade, tendo como foco a mudança do posicionamento e propondo uma forma de manter viva dessa arte efêmera.

O espaço expositivo ainda contaria com pequenas transformações, feitas tanto pelos artistas, representando sua ideologia, quanto pela ideia do projeto em si, trazendo uma definição conhecida como arquitetura parasita, como uma forma adaptável e exploradora da arquitetura que se associa a espaços existentes, sem modificá-los drasticamente, mas sim, dar uma nova visão ao mesmo, exatamente como pretende-se alcançar com o grafite e a pichação. A problemática suscitada tem como base a investigação da transformação dessas modalidades, outrora rotuladas como desviantes e poluidoras, em atividades artísticas, se estabelecendo no circuito oficial de artes, ganhando cada vez mais notoriedade e espaço em galerias e museus.

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A ARTE DE RUA NO CONTEXTO URBANO


Desde o seu aparecimento em meados dos anos 70 em Nova York, nos Estados Unidos, o grafite foi um elemento cultural e social que começou a ganhar forças e difundir-se pelo mundo ligado a movimentos de contracultura como o hip-hop. Surgiram manifestações artísticas urbanas que corresponderam a diversos setores culturais, como representantes, que em sua maioria utilizavam o grafite como uma ferramenta de comunicação, a forma como encaravam a pobreza, a violência, o racismo e a falta de infraestrutura e educação, sempre com cunho de expressão política em suas intervenções na paisagem mais urbana. O movimento consiste em criar uma linguagem intencional para interferir na cidade, onde o artista aproveita os espaços públicos da mesma para a crítica social (POATO, 2015). As bases do grafite iniciam quando o homem primitivo teve consciência do seu entorno e gerou a necessidade de plasmar sua realidade graficamente para deixar um registro dos seus pensamentos, costumes e vivência. Muitas vezes, realizado com objetos acentuados, o homem deixou uma marca, um rastro da passagem efêmera da humanidade. Estas inscrições realizadas nos muros dos primeiros sistemas urbanos foram criadas pelo impulso primitivo de marcar as muralhas criando mensagens reveladoras do cotidiano dos seus habitantes e manifestando as capacidades de abstração humana. Historicamente, os grafites têm um sentido de clandestinidade e espontaneidade, requerem certa rapidez para serem elaborados. A princípio, por serem criados como uma espécie de escavação, era inevitável que eles tomassem muito tempo e criassem um processo catártico com a própria cidade. Como o tal processo era demorado, os cidadãos sentiam-se obrigados a expressar seus pensamentos com a abstração mais absoluta, chegando a representar um rosto simplesmente com uma circunferência e duas incisões como olhos. De acordo com o crítico Teixeira Coelho, em seu dicionário crítico de políticas culturais “Por arte pública têm-se entendido habitualmente, de modo restrito, obras de arte plásticas particularmente expostas – esculturas em lugares públicos em caráter transitório ou perene, sendo também espetáculos teatrais e projeções de cinema em locais públicos ou em vias públicas” (COELHO, 1997). A arte pública por assim dizer,

consiste em restabelecer-se por uma nova relação com o público não especializado, ou seja, se relacionar com cidadãos, dando-lhe forma e atraindo a sua atenção para o contexto mais amplo da vida, das pessoas, das ruas e da cidade. A arte pública tem como característica principal se dirigir a todos, sem restrições, se preocupando ainda em provocar reflexões. Apesar de ganhar comparações com vandalismo, tendo a sua imagem corrompida, o grafite formou inúmeros aristas nas ruas, como Jean-Michel Basquiat, que aos 17 anos, grafitava paredes, casas e metrôs de Nova Iorque, sempre deixando uma assinatura: SAMO (same old shit ou sempre a mesma droga), que começou a gerar uma curiosidade sobre as intenções e a popularidade de seus grafites, gerando exposições onde sua obra começou a ser reconhecida internacionalmente com temas que quase sempre transitavam entre a cultura negra, o caos e a desmistificação de grandes ícones da história da arte. As expressões urbanas, grafite e pichação, demarcam-se como fenômenos sociais de intervenção e de proposição de uma nova linguagem estética na e para a cidade. A demonstração pública dos temas e motivos eleitos na confecção dessas expressões sugere a presença de características muito peculiares desta manifestação, tais como a ludicidade, a fantasia e a utopia, compondo uma proposta imagética alternativa e democrática em sua intervenção no cenário da cidade contemporânea, possibilitando um olhar que o privilegie como um exercício discursivo, em relação às grandes questões inerentes ao espaço em que se insere.

Um muro velho de esquina é o palco e cenário de um colorido sonho grupal concretizado em spray. Quem grafita é íntimo do efêmero, nunca sabe quanto tempo dura o sonho ou a brincadeira; o muro é público, a rua é pública. Grafiteiro mesmo sabe que sua tela, sua galeria, é a cidade inteira. (ABREU, 2000)

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Figura 1 - Mural na Av. 23 de Maio.

É de total interesse da sociedade e principalmente para as pessoas que, de alguma forma, são ligadas à arte, o rompimento do paradigma do senso comum que considera a arte do grafite apenas uma forma marginalizada e desorganizada de se expressar. A sociedade, como um todo, necessita dessa arte, inicialmente para ser representada e, também, como mais uma forma de explorar o turismo, transformando cada arte num ponto de visitação, além do cunho político e social que nela se envolvem. 2.1. A história do grafite em São Paulo No Brasil, o grafite surgiu há quase trinta anos atrás, durante a década de 60, quando grupos políticos pichavam nos muros das cidades frases tais como “abaixo a ditadura”. Com a liberdade de expressão caçada pela ditadura militar, o grafite era considerado crime pela legislação brasileira. Em São Paulo, a inscrição nasceu no meio universitário com influência direta do movimento estudantil de 1968 e definiu uma estética própria, fruto da necessidade de escapar da repressão, que na época atingia seu limite extremo, produzindo novas influências em larga escala no meio urbano, fazendo surgir letras pintadas nos muros de terrenos baldios, construções públicas, paredes de viadutos (BBC, 2017) Essas expressões eram pintadas por militantes (no caso da pichação política) ou por pessoas especialmente contratadas para isso (no caso da propaganda comercial). Essas inscrições da propaganda política ou comercial, visavam a difusão de uma mensagem através de um meio alternativo e seu significado podia ser entendido por todas as pessoas, diferenciando-se da pichação, que nascia com um conteúdo restrito e fechado, que aos poucos foi deixando de ser reconhecida como sinônimo da palavra grafite. e passou a assumir uma forma específica. Entretanto, foi com Alex Vallauri, considerado um revolucionário na cena brasileira como um dos primeiros artistas do país a transferir a arte visual para os muros, com as características plásticas que são hoje em dia associadas à grafitagem, ganhou uma dimensão popular, criando em 1973 “Boca com Alfinete” um dos seus primeiros desenhos onde era possível entender o lado político do grafite paulistano, uma referência à censura que ainda pairava. Vallauri in

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fluenciou outros artistas à ocuparem as ruas da capital paulista e a data de sua morte - 27 de março de 1987 - é lembrada como o Dia do Grafite no Brasil. Sua plasticidade e facilidade de compreensão facilitaram uma maior aceitação pela população, acelerando o processo de diferenciação entre o grafite e pichação. Quase paralelamente a este movimento, grupos de teatro de rua e artistas de vanguarda passaram a atuar no espaço urbano como em um grande ateliê, fazendo experiências plásticas que utilizavam ruas e viadutos, causando confusão no trânsito, como no caso dos carros que batiam uns nos outros, assustados com simples faixas de plástico celofane que “impediam” sua passagem. (BBC, 2017) Da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo surgiram vários artistas grafiteiros que valorizavam o trabalho gráfico das histórias em quadrinhos, dando um tom humorístico ao movimento. Entre eles destacavam-se Carlos Matuck, elaborando máscaras requintadas que permitiam impressão em várias cores. Ele e muitos outros grafiteiros desta geração ofereceram seus trabalhos em oficinas e casas de cultura pelo capital e interior. Uma outra geração de grafiteiros que, direta ou indiretamente, participaram do processo de popularização o movimento são Waldemar Zaidler. Carlos Delfino, Ciro Cozzolino, John Howard, Jaime Prades, Rui Amaral e Zé Carratu. O repertório de imagens era bastante variado e lúdico, com grande influência dos elementos da comunicação de massas


(personagens de histórias em quadrinhos, vídeo clipes e vídeo games) ou com referência às artes gráficas, usando cores contrastantes. No começo dos anos 80, em São Paulo, o movimento grafite era constituído com ênfase na plasticidade, com influência do hip-hop ou arte de rua. A competição e as atividades fora dos grupos de origem fazia com que o grafite se espalhasse por toda a cidade. O aparecimento de governos mais democráticos e sensíveis, fez com que o grafite fosse absorvido, passando a atuar totalmente fora da marginalidade.

Figura 2 - Jornal Estadão, 1988.

A violência e a incompreensão por parte da população fizeram várias vítimas na pichação - o que apenas contribuiu para fortalecer o movimento. Ao mesmo tempo, também é comum a interferência em cartazes de propaganda e outdoors. No entanto, em 14 de janeiro, a prefeitura de São Paulo anunciou que seria apagado os painéis da avenida 23 de Maio, como parte do programa “São Paulo Cidade Linda”. (ENCICLOPÉDIA ITAÚ CULTURAL, 2017) Os grafites na cidade de São Paulo estão presentes em diversos pontos espalhados pela cidade, mas concentram-se em áreas como o Museu Aberto de Arte Urbana e no bairro de Vila Madalena, onde ficam os consagrados Beco do Batman e a Igreja do Calvário. 2.2. Grafitódromo Com a polêmica gerada após a ação, a Secretaria da Cultura de São Paulo afirmou que pretende cria uma área para grafiteiros e muralistas no bairro da Mooca, na zona leste de São Paulo, chamada de grafitódromo. Segundo o prefeito João Dória, assim como a arte fica nos museus, os grafites também devem ficar em “lugares adequados”. Para o artista plástico Jaime Prades, que também fez parte da primeira geração de grafiteiros, o grafitódromo representa um limite para liberdade de expressão. “É uma visão paternalista que quer impor o que considera ‘certo’. Logo, o grafite é algo errado, que tem que ser contido e controlado, mas nesse caso, não seria mais grafite, já que a alma do grafite é interagir com a cidade livremente”. (PRADES, 2017).

Criar um distrito para o grafite pode ser interessante, pois daria total liberdade para aqueles artistas exercitarem sua arte. Seria necessário verificar quais seriam estes critérios para estabelecer o local certo. Eles teriam que ser ouvidos e a população também. (GRAZIOSI, 2017).

A prefeitura também informou que criará um programa de grafite, que terá início com a criação, na rua Augusta, do Museu de Arte de Rua (MAR), no qual 150 artistas terão seus painéis expostos por até três meses.

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2.3. Cidade ocupada: Grafite contra Pichação Ambos são efêmeros, estabelecem comunicação com um público específico e usam os mesmos suportes urbanos, saindo da clandestinidade e conquistando sua sobrevivência no mercado competitivo. Os grafiteiros na década de 70 se aproximaram das galerias abrindo o mercado para um novo tipo de arte, elaborada em madeira recortada e outros suportes que pudessem abrigar essa arte efêmera. Já os pichadores acharam na letra grafitada uma forma de saírem da marginalidade e se tornarem “grafiteiros”. Neste período o grafite agradava a uma parcela da sociedade, com o processo de democratização política, as oficinas oferecidas pelas secretarias de cultura abriram projetos culturais envolvendo os grafiteiros e possibilitando a criação de oficinas de grafite, nas quais nasceram sucessivas safras de novos artistas urbanos. Esta institucionalização do grafite resultou em um direcionamento para a arte mural, ao mesmo tempo em que permitiu que o movimento conseguisse patrocínio de empresas particulares. Assim o grafite ganhou novas condições de sobrevivência e passou a atingir um público cada vez mais amplo, com um aprimoramento constante de suas técnicas, mas se distanciou das ideias iniciais que o inspiraram. A pichação, por sua vez, continuou na marginalidade, adotando um vocabulário próprio e cada vez mais inacessível ao grande público. A diversidade de grupos e estilos existente hoje no movimento em São Paulo implica um público cada vez maior e mais diferenciado, estabelecendo novas opções para o artista se relacionar com a sociedade. Desta maneira, o grafite encontrou um novo público, junto aos comerciantes e produtores ligados diretamente à televisão, concentrando-se nos bairros populares; passou a ser feito nas portas das lojas e também feito em roupas e camisetas da moda destes grupos. A pichação, por sua vez, ficava restrita ao público da periferia, e pertencer a determinado grupo podia ser objeto de status, na qual muitos chegavam a arriscar a vida para se destacar. Monasteiros aponta que a pichação está mais direcionada à “um diálogo entre gangues”, relacionados também à demarcação de território e ao prestigio do lugar a ser pichado, como por exemplo, um prédio

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muito alto, e que “o grafite abre a comunicação com a cidade através do uso de um sistema e imagens mais fáceis de decodificar, fazendo o uso de cores que chamam a atenção das pessoas” (MONASTEIROS, 2011). No início dos anos 70, as inscrições e frases pichadas em muros e paredes eram frequentes em determinados lugares da cidade. Novos grupos foram surgindo, usando a pichação como uma forma de identificação, e passaram a fazer questão de diferenciar suas próprias inscrições das feitas por outros grupos. Nos anos 90, a pichação já tomou todos os bairros da cidade de São Paulo, alastrando-se pelas cidades do interior e passando a ser a maior manifestação de interferência na paisagem urbana (MODELLI, 2017). A discussão sobre o grafite como arte ou como vandalismo, segundo Rui Amaral, reflete o modo como cada gestão pública entende essas intervenções urbanas. A autorização para fazer intervenções na avenida 23 de Maio, por exemplo, era pedida pelos artistas desde a gestão de Jânio Quadros (1986 a 1989), mas foi autorizada somente no fim da gestão de Fernando Haddad, em 2016. Até 2011, o grafite em edifícios públicos era considerado crime ambiental e vandalismo em São Paulo. A partir daquele ano, somente a pichação continuou sendo crime. De um modo geral, a pichação, que costuma trazer frases de protesto ou insulto, assinaturas pessoais ou de gangues, é considerada uma intervenção agressiva e que degrada a paisagem da cidade. O grafite, por sua vez, é considerado arte urbana. Os pixadores aproveitam-se do anonimato proporcionado pela metrópole para estampar seus pseudônimos pela cidade e tornarem-se conhecidos entre os seus pares, sem, no entanto, deixarem de ser anônimos para o restante da cidade. (PEREIRA, 2010).

Outro efeito da decisão de legalizar somente o grafite, segundo Rui Amaral, é a confusão entre os conceitos de grafite, pichação e muralismo. De acordo com o artista, foi o que aconteceu na decisão do atual prefeito João Dória de apagar os painéis da avenida 23 de Maio. “O que havia na 23 de maio eram murais, e não grafite. Os mu-


Em alguns universos urbanos a pichação é apenas um estilo dentro do grafite, e não o seu oposto. Já em outros universos urbanos, enquanto o grafite é entendido como arte, a pichação é considerada como um estágio inferior do grafite, o patamar mais alto dessa forma de expressão. Contudo, essa diferenciação é capciosa, visto que a pichação e o grafite não estabelecem relações de arte e não-arte, legal e ilegal, belo e feio, respectivamente, pois essas duas manifestações estéticas estabelecem associações complexas e performáticas. 2.4. Do erudito ao popular A origem do grafite em São Paulo é fruto do pensamento dos jovens do movimento hip-hop que nasceu na periferia da capital. Mas para alguns dos pioneiros da arte de rua na cidade, o grafite paulistano nasceu de movimentos artísticos con-

Figura 4 - Grafite X Pichação.

A artista plástica Bárbara Goys, autora de um dos painéis apagados da 23 de maio, diz que ação contra as obras é “um tiro no pé”. “A própria capital criou um guia mapeando os grafites na cidade. Não sei como será agora, talvez tenham que refazer este guia. E, infelizmente, agora a avenida 23 de Maio perde o título de maior mural a céu aberto da América Latina”. (GOYS, 2017)

Figura 3 - OSGEMEOS.

rais são painéis autorizados e encomendados” (AMARAL, 2017).

Primeiramente gostaria de salientar que para mim todas as práticas de escrita da cidade são legítimas e compõem a cultura urbana, onde estiverem materializadas. Meu entendimento é consonante com o dos praticantes da pixação, diferentemente de serem entendidos como crime, compõem seus modos de subjetivação no uso da cidade. Esses novos modos de ser e estar na cidade fazem parte da cultura urbana e não podem ser especificados por regras que delimitem a sua expressão criativa. (MIGLIANO, 2013).

sagrados, que foram trazidos para um contexto público e urbano. Segundo o sociólogo Sérgio Miguel Franco, os primeiros desenhos que apareceram na capital eram influenciados pelas culturas negra e latina, e traziam consigo um traço marginal. “O grafite foi um espelho próspero para a cultura desenvolvida pelos jovens

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Os grafites representam mais do que uma simples pintura na parede. O arquiteto e pintor Hundertwasser considerava a ação do grafite como algo tão natural que admitia sua existência como elemento construtivo da vida e da vivência. Entretanto, na sociedade atual, entendemos estas manifestações como uma arte marginal devido a sua condição de clandestinidade e anonimato; não é comum ver quem os realiza, mas eles aparecem todos os dias, estão ali, formando parte da paisagem urbana e da nossa cotidianidade. Este “caráter marginal” se relaciona com a apropriação dos espaços intersticiais e das fissuras da trama urbana, dos lugares vazios e esquecidos onde se concentra a memória das cidades. Desta forma, tanto os grafites quantos as pichações vinculam-se a um ambiente de protesto onde os cidadãos vêm na sua própria cidade o suporte mais imediato para expor suas frustrações frente a sociedade; os muros se convertem no espaço para manifestações políticas, reivindicativas, sociais ou simplesmente exclamações cotidianas. Monasteiros aponta que a pichação está mais direcionada à “um diálogo entre gangues”, relacionados também à demarcação de território e ao prestigio do lugar a ser pichado, como por exemplo, um prédio muito alto, e que “o grafite abre a comunicação com a cidade através do uso de um sistema e imagens mais fáceis de decodificar, fazendo o uso de cores que chamam a atenção das pessoas” (MONASTEIROS, 2011).

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No início dos anos 70, as inscrições e frases pichadas em muros e paredes eram frequentes em determinados lugares da cidade. Novos grupos foram surgindo, usando a pichação como uma forma de identificação, e passaram a fazer questão de diferenciar suas próprias inscrições das feitas por outros grupos. Nos anos 90, a pichação já tomou todos os bairros da cidade de São Paulo, alastrando-se pelas cidades do interior e passando a ser a maior manifestação de interferência na paisagem urbana (MODELLI, 2017). A discussão sobre o grafite como arte ou como vandalismo, segundo Rui Amaral, reflete o modo como cada gestão pública entende essas intervenções urbanas. A autorização para fazer intervenções na avenida 23 de Maio, por exemplo, era pedida pelos artistas desde a gestão de Jânio Quadros (1986 a 1989), mas foi autorizada somente no fim da gestão de Fernando Haddad, em 2016. Até 2011, o grafite em edifícios públicos era considerado crime ambiental e vandalismo em São Paulo. A partir daquele ano, somente a pichação continuou sendo crime. De um modo geral, a pichação, que costuma trazer frases de protesto ou insulto, assinaturas pessoais ou de gangues, é considerada uma intervenção agressiva e que degrada a pasagem da cidade. O grafite, por sua vez, é considerado arte urbana.

Figura 5 - Grafite de Jaime Prades.

de origem periférica da cidade” (FRANCO, 2017). Os 20 anos de censura e isolamento cultural imposto pela ditadura militar fizeram com que os grafiteiros que passaram a ocupar as ruas na década de 1980 se inspirassem na obra dos artistas plásticos da geração dos anos 1960. Jaime Prades, era membro do Tupinãodá, um dos primeiros grupos de artistas grafiteiros do Brasil. O coletivo, responsável pela ocupação do Beco do Batman, na Vila Madalena, escolhia lugares públicos considerando sua relevância para a cidade de São Paulo. “Evitamos sair por aí pintando nas paredes das casas das pessoas, não fazia sentido. Quando decidíamos pintar, escolhemos espaços públicos de grande impacto urbano” (PRADES, 2017).


2.5. Apropriação da arquitetura A cidade contemporânea, verticalizada e marcada por sua concretude estrutural, apresenta-se como uma construção cultural singular que anuncia um momento novo na relação entre o homem e a cultura. Nesse contexto, a própria cidade, seu espaço e suas referências, surge como a obra de arte por excelência “A arte é o modo de habitar a cidade. E, nesse sentido, a arte não existe na cidade, ela é a cidade enquanto a cidade reflete a si mesma (BRISSAC, 1998). O caráter insatisfatório da construção da cidade para o ser humano se apresenta como essencialmente artístico.

a mesma cidade, cada olhar sobre seus muros estabelece uma diferente maneira de apropriação de seus conteúdos, construindo uma imagem diferente para a cidade. Imagem esta que, em várias capitais do mundo, possui um objetivo social e estético definido, qual seja, o de esconder o que fere aos olhos, quebrar a monotonia das paisagens citadinas, estimular e divertir seus habitantes, ao confrontá-los com uma visão inesperada num lugar imprevisto, “A cidade fala a seus habitantes, nós falamos à nossa cidade”. (BARTHES, 1987).

As inscrições dessas expressões urbanas, tendo como suporte privilegiado os muros da cidade e a cidade como um todo, estabelecem um novo espaço, reinventado, para a comunicação com os citadinos. Os muros, como outdoors de concreto, apresentam todo o seu manancial de possibilidades de expressão a partir da atuação do grafite urbano. Portanto, deve-se levar em conta a consideração dada a esta manifestação como forma de inserção diferenciada na cidade. Os muros são espaços de expressão que carregam a história, ideologia e identidades das cidades, sendo uma maneira de se apropria concretamente do espaço público, de participar do diálogo social. Entretanto, o grafite e a pichação constroem sua principal maneira de impor presença exatamente sobre aquilo que o distingue do resto da cidade. Constitui-se então num repouso para a visão, no tocante ao exercício de estar e de usufruir da cidade, não é sempre

Figura 6 - Grafite na arquitetura.

A paisagem da cidade se afirma em torno de uma certa cultura visual e pode ser interrogada como capítulo da história da imagem, ao relacionar urbanidade e visualidade. A cidade-galeria contemporânea, com suas ilimitadas possibilidades de inserção dessas manifestações, agrega condições múltiplas para a emergência das distintas formas da cultura visual reinante. A invasão do grafite e da pichação nos muros da cidade é um ato que instaura uma linguagem no espaço público. Uma atitude que surge do desencantamento com a imagem habitual, através do aspecto de uniformidade visual e paisagística.

O caótico se faz presente quando reflete a questão de que para se conhecer a cidade deve-se entrar pelos subúrbios pois no aspecto uniforme, monocromático e artificial da cidade, pode-se dizer que entre natureza e arte cai a diferença: à falta de natureza, tudo é arte e artístico, promove uma cultura visual que se coloca como uma importante fonte de inspiração para a produção do grafite, no que se refere ao seu caráter de “cardápio” globalizado de temas e de posturas narrativas. (LYOTARD, 1996).

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DERIVA URBANA


Caminhar pela cidade com um olhar mais cuidadoso, sem pressa, nos faz perceber pequenos detalhes da riqueza arquitetônica e cultural da região. O conceito de deriva urbana foi desenvolvido, numa perspectiva contemporânea, pelo filósofo Guy Debord, autor do livro A Sociedade do Espetáculo, onde ele apresenta seu conceito de espetáculo como uma “relação de pessoas mediada por imagens”. Imagens seriam representações imediatas que adquirem autonomia e fazem das pessoas meros espectadores contemplativos. “Andando à deriva você está mais aberto para conhecer melhor a cidade” (DEBORD, 1997). O hábito de olhar ao redor é uma pequena mudança em nosso modo de caminhar pela cidade, mas faz uma grande diferença na forma como percebemos o ambiente e as pessoas que ali circulam. O espaço urbano ganha um ar ressignificado, a arquitetura muda definitivamente junto com a forma de observar e analisar os fenômenos urbanos, a cidade fica mais humanizada. A urbanista e ativista social Jane Jacobs, cita em seu livro Morte e Vida das Grandes Cidades que as comunidades são vitais na cultura urbana. “Manter a segurança da cidade é tarefa principal das ruas e das calçadas” (JACOBS, 1961). Para ela, as identidades dos bairros e a ideia de mudar uma cidade ou intervir nela é preciso antes conhecê-la, que atividades são ali realizadas em definitivo, entendê-las e aprender a vivenciá-las. Para isso é preciso ir às ruas, falar com as pessoas, possuir vínculos e contatos e que haja uma união entre os habitantes e as cidades. Jacobs defende que a rua é uma autêntica e complexa instituição social, o espaço público como o coração da vida moderna. No livro “De onde vêm as boas ideias”, Steve Johnson aponta que elas surgem de conexões. A conexão e a interação com outras pessoas estimulam a criação de ideias novas e inovadoras. Em ambientes colaborativos essa troca está constantemente sendo estimulada e, portanto, esses ambientes são os melhores espaços para a inovação. A simples presença do homem que frequenta um lugar continuamente cria a arquitetura e o espaço. Daí surge a importância de “deixar uma marca” em fazer os próprios espaços. E é neste ponto que os grafites e as pichações ganham relevância, já que são uma manifestação deste sentimento de pertencimento; geram identidade e outorgam sentido dentro de um contexto urbano que nem sempre é próprio dos cidadãos.

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O URBANO E SUA ~ CONEXAO SOCIAL


Para estudar e entender o espaço geográfico contemporâneo, o geógrafo, Milton Santos diz que o espaço é um “conjunto indissociável de sistemas e objetos e sistemas de ações”. O espaço produzido é produto das ações humanas, materializando-se em formas espaciais, e esses mesmos espaços voltados para a realização de atividades culturais é uma forma de responder as demandas externas do lugar. Nos termos propostos pelo sociólogo Richard Sennett, espaço público é o espaço de uso coletivo da sociedade, permitindo que diversas pessoas utilizem o mesmo ambiente ao mesmo tempo, o que significa um espaço para todos. O arquiteto Herman Hertzberger apresenta o conceito público e privado nos seguintes termos: “Uma área acessível a todos a qualquer momento; a responsabilidade por sua manutenção é assumida coletivamente. Privada é uma área cujo acesso é determinado por um pequeno grupo ou por uma pessoa, que tem a responsabilidade de mantê-la”. Nesse caso, o espaço público permite o acesso de todos, independentemente das atividades ali desenvolvidas, para isso, é necessário que todos conservem esse espaço.

Além de um espaço de circulação, a rua é também um lu gar de convivência, segundo Hertzberger é “um lugar onde o contato social entre os moradores pode ser estabelecido: como uma sala de estar comunitária”. Em relação às construções, depende muito do comportamento dos moradores e dos desenhos da rua, da calçada e das fachadas das casas, para que ocorram a integração da vizinhança no espaço público, pois os moradores podem utilizar suas casas como locais de refúgio e a rua como um ambiente de convívio, sendo assim, é necessário que haja um equilíbrio, assim a rua não é apenas uma via que leva de um ponto ao outro, mas sim, um local para se estar. Hertzberger também diz que é “uma área de rua com a qual os moradores estão envolvidos, onde marcas individuais são criadas por eles próprios, é apropriada conjuntamente e transformada num espaço comunitário”. Fazendo assim uma ponte interior/exterior, tema deste projeto, onde a o espaço público produza uma expositécnica que termine na rua com os muros grafitados e pichados, promovendo essa conexão.

Figura 7 - Beco da Energia.

O que se percebe claramente com o passar dos anos é que o domínio público vem perdendo cada vez mais sua importância, deixando evidente a crise do espaço público, isso faz com que se perca a integração social. Essa questão, em geral, é explicada com razões financeiras, as empresas oferecem serviços que deveriam ser públicos, mantendo um domínio capitalista. Nesses casos, a própria população procura outros espaços, que podem ser privados ou comunitários para sua utilização, gerando o abandono dos espaços públicos, em geral isso acontece porque as pessoas se sentem desprotegidas no espaço público por motivos de segurança e passam a procurar locais onde se sintam mais seguras, como em locais particulares e fechados. A segunda situação que marca essa crise é o espaço público sendo cada vez menos presente nas cidades, principalmente nas metrópoles, tratado como uma área perdida, onde se permite cada vez mais a transformação do espaço de uso público para espaço de uso privado, levando sempre a população a uma condição de acesso limitado.

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TERRITORIOS POLITICOSIMBOLICOS E DE RESISTENCIA


Os muros constituem um espaço que cresce a cada dia em número e em dimensões nas cidades, alimentados pela cultura do medo e pela segregação social. Os muros são, na paisagem urbana, embora muitos deles privados, apropriados enquanto território público pela marca/arte da ação grafite e/ou da pichação. Em muitos casos, essas expressões se apropriam de muros, tornando-os territórios através da expressão de suas falas, que demonstram as contradições da sociedade, os utilizando como suportes de comunicação como signos informativos do contexto urbano e como arte de significados. Deste modo, a apropriação, no caso através da ocupação, do contra poder, é a forma dos sujeitos à margem da sociedade reivindicarem seu direito à cidade. O direito à cidade constitui uma obsessão daqueles que vivem na carência, na pobreza, na frustração dos possíveis que permanecem como sendo apenas possíveis (LEFÉBVRE, 2001). A pichação e o grafite, tem como suporte a cidade, local onde o indivíduo se apropria do espaço urbano a partir de inscrições monocromáticas feitas com spray ou rolo de pintura. Assim, partindo da perspectiva de alguns pichadores, por exemplo, esta forma de intervenção coloca em discussão padrões arquitetônicos e artísticos, e, sobretudo, o discurso da propriedade privada, configurando todo um complexo em busca de adrenalina, reconhecimento e, às vezes, como forma de protesto, seus praticantes se arriscam em meio à paisagem urbana da metrópole. O território deve ser visto na perspectiva não apenas de um domínio ou controle politicamente estruturado, mas também de apropriação que incorpora uma dimensão simbólica, e, porque não dizer, dependendo do grupo ou classe social a que estivermos nos referindo, afetiva (HAESBAERT, 2006).

Assim expressam através de territórios apropriados, por diferentes mensagens, a resistência e/ou suas inquietações cotidianas, delimitam um território que busca a democracia através da criatividade daqueles que tem esperança de uma vida mais digna, melhor, que sonham com outras possibilidades em uma cidade mais aberta as inúmeras dimensões do viver e, por extensão, de novas expressões cotidianas da arte, da política e da cultura. De tal modo, quando a pichação não é objetiva em transmitir uma mensagem de protesto acessível à sociedade, as ações destes jovens talvez possam ser vistas como irrefletidas ou impensadas, pois embora queiram atingir a sociedade de alguma forma, acabam suscitando ainda mais críticas e incompreensão a seu respeito, na medida em que os transeuntes não conseguem compreender suas inscrições. E é com base nessas questões que, muitas das vezes, a pichação é interpretada como uma mera forma de violência gratuita, uma vez que constantemente encontramos nas falas destes jovens que a busca pela adrenalina e a ilegalidade são vistas como uma das características e motivações fundantes desta prática. A arte urbana deve relacionar-se com a paisagem de forma crítica, buscando reverter alguns significados subjacentes aos espaços urbanos, incorporar novos significados aos existentes e, muitas vezes, apenas pôr em evidencia contradições e conflitos. Essa função transgressora e inovadora da arte não pode ser domesticada e foge da esfera institucional e ao seu controle. E isso não implica necessariamente questões como a ordem e limpeza ou a mera preocupação estética, mas questões que levem em conta a percepção do usuário, um fator importante quando se fala em arte e cidade (GARZEDIN, 2002).

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ARQUITETURA PARASITA E ESPACOS ´ PUBLICOS


Uma das características que pretendesse alcançar com esse projeto, é uma pequena intervenção na Matilha Cultural. Mantendo seu projeto original, porém, com algum elemento novo compondo a exposição, um ato de arquitetura parasita, efêmera, inovando e criando e vivenciando novas experiências no espaço. A arquitetura parasita é adaptável, se associando a espaços existentes, sempre pensada com estruturas flexíveis ou temporárias, que se alimentam da estrutura, uma intervenção que transforma, reconfigura e redefine o espaço existente, potencializado ou requalificando seu uso e ocupação. Não é algo que subtrai de outra forma, mas sim, o contrário, é uma arquitetura que se aproveita de lugares improdutivos, vagos no espaço e que poderiam estar sendo usados em pró de algo mais eficaz. A arquitetura deveria existir como uma espécie de parasita ou vírus. Ela deveria grudar-se, como uma sanguessuga, em outras arquiteturas, na cidade já construída. Quando um edifício apresenta um muro cego onde quer que seja, algo não deveria ser incorporado a esse muro para que as pessoas impedidas de entrar no edifício pudessem ter algum espaço para ficar? (ACCONCI, 2006).

Para o arquiteto Rem Koolhaas, a metrópole atual não seria algo além de um grande pavimento com pontos de intensidades, abertos à coletividade, na paisagem da Metrópole. O próprio edifício, o “externo” à obra, torna-se “mais importante” que a própria obra, convertendo-se em um “fora-da-obra”. A intervenção parasita poderia, em um certo sentido, se tornar “maior” que a própria obra que a abriga, de linguagem próxima do neutro, mas o suficiente para conferir-lhe uma identidade. Acconci, através de textos escritos nos anos 1990 que refletem sobre a natureza do espaço público contemporâneo, identifica e distingue dois tipos de espaços nos quais o público se reúne. O primeiro seria o espaço que é público, onde o público se reúne porque tem direito ao espaço. O segundo seria o espaço tornado público,

um espaço onde o público se reúne precisamente porque não tem o direito, um espaço tornado público à força. A arte pública tem um papel fundamental, e sua inserção na cidade com processo de concepção e construção dos espaços. O primeiro tipo é geralmente institucionalizado – ligado a uma entidade pública ou corporação privada – e constitui-se pela imposição de regras de conduta explícitas e implícitas que o público, para ter o direito de usá-lo, deve seguir, aqueles que seguem estas regras à risca, assim chamados de “cidadãos”. Já o espaço tornado público constitui-se quando pessoas reivindicam o direito de usá-lo de forma inusitada, quebrando o contrato pré-estabelecido. Tais usuários são frequentemente chamados marginais, não obedecem a contratos, mas desenvolvem táticas de uso, um usotemporário. Um espaço é público quando ele mantém a ordem pública ou quando ele a altera. Enquanto o espaço público institucionalizado tenderia a algo unificado e homogêneo, o espaço tornado público tenderia ao múltiplo, heterogêneo e instável. Como o espaço público institucionalizado é fixo e tem uma localização precisa na cidade, um indivíduo pode usá-lo por determinado momento, mas sempre acaba liberando-o para que os outros possam fazer o mesmo. Assim o espaço é algo externo a ele, algo que não lhe pertence. Já o espaço tornado público, por não ser definido apenas pela sua presença física, mas também por ações momentâneas que o constituem, pode ser carregado, transportado, disseminado. Parte dele está atada ao corpo dos indivíduos que o constroem. A função da arte pública é criar ou transgredir um espaço público. Por um lado, ela assombra os espaços públicos, ela os encontra onde nada antes existia, nos refúgios e nas frestas da privacidade (entre edifícios, sob edifícios, nas fronteiras dos edifícios); a ação da arte pública anexa territórios ao domínio público. Por outro lado, ela desata espaços públicos; ela toma um lugar decretado público — um espaço público institucionalizado — e brota a partir dele: a ação da arte pública desintegra os espaços públicos; dessa forma o público pode carregá-lo consigo, em suas costas ou em seus nervos. (ACCONCI, 1993)

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ACAO CULTURAL NOS ESPACOS COMPARTILHADOS


Embora tenham boas opções de centros culturais mantidos pela Prefeitura e pelo Governo, São Paulo tem reunido uma variedade de pessoas em busca de ocupar espaços e criar conexões para promover debates e atividades que expandem o âmbito cultural alternativo. Os espaços funcionam de forma colaborativa ou particular, fornecendo programação, estimulando o espírito de criação coletiva e criando um interesse por políticas públicas e sociais.

No primeiro andar, fica o espaço multiuso Arena, de piso de madeira e tijolos expostos, material vindo de demolições. Aqui onde ocorrem peças de teatros, exposições, workshops e shows. No último andar está a sala de cinema, o Cine Matilha, com 68 lugares, e tem como característica na programação o cinema independente, filmes e documentários socioambientais.

Figura 8 - Matilha Cultural | Subsolo: Galeria.

Um ambiente situado em uma região central, voltado para a divulgação de divergentes modalidades, focando sempre arte urbana como tema especifico, com objetivo ampliar o conhecimento cultural do jovem por meio da interação com a cidade e da participação em oficinas e atividades artísticas, além da oferta cultural e de lazer é o foco desse projeto. Idealizado a partir de um coletivo, a Matilha Cultural, hoje, é considerada um dos centros culturais mais diversificados da cidade. Inicialmente o espaço prezava pela ligação e pela paixão aos cachorros, fazendo com que até hoje, seus pets sejam bem-vindos no espaço, todos os domingos ocorre a feira de adoção de animais abandonados em parceria com a ONG Natureza Forma. Após algum tempo a Matilha foi redesenhada, tornando-se um espaço multicultural, sem perder o foco em seus ideais, socioambiental e produções independentes.

Figura 9 - Matilha Cultural | Entrada + Galeria.

A Matilha busca patrocínios institucionais e por projetos para se manter e, também, aluga seus espaços para eventos privados, que promove, além de toda infraestrutura, a contribuição para a sustentabilidade de um espaço cultural gratuito. O espaço é divido em três andares, onde referências aos cachorros estão em toda parte, principalmente nos grafites. O primeiro espaço (subsolo) é onde se localizada a galeria com exposições temporárias, jardim e o café com wif-fi liberado, podendo ser usado como ambiente de trabalho e estudo, possuindo um cardápio vegetariano ou vegano, dando prioridade aos produtos orgânicos. Nesse ambiente acontecem a cada 15 dias um happy hour às quintas-feiras, o espaço é aberto para interação ao som de DJs.

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29 Figura 10 - Matilha Cultural | Fachada.

Figura 12 - Matilha Cultural | CafĂŠ.

Figura 11 - Matilha Cultural | 1Âş Andar.

Figura 13 - Matilha Cultural | Cine Matilha.


Figura 14 - Matilha Cultural | Localização.

Área Útil

Capacidade

Subsolo: Galeria

100m² (20m x 5m)

100 pessoas

Primeiro andar: Galeria

15m x 15,5m

100 pessoas

Segundo andar: Cinema

Tela: 4m x 3m

68 lugares | 3 cadeirante

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Um exemplo, é o Viaduto Santa Tereza, projeto para uma mini galeria de exposição para grafiteiros com 20 m² embaixo do Viaduto. Os quatro jovens convidados a grafitar quatro telas, explorando o tema “cidade”, com o objetivo de despertar o interesse da população para a exposição de grafite dos participantes do Fica Vivo!, criado em 2003 e atende hoje cerca de 15 jovens em todo o estado de Belo Horizonte – Com 130 obras, que retratam a arquitetura dos morros, de monumentos históricos da cidade, a relação do homem com o espaço urbano e cenas que remetem a perspectivas de futuro – justamente usando a arte e a cultura como instrumento de inclusão dos integrantes do programa, todos moradores de áreas de risco social. Além de toda a questão da arquitetura parasita inserida e as conexões com a exposição. O resultado será um conjunto de reflexões sobre espaço público, mobiliário urbano, e arte como forma de intervenção na cidade, a partir de ideias e estudos que apresentem essas propostas de intervenção com a intenção de transformar o espaço, percebendo que o princípio da arte vai além do interesse plástico, ela pode ser geradora de conflitos e/ou portadora de novas percepções, a ideia não seria demolir e construir o novo, é pensar a partir do que já existe,

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Figura 15 - Viafuto Santa Tereza.

Existiria, também, um espaço de acolhimento, pois o acesso aos interiores do térreo torna-se mais generoso, há um “respiro” entre o fluxo do passeio público e os degraus que dão acesso aos níveis superiores e inferiores. Esse acolhimento, entretanto, dá-se apenas como um instante de passagem, servindo como uma espécie de “lobby” externo de ingresso ao edifício, não se conformando como um “lugar”.

atualização a partir da introdução de um novo corpo, trazendo novas relações. pertence. Já o espaço tornado público, por não ser definido apenas pela sua presença física, mas também por ações momentâneas que o constituem, pode ser carregado, transportado, disseminado. Parte dele está atada ao corpo dos indivíduos que o constroem.

Figura 16 - Exposição Fica Vivo!.

Para o projeto em si, na Matilha Cultural, foi pensado numa forma de concentrar-se mais em questões de organização dos fluxos e reorganização de espaços, condições para que tenha uma intensificação de usos dos espaços do subsolo e principalmente do primeiro andar, perdido, por falta de informação, já que os visitantes, por conta da escada, acham que o acesso não é permitido para os andares superiores. Assim, os artistas se apropriariam, com intervenções, promovendo uma nova distribuição dos espaços por todo o prédio, com instalações, pinturas, e desafiariam o espectador, com a capacidade de absorver diferentes usos e atividades momentâneas.



ESTUDOS DE CASO


Figura 17- Casa Amarela.

8.1. A Casa amarela, localizada na rua da Consolação, é um casarão tombado que foi ocupado pelo Movimento de Ocupação de Espaços Ociosos, com o objetivo de discutir a pauta de ocupação de espaços públicos por coletivos artísticos em benefício da produção cultural da cidade e de seus cidadãos. A casa está totalmente pichada e grafitada e nela se realizam diversas atividades no espaço, como encontros e ateliês compartilhados. (Disponível em: https://www.sobrevivaemsaopaulo.com.br/2016/02/04/casa-amarela-se-estabelece-como-quilombo-urbano-no-centro-de-sp/) 8.2. É uma plataforma colaborativa para compartilhar experiências de prática de escrita urbana, com registros, fotográficos, sonoros e videográficos, das práticas de escrita urbana, o grafite.

Figura 18 - Mapa dos Graffitis.

O projeto surgiu a partir de um desejo de registrar, visualizar e disponibilizar as imagens dos grafites já apagados pela cidade, para que pudessem ser experimentados em relação com os novos que foram escritos e que têm como uma marca da expressão a efemeridade. (Mapa dos Graffitis. Disponível em: http://www.mapadosgraffitis.org/?cat=13).

CASA AMARELA MAPA DOS GRAFFITIS

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Figura 19 - Bienal de Artes 2008.

8.3. Em 2008, na Bienal Internacional de Artes de São Paulo, no Parque do Ibirapuera, os pichadores, sem autorização, picharam as paredes do espaço vazio, no segundo andar do pavilhão. No entanto, essa atitude rendeu, dois anos depois, uma ala para a pichação na 29ª edição da mesma Bienal. Três daqueles 40 pichadores foram convidados pela curadoria, na condição de artistas, para representar o movimento. O que era intervenção urbana ganha agora status de arte, arte marginal, proibida e transgressora. (Catálogo Bienal, 2008. Disponível em: https://issuu.com/bienal/docs/29a-catalogo-pt/7)

Figura 20 - Guia de arte de rua no Rio.

8.4. A conta no aplicativo Instagram oferece um mapa com um percurso proposto que mostra obras de diferentes artistas situadas em diversos pontos da cidade. A conta @InstawalkRio oferece um mapa com mais de 50 obras urbanas exibidas nas ruas do Rio de Janeiro. O percurso proposto pela conta inclui obras de diferentes artistas situadas em diversos pontos da cidade, como o Boulevard Olímpico, um novo parque que se estende por grande parte da área que anteriormente era ocupada por adegas e píeres do porto do Rio de Janeiro. No local está o gigantesco mural de 3 mil metros quadrados concluído há poucas semanas pelo reconhecido artista brasileiro Eduardo Kobra, no qual destacam-se os rostos de representantes de etnias dos cinco continentes. (Disponível em: https://www.instagram. com/instawalkrio/).

BIENAL DE ARTES DE SP - 2008 GUIA DE ARTE DE RUA NO RJ

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Figura 21 - Escritório de Arte Humanar.

8.5. Localizado próximo à estação de metrô barra funda, o espaço Humanar recebeu ano passado a exposição “Em nome do Pixo: a experiência social e estética do artista Cripta Djan”, onde um dos principais pichadores paulistano celebra sua trajetória de 20 anos de riscos na rua e apresenta obras originais na exposição. O espaço Humanar foi pensado e produzido junto com a galera da pichação. Toda fachada do prédio foi deixada em cimento cru propositalmente para ser completamente pichada, formando um caça-palavras gigante, promovendo uma conexão interior/exterior.

Figura 22 - Exposição “Em nome do Pixo”.

8.6. A exposição apresenta obras originais na exposição, grandes painéis ou telas que trazem mensagens pichadas e um acervo de fotos de vários momentos da história pessoal do Cripta na pichação. Toda exposição foi financiada pelo próprio artista com a venda de suas obras, o que garante muito mais liberdade em todo o projeto. A ideia de criar um espaço próprio vem diretamente da necessidade, isso porque o circuito de arte nunca permitiu que a pichação fosse vista como algo artístico. Por isso, o novo espaço vem para provar que o palco do pichador é na rua, mas que ele também pode estar dentro de galerias e museus. (VICE, 2016)

ESCRITÓRIO DE ARTE HUMANAR EXPOSIÇÃO “EM NOME DO PIXO”

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Figura 23 - Arte fora do Museu.

8.7. O aplicativo seleciona murais, grafites, esculturas e intervenções nas ruas de São Paulo. O usuário pode fazer buscas por obras próximas à sua localização atual e visualizar no mapa. Há também a opção de fazer roteiros temáticos como Século XXI, Os Gêmeos, Arquitetura Moderna Paulista e Niemeyer em São Paulo. Todas as obras cadastradas contam com fotos e uma descrição feita por especialistas. Além de oferecer informações básicas como localização, horários de funcionamento e a programação atualizada dos principais pontos artísticos e culturais de São Paulo, esse app serve para criar roteiros em uma determinada região da cidade – valorizando passeios a pé entre um canto e outro. Os passeios podem ser programados diretamente na agenda do celular. (Disponível em: http://arteforadomuseu. com.br/).

Figura 24 - Adidas Urban Art.

8.8. A Adidas alemã criou um aplicativo que lista todos os locais que possuem grafites na cidade. Os usuários baixam o app de graça, dando-lhes acesso a um mapa do Google de Berlim que é vinculado com as localizações dos grafites, bem como informações sobre a obra, o artista e outras referências. Os elementos interativos do aplicativo incluem funcionalidades de classificação e comentários que permitem que os usuários façam upload de seus próprios grafites, o que mantém o mapa sempre atualizado sem nenhum custo extra para a Adidas. (Disponível em: http://appshopper.com/lifestyle/adidas-urban-art-guide).

ARTE FORA DO MUSEU ADIDAS URBAR ART

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Figura 26 - Projeto: Estação Grafite.

Figura 25 - Roteiro de Arte Urbana.

8.9. São Paulo começou a ganhar o colorido dos grafites nos anos 80. E hoje, muitos de seus artistas, reconhecidos internacionalmente, atraem visitantes à procura de suas obras, que acabam se encantando com a descoberta de novos gênios da arte de rua. Essas intervenções urbanas, por sua característica dinâmica, podem ser admiradas por um período limitado e ao mesmo tempo indeterminado, sendo imortalizadas com fotos que de tempos em tempos são expostas em galerias e outros espaços culturais. (Disponível em: http://www. cidadedesaopaulo.com/sp/o-que-visitar/roteiros/roteiros-tematicos/ roteiro-arte-urbana). 8.10. Os artistas que apoiam e utilizam o grafite como expressão e até mesmo sustento unem esforços para modificar a percepção das pessoas sobre esta arte urbana contemporânea. Este projeto discute uma forma mais eficaz de mudança deste paradigma, utilizando como agente transformador as mídias digitais e seu poder de influência sobre as pessoas. O projeto sugere a criação de um aplicativo colaborativo que reunirá informações a respeito do tema proposto, como imagens, obras, artistas e pessoas que se interessam pelo assunto. Para a divulgação do mesmo uma estratégia de comunicação foi desenvolvida com o objetivo de posicionar o grafite como uma forma de arte.

ROTEIRO DE ARTE URBANA PROJETO: ESTAÇÃO GRAFITTE

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8.11. A verticalização de São Paulo acabou rendendo espaço infinito aos pichadores. O documentário ‘Pixo’, dirigido por João Wainer, conta as origens da pichação, sobre como se tornou uma expressão urbana típica da metrópole paulistana desde os tempos de ditadura civil-militar. Em meio à discussão a respeito da pichação ser, ou não ser arte, o filme aborda sua questão principal, escondida pelas polêmicas produzidas pelos grandes meios de comunicação e pelo governo sobre o que se trata a pichação enquanto fenômeno social; mostrando que a pichação retrata nada menos que a própria opressão da metrópole, já que é a única oportunidade de muitos de serem vistos.

Figura 27 - Documentário: Pixo.

Fica evidente, no filme, como o processo de urbanização e de formação das periferias metropolitanas, em São Paulo, determinou a pichação como grito de jovens e trabalhadores excluídos da cidade. A organização em grupos de pichadores, os desafios de pichar muros e paredes de prédios altos, a elaboração das assinaturas, as competições do universo da pichação compuseram os elementos para criar o uso de táticas espaciais que confrontaram e confrontam, com cada vez mais força, os sintomas da propriedade privada contra os trabalhadores periféricos. (Disponível em: http://esquerdaonline.com. br/2017/02/10/documentario-pixo-o-alfabeto-da-disputa-espacial-na-cidade-e-suas-origens/)

DOCUMENTÁRIO: PIXO

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Figura 29 - Ópera da Lua.

Figura 28 - B_arco Cultural.

8.12. Criado para integrar diferentes áreas da cultura, o b_ arco, sigla para Brasil Arte Contemporânea, é um espaço de pesquisa, reflexão, troca e criação de arte e cultura que há oito anos investe, potencializa e fomenta debates entre público, artistas e agentes culturais, mantendo sempre o lema de exploração, permanente movimento e fluxo continuo que também constituem o nome do espaço. Com uma programação variada de eventos, shows, peças e exposições, além da área de educação e pesquisa com cursos livres e debates culturais, todos os envolvidos no b_arco fazem parte de uma rede de intercâmbio cultural de informação, colaboração, e difusão de conhecimento. (Disponível em: http://barco.art.br/) 8.13. As obras dos grafiteiros Otávio e Gustavo Pandolfo, mais conhecidos como Os Gêmeos, são o destaque da exposição “A Ópera da Lua”, reunindo 30 pinturas, três esculturas, além de uma instalação musical e uma videoinstalação 3D, trabalhando com várias técnicas e suportes diferentes, de forma simultânea e alternada: do desenho para o grafite e os murais, esculturas e instalações. O estilo da dupla, imediatamente reconhecível, caracteriza-se por seus personagens singulares, que habitam um mundo onírico em contraponto com a cidade que lhes serve de suporte e estímulo. Em narrativas que podem ser poéticas, irônicas ou críticas os artistas trabalham com muitos detalhes em uma minuciosa construção das imagens. (Disponível em: http://www.osgemeos.com.br/pt/projetos/a-opera-da-lua/)

B_ARCO CULTURAL ÓPERA DA LUA

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Figura 30 - Exposição: Niggaz.

8.14. Alexandre Luis da Hora Silva, Niggaz, foi o primeiro grafiteiro a cruzar a fronteira entre periferia e centro. E era um dos ícones do muralismo e do grafite em São Paulo. Com o objetivo de não é somente homenagear o artista, a exposição propõe para cada convidado, a conexão entre seu trabalho e sua poética individual. A mostra traz a conexão de artistas convidados entre seu trabalho e sua poética individual com a produção do Niggaz. A intenção do grupo curatorial é associar a ambientação da exposição a memória do Niggaz, expondo imagens de seus trabalhos de grafite, de seus desenhos e da época em que ele viveu. (Disponível em: http://misturaurbana.com/2016/09/exposicao-niggaz-da-hora-graffiti-memoria-e-juventude-na-galeria-olido/)

Figura 31 - Documentário: Cidade Cinza.

8.15. Em 2008 a prefeitura de São Paulo resolveu iniciar uma política de limpeza urbana, na qual os muros da cidade seriam pintados com a cor cinza de forma a apagar as intervenções neles realizadas. O documentário de Marcelo Mesquita e Guilherme Valiengo, sobre o grafite na cidade de São Paulo, é um trabalho de sete anos e coloca o estilo, como movimento artístico e cultural legítimo. O filme traz como protagonistas, os principais grafiteiros brasileiros: Os Gêmeos, Nina, Zefix, Finok, Ise e Nunca. O pano de fundo é a história do mural de 700 metros feito pelos artistas na Avenida 23 de maio e apagado pela prefeitura de São Paulo logo após a sua finalização, e que depois, em uma crise de arrependimento forçada pela mídia, os artistas foram chamados para que o refizessem. O documentário Cidade Cinza mostra um pouco do início do estilo no Brasil, no final dos anos 80. As dificuldades iniciais, a falta de reconhecimento, os patrocínios e a evolução dos protagonistas como artistas e questiona o cinza que cerca nossas vidas nas grandes metrópoles, se as cores presentes nos grafites não nos interessariam mais. (Disponível em: http://followthecolours.com.br/cooltura/filme-cidade-cinza/)

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EXPOSIÇÃO: NIGGAZ DA HORA DOCUMENTÁRIO: CIDADE CINZA


Figura 32 - Exposição: Di, Pichar é Humano. Figura 33 - Exposição: Entre Concreto e Aço.

EXPOSIÇÃO: DI PICHAR É HUMANO EXPOSIÇÃO: ENTRE CONCRETO E AÇO

8.16. Uma homenagem a Edmilson Macena de Oliveira, mais conhecido como DI, considerado por muitos como o maior Pichador da década de 90, transcendeu a questão de a pichação ser ou não arte, já que cravava sua caligrafia nos topos de importantes instituições artísticas e prédios emblemáticos da cidade. A mostra contou com fotografias, matérias de jornais, escultura e documentário sobre o artista na galeria A7MA, que apresenta exposições de artistas emergentes no circuito da arte de rua mundial, valorizando a multiplicação e o compartilhamento de informações e conhecimentos adquiridos por meio de intensa pesquisa e prática, reunindo e sensibilizando variados públicos e gerações, pertencentes ou não do universo que permeia a arte urbana, resinificando comportamentos e conceitos com disposição e autenticidade, representando a arte que nasceu nas ruas e permanece dia a dia ganhando visibilidade e reconhecimento no mercado e história da arte. (Disponível em: http:// a7ma.art.br/a7ma-galeria-realiza-a-exposicao-di-pichar-e-humano-com-curadoria-de-sergio-miguel-franco/) 8.17. São Paulo, com seus muros e aglomerados edifícios que cresceram desenfreadamente, apresenta, por alguns indivíduos, o colorido dos grafites, bombardeando, explodindo cores, gritando traços, fazendo-se presentes através da transformação na paisagem urbana. Nas paredes, se tornam notáveis, legitimando seus nomes inventados e incontavelmente repetidos, usando os muros da megalópole como um gigante bloco de anotações. Ricardo Kaur e Rafael Sliks carimbam seus nomes nas ruas a mais de 15 anos. Quando ambos entram em suas casas e ateliês, deixam a rua do lado de fora, porém, a necessidade de expressão através da pintura continua, dada pelas reflexões sobre as experiências adquiridas através das vivências nas ruas da cidade de São Paulo. (Disponivel em: http://a7ma.art.br/entre-concreto-e-aco/).

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POESIA NAS ESQUINAS


O diferencial do Beco é justamente a proibição de circulação de carros, dando prioridade aos pedestres. Essa iniciativa é válida para nos apropriarmos inteiramente da cidade, aproveitando para (re)conhecer São Paulo. Uma outra opção, e oferecida pela equipe do BIKETOURSP, que visa proporcionar uma experiência cultural para passear por São Paulo de bicicleta, conhecendo mais sobre os murais e a arte do grafite, trazendo uma série de mudanças de percepções do espaço. O grafite e pichação, são, além de tudo, é sensoriais, no sentido de tocar quem faz e quem o aprecia, um sentimento único que estabelece relações de grupos nas cidades, combinado com uma busca incessante por espaços de boa visibilidade, lugares mais

afastados e escondidos e até inusitados, suscitando a ideia de que estavam por toda parte. Um dia considerado vandalismo, o grafite, por exemplo, hoje é perfeitamente aceito como expressão artística, sendo exposto em museus e decorando fachadas de pontos turísticos importantes pelo mundo, como o museu Tate Modern, de Londres, que já teve suas paredes desenhadas pelos Os Gêmeos.

Figura 34 - Beco do Batman.

Os grafites de São Paulo revelam a essência da vida paulistana, podendo ser encontrados até nos mais previsíveis muros e prédios, como também nos inusitados esgotos, fazendo com que esse encontro se torne uma forma de se conhecer a cidade por meio da crítica social exposta na arte urbana, que envolve técnicas que vão de grafite a lambe lambe, passando por estêncil e adesivos, além das pichações. Os roteiros em meio aos grafites de São Paulo são eventualmente feitos em lugares “chave” sendo mais populares e atraindo turistas, como o Beco do Batman, uma galeria a céu aberto de grafites pintados com tinta spray, feitos principalmente por artistas brasileiros, no bairro da Vila Madalena em São Paulo. A história do Beco começou nos anos 80, quando surgiram nas paredes da rua Harmonia um desenho do homem-morcego dos quadrinhos, o Batman. A novidade fez com que estudantes de artes plásticas começassem a criar desenhos de influência cubista e psicodélica nas paredes do Beco, fazendo com que o lugar, que antigamente era abandonado, passa-se por uma imensa transformação com a presença dos artistas, tornando cada centímetro de muro coberto por intervenções. Apesar de ser uma galeria informal, o espaço é constantemente disputado por artistas que buscam expor seus trabalhos, e por isso foram criadas algumas regras essenciais para garantia da ordem, onde quem pintou no muro permanece “proprietário” da parte específica que usou. Um grafiteiro deve obter a autorização do “dono” para usar o espaço já coberto.

Para um bairro que respira cultura como a Vila Madalena, o Bike Tour SP preparou um roteiro que apresenta os principais museus, galerias, bares e graffitis da região. Além disso, a rota Vila Madalena é a primeira realizada com bicicletas elétricas, que deixam o trajeto mais leve e acessível para participantes de todas as idades. (BIKE TOUR SP, 2016)

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Figura 36 - Prédio do Conjunto Nacional.

O ponto de encontro, que mais tarde seria denominado point, se tornou o lugar onde se combinavam as ações socioculturais em comum e o ponto de partida para as incursões pela cidade, estabelecendo uma prática seguida pelas gerações seguintes e que se estende até o presente momento. Um campo social determina uma complexidade de relações que definem um estilo de vida dos atores pertencentes a ele. As práticas que a expressão e o comportamento dos pichadores visam justamente as formas de agrupamento, os seus modos de deslocamento pela cidade e o seu padrão estético de caligrafia. A pichação é uma prática que pode ser encarada por muitos como manifesto, escrita contestatária, por ser, desde sua origem, expressão gratuita, subversiva e que rompe certos valores sociais das classes dominantes. Bate de frente com a questão do que é arte, do belo e da liberdade de expressão. O fato é que ela já faz parte da paisagem urbana de forma orgânica e sua existência pode ser considerada uma interferência espacial característica de uma cidade como São Paulo.

Figura 35 - Museu Tate Modern | Londres.

A pichação, por sua vez se utilizava de codinomes pelos seus precursores, que procuravam lugares de destaque na cidade para espalhar a suas marcas pelo maior número de vezes, além de compartilharem experiências e estabelecerem relações de grupos nos bairros onde moravam.

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FUNDAMENTACAO ´ EXPOSITECNICA CONECTADA COM O EXTERIOR


sociais, exibindo através de uma linguagem fiel essas expressões, mas sem mantê-las em “cativeiro”, já que o palco central para aprecia-las é a própria cidade, a rua, contemplando a diversidade visual, em que uma multiplicidade de imagens aparecem e concorrem na conformação visual do espaço urbano, respeitando essas manifestações artísticas e públicas, cujas temáticas detém um rol de aspectos muito particulares. O sentido corrente do conceito refere-se à arte realizada fora dos espaços tradicionalmente dedicados a ela, os museus e galerias.

Figura 37 | 38 - Criação da autora: Roteiro de Grafites e Pichações | Digital.

O grafite, não por acaso, é uma forma de expressão típica dos grandes centros urbanos, com diversos artistas deixando suas marcas pelas ruas paulistanas. A expressão racional provocada por essas manifestações promove um sentimento sobre as adversidades não só da vida cotidiana, mas também trava contato entre campos sociais distintos, casos da publicidade, nas disputas pelos espaços de destaque na paisagem urbana, e da arte, ao adentrar em um espaço destinado aos que detém capital cultural especifico para entender os códigos que a legitima socialmente. Trata-se de forçar o acesso ao se transformar em fenômeno estético, buscando explicações mais fundas para sua essência. Utilizando-se de uma ação cultural em um espaço já existente, conhecido como Matilha Cultural, onde o conteúdo principal teria enfoque em uma produção expositécnica de ocupação do grafite e da pichação como cunho artístico, social e político, além de debates, oficinas de educação, apresentações e exibições de filmes, documentários e curtas, explorando o assunto e aproximando a população. Essa exposição começaria na Matilha e depois direcionada para à rua, ou vice e versa. Usufruindo da conexão interior (através do espaço público, aberto para a população) e exterior (a própria cidade) onde foi elaborado um roteiro com um mapeamento de grafites e pichações pelo bairro da República, contendo imagens que retratam a marca do artista que explora essas expressões e que presenteia os olhos da população com os muros que recebem essa estética urbana que se integra perfeitamente à arquitetura do centro de São Paulo. O guia encontra-se em uma plataforma digital, posteriormente impresso e distribuído na própria Matilha, possuindo também o caráter de memória, já que se trata de algo efêmero, que um dia pode ser apagado. O ambiente (Matilha Cultural) seria um espaço de encontro e permanência, abusando da relação com a cidade, na República, no centro de São Paulo, bairro marcado pelo multiculturalismo, aspecto fundamental para a formação e consolidação como metrópole contemporânea na questão de arte urbana, destinando-se a uma exibição que vise expor a arte de rua, bem como mostrar que a concepção de espaço em geral, e de espaço expositivo em particular, e que por meio da expografia pode-se identificar aspectos importantes do conceito de arte de uma determinada época e avaliar alguns de seus desdobramentos

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´ CATALOGO

CONSOLIDADO


O cenário da arte urbana está em evidência, sendo nas ruas ou fora delas, nunca houve tantos artistas talentosos, público crescente, colecionadores, mídia disposta a dar visibilidade, pesquisadores no entorno, publicidade interessada nos traços e na linguagem estética, museus e exposições legitimando o valor das obras. Definitivamente, grafite e pichação constituem atividades diferentes. Apesar de algumas semelhanças estruturais, como o uso do espaço público para a elaboração, as duas práticas têm suas diferenças objetivas. Os grafiteiros podem ser encarados como artistas em potencial que não tiveram oportunidades ou não foram orientados para frequentar ambientes de aprimoramento de suas técnicas, tendo seu laboratório prático se dado nas ruas. Tais atividades têm suas origens relacionadas à expressão da subjetividade de seus praticantes, à contestação da forma como o espaço público é bombardeado pela propaganda, e constituem, na base, uma alternativa de entretenimento.

Surgido no contra fluxo dos planejamentos urbanos e misturados às outras intervenções aleatórias nas cidades contemporâneas, o grafite e a pichação vêm despertando atenção e provocando polêmicas nas políticas governamentais, no circuito das artes, nas dissertações acadêmicas e nos comentários rotineiros das rodas de amigos. Arte para uns, poluição visual para outros, ainda que de um modo geral, essas intervenções sejam transgressoras e semelhantes, essas expressões apresentam técnicas e políticas diferenciadas de acordo com o propósito de cada agente ou grupo em seu tempo e espaço definidos, elas remodelam a cidade e devolvem a ela um caráter de comunicação compartilhada, de recepção de novos significados, tensões e mudanças. Fazem dos espaços da cidade espaços de opinião, de investigação, de diálogo e, por que não, da arte, recuperando a cidade, o corpo, os meios de comunicação como lugar da cultura, mas da cultura não só dos dominantes, mas do povo, dos que nela vivem e trabalham.

O texto “Cidade de Muros” de Tereza Caldeira discute essas inter-relações com as modernas concepções de planejamento urbano e arquitetura, onde os muros vêm tornando-se cada vez mais explícita a desigualdade e as distâncias sociais, mas não são capazes de obstruir totalmente o exercício da cidadania, nem de impedir os cidadãos pobres de continuar a expansão de seus direitos. É nesses muros – que determinam o limite entre o espaço público e os enclaves fortificados, e que representam o maior emblema da segregação espacial nas grandes cidades brasileiras, onde muitos artistas de rua expõem suas manifestações.

A primeira grande exposição de grafite no mundo teve lugar em 1975, no Artist Space, em Nova York; o ponto mais criticado foi sua aparição quando exposto em um ambiente fora daquele urbano. Essas expressões podem, e devem sim estar nas galerias de arte e museus, e que inclusive essa transposição de uma prática cultural, essencialmente, urbana para um ambiente fechado, restrito a determinados públicos, contribui para o reconhecimento e valorização dos mesmos.

Para tanto, a publicidade pode passar de uma imagem alusiva a uma marca, até a uma informação subliminar ou um merchandising mais explícito. A pichação, por sua vez, pode passar de um rabisco ilegível e monocromático, a uma assinatura, até culminar em um código secreto articulado por jovens e adultos que nele se reconhecem. Publicidade e pichação podem ser entendidas como “frases” que estimulam os sentidos com surgimentos e cortes bruscos, inferidos pelos ritmos da cidade, em uma leitura constante da aparência urbana. Acredita-se, porém, que o pichador não tem como objetivo poluir visualmente a cidade quando marca os muros, e, sim, afirmar sua presença em uma disputa.

O modelo comunicativo da publicidade é o resultado complexo de muitas linguagens parciais fundidas numa síntese suja, por assim dizer. Com efeito, o emissor seleciona algumas linguagens entre outras, enquanto o destinatário traduz o todo com uma sensibilidade que varia com base naquelas características, próprias de cada camada de público, que se diferencia de possuir ou não os novos alfabetos visuais (CANEVACCI, 2001).

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Ele perde uma de suas características fundamentais, a de acessibilidade. O grafite nas ruas é acessível a toda a população, principalmente àquela que não tem acesso às exposições de “obras de arte”. Por outro lado, a inserção do grafite nesse novo ambiente, mesmo com restrições temáticas, é vista como um ponto positivo, até como o ponto máximo de reconhecimento de uma prática que nasceu nas ruas (DAVI, 2012).

A narrativa proposta para essa mostra seria a criação de uma programação que valoriza-se o ato efêmero. Com duração de oito semanas, a exposição contaria com também oito convidados, entre eles pichadores e grafiteiros, que usariam cada um, uma semana especifica para sua intervenção no espaço, sendo ele feito de maneira diversa, através de obras, peças, murais, experiências visuais, dinâmicas e interativas, etc. proporcionando imersões com cada elemento articulador de sua identidade e que depois seria completamente apagada para que o próximo artista realiza-se sua mediação, ao vivo para os convidados, criando toda essa dinâmica com o compartilhamento de experiências e expansão da sua percepção para contribuir significativamente para ações culturais, apresentando São Paulo como uma cidade tomada por intervenções e arte urbana, onde a pichação e o grafite já fazem parte da cultura, por isso é importante conhecer a sua história e características. mentários também seriam exibidos no espaço de cinema no Matilha, com sessões em determinados dias e horários, totalmente gratuitas. Em paralelo, para compor a programação, a mostra ainda contaria com diversos workshops propostos pelos próprios artistas, explicando, exemplificando e contextualizando os diferentes tipos de tipografias espalhadas pela cidade. De onde vem, como surgiram, quais influências e como atingem o cenário social; filmes e documentários também seriam exibidos no espaço de cinema no Matilha, com sessões em determinados dias e horários, totalmente gratuitas.

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Os fluxos de indivíduos variariam conforme a semana e o artista convidado, dependendo de sua proposta. Ela poderia começar pelas exposições, tanto no subsolo como no primeiro andar, para um melhor entendimento sobre a discussão que o criador está levando e suas características e técnicas particulares, sintetizando sua bagagem cultural; a próxima parada poderia ser a exibição de algum filme, documentário ou debate, assim como os workshops e as oficinas, se aprofundando mais no assunto oferecido. O mapeamento dessa produção destacaria aspectos importantes na formação do artista convidado, cada seção, correspondente a um período apresentaria motivos ou processos criativos de sua identidade, fazendo com que o público tenha as mais variadas interpretações, justificando essa distribuição. Isto ajudará a adaptar a exposição às necessidades, aos interesses e às preferências do visitante. O público-alvo poderá incluir uma grande pluralidade de idades, aptidões e diferenças culturais. Essa atitude não só discutiria o ato efêmero que é muito presente no grafite e na pichação, como também a questão de arquitetura parasita, com as intervenções temporárias no espaço. A Matilha Cultural manteria seu compromisso com a formação de público para as artes e com promoção do acesso à cultura, colocando em questão um aspecto dessas formas de expressão: a espontaneidade. No final da mostra, um catalogo consolidado seria criado, com todo o material reunido durante as oito semanas, uma vasta produção. Entre os artistas convidados estariam:

1 . DJAN IVSON Cripta Djan, como é conhecido nas ruas e no mundo das artes, começou a pixar aos 13 anos, onde também entrou para gangue “Cripta”. Sua ação nas ruas o consagrou entre os pichadores, já que ele realizou o maior número de pichações em raio de abrangência e dificuldade, chegando a escalar arranhásseis com mais de 20 andares, sem nenhum aparato de segurança. Depois dessa legitimidade no movimento, passou a defender a causa dos jovens periféricos da metrópole, tornando-se líder e espelho para aqueles que desejam sair da invisibilidade social.


Figura 40 - Fundação Cartier.

Quando a Fundação Cartier em Paris organizou uma retrospectiva mundial sobre arte de rua em 2009, intitulada Né dans la Rue: Graffiti (Nascida nas Ruas: Grafite), Djan foi convidado a representar a pichação como um novo fenômeno artístico. Composto por fotografias de seu trabalho, que foram exibidas pela primeira vez, é um reconhecimento importante da pichação original de São Paulo. Em 2010, participou da 29ª Bienal de São Paulo; em 2012, da 7ª Bienal de Berlim, onde atraiu atenção da mídia ao jogar tinta no curador da exposição após ser proposto uma forma de demonstrar a pichação no formato de workshop. “Não tem como dar workshop de pichação, porque pichação só acontece pela transgressão e no contexto da rua” (IVSON, 2012). No mesmo ano, participou de uma exposição no MuBE de São Paulo, além de ministrar palestras, consultorias, entre outros eventos que ajudaram a torná-lo um dos principais representantes públicos desse tipo de prática. Além disso, começou a desenvolver novos trabalhos após a Bienal e mostrou dez obras de tinta em papel pela primeira vez em uma exposição intitulada “Da Periferia ao Centro” em Nova York no ano de 2016.

Figura 39 - 7ª Bienal de Berlim.

2. IACO VIANA Formado em artes visuais e ex-professor de Educação Artística em escola estadual, iaco Viana (com “i” minúsculo mesmo) começou na pichação em 1996, escrevendo ‘iaco’ em uma tipografia com letra cursiva estilizada para poder diferenciar da pichação tradicional e alcançar o maior número de pessoas, passando a acrescentar adjetivos para tornar algo mais participativo com a sociedade, como se fosse uma troca, junto da escrita um desenho de dinossauro para trazer a ideia de “extinção”. Acho que do mesmo jeito que para mim foi referência, para algumas pessoas também pode ser é uma. Creio que serve para contextualizar, serve para despertar sentimentos, interagir com o cotidiano. Para mim, esse é meu ideal e também o papel da arte. Só torno o muro um suporte mais acessível aos olhos. (VIANA, 2017)

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Figura 42 - Exposição: Um Risco.

Figura 41 - 7Tag de iaco em Muro.

terior da galeria como intervenções de rua. Em painéis de madeira ou metal, o artista também apresenta suas últimas pinturas em telas de formatos menores. Caligrapixo queria sair dos muros, olhar para outras linguagens, outros contextos, mas sempre com base na caligrafia da pichação, tentando introduzir a cor para quebrar esse universo de cinzas, poeira e poluição, conciliando o clandestino e o efêmero, usando uma reflexão elaborada do método gesto-escrita sem virar as costas para a história da arte; suas inscrições são lidas como a expressão do inconsciente da cidade. Esta abordagem inscreve sua prática no contexto emergente da etnologia e sociologia da vida cotidiana.

3. CALIGRAPIXO – KAMIKAZE Caligrapixo é um projeto baseado na caligrafia da pichação de São Paulo, criado pelo pichador Kamikaze, seu nome artístico a partir de 2011. O artista interfere na paisagem urbana com seus traços, acompanhando a arquitetura da cidade e sinaliza os lugares e os não lugares de São Paulo. Sua tipografia é também seu principal elemento gráfico de construção de imagens e seu repertório é constituído de uma vivência urbana e suburbana. Ativo nas ruas até hoje, é um expoente desse movimento sócio-político-cultural e tem o histórico genuinamente brasileiro.

4. FELLIPE LOPES

A exposição “Um Risco”, na Luis Maluf Art Gallery mostra como Caligrapixo pertence ao universo das ruas paulistanas, enquanto mantem o desejo de dedicar uma parte do seu trabalho a uma reflexão artística que ele desenvolve no silêncio de seu estúdio. A primeira parte da exposição é um jogo destinado ao público, que mostra o in-

A necessidade de ocupar o espaço público e deixar seu registro pela cidade não vêm de hoje. Contestar seu valor histórico e artístico também não. Dentro desse contexto polêmico Fellipe Lopes, fotógrafo paulistano, engajado em produções artísticas audiovisuais, criou o Centro Pixo, uma série fotográfica exposta na Praça Franklin Roose-

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Figura 43 - Cartaz CENTROPIXO.

O pixo é protesto visual, livre expressão e é grito de liberdade. Ele está lá, resistindo, no caminho do trabalho, indo para o rolê, todo dia, toda hora e em todo lugar. Muitas vezes passa despercebido, mas faz parte da vida da gente. É o ‘plano de fundo’ na Babilônia paulistana, refletindo o caos de uma sociedade injusta. (LOPES, 2017)

5. RAFAEL SLIKS Estudioso da caligrafia do grafite, é fácil se deparar com um de seus tags (assinatura na linguagem do grafite e pichação) pelas ruas de São Paulo, se tornando sua marca registrada e com ela busca questionar a apropriação do ambiente urbano; muitas vezes fazendo uma fusão com as artes plásticas, onde os tags se entrelaçam uns sobre os outros, dando uma nova textura para a superfície em questão e passando a visão do caos das ruas em uma forma mais colorida e abstrata. Hoje em dia o artista urbano leva sua arte para grandes exposições em galerias e museus do Brasil e mundo afora. Participou da 3ª Bienal Internacional de Graffiti, no Pavilhão das Culturas Brasileiras do Ibirapuera, que possuía murais e quadros pintados com spray, estêncil e pincéis, além de instalações, esculturas e vídeo arte.

Figura 44 - Obra de Rafael Sliks.

velt , em São Paulo, que propõe uma visão analítica e sensível sobre a pichação e sua relação com a cidade. Em seus passeios por São Paulo, o artista capturou o cotidiano das pessoas, focalizando na presença das pichações como plano de fundo da vida delas, levantando discussões sobre a predominante presença da pichação na região central e o quanto ele vai desaparecendo de outras áreas mais elitizadas da cidade.

Muito se fala da relação entre a arte das cavernas e o grafite. Sim, ambos têm a parede como suporte. Sim, nós humanos parecemos ainda muito primitivos. Mas é apenas isso. Lá, havia a necessidade de representação e compreensão do mundo exterior; aqui, há a necessidade de afirmação de um mundo interior. Lá, se tentava criar regras. Aqui, há transgressão. Lá não havia escrita e, talvez, o desenho fosse a única forma visual de comunicação. Aqui, a escrita é a origem de tudo. (SLICKS, 2015)

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6. CRANIO

Cranio realizou uma exposição individual com esculturas inéditas dos seus índios azuis em uma forma tridimensional de até 2 metros de altura na Luis Maluf Art Gallery, tendo a mostra nomeada de MAYDAY, um pedido de socorro aos problemas da sociedade, exibindo, por meio de suas obras, uma reflexão sobre a evolução do homem e dos tempos, mostrando ícones contemporâneos nos hieróglifos encontrados nas cavernas, registradas pelo personagem do artista. A exposição segue dos tempos primitivos até os dias atuais e também critica a dependência do dinheiro. terior da galeria como intervenções de rua. Em painéis de madeira ou metal, o artista também apresenta suas últimas pinturas em telas de formatos menores. Caligrapixo queria sair dos muros, olhar para outras linguagens, outros contextos, mas sempre com base na caligrafia da pichação, tentando introduzir a cor para quebrar esse universo de cinzas, poeira e poluição, conciliando o clandestino e o efêmero, usando uma reflexão elaborada do método gesto-escrita sem virar as costas para a história da arte; suas inscrições são lidas como a expressão do inconsciente da cidade. Esta abordagem inscreve sua prática no contexto emergente da etnologia e sociologia da vida cotidiana.

4. FELLIPE LOPES

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Figura 45 - Exposição: Cranio.

Fabio de Oliveira Parnaiba, mais conhecido como Cranio, começou, em 1988 a cobrir o cinza dos muros, sempre se fazendo presente os índios, que nasceram após a tentativa de encontrar um personagem com a cara do Brasil, combinado com elementos típicos da nossa cultura. Com um toque azul e uma linha marcante, a figura está sempre em situações que roubam olhares e ainda instigam o observador a pensar sobre questões contemporâneas, como consumismo, identidade e meio ambiente. O mais incrível é que o conceito permanece atual, pois os índios na cidade representados pelo grafite são um grande contraste com a sociedade vigente, o mesmo cenário que os portugueses encontraram quando pisaram no Brasil pela primeira vez.

7. SPETO O grafiteiro Speto é considerado hoje um dos principais nomes da arte de rua do país. O artista realizou seus primeiros trabalhos na década de 80 em São Paulo, cidade onde nasceu, influenciado pela cultura do hip hop recém-chegada à cidade, e também por filmes clássicos que apresentavam o grafite e o hip hop para o mundo. Com o amadurecimento de seu trabalho e também pelo grafite ter se difundido pelo mundo como arte, Speto se tornou referência naquilo que faz, e além disso, foi pioneiro na junção entre as culturas do hip hop e do cordel, tornando seu trabalho exclusivo e diferenciado. O artista já assinou várias exposições pelo mundo, além de ter seu trabalho exposto em campanhas publicitárias.


Figura 47- Tinho. Figura 46 - Speto.

8. TINHO Walter Nomura, mais conhecido como Tinho, é um dos grandes nomes da arte de rua brasileira, sendo um dos principais representantes da “velha-guarda” do grafite no país. Sempre foi impactado pela contracultura e isso o influenciou em seu envolvimento com a pichação e com a arte de rua como um todo. Nas suas criações, Tinho mistura reflexões artísticas, poéticas, de esperança, de revolta e, algumas vezes, depressivas, à uma estética que remete muito ao grafite dos anos 80. Um símbolo que Tinho utiliza bastante são as suas crianças pálidas. Através delas, ele critica e discute temas sociais importantes como a solidão, a rotina, a vida, a infância, a política e a discriminação. Tudo isso colocando uma pergunta por trás da sua arte, é como se ele pedisse para o que o espectador tome alguma atitude ou simplesmente reflita sobre o tema proposto.

Cada um deles produzirá obras inéditas, misturando técnicas para essa mostra, em busca da textura e da linguagem, do conhecimento tipográfico e da cultura brasileira com registros de vídeo, fotografia e intervenções, mostrando o potencial estético dessas expressões, algo além da questão conceitual, da performance e da transgressão. Por se tratar de um ambiente fechado, os artistas têm liberdade total não só para pintar, mas também para pensar e criar através de outras linguagens, exibindo a sua história, influências com diferentes movimentos artísticos, relevância na contemporaneidade e suas manifestações culturais diretamente relacionadas à cultura urbana, mostrando a diversidade e qualidade da arte de rua. Os visitantes irão conhecer e aprender sobre os conceitos e particpar de workshops, onde terão uma parte expositiva, um passeio para conhecer os grafites e pichações do roteiro criado em conjunto com a cidade, traçando um panorama dos mais diversos estilos; a mostra também contará com uma escultura em um formato de uma lata de spray, que sairá da exposição em direção à rua, acompanhando os pontos do roteiro elaborado, durante as oito semanas do evento, sendo apropriada pelos indivíduos que por ali circulam, podendo interagir, tirando fotos e deixando sua marca, tag ou adesivo. Uma mistura de efêmero com arquitetura parasita, adaptável, se associando a espaços existentes, sempre pensada com estruturas flexíveis ou temporárias, uma intervenção que transforma, reconfigura e redefine o espaço, potencializado ou requalificando seu uso e ocupação. Não é algo que o subtrai de outra forma, mas sim, o contrário, é uma arquitetura que se aproveita de lugares improdutivos, vagos no espaço e que poderiam estar sendo usados em pró de algo mais eficaz.

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LOGO EXPOSIÇÃO: URBART

ESCULTURA EM FORMATO DE SPRAY: URBART

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ESPECIFICAÇÕES - ESCULTURA EM FORMATO DE SPRAY: URBART


PLANTA – SUBSOLO

PLANTA – PRIMEIRO ANDAR

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ESPECIFICAÇÕES | MOBILIÁRIO - PISO

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ESPECIFICAÇÕES | MOBILIÁRIO - ILUMINAÇÃO

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CARTAZ EXPOSIÇÃO URBART | 42 x 59,4cm.

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CARTAZ EXPOSIÇÃO URBART | 42 x 59,4cm.


ROTEIRO DE PICHAÇÕES E GRAFITES | PLATAFORMA DIGTAL – ACESSADA ATRAVÉS DO USO DE QR CODE.

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MODELO 3D EXPOSIÇÃO URBART | SUBSOLO.

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MODELO 3D EXPOSIÇÃO URBART | PRIMEIRO ANDAR.

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PANFLETO ARTISTA | 1ª SEMANA – 21 x 29,7cm

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PANFLETO ARTISTA | 2ª SEMANA – 21 x 29,7cm


PANFLETO ARTISTA | 3² SEMANA – 21 x 29,7cm

PANFLETO ARTISTA | 4ª SEMANA – 21 x 29,7cm

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PANFLETO ARTISTA | 5ª SEMANA – 21 x 29,7cm

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PANFLETO ARTISTA | 6ª SEMANA – 21 x 29,7cm


PANFLETO ARTISTA | 7ª SEMANA – 21 x 29,7cm

PANFLETO ARTISTA | 8ª SEMANA – 21 x 29,7cm

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FLYER EXPOSIÇÃO | CAPA 21 21x14,8cm x 14,8cm

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FLYER EXPOSIÇÃO | CONTRACAPA 21 21x14,8cm x 14,8cm


FLYER EXPOSIÇÃO | INTERIOR – ROTEIRO IMPRESSO + QR CODE 21 x 29,7cm

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CONSIDERACOES FINAIS


A arte pública deve ser pensada dentro da tendência da arte contemporânea de se voltar para o espaço das cidades, sendo explorado pelas expressões de modos distintos, requalificando o espaço. A proposta de fazer uma ponte entre um espaço e a própria rua liga-se à interação do público com a obra e à ideia de que a cidade é o principal espaço de expressão, diálogo e confronto de discursos dissonantes. A arte urbana é coletiva por natureza, é múltipla, imperfeita e indomesticável como a rua. Cada mínima intervenção altera e renova diariamente a composição da paisagem urbana.

o artístico fora dos espaços “protegidos e consagrados” de uma arte canonizada, voltando-se para a cidade como local de ação, adentrando em outra lógica de comunicação com o outro, a lógica do espaço vivenciado da rua, cujo fluxo caótico nos possibilita um viver mais pleno e complexo.

A poesia está na fronteira destes opostos aparentes: o local da entropia externa da rua, por um lado, e a ordem de uma curadoria dentro de uma instituição, por outro. A paisagem proposta dentro e fora da Matilha, sugere obras que se alternam entre serem reconhecidamente obras de arte, e eventos que se passam não como performances institucionalizadas, mas como ação direta do cotidiano no espaço expositivo. Serão expostas imagens fotográficas do espaço urbano que sofreram intervenções anônimas, uma memória afetiva da cidade, exibindo grafites e pichações que já sumiram ao longo do tempo, mostrando como essas expressões são passageiras e fazem uma conotação de arquitetura efêmera, uma mistura de foto-escultura: assim como a fotografia recorta um pedaço da realidade, aqui a escultura é um recorte físico e simbólico da rua, também serão apresentados painéis e diversas técnicas de ocupação no espaço, que são como grafites urbanos, além de diversos debates, que assim como apresentado nos espaços caracterizados nos estudos de casos, promovem uma outra visão sobre determinado assunto, fazendo o reconhecimento dessas expressões como arte transgressora e buscando apenas a revelação de uma nova forma de transitar diante da paisagem do cotidiano. A partir desta dinâmica de apropriação, em que tentam imortalizar seus nomes no suporte efêmero da paisagem urbana, em que a arte é entendida não apenas como parte integral da vida, mas como formadora do processo de organização social, suprindo as fronteiras que separavam as diversas disciplinas, oferecendo um caminho para a construção de um pensamento integrado, conscientizando as pessoas de que cada ser humano é um criador em potencial, com capacidade para moldar a própria sociedade, pensando-se em fazer

A mostra traria a história do grafite e também da pichação, manifestações essencialmente urbanas, com intervenções em muros, fachadas e outras construções, que hoje estão espalhadas por aí com uma linguagem artística muito característica. O espaço expositivo será totalmente transformado para receber telas grafitadas e esculturas que representam a ideologia de cada artista, uma arquitetura parasita, temporária, efêmera, combinando diretamente e fazendo uma ponte com essas expressões que serão apresentadas. É uma forma de viver, de sentir e redescobrir o mundo que através da linguagem solta, demonstram o místico de protesto, revolta e de pura fantasia.

A arquitetura contribui para a existência desses espaços, tendo um papel fundamental nessa questão, em como a construção singular pode ou não promover espaços de uso público, estabelecendo relações entre público e privado e público e comunitário.

O processo criativo, a intenção de comunicar-se, e a capacidade técnica que os grafiteiros e pichadores possuem, em nada difere a um artista propriamente dito. O crime é usar a propriedade alheia sem autorização para expressão da arte, o problema não está na arte em si. Ninguém é obrigado a dar o mesmo valor às várias manifestações de arte, o intuito é provocar reflexão, é um artificio de comunicação, então seu valor está muito mais relacionado com a maneira que ela toca as pessoas, causando emoções, prazeres, ódio e revoltam, do que com a forma estética na qual ela se apresenta. A canonização da poética urbana. O projeto também realizaria um mutirão de revitalização do entorno, com a iniciativa de promover atividades culturais.

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