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CENTRO UNIVERSITÁRIO SENAC LUCAS BUENO CASARIN
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO
PROJETO FIREWORK
SÃO PAULO 2017
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TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO
PROJETO FIREWORK
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Centro Universitário Senac, como exigência parcial para obtenção do título em bacharel de Arquitetura e Urbanismo Orientador: Prof. Dr. Gabriel Pedrosa
SÃO PAULO 2017
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Imagem 1: You Are Not Lost Fonte - http://www.slate.com/articles/life/welltraveled/2011/09/burning-man-signs.html
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AGR ADE CIMENTOS Um c i c lo i mpo r t a nt e a g o ra est á se concretizand o em minha vid a, a minha forma ç ã o a c ad ê m i c a, que t eve início em m ead os d e 2012 e d esd e então, tod o o conhecim ent o a d qu i r i d o d u ra nt e esse p ercurso fo i enriqueced or. Por tanto, eu gostaria d e ag rad e c er i m e n sam e n te à t o da s a s pesso a s q ue me acompanharam d urante esses anos d e minha vi da. Pr i m e i r am e nt e eu g o st a ria de a g ra d ecer à pessoa que me fez ser quem eu sou hoj e, Tân i a, m i n h a mã e. Obrig a do po r sempre me aux iliar nos caminhos que a vid a me l e vou e o s qu e v i r ão a seguir. S em vo cê nad a seria possível. A g r ade ç o tam bém a o s meus pro fessores por tod os os ensinamentos d urante essa e t a pa d e m i n h a v i da . E m especia l , G a b riel Ped rosa por tod a a paciência e d ed icação em me a ux i li ar c o m o o rient a do r nessa úl t ima fase d e meus estud os. A o s m e u s famil ia res e a mig o s: Muit o obrigad o por sempre estarem junto d e mim. Todos t e m o s u m a h ist ó ria , e vo cês fa zem par te d a minha. To all th e b u rners I’ve m et : l et ’s g o back to the d eser t people. We belong together w it h a lo t o f du s t . Fro m t h e b o t t o m o f my hear t, thank you for all the love and frea king a m az i n g e x p e riences we’ve sh a red t ogether. Po r f i m , o b r i ga do minh a av ó q uerida , M arlene, por me ensinar o que amor incond iciona l s ig n i f i c a. É esse a m o r q ue eu l evo c omigo para qualquer lugar que eu vou, que me leva a c o n h e c e r, e xpl o ra r e sempre l ut a r para conquistar os meus objetivos e seguir os meus sonhos. D e d i c o e s te t ra b a l h o à t o do s vo cês, Lu c a s .
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RESUMO
Este tr ab alh o se t ra t a de um pro jeto d e espaços efêmeros d e usos mistos, qu e s e a dap tam c o m o surg im ent o de novas necessid ad es d a comunid ad e local. O loc a l e s c o lh i d o p a ra o p ro j et o é o deser to d e Black Rock, no estad o d e Nevad a (E UA) , q u e an u alm e nt e receb e um fest iv a l d e contracultura chamad o Burning M an. T ra t a s e de u m a cida de ef êmera q ue rec ebe cerca d e 70 mil pessoas por ano d uran t e o e ve n to . A tr avés do t ra b a l h o co l et ivo, os par ticipantes montam estruturas comple xa s n o d e se r to e l ev a m t o da a inf ra estrutura necessária para que essa cid ad e efême ra a c o n te ç a c o m sucesso . A B l a ck Ro ck City (nome d a cid ad e temporária) é caracteriza da p o r se r u m l uga r de ext rema organização, uma comunid ad e, o Burning Ma n. O m e u p r o j e to é idea l iza do pa ra esse lugar e conta com d uas construções d istintas q ue p o s su e m si m il a rida des q ua nt o sua s materialid ad es e características. Após d evid ament e mo n tadas , e s sa s est rut ura s pro p o rcionam aos seus utilizad ores inúmeras possibilida de s d e u s o , qu e sã o t o t a l m ent e l iv res, para tod as as pessoas que no d eser to estive rem. Pa r a tal p r o j et o , ut il izo co m o m aterial principal para a construção, a made ira . Tem o s , a seg uir, co m o ca pít ulo introd utório o contex to histórico d es s e fe s ti v al e s pecif ica m ent e e o ut ros exemplos d esse tipo d e arquitetura pelo mu n do e s ua s o rigens, m ov imentos, inspirações e referências históricas. E m ca p í tu lo s p ost erio res se enco nt ram d iscussões sobre a arquitetura efêmera e su a ap ariçã o desde o s p rimórd ios d a humanid ad e. Além d e aprese nt a r e s tu d o s de ca so de pro j et o s des envolvid os com intenções projetuais simil a re s . PALAVRAS-CHAVE Construção em Madeira, Construção Temporária, Arquitetura Efêmera
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ABSTRACT
Th i s wo r k i s a bo ut a p ro j ect o f mixed -uses, ephemeral spaces that can ad apt w ith t he a pp e ar an c e o f new needs o f t h e l o c al community. The chosen place for the projec t is t h e B lac k Ro ck Deser t , in Nev a da , U SA, w hich annually hosts a counterculture fes t iva l calle d B u r n i ng Ma n, wh ich is a n e phemeral city that receives about 70,000 pe ople a ye ar d u r i n g t h e event . T h ro ugh collective work , all the par ticipants build comple x s t r u c tu r e s i n t h e deser t a nd b ring all the necessar y infrastructure for this ephem era l ci ty to su c c e e d. T h e B l a ck Ro ck Cit y (temporar y city’ s name) is characterized by being a p lac e o f e x t reme o rg a niza t io n, a c ommunity, the Burning M an. My p r o je c t i s idea l ized fo r t h is p l ace and has two d istinct constructions that have s im i lar i ti e s a s t o t h eir m a t eria l it ies and characteristics. Once properly assem bled, t h e s e str u c tures prov ide it s users w ith a big amount of possibilities of use, w hich i s f r e e fo r a l l p eo p l e in t h e deser t. For this project, I use as main material wood fo r th e c o n s t ruct io n. We h ave a s an introd uctor y chapter the historical contex t of t h i s fe s ti v al sp ecif ica l ly a nd a l so o ther similar architectual constructions around t he wo r ld an d their o rig ins, m ovement s, inspirations and historical references. In la t e r ch ap te r s th e re a re discussio ns o n t he ephemeral architecture and its appearance from t h e b e g i n n i n g s o f t h e h um a nit y. In ad d ition to presenting case stud ies of proj e c t s d eve lo p e d w i th sim il a r p ro j ect int entions. KEYWORDS Wooden Constructions, Temporary Construction, Ephemeral Architecture
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Imagem 2: Fire People - Fotografia do autor (2017)
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SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO 1.1 CONTEXTO HISTÓRICO 1.1.1 OS DEZ PRINCÍPIOS PARA A PARTICIPAÇÃO DO BURNING MAN 1.2 ORGANIZAÇÃO ESPACIAL 1.3 O BURNING MAN PELO MUNDO
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2 OS MOVIMENTOS E INFLUÊNCIAS 2.1 CONTRACULTURA 2.2 HAPPENINGS 2.3 PROVOS 2.4 WOODSTOCK
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3 PROJETANDO PARA UM FESTIVAL
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4 A ARQUITETURA EFÊMERA
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5 A MADEIRA 5.1 CONSTRUÇÕES EM MADEIRA
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6 PROPOSIÇÃO
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CONSIDERAÇOES FINAIS LISTA DE IMAGENS BIBLIOGRAFIA
130 131 133 11
Imagem 3: Happening - Fotografia do autor (2017
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“Uma das meias cidades é fixa, a outra é provisória e quando termina a sua temporada, é desparafusada, desmontada e levada embora, transferida para os terrenos baldios de outra meia cidade. [...] A cidade de quem passa sem entrar é uma; e outra para quem é aprisionado e não sai mais dali; uma é a cidade a qual se chega pela primeira vez, outra é a que se abandona para nunca mais retornar...” (CALVINO, Ítalo, As Cidades Invisíveis, 1990)
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Imagem 4 - Looks like a dream – (2016) Fonte - https://omgcheckitout.com/best-photos-burning-man-2017
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1. INTRODUÇÃO
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1. INTRODUÇÃO O B u r n i n g M a n é u m fe s t i v a l d e c o n t r a c u l t u r a ( m ov i m e n t o d e m o b i l i z a ç ã o e c o n t e s t a ç ã o s o c i a l q u e t e v e i n í c i o n a d é c a d a d e 19 6 0 ) , q u e a c o n t e c e a n u a l m e n t e no deser to de Black Rock, localizado no estado de Nevada, Estados Unidos da América, e recebe cerca de 70 mil pessoas por ano. Uma cidade temporária é c r i a d a e r e c r i a d a , e p a s s a a s e c h a m a r B l a c k R o c k C i t y, a p e n a s d u r a n t e o evento. Essa cidade é uma metrópole participativa temporária, construída por seus cidadãos e dedicada à comunidade, arte, auto expressão e auto resiliência. As pessoas que vão para o deserto são cidadãs de uma cidade efêmera, elas convivem em comunidade, rodeadas de arte por todos os lados e respeitando s e mp r e o m e i o a m b i e n t e . To d a s a s a t r a ç õ e s d o fe s t i v a l s ã o o rg a n i z a d a s p e l o s próprios participantes. A liberdade de expressão é uma obrigação para todos n a B l a c k R o c k C i t y. A o r g a n i z a ç ã o i n t e r f e r e o m í n i m o p o s s í v e l n a s a t i v i d a d e s e n a p a r t i c i p a ç ã o d e c a d a u m n o e ve n t o e a p e n a s o fe r e c e o l o c a l p a r a c e n t e n a s de acontecimentos e instalações. A ideia principal é fazer com que as pessoas interajam com as instalações e entre elas. O evento acontece por cerca de 7 dias e tem como característica ser uma grande galeria de arte a céu aberto que conta com megaestruturas inteiramente fe i t a s e m m a d e i r a , d e t o d o s o s t i p o s e fo r m a t o s . No s ú l t i m o s d i a s d o e ve n t o , p a r t e d e s s a s e s t r u t u r a s p e g a m fo g o e , a s s i m , a B l a c k Ro c k C i t y d e s a p a r e c e n ov a m e n t e . O fe s t i v a l p o s s u i d e z p r i n c í p i o s q u e d e ve m s e r r i g o r o s a m e n t e s e g u i d o s , e u m deles é “não deixe rastros para trás”, ou seja, tudo o que é levado para o deserto, deve ser removido de lá, nada pode permanecer no local.
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Imagem 5: The Man Statue (2015) Fonte - http://www.qore.com/noticias/40594/Burning-Man-mucho-mas-que-un-festival
To d o s o s a n o s , o B u r n i n g M a n t e m u m t e m a a r t í s t i c o d i fe r e n t e . I s s o s i g n i f i c a que as instalações de ar te possuem uma cer ta conexão ao tema. “Carnaval de Espelhos”, “Metrópoles - A Vida das Cidades”, “Evolução”, “Esperança e Medo”, ” P s i c o s e ” , “A R o d a d o T e m p o ” , “ O B e m e o M a l ” , s ã o a l g u n s d o s t e m a s d e e d i ç õ e s a n t e r i o r e s . O t e m a p a r a o f e s t i v a l e m 2 017 f o i “ R i t u a l R a d i c a l ” . A v e r d a d e i r a i n t e n ç ã o d o e ve n t o é d e s e r u m fe n ô m e n o p o p u l a r p r o p a g a d o p e l a i n t e r n e t , considerado por muitas pessoas como um tipo de experimento social. O Burning Man tem o intúito de ser uma possível alternativa para a cultura de massas e a sociedade consumista.
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O Burning Man recebe participantes de todas as idades: Famílias inteiras viajam para o local, que pode ser muito interessante para todas as faixas etárias, pois há sempre muita interatividade com as instalações de arte. O principal meio de transporte nesta cidade temporária são as bicicletas, já que automóveis não podem circular durante os dias do evento. Os participantes devem estacionar seus automóveis quando chegam no deserto e só podem utilizá-los novamente no momento de saída do local.
Imagem 6: Day Dreaming – Victor Habchy Photography (2015) Fonte – http://www.facebook.com/Victor.Habchy.Photography/posts/10154478957425589
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1.1 CONTEXTO HISTÓRICO T u d o c o m e ç o u n o s o l s t í c i o d e v e r ã o d e 19 8 6 , q u a n d o o f u n d a d o r L a r r y H a r v e y, J e r r y J a m e s e s e i s o u t r o s a m i g o s s e e n c o n t r a r a m n a p r a i a d e B a k e r, e m S ã o F r a n c i s c o , C a l i f ó r n i a , e q u e i m a r a m o p r i m e i r o “ M a n ” , u m a e s t á t u a fe i t a e m m a d e i r a c o m o fo r m a t o d e u m h o m e m d e 3 m e t r o s d e a l t u r a . A p a r t i r d e s s e dia, a queimada do “Man” se tornou um acontecimento anual. No ano seguinte, o e ve n t o r e u n i u c e r c a d e 8 0 p e s s o a s e a s s i m fo i c r e s c e n d o a c a d a a n o , a t é q u e , e m 19 9 0 , a g u a r d a f l o r e s t a l i n t e r f e r i u e p r o i b i u a q u e i m a n a r e g i ã o , p o i s a e s t á t u a vinha crescendo a cada ano que se passava e poderia haver riscos, pois o local e r a i n a d e q u a d o p a r a e s s a g r a n d e fo g u e i r a . E n t ã o o e ve n t o m u d o u p a r a u m l o c a l mais propício, o deserto de Black Rock, e desde então cada vez mais pessoas participam.
Imagem 7 - Structures in The Sun – (2015) Fonte - http://www.festivalsherpa.com/wp-content/uploads/2016/08/mg_7487_ color_web.jpg
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Imagem 8: The Embrace – (2014) Fonte - http://www.didikrepinsky.com/burning-
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1.1.1 OS DEZ PRINCÍPIOS PARA PARTICIPAR DO BURNING MAN Trata-se de uma cultura única e distinta, que emerge da experiência Burning M a n . O f e s t i v a l p o s s u i 10 p r i n c í p i o s q u e d e v e m s e r l e v a d o s e m c o n t a p o r t o d o s o s p a r t i c i p a n t e s . E s s e s v a l o r e s s e m a n i fe s t a m e m t o d o s a t r av é s d a a r t e , d o e s fo r ç o c o m u n i t á r i o e d e i n ú m e r o s a t o s i n d i v i d u a i s d e a u t o e x p r e s s ã o . P a r a m u i t o s , é u m m o d o d e v i d a . O f u n d a d o r d o B u r n i n g M a n , L a r r y H a r v e y, e s c r e v e u o s D e z P r i n c í p i o s e m 2 0 0 4 . S ã o c o m o d i r e t r i z e s p a r a a p a r t i c i p a ç ã o d o fe s t i v a l . E l e s f o r a m c r i a d o s n ã o c o m o u m d i t a d o d e c o m o a s p e s s o a s d e v e m s e r e a g i r, mas como ref lexo da cultura da comunidade, como tinha sido idealizado desde o início do evento.
Imagem 9: Ego – (2016) Fonte - http://www.festivalsherpa.com/wpcontent/uploads/2016/08/mg_7487_color_web.jpg
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OS 10 PRINCÍPIOS PARA PARTICIPAR DO BURNING MAN SÃO RESPECTIVAMENTE:
Imagem 10 – Earth – (2016) Fonte - https://stuckincustoms.smugmug.com/Burning-Man-Page
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1. Auto Expressão Radical: Liberdade para as pessoas s e r e m q u e m q u i s e r e m s e r. A a u t o e x p r e s s ã o s u r g e d o s dons únicos de cada indivíduo. Ninguém mais além do indivíduo, ou de um grupo colaborando, pode determinar o s e u c o n t e ú d o . E i s s o é o fe r e c i d o c o m o u m p r e s e n t e p a r a o s o u t r o s . Ne s t e e s p í r i t o , q u e m o fe r e c e d e ve r e s p e i t a r o s direitos e liberdades de quem recebe.
2. Auto Responsabilidade: Cada indivíduo é responsável por si, mentalmente e fisicamente. O Burning Man encoraja o i n d i v í d u o a d e s c o b r i r, e x e r c i t a r e c o n f i a r n o s p r ó p r i o s recursos internos.
3. Descomoditização: O dinheiro não tem valor nesta cidade, e não há nada para ser comprado. Para preservar o e s p í r i t o d e p r e s e n t e a r, a c o m u n i d a d e p r o c u r a c r i a r ambientes sociais que não são mediados por patrocínios, transações ou publicidade. Buscam substituir o consumo por experiências participativas.
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4. Não Deixe Rastros: Do pó ao pó. Deixe apenas pegadas. A comunidade respeita o meio ambiente e tem o compromisso de não deixar nenhum vestígio físico das atividades. Não importa onde os participantes se reúnam, o ambiente é sempre limpo, e sempre que possível, procuram d e i x a r t a i s l u g a r e s e m m e l h o r e s t a d o d o q u e q u a n d o fo r a m encontrados.
5. Participação: O Burning Man é o que as pessoas fazem. Envolver-se é essencial. A comunidade se empenha em uma ética radicalmente participativa. Acreditam que as t r a n s fo r m a ç õ e s , t a n t o n o i n d i v í d u o q u a n t o n a s o c i e d a d e , podem ocorrer apenas por intermédio de uma profunda p a r t i c i p a ç ã o p e s s o a l . T o d o s s ã o c o n v i d a d o s a t r a b a l h a r.
6. Inclusão Radical: Todos são bem vindos. Qualquer pessoa pode ser uma parte do Burning Man. O desconhecido é saudado e respeitado. Não existem pré-requisitos para a participação nessa comunidade.
7. P r e s e n t e a r : O f e r e c e r o t e m p o e e s f o r ç o l i v r e m e n t e . O B u r n i n g M a n e s t i m u l a a t o s d e p r e s e n t e a r. O v a l o r d e u m p r e s e n t e é i n c o n d i c i o n a l . O fe r e c e r u m p r e s e n t e n ã o c o n t e m p l a u m r e t o r n o o u u m a t r o c a p o r a l g o d e i g u a l v a l o r. T o d o s ã o c o n v i d a d o s p a r a p a r t i c i p a r.
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8 . C o o p e r a ç ã o : Q u a n d o u n i d a s , a s p e s s o a s s ã o m a i s fo r t e s . A comunidade valoriza a cooperação criativa e colaboração. A organização produz, promove e protege as redes sociais, espaços públicos, obras de arte, e métodos de comunicação que apoiam tais interações.
9. Comunidade: Uma família de indivíduos, todos cuidam de todos. A sociedade civil é valorizada. Os membros da comunidade que organizam eventos devem assumir a r e s p o n s a b i l i d a d e d e b e m - e s t a r p ú b l i c o e s e e s fo r ç a r p a r a comunicar responsabilidades cívicas para os participantes. Devem também assumir a responsabilidade para a realização de eventos de acordo com as leis locais.
10 . I m e d i a t i s m o : F a z e r o “ a g o r a ” v a l e r / e s t a r “ a q u i , agora”. Experiência imediata é, em muitos aspectos, a característica mais importante nessa cultura. Os membros procuram superar as barreiras que se interpõem entre eles e o conhecimento próprio, a realidade-mundo, a participação dos indivíduos na sociedade, e o contato com um mundo natural superior aos poderes humanos. Nenhuma ideia pode substituir esta experiência. Os 10 Símbolos do Burning Man - Fonte - http://jameswickham.com/10-symbols/
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N o v e r s o d e c a d a i n g r e s s o d o f e s t i v a l , a s e g u i n t e f r a s e e s t á d e s t a c a d a : “ Vo c ê pode morrer durante o Burning Man, e isso é de sua inteira responsabilidade”. Isso mostra mais uma vez o quão consciente cada participante deve estar antes de embarcar nessa experiência. Além disso, ao chegar no local, todas as diretrizes para a participação são destacadas e, se é a primeira vez do participante, existe até um ritual de iniciação.
Imagem 11 – Meu Ingresso - (2017) Fonte - Fotografia do autor
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Imagem 12 – Magnus Mundi – (2015) Fonte - http://magnusmundi.com/wp-content/uploads/2015/09/burning-man_022.jpg
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1.2 ORGANIZAÇÃO ESPACIAL A “ B l a c k R o c k C i t y ” t e m a t u a l m e n t e 15 q u i l ô m e t r o s q u a d r a d o s d e á r e a d e d e s e r t o e é o rg a n i z a d a e m fo r m a t o d e s e m i c í r c u l o . Q u a n d o o fe s t i v a l s e m u d o u p a r a o d e s e r t o d e B l a c k Ro c k , fo i n e c e s s á r i o e s t a b e l e c e r u m a c a mp a m e n t o p a r a a s 2 5 0 p e s s o a s q u e p a r t i c i p a r a m n o a n o d e 19 9 0 . O f o r m a t o o r i g i n a l d e s t e a c a mp a m e n t o fo i u m c i r c u l o , e p a r t i c u l a r m e n t e i s s o n ã o fo i p l a n e j a d o , m a s i n s t i n t i v a m e n t e g a n h o u a fo r m a d e u m a t r a d i c i o n a l fo g u e i r a d e a c a mp a m e n t o , u m c í r c u l o e m vo l t a d e u m a fo g u e i r a , o n d e o s s e r v i ç o s fo r a m d i s t r i b u í d o s no centro. Desde então, essa cidade t e mp o r á r i a fo i c r e s c e n d o a c a d a e d i ç ã o , ganhando mais “ruas” a partir do centro. Existem também vários fatores para tal organização dos espaços, como questões históricas, questões de segurança pública, necessidades de logística, condições de meio-ambiente, política, ideais sociais, viabilidade econômica, uma necessidade para um simbolismo espiritual e o design. Rod Garrett é o arquiteto urbanista pioneiro responsável pelo design dessa cidade. Contudo, anualmente existem concursos, onde milhares de pessoas participam, que visam a propor novas ideias de design, para que sempre haja uma evolução constante.
Imagem 13 – City Plan – (1996) Fonte - http://journal. burningman.org/2010/04/black-rock-city/building-brc/designing-black-rock-city/)
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Os nomes das ruas se dão através de 2 eixos: O primeiro como um relógio, m a r c a n d o d e 3 0 e m 3 0 m i n u t o s , d a s 2 h à s 10 h , e o s e g u n d o v a r i a t o d o a n o , d e acordo com a temática do evento. Esses eixos estão interseccionados com nove s e m i c í r c u l o s , q u e r e p r e s e n t a m o s p l a n e t a s d o s i s t e m a s o l a r, c h a m a d o s d e “A x i s M u n d i ” . N o c e n t r o d a B l a c k R o c k C i t y, l o c a l i z a - s e a e s t á t u a d o B u r n i n g M a n , o q u e e vo c a e s s e c o n c e i t o , u m a m a n i fe s t a ç ã o s i m b ó l i c a d a h i e r o fa n i a : a e r u p ç ã o do sag rado no mundo profano. Além disso, O evento é bem organizado, e conta com ótima infraestrutura: áreas exclusivas para os acampamentos, atividades, p e r fo r m a n c e s , wo r k s h o p s e a t é u m a e r o p o r t o .
Imagem 14 – Black Rock City From Above – (2015) - Fonte - http://www.nydailynews.com/news/top-satellite-images-2012-gallery-1.1224666?pmslide=1.1224657
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A s s i m c o m o o “ M a n ” , e x i s t e u m e l e m e n t o s i g n i f i c a t i vo p a r a o fe s t i v a l q u e anualmente ganha um novo design com novas características, de acordo com a temática do evento que muda todos os anos, o “Templo”, que é sempre inaugurado com um gigante abraço coletivo, onde milhares de pessoas se reúnem em volta do monumento, inteiramente construído em madeira. O “Templo” passa a ser usado então por esses milhares de visitantes, que deixam mensagens em suas paredes. S ã o fo t o s , o b j e t o s p e s s o a i s e l e m b r a n ç a s d e p e s s o a s q u e s e fo r a m . O s “ b u r n e r s ” (par ticipantes) acreditam que quando o Templo é consumido pelas chamas, no último dia do Burning Man, o desejo de estar perto daqueles que partiram é levado pela fumaça.
Imagem 15 – The Temple – (2015) - Fonte - http://festivarians.com/introducing-the-2016-black-rock-city-honoraria-art/
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Fora do deserto cresceu um ritual, Uma celebração, Um momento participativo Nesse momento surgiu uma necessidade Uma necessidade que seria cumprida por um templo Um l u g a r p a r a s e d e s p r e n d e r, P a r a l e m b r a r, Para celebrar O templo tornou-se uma tradição Ele cresceu a partir da Playa, Da cidade temporária, Da cultura Seus métodos eram nossos, Sua tradição era nossa Tornou-se uma parte de nossa cidade E uma parte de nós”.
(HOBBS, Jess. “Building the Temple”. Burning Man Org, 2010 Fonte: HTTP://burningman.org/event/art-performance/playa-art/building-the-temple”)
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1.3
O BURNING MAN PELO MUNDO:
Atualmente, o Burning Man possui centenas de eventos regionais espalhados pelo mundo, durante todo ano. Está acontecendo todo o tempo.
Imagem 16 – Regionals Map – (2015) - Fonte - https://regionals.burningman.org
(Todos os lugares sinalizados no mapa são respectivamente eventos regionais derivados do Burning Man, onde os princípios prevalecem como diretrizes para a participação) Aqui no Brasil, acontecem alguns eventos anuais derivados do Burning Man. São organizados por pessoas que já participaram do evento original. Trata-se de um coletivo chamado Brazilian Burners, e, dentre eles, estão pessoas que atuam em diversas áreas, e juntas participam de vários projetos relacionados. Esse coletivo já existe há cerca de dois anos e reúne muitas pessoas de todo o país.
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Além disso, ao começar a estudar o Burning Man, me deparei com o quanto esse evento é g lobal e está espalhado por muitos lugares, através de eventos r e g i o n a i s e a t é c o n s t r u ç õ e s e i n s t a l a ç õ e s q u e fo r a m p r o p o s t a s p r e v i a m e n t e p a r a o d e s e r t o e e n t ã o f o r a m i n s t a l a d a s p e l o m u n d o . A s e g u i r, m e n c i o n a r e i a l g u n s d e s s e s p r o j e t o s q u e fo r a m r e u t i l i z a d o s fo r a d o d e s e r t o : E S C U LT U R A “ L OV E ” , S Í M B O L O A E S P E R A NÇ A E R E S I L I Ê NC I A . E m s e t e m b r o d e 2 017, h o u v e c e n t e n a s d e i n c ê n d i o s f l o r e s t a i s n a C a l i f ó r n i a , E UA . A e s c u l t u r a fo i c o l o c a d a e m u m a a d e g a l o c a l e t o r n o u - s e m u i t o p o p u l a r n a região, como um símbolo de esperança para os moradores locais. As queimadas fo r a m d e v a s t a d o r a s . M a i s d e 2 0 0 m i l h e c t a r e s e 5 . 7 0 0 c o n s t r u ç õ e s fo r a m c o n s u m i d a s p e l o fo g o .
Imagem 17 – Love (2017) - Fonte - https://www.usatoday.com/story/news/nation-now/2017/10/16/california-fires-love-sculpture-burning-man-becomes-symbol-hope/766905001/
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“ T H E S O N I C R U N WA Y: D O D E S E R T O PA R A A C H I N A : A i n s t a l a ç ã o a r t í s t i c a “ T h e S o n i c R u n w ay ” fo i i d e a l i z a d a p a r a a e d i ç ã o d o B u r n i n g M a n e m 2 016 e f o i u m s u c e s s o . A p ó s v o l t a r e m d o f e s t i v a l , os idealizadores do projeto receberam inúmeras propostas para instalar o t ú n e l d e l u z d e 5 0 0 m e t r o s e m o u t r o s l o c a i s : fe s t i v a i s d e m ú s i c a e l u z , c o n fe r ê n c i a s d e t e c n o l o g i a e m u s e u s d e c i ê n c i a s . Po r é m , c o m o o p r o j e t o fo i planejado para o deserto, tiveram que fazer algumas modificações para que o m e s m o g a n h a s s e n ovo s l o c a i s . Um a e mp r e s a ch a m a d a M a n i fe s t o r y C h i n a , e n t ã o , l e vo u a i n s t a l a ç ã o p a r a a c i d a d e d e C h e n g d u , e a m e s m a fo i c o l o c a d a a o longo de uma passarela para pedestres, para ajudar a demonstrar o impacto c r e s c e n t e d a c i d a d e n a m o d a , a r t e e c u l t u r a . A i n s t a l a ç ã o fo i u m s u c e s s o .
Imagem 18 – The Sonic Runway (2016) - Fonte - https://votecharlie.com/blog/2016/09/recovering-welcoming.html
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Imagem 19, 20, 21 – The Sonic Runway China (2017) - Fonte - https://journal.burningman.org/2017/06/burning-man-arts/ brc-art/the-sonic-runway-from-playa-to-china/
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R - E V O L U T I O N , E M WA S H I N G T O N , D . C . A i n s t a l a ç ã o a r t í s t i c a R - E vo l u t i o n fo i c r i a d a p e l o a r t i s t a M a r c o C o ch r a n e e fo i u m a d a s e s c u l t u r a s d e m a i o r i mp a c t o n a B l a c k Ro c k C i t y a t é h o j e . A e s c u l t u r a f o i i n s t a l a d a n a e d i ç ã o d e 2 015 d o B u r n i n g M a n . Re c e n t e m e n t e , u m g r u p o d e p a r t i c i p a n t e s d o fe s t i v a l , m o r a d o r e s d e Wa s h i n g t o n , D.C., fizeram uma grande campanha na internet para levar esta instalação para o Na t i o n a l M a l l . I n fe l i z m e n t e , a c a mp a n h a e s t á p a r a d a , p o r c o n t a d e p e s s o a s c o n s e r v a d o r a s , q u e fo r a m c o n t r a a p r o p o s t a p o i s s e t r a t a d e u m a e s t á t u a d e uma mulher nua. Contudo, os idealizadores desse projeto continuam tentando r e v e r t e r a s i t u a ç ã o e l e v a r e s s a o b r a d e a r t e d e a p r o x i m a d a m e n t e 15 m e t r o s d e a l t u r a p a r a o d i s t r i t o fe d e r a l d o s E s t a d o s Un i d o s d a A m é r i c a .
Imagem 22 – R-Evolution (2015) - Fonte - http://www.marcocochranesculpture.net/r-evolution/
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Imagem 23 – R-Evolution em Washington D.C. (2017) - Fonte - https://www.gannett-cdn.com/-mm-/1a9e223cb387921c99def2e663b50982628f0570/
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Imagem 24 – About Dust (2017) - Fonte - http://picssr.com/photos/albany_tim/interesting/page11?nsid=67019040@N00
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2. OS MOVIMENTOS E INFLUÊNCIAS
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2. OS MOVIMENTOS E INFLUÊNCIAS C o m o i n t u i t o d e l i g a r d i r e t a m e n t e a s r e fe r ê n c i a s e m ov i m e n t o s h i s t ó r i c o s que me levaram a escolher o Burning Man como local de projeto e principalmente m e f i z e r a m e s c o l h e r o m e u p a r t i d o a r q u i t e t ô n i c o , m e n c i o n a r e i , a s e g u i r, o s s e g u i n t e s m ov i m e n t o s , q u e d e c e r t a fo r m a e s t ã o l i g a d o s e n t r e s i , m e s m o q u e t e n h a m o c o r r i d o e m d i fe r e n t e s d é c a d a s e p a í s e s : o s H a p p e n i n g s , o m ov i m e n t o h o l a n d ê s P r ovo s , o s u rg i m e n t o d a C o n t r a c u l t u r a , e o fe s t i v a l d e Wo o d s t o c k , b u s c a n d o m o s t r a r c o m o t o d o s e s s e s d i fe r e n t e s m ov i m e n t o s s e r e l a c i o n a m d i r e t a m e n t e a o fe s t i v a l B u r n i n g M a n .
Imagem 25 – Contracultura (1957) - Fonte - http://www.buscaescolar.com/sociologia/contracultura/
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“E então eu vou lhe dizer o que eu gostaria. Eu gostaria de um pouco de má atuação e pensamento errado. Eu gostaria de ver um pouco de arte que seja corajosamente tola e frívola, que não poderia ser apenas construída como qualquer outra coisa. Gostaria que um bando de desordeiros de vinte e poucos anos se tornem entusiásticos, tão barulhentos e tão envolvidos em algum tipo de cultura visual estúpida, sedutora e destrutiva [...] e isso vai a c o n t e c e r. J á e s t á c o m e ç a n d o a a c o n t e c e r ” . ( H I C K E Y, D ave , F r i v o l i t y a n d Un c t i o n – E s s a y s o n A r t & D e m o c r a c y, 19 9 7, p p . 1 2 )
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2.1 CONTRACULTURA Foi um movimento jovem que teve como característica principal contestar a cultura, a economia de mercado e os meios capitalistas de comunicação em massa d a é p o c a , c o m o a t e l e v i s ã o . Um d o s m a i s r e c o n h e c i d o s t i p o s d e m a n i fe s t a ç ã o contracultural aconteceu nos Estados Unidos, após o fim da Segunda Guerra Mundial, nas décadas de 19 5 0 e 19 6 0 , s u r g i u n e s s a é p o c a e g a n h o u a fo r ç a de uma nova geração que viveria c o n fo r t a v e l m e n t e p o r o s E UA t e r s e t o r n a d o um país que enriqueceu r a p i d a m e n t e . P o r é m , fo i essa mesma geração que desempenhou o papel de apontar os limites e problemas gerados pela sociedade capitalista, ao contrário do que se podia e s p e r a r. Essas pessoas são, até hoje, contra as instituições e valores que d e fe n d e m o c o n s u m i s m o e o cumprimento das obrigações sociais e legais vigentes. A contracultura valoriza a natureza, a vida comunitária e o anticonsumismo e pode ou não ser explicitamente política. Imagem 26 – Love Not War (1960) -Fonte: http://1960s-counterculture.tripod.com
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2.2 HAPPENINGS A t r a d u ç ã o d o i n g l ê s p a r a H a p p e n i n g é “A c o n t e c i m e n t o ” . O s H a p p e n i n g s s ã o e ve n t o s e f ê m e r o s , fo r m a s d e e x p r e s s ã o t e a t r a i s e s p o n t â n e a s q u e f u n d e m a r t e e p e r fo r m a n c e e m l o c a i s p ú b l i c o s , d e fo r m a i mp r e v i s í ve l , e q u e p o d e m a c o n t e c e r b a s i c a m e n t e e m q u a l q u e r l u g a r, a q u a l q u e r h o r a . O s h a p p e n i n g s fo r a m i n s p i r a d o s p e l a s p e r fo r m a n c e s d o s F u t u r i s t a s e d o s D a d a í s t a s . Q u a n d o o s f u t u r i s t a s a p r e s e n t av a m p e ç a s c u r t a s d e v a n g u a r d a e l i a m s e u s m a n i fe s t o s e poesias no palco, havia uma tendência de quebrar a “parede” imaginária entre o palco e o público, e assim despertar a participação. Os dadaístas, por sua vez, declararam que a arte não teria que atender às expectativas sobre o que a “ a r t e ” d e v e r i a p a r e c e r, e i s s o t a m b é m i n f l u e n c i o u o s a r t i s t a s c r i a d o r e s d o H a p p e n i n g , q u e , c o m o o s d a d a í s t a s , u s av a m e l e m e n t o s d o a c a s o c o m o fo r m a d e a r t e . O p r i m e i r o H a p p e n i n g a c o n t e c e u e m N o v a I o r q u e , e m 19 5 9 , e s e t o r n o u c o n h e c i d o d e fo r m a i m e d i a t a p e l o s a r t i s t a s v a n g u a r d i s t a s e m t o d o o m u n d o . E s t e t e r m o d e s i g n a u m a fo r m a d e a r t e q u e c o m b i n a a r t e s v i s u a i s e u m t e a t r o s u i generis, sem texto ou representação. É muito importante que o espectador participe d o a c o n t e c i m e n t o , e s ã o u t i l i z a d o s d i fe r e n t e s m a t e r i a i s e e l e m e n t o s p a r a a interação com a proposta do artista. Geralmente suas estruturas são bem f lexíveis, sem começo, meio e fim, dando lugar apenas para as improvisações que conduzem as c e n a s . Um a c a r a c t e r í s t i c a fo r t e d o H a p p e n i n g é q u e s e mp r e a c o n t e c e m d o i mp r ov i s o , portanto não podem ser reproduzidos. Não há rotina. Os happenings são difíceis d e s e r e m d e s c r i t o s , p o i s c a d a u m é c o mp l e t a m e n t e s i n g u l a r e d i fe r e n t e d o s o u t r o s . A l l a n K a p r o w, a r t i s t a p l á s t i c o a m e r i c a n o e u m d o s p i o n e i r o s n o e s t a b e l e c i m e n t o d o s c o n c e i t o s d e h a p p e n i n g s , d i s s e q u e e s t a fo r m a d e a r t e s e t r a t a d e a t o s morais, atos humanos de certa urgência, cujo status profissional como arte é menos crítico do que sua certeza como um compromisso existencial. Ele argumenta que, uma vez que os artistas são reconhecidos e pagos, eles também se rendem ao confinamento, e é contra esse movimento que o happening se volta. O h a p p e n i n g t e m g r a n d e p a r t i c i p a ç ã o e m fe s t i v a i s d e m ú s i c a e a r t e d e fo r m a p o s i t i v a e b e m - s u c e d i d a . M u i t o p r ov ave l m e n t e , u m d o s fe s t i v a i s mais conhecidos pelos happenings que abriga é justamente o Burning M a n , e e s t a u n i ã o d e p e r fo r m e r s e e s p e c t a d o r e s é m u i t o i mp o r t a n t e
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p a r a o s u c e s s o d o fe s t i v a l , q u e e n fa t i z a a i mp o r t â n c i a d e t o d o s e s t a r e m e n vo l v i d o s na criação de algo único. Ao invés de se criar algo para mostrar para as pessoas, as pessoas se envolvem para ajudar a criar algo espontâneo para o momento. “A l i n h a e n t r e o s H a p p e n i n g s e a v i d a d i á r i a d e v e ser mantida como fluida, e talvez indistinta”. K A P R O W, A . A s s e m b l a g e s , E n v i r o n m e n t s a n d H a p p e n i n g s , p . 18 9 - 2 0 7.
Imagem 27 – Happenings (1959) - Fonte - http://itp.smorad.com/2014/11/reading-happenings-in-the-new-york-scene/
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2.3 PROVOS Os Provos holandeses nĂŁo eram todos ar tistas, mas ativistas. Tomaram o modelo d e H a p p e n i n g s c o m o e x e m p l o e o e x e c u t a r a m d e s u a s m a n e i r a s , d e fo r m a e x t r av a g a n t e .
Imagem 28 – Provo (1965) - Fonte - http://amsterdamhome.blogspot.com.br/2011/05/os-provos-holandeses-e-contracultura. html
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“Os Provos amam a vida, sua cidade, Amsterdam, e seus habitantes. Encenam exibições de tosse em massa contra os cigarros, o símbolo mais ‘evidente’ do consumidor sem escolhas, escravizado (…) agem contra a destruição de árvores e contra os jornais que fazem lavagem cerebral nas pessoas. Invadem os caminhões que transportam os rolos de papel para impressão e em seguida os desenrolam como tapetes nas ruas de trânsito mais intenso. (…) Planejam uma cidade sem automóveis e propõem brindes gratuitos e a distribuição de bicicletas ao dispor de todos os cidadãos. Querem que os agentes de polícia se tornem assistentes sociais e que no lugar de armas carreguem sacos brancos cheios de doces e frutas a serem distribuídos aos transeuntes”. San Francisco O r a c l e , Ye s P r o v o s , N o Ya n k e e s ( f a c - s í m i l e , o r g . A l l e n C o h e n , R e g e n t P r e s s , 19 91 )
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O nome “Provos” vem da abreviação de provokatie (provocação, em holandês). Esse movimento surgiu em Amsterdã, Holanda, e existiu por apenas três anos ( 19 6 5 – 19 6 7 ) , t e n d o n a s c i d o d a a p a t i a e m q u e u m m u n d o i m e r s o n a s o c i e d a d e consumista pode provocar em seus habitantes. Esses jovens holandeses tinham c o m o fo c o p r ovo c a r r e a ç õ e s v i o l e n t a s n a s a u t o r i d a d e s , u t i l i z a n d o d e m e i o s n ã o violentos para isso, e tinham um humor absurdo para a época. Eram herdeiros bastardos da tradição anarquista e eram anticapitalistas. Deram início a esse tipo de contestação social, através de um ativismo conceitual e de propostas políticas especulativas (os chamados “White Plans”) contra a sociedade de consumo, o poder civil organizado, e a apatia, gerada pela passividade perante aos meios de c o m u n i c a ç ã o e m m a s s a , p e l o e xc e s s o d e c o n fo r t o e s e g u r a n ç a e p e l o g r a n d e a c e s s o a o s b e n s d e c o n s u m o c o m o o b j e t i v o s m á x i m o s d e v i d a n a H o l a n d a n a d é c a d a d e 19 6 0 . Depois desses poucos anos de crescentes mobilizações, o g rupo se dissolveu, cansados de bancar a entidade oficial de provocação. Era algo muito original, p o i s fo i o p r i m e i r o m ov i m e n t o e m q u e j ove n s c o m o g r u p o s o c i a l i n d e p e n d e n t e tentaram influenciar a política, sem propor quaisquer ideologias, mas um novo estilo de vida mais ecológico e contra o autoritarismo. O movimento Provo capturou a imaginação de uma geração, e moldou para sempre a paisagem política e cultural holandesa. Lado a lado, uma parte composta por movimentos artísticos e outra parte de movimentos políticos, os Provos e r a u m c o l e t i vo s o l t o , c o mp o s t o p o r i n d i v í d u o s m u i t o d i fe r e n t e s : a ge n d a s subversivas, motivos artísticos, ideias utópicas ou planos concretos. De c e r t a fo r m a , e s s e s m o t i vo s s e s o b r e p u s e r a m e c r i a r a m u m m ov i m e n t o ú n i c o . “ P r ovo ” fo i u m d o s m a i s i mp o r t a n t e s m ov i m e n t o s d e c o n t r a c u l t u r a d o m u n d o . Foram eles que pela primeira vez levantaram as bandeiras da legalização do consumo de drogas e do uso da bicicleta como meio de transporte em Amsterdã. A Holanda atual não seria a mesma sem os Provos. Um dos “White Plans”, o “White Bicycle Plan”, ou, em português, “O Plano das Bicicletas Brancas”, fo i i n i c i a d o p o r S ch i m m e l p e n n i c k e e r a u m p l a n o q u e p r e v i a o fe ch a m e n t o d o centro de Amsterdã para todos os veículos motorizados. Eles queriam que pelo menos 40% da população viesse a utilizar os transportes públicos da cidade.
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E, assim, espalharam mais de 50 bicicletas pintadas de branco pela cidade, com o código do cadeado escrito nelas mesmas, a fim de servir de meio de transporte para a p o p u l a ç ã o d e m o d o q u e q u a l q u e r p e s s o a p u d e s s e u s á - l a s . E s s a i n i c i a t i v a fe z c o m q u e a b i c i c l e t a s e t r a n s fo r m a s s e n o m a i s fo l c l ó r i c o m e i o d e t r a n s p o r t e d e A m s t e r d ã , e a t é h o j e é o m e i o d e t r a n s p o r t e m a i s c o m u m d a c i d a d e , o q u e fa z c o m q u e A m s t e r d ã s e j a c o n h e c i d a m u n d i a l m e n t e c o m o “ a c i d a d e d a s b i c i c l e t a s ” ( E x a t a m e n t e c o m o a c o n t e c e n o fe s t i v a l B u r n i n g M a n , n a B l a c k Ro c k C i t y ) . E s t a a ç ã o d e u o r i ge m , p o s t e r i o r m e n t e , a o s s i s t e m a s de bicicletas públicas que existem na maioria das cidades grandes do mundo hoje em dia. M e s m o c o m u m c u r t o t e mp o d e e x i s t ê n c i a , o s P r ovo s t i ve r a m g r a n d e i n f l u ê n c i a e m d i ve r s o s o u t r o s m ov i m e n t o s p e l o m u n d o , c o m o o s s i t u a c i o n i s t a s , a s m a n i fe s t a ç õ e s n a F r a n ç a e m m a i o d e 6 8 , e o m ov i m e n t o h i p p i e a m e r i c a n o , o wo o d s t o c k , e u m a s é r i e d e o u t r o s g r u p o s a t i v i s t a s n a H o l a n d a . P a s q u i n s e z i n e s u n d e rg r o u n d s explodiram junto com as ondas de contracultura que se seguiram em todo o m u n d o , c o m o r e s p o s t a s a o s q u e s t i o n a m e n t o s d a i mp r e n s a c o r r u p t a e c o n fo r m i s t a .
Imagem 29 – John Lennon e Yoko Ono com uma bicicleta branca em Amsterdã (1969) - Fonte - http://flickr.com/provobicycleplans
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2.4 WOODSTOCK
O Woodstock Music & Art Fair (também conhecido como Woodstock Music Festival: Three Days of Peace and Music), aconteceu em 1969, em Max Yasgur’s dairy farm, na cidade de Bethel, Nova Iorque, e foi um festival de música e arte que teria duração de três dias (mas terminou tendo um quarto dia), que envolveu cerca de 500 mil pessoas, e teve literalmente muito sexo, drogas e rock’n roll. O Woodstock se tornou um ícone da contracultura hippie dos anos 60. Esse festival mudou para sempre o cenário do mundo dos festivais, tendo ainda grande inf luência sobre a cena atual. Esse festival inf luenciou milhares de pessoas pelo mundo a cultivarem o amor livre, o desprendimento das convenções e o desenvolvimento de todo um modo de vida que fosse alternativo ao oferecido pelo sistema capitalista. É exatamente aí que Woodstock se relaciona ao movimento “Provo”.
Imagem 30 – Woodstock Music & Art Fair (1969)Fonte - http://arefinaria.blogspot.com.br/2011_08_01_archive.html
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I’d l ike to d o a song of a g reat social and poetical impor t It goes like t his Oh Lord , won’ t you buy me a M erced es-B e nz? M y friend s all d rive Porsches, I must make ame nds Wo rked hard all my lifetime, no help from my frie nds So Lord , won’ t you buy me a M erced es-B e nz? Oh Lord , won’ t you buy me a color T V ? ‘ Dialing for Dollars’ is tr ying to find me I w ait for d eliver y each d ay until thre e So Lord , won’ t you buy me a color T V ? Oh Lord , won’ t you buy me a night on the tow n? I’m counting on you, Lord , please d on’ t let me d ow n Prove that you love me and buy the nex t r ound Oh Lord , won’ t you buy me a night on the tow n? Ever y body Oh Lord , won’ t you buy me a M erced es-B e nz? M y friend s all d rive Porsches, I must make ame nds Wo rked hard all my lifetime, no help from my frie nds So Lord , won’ t you buy me a M erced es-B e nz? That ’s it ! ( JOPLIN , Ja nis, M erced es Benz, 19 7 0 )
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A m ú s i c a M e r c e d e z B e n z , d e J a n i s J o p l i n , fo i u m a g r a n d e c r í t i c a à s o c i e d a d e c o n s u m i s t a . A p r i m e i r a f r a s e d a m ú s i c a j á d i z : “ E u g o s t a r i a d e fa z e r u m a c a n ç ã o d e g r a n d e i mp o r t â n c i a s o c i a l e p o é t i c a ” . E , d e s s a fo r m a , J a n i s m o s t r a c o m o a s p e s s o a s d a s o c i e d a d e c a p i t a l i s t a s e mp r e a l m e j av a m o b t e r b e n s m a t e r i a i s , c o m o o s o n h o americano da época, o carro Mercedes Benz. Trata-se de uma ironia, ao pedir a Deus o carro e outros bens materiais, como uma TV a cores. Janis Joplin era o símbolo d e s s e m ov i m e n t o p o i s a s l e t r a s d e s u a s m ú s i c a s f u g i a m d o e s t i l o c o n ve n c i o n a l , e c r i t i c a r a m m u i t a s ve z e s o s p a d r õ e s e s t a b e l e c i d o s p e l a c u l t u r a d e m a s s a d a é p o c a .
Imagem 31 – Janis in San Francisco (1971) - Fonte - http://www.tenhomaisdiscosqueamigos.com/wp-content/uploads/2015/09/janis-joplin-porsche.jpg
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Imagem 32 – The Man (2017) - Fonte - Fotografia do Autor
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3. PROJETANDO PARA UM FESTIVAL
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3. PROJETANDO PARA UM FESTIVAL P a r a d e s e n vo l ve r u m p r o j e t o e f ê m e r o p a r a u m fe s t i v a l , é m u i t o i mp o r t a n t e saber exatamente de onde surgiu esse tipo de arquitetura e como essa arquitetura milenar influencia diretamente o que conhecemos hoje. Mas, afinal, o que é a a r q u i t e t u r a p a r a fe s t i v a i s ? Q u a n d o p e n s o s o b r e a s o r i ge n s d a a r q u i t e t u r a , l o g o me vem à mente as pirâmides do Egito, os palácios da Babilônia ou os templos d a a n t i g a G r é c i a . D a m e s m a fo r m a , a n t i g a s e d e g r a n d e i mp o r t â n c i a p a r a a h i s t ó r i a d a a r q u i t e t u r a , fo r a m a s e s t r u t u r a s t e mp o r á r i a s fe i t a s p a r a r i t u a i s religiosos pelo mundo. Um exemplo desse tipo de estrutura são os tabernáculos, d o s J u d e u s , q u e e r a m r e c i n t o s t r a n s p o r t á ve i s e t e mp o r á r i o s , fe i t o s d e m a d e i r a e tecido. Tratava-se de um lugar para sacrifício e adoração utilizado durante o Êxodo, na segunda metade do 2º milênio a.C e que posteriormente inf luenciou a f o r m a d o s t e m p l o s d o s é c u l o X X e t o d a s a s S i n a g o g a s q u e v i r i a m a s e g u i r.
Imagem 33 – Tabernáculo (1987) - Fonte - http://www.100words.ca/?m=201211&paged=2
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A h i s t ó r i a d a a r q u i t e t u r a t e mp o r á r i a e / o u d e fe s t i v a i s n ã o é r e s t r i t a apenas às construções religiosas, mas também inclui trabalhos arquitetônicos encomendados por governantes para celebrar e proclamar seus reinados, assim c o m o fe i r a s o u m e r c a d o s t e mp o r á r i o s . Na E u r o p a d o s i mp e r a d o r e s , t o d o s o s g r a n d e s a r q u i t e t o s t i n h a m e x p e r i ê n c i a e m c e n o g r a f i a p a r a fe s t i v a i s e m c o r t e s o u p a r a a s c i d a d e s . Re g i s t r o s h i s t ó r i c o s a r q u i t e t ô n i c o s n o s d i z e m q u e fe s t i v a i s e e s p e t á c u l o s fo r a m f u n d a d o s p e l a s c l a s s e s q u e e r a m d o m i n a n t e s n a é p o c a , c o m o intuito de glorificar seus reinados. Quando a sociedade moderna surgiu, arquitetos continuaram envolvidos em exposições cenog ráficas e espetáculos para o governo. Arquitetos trabalhando em fe s t i v a i s t i n h a m g r a n d e a u d i ê n c i a p a r a s e u s t r a b a l h o s . E l e s s a b i a m q u e o s e fe i t o s e s p e c i a i s o u s u a s a r t e s e n ge n h o s a s n o d e s i g n d e u m a r c o d o T r i u n fo o u u m p a l c o elaborado poderia levá-los a novos trabalhos para outras pessoas inf luentes. A a r q u i t e t u r a p a r a f e s t i v a i s f o i p e n s a d a p a r a p e r s u a d i r e c o n v e n c e r, e p o r e s s e m o t i vo fo i e c o n t i n u a s e n d o c o n s t r u í d a e m t o d a s a s s o c i e d a d e s p e l o m u n d o .
Imagem 34 – Cenografia (1981) - Fonte - http://schedule.sxsw.com/2016/events/event_PP58124
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Imagem 35 – Burners (2015) - Fonte - http://www.travelandleisure.com/articles/work-at-burning-man
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4. A ARQUITETURA EFÊMERA
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4. A ARQUITETURA EFÊMERA “Efêmero”, do grego ephémeros, que dura um só dia, que dura pouco, passageiro, transitório, volúvel. As pessoas buscam confor to, mobilidade e f lexibilidade. O esforço para definir a arquitetura efêmera começa ao examinarmos o papel das coisas que são de fato efêmeras no nosso ambiente natural, nas artes e no que é devidamente construído. Embora apresente muitos fenômenos efêmeros, a natureza não monopoliza a efemeridade, as obras de ar te também podem ser efêmeras ou de curta duração. A a r q u i t e t u r a e f ê m e r a t e m u m t e m p o c e r t o p a r a e x i s t i r, d e a c o r d o t a m b é m com o espaço em que está devidamente inserida. No passado, houve diversas formas de manifestação desse tipo de arquitetura, mas hoje em dia, por conta do avanço da tecnologia, é possível ver a arquitetura efêmera em maiores escalas, com o mesmo conceito: transitoriedade. A arquitetura efêmera está presente em eventos de todos os tipos, como exposições, feiras, festivais, etc. Essa arquitetura é importante pela possibilidade de ser portátil, tratase de edifícios caracterizados por sua impermanência e por deixar de existir no local. Apesar de sempre ter existido, a arquitetura efêmera não recebe o mesmo tipo de atenção e interesse da arquitetura de maior permanência. Muito provavelmente, por conta das origens de nossa cultura, pois se trata de um sistema que exige continuidade, estabilidade e permanência. Existem relatos históricos da existência de habitações mínimas desde os primórdios da humanidade, quando o homem era nômade e habitava em tendas feitas de vários tipos de materiais, como palha e até pele de animais, ou em iglus, que servem como abrigo e proteção em locais onde as temperaturas são extremas.
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Imagem 36 , 37 – Tenda Indígena e Iglu - Fonte - http://www.pbs.org/wgbh/nova/ancient/igloo-101.html
Assim como os iglus, o exemplo ao lado se trata de uma evolução dessa efemeridade. O IceHotel é uma construção na aldeia Jukkasjarvi, na Suécia, e se trata de um hotel temporário, que é moldado anualmente para depois se derreter, tornandose água que desce o rio Torne no verão. No ano seguinte, ele é esculpido novamente. Foi criado por um empresário do ramo hoteleiro, Yngve Bergqvist, na década de 1980, para um workshop de esculturas de gelo com vários artistas convidados, e se tornou um projeto consolidado nos anos seguintes. A cada ano o hotel ganha um novo formato, e atualmente grandes arquitetos e designers são responsáveis pelo projeto. A cada inverno se transforma em uma experiência mais inovadora que a outra e cerca de 50 mil pessoas de todo o mundo passam pelo lugar. Imagem 38 , IceHotel (2015) - Fonte - http://schedule.sxsw.com/2016/events/event_PP58124
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Imagem 39 , IceHotel (2015) - Fonte - http://schedule.sxsw.com/2016/events/event_PP58124
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“Há no efêmero um movimento do s e r a o n ã o s e r. É u m a m e t a m o r fo s e , a obra é e logo deixa de ser”. (ESCOBAR, Victor Molina)
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Imagem 40 - The Man (2015) - Fonte - http://www.pranxer.com/Event/Details/1505
O Burning Man, mais especificamente a Black Rock City em si, está entre os maiores espaços efêmeros que existem atualmente, afinal, trata-se de uma cidade provisória para nada menos que 70 mil pessoas, no meio de um lugar improvável para se habitar, o deserto, e onde, por 7 dias, todas as complexas estruturas e habitações existem, para, ao fim, passar a não existir mais. A arquitetura desta cidade complexa é consumida pelo fogo ou é desmontada. Contudo, a arquitetura efêmera está espalhada por todo o globo. Outro exemplo de arquitetura temporária é o caso dos pavilhões de verão da Galeria Serpentine, em Londres, Reino Unido. Anualmente, um arquiteto de prestígio e reconhecimento mundial é convidado para desenvolver o projeto de um pavilhão nos jardins à frente da Galeria instalada no Kensington Park. A obra então fica ali por cerca de dois meses, e depois é desmontada, vendida ou leiloada.
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O pavilhão da Serpentine Gallery para 2017 foi assinado pelo arquiteto africano Diébédo Francis Kéré, que projetou uma estrutura que reflete a cultura de seu país. “Minha experiência de crescer em uma aldeia remota do deserto incutiu uma forte consciência das implicações sociais, sustentáveis e culturais do design. Acredito que a arquitetura tem o poder de surpreender, unir e inspirar, ao mesmo tempo que intermedeia aspectos importantes como a comunidade, a ecologia e a economia.” Fonte: http://www.gazetadopovo.com.br/blogs/high-end/serpentine-galleriesseleciona-francis-kere-para-criar-o-pavilhao-2017/
Imagem 41 - Serpentine Gallery (2017) - Fonte - http://www.dezeen.com/2017/02/21/diebedo-francis-kere-architect-tree-inspired-serpentine-pavilion-2017/
Esse pavilhão possui características interessantes quanto a sua materialidade pois, por exemplo, a sua estrutura central de aço, em dias chuvosos, capta a água e a transforma em uma espécie de cascata, o que para o arquiteto simboliza a sua importância para a vida humana. Outra transformação acontece de noite, quando o pavilhão recebe uma iluminação especial em suas chapas perfuradas. A iluminação especial do projeto tem um papel importante pois dá a impressão de que o pavilhão tem um certo movimento especial e permite que ele seja visto de longe no Kensington Park.
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Imagem 42 – Serpentine Gallery (2016) -Fonte - http://www.archdaily.com.br/br/782647/big-divulga-projeto-para-o-serpentine-gallery-2016
No exemplo acima, o escritório BIG (Bjarke Ingels Group), usou apenas de um e l e m e n t o p a r a a e x e c u ç ã o d o p r o j e t o d a S e r p e n t i n e G a l l e r y d e 2 016 : e l e m e n t o s v a z a d o s fe i t o s e m f i b r a d e v i d r o , q u e c r i a m u m a p a r e d e q u e é t r a n s p a r e n t e quando vista de frente e opaca quando vista obliquamente. O pavilhão é dividido e m d u a s p a r t e s , u m c a f é e u m e s p a ç o d e d i c a d o p a r a p e r fo r m a n c e s e s h ow s , e n t r e outras atividades, que são diretamente ligadas com o espaço verde do parque. Ta m b é m n o m u n d o d o s fe s t i v a i s a a r q u i t e t u r a e s t á m u i t o p r e s e n t e , e e x i s t e a l i apenas pelo tempo do evento, possuindo diversos usos e finalidades.
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N o f e s t i v a l d e a r t e e m ú s i c a C o a c h e l l a , q u e o c o r r e u e m 2 016 e m C o a c h e l l a Va l l e y, n a C a l i f ó r n i a , e t e v e d u r a ç ã o d e t r ê s d i a s , o a r t i s t a c u b a n o A l e x a n d r e A r r e c h e a p r o p ô s u m a e s t r u t u r a q u e , a s e u v e r, i n c e n t i v a u m d i á l o g o s o b r e o propósito e as possibilidades de espaço e design. Foram construídas quatro “cadeiras”, com estrutura em aço que é revestida com madeira compensada.des.
Imagem 43 – Coachella Art (2016) - Fonte - http://alexandrearrechea.com/news/coachella-festival-2/
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Imagem 44 – The Velvet State (2013) -Fonte - http://www.archdaily.com/406890/the-velvet-state-shjworks-architectural/ 51f0a067e8e44ea5b7000131-the-velvet-state-shjworks-architectural-photo
A instalação acima é assinada pelos arquitetos do g rupo Shjworks Architecture, q u e , e m 2 013 , p r o p u s e r a m - n a p a r a u m f e s t i v a l c h a m a d o R o s k i l d e , e a p r o p o s t a e r a c o m b i n a r p e r fo r m a n c e s e a r q u i t e t u r a e m u m s ó p r o j e t o . O s a r t i s t a s q u e i r i a m s e a p r e s e n t a r d u r a n t e o fe s t i v a l t i ve r a m c o n t a t o d i r e t o c o m o s a r q u i t e t o s , e, juntos, chegaram a um resultado que funde os dois mundos, tanto o artístico e p e r fo r m á t i c o , c o m o a a r q u i t e t u r a e m s i . A e s t r u t u r a f í s i c a c o b r e u m a á r e a d e 794 metros quadrados, cujo ponto mais alto chega a 7 metros de altura. Todas a s p a r t e s d o p r o j e t o fo r a m c o n s t r u í d a s c o m c o mp e n s a d o s d e m a d e i r a , p a r a f u s o s e j u n ç õ e s d e p o l i c a r b o n a t o . To d a s a s p a r t e s fo r a m p r o j e t a d a s c o m a m e s m a c u r v a catenária com seção própria, e todas as partes são uma série de sessões que s ã o v a r i á ve i s d e u m a ú n i c a c u r v a . D e s s a fo r m a , t o d a s a s “ p e ç a s ” p o s s u e m u m t a m a n h o ú n i c o , q u e a o s e r e m e n c a i x a d a s , s e c o mp l e m e n t a m , fo r m a n d o a s s i m , a t r av é s d a u n i ã o , a fo r m a p r o p r i a m e n t e c o n s t r u í d a .
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Imagem 45 – The Velvet State (2013) -Fonte - http://www.archdaily.com/406890/the-velvet-state-shjworks-architectural/ 51f0a067e8e44ea5b7000131-the-velvet-state-shjworks-architectural-photo
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Imagem 46 – The Temple (2017) - Fotografia do autor.
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5. A MADEIRA
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5. A MADEIRA A madeira é um material produzido a par tir do tecido formado pelas plantas lenhosas com funções de sustentação mecânica. É um material orgânico, sólido e naturalmente resistente e, de cer ta forma, leve. É muito usado para fins estruturais em construções. A madeira tem uma relação muito favorável entre densidade e força, resiste bem a variações de temperaturas e tem pouca condução termal. A qualidade de acústica também é um ponto for te. A madeira um elemento que oferece saúde para quem utiliza desse tipo de construção, pois não transmite substâncias prejudiciais a saúde e n ã o c a u s a a l e r g i a s , a l é m d e b a l a n c e a r a u m i d a d e d o a r, d e s e r a n t i estática e não radioativa. Além de todos esses prós, a madeira é amiga do meio ambiente: A madeira é o único material construtivo renovável, com um ciclo de vida extremamente limpo e que economiza energia. A madeira cresce através da pura fotossíntese e tem um efeito benéfico sobre o meio ambiente. O trabalho e processamento de madeira envolvem pouca energia em comparação com outros materiais de construção. A madeira é um dos materiais mais antigos que é usado pelos seres humanos para fins construtivos, só não sendo mais usado do que a pedra. Apesar de ter uma natureza química muito complexa, a madeira tem propriedades muito boas que se prestam ao uso humano. É fácil e economicamente disponível, além de ser facilmente trabalhada por maquinários e ser capaz de ter uma variedade infinita de tamanhos e formas usando técnicas de construção simples. A madeira é uma ótima escolha em materiais de construção para pré-fabricação, pois pode permitir rápida montagem, utilizando construção “seca”, em que as peças podem ser devidamente moldadas e instaladas facilmente.
5.1 CONSTRUÇÕES EM MADEIRA Ao pensar em construções em madeira, logo a tradicional arquitetura em madeira japonesa vem a mente.
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Imagem 47 – Ilustração Japonesa (Séc. XVII) - Fonte - http://blog.gaijinpot.com/problem-with-wooden-buildings-in-japan/)
A técnica construtiva japonesa de encaixes teve início no século XVII e envolve u m s i s t e m a d e j u n ç õ e s d e p e ç a s d e m a d e i r a q u e s e a r t i c u l a m e fo r m a m l i g a ç õ e s sem uso de pregos, parafusos ou cola. Por muito tempo essa técnica permaneceu em segredo. A madeira é um material fundamental para a arquitetura japonesa, produto das ricas f lorestas do país. Podemos ver a madeira em diversos espaços do cotidiano dos Japoneses, como os “Tai-an”, ou, em português, “Salas de chá”, c o m s e u s p i s o s e m e s t e i r a s ( t a t a m i s ) fe i t a s e m b a m b u , o u , e m m a i o r e s c a l a , como os tradicionais templos budistas, que possuem grandes estruturas em madeira, e o método construtivo se dá por encaixes.
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O “Horyuji” é um desses templos e é um dos maiores edifícios em madeira do mundo. Tem aproximadamente 57 metros de largura, 47 metros de altura, e área total de 2880 metros quadrados. A maior peça estrutural do edifício, em madeira, pode chegar a aproximadamente 6 toneladas. Atualmente, existem em torno de 3844 edifícios históricos feitos em madeira designados como Importantes Propriedades Culturais pelo governo Japonês, a grande maioria construídos no final do século XVI, estão preservados e em boas condições. Essas propriedades podem ser Templos Budistas, castelos, residências de alto padrão, casas de fazenda, etc. A característica fundamental da arquitetura japonesa são as estruturas de madeira (colunas e vigas). Esse tipo de estrutura usa um sistema de encaixes, onde cada peça estrutural se encontra com outra peça no ângulo exato (peças “macho” e “fêmea”), e assim se encaixam perfeitamente. Outra grande característica dessa estrutura é que se trata de uma estrutura “reversível”, que pode ser encaixada ou desencaixada sem comprometer as outras partes. Por conta disso, o reparo dessas construções pode ser feito de forma fácil.
Imagem 48 – “Horyuji” (2015) - Fonte - http://openbuildings.com/buildings/t-c5-8ddai-ji-profile-1441)
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Outro bom exemplo de construção em madeira, também localizado no Japão, porém contemporâneo, é o edifício GC Prostho Museum Research Center, do grupo de arquitetos Kengo Kuma & Associates.
Imagem 49 – “GC Prostho Museum Research Center” (2015) - Fonte - http://www.archdaily.com/199442/gc-prostho-museum-research-center-kengo-kuma-associates)
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Imagem 50 – “GC Prostho Museum Research Center” (2015) - Fonte - http://www.archdaily.com/199442/gc-prostho-museum-research-center-kengo-kuma-associates)
A ideia para esse edifício veio do sistema Cidori, um tradicional brinquedo japonês que consiste em construir pequenos modelos através do encaixe de varetas. O Cidori tem como elemento um quadrado de madeira de 12mm que, no caso deste edifício, foi transformado em diversos tamanhos, formando uma espécie de grelha de quadrados de 50 centímetros. Foram usadas 6000 peças estruturais para sua construção.
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CUBO DE TOTOR A O “Cubo de Totora” é um projeto do g rupo de arquitetos Archquid em conjunto c o m a p o p u l a ç ã o l o c a l , e m S a n L u i s d e O t a v a l o , n o E q u a d o r. T r a t a - s e d e u m tipo de habitação temporária, cuja estrutura é em madeira, apenas apoiada ao chão, sem fixações. O projeto conduz uma série de experimentações do material “totora”, que é uma espécie de palha local que apresenta várias possibilidades de utilização na construção. Uma estrutura secundária permite a colocação dos painéis de totora. Além de dar trabalho para os artesãos locais e estimular a i d e n t i d a d e l o c a l d e S a n Lu i s d e O t av a l o , e s s e p r o j e t o fo i p r o p o s t o , d e i n í c i o , p a r a s e r u m p r o j e t o d e m o r a d i a t e mp o r á r i a q u e p e r m i t i s s e m u d a n ç a s e d i fe r e n t e s configurações e combinações com outros cubos. O cubo se estabelece como um m a r c o m u i t o v i s í v e l n a p a i s a g e m , p o r s u a i n s e r ç ã o e m u m l u g a r m u i t o p e c u l i a r, perto de um lago e de um vulcão, e constitui um centro de identidade, reunião e participação comunitária.
Imagem 51 – Cubo de Totora (2017) Fonte - http://www.archdaily.com.br/br/802567/cubo-de-totora-no-equador-fortalecendo-a-identidade-local-com-um-projeto-flexive
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Imagem 52 – Cubo de Totora (2017) Fonte - http://www.archdaily.com.br/br/802567/cubo-de-totora-no-equador-fortalecendo-a-identidade-local-com-um-projeto-flexive
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Imagem 53 – Cubo de Totora (2017) Fonte - http://www.archdaily.com.br/br/802567/cubo-de-totora-no-equador-fortalecendo-a-identidade-local-com-um-projeto-flexive
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Imagem 54 – The Man on Fire (2017) Fonte - Fotografia do Autor
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6. PROPOSIÇÃO
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6. PROPOSIÇÃO A minha ideia para esse projeto surgiu da necessidade de criar efemeridade em um local quase que utópico, o deser to. A par tir de pesquisas prévias, a minha vontade de criar “arte” para o Burning Man veio crescendo muito a cada dia, pois eu considero o Burning Man o maior movimento cultural do nosso tempo. O festival é um “choque moderno”, e foi exatamente assim que eu me senti quando o descobri. A arte moderna faz parte da minha vida pois sempre ansiei por subversão e ruptura. O Burning Man me impactou pois expandiu o meu senso do q u e a a r t e p o d e s e r. E u m e i d e n t i f i q u e i c o m a s e s c u l t u r a s g i g a n t e s e instalações do local, que se espalham pela imensa tela em branco que é o deserto de Black Rock. Toda essa ideia de expressão de arte coletiva, coexistência e vida temporária em comunidade me fizeram partir para u m p r o j e t o . E e s s a v o n t a d e m e l e v o u p a r a o B u r n i n g M a n d e 2 0 17, e , a partir da minha participação, toda a minha visão e concepção de projetar para esse lugar tão singular mudou. Através dessa vivência, o meu projeto nasceu, respeitando todas as leis locais e diretrizes importantes para o sucesso do evento. A participação da população e o engajamento são extremamente importantes para essa cidade efêmera acontecer com eficácia. Todos devem se unir e ter a sua função nesse espaço. Por isso, ao longo do desenvolvimento deste trabalho, fui me envolvendo com projetos existentes no Burning Man, conquistando o meu espaço, assim, como participante. A E X P E R I Ê N C I A - B U R N I N G M A N 2 017: R I T U A L R A D I C A L Ir para o Burning Man e se tornar um “Burner” definitivamente n ã o é u m a t a r e fa f á c i l . N ã o b a s t a a p e n a s a v o n t a d e d e i r, é p r e c i s o s e engajar previamente em projetos existentes e buscar por participantes locais, criar alianças, parcerias e promover encontros, formando assim u m a c o m u n i d a d e l o c a l . E é a s s i m q u e a p a r t i c i p a ç ã o c o m e ç a a a c o n t e c e r.
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Imagem 55 – Lucas na Black Rock City! (2017) Fonte - Fotografia do Autor
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E fo i a s s i m q u e o B u r n i n g M a n c o m e ç o u p a r a m i m . A t r av é s d a i n t e r n e t , e s s e coletivo brasileiro promoveu um encontro para pessoas que tinham interesse e m p a r t i c i p a r d a e d i ç ã o d e 2 017. E p a r t i c i p a r s i g n i f i c a t r a b a l h a r c o l e t i v a m e n t e , pois a partir do momento em que o envolvimento começa, todos possuem tarefas. Não é exatamente como uma hierarquia, todos os participantes possuem a mesma importância para a comunidade e todos trabalham o tempo todo para levar quem realmente se empenha para o deserto de Black Rock e proporcionar um novo tipo de experiência para todos.
Imagem 56 – The Man (2017) Fonte - https://journal.burningman.org/2017/08/black-rock-city/building-brc/raising-the-man-3/
Após o meu envolvimento com a comunidade local, a minha experiência c o m e ç o u . T r o c a n d o i n fo r m a ç õ e s c o m p e s s o a s q u e j á fo r a m p r e v i a m e n t e , t o d a a m i n h a o r g a n i z a ç ã o p e s s o a l p a r a c h e g a r a t é l á p a s s o u a e x i s t i r. E fo i a í q u e e u comecei a ter noção da dimensão que é participar do Burning Man e tudo que é preciso para isso. De início, é imprescindível começar a abrir a cabeça para o novo, esquecer tabus e preconceitos. Nessa comunidade, todos os tipos de pessoas devem coexistir com muita harmonia. Digamos que para quem não teve contato p r é v i o c o m e s s a c o m u n i d a d e , t o d a s a s n o v a s i n fo r m a ç õ e s p o d e m t e r c e r t o i m p a c t o .
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A d a t a d o e ve n t o fo i s e a p r ox i m a n d o , e a s s i m o m e u e n vo l v i m e n t o c o m a comunidade. Como novo par ticipante, eu tive que me engajar e ajudar o meu g r u p o s e m m e d i r e s fo r ç o s . I r p a r a o d e s e r t o e f i c a r p o r u m a s e m a n a r e q u e r muita preparação prévia e muitos cuidados. E o mais importante: levar para o local todos os tipos de objetos para a própria sobrevivência. E, então, assim eu f u i . C o m o u t r o s q u a t r o a m i g o s , fo m o s e m u m ve í c u l o ( R V ) q u e t a m b é m s e r i a o l u g a r o n d e i r í a m o s d o r m i r, c o z i n h a r, e r e a l i z a r t o d a s a s o u t r a s t a r e f a s d o d i a a d i a . A o ch e g a r n o d e s e r t o a n o s s a “ c a s a m ó ve l ” fo i e s t a c i o n a d a n o e s p a ç o previamente planejado por nosso g rupo, e ali naquela área estavam todos do nosso “bairro”. A área de acampamento em que eu fiquei se chamava AmaZONE, e fo i t o d o o rg a n i z a d o p o r e s s e c o l e t i vo d e b r a s i l e i r o s c i t a d o a n t e r i o r m e n t e , o Brazilian Burners, que se trata de uma grande comunidade de brasileiros participantes do Burning Man. A m i n h a p r i m e i r a i mp r e s s ã o s o b r e o l u g a r fo i n a ve r d a d e u m a g r a n d e m i s t u r a de sentimentos, pois eu estava vendo algo completamente novo: o deser to, a temperatura extrema, as tempestades de areia, pessoas com todos os tipos de r o u p a s , p r a t i c a n d o o t e m p o t o d o a a u t o e x p r e s s ã o r a d i c a l . P o d e s e r, p a r a m u i t o s , portanto, um choque. Contudo, a minha presença ali tinha um motivo pessoal: o m e u p r o j e t o , e s s e t r a b a l h o . E fo i a s s i m q u e a m i n h a p a r t i c i p a ç ã o t e ve u m p r o p ó s i t o m a i o r. T o d o o t e m p o , e u e s t a v a a l i , p r e s e n t e . N ã o s ó c o m o a l g u é m c o m sede pelo novo e curiosidade, mas como arquiteto e urbanista: prestando muita atenção nas construções e em seus detalhes construtivos, materiais, métodos. D e u m a fo r m a ge r a l , a m i n h a e x p e c t a t i v a a n t e r i o r s o b r e a s c o n s t r u ç õ e s e r a u m p o u c o d i fe r e n t e d o q u e d e fa t o a s c o i s a s e r a m n o d e s e r t o . Fo i a l i , c o m e s s a vivência, que eu consegui encaminhar o meu trabalho para o resultado de hoje. Foi através da minha par ticipação que toda a minha concepção de fato mudou. É algo muito maior do que eu esperava, e o que eu posso dizer é que provavelmente f o i u m a d a s e x p e r i ê n c i a s m a i s e n r i q u e c e d o r a s d a m i n h a v i d a . A p ó s p a r t i c i p a r, d e c e r t a fo r m a , a s p e s s o a s m u d a m s u a s m a n e i r a s d e v i ve r n o “ m u n d o r e a l ” , l e v a n d o p a r a fo r a d o d e s e r t o n ovo s p r i n c í p i o s e n ov a s i d e i a s d o q u e é , d e fa t o , v i ve r e m comunidade.
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PA R T I D O Projeto Firework: Começando com o nome do meu projeto, Firework (em por tuguês, fogos de ar tifício) é, na verdade, como eu me chamo na B l a c k R o c k C i t y. I s s o q u e r d i z e r q u e l á , t o d a s a s r e g r a s c o m q u e e s t a m o s a c o s t u m a d o s s ã o d i fe r e n t e s . T o d o s p o d e m s e r q u e m q u i s e r e m s e r. É u m a certa brincadeira entre os participantes dar novos nomes às pessoas. E assim aconteceu comigo. R e t o m a n d o o s 10 p r i n c í p i o s q u e d e v e m s e r c r i t e r i o s a m e n t e s e g u i d o s p e l o s m o r a d o r e s d e B l a c k Ro c k C i t y, b e m c o m o s u a s i l u s t r a ç õ e s o f i c i a i s , d e i i n í c i o aos estudos de definição das formas dos meus projetos. Isso porque, com a m i n h a v i v ê n c i a n o B u r n i n g M a n e m 2 0 17, c o n s t a t e i q u e t u d o f u n c i o n a e m torno desses princípios e todos os conhecem, seguem e respeitam. Esses símbolos apresentam desenhos geométricos, que podem dar origem a diversas formas poligonais. Eis, então, que o meu trabalho possui tais formas, contando com a madeira como principal elemento para sua construção. A madeira foi um fator determinante para o meu par tido também. Foram estudadas ao longo desse percurso diversas estruturas que seguem características e finalidades similares. Contudo, os projetos são de acordo com a cidade: efêmeros e seus usos variam de acordo com a necessidade local. Ao final do evento, o fogo consumirá um dos abrigos, fazendo com que o m e s m o d e i x e d e e x i s t i r. A p r i n c í p i o , e u s ó i r i a t r a b a l h a r c o m e n c a i x e s , m a s conhecendo as estruturas existentes no festival, eu optei pelas conexões em aço por facilitarem a produção e montagem. A ideia é criar algo simples o bastante para a população do local conseguir montar sozinha, seguindo instruções, encaixando parte por parte, peça por peça, formando, assim, o projeto em si. Além disso, outro fator determinante para a escolha do projeto foi tornar alguns dos componentes empilháveis para auxiliar no transporte dos mesmos para o deserto.
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PROJETO #1
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PROJETO #1 Esse projeto é o de maior porte e se caracteriza por ser um espaço livre, que possibilita diversas formas de uso. Sua base possui 8 metros de diâmetro, fazendo com que o mesmo seja um g rande espaço dedicado às pessoas que no deserto estiverem durante o Burning Man. Essa construção proporciona uma extensa área de sombreamento durante todo o dia, através de sua cober tura, que se dá através de chapas vazadas de madeira, servindo de abrigo a quem p o s s a p r e c i s a r, a l é m d e p r o j e t a r u m e f e i t o s i n g u l a r d e s o m b r e a m e n t o . O projeto é todo em madeira, e o sistema construtivo se dá através de encaixes em conexões de peças em aço. Todas as peças e formas desse projeto foram extraídas das milhares de possibilidades de encontrar outras formas dentro de um simples hexágono. E projetar para o Burning Man significa pensar em um espaço que vai ser usado 24 horas por dia, ou seja, suas funções são importantes tanto para o dia quanto para a noite. Por isso, é essencial que o mesmo receba a devida iluminação adequada para o período noturno. Por isso, utilizei de um sistema elétrico de luzes de LED, as quais possuem bateria própria e não necessitam então estarem ligadas a uma fonte de eletricidade. Além disso foi desenvolvido um padrão de mobiliário que pode ser distribuído de centenas de formas para se adequar às necessidades dos frequentadores. O conceito desse mobiliário “cubo” é simples: Ao empilhar os cubos, os utilizadores podem o usar de muitas formas diferentes: Bancos, mesas, palcos, etc. Outro ar tificio de iluminação significativo para o projeto são os “cristais de luz”: Desenvolvi para esse projeto, dois elementos que possuem forma de um cristal, porém o material utilizado para esses é o acrílico. Esses elementos são perfurados em todo o seu comprimento, possibilitando a instalação de luzes de LED em seu i n t e r i o r, p a r a p r o p o r c i o n a r e n t ã o m a i o r i l u m i n a ç ã o p a r a o p e r í o d o n o t u r n o . E s s a c o n s t r u ç ã o é i d e a l i z a d a p a r a a i m p r o v i s a ç ã o p r e v a l e c e r. A l g u n s e x e m p l o s de uso para o espaço são: Shows, festas, workshops, palestras, aulas, ou simplesmente qualquer tipo de evento que possa interessar aos utilizadores.
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DESENHOS TÉCNICOS
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8.00 4.00 0.30 6.90
6.90 3.46
VISTA SUPERIOR
VISTA LATERAL 0.30 DIREITA
8.00
88
0.30
VISTA FRONTAL
3.5
2
.35
4.00
VISTA SUPERIOR
89
AA
AA
LUZES DE LED
ACRÍLICO
AA
90
VISTA SUPERIOR
91
VISTA SUPERIOR
VISTA LATERAL
VISTA FRONTAL
92
VISTA SUPERIOR
93
VISTA SUPERIOR
94
95
96
97
98
99
100
101
102
103
104
105
106
107
.03
5.23 VISTA POSTERIOR .30 .05 5.23
LATERAL .03 VISTA DIREITA
VISTA SUPERIOR .03
5.23
VISTA FRONTAL
108
5.38
5.38
5.38 VISTA LATERAL .03 ESQUERDA
4.52
.03
.30
VISTA POSTERIOR
.05 4.52
VISTA LATERAL .03 DIREITA VISTA SUPERIOR .03
4.52
4.31
4.31
4.31 VISTA LATERAL .03 ESQUERDA
VISTA FRONTAL
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111
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PROJETO #2
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PROJETO #2 P r o j e t o # 2 : a s s i m c o m o o a n t e r i o r, t a m b é m s e t r a t a d e u m a c o n s t r u ç ã o geométrica, porém, nessa, todas as peças são regulares, com as mesmas dimensões, e, ao serem encaixadas, formam o volume por completo, são 30 peças de madeira, no total, que formam a estrutura do volume poliédrico. Essas peças são fixadas por peças de aço parafusadas, permitindo assim, uma perfeita conexão entre os elementos. Recebem também, chapas de madeira com desenhos vazados, para o confor to necessário dentro do abrigo desse volume. Essas, também, são fixadas entre si através de um perfil metálico, de aço, que permite conecta-las à estrutura. Essas peças, recebem luzes de LED em si, proporcionando além de um revestimento para os perfis metálicos, a iluminação adequada para a utilização desse espaço no período noturno.
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DESENHOS TÉCNICOS
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CONSIDER AÇÕES FINAIS
A o i n i c i a r e s t e t r a b a l h o e u n ã o i m a g i n a v a o d e s a f i o q u e v i r i a a s e g u i r, pois não se trata de algo comum. Projetar para uma cidade efêmera é algo que muda as perspectivas de um arquiteto. Eu, como pessoa, posso dizer que não sou o mesmo após essa vivencia, pois muito mudou desde então. Esse trabalho de conclusão de curso é algo maior que um simples projeto hipotético ou experimentação, pois me proporcionou uma vivencia enriquecedora. Passar u m a s e m a n a n o h o s t i l d e s e r t o p o d e s e r, a l é m d e u m a e x p e r i ê n c i a i n u s i t a d a , algo também extremamente espiritual. De repente eu me vi em um lugar que não parece real. Onde a natureza é feroz e o instinto de sobrevivência faz parte do cotidiano. As vezes é até difícil acreditar em que os meus próprios olhos viram durante esse tempo. São dias muito intensos. Ao mesmo tempo, essa vivencia em uma comunidade tão singular me permitiu enxergar a bondade das pessoas. A cooperação, o trabalho em equipe, e vários exemplos d e e s p e r a n ç a p a r a o “ m u n d o r e a l ” . O s 10 p r i n c í p i o s p a r a a p a r t i c i p a ç ã o do Burning Man se tornaram princípios pessoais e eu os levarei comigo junto à minha essência, para toda a vida. O Burning Man é uma explosão de sentimentos. A todo tempo, muitos aprendizados são adquiridos. Além de iniciar em mim um processo de extrema criatividade e busca por novas experiências e conhecimentos. Através dessa experiência eu tive o privilegio de me conectar com outros, que como eu, anseiam por liberdade de expressão no cotidiano. E unir forças com pessoas de todos os lugares do mundo para as mais diversas tarefas de uma cidade provisória é completamente incrível. Par ticipar do Burning Man foi a concretização de um sonho. Contudo, esse sonho ainda não chegou ao final. É com grande entusiasmo e alegria que eu digo que em um futuro próximo pretendo construir os meus projetos n o B l a c k R o c k C i t y. E n t ã o , o P r o j e t o F i r e w o r k a i n d a n ã o c h e g o u a o f i m . Como arquiteto, estou finalizando com essas palavras essa etapa da minha graduação. Estou indo para a vida profissional com uma bagagem única e u m a p e r s p e c t i v a t a m b é m s i n g u l a r. A i n d a , a n s e i o p e l o o q u e e s t á p o r v i r. Q u e o meu futuro como arquiteto seja repleto de novos desafios e realizações pessoais e que a efemeridade da arquitetura e ar te estejam sempre presentes em minha carreira.
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LISTA DE IMAGENS IMAGEM 1: You Are Not Lost IMAGEM 2: Fire People IMAGEM 3: Happening IMAGEM 4: Looks like a dream IMAGEM 5: The Man Statue IMAGEM 6: Day Dreaming IMAGEM 7: Structures in The Sun IMAGEM 8: The Embrace IMAGEM 9: Ego IMAGEM 10: Earth IMAGEM 11: Meu Ingresso IMAGEM 12: Magnus Mundi IMAGEM 13: City Plan IMAGEM 14: Black Rock City From Above IMAGEM 15: The Temple IMAGEM 16: Regionals Map IMAGEM 17: Love IMAGEM 18: The Sonic Runway IMAGEM 19: The Sonic Runway China IMAGEM 20: The Sonic Runway China IMAGEM 21: The Sonic Runway China IMAGEM 22: R-Evolution IMAGEM 23: R-Evolution em Washington D.C IMAGEM 24: About Dust IMAGEM 25: Contracultura IMAGEM 26: Love Not War IMAGEM 27: Happenings IMAGEM 28: Provo IMAGEM 29: John Lennon e Yoko Ono com uma bicicleta branca em Amsterdã IMAGEM 30: Woodstock Music & Art Fair IMAGEM 31: Janis in San Francisco
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06 10 12 14 17 18 19 20 21 22 26 27 28 29 30 32 33 34 35 35 35 36 37 38 40 42 44 45 48 49 51
LISTA DE IMAGENS IMAGEM 32: The Man IMAGEM 33: Tabernáculo IMAGEM 34: Cenografia IMAGEM 35: Burners IMAGEM 36: Tenda Indígena IMAGEM 37: Iglu IMAGEM 38: Ice Hotel IMAGEM 39: Ice Hotel IMAGEM 40: The Man IMAGEM 41: Serpentine Gallery IMAGEM 42: Serpentine Gallery IMAGEM 43: Coachella Art IMAGEM 44: The Velvet State IMAGEM 45: The Velvet State IMAGEM 46: The Temple IMAGEM 47: Ilustraçao Japonesa IMAGEM 48: Horyuji IMAGEM 49: GC Prostho Museum Research Center IMAGEM 50: GC Prostho Museum Research Center IMAGEM 51: Cubo de Totora IMAGEM 52: Cubo de Totora IMAGEM 53: Cubo de Totora IMAGEM 54: The Man on Fire IMAGEM 55: Lucas na Black Rock City! IMAGEM 56: The Man
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52 54 55 56 59 59 59 60 62 63 64 65 66 67 68 71 72 73 74 75 76 77 78 81 82
BIBLIOGRAFIA BONNEMAISON, Sarah. Festival Architecture (The Classical Tradition in Architecture). Editora Routledge. 2007 C A R R E R I , F r a n c e s c o . W a l k s c a p e s . E d i t o r a G u s t a v o G i l i . 2 0 14 DODERER-WINKLER, Melanie. Magnificent Entertainments: Temporary A r c h i t e c t u r e f o r G e o r g i a n F e s t i v a l s . E d i t o r a P a u l M e l l o n C e n t r e . 2 013 MITR ASINOVIC, Miodrag. Travel, Space, Architecture. Editora Routledge. 2 0 16 GILMORE, Lee. Afterburn: Ref lections on Burning Man. University of C a l i f o r n i a . 2 01 2 GILMORE, Lee. Theater in a Crowded Fire: Ritual and Spirituality at Burning M a n . U n i v e r s i t y o f C a l i f o r n i a . 2 0 10 R A I S E R , J e n n i f e r . B u r n i n g M a n – A r t o n F i r e . R a c e P o i n t P u b l i s h i n g . 2 0 16 W I L S O N , P e t e r. T h e G r e e k T h e a t r e a n d F e s t i v a l s : D o c u m e n t a r y S t u d i e s . Cambridge University Press. 2000 H A R V E Y, S t e w a r t . S p i r i t a n d S o u l a t B u r n i n g M a n . H a p e r E l i x i r P u b l i s h e r. 2 0 17 S T R A U S S , B a r b a r a . D e s e r t t o D r e a m . I m m e d i u m . 2 011 D AV E Y, S t e v e . A r o u n d t h e W o r l d i n 5 0 0 F e s t i v a l s . K u p e r a r d . 2 013 H I L L , J o n a t h a n . A r c h i t e c t u r e : T h e S u b j e c t i s M a t t e r. R o u t l e d g e . 2 0 01
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