O ESPAÇO COMO EDUCADOR E APRENDIZ - Estruturas Efêmeras para uma cidade democrática

Page 1

1


2


3


Trabalho de conclusão de curso I apresentado ao Centro Universitário SENAC Desenvolvido pelo aluno Matheus Augusto Gomes de Mello Alexandre Como exigêngia para obtenção de grau de Bacharel em Arquitetura e Urbanismo Sob orientação do Profº Ricardo Luis Silva

Agradeço aos meus pais que sempre me mostraram a importância de nos entermos como seres incabados e inconclusos 4


“O arquiteto é um educador, e seu ensinamento transmite-se através das formas que ele concebeu [...]O espaço não é neutro. Sempre educa. Resulta daí o interesse pela análise conjunta de ambos os aspectos - o espaço e a educação -, a fim de se considerar suas implicações recíprocas.” VIJÍlAO

FRAGO,Antônio;ESCOLAN,Augustín. Currículo,espaçoe subjetividade:a arquiteturacomoprograma.2ed.,RiodeJaneiro:DP&A.2001.152p.(traduçãoAlfredoVeiga-Neto)

5


6


SUMÁRIO Introspecção................................................ 8 O olhar do aprendiz...................................... 10 Paulo Freire................................................ 18 Observar,Vivenciar,Experimentar,Absorver..... 22 Favelas....................................................... 28 Hélio Oiticica............................................. 34 Cidade........................................................ 44 O aprendiz que cria...................................... 50 Inserção......................................................60 Estruturas efêmeras p/uma cidade democrática...... 63 Inconclusão............................................... 168 Referências............................................... 172 7


introspecção

8

Para início de nossa conversa, quero propor para mim e para você, uma introspecção, através de um dos maiores instrumentos vivos: o questionamento. O que entendemos como educação? Qual deve ser o seu papel? Como somos e fomos educados? Quem nos educa e educou? Em que momento isso acontece? Como mensurar a qualidade da educação? O que pode causar no indivíduo e na sociedade uma “boa” educação? Quando se manifesta a educação e qual o ambiente mais favorável? É a escola? Se entendermos que é a escola, como ela deve


ser? Como era a escola que estudamos? Gostávamos de ir à escola? O que aprendemos na escola? Aonde gostávamos de ficar? O que lembramos do que nos foi passado como conteúdo? Como nos foi passado? Hoje usamos o que em nossa vida desse conteúdo? Por que há divisões de classes nas escolas? Todos tem acesso a escola no Brasil? É dado seu devido valor ao professor? O indivíduo poderia evoluir, se desenvolver e aprender até que idade? Quando me propus a projetar pautado na temática da educação, juntamente com o tema me veio todas essas perguntas e mais algumas. O trabalho desenvolvido não tem a ambição de responder todas elas, ele na verdade tem como objetivo criar mais inquietações do que res-

postas para quem ler, ver e sentir o que foi escrito e projetado. Tal trabalho é uma das diversas respostas possíveis, pois quando pensamos em educação, há a necessidade da pluralidade. Tudo que será desenvolvido não pertence só a mim, toda linha desenhada foi e é das múltiplas pessoas que conversei sobre o assunto e dos diversos lugares que visitei em minha vida, que hoje fazem parte de mim. A mudança na base acaba sendo sempre a conclusão de todas as conversas que tem como pauta a melhoria da sociedade brasileira, por isso me encanta e sempre encantou a educação, mostrando a relevância de se alimentar o assunto. Pensar a educação é revolucionário, pela quantidade de nuances da sociedade que você atinge. 9


o

olhar do apren

10


Lembro das experiências que me construíram para construir espaços que criem experiências.

diz

11


Querendo deixar claro para mim mesmo e para quem lê de onde nasce as inquietações e provocações que serão desenvolvidas a partir do projeto, vou colocar relatos da minha construção como individuo até o dia de hoje, como me relacionei com a educação e como a mesma se manifestou para mim. O próprio desenvolvimento do meu olhar se coloca como uma das maiores referências projetuais, adotando como premissa inicial que a existência carrega dentro dela diversos momentos em que o ser humano é educado e se educa, e que isso pode acontecer em múltiplos espaços, não apenas em instituições de ensino. Porém passei por 3 instituições de ensino bem distintas, que acrescentaram no meu desen12

volvimento de formas totalmente diferentes, mostrando como há pluralidade quando falamos de educação. A diferença é apenas que cada escolha carrega posições políticas e sociais. Nasci em uma família que encara a educação de uma forma bem sensível, tanto que desde do berçário se foi pensado pelos meus pais em procurar instituições educacionais que sejam mais humanas, democráticas e que respeitem cada fase do desenvolvimento do individuo. Inicialmente no ensino básico fiquei em uma escola aonde a autonomia da criança era a base do currículo. Já nos dois ensinos fundamentais fui aprender em uma escola aonde a arte era um dos maiores pilares de educação, o Colégio Hugo Sarmento.


Hug o Sarmento O Hugo já é um colégio que tenho uma lembrança mais viva, que posso expressar como foi a real experiência de ficar 8 anos da minha vida naquele espaço.

A arquitetura da escola foi mudando conforme o tempo que passei lá, mas a estrutura organizacional sempre foi a mesma. Era basicamente 1/3 do lote para o edifício construído, outro terço para atividades ao ar livre e o último era um morro aonde tinha um coreto, uma área de arquibancada e uma floresta com trilhas. O atelier de artes era equivalente ao tamanho de 4 salas de aula destinadas as outras matérias Havia dois momentos no ano que eram essenciais

para mostrar o que a escola acreditava: A viagem do estudo do meio e a Exposição. As viagens de estudo do meio tinham cunho de aprendizagem em espaços que não são dentro da escola, em lugares como Barra Bonita e Ouro Preto, duravam entre 5 a 7 dias. A exposição já era algo mais intenso, pois durante dois meses as matérias se dedicavam a produção artística para transformar a escola inteira em uma grande exposição 13


seguir trabalho após a conclusão do ensino médio. Passando no Vestibulinho fui estudar na Etec Basilides de Godoy uma das cinco melhores ensino médios-técnico público em São paulo, segundo as notas do ENEM. de arte. Havia sempre um tema específico que cada matéria tinha que trazer de alguma forma para a sua ciência. Portanto se o tema fosse a África, Biologia trataria da fauna e flora e a Geografia tratava da política, relevo e clima dos países da África. Além das matérias comuns tinha a possibilidade de se ficar horário integral, aonde tinha atividades extracurriculares, como reforço em inglês, diversos esportes e lutas, yoga, ou apenas ficar na biblioteca. Após 8 anos em uma escola que se tinha esse conceito pedagógico, acabei fazendo Vestibulinho para adentrar a ETEC, pois além do ensino médio no segundo ano poderia fazer um técnico para dar uma base para alguma possível graduação, ou con14


-A sala que tinha apenas uma abertura, ampliou e criou uma รกrea comum depois de uma reforma

15


Etec Prof. Basilides de Godo y Já no ensino médio senti o contraste que existe dentro da educação. A arquitetura do espaço em si não é o foco que quero dar nessa experiência. A pedagogia que era ensinada era o padrão hegemônico dado na maioria das escola públicas brasileiras. O ponto e foco que quero abordar é como se pode aprender fora de sala de aula. Eu tinha vindo de uma escola aonde tinha uma sala de 25 alunos para o primeiro ano do ensino médio e fui para uma escola aonde tinha 5 salas de 40 alunos para o primeiro ano do ensino médio. A diversidade de pessoas e as relações sociais construídas foram o que mais me 16

marcaram e o que mais me educou de certa maneira. O convívio social te faz desenvolver diferentes formas de agir, pois a quantidade de situações diversas que você é colocado requer diferentes respostas. Consigo enxergar apenas hoje distanciado o quanto sair de uma bolha social que vivia no primeiro colégio foi importante para o meu desenvolvimento. E enxergo mais tarde também que o começo de uma independência aonde eu era introduzido a vivência direta da cidade também foi estruturador para a minha educação. O que entendo principalmente após começar a estudar arquitetura e urbanismo.


Centro Universitári o Senac Adentrando a universidade e estudando arquitetura comecei a olhar a cidade de outra forma, a construir espaços, a me adentrar no cenário político, a entender as desigualdades, debater filosofia e sociologia. O que a arquitetura fez foi extravasar o campo da sala de aula, mudando a minha forma de lidar e interagir com o cotidiano, a cidade, as pessoas. A partir das vivências e experiências na cidade com o olhar mais sensível me eduquei e fui educado. O que posso tirar de toda minha experiência nas instituições de ensino e na minha vida são exatamente o olhar que tenho hoje que trago para meu projeto, e que acabam coincidindo com pensamentos de educadores, ar-

quitetos, sociólogos, que

me acompanharão no desenvolvimento do trabalho. A arte e autonomia do individuo torna ele humano, crítico, criativo e independente. A diversidade e a interação social proporcionam entendimento de um contexto social, empatia, a partir do diferente, do conflito, o desenvolvimento de uma identidade se torna mais suscetível. A experiência de se viver a cidade, te torna mais sensível, aguça suas percepções. Todos esses pensamentos culminam na busca pela liberdade do individuo, que consegue ser dono de si, se entender, ser crítico e sensível para absorver tudo que a experiência de estar vivo oferece. 17


Paulo Freire

18


Para entender sobre educação, com um panorama contextualizado no Brasil, fui beber conhecimento em três livros do mestre Paulo Freire: “Pedagogia como prática de liberdade”, “Pedagogia do Oprimido” “Pedagogia da Autonomia”. Lendo Paulo Freire tudo que estava posto como reflexões separadas de um aluno de arquitetura problematizando educação foi estruturado em palavras e exemplificados com a vida desse nordestino simples e visionário. A importância de se colocar um contexto tanto histórico quanto espacial quando tratamos de arquitetura é fundamental, portando as colocações encontradas nos livros do Paulo Freire, mostraram a importância da educação e como politicamente ela está e foi inserida na sociedade brasileira. O que mais os estudos e a vida de Paulo Freire con-

seguiu esclarecer para mim é qual deve ser o objetivo da educação. Mostrou que dar possibilidade para que os indivíduos consigam cada vez mais desenvolver seu olhar crítico perante cada momento da sua vida é o que tanto se deve buscar. Mas por que criar criticidade dentro dos seres humanos é tão importante? Ser crítico é ser de si mesmo, ser dono de suas vontades, ser livre, por isso a importância. A educação vem para tirar os véus e dar liberdade para a vida das pessoas. Sendo análogo como a pedagogia conceitualmente se entrelaça com a arquitetura, a importância que o usuário toma perante o pensamento do educador e do arquiteto é praticamente equivalente, pois se entende que não se pode ensinar sem estar compreendido para quem você está ensinando, como para quem você está projetando. 19


O protagonismo e respeito dado ao usuário também se vê claramente, para que a sensibilidade seja algo cada vez mais visível e tangível. A liberdade e autonomia são bases que constroem o espaço e a educação. O que se torna claro nas palavras de Paulo Freire é como qualquer escolha tem um peso. Na arquitetura querendo ou não cada traço dado pela lapiseira 0.9 é uma postura política e social. O que sinto depois de ler Paulo Freire é que ele está me perguntando: qual posicionamento está intrinsicamente ou claramente na sua arquitetura? Outro ícone que tem pensamentos semelhantes com o Paulo Freire e que acabei adentrando apenas um pouco, mas que em uma das suas falas me esclareceu e colocou em palavras pensamento que estavam um pouco soltos em mim foi o geógrafo Milton Santos: 20


“Esse esforço, para o qual contribuíram filósofos, pedagogos e homens de Estado, acaba por erigir como pilares centrais do sistema educacional: o ensino universal (isto é, concebido para atingir a todas as pessoas), igualitário (como garantia de que a educação contribua a eliminar desigualdades), progressista (desencorajando preconceitos e assegurando uma visão de futuro). Daí, os postulados indispensáveis de um ensino público, gratuito e leigo (esta última palavra sendo usada como sinônimo de ausência de visões particularistas e segmentadas do mundo) e, dessa forma, uma escola apta a formar concomitantemente cidadãos integrais e indivíduos fortes. Hoje, sob o pretexto de que é preciso formar os estudantes para obter um lugar num mercado de trabalho afunilado, o saber prático tende a ocupar todo o espaço da escola, enquanto o saber filosófico é considerado como residual ou mesmo desnecessário, uma prática que, a médio prazo, ameaça a democracia, a República, a cidadania e a individualidade. Corremos o risco de ver o ensino reduzido a um simples processo de treinamento, a uma instrumentalização das pessoas, a um aprendizado que se exaure precocemente ao sabor das mudanças rápidas e brutais das formas técnicas e organizacionais do trabalho exigidas por uma implacável competitividade.” SANTOS, Milton. Os Deficientes cívicos. Disponível em < http://www1.folha.uol.com.br/fol/brasil500/dc_3_9. htm> Acessado em 23/04/2017

21


Observar Vivenciar Experimentar Absorver 22


Para criação de qualquer projeto se utiliza de referências tanto para auxiliar no processo criativo quanto para demonstrar a viabilidade do que está sendo pensado. A escolha do que é uma referência acaba sendo muito individual, pode ser um edifício arquitetônico construído, não construído, um móvel, ou até um objeto aleatório. As escolhas tanto estéticas, construtivas e teóricas por mim adotadas levam a escolha de algumas referências para serem estudadas mais a fundo para auxiliar e embasar o projeto que será desenvolvido. Não encontrei em um edifício existente o que procurava conceitualmente e percebi que era ampliando minha visão que me depararia com algo que me referenciasse. A partir da leitura do livro Estética da Ginga da Paola Bernestein

Jaqes me deparei com duas referências que se tornaram balizadoras para o projeto: As favelas e as obras de Hélio Oiticica. Além dessas duas, o livro me apresentou o conceito de Fragmento e o grupo dos situacionistas, ambos juntos me mostraram, que encontraria talvez na cidade e em fragmentos arquitetônicos outras referências. 23


Parc de la Villete

Bernard Tschumi, traz no projeto de um parque em Paris conceitos que conversam com minhas reflexões. O parque tem como um de seus principios a descoberta do espaço, atrás de trazer ao usuário liberdade . Encontramos essa aspiração a liberdade quando em diversos espaços criados nenhum programa específico é introduzido, para que seja interpretado por quem quiser se apropriar das espacilidades dando dferentes usos. A diversidade das ambiências organizada pelos 10 jardins temáticos, também diaologa com meus pensamentos, de criação espacial respeitando as diferenças e introduzindo duversas sensações para que haja possibilidade de conflitos e descobertas. 24

“O projeto do Parc de la Villete pode assim ser visto para incentivar o conflito sobre a síntese, a fragmentação sobre a unidade, a loucura e o jogo sobre a gerência cuidadosa. Este projeto subverte um número de ideais que lhe eram sacrificados no período moderno – desta maneira, pode ser aliado a uma visão específica de pós-modernidade”. TSCHUMI, Bernard


Central Beheer “A modularidade dos materiais escolhidos permitiu a padronização do detalhamento e facilitou eventuais adaptações no futuro”. Disponível em http://www.au.pini.com.br/arquitetura-urbanismo/188/artigo155940-2. aspx. Acessado em 04/05/2017

O complexo de escritórios do arquiteto Herman Hertzberg, mostra como uma logica estrutural pode dar uma liberdade para de trabalhar sobreposição de módulos. As diferenças de ambiências lembravam dentro do edifício uma cidade entre ruas e divisões de quadras. Mostrando as possíveis relações de diversidade espacial dentro de um edifício 25


Pavilhão Prada

No pavilhão temporário projetado pelo escritório de Rem Koolhas se pode ver como a mudança do espaço e entendimento de uma arquitetura cada vez menos estática é importante cada vez mais. As paredes se tranformavam hora em piso, hora teto. Em 3 meses o pavilhão abrigou 4 usos

diferentes: uma exposição de moda (da Cintura para Baixo, saias desenhadas por Miuccia Prada), um festival de cinema (co-curado por Alejandro González Iñarritu), uma exposição de arte (pela artista de vídeo e escultora sueca Nathalie Djuberg), e um desfile de moda Prada.

“Tentamos criar algo absolutamente flexível como espaço” KOOLHAS, Rem 26


Algo Colombiano School “A tradicional AEI Aquitectura e Interiores coloriozou o prédio Omega Block do arquiteto Daniel Bonilla na escola anglo colombiana em Bogotá, Colombia. Seu conceito é baseado em uma simples premissa: aprender ao fazer. Isso os levou a projetar a biblioteca e as áreas de aprendizado expandidas do prédio, refletindo os últimos modelos educacionais que levam em consideração as novas gerações e seus modos de interação com os espaços.” Disponível emhttp://www.designboom.com/architecture/ daniel-bonilla-arquitectos-colegio-anglo-colombiano-bogota-08-18-2016/ Acesso em 20/03/2017

Em uma simples parede com almofadas que podem ser retiradas e dispostas da forma que as pessoas quiserem, está a essência de se entender a importância da autonomia , liberdade e respeito ao usuário como criador do espaço, e como essa criação influencia e pode ajudar no desenvolvimento do indivíduo.

27


FAVELAS

A pluralidade encontrada no Brasil e no mundo, pede para que seja adotado a palavra “Favela� no plural como estudo de caso.

28


Nos Fragmentos sorridentes De sangue e suor Me perdi e me encontrei Nas vielas que subi sรณ. Desci como rei, Perdido-achado. No meio, no canto, na laje, na janela Vi o belo nele e nela, A beleza de uma arquitetura favela.

29


[Antes de colocar como a favela consegue abrigar diversos conceitos, espacialidades, sensações que quero trazer para o o projeto, me vejo no dever de algumas colocações. Em nenhum momento se deve haver romantismo com a precariedade existente, não se deve manter a desigualdade e a falta de qualidade de vida, porém como tento a partir de minhas vivências em diversos espaços, ver o que de positivo posso levar comigo e como isso pode me alimentar de todas as formas possíveis, a favela conseguiu me mostrar muitas potencialidades.]

As favelas estiveram sempre presentes na minha vida, moro em Pirituba região Oeste de São Paulo, mesmo não morando em uma sempre tive elas muito perto, nas minhas caminhadas, no meu cotidiano. Na capital paulista as favelas estão em diversos localidades, saindo muitas vezes da ideia de estar apenas na periferia, o que faz com que elas façam parte da identidade da cidade. Ocupam espaços que normalmente não estão cumprindo sua função social na cidade, vazios, esperando especulação imobiliária, ou espaços que a legislação limita a conrução (próximo a córregos ou terrenos muito inclinados). A favela não é uma escolha entre várias para quem mora nela, é a única muitas vezes. 30


Mesmo com um cenário de precariedade, risco de vida, tentativas de desapropriação, poderes que pressionam seja o Estado ou o tráfico, a favela é um fenômeno que carrega consigo muita beleza. Depois de uma vivência no Jd. Jaqueline, de ler uma parte da bibliografia e de me aprofundar em conversas com pessoas que dedicaram suas vidas, não apenas acadêmicas, para entender e atuar nas favelas do Brasil, comecei a ver todas as potencialidades espaciais que as favelas exprimem. O maior potencial que vejo é como as favelas se relacionam mais diretamente ao usuário. Vendo uma vista aérea da maioria das favelas paulistas dificilmente você entende a sua complexidade. A experiência de se estar dentro da favela do Jd. Jaqueline durante alguns dias, conseguiu deixar

claro que naquele ambiente as surpresas eram constantes, o público se misturava com o privado, as barreiras invisíveis ficavam quase nítidas, a diversidade de classes sociais e usos, era uma bagunça, mas ao mesmo tempo, me senti muitas vezes mais confortável do que no meio de um vão livre de 20m, com vigas, pilares e paredes em concreto aparente. Essa desordem que encontrei na favela do Jaqueline me instigava, me fazia querer andar cada vez mais, descobrir toda a favela, pois em apenas 10 passos eu passava de uma “avenida” principal para um lugar extremamente calmo, um vazio nas costas de um sobrado de três andares. Eu realmente tive uma conexão com o espaço, ele fazia parte a todo momento de mim, estava sempre presente, dialogando comigo. 31


A morfologia da favela traz também a questão labiríntica fortemente, instigando a descoberta e a criatividade, juntamente com essa característica, outra nuance que acho importante citar é a questão da diversidade. Pelo menos dentro da favela do Jaqueline existia muita diversidade não apenas da arquitetura (que podia ser um sobrado de alvenaria ou 20 tabuas de madeira), mas a

32

diversidade social também. Além desses dois pontos o que vejo como possibilidade de auxiliar a criação do meu projeto é a relação de temporalidade existente nas favelas. Dificilmente uma favela tem um fim, ela é uma obra aberta, se não em relação a expansão territorial, é com o aperfeiçoamento das habitações. Quando não se tem mais espaço para expansão da área da favela,


em São Paulo pelo menos, há até uma verticalização da favela. Sempre está em movimento e nunca acabada. O que essa característica pode influenciar em um projeto com a forma que o meu trabalho vem se desenvolvendo? Um projeto que é inacabado coloca que: as necessidades de um espaço podem se alterar conforme o tempo, podendo dar a possibilidade até do próprio usuário

ampliar o espaço, trazendo a criação do espaço vivenciado como uma maneira de estreitar a relação entre individuo e arquitetura. No próximo estudo de caso fica explícito o quanto a favela pode se inspiradora se olharmos com maior sensibilidade para esse fenômeno.

33


34


HÉLIO OITICICA

35


Inspirado, vivenciado e fragmentado, A partir do labirinto de verdades Mostrou a todos que podemos ser arte Ao buscar a liberdade.

36


O título do meu estudo de caso acaba sendo a pessoa Hélio Oiticica, pois o mesmo afirma que chega um momento que não sabe o que é obra se não sua própria vida. Essa analogia é importante para o projeto, pois venho da premissa que o espaço e o homem tem que ter uma relação mais estreita, mais tátil, para que haja uma troca real entre ambos. Uma troca aonde a vivência e experimentação do espaço possa ser um momento que o individuo consiga se completar a ponto de “ser” o espaço. Algumas obras de Hélio são reflexo de sua vivência em uma grande favela carioca, a Mangueira. A favela como explicitado anteriormente tem con-

ceitos que adoto, como base projetual do espaço: incompletude, movimento, mutabilidade, diversidade, conflitos, desordem. Essa relação do artista e a favela consegui enxergar após ler o livro estética da ginga que me fez apronfundar tanto na vida/trabalhos de Hélio quanto em teorias relacionadas a temática faveleira. Me colocarei da mesma forma que o livro dando um panorama cronológico que mostra como gradualmente as reflexões dos trabalhos foram evoluindo conforme sua experiência na Mangueira. Analiso portanto 4 obras de Hélio Oiticica e como elas podem me auxiliar na (des)ordenação de meus pensamentos. 37


Paran go Obra criada a partir do começo de sua vivência na favela da Mangueira é constituída por uma vestimenta, um individuo e seus movimentos. Exatamente, a obra se torna arte apenas com um individuo. São praticamente três pontos que absorvo dessa obra de Hélio Oiticica para premissas do meu projeto. O primeiro ponto é o respeito e entendimento do usuário com parte daquilo que se cria. Não uma pequena parte, mas a essencial, sem ele não há arte, no meu caso não há arquitetura. O segundo ponto é um pouco mais subjetivo, que é o conceito incompletude que trago para o meu trabalho. O espaço é incompleto sem o individuo e o 38

individuo é incompleto sem o espaço. Entender que um completa o outro e juntos podem criar diversas experiências, fazendo com que a arquitetura deixe seus traços no individuo e o individuo deixe seus traços na arquitetura é de suma importância. A partir de que o espaço é um educador e um aprendiz, como ele pode ser projetado pensando no que o usuário daquele espaço pode


“O espectador não se torna somente participante (participador, trazer e levar dos momen- segundo Hélio Oiticica), tos ali vividos? torna-se também parte da O terceiro ponto é o obra quando a veste” movimento, pois o Paran- JACQUES, Paola Berenstein. golé só tem seu êxtase A estética da ginga. quando o individuo se São Paulo: Casa da Palavra, 2001; movimenta e realmente transforma junto com a sua vestimenta em pura arte. O movimento dentro da arquitetura traz a importância do mudar, e do entendimento que o usuário muda o espaço, usuário também é criador tem como maior fundamento do espaço que nele irá o aprendizado intrínseco experimentar. Esse movi- que existe em se mento que existe quando o construir espaços.

39


P e netráveis Após o Parangolé Hélio através de sua experiência na favela da Mangueira “[...]sua busca incessante foi desenvolvendo uma pelo exercício de liberdade, série de instalações através de experiências cada chamadas penetráveis. vez mais radicais, desligandoAs relações e sensações -o de toda espécie de formalisque são criadas a partir mo e esteticismo [...] o artista do momento que se quebrou passa a ser menos o criado – o a barreira do espectador autor – e mais aquele que propõe e do artista no parangolé a criação coletiva[...]” JACQUES, evoluem cada vez mais. Paola Berenstein. A estética da Cria-se então espaços ginga. São Paulo: Casa da Palalabirínticos onde as vra, 2001; pessoas se perdem, se acham, tentam achar uma saída ou uma entrada, mas acabam sendo incitadas a continuar descobrindo o espaço criado. Hélio em seus primeiros penetráveis faz maquetes e projetos anteriores, conforme o desenvolvimento das instalações e a busca por desintelectualizar a arte, faz ele ter uma relação maior com o improviso e a aproximação do artista como criador de possibilidades

40


“Os novos Penetráveis

Essas duas questões são pontos que dialogam com o projeto desenvolvido, pois o labirinto e o improviso projetual, vem da mesma premissa relação mais intensa com o espaço. O improviso no sentido que o próprio utilizador do espaço pode alterar o mesmo e o labirinto no sentido de incitação a descoberta do espaço.

labirínticos são, portanto, propostas abertas para incitar novas situações criativas. Oiticica passa à criação de espaços inacabados que tornam possíveis diversas experiências, de acordo com a disponibilidade criativa das pessoas que nele entram. Ele sugere usos possíveis dos espaços criados, deixando-os abertos a todas as propostas por parte dos utilizadores ou simplestemente, dos passantes. [...] propõe o espaço, para em seguida, deixar que sejam descobertos os usos e funções possíveis. Propõe uma experiência do espaço, de diferentes tipos de espaços possíveis, incomuns, espaços labirínticos” EJACQUES, Paola Berenstein. A estética da ginga. São Paulo: Casa da Palavra, 2001;

41


É d e n Consequência de seus trabalhos anteriores seja o Parangolé e os Penetráveis nasce a experiência do Éden. Expandindo suas instalações Éden foi um conjunto de espacialidades onde cada uma trazia mútiplas experiências, vivências e sensações. Oiticica chega em um momento que a experiência de sentir a arte tem maior peso do que o objeto final.

42

“O Éden é um campo experimental, um tipo de Taba, onde todas as experiências humanas são permitidas. É um tipo de lugar mítico para sentir, para agir, para fazer coisas e construir o cosmos interior de cada um” OITICICA, Hélio, Catálogo da exposição da Whitechapel Gallery. Londres.1969.


Com a avivvência trazida da favela da Mangueira mais clara do que nunca o Hélio coloca em questão a relação de comunidade e liberdade, duas relações que trago pro meu projeto. Ao colocar a disposição diversos espaços para serem sentidos pelas pessoas, ele mostra como conceitos como suprassensorial, antiarte e crelazer podem se conectar.

Colocando questões de como criar, crer e lazer se misturam e podem ser revoluciários na sociedade. (CRELAZER). Colocando a intenção de espacializar lugares aonde as sensações de relação com o espaço atravesse o patamar existente.(SUPRASSENSORIAL)E colocando a importância de descentralizar a arte para que o espectador seja mais respeitado como participante.(ANTIARTE) Oiticica mostra em Éden um êxtase, que conceitualmente baseia parte de meu projeto.

43


CIDADE

44


“Essa embriaguez anaminésica, que acompanha o flaneur vagando pela cidade, não só se nutre do que é perceptível na rua, mas também se apropriado simples saber, dos dados inerentes, que passam a ser então algo vivido, uma experiência” Walter Benjamin, Paris, capitale XIXe, siécle, Paris, ed.du Cérf, 1989, p. 434-435 (T.da.)

45


Por que a

cidad e não é

uma

grande

46

?

esco la


Questionando a escola como instituição e a própria existência humana, me peguei refletindo sobre essa pergunta a todo momento do desenvolvimento deste trabalho. Indo atrás de argumentos teóricos para que eu pudesse ver se havia algum estudo ou reflexão que se assemelhasse com a pergunta que eu estava me fazendo. Me deparo com o grupo situacionistas e seus pensamentos de como encarar o fenômeno que é a cidade. Adentrando suas teorias e vendo que a ideia principal do grupo é ir contra a sociedade do espetáculo e a alienação do individuo seus pensamentos se tornaram complementares com tudo o que me trouxe até aqui: Hélio Oiticica, Paulo Freire, Paola Berenstein Jacques, Milton Santos.

Mas o que então eu poderia tirar do pensamento sobre a cidade dos situacionistas para um projeto de espaços educadores? O grupo enfoca suas críticas em cima do urbanismo moderno, hegemônico até os dias de hoje. Algumas dessas críticas se relacionam diretamente com tudo que já foi refletido até o momento no trabalho. Exemplificando essa relação no começo de um de seus textos a crítica em cima da falta de pensamento no usuário ao se projetar é exposta: “A construção de bairros, antigos e modernos, está em evidente desacordo com os modos de comportamento estabelecidos e, mais ainda, com os novos modos de vida que buscamos. O resultado é a ambiência morna e estéril que nos cerca.” 47


O que também interessa é a colocação do não pensamento do urbanismo para a mudança, encontrado na inexistência muitas vezes de “aberturas” nos projetos. Em uma sociedade como a que vivemos no século XXI a mudança é algo praticamente vivo e explícito no cotidiano, seja no comportamento humano ou na tecnologia, portanto se pensar uma cidade que possa ser aberta a mudança é um viés necessário. Quando se pensa em todas as referências estudadas até agora se vê claramente que a mutabilidade é uma característica importante espacialmente para criação de espacilidades que sejam mais propicias a criar momentos e situações de criatividade, desalienação e liberdade. “[...]sabemos que a construção futuras que desejamos precisarão ser suficientemente maleáveis para corresponder uma 48

noção dinâmica de vida, criando nosso ambiente em relação direta com modos de comportamente em constante mudança.” “Outra cidade para outra vida” título de um dos textos escrito pelos situacionistas resume a reflexão que permeia o projeto no momento, e o por que escolho a cidade como estudo de caso. No texto parte da crítica feita pelo grupo ao urbanismo moderno é exposta juntamente com uma possível proposição de outro modo de se pensar cidade. Sem entrar no mérito de análise do que foi proposto, o que pode ser colocado é que: a partir do entendimento das críticas feitas pelos situacionistas, um outro olhar que questiona qual a real “função” da cidade nasce em mim. E a pergunta do começo do estudo volta: Por que a cidade não é uma grande escola?


Por que meu projeto não poderia ser um fragmento que exemplificasse como a cidade poderia ser? Uma cidade que só a vivência na mesma desenvolve as diferentes inteligências do individuo? Uma cidade que forma pensamento crítico? E que liberta seus cidadãos? Mas a cidade que a gente vive não tem nada de positivo? Por que não tentar também ao mesmo tempo de propor uma possível cidade mostrar como podemos ter aprendizados com a cidade já construída?

“O Direito à Cidade é um direito de mudar a si mesmos por mudar a cidade. É um direito coletivo e um dos mais preciosos e negligenciados de nossos direitos humanos.” LEFEBVRE, Henri (2003). The Urban Revolution. Minneapolis. 49


O

a pre

que 50

c


nd iz

cria 51


O que o processo e desenvolvimento teórico mudou em meu modo de encarar a temática da educação, para fazer uma proposição de um espaço que tenha com cerne o auxilio ao desenvolvimento do indivíduo? No começo do trabalho o que estava sendo pensado era realizar um projeto de espaços educacionais, até talvez uma escola. Para entender o que eu queria propor como espaço educacional, fui imergi em diferentes mundos e deles trago comigo diferentes pontos que (des) ordenadamente compõe o que penso hoje de como o espaço poderia ser. O que busco como fundamental é projetar um espaço que possibilite uma saída da espetacularização e alienação constante que vivemos. 52

A partir da vivência dentro do projeto busco que o individuo tenha diversas sensações, que juntas se completem para que se possa haver uma real conexão do individuo com o espaço físico (e consigo mesmo). Com a relação clara que o homem é influenciado pelo espaço e o espaço é influenciado pelo homem, a educação pode nascer como conceito e prática a partir da criação do espaço. Portanto minha proposição se dá a partir da premissa que a vivência espacial por si só já pode desenvolver o individuo de diferentes formas. Mas desenvolver o que? O Autoconhecimento, o entendimento de um ser em um coletivo, o pensamento critico e a liberdade.


53


Geodésica Entendendo a ideia de partido de modularidade, de espaços que se conectam, custo benefício, mutabilidade, a necessidade de se buscar algum partido, concepção estrutural ou lógica acabou sendo mais do que necessário. Assim quando penso em um espaço que materialize todas as reflexões e conclusões que detive e abracei para esse projeto, me vem a cabeça uma grande quantidade de possibilidades. Dentre elas uma se destaca, a Geodésica. A Geodésica tem uma estrutura bem definida, o que acaba trazendo não uma limitação e sim uma liberdade. Se estruturalmente há uma lógica bem definida, a partir do entendimento da mesma se 54

abre a possibilidade de desconstruí-la e alterá-la o quanto ela deixar. O projeto que tem como preceito da tentativa de quetionamento do formalismo, esteticismo, intelectualização, utilizar uma forma tão icônica como a Geodésica acaba sendo simbólico também. Por ter estudos e projetos que já se relacionam e viabilizaram diferentes maneiras de se olhar e projetar a partir da geodésica, se tornou mais fácil a escolha da mesma como partido. Resolvi explorar através de estudos e croquis, sem ainda muita base técnica, o que me vem em primeira estância em pensamento


Estudos

55


“Na lógica fragmentária, somos confrontados com o acaso, o aleatório, o ocasional, o efêmero e com a incompletude. Mas o que não tem fim é também da ordem do infinito. A anulação do “antes” e “depois”, somente a consideração do pontual, do detalhe: o Fragmento. O esquecimento do principio do “começo-meio-e-fim”. A poesia do incompleto também é ilimitada. A incerteza se prolonga e a tensão se instala. É uma prática de desligamento, que se afasta de toda lógica causal, de toda ligação coerente.[...]” JACQUES, Paola Berenstein. A estética da ginga. São Paulo: Casa da Palavra, 2001;

“Na solidão, uma consciência que é consciência do mundo, adentra-se em si, adentrando-se mais em seu mundo, que, reflexivamente, faz-se mais lúcida mediação da imediatez intersubjetiva das consciências.” FIORI MARIA, Ernani FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra LTDA., 1987;

56


“Conhecer um labirinto exige nele penetrar, nele se perder .... Jamais sabemos se estamos no bom caminho; na realidade, não há no caminho... Para desatar a complexidade do percurso, é necessária uma ausência de objetivo.” JACQUES, Paola Berenstein. A estética da ginga. São Paulo: Casa da Palavra, 2001;

“Sua poesia reside justamente na dimensão aleatória do resultado, sempre inesperado e intermediário. São os acidentes do percurso que constituem a forma da construção, pois mesmo existindo sempre uma intenção difusa de construir, não existe forma detalhada e predefinida de início.”

JACQUES, Paola Berenstein. A estética da ginga. São Paulo: Casa da Palavra, 2001;

57


“ “Antes de ser forma o labirinto é um estado sensorial.” JACQUES, Paola Berenstein. A estética da ginga. São Paulo: Casa da Palavra, 2001;

58


“A “desordem” é necessária porque a força do Fragmento está precisamente e suas potencialidades anárquicas que provocam tensões.[...]O Fragmento semeia a dúvida. Ele pode ser uma etapa, um pedaço ou um todo, inclusive, o contrário de si mesmo. O acaso se instala. A arquitetura tem grandes dificiculdades, em enfrentar os riscos do acaso, do aleatório, do arbitrário, do fragmentário.” JACQUES,

Paola Berenstein. A estética da ginga. São Paulo: Casa da Palavra, 2001;

“A desordem aparente pode ser resultado de uma ordem que muda rápido demais, e o desequilíbrio, o de um equilíbrio dinâmico[...] O inacabado se impõe, a ordem é incompleta e mutável[...] O inacabado incita a exploração, a descoberta.” JACQUES, Paola

Berenstein. A estética da ginga. São Paulo: Casa da Palavra, 2001;

59


I

ns e r

ç ão

O projeto se propõe de utilizar de um recorte da cidade para intervenção, mas entendendo que ele poderia e deveria ser em outros diversos recortes de cidade. Essa inserção é uma das múltiplas que poderiam ser feitas na cidade e possivelmente conectadas. Nesse caso foi escolhido um terreno na Barra funda, Zona Oeste, da capital paulistana.

60


61


62


Se o espaço ensina e nós construímos o espaço, o que estamos ensinando Na incompletude, o espaço convida. Na desordem, o espaço aguça. na diversidade, o espaço abraça. nas possibilidades, o espaço educa. A geometria vem com sua linguagem democrática se desvendar geodésica, para transformar vivências apáticas. A intervenção flerta as complexidades, e nos faz cada vez mais sonhar, cada vez mais agir. No construir, se construiu um indivíduo, um coletivo, uma cidade. 63



65



67



69



71


Se cada

pessoa

recebesse um cubo para colocar o

lugar

que imagina ser ideal

para viver?


viver viver viver viver viver viver vi viver viver viver viver viver viver vi viver viver viver viver viver viver vi ver viver viver viver viver viver vive viver viver viver viver viv viver vive viver viver viver viver vi viver viver viver viver viver viver viver viver vi ver viver viver viver viver viver vive viver viver viv viver viver viver vive viver viver vi viver viver viver viver viver viver viver viver viver viver vi ver viver viver viver viver viver vive viv viver viver viver viver viver vive vi viver viver viver viver viver viver viver viver viver viver viver viver vi ver viver viver viver viver viv viver viver viver viver viver viver vi viver viver viver viver viver viver viver vi ver viver viver viver viver viver vive viver viver viver viv viver viver vive viver viver viver vi viver viver viver viver viver viver viver viver viver vi ver viver viver viver viver viver vive 73 viver viv viver viver viver viver vive


iver viver viver viver viver viver viv iver viver viver viver viver viver vi iver viver viver viver viver viver vier viver viver viver viver viver viver iver viver viver viver viv viver viver iver viver viver viver vi viver viver iver viver viver viver viver viver vier viver viver viver viver viver viver iver viver viv viver viver viver viver iver viver vi viver viver viver viver iver viver viver viver viver viver vier viver viver viver viver viver viver iv viver viver viver viver viver viver i viver viver viver viver viver viver iver viver viver viver viver viver vier viver viver viver viver viv viver iver viver viver viver viver vi viver iver viver viver viver viver viver vier viver viver viver viver viver viver iver viver viver viv viver viver viver iver viver viver vi viver viver viver iver viver viver viver viver viver vier viver viver viver viver viver viver iver viv viver viver viver viver viver

v v v v v v v v v v v v v v v v v v v v v v v


viver viver viver viver viver viver vi viver viver viver viver viver viver vi ver viver viver viver viver viver vive viver viver viver viver viv viver vive viver viver viver viver vi viver viver viver viver viver viver viver viver vi ver viver viver viver viver viver vive viver viver viv viver viver viver vive viver viver vi viver viver viver viver viver viver viver viver viver viver vi ver viver viver viver viver viver vive viv viver viver viver viver viver vive vi viver viver viver viver viver viver viver viver viver viver viver viver vi ver viver viver viver viver viv viver viver viver viver viver viver vi viver viver viver viver viver viver viver vi ver viver viver viver viver viver vive viver viver viver viv viver viver vive viver viver viver vi viver viver viver viver viver viver viver viver viver vi ver viver viver viver viver viver vive 75 viver viv viver viver viver viver vive


iver viver viver viver viver viver viv iver viver viver viver viver viver vi iver viver viver viver viver viver vier viver viver viver viver viver viver iver viver viver viver viv viver viver iver viver viver viver vi viver viver iver viver viver viver viver viver vier viver viver viver viver viver viver iver viver viv viver viver viver viver iver viver vi viver viver viver viver iver viver viver viver viver viver vier viver viver viver viver viver viver iv viver viver viver viver viver viver i viver viver viver viver viver viver iver viver viver viver viver viver vier viver viver viver viver viv viver iver viver viver viver viver vi viver iver viver viver viver viver viver vier viver viver viver viver viver viver iver viver viver viv viver viver viver iver viver viver vi viver viver viver iver viver viver viver viver viver vier viver viver viver viver viver viver iver viv viver viver viver viver viver


Se cada

pessoa

recebesse um cubo para

alterรก-lo da forma que

quisesse? 77


quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres


quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres 79


quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres

q q q q q q q q q q q q q q q q q q q q q q


quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres quereres 81


Se todas as

pessoas tivessem que alterar

juntas os cubos?


83


Se houvesse uma estrutura que fosse simples de ser

auto construĂ­da e cada um construisse a sua, como os

corpos

se apropriariam do espaço criado?


corpos corpos corpos corpos corpos c pos corpos corpos corpos corpos corp corpos corpos corpos corpos corpos c pos corpos corpos corpos corpos corp corpos corpos corpos corpos corpos c pos corpos corpos corpos corpos corp corpos corpos corpos corpos corpos c pos corpos corpos corpos corpos corp corpos corpos corpos corpos corpos c pos corpos corpos corpos corpos corp corpos corpos corpos corpos corpos c pos corpos corpos corpos corpos corp corpos corpos corpos corpos corpos c pos corpos corpos corpos corpos corp corpos corpos corpos corpos corpos c pos corpos corpos corpos corpos corp corpos corpos corpos corpos corpos c pos corpos corpos corpos corpos corp corpos corpos corpos corpos corpos c pos corpos corpos corpos corpos corp corpos corpos corpos corpos corpos c pos corpos corpos corpos corpos corp 85 corpos corpos corpos corpos corpos c


corpos corpos corpos corpos corpos pos corpos corpos corpos corpos corcorpos corpos corpos corpos corpos pos corpos corpos corpos corpos corcorpos corpos corpos corpos corpos pos corpos corpos corpos corpos corcorpos corpos corpos corpos corpos pos corpos corpos corpos corpos corcorpos corpos corpos corpos corpos pos corpos corpos corpos corpos corcorpos corpos corpos corpos corpos pos corpos corpos corpos corpos corcorpos corpos corpos corpos corpos pos corpos corpos corpos corpos corcorpos corpos corpos corpos corpos pos corpos corpos corpos corpos corcorpos corpos corpos corpos corpos pos corpos corpos corpos corpos corcorpos corpos corpos corpos corpos pos corpos corpos corpos corpos corcorpos corpos corpos corpos corpos pos corpos corpos corpos corpos cor-


pos corpos corpos corpos corpos corp - corpos corpos corpos corpos corpos c pos corpos corpos corpos corpos corp - corpos corpos corpos corpos corpos c pos corpos corpos corpos corpos corp - corpos corpos corpos corpos corpos c pos corpos corpos corpos corpos corp - corpos corpos corpos corpos corpos c pos corpos corpos corpos corpos corp - corpos corpos corpos corpos corpos c pos corpos corpos corpos corpos corp - corpos corpos corpos corpos corpos c pos corpos corpos corpos corpos corp - corpos corpos corpos corpos corpos c pos corpos corpos corpos corpos corp - corpos corpos corpos corpos corpos c pos corpos corpos corpos corpos corp - corpos corpos corpos corpos corpos c pos corpos corpos corpos corpos corp - corpos corpos corpos corpos corpos c pos corpos corpos corpos corpos corp 87 - corpos corpos corpos corpos corpos c


pos corpos corpos corpos corpos corcorpos corpos corpos corpos corpos pos corpos corpos corpos corpos corcorpos corpos corpos corpos corpos pos corpos corpos corpos corpos corcorpos corpos corpos corpos corpos pos corpos corpos corpos corpos corcorpos corpos corpos corpos corpos pos corpos corpos corpos corpos corcorpos corpos corpos corpos corpos pos corpos corpos corpos corpos corcorpos corpos corpos corpos corpos pos corpos corpos corpos corpos corcorpos corpos corpos corpos corpos pos corpos corpos corpos corpos corcorpos corpos corpos corpos corpos pos corpos corpos corpos corpos corcorpos corpos corpos corpos corpos pos corpos corpos corpos corpos corcorpos corpos corpos corpos corpos pos corpos corpos corpos corpos corcorpos corpos corpos corpos corpos


-

-

-

-

-

-

-

-

-

-

-

Se pudessem

mudar

as estruturas

como fariam essas

alteraçþes? 89


terar alterar alterar alterar alterar terar alterar alterar alterar alterar terar alterar alterar alterar alterar terar alterar alterar alterar alterar terar alterar alterar alterar alterar terar alterar alterar alterar alterar terar alterar alterar alterar alterar terar alterar alterar alterar alterar terar alterar alterar alterar alterar terar alterar alterar alterar alterar terar alterar alterar alterar alterar terar alterar alterar alterar alterar terar alterar alterar alterar alterar terar alterar alterar alterar alterar terar alterar alterar alterar alterar terar alterar alterar alterar alterar terar alterar alterar alterar alterar terar alterar alterar alterar alterar terar alterar alterar alterar alterar terar alterar alterar alterar alterar terar alterar alterar alterar alterar terar alterar alterar alterar alterar terar alterar alterar alterar alterar


r ralterar alterar alterar alterar alte ralterar alterar alterar alterar alte ralterar alterar alterar alterar alte ralterar alterar alterar alterar alte ralterar alterar alterar alterar alte ralterar alterar alterar alterar alte ralterar alterar alterar alterar alte ralterar alterar alterar alterar alte ralterar alterar alterar alterar alte ralterar alterar alterar alterar alte ralterar alterar alterar alterar alte ralterar alterar alterar alterar alte ralterar alterar alterar alterar alte ralterar alterar alterar alterar alte ralterar alterar alterar alterar alte ralterar alterar alterar alterar alte ralterar alterar alterar alterar alte ralterar alterar alterar alterar alte ralterar alterar alterar alterar alte ralterar alterar alterar alterar alte ralterar alterar alterar alterar alte 91 alterar alterar alterar alterar alte r


erar alterar alterar alterar alterar erar alterar alterar alterar alterar erar alterar alterar alterar alterar erar alterar alterar alterar alterar erar alterar alterar alterar alterar erar alterar alterar alterar alterar erar alterar alterar alterar alterar erar alterar alterar alterar alterar erar alterar alterar alterar alterar erar alterar alterar alterar alterar erar alterar alterar alterar alterar erar alterar alterar alterar alterar erar alterar alterar alterar alterar erar alterar alterar alterar alterar erar alterar alterar alterar alterar erar alterar alterar alterar alterar erar alterar alterar alterar alterar erar alterar alterar alterar alterar erar alterar alterar alterar alterar erar alterar alterar alterar alterar erar alterar alterar alterar alterar erar alterar alterar alterar alterar


alterar alterar alterar alterar alter alterar alterar alterar alterar alter alterar alterar alterar alterar alter alterar alterar alterar alterar alter alterar alterar alterar alterar alter alterar alterar alterar alterar alter alterar alterar alterar alterar alter alterar alterar alterar alterar alter alterar alterar alterar alterar alter alterar alterar alterar alterar alter alterar alterar alterar alterar alter alterar alterar alterar alterar alter alterar alterar alterar alterar alter alterar alterar alterar alterar alter alterar alterar alterar alterar alter alterar alterar alterar alterar alter alterar alterar alterar alterar alter alterar alterar alterar alterar alter alterar alterar alterar alterar alter alterar alterar alterar alterar alter alterar alterar alterar alterar alter alterar alterar alterar alterar alter 93


Se todos tivessem um espaço

intervirem, construindo estrutura efĂŞmeras qual seria


para

juntos um possĂ­vel resultado

?


OCUPAÇÃO BARRA FUNDA




TERRENO INICIAL RUA DEP. SALVADOR JUANIELLI


AV. FRANCISCO MATARAZZO CORREDOR DE ÔNIBUS CPTM/METRÔ/ RODOVIÁRIA BARRA FUNDA




W

EXPO BARRA FUNDA ESPAÇO DAS AMÉRICAS PQ. ÁGUA BRANCA MEMORIAL DA AMÉRICA LATINA


UNINOVE BIBLIOTECA LATINO-AMERICANA CEI MMDC CENTRO DE EDUCAÇÃO INFATIL



COMPLEXIDADES Com a proposta de a cada intervenção entrar em diversas complexidades das relações na cidade o projeto se mostra

5 partes. Cada parte pode dialogar com a outra criando uma complexidade maior e potencializando a intervenção. em


*croqui inicial de possiveis complexidades projetuais


1

a


A primeira complexidade nasce no desafio de qualificar uma via de 5m de largura por mais de 100m de comprimento pensando em como as pessoas poderiam ter diferentes apropriaçþes do espaço utilizando dessa estrutura efêmera.


A

Planta de Cobertura

Corte AA


A

Planta de localização


A

Planta de Cobertura

Corte AA


A

Planta de localização


A

Planta de Cobertura

Corte AA


A

Planta de localização


A

Planta de Cobertura

Corte AA


A

Planta de localização


A

Planta de Cobertura

Corte AA


A

Planta de localização


Planta de Cobertura


Planta de localização


A

Planta de Cobertura

Corte AA


A

Planta de localização


A

Planta de Cobertura

Corte AA


A

Planta de localização


A

Planta de Cobertura

Corte AA


A

Planta de localização


A

Planta de Cobertura

Corte AA


A

Planta de localização


A

Planta de Cobertura

Corte AA


A

Planta de localização


2

a

A segunda complexidade se vê em além de criar uma estrutura auxiliar, colocar a mesma a se adaptar a um uso mais específico. Portanto uma micro biblioteca pública itinerante e um espaço para usufruir tanto do lazer de ler um livro como apenas esperar uma pessoa ou utilizar wifi público nasce nesse fragmento de cidade.



A

Planta de localização

A


CORTE AA ESC 1:50


1

2

Planta de localização


VISTA 1 ESC 1:50


1

2

Planta de localização


VISTA 2 ESC 1:50


3

a


Entendendo o uso como maior ato de preservação e vivência do patrimônio, referenciado por espaços que estão trazendo experiências substanciais para o cotidiano da cidade essa terceira complexidade se coloca quebrando a barreira do uso e ocupando dois galpões que são utilizados como estacionamento para se tornar um lugar aonde diversos coletivos possam se apropriar e fazer estruturas para cursos de capacitação, rodas de debates, palestras ou apenas um lugar de estudos ou práticas artísticas.


CORTE AA ESC 1:100

A

A

Planta de localização



CORTE BB ESC 1:100

B

Planta de localização

B



CORTE CC ESC 1:100

C C

Planta de localização



CORTE CC ESC 1:100

C C

Planta de localização



CORTE CC ESC 1:100

C C

Planta de localização



CORTE DD ESC 1:100

D

Planta de localização

D



CORTE DD ESC 1:100

D

Planta de localização

D



CORTE DD ESC 1:100

D

Planta de localização

D



4

a


A quarta complexidade se dá no entendimento de um possível acordo entre o público e privado para que ambos construam uma cidade democrática e acolhedora para a diversidade. Assim a ideia é que uma parte do lote do Espaço das Américas seja acoplado ao público e qualificado para ser um espaço com comércio e um grande mobiliário urbano que servem também como apoio de um novo foyer para o Espaço das Américas. Entendendo as estruturas como efêmeras a ideia é que esse espaço sempre esteja em mudança.


VISTA 1 ESC 1:100

1

2

Planta de localização

3



VISTA 2 ESC 1:100

1

2

Planta de localização

3



VISTA 3 ESC 1:100

1

Planta de localização

2

3



Pensando em uma cidade aonde todos possam vir a intervir e adaptar os seus espaços, criando uma cidade mais democrática a quinta complexidade se coloca. Os espaços educam nós com a vivência de nossos corpos neles e se eles forem abertos


5

a

a serem modificados, apropriados e construídos isso pode ensinar o próprio poder em nós mesmo, ensinar nós a ter outra relação com nosso corpo, com os nossos quereres, com o coletivo e com a cidade.O espaço além de educar se põe como aprendiz de tudo aquilo que o corpo dos usuário diz e pede a cada vivência.


inconclusão PERCEPÇÕES DE UM CORPO NA CIDADE. De todas as manhãs em que ele acordou aquela parecia diferente. Não sabia se era o cheiro que há tempos não sentia das damas da noite da Dona Bebete ou se foi apenas a dor de cabeça que migrava pro lado que nunca havia migrado. Apenas sentia que era um dia diferente. A persiana emperrou como todos os dias, jurou concertar no próximo domingo de folga. Ficou aqueles dez minutos diarios procurando o uniforme do trabalho. Achou só o furado, mas também era o único limpo. Atrasado já esta168

va pensando no bolo e no café que ia tomar na Juju. Mal dobrara a esquina o ônibus foi passando, cheio como de costume, nao lamentou porque nem ia conseguir entrar naquele Praça Ramos. Nos minutos que ficou esperando já estava com o pensamento no outro onibus que ia perder por ter perdido esse das 5:45. Entrando no onibus depois de passar por inúmeros aromas, ficou estancado no meio das pessoas. Até que agradeceu nao conseguir se mexer porque quando o pneu do onibus afundas-


se no buraco da Barão ele nao seria arremessado pra tras.”por que no carro temos que usar cinto de segurança e no onibus nao?”. Conseguiu ir pro fundo logo sentou no degrau da porta. Estava mais confortável ali, mas aquele lugar incomodava ele, porque ficava olho no olho com aqueles playboys no ar condicionado da SUV. Aumentou o som do fone de ouvido até o último volume, estava cansado de ouvir seus pensamentos. A moça de vestido rosa bateu bolsa na cabeça dele sem querer. O dia que ele achou que tinha começado diferente parecia mais do

mesmo. Chegando o ponto que todos um monte de gente descia já ele saiu da escada pra não ser levado pela avalanche. Aquele mar de pessoas correndo pra atravessar a avenida ficou em sua cabeça o resto do tempo. Foi sentar nos bancos, mas só tinha do lado do gordinho. Pensou que não queria incomodar o moço apertando ele contra a janela, fazendo ele se sentir mal, mas já que estava cansado, sentou. Lá se foi na sua viagem mental diaria. A pauta daquele dia foi tentar entender porque todos estão correndo tanto. Nem se quer conseguiu tomar

169


seu café em casa, tudo bem que tomar café na calçada com aquele bolo da Juju sempre fazia sua manhã mais viva. Difícil era o dia de chuva que ela nem ia. Olhou para fora da janela tentando ver se tinha nuvens cinzas no céu. “São Paulo muda tanto de clima. A moçinha do tempo diz que vai ser só sol hoje”. Pelo menos o gordinho estava perfumado. Voltando para a sua reflexão diaria e matinal. A imagem nao saia de sua cabeça, todo mundo sempre corre naquele farol, se esperarem perderiam apenas 2minutos ali em pé e correndo uma moto pode passar e 170

tirar sua vida. Desce do ônibus e se depara com aquele muro que servia de apoio pra Juju encostar as costas naquelas terças sem muito movimento. Atravessa a rua desolado e com a barriga roncando, no que dobra a esquina da ruasinha/ viela dá de cara com a juju em uma escada enfiando um tecido dentro de um tubo que formava meio que um disco voador com uns pés. Se aproximou e viu que ela tinha levado o bolo predileto dele, o famoso bolo de coco com leite condensado. Perguntou se estava “aberto” hoje e com um belo sorriso Juju disse


que tava sim e que podia vir chuva que for que ia estar aberto também. Ele pegou seu café e seu bolo e começou a perguntar o que estava acontecendo pra sorridente boleira. Ela explicou que um coletivo de arte e mais um pessoal lá do bairro tinham visto com outro lugar esses disco voadores pra colocar na rua para as próprias pessoas irem construibdo o que ajudasse o cotidiano delas. Toda feliz explicou como montou a estrutura que agora é sua cobertura e sua lojinha de bolos nas manhãs de segunda à sábado. O dia que parecia igual ao de

sempre não foi, realmente foi diferente aquele sorriso da Juju fez seu dia. Seguindo a viela viu a quantidade de gente junta naquele sábado de manhã cada um montando algo, viu que aquele estacionamento tava cheio de gente em vez de carro, viu uma criança descendo dentro de um carrinho empurrado pela mãe cheio de livro pra colocar em negócio que parecia meio que uma biblioteca. Esse movimento incomum, essa vida e essas pessoas fizeram o dia dele diferente, não via a hora de voltar lá e ver como ficou tudo.

171


Referências 1.A Mente é Maravilhosa. “Alike”, um curta para refletir sobre como a criatividade das crianças desaparece. Disponível em: <https://amenteemaravilhosa.com. br/alike-curta-criatividade-criancas/>. Acesso em: 03/03/2017; 2.Babies. Disponível em: <https://www.youtube.com/ watch?v=AXtgjdJ_8DE>. Acesso: 15/04/2017; 3.BARRETA, Tathyana Gouvêa da Silva. O Movimento brasileiro de renovação educacional no início do século XXI. Disponível em <http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/48/48134/tde-16082016-113432/pt-br. php> . Acesso em: 12/01/2017; 4.BASÍLIO, Ana Luiza. “Eu não quero tirar os meninos da rua, eu quero mudar a rua”. Disponível em: <http:// educacaointegral.org.br/reportagens/eu-nao-quero-tirar-os-meninos-da-rua-eu-quero-mudar-rua/>. Acesso em: 21/05/2017; 5.BEYER, Sabine. Uma introdução à arquitetura nas pedagogias alternativas. Disponível em: <http://www.

172


archdaily.com.br/br/774406/uma-introducao-a-arquitetura-nas-pedagogias-alternativas>. Acesso em: 11/05/2017; 6.Crianças invisíveis. Disponível em: <https:// www.youtube.com/watch?v=IxmBRrbEhFA>. Acesso em: 02/02/2017; 7.C+A. Disponível em: <http://c-and-a.co.jp/projects/ >. Acesso em: 05/02/2017; 8.EKERMAN, Sergio Kopinski. Um quebra-cabeça chamado Lelé. Disponível em: <http://www.vitruvius.com. br/revistas/read/arquitextos/06.064/423>. Acesso em: 21/04/2017; 9.FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade. Rio de Janeir:. Paz e Terra LTDA., 1967; 10.FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia. São Paulo: Paz e Terra LTDA., 1996; 11.FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra LTDA., 1987; 12.FOSTER, James Taylor-. Tejlgaard & Jepsen transformam uma geodésica temporária em uma estrutura permanente. Disponível em: < http://www.archdaily.com. br/br/01-180577/tejlgaard-and-jepsen-transformam-uma-geodesica-temporaria-em-uma-estrutura-permanente>. Acesso em: 30/04/2017; 13.HERTZBERGER, Herman. Lições de arquitetura. São Paulo: Martins, 1999;

173


14.HYPENESS, Redação. Por dentro da escola de SP que está há 50 anos formando criativos. Disponível em: <http://www.hypeness.com.br/2017/02/por-dentro-da-escola-de-sp-que-esta-ha-50-anos-formando-criativos/ >. Acesso em: 09/05/2017; 15.ILLICH, Ivan. Sociedade sem escolas. Petrópolis: Vozes, 1985; 16.JACINTO, Daniela. Educare: Como arquitetura da escola influencia na aprendizagem. Disponível em: <http://www.jornalcruzeiro.com.br/materia/781239/ educare-como-a-arquitetura-da-escola-influencia-na-aprendizagem>. Acesso em: 09/04/2017; 17.JACQUES, Paola Berenstein. A estética da ginga. São Paulo: Casa da Palavra, 2001; 18.Morar de outras maneiras (MOM). Disponível em: <http://www.mom.arq.ufmg.br/mom/index.html>. Acesso em: 13/05/2017; 19.NASCIMENTO, Denise Morado. Saberes [auto] construídos. Disponível em: <https://issuu.com/praxisufmg/docs/saberes_auto_construidos>. Acesso em: 13/05/2017; 20.PALLASMAA, Juhani. Os olhos da pele: a arquitetura e os sentidos. Porto Alegre: Bookman, 2011. 21.POSTMAN, Neil. Tecnopólio: a rendição da cultura à tecnologia. São Paulo: Nobel, 1992; 22.Prada + Rem Koolhas. Disponível em: <http://metroquadrado.sc/blog/prada-rem-koolhaas/>. Acesso em: 11/03/2017; 174


23.Quando eu sinto que já sei. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=HX6P6P3x1Qg>. Acesso em: 03/02/2017; 24.RODRÍGUEZ, Ana. O que as escolas mais inovadoras do século XXI tem?? 8 exemplos que você precisa conhecer. Disponível em: <http://www.archdaily.com.br/ br/797105/o-que-as-escolas-mais-inovadoras-do-seculo-xxi-tem-8-exemplos-que-voce-precisa-conhecer>. Acesso em: 08/04/2017; 25.SINGER, Helena. República de Crianças. Sobre experiências escolares de resistência. São Paulo: Mercado de Letras, 2014; 26.Tarja Branca. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=x0oOXusMGzo>. Acesso em: 17/02/2017; 27.TEZUKA, Takaharu. O melhor jardim da infância que você já viu. Disponível em: <https://www.youtube.com/ watch?v=J5jwEyDaR-0>. Acesso em: 02/02/2017; 28.VALENCIA, Nicolás. Arquitetos que projetam prisões são os mesmos que projetam escolas (ou como pensar a escola do século XXI). Disponível em: <http://www. archdaily.com.br/br/785131/aqueles-que-desenharam-as-prisoes-tambem-desenharam-os-colegios-ou-como-pensar-a-escola-do-seculo-xxi>. Acesso em: 27/03/2017; 29.WEIR, Peter. Sociedade dos Poetas Mortos. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=EXw77BkVqyA>. Acesso em: 01/04/2017;

175


176


177



Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.