CENTRO UNIVERSITÁRIO SENAC BACHARELADO EM ARQUITETURA E URBANISMO MARIANA ISLAS FERRAZ
ESPAÇOS DA MEMÓRIA: A ARQUITERURA DO SENTIR
SÃO PAULO 2017
CENTRO UNIVERSITÁRIO SENAC
ESPAÇOS DA MEMÓRIA: A ARQUITETURA DO SENTIR
Projeto de Trabalho de Conclusão de Curso apresentado por Mariana Islas Ferraz, ao Centro Universitário Senac, como um dos requisitos para a obtenção do título de Bacharel em Arquitetura e Urbanismo.
Orientador: Prof. Mestre Ralf José Castanheira Flôres
SÃO PAULO 2017
AGREDECIMENTOS
Dedico este trabalho primeiramente a Deus por sempre me dar forças e me mostrar o caminho, aos meus pais, Regina Islas e
Aloisio Ferraz que sempre me incentivaram e me mostraram como dar sempre o melhor de mim e acreditar no quanto eu sou capaz. Aos meus avós, Cecília Islas, Noêmia Ferraz e João Ferraz(In Memoriam), que com suas histórias sobre o passado e suas sabedorias me deram a inspiração para a realização desse trabalho. As minhas tias do coração Ivone Islas, Neide Islas, que doaram seu tempo para realizar as experiências sobre memória que eu tanto precisava e minha queridas Cleusa Ferraz e Célia Ferraz, que me colocaram em suas orações e que me presentearam com as melhoras conversas, sempre acreditando que eu conseguiria. Agradeço também aos meus primos, Caio Ferraz e Rodrigo Islas, que me acompanharam imensamente nessa fase tão difícil e que me ajudaram como puderam. Ao meu namorado, Murilo Lemes, que chegou a pouco tempo na minha vida mas que já conseguiu me ajudar tanto na realização no meu trabalho, me dando
apoio e levantando meu astral todo o tempo. As minhas grandes amigas de curso Thais Ferreira, Gabriela Gatti e Stefani Mesquita, que sempre estiveram comigo e toda vez que eu pensei em desistir me deram o empurrãozinho que eu precisava, sem esquecer das minhas queridas veteranas Amanda Miyazaki e Thamara Nadais que com suas experiências puderam dividir os medos e inseguranças comigo, mostrando que daria tudo certo que só dependeria de mim. Ao meu eterno melhor amigo Carlos Felipe Marcopito, que sempre esteve comigo, desde momentos bons a ruins e que sempre estará no meu coração. A todos os professores que tive a oportunidade de conhecer e aprender, agradecendo especialmente ao meu orientador, Ralf Flôres, que mais do que orientador, me mostrou ser um grande amigo. Sem vocês eu jamais teria conseguido chegar até aqui. Agradeço a todos, por me tornarem quem sou e terem me ajudado a realizar essa grande conquistada minha vida, como pude aprender nesse trabalho, a gratidão é a memória do coração.
Quando retornamos a um lugar após uma longa ausência, não nos recordamos apenas do lugar em si, mas das coisas que fizemos ali, das pessoas que encontramos e até dos pensamentos não expressos que
passaram por nossas mentes quando ali estivemos anteriormente. Assim, como em muitos casos, a arte nasce da experiência.
Frances Amélia Yates
ISLAS FERRAZ, Mariana. ESPAÇOS DA MEMÓRIA. nº de folhas (102 f.). Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Arquitetura e Urbanismo) – Centro Universitário Senac, São Paulo, 2017.
RESUMO
Espaços da memória são lugares onde o indivíduo é parte da obra. O indivíduo traz consigo a maleta da vida chamada memória.
Cada tem uma diferente vivencia/experiência, que continua sendo somada com o tempo, resultando em indivíduos diferentes. Nesta obra o indivíduo será estimulado a restaurar suas memórias e assim gerará uma sensação diferente a cada um. No espaço poderemos observar o uso de formas e superfícies moldadas para sensações, uma relação entre práticas do espaço e construção. Quando um indivíduo que carrega diversas experiências entra no lugar, ele tem uma reação de acordo com seu conteúdo memorial, então, mesmo se houver um grande grupo, e mesmo que essas pessoas fossem da mesma família, cada uma geraria um resultado sensorial diferente sobre a obra. Um lugar onde a pessoa não somente aprecie com os olhos, mas com todos os sentidos. A pessoa como parte da obra, para que com ela a obra possa existir.
PALAVRAS-CHAVE:
Arquitetura; Memória; Experiência; Imaginação; Sensação; Sonhos; Lugares.
ISLAS FERRAZ, Mariana. MEMORY SPACES. Number of leaves (102 f.). Term Paper (Graduation in Architecture and Urbanism) - Centro UniversitĂĄrio Senac, SĂŁo Paulo, 2017.
ABSTRACT
Spaces of memory are places where the individual is part of the work. The individual carries with him the briefcase of life called memory. Each one has a different life experience, which continues to be added over time, resulting in different individuals. In this work the
individual will be encouraged to restore his memories and thus generate a different feeling to each one. In that space we can observe the use of surfaces and shapes molded to feel sensations, a relationship between space practices and construction. When an individual who carries various experiences comes into this place, he or she has a reaction according to its memorial content, then, even if there was a large group, and even if these people were from the same family, each one would have a different sensory result on the work. A place where the person not only admire with the eyes, but with all senses. The person as part of the work, so that the work can exist with it.
KEY WORDS: Architecture; Memory; Experience; Imagination; Sensation; Dreams; Places
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO...................................12
5. PROJETO ....................................68
2. MEMÓRIA........................................16
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS............90
2.1. Os Vários Tipos de Memória........17 2.2. A Metamorfose da Memória....... 20 2.3. Memória Como Meio Sensorial...24
3. EXPERIÊNCIA CORPORAL..................28 3.1. Além da visão...............................29 3.2. Luz para sensações.......................31 3.3. Indivíduo e o Cotidiano................34 3.4. Vivencia no espaço.......................36
4. ESTUDO DE CASOS.......................... 42 4.1. Memória.......................................43 4.2. Sensação.......................................51 4.3. Lugar..............................................59
7. REFERÊNCIAS..............................94
8. LISTA DE IMAGENS.....................98
1. Introdução
Introdução │Espaços da Memória: A arquitetura do Sentir │13 ___________________________________________________________________________________________________________________________
O presente trabalho de conclusão de curso visa explorar a memória, enfrentando sempre a distinção entre memória e imaginação. O espaço será criado com o intuito de estimular as diversas percepções do indivíduo, de acordo com sua carga memorial.
Realizei uma pesquisa sobre a palavra memória, e descobri que é uma palavra muito antiga, de origem grega, que varia entre os significamos: Faculdade de reter ideias, sensações, impressões, adquiridas anteriormente; aquilo que ocorre ao espírito como resultado de experiências já vividas; lembrança, reminiscência; função geral que consiste em reviver ou restabelecer experiências passadas.
O tempo é de grande importância para a consciência dos estudos da memória, tendo em vista o seu percurso intelectual, além de suas caraterísticas básicas. Minha principal intenção nesse trabalho é compreender como a memória é fundamental para a história do presente, ou seja, como somos formados por aquilo que vivemos, aquilo que formamos e trazemos conosco e, sem um entendimento e estudo do passado, não conseguiremos saber quem e como nos formamos para nos tornarmos quem somos hoje. Sem passado, não há presente. Praticar o espaço é, portanto, repetir a experiência jubilatória e silenciosa da infância. É, no lugar, ser outro e passar ao outro. (…) A infância que determina as práticas do espaço desenvolve a seguir os seus efeitos, prolifera, inunda os espaços
privados e públicos, desfaz as suas superfícies legíveis e cria na cidade planejada uma cidade “metafórica” ou em deslocamento. (CERTEAU, Michel de, 2000)
Tenho com isso, percebemos como muitas pessoas desvalorizam o passando, fazendo com que não entendam como chegam aonde estão. Para isso foi-se estudado uma criação de espaços, onde o indivíduo fosse estimulado a re(lembrar) coisas do seu passado, através de estímulos sensoriais.
Introdução │Espaços da Memória: A arquitetura do Sentir │14
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Pensar na arquitetura como meio intelectual, ou seja, uma arquitetura que não somente seja apreciada com os olhos, mas que o indivíduo faça parte da obra, afinal: A arquitetura é a única, entre todas as artes maiores, cujo o uso faz parte de sua essência e mantem uma relação complexa com suas finalidades estéticas e simbólicas. A arquitetura é a única arte cujas obras exigem ser percorridas fisicamente, Só ela exige deslocamentos, percursos, desvios que implicam o
envolvimento de todo o corpo e que não podem ser substituídos pela percepção visual isolada. (CHOOY, Françoise, 2001. p. 258)
Os espaços estimulam todos os sentidos do indivíduo, resultando assim em diferentes experiências para cada um e o indivíduo só precisará estar aberto para poder identificá-los. Através dos estímulos sensoriais, arquitetos e urbanismo poderão criar obras cada vez mais humanas. A sensação dos espaços ocorre através dos diversos estímulos, e é através deles que conseguimos uma relação com a memória. Nossos corpos e movimentos estão em constante interação com o ambiente; o mundo e a individualidade humana se redefinem um ao outro constantemente. A percepção do corpo e a imagem do mundo se tornam uma experiência existencial contínua; não há corpo separado de seu domicílio no espaço, não há espaço desvinculado da imagem inconsciente de nossa identidade pessoal perceptiva
(Juhani Pallasmaa, 2011. p. 38)
Poderemos observar nessa obra como os sentidos estão totalmente ligados a carga memorial e como é possível implantar isso dentro de um
projeto arquitetônico.
2. Memรณria
Memória │Espaços da Memória: A arquitetura do Sentir │17 _____________________________________________________________________________________________________________________________
OS VÁRIOS TIPOS DE MEMÓRIA
Memória é (re)lembra o passado, referir à lembrança e recordação que se tem de algo que já tenha ocorrido, e à exposição de fatos, dados ou
motivos que dizem respeito a um determinado assunto. Dentre seus significamos estão: Faculdade de reter ideias, sensações, impressões, adquiridas anteriormente; aquilo que ocorre ao espírito como resultado de experiências já vividas; lembrança, reminiscência; função geral que consiste em reviver ou restabelecer experiências passadas.
Como apresenta Frances Amélia Yates, em A Arte da Memória, acredita-se que Simônides de Ceos (cc 556-468 a. C), parece ter reunido técnicas antigas que vinham sendo ensinadas de maneira oral. No geral, Simônides apresenta um conjunto de pequenas técnicas para a memorização. Alguns autores como Cícero, Quintiliano, Plínio, entre outros, falam sobre a invenção da “memória para as coisas, memória para palavras (nomes). Simônides propõe resumidamente os seguintes passos para a memorização: A recordação mnemônica requer 1. a lembrança e a criação de imagens na memória; 2. a organização das imagens em locais, ou lugares da memória. Como poeta e pintor, Simônides trabalha articuladamente os métodos da poesia e da pintura: pintura é poesia silenciosa; poesia é pintura que fala. Tanto para a poesia como para a pintura, e também para a arte da memória, é dada importância excepcional à visualização intensa. É preciso ver locais, ver imagens. (SMOLKA, 2000, p. 170)
Segundo Jacques Le Goff, a memória é a propriedade de conservar certas informações, propriedade que se refere a um conjunto de funções psíquicas que permite ao indivíduo atualizar impressões ou informações passadas, ou reinterpretadas como passadas.
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[...] bloco de cera em nossas almas – de diferentes qualidades, de acordo com os indivíduos – e isso é ‘o dom da Memória, a mãe das Musas’. Quando vemos, ouvimos ou pensamos em algo, submetemos essa cera às percepções e aos pensamentos, e os imprimimos nela, assim como imprimimos com sinetes. (YATES, 2007, p. 57.)
Segundo a perspectiva de Platão, a memória seria a representação presente de uma coisa ausente. A memória é sempre seletiva, pois as pessoas só guardam aquilo que querem lembrar. A história é mais objetiva e registada. Nesse sentido, não seria possível trabalharmos a memória como documento histórico. Podemos observar alguns tipos diferentes de memória, como: Memória individual, que é aquela com aspectos que remontam um passado vivido e resgatado, seria uma forma de memória pessoal, onde o indivíduo reconstrói lugares vividos por ele em seu passado. Segundo Halbwachs, “ o tempo da memória só se concretiza quando encontra a resistência de um espaço. ” Independentemente do tipo de memória, não se pode confiar muito, pois é passível de mudanças pelo seu autor. A Memória Coletiva, além de envolver a memória individual, não se confunde com ela, pois pode ser compartilhada, ou seja, a vivencia de um grupo no
mesmo espaço durante um tempo que muda o indivíduo. Memória da cidade é a memória que tem uma base material, tem um lugar. Trata dos aspectos individuais e sociais que o indivíduo possui na cidade. A memória urbana trata das lembranças do modo de vida da cidade. A memória coletiva é a que forma e solidifica as memórias. Trabalho de configuração da memória. Limite entre o “esquecimento” e o “não dito”.
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Recordar é perceber o tempo. Na lembrança, como o que nos vem à mente constitui uma evocação do passado e não perfeitamente consciente do tempo, esforço de recordar a passagem temporal é o fundamento da própria ação e, por isso: O recordar difere da memória [lembrança], não somente no aspecto do tempo, mas,
também porque, enquanto muitos outros animais participam da memória [lembrança], se pode dizer que nenhum dos animais conhecidos, exceto o homem, pode recordar. Por esta razão, o recordar é como uma espécie de silogismo ou inferência, pois, quando um homem recorda, infere ou deduz acreditamos que ele já
viu, ouviu ou já experimentou algo daquele tipo e o processo de recordar é uma espécie de pesquisa. Este poder ou capacidade só pode corresponder naturalmente a animais que possuem a faculdade de deliberação, já que também a deliberação é uma espécie de inferência. (ARISTÓTELES, 1962, p. 52).
O verdadeiro sentido de lembrança e recordação segundo Aristóteles, é que uma vez que as duas constituem o que seja a memória, a recordação é aquela que produz efetivamente a memória. Vejamos a descrição de Puente sobre o lembrar: O lembrar é, em suma, algo quase totalmente passivo, pois ele nada mais é do que o estado imagético que permanece em nossa alma após o estímulo externo que o produziu já ter se extinguido. Se lembrar não é apenas algo passivo, isto se deve ao fato de que para que uma imagem seja reconhecida como cópia, ou seja, como lembrança, é necessário que tenhamos consciência de que houve um tempo decorrido entre o estado perceptivo e a imagem que agora contemplamos em nossa alma. Essa
consciência temporal ocorre no ato de lembrar [...]. (Puente, 2001, pp. 288)
Conforme Aristóteles, nós podemos encontrar no recordar uma clareza maior do tempo e também a certeza de que é um atributo único do humano.
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A METAMORFOSE DA MEMÓRIA
Apensar de a memória sempre remeter o passado, ela tem o seu valor mudado no decorrer do tempo. O tempo e o espaço são inseparáveis e
memória é a transformação do tempo no espaço. Poucas são os lugares que constituem resquícios do passado. Muitos edifícios que estão tombados no brasil são apenas uma representação de um passado. A arquitetura foi modificada e perdeu-se o que na época o que representava.
Ao visualizar uma simples xicara, por exemplo, podemos remeter nossa memória, trazendo a mente a casa da nossa vó, ou até mesmo um cheiro de algum tempero nos remete a lembranças de algo que comíamos na infância. Objetos e lugares passam a ter uma grande importância nas nossas vidas depois de associações feitas com essas percepções, como por exemplo os estímulos afetivos, que afetam diretamente as nossas emoções. Para percebemos as coisas, precisamos estar no mesmo espaço e tempo que o observador e, sua posição também afeta a sua percepção. O tempo, “esse rude destruidor de tudo o que se relaciona com os monumentos humanos, são as vezes superados pela violência praticada pelos homens”. (De re aedificatoria, p. 869, 871) Aristóteles entende que o tempo, em sua vinculação com a memória, está relacionado ao fato de que, como escreve Fernando Rey Puente (2001,
p. 279), “a percepção produz a memória”, ou seja, para o autor da Ética a Nicômaco, existem três maneiras da percepção ficar retida, quando é prolongada no tempo o estado perceptivo, mesmo quando o estímulo externo é afastado; quando há uma recriação interna do estado perceptivo por meio de imagens armazenadas (imaginação) e sem a presença de um estímulo externo e, por fim, “quando se trata efetivamente do estado mnemônico, ou seja, da lembrança [...] evocada pela memória” (PUENTE, 2001, p. 280).
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Existem algumas formas de retomar o passado, como podemos observar nas regras tomistas da memória: Há quatro coisas que ajudam um homem a lembrar-se com facilidade. A primeira é que ele deve dispor aquelas coisas das quais quer se lembrar em uma ordem determinada. A segunda é que ele deve apegar-se a elas com sentimento. A
terceira
é
que
ele
deve
convertê-las
em
similitudes
incomuns.
A quarta é que ele deve repeti-las com frequência, meditando-as. (Giovanni di San Gimignano, cap. XLII)
Seguindo essa ideia de trabalhar a memória para lembrar-se do passado, tive uma conversa com minha avó sobre o lugar onde ela criou meus tios, (há mais de 40 anos) então tive a ideia de questionar as minhas tias sobre como era esse lugar, e durante uma longa conversa, parecia que cada uma falava de um lugar totalmente diferente do que a outra contava, pedi então para que cada uma fizesse um croqui de como era aquele lugar: Este é um croqui realizado por Ivone Islas, que como podemos observar, se lembra bastante de um poço que ficava na entrada da casa. ela conta que ele a marcou bastante, porque um dia seu irmão mais novo Valter, estava sentado nele, tinha uns 5 anos e estava com o bebê da vizinha sentado em seu colo. Ivone que cuidava de seu irmão, estava toda
interessada no fofo bebê, mas seu irmão Valter começou a sentir ciúmes de Ivone, foi então que ele mordeu o dedo daquele pobre bebê, fazendo com que a vizinha nunca mais o trouxesse lá. Figura 1
Memória │Espaços da Memória: A arquitetura do Sentir │22 _____________________________________________________________________________________________________________________________ A segunda irmã que se propôs a participar do desafio foi Conceição Islas, que fez o seguinte desenho:
Diferentemente do de Ivone, Conceição se lembrou dos moveis da casa, e a forma como eles ficavam. Ela relata que algo que a marcou muito foi a forma como constantemente sua mãe alterava os moveis, fazendo com que cada hora o espaço fosse usado de forma diferente, uma hora o espaço
de entrada era a sala, outra tudo era mudado e se transformava em um quarto. Conceição relatava que por muitas e muitas vezes ficava imaginando como seria o próximo cômodo novo que ela iria ter ali. Figura 2
A terceira irmã, Neide Islas, logo se interessou pelo desafio, então realizou o seguinte desenho:
Neide, que sempre gostou de animais, desenhou a área da varanda, onde ela relata que colocava comida a vários animais de rua que apareciam, alguns deles eram mesmo da casa, mas outros apareciam
periodicamente. Ela conseguiu lembrar do nome da maioria deles e o espaço da casa que mais a marcou, foi o que ela esperava ansiosamente para que os animais viessem vê-la, a varanda. Figura 3
Memória │Espaços da Memória: A arquitetura do Sentir │23 _____________________________________________________________________________________________________________________________
Por último temos a irmã mais nova, Regina Islas, aquela que viveu menos tempo na casa, mas da mesma forma algo a marcou muito, vamos observar no desenho: Regina relata que dormia sempre em uma cama volante, assim chamada na época. (Cama volante são aquelas camas que se dobram para serem guardadas depois.) Regina foi a oitava e última filha de sua mãe, quando ela chegou não haviam mais camas suficiente para todas dormirem, então sua mãe “armava” a cama na sala a noite. Regina conta que o maior
sonho dela era ter uma cama que pudesse ser fixa, onde durante o dia ela pudesse levar seus brinquedos e ficar por ali, como todas as outras crianças tinham, uma cama que não precisasse ser “desarmada”. Figura 4
Como visto, a memória é relativa, todas as quatro viveram no mesmo espaço, porém com a história delas, não conseguimos chegar em como realmente era o lugar. É fácil se lembrar das coisas quando se envolve sentimentos, mas como a casa foi demolida, não podemos saber como ela
realmente era, se o único artificio documental for a memória, porque a memória é alterada no decorrer do tempo, seja por mudança de opinião através de novos fatos ocorridos, ou por esquecimento de alguns fatos, ou até mesmo por alguém que viveu a mesma coisa com você e chega com uma ideia diferente da que você tem, e acaba corrompendo a sua, já que a memória é relativa, e não confiável. A memória está em constante mudança, um bom exemplo disso é a clássica brincadeira infantil chama “telefone sem fio” , um alguém conta algo que deve ser passado por todas as pessoas da fila, até que o ultimo diga o que ouviu, porém, toda vez que o ultimo fala o que ouviu, é totalmente diferente do que realmente foi passado, isso se deve a que as pessoas que ouviram a história, colocaram um pouco de sua percepção e opinião em cima dela, fazendo com que ela seja corrompida do decorrer da brincadeira, e no caso da vida real, a história é corrompida com o tempo. A memória está em
constante mudança, ou por opinião, ou por esquecimento de alguns fatos, isso é a metamorfose da memória.
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MEMÓRIA COMO MEIO SENSORIAL
A memória está associada à imaginação e às afecções e por isso, todo objeto da imaginação também é um objeto de memória, quando pensamos sobre as afecções que atingem a alma como resultado das sensações que ficam gravadas, inscritas na própria memória: A afecção, cujo último estado chamamos memória; o estímulo, com efeito, produz a impressão de uma espécie de semelhança ao percebido, igual quando os homens selam algo com seus anéis. (ARISTÓTELES, 1962, p. 46)
As diferenças de qualidade na memória de cada indivíduo são compreendidas através da formas como somos afetados. Assim, Aristóteles apresenta uma definição de memória que passa pela impressão compreendida como imagem que foi produzida em nós por uma afecção que está ligada à faculdade sensitiva primária, e que só percebemos com o tempo, dado que Aristóteles apresentará uma perspectiva em que o “tema da representação de uma coisa anteriormente percebida, adquirida ou aprendida, preconiza a inclusão da problemática da imagem na da lembrança” (RICOEUR, 2010, p. 27). Para Aristóteles, pensamos somente através de imagem. Lembrança constitui algo comum até mesmo nos animais, como vemos na afirmação presente nas primeiras páginas de outra obra de Aristóteles, a Metafísica: “Os animais nascem naturalmente dotados do poder da sensação, e a partir destas alguns desenvolvem a faculdade da memória, enquanto outros não” (ARISTÓTELES, 2006, p. 42). Para plantão, é “a partir da memória que os seres humanos adquirem experiência, porque as numerosas lembranças de uma mesma coisa acabam por produzir o efeito de uma única experiência” (ARISTÓTELES,
2006, p. 43). Memória e experiência estão ligadas graças ao fato que mais chama a atenção de Ricoeur entre as definições de Aristóteles sobre a memória, diz: “A memória tem por objeto o passado” (ARISTÓTÉLES, 1962, p. 44).
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O que é então a memória? Ela está na parte sensorial da alma que recebe as imagens das impressões dos sentidos; ela percebe, portanto, a mesma parte da alma que a imaginação. Fica claro, pelo que se disse antes, a qual parte da alma a memória pertence, isto é, a mesma a que pertence a fantasia. E as coisas que possuem uma imagem derivada dos sentidos são per si apreensíveis, isto é, as coisas sensoriais. Mas as coisas inteligíveis só podem ser apreendidas per accidens, pois não podem ser retiradas sem um phantasma. Por isso nos lembramos com menos facilidade das coisas que tem um significado sutil e espiritual; e nos lembramos mais facilmente daquelas que são mais
grosseiras, sensoriais. (Tomas de aquino, De memoria et reminiscentia, p. 93)
Para Arquitetura, é preciso compreender que cada pessoa recebe e reage a diferentes estímulos de forma completamente particular, dependendo da cultura de seu lugar de origem, sua educação e formação familiar, seus aspectos psicológicos, entre outros. O que se produz deve suprir as necessidades da sociedade sem ignorar essa individualidade, pois são aspectos igualmente importantes de serem analisados. Através dos estímulos sensoriais, arquitetos e urbanistas poderão criar obras cada vez mais “humanas”. E como gerar essas sensações dentro do espaço? As sensações ocorrem através de diversos estímulos, e é através deles que conseguimos uma relação com a memória. Nossos corpos e movimentos estão em constante interação com o ambiente; o mundo e a individualidade humana se redefinem um ao outro constantemente. A percepção do corpo e a imagem do mundo se tornam uma experiência existencial
contínua; não há corpo separado de seu domicílio no espaço, não há espaço desvinculado da imagem inconsciente de nossa identidade pessoal perceptiva (Juhani Pallasmaa, 2011. p. 38)
3. ExperiĂŞncia Corporal
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ALÉM DA VISÃO
A arquitetura é para muitos, uma forma de produzir arte. Se para alguns o espaço de convívio nada importa, para outros importa e muito. Ela é
normalmente entendida como um produto especialmente visual, mas é importante que a experiência em espaços projetados, estimule todos os outros sentidos, para que assim possamos compreender e viver melhor o espaço. A arquitetura na maioria das vezes sofre dessa condição de sempre ser olhar, deixando de estimular qualquer outro sentido, mas na verdade ela está muito além disso, como podemos perceber na explicação de Pallasmaa sobre
arquitetura: A arquitetura como uma compreensão do mundo. Os olhos, ouvidos, pele, língua e nariz como medidas do espaço. A memória como artificio para construir sensações, através de reconstrução de lugares vividos. (PALLASMAA, 2011.)
Juhani Pallasmaa nos mostrar que as coisas são muito mais do que aquelas que estão diante dos nossos olhos. Como explicar os sentimentos que temos ao estar em uma arquitetura atemporal, como o Parthenon, por exemplo? Pensar em uma arquitetura que ofereça as sensações mais diversas, que promova novas experiências ao usuário, sendo ele vidente ou não. Pouco se comenta sobre espaços agradáveis, adequados e sensíveis. Juhani Pallasma nos apresenta a possibilidade de associar a visão aos outros sentidos, especialmente o tato. Segundo o autor, quando vemos algo e queremos analisar o fenômeno, o lado racional é despertado.
A visão afasta o indivíduo daquilo que ele está olhando, afasta do que é sensível. O indivíduo apenas pensa sobre o que está vendo, sem usar qualquer outro sentido. Quando usamos o tato para conhecer aquilo que estamos vendo o toque transmite o que foi percebido, criando intimidade entre o indivíduo e a coisa. A escuridão desperta a imaginação, porque quando não temos a visão, inventamos a imagem. A imprecisão da visão aguça o tato.
Experiência Corporal │Espaços da Memória: A arquitetura do Sentir │30 _____________________________________________________________________________________________________________________________ Para que possamos pensar com clareza, a precisão da visão tem que ser reprimida,
pois as ideias viajam longe quando nosso olhar fica distraído e não focado. A luz forte e homogenia paralisa a imaginação do mesmo modo que a homogeneização do espaço enfraquece a experiência da vida humana e arrasa o senso de lugar. (PALLASMA, 2011, p. 44)
Para a cultura ocidental, fundada na filosofia grega de Platão e Aristóteles, a visão ocupa o espaço de sentido mais importante. Eles associam visão a mente, ao intelecto e ao pensamento. O conhecimento é considerado análogo a visão clara e, a luz é considerada metáfora da verdade. Pallasma, ao refletir sobre arquitetura, defende a afinidade dessa área do conhecimento como arte. Buscando meios de entender a experiência não vidente, percebi que as dificuldades de visão libertam a pessoa que vê durante o que é cada coisa,
sem a manifestação da emoção e do sentimento. Hélio Oiticica, realizou obras experimentais, que permitiam ser penetradas pelo usuário, segundo ele, o indivíduo teria “à descoberta do seu centro criativo interior, da sua espontaneidade expressiva adormecida, condicionada ao cotidiano”. Como podemos observar na imagem a seguir: As instalações de Oiticica nos mostram
como
intervenções
podem
estimular o uso de todos os sentidos, uma interação do corpo com a obra, uma
proposta que para o indivíduo usufrui-la, ele deve colocar a visão em segundo plano, conseguindo assim descobrir a obra através de todos os sentidos. Figura 5
Figura 6
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LUZ PARA SENSAÇÕES
A luz está presente no cotidiano de cada indivíduo. É impossível pensar em uma boa arquitetura sem associação a luz, ela é extremamente
necessária para a criação de bons espaços. A luz causa diferentes sensações ao usuário, podendo ser ela boa ou ruim. Como a luz e a iluminação conseguem alterar as percepções dos espaços? Podemos perceber como a luz traz diferentes percepções devido a intensidade que ela tem, a forma que ela é reproduzida e até mesmo o direcionamento que ela ilumina. A luz na arquitetura é uma experiência que mistura arte com tecnologia, ela pode alterar a percepção dos espaços através da memória que cada um carrega consigo. As memórias tornam possíveis a associação de qualquer momento da vida de uma pessoa. A demarcação de um espaço pode ser muito alterada a partir da iluminação, podendo criar desde ambientes mais amplos quanto ambientes mais intimidadores. Para criar isso, poderia ser usado luzes pontuais, por exemplo, até mesmo luzes que saem do teto ou luzes que gerem sombras, entre
outras coisas. Com isso pode-se definir espaços que possibilitem enfatizar volumes ou até mesmo espaços que passem alguma mensagem, fazendo assim uma total relação com nossos sentimentos e emoções. Transformando os espaços com iluminação, podemos criar desde de espaços ameaçadores, que nos deixam em estado de alerta, ou até mesmo espaços acolhedores, onde conseguimos relaxar e descansar. Instalação é toda a obra que explore a articulação espacial envolvendo o espectador pela sua presença corporal e simétrica, é o princípio experimental e a intenção do artista, é a essência de sua obra, onde o objeto final é a experiência do espectador que pratica a obra e do espaço proposto. Essas instalações sempre provocam sensações próprias, tendo cada pessoa uma experiência diferente, que é alterada de acordo com sua memória e
vivencia. A espacialidade de um ambiente está diretamente relacionada a iluminação, seja ela artificial ou não. A luz artificial se fixa em alguns locais e não tem alteração, a não ser que uma pessoa a mude de local. Já a luz natural, tem um caráter efêmero, sempre se alterando em termos de posição solar e das diferentes intensidades de luz durante o dia.
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Como exemplo podemos notar a bela luz artificial Akari do artista Noguchi , que buscando pelo verdadeiro propósito da escultura,
experimentou diferentes materiais como papel, terracota, metal ou pedra. Como ele mesmo disse em sua autobiografia intitulada "O mundo de um escultor“. Ele utiliza luzes amareladas, que para muitos causa a sensação de aconchego, como podemos observar na imagem.
Figura 7
Como exemplo de luzes naturais, podemos ver o Centro de Recepção de Visitantes na Espanha, que faz esse jogo de luzes que transformam o ambiente, o que causa uma diferente percepção do edifício de dentro para
fora. As paredes internas são concebidas de maneira a permitir a expansão no espaço intersticial e para permitir a passagem da luz e a permeabilidade visual para o exterior. Podemos observar na imagem a seguir como a luz naturais pode nos gerar diferentes sensações.
Figura 8
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A iluminação pode afetar nossa percepção dos espaços e da arquitetura, que vai desde luminárias, que alteram até as texturas das superfícies através de projeções de luz e sombras. Podemos observar pelas obras de Dan Flavin, que desde 1963, começou a construir com lâmpadas fluorescentes para suas esculturas e instalações, como a iluminação é importante para causar sensações:
Figura 9
Figura 10
Na primeira obra foram colocados trezentas e quatro lâmpadas ao longo de cinquenta metros, que servem como um túnel para o berço da coleção François Pinaut. O espaço azul foi iluminado por lâmpadas nas cores rosa, verde e amarela. A exposição recebeu o nome “Passage du Temps” e foi realizada em Lille, 2007. A segunda obra, foi uma das últimas obras de Flavin. Ele realizou a iluminação de uma fechada de vidro (1996) em Gelsenkirchen, Alemanha. A arcada foi projetada por Uwe Kiessler.
Muitos detalhes em edifícios não são percebidos pela falta de iluminação adequada. Através dos relatos já abordados acima, podemos perceber que a criação de um diálogo entre luz e espaço é de extrema importância para uma arquitetura sensitiva.
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INDIVÍDUO E O COTIDIANO
As identidades individuais e sociais são importantes para a construção de relações de vínculos que justifiquem a construção de grupos que permitam sentimentos de interação e reconhecimento social. A língua, o dialeto ou o sotaque, atos de percepção e apreciação, de conhecimento e reconhecimento em que os indivíduos investem em representações materiais como bandeiras, emblemas ou insígnias, permitindo que representações mentais sejam materializadas. Assim, o que está em jogo a respeito da identidade “é o poder de impor uma visão do mundo social através dos princípios
de divisão, que quando se impõe ao conjunto do grupo, realizam o sentido e o consenso do grupo, que fazem a realidade da unidade e da identidade do grupo” (BOURDIEU, 2007, p. 113). A identidade é fundamental para a legitimação de um grupo, mas para isso algo deve nortear essa identidade, como por exemplo, nacionalidade, regionalidade, etnia, religião, time de futebol ou práticas sociais. Sem esses pontos em comum, a identidade não consegue ser constituída e legitimada pelos pares. Esse processo aceita que cultura seja pensada no plural como culturas, até porque os atores são diferentes e constroem espaços de identificações diferentes, permitindo a consolidação da ideia de diversidade social. A formação de identidade faz com que o indivíduo se sinta participante da cultura em que está inserido. Para Canclini a teoria da cultura, além da questão da identidade, também tem uma correlação com a formação da ideologia, quando se relacionam os processos culturais com as condições sociais de produção, porém a cultura vai além da teoria ideológica, por não restringir as motivações aos interesses de classe. Toda produção de significado é passível de ser explicada em relação com as suas determinações sociais. A cultura não apenas representa a
sociedade; cumpre também, a função de reelaborar as estruturas sociais e imaginar outras novas. Além de representar as relações de produção, contribui para sua reprodução, transformação e para a criação de novas relações. (CANCLINI, 1983, p. 29). A identidade é recriada a todo instante, tanto na perspectiva do indivíduo, quanto do local ou global. A identidade é o reflexo do próprio sentimento de pertencimento cultural. Caminhar é percorrer um caminho, andar a algum lugar, marchar ou seguir. A relação de uma pessoa consigo mesma comanda as alterações internas do lugar ou os desdobramentos caminheiros das histórias empilhadas num lugar.
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Ao tecer comparações entre linguagem e espaço, o filósofo e historiador francês Michel de Certeau adotará a noção de que nós praticamos o espaço. Ao observar o caminhante, cada escolha de trajeto, cada jogo que estabelecemos com obstáculos encontrados e toda a rede de significações envolvida naquilo que não se deixa ver, imediatamente, na superfície construída da cidade configuram nosso modo de praticar o espaço. Praticar o espaço é, portanto, repetir a experiência jubilatória e silenciosa da infância. É, no lugar, ser outro e passar ao outro. (…) A infância que determina as
práticas do espaço desenvolve a seguir os seus efeitos, prolifera, inunda os espaços privados e públicos, desfaz as suas superfícies legíveis e cria na cidade planejada uma cidade “metafórica” ou em deslocamento. (CERTEAU, 2000)
Com isso podemos perceber que, as pessoas são hoje resultado do que elas acumularam no percurso da sua vida, notamos mais uma vez a grande importância do passado parar o presente. O indivíduo traz consigo a maleta chamada memória, que tem guardado toda sua experiência/vivencia fazendo com que ajam milhares e milhares de indivíduos diferentes, mesmo que eles sejam de uma mesma família e por isso cada um tem uma percepção diferente das situações e até mesmo dos espaços, resultando em diversas sensações diferentes.
Figura 11
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VIVÊNCIA DO ESPAÇO
A memória imprime lugares e imagens da memória. Segundo Frances Amélia Yates, existem três fontes latinas da arte clássica da memória, que são: A disposição ordenada, que é essencial a uma boa memória; A memória como uma das cinco partes da retórica. Como uma técnica que permitia ao orador aprimorar sua memória, o que o capacitava a tecer longos discursos de cor, com uma precisão impecável. O primeiro passa para os princípios da mnemotécnica é imprimir na memória uma série nos lugares. Quintiliano descreveu o melhor processo, segundo ele para formar uma série de lugares na memória, deve-se recordar uma construção a mais ampla e variada possível. Quintiliano diz que se pode utilizar uma ancora ou uma arma, estes são colocados pela imaginação em lugares da construção que foram memorizados. Cícero enfatizava que a invenção da arte da memória por Simonides não radicava apenas na sua descoberta da importância da ordem sequencial para a memória, mas também na de que o sentido da visão é o mais forte de todos
os sentidos.
Simônides (ou quem quer que tenha descoberto a arte da memória) percebeu de modo sagaz que as imagens das coisas que melhor se fixam em nossa mente são aquelas que foram transmitidas pelos sentidos, e que, de todos os sentidos, o mais sutil é o da visão e, consequentemente, as percepções recebidas pelos ouvidos ou concebidas pelo pensamento podem ser mais bem retidas se forem também transmitidas a nossas mentes por meio dos olhos. (De Oratore, II, 1xxxvii, p.357)
A memória é uma parte essencial do conhecimento do indivíduo. Existem dois tipos de memória, a natural e a continua. A natural é aquela que está em nossas mentes, que nasce ao mesmo tempo que o pensamento. A memória artificial é aquela reforçada e consolidada pelo treinamento, fundamentase em lugares e imagens. Um locus é um lugar facilmente aprendido pela memória, como uma casa, um intercambio, um canto, um arco, etc. Imagens são formas, signos distintivos, símbolos daquilo de que queremos nos lembrar. Se os colocarmos em ordem, o resultado será que, ao relembrarmos algo por meio das imagens, poderemos repetir oralmente o que registramos nos loci,
partindo do locus que quisermos para qualquer direção. (YATES, 2007)
Experiência Corporal │Espaços da Memória: A arquitetura do Sentir │37 ______________________________________________________________________________________________________________________________ Ad Herennium inicia o estudo das regras para as imagens; a primeira é que há dois tipos de imagens, uma para as coisas e o outro para as palavras, isso quer dizer que a memória para coisas cria imagens para nos lembrarmos de um argumento, ou de uma coisa, e a memória para palavras busca imagens para que nos recordemos de cada palavra. A própria natureza nos ensina o que fazer. (...). É frequente nos lembrarmos melhor,
por exemplo, de incidentes de nossa infância. Isso acontece porque coisas comuns facilmente fogem da memória, ao passado que as coisas surpreendentes e novas permanecem por mais tempo nela. O sol nascente, seu curso ou pôr do sol não impressionam porque acontecem diariamente. Mas os eclipses solares são fonte de
admiração porque ocorrem raramente. (...). Devemos, então, criar imagens capazes de permanecer por mais tempo na memória. E conseguimos isso se estabelecermos semelhanças as mais impressionantes possíveis. (...). Mas uma condição é essencial – percorrer mentalmente várias vezes todos os lugares originais para reavivar as imagens. (Ad Herennium)
Se gravarmos os lugares e as imagens, poderemos nos recordar de qualquer ponto que quisermos. A memória artificial seria usada não somente para memorizar discursos, mas para guardar na memória uma massa de material que pode ser consultada quando se desejar. Os loci preservam a ordem dos fatos, as imagens mostram os fatos em si. Memória das coisas servia para se recordar das coisas ou fatos. O fato de que devemos aprender o poema também de cor torna memória das palavras um pouco menos obscura. Memória das palavras busca memorizar uma imagem para cada palavra. A arte da memória consiste em lugares e imagens. A natureza pode ser aprimorada pela arte. De inventione define virtude como uma disposição do espirito em
harmonia coma razão e a ordem da natureza. A memória é a faculdade pela qual a mente relembra o que aconteceu. A inteligência é a faculdade pela qual a mente averigua aquilo que é. A providencia é a faculdade pela qual se vê que algo acontecera antes que ocorra”. (De inventione, II, Liii, p.160).
Experiência Corporal │Espaços da Memória: A arquitetura do Sentir │38 ______________________________________________________________________________________________________________________________ Quintinliano dá uma razão absolutamente racional do motivo pelo qual os lugares podem ajudar a memória: porque, pela experiência, sabemos que um lugar traz associações a memória. Pois terá certos traços para guia-lo em busca do que quer se lembrar, e o olho da
mente não se fixará apenas nas páginas onde as palavras estão escritas, mas em cada linha e, por vezes, ele fará como se estivesse lendo em voz alta. (Instituto oratória, xi, ii, pp. 32-3)
A imaginação é a intermediaria entre percepção e pensamento. É a parte da alma que produz as imagens que torna possível o trabalho dos processos mais elevados do pensamento. É por isso que “a alma nunca pensa sem uma imagem mental”. (De anima, 432 ͣ, p.17) “a faculdade do pensamento pensa suas formas como imagens mentais” (De anima, 431ᵇ p. 2) e “ninguém poderia aprender ou entender algo, se não possuísse a faculdade da percepção, até quando se pensa de modo especulativo é necessária alguma imagem mental com a qual pensar”. (De anima, 432 ͣ, p. 9). Aristóteles emprega as imagens da mnemônica como uma ilustração do que diz sobre imaginação e pensamento. Pensar, para ele, é algo que podermos fazer sempre que quisermos, “já que é possível dispor as coisas diante dos nossos olhos, como aqueles que inventaram sistemas de memória e constroem imagens”. A memória pertence a mesma parte da alma que a imaginação; é um conjunto de imagens mentais a partir de impressões sensoriais, pois as
imagens mentais da memória não vêm da percepção das coisas presentes, mas das coisas passadas. A faculdade intelectual age na memória, já que o pensamento atua sobre as imagens nela armazenadas a partir da percepção sensorial. A lembrança é a recuperação do conhecimento ou da sensação ocorrida. As coisas mais fáceis de serem lembradas são aquelas que tem uma ordem, como as da matemática, mas precisamos de um ponto de partida para iniciarmos o esforço de rememoração, então:
Ocorre com frequência que alguém não consigo lembrar-se de algo imediatamente, mas que possa procurar pelo que quer e encontrar. Isso acontece quando alguém da início a vários impulsos, até que um deles seja finalmente o que leva ao objeto da busca. Porque a lembrança depende realmente da existência potencial da causa estimulante..., mas é necessário se apoderar do ponto de partida. Por essa razão, alguns utilizam lugares para relembrar algo. (De memória et reminiscentia, 452 ͣ, pp. 8-16)
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Se para alguns o espaço de convívio não importa, para outros, importa e muito, especialmente para aqueles que apresentam algum tipo de necessidade física, motora ou psicológica. A arquitetura sensorial e inclusiva apresenta alternativas para vivenciar a arte por meio da interação entre diferentes linguagens, potencializando o sistema sensorial e produzindo no limite do corpo e das experiências diversas por deficientes ou não. Pensar na relação das pessoas com o espaço é uma relação de mão dupla. Quando um lugar construído não leva em consideração as necessidades ou limitações
humanas, ele pode chegar a ser mais inabitável que o meio natural.
Quando uma pessoa com deficiência está em um ambiente acessível, suas atividades são preservadas, e a deficiência não afeta suas funções. Em uma situação contraria, alguém sem qualquer deficiência colocado em um ambiente hostil e inacessível pode ser considerado deficiente para esse espaço. (CAMBIAGHI, 2007).
A deficiência é resultado da interação entre as pessoas e as barreiras arquitetônicas. É necessário adquirirmos vivencia para desenvolvermos a percepção das dificuldades das pessoas com deficiência tem para acessar espaços internos e externos. O arquiteto tem um papel relevante em criar propostas que permitam acessibilidade a todas as pessoas, independentemente de sua idade, habilidade, dimensão ou condição física ou sensorial, para que assim todas as pessoas possam usufruir dos espaços igualmente, de modo autônomo e seguro. A acessibilidade na maioria das vezes, não é considerada uma prioridade na concepção dos projetos arquitetônicos. A maioria deles segue apenas o que a lei pede, ao invés de serem projetados pensamento em todos os tipos de usuários. As pessoas com deficiência visual por exemplo, conseguem desfrutar melhor dos outros sentidos, tendo por muitas vezes, melhor aproveitamento da arte do que muitos usuários não deficientes. No CCBB – Centro Cultural do Banco do Brasil, por exemplo, apresenta novas alternativas para vivenciar a arte por meio da interação entre diferentes linguagens,
potencializando o sistema sensorial e quebrando a lógica dominante de que a percepção à arte só é possível com a ação conjunta dos sentidos. Podemos observar isso em algumas obras como Arte e inclusão: deficiência, corpo e diferença, que é uma mesa que possui uma dupla tarefa: a primeira, de desconstruir a noção de deficiência e corpo a partir da quebra do conceito hegemônico de sentidos; segundo, de refletir sobre as possibilidades e limites da arte na tarefa da inclusão das pessoas com deficiência, com a temática para, em um debate entre aspectos teóricos conceituais e práticos, produzir elementos para repensar as formas como a arte pode servir como ferramenta de inclusão e transformação social.
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A Mostra de Arte Sensorial e Inclusiva do DF também tem dialogam sobre romper com os padrões de “corpo perfeito” e a mesa pretende utilizar esse conhecimento acumulado para levantar a discussão na sociedade em geral. Em 2003 foi implantado um programa de acessibilidade física e
sensorial, o PEPE - Programa Educativo para Públicos Especiais, trabalha com recursos multissensoriais. Esse programa desenvolve atividades voltadas a pessoas com deficiência sensoriais, intelectuais e físicas, como podemos perceber nas seguintes imagens:
Figura 12
Figura 13
Essas atividades do PEPE oferecem diversos recursos de apoio, como maquetes visuais e táteis do edifício da Pinacoteca e seus arredores, reproduções de obras bidimensionais e tridimensionais, feitas em resina acrílica e borracha texturizada, extratos sonoros relativos às obras, além de objetos e jogos tridimensionais baseados nas obras originais selecionadas, são utilizados nas ações inclusivas do PEPE.
4. Estudos de caso
Figura 14
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MEMÓRIA Memorial do holocausto É um memorial dedicado aos seis milhões de judeus mortos durante o regime nazista. Está localizado no coração de Berlim. O monumento consiste de 2.711 blocos de concreto cinza escuro, quase preto, distribuídos
em fileiras paralelas sob uma superfície ondulada. Estes blocos são sóbrios, não contém nenhum texto, nome ou foto. Muitos dos caminhos formados são ondulados, o que causa a sensação de instabilidade. Os blocos são de 2,38m de comprimento por 0,95m de largura e a altura varia de 0,2m até 4,8 metros. Muitos dos caminhos formados também são ondulados, o que para algumas pessoas causa a sensação de instabilidade. E parece que de fato esta foi a intenção do arquiteto, que no texto do projeto descreveu que os blocos foram desenhados “para produzir uma atmosfera confusa e intranquila, e toda a escultura visa representar um sistema supostamente ordenado que perdeu o contato com a razão humana”. Faz parte ainda do memorial, uma sala subterrânea com 800 metros quadrados chamada de “Local da Informação” (ou Ort der Information em alemão) onde é documentado sobre a perseguição e o extermínio dos judeus. A exposição mostra detalhes biográficos de pessoas e famílias que foram vítimas do holocausto.
Figura 15
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Jogo das sombras Os artistas contemporâneos William Kentridge e Nalini Malani usam o jogo de sombras como um meio de memória. Independentemente um do outro, ambos têm implantado esta forma de arte performativa de séculos de existência em obras que são amplamente consideradas pontos altos de suas respectivas carreiras - obras como a instalação de Kentridge A Recusa do Tempo e o vídeo / shadow play de Malani In Search of Vanished Sangue. "Em busca do sangue desaparecido", uma instalação colossal de Nalini Malini que explora as fronteiras de gênero e deslocamento, compreendendo imagens culturais através de instalações de mídia mista. A instalação envolve luz projetando em cilindros de acrílico pintado que revolveu, criando sombras dramáticas na parede. A imagem usada nos cilindros estava fora das deusas Hindu ao longo dos ícones ocidentais do lado que criam uma
justaposição interessante entre as duas culturas. A instalação tinha um fantástico dinamismo estético enfatizando os aspectos das questões sociais de gênero, feminismo, violência e fundamentalismo religioso. "A recusa do tempo" de William Kentridge foi imaginada através dos vários encontros do artista com o compositor Philip Miller e o cientista Peter Galison. Esta peça de arte de vídeo explora o conceito de diferentes perspectivas de tempo e as complexidades associadas com a mudança de tempo. Combina desenho, música, dança, filmes e conceitos criando um desempenho teatral dinâmico, o que traz a noção de Kentridge de questionar o tempo no pedestal.
Figura 16
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Teatro de Giulio Camillo Um teatro dedicado a recuperar a memória da vivencia dos antepassados. Níveis ascendentes, cada um dedicado a diferentes passagens mitológicas. Cada nível dividido em sete compartimentos cada um ligado a um planeta e um Árvore da Vida. Foi seccionada em sete partes ou linhas e cada símbolo destinado a ocupar o lugar certo por correspondência planetária. Cada uma das linhas correspondeu uma porta e colocou o espectador para que ele pudesse olhar para as arquibancadas e também olhando para as imagens que estavam em cada uma das sete
portas, das sete estandes montante. O propósito de toda era que o espectador fosse capaz de lembrar e contemplar o conhecimento universal já contido na alma. Bem, sem dúvida, o objetivo do verdadeiro teatro é "recuperar a memória". Não referindo a essa capacidade individual que nos permite para se lembrar de eventos mais ou menos remotas, localizadas na horizontal da cadeia sucessiva, mas a energia que nos conecta com nossa origem atemporal, o que nos traz a consciência do que realmente são.
Figura 17
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Mentiras, Mistérios, Humilhações, História
Na Bahia podemos perceber uma grande quantidade de casarões antigos, um deles é o Palácio da Aclamação, que preserva detalhes daquela que foi, durante 55 anos, residência oficial dos Governadores do
Estado. O artista visual mineiro Eder Santos adorou a ideia de aliar as lembranças do Palácio às suas inquietantes videoinstalações. O resultado está na mostra Mentiras e Humilhações. Em duas suntuosas salas do espaço, Eder se propõe a mexer com a imaginação e até os medos de que a visita. Mentiras e Humilhações é um vídeo que eu fiz em 1989 e diz dessas casas que se acabaram, ou viraram museus ou prédios de apartamentos e contam um pouco dos fantasmas dessas histórias. (...) criei essa instalação quando eu fui para Cuba, para a Bienal de Havana, onde me convidaram para ver a Galeria das Armas. Aí eu pensei, vou fazer a galeria das almas
que essas armas fizeram. (EDER SANTOS, 2010)
No espaço chamado Galeria das Almas, caixas de acrílico reproduzem imagens do céu fazendo o visitante se sentir “nas nuvens”. Em outro salão, escuro e misterioso, Eder montou “Geografia das Almas”, com pássaros em sombras, sobrepostos aos que já fazem parte da arquitetura da casa.
Figura 18
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SENSAÇÕES
A Casa É O Corpo
A obra é um labirinto com oito metros de comprimento que simula um imenso útero a ser penetrado pelo visitante. A obra reproduz as sensações de um parto, pois é levado a experimentar sensações táteis ao passar por compartimentos denominados "penetração", "ovulação", "germinação" e "expulsão" do ser vivo. O homem, se torna um organismo vivo, inverte os conceitos casa e corpo. Agora o corpo é a casa. Uma vez que o corpo, concebido no cruzamento de conceitos e processos, passa a ser compreendido – tanto na experiência artística quanto na experiência reflexiva – como algo amalgamado ao contexto da obra. O corpo, nesse nível de percepção e análise, está impregnado de um rumoroso mundo externo a ponto de confundir-se com o mesmo e
permanecer na impossibilidade de uma identidade conferida apenas por suas inerentes singularidades. O corpo pertence ao espaço do mundo, com o qual nunca atinge uma estabilidade. Os corpos individuais dos participantes tornavam-se um “todo orgânico” ou, uma “arquitetura viva”, conforme Clark. “Trata-se de um abrigo poético onde habitar é equivalente do comunicar” (Clark in MILLIET, Maria Alice. 1992. p.131).
Figura 19
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O Corpo da Janela
A obra emprega constantemente formas que se tocam no espaço, estabelecendo sugestões de sensualidade e de união física, presentes em grande parte de sua produção. A arte de Ernesto Neto é uma experiência que gera associações com o corpo e com alguma coisa orgânica. Ele descreve sua obra como uma exploração e uma representação da paisagem interna do organismo. É importante para Neto que o telespectador interaja ativamente e fisicamente com seu trabalho, seja tocando, cheirando ou sentindo. Em algumas obras, os amontoados de temperos são dispostos no chão enquanto as extremidades dos tubos de tecido são amarradas no teto, gerando a verticalidade das esculturas e também uma interação com o espaço expositivo. As esculturas apresentam alusões ao corpo humano, no tecido que se assemelha à epiderme e nas formas sinuosas que se estabelecem no espaço. Na época, o artista falou desses objetos como forma de sentir sua ‘própria pele’ no trabalho, como se eles, ao se reproduzirem e se multiplicarem, fossem uma extensão sua, ele diz: “pedaços de
mim que proliferam.”
Figura 20
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O Assassinato dos Corvos
Caixas de som são posicionada para a obra sonora de Janet Cardiff e George Miller. Essas caixas tocam sons de marchas e canções de ninar e pela voz ouvida, as pessoas criam imagens e tem reações corporais através da audição. A instalação está incorporada ao acervo permanente do Inhotim. Conta com 98 alto falantes dispostos por todo
galpão e se concentrando no centro do mesmo e sendo espalhados no chão, em cima de cadeiras e pendurados perto do teto (muito interessante quando os corvos estão supostamente voando sobre sua cabeça). Um gramofone antigo se localiza no centro de tudo, e as cadeiras são dispostas ao redor como se fosse para assistir uma peça de teatro sem atores. O título ” The murder of the crows” foi inspirado em uma gravura de Goya, chamada ” O sono da razão produz monstros”. Fechar os olhos é de suma importância para experiência e de como a nossa imaginação pode ser assustadora.
Figura 21
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O Bicho Suspenso na Paisagem
Uma declaração física referenciando situações comuns vivenciadas coletivamente hoje, geradas por um mundo governado por exatidão política, superestimação e caos. As massas suspensas, definidas por extensões de rede carregadas com milhares de bolas de plástico, também podem ser descritas como uma expressão tangível e lúcida de loucura - uma qualidade que prospera em todos nós, controlada e controlada pelos parâmetros de uma sociedade. O trabalho de comemora a insanidade na maneira mais aberta, com uma das partes as maiores "TorusMacroCopula" igualmente uma passarela, permitindo que a audiência ande ao longo do trajeto. A
arte-final honra o tabu da condição humana com ruidosamente. Neto descreve a filosofia por trás das peças:
A valorização do humano é sobre a produtividade sobre as qualidades humanistas, quanto mais perto das máquinas, melhor. A loucura tem sido parte da sociedade, algo que deve ser controlado, escondido pela medicação como se
fosse a coisa certa a fazer, mas certo para quem? O mundo está cheio de paixão; É uma pequena loucura que vive dentro e ao redor de nós... precisamos dela! (NETO, Ernesto. 2011)
Figura 22
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LUGAR
Sensações do Futuro
É uma mostra que tem jornada sensorial, criada com soluções construtivas do Grupo. Cada pavilhão é capaz de provocar sensações separadas pelos temas: Ver: composto por inúmeros espelhos incrustados com
luzes de LED. Durante o dia, as imagens refletidas criam perspectivas diferentes, e as mudanças do tempo, como os raios de sol e as nuvens, servem de pano de fundo para as figuras. À noite, o pavilhão torna-se um cubo de luz com LEDs gráficos que animam sua fachada. Ouvir é um grande cubo acolchoado que proporciona uma experiência única de espacialização sonora, por meio de uma acústica extremamente refinada. Sons puros da natureza, o som do mar e até os ruídos urbanos embalam os visitantes em uma viagem interativa por meio da tecnologia acústica. Colorir: o espaço é um verdadeiro carrossel montado com painéis de vidros coloridos e móveis, que forma um grande caleidoscópio. Ele demonstra a convergência entre a luz, as cores e as texturas do
vidro. Durante dia e noite, ele transporta os visitantes a um mundo multicolorido de sonhos. Criar: por fora, o espaço evoca o movimento de uma escada, só possível arquitetonicamente pelo desenvolvimento de alguns materiais Saint-Gobain. À noite, suas bordas são marcadas com luzes de LED e a sua estrutura revela um movimento futurista. Dentro, painéis de tecidos luminosos, elaborados em fibra óptica, brincam com a percepção do espaço. No teto, um show de laser anima o visual. Além destes, um quinto pavilhão está integrado à exposição.
Figura 23
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Transarquitetônica Reconhecido internacionalmente por suas instalações que despertam as mais distintas sensações nos visitantes, Henrique Oliveira propõe uma discussão poética sobre a história da arquitetura, do racionalismo das últimas décadas aos abrigos e cavernas do passado, vencendo o desafio de ocupar os 1600 m² do edifício com forte marca da escultura moderna de Niemeyer. Serpenteando a série de colunas desenhadas pelo arquiteto, como que desviando de obstáculos, a Transarquitetônica de Henrique Oliveira não se configura como um espaço de travessia, mas como um lugar, um
percurso com múltiplas possibilidades que termina onde começou. É um trabalho de arquitetura que reúne escultura e pintura, oferecendo estímulos diversos que o visitante recebe ao percorrer o trabalho. É fechar seus olhos, mas também evitar que as pessoas
vejam alguma coisa. Isso é importante para o meu trabalho, algo que obstrui a sua visão, torna-se objeto de sua visão – e também no contexto da pintura, em vez de usar tintas e traços para desenvolver alguma arte ilusória, minha
“pintura” ocupa um espaço arquitetônico… talvez os tapumes pareçam uma espécie de pele urbana. (OLIVEIRA, Henrique. 2014.)
Figura 24
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Museum of Feelings Os visitantes exploraram cinco salas responsivas em uma jornada inesperada e imersiva, nomeadas de, Sala Alegre; Quarto energizado; Quarto Exultivado; Sala de Calma; Espaço de varejo interativo. A exposição perfumada apresentava um enorme caleidoscópio de passeio, halos individuais de luz, nuvens aromatizadas com
fragrâncias e uma floresta de luz tangível. Cada passo da maneira como as pessoas interagiram um com o outro e a instalação para transformar as emoções do dia-a-dia em arte ao vivo. A experiência foi resolvida em um espaço de marca onde os participantes poderiam revisitar e interagir com as fragrâncias Glade destacadas em elementos arquitetônicos personalizados. Como um presente de despedida, eles criaram, compartilhavam e levaram para
casa os Selfies de MoodLens que usavam a biometria para codificar suas emoções de cor. A estrutura autônoma apresentou uma fachada viva que brilhava com cores que representavam o estado emocional da cidade com base em nosso algoritmo em tempo real que tirava os dados do tempo, as flutuações do mercado de ações, o volume de tráfego e o sentimento social predominante. O Museu dos Sentimentos tornou-se uma atração experiencial
imperdível durante três semanas da temporada de férias ocupada da cidade de Nova York.
Figura 25
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Pavilhão Burnham Instalado no Millenium Park de Chicago em 2009. O pavilhão de Zaha Hadid era uma construção semelhante ao casulo feita em alumínio e tecido de tração. A ideia de Hadid era projetar uma estrutura temporária através da qual expressar o potencial do design assistido por computador para criar uma geometria
complexa o mais leve possível e feita com componentes recicláveis e reutilizáveis. Portanto, o ZHA projetou um pavilhão em forma de concha de 1.300 pés quadrados composto por uma estrutura de alumínio curvado de 7000 peças sobre a qual duas camadas internas e externas de tecido de algodão de poliéster foram esticadas. A estrutura de pavilhão de alumínio antes da instalação das camadas de tecido. A camada externa filtra a
luz do dia para criar um espaço brilhante e translúcido; enquanto o interior é usado como uma superfície de projeção para uma instalação de vídeo de 7 minutos que retrata a história do Plano Burnham de Chicago, bem como um projeto visionário para a cidade, projetos feitos pelo cineasta britânico Thomas Gray. As finas linhas diagonais visíveis na superfície do pavilhão são uma reminiscência daqueles concebidos por
Burnham para o Plano de Chicago. O design combina novos conceitos formais com a memória do planejamento urbano histórico arrojado. Superposições de estruturas
espaciais
com
traços
ocultos
dos
sistemas
organizacionais e representações arquitetônicas de Burnham
criam resultados inesperados. (A partir da descrição do projeto por Arquitetos Zaha Hadid).
5. Projeto
Projeto │Espaços da Memória: A arquitetura do Sentir │69 _______________________________________________________________________________________________________________________________
Pensar em uma arquitetura que ofereça as sensações mais diversas, que promova novas experiências ao usuário, sendo ele vidente ou não. Uma arquitetura que funcione como única fonte sensorial. Espaços onde ajam estímulos sensoriais através da própria construção. De repente você sente que as paredes não servem simplesmente para suportar um telhado ou conformar uma casa, mas que em um momento servem para fornecer sombra ao sol, no outro para ser suporte para sua volta, no Outono um apoio para secar tâmaras e na primavera um quadro negro para as crianças desenharem. (Richard Kearney, 2002, p.140)
Enquanto um espaço é extremamente iluminado e causa cegaria e incomodo a muitos, para outros remetem algo muito positivo do passado. Outro espaço tem um teto muito baixo, causando angustia e má impressão, fazendo com que muitos queiram sair correndo e, para outros ele pode remeter a sensação de proteção. O que será que uma arquitetura poderia remeter de sentidos além da visão? Sair da ideia de uma arquitetura convencional que só é apreciada com os olhos.
O indivíduo será estimulado a restaurar suas memórias. No espaço poderemos observar o uso de formas e superfícies moldadas para sensações, uma relação entre práticas do espaço e construção. Quando um indivíduo que carrega diversas experiências entra no lugar, ele tem uma reação de acordo com seu conteúdo memorial, então, mesmo se houver um grande grupo, e mesmo que essas pessoas fossem da mesma família, cada uma geraria um resultado sensorial diferente sobre a obra. Um lugar onde a pessoa não somente aprecie com os olhos, mas com todos os sentidos. A pessoa como parte da obra, para que com ela a obra possa existir. Pensando no percurso que eu gostaria de executar, comecei pensando em um que pudesse fazer com que a memória do indivíduo fosse estimulada, mas que também fosse uma experiência. Depois de pensar nisso, comecei a me questionar quem visitaria aquele local, e conclui mais uma vez que seria para todos, desde crianças a velhinhos, qualquer portador de quaisquer necessidades especiais ou não, um lugar que propõe a experiência mais que cada um
tenha uma própria. Foi-se escolhido então que seriam 5 espaços, começando em um com menos estímulos e, ir acrescentando os estímulos no decorrer do percurso, até se chegar ao último, onde seria o local com diversos estímulos possíveis.
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Depois de resolver a separação dos espaços, comecei a desenvolver a forma, fundamentando o pensamento de que a memória nunca é perfeita, que memória tem suas variações e picos, sendo eles desde o mínimo, até o mais elevado. Concluiu-se então que seria algo assimétrico e ortogonal. A
primeira forma desenvolvida foi a de cinco ocas, separas e sem um percurso definido, onde teriam sempre diversas portas podendo então o indivíduo escolher qual ele preferiria ir primeiro. Mas isso gerou um grande problema que foi a falta de logica no percurso, perdendo a ideia de início e fim, não conseguindo fazer uma escala certa
de estímulos. Pensando nesse empecilho, conclui que nada melhor para brincar, experimentar do que vivendo o espaço, explorando, brincado. Comecei a pesquisar a respeito de brinquedos famosos na década de 90, desde boomerangs, tazos, legos, ioiô e então um especial me chamou atenção, o labirinto que tínhamos que girar até conseguir encaixar a bolinha no centro, alguns desses labirinto até vinham na tampinha do pote de fazer bolas de sabão, era muito divertido! Foi então que pensei em fazer uma forma parecida como aquela. Foi disposto 5 corredores, só que agora com um percurso pré-definido, espaços ok, percurso ok, linha de raciocínio ok e, ainda por cima conseguindo juntar tudo em um mesmo espaço, que foi-se percebido que resolvida muito melhor toda a questão projetual e experimental. Só que aí veio o problema, a forma era muito simétrica, fazendo com que se perdesse o fundamento da forma que era de algo como a memória, assimétrico e não perfeito, com “picos”. Seguindo essa linha boa de raciocinou, foram feitos diversos estudos até chegar na forma final da planta, que seria tanto na forma quando nas paredes internas totalmente assimétricas, projetando corredores e ainda brincado com o tamanho das salas e até mesmo com as alturas, fazendo com que então a
ideia anterior fosse extremamente melhorada e modificada, se tornando algo parecido como uma mente, que segundo o dicionário, podemos observar que é a parte imaterial de alguém, em que se encontra a sensibilidade, a inteligência; pensamento, intelecto.
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O pavilhão é itinerante, sendo extremamente fácil de ser montado e desmontado, funcionando muito bem
em qualquer lugar do mundo. Para definição da materialidade, foi-se realizado uma maquete de estudo, onde pude observar se seriam melhor, pilares de apoio ou arcos metálicos, e quando percebi que os próprios arcos facilitavam não somente na facilidade da montagem, pude perceber através da maquete uma melhor definição de qual seriam as distancias entre arcos, aonde ficariam as portas, o melhor material para adquirir o resultado de impermeável e ao mesmo tempo um pouco translucido, para que assim o pavilhão tivesse sua faixada toda composta por diversas iluminações diferentes, causando sensações até mesmo pra quem vê de fora. Sua materialidade final será composta por estruturas simples e totalmente independentes, aonde ela por si só se resolve por completa. Começamos por um chão de madeira, aonde será sobreposta incialmente a estrutura circular central de paredes e, depois serão adicionadas as outras, sendo todas elas madeira branca, para que assim possam se transformar na cor da luz proposta em cada ambiente. Por cima de parede serão colocados arcos metálicos, com distancias variantes de 1,5 a 2m um do outro, sendo sua altura mínima 3.5m e a máxima 6,5m. Por cima será colocado uma lona tencionada, que lembra um tecido, sendo totalmente impermeável e um pouco translucida, permitindo que o indivíduo que vê o pavilhão de fora veja ele todo colorido. Ganchos fixos na parte
inferior dos arcos, são a forma de fixação da lona na estrutura. E por último, mas não menos importante, temos a placa solar, que foi colocada apoiada na lona, fazendo que o pavilhão seja totalmente independente de qualquer lugar, podendo ser construído no meio de parque e até mesmo praias. O pavilhão tem no total 242 m².
Figura 26
Materiais usados:
Madeira
Arcos Metálicos Espaço 4 59m²
Espaço 5
Espaço 2 29m²
Saída Espaço 1 22m²
Entrada
Figura 27
Espaço 3 36m²
62m²
Materiais usados:
Lona Tensionada
Figura 28
Placa Solar
Figura 29
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O pavilhão foi dividido em cinco espaços, criando um percurso aonde você começa com poucos estímulos, e os estímulos vão aumentando pelo decorrer do percurso, fazendo com que cada um tenha uma experiência única e particular. Há uma brincadeira no tamanho dos espaços, começando no menor e terminando no maior, ao mesmo tempo que você tem uma variante de diversas alturas no decorrer do percurso, você tem
luzes estimulantes que vão aumentando suas cores quando mais avançado você estiver no percurso. No primeiro espaço, podemos observar a falta de luz artificial, tornando um ambiente quase todo escuro, sendo iluminado somente pela luz natural disposta pela porta de entrada que não tem fechamento. Nesse
espaço começamos com um menor espaço, e ao mesmo tempo que a pessoa explora e se questiona, ela escuta um som de um rádio antigo, aonde o indivíduo procura sintonizar com uma estação.
Figura 30
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Quando chegamos ao espaço 2, podemos observar sua forma mais simétrica, a única de todos os espaços que se mantem em uma regularidade, está posicionada no centro de todo pavilhão e, sua estrutura de madeira é
fixa, todas as outras são incorporadas nele. Notamos que nesse espaço o começo de uma influência de luz cinza disposta pela parede, a cor cinza que remete desde elegância, velhice, respeito e até mesmo a tédio. Porém essa mesma cor da ênfase aos valores intelectuais e espirituais. Nesse espaço foram distribuídos diversos relógios de diferentes tamanhos e modelos e barulhos, onde além de o indivíduo observar e poder remeter a memória de alguma forma, ele também escuta diversos sons diferentes, tenho uma possível dificuldade em definir de que som sai de que relógio.
Figura 31
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O espaço 3 é aquele aonde começam os estímulos mais diretos, aonde o indivíduo se percebe mais parte da obra. Dentre elas estão a projeção de diversas palavras na cortina de fumaça disposta por todo o espaço,
dando a impressão que as palavras estão voando, ou, até mesmo que estão interagindo com o próprio indivíduo. Luzes verdes e azuis foram intercaladas por todo o espaço, dando desde de a sensação de esperança e algo hipnótico e sedativo através de verde, como a sensações de calma, ligado a coisas mais profundas, causadas pelo azul. Ao mesmo tempo que acontece o descobrimento de cada uma das palavras, o indivíduo pode se observar através dos diversos fragmentos de espelhos espalhados por toda a parede, pode se observar por ângulos que talvez foram esquecido, ou que até mesmo nunca foram vistos por ele mesmo antes.
Figura 32
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Uma trama de elásticos é a primeira coisa que você nota ao entrar no espaço 4. Nada melhor para descobrir do que explorar, afinal o que pensamos ao entrar em um ambiente totalmente novo e nunca pisado antes? Um embaralhamento de ideias, um não saber para onde ir. Mas e se ao mesmo tempo que você estivesse percorrendo aquela trama de coisas novas e diferentes você se deparasse com sons já escutados antes? No espaço 4 você escutará diversos sons que remetem ao passado, como o do PacMan, o do Windows ligando, até mesmo o som da famosa internet discada, quem será que conseguira atravessar a trama de elásticos e ainda
definir a origem de cada um daqueles sons da nossa memória, que escutamos tantas mais tantas vezes que muitas vezes não conseguimos associar de qual é qual. Tudo isso ao mesmo tempo que somos estimulados através das luzes vermelhas e laranjas. Vermelhas, símbolo da paixão, mas também o do perigo. É a cor mais quente que existe, pode até criar reações agressivas. Já a cor laranja remete ao verão, que lembrar alegria, juventude. No geral é uma cor que aumenta a confiança, contrastando e dando um ótimo equilíbrio junto a cor vermelha. A trama de elásticos está posicionada na parte de cima do espaço, deixando um corredor livre para os portadores de necessidades especiais.
Figura 33
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O quinto e último espaço é aonde você junta toda a questão que abordaram os espaços anteriores e, aonde você finalmente poderá interagir diretamente. Assim que você estrar nesse espaço, já percebe duas cores lindas e divertidas, que são o amarelo e o rosa, amarelo sendo uma cor extremamente quente nos lembra o sol, trazendo motivação e a sensação de criatividade. Já a rosa demonstra afeto e pode ajudar até a relaxar, causa sempre uma sensação positiva as pessoas, podendo ser associado para alguns até a família. Ao mesmo tempo que o indivíduo visualiza essas cores na parede ele escuta o som de risada de criança, ao mesmo tempo que
escuta um barulho de corda batendo, será que elas estão brincando? Parece que estão se divertindo. Ao olhar pelas paredes, podemos observar projeção de sombras de uma criança pulando amarelinha e outra andando de bicicleta pelo decorrer do todo o espaço 5. Estarão disponíveis gizes para desenhar pelo chão, remetendo a velha brincadeira de criança de desenhar na rua. Será que agora você é a criança? Jamais devemos deixar morrer a criança que vive em nós, porque assim não perderemos a essência de quem somos e nunca deixaremos de sonhar.
Figura 34
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O Pavilhão se tornou por fim uma obra de arte, que prende o olhar e inspira o caminho de todos os sentidos, provocando o observador com todo o seu percurso, através dos seus traços, objetos e até mesmo sua forma construtiva, trabalhando sempre com todos os sentidos possíveis do indivíduo. Além de poder ser facilmente montável e desmontável, o pavilhão pode ser transportado por apenas um único caminhão. O pavilhão ainda
possui dimensões compactas, fazendo com que assim ela possa ser instalada em locais com dimensões reduzidas. Devido as placas solares o pavilhão é totalmente independente fazendo que ele funcione muito bem em qualquer lugar.
Figura 35
Figura 36
6. Considerações Finais
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O trabalho desenvolvido foi elaborado fundamentalmente pela memória, que através de estudos, pude perceber a problemática dela a respeito do tempo. Quando penso no passado, percebo novas perspectivas a respeito de coisas que antes eu não achava, mas que através da minha vivencia e experiência tive a minha opinião corrompida, o que acarretou em uma mudança na percepção das coisas. A memória é temporal e vivencial. Através do ato de experimentar, pude perceber que quando se vive um acontecido, se tem confiabilidade na parte da memória, isso está diretamente ligado as sensações, é através delas que as coisas ficam gravadas em nossa memória, sejam elas positivas ou não.
Pensando a respeito da experiência, comecei a desenvolver um espaço que estimule a utilização de todos os sentidos, um espaço que se desenvolva a partir da interação do corpo com a obra, focalizando sempre uma arquitetura sensível, onde o elemento visível é secundário. Sendo assim, a obra deve ser sentida para ser descoberta. Como pude perceber nos estudos realizados, muitos sentidos podem ser usados para a percepção de uma obra arquitetônica, como por exemplo o tato, que é fundamental para a intimidade do lugar onde se pisa, ou o som que pode vir da direita ou da esquerda, mesmo os estudos de iluminação, que como vimos, podemos usa-la para as sensações, ou até mesmo a falta dela. O vento e as barreiras, tudo pode ser moldado para gerar experimentações sensíveis no espaço. Ao criar um espaço da memória que estimula as sensações, pude perceber o quanto podemos transformar a vida das pessoas através da arquitetura, pois arquitetura é muito mais do que construir, arquitetura é a arte de projetar espaços criativos para abrigar não só pessoas, mas também um lugar para armazenar lembranças. Concluo que a arquitetura é feita para ser percebida por todos os sentidos e, deve ser sentida de todas as maneiras
que o nosso corpo puder explorar, só assim poderemos estimular nossa memória a (re)lembremos.
7. ReferĂŞncias
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REFERÊNCIAS
ABREU, Mauricio de Almeida. Sobre a Memória das Cidades. Revista da faculdade de letras. 1998. ASSMANN, Aleida. Espaços da Recordação. Editora Unicamp. 2011. CERTEAU, Michel de. Invenção do Cotidiano. Editora: Vozes. 2000. CHOOY, Françoise. A Alegoria do Patrimônio. Tradutor: MACHADO, Luciano Vieira. Editora: Estação liberdade. 2001. JUNDURIAN, Maria Amélia. Do Material ao Imaterial. Editora: EDUC. 2014. LE GOFF, J. História e memória. Campinas: Editora da Unicamp, 1996. PALLASMAA, Juhani. Os olhos da Pele. Editora: Bookman Companhia Ed. 2011. PALLASMAA, Juhani. Mãos inteligentes. Editora: Bookman Companhia Ed. 2013. POLLAK, Michael. Memória, Esquecimento e Silencio. Estudos Hitóricos, RJ. 1989. RICOEUR, Paul. A memória, a história, o esquecimento. Editora da Unicamp. 2010. RICOEUR, Paul. Percurso do reconhecimento. Editora: Loyola, 2006.
SMOLKA, Ana Luiza B.; NOGUEIRA, Ana Lúcia H. Emoção, memória, imaginação. Editora: Mercado das Letras. 2011. YATES, Frances Amelia. A Arte da Memória. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2007.
8. Lista de Imagens
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Figura 1: Ilustração estudos da memória por Ivone Islas. Realizado em maio de 2017.
Figura 2: Ilustração estudos da memória por Conceição Islas. Realizado em abril de 2017. Figura 3: Ilustração estudos da memória por Neide Islas. Realizado em maio de 2017.
Figura 4: Ilustração estudos da memória por Regina Islas. Realizado em junho de 2017. Figura 5: Penetrável de Hélio Oiticica. Disponível em http://obviousmag.org/pintores-brasileiros/helio_oiticica/as-principais-obras-de-helio-oiticica.html>. Acessado em maio de 2017 Figura 6: Penetrável de Hélio Oiticica. Disponível em<http://obviousmag.org/pintores-brasileiros/helio_oiticica/as-principais-obras-de-helio-oiticica.html>. Acessado em maio de 2017
Figura 7: Lâmpadas de Isamu Noguchi. Disponível em<http://global.rakuten.com/en/store/iraka/item/33n-pe2-16/>. Acessado em junho de 2017 Figura 8: Centro de Recepção de Visitantes. Disponível em <http://www.archdaily.com.br/br/01-71037/centro-de-recepcao-de-visitantes-em-atapuercaa3gm-mais-mata-y-asociados>. Acessado em abril de 2017. Figura 9: Luzes de Dan Flavin. Disponível em< http://imagemsemanal.blogspot.com.br/2009/01/as-luzes-de-dan-flavin.html>. Acessado em abril de 2017. Figura 10: Luzes de Dan Flavin Disponível em < https://nl.pinterest.com/pin/156 007574568357973/>. Acessado em abril de 2017.
Lista de Imagens │Espaços da Memória: A arquitetura do Sentir │ 100 ______________________________________________________________________________________________________________________________
Figura 11: Croqui Fases da Vida. Desenhado pela autora. Realizado em Julho de 2017.
Figura 12: Sete princípios do Desenho Universal. Disponível em < http://acessi bilidadeearquitetura.blogspot.com.br/2012/06/7-principios-do-desenhouniversa.html >. Acessado em maio de 2017. Figura 13: Sete princípios do Desenho Universal. Disponível em < http://acessi bilidadeearquitetura.blogspot.com.br/2012/06/7-principios-do-desenhouniversa.html>. Acessado em maio de 2017. Figura 14: Memorial do holocausto. Disponível em < http://simplesmenteberlim.com/holocaust-mahnmal-memorial-do-holocausto/> Acessado em março de 2017. Figura 15: Jogo das sombras. Disponível em < https://blog.saffronart.com/2013/08/24/the-shadow-play-as-medium-of-memory/>. Acessado em março de 2017. Figura 16: Teatro de Giulio Camillo. Disponível em < https://www.arsgravis.com/el-arte-de-la-memoria/>. Acessado em março de 2017. Figura 17: Mentiras, Mistérios, Humilhações, História. Disponível em < https://www.irdeb.ba.gov.br/soteropolis/?p=2130>. Acessado em março de 2017. Figura 18: A casa é o corpo. Disponível em < http://multissenso.blogspot.com.br/2009/11/lygia-clark-casa-e-o-corpo-labirinto.html>. Acessado em março de 2017. Figura 19: O Corpo da Janela. Disponível em < https://br.pinterest.com/valerieverfaill/installaties/>. Acessado em março de 2017.
Lista de Imagens │Espaços da Memória: A arquitetura do Sentir │ 101 _______________________________________________________________________________________________________________________________
Figura 19: O Corpo da Janela. Disponível em < https://br.pinterest.com/valerieverfaill/installaties/>. Acessado em março de 2017. Figura 20: O Assassinato dos Corvos. Disponível em <http://www.inhotim.org.br/en/inhotim/arte-contemporanea/obras/galpao-cardiff-miller/> Acessado em março de 2017.
Figura 21: O bicho suspenso na paisagem. Disponível em < http://designboom.com/art/ernesto-neto-madness-is-part-of-life/>. Acessado em março de 2017.
Figura 22: Sensações do Futuro. Disponível em < http://www.alexandretaleb.com.br/mostra-sensacoes-do-futuro-alexandre-taleb/>. Acessado em março de 2017. Figura 23: Transarquitetônica. Disponível em <http://semema.com/a-arte-de-reinventar-a-natureza-de-henrique-oliveira/>. Acessado em março de 2017.
Figura 24: Museum Of Fellings. Disponível em https://www.radicalmedia.com/work/the-museum-of-feelings>. Acessado em agosto de 2017.
Figura 25: Pavilhão Burnham. Disponível em <https://www.inexhibit.com/case-studies/chicago-the-burnham-pavilion-by-zaha-hadid/>. Acessado em setembro de 2017. Figura 26: Maquete eletrônica Pavilhão Itinerante. Realizado em outubro de 2017.
Figura 27: Maquete eletrônica Pavilhão Itinerante. Realizado em outubro de 2017.
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Figura 28: Maquete eletrônica Pavilhão Itinerante. Realizado em outubro de 2017.
Figura 29: Maquete eletrônica Pavilhão Itinerante. Realizado em outubro de 2017. Figura 30: Maquete eletrônica Espaços Pavilhão. Realizado em novembro de 2017.
Figura 31: Maquete eletrônica Espaços Pavilhão. Realizado em novembro de 2017. Figura 32: Maquete eletrônica Espaços Pavilhão. Realizado em novembro de 2017.
Figura 33: Maquete eletrônica Espaços Pavilhão. Realizado em novembro de 2017. Figura 34: Montagem com imagem da Praça da Sé. Disponível em <https://www.implicante.org/mais-um-projeto-de-doria-dando-resultado-o-cidadelinda-deixou-a-praca-da-se-assim/>. Acessado em outubro de 2017. Figura 35: Montagem com imagem da Marginal Pinheiros. Disponível em <http://www.sampaonline.com.br/postais/MarginalPinheiros2006out22
brooklin.htm>. Acessado em outubro de 2017. Figura 36: Montagem com imagem do Parque do Povo. Disponível em <http://saopaulosaudavel.com.br/parque-do-povo/>. Acessado em outubro de 2017.