Espaço CRIAR: Criança, Imaginação, Arquitetura

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Espaço CRIAR: Criança, Imaginação, Arquitetura Uma Creche no Brooklin

Bruna Arruda

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Dedicatória e Agradecimentos Toda conquista se faz com a ajuda e compreensão daqueles que cruzam nossos caminhos. Hoje, sinto que vencemos mais uma etapa. Vencemos, eu e aqueles que me apoiaram durante este período e me possibilitaram subir mais um degrau em direção aonde quero chegar. Por isso sou grata e dedico este trabalho: Aos meus familiares, que me apoiaram em minhas escolhas, e lutaram para me proporcinar conhecimento de qualidade, sempre com muito amor e compreensão. À Deus, que colocou em meu caminho as pessoas certas, minha família e amigos, me deu saúde, inteligência e força, necessários para concluir esta fase. À minha prima Letícia, que serviu de inspiração para a escolha do tema.w Aos meus amigos, pelas relações acadêmicas e compartilhamento de conhecimentos, e principalmente pelas experiências que tivemos, a amizade e parceria que construímos. “Brincando de carrinho, ou de bola de gude, Criança quer carinho, Criança quer saúde. Chutando uma bola, ou fazendo um amigo, Criança quer escola, Criança quer Abrigo” _ Toquinho 4

À Prof. Valéria que organizou da melhor forma estes 5 anos de faculdade, à Profª Myrna que me orientou em iniciação científica, aos Prof. Ricardo Wagner e Ricardo Luís que me orientaram neste trabalho, e a todo o corpo docente de Arquitetura e Urbanismo do Senac, que me forneceu conhecimento e incentivou meu desenvolvimento intelectual e pessoal em todo momento.


Bruna de Cássia Arruda

Espaço CRIAR: Criança, Imaginação, Arquitetura Uma creche no Brooklin

Trabalho de Conclusão de Curso desenvolvido no curso de Bacharelado em Arquitetura e Urbanismo do Centro Universitário Senac sob orientação do Profº Me. Ricardo Wagner Alves Martins

São Paulo 2017 5


Espaço CRIAR: Criança, Imaginação , Arquitetura - Uma creche no Brooklin

Resumo

Abstract

O desenvolvimento do meio urbano e do capitalismo trouxe o trinômio “mulher-trabalho-criança”. O acesso à creche migra de um direito da mãe trabalhadora para o direito das crianças à uma educação de qualidade com a infraestrutura que garanta seu desenvolvimento e bem estar, e a educação em espaços coletivos torna-se cada vez mais faz parte da realidade.

The development of urban environments and capitalism brought about the trinomial “woman-work-child.” Access to day-care centers had migrated from a right of the working mother to the right of children to a quality education with the infrastructure that guarantees their development and well-being, and education in collective spaces becomes more and more part of reality.

Levando em consideração a abordagem Pikler, este trabalho buscará conceber uma creche, voltada a bebês e crianças bem pequenas até três anos, onde o espaço arquitetônico seja um agente de seu aprendizado, seguro, acolhedor e rico em experiências, tendo como prioridade o ponto de vista do bebê e as relações, sendo a flexibilidade, liberdade e movimento, palavras -chave.

Taking into account the Pikler approach, this work will seek to conceive a nursery, focused on babies and very young children up to three years, where the architectural space is a safe, welcoming and experience-learning agent, with priority as the focal point view of baby and relationships, being the flexibility, freedom and movement, key words.

Palavras- chave: Meio urbano; Mulher; educação na primeira infância; creche; bebê; criança pequena;

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Keywords: Urban environment; Woman; early childhood education; day-care; baby; very young child;


Sumário

1.

Introdução - p. 8

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Fundamentação Teórica- p. 13

3. Entendendo o Público-alvo- p. 21 4. A importância do Ambiente- p. 23 5. Estudos de Caso- p. 29 6. O Projeto Arquitetônico- p. 39 7. Considerações Finais- p. 60 8. Listas de Imagens, Gráficos e Tabelas- p. 63 9. Referências Bibliográficas- p. 65

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Introdução 8


Introdução | Espaço CRIAR: criança, imaginação, arquitetura A cidade é um polo equipado com toda a infraestrutura necessária para o seu próprio desenvolvimento, e dos cidadãos que a habitam. A transição do feudalismo para o capitalismo acarretou uma série de transformações, no âmbito econômico e social, tornando necessária a criação de algumas tipologias de equipamentos urbanos até então não demandados por seus habitantes. O desenvolvimento da indústria proporcionou o crescimento mais acelerado e desordenado das cidades, além de trazer a mulher ao mercado de trabalho. A inserção das mulheres, ocasionou uma mudança na estrutura original das grandes cidades. Para garantir a eficácia da colocação da mulher e a continuidade no dinamismo e desenvolvimento pelo qual o meio urbano passava, seria indispensável que houvesse um local voltado aos cuidados e posteriormente, à educação dos bebês durante a jornada de trabalho das mães.

Este trabalho fará uma análise da história da primeira educação no Brasil, apontando para as diferenças do ocorrido no exterior, para estabelecer relações entre o que foi a arquitetura voltada para este público alvo antigamente, e o que tem sido projetado nos dias atuais. Tendo em vista o desenvolvimento da arquitetura escolar primária, e a abordagem Pikler, temos como objetivo estudar e trabalhar um espaço onde a criança seja protagonista de suas próprias ações. Voltado para bebês e crianças bem pequenas, de zero a três anos, na cidade de São Paulo, pois entendemos que a demanda torna-se cada vez maior e assim como estudos voltados para essa faixa etária, não há espaços qualificados suficientes concebidos que levem em conta as especificidades deste público. O berçário é a segunda casa do bebê, e deve ser portanto, um ambiente seguro, acolhedor e rico em experiências. Assim, a arquitetura se faz agente no aprendizado, contribuindo e estimulando a criança, ao mesmo tempo que dá a liberdade necessária ao desenvolvimento particular de cada um.

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Objetivos

Tendo em vista a necessidade de espaços de qualidade voltados aos cuidados dos bebês e à primeira educação, além do aumento da demanda, e da carência de locais planejados especificamente para este público-alvo, temos como objetivo o desenvolvimento de um berçário exclusivo para bebês de zero a três anos, no qual a arquitetura será favorável ao aprendizado e desenvolvimento do bebê, além de um ambiente seguro, e estimulante, sem o apelo para a infantilização. O bebê deve ter seus interesses e necessidades próprios reconhecidos para que o espaço contribua para o desenvolvimento desta importante fase, promovendo os relacionamentos humanos e uma primeira inclusão do bebê no meio social. O ponto de vista e conforto do bebê serão priorizados, sendo as questões de ergonomia fundamentais, além de estudo formal e de cores para o estímulo do bebê. Para isso, podemos pontuar a análise de projetos de berçários e jardins de infância existentes no Brasil e no exterior, que tenham sido pensados com a finalidade tratada neste trabalho, e que consideremos eficientes; estudar as necessidades dos bebês e quais atividades praticam nesta faixa etária; e quais são as normas que gerem uma instituição desta tipologia. Pensando simultaneamente nas necessidades, no programa apropriado, nas dimensões adequadas e conforto, e na legislação, criaremos o espaço ideal para que o bebê possa se sentir “em casa” e os pais sintam-se seguros em deixar seus filhos enquanto trabalham.

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Justificativa

A criança sendo vista como pessoa, com vontades e necessidades próprias é algo que tem ocorrido há poucos anos. Especialmente no que diz respeito a faixa etária que estamos trabalhando, constatamos que não há quantidade significativa de pesquisas, artigos ou teses que tratem do assunto, embora haja um aumento nos últimos anos. O interesse em criar um espaço voltado aos cuidados e educação dos bebês surgiu por motivação pessoal, pelo prazer que sinto em cuidar de bebês e crianças, e fico intrigada em acompanhar a velocidade com que os bebês se desenvolvem e aprendem tudo muito rápido, especialmente nesta fase. Outro fator que me motivou na escolha do tema, foi a questão histórica social, e a percepção de que a oferta de equipamentos de qualidade voltados a esse público, não acompanha o aumento da demanda. Desta forma, pensei em projetar um espaço que fosse favorável a esse desenvolvimento de forma que a arquitetura possa ser um agente catalisador do aprendizado, mas também seja confortável como a “segunda casa do bebê”.

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Metodologia

Em termos gerais, este trabalho classifica-se como exploratório, qualitativo, visando estudar e entender o berçário como instituição de enorme importância para a formação do bebê como pessoa; e projetar uma arquitetura que contribua para essa evolução. Foram definidas algumas etapas para o desenvolvimento deste trabalho, são estas: Etapa 1: Pesquisas, revisão bibliográfica Etapa 2: Referências de projetos arquitetônicos Etapa 3: Definição do local a ser implantado o projeto, seguido de pesquisas de campo Etapa 4: Realização de estudos de caso Etapa 5: Desenvolvimento do projeto de arquitetura Etapa 6: Conclusões - resultados e discussões finais

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Fundamentação Teórica 13


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Contexto Histórico

O surgimento das instituições pré escolares, como berçários - ou creches, como são chamados legalmente, maternais e jardins de infância, decorrem de diversos fatores. Segundo Sarah Mendes, psicopedagoga e mestre em Educação pela UFRN, para compreender essa diversidade é preciso tratar das instituições assistencialistas, dos interesses empresariais e jurídicos destinados à infância, das ações médico higienistas e das propostas pedagógicas e religiosas para a construção das instituições infantis. Para

Kuhlmann

(1998),

a história das instituições pré-escolares não é uma sucessão de fatos que se somam, mas a interação de tempos, influências e temas, em que o período de elaboração da proposta educacional assistencialista se integra aos outros tempos da história dos homens. (KUHLMANN, 1998, p. 77)

De acordo com Mendes (2015), praticamente não havia instituições destinadas à educação infantil no Brasil, até o século XIX. A primeira instituição de caráter assistencialista voltada à infância no Brasil, surge no século XVIII com propósito de atender os bebês que eram abandonados pelas mães.

A chamada “Roda dos Expostos” ou dos “enjeitados” surge numa época em que as doenças infecciosas e a pobreza e a mortalidade infantil eram um grande problema para a sociedade. Segundo MARCILIO (1997), esse método, trazido da Europa, chegou ao Brasil na tentativa de evitar o abandono de crianças em lixos, igrejas, outras famílias, ou à morte, contudo, essa assistência não criou qualquer tipo de instituição especial que acolhesse os expostos: os pequenos desamparados eram somente amamentados e criados pelas amas de leite. Sabendo que pairava sobre a sociedade brasileira a concepção de que quem deveria cuidar e educar os filhos eram as mães, - e infelizmente ainda há quem pense dessa forma, o momento em que a mulher se insere no mercado de trabalho causa uma importante mudança na estrutura social. O trinômio mulher-trabalho-criança foi solucionado, num primeiro momento, com as “criadeiras” ou “fazedoras de anjos”, mulheres que eram pagas para cuidar das crianças das mães que cumpriam sua jornada no meio fabril. No fim da década de 1980, para lidar com a questão dos “filhos da escravidão”, a pobreza e mortalidade infantil, são criadas as primeiras instituições de amparo à criança. Segundo Kuhlmann,

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Fundamentação | Espaço CRIAR: criança, imaginação, arquitetura [...] a creche, para as crianças de zero a três anos, foi vista como muito mais do que um aperfeiçoamento das Casas de Expostos, que recebiam as crianças abandonadas; pelo contrário, foi apresentada em substituição ou oposição a estas, para que as mães não abandonassem suas crianças. (KUHLMANN, 1998 apud MENDES, 2015)

No Brasil, as creches foram as entidades criadas para cuidar dos bebês de zero a três anos, filhos de pais das classes menos favorecidas. Enquanto que os jardins de infância, eram voltados aos cuidados dos filhos da elite e diferiam das creches pois estes possuíam caráter pedagógico, visando o desenvolvimento educacional de seus integrantes. Até as primeiras décadas do século XX, segundo Paschoal e Machado (2009), as creches possuíam caráter assistencialista e paliativo, objetivando diminuir as complicações causadas pelo crescimento urbano e a falta de infraestrutura, como a mortalidade e criminalidade. “A preocupação era alimentar, cuidar da higiene e da segurança física, sendo pouco valorizado um trabalho orientado à educação e ao desenvolvimento intelectual e afetivo das crianças”. (OLIVEIRA, 2007 apud Paschoal e Machado, 2009) Nota-se que no fim do século XIX e início do XX, o bebê e a criança começam a ser vistos como cidadãos, com necessidades e direitos. São criados o IPAI, em 1899, e Associação das Damas da Assistência à infância, em 1908, e em 1922 o Primeiro Congresso Brasileiro de Proteção à Infância cria as primeiras regulamentações do atendimento de crianças pequenas em escolas maternais e jardins-de-infância.

A década de 1920, marcada por revoluções trabalhistas, influenciou no aumento das instituições da primeira infância. Segundo (OLIVEIRA, 2007 Apud Paschoal e Machado, 2009) em 1921 e 1924 apontavam um crescimento de 15 para 47 creches e de 15 para 42 jardins de infância em todo país. A partir dos anos 1950, e ao longo das próximas décadas, a participação feminina no meio de trabalho cresce significativamente, como percebemos no gráfico abaixo, acompanhada do aumento da demanda por equipamentos de assistência à infância e das exigências desses como um direito a todas as mulheres, independentemente, segundo Paschoal e Machado, de sua necessidade de trabalho ou econômica.

Gráfico 1: Taxas de participação na PEA, por sexo, Brasil – 1950-2010. Fonte: Censos demográficos do IBGE.

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Contexto Histórico | Espaço CRIAR: criança, imaginação, arquitetura Em 1961, é aprovada a Lei das Diretrizes e Bases da Educação Nacional, a qual incluía o Jardim de Infância no sistema de ensino. Entretanto, até meados da década de 1970, o nível do ensino era pouco discutido, e havia uma diferença bastante significativa do ponto de vista de como eram tratadas as crianças de diferentes classes sociais. As creches públicas procuravam superar as carências existentes principalmente na saúde e nutrição, enquanto as instituições particulares eram de cunho pedagógico e objetivavam preparar a criança pequena para a fase escolar, e o meio social. [...] enquanto as crianças das classes menos favorecidas eram atendidas com propostas de trabalho que partiam de uma idéia de carência e deficiência, as crianças das classes sociais mais abastadas recebiam uma educação que privilegiava a criatividade e a sociabilidade infantil. (KRAMER, 1995 apud PASCHOAL e MACHADO, 2009, p.84)

A criança passa a ser reconhecida como indivíduo de direitos a partir da Constituição de 1988, que garantia uma educação de qualidade desde o nascimento, compreendendo como Educação Infantil o cuidado e educação de bebês de zero a três anos, em creches, e de quatro a seis anos, nas pré-escolas. Mais um instrumento, O Estatuto da Criança e do Adolescente, de 1990, segundo Ferreira (2000, p. 184 apud Paschoal e Machado) [...] Serviu ainda como base para a construção de uma nova forma de olhar a criança: uma criança com direito de ser criança. Direito ao afeto, direito de brincar, direito de querer, direito de não querer, direito de conhecer, direito de sonhar. Isso quer dizer que são atores do próprio desenvolvimento.

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Já em meados dos anos 1990, discute-se uma série de regras e diretrizes voltadas aos profissionais educadores da criança pequena. Através da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, 1996, a educação infantil torna-se a primeira etapa da Educação Básica. As figuras a seguir são linhas do tempo que representam o processo pelos quais as creches e jardins de infância passaram no decorrer do tempo, na Europa, e no Brasil.


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Imagem 1:Linha do Tempo desenvolvimento escolar da primeira infância na Europa. Fonte: Autora.

Imagem 2:Linha do Tempo desenvolvimento escolar da primeira infância no Brasil. Fonte: Autora.

Vemos assim, que o bebê e a criança pequena, vem ao longo de um período de mais de cem anos conquistando seu espaço no cenário brasileiro, tal qual as instituições a eles destinadas. O berçário, como instituição, torna-se então de cunho social, no que diz respeito à conquista e colocação das mulheres e dos bebês; cunho pedagógico, compreendendo o papel dos educadores de educar, e impulsionar o desenvolvimento social e cognitivo, juntamente com as famílias. Analisando as transformações pelas quais o berçário passou no decorrer dos tempos, percebemos que hoje a importância de uma nova forma de se pensar o berçário, considerando o poder que o espaço exerce sobre o desenvolvimento do bebê. A arquitetura sendo pensada e direcionada para o público de zero a três anos, priorizando suas necessidades e peculiaridades. 17


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A Demanda

Diversos fatores influenciam sobre a demanda pelos equipamentos voltados à educação da primeira infância. Podemos destacar a urbanização, a inserção feminina no mercado de trabalho, fatores quantitativos, como taxas de mortalidade infantil e fecundidade, entre outros. Sabe-se que o Brasil sofreu, por um período, com doenças infecciosas e altas taxas mortalidade infantil. Contudo, a partir dos anos 1940 começamos a notar queda na mortalidade, como vemos na tabela abaixo. A diminuição da mortalidade infantil, indica aumento do número de bebês e crianças.

A partir da década de 1950 houve aumento do número de mulheres no mercado de trabalho. Essa participação das mulheres na economia não parou de crescer desde então, como notamos na tabela a seguir. Como consequência temos o aumento da demanda por equipamentos voltados à educação da primeira infância. Contudo, como dissemos anteriormente e é reiterado pela administradora executiva da Abrinq, Heloísa Oliveira, os berçários só passaram a ser reconhecidos como parte da educação básica há poucos anos, e considerando o contexto histórico apresentado, sabemos que as conquistas não foram fáceis. Hoje, Mais da metade das famílias no Brasil são chefiadas por mães que precisam trabalhar e não têm a opção de ficar em casa. Elas utilizam soluções alternativas, deixando as crianças com filhos mais velhos e vizinhos. O que a acontece é que essas crianças ficam muito mais expostas à violação de direitos. (OLIVEIRA, 2017, disponível em: http://www.opovo.com.br/noticias/fortaleza/2017/03/quase-70-das-criancas-de-0-a-3-anos-nao-tem-acesso-a-creche-na-capita.html, Acesso em: Março/2017)

Tabela 01: Taxa de Mortalidade Infantil - Fonte: http://www.ibge.gov.br/home/ estatistica/populacao/evolucao_ perspectivas_mortalidade/ evolucao_mortalidade.pdf

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A Demanda | Espaço CRIAR: criança, imaginação, arquitetura Segundo Heloísa, uma das metas do Plano Nacional de Educação é de que 50% das crianças entre 0 e 3 anos tenham vaga assegurada em creche, até 2024. Entretanto, sabemos que existe uma desigualdade regional no quesito cobertura de creches, como vemos no gráfico:

Gráfico 02: Taxa de Cobertura em creche - Fonte: http://www.opovo.com. br/noticias/fortaleza/2017/03/quase-70-das-criancas-de-0-a-3-anos-nao-tem-acesso-a-creche-na-capita.html

Segundo a PNAD/IBGE, desde 2005 há crescimento constante do número de crianças matriculadas em creches, atingindo 3,5 milhões, ou seja , 30,4%, em 2015 como mostra a tabela

Gráfico 03: Crianças matriculadas em creche no Brasil Fonte: http://www.observatoriodopne.org.br/metas-pne/ 1-educacao-infantil/indicadores

Os dados do IBGE também chamam atenção para a desigualdade de classes, sendo que os 25% mais ricos possuem 52,3% de suas crianças pequenas em creches (berçários), enquanto para os 25% mais pobres, o número cai para 21,9%. Essa é uma triste realidade do Brasil que perdura desde o início das instituições de cunho infantil, e precisa ser solucionada. Em contrapartida, não há discrepâncias quando são comparadas as cores de pele, bebês brancos, e bebês negros. 19


A Demanda | Espaço CRIAR: criança, imaginação, arquitetura Podemos perceber que o crescimento constante de crianças de Os gráficos a seguir destacam a população de zero a três anos que zero a três anos com acesso à escola, indica que caminhamos em frequentam ou não a Educação Primária, no Brasil e em São Paulo: direção à meta. Assim sendo, o objetivo deste trabalho de pensar um espaço destinado a esse público, se faz ainda mais sensato.

Gráfico 04: População de 0 a 3 anos por acesso à escola - Fonte: http://www. observatoriodopne.org.br/metas-pne/ 1-educacao-infantil/indicadores

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Gráfico 05: População de 0 a 3 anos por acesso à escola - Comparativo Brasil/ São Paulo - Fonte: http://www.observatoriodopne.org.br/metas-pne/1-educacao-infantil/indicadores


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Entendendo o Público alvo

O berçário (ou creche) atende crianças de zero a três anos de idade, como já especificamos anteriormente. Este é o período mais sensível do desenvolvimento emocional, intelectual e físico do bebê. Uma fase de aprendizado rápido, e autoconhecimento na qual as experiências o formam como pessoa.

Todos os educadores que trabalham com o cuidado de crianças precisam entender a importância educacional de seu trabalho, para que as experiências das crianças pequenas, das quais eles cuidam, sejam não somente satisfatórias em si mesmas, mas promovam qualidades como curiosidade, criatividades, concentração e persistência em face de dificuldades, o que será útil a elas nos anos seguintes na escola (GOLDSCHMIED E JACKSON, 2006, p.27 apud CRUZ, 2012)

Para Bock (1999, apud Cruz, 2012), a criança conquista o universo que o rodeia através da percepção e dos movimentos que são possibilitados pelo desenvolvimento fisiológico e neurológico um tanto acelerados nesta fase. Compreendemos portanto, porque as crianças estão sempre se movimentando, tudo para elas é algo novo e que vale o interesse. A relação com outras pessoas, outras crianças e com o meio pode ser ainda mais estimulante para o bebê. São essas interações que irão contribuir e ensinar o pequeno a ser. Ser como indivíduo, e ser como grupo social o qual ele faz parte. Além dos relacionamentos humanos, o bebê depende nessa fase de estímulos (psicomotores, orais, e visuais) e se faz bastante importante a questão da rotina, e alimentação.

Por isso, a importância de fazer do berçário um ambiente seguro e estimulante onde o bebê possa realizar suas atividades de forma livre, e prazerosa com orientação pedagógica, propondo espaços adequados como salas de atividades, salas de recreação, espaços multimídia, pátios cobertos e descobertos - permitindo o contato com a natureza - salas de descanso, refeitório, entre outros.

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Abordagem Emmi Pikler foi uma pediatra Hungara que fundou uma associação de amparo às crianças abandonadas, logo Pikler após a Segunda Guerra. A partir disso, estudou e desenvolveu uma proposta de cuidados para bebês e crianças pequenas, hoje reconhecida como abordagem Pikler, ou método de Lóczi. Este método defende o potencial dos bebês e crianças pequenas, até 3 anos, em conhecer o mundo através do movimento livre, em um ambiente acolhedor, seguro e rico em experiências. Destaca-se a importância da autonomia da criança, das relações humanas, e com o mundo. Segundo Freitas, mestre em Educação, Apoiada em princípios que valorizam a atividade autônoma da criança, relação afetiva privilegiada, a consciência de si mesma e do seu entorno, além de um bom estado de saúde física e de bem estar corporal, essa abordagem mostra que não se pode desconhecer a importância das primeiras experiências de vida que ocorrem durante o cuidado cotidiano disponível em: http:// cursosextensao.usp.br/pluginfile.php/51518/mod_resource/content/1/freitas_anita_atencao-pessoal-aos-bebes.pdf l, Acesso em: Julho/2017)

Para a autora, são nesses momentos de relação intensa entre a pessoa adulta e a criança que ambas se nutrem afetivamente, contribuindo para a constituição de um ambiente saudável, seguro e estável que permite ao pequeno explorar, brincar, conhecer e conhecer-se.

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Na interação, o bebê aprende sobre si e sobre o outro, constrói a sua identidade e, nesse processo, torna-se cada vez mais independente e autônomo. (PIKLER apud FREITAS, 2011) disponível em: http://cursosextensao.usp.br/pluginfile.php/51518/ mod_resource/content/1/freitas_anita_atencao-pessoal-aos-bebes.pdf. Acesso em Julho de 2017 As ideias de Pikler reconhecem a atividade das crianças desde o nascimento, sendo protagonistas de suas próprias ações, e indivíduos providos de necessidades e vontades particulares. Concluimos assim, que a educação padronizada não se faz eficiente, já que reconhecemos o potencial individual de cada uma. Em um lugar favorável às descobertas, onde a curiosidade seja despertada e haja a liberdade e cuidado na medida certa, a criança pequena se descobre e descobre o mundo a sua volta, desenvolvendo-se do seu jeito e no seu próprio tempo.


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Importância do Ambiente

Qualidades Agradáveis

No decorrer deste viemos defendendo a visão de que o projeto do ambiente de ensino deve ser pensado de acordo com seu público-alvo, e de que a arquitetura tem o poder de catalisar o desenvolvimento da criança. Para Dóris Kowaltowski, autora do livro Arquitetura Escolar o projeto do ambiente de ensino, o ambiente físico é também um professor, e defende que o projeto arquitetônico deve conversar com o pedagógico. Entretanto,

Para um ambiente escolar, é muito importante que o “lugar” seja então concebido de acordo com os melhores critérios de conforto possíveis.

[...]Ainda construímos escolas como fazíamos a cem anos, embora o mundo tenha mudado muito. Isso é particularmente grave no caso das creches, onde apesar de atendermos bebês, na maioria dos casos replicamos o modelo das escolas tradicionais que atendem adolescentes e jovens. (CEPPI, et al, 2013)

Devemos considerar que o grupo estudado descobre o ambiente através dos movimentos, tendo uma atividade física bastante elevada e possui um equilíbrio hemodinâmico corporal bastante sensível. Isto é, a criança sofre os efeitos das variações de temperatura com muita intensidade, segundo Blower e Azevedo.

Na arquitetura, como é sabido, diversos fatores impactam no comportamento do usuário, como luz, sombra, temperatura, som, cores e texturas, ventilação, qualidade do ar, espacialidade, etc. O conforto ambiental é um conjunto de variáveis que qualificam o ambiente, tornando-o agradável em relação à visão, audição e temperatura. Há, portanto, uma série de parâmetros que precisam ser respeitados. Tais parâmetros variam com a idade, e por isso, segundo Blower e Azevedo, as sensações, percepções, cognições, também são diferentes, e muitas vezes não são conscientemente percebidas, porém, mesmo inconscientemente, faz com que sejam criadas relações de afeto, e o ambiente torna-se então um “lugar”.

A experiência infantil nesses ambientes, as sensações captadas e interiorizadas, mediadas por sua condição sócio-histórica estarão atuando na valorização ambiental por parte desses usuários e, em última análise na sua formação. A vivência e a experiência nestes ambientes estarão impregnando a criança com impressões, sentimentos e transformações determinantes de seu presente e futuro. (BRASIL 2006 apud BLOWER E AZEVEDO, 2008)

O fator sonoro também interfere na percepção do ambiente. Deve-se considerar que as crianças do grupo em questão estão em fase de aprendizado da fala, e por isso quanto menor a interferência de ruídos externos, melhor será o desenvolvimento e compreensão da fala, além de menor estresse e agitação. Embora por fatores fisiológicos as crianças tenham menor necessidade de iluminação para desenvolver atividades internas do que os adultos (BLOWER e AZEVEDO), a iluminação é importante a medida que aguça o sentido da visão, 23


Importância do Ambiente | Espaço CRIAR: criança, imaginação, arquitetura A aprendizagem visual é dependente, não apenas do olho, mas também da capacidade do cérebro de realizar suas funções, de aprender qualquer informação vinda dos olhos, codificando, selecionando e organizando em imagens, e armazenando para associação com outras mensagens sensoriais ou para relembrar mais tarde. A capacidade do funcionamento visual depende de desenvolvimento – quanto mais a criança olha, mais estimula os canais cerebrais. (BARRAGA 1976 apud BLOWER e AZEVEDO 2008, p.7)

A qualidade do ar deve ser levada em conta, considerando ventilação natural e processo de renovação do ar, ligados as aberturas do edifício - tipos e dimensionamentos; características construtivas; orientação da implantação- e às características do meio - temperatura; direção dos ventos; poluição; zona urbana; etc. De acordo com Blower e Azevedo, as crianças são mais suscetíveis à poluição pela sua estatura e por brincarem no chão, e quando tem seu aparelho respiratório afetado, podem desenvolver problemas de sono, memória, humor, tornando-as muitas vezes extremamente agitadas ou solitárias. Ao observarmos os bebês notamos que a maior parte do tempo eles observam, atentos, tudo o que acontece ao seu redor, todos os movimentos. Já um pouco maiores, os pequenos querem pegar tudo que está ao seu alcance. CEPPI et al (2013), afirmam que crianças nesta fase tem alto nível de sensibilidade e percepção em termos do espaço. Eles conseguem analisar e distinguir a realidade através de seus receptores sensoriais ao invés da visão ou audição. 24

Por isso iluminação, cores, elementos olfativos, auditivos e táteis contribuem muito para o reconhecimento do espaço. Além disso, deve-se dar atenção a elementos como teto, paredes, piso e panos de fundo, pois bebês passam longos períodos deitados, ou sentados no chão. (CEPPI et al, 2013 p.124).


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Design e Ergonomia

A Ergonomia objetiva modificar os sistemas de trabalho para adequar a atividade nele existente, às características habilidades e limitações das pessoas com vistas ao seu desempenho eficiente, confortável e seguro. (ABERGO, 2000 apud BERNARDO et al, 2012). Em se tratando da criança, a ergonomia está relacionada ao brincar e estudar, e para tanto os objetos de brincar e mobiliários encontrados no ambiente do berçário devem seguir.

Para OLIVEIRA (2013), tomando como base as divisões sugeridas por Piaget, os mobiliários-brinquedos projetados para crianças até dois anos devem ter texturas variadas e ser de fácil movimentação, com possibilidade de montagem e tamanhos variados. Para as crianças de dois a três anos, deve-se apostar em peças de encaixar e desmontar, na utilização das cores primárias (que já começam a ser identificadas por elas), e os sons através do movimento induzem a coordenação motora.

Sabendo que o maior desenvolvimento psicomotor se dá na infância, a adoção de dimensões antropométricas adequadas é fundamental para não expor a criança a riscos, e não haja complicações fisiológicas futuras, e para que seu desenvolvimento seja pleno.

Identificamos na tabela abaixo medidas básicas para crianças, segundo NEUFERT (A Arte de projetar em Arquitetura, 2013 Ed. 18º. Vale ressaltar que essas medidas não são básicas, e portanto podem variar de indivíduo para indivíduo.

Jean Piaget considera quatro períodos no processo do desenvolvimento da criança. O primeiro ocorre na faixa etária de zero a dois anos, podendo variar um pouco de acordo com a individualidade de cada uma, e é caracterizado como sensório-motor

IDADE ALTURA (cm) ALTURA DOS OLHOS ALCANCE DO BRÇO

1

2

3

75

85

94

64

74

83

30

36

42

Tabela 02 - Medidas básicas de crianças. Fonte: Neufert - Autoria: própria

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Importância do Ambiente | Espaço CRIAR: criança, imaginação, arquitetura Podemos então, concordar com KOWALTOLWSKI (2011), A humanização é justamente isso: deveríamos projetar para as pessoas e não para a forma. E isso não significa funcionalidade. Funcionalidade é projetar para as necessidades básicas das pessoas. A humanização vai além: é projetar para as percepções e diversidades das pessoas e para que o ambiente seja apreciado e, por que não, amado. Se não levarmos isso em conta, é melhor não projetar. (KOWALTOLWSKI, 2011, Qual a relação entre arquitetura e apredizagem-http://portal.aprendiz.uol.com.br/arquivo/2011/10/06/arquitetura-da-escola-deve-dialogar-com-o-projeto-pedagogico-afirma-arquiteta/ Acesso em: 29/03/2017

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Diretrizes e Normas

Para a construção de creches não há legislação específica, entretanto diretrizes estaduais e o código de obras devem ser levadas em consideração. Consideramos as normas brasileiras de acessibilidade - NBR 9050; Norma de segmentos e artigos escolares NBR15236/2009; Norma de móveis escolares - NBR14006/2008 Para Neufert, Centros de educação infantil devem misturar assistência das crianças em grupo e tempos de permanência. As creches recebem crianças em idade de até 3 anos, sendo necessárias salas de atividades em grupo, com uma área mínima de 2,5m² por criança e com setorização do ambiente em três possíveis formatos:

Relação Direta Guarda roupa

Sala de Ativ.

Sanitário

Relação Direta e Indireta Guarda roupa

Relação Indireta Guarda roupa

Sala de Ativ.

Sala de Ativ. Acesso Acesso

Sanitário

Sanitário 27


Diretrizes e Normas | Espaço CRIAR: criança, imaginação, arquitetura

Mobiliários Escolares

Segundo o manual do MEC e catálogos do FDE, os mobiliários para este público nesta faixa etária seguem a nomenclatura CJA01, para crianças com altura máxima de 1,17. Assim, para o projeto foram escolhidos mobiliários de dimensões .0 (1 a 2 anos) e .1 (3 anos) conforme imagens abaixo: Mesinhas .0 (altura =40cm) .1 (altura= 46cm) Cadeirinhas .0 (altura =21cm) .1 (altura= 26cm) Berço (L x A xP = 67cm x 100cm x 120cm) Cama (L x A xP = 127cm x 28cm x 67cm)

Mobiliário . Educação Infantil CJA-01 Modelo FDE*

CJA-01

DESCRIÇÃO Conjunto aluno tamanho 1 Indicado para usuários com estaturas de 0,93m a 1,16m

ATENÇÃO! Todo o conjunto deve possuir obrigatoriamente selos INMETRO de identificação da conformidade de acordo com a Portaria INMETRO nº 105 de 06/03/12

Todo o conjunto deve possuir etiqueta de identificação do padrão dimensional, que relaciona os tamanhos dos móveis às estaturas dos usuários.

Espaldar

Etiqueta de identificação do padrão dimensional

Selo INMETRO de Identificação da Conformidade

Tamanho 1

LARANJA Altura do aluno

0.93 a 1.16m

Tamanho 1

LARANJA Altura do aluno

0.93 a 1.16m

etiqueta de identificação do fabricante / fornecedor

etiqueta de identificação do fabricante / fornecedor Vista posterior da cadeira

Coluna lateral

Vista lateral direita da mesa

IDENTIFICAÇÃO DO FABRICANTE / FORNECEDOR

Todos os itens são fornecidos com etiqueta de identificação auto-adesiva colada na parte inferior do tampo e do assento, contendo: • Nome do fornecedor • Nome do fabricante • Imagem Logomarca fabricante . educação 03:doMobiliário Imagem 04: Mobiliário . educação inf• Endereço / telefone do fornecedor Fonte: www.fnde.gov.br/pornatil - Fonte: http://www.metadil.com. • infnatil Data de-fabricação taldecompras/index.../16-produtos?... br/categoria.php?categoria=6&Ber%• Nº do contrato • mobiliario-infantil...cja01 Garantia C3%A7%C3%A1rio • Código do móvel

EMPILHAMENTO Máx.

3

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As cadeiras podem ser empilhadas em até 3 unidades.

ACOPLAMENTO

As mesas podem ser usadas em conjunto,

CONSERVAÇÃO E LIMPEZA

Para conservação e limpeza do mobiliário sugere-se adotar as seguintes rotinas e procedimentos: • Utilizar um pano levemente umedecido em água e sabão ou água e detergente neutro; • Empilhar as mesas e cadeiras para limpeza

ATENÇÃO! 1. Nunca utilizar produtos abrasivos, como sapóleos, esponjas de limpeza “Scoth Brite” ou palha de aço tipo “Bombril”. 2. Nunca utilizar mangueira ou balde d’água para lavar o mobiliário. 3. Para eliminação de manchas aplicar técnicas e produtos adequados para cada tipo de material. 4. Em caso de manchas provocadas por tinta de caneta esferográfica

GARANTIA

O item de mobiliário CJA-01 tem garantia de 2 anos contra defeitos de fabricação. No recebimento dos produtos, caso estes apresentem algum dos defeitos abaixo discriminados, acione o gestor do seu contrato: • ausência das etiquetas de identificação do padrão dimensional; • ausência das etiquetas de identificação do fabricante / fornecedor; • ausência ou má fixação de ponteiras ou sapatas nas mesas e cadeiras;


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Estudos de Caso

Com a finalidade de aumentar o repertório projetual, entender mais sobre as necessidades programáticas das creches, conhecer as diferenças de arquiteturas em diferentes partes do mundo, este capítulo seleciona alguns projetos arquitetônicos que contribuiram para a concepção do projeto final deste trabalho, o Espaço CRIAR. Serão apresentados: Berçário Primetime em São Paulo; o projeto Flor+Jardim de Infância, na Coréia do Sul; Creche de Tempo Compartilhado, na Eslovênia.

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Berçário PrimeTime

Situado no bairro do Morumbi, este é o primeiro projeto voltado exclusivamente para crianças de zero a três anos, no Brasil.

ano: 2007

Em uma área adensada, residencial e de gabarito alto, os arquitetos optaram por não extrapolar 3 pavimentos. O edifício se dá através da sobreposição de 3 blocos de concreto, nos quais a materialidade, os balanços, e a estrutura dão uma leveza à proposta geométrica, além de criar pátios cobertos. Os arquitetos trabalham as cores, de forma que o local seja atrativo e estimulante, além de servirem para segregar funções. Por exemplo no volume laranja funcionam a cozinha e o refeitório, enquanto no bloco amarelo estão a sala de uso múltiplo e o palco. Os grandes volumes que se projetam para fora do edifício, em balanço também podem ser identificados por seus tamanhos e cores, sendo o volume menor visto na entrada principal, a sala de reuniões, e o volume maior, visto da Rua José da Silva Ribeiro, a sala de recreação.

Studio mk27

Imagem 05: Berçário Primetime - Fonte: studio mk27

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PrimeTime | Espaço CRIAR: criança, imaginação, arquitetura Todos os pavimentos são ligados por rampas, para facilitar a locomoção dos bebês e dos educadores. O térreo situa apenas a rampa, que distribui o programa para um nível intermediário, onde ficam as crianças que andam, e no nível superior ficam os bebês. Abaixo da rampa, há colchonetes transformando-se em biblioteca, onde as crianças podem ficar a vontade com os livros. O bloco principal, mais estreito, possui a fachada sul transparente onde se dá a rampa de circulação, entretanto uma empena de cor amarela percorre todos os pavimentos trazendo a privacidade necessária aos usuários.

Imagem 06: Vista fachada Sul e rampa - Fonte: Studio mk27

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A fachada norte é trabalhada com chapas metálicas perfuradas, que funcionam como brise soleil durante o dia, trazendo conforto para a sala de recreação e sala de dormir. Durante a noite torna-se iluminada, chamando atenção dos passantes. Houve total preocupação com o ponto de vista do bebê e criança pequena na concepção deste edifício, desde as aberturas, até os mobiliários foram desenhados especificamente considerando o olhar dos pequenos indivíduos. Nas áreas em que eles brincam no chão, o piso é aquecido e recebeu tratamento de laminado vinílico.

Imagem 07: Vista pátio de brincar e casinha de boneca Fonte: Studio mk27

Imagem 08: Vista sala de atividades - Fonte: Studio mk27


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01 praça de acesso _ pick up / drop off area 02 portaria _ sentry box 03 vestíbulo _ entrance hall 04 recepção _ reception 05 circulação _ hallway 06 biblioteca _ library 07 casa de bonecas _ kids sized doll house 08 pátio de brincar com água _ water play 09 pátio de brincar _ playground 10 pátio coberto _ covert area 11 sanitário infantil _ infant restroom 12 sanitário deficientes _ handicap restroom 13 refeitório _ cafeteria 14 cozinha _ kitchen 15 despensa _ pantry 16 sala de uso múltiplo _ multi purpose room 17 palco _ stage 18 apoio de serviço _ utility room 19 área técnica _ equipments 20 depósito _ storage 21 depósito de lixo _ garbage storage

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planta térreo _ groundfloor 1:200 0

1

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Imagem 09: Planta térreo - Fonte: Studio mk27

Imagem 11: Plata segundo pavimento - Fonte: Studio mk27 Imagem 10: Planta primeiro pavimento - Fonte: Studio mk27

Imagem 13: Corte - Fonte: Studio mk27 Imagem 12: Elevações - Fonte: Studio mk27

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Flor+Jardim Situado na capital da Coréia do Sul, cidade de Seul, este projeto construído pelo arquiteto Jungde infância min Nam em 2015 objetivava oferecer um ambienJungmin Nam ano: 2015

te educacional de qualidade, aproveitando ao máximo a natureza e as áreas livres do entorno. Construído em uma área consolidada na densa cidade de Seul, o arquiteto trabalhou em um terreno pequeno, em área predominantemente residencial, onde é fácil o reconhecimento do edifício, que possui características próprias, destacando-se do entorno, pela sua forma e cores, ao passo que conversa com o mesmo.

Imagem 14: Fachada Flor + Jardim de Infância - Destaque do edifício em relação ao entorno - Fonte: Archdaily. Disponível em: http://www.archdaily.com.br/br/791854/ jardim-de-infancia-jungmin-nam/56d3ac03e58ece504c0000ee-flower-plus-kindergarten-oa-lab-photo

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O programa é distribuído por 5 pavimentos, e dois subsolos, sendo que cada pavimento possui 3 salas de aula e uma sala multiuso, que torna o espaço dinâmico a medida que são rotacionadas a cada nível. Desta forma a circulação torna-se mais um atrativo. O arquiteto se utiliza das cores para identificar cada pavimento, e através das janelas das salas de aulas as cores são percebidas no nível da rua. Isso incentiva as crianças à sensibilidade cromática além de ajudá-las a identificar os espaços.

Imagem 15: Ambiente interno - Identificação dos pavimentos por mudança de cor - Fonte: Archdaily. Disponível em: http://www.archdaily.com.br/br/791854/jardim-de-infancia-jungmin-nam/56d3acc5e58ece504c0000f4-flower-plus-kindergarten-oa-lab-photo

Imagem 16: Área verde interna - Fonte: Archdaily. Disponível em: http://www.archdaily.com.br/br/791854/jardim-de-infancia-jungmin-nam/56d3ac03e58ece504c0000ee-flower-plus-kindergarten-oa-lab-photo


Flor + Jardim de Infância | Espaço CRIAR: criança, imaginação, arquitetura

Imagem 17: Plantas- Fonte: Archdaily. Disponível em: http://www.archdaily.com. br/br/791854/jardim-de-infancia-jungmin-nam/56d3adb1e58ece504c0000f8-flower-plus-kindergarten-oa-lab-plans

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Flor + Jardim de Infância | Espaço CRIAR: criança, imaginação, arquitetura

Imagem 18: Corte AA - Fonte: Archdaily. Disponível em: http://www.archdaily.com.br/ br/791854/jardim-de-infancia-jungmin-nam/ 56d3af45e58ece504c000102-flower-plus-kindergarten-oa-lab-section

Imagem 19: Diagrama Explodido - Fonte: Archdaily. Disponível em: http://www.archdaily.com. br/br/791854/jardim-de-infancia-jungmin-nam/ 56d3adefe58ece504c0000fa-flower-plus-kindergarten-oa-lab-diagram

Imagem 20: Fachada de flores - Fonte: Archdaily. Disponível em: http://www.archdaily.com.br/ br/791854/jardim-de-infancia-jungmin-nam/ 56d3adefe58ece504c0000fa-flower-plus-kindergarten-oa-lab-diagram

Nas fachadas são trabalhados um método de plantio através de painéis de bolso, nos quais as crianças podem ter contato com a natureza e o cultivo, além de trazer dinamismo ao edifício, ao passo que no inverno as plantas não florescem. Imagem 21: Elevação desdobrada e painéis de plantio - Fonte: Archdaily. Disponível em: http:// www.archdaily.com.br/br/791854/jardim-de-infancia-jungmin-nam/56d3ae5fe58ece504c0000fd-flower-plus-kindergarten-oa-lab-diagram

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Tempo Compartilhado

Arhitektura Jure Kotinik ano: 2015

Situado na Alemanha, este projeto foi criado visando a interação, aprendizagem igualitária e auto aprendizado. Para isso, possui a planta livre e abre as paredes internas envidraçadas, permitindo uma ampla área para as atividades. Os espaços são conectados por portas de correr, seguindo a filosofia de “todos em todo lugar”. O programa conta com 8 salas de uso múltiplo nas quais diferentes tipos de atividades são possiblitadas pelos mobiliários e pelo layout. As crianças escolhem suas atividades, buscando a sala que tenha o enfoque da atividade desejada. Este formato mais livre, e o convívio multietário, sem as separações comumente utilizadas em creches, permite que haja mais contato social, influenciando no desenvolvimento das habilidades sociais, emocionais e intelectuais.

Imagem 22: Perspectiva creche de tempo compartilhado - Fonte: https://www.archdaily.com. br/br/784463/jardim-infantil-de-tempo-compartilhado-smartno-arhitektura-jure-kotnik

Imagem 23: Fachada principal- Fonte: Archdaily. Disponível em: https://www.archdaily.com.br/ br/784463/jardim-infantil-de-tempo-compartilhado-smartno-arhitektura-jure-kotnik

Imagem 24: Núcleo escada escorregador- Fonte: Archdaily. Disponível em: https://www.archdaily. com.br/br/784463/jardim-infantil-de-tempo-compartilhado-smartno-arhitektura-jure-kotnik

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Tempo Compartilhado | Espaço CRIAR: criança, imaginação, arquitetura

O edifício possui um núcleo central, onde estão as circulações, escadaria colorida e escorregador que levam de um pavimento ao outro. No térreo, o núcleo ecada+escorregador, setoriza de um lado as áreas de administração e serviços e do outro estão as salas de atividades. Os sanitários são estrategicamente posicionados entre duas salas. No primeiro pavimento a configuração do espaço é a mesma, entretanto há uma sala de uso compartilhado cujo acesso pode ser externo para uso da comunidade local.

Imagem 25: Diagrama comparativo entre o tempo compartilhado e não compartilhado. Relações e contatos interpessoais- Fonte: Archdaily. Disponível em: https://www.archdaily.com.br/ br/784463/jardim-infantil-de-tempo-compartilhado-smartno-arhitektura-jure-kotnik/564d44fee58ece4d730002db-smartno-timeshare-kindergarten-arhitektura-jure-kotnik-detail garten-oa-lab-diagram

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Imagem 26: Planta térreo- Fonte: Archdaily. Disponível em: https:// www.archdaily.com.br/br/784463/ jardim-infantil-de-tempo-compartilhado-smartno-arhitektura-jure-kotnik/564d44fee58ece4d730002db-smartno-timeshare-kindergarten-arhitektura-jure-kotnik-detail garten-oa-lab-diagram

Imagem 27: Planta pavimento 1- Fonte: Archdaily. Disponível em: https://www.archdaily.com.br/ br/784463/jardim-infantil-de-tempo-compartilhado-smartno-arhitektura-jure-kotnik/564d44fee58ece4d730002db-smartno-timeshare-kindergarten-arhitektura-jure-kotnik-detail garten-oa-lab-diagram


O Projeto ArquitetĂ´nico 39


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Localização Diretrizes

Quando pensamos no contexto estudado, e no que seria a localização ideal para um berçário em São Paulo, pensamos em: facilidade de acesso por meio do transporte público; tranquilidade do entorno; entorno de gabarito não muito alto; e surgiu a dúvida entre zona mais residencial, para facilitar o dia a dia da criança pequena, ou uma zona predominantemente de serviços, onde a criança pudesse passar o dia perto do trabalho dos pais.

Situado na zona Sul, pertencente ao distrito de Santo Amaro, conforme mapa a seguir

Desta forma, optamos pelo bairro do Brooklin, que consideramos um equilíbrio dos fatores acima citados.

Imagem 28: Distrito Santo Amaro - Fonte:Prefeitura de Sp. Disponível em http://www.prefeitura.sp.gov. br/cidade/secretarias/regionais/ santo_amaro

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Localização | Espaço CRIAR: criança, imaginação, arquitetura O Novo Plano Diretor Estratégico para a cidade de São Paulo, proVerificamos que segundo o Anexo integrante da Lei 16.402 de põe uma nova lei de Zoneamento visando melhorias na qualidade de Março de 2016, os berçários ou creches, como são chamados legalvida da população, a partir do equilíbrio de atividades oferecidas por mente se enquadram no tipo de usos não residenciais compatíveis regiões e as infraestruturas existentes. - nR1, sendo permitidos na zona em questão. Segundo o novo Zoneamento, o terreno, localizado na esquina da Rua Bela Vista com a Rua Cancioneiro de Évora, está em uma ZEU que segundo o Plano [...]objetiva a promoção do adensamento construtivo e populacional das atividades econômicas e dos serviços públicos, a diversificação de atividades e a qualificação paisagística dos espaços públicos de forma a adequar o uso do solo à oferta de transporte público coletivo. (PDE, Lei nº 16.050/14)

Imagem 29: Mapa do zoneamento de São PauloFonte:Prefeitura de SP. Disponível em http:// www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/ urbanismo/legislacao/zoneamento/index. php?p=214281nais/santo_amaro

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Terreno

O terreno escolhido situa-se na esquina da Rua Bela Vista com a Rua Cancioneiro de Évora. É interessante perceber que a localização é estratégica: em uma zona de transformação, há intenção de desenvolvimento diverso de atividades e do transporte, como já vem sendo implantada a linha Lilás do transporte Metropolitano de São Paulo, além da proximidade com avenidas importantes - Av. Santo Amaro, Av. Vereador José Diniz, Av. Roque Petroni Junior- e de polos comerciais como o da Av. Engenheiro Luís Carlos Berrini. As imagens que seguem identificam o local em foto aérea, e ao lado a vista 3D nos indica como se dá o gabarito no entorno imediato à quadra. Em seguida, a imagem destaca equipamentos de infraestrutura como transporte, educação e áreas verdes. Imagem 31: Mapa de infraestrutura urbana - Fonte: Autora

Imagem 30: Vista aérea do terreno - Fonte: Autora

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O Projeto | Espaço CRIAR: criança, imaginação, arquitetura Observando o mapa de uso do solo, fica clara a diversidade de usos, sendo que massas amarelas (uso residencial horizontal de médio e alto padrão) ficam mais evidentes, seguidas por quantidades parecidas das cores laranja (residencial/comércio), azul (residencial vertical médio e alto padrão), e vermelho (comércio e serviços). Podemos pontuar a necessidade da criação de áreas verdes e de lazer.

O terreno possui área total de 2647m². Segundo parâmetros legais devem ser respeitados: C.A. mínimo: 0,5 C.A. máximo: 4,0 T.O. : 70% T.P. : 15% Gabarito: Sem limite Recuos: N/A para altura da edificação menor ou igual a 10m.

Imagem 26: Mapa de uso e ocupação do solo - Fonte: Prefeitura de SP. Disponível em http://http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/ upload/desenvolvimento_urbano/005%20-%20QUADRO_3_FINAL. pdf

Imagem 32: Mapa de uso e ocupação do solo - Fonte: Prefeitura de SP. Disponível em http://infocidade.prefeitura.sp.gov.br/index.php?spr=1&type=2&subtit=%20-%20Mapas&cat=46&titulo=Santo%20Amaro

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Espaço CRIAR Criança, Imaginação, Arquitetura Uma creche no Brooklin

Considerando a abordagem Pickler, que defende o potencial que bebês e crianças de até 3 anos possuem em conhecer o mundo e desenvolver-se através do movimento livre e necessidades individuais, este projeto busca conceber um espaço acolhedor, seguro e rico em experiências para crianças nesta faixa etária. O projeto faz da criança o protagonista no espaço, deixando-a livre para fazer o que tem vontade e se desenvolver no seu próprio tempo. Assim, o projeto é embasado em três pilares: Livre brincar; Cuidado com as relações; Valorização da Natureza. Priorizam-se as relações Criança-Espaço; Criança- Natureza; e Criança-Criança. Criança-Espaço: reconhece-se o meio urbano no qual a criança vive e passa grande parte do seu tempo. Desta forma consideramos positivo e necessário o contato da criança com a cidade e da cidade com a criança. Através da translucidez de paredes de vidro na fachada lindeira à praça pública, este contato é proporcionado, e a cidade enxerga o dia-dia, o aprender, o brincar, aprendendo a valorizar este tipo de relação e dando maior importância à educação da primeira infância. Criança-Natureza: A sustentabilidade e vida saudável são tópicos que vem crescendo a cada dia. A importância de uma boa educação desde cedo para fazermos do planeta um local limpo, seguro e saudável. Além da busca de melhor qualidade de vida no meio urbano. Estas são preocupações que nos fizeram criar a praça pública, e espaços verdes e arborizados no pátio do berçário. De forma que a criança sempre tenha contato físico e/ou visual com a natureza e possa desenvolver a consciência do natural. Criança-criança: Segundo a abordagem Pickler, cada criança possui perfil individual de desenvolvimento, e por isso a forma de ensinar não pode ser padronizada. Acreditamos então no desenvolvimento livre por meio de escolhas e experiências em um meio seguro e estimulante, com convivência multietária. Flexibilidade, Fluidez, Continuidade e Liberdade são palavras chave na formação deste luga.

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Implantação

Pensado de forma que as duas fachadas voltadas para a rua fossem tratadas como principais, e promovendo a valorização da esquina, o programa distribui-se em 2 pavimentos, implantados no terreno com a criação de uma praça pública de esquina e ocupação na periferia do lote, o que também permite a formação de um pátio central com maior privacidade para as crianças. A proposta de esquinas arredondadas, e extensões da calçada visam a fluidez do espaço, que também se dá pela materialidade utilizada no muro externo e nas paredes do edifício. Tanto a praça, quanto as extensões da calçada, são um convite à cidade. Um convite a ver, se interessar e entender a criança pequena. O Espaço mostra a criança para a cidade, e a cidade para a criança. Entretanto há certa privacidade pela implantação das árvores. Pensando no conforto térmico e economia, foram planejadas aberturas de dimensões variadas por todo o perímetro: há janelas exclusivas para a altura da criança, outras em que só o adulto pode alcançar, e outras que ambos tem acesso. Imagem 33: Implantação

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Programa e Fluxograma

Buscando suprir as necessidades observadas no entorno, o programa da creche oferece: Ensino; Criatividade; Socialização; Lazer; Conforto; Participação comunitária; e Autonomia: TÉRREO:

PAVIMENTO 1:

Praça - 210m² Recepção - 12m² Sala de Educadores - 20m² Sala de Direção - 12m² Sanitário Acessível - 5,7m² Hall multiuso - 60m² Sala de Troca - 5,4m² Sanitário Infantil - 10,2m² Sanitário Adultos - 13m² Sala de bebês - 57m² Sala das Artes e atividades - 106m² Pátio Coberto - 288m² Refeitório - 64m² Uso múltiplo com Palco - 64m² Cozinha - 41m² Depósito - 19,3m² Copa - 9m² Sanitário Funcionários - 10,2m² Lavanderia - 14m² Apoio de serviços - 22m² Dep. de Lixo - 9m²

Hall uso múltiplo Sala de atividades com biblioteca/ centro comunitário - 142m² Sala de Atividades em grupo - 72m² Sala Multimídia - 90m² Sala de Repouso - 118m² Banheiro Infantil - 17,3m²

Fluxograma térreo

Pátio de brincar Playground Pátio de brincar com Água Pátio de areia Mini horta Parede de escalada Uma rua interna para automóveis passa por dentro do lote, evitando o trânsito que geralmente se forma em horários de entrada e saída em ambientes escolares.

Fluxograma Pavimento 1

Atividades Funcionários Semi privado Circulação Higiene Necessidades

Imagem 34: Fluxogramas - Fonte: autora

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Imagem 35: Planta tĂŠrreo

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O Projeto | Espaço CRIAR: criança, imaginação, arquitetura O térreo possui relação direta para a rua e o espaço público. Permeabilidade e fluidez foram o foco. A continuidade se faz através da transparência no edifício. Parede de vidro voltada à praça externa e portas de vidro de correr, criam um eixo principal que conecta visualmente a praça externa, as salas dos bebês, e sala de artes e atividades, com o pátio coberto e refeitório. A estrutura composta por pilares de concreto e vigas metálicas é solta das fachadas, dando mais leveza ao espaço. No piso vinílico térmico e antimpacto propício às crianças pequenas, formas circulares coloridas se espalham pelo térreo e avançam em algumas paredes. As cores primárias e suas complementares (amarelo, vermelho, azul, verde, laranja, e roxo) foram escolhidas para o fácil reconhecimento e aprendizado das crianças. No pátio, algumas áreas de brincarpossuem piso emborrachado. Os materiais foram escolhidos de forma que o ambiente se tornasse mais acolhedor. Um painel de madeira envolve o edifício no térreo e faz o fechamento da calçada. No primeiro pavimento a mesma linguagem é seguida, porém em forma de brises. Nas paredes externas a técnica de massa raspada é utilizada, dando maior sobriedade ao edifício. Paredes internas com função de separação de ambientes, possuem recortes em diferentes formas, permitindo a visualização entre os ambientes.

Imagem 36: Vista esquina

Imagem 37: Vista praça

Imagem 38: Hall multiuso

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Imagem 39: Sala de bebĂŞs

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Imagem 40: Sala de artes e atividades


Imagem 41: Vista pรกtio

Imagem 42: Escada externa

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Imagem 43: Planta pavimento 1

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O Projeto | Espaço CRIAR: criança, imaginação, arquitetura O primeiro pavimento possui um grande hall de uso múltiplo para as crianças, no qual clarabóias circulares no piso permitem que as atividades que acontecem no piso abaixo sejam vistas. Aqui o conceito compartilhamento se aplica não só as crianças como também a comunidade. A sala de atividades com biblioteca também funciona como um centro comunitário com acesso externo para funcionamento em horários alternativos e finais de semana. Ainda neste piso estão a sala multimídia, sala de atividades em grupo, sala de descanso.

Imagem 44: Interno - hall uso múltiplo

Imagem 45: Sala multimídia

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Imagem 46: Sala atividades com biblioteca - uso compartilhado

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Imagem 47: Sala de repouso


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Imagem 49: Cortes A e B

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Imagem 50: Cortes C e D

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Técnica massa raspada Brises de madeira

Elevação 1 - Rua Bela Vista 1

Painel de madeira Caixilhos recuados - jogo de tamanhos

1 : 250

Elevação 2 - Rua Cancioneiro Évora 2

1 : 250 Imagem 51: Fachadas

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Considerações Finais

Em se tratando de um trabalho de conclusão de curso que tem como objetivo principal a concepção de um projeto arquitetônico embasado no livre brincar; cuidado com as relações e valorização da natureza, onde bebês e crianças bem pequenas tenham um aprendizado personalizado ao invés do ensino padronizado que é oferecido nas creches comuns. Voltado para bebês de zero a três anos, buscamos entender como se deu a história da educação infantil para essa faixa etária, conhecer as necessidades do usuário final, através de levantamentos de artigos na área da pedagogia e psicologia infantil, para então chegarmos ao que consideramos uma arquitetura estimulante diante do ponto de vista da criança pequena. Entendemos a criança como protagonista de suas ações, tendo a liberdade de fazer suas escolhas e realizar as atividades que se interessar. Chegamos então a um desenho de arquitetura em que a cidade olha pra criança e para a escola, e a criança olha para a cidade e reconhece o meio urbano onde vive. As áreas verdes são valorizadas, de maneira que sempre haja contato, físico ou visual com a natureza. Permeabilidade e Fluidez são pontos importantes, além de estímulos formais, visuais, e espaciais necessários ao desenvolvimento nesta fase.

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Espaço CRIAR: criança, imaginação, arquitetura

Lista de Imagens Imagem 01: Linha do tempo educação primeira infância na Europa - p.15 Imagem 02: Linha do tempo educação primeira infância no Brasil - p. 15 Imagem 03: Mobiliário escolar infantil - p. 26 Imagem 04: Mobiliário escolar infantil - p. 26 Imagem 05: Berçário Primetima - p. 29 Imagem 06: vista fachada e rampa - p. 30 Imagem 07: Casinha de bonecas - p. 30 Imagem 08: Sala de atividades - p. 30 Imagem 09: Planta térreo- p. 31 Imagem 10: Planta primeiro pavimento - p. 31 Imagem 11: Planta segundo pavimento- p. 31 Imagem 12: Elevações - p. 31 Imagem 13: Corte - p. 31 Imagem 14: Flor + Jardim de infância fachada- p. 32 Imagem 15: Vista interna - p. 32 Imagem 16: Vista interna - p. 32 Imagem 17: Plantas - p. 33 Imagem 18: corte - p. 34 Imagem 19: Diagrama explodido - p. 34 Imagem 20: Fachada florida- p. 34 Imagem 21: Elevação desdobrada - p. 34 Imagem 22: Tempo compartilhado - p.35 Imagem 23:Fachada - p.35 Imagem 24: Núcleo escada e escorregador - p.35 Imagem 25: Diagrama de comparação (tempo compartilhado x cre-

che comum) - p.36 Imagem 26: Planta térreo Tempo compartilhado - p.36

Imagem 27: Planta pav. 1 Tempo compartilhado - p.36 Imagem 28: Distrito de Santo amaro - p.38 Imagem 29: Mapa de zoneamento - p.39 Imagem 30: Vista aérea do terreno - p.40 Imagem 31: Mapa de infraestrutura urbana - p.40 Imagem 32: Mapa deuso e ocupação do solo - p.41 Imagem 33: Implantação - p.44 Imagem 34: Fluxogramas - p.45 Imagem 35: Planta Térreo - p.46 Imagem 36: Fachada - p.47 Imagem 37: Praça - p.47 Imagem 38: Hall Uso múltiplo - p.47 Imagem 39: Sala de bebês - p.48 Imagem 40: Sala de Artes e atividades em grupo - p.48 Imagem 41: Pátio - p.49 Imagem 42: escada externa - p.49 Imagem 43: Planta pavimento 1- p.50 Imagem 44: Hall Uso múltiplo - p.51 Imagem 45: Sala multmídia - p.51 Imagem 46: Sala de Repouso - p.52 Imagem 47: Sala atividades com biblioteca e centro comunitário -

p.52 Imagem 48: Planta de cobertura - p.53 Imagem 49: Cortes A e B - p.54 Imagem 50: Cortes C e D - p.55 Imagem 51: Fachadas - p.56 63


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Lista de Gráficos Gráfico 01: Taxa de participação da mulher na economia - p. 13 Gráfico 02: Taxa de cobertura em creche em 2015 - p. 17 Gráfico 03: Crianças matriculadas em creches no Brasil - p. 17 Gráfico 04: População 0 a 3 com acesso a escola no Brasil - p. 18 Gráfico 05: População 0 a 3 com acesso a escola no Brasil e São Paulo - p. 18

Lista de Tabelas Tabela 01: Mortalidade infantil (1930-1990) - p. 16 Tabela 02: Medidas Básicas - p. 23 Tabela 03: Parâmetros de ocupação - p. 41

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Referências Bibliográficas BARBOSA, Maria. A prática pedagógica no berçário. Disponível em: https://www.amavi.org.br/sistemas/pagina/setores/educacao/ freiavi/arquivos/maria_carmem_barbosa.pdf BLOWER, Hélide e AZEVEDO, Giselle. A influência do conforto ambiental na concepção da unidade de educação infantil: Uma visão multidisciplinar. Disponível em : https://www.usp.br/nutau/ CD/137.pdf CEPPI, Giullio, ZINI, Micheli. Crianças, Espaços, Relações: Como projetar ambientes para a educação infantil. 2013 CRUZ, Denize da Silva Dias. O berçário como espaço de desenvolvimento infantil. Disponível em: http://dspace.bc.uepb.edu.br/ jspui/bitstream/123456789/1900/1/PDF%20-%20Denize%20 da%20Silva%20Dias%20Cruz.pdf FREITAS, Marcos César. História Social da Infância no Brasil. Disponível em : https://www.scribd.com/doc/21088416/Historia-Social-da-Infancia-No-Brasil GONÇALVES, Fernanda. A educação de bebês e crianças pequenas no contexto da creche: uma análise da produção científica recente. Disponível em: https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/130990/332278.pdf?sequence=1

IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estastísticas. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/>. Acesso em: 18 de Abril de 2017. KOWALTOWSKI, Doris. Arquitetura Escolar: O projeto do ambiente de ensino. KOWALTOWSKI, Doris. A arquitetura da escola deve dialogar com o projeto pedagógico. Disponível em: http://portal.aprendiz.uol.com. br/arquivo/2011/10/06/arquitetura-da-escola-deve-dialogar-com-o-projeto-pedagogico-afirma-arquiteta/ Acesso em: 24 de Março de 2017. MARCILIO, Maria Luiza. A história da Alfabetização no Brasil. 2016 MENDES, Sarah de Lima. Tecendo a história das instituições infantis no Brasil. Disponível em: https://periodicos.ufrn.br/saberes/article/ view/6685/5206 Observatório da Criança e do Adolescente. Disponível em: https:// observatoriocrianca.org.br/ Acesso em: Abril de 2017 OLIVEIRA, Heloísa. Quase 70 por cento das crianças não tem acesso a creche na capital. Disponível em: http://www.opovo.com.br/ noticias/fortaleza/2017/03/quase-70-das-criancas-de-0-a-3-anos-nao-tem-acesso-a-creche-na-capita.html Acesso em: Abril de 2017 OLIVEIRA, Rodrigo César. Design e Ergonomia no mobiliário infantil. Disponível em: http://conic-semesp.org.br/anais/files/2013/trabalho-1000015275.pdf 65


PASCHOAL, Jaqueline Delgado e MACHADO, Maria Cristina Gomes. A história da educação infantil no Brasil: avanços, retrocessos e desafios dessa modalidade educacional. Disponível em: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/histedbr/article/ view/8639555 VELOSO, Maria Regina Chaves. Influência da arquitetura no espaço físico das creches. Disponível em: https://pt.slideshare.net/mariareginaveloso9/tcc-maria-regina

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Espaço CRIAR: Criança, Imaginação, Arquitetura Uma Creche no Brooklin

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