Ensaios Urbanos

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Filipe Yari

2017

Ensaios Urbanos



Filipe Yari Tikkanen Negrão

Ensaios Urbanos

Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Centro Universitário Senac - Campus Santo Amaro, como exigência para a obtenção do grau de Bacharel em Arquitetura e Urbanismo. Orientadora Profª Marcella de Moraes Ocke Mussnich.

São Paulo 2017



Resumo A partir de diversas reflexões sobre o dia-a-dia das cidades contemporâneas, e de uma necessidade da vivência do espaço urbano como usuário, o Trabalho se molda no re-conhecimento da paisagem urbana por meio da vivência e da experiência sensorial, que resultou em diversas percepções e reflexões, traduzidas por meio de registros fotográficos, relatos e ilustrações. As reflexões sobre as experiências vividas, acabam sendo maturadas através do ato do desenhar, que se tornaram vislumbres projetuais ilustrados, baseados em estruturas existentes com diferentes espacialidades e possíveis proposições de novas e diferentes espacialidades. Palavras chave: Paisagem Urbana, Vislumbres Projetuais, Desenho, Registro Fotográfico, Espaço Urbano, Município de Cotia. Abstract From several reflections on the day-to-day of contemporary cities, and a necessity of the experience of urban space as a user, the Work is shaped in the reconnaissance of the urban landscape through daily living and sensorial experiences, which resulted in diverse perceptions and reflections, translated through photographic records, account and illustrations. The reflections on experienced experiences end up being matured through the act of drawing, which became illustrated projects glimpses, based on existing structures with different spatialities and possible propositions of new and different spatialities. Keywords: Urban Landscape, Project Glimpses, Drawing, Photographic Record, Urban Space, Municipality of Cotia.



Sumário Introdução - 10 A Memória e o Rio: Referências Afetivas - 13 Percurso da delimitação do trabalho - 18 O Orbitar - 21 Por onde se passa - 25 A Cidade e a Cicatriz - 39 Os Bloqueios - 41 Os Artefatos - 43 A Nascente - 47 A Grande Farsa - 49 A Droga no Espaço Público - 51 A Incontingência - 53 O Conglomerado - 54 As Transições - 55 As praças - 61 A Ambivalência - 68 Mobiliário Urbano - 79 O Ambiental - 80 Referências - 88


Introdução Minha jornada teve inicio com a necessidade de um re-conhecimento da paisagem urbana. Ao longo do curso de Arquitetura e Urbanismo do Centro Universitário SENAC - Santo Amaro, iniciei minhas reflexões de como olhar sobre as Cidades, particularmente, as que faziam parte do meu cotidiano. Assim foi possível perceber incoerências que provocavam inquietações decorrentes do percurso realizado através das diversas disciplinas com seus respectivos conteúdos, reflexões coletivas em pequenos grupos e com toda a turma, textos, teorias e a realidade vivida. As diversas, quase infindáveis discussões sobre apropriação dos espaços públicos, melhoria da qualidade de vida, melhoria da mobilidade urbana, bem como a falta de manutenção e degradação dos espaços públicos, falta de socialização dos cidadãos, falta de cidadania, tudo recorrente ao modo de como as cidades foram e estão sendo formadas. Surgiu das reflexões uma necessidade do re-conhecimento da paisagem urbana como usuário e como ator de espacialidades, podendo ser traduzidas em sensações, percepções e vivências, que fortalecem as noções espaciais, culturais, sociais e técnicas, e levam à novos ideais, no sentido lato da palavra, ou seja, como constituição de ideias, novos imaginários, criação de espaços e proposições.

Fonte: Ilustração de G. E. Debord, 1957 (S/d, apude, Site Glasstire).


A provocação do re-conhecimento da paisagem urbana ocorreu através da metodologia situacionista, principalmente nas aulas de Projeto Interativo (PI), que propunha a vivência como instrumento de elaboração do novo urbanismo, utilizando-se da técnica metodológica de mapas psicográficos, através da deriva, que são baseados nas percepções do próprio autor. Esse interesse pela paisagem urbana, suas diversas reflexões e a ampliação das vivencias do espaço público, proporciona uma primeira ideia do trabalho de conclusão de curso, ou seja, utilizar da deriva como metodologia de proposição de novos espaços urbanos. A deriva é baseada em uma metodologia, uma ferramenta dos situacionistas do final da década 60 e início da década de 70 do século XX. Segundo a tradução feita por membros do Gunh Anopetil, de 19 de março de 2006 do texto publicado no nº 2 da Revista Internacional Situacionista em dezembro de 1958, os Situacionistas defendiam o Urbanismo Unitário – UU, criticando o urbanismo que ao invés de construir ‘sobre o terreno’ constrói ‘sobre o papel’. Buscavam novas espacialidades que permitissem a integração da cidade ‘em uma rede de interações’. Enxergavam o espaço urbano sem seu aparente caos. Pensavam uma arquitetura capaz de propiciar relações humanas induzindo à contestação e à revolta, denunciando as alienações e aspectos alienantes. Utilizavam a ciência da Psicografia para analisar e avaliar as relações, comportamentos e percepções entre humanos e contextos ambientais, criando mapas subjetivos de uma geografia afetiva, uma cartografia das espacialidades e ambiências psíquicas. A deriva apresenta como conceito principal a vivência que procura romper com a representação racional dos espaços, buscando uma percepção da complexidade das cidades, decifrando a cidade entendida como um ‘labirinto’, não seguindo itinerário, andando sem rumo baseando-se nas percepções e afetividades em relação ao espaço, descobrindo ambiências psíquicas e questionando o urbanismo moderno. The Naked City, assinado por Guy Debord (1957), foi resultado da psicografia e da deriva realizada na cidade de Paris, França. Uma das ilustrações mais icônicas do pensamento urbano Situacionista e sobre o Urbanismo Unitário, traduzidos em uma ilustração, composta por diversas partes do mapa da cidade de Paris em preto e branco, recortadas e dispostas de forma a não representar a realidade física e geográfica, porém representam as diferentes espacialidades baseadas em diferentes ambiências, setas vermelhas indicam as possíveis conexões entre as diferentes ambiências, resultado indicado pela metodologia da deriva.

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Fotos das margens do Rio Paranepanema, Piraju - SĂŁo Paulo. Fotos tiradas pelo Autor.


A Memória e o Rio: Referências Afetivas

Historicamente, observam-se as aglomerações urbanas se consolidando perto de fluxo de água devido às próprias necessidades de sobrevivência. Além dos benefícios que os cursos d’água possibilitavam para a sobrevivência dos aglomerados humanos, estes também foram usados para descartes, que, com o processo de urbanização verificado nos últimos séculos, principalmente no século XX, esses fluxos foram sendo sufocados pela urbanização e poluídos pelos descartes de resíduos, até o momento de se consolidar na consciência coletiva a associação aos rios, córregos, riachos e de forma geral às águas urbanas, como algo sujo e inapropriado para uso, sendo que muitas delas são, declarando assim, morte às águas. A água, ao menos ao meu imaginário, esta associada à memória, uma memória afetiva. Raros são os cursos d’água não contaminados e, como exemplo, cito o Rio Paranapanema que passa pela cidade de Piraju, no interior do Estado de São Paulo. Lá viviam meus avós, e ao passar as férias na casa deles, desenvolvi uma relação de afeto com os espaços públicos criados a partir do curso d’água do rio Paranapanema, onde suas margens se constituem como espaço de contemplação e lazer, também com influências humanas, pois o Rio encontra-se represado. , A cidade de Piraju é uma cidade pequena, em torno de 28 mil habitantes, sendo cortada pelo rio Paranapanema onde passei minha infância às margens deste rio. Nadava, pescava, desenvolvendo muito respeito pelo rio e consequentemente pela água. Enquanto Cotia local da minha residência era cortada pela rodovia Raposo Tavares, criando um ambiente segregado e desconexo. Com estas reflexões e contradições, ficaram mais claras as situações dos rios em São Paulo e na região metropolitana, com diversos rios tamponados, retificados e desrespeitados, bem como a ausência quase absoluta de espaços públicos ao longo das margens dos cursos d’água, devido ao fato de estarem poluídos. Em nossas discussões acadêmicas surgiam propostas de intervenções relacionadas com essas preocupações, entre tantas outras, surgindo ideias de construção de jardins de chuva, diminuindo a vazão que corre diretamente aos cursos d’água, assim diminuindo os alagamentos, sendo que, ao refletir sobre isto, concluímos que os frequentes locais onde ocorrem alagamentos são locais onde os rios estão retomando o espaço que ocupavam anteriormente, o rio esta se manifestando. Assim nos encontrávamos em grandes dúvidas reflexivas, estabelecendo certas ambiguidades em estabelecer determinados tipos de soluções.

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Foto da margem do Rio Paranapanema, Piraju- SĂŁo Paulo. Foto tirada pelo Autor.


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A nascente, fonte pura que brota das rochas e aflora a vida ao percorrer seus caminhos sinuosos morro abaixo, o som do fluir das รกguas, o frescor que dela emana, a pureza translucida que permite ver o fundo e ao mesmo tempo o reflexo evanescente que se vai com as รกguas, tranquiliza a mente e relaxa o corpo, faz transparecer as necessidades primitivas do homem, a vida.


Foto da margem do Rio Paranapanema, Piraju- SĂŁo Paulo. Foto tirada pelo Autor.

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Percurso da delimitação do trabalho Como primeira proposta de trabalho surgiu a ideia de analise de estruturas já existentes e reformulá-las a partir de novas concepções criativas. Comecei esta análise no Bairro da Vila Madalena, pois era o local onde estava realizando meu estágio. Ao caminhar pelo bairro, constatei o processo de descaracterização do mesmo devido à valorização imobiliária da região, atualmente dotada de um gama de restaurantes, bares, escritórios e lojas. A observação das dinâmicas econômicas e sociais do Bairro, como o fato de casas estarem sendo demolidas para a construção de novas torres e empreendimentos, devido à ‘boa vizinhança’, interfere nas espacialidades características da região, descaracterizando e tirando aquilo é seu valor espacial. Não defendo o estancamento da morfologia urbana, sendo ela estática, entendendo o fator tempo e novas necessidades, mas critico a forma como esses grandes empreendimentos estão sendo construídos: com grandes lotes, deslocamento da rua, e térreos não ativos. Ao mesmo tempo em que esses empreendimentos se aproveitavam desta valorização, que é consequência do valor histórico do bairro, localização geográfica e econômica, dentre outros fatores, é interessante ressaltar a morfologia da escala do pedestre, existente em construções mais antigas do bairro, como fachadas ativas, grande número de unidades, altura condizente com o pedestre, dentre outros... Segundo o site vivamadalena, a Vila Madalena que começou a ‘se agitar’ por volta da década de 70, devido ao fechamento do CRUSP pelo regime militar, um grande número de estudantes se mudaram para o bairro, devido ao baixo custo e proximidade com a universidade, a partir disso o comércio local começou a se modificar, atendendo a necessidade dos estudantes, passou a ser um ponto de efervescência boêmia e sócio-cultural. A partir da década de 90, teve inicio processos de transformações devido à valorização imobiliária que destrói o que proporcionou a valorização do mesmo, ou seja, é irrefutável o fato das construções que valorizaram o bairro, devido ao baixo custo e localização, estabelecendo uma identidade, passaram a serem destruídas, criando a eliminação da própria maneira de ser do bairro, através da implantação de grades, muros, portarias, referentes a esses novos empreendimentos voltados a uma classe média e alta, descaracterizando o que efetivamente constituiu como sendo o seu ‘valor’. A partir das reflexões e percepções do andar pela cidade de São Paulo, com todas as críticas sobre a cidade, e mais objetivamente, em um bairro que apresenta boas qualidades por ter uma apropriação do espaço publico e manifestações artístico-culturais acima da média, e, em contraposição, a reflexão sobre o espaço privilegiando o automóvel, como se constata em São Paulo e em sua região metropolitana, particularmente, na cidade de Cotia, me provocou a analisar a cultura de apropriação e vivencias do espaço público desta cidade, particularmente e principalmente por nela residir.


Desenhos feitos pelo Autor ao andar pelo Bairro da Vila Madalena.

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O Orbitar O Trabalho consiste na experiência sensorial, vivenciada através da paisagem urbana, que proporcionou diversas percepções traduzidas em registros fotográficos e alguns desenhos. A partir de minhas experiências, pensamentos e reflexões, surgiram e desabrocharam vislumbres projetuais na forma de ilustrações. A experiência sensorial, sem rumo, na paisagem urbana, propícia estímulos, explorando e conhecendo locais e lugares onde comumente não são explorados e conhecidos do cotidiano, levando a uma exploração da paisagem urbana. A buscar por novas perspectivas e sensações, me levaram a lugares que, no vai e vêm da vida cotidiana, não se desvelaria. Inicialmente iniciei minha deriva na cidade de Cotia, ao longo do Ribeirão das Pedras, córrego paralelo à Rodovia Raposo Tavares, onde pude observar a degradação ambiental devido ao descaso e abandono do ribeirão e seu entorno, porém com um frequente fluxo de pedestres. A partir das vivências e observações, percebi as potencialidades de conexões entre as diferentes espacialidades, iniciando meus registros fotográficos. Ao andar ‘solto’ pela paisagem urbana, alguns elementos e estímulos me atraíram e fizeram com que retornasse para o mesmo local, sempre buscando as relações e percepções que esses locais estabeleciam com o entorno. Sempre que saia para fazer as deriva, me encontrava nas proximidades com o ribeirão, comecei a perceber as relações que ele estabelece com o entorno, e aceitei o fato de uma esfera de influência desse curso d’água. A partir da proposta situacionista e de sua metodologia deriva, denominei O Orbitar, como metodologia deste trabalho, pois no seu desenvolvimento não se restringia à deriva, mas se diferenciava sem desconectar, talvez, uma derivaração da devira. Assim, estar em orbita significa estar sob ação ou influência de algo, uma trajetória ao redor de certo ponto de influência. O ato de orbitar é estabelecido quando no processo de percepção de um espaço identifica-se e foca-se em certo ‘ponto’ de interesse, uma ‘força espacial potencial’, assim estabelecendo uma relação de órbita no entorno do ‘ponto’ selecionado, buscando conhecer o máximo das relações a partir deste ‘ponto’ e suas potenciais relações, não estabelece um área de atuação, mas sim um área de influência. O que difere o ato de orbitar de um estudo de campo, é a forma em que estes ‘pontos’ foram escolhidos. No orbitar o autor esta solto no ambiente e é instigado por espacialidades, cada vez que o orbitar é realizado, as relações mudam, muitas vezes o ‘ponto’ de interesse e de influência também mudam.


Viver para sentir e assim, planejar. Vivenciar como projetista e planejar como usuรกrio.

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Mapas resultado do Orbitar.


Por onde se passa Em minhas vivencias na paisagem urbana, diferentes sensações físicas e mentais surgiram, mesmo num processo de desaceleração das passadas, certos locais ainda inibem à diminuição do passo, ou aceleramos sem perceber. Caminhos objetivos, onde sua principal função é ir de um ponto A, ou ponto B, muitos deles lineares e sem atrativos, faz com que a frequência das passadas aumente, te levando a cruzar o espaço o mais rápido possível. O fato de parar nestes trajetos causa certo estranhamento nos outros que vêm a transitar, pois ali não é lugar de parar, não faz sentido você estar parado em um local sem atrativos e que muitas vezes atrapalha outros caminhantes. Ao andar pela paisagem, percebo uma diferenciação no andar das pessoas. Normalmente pessoas com idades mais avançadas são muito mais receptíveis a estímulos, são, de maneira geral, mais atenciosas ao andar, são mais perceptíveis e observam mais o ambiente, por outro lado, crianças sempre estão explorando e interagindo com o espaço, sempre à busca de diversão. Assim como os animais, os humanos buscam o caminho que oferece menor esforço/ resistência, visando inconscientemente à economia de energia. Essas sensações podem ser inibidoras e incentivadoras de certas decisões tomadas pelo usuário, como a escolha do trajeto que ele fará. Andando por uma faixa estreita e retilínea, com diversos obstáculos, o passo aqui é devagar, contemplativo, desvio por resquícios da passagem de humanos deixados pelo caminho, leio seus rótulos e suas embalagens chamativas, respiro o ar, e, nele, um cheiro fétido invade minhas narinas, me viro e ao final do barranco, vejo às águas podres e cinzas do riacho, me batendo uma tristeza. Imagino às águas claras e com vida, pessoas na margem apreciando a passagem das águas que correm morro abaixo, o barulho de um automóvel me tira do vislumbramento, assim como uma pessoa que vêm na direção contrária, eu tenho que desviar, indo para a rua, para que a passagem de ambos não fique interrompida. Vindo nos corredores apertados designados para nós caminhantes, encontro uma clareira para meus pés, ali que já fora uma rua, hoje é um gramado, já esta melhor do que fora, embora haja a clareira, os corredores se mantém, porém bifurcados, aqui não existem barreiras físicas para o acesso ao pisar macio na grama, mas prefiro me manter na linearidade do caminho fácil. Avisto um banco de concreto, com um formato singular, invado o piso macio e me sento, seu desenho ondulado, porém pontudo e autoritário não me deixa explorar o objeto, só me permite sentar em um sentido, em uma posição específica, caso contrário se torna desconfortável, me impossibilita de deitar, de sentar longitudinalmente etc...


O passo compassado dos caminhantes, o pé que passa o pé, que passa o pé e assim se vão sumindo na paisagem urbana.

Passo a observar o fluxo de pessoas nessa praça, muitas delas andam ainda nos caminhos retilíneos, duros e delimitados, pouquíssimos se aventuram a entrar na maciez do solo. Os que cá ficam são de idades variadas, muitos esperam os ônibus que saem de lá, no ponto, cercado de lixo, é talvez pelo fato de não existirem lixeiras na praça. Das pessoas que ali se encontram a única a olhar atentamente ao riacho sou eu, percebo diferentes animais, pássaros que pulam de galho em galho, como o sabiás e rolinhas, já no chão, formigas trilhando seu caminho para o formigueiro, borboletas, besouros, embora sufocados, a vida ainda vive.. Mais ao canto, perto de ônibus estacionados, se encontram diversos motoristas e cobradores, aqui serve como um ‘terminal’, a estrutura mínima que os atende, como um banheiro químico, com um cheiro forte de urina, e uma cabine coberta, assim como bancos, os tais autoritários. Venho a andar por uma escassez de verde, ao lado um muro que me acompanha na maior parte de meu caminho, do outro, a rua, nesse corredor, embora desértico e monótono me deparo com estruturas verticais, dispostas ao longo do trajeto, que, por incrível que pareça, me deram uma sensação de segurança, elas criaram uma dinâmica diferente, adequaram mais à minha escala, entre a rua e o muro.

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Mapa Geogrรกfico da รกrea do Ribeirรฃo das Pedras.

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Viela nas proximidades com a Nascesnte. Fotos tiradas pelo Autor.


Muros, RibeirĂŁo, Rua e Aglomerado. Fotos tiradas pelo Autor.

Fluxos Espremidos Fotos tiradas pelo Autor.

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RibeirĂŁo PoluĂ­do. Fotos tiradas pelo Autor.


Efluentes. Fotos tiradas pelo Autor.

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Riacho. Fotos tiradas pelo Autor.

Desenho de vislumbre.


Desenho de vislumbres, cortes esquemรกticos.

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Relação com Ribeirão atual. Fotos tiradas pelo Autor.


Detalhe Banco Arrimo

Valetas para águas pluviais

Balizadores

Relação com Ribeirão vislumbradas.

Ocupação em ambas as margens

Bancos Arrimo

Calçadão Arquibancada 36



Paisagem Urbana. Foto tirada pelo Autor.

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A Cidade e a Cicatriz A versão mais aceita da origem do nome Cotia decorre dos caminhos na região serem muito sinuosos, remetendo aos ‘caminhos’ feitos pelos Kutis, indicando que a região era muito marcada pelos caminhos dos Kutis, passando assim a nomear a cidade: Cotia a cidade onde viviam as Kutis. Segundo o IBG, desde o século XVII, a região era ponto de passagem e parada para viajantes e tropeiros, cargas e mantimentos, que faziam principalmente o percurso entre São Paulo e Sorocaba. O município de Cotia amplia o seu desenvolvimento econômico quando surgem organizações agrícolas a partir de novos sítios, dinamizando a produção agrícola da região. Nesta mesma época tem inicio o processo de industrialização, com a implantação de indústrias se instalando ao longo da rodovia que interliga São Paulo a Sorocaba, mas sofre um processo de estagnação, pois o processo de industrialização acompanhou a Ferrovia Sorocabana. Este processo de industrialização ao longo da Ferrovia Sorocabana, exclui a cidade de cotia, devido ao fato desta ferrovia não passar pelo município, e neste aspecto, a cidade fica isolada desta malha de crescimento ocorrida em direção ao oeste paulista e que conquistou grande riqueza para todo o estado. Apesar de estações próximas à Cotia, esta vive uma estagnação, principalmente em relação à própria cidade de São Paulo que, em 1964, era considerada uma das cidades mais modernas do mundo, e apesar da proximidade, o município de Cotia segundo biblioteca do IBGE “[...] era chamada de ‘sonolentos subúrbios agrícolas, onde o progresso para e não deixa marcas.”, ficando defasada em relação ao momento histórico que passava a cidade de São Paulo. Somente a partir dos anos 70 do século XX, após instalação de indústrias de grande porte ao longo eixo da Rodovia Raposo Tavares, ocorre um crescimento acima da média do estado de São Paulo, fazendo com que sua população que não passava de 50 mil habitantes, superasse 110 mil habitantes. A partir da implantação de indústrias na região, ocorre um desenvolvimento da cidade, resultando na melhoria do viário local, como o asfaltamento de estradas locais para garantir o desenvolvimento do município, apesar do desmembramento de seu distrito mais próspero em 1981, o distrito de Raposo Tavares que irá constituir o município de Vargem Grande Paulista.


Com este desenvolvimento ocorre um surto populacional que atrai migrantes de diversos municípios e de outros estados brasileiros. No início da década de 90 do século XX, problemas já recorrentes em municípios vizinhos, como o crescimento desordenado, aumento da violência, falta de assistência médica adequada, incidem com mais recorrência no município. Outro elemento a ser considerado é resultado do processo de industrialização da década de 90, a ampliação do sistema rodoviário com toda infraestrutura urbana voltada para o transporte motorizado e individua. O referido espaço pode ser identificado como fator de descaso no trato dos espaços comuns, a partir do desenvolvimento pautado no modelo rodoviarista potencializado pela ideologia individualista, produtos da influencia do modernismo norte-americano que defende que as ‘necessidades’ são supridas no espaço individualizado e, desta maneira, suprime a necessidade do espaço público, fato constatado neste processo de industrialização e crescimento. Este movimento migratório, segundo dados do IBGE, provocou um crescimento populacional chegando a 148.987 habitantes em 2000 e 231.696 no ano de 2016, um crescimento de, em torno, 64%. Tal crescimento, com ausência de planejamentos macros, dentre muitos outros fatores, concretizam-se na falta de planejamanto dos espaços públicos e outros serviços básicos para sua população, formando assim, a paisagem urbana atual, cortadas por uma Rodovia e espaços públicos desarticulados. A características topográficas da região, são compostas, em sua maioria, por morros baixos devido ao relevo ondulado, com declividades entre 20% e 30%. Vales fechados e assimétricos; planícies aluviais restritas e planícies aluviais que se caracterizam por terrenos baixos e planos junto aos cursos d’água, segundo o relatório técnico do Plano de Desenvolvimento e Proteção Ambiental (PDPA, 2007). Essa topografia inclinada dificulta na criação de projetos articuladores do meio urbano, devido a grande complexidade em sua execução.

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Os Bloqueios Os bloqueios aqui apresentados podem ser físicos ou mentais, como uma parede ou um rio que impede você de atravessa-los, ou como uma sensação de inibição e insegurança ao entrar em um beco sem movimento, por exemplo, ou até relacionados a comportamentos sociais como não fazer certa ação por estar sendo observado, ou observar comportamentos ao redor e entender que certo comportamento não seria tolerado ou não está adequado com as regras do lugar. O homem age e reage sobre os estímulos, o ambiente muda o homem e o homem muda o ambiente, esses laços intrínsecos inseridos nas características humanas possibilitam diversos comportamentos humanos, que podem ser refletidos sobre o território. O homem tende a continuar com certos comportamentos, por eles de certa forma, obtiveram êxito, dificilmente o homem mantem-se com comportamentos quando são mal sucedidos, que não garantem sua sobrevivência. É possível observar tais comportamentos humanos especializados como os muros. Os Muros fazem parte da história da humanidade, uma solução espacializada a um comportamento, necessidade, interesse, ideal, etc.... Expressando-se no meio físico, suas principais funções são delimitar, afastar, impedir, repelir ou bloquear fisicamente que algo/alguém o transpasse. O muro que se transformou em um elemento espacial bem sucedido, que cumpre bem o papel ao qual ele fora criado, se tornou símbolo de divisão e segregaçã. Assim como na idade média, castelos e fortalezas eram cercados de muros afim de impedir ameaças externas, que vinham de fora da cidade, em contraposição, hoje, os muros são feitos para se “proteger” da própria cidade, pois se constitui como sendo muitas cidades. O muro impede os acessos físicos, acessos sensitivos como o acesso visual e o auditivo e os acessos sócio-cultural. No ensaio da área da nascente, o muro existente, que serve para impedir acessos, é colocado de forma a potencializar a área, proporcionando novos usos, apropriações e espacialidades, rompendo com seu maior simbolismo e função, que é a de separar.


Os ensaios também vislumbraram uma correlação entre moradores de diferentes classes sociais e tipologias urbanas. Buscam uma imagem comum para os cidadãos, vindo por meio de espaços comuns de convivência, visto que, na região existem diversos cercos aglomerados (condomínios) e em muitos deles não existem áreas comuns. Barrando e repelindo “invasores”, desde “invasores” de privacidade, podendo ser invadida apenas com o sentido da visão ou audição, como invasores territoriais, estando no local fisicamente. Outros aspectos das reflexões apontavam para o espaço público como potencial que poderia proporcionar melhor qualidade de vida, a questão dos muros como limitantes de convívio, condomínios fechados com infraestruturas próprias, e, como consequência, o desuso da cidade, e esta se tornando obsoleta do ponto de vista de apropriação coletiva, como local de encontro das pessoas e o espaço público como simplesmente um local de passagem.

Registro de grandes glebas e bloqueios. Foto tirada pelo Autor.

Registro de bloqueios agressivos. Foto tirada pelo Autor.

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Os Artefatos

A criatividade humana é expressa principalmente na necessidade e no ócio.

Segundo Abbagnano (2003), o Artefato é um objeto produzido, por qualquer atividade humana, distinguindo-se do objeto natural, este que é produzido pelo acaso. Ainda segundo ele, o Artefato deve constituir-se da realização de um projeto, manifestando a intenção da finalidade determinada, que preexiste à sua construção. Este estudo consiste em registros fotográficos dos artefatos urbanos, oriundos da necessidade humana, buscando explorar os resquícios da atividade humana. Os resultantes dessa necessidade humana se transformaram em estruturas físicas, o que possibilitam uma análise e um entendimento por meio dos próprios artefatos criados.


Registro de Artefato Urbano- Bancos e mesa. Foto tirada pelo Autor.

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As percepções, vivências e sensações como usuário, fortalecem o imaginário para ‘novos’ espaços.

Registro de Artefato Urbano - Lixeira. Foto tirada pelo Autor.

Registro de Artefato Urbano - Bancos ao Longo da calçada. Foto tirada pelo Autor.


Registro de Artefato Urbano - Banco ao longo do Ribeirão.

Referências Traçadas Aqui encontram-se algumas referências projetuais dos vislumbres. O traço permite a aproximação da intenção de outros projetistas nas soluções espaciais, construindo uma sensação espacial e afetiva ao redesenhar os projetos consolidados, estabelecendo relações intimas, também permite que influencias pessoais, dentre elas o próprio traço autoral, venham a tona. O ato de desenhar foi utilizado como metodologia para o estudo e de soluções projetuais.

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A Nascente

Ao andar na influência do Riacho, o curso me leva à uma grande gleba, os muros cercam e afastam qualquer contato visual e físico, encontro uma entrada na extremidade norte, fico inibido de adentrar, pois os muros dizem que eu não posso, as barreiras me afastam e me deixam incertos nas minhas decisões. Neste primeiro momento eu não entro, começo a andar pelo bairro buscando conhecer e perceber melhor as relações possíveis. O bairro de classe média/baixa demonstra uma vida na rua constante, sempre com o fluxo de pessoas que andam na própria rua, por não existir calçadas, ou quando existem não estão em suas melhores condições. Por qual motivo temos que diferenciar da rua e da calçada, a rua era dos pedestres antes da vinda dos automóveis, separamos em nível, criamos uma barreira para diferenciar local de carros e automóveis. Sempre tinha a impressão de que quando se ‘descia’ o nível da calçada, da guia, estou em um ambiente que eu não deveria estar, acuado nos cantos para não atrapalhar o fluxo. A acessibilidade nas calçadas normalmente se fazem por rampas em locais específicos, quando são existentes, muitos são impedidos por alguns bloqueios, como os próprios carros, que muitas vezes param sobre os acessos. Em uma das ruas, percebi que existiam alguns balizadores entre o final da calçada e o inicio da faixa de rolagem, o que me deu uma certa sensação de segurança, pensei na possibilidade dessa segurança ser extendida para todo o trajeto, também tirando a barreira que é a guia. Para resolver os problemas das chuvas, valas sobrepostas de grelhas fariam essa função, assim como a guia que guiam o fluxo de automóveis e das águas pluviais ou domesticas que por lá escorrem, dessas valas as águas seriam coletadas por jardins de chuvas e/ou wetlands para o tratamento das mesmas antes de serem devolvidas ao Riacho. Quando adentrei a área de interesse vi um campo de futebol e uma estrutura semelhante a uma quadra, fui andando, percebi que vinha gente atrás de mim, passaram e prosseguiram com o seu caminho, percebi então que poderia estar lá, uma barreira de árvores tapavam minha visão, e, ao cruza-la me deparei com uma infraestrutura já instaurada, porém abandonada, isso que me instigou, construções deterioradas, uma piscina vazia, caminhos como em um parque, a água da nascente represada, de forma a formar um lago, um pátio todo em madeira, destruída, sentei-me em uma área mais afastada e fiquei reparando quem frequentava este local, todos homens, com idades diferenciadas, dos 15 aos 40 anos de idade, muitos usavam o local para o uso de entorpecentes, a maconha. Em diversos locais que pude visitar, locais públicos a droga esta intimamente ligada com esses locais, desde na Vila Madalena, Santo Amaro, Lapa, no Centro como aqui. O homem, ao estar em um momento exposto, justamento por ser algo ilícito, explora a cidade como outras pessoas não a fazem, mas o ato do consumo de drogas, aqui se encontra ligado com o espaço público. Seguia as águas para dentro da mata, encontrando uma bifurcação, de um lado a água era limpa, do outro a água podre, cinza e fétida escorria nas pedras. Comecei a seguir para ver de onde vinha esta podridão, comecei a subir um morro e encontrei um barracão, dois indivíduosme abordaram com a intenção de me induzir a deixar o local, encontei de onde as drogas vinham.


Dos muros que cercam. Foto tirada pelo Autor.

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A Grande Farsa É possível analisar a paisagem urbana e verificar as diversas dinâmicas referentes ao funcionamento das sociedades como um todo, revelando ou omitindo informações do processo de estruturação da formação e organização espacial e social da própria paisagem, tendo como principais agentes os fatores culturais, econômicas e políticas, sendo o espaço geográfico fruto das complexas interações entre aspectos sociais e espaciais. As infraestruturas municipais de Cotia estão principalmente localizadas em áreas sobre cursos d’água, ou em áreas de várzea. Esse processo político, econômico e cultural que agem sobre a paisagem urbana, ainda são frequentes no dia-a-dia das cidades contemporâneas. No decorrer do ano de 2017, o Ribeirão das Pedras, denominado como área de influência do Orbitar, estava em obras, que tiveram como resultado a criação de uma praça, a partir do aterramento de parte do curso d´água. Essa solução mais ‘viável’ economica e politicamente, em relação a um curto prazo de gestões públicas, causam diversos outros problemas, desntre eles os problemas de cunho ambiental. Embora a praça seja algo positivo para a vida urbana, a construção baseada em mascaramentos de problemas sociais, esses quais à falta de acesso a moradia, falta de serviços básicos de saúde, entre outros, que acabam gerando diversos outros problemas, como a poluição das águas urbanas, dentre outros. Levando em conta que diversas estruturas municipais são de uso comum, lazer, cultura e aprendizado, porque não utilizar o rio como potencializador desses espaços?

Registro da Praça sobre Ribeirão.. Foto tirada pelo Autor.


Registro da praça sobre o Ribeirão.. Foto tirada pelo Autor.

Ao trilhar meu caminho, um som, uma felicidade momentânea toma conta de mim, uma sensação simples e agradável me consome, é o som das águas ao cair e colidir com as rochas, gerando um chacoalhar constante e hipnótico, me vejo parado, estanque ao ver o rio fluir rio abaixo, e isso me tranquiliza.

A arquitetura molda o homem ou o homem molda a arquitetura?

Ás águas urbanas, que correm por debaixo de nossos pés, não são mais fluxos vivos, a vida não às permeiam mais, hoje, encobertas por erros humanos, sofrem as consequências e estão condenadas à escuridão. Não é pelo fato de encobrirmos os problemas, que eles deixaram de existir.

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A Droga no Espaço Público A droga, pelas minhas experiências e observações esta muito ligada com a apropriação do espaço público. Em diversos locais me deparei com usuários de diferentes tipos de drogas, desde as drogas lícitas quanto às ilícitas. Assim como o esporte, música e outras atividades, a droga esta intimamente ligada com as relações sociais, é um catalisador de relações, onde pode propiciar contatos humanos e apropriações do espaço público, possibilitando o contato de diferentes ‘camadas’ da sociedade, independente de sua natureza. O espaço público possibilita que diferentes pessoas de diferentes ‘camadas’ da sociedade se encontrem no mesmo local e a droga é mais um catalizador de contatos sociais. O ato de tomar cerveja é mais do que um simples ato de degustar uma bebida, culturalmente este ato esta ligado a se relacionar socialmente, conversar, debater ideias. Em muitos casos, os bares estão localizados com certa proximidade dos espaços públicos, como cadeiras dispostas nas calçadas, grandes aberturas que permitem o contato visual com a rua, deixa aquele local frequentado e observado por quem frequenta o bar. Ou como adolescentes que se reúnem na praça para beber e se conversar. As drogas são uma excelente “desculpa” para as relações sociais, um grande desinibidor e ponto em comum entre pessoas. É comum o fato das pessoas chamarem as outras para beber, ou mesmo ir fumar, porém esta relação esta diretamente ligada com as relações sociais, tanto que quando a pessoa bebe sozinha, normalmente dizem ela esta com problemas com a bebida. O ato de fumar também proporciona contatos sociais, quem nunca te abordou perguntando se você tem um isqueiro. O ato de fumar é interessante pensar que as pessoas se isolam em grupos ou mesmo sozinhas, pois é um momento relaxante, não somente pela ação da nicotina, mas também pelo ato do contato social, da conversa e pelo fato de que fumar necessita um controle da respiração, somente respirar de uma maneira controlada já é relaxante por si só. Nos caminhos do procedimento de orbitar passam diferentes sensações e a busca por um ritmo menos acelerado, faz com que as sensações se multipliquem, percebendo novos detalhes e perspectivas, novos usos e desusos, novos cheiros, novos sons.


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A Incontingência

A dificuldade em conter avanços construtivos em áreas de risco e locais inapropriados, a dificuldade de impedir o descarte irregular de lixo em áreas de interesse ambiental. A dificuldade em reter a expansão territorial, devido a um déficit habitacional que, segundo a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), o déficit habitacional total absoluto da Região Metropolitana de São Paulo, onde Cotia esta inseria é de 623 mil e 653 habitantes, faz com que desenfreados avanços construtivos humanos se instalem em áreas incoerentes, sendo prejudicial à própria população que vive no local e, também, prejudicial para a sociedade de uma maneira geral. Neste processo formativo foi possível constatar a falta do estado vigente em diversos locais da cidade, devido a não existência de um tratamento de qualidade e a manutenção de uma cultura de descaso com o espaço público.

Registro da Conglomerado, casas sobre o Riacho. Foto tirada pelo Autor.


O Conglomerado

O poder público e os equipamentos urbanos como igualador de desigualdades sociais, dentre eles as questões relacionadas à moradia. O conglomerado é fruto de incontingência, onde a dificuldade em reter e controlar os avanços construtivos, devido a um grande aumento populacional levou a uma expansão desenfreada em locais inadequados. O conglomerado tratado nos ensaios foi instaurado em menos de 10 anos, como constatados em imagens aéreas, o descarte de efluentes domésticos no curso d’água e a localização em área de risco, levou com que vislumbrasse, para remediar esta situação, habitações em uma área de Zoneamento Especial de Interesse Social de Vazios (ZEIS) nas proximidades. O ensaio consiste na percepção de que residências padronizadas e genéricas não atendem às diversas necessidades. O vislumbre consiste em estruturas pré-moldadas com pilares dispostos à uma distância de 3 em 3 metros, em um terreno de 6 por 9m, com possibilidade de diversos usos, possibilitando diversas tipologias e matérias na construção, entendendo as diversas situações e que em cada família tem uma necessidade. Com a autoconstrução, que já ocorre nas ‘cidades informais’, com o direcionamento da mão de obra ,potencializa as diversas possibilidades de tipologias.

Ensaios Visuais sobre diferentes tipologias possíveis.

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As Transições

As transições se fazem por locais puramente objetivos e lineares, deixando um caminho monótono e desconfortável, tanto que na proximidade das passarelas os muros de contenção da rodovia são mais altos para evitar justamente que pessoas cruzem pelo meio da rodovia, porém isso ainda ocorre. Sun Alex, (apud Stephen Carr, Public Space, Nova York: Cambridge University Press, 1995, p. 25) classifica acessos ao espaço público em três tipos: físico, visual e simbólico ou social. “Acesso físico refere-se à ausência de barreiras espaciais ou arquitetônicas (construções, plantas, água etc.) para entrar e sair de um lugar”. No caso do espaço público, devem-se considerar também a localização das aberturas, as condições de travessia das ruas e a qualidade ambiental dos trajetos. Acesso visual, ou visibilidade, define a qualidade do primeiro contato, mesmo à distância do usuário com o lugar. Perceber e identificar ameaças potenciais são procedimentos instintivos antes de alguém adentrar em qualquer espaço. Uma praça no nível da rua, visível de todas as calçadas, informa aos usuários sobre o local e, portanto, é mais propício ao uso. Acesso simbólico ou social refere-se à presença de sinais, sutis ou ostensivos, que sugere quem é e quem não é bem-vindo ao lugar. Porteiros e guardas na entrada podem representar ordem e segurança para muitos e intimidação e impedimento para outros. “Construções e atividades também exercem o controle social de acesso, principalmente em espaços fechados, em que decoração, tipos de comércios e política de preços são frequentemente conjugados para atrair ou inibir determinados públicos.”

Transição sobre Ribeirão. Foto tirada pelo Autor.


Transição atuais. Foto tirada pelo Autor.

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Desenhos do Autor sobre o Projeto: Espaço público teatro “La Lira”, em Ripoll, Girona, de RCR Rafael Aranda. Carme Pigem. Ramón Vilalta Arquitectes. (Fonte: Revista Summa + 141).


Desenhos do Autor sobre o Projeto: Passarela The Paleisburg, na Holanda (2015), de Benthem Grouwel Architects. (Fonte: Archdaily).

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TransisĂľes vislumbradas.


Proteção parcial ou completa de intempéries Módulo de bancos e jardineiras

Estrutura Matalica apoiadas na Estrutura Existente

Proteção contra vertigem e poluição sonora

Corte Esquemático. S/ Escala.

Estrutura de Concreto Existente

Cobertura parcial ou completa contra intempéries

Parede Verde

Ponto Container

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As praças Segundo Sun Alex, no livro Projeto da Praça – Convívio e exclusão no espaço público, o projeto de uma praça, de acordo com sua configuração e transformação, altera diretamente o convívio social modificando, diretamente, o exercício da cidadania, assim como a construção da própria cidadania e da própria cidade. Ainda, segundo Alex, a praça como elemento ‘urbanístico’ deve ser atrelado ao cotidiano, entorno e fluxos de pedestres. Para Alex “ [...] a perda, aparentemente corriqueira, da simultaneidade escalar da praça como uma entidade ‘arquitetônica’ ou ‘paisagística’ detentora de formas, funções e estilos tem empobrecido o projeto e o ensino de paisagismo, acarretando uma tendência à homogeneização dos espaços livres e prejudicando não apenas a consolidação de uma identidade autêntica na paisagem urbana, mas, especialmente, a preservação do caráter público que soa espaços públicos.” Para o autor “A palavra ‘público’ indica que o lugar deve ser acessível, sem exceção, a todas as pessoas” . Por outro lado, “... paradoxalmente, embora o espaço público possa ser também o lugar das indiferenças, ele caracteriza-se, na verdade, pela submissão às regras da civilidade”. Segundo Alex (apud Mark Francis, p. 21), “... os espaços públicos são paisagens participativas, e o controle do usuário pode ser compreendido com base nas cinco dimensões propostas por Kevin Lynch para construir ‘bons’ ambientes: presença, uso e ação, apropriação, modificação e disposição”. As praças segundo Sun Alex, devido à degradação ambiental, “priorizaram o verde em um processo de compensação dessa degradação, ao invés de priorizar o homem, ou seja, a praça como convergência de fluxos urbanos passa a ser local de recreação e repositório de verde.” Ao priorizarem o repositório de verde ao invés do homem, as praças existentes são compostas por grandes áreas gramadas, o que dificulta na transição, por exemplo, em dias chuvosos, na manutenção e em casos de fluxo constante de pessoas sobre a mesma, ela acaba se deteriorando. Os calçamento das praças, são constituídos de caminhos estreitos, de aproximadamente noventa centímetros à um metro e vinte centímetros, criando “corredores” de passagem ao invés de criar áreas de transição. Não convergem diferentes usos e fluxos, mas, sim, os limitam. Segundo entrevista com profissionais da Prefeitura do Município de Cotia, as intervenções não dispõem de um projeto amplo e aprofundado. O traço não existe nestes locais e, apesar disto, eles funcionam, talvez, devido a um uso e apropriação constante da população, o que poderia ser potencializado e ampliado com o uso do traço.


Uso da praรงa. Foto tirada pelo Autor.

Praรงa sobre Riacho. Foto tirada pelo Autor.

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Ocupação de ambas as margens

Jardins para tratamento de águas pluviais

Muros de contenção/ Bancos

Praça, relações vislumbradas.

Transições transversais

Piso para pedestres 64


Iluminação Pública

Praça ‘Terminal’. Foto tirada pelo Autor.


Mobiliário Escultural

Conexão Física com o Ribeirão

Praça relaçõe vislumbradas.. Foto tirada pelo Autor.

Balizadores

Jardins para tratamento de das águas pluviais 66


A Ambivalência

A Prefeitura do Município de Cotia é carregada com diversas simbologias sociais e históricas. Embora seja um local que represente a democracia, a gleba onde se encontra, é isolada fisicamente por grades e desníveis, desarticulando a vida cotidiana à prefeitura. Na frente da prefeitura, se encontra um estacionamento, onde ocorrem diversos usos, como feiras livres, práticas esportivas, local para treinamento de motoristas, dentre outros. Os ensaios das Prefeituras vislumbram uma praça democrática, onde o principal objetivo é proporcionar a democratização e o acesso ao conhecimento, incentivando reflexões e debates, para isso vislumbrou-se um biblioteca como símbolo da democratização do conhecimento, também, vislumbrou-se a possibilidade de museu a céu aberto, onde a intenção é atiçar e informar os cidadãos.

Registro das grades que cercam a Prefeitura. Foto tirada pelo Autor.


Registro de Prefeitura Municipal de Cotia. Foto tirada pelo Autor.

Registro da Prefeitura. Foto tirada pelo Autor.

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Grades que cercam a Prefeitura. Foto tirada pelo Autor.

Vista da Av. Rotary, Prefeitura atrรกs. Foto tirada pelo Autor.


Vista da Rua Turmalina, Prefeitura Ă esquerda. Foto tirada pelo Autor.

Paisagem vista do terreno da Prefeitura. Foto tirada pelo Autor.

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a alin

Prefeitura

Av. Rot ary

Av. Prof. Manuel JosĂŠ Pedroso

urm R. T

Desenho do Autor sobre estudos geogrĂĄficos da prefeitura.


Prefeitura

Desenho do Autor sobre estudos geogrรกficos da prefeitura.

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Desenhos do Autor sobre o Projetos: Livraria Cultura, do Studio MK27, SĂŁo Paulo-SP; Biblioteca e Escola de Arte Rozet, de Neutelings Riedijk Architects, Arnhem- Holanda; e o Centro Cultural e Biblioteca EEMHUIS, Neutelings Riedijk Architects, Amersfoort- Holanda.


Desenhos do Autor referentes Ă estudos e vislumbramentos projetuais.

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Ă rea de estacionamento, frente Prefeitura. Foto: Google Street View.


Praça seca, de uso misto

Biblioteca

Mobiliário/ Área de Estar

Calçadão Balizadores 76


Ă rea de estacionamente, frente Prefeitura. Foto tirada pelo Autor.


Mirante Rua em nível superior

Janelas para leitura

Rampa que conecta a Praça Seca à Rua em nível superior Bancos/ Arrimo Praça Seca/ Diferentes Usos 78


Mobiliรกrio Urbano

Estante de Livros Comunitรกria

Assentos

ร rea Coberta


Proteção parcial contra interpéries

Telhado Verde

Bicicletário 80



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Bebedouro AcessĂ­vel

Bebedouro

Garrafas

Animais

Bebedouro

Possibilidade de Lixo ou Vaso

Banco


Poste de Iluminação

Balizadores

Iluminação

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Corte Esquemรกtico

Corte Esquemรกtico

Corte Esquemรกtico


O Ambiental

Infraestrutura Verde

A infraestrutura verde é um conceito novo, não existindo um consenso consolidado sobre o tema, porém segundo a Agência Europeia do Ambiente – AEA (2015) descreve como um instrumento com soluções baseadas na própria natureza, possibilitando benefícios ecológicos, econômicos e sociais. Em outras palavras, são sistemas naturais ou seminaturais capazes de auxiliar na qualidade ambiental, desempenhando diversos papéis, como o aumento da biodiversidade, melhoria da qualidade do ar, diminuição de ilhas de calor, propicia ambientes mais agradáveis, enriquecem a paisagem, melhoria na qualidade dos cursos d’água, ou seja, melhoria da qualidade de vida em geral.

Jardins de Chuva

A proposta consiste na implantação dos jardins de chuva, parte do conceito da infraestrutura verde adotada para o projeto. Segundo o documento, Projeto técnico: Jardins de Chuva, Soluções para Cidade, s/d, produzido pela Fundação Centro Tecnológico de Hidráulica – FCTH e pela Associação Brasileira de Cimento Portland - ABCP, os Jardins de Chuva ou Sistema de Biorretenção são jardins que se utilizam das atividades biológicas de micro-organismos e de plantas para depurar águas pluviais, por processos de filtragem, decomposição, adsorção, troca de íons e volatização, e que favorece para a retenção e infiltração das águas provenientes da precipitação. Consiste basicamente de depressões com vegetação e elementos que contribuem para filtrar as águas pluviais provenientes do escoamento superficial, que as mesmas ficam retidas nessas depressões, criando poças, que gradativamente vão infiltrando no solo.

Wetlands

Os wetlands, são sistemas construídos para o tratamento de efluentes, baseado em mecanismo naturais, que apresentam uma simplicidade na implantação, diminuição de custos e melhoria da paisagem natural, utilizando principalmente vegetação aquática. Podendo ser empregada em diversos usos, como no tratamento de cursos d’água poluídos, tratamento de águas provenientes do escoamento superficial, tratamento de efluentes industriais ou sanitários, entre outros. Segundo a empresa Wetlands construídos, os processos de depuração ocorrem por processos físicos com a filtração, sedimentação, volatização, químicos com a adsorção, oxidação, redução, precipitação e quelação, e biológicos como degradação e absorção por microorganismos, dacaimento de patógenos, extração pelas plantas, entre outros.

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Referências Abbud, Benedito(2006), Criando Paisagens 4.ed. São Paulo: Editora Senac. Alex, Sun (2008), Projeto da Praça Convívio e Exclusão no Espaço público, 1ª ed. São Paulo: Senac São Paulo, 2008. Caldeira, Teresa (2000), Cidade de muros Crime, segregação e cidadania em São Paulo 1ed. São Paulo: Editora 34 Ltda/ Editora da Universidade de São Paulo. Debord, Guy (1958), texto publicado no n°. 2 da revista Internacional Situacionista. Gehl, Jan (1936-), Cidade para as Pessoas 2.ed. São Paulo: Perspectiva, 2013. Jardins de Chuva, Soluções para Cidade, s/d, produzido pela Fundação Centro Tecnológico de Hidráulica – FCTH e pela Associação Brasileira de Cimento Portland – ABCP Proposta de Plano de Desenvolvimento e Proteção Ambiental (PDPA) para a Bacia do Cotia, 2016 Site da Prefeitura Municipal de Cotia, Histórico da Cidade de Cotia. Disponível em: <http://www.cotia.sp.gov.br>. Acesso em: ago.2017 Site do IBGE, Histórico da Cidade de Cotia. Disponível em: <http:// biblioteca.ibge. gov.br >. Acesso em: abr.2017 SOS Mata Atlântica, Importância ambiental. Disponível em: <http:// www.sosma. org.br/nossa-causa/a-mata-atlantica>. Acesso em: mai.2017. WetLands, O que são wetlands. Disponível em: <http://www.wetlands.com.br/>. Acesso em: mai.2017. EEA Europa, Definição Infraestrutura Verde. Disponível em: <http://www.wetlands. com.br/>. Acesso em: mai.2017. Câmara Municipal de São Paulo, Pedestres se arriscam ao evitar passarelas. Disponível em: <http:// www.camara.sp.gov.br/blog/pedestres-se-arriscam-ao-evitar-passarelas/>. Acesso em: mai.2017. Breve histórico da Internacional Situacionista, por Paola Berenstein Jacques, 2003. Disponível em: <http:// www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/03.035/696 >. Acesso em: abr.2017. The Naked City, imagem. Disponível em: < http://glasstire.com/2012/11/23/the-ten-list-walk-as-art/the-naked-city-1000/>. Acesso em: abr.2017.

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Filipe Yari

2017

Ensaios Urbanos



Filipe Yari Tikkanen Negrão

Ensaios Urbanos

Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Centro Universitário Senac - Campus Santo Amaro, como exigência para a obtenção do grau de Bacharel em Arquitetura e Urbanismo. Orientadora Profª Marcella de Moraes Ocke Mussnich.

São Paulo 2017



Resumo A partir de diversas reflexões sobre o dia-a-dia das cidades contemporâneas, e de uma necessidade da vivência do espaço urbano como usuário, o Trabalho se molda no re-conhecimento da paisagem urbana por meio da vivência e da experiência sensorial, que resultou em diversas percepções e reflexões, traduzidas por meio de registros fotográficos, relatos e ilustrações. As reflexões sobre as experiências vividas, acabam sendo maturadas através do ato do desenhar, que se tornaram vislumbres projetuais ilustrados, baseados em estruturas existentes com diferentes espacialidades e possíveis proposições de novas e diferentes espacialidades. Palavras chave: Paisagem Urbana, Vislumbres Projetuais, Desenho, Registro Fotográfico, Espaço Urbano, Município de Cotia. Abstract From several reflections on the day-to-day of contemporary cities, and a necessity of the experience of urban space as a user, the Work is shaped in the reconnaissance of the urban landscape through daily living and sensorial experiences, which resulted in diverse perceptions and reflections, translated through photographic records, account and illustrations. The reflections on experienced experiences end up being matured through the act of drawing, which became illustrated projects glimpses, based on existing structures with different spatialities and possible propositions of new and different spatialities. Keywords: Urban Landscape, Project Glimpses, Drawing, Photographic Record, Urban Space, Municipality of Cotia.



Sumário Introdução - 10 A Memória e o Rio: Referências Afetivas - 13 Percurso da delimitação do trabalho - 18 O Orbitar - 21 Por onde se passa - 25 A Cidade e a Cicatriz - 39 Os Bloqueios - 41 Os Artefatos - 43 A Nascente - 47 A Grande Farsa - 49 A Droga no Espaço Público - 51 A Incontingência - 53 O Conglomerado - 54 As Transições - 55 As praças - 61 A Ambivalência - 68 Mobiliário Urbano - 79 O Ambiental - 80 Referências - 88


Introdução Minha jornada teve inicio com a necessidade de um re-conhecimento da paisagem urbana. Ao longo do curso de Arquitetura e Urbanismo do Centro Universitário SENAC - Santo Amaro, iniciei minhas reflexões de como olhar sobre as Cidades, particularmente, as que faziam parte do meu cotidiano. Assim foi possível perceber incoerências que provocavam inquietações decorrentes do percurso realizado através das diversas disciplinas com seus respectivos conteúdos, reflexões coletivas em pequenos grupos e com toda a turma, textos, teorias e a realidade vivida. As diversas, quase infindáveis discussões sobre apropriação dos espaços públicos, melhoria da qualidade de vida, melhoria da mobilidade urbana, bem como a falta de manutenção e degradação dos espaços públicos, falta de socialização dos cidadãos, falta de cidadania, tudo recorrente ao modo de como as cidades foram e estão sendo formadas. Surgiu das reflexões uma necessidade do re-conhecimento da paisagem urbana como usuário e como ator de espacialidades, podendo ser traduzidas em sensações, percepções e vivências, que fortalecem as noções espaciais, culturais, sociais e técnicas, e levam à novos ideais, no sentido lato da palavra, ou seja, como constituição de ideias, novos imaginários, criação de espaços e proposições.

Fonte: Ilustração de G. E. Debord, 1957 (S/d, apude, Site Glasstire).


A provocação do re-conhecimento da paisagem urbana ocorreu através da metodologia situacionista, principalmente nas aulas de Projeto Interativo (PI), que propunha a vivência como instrumento de elaboração do novo urbanismo, utilizando-se da técnica metodológica de mapas psicográficos, através da deriva, que são baseados nas percepções do próprio autor. Esse interesse pela paisagem urbana, suas diversas reflexões e a ampliação das vivencias do espaço público, proporciona uma primeira ideia do trabalho de conclusão de curso, ou seja, utilizar da deriva como metodologia de proposição de novos espaços urbanos. A deriva é baseada em uma metodologia, uma ferramenta dos situacionistas do final da década 60 e início da década de 70 do século XX. Segundo a tradução feita por membros do Gunh Anopetil, de 19 de março de 2006 do texto publicado no nº 2 da Revista Internacional Situacionista em dezembro de 1958, os Situacionistas defendiam o Urbanismo Unitário – UU, criticando o urbanismo que ao invés de construir ‘sobre o terreno’ constrói ‘sobre o papel’. Buscavam novas espacialidades que permitissem a integração da cidade ‘em uma rede de interações’. Enxergavam o espaço urbano sem seu aparente caos. Pensavam uma arquitetura capaz de propiciar relações humanas induzindo à contestação e à revolta, denunciando as alienações e aspectos alienantes. Utilizavam a ciência da Psicografia para analisar e avaliar as relações, comportamentos e percepções entre humanos e contextos ambientais, criando mapas subjetivos de uma geografia afetiva, uma cartografia das espacialidades e ambiências psíquicas. A deriva apresenta como conceito principal a vivência que procura romper com a representação racional dos espaços, buscando uma percepção da complexidade das cidades, decifrando a cidade entendida como um ‘labirinto’, não seguindo itinerário, andando sem rumo baseando-se nas percepções e afetividades em relação ao espaço, descobrindo ambiências psíquicas e questionando o urbanismo moderno. The Naked City, assinado por Guy Debord (1957), foi resultado da psicografia e da deriva realizada na cidade de Paris, França. Uma das ilustrações mais icônicas do pensamento urbano Situacionista e sobre o Urbanismo Unitário, traduzidos em uma ilustração, composta por diversas partes do mapa da cidade de Paris em preto e branco, recortadas e dispostas de forma a não representar a realidade física e geográfica, porém representam as diferentes espacialidades baseadas em diferentes ambiências, setas vermelhas indicam as possíveis conexões entre as diferentes ambiências, resultado indicado pela metodologia da deriva.

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Fotos das margens do Rio Paranepanema, Piraju - SĂŁo Paulo. Fotos tiradas pelo Autor.


A Memória e o Rio: Referências Afetivas

Historicamente, observam-se as aglomerações urbanas se consolidando perto de fluxo de água devido às próprias necessidades de sobrevivência. Além dos benefícios que os cursos d’água possibilitavam para a sobrevivência dos aglomerados humanos, estes também foram usados para descartes, que, com o processo de urbanização verificado nos últimos séculos, principalmente no século XX, esses fluxos foram sendo sufocados pela urbanização e poluídos pelos descartes de resíduos, até o momento de se consolidar na consciência coletiva a associação aos rios, córregos, riachos e de forma geral às águas urbanas, como algo sujo e inapropriado para uso, sendo que muitas delas são, declarando assim, morte às águas. A água, ao menos ao meu imaginário, esta associada à memória, uma memória afetiva. Raros são os cursos d’água não contaminados e, como exemplo, cito o Rio Paranapanema que passa pela cidade de Piraju, no interior do Estado de São Paulo. Lá viviam meus avós, e ao passar as férias na casa deles, desenvolvi uma relação de afeto com os espaços públicos criados a partir do curso d’água do rio Paranapanema, onde suas margens se constituem como espaço de contemplação e lazer, também com influências humanas, pois o Rio encontra-se represado. , A cidade de Piraju é uma cidade pequena, em torno de 28 mil habitantes, sendo cortada pelo rio Paranapanema onde passei minha infância às margens deste rio. Nadava, pescava, desenvolvendo muito respeito pelo rio e consequentemente pela água. Enquanto Cotia local da minha residência era cortada pela rodovia Raposo Tavares, criando um ambiente segregado e desconexo. Com estas reflexões e contradições, ficaram mais claras as situações dos rios em São Paulo e na região metropolitana, com diversos rios tamponados, retificados e desrespeitados, bem como a ausência quase absoluta de espaços públicos ao longo das margens dos cursos d’água, devido ao fato de estarem poluídos. Em nossas discussões acadêmicas surgiam propostas de intervenções relacionadas com essas preocupações, entre tantas outras, surgindo ideias de construção de jardins de chuva, diminuindo a vazão que corre diretamente aos cursos d’água, assim diminuindo os alagamentos, sendo que, ao refletir sobre isto, concluímos que os frequentes locais onde ocorrem alagamentos são locais onde os rios estão retomando o espaço que ocupavam anteriormente, o rio esta se manifestando. Assim nos encontrávamos em grandes dúvidas reflexivas, estabelecendo certas ambiguidades em estabelecer determinados tipos de soluções.

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Foto da margem do Rio Paranapanema, Piraju- SĂŁo Paulo. Foto tirada pelo Autor.


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A nascente, fonte pura que brota das rochas e aflora a vida ao percorrer seus caminhos sinuosos morro abaixo, o som do fluir das รกguas, o frescor que dela emana, a pureza translucida que permite ver o fundo e ao mesmo tempo o reflexo evanescente que se vai com as รกguas, tranquiliza a mente e relaxa o corpo, faz transparecer as necessidades primitivas do homem, a vida.


Foto da margem do Rio Paranapanema, Piraju- SĂŁo Paulo. Foto tirada pelo Autor.

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Percurso da delimitação do trabalho Como primeira proposta de trabalho surgiu a ideia de analise de estruturas já existentes e reformulá-las a partir de novas concepções criativas. Comecei esta análise no Bairro da Vila Madalena, pois era o local onde estava realizando meu estágio. Ao caminhar pelo bairro, constatei o processo de descaracterização do mesmo devido à valorização imobiliária da região, atualmente dotada de um gama de restaurantes, bares, escritórios e lojas. A observação das dinâmicas econômicas e sociais do Bairro, como o fato de casas estarem sendo demolidas para a construção de novas torres e empreendimentos, devido à ‘boa vizinhança’, interfere nas espacialidades características da região, descaracterizando e tirando aquilo é seu valor espacial. Não defendo o estancamento da morfologia urbana, sendo ela estática, entendendo o fator tempo e novas necessidades, mas critico a forma como esses grandes empreendimentos estão sendo construídos: com grandes lotes, deslocamento da rua, e térreos não ativos. Ao mesmo tempo em que esses empreendimentos se aproveitavam desta valorização, que é consequência do valor histórico do bairro, localização geográfica e econômica, dentre outros fatores, é interessante ressaltar a morfologia da escala do pedestre, existente em construções mais antigas do bairro, como fachadas ativas, grande número de unidades, altura condizente com o pedestre, dentre outros... Segundo o site vivamadalena, a Vila Madalena que começou a ‘se agitar’ por volta da década de 70, devido ao fechamento do CRUSP pelo regime militar, um grande número de estudantes se mudaram para o bairro, devido ao baixo custo e proximidade com a universidade, a partir disso o comércio local começou a se modificar, atendendo a necessidade dos estudantes, passou a ser um ponto de efervescência boêmia e sócio-cultural. A partir da década de 90, teve inicio processos de transformações devido à valorização imobiliária que destrói o que proporcionou a valorização do mesmo, ou seja, é irrefutável o fato das construções que valorizaram o bairro, devido ao baixo custo e localização, estabelecendo uma identidade, passaram a serem destruídas, criando a eliminação da própria maneira de ser do bairro, através da implantação de grades, muros, portarias, referentes a esses novos empreendimentos voltados a uma classe média e alta, descaracterizando o que efetivamente constituiu como sendo o seu ‘valor’. A partir das reflexões e percepções do andar pela cidade de São Paulo, com todas as críticas sobre a cidade, e mais objetivamente, em um bairro que apresenta boas qualidades por ter uma apropriação do espaço publico e manifestações artístico-culturais acima da média, e, em contraposição, a reflexão sobre o espaço privilegiando o automóvel, como se constata em São Paulo e em sua região metropolitana, particularmente, na cidade de Cotia, me provocou a analisar a cultura de apropriação e vivencias do espaço público desta cidade, particularmente e principalmente por nela residir.


Desenhos feitos pelo Autor ao andar pelo Bairro da Vila Madalena.

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O Orbitar O Trabalho consiste na experiência sensorial, vivenciada através da paisagem urbana, que proporcionou diversas percepções traduzidas em registros fotográficos e alguns desenhos. A partir de minhas experiências, pensamentos e reflexões, surgiram e desabrocharam vislumbres projetuais na forma de ilustrações. A experiência sensorial, sem rumo, na paisagem urbana, propícia estímulos, explorando e conhecendo locais e lugares onde comumente não são explorados e conhecidos do cotidiano, levando a uma exploração da paisagem urbana. A buscar por novas perspectivas e sensações, me levaram a lugares que, no vai e vêm da vida cotidiana, não se desvelaria. Inicialmente iniciei minha deriva na cidade de Cotia, ao longo do Ribeirão das Pedras, córrego paralelo à Rodovia Raposo Tavares, onde pude observar a degradação ambiental devido ao descaso e abandono do ribeirão e seu entorno, porém com um frequente fluxo de pedestres. A partir das vivências e observações, percebi as potencialidades de conexões entre as diferentes espacialidades, iniciando meus registros fotográficos. Ao andar ‘solto’ pela paisagem urbana, alguns elementos e estímulos me atraíram e fizeram com que retornasse para o mesmo local, sempre buscando as relações e percepções que esses locais estabeleciam com o entorno. Sempre que saia para fazer as deriva, me encontrava nas proximidades com o ribeirão, comecei a perceber as relações que ele estabelece com o entorno, e aceitei o fato de uma esfera de influência desse curso d’água. A partir da proposta situacionista e de sua metodologia deriva, denominei O Orbitar, como metodologia deste trabalho, pois no seu desenvolvimento não se restringia à deriva, mas se diferenciava sem desconectar, talvez, uma derivaração da devira. Assim, estar em orbita significa estar sob ação ou influência de algo, uma trajetória ao redor de certo ponto de influência. O ato de orbitar é estabelecido quando no processo de percepção de um espaço identifica-se e foca-se em certo ‘ponto’ de interesse, uma ‘força espacial potencial’, assim estabelecendo uma relação de órbita no entorno do ‘ponto’ selecionado, buscando conhecer o máximo das relações a partir deste ‘ponto’ e suas potenciais relações, não estabelece um área de atuação, mas sim um área de influência. O que difere o ato de orbitar de um estudo de campo, é a forma em que estes ‘pontos’ foram escolhidos. No orbitar o autor esta solto no ambiente e é instigado por espacialidades, cada vez que o orbitar é realizado, as relações mudam, muitas vezes o ‘ponto’ de interesse e de influência também mudam.


Viver para sentir e assim, planejar. Vivenciar como projetista e planejar como usuรกrio.

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Mapas resultado do Orbitar.


Por onde se passa Em minhas vivencias na paisagem urbana, diferentes sensações físicas e mentais surgiram, mesmo num processo de desaceleração das passadas, certos locais ainda inibem à diminuição do passo, ou aceleramos sem perceber. Caminhos objetivos, onde sua principal função é ir de um ponto A, ou ponto B, muitos deles lineares e sem atrativos, faz com que a frequência das passadas aumente, te levando a cruzar o espaço o mais rápido possível. O fato de parar nestes trajetos causa certo estranhamento nos outros que vêm a transitar, pois ali não é lugar de parar, não faz sentido você estar parado em um local sem atrativos e que muitas vezes atrapalha outros caminhantes. Ao andar pela paisagem, percebo uma diferenciação no andar das pessoas. Normalmente pessoas com idades mais avançadas são muito mais receptíveis a estímulos, são, de maneira geral, mais atenciosas ao andar, são mais perceptíveis e observam mais o ambiente, por outro lado, crianças sempre estão explorando e interagindo com o espaço, sempre à busca de diversão. Assim como os animais, os humanos buscam o caminho que oferece menor esforço/ resistência, visando inconscientemente à economia de energia. Essas sensações podem ser inibidoras e incentivadoras de certas decisões tomadas pelo usuário, como a escolha do trajeto que ele fará. Andando por uma faixa estreita e retilínea, com diversos obstáculos, o passo aqui é devagar, contemplativo, desvio por resquícios da passagem de humanos deixados pelo caminho, leio seus rótulos e suas embalagens chamativas, respiro o ar, e, nele, um cheiro fétido invade minhas narinas, me viro e ao final do barranco, vejo às águas podres e cinzas do riacho, me batendo uma tristeza. Imagino às águas claras e com vida, pessoas na margem apreciando a passagem das águas que correm morro abaixo, o barulho de um automóvel me tira do vislumbramento, assim como uma pessoa que vêm na direção contrária, eu tenho que desviar, indo para a rua, para que a passagem de ambos não fique interrompida. Vindo nos corredores apertados designados para nós caminhantes, encontro uma clareira para meus pés, ali que já fora uma rua, hoje é um gramado, já esta melhor do que fora, embora haja a clareira, os corredores se mantém, porém bifurcados, aqui não existem barreiras físicas para o acesso ao pisar macio na grama, mas prefiro me manter na linearidade do caminho fácil. Avisto um banco de concreto, com um formato singular, invado o piso macio e me sento, seu desenho ondulado, porém pontudo e autoritário não me deixa explorar o objeto, só me permite sentar em um sentido, em uma posição específica, caso contrário se torna desconfortável, me impossibilita de deitar, de sentar longitudinalmente etc...


O passo compassado dos caminhantes, o pé que passa o pé, que passa o pé e assim se vão sumindo na paisagem urbana.

Passo a observar o fluxo de pessoas nessa praça, muitas delas andam ainda nos caminhos retilíneos, duros e delimitados, pouquíssimos se aventuram a entrar na maciez do solo. Os que cá ficam são de idades variadas, muitos esperam os ônibus que saem de lá, no ponto, cercado de lixo, é talvez pelo fato de não existirem lixeiras na praça. Das pessoas que ali se encontram a única a olhar atentamente ao riacho sou eu, percebo diferentes animais, pássaros que pulam de galho em galho, como o sabiás e rolinhas, já no chão, formigas trilhando seu caminho para o formigueiro, borboletas, besouros, embora sufocados, a vida ainda vive.. Mais ao canto, perto de ônibus estacionados, se encontram diversos motoristas e cobradores, aqui serve como um ‘terminal’, a estrutura mínima que os atende, como um banheiro químico, com um cheiro forte de urina, e uma cabine coberta, assim como bancos, os tais autoritários. Venho a andar por uma escassez de verde, ao lado um muro que me acompanha na maior parte de meu caminho, do outro, a rua, nesse corredor, embora desértico e monótono me deparo com estruturas verticais, dispostas ao longo do trajeto, que, por incrível que pareça, me deram uma sensação de segurança, elas criaram uma dinâmica diferente, adequaram mais à minha escala, entre a rua e o muro.

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Mapa Geogrรกfico da รกrea do Ribeirรฃo das Pedras.

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Viela nas proximidades com a Nascesnte. Fotos tiradas pelo Autor.


Muros, RibeirĂŁo, Rua e Aglomerado. Fotos tiradas pelo Autor.

Fluxos Espremidos Fotos tiradas pelo Autor.

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RibeirĂŁo PoluĂ­do. Fotos tiradas pelo Autor.


Efluentes. Fotos tiradas pelo Autor.

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Riacho. Fotos tiradas pelo Autor.

Desenho de vislumbre.


Desenho de vislumbres, cortes esquemรกticos.

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Relação com Ribeirão atual. Fotos tiradas pelo Autor.


Detalhe Banco Arrimo

Valetas para águas pluviais

Balizadores

Relação com Ribeirão vislumbradas.

Ocupação em ambas as margens

Bancos Arrimo

Calçadão Arquibancada 36



Paisagem Urbana. Foto tirada pelo Autor.

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A Cidade e a Cicatriz A versão mais aceita da origem do nome Cotia decorre dos caminhos na região serem muito sinuosos, remetendo aos ‘caminhos’ feitos pelos Kutis, indicando que a região era muito marcada pelos caminhos dos Kutis, passando assim a nomear a cidade: Cotia a cidade onde viviam as Kutis. Segundo o IBG, desde o século XVII, a região era ponto de passagem e parada para viajantes e tropeiros, cargas e mantimentos, que faziam principalmente o percurso entre São Paulo e Sorocaba. O município de Cotia amplia o seu desenvolvimento econômico quando surgem organizações agrícolas a partir de novos sítios, dinamizando a produção agrícola da região. Nesta mesma época tem inicio o processo de industrialização, com a implantação de indústrias se instalando ao longo da rodovia que interliga São Paulo a Sorocaba, mas sofre um processo de estagnação, pois o processo de industrialização acompanhou a Ferrovia Sorocabana. Este processo de industrialização ao longo da Ferrovia Sorocabana, exclui a cidade de cotia, devido ao fato desta ferrovia não passar pelo município, e neste aspecto, a cidade fica isolada desta malha de crescimento ocorrida em direção ao oeste paulista e que conquistou grande riqueza para todo o estado. Apesar de estações próximas à Cotia, esta vive uma estagnação, principalmente em relação à própria cidade de São Paulo que, em 1964, era considerada uma das cidades mais modernas do mundo, e apesar da proximidade, o município de Cotia segundo biblioteca do IBGE “[...] era chamada de ‘sonolentos subúrbios agrícolas, onde o progresso para e não deixa marcas.”, ficando defasada em relação ao momento histórico que passava a cidade de São Paulo. Somente a partir dos anos 70 do século XX, após instalação de indústrias de grande porte ao longo eixo da Rodovia Raposo Tavares, ocorre um crescimento acima da média do estado de São Paulo, fazendo com que sua população que não passava de 50 mil habitantes, superasse 110 mil habitantes. A partir da implantação de indústrias na região, ocorre um desenvolvimento da cidade, resultando na melhoria do viário local, como o asfaltamento de estradas locais para garantir o desenvolvimento do município, apesar do desmembramento de seu distrito mais próspero em 1981, o distrito de Raposo Tavares que irá constituir o município de Vargem Grande Paulista.


Com este desenvolvimento ocorre um surto populacional que atrai migrantes de diversos municípios e de outros estados brasileiros. No início da década de 90 do século XX, problemas já recorrentes em municípios vizinhos, como o crescimento desordenado, aumento da violência, falta de assistência médica adequada, incidem com mais recorrência no município. Outro elemento a ser considerado é resultado do processo de industrialização da década de 90, a ampliação do sistema rodoviário com toda infraestrutura urbana voltada para o transporte motorizado e individua. O referido espaço pode ser identificado como fator de descaso no trato dos espaços comuns, a partir do desenvolvimento pautado no modelo rodoviarista potencializado pela ideologia individualista, produtos da influencia do modernismo norte-americano que defende que as ‘necessidades’ são supridas no espaço individualizado e, desta maneira, suprime a necessidade do espaço público, fato constatado neste processo de industrialização e crescimento. Este movimento migratório, segundo dados do IBGE, provocou um crescimento populacional chegando a 148.987 habitantes em 2000 e 231.696 no ano de 2016, um crescimento de, em torno, 64%. Tal crescimento, com ausência de planejamentos macros, dentre muitos outros fatores, concretizam-se na falta de planejamanto dos espaços públicos e outros serviços básicos para sua população, formando assim, a paisagem urbana atual, cortadas por uma Rodovia e espaços públicos desarticulados. A características topográficas da região, são compostas, em sua maioria, por morros baixos devido ao relevo ondulado, com declividades entre 20% e 30%. Vales fechados e assimétricos; planícies aluviais restritas e planícies aluviais que se caracterizam por terrenos baixos e planos junto aos cursos d’água, segundo o relatório técnico do Plano de Desenvolvimento e Proteção Ambiental (PDPA, 2007). Essa topografia inclinada dificulta na criação de projetos articuladores do meio urbano, devido a grande complexidade em sua execução.

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Os Bloqueios Os bloqueios aqui apresentados podem ser físicos ou mentais, como uma parede ou um rio que impede você de atravessa-los, ou como uma sensação de inibição e insegurança ao entrar em um beco sem movimento, por exemplo, ou até relacionados a comportamentos sociais como não fazer certa ação por estar sendo observado, ou observar comportamentos ao redor e entender que certo comportamento não seria tolerado ou não está adequado com as regras do lugar. O homem age e reage sobre os estímulos, o ambiente muda o homem e o homem muda o ambiente, esses laços intrínsecos inseridos nas características humanas possibilitam diversos comportamentos humanos, que podem ser refletidos sobre o território. O homem tende a continuar com certos comportamentos, por eles de certa forma, obtiveram êxito, dificilmente o homem mantem-se com comportamentos quando são mal sucedidos, que não garantem sua sobrevivência. É possível observar tais comportamentos humanos especializados como os muros. Os Muros fazem parte da história da humanidade, uma solução espacializada a um comportamento, necessidade, interesse, ideal, etc.... Expressando-se no meio físico, suas principais funções são delimitar, afastar, impedir, repelir ou bloquear fisicamente que algo/alguém o transpasse. O muro que se transformou em um elemento espacial bem sucedido, que cumpre bem o papel ao qual ele fora criado, se tornou símbolo de divisão e segregaçã. Assim como na idade média, castelos e fortalezas eram cercados de muros afim de impedir ameaças externas, que vinham de fora da cidade, em contraposição, hoje, os muros são feitos para se “proteger” da própria cidade, pois se constitui como sendo muitas cidades. O muro impede os acessos físicos, acessos sensitivos como o acesso visual e o auditivo e os acessos sócio-cultural. No ensaio da área da nascente, o muro existente, que serve para impedir acessos, é colocado de forma a potencializar a área, proporcionando novos usos, apropriações e espacialidades, rompendo com seu maior simbolismo e função, que é a de separar.


Os ensaios também vislumbraram uma correlação entre moradores de diferentes classes sociais e tipologias urbanas. Buscam uma imagem comum para os cidadãos, vindo por meio de espaços comuns de convivência, visto que, na região existem diversos cercos aglomerados (condomínios) e em muitos deles não existem áreas comuns. Barrando e repelindo “invasores”, desde “invasores” de privacidade, podendo ser invadida apenas com o sentido da visão ou audição, como invasores territoriais, estando no local fisicamente. Outros aspectos das reflexões apontavam para o espaço público como potencial que poderia proporcionar melhor qualidade de vida, a questão dos muros como limitantes de convívio, condomínios fechados com infraestruturas próprias, e, como consequência, o desuso da cidade, e esta se tornando obsoleta do ponto de vista de apropriação coletiva, como local de encontro das pessoas e o espaço público como simplesmente um local de passagem.

Registro de grandes glebas e bloqueios. Foto tirada pelo Autor.

Registro de bloqueios agressivos. Foto tirada pelo Autor.

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Os Artefatos

A criatividade humana é expressa principalmente na necessidade e no ócio.

Segundo Abbagnano (2003), o Artefato é um objeto produzido, por qualquer atividade humana, distinguindo-se do objeto natural, este que é produzido pelo acaso. Ainda segundo ele, o Artefato deve constituir-se da realização de um projeto, manifestando a intenção da finalidade determinada, que preexiste à sua construção. Este estudo consiste em registros fotográficos dos artefatos urbanos, oriundos da necessidade humana, buscando explorar os resquícios da atividade humana. Os resultantes dessa necessidade humana se transformaram em estruturas físicas, o que possibilitam uma análise e um entendimento por meio dos próprios artefatos criados.


Registro de Artefato Urbano- Bancos e mesa. Foto tirada pelo Autor.

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As percepções, vivências e sensações como usuário, fortalecem o imaginário para ‘novos’ espaços.

Registro de Artefato Urbano - Lixeira. Foto tirada pelo Autor.

Registro de Artefato Urbano - Bancos ao Longo da calçada. Foto tirada pelo Autor.


Registro de Artefato Urbano - Banco ao longo do Ribeirão.

Referências Traçadas Aqui encontram-se algumas referências projetuais dos vislumbres. O traço permite a aproximação da intenção de outros projetistas nas soluções espaciais, construindo uma sensação espacial e afetiva ao redesenhar os projetos consolidados, estabelecendo relações intimas, também permite que influencias pessoais, dentre elas o próprio traço autoral, venham a tona. O ato de desenhar foi utilizado como metodologia para o estudo e de soluções projetuais.

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A Nascente

Ao andar na influência do Riacho, o curso me leva à uma grande gleba, os muros cercam e afastam qualquer contato visual e físico, encontro uma entrada na extremidade norte, fico inibido de adentrar, pois os muros dizem que eu não posso, as barreiras me afastam e me deixam incertos nas minhas decisões. Neste primeiro momento eu não entro, começo a andar pelo bairro buscando conhecer e perceber melhor as relações possíveis. O bairro de classe média/baixa demonstra uma vida na rua constante, sempre com o fluxo de pessoas que andam na própria rua, por não existir calçadas, ou quando existem não estão em suas melhores condições. Por qual motivo temos que diferenciar da rua e da calçada, a rua era dos pedestres antes da vinda dos automóveis, separamos em nível, criamos uma barreira para diferenciar local de carros e automóveis. Sempre tinha a impressão de que quando se ‘descia’ o nível da calçada, da guia, estou em um ambiente que eu não deveria estar, acuado nos cantos para não atrapalhar o fluxo. A acessibilidade nas calçadas normalmente se fazem por rampas em locais específicos, quando são existentes, muitos são impedidos por alguns bloqueios, como os próprios carros, que muitas vezes param sobre os acessos. Em uma das ruas, percebi que existiam alguns balizadores entre o final da calçada e o inicio da faixa de rolagem, o que me deu uma certa sensação de segurança, pensei na possibilidade dessa segurança ser extendida para todo o trajeto, também tirando a barreira que é a guia. Para resolver os problemas das chuvas, valas sobrepostas de grelhas fariam essa função, assim como a guia que guiam o fluxo de automóveis e das águas pluviais ou domesticas que por lá escorrem, dessas valas as águas seriam coletadas por jardins de chuvas e/ou wetlands para o tratamento das mesmas antes de serem devolvidas ao Riacho. Quando adentrei a área de interesse vi um campo de futebol e uma estrutura semelhante a uma quadra, fui andando, percebi que vinha gente atrás de mim, passaram e prosseguiram com o seu caminho, percebi então que poderia estar lá, uma barreira de árvores tapavam minha visão, e, ao cruza-la me deparei com uma infraestrutura já instaurada, porém abandonada, isso que me instigou, construções deterioradas, uma piscina vazia, caminhos como em um parque, a água da nascente represada, de forma a formar um lago, um pátio todo em madeira, destruída, sentei-me em uma área mais afastada e fiquei reparando quem frequentava este local, todos homens, com idades diferenciadas, dos 15 aos 40 anos de idade, muitos usavam o local para o uso de entorpecentes, a maconha. Em diversos locais que pude visitar, locais públicos a droga esta intimamente ligada com esses locais, desde na Vila Madalena, Santo Amaro, Lapa, no Centro como aqui. O homem, ao estar em um momento exposto, justamento por ser algo ilícito, explora a cidade como outras pessoas não a fazem, mas o ato do consumo de drogas, aqui se encontra ligado com o espaço público. Seguia as águas para dentro da mata, encontrando uma bifurcação, de um lado a água era limpa, do outro a água podre, cinza e fétida escorria nas pedras. Comecei a seguir para ver de onde vinha esta podridão, comecei a subir um morro e encontrei um barracão, dois indivíduosme abordaram com a intenção de me induzir a deixar o local, encontei de onde as drogas vinham.


Dos muros que cercam. Foto tirada pelo Autor.

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A Grande Farsa É possível analisar a paisagem urbana e verificar as diversas dinâmicas referentes ao funcionamento das sociedades como um todo, revelando ou omitindo informações do processo de estruturação da formação e organização espacial e social da própria paisagem, tendo como principais agentes os fatores culturais, econômicas e políticas, sendo o espaço geográfico fruto das complexas interações entre aspectos sociais e espaciais. As infraestruturas municipais de Cotia estão principalmente localizadas em áreas sobre cursos d’água, ou em áreas de várzea. Esse processo político, econômico e cultural que agem sobre a paisagem urbana, ainda são frequentes no dia-a-dia das cidades contemporâneas. No decorrer do ano de 2017, o Ribeirão das Pedras, denominado como área de influência do Orbitar, estava em obras, que tiveram como resultado a criação de uma praça, a partir do aterramento de parte do curso d´água. Essa solução mais ‘viável’ economica e politicamente, em relação a um curto prazo de gestões públicas, causam diversos outros problemas, desntre eles os problemas de cunho ambiental. Embora a praça seja algo positivo para a vida urbana, a construção baseada em mascaramentos de problemas sociais, esses quais à falta de acesso a moradia, falta de serviços básicos de saúde, entre outros, que acabam gerando diversos outros problemas, como a poluição das águas urbanas, dentre outros. Levando em conta que diversas estruturas municipais são de uso comum, lazer, cultura e aprendizado, porque não utilizar o rio como potencializador desses espaços?

Registro da Praça sobre Ribeirão.. Foto tirada pelo Autor.


Registro da praça sobre o Ribeirão.. Foto tirada pelo Autor.

Ao trilhar meu caminho, um som, uma felicidade momentânea toma conta de mim, uma sensação simples e agradável me consome, é o som das águas ao cair e colidir com as rochas, gerando um chacoalhar constante e hipnótico, me vejo parado, estanque ao ver o rio fluir rio abaixo, e isso me tranquiliza.

A arquitetura molda o homem ou o homem molda a arquitetura?

Ás águas urbanas, que correm por debaixo de nossos pés, não são mais fluxos vivos, a vida não às permeiam mais, hoje, encobertas por erros humanos, sofrem as consequências e estão condenadas à escuridão. Não é pelo fato de encobrirmos os problemas, que eles deixaram de existir.

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A Droga no Espaço Público A droga, pelas minhas experiências e observações esta muito ligada com a apropriação do espaço público. Em diversos locais me deparei com usuários de diferentes tipos de drogas, desde as drogas lícitas quanto às ilícitas. Assim como o esporte, música e outras atividades, a droga esta intimamente ligada com as relações sociais, é um catalisador de relações, onde pode propiciar contatos humanos e apropriações do espaço público, possibilitando o contato de diferentes ‘camadas’ da sociedade, independente de sua natureza. O espaço público possibilita que diferentes pessoas de diferentes ‘camadas’ da sociedade se encontrem no mesmo local e a droga é mais um catalizador de contatos sociais. O ato de tomar cerveja é mais do que um simples ato de degustar uma bebida, culturalmente este ato esta ligado a se relacionar socialmente, conversar, debater ideias. Em muitos casos, os bares estão localizados com certa proximidade dos espaços públicos, como cadeiras dispostas nas calçadas, grandes aberturas que permitem o contato visual com a rua, deixa aquele local frequentado e observado por quem frequenta o bar. Ou como adolescentes que se reúnem na praça para beber e se conversar. As drogas são uma excelente “desculpa” para as relações sociais, um grande desinibidor e ponto em comum entre pessoas. É comum o fato das pessoas chamarem as outras para beber, ou mesmo ir fumar, porém esta relação esta diretamente ligada com as relações sociais, tanto que quando a pessoa bebe sozinha, normalmente dizem ela esta com problemas com a bebida. O ato de fumar também proporciona contatos sociais, quem nunca te abordou perguntando se você tem um isqueiro. O ato de fumar é interessante pensar que as pessoas se isolam em grupos ou mesmo sozinhas, pois é um momento relaxante, não somente pela ação da nicotina, mas também pelo ato do contato social, da conversa e pelo fato de que fumar necessita um controle da respiração, somente respirar de uma maneira controlada já é relaxante por si só. Nos caminhos do procedimento de orbitar passam diferentes sensações e a busca por um ritmo menos acelerado, faz com que as sensações se multipliquem, percebendo novos detalhes e perspectivas, novos usos e desusos, novos cheiros, novos sons.


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A Incontingência

A dificuldade em conter avanços construtivos em áreas de risco e locais inapropriados, a dificuldade de impedir o descarte irregular de lixo em áreas de interesse ambiental. A dificuldade em reter a expansão territorial, devido a um déficit habitacional que, segundo a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), o déficit habitacional total absoluto da Região Metropolitana de São Paulo, onde Cotia esta inseria é de 623 mil e 653 habitantes, faz com que desenfreados avanços construtivos humanos se instalem em áreas incoerentes, sendo prejudicial à própria população que vive no local e, também, prejudicial para a sociedade de uma maneira geral. Neste processo formativo foi possível constatar a falta do estado vigente em diversos locais da cidade, devido a não existência de um tratamento de qualidade e a manutenção de uma cultura de descaso com o espaço público.

Registro da Conglomerado, casas sobre o Riacho. Foto tirada pelo Autor.


O Conglomerado

O poder público e os equipamentos urbanos como igualador de desigualdades sociais, dentre eles as questões relacionadas à moradia. O conglomerado é fruto de incontingência, onde a dificuldade em reter e controlar os avanços construtivos, devido a um grande aumento populacional levou a uma expansão desenfreada em locais inadequados. O conglomerado tratado nos ensaios foi instaurado em menos de 10 anos, como constatados em imagens aéreas, o descarte de efluentes domésticos no curso d’água e a localização em área de risco, levou com que vislumbrasse, para remediar esta situação, habitações em uma área de Zoneamento Especial de Interesse Social de Vazios (ZEIS) nas proximidades. O ensaio consiste na percepção de que residências padronizadas e genéricas não atendem às diversas necessidades. O vislumbre consiste em estruturas pré-moldadas com pilares dispostos à uma distância de 3 em 3 metros, em um terreno de 6 por 9m, com possibilidade de diversos usos, possibilitando diversas tipologias e matérias na construção, entendendo as diversas situações e que em cada família tem uma necessidade. Com a autoconstrução, que já ocorre nas ‘cidades informai’, com o direcionamento da mão de obra ,potencializa as diversas possibilidades de tipologias.

Ensaios Visuais sobre diferentes tipologias possíveis.

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As Transições

As transições se fazem por locais puramente objetivos e lineares, deixando um caminho monótono e desconfortável, tanto que na proximidade das passarelas os muros de contenção da rodovia são mais altos para evitar justamente que pessoas cruzem pelo meio da rodovia, porém isso ainda ocorre. Sun Alex, (apud Stephen Carr, Public Space, Nova York: Cambridge University Press, 1995, p. 25) classifica acessos ao espaço público em três tipos: físico, visual e simbólico ou social. “Acesso físico refere-se à ausência de barreiras espaciais ou arquitetônicas (construções, plantas, água etc.) para entrar e sair de um lugar”. No caso do espaço público, devem-se considerar também a localização das aberturas, as condições de travessia das ruas e a qualidade ambiental dos trajetos. Acesso visual, ou visibilidade, define a qualidade do primeiro contato, mesmo à distância do usuário com o lugar. Perceber e identificar ameaças potenciais são procedimentos instintivos antes de alguém adentrar em qualquer espaço. Uma praça no nível da rua, visível de todas as calçadas, informa aos usuários sobre o local e, portanto, é mais propício ao uso. Acesso simbólico ou social refere-se à presença de sinais, sutis ou ostensivos, que sugere quem é e quem não é bem-vindo ao lugar. Porteiros e guardas na entrada podem representar ordem e segurança para muitos e intimidação e impedimento para outros. “Construções e atividades também exercem o controle social de acesso, principalmente em espaços fechados, em que decoração, tipos de comércios e política de preços são frequentemente conjugados para atrair ou inibir determinados públicos.”

Transição sobre Ribeirão. Foto tirada pelo Autor.


Transição atuais. Foto tirada pelo Autor.

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Desenhos do Autor sobre o Projeto: Espaço público teatro “La Lira”, em Ripoll, Girona, de RCR Rafael Aranda. Carme Pigem. Ramón Vilalta Arquitectes. (Fonte: Revista Summa + 141).


Desenhos do Autor sobre o Projeto: Passarela The Paleisburg, na Holanda (2015), de Benthem Grouwel Architects. (Fonte: Archdaily).

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TransisĂľes vislumbradas.


Proteção parcial ou completa de intempéries Módulo de bancos e jardineiras

Estrutura Matalica apoiadas na Estrutura Existente

Proteção contra vertigem e poluição sonora

Corte Esquemático. S/ Escala.

Estrutura de Concreto Existente

Cobertura parcial ou completa contra intempéries

Parede Verde

Ponto Container

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As praças Segundo Sun Alex, no livro Projeto da Praça – Convívio e exclusão no espaço público, o projeto de uma praça, de acordo com sua configuração e transformação, altera diretamente o convívio social modificando, diretamente, o exercício da cidadania, assim como a construção da própria cidadania e da própria cidade. Ainda, segundo Alex, a praça como elemento ‘urbanístico’ deve ser atrelado ao cotidiano, entorno e fluxos de pedestres. Para Alex “ [...] a perda, aparentemente corriqueira, da simultaneidade escalar da praça como uma entidade ‘arquitetônica’ ou ‘paisagística’ detentora de formas, funções e estilos tem empobrecido o projeto e o ensino de paisagismo, acarretando uma tendência à homogeneização dos espaços livres e prejudicando não apenas a consolidação de uma identidade autêntica na paisagem urbana, mas, especialmente, a preservação do caráter público que soa espaços públicos.” Para o autor “A palavra ‘público’ indica que o lugar deve ser acessível, sem exceção, a todas as pessoas” . Por outro lado, “... paradoxalmente, embora o espaço público possa ser também o lugar das indiferenças, ele caracteriza-se, na verdade, pela submissão às regras da civilidade”. Segundo Alex (apud Mark Francis, p. 21), “... os espaços públicos são paisagens participativas, e o controle do usuário pode ser compreendido com base nas cinco dimensões propostas por Kevin Lynch para construir ‘bons’ ambientes: presença, uso e ação, apropriação, modificação e disposição”. As praças segundo Sun Alex, devido à degradação ambiental, “priorizaram o verde em um processo de compensação dessa degradação, ao invés de priorizar o homem, ou seja, a praça como convergência de fluxos urbanos passa a ser local de recreação e repositório de verde.” Ao priorizarem o repositório de verde ao invés do homem, as praças existentes são compostas por grandes áreas gramadas, o que dificulta na transição, por exemplo, em dias chuvosos, na manutenção e em casos de fluxo constante de pessoas sobre a mesma, ela acaba se deteriorando. Os calçamento das praças, são constituídos de caminhos estreitos, de aproximadamente noventa centímetros à um metro e vinte centímetros, criando “corredores” de passagem ao invés de criar áreas de transição. Não convergem diferentes usos e fluxos, mas, sim, os limitam. Segundo entrevista com profissionais da Prefeitura do Município de Cotia, as intervenções não dispõem de um projeto amplo e aprofundado. O traço não existe nestes locais e, apesar disto, eles funcionam, talvez, devido a um uso e apropriação constante da população, o que poderia ser potencializado e ampliado com o uso do traço.


Uso da praรงa. Foto tirada pelo Autor.

Praรงa sobre Riacho. Foto tirada pelo Autor.

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Ocupação de ambas as margens

Jardins para tratamento de águas pluviais

Muros de contenção/ Bancos

Praça, relações vislumbradas.

Transições transversais

Piso para pedestres 64


Iluminação Pública

Praça ‘Terminal’. Foto tirada pelo Autor.


Mobiliário Escultural

Conexão Física com o Ribeirão

Praça relaçõe vislumbradas.. Foto tirada pelo Autor.

Balizadores

Jardins para tratamento de das águas pluviais 66


A Ambivalência

A Prefeitura do Município de Cotia é carregada com diversas simbologias sociais e históricas. Embora seja um local que represente a democracia, a gleba onde se encontra, é isolada fisicamente por grades e desníveis, desarticulando a vida cotidiana à prefeitura. Na frente da prefeitura, se encontra um estacionamento, onde ocorrem diversos usos, como feiras livres, práticas esportivas, local para treinamento de motoristas, dentre outros. Os ensaios das Prefeituras vislumbram uma praça democrática, onde o principal objetivo é proporcionar a democratização e o acesso ao conhecimento, incentivando reflexões e debates, para isso vislumbrou-se um biblioteca como símbolo da democratização do conhecimento, também, vislumbrou-se a possibilidade de museu a céu aberto, onde a intenção é atiçar e informar os cidadãos.

Registro das grades que cercam a Prefeitura. Foto tirada pelo Autor.


Registro de Prefeitura Municipal de Cotia. Foto tirada pelo Autor.

Registro da Prefeitura. Foto tirada pelo Autor.

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Grades que cercam a Prefeitura. Foto tirada pelo Autor.

Vista da Av. Rotary, Prefeitura atrรกs. Foto tirada pelo Autor.


Vista da Rua Turmalina, Prefeitura Ă esquerda. Foto tirada pelo Autor.

Paisagem vista do terreno da Prefeitura. Foto tirada pelo Autor.

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a alin

Prefeitura

Av. Rot ary

Av. Prof. Manuel JosĂŠ Pedroso

urm R. T

Desenho do Autor sobre estudos geogrĂĄficos da prefeitura.


Prefeitura

Desenho do Autor sobre estudos geogrรกficos da prefeitura.

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Desenhos do Autor sobre o Projetos: Livraria Cultura, do Studio MK27, SĂŁo Paulo-SP; Biblioteca e Escola de Arte Rozet, de Neutelings Riedijk Architects, Arnhem- Holanda; e o Centro Cultural e Biblioteca EEMHUIS, Neutelings Riedijk Architects, Amersfoort- Holanda.


Desenhos do Autor referentes Ă estudos e vislumbramentos projetuais.

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Ă rea de estacionamento, frente Prefeitura. Foto: Google Street View.


Praça seca, de uso misto

Biblioteca

Mobiliário/ Área de Estar

Calçadão Balizadores 76


Ă rea de estacionamente, frente Prefeitura. Foto tirada pelo Autor.


Mirante Rua em nível superior

Janelas para leitura

Rampa que conecta a Praça Seca à Rua em nível superior Bancos/ Arrimo Praça Seca/ Diferentes Usos 78


Mobiliรกrio Urbano

Estante de Livros Comunitรกria

Assentos

ร rea Coberta


Proteção parcial contra interpéries

Telhado Verde

Bicicletário 80



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Bebedouro AcessĂ­vel

Bebedouro

Garrafas

Animais

Bebedouro

Possibilidade de Lixo ou Vaso

Banco


Poste de Iluminação

Balizadores

Iluminação

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Corte Esquemรกtico

Corte Esquemรกtico

Corte Esquemรกtico


O Ambiental

Infraestrutura Verde

A infraestrutura verde é um conceito novo, não existindo um consenso consolidado sobre o tema, porém segundo a Agência Europeia do Ambiente – AEA (2015) descreve como um instrumento com soluções baseadas na própria natureza, possibilitando benefícios ecológicos, econômicos e sociais. Em outras palavras, são sistemas naturais ou seminaturais capazes de auxiliar na qualidade ambiental, desempenhando diversos papéis, como o aumento da biodiversidade, melhoria da qualidade do ar, diminuição de ilhas de calor, propicia ambientes mais agradáveis, enriquecem a paisagem, melhoria na qualidade dos cursos d’água, ou seja, melhoria da qualidade de vida em geral.

Jardins de Chuva

A proposta consiste na implantação dos jardins de chuva, parte do conceito da infraestrutura verde adotada para o projeto. Segundo o documento, Projeto técnico: Jardins de Chuva, Soluções para Cidade, s/d, produzido pela Fundação Centro Tecnológico de Hidráulica – FCTH e pela Associação Brasileira de Cimento Portland - ABCP, os Jardins de Chuva ou Sistema de Biorretenção são jardins que se utilizam das atividades biológicas de micro-organismos e de plantas para depurar águas pluviais, por processos de filtragem, decomposição, adsorção, troca de íons e volatização, e que favorece para a retenção e infiltração das águas provenientes da precipitação. Consiste basicamente de depressões com vegetação e elementos que contribuem para filtrar as águas pluviais provenientes do escoamento superficial, que as mesmas ficam retidas nessas depressões, criando poças, que gradativamente vão infiltrando no solo.

Wetlands

Os wetlands, são sistemas construídos para o tratamento de efluentes, baseado em mecanismo naturais, que apresentam uma simplicidade na implantação, diminuição de custos e melhoria da paisagem natural, utilizando principalmente vegetação aquática. Podendo ser empregada em diversos usos, como no tratamento de cursos d’água poluídos, tratamento de águas provenientes do escoamento superficial, tratamento de efluentes industriais ou sanitários, entre outros. Segundo a empresa Wetlands construídos, os processos de depuração ocorrem por processos físicos com a filtração, sedimentação, volatização, químicos com a adsorção, oxidação, redução, precipitação e quelação, e biológicos como degradação e absorção por microorganismos, dacaimento de patógenos, extração pelas plantas, entre outros.

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Referências Abbud, Benedito(2006), Criando Paisagens 4.ed. São Paulo: Editora Senac. Alex, Sun (2008), Projeto da Praça Convívio e Exclusão no Espaço público, 1ª ed. São Paulo: Senac São Paulo, 2008. Caldeira, Teresa (2000), Cidade de muros Crime, segregação e cidadania em São Paulo 1ed. São Paulo: Editora 34 Ltda/ Editora da Universidade de São Paulo. Debord, Guy (1958), texto publicado no n°. 2 da revista Internacional Situacionista. Gehl, Jan (1936-), Cidade para as Pessoas 2.ed. São Paulo: Perspectiva, 2013. Jardins de Chuva, Soluções para Cidade, s/d, produzido pela Fundação Centro Tecnológico de Hidráulica – FCTH e pela Associação Brasileira de Cimento Portland – ABCP Proposta de Plano de Desenvolvimento e Proteção Ambiental (PDPA) para a Bacia do Cotia, 2016 Site da Prefeitura Municipal de Cotia, Histórico da Cidade de Cotia. Disponível em: <http://www.cotia.sp.gov.br>. Acesso em: ago.2017 Site do IBGE, Histórico da Cidade de Cotia. Disponível em: <http:// biblioteca.ibge. gov.br >. Acesso em: abr.2017 SOS Mata Atlântica, Importância ambiental. Disponível em: <http:// www.sosma. org.br/nossa-causa/a-mata-atlantica>. Acesso em: mai.2017. WetLands, O que são wetlands. Disponível em: <http://www.wetlands.com.br/>. Acesso em: mai.2017. EEA Europa, Definição Infraestrutura Verde. Disponível em: <http://www.wetlands. com.br/>. Acesso em: mai.2017. Câmara Municipal de São Paulo, Pedestres se arriscam ao evitar passarelas. Disponível em: <http:// www.camara.sp.gov.br/blog/pedestres-se-arriscam-ao-evitar-passarelas/>. Acesso em: mai.2017. Breve histórico da Internacional Situacionista, por Paola Berenstein Jacques, 2003. Disponível em: <http:// www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/03.035/696 >. Acesso em: abr.2017. The Naked City, imagem. Disponível em: < http://glasstire.com/2012/11/23/the-ten-list-walk-as-art/the-naked-city-1000/>. Acesso em: abr.2017.

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Filipe Yari

2017

Ensaios Urbanos



Filipe Yari Tikkanen Negrão

Ensaios Urbanos

Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Centro Universitário Senac - Campus Santo Amaro, como exigência para a obtenção do grau de Bacharel em Arquitetura e Urbanismo. Orientadora Profª Marcella de Moraes Ocke Mussnich.

São Paulo 2017



Resumo A partir de diversas reflexões sobre o dia-a-dia das cidades contemporâneas, e de uma necessidade da vivência do espaço urbano como usuário, o Trabalho se molda no re-conhecimento da paisagem urbana por meio da vivência e da experiência sensorial, que resultou em diversas percepções e reflexões, traduzidas por meio de registros fotográficos, relatos e ilustrações. As reflexões sobre as experiências vividas, acabam sendo maturadas através do ato do desenhar, que se tornaram vislumbres projetuais ilustrados, baseados em estruturas existentes com diferentes espacialidades e possíveis proposições de novas e diferentes espacialidades. Palavras chave: Paisagem Urbana, Vislumbres Projetuais, Desenho, Registro Fotográfico, Espaço Urbano, Município de Cotia. Abstract From several reflections on the day-to-day of contemporary cities, and a necessity of the experience of urban space as a user, the Work is shaped in the reconnaissance of the urban landscape through daily living and sensorial experiences, which resulted in diverse perceptions and reflections, translated through photographic records, account and illustrations. The reflections on experienced experiences end up being matured through the act of drawing, which became illustrated projects glimpses, based on existing structures with different spatialities and possible propositions of new and different spatialities. Keywords: Urban Landscape, Project Glimpses, Drawing, Photographic Record, Urban Space, Municipality of Cotia.



Sumário Introdução - 10 A Memória e o Rio: Referências Afetivas - 13 Percurso da delimitação do trabalho - 18 O Orbitar - 21 Por onde se passa - 25 A Cidade e a Cicatriz - 39 Os Bloqueios - 41 Os Artefatos - 43 A Nascente - 47 A Grande Farsa - 49 A Droga no Espaço Público - 51 A Incontingência - 53 O Conglomerado - 54 As Transições - 55 As praças - 61 A Ambivalência - 68 Mobiliário Urbano - 79 O Ambiental - 80 Referências - 88


Introdução Minha jornada teve inicio com a necessidade de um re-conhecimento da paisagem urbana. Ao longo do curso de Arquitetura e Urbanismo do Centro Universitário SENAC - Santo Amaro, iniciei minhas reflexões de como olhar sobre as Cidades, particularmente, as que faziam parte do meu cotidiano. Assim foi possível perceber incoerências que provocavam inquietações decorrentes do percurso realizado através das diversas disciplinas com seus respectivos conteúdos, reflexões coletivas em pequenos grupos e com toda a turma, textos, teorias e a realidade vivida. As diversas, quase infindáveis discussões sobre apropriação dos espaços públicos, melhoria da qualidade de vida, melhoria da mobilidade urbana, bem como a falta de manutenção e degradação dos espaços públicos, falta de socialização dos cidadãos, falta de cidadania, tudo recorrente ao modo de como as cidades foram e estão sendo formadas. Surgiu das reflexões uma necessidade do re-conhecimento da paisagem urbana como usuário e como ator de espacialidades, podendo ser traduzidas em sensações, percepções e vivências, que fortalecem as noções espaciais, culturais, sociais e técnicas, e levam à novos ideais, no sentido lato da palavra, ou seja, como constituição de ideias, novos imaginários, criação de espaços e proposições.

Fonte: Ilustração de G. E. Debord, 1957 (S/d, apude, Site Glasstire).


A provocação do re-conhecimento da paisagem urbana ocorreu através da metodologia situacionista, principalmente nas aulas de Projeto Interativo (PI), que propunha a vivência como instrumento de elaboração do novo urbanismo, utilizando-se da técnica metodológica de mapas psicográficos, através da deriva, que são baseados nas percepções do próprio autor. Esse interesse pela paisagem urbana, suas diversas reflexões e a ampliação das vivencias do espaço público, proporciona uma primeira ideia do trabalho de conclusão de curso, ou seja, utilizar da deriva como metodologia de proposição de novos espaços urbanos. A deriva é baseada em uma metodologia, uma ferramenta dos situacionistas do final da década 60 e início da década de 70 do século XX. Segundo a tradução feita por membros do Gunh Anopetil, de 19 de março de 2006 do texto publicado no nº 2 da Revista Internacional Situacionista em dezembro de 1958, os Situacionistas defendiam o Urbanismo Unitário – UU, criticando o urbanismo que ao invés de construir ‘sobre o terreno’ constrói ‘sobre o papel’. Buscavam novas espacialidades que permitissem a integração da cidade ‘em uma rede de interações’. Enxergavam o espaço urbano sem seu aparente caos. Pensavam uma arquitetura capaz de propiciar relações humanas induzindo à contestação e à revolta, denunciando as alienações e aspectos alienantes. Utilizavam a ciência da Psicografia para analisar e avaliar as relações, comportamentos e percepções entre humanos e contextos ambientais, criando mapas subjetivos de uma geografia afetiva, uma cartografia das espacialidades e ambiências psíquicas. A deriva apresenta como conceito principal a vivência que procura romper com a representação racional dos espaços, buscando uma percepção da complexidade das cidades, decifrando a cidade entendida como um ‘labirinto’, não seguindo itinerário, andando sem rumo baseando-se nas percepções e afetividades em relação ao espaço, descobrindo ambiências psíquicas e questionando o urbanismo moderno. The Naked City, assinado por Guy Debord (1957), foi resultado da psicografia e da deriva realizada na cidade de Paris, França. Uma das ilustrações mais icônicas do pensamento urbano Situacionista e sobre o Urbanismo Unitário, traduzidos em uma ilustração, composta por diversas partes do mapa da cidade de Paris em preto e branco, recortadas e dispostas de forma a não representar a realidade física e geográfica, porém representam as diferentes espacialidades baseadas em diferentes ambiências, setas vermelhas indicam as possíveis conexões entre as diferentes ambiências, resultado indicado pela metodologia da deriva.

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Fotos das margens do Rio Paranepanema, Piraju - SĂŁo Paulo. Fotos tiradas pelo Autor.


A Memória e o Rio: Referências Afetivas

Historicamente, observam-se as aglomerações urbanas se consolidando perto de fluxo de água devido às próprias necessidades de sobrevivência. Além dos benefícios que os cursos d’água possibilitavam para a sobrevivência dos aglomerados humanos, estes também foram usados para descartes, que, com o processo de urbanização verificado nos últimos séculos, principalmente no século XX, esses fluxos foram sendo sufocados pela urbanização e poluídos pelos descartes de resíduos, até o momento de se consolidar na consciência coletiva a associação aos rios, córregos, riachos e de forma geral às águas urbanas, como algo sujo e inapropriado para uso, sendo que muitas delas são, declarando assim, morte às águas. A água, ao menos ao meu imaginário, esta associada à memória, uma memória afetiva. Raros são os cursos d’água não contaminados e, como exemplo, cito o Rio Paranapanema que passa pela cidade de Piraju, no interior do Estado de São Paulo. Lá viviam meus avós, e ao passar as férias na casa deles, desenvolvi uma relação de afeto com os espaços públicos criados a partir do curso d’água do rio Paranapanema, onde suas margens se constituem como espaço de contemplação e lazer, também com influências humanas, pois o Rio encontra-se represado. , A cidade de Piraju é uma cidade pequena, em torno de 28 mil habitantes, sendo cortada pelo rio Paranapanema onde passei minha infância às margens deste rio. Nadava, pescava, desenvolvendo muito respeito pelo rio e consequentemente pela água. Enquanto Cotia local da minha residência era cortada pela rodovia Raposo Tavares, criando um ambiente segregado e desconexo. Com estas reflexões e contradições, ficaram mais claras as situações dos rios em São Paulo e na região metropolitana, com diversos rios tamponados, retificados e desrespeitados, bem como a ausência quase absoluta de espaços públicos ao longo das margens dos cursos d’água, devido ao fato de estarem poluídos. Em nossas discussões acadêmicas surgiam propostas de intervenções relacionadas com essas preocupações, entre tantas outras, surgindo ideias de construção de jardins de chuva, diminuindo a vazão que corre diretamente aos cursos d’água, assim diminuindo os alagamentos, sendo que, ao refletir sobre isto, concluímos que os frequentes locais onde ocorrem alagamentos são locais onde os rios estão retomando o espaço que ocupavam anteriormente, o rio esta se manifestando. Assim nos encontrávamos em grandes dúvidas reflexivas, estabelecendo certas ambiguidades em estabelecer determinados tipos de soluções.

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Foto da margem do Rio Paranapanema, Piraju- SĂŁo Paulo. Foto tirada pelo Autor.


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A nascente, fonte pura que brota das rochas e aflora a vida ao percorrer seus caminhos sinuosos morro abaixo, o som do fluir das รกguas, o frescor que dela emana, a pureza translucida que permite ver o fundo e ao mesmo tempo o reflexo evanescente que se vai com as รกguas, tranquiliza a mente e relaxa o corpo, faz transparecer as necessidades primitivas do homem, a vida.


Foto da margem do Rio Paranapanema, Piraju- SĂŁo Paulo. Foto tirada pelo Autor.

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Percurso da delimitação do trabalho Como primeira proposta de trabalho surgiu a ideia de analise de estruturas já existentes e reformulá-las a partir de novas concepções criativas. Comecei esta análise no Bairro da Vila Madalena, pois era o local onde estava realizando meu estágio. Ao caminhar pelo bairro, constatei o processo de descaracterização do mesmo devido à valorização imobiliária da região, atualmente dotada de um gama de restaurantes, bares, escritórios e lojas. A observação das dinâmicas econômicas e sociais do Bairro, como o fato de casas estarem sendo demolidas para a construção de novas torres e empreendimentos, devido à ‘boa vizinhança’, interfere nas espacialidades características da região, descaracterizando e tirando aquilo é seu valor espacial. Não defendo o estancamento da morfologia urbana, sendo ela estática, entendendo o fator tempo e novas necessidades, mas critico a forma como esses grandes empreendimentos estão sendo construídos: com grandes lotes, deslocamento da rua, e térreos não ativos. Ao mesmo tempo em que esses empreendimentos se aproveitavam desta valorização, que é consequência do valor histórico do bairro, localização geográfica e econômica, dentre outros fatores, é interessante ressaltar a morfologia da escala do pedestre, existente em construções mais antigas do bairro, como fachadas ativas, grande número de unidades, altura condizente com o pedestre, dentre outros... Segundo o site vivamadalena, a Vila Madalena que começou a ‘se agitar’ por volta da década de 70, devido ao fechamento do CRUSP pelo regime militar, um grande número de estudantes se mudaram para o bairro, devido ao baixo custo e proximidade com a universidade, a partir disso o comércio local começou a se modificar, atendendo a necessidade dos estudantes, passou a ser um ponto de efervescência boêmia e sócio-cultural. A partir da década de 90, teve inicio processos de transformações devido à valorização imobiliária que destrói o que proporcionou a valorização do mesmo, ou seja, é irrefutável o fato das construções que valorizaram o bairro, devido ao baixo custo e localização, estabelecendo uma identidade, passaram a serem destruídas, criando a eliminação da própria maneira de ser do bairro, através da implantação de grades, muros, portarias, referentes a esses novos empreendimentos voltados a uma classe média e alta, descaracterizando o que efetivamente constituiu como sendo o seu ‘valor’. A partir das reflexões e percepções do andar pela cidade de São Paulo, com todas as críticas sobre a cidade, e mais objetivamente, em um bairro que apresenta boas qualidades por ter uma apropriação do espaço publico e manifestações artístico-culturais acima da média, e, em contraposição, a reflexão sobre o espaço privilegiando o automóvel, como se constata em São Paulo e em sua região metropolitana, particularmente, na cidade de Cotia, me provocou a analisar a cultura de apropriação e vivencias do espaço público desta cidade, particularmente e principalmente por nela residir.


Desenhos feitos pelo Autor ao andar pelo Bairro da Vila Madalena.

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O Orbitar O Trabalho consiste na experiência sensorial, vivenciada através da paisagem urbana, que proporcionou diversas percepções traduzidas em registros fotográficos e alguns desenhos. A partir de minhas experiências, pensamentos e reflexões, surgiram e desabrocharam vislumbres projetuais na forma de ilustrações. A experiência sensorial, sem rumo, na paisagem urbana, propícia estímulos, explorando e conhecendo locais e lugares onde comumente não são explorados e conhecidos do cotidiano, levando a uma exploração da paisagem urbana. A buscar por novas perspectivas e sensações, me levaram a lugares que, no vai e vêm da vida cotidiana, não se desvelaria. Inicialmente iniciei minha deriva na cidade de Cotia, ao longo do Ribeirão das Pedras, córrego paralelo à Rodovia Raposo Tavares, onde pude observar a degradação ambiental devido ao descaso e abandono do ribeirão e seu entorno, porém com um frequente fluxo de pedestres. A partir das vivências e observações, percebi as potencialidades de conexões entre as diferentes espacialidades, iniciando meus registros fotográficos. Ao andar ‘solto’ pela paisagem urbana, alguns elementos e estímulos me atraíram e fizeram com que retornasse para o mesmo local, sempre buscando as relações e percepções que esses locais estabeleciam com o entorno. Sempre que saia para fazer as deriva, me encontrava nas proximidades com o ribeirão, comecei a perceber as relações que ele estabelece com o entorno, e aceitei o fato de uma esfera de influência desse curso d’água. A partir da proposta situacionista e de sua metodologia deriva, denominei O Orbitar, como metodologia deste trabalho, pois no seu desenvolvimento não se restringia à deriva, mas se diferenciava sem desconectar, talvez, uma derivaração da devira. Assim, estar em orbita significa estar sob ação ou influência de algo, uma trajetória ao redor de certo ponto de influência. O ato de orbitar é estabelecido quando no processo de percepção de um espaço identifica-se e foca-se em certo ‘ponto’ de interesse, uma ‘força espacial potencial’, assim estabelecendo uma relação de órbita no entorno do ‘ponto’ selecionado, buscando conhecer o máximo das relações a partir deste ‘ponto’ e suas potenciais relações, não estabelece um área de atuação, mas sim um área de influência. O que difere o ato de orbitar de um estudo de campo, é a forma em que estes ‘pontos’ foram escolhidos. No orbitar o autor esta solto no ambiente e é instigado por espacialidades, cada vez que o orbitar é realizado, as relações mudam, muitas vezes o ‘ponto’ de interesse e de influência também mudam.


Viver para sentir e assim, planejar. Vivenciar como projetista e planejar como usuรกrio.

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Mapas resultado do Orbitar.


Por onde se passa Em minhas vivencias na paisagem urbana, diferentes sensações físicas e mentais surgiram, mesmo num processo de desaceleração das passadas, certos locais ainda inibem à diminuição do passo, ou aceleramos sem perceber. Caminhos objetivos, onde sua principal função é ir de um ponto A, ou ponto B, muitos deles lineares e sem atrativos, faz com que a frequência das passadas aumente, te levando a cruzar o espaço o mais rápido possível. O fato de parar nestes trajetos causa certo estranhamento nos outros que vêm a transitar, pois ali não é lugar de parar, não faz sentido você estar parado em um local sem atrativos e que muitas vezes atrapalha outros caminhantes. Ao andar pela paisagem, percebo uma diferenciação no andar das pessoas. Normalmente pessoas com idades mais avançadas são muito mais receptíveis a estímulos, são, de maneira geral, mais atenciosas ao andar, são mais perceptíveis e observam mais o ambiente, por outro lado, crianças sempre estão explorando e interagindo com o espaço, sempre à busca de diversão. Assim como os animais, os humanos buscam o caminho que oferece menor esforço/ resistência, visando inconscientemente à economia de energia. Essas sensações podem ser inibidoras e incentivadoras de certas decisões tomadas pelo usuário, como a escolha do trajeto que ele fará. Andando por uma faixa estreita e retilínea, com diversos obstáculos, o passo aqui é devagar, contemplativo, desvio por resquícios da passagem de humanos deixados pelo caminho, leio seus rótulos e suas embalagens chamativas, respiro o ar, e, nele, um cheiro fétido invade minhas narinas, me viro e ao final do barranco, vejo às águas podres e cinzas do riacho, me batendo uma tristeza. Imagino às águas claras e com vida, pessoas na margem apreciando a passagem das águas que correm morro abaixo, o barulho de um automóvel me tira do vislumbramento, assim como uma pessoa que vêm na direção contrária, eu tenho que desviar, indo para a rua, para que a passagem de ambos não fique interrompida. Vindo nos corredores apertados designados para nós caminhantes, encontro uma clareira para meus pés, ali que já fora uma rua, hoje é um gramado, já esta melhor do que fora, embora haja a clareira, os corredores se mantém, porém bifurcados, aqui não existem barreiras físicas para o acesso ao pisar macio na grama, mas prefiro me manter na linearidade do caminho fácil. Avisto um banco de concreto, com um formato singular, invado o piso macio e me sento, seu desenho ondulado, porém pontudo e autoritário não me deixa explorar o objeto, só me permite sentar em um sentido, em uma posição específica, caso contrário se torna desconfortável, me impossibilita de deitar, de sentar longitudinalmente etc...


O passo compassado dos caminhantes, o pé que passa o pé, que passa o pé e assim se vão sumindo na paisagem urbana.

Passo a observar o fluxo de pessoas nessa praça, muitas delas andam ainda nos caminhos retilíneos, duros e delimitados, pouquíssimos se aventuram a entrar na maciez do solo. Os que cá ficam são de idades variadas, muitos esperam os ônibus que saem de lá, no ponto, cercado de lixo, é talvez pelo fato de não existirem lixeiras na praça. Das pessoas que ali se encontram a única a olhar atentamente ao riacho sou eu, percebo diferentes animais, pássaros que pulam de galho em galho, como o sabiás e rolinhas, já no chão, formigas trilhando seu caminho para o formigueiro, borboletas, besouros, embora sufocados, a vida ainda vive.. Mais ao canto, perto de ônibus estacionados, se encontram diversos motoristas e cobradores, aqui serve como um ‘terminal’, a estrutura mínima que os atende, como um banheiro químico, com um cheiro forte de urina, e uma cabine coberta, assim como bancos, os tais autoritários. Venho a andar por uma escassez de verde, ao lado um muro que me acompanha na maior parte de meu caminho, do outro, a rua, nesse corredor, embora desértico e monótono me deparo com estruturas verticais, dispostas ao longo do trajeto, que, por incrível que pareça, me deram uma sensação de segurança, elas criaram uma dinâmica diferente, adequaram mais à minha escala, entre a rua e o muro.

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Mapa Geogrรกfico da รกrea do Ribeirรฃo das Pedras.

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Viela nas proximidades com a Nascesnte. Fotos tiradas pelo Autor.


Muros, RibeirĂŁo, Rua e Aglomerado. Fotos tiradas pelo Autor.

Fluxos Espremidos Fotos tiradas pelo Autor.

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RibeirĂŁo PoluĂ­do. Fotos tiradas pelo Autor.


Efluentes. Fotos tiradas pelo Autor.

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Riacho. Fotos tiradas pelo Autor.

Desenho de vislumbre.


Desenho de vislumbres, cortes esquemรกticos.

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Relação com Ribeirão atual. Fotos tiradas pelo Autor.


Detalhe Banco Arrimo

Valetas para águas pluviais

Balizadores

Relação com Ribeirão vislumbradas.

Ocupação em ambas as margens

Bancos Arrimo

Calçadão Arquibancada 36



Paisagem Urbana. Foto tirada pelo Autor.

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A Cidade e a Cicatriz A versão mais aceita da origem do nome Cotia decorre dos caminhos na região serem muito sinuosos, remetendo aos ‘caminhos’ feitos pelos Kutis, indicando que a região era muito marcada pelos caminhos dos Kutis, passando assim a nomear a cidade: Cotia a cidade onde viviam as Kutis. Segundo o IBG, desde o século XVII, a região era ponto de passagem e parada para viajantes e tropeiros, cargas e mantimentos, que faziam principalmente o percurso entre São Paulo e Sorocaba. O município de Cotia amplia o seu desenvolvimento econômico quando surgem organizações agrícolas a partir de novos sítios, dinamizando a produção agrícola da região. Nesta mesma época tem inicio o processo de industrialização, com a implantação de indústrias se instalando ao longo da rodovia que interliga São Paulo a Sorocaba, mas sofre um processo de estagnação, pois o processo de industrialização acompanhou a Ferrovia Sorocabana. Este processo de industrialização ao longo da Ferrovia Sorocabana, exclui a cidade de cotia, devido ao fato desta ferrovia não passar pelo município, e neste aspecto, a cidade fica isolada desta malha de crescimento ocorrida em direção ao oeste paulista e que conquistou grande riqueza para todo o estado. Apesar de estações próximas à Cotia, esta vive uma estagnação, principalmente em relação à própria cidade de São Paulo que, em 1964, era considerada uma das cidades mais modernas do mundo, e apesar da proximidade, o município de Cotia segundo biblioteca do IBGE “[...] era chamada de ‘sonolentos subúrbios agrícolas, onde o progresso para e não deixa marcas.”, ficando defasada em relação ao momento histórico que passava a cidade de São Paulo. Somente a partir dos anos 70 do século XX, após instalação de indústrias de grande porte ao longo eixo da Rodovia Raposo Tavares, ocorre um crescimento acima da média do estado de São Paulo, fazendo com que sua população que não passava de 50 mil habitantes, superasse 110 mil habitantes. A partir da implantação de indústrias na região, ocorre um desenvolvimento da cidade, resultando na melhoria do viário local, como o asfaltamento de estradas locais para garantir o desenvolvimento do município, apesar do desmembramento de seu distrito mais próspero em 1981, o distrito de Raposo Tavares que irá constituir o município de Vargem Grande Paulista.


Com este desenvolvimento ocorre um surto populacional que atrai migrantes de diversos municípios e de outros estados brasileiros. No início da década de 90 do século XX, problemas já recorrentes em municípios vizinhos, como o crescimento desordenado, aumento da violência, falta de assistência médica adequada, incidem com mais recorrência no município. Outro elemento a ser considerado é resultado do processo de industrialização da década de 90, a ampliação do sistema rodoviário com toda infraestrutura urbana voltada para o transporte motorizado e individua. O referido espaço pode ser identificado como fator de descaso no trato dos espaços comuns, a partir do desenvolvimento pautado no modelo rodoviarista potencializado pela ideologia individualista, produtos da influencia do modernismo norte-americano que defende que as ‘necessidades’ são supridas no espaço individualizado e, desta maneira, suprime a necessidade do espaço público, fato constatado neste processo de industrialização e crescimento. Este movimento migratório, segundo dados do IBGE, provocou um crescimento populacional chegando a 148.987 habitantes em 2000 e 231.696 no ano de 2016, um crescimento de, em torno, 64%. Tal crescimento, com ausência de planejamentos macros, dentre muitos outros fatores, concretizam-se na falta de planejamanto dos espaços públicos e outros serviços básicos para sua população, formando assim, a paisagem urbana atual, cortadas por uma Rodovia e espaços públicos desarticulados. A características topográficas da região, são compostas, em sua maioria, por morros baixos devido ao relevo ondulado, com declividades entre 20% e 30%. Vales fechados e assimétricos; planícies aluviais restritas e planícies aluviais que se caracterizam por terrenos baixos e planos junto aos cursos d’água, segundo o relatório técnico do Plano de Desenvolvimento e Proteção Ambiental (PDPA, 2007). Essa topografia inclinada dificulta na criação de projetos articuladores do meio urbano, devido a grande complexidade em sua execução.

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Os Bloqueios Os bloqueios aqui apresentados podem ser físicos ou mentais, como uma parede ou um rio que impede você de atravessa-los, ou como uma sensação de inibição e insegurança ao entrar em um beco sem movimento, por exemplo, ou até relacionados a comportamentos sociais como não fazer certa ação por estar sendo observado, ou observar comportamentos ao redor e entender que certo comportamento não seria tolerado ou não está adequado com as regras do lugar. O homem age e reage sobre os estímulos, o ambiente muda o homem e o homem muda o ambiente, esses laços intrínsecos inseridos nas características humanas possibilitam diversos comportamentos humanos, que podem ser refletidos sobre o território. O homem tende a continuar com certos comportamentos, por eles de certa forma, obtiveram êxito, dificilmente o homem mantem-se com comportamentos quando são mal sucedidos, que não garantem sua sobrevivência. É possível observar tais comportamentos humanos especializados como os muros. Os Muros fazem parte da história da humanidade, uma solução espacializada a um comportamento, necessidade, interesse, ideal, etc.... Expressando-se no meio físico, suas principais funções são delimitar, afastar, impedir, repelir ou bloquear fisicamente que algo/alguém o transpasse. O muro que se transformou em um elemento espacial bem sucedido, que cumpre bem o papel ao qual ele fora criado, se tornou símbolo de divisão e segregaçã. Assim como na idade média, castelos e fortalezas eram cercados de muros afim de impedir ameaças externas, que vinham de fora da cidade, em contraposição, hoje, os muros são feitos para se “proteger” da própria cidade, pois se constitui como sendo muitas cidades. O muro impede os acessos físicos, acessos sensitivos como o acesso visual e o auditivo e os acessos sócio-cultural. No ensaio da área da nascente, o muro existente, que serve para impedir acessos, é colocado de forma a potencializar a área, proporcionando novos usos, apropriações e espacialidades, rompendo com seu maior simbolismo e função, que é a de separar.


Os ensaios também vislumbraram uma correlação entre moradores de diferentes classes sociais e tipologias urbanas. Buscam uma imagem comum para os cidadãos, vindo por meio de espaços comuns de convivência, visto que, na região existem diversos cercos aglomerados (condomínios) e em muitos deles não existem áreas comuns. Barrando e repelindo “invasores”, desde “invasores” de privacidade, podendo ser invadida apenas com o sentido da visão ou audição, como invasores territoriais, estando no local fisicamente. Outros aspectos das reflexões apontavam para o espaço público como potencial que poderia proporcionar melhor qualidade de vida, a questão dos muros como limitantes de convívio, condomínios fechados com infraestruturas próprias, e, como consequência, o desuso da cidade, e esta se tornando obsoleta do ponto de vista de apropriação coletiva, como local de encontro das pessoas e o espaço público como simplesmente um local de passagem.

Registro de grandes glebas e bloqueios. Foto tirada pelo Autor.

Registro de bloqueios agressivos. Foto tirada pelo Autor.

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Os Artefatos

A criatividade humana é expressa principalmente na necessidade e no ócio.

Segundo Abbagnano (2003), o Artefato é um objeto produzido, por qualquer atividade humana, distinguindo-se do objeto natural, este que é produzido pelo acaso. Ainda segundo ele, o Artefato deve constituir-se da realização de um projeto, manifestando a intenção da finalidade determinada, que preexiste à sua construção. Este estudo consiste em registros fotográficos dos artefatos urbanos, oriundos da necessidade humana, buscando explorar os resquícios da atividade humana. Os resultantes dessa necessidade humana se transformaram em estruturas físicas, o que possibilitam uma análise e um entendimento por meio dos próprios artefatos criados.


Registro de Artefato Urbano- Bancos e mesa. Foto tirada pelo Autor.

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As percepções, vivências e sensações como usuário, fortalecem o imaginário para ‘novos’ espaços.

Registro de Artefato Urbano - Lixeira. Foto tirada pelo Autor.

Registro de Artefato Urbano - Bancos ao Longo da calçada. Foto tirada pelo Autor.


Registro de Artefato Urbano - Banco ao longo do Ribeirão.

Referências Traçadas Aqui encontram-se algumas referências projetuais dos vislumbres. O traço permite a aproximação da intenção de outros projetistas nas soluções espaciais, construindo uma sensação espacial e afetiva ao redesenhar os projetos consolidados, estabelecendo relações intimas, também permite que influencias pessoais, dentre elas o próprio traço autoral, venham a tona. O ato de desenhar foi utilizado como metodologia para o estudo e de soluções projetuais.

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A Nascente

Ao andar na influência do Riacho, o curso me leva à uma grande gleba, os muros cercam e afastam qualquer contato visual e físico, encontro uma entrada na extremidade norte, fico inibido de adentrar, pois os muros dizem que eu não posso, as barreiras me afastam e me deixam incertos nas minhas decisões. Neste primeiro momento eu não entro, começo a andar pelo bairro buscando conhecer e perceber melhor as relações possíveis. O bairro de classe média/baixa demonstra uma vida na rua constante, sempre com o fluxo de pessoas que andam na própria rua, por não existir calçadas, ou quando existem não estão em suas melhores condições. Por qual motivo temos que diferenciar da rua e da calçada, a rua era dos pedestres antes da vinda dos automóveis, separamos em nível, criamos uma barreira para diferenciar local de carros e automóveis. Sempre tinha a impressão de que quando se ‘descia’ o nível da calçada, da guia, estou em um ambiente que eu não deveria estar, acuado nos cantos para não atrapalhar o fluxo. A acessibilidade nas calçadas normalmente se fazem por rampas em locais específicos, quando são existentes, muitos são impedidos por alguns bloqueios, como os próprios carros, que muitas vezes param sobre os acessos. Em uma das ruas, percebi que existiam alguns balizadores entre o final da calçada e o inicio da faixa de rolagem, o que me deu uma certa sensação de segurança, pensei na possibilidade dessa segurança ser extendida para todo o trajeto, também tirando a barreira que é a guia. Para resolver os problemas das chuvas, valas sobrepostas de grelhas fariam essa função, assim como a guia que guiam o fluxo de automóveis e das águas pluviais ou domesticas que por lá escorrem, dessas valas as águas seriam coletadas por jardins de chuvas e/ou wetlands para o tratamento das mesmas antes de serem devolvidas ao Riacho. Quando adentrei a área de interesse vi um campo de futebol e uma estrutura semelhante a uma quadra, fui andando, percebi que vinha gente atrás de mim, passaram e prosseguiram com o seu caminho, percebi então que poderia estar lá, uma barreira de árvores tapavam minha visão, e, ao cruza-la me deparei com uma infraestrutura já instaurada, porém abandonada, isso que me instigou, construções deterioradas, uma piscina vazia, caminhos como em um parque, a água da nascente represada, de forma a formar um lago, um pátio todo em madeira, destruída, sentei-me em uma área mais afastada e fiquei reparando quem frequentava este local, todos homens, com idades diferenciadas, dos 15 aos 40 anos de idade, muitos usavam o local para o uso de entorpecentes, a maconha. Em diversos locais que pude visitar, locais públicos a droga esta intimamente ligada com esses locais, desde na Vila Madalena, Santo Amaro, Lapa, no Centro como aqui. O homem, ao estar em um momento exposto, justamento por ser algo ilícito, explora a cidade como outras pessoas não a fazem, mas o ato do consumo de drogas, aqui se encontra ligado com o espaço público. Seguia as águas para dentro da mata, encontrando uma bifurcação, de um lado a água era limpa, do outro a água podre, cinza e fétida escorria nas pedras. Comecei a seguir para ver de onde vinha esta podridão, comecei a subir um morro e encontrei um barracão, dois indivíduosme abordaram com a intenção de me induzir a deixar o local, encontei de onde as drogas vinham.


Dos muros que cercam. Foto tirada pelo Autor.

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A Grande Farsa É possível analisar a paisagem urbana e verificar as diversas dinâmicas referentes ao funcionamento das sociedades como um todo, revelando ou omitindo informações do processo de estruturação da formação e organização espacial e social da própria paisagem, tendo como principais agentes os fatores culturais, econômicas e políticas, sendo o espaço geográfico fruto das complexas interações entre aspectos sociais e espaciais. As infraestruturas municipais de Cotia estão principalmente localizadas em áreas sobre cursos d’água, ou em áreas de várzea. Esse processo político, econômico e cultural que agem sobre a paisagem urbana, ainda são frequentes no dia-a-dia das cidades contemporâneas. No decorrer do ano de 2017, o Ribeirão das Pedras, denominado como área de influência do Orbitar, estava em obras, que tiveram como resultado a criação de uma praça, a partir do aterramento de parte do curso d´água. Essa solução mais ‘viável’ economica e politicamente, em relação a um curto prazo de gestões públicas, causam diversos outros problemas, desntre eles os problemas de cunho ambiental. Embora a praça seja algo positivo para a vida urbana, a construção baseada em mascaramentos de problemas sociais, esses quais à falta de acesso a moradia, falta de serviços básicos de saúde, entre outros, que acabam gerando diversos outros problemas, como a poluição das águas urbanas, dentre outros. Levando em conta que diversas estruturas municipais são de uso comum, lazer, cultura e aprendizado, porque não utilizar o rio como potencializador desses espaços?

Registro da Praça sobre Ribeirão.. Foto tirada pelo Autor.


Registro da praça sobre o Ribeirão.. Foto tirada pelo Autor.

Ao trilhar meu caminho, um som, uma felicidade momentânea toma conta de mim, uma sensação simples e agradável me consome, é o som das águas ao cair e colidir com as rochas, gerando um chacoalhar constante e hipnótico, me vejo parado, estanque ao ver o rio fluir rio abaixo, e isso me tranquiliza.

A arquitetura molda o homem ou o homem molda a arquitetura?

Ás águas urbanas, que correm por debaixo de nossos pés, não são mais fluxos vivos, a vida não às permeiam mais, hoje, encobertas por erros humanos, sofrem as consequências e estão condenadas à escuridão. Não é pelo fato de encobrirmos os problemas, que eles deixaram de existir.

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A Droga no Espaço Público A droga, pelas minhas experiências e observações esta muito ligada com a apropriação do espaço público. Em diversos locais me deparei com usuários de diferentes tipos de drogas, desde as drogas lícitas quanto às ilícitas. Assim como o esporte, música e outras atividades, a droga esta intimamente ligada com as relações sociais, é um catalisador de relações, onde pode propiciar contatos humanos e apropriações do espaço público, possibilitando o contato de diferentes ‘camadas’ da sociedade, independente de sua natureza. O espaço público possibilita que diferentes pessoas de diferentes ‘camadas’ da sociedade se encontrem no mesmo local e a droga é mais um catalizador de contatos sociais. O ato de tomar cerveja é mais do que um simples ato de degustar uma bebida, culturalmente este ato esta ligado a se relacionar socialmente, conversar, debater ideias. Em muitos casos, os bares estão localizados com certa proximidade dos espaços públicos, como cadeiras dispostas nas calçadas, grandes aberturas que permitem o contato visual com a rua, deixa aquele local frequentado e observado por quem frequenta o bar. Ou como adolescentes que se reúnem na praça para beber e se conversar. As drogas são uma excelente “desculpa” para as relações sociais, um grande desinibidor e ponto em comum entre pessoas. É comum o fato das pessoas chamarem as outras para beber, ou mesmo ir fumar, porém esta relação esta diretamente ligada com as relações sociais, tanto que quando a pessoa bebe sozinha, normalmente dizem ela esta com problemas com a bebida. O ato de fumar também proporciona contatos sociais, quem nunca te abordou perguntando se você tem um isqueiro. O ato de fumar é interessante pensar que as pessoas se isolam em grupos ou mesmo sozinhas, pois é um momento relaxante, não somente pela ação da nicotina, mas também pelo ato do contato social, da conversa e pelo fato de que fumar necessita um controle da respiração, somente respirar de uma maneira controlada já é relaxante por si só. Nos caminhos do procedimento de orbitar passam diferentes sensações e a busca por um ritmo menos acelerado, faz com que as sensações se multipliquem, percebendo novos detalhes e perspectivas, novos usos e desusos, novos cheiros, novos sons.


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A Incontingência

A dificuldade em conter avanços construtivos em áreas de risco e locais inapropriados, a dificuldade de impedir o descarte irregular de lixo em áreas de interesse ambiental. A dificuldade em reter a expansão territorial, devido a um déficit habitacional que, segundo a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), o déficit habitacional total absoluto da Região Metropolitana de São Paulo, onde Cotia esta inseria é de 623 mil e 653 habitantes, faz com que desenfreados avanços construtivos humanos se instalem em áreas incoerentes, sendo prejudicial à própria população que vive no local e, também, prejudicial para a sociedade de uma maneira geral. Neste processo formativo foi possível constatar a falta do estado vigente em diversos locais da cidade, devido a não existência de um tratamento de qualidade e a manutenção de uma cultura de descaso com o espaço público.

Registro da Conglomerado, casas sobre o Riacho. Foto tirada pelo Autor.


O Conglomerado

O poder público e os equipamentos urbanos como igualador de desigualdades sociais, dentre eles as questões relacionadas à moradia. O conglomerado é fruto de incontingência, onde a dificuldade em reter e controlar os avanços construtivos, devido a um grande aumento populacional levou a uma expansão desenfreada em locais inadequados. O conglomerado tratado nos ensaios foi instaurado em menos de 10 anos, como constatados em imagens aéreas, o descarte de efluentes domésticos no curso d’água e a localização em área de risco, levou com que vislumbrasse, para remediar esta situação, habitações em uma área de Zoneamento Especial de Interesse Social de Vazios (ZEIS) nas proximidades. O ensaio consiste na percepção de que residências padronizadas e genéricas não atendem às diversas necessidades. O vislumbre consiste em estruturas pré-moldadas com pilares dispostos à uma distância de 3 em 3 metros, em um terreno de 6 por 9m, com possibilidade de diversos usos, possibilitando diversas tipologias e matérias na construção, entendendo as diversas situações e que em cada família tem uma necessidade. Com a autoconstrução, que já ocorre nas ‘cidades informai’, com o direcionamento da mão de obra ,potencializa as diversas possibilidades de tipologias.

Ensaios Visuais sobre diferentes tipologias possíveis.

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As Transições

As transições se fazem por locais puramente objetivos e lineares, deixando um caminho monótono e desconfortável, tanto que na proximidade das passarelas os muros de contenção da rodovia são mais altos para evitar justamente que pessoas cruzem pelo meio da rodovia, porém isso ainda ocorre. Sun Alex, (apud Stephen Carr, Public Space, Nova York: Cambridge University Press, 1995, p. 25) classifica acessos ao espaço público em três tipos: físico, visual e simbólico ou social. “Acesso físico refere-se à ausência de barreiras espaciais ou arquitetônicas (construções, plantas, água etc.) para entrar e sair de um lugar”. No caso do espaço público, devem-se considerar também a localização das aberturas, as condições de travessia das ruas e a qualidade ambiental dos trajetos. Acesso visual, ou visibilidade, define a qualidade do primeiro contato, mesmo à distância do usuário com o lugar. Perceber e identificar ameaças potenciais são procedimentos instintivos antes de alguém adentrar em qualquer espaço. Uma praça no nível da rua, visível de todas as calçadas, informa aos usuários sobre o local e, portanto, é mais propício ao uso. Acesso simbólico ou social refere-se à presença de sinais, sutis ou ostensivos, que sugere quem é e quem não é bem-vindo ao lugar. Porteiros e guardas na entrada podem representar ordem e segurança para muitos e intimidação e impedimento para outros. “Construções e atividades também exercem o controle social de acesso, principalmente em espaços fechados, em que decoração, tipos de comércios e política de preços são frequentemente conjugados para atrair ou inibir determinados públicos.”

Transição sobre Ribeirão. Foto tirada pelo Autor.


Transição atuais. Foto tirada pelo Autor.

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Desenhos do Autor sobre o Projeto: Espaço público teatro “La Lira”, em Ripoll, Girona, de RCR Rafael Aranda. Carme Pigem. Ramón Vilalta Arquitectes. (Fonte: Revista Summa + 141).


Desenhos do Autor sobre o Projeto: Passarela The Paleisburg, na Holanda (2015), de Benthem Grouwel Architects. (Fonte: Archdaily).

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TransisĂľes vislumbradas.


Proteção parcial ou completa de intempéries Módulo de bancos e jardineiras

Estrutura Matalica apoiadas na Estrutura Existente

Proteção contra vertigem e poluição sonora

Corte Esquemático. S/ Escala.

Estrutura de Concreto Existente

Cobertura parcial ou completa contra intempéries

Parede Verde

Ponto Container

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As praças Segundo Sun Alex, no livro Projeto da Praça – Convívio e exclusão no espaço público, o projeto de uma praça, de acordo com sua configuração e transformação, altera diretamente o convívio social modificando, diretamente, o exercício da cidadania, assim como a construção da própria cidadania e da própria cidade. Ainda, segundo Alex, a praça como elemento ‘urbanístico’ deve ser atrelado ao cotidiano, entorno e fluxos de pedestres. Para Alex “ [...] a perda, aparentemente corriqueira, da simultaneidade escalar da praça como uma entidade ‘arquitetônica’ ou ‘paisagística’ detentora de formas, funções e estilos tem empobrecido o projeto e o ensino de paisagismo, acarretando uma tendência à homogeneização dos espaços livres e prejudicando não apenas a consolidação de uma identidade autêntica na paisagem urbana, mas, especialmente, a preservação do caráter público que soa espaços públicos.” Para o autor “A palavra ‘público’ indica que o lugar deve ser acessível, sem exceção, a todas as pessoas” . Por outro lado, “... paradoxalmente, embora o espaço público possa ser também o lugar das indiferenças, ele caracteriza-se, na verdade, pela submissão às regras da civilidade”. Segundo Alex (apud Mark Francis, p. 21), “... os espaços públicos são paisagens participativas, e o controle do usuário pode ser compreendido com base nas cinco dimensões propostas por Kevin Lynch para construir ‘bons’ ambientes: presença, uso e ação, apropriação, modificação e disposição”. As praças segundo Sun Alex, devido à degradação ambiental, “priorizaram o verde em um processo de compensação dessa degradação, ao invés de priorizar o homem, ou seja, a praça como convergência de fluxos urbanos passa a ser local de recreação e repositório de verde.” Ao priorizarem o repositório de verde ao invés do homem, as praças existentes são compostas por grandes áreas gramadas, o que dificulta na transição, por exemplo, em dias chuvosos, na manutenção e em casos de fluxo constante de pessoas sobre a mesma, ela acaba se deteriorando. Os calçamento das praças, são constituídos de caminhos estreitos, de aproximadamente noventa centímetros à um metro e vinte centímetros, criando “corredores” de passagem ao invés de criar áreas de transição. Não convergem diferentes usos e fluxos, mas, sim, os limitam. Segundo entrevista com profissionais da Prefeitura do Município de Cotia, as intervenções não dispõem de um projeto amplo e aprofundado. O traço não existe nestes locais e, apesar disto, eles funcionam, talvez, devido a um uso e apropriação constante da população, o que poderia ser potencializado e ampliado com o uso do traço.


Uso da praรงa. Foto tirada pelo Autor.

Praรงa sobre Riacho. Foto tirada pelo Autor.

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Ocupação de ambas as margens

Jardins para tratamento de águas pluviais

Muros de contenção/ Bancos

Praça, relações vislumbradas.

Transições transversais

Piso para pedestres 64


Iluminação Pública

Praça ‘Terminal’. Foto tirada pelo Autor.


Mobiliário Escultural

Conexão Física com o Ribeirão

Praça relaçõe vislumbradas.. Foto tirada pelo Autor.

Balizadores

Jardins para tratamento de das águas pluviais 66


A Ambivalência

A Prefeitura do Município de Cotia é carregada com diversas simbologias sociais e históricas. Embora seja um local que represente a democracia, a gleba onde se encontra, é isolada fisicamente por grades e desníveis, desarticulando a vida cotidiana à prefeitura. Na frente da prefeitura, se encontra um estacionamento, onde ocorrem diversos usos, como feiras livres, práticas esportivas, local para treinamento de motoristas, dentre outros. Os ensaios das Prefeituras vislumbram uma praça democrática, onde o principal objetivo é proporcionar a democratização e o acesso ao conhecimento, incentivando reflexões e debates, para isso vislumbrou-se um biblioteca como símbolo da democratização do conhecimento, também, vislumbrou-se a possibilidade de museu a céu aberto, onde a intenção é atiçar e informar os cidadãos.

Registro das grades que cercam a Prefeitura. Foto tirada pelo Autor.


Registro de Prefeitura Municipal de Cotia. Foto tirada pelo Autor.

Registro da Prefeitura. Foto tirada pelo Autor.

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Grades que cercam a Prefeitura. Foto tirada pelo Autor.

Vista da Av. Rotary, Prefeitura atrรกs. Foto tirada pelo Autor.


Vista da Rua Turmalina, Prefeitura Ă esquerda. Foto tirada pelo Autor.

Paisagem vista do terreno da Prefeitura. Foto tirada pelo Autor.

70


a alin

Prefeitura

Av. Rot ary

Av. Prof. Manuel JosĂŠ Pedroso

urm R. T

Desenho do Autor sobre estudos geogrĂĄficos da prefeitura.


Prefeitura

Desenho do Autor sobre estudos geogrรกficos da prefeitura.

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Desenhos do Autor sobre o Projetos: Livraria Cultura, do Studio MK27, SĂŁo Paulo-SP; Biblioteca e Escola de Arte Rozet, de Neutelings Riedijk Architects, Arnhem- Holanda; e o Centro Cultural e Biblioteca EEMHUIS, Neutelings Riedijk Architects, Amersfoort- Holanda.


Desenhos do Autor referentes Ă estudos e vislumbramentos projetuais.

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Ă rea de estacionamento, frente Prefeitura. Foto: Google Street View.


Praça seca, de uso misto

Biblioteca

Mobiliário/ Área de Estar

Calçadão Balizadores 76


Ă rea de estacionamente, frente Prefeitura. Foto tirada pelo Autor.


Mirante Rua em nível superior

Janelas para leitura

Rampa que conecta a Praça Seca à Rua em nível superior Bancos/ Arrimo Praça Seca/ Diferentes Usos 78


Mobiliรกrio Urbano

Estante de Livros Comunitรกria

Assentos

ร rea Coberta


Proteção parcial contra interpéries

Telhado Verde

Bicicletário 80



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Bebedouro AcessĂ­vel

Bebedouro

Garrafas

Animais

Bebedouro

Possibilidade de Lixo ou Vaso

Banco


Poste de Iluminação

Balizadores

Iluminação

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Corte Esquemรกtico

Corte Esquemรกtico

Corte Esquemรกtico


O Ambiental

Infraestrutura Verde

A infraestrutura verde é um conceito novo, não existindo um consenso consolidado sobre o tema, porém segundo a Agência Europeia do Ambiente – AEA (2015) descreve como um instrumento com soluções baseadas na própria natureza, possibilitando benefícios ecológicos, econômicos e sociais. Em outras palavras, são sistemas naturais ou seminaturais capazes de auxiliar na qualidade ambiental, desempenhando diversos papéis, como o aumento da biodiversidade, melhoria da qualidade do ar, diminuição de ilhas de calor, propicia ambientes mais agradáveis, enriquecem a paisagem, melhoria na qualidade dos cursos d’água, ou seja, melhoria da qualidade de vida em geral.

Jardins de Chuva

A proposta consiste na implantação dos jardins de chuva, parte do conceito da infraestrutura verde adotada para o projeto. Segundo o documento, Projeto técnico: Jardins de Chuva, Soluções para Cidade, s/d, produzido pela Fundação Centro Tecnológico de Hidráulica – FCTH e pela Associação Brasileira de Cimento Portland - ABCP, os Jardins de Chuva ou Sistema de Biorretenção são jardins que se utilizam das atividades biológicas de micro-organismos e de plantas para depurar águas pluviais, por processos de filtragem, decomposição, adsorção, troca de íons e volatização, e que favorece para a retenção e infiltração das águas provenientes da precipitação. Consiste basicamente de depressões com vegetação e elementos que contribuem para filtrar as águas pluviais provenientes do escoamento superficial, que as mesmas ficam retidas nessas depressões, criando poças, que gradativamente vão infiltrando no solo.

Wetlands

Os wetlands, são sistemas construídos para o tratamento de efluentes, baseado em mecanismo naturais, que apresentam uma simplicidade na implantação, diminuição de custos e melhoria da paisagem natural, utilizando principalmente vegetação aquática. Podendo ser empregada em diversos usos, como no tratamento de cursos d’água poluídos, tratamento de águas provenientes do escoamento superficial, tratamento de efluentes industriais ou sanitários, entre outros. Segundo a empresa Wetlands construídos, os processos de depuração ocorrem por processos físicos com a filtração, sedimentação, volatização, químicos com a adsorção, oxidação, redução, precipitação e quelação, e biológicos como degradação e absorção por microorganismos, dacaimento de patógenos, extração pelas plantas, entre outros.

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Referências Abbud, Benedito(2006), Criando Paisagens 4.ed. São Paulo: Editora Senac. Alex, Sun (2008), Projeto da Praça Convívio e Exclusão no Espaço público, 1ª ed. São Paulo: Senac São Paulo, 2008. Caldeira, Teresa (2000), Cidade de muros Crime, segregação e cidadania em São Paulo 1ed. São Paulo: Editora 34 Ltda/ Editora da Universidade de São Paulo. Debord, Guy (1958), texto publicado no n°. 2 da revista Internacional Situacionista. Gehl, Jan (1936-), Cidade para as Pessoas 2.ed. São Paulo: Perspectiva, 2013. Jardins de Chuva, Soluções para Cidade, s/d, produzido pela Fundação Centro Tecnológico de Hidráulica – FCTH e pela Associação Brasileira de Cimento Portland – ABCP Proposta de Plano de Desenvolvimento e Proteção Ambiental (PDPA) para a Bacia do Cotia, 2016 Site da Prefeitura Municipal de Cotia, Histórico da Cidade de Cotia. Disponível em: <http://www.cotia.sp.gov.br>. Acesso em: ago.2017 Site do IBGE, Histórico da Cidade de Cotia. Disponível em: <http:// biblioteca.ibge. gov.br >. Acesso em: abr.2017 SOS Mata Atlântica, Importância ambiental. Disponível em: <http:// www.sosma. org.br/nossa-causa/a-mata-atlantica>. Acesso em: mai.2017. WetLands, O que são wetlands. Disponível em: <http://www.wetlands.com.br/>. Acesso em: mai.2017. EEA Europa, Definição Infraestrutura Verde. Disponível em: <http://www.wetlands. com.br/>. Acesso em: mai.2017. Câmara Municipal de São Paulo, Pedestres se arriscam ao evitar passarelas. Disponível em: <http:// www.camara.sp.gov.br/blog/pedestres-se-arriscam-ao-evitar-passarelas/>. Acesso em: mai.2017. Breve histórico da Internacional Situacionista, por Paola Berenstein Jacques, 2003. Disponível em: <http:// www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/03.035/696 >. Acesso em: abr.2017. The Naked City, imagem. Disponível em: < http://glasstire.com/2012/11/23/the-ten-list-walk-as-art/the-naked-city-1000/>. Acesso em: abr.2017.

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