[in]Formal: O limiar entre duas cidades complementares.

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CENTRO UNIVERSITÁRIO SENAC Iolanda Kurimori Costa

[in]Formal: O limiar entre duas cidades complementares

São Paulo 2015


Iolanda Kurimori Costa [in]Formal: O limiar de duas cidades complementares

Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Centro Universitário Senac – Campus Amaro, como exigência para obtenção do grau no Bacharel de Arquitetura e Urbanismo. Orientador: Profº. M.e. Ricardo Luis Silva

São Paulo 2015


Costa, Iolanda Kurimori [in]Formal: O limiar entre duas cidades complementares/Costa, Iolanda Kurimori Orientador: Profº Me. Ricardo Luís Silva Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Arquitetura e Urbanismo) – Centro Universitário Senac – Campus Santo Amaro, São Paulo, 2015 1. São Paulo; 2. Favelas; 3. Cidade formal; 4. Fronteiras urbanas I. Costa, Iolanda Kurimori (autora); II. Silva, Ricardo Luís (orientador); III. [in]Formal: O limiar entre duas cidades complementares.


Iolanda Kurimori Costa [in]Formal: O limiar entre duas cidades complementares Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Centro Universitário Senac – Campus Amaro, como exigência para obtenção do grau no Bacharel de Arquitetura e Urbanismo.

As bancas examinadorasdos Trabalhos de Conclusão, em sessão pública realizada em / / , considerou o(a) candidato(a): 1) Examinador(a): 2) Examinador(a): 3) Presidente:


Aos meus pais e ao meu irmão pelas lições e paciência; ao Teto pelos ensinamentos e o estimulo de sair da bolha; as minhas amigas e companheiras de TCC pela ajuda e “viagens” e ao meu orientador Ricardo, também pela paciência, apoio e incentivo ás derivas.


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O objetivo desse trabalho é apresentar dois espaços que possuem realidades distintas, ambos presentes na cidade de São Paulo, sendo esses denominados – Cidade Formal e Cidade Informal, sendo esta última, no decorrer do trabalho chamada de Favela. Essa apresentação é realizada através da comparação de três temas recorrentes do espaço, sendo: 1) Os Caminhos; 2) O Morar e; 3) Os Lugares e Não Lugares – cada tema com as suas características intrínsecas diferentes e opostas, que fazem com que ocorra uma separação entre essas duas realidades. O produto final proposto dessas comparações é uma exposição fotográfica, localizada em uma área de encontro das duas cidades – a zona [in]formal. Essa proposta tem como finalidade estimular o olhar e a percepção da sociedade com relação às diferenças similares desses opostos que, normalmente estão localizados próximos uns dos outros. PALAVRAS CHAVE: 1. São Paulo; 2. Favelas; 3. Cidade Formal; 4. Fronteiras Urbanas


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The goal of this work is to present two spaces that have distincts realities, both part of the city of São Paulo, they being called: Formal City and Informal City, although the last one will be called slums throughout the text. The presentation is going to be made by the comparison of three themes present in the the space, they are: 1) To walk; 2) To live and; 3) The places and non places – each of them with different and opposite characteristics that make the separation of the space happens. As the final product is going to be proposed a photographic exhibition, located in the encounter of the two cities – the [in]formal zone. This project’s goal is to stimulate the look and perception of the society related to de similar differences of these two opposites, which normally are located near the other. KEY WORDS: 1. São Paulo; 2. Slums; 3. Formal Cities; 4. Urban Frontiers


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1. Apresentação_8 2. Introdução_10 3. SP+Favelas_16 4. Território/espaço – espaço/território_25 5. O que há dentro dos espaços_31 6. Lugares e não lugares_37 6.1.

Lugares e não lugares[formais]_38

6.2.

Lugares e não lugares[favelas]_41

7. Caminhos_44 7.1.

Percurso[de A para B]_46

7.2.

Labirinto[de A para B – C, D e E]_49

8. Morar_52 8.1.

Habitar_54

8.2.

Abrigar_57

9. Conhecendo o desconhecido_60 9.1.

A desigualdade_61

9.2.

O medo_65

9.3.

A transformação do medo_68

10. Estudos de caso_74 10.1.

Cidade formal_75

10.2.

Favela_79

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10.3.

[in]Formai zonas_83

11. Proposta_88 11.1.

[pre]Projeto_89

11.2.

Projeto “O olhar”_94

11.3.

Projeto –Fotos_99

11.4.

Exposição – Fotos_102

12. Considerações finais_105 13. Referências bibliograficas_108 14. Lista de figuras_113

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A ideia para esse trabalho surgiu por volta de cinco anos atrás, quando passei a fazer da ONG Teto, uma organização que tem como objetivo a superação da extrema pobreza a partir do trabalho conjunto entre moradores e voluntários1. Essa proposta de trabalho me despertou curiosidade e ao mesmo tempo meus receios, que foram se transformando em inquietações, conhecimento e familiaridade a cada evento que eu participava e a cada familia que eu conhecia. O Teto me proporcionou a oportunidade de descobrir que nem todos estão nesses lugares porque querem e que nem todos são violentos e perigodos. E esse novo conhecimento que foi adquirido aos poucos, me fez querer compartilhar essa experiencia e fazer que essa estimule a curiosidade de quem ler esse trabalho de começar a conhecer esse universo paralelo que é uma favela.

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Teto-Brasil


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Esse trabalho tem como objetivo as zonas [in]formais, áreas de encontro de dois espaços dentro da cidade que são separados como duas cidades distintas. São eles a cidade formal, aquela cidade que possui uma estrutura, teoricamente completa e a cidade informal, a cidade das favelas, e que será chamada de favela no decorrer do texto, não com intenção pejorativa, mas porque chamar de comunidade não é tão significativo, o termo favela não é ruim ou ofensivo, é o modo que os próprios moradores enxergam a área onde vivem. Uma comunidade pode ser qualquer coisa ou lugar, enquanto uma favela é aquele lugar com casas coladas umas nas outras, com uma mistura de músicas com gritos, onde as pessoas de um jeito ou de outro são praticamente forçadas a se entenderem, mas que se entendem de uma maneira única porque só quem vive lá sabe como é viver lá. Esses encontros, não notados, mostram a falta de interesse da sociedade com relação a essas diferenças do espaço e que, às vezes, pode-se deixar do jeito que está. Porém, às vezes, e, como o tema em pauta atualmente é a reurbanização e melhoria dessas áreas, as mesmas estão sendo discutidas de forma radical. Em “A estética da ginga” Jacques mostra outro lado para essa reurbanização, de maneira suave, com a qual os moradores não sofrerão perdas e o território da cidade ganhará.


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“Mas as favelas já não fazem parte da cidade há mais de um século? Será necessária essa integração formal? Não seria uma imposição autoritária de uma estética formalista visando à uniformização do tecido urbano? Por que não assumir de uma vez a estética das favelas sem as imposições estéticas, arquitetônicas e urbanísticas dos atuais projetos de urbanização, que acabam provocando a destruição da arquitetura e do tecido urbano original para criar novos espaços sem identidade própria, dos quais, muitas vezes, a população local não se apropria, e ficam rapidamente deteriorados e abandonados? [...]” (Jacques, 2001, p. 14)

Nesse trecho, a autora2 levanta uma questão sobre as favelas e as relações que as mesmas não mantêm com a cidade formal, devido as suas diferenças e que geram as zonas [in]formais. Essa diferença é apresentada como a diferença física, estética. Porém, é possível mencionar que as diferenças sociais, políticas e econômicas também são fatores que dificultam essa integração e o desenvolvimento de relações entre as duas partes da cidade. O desenvolvimento de seu livro acontece através de um estudo sobre a estética da favela pelos “olhos” de Hélio Oiticica3, acompanhando sua trajetória artística no Morro da Mangueira, na cidade do Rio de Janeiro.

2

BERESTEIN JACQUES, P. A estética da ginga: A arquitetura das favelas através da obra de Hélio Oiticica, Rio de Janeiro, Casa da palavra, 2001 3 Hélio Oiticica (1937-1980) era um artista, escritor e tradutor brasileiro, que depois da morte de seu pai passou a frequentar o Morro da Mangueira e a utiliza-lo junto ao samba e ao carnaval, como inspiração para suas obras. (Educação UOL)


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Grande parte das cidades brasileiras possuem em sua configuração urbana a presença de favelas, que foram geradas a partir da história do país e seu desenvolvimento econômico, já que grande parte dessas cidades teve um crescimento populacional grande e rápido, sem com que a infraestrutura suportasse tal crescimento. Isso fez com que parte dessa nova população se estabelecesse em áreas periféricas, criando assim dois espaços4 dentro de um mesmo território5, sendo esses espaços as já mencionadas: cidade formal e as favelas. O presente trabalho é situado na cidade de São Paulo e apresenta parte de sua história, para melhor entendimento da formação das favelas em seu território. Além de realizar uma ressalva sobre as diferenças entre espaço, território e lugar6, termos utilizados no texto e que, normalmente são ditos como sinônimos, mas não necessariamente são. Para a aproximação da cidade formal e das favelas, é feita uma comparação entre essas duas cidades utilizando para isso três tópicos principais que representam fatores e ações presentes em ambas e eles são: 1) Os lugares e os não lugares7 e como eles se apresentam em ambos os espaços; 2) Os caminhos feitos na cidade formal e os caminhos feitos na 4 Ver

capítulo3 Idem 3 6 Saraiva, M. Territórios dos sentidos: da emergência dos processos de subjetivação na metrópole contemporânea, Revista Espaço Acadêmico, 2012 7 AUGÈ, M. Não lugares: Introduçãoa uma Antropologia da Sobemodernidade, s.1., 90º, 2005. 5


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cidade informal, quais as suas diferenças8 e; 3) A forma de morar, um esclarecimento sobre uma moradia que habita e uma moradia que abriga9, aonde elas se localizam. A proposta desse trabalho é juntar essas comparações e mostrar que através das diferenças é possível encontrar semelhanças. É apresentar a maneira como as populações desses dois espaços vivem e estimular que elas percebam que ambas vivem em um mesmo território e que a maioria das vezes as barreiras e fronteiras entre eles são invisíveis. Como já citado no trecho apresentado no começo da introdução, a reurbanização de favelas é um tema que está em pauta, mas como Jacques

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diz em seu trabalho, o desenvolvimento de melhorias em uma

favela na verdade significa a transformação do espaço e a destruição de um modo de viver e conviver de uma população excluída. É a partir dessa ideia que o principal objetivo, agora da proposta, é mostrar que não necessariamente um espaço precisa perder suas características e se transformar em algo que ele mesmo não “aceita” para poder ser aceito pelo outro.

8

Idem 7

9 BERESTEIN JACQUES, P. A estética da ginga: A arquitetura das

palavra, 2001 10 Bidem 7

favelas através da obra de Hélio Oiticica, Rio de Janeiro, Casa da


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Como justificativas de entendimento geral, será usada referências bibliográficas dos temas e também será acrescentado referências de dicionários conhecidos, que de forma simples representam os primeiros significados encontrados quando necessário, que mostrará o porque muitos termos são usados como sinônimos.


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O Brasil é o quinto maior país do mundo medindo 8.51 milhões de quilômetros quadrados11, com uma população aproximada de 203.429.733 pessoas12, sendo também o quinto país mais populoso da Terra13. Dividido em 27 estados, o Brasil é membro do Grupo dos 20 (G20)14 e também faz parte dos BRICs, juntamente com Rússia, Índia, China e África do Sul15. Ambos os grupos são compostos por países que estão em destaque mundial devido ao desenvolvimento e ao crescimento de suas economias nos últimos anos. O Brasil é um dos principais destaques quando o assunto é desenvolvimento econômico e vem sendo por pelo menos 15 anos. Além do destaque na economia, o Brasil também vem se tornando um país muito influente, sendo possível observar essa influência através do fato dele ter se tornado anfitrião de dois dos maiores eventos esportivos do mundo em menos de quatro anos, que são: a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016 no Rio de Janeiro. O Rio de Janeiro é umas das cidades mais conhecidas e importantes do Brasil, porém essa parte do trabalho irá discorrer um pouco sobre a história de outra cidade importante do país que é São Paulo. Localizada no sudeste brasileiro, São Paulo tem atualmente uma população aproximada 11

Top 10+, http://top10mais.org/top-10-maiores-paises-do-mundo/ Escola, http://www.brasilescola.com/geografia/g-20-paises-desenvolvimento.htm Top 10+, http://top10mais.org/top-10-paises-mais-populosos-do-mundo/

12 Brasil 13 14 15

Idem 11 Bidem 11


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de 11.895.893 pessoas16, é a capital do estado que possui o mesmo nome. A cidade carrega a característica de ser importante para o país, pois é conhecida como o centro financeiro do Brasil, devido a sua importância econômica. Tal importância e denominação são dadas não só devido ao contexto atual, mas também por causa de sua história, que será brevemente resumida no próximo parágrafo e através dela será possível observar a formação de dois núcleos na cidade, a cidade formal e a cidade informal, as favelas. Essa informação se faz importante, devido ao tema que será apresentado e discutido nesse trabalho. Saber como essas diferenças sociais começaram e se consolidaram facilitará o entendimento do porque a sociedade se comporta com certa indiferença quando esse tema de favelas e cidades formais é tratado. A cidade de São Paulo em 1711 foi o ponto de partida das “bandeiras”, que eram expedições para o interior do país em busca de minerais preciosos e índios para serem escravos nas minas e nas plantações17. Em 1815, a cidade se tornou o centro intelectual e de pensamentos políticos do país, após abrir sua primeira universidade18, porém só começou a realmente ganhar importância financeira no final do século XIX e isso

16 17

IBGE Apostila Anglo do 2º ano do Ensino Médio

18 Prefeitura de São Paulo - História


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ocorreu devido à expansão do café19, que trouxe como consequência uma grande quantidade de imigrantes para viver e trabalhar na cidade, e que estavam em busca de uma vida melhor. Essa imigração repentina resultou num rápido crescimento populacional sem infraestrutura urbana que pudesse acompanha-lo20. Já em 1940, São Paulo começou a passar por mudanças urbanas significativas, além de começar a ter como principal fator econômico as indústrias. Ambas, as mudanças urbanas e as indústrias, fizeram com que a necessidade de trabalhadores na cidade crescesse, resultando em um grande número de pessoas de diversas partes do Brasil que se mudaram para São Paulo21, estimulando ainda mais o crescimento populacional mencionado anteriormente e, apesar das causas distintas, os dois “booms” populacionais tiveram resultados similares. A falta de infraestrutura de suporte para os novos habitantes gerou diversos problemas não só para eles, como também para a cidade, como por exemplo: a falta de empregos (devido ao grande número de pessoas atrás da mesma vaga) e a falta de moradias (como consequência do desemprego, as pessoas não tinham como pagar um local para morar).

19 Bogus, L. Cidades – Comunidades e territórios, 2003, nº6, pp.51-71

20 21

Idem 18 Bidem 18


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Com uma população aproximada de 12.000.000 pessoas22, devido à rápida industrialização que se iniciou na década de 1940, a cidade de São Paulo testemunhou um processo no qual as pessoas começaram a viver irregularmente em áreas periféricas da cidade, tais como: espaços vazios, encostas, áreas de proteção ambiental, etc. Essas áreas irregulares passaram a ser conhecidas como favelas ou cidade informal. Atualmente, São Paulo possui a maior concentração de favelas do país ao lado da cidade do Rio de Janeiro, com aproximadamente 1.600 favelas distribuídas em seu território, somando uma população aproximada de 2.000.000 de pessoas vivendo em “assentamentos subnormais”, definição utilizada pelo governo23, essa população está por volta de 16% da população total da cidade24. As favelas podem ser vistas e interpretadas como não cidades, o rápido crescimento demográfico, resultou na ocupação de áreas sem infraestrutura para as famílias recém-chegadas viverem e, essa rápida ocupação, impediu que a estrutura

fosse construída. A principal

preocupação da prefeitura era tirar as casas irregulares e famílias “indesejadas” do centro da cidade, direcionando-as, também, para as áreas periféricas, de entorno, encostas e/ou de proteção ambiental25. Algumas características que podem ser observadas nas favelas, e

que

População Idem (SMDU – IBGE) IBGE 24 IBGE 25 Davis, Mike (2004). “Planet of Slums: Urban Involutionand the Informal Proletariat”. New Left Review, 26, pp. 5-34 – City Cultures Textbook 22 23


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serão explicadas com mais profundada posteriormente, são: superlotação, casas informais e “pobres”, além de um difícil acesso (como rotas de ônibus ou entrada de ambulância/polícia), um sentimento de insegurança e falta de infraestrutura, como redes de água e esgoto, pavimentação de ruas, etc. É fácil se deparar com esse tipo de situação apenas viajando e andando pela cidade26. Grande parte da população que não convive e nem conhece essas áreas, as relacionam com falta de segurança, perigo e criminalidade, porém não se pode generalizar, já que nem todas as famílias e pessoas que vivem nessa situação estão conectadas com isso. Muitas delas vivem dessa maneira por falta de oportunidade de emprego para poder se mudar e se sustentar fora de lá. Quando se começa a estudar sobre as favelas é interessante observar como as famílias estão conectadas umas com as outras, é possível se deparar com o conceito de comunidade ao andar por essas áreas, mesmo que não tenha a infraestrutura que constrói um ambiente urbano acessível e vivível. As pessoas ainda possuem um relacionamento com o espaço e muito além do espaço, elas possuem um relacionamento humano forte e notável27,pelo olhar de quem não vive lá, já que os próprios moradores não necessariamente se considerem unidos, o que faz essa comunidade

26

ser

Idem 24

27 Mumford, Lewis (2003 [1937]), “What is a city?”, in Richard T. LeGates and Frederic Stout (eds.), The City Reader (London:

Routledge) pp. 91-95 – City Cultures Textbook


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ainda mais interessante, já que isso ocorre de maneira natural. Todos que vivem nessa situação não só em São Paulo, possuem “vidas” similares o que faz com que um ajude o outro quando necessário e quando possível. Conhecer as pessoas que vivem nas favelas é uma maneira de entender e começar a propor mudanças para que a situação tanto do

espaço,

quanto dessa parte da população, melhore. Mostrar para a sociedade e principalmente para o governo que as pessoas estão dispostas a ajudar nessa mudança e que ela não precisa ser unilateral28. As favelas são sim, para esse trabalho, o ponto principal de comparação com a cidade formal, porém existe ainda uma segunda maneira da qual parte da população de São Paulo, que não possui meios de obter uma moradia, mesmo que na favela, vive, sendo essa: viver nas ruas. São Paulo possui uma população de aproximadamente 13.666 pessoas que vivem dessa maneira e ela continua crescendo29, os motivos variam desde uso de drogas ilícitas como a falta de oportunidade de viver em outro lugar e ter uma vida melhor30. Viver nas ruas pode ser, às vezes, similar às favelas, quanto a alguns motivos, porém elas são raramente relacionadas e isso se dá devido às principais diferenças existentes entre estes viveres.

28 ONGTeto-Brasil 29

Estadão, http://www.estadao.com.br/noticias/geral,total-de-moradores-de-rua-cresce-57-em-sp-diz-fipe,559901

30 Childs, Simon (2014). “Activists Poured Concrete All Over Some “Anti-Homeless” Spikes This Morning. Vice. June 12 – City

Cultures Textbook


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Viver nas ruas significa basicamente não ter um lugar para se estar, para se morar, sem ter por exemplo teto e cômodos. Já nas favelas, apesar da moradia ser construída, como já mencionada, em lugares irregulares e às vezes perigosos e delas serem muitas vezes improvisadas, as pessoas que vivem nessa situação possuem um teto, uma moradia, por mais precária que ela possa ser. Além disso, outro fator diferenciador dessas maneiras de viver é a falta de privacidade que viver nas ruas proporciona 31. O fato dessas pessoas não possuírem uma área privada para desenvolver suas necessidades básicas, como dormir, tomar banho, ir ao banheiro, etc., faz com que elas consequentemente, desenvolvam-nas em áreas públicas misturando assim as duas áreas da cidade32. A prática dessas necessidades em áreas públicas pode fazer delas áreas desconfortáveis de se estar e é o que acontece em algumas partes da cidade de São Paulo, como por exemplo, a Baixa Augusta e o antigo Centro da cidade. Ambos os lugares são conhecidos pela grande quantidade de moradores de rua, que se misturam com os prédios antigos e algumas vezes abandonados, com a falta de fluxo de pessoas e carros e com a falta de investimentos do governo. Essa mistura resulta em uma área indesejável e perigosa da

Kohn, Margaret (2004). “Homeless Free Zones: Three Critiques”, Brave New Neighborhoods: The Privatization of Public Space (New York: Routledge), PP. 130-146 – City Cultures Textbook 32 Idem 21 31


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cidade, que faz com que as pessoas que não vivem dessa maneira se afastem devido aos seus medos33. Como já mencionado a maneira de viver que vai ser discutida e comparada nesse trabalho além da cidade formal, são as favelas. Esse breve histórico da cidade de São Paulo e essa breve descrição de duas maneiras informais de se morar, foram apresentados para mostrar que apesar do Brasil ser um país em desenvolvimento e com grande influência mundial e de São Paulo ser uma cidade importante tanto para o país, quanto também para o mundo devido a sua influência34, ela continua sustentando uma diferença social significativa. O intuito desse capítulo foi mostrar como esta cidade chegou ao que ela é, além de apresentar uma breve descrição das favelas e mostrar que, apesar de ter se tornado um assunto atual, esse tema ainda é um problema, não só para a cidade de São Paulo, sítio deste trabalho, porém para o país inteiro.

33

Idem 24

34 Prefeitura de São Paulo - História


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Na arquitetura, no urbanismo, na geografia e em diferentes cursos e matérias existem diversas formas e palavras para se denominar uma área, como por exemplo: espaço, território, lugar, etc., e normalmente eles são usados como se fossem sinônimos uns dos outros35, o que não necessariamente eles são. Quando usados em uma conversa informal ou bate papo, os fatores que diferem seus significados são deixados de lado e a utilização deles como se fossem iguais se tornou natural, já que é possível entender que quando se fala espaço, território ou lugar, está se falando de uma área específica. Porém, para melhor entendimento desse trabalho se faz necessário entender o que difere esses três termos, sendo que o último será discutido no capítulo seguinte. “Território: sm (lat territoriu) [...] 2 Porção da superfície terrestre pertencente a um país, Estado, município, distrito etc. 3 Jurisdição.[…] 6 Área certa da superfície de terra que contém a nação, dentro de cujas fronteiras o Estado exerce a sua soberania, e que compreende o solo, rios, lagos, mares interiores, águas adjacentes, golfos, baías e portos.[...]”36

Saraiva, M. Territórios dos sentidos: da emergência dos processos de subjetivação na metrópole contemporânea, Revista Espaço Acadêmico, 2012 36 Dicionário Michaellis 35


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O território ou a territorialidade (Figura 1) é uma área, que como definição de alguns autores de Geografia37, está fortemente relacionada ao seu espaço físico e não aos indivíduos que nele habitam 38, sendo uma área que possui limites, fronteiras e delimitações39 como, por exemplo: os países, os estados e as cidades. Apesar de o território ser uma área pré- determinada, ele também carrega algumas características e isso ocorre devido ao seu posicionamento geográfico, as relações sociais, políticas e culturais que nele são desenvolvidas - “As pessoas estão no e pertencem ao território e, ao mesmo tempo elas os produzem.” (Oliveira Saraiva, 2012, p.24).

Figura 1: Representação de um território, com limites e fronteiras.

Saraiva, M. Territórios dos sentidos: da emergência dos processos de subjetivação na metrópole contemporânea, Revista Espaço Acadêmico, 2012 Apud. Cf. Souza, 1995 38 Idem 34 37

39

Idem 34


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“Espaço: sm (lat spatiu) 1 Fís Extensão tridimensional ilimitada ou infinitamente grande, que contém todos os seres e coisas e é campo de todos os eventos. [...] 3 Porção dessa extensão em dado instante (como o espaço ocupado por um corpo; o espaço dentro de uma esfera oca; um espaço de dez metros cúbicos); volume. [...] 6 Distância linear entre duas coisas, objetos etc.; intervalo [...]”40

O espaço possui diversos significados, mas em sua maioria ele é apresentado como uma porção ou extensão sem uma delimitação ou fronteira. Na arquitetura ou urbanismo, como diz Certeau (2008)41, o espaço (Figura 2) é uma área praticada, caracterizada e formada pelos pedestres e indivíduos que o habitam, ele é formado pelos cruzamentos móveis42. - “A rua geograficamente definida por um urbanista é transformada em espaço pelos pedestres.” (Certeau, p. 202)43.

O espaço também pode ser definido como formas de representações das atividades, das trocas e das funções sociais que nele foram 44 ou são desenvolvidas e que consequentemente o formaram e continuam formando. - “O espaço é um verdadeiro campo de forças cuja formação é

Dicionário Michaellis Saraiva, M. Territórios dos sentidos: da emergência dos processos de subjetivação na metrópole contemporânea, Revista Espaço Acadêmico, 2012 42 Idem 40 43 Bidem 40 44 Saquet, M.A. Milton Santos: concepções de geografia, espaço e território, Geo UERJ, 2008 40 41


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desigual. Eis a razão pela qual a evolução espacial não se apresenta de igual forma em todos os lugares.” (Santos, p.122)45.

A transformação social, também falada por Milton Santos46, está diretamente relacionada ao desenvolvimento da sociedade total e, através

dela,

é

possível

de

se

observar

consequentemente

o

desenvolvimento espacial, devido às atividades praticadas pelos indivíduos que a formam, dando certa autonomia para esses espaços.

Figura 2: Representação da

composição

do

território pelos espaços e esses

compostos

lugares e não lugares.

Saraiva, M. Territórios dos sentidos: da emergência dos processos de subjetivação na metrópole contemporânea, Revista Espaço Acadêmico, 2012 46 Idem 44 45

por


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Na introdução, as palavras território e espaço foram utilizadas atribuindo os significados que aqui foram expostos. O intuito era mostrar que a cidade de São Paulo é um território, com suas fronteiras e delimitações47, que obedece a legislações (municipais, estaduais e federais) e que possui em seu interior características por causa de sua geografia. Porém se faz necessário apresentar também que a cidade é, na verdade formada de diferentes espaços no interior de seu território. Sendo eles formados de indivíduos e de suas atividades cotidianas e que está em constante transformação, mesmo que ainda carregue histórias do passado. Ao se falar de lugares e não lugares será possível observar que os espaços da cidade são formados por eles.

47 Prefeitura de São Paulo


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Como mencionado no capítulo anterior, existem diversas formas de se denominar uma área, como território, espaço, lugares e não lugares. Foi possível notar que os territórios são formados de espaços e que os espaços são formados de lugares e não lugares (Figura 2), cujas definições serão discorridas nesse capítulo. “Lugar: sm (lat locale) 1 Espaço, independentemente do que possa conter. 2 Espaço ocupado por um corpo. 3 Sítio onde está qualquer coisa. 6 Região, povoado, pequena aldeia. [...] 8 Residência. 9 Local, sítio. […] L. público: estabelecimento ou lugar que pode ser frequentado por todos. [...]”48

Pode-se atribuir ao lugar diversas definições e conceitos e cada um varia de acordo com o contexto em que a palavra é inserida. Os significados acima apresentados apesar de relacionados com a área de arquitetura e urbanismo o fazem de maneira sutil, fazendo com que seja necessário aprofundar um pouco mais nos conceitos dessa área, para melhor entendimento das diferenças dos termos utilizados no decorrer do texto. De acordo com Reis-Alves (2007)49, o lugar pode ser considerado um “espaço ocupado, ou seja, habitado” (Reis-Alves, 2007, p. 1). A diferença principal entre espaço e lugar é que no primeiro a área é povoada, formada por pedestres devido a simples existência deles, enquanto no 48

Dicionário Michaellis

49Vitruvius, ago, 2007 apud. REIS-ALVES, Luis Augusto dos. O conceito de lugar. Arquitextos, São Paulo, ano 08, n. 087.10


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lugar esse pedestre, o homem, é adicionado como fator para composição (Figura 3), transformando-o em um lar para acomodá-lo ou em um palco onde ele consegue desenvolver suas atividades cotidianas ou “assistir” ás de outras pessoas50.

Figura 3:

Representação

da presença do homem no espaço,

transformando-o

em lugar. Figura 4: Lugar no Morumbi – vegetação formando uma praça. (página 34 – cima) – Arquivo Pessoal.

Figura 5: Lugar na comunidade Murão, Carapicuíba – ocupação (vasos) e identidade (página.34 – baixo)-Arquivo Pessoal.

50

Idem 49


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Tuan (1983)51, discute que os significados de espaço e de lugar muitas vezes são fundidos um no outro, já que um não se faz compreensível sem a presença do outro52, para ele: “... o que começa como espaço indiferenciado, transforma-se em lugar a medida que o conhecemos melhor e o dotamos de valor.” (Reis-Alves, 2007, p. 2). De uma forma

mais simplificada o lugar pode ser associado com a presença de uma identidade, com um

sentimento

de

pertencer

e

com

aspectos vivenciais53. Segundo o ponto de vista antropológico o lugar pode ser visto também como o espaço aonde se localiza uma comunidade social, com habitantes, vivências, histórias e cultura54.

REIS-ALVES, Luis Augusto dos. O conceito de lugar. Arquitextos, São Paulo, ano 08, n. 087.10, Vitruvius, ago, 2007 http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/08.087/225 apud. Tuan, 1983 52 Idem 50 53 Trabalho sobre o Augè, autor não encontrado 54 AUGÈ, M. Não lugares: Introduçãoa uma Antropologia da Sobemodernidade, s.1., 90º, 2005. 51


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Os não lugares são outro termo utilizado quando se define uma área, eles são mais utilizados no contexto antropológico, arquitetônico e urbanístico. Os não lugares são áreas diretamente relacionadas aos lugares, pois um não existe sem o outro, eles são “polaridades fundidas: o segundo nunca é completamente apagado e o primeiro nunca se realiza totalmente." [Augè, 2003 (1992), p. 74]. E só é possível entender os não lugares a partir da definição de

lugar, isso porque, apesar de distintos, eles são complementares55. Os não lugares estão espalhados pelo espaço, assim como os lugares (Figura: 4) eles muitas vezes não são notados, mas ao defini-lo, a falta de notabilidade passa a ser sua função. É possível observar que eles compõem um espaço em conjunto com seu oposto.

Figura 6: Representação dos

não

conectam

lugares os

lugares de passagem.

55

Idem 52

que

lugares,


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Os não lugares, então, são aquelas áreas que

não

poder

possuem

defini-los

também

na

é

identidade56. necessário

modernidade

Para

pensar e

na

multiplicação dos espaços57. Ao entender que o lugar está associado às relações dos indivíduo s com o espaço, é possível entender que o não lugar é a ausência dessa relação, é o vazio, é a falta de identidade, é a falta de vivência e a falta de uma relação indivíduo e espaço58. Alguns exemplos dessas áreas são: calçadas, praças de transição, ruas, transporte, aeroportos, etc.59 Figura 7: O não lugar no Morumbi, calçada e rua. (-cima) – Arquivo Pessoal. Figura 8: O não lugar do Murão, calçada e rua juntas (-baixo) – Arquivo Pessoal.

56Bauman, Z.

Idem 52 58 Idem 52 59 Idem 55 57

Modernidade Liquida , Polity Press, Oxford-Inglaterra, 2001


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Figura 9: Representação da posição dos lugares e não lugares na cidade formal, ambos bem delimitados.

Os lugares na cidade formal são muito bem caracterizados, são espaços ocupados, formados e transformados pelos indivíduos em que neles residem ou desenvolvem atividades do cotidiano. Essa ocupação faz com que esse lugar tenha uma identidade política, cultural, econômica e social. Alguns desses lugares podem ser: as moradias, os locais de trabalho, os locais de lazer, as praças, etc., locais normalmente desenhados, com limites.

Figura 10: Utilização da praça no Morumbi, gerando uma identidade na área.Arquivo Pessoal.


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Já os não lugares são um pouco mais complexos. Em sua formação, devido à correria e a definição de tempo na cidade, os mesmos deixaram de ser apenas os aeroportos, estações de metrô e ônibus. As relações humanas e sociais estão cada vez mais se dissolvendo nessa cidade e isso ocorre devido à “falta de tempo”, às prioridades pessoais e ao receio de fatores estranhos e desconhecidos. Isso faz com que, consequentemente as áreas públicas se transformem em não lugares. Alguns exemplos de não lugares na cidade são: as calçadas, as praças, alguns parques, os corredores, ruas, etc.

Figura 11: Os não lugares da cidade formal, as ruas e calçadas, que representam áreas.


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de passagem. – Arquivo Pe

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Figura 12: Representação da posição dos lugares e não lugares na

favela,

ambos se mesclando.

Quando se fala de lugares nas favelas, é possível notar uma semelhança com os lugares da cidade formal, pois apesar das diferenças em infraestrutura, acessos e qualidade, os lugares que são encontrados nas mesmas possuem idênticas funções do que os citados anteriormente, maas alguns desses lugares pode se fundir aos não lugares. As identidades que se encontram também o são, nem tanto políticas, mas culturais, econômicas e sociais. Os exemplos também se repetem, sendo eles: as moradias, os locais de trabalho, os locais de lazer, etc.

Figura 13: Utilização dos não lugares para lazer e encontros na comunidade Olaria, próxima ao Morumbi, gerando uma identidade na área.Arquivo Pessoal.


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A complexidade dos não lugares atinge seu clímax nas favelas, pois eles são quase impossíveis de serem encontrados nesses espaços. Isso acontece por causa da configuração de uma favela. A superpopulação e a proximidade das casas e dos corredores fazem com que, como citado acima, os não lugares se misturem com os lugares. É difícil definir uma delimitação entre o que é público e o que é privado, já que as atividades de trocas e conversas normalmente ocorrem em seus corredores e vielas. Isso faz com que as áreas que na cidade formal são não lugares se transformem em lugares nas favelas.

Figura 14: Utilização da rua no Murão, para lazer,misturandolugar com não lugar – Arquivo Pessoal.


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“Caminho: sm (lat vulg camminu) 1 Qualquer faixa de terreno destinada ao trânsito; atalho, estrada, rua, senda, vereda. 2 Distância que se percorre caminhando. 3 Rumo, direção, destino. […]”60

Todos os espaços em uma cidade possuem caminhos, podendo ter infraestrutura ou não, tendo fácil acesso ou nem tanto. Os caminhos percorridos pelas pessoas que residem na cidade formal e pelas pessoas que residem nas favelas são distintos, mas em ambos os espaços essa prática acontece. Esse percorrer caminhos pode ser consciente como caminho casa/trabalho e trabalho/casa, ou inconsciente, ou seja, a maneira como essas pessoas são ou se fazem obrigadas a andar para poder chegar a diferentes lugares. É possível notar que os caminhos levam a diversas direções, podendo eles serem

predeterminados

ou

apenas

um

destino

que

não

foi

necessariamente estudado previamente, ou seja, em um espaço da cidade, os caminhos são distintos uns dos outros.

60

Dicionário Michaellis


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Figura 15: Representação Dos percursos da cidade formal, ir de A á B.

As características observadas na cidade formal são sempre similares, independentes do tópico que está sendo analisado. Para poder estudar os caminhos percorridos por esses moradores é preciso pensar no tempo, é aquele mesmo tempo que gera os não lugares61, ou de certo modo, é até aquele tempo que permite a durabilidade da residência na qual eles moram62. Além do tempo, outro fator que é preciso observar é a praticidade, que não deixa de estar relacionada ao tempo, mas que faz com que a curiosidade de se conhecer, viver e experimentar o espaço, seja “esquecida”. Para poder definir melhor, esses caminhos feitos através da cidade formal, serão denominados percursos. “Percursos: sm (lat percursu) 1 Ação ou efeito de percorrer. 2 Espaço percorrido. 3 Movimento. 4 Caminho, giro, trajeto em geral.”63 Figura16: Mapa e percursos Morumbi (página.48 – cima)-Google Maps.

61 Ver capitulo 3 62 Ver capitulo 6, parte 6.1 63

Dicionário Michaellis

Figura17: Ruas e percursos Morumbi (página.48– baixo)– Arquivo Pessoal.


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A denominação percurso é dada para a cidade formal, devido à ideia que a mesma passa de caminhos, de trajetos, sendo eles predeterminados e que raramente sofrem alterações

espontâneas.

normalmente

são

guiados

Esses pelo

percursos tempo64,

tempo esse que se soma a praticidade e a infraestrutura, permitindo que os mesmos sejam os mais objetivos possíveis. Faz-se necessário citar a infraestrutura presente nesse espaço da cidade, pois ela facilita para que as características desses

percursos

ocorram

de

uma

maneira “natural”, ela permite que os caminhos em “excesso” sejam evitados. A pessoa sai de um ponto especificamente para chegar a outro ponto, sem passar e sem notar, normalmente pontos e áreas distintas de seu objetivo final.

64 Google

Maps e Waze, aplicativos do celular que calcula e mostra menor distancia de um ponto ao outro, além da quantidade de trânsito em cada caminho.


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Figura 18: Representação dos labirintos da favela, ir de A á B passando por C, D e E..

Os caminhos nas favelas são um pouco mais complexos do que os percursos feitos na cidade formal. A falta de infraestrutura e planejamento urbano fez com que essas áreas construídas se apoderassem da maior parte possível de seu terreno, deixando um pouco de lado os caminhos para percorrer. Citando novamente o livro “Estética da ginga”65 ·, os caminhos percorridos nas favelas podem ser denominados como caminhos labirínticos. Isso ocorre devido ao desenho formado por esses caminhos. Esse “deixar de lado” ou em “segundo plano” na ocupação do espaço da favela fez com que o próprio caminho se transformasse em um labirinto inconsciente. “Labirinto: sm (gr labýrinthos) [...] 2 Qualquer recinto, parque, jardim etc., com um emaranhado de passagens ou veredas. 3 Disposição irregular e complicada. 4 Coisa complicada, grande embaraço, meada de difícil desenredo. [...]”66

65 BERESTEIN JACQUES, P. A estética da ginga: A arquitetura das favelas através da obra de Hélio Oiticica, Rio de Janeiro,

palavra, 2001 66 Dicionário Michaellis

Casa da


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Os labirintos das favelas permitem que os moradores, não propositalmente, caminhem e andem por diversos lugares. Mesmo eles tendo um objetivo predeterminado, eles se veem obrigados a passar por pontos que muitas vezes não

se

caminhos

relacionam labirínticos

ao

ponto

também

final.

Esses

dificultam

a

entrada de pessoas que não vivem na área, gerando

com

isso receio aos estranhos local.

ao

Para

labirintos

é

poder

caminhar

nesses

necessário

que

familiarizado

com

caminhos

acompanhe,

pois

estes para

alguém

quem

os não

conhece, é muito fácil se perder.

Figura19: Mapa e labirintos da comunidade Olaria (-cima)-Teto Brasil

Figura20: Vielas, apertos, labirinto Olaria (-baixo) – Arquivo Pessoal


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“Morar: (lat morari) vti 1 Assistir, habitar, residir em. [...] 2 Viver. [...] vti 3 Achar-se, encontrar-se, existir, permanecer[...]”67

A cidade formal e as favelas possuem diferentes modos de morar, sendo na primeira: o habitar, enquanto na segunda: o abrigar68, mas é possível aproxima-losatravés do verbo morar. O verbo morar comporta conceitos distintos, ele pode ser utilizado para representar a ideia de ação, como residir, como habitar, mas ele também pode representar o sentimento de pertencer, de encontrar-se. O que o difere dos outros dois verbos, é que o habitar representa ações, ele está relacionado com o desenvolvimento de diferentes atividades além do residir, enquanto o abrigar se demonstra uma ação emergencial, que faz necessário a ideia do permanecer, o sentimento de existir mesmo que em uma situação extrema. São devido a essas pequenas diferenças que o verbo morar foi colocado como principal representante dessa ação que ocorre em ambos os espaços da cidade.

Dicionário Michaellis BERESTEIN JACQUES, P. A estética da ginga: A arquitetura das favelas através da obra de Hélio Oiticica, Rio de Janeiro, Casa da palavra, 2001 67 68


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“Habitar: (lat habitare) vtd 1 Residir, morar, viver em. [...] vti e vint 2 Residir, morar, viver[...]”69

Na cidade formal, além da associação com a infraestrutura da própria cidade, é possível associá-la também com as casas formais e os edifícios residenciais, que possuem projetos prévios desenvolvidos por arquitetos ou engenheiro. Ambas as tipologias podem ser relacionadas ao verbo habitar70, não que as casas das favelas não possam, porém o verbo que mais se aproxima do que

acontece

lá,

no

fator

moradia, não é esse, mas isso será visto mais para frente. Nesse momento

o

habitar

é

das

moradias na cidade formal.

Figura 21: Modelo de moradia formal com delimitações de cômodos.

Figura 22: Casa do Morumbi. (página.56)-Arquivo Pessoal

Dicionário Michaellis BERESTEIN JACQUES, P. A estética da ginga: A arquitetura das favelas através da obra de Hélio Oiticica, Rio de Janeiro, Casa da palavra, 2001 69 70


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| 56

O verbo habitar possui como significado outros verbos como residir e viver, porém é possível acrescentar o verbo desenvolver. Isso porque a moradia que aqui se diz habitar

tem

como

uma

de

suas

características a durabilidade, devido ao projeto feito antes da construção por profissionais

da

área

de

arquitetura,

engenharia e/ou construção, pelos materiais utilizados de boa qualidade, pelo local aonde elas são construídas

(que estão

de

acordo

com

a

legislação),

etc.

Essa

durabilidade, junto com a disposição dos cômodos, permite que o desenvolvimento de atividades, além do morar, ocorra. As transformações notáveis dessas moradias ocorrem na maior parte das vezes em seu interior, reformas, ou em sua cor externa. Se alguma mudança “radical” acontece em sua forma/estrutura ela também é planejada e previamente calculada. O verbo habitar passa essa ideia de durabilidade e constância, ele permite perceber que poucas transformações ocorrem e quando essas acontecem muitas vezes estão mais relacionadas à estética do que a necessidade.


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“Abrigar: (lat apricare) vtd 1 Resguardar das inclemências do tempo. [...] vtd 2 Acolher, dar abrigo [...] vtd3 Amparar, defender, proteger. [...]”71

Saindo do habitar da cidade formal para o abrigar das favelas. Em a “Estética da ginga”72, a autora Paola Jacques fala sobre o marar na favela, através das observações que ela fez do trabalho de Hélio Oiticica. Uma delas foi que, a melhor maneira de se definir o morar na favela é através do verbo abrigar, isso devido ao fator emergencial e improvisado que as casas das favelas são construídas. As famílias têm como objetivo, ao montarem seus barracos, se proteger dos fatores externos. Sendo esses barracos projetados de maneira simples ou nem mesmo projetados, eles são compostos com materiais, na maioria das vezes, encontradas no local ouemprestadas poroutros moradores73. Diferente das casas habitáveis da cidade

formal,

as

casas

ou

barracos como são denominadas pelos moradores, não possuem o fator de durabilidade, eles estão em constante transformação74, 71

Dicionario Michaellis

72 BERESTEIN JACQUES, P. A estética da ginga: A arquitetura das favelas através da obra de Hélio Oiticica, Rio de Janeiro,

palavra, 2001 73 Idem 71 74 Bidem 71

Casa da


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por causa dos materiais que com o tempo vai se desgastando ou apodrecendo. As mudanças que neles ocorrem são necessárias e muitas vezes não planejadas. As disposições dos ambientes não impedem que outras atividades

sejam

desenvolvidas,

mas

dificultam, pois muitas vezes não existem divisões de cômodos por causa do tamanho. A

moradia

relacionando

na

favela

bastante

acaba

se

com

o

sentimento de pertencer, de existir, pois é através da casa improvisada que as famílias conseguem ser parte dessa favela, é através dela que elas conseguem se proteger, mesmo que minimamente, é por causa desse sentimento e dessa improvisação que o verbo que mais se aproxima do morar nas favelas é o abrigar. Figura 23: Modelo de moradia

Figura 24: Moradias dafavela,

da favela, aonde tudo se mistura. (página.58).

Olaria madeira, bloco, etc – Arquivo Pessoal.


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“A cidade é um espaço de conflitos. A civilização humana, em sua extraordinária capacidade de gerar sociedades desiguais, sempre produziu cidades igualmente injustas” (Whitaker, 2011, p. 73).

Um dos fatores que pode ser considerado como cooperador da desigualdade na cidade de São Paulo é o rápido crescimento populacional, pelo qual ela passou no período entre as décadas de 1940 e 1980. Esse crescimento fez com que a população ocupasse o solo urbano segundo as regras capitalistas de produção e apropriação75, que delimitou as desigualdades situando a população indesejada nas periferias da cidade. Esse crescimento populacional (Figura 25) não ocorreu apenas no centro, mas também em seu entorno76.

Figura 25:

Representação

do populacional.

75 Bogus, L. Cidades – Comunidades e territórios, 2003, nº6, pp.51-71 76

Idem 74

crescimento


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Algumas características que podem ser encontradas sobre esses dois espaços da cidade são: “... centro rico e periferia pobre, centro vertical e periferia horizontal e sem infraestrutura...” (Bogus, 2003, p.53), características essas que

passaram por um processo gradativo de tenuidade, já que é possível observar parte do centro se mudando para as periferias (Figura 26) e a tentativa, deste evento, de também transferir as periferias para outras áreas.

Figura 26: Representação da movimentação populacional, saindo periferia.

do

centro

para

a


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Essa configuração da cidade permite observar também que nela ocorre uma distribuição renda

e

extremos

espacial que

toda

podem

relacionada

à

segregação

e

ser

diretamente

relacionadas à história77, ao capitalismo e a sociedade do lucro (valorização da terra

e

do

disponibilidade

lote, de

a

localização, infraestrutura,

a a

acessos, etc.)78.

Figura 27: Moradias da favela, e da cidade formal, proximidade – Arquivo Pessoal.

77 Bogus, L. Cidades – Comunidades e territórios, 2003, nº6, pp.51-71 78 Whitaker, J. São Paulo: cidade da intolerância, ou o urbanismo “à brasileira”, Estudos avançados 25(71), 2011

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Pallasmaa diz em seu livro “Os olhos da pele”79, que o olhar é

| 66

fonte de

conhecimento, que é através dele que as pessoas começam a realmente conhecer. A segregação e as diferenças sociais geram um [pre]conceito da sociedade com relação aos dois espaços da cidade que foram gerados e mantidos como consequência disso. Esse [pre]conceito é bi lateral, ele ocorre tanto com relação à cidade formal com as favelas quanto vice versa. Figura 28: A segurança (necessária?) Em uma casa no Morumbi – Arquivo Pessoal.

É possível observar que o maior fator gerador desses conceitos é o medo, o receio do desconhecido80. As favelas e periferias são marcadas e conhecidas pelos traficantes e pela violência, fazendo com que as pessoas que lá moram e que não possuem relações com isso, acabem passando despercebidas devido à generalização.

79 Pallasmaa, J. Os olhos da pele: A arquitetura e os sentidos, Porto Alegre Bookman, 2011 80 BERESTEIN JACQUES, P. A estética da ginga: A arquitetura das favelas através da obra de Hélio Oiticica, Rio de Janeiro,

palavra, 2001

Casa da


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Outro fator, além do medo, são os pontos de vista, um tema bastante complexo. Muitas vezes os pontos de vistas de uma forma ou de outra, são passados de geração para geração e a mudança deles, quando ocorre é extremamente radical, causando certo choque. É necessário que a população aos poucos comece a enxergar e a olhar ao seu redor, passando por diferentes caminhos, estudando novas práticas e quem sabe, entendendo novos conceitos e eliminando assim, os pré-existentes que limitam esses entendimentos, impedindo com que eles se transformem.


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“... valorização da experiência pessoal, do próprio percurso como trajetória de um pensamento...” As favelas são consequências físicas da desigualdade e da injustiça social e são temas recorrentes na maioria das cidades do Brasil, além de estar em pauta em diversas áreas acadêmicas81, que possuem como objetivo a melhoria dessas áreas através da transformação total delas. A cidade formal, dotada de infraestrutura, acesso, transporte e “oportunidades”, é o resultado almejado, não apenas pelos acadêmicos, mas pela sociedade “formal”. O desejo dessa radicalidade existe pelo incômodo que o estranho, o diferente e o desconhecido geram82. Os “conhecimentos” sobre as favelas, pela cidade formal, se dão muitas vezes através do [pre]conceito, o que é na verdade uma falta de conhecimento das áreas e principalmente das pessoas que nelas vivem. Isso faz com que esses projetos de reurbanização “destruam” uma identidade e um modo de viver. Através de experiências é possível conhecer e entender parte da realidade que as pessoas que vivem nas favelas possuem e o principal, enxergar essa identidade e o sentimento de pertencimento da área que ocupam (a irregularidade dessas áreas não está em discussão nesse trabalho), ou seja, que na verdade, o melhoramento desses espaços não

81

Ver Introdução

82 Ver capítulo 8


[in]FORM AL

| 70

pode partir da destruição do existente e sim, da implantação de fatores ausentes83. A falta de conhecimento reforça a ideia de separação desses dois espaços

da

cidade,

fisicamente

e

socialmente,

que

gerou

uma

inquietação e que trouxe como consequência a discussão sobre o confronto constante das mesmas, pois essa separação, apesar de concreta, está mais no subconsciente da sociedade, já que fisicamente elas estão muito próximas, criando as zonas de [in]formalidade84. Duas palavras impulsionaram o inicio desse trabalho e são elas: vivência e experiência, que estão, respectivamente, relacionadas ao inconsciente e consciente85 e um incomodo a partir dessa relação contribuiu com esse inicio, que é: quando uma experiência se torna inconsciente. Participar da ONG TETO, fez com que a minha percepção do espaço formal e das favelas se transformasse, pois ambos passaram a ser enxergados86. É mais fácil não enxergar as coisas que nos incomodam, pois isso faz com que elas deixem de “existir”. Mas através da experiência de estar na favela e conviver, mesmo que por pouco tempo, com os moradores escutando sobre suas histórias, presenciando seus modos de viver e descobrindo suas 83 BERESTEIN JACQUES, P. A estética da ginga: A arquitetura das favelas através da obra de Hélio Oiticica, Rio de Janeiro,

palavra, 2001 84 Citação feita pelo Profº M.e.Orientador: Ricardo Luis Slva 85 Idem 82 86 Ver Apresentação

Casa da


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| 71

ambições, fez com que parte dos [pre]conceitos se transformassem em conhecimento e que a experiência se tornasse inconsciente. Apresentouse, com isso uma realidade que envolve pessoas que apesar das diferenças, no espaço físico, nas oportunidades e na renda não se diferem tanto das pessoas que vivem na cidade formal, pois são duas realidades distintas que possuem muitas coisas similares. Isso fez com que as barreiras sociais e consequentemente as físicas começassem a se desfazer, permitindo que eu entendesse o espaço como tradução da identidade de uma comunidade de pessoas e a importância do fator coletivo. Quando se fala na melhoria sem a “destruição” dessa identidade, não significa a não transformação do espaço, mas sim a transformação através do trabalho conjunto da sociedade (moradores das duas cidades). Durante o processo de desenvolvimento do trabalho o intuito era encontrar uma maneira de despertar a curiosidade das pessoas para essa experiência, sem a imposição de um pensamento e sim o estímulo para um conhecimento que normalmente é evitado. A proximidade dessas realidades e a constante ignorância criam fronteiras e barreiras invisíveis impostas pelo preconceito que fazem com que a sociedade não perceba, não só que elas ocupam o mesmo território, mas também um mesmo espaço. No começo, o projeto era

basicamente teórico, quando os três


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| 72

temas87 surgiram como uma forma de mostrar fatores presentes, tanto nas favelas, como na cidade formal e que se apresentam de forma similar em ambos. A partir dos estudos desses temas e com a influência de “os olhos da pele” - que diz, citando mais uma vez, que o olho é a fonte para o conhecimento, ou seja, que quando se enxerga se conhece e se entende, o projeto “físico” da exposição fotográfica começou a criar forma. “Uma fotografia de reportero, de viajero atento y curioso, documentado pero liberado de puntos de vista singulares, parece ser el modo de operar de este testimonio de la experiência, em el limite, unsustituible.” (Solá-Morales, p. 114)

Todas

as

escolhas

feitas

para

a

exposição, desde a sua localização até seu

formato

e

apresentação,

são

justificadas pelas informações dos temas, das influências e principalmente de seu objetivo, que é gerar essa inquietação e curiosidade. As fotos são de arquivo pessoal, o que significa que o ponto de vista representado nelas é o meu, que já

87 Ver capítulos 5,6 e 7


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| 73

está “acostumado” e inconsciente, mas as escolhas delas foram feitas de modo a exemplificar o que foi enxergado e permitiu que essa visão e conhecimento se transformassem.

Figura 29: Utilização dos não lugares conversas, música e encontros. (página.72)– Arquivo Pessoal.


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A escolha do bairro do Morumbi como a área formal a ser apresentada nesse projeto ocorreu pelo fato dele ser o bairroregião contraditório na cidade de São Paulo88.

Isso

porque

ele

abriga

Paraisópolis, a segunda maior favela da cidade e é, ao mesmo tempo, um dos bairros mais ricos da cidade, possuindo grandes condomínios e abrigando polos de consumo de luxo. O bairro teve grande crescimento populacional na década de 1980 e apesar de ocupar uma área razoavelmente expansão

pequena imobiliária

teve

uma

significativa,

abrigando um número cada vez maior de condomínios murados. Mas ao mesmo tempo em que isso acontecia, a área era também ocupada por

88

favelas, que

GOHN, M.G. “Morumbi: o contraditório bairro-região de São Paulo”, 2010


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| 78

entravam em contraste com as ocupações concêntricas (zonas centrais e periferias), e que ocorrem até o momento. Esse contraste não ocorre apenas por causa de Paraisópolis, pois existem também outras favelas nessa região, e que ainda não estão localizadas muito próximas a condomínios, porém nota-se que esses condomínios estão chegando cada vez mais próximos das mesmas.

Figura 30: Lugar enão lugar do Morumbi (página.77– cima)-Arquivo Pessoal

Figura 31: Lugar e não lugar, do Morumbi (página.77 – baixo) - Arquivo Pessoal


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| 79


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| 81

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O projeto do Cantinho do Céu é uma favela

que

se

tornou

referência

de

reurbanização na cidade de São Paulo, pois

trouxe

melhoria

para

essa

área

irregular. Através da comunicação entre a equipe do projeto e os moradores da área, fez-se com que a identidade do local permanecesse

e

o

sentimento

de

pertencimento também. A importância desse projeto para o trabalho é que ele engloba a maioria dos assuntos até

aqui

apresentados,

como

por

exemplo:

a

experiência

para

entendimento como fator de desenvolvimento da área, a troca informações convivem

entre com

as

os

de

pessoas

que

problemas

os

moradores - e as pessoas da cidade formal -

arquitetos

e

consequentemente

equipe a

criação

e

de

um

projeto que transformou a favela sem mudar sua essência. O principal objetivo desse projeto é proteger as margens da represa Billings e melhorar a qualidade de


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| 82

vida dos moradores. Foram desenvolvidas áreas de lazer, esportes, um parque linear, espaços temáticos, entre outras coisas que convidam não só os moradores, mas também parte da população de fora, a usá-los. Além disso, foram feitas infraestrutura na área, drenagem, ruas e acessos trazendo melhorias para os espaços públicos.89. Ano de início do projeto: 2008 Arquiteto: Marcos Boldarini Localização: Grajaú, São Paulo

Figura 32: Cinema ao ar livre utilização de “não lugar” (página. 81 - cima) – ArchDaily, alterada

89

ArchDaily – Cantinho do Céu

Figura 33: Áreas de lazer e esportes (página.81 – baixo) ArchDaily, alterada


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| 84


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| 85

Essas duas favelas, que trabalham em conjunto com a ONG TETO para seu desenvolvimento, foram escolhidas por estarem

localizadas

ao

lado,

literalmente, de áreas cujo interesse imobiliário está crescendo cada vez mais, reforçando a proximidade dos diferentes modos de ocupação do espaço e de habitação, apresentando os contrastes e a reação da sociedade ao se deparar com essas “fronteiras”. O Espama é rodeado por condomínios em suas quatro extremidades e está ficando sufocado

por

comunidade

foi

eles. a

A

região

escolhida

dessa

para

o

desenvolvimento do projeto de exposição, pois o conflito de realidades, a separação, as fronteiras e barreiras entre elas, além da falta de compreensão e conhecimento, acontecem de maneira bastante perceptível.


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| 86

Localização: Endereço: Zona Oeste, São Paulo90 Já o Olaria é uma favela localizada próxima ao bairro do Morumbi, que está se cercando de novos condomínios, que em sua maioria não foram entregues. Isso faz com que a separação nessa área seja, no momento, mais estética e física, mas já se pode prever futuros conflitos dessas duas cidades, pela proximidade visível e pelas barreiras invisíveis. Essa comunidade, junto com Espama, foram

as

escolhidas

para

a

parte

fotográfica da exposição. Localização: Endereço: Morumbi, São Paulo91.

90 Equipe de voluntários fixos da ONG Teto-Brasil na comunidade Espama 91 Equipe de voluntários fixos da ONG Teto-Brasil nas comunidades Olaría.


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Figura 34: Comunidade Espama e entorno,mesclado com a cidade formal (página. 85 - cima)–Arquivo

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Figura 35: Comunidade Espama seu mapa e caminhos (página. 85 - baixo –Teto Brasil.

Pessoal Figura 36: Comunidade Olaria

Figura 37: Comunidade Olaria

e seu entorno, mesclado com a

mapa e caminhos

cidade formal (página. 86 - cima)–Arquivo Pessoal.

(página. 86 - baixo –Teto Brasil.


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“... uma coisa é o lugar físico, outra coisa é o lugar para o projeto. E o lugar não é nenhum ponto de partida, mas o ponto de chegada. Perceber o que é o lugar, já é fazer o projeto.” (Alvaro Siza)

A proposta de projeto é uma exposição fotográfica temporária, com sua localização na rua em frente

à

comunidade Espama, na Zona Oeste de São Paulo, próxima ao Shopping Tietê, na Avenida Raimundo Pereira Magalhães. Ela não é uma exposição itinerante, pois o entorno faz parte do projeto, pois essa rua é o exemplo de uma zona de [in]formalidade, já que de um lado está presente a cidade informal (favela) e do outro a cidade formal (condomínio). A decisão do Figura 38: Mapa da área da exposição – Av, Raimundo Pereira Magalhães – Google Maps

local

aonde

o

projeto

seria

exposto

foi

tomada

no

inicio

do

desenvolvimento e permaneceu até o fim, devido à conexão do espaço com o tema e as reflexões do trabalho.


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Figura 39 Fachada formal, localizada na frente do Espama, refletindo a fachada da Favela – Arquivo Pessoal.

Figura 40: Fachada da favela Espama, que reflete a fachada acima – Arquivo Pessoal.


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As primeiras ideias sobre o projeto

estavam

relacionadas calçadas,

com que

as são

separadas pela rua, ou seja,

como

primeiro

pensamento, a rua estaria em

destaque

como

a

área de encontro dessas duas realidades. Figura 41: Calçada da cidade formal, na frente do

Figura 42:Calçada da favela

Espama– Arquivo Pessoal.

Espama – Arquivo Pessoal.

A exposição estava dividida em duas partes, uma em cada lado da rua paralela uma a outra, como um reflexo, que contrastaria as realidades

pelos

caminhos e a maneira em que cada exposição seria feita. O INformal: o lado da favela seria onde ocorreria a exposição das fotos que representam a cidade formal e sua maneira de viver, através de um caminho e uma exposição linear e organizada, com cores neutras.


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O FORmal: o lado do condomínio seria onde ocorreria a exposição da favela, através de fotos que representam seus costumes e maneiras de viver, com um caminho labiríntico e exposição em varal, bagunçada, bem coloridas. Mas, apesar de atingir

o

objetivo

de

apresentar

as

comparações e semelhanças dos dois lados, essa exposição não destacaria o encontro dos espaços. Ela reforçaria a ideia de separação, pois a rua

mostraria

que, apesar de pequena, a distancia se manteria.

Figura 43: Estudo sobre a posição da exposição nas calçadas (página.92)–Arquivo Pessoal* Figura 45: Estudo de caminhos para a exposição( – baixo) – Arquivo Pessoal*

Estudos apresentados á mão por serem [pre]liminares.

Figura 44: Estudo de caminhos para a exposição (– cima) - Arquivo Pessoal*


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“A arquitetura seria o que em um edifício não se refere ao construído, o que faz a construção escapar ao espaço puramente utilitário, o que, na construção, pertence à ordem estética” (Jacques apud. Hollier, p.16)92 A rua como área de encontro, porém separadora de ambientes, fez com que a proposta do projeto se movimentasse e se fixasse nela mesma, para que o destaque fosse esse encontro. E para que a exposição

também

ficasse

unificada, a proposta mudou um pouco e se transformou. Figura 46: A rua, zona [in]formal do Espama com a cidade formal. -Arquivo Pessoal.

A localização continua a mesma, a rua em frente a comunidade Espama, porém a exposição ocorrerá dentro de um volume, denominado “O olhar”. Este, conforme o visitante caminha em seu interior, vai se fragmentando. O

92 BERESTEIN JACQUES, P. A estética da ginga: A arquitetura das favelas através da obra de Hélio Oiticica, Rio de Janeiro,

palavra, 2001 apud. Denis Hollier, La prise de la concorde, Paris, 1993, p. 66

Casa da


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mesmo estará acima do nível da rua e em seu interior misturará as comparações e realidades dessas cidades. O objetivo do volume é reforçar a ideia do encontro. E conforme o seu caminho for sendo percorrido ele irá se fragmentar deixando de ser um volume fechado e se tornando um volume aberto. Isso ocorre, pois o entorno no qual a exposição está implantada é a melhor representação da proximidade que a cidade formal tem com a favela. A partir do momento em que o olhar passa de um lugar fechado para um lugar onde a visão é 360º, e esta exposição se torna um observatório, a percepção e compreensão se tornam mais aguçadas, por isso o nome do volume de “o olhar”.


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A dimensão do volume é de 45 metros por 11 metros. O comprimento percorre um quarteirão que, em um lado possui um condomínio e no outro a favela. Mas no lado da favela, a mais ou menos 10 metros do final, é possível notar um condomínio unido a ela, cuja divisão é feita por um muro. O final do volume, onde é possível sentar e observar o entorno, acontece de forma proposital, pois nenhuma foto seria capaz de representar as duas cidades ocupando um mesmo espaço. A estrutura é modular, sustentando o peso com relação a altura e segurando o revestimento vazado93. Além disso, a altura volume

em

relação estará fechada

ao

fluxo

de

veículos, é de 1,5 metros, não é muito alto, porque a intenção é fazer com que as pessoas, ao ficarem de frente com a entrada, tenham a visão de que a rua também faz parte da exposição, 93

Profº de estrutura Carlos Medeiros


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como marco de encontro da cidade, como

união

dessas

realidades

normalmente separadas.

Figura 47: Estude de aberturas das

Figura 48: Paredes finais do volume

paredes do volume. (página. 96 - cima) – Arquivo Pessoal.

(página. 96 - baixo)–Arquivo Pessoal. (linhas roxas fechadas, linhas verdes abertas).

Figura 49: Volume da primeira parte caminhos do percurso da exposição(na parte triangular, serão projetadas imagens sobrepostas(página. 97 – cima)

Figura 50: Desenho dos da segunda e terceira parte do volume (página. 97 - baixo)–Arquivo Pessoal.

-Arquivo Pessoal. Figura 51: Altura final do volume com relação á rua. (página. 98 – cima) -Arquivo Pessoal.

Figura 52: Estudo das alturas do volume com relação á rua. (página.98 – baixo) -Arquivo Pessoal.


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Figura 53: Lateral da exposição, a fragmentação do volume e do olha – Arquivo Pessoal.

Figura 54: Parte aberta (esquerda)-Arquivo Pessoal. Figura 55: Volume inteiro frontal, com o entorno (direita) – Arquivo Pessoal.

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Figura 56: Parte fechada e se fragmentando (esquerda)-Arquivo Pessoal. Figura 57: Volume inteiro posterior, com o entorno (direita) – Arquivo Pessoal.

Figura 58: Vista superior com entorno – Arquivo Pessoal.

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Serão apresentadas doze fotos representantes da exposição, dois pares para cada tema refletido. Os caminhos nessa exposição também possuem significados, divido em três partes: inicialmente, com o volume todo fechado, representa as boas vindas e a sobreposição da cidade Informal e Formal; a segunda parte, quando volume começa a se desfazer, estimula o olhar e convida para ¨ficar¨, representa o modo de morar, com caminhos hora labirínticos, hora lineares e; a terceira e última parte, já com o volume “desfeito” e o olhar curioso, convida a observar e a ocupar o espaço, representa os lugares e não lugares, onde desconhecidos se conhecem e interagem com o espaço.

ABRA O ENVELOPE! (página.104)


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“Hay uma ciudad competitiva, agressiva, publicitaria; uma ciudad fragmentada em mil pedazos em la cual, cada uno de ellos, buscar um lugar bajo el sol.” (Morales, p.29)94

A cidade é um território formado por diferentes espaços cujas composições geram uma separação física e social. As discussões e debates entre as relações urbanas e a estética da favela95, continuam sendo uma tensão desde a publicação do livro “A estética da ginga”. A fragmentação de seus espaços96 e a disputa de importância não se faz apenas pela infraestrutura ou pela estética, mas está relacionada principalmente aos [pre]conceitos, a cultura de poder e aos pontos de vista, fatores difíceis de se transformarem, porém não impossíveis. O trabalho apresentou uma maneira de entender as diferenças da cidade formal e da favela por comparações de atividades e modos de viver que as aproximam devido às semelhanças intrínsecas nelas. Além disso, reforçou a proximidade física e as fronteiras e barreiras (zonas [in]formais) invisíveis que existem. E a partir da apresentação textual e fotográfica, que estimula o olhar e o enxergar, despertou consequentemente a curiosidade de conhecer essa cidade muitas vezes ignorada.

94 DE SOLA-MORALES, I. Territorios, Barcelona, 2002 95 BERESTEIN JACQUES, P. A estética da ginga: A arquitetura das favelas através da obra de Hélio Oiticica, Rio de Janeiro,

palavra, 2001 96 Idem 92

Casa da


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Eduardo Galleano diz que: “A primeira condição para modificar a realidade consiste em conhecê-la.” O costume da sociedade de ignorar ou se

acostumar, fazem com que o conhecimento não se desenvolva, impedindo algumas vezes de melhorar a cidade, ou quando a melhoria é proposta, a transformação seja tão radical que acaba destruindo uma identidade e uma história. O conhecimento através de experiências inconscientes gera inquietações sobre o pensamento humano e as condições urbanas, que acreditam que uma cidade melhor é aquela que possui o mínimo de diferenças possíveis, o que dificulta a melhoria das áreas que precisam e afasta espaços próximos. Se a sociedade passasse a enxergar a cidade como uma área coletiva, baseada um pouco no compartir e colaborar97, seu desenvolvimento se tornaria mais fácil. E a intenção das fotos é apresentar um ponto de vista que foi alterado pelo conhecimento do olhar e que gradativamente entendeu as diferenças e as importâncias dos valores das pessoas. E tem como objetivo não impor ou forçar uma mudança, mas mostrar que é importante, para a cidade e para as pessoas, mudar, melhorar, desenvolver, dentro das suas características intrínsecas.

97 Bidem 92


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Apostila Anglo do 2º ano do Ensino Médio ArchDaily

-

http://www.archdaily.com.br/br/01-157760/urbanizacao-do-

complexo-cantinho-do-ceu-boldarini-arquitetura-eurbanismo/529f14e6e8e44e0120000153 ArchDaily http://www.archdaily.com.br/br/01-157760/urbanizacao-docomplexo-cantinho-do-ceu-boldarini-arquitetura-eurbanismo/529f14e6e8e44e0120000153 AUGÈ, M. Não lugares: Introduçãoa uma Antropologia da Sobemodernidade, s.1., 90º, 2005. BERESTEIN JACQUES, P. A estética da ginga: A arquitetura das favelas através da obra de Hélio Oiticica, Rio de Janeiro, Casa da palavra, 2001 Brasil Escola, desenvolvimento.htm

http://www.brasilescola.com/geografia/g-20-paises-

Bogus, L. Cidades – Comunidades e territórios, 2003, nº6, pp.51-71 UOL Educaçãohttp://educacao.uol.com.br/biografias/helio-oiticica.jhtm Childs,Simon(2014).“Activists Poured Concrete All Over Some “Anti-Homeless” Spikes This Morning. Vice. June 12 – City Cultures Textbook Davis, Mike (2004). “Planet of Slums: Urban Involutionand the Informal Proletariat”. New Left Review, 26, pp. 5-34 – City Cultures Textbook DE SOLA-MORALES, I. Territorios, Barcelona, 2002


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Dicionario Michaellis Abriga DicionarioMichaellis Caminho Dicionario Michaellis Espaço Dicionario Michaellis Habitar Dicionario Michaellis Labirinto Dicionario Michaellis Morar Dicionario Michaellis Percurso Dicionario MichaellisTerritório Estadão, http://www.estadao.com.br/noticias/geral,total-de-moradores-derua-cresce-57-em-sp-diz-fipe,559901 Equipe de voluntários fixos da ONG Teto-Brasil na comunidade Espama Equipe de voluntários fixos da ONG Teto-Brasil nas comunidades Olaría e Mirandas GOHN,M.G. “Morumbi: o contraditório bairro-região de São Paulo”,2010 Google Maps https://www.google.com.br/maps/place/Morumbi/@23.5706175,46.6750654,15z/data=!4m2!3m1!1s0x94ce50db0201ea45:0x897488213f6cf573 Google Maps https://www.google.com.br/maps/place/R.+Francisco+de+S%C3%A1les,+200+-


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+Jardim+das+Palmas,+S%C3%A3o+Paulo,+05749-280/@-23.6150984,46.7499075,17z/data=!4m2!3m1!1s0x94ce56aa6683ae9b:0xbb78b7403424bc05 Google Maps https://www.google.com.br/maps/place/Rep%C3%BAblica,+S%C3%A3o+Paulo +-+SP/@-23.5482833,46.6326423,16z/data=!4m2!3m1!1s0x94ce5851c0395f3b:0xf36ea5aa7f8ff302 Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística Kohn, Margaret (2004). “Homeless Free Zones: Three Critiques”, Brave New Neighborhoods: The Privatization of Public Space (New York: Routledge), PP. 130-146 – City Cultures Textbook Mumford, Lewis (2003 [1937]), “What is a city?”, in Richard T. LeGates and Frederic Stout (eds.), The City Reader (London: Routledge) pp. 91-95 – City Cultures Textbook ONG Teto-Brasil Pallasmaa, J. Os olhos da pele: A arquitetura e os sentidos, Porto Alegre Bookman, 2011 Prefeitura de São Paulo – História Professor Carlos Medeiros Professor Mestre Ricardo Luis Silva REIS-ALVES, Luis Augusto dos. O conceito de lugar. Arquitextos, São Paulo, ano 08, n. 087.10, Vitruvius, ago, 2007 http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/08.087/225 Saraiva, M. Territórios dos sentidos: da emergência dos processos de subjetivação na metrópole contemporânea, Revista Espaço Acadêmico, 2012


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Saquet, M.A. Milton Santos: concepções de geografia, espaço e território, Geo UERJ,2008 Top 10+, http://top10mais.org/top-10-maiores-paises-do-mundo/ Top 10+, http://top10mais.org/top-10-paises-mais-populosos-do-mundo/ Whitaker, J. São Paulo: cidade da intolerância, ou o urbanismo “à brasileira”, Estudos avançados 25(71), 2011


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Figura1:AcervoPessoal

página.27

Figura2:AcervoPessoal

página.29

Figura3:AcervoPessoal

página.33

Figura4:AcervoPessoal

página.34

Figura5:AcervoPessoal

página.34

Figura6:AcervoPessoal

página.35

Figura7:AcervoPessoal

página.36

Figura8:AcervoPessoal

página.36

Figura9:AcervoPessoal

página.39

Figura 10: Acervo Pessoal

página.39

Figura 11: Acervo Pessoal

página.40

Figura 12: Acervo Pessoal

página.42

Figura 13: Acervo Pessoal

página.42

Figura 14: Acervo Pessoal

página.43

Figura 15: Acervo Pessoal

página.47

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Figura 16: Google Maps

página.48

Figura 17: Acervo Pessoal

página.48

Figura 18: Acervo Pessoal

página.50

Figura 19: Teto Brasil

página.51

Figura 20: Acervo Pessoal

página.51

Figura21:AcervoPessoal

página.55

Figura 22: Acervo Pessol

página.56

Figura 23: Acervo Pessal

página.58

Figura 24: Acervo Pesoal

página.59

Figura 25: Acervo Pesoal

página.62

Figura 26: Acervo Pssoal

página.63

Figura 27: Acervo essoal

página.64

Figura 28: AcervoPessoal

página.66

Figura 29: Acerv Pessoal

página.72

Figura 30: Acero Pessoal

página.77

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Figura 31: Acevo Pessoal

página.77

Figura 32: ArchDaily_______

____ página.81

Figura 33: ArchDaily

____ página.81

Figura 34: Acervo Pessoal

página.85

Figura 35: Teto Brasil

página.85

Figura 36: Acervo Pessoal

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Figura 37: Teto Brasil

página.86

Figura 38: Google Maps

página.90

Figura 39: Acervo Pessoal

página.91

Figura 40: Acervo Pessoal

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Figura 41: Acervo Pessoal

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Figura 42: Acervo Pessoal

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Figura 43: Acervo Pessoal

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Figura 44: Acervo Pessoal

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Figura 45: Acervo Pessoal

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Figura 46: Acervo Pessoal

página.95

Figura 47: Acervo Pessoal

página.96

Figura 48: Acervo Pessoal

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Figura 49: Acervo Pessoal

página.97

Figura 50: Acervo Pessoal

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Figura 51: Acervo Pessoal

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Figura 52: Acervo Pessoal

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Figura 53: Acervo Pessoal

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Figura 54: Acervo Pessoal

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Figura 55: Acervo Pessoal

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Figura 56: Acervo Pessoal

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Figura 57: Acervo Pessoal

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Figura 58: Acervo Pessoal

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Figura 59: Acervo Pessoal

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Figura 60: Acervo Pessoal

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Figura 61: Acervo Pessoal

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Figura 62: Acervo Pessoal

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Figura 63: Acervo Pessoal

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Figura 64: Acervo Pessoal

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Figura 65: Acervo Pessoal

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Figura 66: Acervo Pessoal

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Figura 67: Acervo Pessoal

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Figura 68: Acervo Pessoal

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Figura 69: Acervo Pessoal

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Figura 70: Acervo Pessoal

página.105

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Figuras de transição de capítulos: Acervo Pessoal e ArchDaily(Cantinho do Céu)


Caminhos


Morar


Lugares e n達o lugares


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