VIADUTOS EM VÃO INTERVENÇÕES TEMPORÁRIAS EM BAIXIOS COMO POSSIBILIDADES URBANAS EM SÃO PAULO
Letícia C. Alfenas São Paulo 2015
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Agradecimentos especiais a minha família por toda apoio e ao professor mestre Ricardo Luis Silva pela orientação. Também aos colaboradores Daniella Kallajian, Karolina Kallajian, Vitor Perdigão, Thaís Calió e Carlos Ornaghi.
“Uma ponte, um viaduto, uma passarela, uma estação ferroviária, são construções e não habitações, mas como construções não teriam o sentido de abrigar, acolher algo, alguém? Será que dentre suas faculdades de existência não estaria o sentido de habitar como componente de sua singularidade? “ (Julian Grub e Geisa Zanini Rorato, 2015)
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RESUMO
Os baixios de viadutos são entre espaços forma-
lorizando sua experiência no espaço urbano e o indivíduo
dos por grandes construções que geram vãos na cida-
ambulante. Também criar outras possibilidades espaciais na
de, muitas vezes negligenciados, subutilizados ou vazi-
cidade e a reinvenção de espaços obsoletos com interven-
os. O intuito deste trabalho é estimular a apropriação
ções que atendam aos anseios momentâneos deste indiví-
destes espaços, incentivando a interação dos pedes-
duo, cultivando a diversidade dentro das atividades artísti-
tres através de tipologias de projeto que se adaptem
cas, culturais e do ócio, trazendo espaços em vão para a
às necessidades de quem o apropria, tendo como
dinâmica da cidade.
premissa trazer a cidade para a escala do homem va-
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INTRODUÇÃO
O trabalho trata da incorporação de áreas resi-
construção de vias e viadutos nem sempre pensados para
duais à cidade de São Paulo atualmente, através da
conversar com seu entorno, como será tratado no primeiro
ocupação de vazios da cidade de fácil acesso a to-
capítulo. Além disso, através da sua característica espaci-
dos.
al e construtiva que propiciam o surgimento de áreas suA atual demanda da população em melhorar a
butilizadas e marginalizadas com ocupação por morado-
qualidade de vida nas grandes cidades esta direta-
res de rua e usuários de drogas, uma vez que esses vãos
mente ligada à qualidade dos espaços públicos.
funcionam como abrigos.
Áreas residuais como os baixios de viadutos tem gran-
A partir da análise de projetos de ocupação de vazi-
de potencial de revitalização por estarem muitas ve-
os feitas no segundo capítulo, levantasse possibilidades de
zes localizados em centralidades com maior acesso
ocupação do espaço sob viadutos da cidade, tanto com
ao transporte público.
instalações permanentes como ações momentâneas.
Em algumas cidades brasileiras com grande
No último capítulo considero a hipótese de criação
densidade populacional, as intervenções públicas
de tipologias de projeto sob viadutos promovendo o uso
buscam resolver a demanda de transporte privado
para fins culturais e esportivos de maior acesso à classe
trazendo a destruição de espaços urbanos com a
baixa da população.
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SUMÁRIO
0│Vão..................................................................................7 1│ A desconstrução da arquitetura e a condição de entre lugares.......................................................................8 A constituição dos espaços.........................................9 Grandes escalas e a escala do ambulante..............9
-Vazio S/A Arquitetura e Urbanismo............................25 -Vencedor do Concurso de Requalificação de Baixios de Viadutos de Belo Horizonte..................................26 -Vazios Necessários.......................................................27 3│ Possibilidade de reinvenção do espaço.........................28
O ambulante em vão.................................................15
Investigações urbanas.......................................................29
2│ Arquitetura como suporte de situações...................19
Referencial projetual..........................................................43
Reflexões projetuais....................................................20 -Cie. Willi Dorner.....................................................20 -Clube da Comunidade: Arena Radical Espaço
4│ Projeto..................................................................................50 Escolha de partido: o lugar..............................................50 Intervenção.........................................................................60
Cancioneiro.................................................................21
Considerações finais...............................................................73
-Boxe Garrido.........................................................22
Bibliografia................................................................................74
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0│VÃO O que fazer com o vazio que ficou uma vez que
Porém o vazio pode ser entendido além da sua au-
espaços em vão são caracterizados pelo seu fim fun-
sência, como promessa de possibilidades de reinvenção
cional, pelo silêncio e pela ausência de sentido pe-
do espaço público. É preciso inseri-los à dinâmica urbana,
rante o tecido urbano da cidade? São espaços des-
dando continuidade aos fluxos de pedestres para agregar
qualificados em todos os sentidos, consequentes da
força ao invés de distanciá-lo do cotidiano da cidade.
individualização e da privatização que evidenciam o
Através de processos de desmaterialização da arqui-
desemparo e a desconexão entre os espaços públi-
tetura pode-se buscar a fluidez entre o espaço interno e o
cos e os privados.
externo pela transparência e flexibilidade das fachadas,
Para moldar este vazio pode se trazer um sentido
dissolvendo-as do material convencional e substituindo pe-
inovador a estes espaços evidenciando lugares por
lo instantâneo e modificável. Assim, trazendo o olhar para
quais passamos e não reparamos resultantes de uma
as ruas e seus vazios repletos de possibilidades.
cultura da escassez trazida pela lógica de expansão
É necessário fugir da visão funcionalista que compõe
capitalista que gera espaços cada vez mais genéri-
o espaço aos exemplos de uma máquina e trazer a rela-
cos, onde só se passa e não se permanece sem criar
ção entre o corpo e a arquitetura como condições habi-
identidade, formando assim cascas consequentes da
tuais para a produção de edificações, transformando a
valorização da privatização cheias de vazios. Além do
escala da cidade também para o ser humano e não so-
avanço nos meios de comunicação onde se alcança
mente o automóvel.
distancias cada vez maiores sem sair do lugar. 7
1│ A DESCONSTRUÇÃO DA ARQUITETURA E A CONDIÇÃO DE ENTRE LUGARES
A criação de viadutos para resolver funcionalmente o problema de tráfego na cidade gera espa-
um espaço, habitá-lo e pensar que sua forma pode cria lugares em sua extremidade.
ços com potencialidades de usos diversos, mesmo
As infraestruturas urbanas desempenham um papel
sendo uma construção com uso pré-definido. Mesmo
específico na cidade para sua sobrevivência e seu funci-
funcionando para aquilo que foi construído, seus vãos
onamento, mas também podem ser entendidas como
também podem ser lugares para novas possibilidades
potencializadoras e suporte para eventos e outras manei-
de uso e criação pelo prazer da ocupação de resí-
ras de uso garantindo a sobrevivência da própria arquite-
duos da cidade por seus moradores e ambulantes.
tura.
Heidegger afirma que uma ponte, mais que um elemento de ligação, é algo que define as margens como lugar (Guatelli, 2012, p 25), podendo construir
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A CONSTITUIÇÃO DOS ESPAÇOS
GRANDES ESCALAS E A ESCALA DO AMBULANTE
Com o Plano de Avenidas de Prestes Maia, pro-
Como consequência da construção das linhas fér-
jeto estrutural de sistema viário nas décadas de 1920 e
reas e das pontes e viadutos, criam-se fronteiras no tecido
30 para São Paulo, o crescimento da cidade estrutu-
urbano por conta de suas grandes escalas que despre-
rou-se nas décadas seguintes.
zam a escala humana, pautadas em um único princípio
Este crescimento impunha a sobreposição dos
construtivo e funcional que limita à diversidade de usos e
rios Tamanduateí e Anhangabaú resultando em gran-
torna seu redor ocioso e subutilizado na maior parte das
des projetos para o período. Além de parques, o pla-
vezes.
no apresentava novos padrões viários como viadutos e novas configurações para as antigas ruas centrais. O projeto de Prestes Maia priorizava a mobilidade nas vias para transportes sobre rodas, que viria a
Muitas vezes essas fronteiras são criadas sem conhecer a dinâmica dos indivíduos da região ao seu redor, intensificando a fragmentação e a desertificação dos espaços as suas margens dessas construções.
ser o principal atributo estrutural para a expansão da
Com a criação de espaços de convívio nessas fron-
cidade. Com isso, a escala do ser humano foi com-
teiras e sua apropriação pelo indivíduo pode se minimizar
prometida devido a este grande crescimento horizon-
esse estado de separação, subutilização e ociosidade
tal que configurou a cidade que conhecemos hoje.
9
dos espaços da cidade, tornando os espaços públi-
segurança e a liberdade. [...] Essa ordem com-
cos de passagem em lugares convidativos através
põe-se de movimento e mudança, e, embora se
da apropriação dos espaços pelo próprio indivíduo ambulante do lugar, garantindo mais segurança e vivacidade ao espaço. Essas apropriações pautam-se no movimento e na mudança das necessidades de cada indivíduo,
trate de vida, não de arte, podemos chama-la, na fantasia, de forma artística da cidade e compará-la à dança – não a uma dança mecânica, com os figurantes erguendo a perna ao mesmo tempo, rodopiando em sincronia, curvando-se juntos, mas a um balé complexo, em que cada indivíduo e os grupos têm todos os papéis distin-
sem buscar a repetição em outros lugares, mas arti-
tos, que por milagre se reforçam mutuamente e
cular o definido e o não definido que atendam aos
compõe um todo ordenado. O balé da boa cal-
anseios momentâneos particulares de cada um
çada urbana nunca se repete em outro lugar, e
num tempo e em um espaço.
em qualquer lugar está sempre repleto de boas improvisações. (JACOBS, 2007, p 52)
Sob a aparente desordem da cidade tradicional, existe, nos lugares em que ela
A malha urbana tem que ser percebida e a deambulação
funciona a contento, uma ordem surpre-
pelos pedrestes incentivada, trazendo a experiência con-
endente que garante a manutenção da
cebida pela vivência.
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FIGURA 1 - ensaio fotográfico sob o baixio do Viaduto Ver. José Diniz. Fonte: Elaborada pela autora. FIGURA 2 - ensaio fotográfico sob o baixio do Viaduto Ver. José Diniz. Fonte: Elaborada pela autora.
FIGURA 3 - ensaio fotográfico sob o baixio do Viaduto Ver. José Diniz. Fonte: Elaborada pela autora.
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FIGURA 4 - ensaio fotográfico sob o baixio do Viaduto Ver. José Diniz. Fonte: Elaborada pela autora.
FIGURA 5 - ensaio fotográfico sob o baixio do Viadu12 to Ver. José Diniz. Fonte: Elaborada pela autora.
FIGURA 6 - ensaio fotogrรกfico sob o baixio do Viaduto Washington Luis. Fonte: Elaborada pela autora.
FIGURA 8 - ensaio fotogrรกfico sob o baixio do Viaduto Washington Luis. Fonte: Elaborada pela autora.
FIGURA 7 - ensaio fotogrรกfico sob o baixio do Viaduto Washington Luis. Fonte: Elaborada pela autora.
FIGURA 9 - ensaio fotogrรกfico sob o baixio do Viaduto Washington Luis. Fonte: Elaborada pela autora.
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FIGURA 10 - ensaio fotográfico sob o baixio do Viaduto Ver. José Diniz. Fonte: Elaborada pela autora.
FIGURA 11 - ensaio fotográfico sob o baixio do Viaduto Ver. José Diniz. Fonte: 14 Elaborada pela autora.
O AMBULANTE EM VÃO Na cidade nem todos vivem do mesmo modo, pois existem desigualdades baseadas nas diferentes
público aproveitando de suas características próprias e usufruem delas.
condições sociais. Cada classe social tem interesses
Estes espaços ociosos da cidade, especificamente os
diferentes correspondentes ao poder econômico e as
vãos de viadutos, podem abrangem essa demanda cultu-
oportunidades para cada grupo. A exploração eco-
ral e artística da população menos privilegiada, que na
nômica, a opressão política e a dominação cultural
maioria das vezes, são os que mais deambulam pela cida-
resultam nessa desigualdade que gera o privilégio polí-
de. Os baixios fazem parte desse dia a dia do indivíduo
tico e a discriminação cultural entre as classes.
ambulante e podem oferecer espaços para apropriação
Este trabalho esta voltado para a classe baixa da
dos mesmos de acordo com suas necessidades.
população que abrange desempregados, moradores
Os moradores de rua e os catadores de lixo se utilizam
de rua e trabalhadores até três salários mínimos, que
desse espaço como forma de abrigo, momentâneo ou
tem um baixo poder aquisitivo e uma baixa qualidade
permanentemente, contribuindo para sua própria manu-
de vida. Suas necessidades básicas já são supridas
tenção e usufruindo das suas condições espaciais. Eles de-
com muita dificuldade, imagina as de lazer e entrete-
ambulam pela cidade realizando pequenos bicos que lhe
nimento.
garantem algum dinheiro e passam períodos longos longe
O ambulante em vão é uma figura marginal e iso-
de suas famílias, quando as têm. Já os usuários de drogas,
lada dos padrões da sociedade, são os andarilhos da
renegados por suas condições químicas e psicológicas,
cidade que utilizam de seus espaços como suporte de
procuram áreas que possam se abrigar e exercer suas ativi-
sobrevivência. É quem realmente vivencia o espaço
dades ilícitas. 15
FIGURA 12 - ensaio fotogrĂĄfico sobre os ambulantes em vĂŁo. Fonte: Elaborada pela autora.
16
FIGURA 13 - ensaio fotogrĂĄfico sobre os ambulantes em vĂŁo. Fonte: Elaborada pela autora.
17
FIGURA 14 - ensaio fotogrĂĄfico sobre os ambulantes em vĂŁo. Fonte: Elaborada pela autora.
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2│ ARQUITETURA COMO SUPORTE DE SITUAÇÕES
A utilização dos baixios de viadutos pode trazer
A prefeitura mantêm equipamentos vinculados direta-
suporte aos anseios do indivíduo ambulante que bus-
mente às suas secretarias, mantidos pela administração
ca apropriar-se do espaço de modo a suprir suas ne-
direta da mesma com o auxílio de funcionários públicos.
cessidades, assim necessitando de espaços que
Fora desde âmbito, a prefeitura conta com parcerias ou
abranjam a diversidade e incentivem a reinvenção de
com a privatização do espaço para manter estes equipa-
seus significados perante a cidade.
mentos.
Interesses diversos por pessoas diversas garan-
A seguir mostrarei algumas iniciativas de trabalho no
tem a diversidade dos espaços públicos, o órgão pú-
espaço vazio do tecido urbano sob perspectivas distintas
blico também é responsável por empreendimentos
umas das outras, mas abrangendo o conceito de tornar
que garantam a diversidade urbana, mas iniciativas
perceptivo um lugar obsoleto através de intervenções dife-
privadas são as maiores responsáveis com propósitos
rentes.
bastante diversos fora do âmbito formal da ação pública como parques, auditórios, escolas, hospitais e moradias, que intensifiquem a vida nas ruas.
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REFLEXÕES PROJETUAIS Cie. Willi Dorner A companhia de dança Cie. Willi Dorner foi fun-
cia e apropriação dos espaços, provocando percepções diferenciadas da vida cotidiana.
dada em 1999 por Willi Dorner, com sede em Viena.
É justamente esse olhar aos espaços da cidade que
Além de performances de dança internacionalmente
este trabalho quer trazer, novas perspectivas de uso a lu-
exibidas, Dorner também detêm o interesse em desta-
gares previamente definidos funcionalmente, mas que po-
car as estruturas funcionais da cidade despertando o
dem ser incorporados ao cotidiano do indivíduo ambulan-
olhar do público às novas possibilidades de experiên-
te.
FIGURA 15 - integrantes da cia ocupando 0 vazio sob uma passarela. Fonte: disponível em <http//www.veryverubeautiful.it/?p=9> 20 Acesso em abril 2015.
Clube da Comunidade: Arena Radical Espaço Cancioneiro O espaço localizado sob os viadutos Ari Torres e República da América, foi cedido pela prefeitura a uma gestão privada, oferecendo aulas de BMX, uma academia, mini ramp para skate, auditório e salas para diferentes atividades. A prioridade do projeto é incentivar a apropriação do espaço pela população mais carente garantindo a entrada gratuita para alunos da rede pública com boas notas. Mas, para que se dê a manutenção do espaço, é cobrada uma mensalidade mínima para uso do espaço para quem puder pagar além de receber doações e realizar o aluguel de equipamentos para uso dentro do próprio local. Para este trabalho, o projeto representa um bom exemplo de apropriação dos baixios de viadutos para oferecer atividades de lazer e esporte prioritariamente à classe baixa da população, tirando-os das ruas e oferecendo FIGURA 16 - Pista de BMX vista debaixo do Viaduto Ari Torres. Fonte: disponível em <http//www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/ secretarias/esportes/noticias/?p=36314> Acesso em abril 2015.
uma ocupação ao mesmo tempo em que motiva sua frequência à escola e seu empenho. 21
Boxe Garrido Em 2005 o ex-boxeador Nilson Garrido iniciou um projeto, com o apoio da prefeitura, de apropriação do baixio do Viaduto Alcântara Machado, na Mooca. Seu maior objetivo era a luta contra o uso de cola de sapateiro, que atualmente foi substituído pelo crack, e a marginalização. Seu maior público alvo são as crianças e moradores de rua promovendo aulas gratuitas de boxe, um cervo de livros e academia. O uso de jabs, carcaças de geladeiras e pneus velhos começaram a ser usados como forma de atender as necessidades de equipamentos para treino, porém hoje já se assume o reaproveitamento destes objetos aceitando doações. O espaço também contou com a doação de equipamentos para a academia da Smart Fit, que segundo Garrido, incentivou o uso do lugar por pessoas de poder aquisitivo maior
FIGURA 17 - Biblioteca comunitárias sob o Viaduto Alcântara Machado Fonte: Elaborada pela autora.
e gerou o afastamento dos usuários iniciais. Também há perspectivas de criação de um telão para cinema e palco para situações eventuais. A união de diversas atividades num mesmo espaço em vão traz para este trabalho a reflexão de como se podem incorporar diferentes usos em um espaço funcionalmente prédefinido que pode oferecer suporte a situações momentâneas e atender aos anseios dos usuários.
FIGURA 18 - Treinamento de boxe com carcaças. Fonte: Disponível em: <http:// boxegarrido.com.br/fotosboxe/ boxegarrido6.jpg> Acesso em março 2015.
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ENTREVISTA: NELSON GARRIDO
1. Como se deu a ocupação deste baixio? Entre tapas e beijos! Através de muita conversa a prefeitura cedeu o local para nós, mas tive que me responsabilizar pelo despejo dos moradores que aqui viviam e pela limpeza do lugar.
2. Quais as atividades oferecidas pelo projeto? Possuímos aulas de boxe, musculação e bicicross. Mas pretendo construir um cinema, um teatro e continuar a ampliar a biblioteca. Com isso, foram necessários erguer algumas paredes entre os pilares do viaduto para montar um mural de estrelas aqui formadas, uma tela para projeções e dar suporte as prateleiras para livros, o que gerou problemas com a prefeitura que disse que não podia construir ou mexer no baixio. Ele conta um caso na época da copa do mundo em que ele pintou todos os pilares de verde, amarelo e azul e a prefeitura o advertiu e mandou pintar tudo de cinza novamente.
3. Qual o público alvo? Obviamente são os mais pobres que ficam nas ruas ocupando suas mentes de coisas ruins fazendo coisas ilícitas como roubar e usar drogas. Porém, com a renovação da academia apareceram novos frequentadores e os antigos se afastaram. 23
4. Como se dá a manutenção do espaço? Quais os meios? Eu mesmo moro aqui no baixio, então sou responsável pela luz, água, internet e a manutenção. Busco recursos pedindo aos frequentadores que colaborem com vinte reais ao mês e cobro uma mensalidade para estacionarem os carros aqui. Também aceito doações e conto com a colaboração de professores voluntários. Peço a contribuição de estudantes que queiram divulgar o projeto com duas cestas básicas.
Ele também comenta:
Da falta de interesse do governo em investir em projetos como este;
A ajuda as pessoas marginalizadas através da oferta de um futuro à elas;
O enorme carinho aos animais que ele acolhe.
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Vazio S/A Arquitetura e Urbanismo O escritório de arquitetura Vazio S/A foi fundado em 2001, vinculada ao livro Histórias do Vazio em BH (Carlos M. Teixeira, 1999) que provoca uma leitura estética da paisagem urbana em constante mutação, exaltando os vazios que são reservas de possibilidades abertas a informalidade. Foi partindo disso que o escritório propõem práticas de arquitetura que deem continuidade a essas premissas. Eles trabalham com projetos domiciliares, urbanos, cenografia, edificações e instalações dentro do contexto contemporâneo. É um escritório multidisciplinar que também busca propostas de ativação dos espaços vazios como crítica aos próprios problemas da arquitetura do mercado imobiliário e sua informalidade. A forte presença e palafitas de concreto na cidade de Belo Horizonte formam enormes vazios arquitetônicos sob os edifícios que serviu como aplicação das idéias do livro. Visto como um problema causado por edifícios mal projetados, eles transformam estes vazios espaços para o espetáculo. Em parceria com o grupo de teatro Armatrux, eles proporam a ocupação dessas palafitas através da apropriação e da circulação pelo espaço por meio de rampas e percursos em espiral que unem plateia, palco e cenário. A ocupação desses espaços vazios entre as estruturas instigam novos olhares para um espaço antes inculpável. FIGURA 19, 20 e 21 - Passarelas implantadas pelo projeto entre as palafitas do edifício. Fonte: Dis25 ponível em: <http://www.vazio.com.br/projetos/ amnesis-topograficas-ii/> Acesso em abril2015.
FIGURA 22 e 23 - 3D do projeto elaborado pelos ganhadores do concurso. Fonte: Disponível em: <http://www.archdaily.com.br/br/01177720/vencedor-do-concurso-para-requalificacao-de-baixios-deviadutos-em-belo-horizonte-viaduto-numero-3-viaduto-cinquenta-edois-entre-arquitetos> Acesso em março 2015.
Vencedor do Concurso de Requalificação de Baixios de Viadutos de Belo Horizonte A prefeitura de BH promoveu um concurso para proposições projetuais de ocupação dos baixios do viaduto Silva Lobo, que atualmente encontra-se ocupado por moradores sem teto, com o intuito de valorizar e oferecer espaços públicos a cidade. O ponto de partida é amenizar a desigualdade de renda que impulsiona a segregação espacial e a privatização de áreas anulando o espaço público de convívio. O projeto vencedor de 2014, do escritório PBH, sugere a manipulação da topografia do baixio criando espaços de encontro e permanência, mesclando um programa definido de atividades com a indefinição que gera a apropriação do espaço por diferentes dinâmicas. Programas de quadras, parquinhos e palcos são pensados para trazer o fluxo de pessoas e vitabilidade ao baixio. Plataformas de infraestrutura propostas podem ser mutáveis e usadas de acordo com as necessidades de seus usuários e o cotidiano de cada indivíduo. Promover evento como shows, feiras e festas também colaboram para a ativação urbana do espaço e criam usos âncoras para a manutenção do espaço. 26
Vazios Necessários O espaço vazio reflete a ausência de algo mate-
9 de Julho , servindo de espaço a manifestações e feiras.
rial ou imaterial, mas não um lugar do ‘nada’. A au-
Inerente ao espaço público há a possibilidade da perma-
sência pode nos trazer reflexões, possibilidades de in-
nência de moradores de rua já que o espaço oferece
teração e atender a necessidades funcionais das es-
abrigo.
truturas da cidade. Como exemplo, os respiros do metrô e de túneis, são buracos vazios abertos no solo essenciais para a segurança e funcionalidade de estruturas urbanas subterrâneas. Vão Livre do MASP
O vazio se caracteriza pela praça seca e o hall de entrada do edifício que articula os dois lados do edifício com a cidade, por um lado a Avenida Paulista, que esta na mesma cota que o vazio, e por outro o espaço que se abre até o túnel da Avenida 9 de Julho.
O edifício foi construído no antigo terreno do
A ideia do vazio foi constituída dentro do conceito
Belvedere Trianon, na Avenida Paulista, em 1968. O
de que o espectador é quem domina e gere o espaço, e
vão do edifício foi um problema inicialmente que vi-
não o contrário. Sendo assim, o grande espaço livre é ge-
rou atributo já que a primícias do projeto de Lina Bo
rido pelo usuário, sem influenciá-lo a uma direção ou ou-
Bardi fosse manter a conexão do terreno com o Tria-
tra, mas permitindo que ele aja livremente.
non e não interromper a vista panorâmica para a Av.
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3│ POSSIBILIDADE DE REINVENÇÃO DO ESPAÇO
Busco proporcionar a passagem da contempla-
de um espaço dado. A emergência de novas rela-
ção para a experiência usando como suporte edifica-
ções entre as coisas um contexto dado – mais que a qualidade intrínseca da própria coisa – engendra no-
ções sem uso, no caso os baixios de viadutos, onde in-
vos modos de ver. (PEIXOTO, 2012, p 24)
tervenções podem estimular a utilização desses espaços e a diluição da sua característica primordial. Com intervenções que deem suporte a situações eventuais, evidencio um local que sofra constantes mutações de acordo com as necessidades de cada indivíduo que se apropria, trazendo novas percepções e relações com o próprio ambiente.
A partir dessa intenção, constituem-se espaços como resposta às necessidades da sociedade ambulante, principalmente momentâneas, através da articulação entre as edificações vizinhas criando caminhos de passagem, de permanência, de reflexão e de modificação de acordo com os anseios de seus participantes ativos. O intuito não é defender um espaço neutro, mas sua
A obra para sitio específico evidencia que o local está em permanente mutação. Não há referência a uma localização primordial e estável. Antes que a intervenção ocorra ali, o sitio não tem volume bem definido.
Obra impõe algo
neutralização diante das diversas possibilidades de uso e ocupação. Defender a pluralidade desses espaços residuais para que sua apropriação pelas pessoas seja ampla e adaptável.
estranho, que permite organizar a percepção
28
INVESTIGAÇÕES URBANAS MAPA 1
29
A passagem por viadutos através de meios de
apropriação desse espaço vazio que o caracteriza em
transporte sob-rodas pode ser imperceptível em al-
passíveis de ocupação, e baixios com inclinações grandes
guns casos, onde não há mudança de nível, ou evi-
ou sutis ao pedestre que nos oferecem um espaço carac-
denciado pelo excesso estrutural dos viadutos margi-
terizado por dinâmicas topográficas.
nais que são mais pontuais na paisagem com sua característica monumentalização consequente do uso de mega estruturas que vencem grandes vão. São marginais por não participarem do cotidiano do pedestre, dificultando o acesso por conta das barreiras criadas pelas vias expressas que os cercam.
Além de viadutos, as passarelas também podem dar suporte a apropriações por moradores de rua e pequenos comércios ambulantes, simplesmente podemos passar-elas por cima de vias com estruturas estreitas e com pontos de apoios ao chão menores, mas que também podem oferecer algum abrigo.
Já os viadutos urbanos podem dividir-se em duas tipologias, as que apresentam amplos espaços planos em seus baixios que nos convidam à ocupação e
30
Figura 24 – Viaduto Whashignton Luís que sobrepõe a Avenida Professor Vicente Rao, exemplo de um viaduto urbano com dinâmicas topográficas. Fonte: Elaborada pela autora.
31
Figura 25 â&#x20AC;&#x201C; Ponte Estaiada, exemplo de um viaduto marginal. Fonte: Elaborada pela autora.
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Figura 26 â&#x20AC;&#x201C; Passarela em frente ao Aeroporto de Congonhas que passa por cima da Av. 23 de Maio. Fonte: Elaborada pela autora.
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MAPA 2
34
A região do Parque do Ibirapuera era originariamente de várzea e para conter essa umidade, Manoel Lopes de Oliveira, começou a plantar árvores, em 1920. Com o desenvolvimento urbano e criações de vias, o nó viário surge como consequência do encontro de vias como a Av. Ibirapuera, a Av. Rubem Berta e o Complexo Viário Ayrton Senna.
35
MAPA 3
36
A urbanização do Vale do Anhangabaú se deu a partir da canalização do rio e a construção do Viaduto do Chá em 1877. Houve a criação de passagens subterrâneas como a Galeria Prestes Maia. Os viadutos com apoios perpendiculares ao chão anulam a formação de espaços ao pedestre, são buracos de passagens de vias por isso vãos viários ao transporte sobre rodas. No caso Viaduto Pedroso, na Avenida 23 de Maio, esse vão é criado como consequência da função que teria, no caso, passagem para um trilho de trem previsto.
37
Figura 27 â&#x20AC;&#x201C; Viaduto Pedroso sobre a Av. 23 de Maio . Fonte:38 Elaborada pela autora.
Figura 28 – Viaduto do Chá na região central da cidade de39 São Paulo. Fonte: Elaborada pela autora.
MAPA 4
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A Radial Leste é um dos resultados da expansão viária do Plano de Avenidas de Prestes Maia. A prefeitura ocupou alguns baixios com o Programa de Convivência que oferece banheiros, chuveiros e kits de higiene para moradores de rua. Mas o baixio do Viaduto Alcântara Machado inicialmente era todo ocupado por moradores de rua, havendo sua retirada posteriormente resultando num depósito de carros velhos. Depois a prefeitura proporcionou um espaço para feiras livre que viria a impulsionar a criação de áreas de lazer.
41
Figura 29 â&#x20AC;&#x201C; Viaduto Alcântara Machado, Mooca. Fonte: Elaborada 42 pela autora.
REFERENCIAL PROJETUAL
CONTAINERS O uso de container na construção como ele-
Além do fator sustentabilidade, o container garante
mento arquitetônico atende novas demandas cons-
economia na instalação, pois não requer serviços de fun-
trutivas que garantem o reaproveitamento desses co-
dação e terraplenagem. Também por ser uma estrutura
fres de carga abandonados. Trata-se de uma solução
modular, possui maior velocidade na execução do proje-
sustentável e de baixo custo para residências, escritó-
to, simplificando ampliações à planta original sem deman-
rios e até comércios. Mas o container precisa passar
dar grandes reformas e permitindo que o container seja
por um processo de tratamento e recuperação que
desmontado e transportado para outro terreno com maior
inclui limpeza, funilaria, serralheria, pintura, revestimen-
facilidade.
tos e acabamentos.
43
1. COLORFUL SAO PAULO SHIPPING CONTAINER RESIDENCE (SÃO PAULO, 2011) O que poderia ser considerada a mais legal loja de móveis, a Decameron, com o projeto do Studio MK27 que foi construído em containers de cores fluorescentes. Empilhados dois andares de altura e pintadas de cores fluorescentes, os containers foram à solução perfeita para necessidade de colocar com baixo custo uma edificação temporária em uma propriedade alugada do cliente. As portas de caixilhos fechadas com policarbonato delimitam um espaço de fluxo livre e exposições de móveis.
Figura 30 – Instalações da loja Decameron. Fonte: Disponível em <http://studiomk27.com.br/p/decameron/>. Acesso em outubro de 2015.
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2. Requalificação de Baixios de Viadutos de Belo Horizonte/VIADUTO 02 - ELEVADO CASTELO BRANCO (2010) A proposta apresentada pelo arquiteto Vinícius Capella Gomes busca amparar as atividades recorrentes do local sendo as principais delas a concentração de carroceiros, catadores e moradores de rua oferecendo usos que serão instalados em containers adaptados. Além de agilizar a implantação da proposta, o uso de containers oferece flexibilidade para se alterar a organização e o tamanho do conjunto e permitindo também o transporte para outras áreas similares. Figura 31 – 3D do projeto proposto. Fonte: Disponível em <http:// www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=1697872>. Acesso em outubro de 2015.
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PLATAFORMAS
1. CENÁRIO DO BALÉ METAPOLIS, CHARLEROI DANSES (BÉLGICA, 1999-2007) Tecendo uma topografia de diferentes cama-
ções morfológicas do espaço, inscrevendo um duplo movi-
das com diferentes materiais, Metapolis evoca os rit-
mento de fluidez e ruptura.
mos da cidade através de estruturas flexíveis que se
com extensão de 10 metros de slide com diferentes confi-
estendem pela dança em quatro dimensões. A coreo-
gurações em que os bailarinos interagem.
Há três pontes translúcidas
grafia de Flamand segue e provoca as transforma-
Figura 32 e 33 – Cenografia do balé Metapolis. Fonte: Disponível em <http://www.zaha-hadid.com/design/metapolis-ballet/>. Acesso em outubro de 2015.
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2. TERMINAL MULTIMODAL HONHEIM NORD (ESTRASBURGO, FRANÇA, 1999-2001) A idéia que inspirou o projeto foi à sobreposição de eixos que se entrelaçam no espaço, determinando um local sempre mutável marcado pela passagem de carros, ônibus, trem e pedestres. A estação atende a um programa funcional de bilheterias, serviços públicos, lojas, bicicletário e estacionamento. A única parede que contem a estação é a sua própria cobertura que se dobra, sem fechamentos. Os ambientes delimitados por iluminação e elementos de mobiliário, mantêm relação com o exterior anulando qualquer obstáculo a visão.
Figura 34 – Área de serviços do terminal. Fonte: Disponível em <http:// www.zaha-hadid.com/architecture/hoenheim-nord-terminus-and-carpark/>. Acesso em outubro de 2015.
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3. Requalificação de Baixios de Viadutos de Belo Horizonte/VIADUTO 03 - VIADUTO CINQUENTA E DOIS (2010) Uma série de planos horizontais que convergem e se sobrepõem, criando uma plataforma de infraestrutura com usos diversos. Essa topografia artificial também oferece às pessoas um espaço de permanência em que o programa não é definido pelo arquiteto, mas mutável. As pessoas se apropriam de acordo com as necessidades do cotidiano, portanto cheio Figura 35 – Corte das plataformas de infraestrutura planejadas. Fonte: Disponível em: <http://www.archdaily.com.br/br/01-177720/vencedor -do-concurso-para-requalificacao-de-baixios-de-viadutos-em-belohorizonte-viaduto-numero-3-viaduto-cinquenta -e-dois-entrearquitetos> Acesso em março 2015.
de potencial. Estas plataformas teriam como base treliças em perfil metálico desmontável e facilmente adaptável as sinuosidades dos terrenos.
48
4.
SKATE
PARK
DOS
JARDINS
DE
AUREÀ
CUADRADO
(BARCELONA, ESPANHA, 2014) O projeto com as mudanças de nível e a contenção dos taludes para colocar todos os elementos patináveis. Estes se configuram como paredes, planos inclinados, escadas, grades, plataformas, bancos, que se relacionam entre eles. O objetivo principal do projeto é desfazer a imagem habitual de grandes elementos duros impostos a um espaço aberto fazendo com que a vegetação do entorno tenha continuidade e contato direto com as novas instalações.
Figura 36 e 37 – 3D do projeto proposto. Fonte: Disponível em: <http:// www.archdaily.com.br/br/774553/skate -park-dos-jardins-de-aureac u a d r a d o - s c o b - a r q u i t e c t u r a - y - p a i s a j e ? utm_source=ArchDaily+Brasil&utm_campaign=406e59337c-Archdaily-BrasilNewsletter&utm_medium=email&utm_term=0_318e05562a-406e59337c407889013> Acesso em outubro 2015.
49
4│ PROJETO
ESCOLHA DE PARTIDO: O LUGAR O trecho escolhido para intervenção compreen-
Três dos viadutos que passam sobre a avenida — Do-
de as avenidas Washington Luís, Vinte e Três de Maio,
na Paulina, Condessa de São Joaquim e Pedroso — já pos-
Moreira Guimarães e Rubem Berta. Construído sobre
suem uma estrutura interna, que originariamente abrigari-
um
movimenta-
am as estações de metrô referentes aos antigos projetos
das avenidas do município de São Paulo, sendo o prin-
da Linha Norte–Sul do Metrô. Mas atualmente no viaduto
cipal corredor de ligação dos bairros da subprefeitura
Dona Paulina funciona o serviço funerário municipal, no
da Vila Mariana à região central da cidade, fazendo
Condessa de São Joaquim já funcionou um albergue para
parte do Corredor Norte-Sul.
famílias de sem-teto. E no Pedroso ainda funciona um abri-
córrego,
é
uma
das
mais
O projeto da avenida foi idéia do então prefeito Prestes Maia, inaugurada em 1969, como ligação
go, mantido desde 1996 pela Comunidade Metodista do Povo de Rua.
entre o centro da cidade e o aeroporto de Congo-
Os viadutos construídos próximos ao Parque do Ibira-
nhas, e em 1958, seu projeto passou a fazer parte do
puera poder ser definidos como arquitetonicamente inédi-
Plano das Vias Expressas Diametrais Urbanas.
tos com um tratamento paisagístico local, oferecendo
50
áreas propícias à ocupação. Já os viadutos sobre as
O Viaduto Washington Luís foi escolhido para o desenvolvi-
avenidas dos Bandeirantes, Jornalista Roberto Mari-
mento do projeto como referência para outras interven-
nho e Vicente Rao caracterizam-se por grandes áreas
ções em outros baixios, uma vez que as estruturas utilizadas
vazios com dinâmicas topográficas que instigam à
serão itinerantes. O entorno se caracteriza pelo forte uso
ocupação e dinamização do lugar.
diversificado da região oferecendo desde serviços como
Com a atual demanda da população de classe
restaurantes, postos de gasolina e bancos, a supermerca-
baixa em melhorias de qualidade de vida nas gran-
dos e áreas residenciais.
O baixio do viaduto é dinâmi-
des cidades que está diretamente ligada à qualidade
co topograficamente e é facilmente acessado tanto a pé
dos espaços públicos, as áreas residuais como os bai-
como por automóvel, além de fazer parte da rota de
xios de viadutos têm grande potencial de revitaliza-
transportes coletivos. Porém, a região carece de áreas de-
ção e oferta de espaços de lazer.
dicadas ao laser que atendam as necessidades do pedestre ambulante.
51
Figura 38 â&#x20AC;&#x201C; Viaduto Washington Luis. Fonte: Elaborada pela 52 autora.
Figura 39â&#x20AC;&#x201C; Baixio do Viaduto Washington Luis. Fonte: Elaborada 53 pela autora.
Figura 40 â&#x20AC;&#x201C; Baixio do Viaduto Washington Luis. Fonte: Elaborada 54 pela autora.
Figura 41 â&#x20AC;&#x201C; Baixio do Viaduto Washington Luis e seus atuais ocupan55 tes. Fonte: Elaborada pela autora.
Figura 42– Pilares de sustentação do Viaduto Washington Luis. 56 Fonte: Elaborada pela autora.
Figura 43 â&#x20AC;&#x201C; Viaduto Washington Luis. Fonte: Elaborada pela 57 autora.
Figura 44 â&#x20AC;&#x201C; Outro lado do baixio do Viaduto Washington Luis. 58Fonte: Elaborada pela autora.
RUA
AND
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RUA DOS CAFEZ
V.
TE EN
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A
740
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O RA
Legenda: RESIDENCIAL COMERCIAL
INSTITUCIONAL
FLUXO DE PEDESTRES
INTERVENÇÃO A estratégia de intervenção é atrair pessoas para circular e permanecer nestes espaços a fim de garantir mais segurança, convivência, cultura, lazer e permeabilidade para ambulantes da região.
um espaço para cães. As estruturas das plataformas são modulares com intuito de gerar o menor impacto possível à construção e possuir maior flexibilidade de uso. As estruturas tem poten-
O programa é estruturado a partir das necessida-
cial para serem utilizadas em mais de um local, como es-
des encontradas pela região e seus ambulantes. Have-
tratégia de requalificação destes espaços vazios da cida-
rá áreas destinadas a práticas de esportes (como ska-
de, por não parasitarem a construção já existente.
te e bicicleta), dança, teatro, entre outros; plataformas em níveis diferentes que não impõem um programa definido mas possibilita distintas apropriações. Também serão oferecidos espaços para estacionar carrinhos de
Também se pensou na criação de equipamentos fixos que garantissem a permeabilidade e a vivacidade do baixio, propondo espaços para eventos e festas que contribuíssem para isso.
reciclagem incentivando a coleta seletiva, além de
60
B
PLATAFORMAS QUE CONECTAM AS DUAS EXTREMIDADES DO CANTEIRO FUNCIONANDO COMO ESPA O PARA A PROMO O DE ATIVIDADES E DE ESTAR.
17
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16 15
4
14
13
3
11
11
10
10
2 1
9
8
A OFERTA DE ESTRUTURAS FIXAS COMO OS BOWLS PODEM ESTABELECER MELHOR RELA O COM O LOCAL MANTENDO S U A V IV I CI D A D E E A CE S S I BI L I D A D E .
E
12
6 7 5
4 3
3 2
A
BO WL Q UE O F ER ECE E SP A O PARA PR TICAS ESPORTIVAS E PONTO DE RECREA O INFANTIL.
741
A
B
CRIA O DE REAS VERDES INCENTIVANDO A APROPRIA O E A CRIA O D E CAMINHO S.
TE EN C I
.
O RA
V
AV
738
740
739
VISTA 01
ZAIS RUA DOS CAFE
D
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V.
VI
A
A
CONEX O ENTRE OS DOIS LADOS D O B A I X I O ATRAV S DE UMA PASSARELA.
E
PONTO DE T XI.
C
D ESPA O ASSITENCIAL PARA C ES DE RUA.
742 PLATAFORMAS DE APOIO AOS EVENTOS.
740 E SPA O PAR A COL ET A SELETIVA DANDO APOIO AOS CATADORES DE LIXO.
1
REA DESTINADA A EVENTOS, FEIRAS E ANSEIOS MOMENT NEOS PARA GARANTIR A VIVACIDADE DO BAIXIO.
2
3 2
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741
1
PLANTA esc 1:500 C
REA QUE OFERECE ESPA O PARA PR TICAS ESPORTIVAS, RECREA O IN F A N T IL E A T E ND E AO S A N SE I O S MOMENT NEOS DE QUE O APROPRIA.
CORTE A esc 1:250
CORTE B esc 1:250
CRIA O DE UM ESPA OS COM CONTAINERS VAZADOS QUE N O BLOQUEIAM A VISTA DO BAIXIO, DESTINADO A EVENTOS, FEIRAS E ANSEIOS MOMENT NEOS.
CORTE C esc 1:250
PLATAFORMAS QUE FUNCIONAM COMO ESCADARIA QUE CONECTAM OS DOIS ESTREMOS DO CANTEIRO E PROMOVEM DIVERSAS ATIVIDADES.
ESPA O PARA PR TICAS DE ESPORTES SOB RODAS.
CORTE D esc 1:250
CORTE E esc 1:250
PASSARELA DE CONEX O ENTRE OS DOIS LADOS DO BAIXIO ELIMINANDO FRONTEIRAS.
Maquete eletrônica que mostra os bolws para recreação e a passarela de conexão entre os dois lados do baixio. Uma visão mais geral da intervenção no viaduto. 67
Maquete eletrônica que mostra o bolw para práticas esportivas e as plataformas que oferecem um espaço de lazer. 68
Maquete eletrônica que mostra as plataformas e suas diversas apropriações, além de servirem como escadaria. 69
Maquete eletr么nica que ilustra um dos acessos a passarela com 谩rea para esportes e lazer. 70
Maquete eletrônica da área projetada com containers para promoção de eventos e as plataformas de auxílio. 71
Maquete eletrônica da passarela que conecta os dois lados do baixio e mantém a fácil locomoção dos ambulantes. 72
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em contraposição à arquitetura que busca cons-
tos de identidade necessários para fazê-lo reconhecível,
truções de ordenamento territorial da cidade, este tra-
idêntico, universal. Pertence à mesma essência da ar-
balho buscou realçar o papel que o conceito vazio pode assumir sob diferentes formas projetuais. Sem ser uma arquitetura que induza ou condicione usos e ati-
quitetura sua condição de instrumento de organização, de racionalização, de eficácia produtiva capaz de transformar o inculto em cultivado, o baldio em produtivo, o vazio em edificado. (SOLÀ-MORALES, 2002, p. 191)
vidades baseada na relação entre forma e função, os vazios da cidade, por sua neutralidade, favorecem o pensamento livre para ações diferentes do esperado pelo lugar.
Também trazer a escala da cidade para a escala do indivíduo ambulante cujo corpo tem capacidade de interagir com outros espaços, resgatando o conceito de antro-
O vazio é entendido como possibilidade de uma reescrita arquitetônica, substituindo o funcionalismo, onde os espaços sem significados a priori constituem um campo de possibilidades, como diz Solà-Morales:
pomorfismo para estabelecer a relação entre corpo e arquitetura. O espaço aberto ao acaso incentiva a experiência de acordo com as situações e os anseios de cada indivíduo. Traz o exterior para o cotidiano do espaço urbano como incentivo as práticas culturais, artísticas e esportivas
Parece que todo o destino da arquitetura tem sido sempre o da colonização, da imposição de limites,
dentre os anseios momentâneos dos indivíduos que se apropriam desse espaço “vazio” que antes era em vão.
ordem, forma, introduzindo no espaço os elemen73
BIBLIOGRAFIA CASAMONTI, Marco. Jean Nouvel (Coleção Folha Grandes Arquitetos; vol. 8). São Paulo: Folha de S. Paulo, 2011, p 72-73. GUATELI, Igor. Arquitetura dos Entre-Lugares: sobre a importância do trabalho conceitual. São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2012. GUCCIONE, Margherita. Zaha Hadid (Coleção Folha Grandes Arquitetos; vol. 13). São Paulo: Folha de S. Paulo, 2011, p 14. GUCCIONE, Margherita. Zaha Hadid (Coleção Folha Grandes Arquitetos; vol. 13). São Paulo: Folha de S. Paulo, 2011, p 30-33. JACOBS, Jane. Morte e Vida de Grandes Cidades. 1ª edição. São Paulo: Martins Fontes, 2007. PEIXOTO, Nelson Brissac. Intervenções Urbanas: Arte/Arquitetura. 2ª edição. São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2012. SOLÀ-MORALES, Ignasi de. Territórios. Barcelona: Editorial Gustavo Gili, 2002. WHITEREAD, Rachel. Catálogo de exposição realizada nos Museus de Arte Moderna do Rio de Janeiro e de São Paulo. Rio de Janeiro: ARTVIVA, 2003. ZAMBONI, Andrea. Dominique Perrault (Coleção Folha Grandes Arquitetos; vol. 11). São Paulo: Folha de S. Paulo, 2011, p 70-71. http://boxegarrido.com.br/ 74
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