Amanda Bello Silva
GRRUA Intervenção e (re)significação da cidade
Amanda Bello Silva Entrega final do Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Centro Universitário Senac - Campus Santo Amaro, como exigência para obtenção de Grau de Bacharel do curso de Arquitetura e Urbanismo. Orientadora Professora Dra. Myrna de Arruda Nascimento São Paulo 2016
AGRADECIMENTOS Aos meus tão amados pais que cultivaram em mim a vontade de ser uma pessoa melhor todos os dias, que incentivaram-me a questionar e experimentar o mundo desde pequena. A eles que me ensinaram a manter a mente em constante crescimento, ‘a espinha ereta, e o coração tranquilo’. Sou grata por terem proporcionado a mim todas as viagens e conversas, e por compartilhar comigo as reflexões deste trabalho. À minha querida irmã, Barbara, por me orgulhar e emocionar todos os dias, e que independente das opiniões divergentes é meu colo preferido. Aos professores que, cada um a seu modo, deixaram em mim um pouco de si através da troca de conhecimentos em sala de aula, das palavras e conversas. À Myrna Nascimento pela generosidade, pelo entusiasmo e, sobretudo, pelos encontros e reflexões que alimentaram esta pesquisa e provocaram e mim uma visão ainda mais bonita da cidade. Ao professor Ralf Flôres pelo incentivo, por proporcionar ao longo desses cinco anos reflexões e conversas que resultaram num projeto de pesquisa do qual tenho muito orgulho, mas também por compartilhar e motivarme como, pessoa, futura arquiteta urbanista e quem sabe, professora. A Carolina Coelho que esteve presente em cada pensamento, que compartilhou comigo meus sonhos e dificuldades. Sou grata por sua energia e companheirismo minha amiga de uma vida. À Juliana pela dedicação e parceria que complementaram esse trabalho. Ao meu Eduardo pelo carinho, pela compreensão e apoio em todas as minhas escolhas e sonhos. Por caminhar junto todos os dias e me inspirar. À minha vó, amor da minha vida.
ABSTRACT This research aims, firstly, to study the contemporary urban space presenting an analysis of experiences and livings in the city, mediated study elements that enhance forms of coexistence, social production and exchange. Its main object the street and its ability to exist as a space of different dimensions , transformations, but mainly as a place that unites the collective, residence, leisure, and meetings, we will discuss the rehabilitation and reassurance in the construction of identity city, and the significant way that shows, in São Paulo, changes of the individual behavior, and increased promotion activities and occupations in this urban space. The conceptual issues that this research’s embased, was extracted about the daily living and experience by the author in São Paulo – Doutor Rodrigues Guião Street and the “free streets”. Avenida Paulista, Avenida Sumaré, Major Walter Carlson Street , and Fondazza Street from Bologna. A referencial strategy was produced by the urban actions analisis on Vila São Francisco, that represents the line between São Paulo and Osasco. It was identified in this neighborhood an unused space to serve as a case study to urban trials, and to receive three intervention proposals, intended to give new meanings, to provide exchanges and possibilities of original uses in this place, that echo for the street and the (Re) mean as identity space of the city. KEY WORDS: Urban Intervention, Vila São Francisco, Street, Contemporary City, São Paulo.
RESUMO O trabalho consiste, primeiramente, em pesquisa sobre o espaço urbano contemporâneo apresentando uma análise de experiências e vivencias na cidade, mediadas pelo estudo de elementos que potencializam formas de convívio, produção social e trocas. Tendo como objeto principal a rua e sua capacidade de configurar-se como espaço de diferentes dimensões, transformações, mas principalmente como local que une o coletivo, a permanência, o lazer, e os encontros, refletiu-se sobre a reabilitação e reafirmação da mesma na construção da identidade da cidade, e o significativo movimento que evidencia, em São Paulo, mudanças no comportamento dos indivíduos, e o aumento da promoção de atividades e ocupações nesse espaço urbano. As questões teórico-conceituais que embasam o trabalho foram deduzidas das vivências da autora e das experiências com seu cotidiano na cidade de São Paulo - Rua Doutor Rodrigues Guião, e as “Ruas Abertas”: Avenida Paulista, Avenida Sumaré, Rua Major Walter Carlson , e em Bologna, Rua Fondazza. As análises destes fenômenos urbanos produziram referencial de estratégias para cogitar intervenções na Vila São Francisco, bairro na fronteira de São Paulo e Osasco. Identificou-se neste bairro um espaço inutilizado para servir de estudo de caso a ensaios urbanos, e receber três propostas de intervenção, destinadas a dar sentido, novos significados, propiciar trocas e possibilidades de usos originais neste lugar, que ecoem para a rua e a (re)significam enquanto espaço identitário da cidade. PALAVRAS CHAVE: Intervenção Urbana, Rua, Vila São Francisco, Cidade Contemporânea, São Paulo.
SUMÁRIO [1]INTRODUÇÃO .12 [1.1] [1.2] [1.3]
inquietações .13 a nova cidade .15 experiências e referências .21
[2] PERCEPÇÕES .38 [2.1] [2.2] [2.3] [2.4]
autores .39 escala .55 forma convidativa .63 entre as coisas .73
[3] ESTUDOS DE CASO .78
[3. 1] introdução .79 [3. 2] a rua dr. rodrigues guião .81 [3. 3] a av. paulista está aberta .91 [3. 4] ruas abertas e ruas de lazer .107 [3. 5] social street - rua fondazza .123
[4] INVESTIGAÇÕES .128 [4. 1] vila são francisco [4. 2] mapas .139
.135
[5] INTERVENÇÃO E
[RE]SIGNIFICAÇÃO .148
[5.1] [5.2] [5.3] [5.4]
ensaios .149 001 [sensações] .153 002 [corpo e memória] .163 003 [trocas bologna|sp] .175
[6] CONCLUSÃO .195 [7] LISTA DE IMAGENS . 200 [8] BIBLIOGRAFIA . 204
[1]. INTRODUÇÃO
12
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[1.1]
INQUIETAÇÕES A origem deste trabalho, tem sua fonte em
Essa reconstrução da cidade em mim ainda
inquietações nascidas no decorrer dos 5 anos da
mais se acentuou em decorrência de eu ter vivido a
faculdade de Arquitetura e Urbanismo, especialmente
experiência de um intercambio na cidade de Cambridge,
em momentos onde foram discutidos o uso do espaço
Inglaterra, no ano de 2013. Durante este período foram
urbano,
inevitáveis as múltiplas comparações no âmbito cultural
as
conduzidas
práticas
sociais
através
de
e
experimentações
referências,
projetos,
e urbano, evidenciadas sobremaneira pela questão da
intervenções, filmes, todas somadas, acrescidas as
escala estimulando-me a adotar uma nova visão de
minhas percepções pessoais extraídas do cotidiano na
cidadania imersa que estava como moradora de dois
cidade de São Paulo.
lugares, turista, observadora, visitante, parte de uma
Essas observações e inquietações levaram-me
nova sociedade.
a desvendar uma nova cidade. Uma cidade marcada
Cambridge, foi a porta para muitos outros
pela influência de múltiplas formas de consumo, de
espaços. A cidade facilitou visitas a outros países.
produção e de apropriação do espaço urban. A cidade
Diferentes organizações de cidades e espaços abertos
fragmentada em sua diversidade arquitetônica, sua
para o coletivo deram-me um grande acervo para
estrutura física percebida por diferentes temporalidades,
comparações.
cidade que estimula novas percepções e experiências
Foram alguns meses e quando retornei a São
individuais, oferecendo seus espaços públicos para o
Paulo ela já não me parecia mais a mesma. Eu estava
convívio.
com novos olhos. Nesse meu percurso de formação, | INTRODUÇÃO . inquietações
13
vivenciei uma nova experiência acadêmica que, junto
encontro e convívio.
das minhas inquietações me proporcionou um tema
Nessas novas condições, localizei necessidades
para uma pesquisa de iniciação cientifica: Cidade,
de promover atividades e eventos nas ruas, nas quais
Identidade,
residem a possibilidade da retomada de um novo
Efemeridade:
Video
Mapping
como
elemento de construção da identidade de São Paulo.
olhar para cidade, recuperando o contato com antigas
Essa pesquisa foi base para muitas outras
memorias e identidades. Sinalizando crescimentos
reflexões, e me ajudou a concluir, aproveitando
sociais e individuais que (re)significam essa nova
conceitos existentes, que as cidades são criadas por
cidade e seus diálogos.
espaços fragmentados, temporalidades e memórias sobrepostas – coletivas e individuais – e também são a paisagem constante da vida do indivíduo contemporâneo. Dessa forma, São Paulo passou a ter para mim uma dimensão diferente em relação ao seu antigo cotidiano caótico e acelerado, sendo nesse momento cenário de buscas por identidades, retorno da população ao espaço público e a forma como se se apropriam do uso nesta situação como meio de reflexão e lugar de 14
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[1.2]
A NOVA CIDADE Nos últimos tempos o espaço público tem sofrido
Há um esvaziamento da esfera pública que se
transformações e mutações, fruto do desenvolvimento
baseia na hipervalorizarão da intimidade (Simmel,1957)
acelerado das novas tecnologias móveis e digitais, do
e da privacidade. A sociedade do consumo muito nos
bombardeio de informações e imagens sobrepostas, da
condiciona, idealizando o espaço privado, seguro, no
liberdade de deslocamentos e usos, e dos movimentos
qual os processos de comunicação e a relação entre as
migratórios para as periferias, resultando numa
pessoas são pautados por redes sociais e ambientes
desocupação e fragmentação dos centros urbanos e,
virtuais, conduzindo a cidade a um plano secundário
consequentemente, desse espaço público.
ou até inexistente enquanto “lugar de troca e encontro”
A imagem desta nova cidade passou então a ser representada por uma sociedade imersa em distrações produzidas por dispositivos e telas, que não mais percebe o meio ao seu redor, perdendo o vínculo que se pode estabelecer entre o espaço físico e o sujeito, perdendo suas referências visuais, ignorando imagens que o espaço citadino é capaz de oferecer, e,
para os indivíduos. Segundo Marco Bastos, A liberdade se quer total, e por isso mesmo, ineficaz. Quando se viu, o sujeito era uma lenda e a lenda desapareceu. Só há indivíduos, muitos e diferentes. Fluem nessa nervura social e a tentativa de enquadrá-los dentro de uma totalidade coesa é vã. (BASTOS, 2007, p.09.)
consequentemente, alienando-se da arquitetura e dos eventos urbanos, elementos de orientação quando nos deslocamos pela metrópole.
A mesma paisagem urbana, nos dias de hoje, é percebida e interpretada de forma diferente, de | INTRODUÇÃO . a nova cidade
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acordo com o sujeito que a observa e seus objetivos. A velocidade com que se desloca o habitante pela metrópole mostra a pluralidade de tempos que ela é capaz de “produzir”, as diferentes imagens que é capaz de gerar, e que, ao mesmo tempo, mascaram a arquitetura e as formas urbanas que a identificam. Esta paisagem é marcada pelo surgimento de novos lugares voltados para o espetáculo e entretenimento.
[...] os elementos que trouxeram exatidão e impessoalidade a vida ordinária também criaram uma individualidade singular, que, para Simmel, é expresso pelo comportamento Blasé, fenômeno extremo da metrópole. A atitude Blasé seria o resultado de uma carga excessiva de estímulos contrastantes, em rápida mudança e compreensão exagerada, gerando uma espécie de indiferenciação no indivíduo aos fenômenos externos – tudo soa parecido, desprovido de novidade. (BASTOS, 2007, p.06.)
As ruas, as calçadas, as praças e importantes elementos dos espaços públicos tradicionais na história
Essa dimensão visual da cidade caracteriza-
da cidade, foram “ressignificados”, ou seja, ganharam
se, como um espaço que carrega diversos símbolos
novas conotações simbólicas e valores no contexto
e que é pautado pelo multiculturalismo da cidade
contemporâneo.
contemporânea com suas diversas temporalidades,
O caos urbano, a velocidade dos automóveis e a
constituída de memórias e histórias. Nessa dimensão,
vida agitada das metrópoles contemporâneas, aliados
identificamos,
à falta de segurança das ruas, criou um novo ambiente
representação da sociedade contemporânea: uma
muito pouco favorável para a vida comunitária nos
cidade reduzida à vida do indivíduo Blasé, pautada
lugares públicos, concretizando uma crise de identidade
pela falta de relação deste com o meio em que vive e
nas cidades.
com os outros indivíduos.
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de
forma
contrastante,
a
própria
Diante dessa problematização, surge no contexto
relações de intimidade, tanto com o próprio espaço,
urbano uma emergente noção em busca de um espaço
quanto na relação entre indivíduos, criando uma
transformado com a inserção de novos atores e da
experiência efêmera que possibilita a constituição de
humanização desses lugares. É neste contexto que
um novo lugar de pertencimento e da construção de
se originam as intervenções artísticas, o retorno de
identidades.
atividades projetadas para a rua, eventos em espaços
Essa mobilização por uma mudança torna-se
públicos, entre outros, que funcionam como práticas
ainda mais significativa nas últimas décadas, em
sociais comunicativas que nos permitem repensar
que determinados atores – artistas plásticos, artistas
o modo como nos relacionamos com o meio em que
midiáticos, artistas performáticos, coletivos, escritores
vivemos, seus significados, sua identidade e desenho.
etc. – percebem a necessidade de retomar a volta
Trazendo essa prática para a nossa discussão,
do olhar para a cidade, buscando através da arte um
o significado desses acontecimentos, em um espaço
contato com as nossas memórias e identidades. As
fragmentado como é a cidade (adotando como recorte
mutações sociais e a autonomia do indivíduo também
temporal o período entre o final do século XIX e o final
traduzem esse novo significado de cidade.
do século XX), elabora-se a partir das relações sociais
Recentemente temos observado que vem se
de grupos dos mais diversos seguimentos sociais,
desenvolvendo uma nova cultura do uso das áreas
que utilizam o meio urbano como espaço de diálogo.
públicas da cidade. Neste cenário reconhecemos
Funcionam, nesse sentindo, como catalisadoras de
lugares como a Praça das Artes, a Estação da Luz, a | INTRODUÇÃO . a nova cidade
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Pinacoteca, e as intervenções artísticas que surgem
o seu efeito especial, ademais, a intervenção deve
como um elemento efêmero no espaço urbano. Essas
ter uma existência passageira e buscar a inclusão
intervenções minimizam os impactos negativos do
dos espectadores ou habitantes. A necessidade de
espaço fragmentado, valorizando a cultura local,
humanizar o espaço público advém da vontade de
revivendo essas paisagens mortas e vazias, e,
voltar a rejuvenescer o centro urbano da cidade, e
quando não, resgatam e restauram seus contornos,
torná-lo um elemento apelativo aos cidadãos.
fortalecendo, de certa forma, a identidade local. Segundo Büttner, Podemos afirmar sem rodeios que a arte pode ser necessária. Ela dispõe de certa força, comprovada constantemente por meio de sua mutabilidade e capacidade de reagir diante de novas circunstâncias. Ultrapassando o seu caráter espetacular, a função da arte, que se resumia tradicionalmente em monumentos e símbolos representativos, acaba sendo redefinida diante da opinião pública. (Büttner, 2002, p. 77).
Büttner (2002) acredita que a arte pode exercer importante papel no cotidiano e que para produzir 18
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Vitalizar essas áreas públicas, com o intuito de revalorizá-las, possibilita ao espaço público assumir um papel importante no desenvolvimento da qualidade do espaço privado adjacente. Procura-se estabelecer uma forte relação entre forma, função e contexto urbano, reforçando o lazer, a oportunidade de ver, ouvir e sentir o espaço. Dentro dessa movimentação crescente, embora lenta, percebemos em São Paulo uma promoção de atividades e eventos nas ruas que sinalizam para uma possível transformação cultural capaz de valorizar a ideia de convívio, compartilhamento, identidade e real
ocupação de espaços comuns a todos. Assim, o presente trabalho pretende abordar a rua como um espaço de continuidade, de transição e permanência, segundo a ideia de lugar que tem sido uma presença constante na articulação do espaço urbano nas cidades. A rua como espaço de multiplas dimensões, transformações, mas principalmente como local que une o coletivo, a permanência, o lazer, a poesia e os encontros. A reabilitação e reafirmação da rua na construção da identidade da cidade.
| INTRODUÇÃO . a nova cidade
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[1.3] EXPERIÊNCIAS E REFERÊNCIAS EXPERIÊNCIAS Este capítulo apresenta exemplos de usos flagrados em ruas, que me ajudaram a construir e desenhar a proposta deste TCC, a partir das minhas vivências como espectadora, visitante e habitante, mesmo que provisória de outras cidades, no período em que morei fora do Brasil. Inicialmente organizei os registros fotográficos das experiências citadas, procurando entender e
a possibilidade de identificar formas de intervir nas ruas construindo nelas um espaço de convivência, de experiências coletivas e individuais. Adotei
como
procedimento
identificar
cada
imagem com um breve texto associado, de minha autoria, assumindo como legenda apenas a referência ao lugar e a data, uma vez que todas as imagens também fazem parte do meu acervo iconográfico de “memórias de viagem”.
discutir todas as influencias resultantes desses contatos projetando minhas expectativas para elaborar meu trabalho e minha formação em Arquitetura e Urbanismo. No conjunto de imagens que se seguem, estabeleci como parâmetro de observação destes espaços, a presença de indivíduos com interesses comuns, compartilhando experiências mútuas e desenvolvendo um forte sentimento de pertencimento ao meio urbano; | INTRODUÇÃO . experiências e referências
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Um dia comum da semana na cidade de Cambridge, em que a relação homem/rua já faz parte do cotidiano: observamos mães conversando, sentadas em bancos com seus carrinhos de bebê, pessoas conversando e vendo vitrines, tomando café etc. As pessoas que ali estão já criaram uma relação e identidade com esse espaço. A rua é fechada para carros, circulam apenas taxis. A proximidade da rua com o comercio e o serviço favorecem o usufruto do espaço, a contemplação e o estar.
Figura 1 – A caminho da escola (Cambridge, 2013) Fonte: Elaborada pela autora
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Um final de semana em Cambridge em que turistas e moradores tornam-se plateia de um grupo de músicos que se apresenta na rua, utilizando-a como palco, permitindo um momento de lazer e compartilhamento desse
espaço urbano.
Figura 2 – A arte de se aproximar (Cambridge, 2013) Fonte: Elaborada pela autora
| INTRODUÇÃO . experiências e referências
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Evento que ocorre uma vez por mês, em Cambridge, em uma das ruas principais do centro da cidade (Main Street). Barracas de comida, artesanato local, música e interação do espaço público e da rua com as pessoas. Apesar de ser uma das avenidas principais, percebe-se uma escala de arquitetura baixa, que proporciona uma relação de intimidade e conforto.
Figura 3 – Minha feira preferida (Cambridge, 2013) Fonte: Elaborada pela autora
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Assim como vemos nessa imagem, a rua é utilizado como espaço de estar, de encontros, de coletividade, contemplação. O fato dos indivíduos já estarem acostumados com as ruas fechadas para automóveis não modifica a constante transformação desse espaço, que acolhe diversas formas de usos.
Figura 4 – Hora do encontro é toda hora (Cambridge, 2013) Fonte: Elaborada pela autora
| INTRODUÇÃO . experiências e referências
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Quase não há distinção entre a rua e a calçada, não fosse pelo desenho e cor do piso. Neste local, isso acontece, pois há circulação de taxis, bicicletas e carros especiais. Independente disso há um respeito mútuo por essa circulação e pela rua como espaço de lazer, onde as pessoas criaram uma identidade e um sentimento de que isso tudo é normal e parte do cotidiano.
Figura 5 – Nosso cotidiano (Cambridge, 2013) Fonte: Elaborada pela autora
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Apesar de estamos discutindo o uso da rua, especificamente, aqui há um bom exemplo em que espaço público pode fazer parte da nossa rotina. A foto foi tirada numa quarta-feira, no horário do almoço. Percebe-se um momento de descanso, de encontro, de memorias. Pergunto-me, isso não poderia acontecer em São Paulo? Na rua?
Figura 6 – Porque não um piquenique? (Cambridge, 2013) Fonte: Elaborada pela autora
| INTRODUÇÃO . experiências e referências
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Figura 7 – Uma boa e nova Iniciativa (Cambridge, 2013) Fonte: Elaborada pela autora
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Evento promovido pelo Armazém da cidade, na Rua Medeiros de Albuquerque em abril de 2016. A rua, aberta normalmente para carros durante a semana, recebeu apenas pedestres, oferecendo opções diversas de lazer, encontros, música etc. Foi palco para diversas possibilidades de usos. Um espaço de lazer amplo que designava para cada indivíduo uma escolha e interpretação livre sobre o que fazer diante daquele espaço da cidade. Cada indivíduo se apropriou da rua de uma forma diferente.
| INTRODUÇÃO . experiências e referências
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Haviam ali memórias individuais e coletivas, indivíduos sendo convidados por outros indivíduos a se sentarem na rua e usufruírem daquele momento. Indivíduos apenas de “passagem”, uma banda de Chorinho e Samba se apresentando, e uma plateia que se espalhava em meio a cadeiras de praia e tapetes de grama sintética dispostos ao longo da rua. Bebidas e comidas faziam parte de todo esse espaço de encontro, piqueniques eram formados ao longo de todo o asfalto.
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Figura 8 – Rua pra todos (Cambridge, 2013) Fonte: Elaborada pela autora
| INTRODUÇÃO . experiências e referências
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Figura 9 – Quintal de casa (Cambridge, 2013) Fonte: Elaborada pela autora
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As pessoas ali, em sua grande maioria, vinham de outros bairros de São Paulo, e dividiam o espaço com os moradores dessa rua como se fossem vizinhos, como se compartilhassem de um mesmo interesse Observei as muretas e os degraus das casas utilizados como bancos, como apoio para a comida, para o violão... O giz de cera usou a rua como tela para brincadeiras e a mulher da casa vermelha, ao lado do armazém, deitou-se em uma canga e tomou sol por longas horas.
| INTRODUÇÃO . experiências e referências
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A cidade contemporânea se consolida como um espaço na qual emerge a diversidade, com multiplicidade de imagens, linguagens e informações, onde indivíduos se relacionam em contextos e espaços múltiplos e diversificados, contribuindo para a construção de sua identidade. É neste movimento que surgem eventos que buscam intervir e transformar o espaço urbano, atribuindo-lhe sentidos, significando-o a partir de encontros, experiências, e trazendo momentos de reflexões para aqueles que vivenciam esses momentos. Trago aqui, duas importantes e diferentes referencias, mas que sinalizam essas transformações, discutem e trazem novos ol hares para o espaço urbano já consolidado.
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Figura 10 – Virada Cultural Fonte: Site – Bia Ferrer – https://biaferrer.wordpress.com/eventos/video-mapping/virada-cultural-2014-video-mapping-no-mappin-spbrasil/
virada cultural Desde 2005, o centro da cidade tornou-se palco para a Virada Cultural - evento promovido anualmente pela prefeitura da cidade de São Paulo, que mobiliza, durante 24 horas, a metrópole e os seus atores (turistas, artistas, paulistanos), com intuito de promover a inclusão social, cultural e promover a identidade da cidade. Além de ser o cenário de intervenções urbanas e artísticas que acontecem sobre uma realidade pré-existente do centro, a Virada Cultural conta com a presença de performances, cinemas, teatros, que ocorrem, também no centro, em espaços amplos de vivência, como praças, instituições culturais (Sesc, Itaú Cultural etc.), prédios emblemáticos - e na própria rua, com objetivo de retomar, alterar ou acrescentar novos usos e funções, e promover a apropriação pela população daquele determinado espaço. Ao assumir o espaço público como um elo entre os indivíduos e a cidade, a Virada Cultural promove a criação de uma cidade que só existe em função de sua interação com o público e com o contexto na qual está inserida, e deixa de existir quando o período da exposição acaba. O evento que ocorre em diversas ruas do centro recebe intervenções que criam, para os habitantes e visitantes, uma nova experiência de cidade, e transformam a arquitetura em suporte para o dinamismo da arte na tentativa de romper com o estado padrão de inercia e cegueira em que as pessoas se encontram em relação ao uso do espaço público. A partir do inesperado, impactando na imagem cotidiana, é que se cria a sensação de pertencimento nas ruas da cidade.
| INTRODUÇÃO . experiências e referências
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Essa ‘’nova experiência de cidade’’, criada a partir do evento e suas intervenções, abarca a construção de uma nova identidade que não mais satisfaz só fins temporários, mas recupera novas percepções aos usuários da cidade – que perduram em sua memória. Já que esta manifestação efêmera tem começo, meio e fim, coube aqui analisar, brevemente, na sua relação com o meio, os impactos que quer causar, os imaginários que ela quer provocar. A primeira constatação da análise foi de que esta intervenção nos permite interligar a memória do centro de São Paulo à Arquitetura, que passa a funcionar como meio estimulante de reflexão do ser-na-cidade contemporânea, e sobretudo, como se fixa de maneira, forte, significativa, na lembrança das pessoas após seu término. As pessoas que vivenciaram essa experiência passam a ter um novo olhar diante dela, descaracterizando a ideia de que esta servia apenas como lugar de passagem ou de locomoção. Dessa forma, entendemos e interpretamos o espaço da Virada Cultural como catalisador e sinalizador de uma mudança de relações entre os indivíduos, o espaço público e o centro da cidade, e que ainda nos permite interligar a memória do centro de São Paulo à arquitetura e ao cotidiano.
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Figura 11 – Nuit Blanch Fonte: Site The Guardian – Alamy http://www.theguardian.com/travel/blog/2012/ oct/03/paris-nuit-blanche-festival-viewpointsmapping-no-mappin-spbrasil/
nuit blanche A Nuit Blanche é um evento anual (desde 2002) de arte que acontece durante toda uma noite e madrugada adentro em vários pontos de Paris. Ele oferece ao público acesso livre aos museus, instituições culturais e outros espaços públicos e privados da cidade, propondo percursos noturnos entre esses lugares, trajetos diferentes nas ruas, oferecendo aos turistas e moradores a possibilidade de experimentarem e contemplarem instalações efêmeras e performances artísticas em ruas, patrimônios históricos etc. O evento proporciona um olhar noturno sobre o espaço cotidiano do cidadão parisiense, convidando-o a novas percepções e vivencias com a arquitetura, a arte contemporânea e o espaço público e reforçando a vocação da cidade como referência de arte. As intervenções feitas no evento, usam esses diversos espaços como áreas de experimentação, tornando-as interfaces de uma nova concepção da cidade, e novamente, a arquitetura transforma-se em suporte para o dinamismo de imagens e objetos e obras. Esse conjunto pluri-contextual exposto, na Nuit Blanche, surge numa tentativa de romper com o estado padrão de inercia em que as pessoas se encontram diante da cidade, levando-as a uma nova reflexão e despertando-as para um novo tempo e espaço através da arte e da noite.
| INTRODUÇÃO . experiências e referências
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[2].PERCEPÇÕES
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[2.1]
AUTORES O espaço público é considerado um instrumento
fundamental para a qualidade da vida urbana, pode-
importante do homem contemporâneo, se entendido
se caracterizar o espaço público como um elemento
como lugar de encontro, como conjunto de lugares
estruturante das nossas ``novas’’ cidades, espaço de
significativos.
encontro e de coletividade.
A arquitetura, neste contexto, torna-se uma forma
Estando a identidade da cidade relacionada com
de regular as relações sociais e culturais, servindo
essas condições e elementos, a rua torna-se uma
como base das vivências humanas. Tendo isto em
marca temporal e social entre lugares, do passado e
conta, entendemos que a qualidade do espaço público
do presente, de convivência e circulação, permitindo
pode ter consequências diretas nas dinâmicas de uma
abranger extensões do espaço privado e público que
sociedade. As produções destes espaços têm como
expressam as características daqueles que a habitam,
objetivo a formação de identidades e o desenvolvimento
do âmbito individual ao coletivo, da rotina às poéticas
da capacidade de relacionar o todo, ordenando
urbanas.
relações entre as múltiplas formas de mobilidade e a permanência de pessoas. É no espaço social que se manifestam os grupos sociais, culturais e políticos. Compreendendo-se que no final do século XX há um retorno a este espaço como um instrumento importante de coesão social e material da cidade, e como condição | PERCEPÇÕES . autores
39
Como método de desenvolvimento dessa investigação, optamos pela busca de referências bibliográficas para fornecer à pesquisa possibilidades de reflexão em um campo discutido por arquitetos, na qualidade também de autores de obras, que documentam experiências e propostas de projeto. Assim, Lições de Arquitetura (1999) de Herman Hertzberger e Cidade para Pessoas ( data?) de Jan Gehl foram escolhidos como referências para determinados questionamentos deste trabalho. Estes autores ampliam o campo de diálogo com minhas percepções e constatações a partir das minhas experiências, e auxiliam na continuidade do projeto, especialmente pela relação destes, e da arquitetura que projetam, com aspectos do espaço público, das questões sobre identidade e coletividade, das experiências urbanas, memórias da cidade e dos indivíduos, etc. 40
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diálogo com
hertzberger Herman Hertzberger (1932) é um arquiteto
estimular a volta do uso da rua pelos moradores.
holandês contemporâneo de destaque e respeitado
” Essa abordagem vem sendo discutida com certo
teórico. Ele foi o principal condutor do movimento
alarde, pois alguns fatores hoje em dia desvalorizam o
estruturalista em seu país, surgido a partir da revista
espaço urbano, mais precisamente a rua, como espaço
Forum, vencedor do prémio Medalha de Ouro do RIBA
comunitário.
e reconhecido por projetos de escolas, projetos que
Hertzberger afirma o conceito de rua como espaço
enaltecem o espaço público e pela obra Lições de
de convivência, identificando nela uma oportunidade
Arquitetura (1999).
para que os moradores reconheçam pontos em
Identifiquei na obra de Hertzberger, inicialmente,
comum, e assim comecem a utilizar o espaço da rua
a preocupação com a definição e significado das
como território para trocar suas experiências. O autor
palavras ‘’publico’’ e ‘’privado’’, incluindo a reflexão
sinaliza, também, que, atualmente, este conceito se
sobre as questões que essas abrangem, como, por
restringiu com as pessoas se alienando e se isolando
exemplo, suas associações com os termos ‘’individual’’
cada dia mais.
e ‘’coletivo’’, que apontam, segundo interesse deste TCC, para o novo cenário da cidade de São Paulo.
Para Hertzberger (1999), é importante que a rua tenha “a qualidade de uma sala de estar, não só para
Atentando-me a focar no espaço (rua), observo
a interação cotidiana como também para ocasiões
que o autor defende em sua obra que ” o arquiteto deve,
especiais. ” (199. p.59), de modo que diversas
por meio de articulações na organização espacial,
atividades comunitárias sejam estimuladas a ocorrer | PERCEPÇÕES . autores
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neste espaço. Para atingir esta qualidade, ele destaca que se deve dar atenção à organização espacial da rua, para que os moradores tenham livre opção para se isolar em seu espaço particular ou para procurar pelo contato dos vizinhos no espaço público da rua. É nesse momento que se estabelece o contato social entre os moradores.
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Figura 12 – Forma Covidativa Fonte: Hertzberger, 1999.
Figura 13 – Forma Covidativa II Fonte: Hertzberger, 1999.
| PERCEPÇÕES . autores
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Figura 14 – Forma Covidativa III Fonte: Hertzberger, 1999.
Segundo o autor existem vários fatores que contribuíram para que a rua tenha perdido parte das suas capacidades sociais integradoras, tais como o aumento do tráfego, a organização sem critérios, tornado as vias indiretas e impessoais, e as construções em altura, que diminuíram o contato com a rua. As consequências por parte do decréscimo demográfico, bem como a melhoria das qualidades da habitação, tornam igualmente o espaço da rua menos habitado.
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Figura 15 – Forma Covidativa IV Fonte: Hertzberger, 1999.
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As situações em que a rua se torna uma extensão
Considerando essa mesma linha de raciocínio que
da habitação dependem tanto da qualidade arquitetônica
assegura a vitalidade do espaço público e do convívio
como do clima, sendo esses espaços aqueles em que o
como formas de potencialidades de vida da cidade,
tráfego do automóvel está distanciado, permitindo a boa
Jean Gehl estabelece uma importante discussão
comunicação entre vizinhos. As ruas de convivência,
histórica, referencial e atual de experiências capazes
como ele denomina, são, hoje em dia, principalmente
de transformar as dinâmicas dos espaços públicos, as
vias sem tráfego de automóvel. O conceito de rua de
relações dos indivíduos com a própria cidade e entre si
convivência é baseado na ideia em que os moradores
através de novas práticas e memórias urbanas.
tem ideais comuns, e, no entanto, essa afinidade tem diminuído, sobretudo pela necessidade crescente de manter o anonimato, almejada por parte dos indivíduos.
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GRRUA |
diálogo com
gehl Jan Gehl (1936) é um arquiteto dinamarquês,
Nas ruas residenciais, perto das escolas e
professor universitário aposentado e pesquisador,
locais de trabalho, onde as pessoas que circulam
reconhecido por obras e estudos realizados através
têm interesses comuns, Gehl reconhece haver
do princípio de melhorar a qualidade de vida urbana
uma possibilidade de estes espaços serem o
através da reorientação do planejamento urbano em
cenário dos cumprimentos entre conhecidos. As
favor de pedestres e ciclistas. Ganhador do prémio
pessoas caminham, sentam-se e conversam,
Medalha Príncipe Eugênio (2011) e escritor de obras
os espaços não se limitam à circulação, mas
como: How to Study Public Life (2013), Life Between
também a atividades recreativas ou sociais.
Buildings: Using Public Space (2006), cidade para
Assim, para o autor, a vida entre os edifícios
pessoas (2010).
oferece a possibilidade de estar com outros (Gehl, 2006).
| PERCEPÇÕES . autores
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Figura 16 – Tokyo Fonte: Ghel, 2010.
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Figura 17 – Public Life Fonte: Ghel, 2010.
| PERCEPÇÕES . autores
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Diante das realidades experimentadas e estudadas por Gehl é possível compreender, dentre outras coisas, que para ele as ruas, as avenidas, passeios, parques, e jardins são ambientes que devem configurar espaços de convívio coletivo, encontros, diversidade sociocultural, trocas, experiências de vida urbana. Deste modo o autor aborda a rua como espaço que se apresenta como lugar de expressão da vida social, onde é necessário que se estabeleçam condições para que ela atinja seu ideal perante a cidade. Dentre essas condições o autor propõe observar a circulação diária de pessoas, a necessidade da rua ser habitada, se adequar ao tipo de trafego condicionando elementos que possibilitam permanências e estadias prolongadas, os estímulos visuais que promove, as ocupações que se dão no nível térreo, e as surpresas que ocorrem ao nível dos olhos. A rua e o indivíduo que a percorre necessitam, para Gehl, de uma valorização proveniente de novos planejamentos urbanos, em busca de se conquistar uma cidade mais viva, mais segura, sustentável e capaz de proporcionar relações e trocas.
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Figura 18 – Cities for people Fonte: Ghel, 2010.
| PERCEPÇÕES . autores
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Figura 19 – Street Fonte: Ghel, 2010.
Considerando a cidade como lugar do coletivo, de experiências humanas, fazendo do espaço público um local de vivencias, sensações e potencialidades, há, na compreensão de ambos os autores, uma possibilidade de discussão comum sobre o fator pertencimento. Nas obras destes dois arquitetos, este conceito está intimamente associado com a questão da identidade do indivíduo. Hertzberger discorre sobre o fato de que o morador não se sente pertencente e nem dono inteiramente do local em que se insere, até que seja capaz de modifica-lo e de criar sua própria identidade. A partir do momento, então, em que cada indivíduo intervém na rua à seu modo, criando assim um espaço de convivência e uma identidade com a cidade particulares, criam-se expectativas mutuas e com sentimento de pertencimento, desse conjunto de relações entre as pessoas e destas com o ambiente em que estão inseridas. É a partir da ocorrência deste fenômeno que se constitui o coletivo, para Gehl. | PERCEPÇÕES . autores
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GRRUA |
[2.2]
ESCALA Dentre meus percursos pelas cidades, observações que se acumularam diariamente em meus trajetos e, simultaneamente, situações novas que vivenciei em São Paulo, identifiquei uma questão bastante recorrente, que me chamava constantemente a atenção: o efeito que a dimensão urbana, a escala das construções e dos muros exerce sobre nosso olhar. É curioso observar como a arquitetura impacta sobre nossa percepção e uso da cidade. Não se trata apenas de uma questão de escala, mas sim, e talvez, sobretudo, sensorial. Parece-me necessário acentuar como a escala influencia os sentidos de pertencimento, de segurança, de instinto de coletividade. As ruas, quando contornadas por edifícios altos e casas muradas, parecem estreitas e nos fazem sentir oprimidos em busca de uma fuga. Lembrei-me do livro Morte e Vida das Grandes cidades de Janes Jacobs (2000). [...] devem existir olhos para a rua, [...] os edifícios [...] devem estar voltados para a rua. Eles não podem estar com os fundos ou um lado morto para a rua e deixá-la cega. [...] A calçada deve ter usuários transitando ininterruptamente, tanto para aumentar na rua o número de olhos atentos quanto para induzir um número suficiente de pessoas de dentro dos edifícios da rua a observar as calçadas. [...] há muita gente que gosta de entreter-se, de quando em quando, olhando o movimento da rua. (JACOBS, 2000, p. 35-36)
Era evidente a desvalorização da escala humana, não apenas ali, naquela rua onde ocasionalmente eu passava, mas em outras centenas de ruas que se escondiam em meio a fachadas cegas e portões. Muitas dessas ruas não tinham nem ao menos calçadas, nem tão pouco apresentavam usos mistos para induzir, assim como cita Jacobs, o transito de indivíduos, o fluxo, o movimento e permanência. Experimentei andar por outros lugares da cidade, e me deparei com a Avenida Paulista. Os edifícios e suas proporções, capazes de alterar nossa percepção – efeitos positivos, negativos, neutros - traziam sensações associadas ao coletivo, sensações reais de pertencimento | PERCEPÇÕES . escala
55
da cidade. Comparando com o que vivi anteriormente em outras situações urbanas, em Cambridge, e mesmo outras ruas paulistanas, era claro que a largura da avenida, sua extensão, o tamanho das calçadas e a dimensão dos edifícios possibilitava essas sensações, portanto não sentia insegurança e nem acanhamento. A escala vertical parecia se abrir para o céu e no meu horizonte haviam centenas de pessoas, grupos, fluxos e momentos de estar compartilhando o espaço da avenida. Seguindo com minhas andanças pela cidade, fui até o bairro de Pinheiros, mais precisamente Vila Madalena. Em sua grande parte, as ruas desta região de São Paulo apresentam um gabarito pequeno e uma dimensão humana bastante presente. É como se as casas continuassem para as ruas, e vice e versa. Tudo lá constado fazia parte da cidade. O espaço social era produto de indivíduos que tinham interesses e experiências comuns. O espaço ali criado era resultado de relações entre as pessoas e a rua. Por serem de escala modesta, diferentemente da Avenida Paulista, nestas ruas a proporção com a arquitetura trazia uma sensação de aconchego, de desejo de proximidade. De certa forma resgatava memórias e uma vontade de permanecer naquele espaço. A vida entre os edifícios, entre as casas que presenciei, refletia-se na rua, como um espaço ‘’identitário’’ e significativo da cidade.
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Figura 20 – Espaço para todos (Paulista, 2016) Fonte: Elaborada pela autora
| PERCEPÇÕES . escala
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Figura 21 – Fique à vontade (Paulista, 2016) Fonte: Elaborada pela autora
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Para discutir essas percepções de escala,
cidades, combinando diversas atividades para tornar
encontrei nas obras de Ghel e Hertzberger debates que
esses espaços de transição, entre rua e construção,
abordam a influência da escala na vida da cidade. Gehl
significativos e atrativos. É uma provocação: é preciso
(2011) sustenta, entre outras teses, que uma cidade
ter um estudo especial destinado a essa questão, onde
para pessoas não tem edifícios altos, pois o contato com
se considere as pessoas mais importantes do que o
a vida da cidade só se pode obter até o quinto andar,
skyline. (GEHL, 2011, p. 60).
e que a questão da densidade se resolve com projetos
A questão da escala ocupa um lugar significativo
arquitetônicos orientados por uma ideia humanista. O
em nossas experiências; ela é um problema fundamental
conceito não se resume a retirar os carros das ruas e
para o arquiteto assim como para o morador da
diminuir a altura das edificações, mas compreender que
sociedade que a apreende através de efeitos sensoriais.
planejar primeiramente o que está planejado para estar
A partir disso, Hertzberger (1999) discute que, para que
diante dos olhos do pedestre, e pensar no convívio que
as pessoas se sintam parte do espaço, para que elas
será estabelecido a partir desta disposição, possibilita
interajam com ele, é necessário controlar a escala do
potencialidades tanto no âmbito arquitetônico quanto
lugar. O lugar não pode ser grande demais, por que
social. Para o autor, o arquiteto deve se preocupar
senão as pessoas ficam isoladas e não interagem umas
com a escala humana nas cidades. Para tanto, deve
com as outras, e nem pode ser muito pequeno para
buscar converter os espaços térreos dos edifícios em
que elas não se sintam intimidadas ou sintam como se
instrumento para qualificar a vida dos indivíduos nas
tivessem a privacidade invadida. | PERCEPÇÕES . escala
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Figura 22 – Dimensþes (Paulista, 2016) Fonte: Elaborada pela autora
Figura 23 – Posso ver e ser visto (Paulista, 2016) Fonte: Elaborada pela autora
| PERCEPÇÕES . escala
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[2.3]
FORMA CONVIDATIVA “A arte da arquitetura não consiste apenas em fazer coisas belas - nem fazer coisas úteis, mas em fazer ambas ao mesmo tempo – como um alfaiate que faz roupas bonitas e que servem. E se possível, roupas que todos possam usar, não apenas o Imperador. ” Lições de Arquitetura, Herman Hertzberger.
atento-me ás suas formas e usos e em suas diferentes interpretações. O desenho dos espaços que permitem o ir e vir, mas que também proporcionam o estar e o lazer, edifícios que possibilitam e aumentam o potencial de espaços públicos – ruas, praças, calçadas, parques etc. – através de formas que adquirem possibilidades diferentes de usos, sujeito a vontade dos indivíduos.
Inserida nesse universo composto pelas mais
A forma convidativa é um conceito utilizado por
diversas formas de expressões e de uso da cidade,
Hertzberger (1999) para propor uma arquitetura capaz
casualidades e percepções, passei a enxergar a
de potencializar a vida social no espaço urbano.
estrutura da cidade – ruas, calçadas, edifícios etc. –
Assim, o autor considera que as formas permaneçam
como espaços que deveriam permitir realizar várias
como resultado da mesma estrutura, mas possam ser
vivencias com qualidades como caminhar, descansar,
capazes de se adaptar e assumir novas aparências
estar sentado, entre outros. Isso porque essas
e usos, conforme as necessidades e desejos dos
possibilidades tornariam a cidade um lugar de encontro
usuários do espaço.
por excelência.
O arquiteto cita como exemplo o modo como os
Seguindo com meu caminhar pela cidade atento-
indivíduos conferem o papel de ``assento’’ a certas
me à tudo aquilo que me convida a experimentá-la,
estruturas e relevos diferentes: uma calçada, um | PERCEPÇÕES . forma convidativa
63
guarda-corpo, um desnível, um degrau, são capazes de invocar uma ação social que venha a desencadear um espaço onde diversas pessoas podem se sentar. Pensando as diversas funções que um único objeto pode possuir e consequentemente sua escala, podemos pensar o espaço da rua, a partir de sua extensão, como detentor maior dessas possibilidades de uso, ocupação e estímulos. De acordo com o autor a arquitetura deve ter
Figura 24 – Sala de estar (Paris, 2013) Fonte: Elaborada pela autora
interesse pela vida cotidiana, e, se isso ocorre, todo e qualquer espaço que se organiza terá inevitavelmente certo grau de influência sobre a vida dos indivíduos da cidade. Os estímulos, então criados pela rua, tem esse potencial como algo natural, já que proporciona, através de sua forma, um convite ao lazer, ao encontro de pessoas, ao passeio, ao estar etc. Figura 25 – Hora do descanso (Paris, 2013) Fonte: Elaborada pela autora
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Figura 26 – Quer dançar comigo? (Paris, 2013) Fonte: Elaborada pela autora
Figura 27 – Novo sofá (Paris, 2013) Fonte: Elaborada pela autora
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Figura 28 – Apropriação espontânea (Paulista, 2016) Fonte: Gabriela Massuda/Intagram
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Figura 29 – Preciso relaxar (Paulista, 2016) Fonte: Elaborada pela autora
| PERCEPÇÕES . forma convidativa
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Figura 30 – Observadores (Paulista, 2016) Fonte: Elaborada pela autora
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Figura 31 – Vislumbrar (Paulista, 2016) Fonte: Elaborada pela autora
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Figura 32 – Do sofá para a rua (Paulista, 2016) Fonte: Elaborada pela autora
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| PERCEPÇÕES . forma convidativa
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[2.4]
ENTRE AS COISAS
Percorrendo a cidade, sinto-me agora estimulada por novos fatores, novas formas. Deparo-me com detalhes que antes passavam desapercebidos. Sou capaz de entender pequenos recados que a cidade me envia através de suas manifestações urbanas, através de suas gentilezas e convites. Resolvi parar e me sentar, optei por um banco feito de madeira, daqueles que lembram varandas de uma casa de campo. O banco estava em frente à casa de uma rua qualquer. Era como se ele tivesse o papel de unir a casa à própria rua sem que houvesse um distanciamento entre ambas. Senti que estava olhando para o meu quintal. Um pouco mais ao lado reparei num pequeno caixote de madeira que conectava a casa a uma arvore e à calçada, onde duas mulheres conversavam com os pés apoiados. Elas pareciam fazer isso todos os dias, um momento de descanso. Entre a casa e a rua, entre o privado e o público havia um intervalo, algo que me fez sentir a sensação de pertencer àquele lugar. | PERCEPÇÕES . entre as coisas
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Figura 33 – Encosto (Paulista, 2016) Fonte: Elaborada pela autora
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GRRUA |
Início esse capítulo discutindo o termo ``intervalo’’.
relação entre os cidadãos e os edifícios, que assim se
Para Hertzberger, “O conceito do intervalo é a
sentem confortáveis e acolhidos no espaço. As escadas,
chave para eliminar a divisão rígida entre áreas com
os muros baixos, o degrau de entrada, os recortes
diferentes demarcações territoriais” (1999, p. XX).
dos vãos dos edifícios, são alguns dos elementos
Intervalo não é um espaço sobrante, mas um lugar de
que ajudam esta apropriação. Os cantos dos degraus
estar, de atividade e de convívio, algo necessário que
são também lugares bastante apropriáveis, já que as
aumenta a qualidade do espaço público de interesse
pessoas em grupo preferem sentar-se frente a frente
comum.
para assim conseguirem maior contato. Hertzberger
Com a ideia de “intervalo” identificamos uma área
denomina estes espaços de transição referidos como
de “rua”, onde os moradores estão envolvidos e onde
espaços intermédios, ― um lugar dito próprio (…)
eles próprios definem as suas demarcações coletivas
onde dois mundos se sobrepõem em vez de estarem
e individuais, ou seja, surge, a partir deste conceito, a
rigidamente demarcados. (2006, p. 52)
noção de um espaço comunitário. Em Cidade para Pessoas, Jean Gehl (2000) aborda a apropriação desses espaços intermediários como um fator que fortalece não só a apreensão da rua como um todo, contribuindo para um reforço da sua identidade, mas também como dado que enriquece a | PERCEPÇÕES . entre as coisas
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Figura 34 – Use com carinho (Paulista, 2016) Fonte: Elaborada pela autora
Figura 35 – Ponto de ônibus e de encontro (Paulista, 2016) Fonte: Elaborada pela autora
| PERCEPÇÕES . entre as coisas
77
[3]. ESTUDOS DE CASO
78
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[3.1]
INTRODUÇÃO Paralelamente à leitura das obras citadas neste
e comentado de cada momento que considerasse
trabalho, estabeleci uma pesquisa de campo não
interessante e que pudesse me apresentar uma nova
convencional, a partir dos conceitos e descrições que
concepção do que era o local. Juntamente às fotos
os livros tratavam. Observei semelhanças e diferenças
surgiram pequenos croquis daquilo que que eu julgava
destes aspectos em relação aos bairros que fazem parte
ter maior importância e inquietação. Pude então
dos meus trajetos diários e em relação às experiências
perceber ver como as captações sensoriais mudam
urbanas vividas.
conforme a evolução da pesquisa e do trabalho.
Durante todos os dias da pesquisa fiz visitas aos locais que escolhi, norteados por minhas leituras e percepções, procurando novos caminhos para abordálos, compreende-los, decifrá-los, novas sensações e novos olhares para poder entender suas realidades diante das questões discutidas sobre a cidade contemporânea, sobre a ressignificação do espaço da rua, suas necessidades etc. A pesquisa convencional de entorno, mapas e diagramas parecia-me fria e inadequada para tratar o tema. Além das visitas “técnicas” propus-me a fazer um registro fotográfico | ESTUDOS DE CASO . introdução
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GRRUA |
[3.2]
a rua dr. rodrigues guião - A pequena rua, na qual sinto-me estranhamente confortável em chamar de vila, manifesta-se para mim como uma “descoberta” no bairro de Pinheiros. Primeiramente, acredito que a empatia em nomeá-la de “vila” surge do seu aspecto familiar e aconchegante, que me remete, de alguma forma, a um passado que me agrada, a lembranças afetivas. A entrada da rua é marcada pelo encontro de dois domínios diferentes, dada a presença de um portão de entrada e saída que impossibilita a entrada de automóveis que não sejam de moradores. As árvores espalhadas presenteiam-na com uma forração repleta de folhagens nas calçadas, e que combinado a um velho banco de madeira, gentilmente plantado por um morador, dá ao lugar um ar doce e poético. Isso se repete em toda a rua. A frente das casas comporta-se como uma extensão de seu interior, conferindo um caráter intimista e pessoal, presente em todo seu percurso. Algumas fachadas, em tijolo, portas decoradas, com desenhos de janelas voltadas diretamente para a rua. Não vejo portões ou quintais estabelecendo afastamento; o contato é pronto e imediato, o que me faz pensar na relação entre os moradores dali. A sensação de acolhimento que sinto justifica-se uma vez que todos parecem se conhecer. A mesma doce lembrança dos tempos passados nos quais as pessoas viviam a relação amistosa que tinham com vizinhos. Por fim, os portões em suas extremidades delimitam esse mundo, como se de alguma forma mantivessem, do lado de fora, a agressividade de uma grande cidade e ali, permitindo à pequena rua ser Vila e aos seus moradores e aos pedestres serem parte de um respiro na metrópole paulistana. | ESTUDOS DE CASO . a rua dr. rodrigues guião
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Viver na cidade contemporânea, caótica e
desenho urbano que acaba mascarando sua existência.
tumultuada, atualmente, implica estar inserido numa
Esse desenho, a insegurança e todo o caráter histórico
dimensão visual e sensorial caracterizada por diversos
que envolve a identidade do bairro acabaram levando
símbolos, mas também reduzida à visão de um único
seus moradores a optarem por restringir o transito
indivíduo, sem vínculos com os espaços urbanos. A
de veículos de pessoas estranhas à rua. O controle
partir disso certas posturas começaram a ser adotadas
imposto pelos portões nas extremidades conta com
em busca desse vinculo, da identidade perdida.
áreas abertas para uma circulação livre de pedestres,
Somada a bibliografia técnica, visitas, e a
e assim, em meio aos espaços privados dados pelas
reconstrução conceitual de certos lugares me deparei
casas e escritórios, é instituído uma área pública, um
com uma situação que se encontrava em minha vida
lugar de lazer, de encontro, na própria rua.
todos os dias da semana, mas que ainda não havia
A qualidade desse espaço, restringido pelos
descoberto, ou não havia realmente despertado minha
portões, pode criar uma separação abrupta ou
atenção e olhar. Posterior a essas experiências passei a
harmoniosa, dependendo dos elementos presentes, ou
fazer uma nova leitura desse meu ambiente elevando-o
seja, a relevância das escalas, das formas convidativas
a uma numa concepção de vivencia e espaço urbano.
e dos intervalos aparece como uma variável importante
A vila, ou rua em questão encontra-se no bairro de
para ser considerada, quando pensamos na imagem
Pinheiros, em São Paulo, em meio a uma variedade de
que o ambiente produz para aquele que nele se insere.
restaurantes, residências, serviços e inserida em um
À primeira vista, é fácil se localizar num ambiente
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GRRUA |
confortável dado pela dimensão pequena das casas,
moradores que criaram e interferiram no espaço por
as sombras das arvores, as calçadas usadas como
conta própria, proporcionando o coletivo, a convivência,
varandas. A presença dos solários, exemplificada por
e a mesma sensação a pedestres que vêm de fora. A
Herman Hertzberger (1999) como um claro ambiente
arquitetura, os elementos, a rua, aparecem ali como uma
que conecta a casa à rua, e a de alpendres, é comum
oportunidade para promover relações interpessoais,
em todo o percurso, e faz um dos papeis daquilo
entre os cidadãos e a cidade.
que chamamos de intervalo, um espaço coberto ou sombreado em frente às residências e escritórios, um lugar de encontros entre vizinhos, descanso, um espaço para os pais aguardarem sentados os filhos voltarem da escola, ou apenas vê-los andando de triciclo. O entendimento de espaço público se faz através da possibilidade de convivência entre os grupos distintos, que, localizados em áreas privadas, juntos, compreendem também uma área comum. Os bancos, balanços, mobiliários, dispostos nas calçadas, encostados em frente às casas ou nas arvores demonstram a sensação de pertencimento dos | ESTUDOS DE CASO . a rua dr. rodrigues guião
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RUA COSTA CARVALHO
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4
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3
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1 5
RUA DR. RODRIGUES GUIÃO
RUA FERREIRA DE ARAUJO
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Mapa 01 – Rua Dr. Rodrigues Guião (Pinheiros, 2016). Fonte: Elaborada pela autora
Figura 36 – A planta é de todos (Pinheiros, 2016) Fonte: Elaborada pela autora
Figura 38 – Sejam bem-vindos (Pinheiros, 2016) Fonte: Elaborada pela autora
Figura 37 – Sente-se como quiser (Pinheiros, 2016) Fonte: Elaborada pela autora
Figura 39 – Compartilhe aqui (Pinheiros, 2016) Fonte: Elaborada pela autora
| ESTUDOS DE CASO . a rua dr. rodrigues guião
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Figura 40 – Passagem (Pinheiros, 2016) Fonte: Elaborada pela autora
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Figura 41 – Convívio (Pinheiros, 2016) Fonte: Elaborada pela autora
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Figura 42 – Sobre nós (Pinheiros, 2016) Fonte: Elaborada pela autora
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Figura 43 – Cidade-se (Pinheiros, 2016) Fonte: Elaborada pela autora
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[3.3]
a av. paulista está aberta -Baseada na experiência e no livro “Tentativa de esgotamento de um local parisiense” de Georges Perec, encarei a visita à Paulista de uma forma diferente. Em outubro de 1974, Georges Perec ficou por três dias seguidos na praça Saint-Sulpice, em Paris. Fez anotações de tudo que observou e presenciou, desses acontecimentos cotidianos na rua, as pessoas, o tempo, o espaço, os automóveis etc. A partir disso ele fez uma lista de tudo que ocorreu nesse espaço de tempo da cidade. Em março de 2016, fiquei por 2 horas seguidas sentada no asfalto da Avenida Paulista. Contemplei, observei e analisei essa novidade, talvez não tão nova assim, para os cidadãos de São Paulo. Presenciei uma intensa retomada do uso da rua como fazíamos antigamente, ou seja, um grande aglomerado de memórias individuais e coletivas. Vi piqueniques, pega-pega, dança, bicicleta, skate, cochilo, roda de leitura, etc. Ali não se via o cotidiano como a experiência de Georges Perec, uma vez que a avenida não se encontrava na sua situação de uso habitual. Talvez essas práticas venham se tornar parte de uma rotina de domingo, mas, naquele momento, se apresentava para mim como uma nova informação, uma intervenção no cotidiano da avenida e daspessoas. Depois de duas horas resolvi caminhar e fazer parte daquele momento de outra forma. Participei de um truque de mágica, usei algumas árvores como sombra, assisti a um teatro que usava parte da rua como palco, fotografei, andei sem rumo. A sensação que tinha, e também | ESTUDOS DE CASO . a av. paulista está aberta
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observava nas outras pessoas, era de que finalmente éramos parte daquilo e não mais invisíveis em meio a tantos edifícios e automóveis. A chance de intervimos da forma como queríamos num lugar historicamente importante da cidade e do nosso dia-a-dia trazia àquela experiência um caráter ‘’identitário”, de pertencimento, de quintal de casa. Pessoas de todos os cantos, de bairros diferentes, cidades e países diversos; estavam na rua por algo em comum, com expectativas mutuas, por um bem chamado cidade. Também me lembrei de Jean Gehl, quando em seu livro observou, “A vida na cidade é um processo de autoalimentação, de autoreforço. Algo acontece porque algo acontece. Porque algo acontece...”
A avenida foi aberta para os pedestres, alguém apareceu e levou uma toalha para estender no chão e fazer um piquenique com seus filhos. Logo em seguida duas moças que ali circulavam, com sanduiches nas mãos, também estenderam seus casacos no chão como se fossem toalhas sobre uma mesa. Os amigos levaram uma bola e no outro final de semana, mais amigos. A avenida foi aberta, e agora mais avenidas querem se abrir para pessoas que querem se encontrar. Depois de tanto observar e vivenciar essas experiências fiz também a lista referenciada por Perec. Sentei-me no degrau de uma escada e comecei a escrever: 92
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| ESTUDOS DE CASO . a av. paulista estรก aberta
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A iniciativa de fechar a Av. Paulista para automóveis
lugares significativos que permeiam as relações sociais
e abri-la para pedestres e ciclistas aos domingos, traz a
de grupos de mais diversos seguimentos sociais, lugar
discussão da cidade e de seu uso para uma nova fase.
de diálogo catalisador de relações de intimidade, tanto
São Paulo parece ter tomado uma nova
com o próprio espaço, quanto na relação dos indivíduos,
direção diferente da que tomava há alguns anos. Há pouco tempo crescia favorecendo a construção de shoppings, condomínios, sistemas viários pensados para o transito de carros etc. Nesse novo momento surge uma emergente noção de um espaço em transformação com a inserção de novos atores, uma população rejuvenescida e busca pela humanização dos espaços urbanos. Coletivos artísticos e urbanos, movimentos cicloativistas, eventos culturais e novos medidas municipais têm impulsionado ainda mais essa mudança. É nesse contexto, que a iniciativa da atual prefeitura de São Paulo, colabora para que o espaço público seja visto como lugar de encontro, como conjunto de 94
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criando experiências, divertimento, memórias.
Figura 44 – Cidade é para brincar (Paulista, 2016). Fonte: Elaborada pela autora
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Mapa 02 – Avenida Paulista - base de dados da prefeitura de SP. Fonte: Elaborada pela autora
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Figura 45 – Cidade é para dançar (Paulista, 2016). Fonte: Elaborada pela autora
Figura 46 – Lugar de encontros (Paulista, 2016) Fonte: Elaborada pela autora
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Figura 47 – Imaginação (Paulista, 2016) Fonte: Elaborada pela autora
Figura 48 – Traga sua bike (Paulista, 2016) Fonte: Elaborada pela autora
| ESTUDOS DE CASO . a av. paulista estĂĄ aberta
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Num primeiro momento, notamos que toda mudança gera alguma resistência, polêmica, até porque a ambiente rua pressupõe heterogeneidade e insegurança que não existe nos espaços fechados, mas hoje o fato dela estar ocupada com mesas e cadeiras de praia já foi praticamente absorvido por quase toda a população de São Paulo. Assim como o processo de implementação das ciclovias, por exemplo, que passou por muitos percalços até ser aceito e utilizado tal qual é hoje. Ambos, são objetos de discussões próprias de uma cidade contemporânea, em constante transformação. Quando isso acontece, quando as pessoas vão para a rua é que se passamos a pensar a cidade na qual queremos viver, explorando suas possibilidades. Diferentemente da minha rua Dr. Rodrigues Guião, a Avenida Paulista tem uma dimensão visual e sensorial grandiosa, caracterizada por enormes edifícios comerciais e coorporativos, parque, centros culturais, museus, universidades etc. Ainda assim, quando pensamos no fator escala e como ela influencia o convívio, os indivíduos que a frequentam , encontros e 102
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afins, identificamos na Paulista uma largura expressiva, assim como as calçadas que têm dimensões ideais para agregar momentos de estar, apresentações, feiras, conversas etc. São respiros em meio ao caos diário de uma metrópole. Os arranha-céus não nos pressionam, não nos impendem de interagir. Obviamente, a Avenida Paulista não é um lugar qualquer. É uma região de alta qualidade urbanística, e de fácil acesso por transporte público. Mas o que essa experiência deixa claro é que não precisamos de certo tipo de urbanismo, e que, em nome de criar espaços públicos e áreas de lazer, promove-se uma exagerada exploração do espaço, exigindo muitos recursos para sua implementação e manutenção. Por outro lado, investir em boas calçadas, com piso adequado, em arborização e iluminação, manter limpas e bem conservadas as ruas, o simples funciona perfeitamente como prática social comunicativa. É um espaço que permeia nossas rotinas, e assim nos faz repensar o modo como nos relacionamos com o meio em que vivemos.
Figura 49 – Vamos todos juntos (Paulista, 2016) Fonte: Elaborada pela autora
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Figura 50 – Memória da infância (Paulista, 2016) Fonte: Elaborada pela autora
Figura 51 – Além da faixa de pedestre (Paulista, 2016). Fonte: Elaborada pela autora
| ESTUDOS DE CASO . a av. paulista está aberta
105
106
GRRUA |
[3.4] ruas abertas e ruas de lazer 331 é o número de ruas residenciais, atualmente em São Paulo, que são fechadas para automóveis e abertas para pedestres aos domingos e feriados. Essas vias fazem parte de um projeto da década de 70 feito pela prefeitura de São Paulo, nomeado como “Rua de Lazer”, com a intenção de levar a pratica de atividades físicas e culturais aos moradores do local implantado. Para a iniciativa ser instalada exige-se a adesão de 80% dos moradores ao projeto. Inicialmente a medida contava com 1.058 endereços cadastrados, mas, com a transformação da cidade, o desenvolvimento acelerado das novas tecnologias, a liberdade de deslocamentos e usos, o aumento de números de carros, e, consequentemente, um esvaziamento da esfera pública que se baseia
na hipervalorizarão da intimidade, do privado, da falta de vínculos e identidade, o número foi reduzido a 331 ruas. Com o desenvolvimento de uma nova cultura de uso das áreas públicas da cidade, e de uma mobilização em prol de mudanças, houve uma retomada do projeto, por parte da atual gestão da prefeitura de São Paulo, no ano de 2013, em busca de uma reformulação e incentivo para a melhoria e aumento das “Ruas de Lazer”. Paralelamente a isso, dentro deste desejo de transformação urbana, surge a iniciativa do programa “Ruas Abertas”, da gestão do atual prefeito Fernando Haddad (PT). O objetivo é abrir, para pedestres e ciclistas, ruas e avenidas de grande relevância para a cidade no perímetro de um a três quilômetros, aos domingos e | ESTUDOS DE CASO . ruas abertas e ruas de lazer
107
feriados, das 10h às 17h. O programa busca estimular a criação de atividades artísticas, esportivas e gastronômicas nos bairros e promover a geração de renda, assumindo, então, um papel importante no desenvolvimento da qualidade do espaço urbano. Busca-se estabelecer uma forte relação entre forma, função e contexto urbano, reforçando o lazer, a oportunidade de ver, ouvir e sentir o espaço, através da arquitetura e da intervenção urbana. Para serem definidas as ruas que farão parte do programa foram feitas audiências públicas para discutir e debater com os cidadãos as ações do projeto. Além da Avenida Paulista, já citada no trabalho, integram a lista, até o momento, mais 16 ruas da cidade. Dessas, duas foram escolhidas para serem analisadas neste trabalho, como estímulos à ocupação da cidade, e selecionadas a partir de suas proximidades com as demais áreas de estudo de caso. 108
GRRUA |
À primeira vista, sinto-me parte de um lugar que sugere novas memorias e também o resgate delas. A sensação de estar em casa num bairro que nem mesmo faz parte da minha vida, deu-se a partir das minhas lembranças ao ver as crianças jogando bola, ralando o joelho no chão, brincando de pega-pega, os pais e as avós sentadas nas calçadas jogando conversa fora. As crianças se espalhavam por todo o espaço exercitando sua criatividade ao usarem a rua de formas diferentes, usando-a como tela de desenho, quadra, amarelinha etc. Aquele aspecto familiar me trouxe aconchego, e isso estava refletido em cada pessoa que estava ali. Presenciei ali um espaço em constante transformação e estimulo para a relação entre os indivíduos e cidade, para a construção de identidades e memórias. As duas ruas nas quais vivi essas experiências, apresentaramse de formas diferentes, mas todas eram apropriadas por cidadãos reivindicando o
espaço da cidade. A reivindicação na rua 01 foi mais agitada, pessoas de muitas idades, famílias, mas principalmente a presença da prática de exercícios que se dá principalmente pela existência da ciclovia ao longo da avenida e do terreno plano que possibilita corridas mais agradáveis e em grupos. Lá, não me senti num cenário aconchegante e familiar, mas me senti parte de um contexto urbano, daquilo que chamamos de metrópole. O canteiro central me convidava para sentar, as arvores me chamavam para usá-las como sombra, a área me deixava livre para usufruir como eu bem queria e a corrida frenética das pessoas em seus exercícios físicos me impulsionava a fazer o mesmo ao longo da avenida. Diferentemente da outra, a rua 2 tem em toda sua extensão algo que me chama muito a atenção, uma praça. Pressupõe-se que a presença de um espaço público como esse conectaria os moradores e qualificaria a
cidade, porém, nesta área, não havia um uso ativo desse espaço pela má manutenção e por seu desenho nada funcional, fazendo com que os moradores buscassem outra alternativa repensando a rua como lugar possível para esse cenário. Observei em cada uma delas que, quando os moradores se apropriam do espaço público, normalmente destinado aos veículos, os residentes sentem e exercem seu direito à cidade, reforçando, assim, as relações afetivas com os vizinhos. Lembreime, de certa forma, da rua onde trabalho já que ambas possuem um caráter acalentador devido a menor dimensão das casas, que prioriza a escala humana, os olhares e a segurança vinda da janela e do quintal do vizinho.
| ESTUDOS DE CASO . ruas abertas e ruas de lazer
109
rua 01
av sumaré
A avenida, que tem ao todo 1,8 quilômetro de extensão, tem grande importância para a mobilidade urbana da cidade de São Paulo. Em seu trajeto há diversos serviços e empreendimentos atrativos que caracterizam sua dimensão na cidade, num contexto de escala urbana bastante significante com medidas largas de rua e calçadas, presença de áreas verdes etc. É uma via de transito rápido, com uma extensa ciclovia, que agora é contemplada – no trecho que compreende a Praça Márcia Aliberti Mammana e a rua Ministro Godói - com o programa aos domingos para poder reunir os indivíduos que moram no bairro e outros que vem para visitar essa nova área pública. Essa rua, depois de aberta, já presenciou corridas de carrinho de rolimã, barracas gastronômicas, treinos esportivos, intervenções artísticas, abrigou contadores de histórias e diversas brincadeiras em diversos eventos que ocorrem também em datas festivas e simbólicas da cidade – aniversário de São Paulo, Virada Cultural etc.
110
GRRUA |
Figura 52 – Brincando de criar (São Paulo, 2016) Fonte: Elaborada pela autora
| ESTUDOS DE CASO . ruas abertas e ruas de lazer
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GRRUA |
Figura 53 – Respiro (São Paulo, 2016) Fonte: Elaborada pela autora
Figura 54 – Vendo a rua passar (São Paulo, 2016) Fonte: Elaborada pela autora
| ESTUDOS DE CASO . ruas abertas e ruas de lazer
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Figura 55 – Programa Rua Aberta (São Paulo, 2016) Fonte: Elaborada pela autora
| ESTUDOS DE CASO . ruas abertas e ruas de lazer
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rua 02
rua major walter carlson
Localizada no Butantã, no distrito Raposo Tavares, a rua é, sem dúvida, um importante exemplo de apropriação do espaço urbano pelos moradores. Ao ser fechada para veículos aos domingos e feriados, possibilita-se um encontro que foge da rotina habitual dos indivíduos, criando uma dupla transformação: no sujeito, que passa a resignificar sua relação com a cidade, e no espaço, que se modifica de sua função usual. Como paisagem urbana a rua é estritamente residencial, possui um gabarito baixo e conta com longa praça. Com a tranquilidade significativa da rua, mas também a vontade instalada em seus moradores de interagir com a mesma, a proposta de agregar o espaço privado (casa), com a rua e a área verde (praça) surge como uma ótima forma de interação com o espaço público por meio de intervenções artísticas, eventos culturais, rodas de leituras, esporte e brincadeiras, criando, assim, novos caminhos para as relações sociais.
116
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Figura 56 – Descobrindo a cidade (São Paulo, 2016) Fonte: Elaborada pela autora
| ESTUDOS DE CASO . ruas abertas e ruas de lazer
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Figura 57 – O palhaço o que é? (São Paulo, 2016) Fonte: Elaborada pela autora
Figura 58 – Sobre histórias e encontros (São Paulo, 2016) Fonte: Elaborada pela autora
| ESTUDOS DE CASO . ruas abertas e ruas de lazer
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Figura 59 – Uma nova plateia (São Paulo, 2016) Fonte: Elaborada pela autora
Figura 60 – Vem todo mundo! (São Paulo, 2016) Fonte: Elaborada pela autora
| ESTUDOS DE CASO . ruas abertas e ruas de lazer
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122
GRRUA |
[3.5] social street - rua fondazza Para
compreender
como
algumas
cidades,
e sua capacidade de isolar, mas também de facilitar
além de São Paulo, têm buscado proporcionar novas
a comunicação, criou um grupo fechado numa rede
experiências às pessoas surgiu como estudo de caso
social (Facebook), chamado Residenti in via Fondazza
e exemplo de ideia uma iniciativa vinda da cidade de
– Bologna (moradores da rua Fondazza-Bolonha) para
Bolonha, Itália. Diferentemente de metrópoles como
estabelecer um primeiro contato com a vizinhança.
Londres e Nova Iorque, que tem discutido a questão
No grupo, expos suas reflexões e propôs que todos
dos espaços públicos a mais tempo e se tornado
participassem ativamente da rua onde moravam. O
referencias em grandes projetos que permeiam a
segundo passo foi escrever cartazes e pendura-los na
relação do homem com a cidade, Bolonha tem se
rua convocando a todos a participarem dessa iniciativa.
tornado um símbolo de mudança, nesse sentido,
Os cartazes foram arrancados, e mais uma vez ele os
através de seus próprios moradores. Em 2013,
pendurou. Aos poucos, as pessoas foram surgindo
Federico Bastiani, morador da rua Fondazza, vendo
e encontrando sentido na ideia. Em três semanas, o
seu filho jogar bola sozinho na calçada em frente sua
grupo chegou a 70 vizinhos.
casa se deu conta que ambos não conheciam nenhum
“A sociedade está cada vez mais individualista e
vizinho e tão pouco participavam do bairro. A reflexão o
nos momentos de crise isso atinge um nível excessivo.
induziu a alguns questionamentos e inquietações que o
O isolamento dá medo. E saber que não se está sozinho
conduziram a uma decisão, se comunicar. Sabendo da
é uma sensação boa” Federico Bastiani, criador da
importância do mundo virtual em que estamos inseridos,
social street Residenti in via Fondazza | ESTUDOS DE CASO . social street - rua fondazza
123
O movimento começou a crescer rapidamente, todos tinham em comum a busca por uma relação que estava perdida atrás do espaço virtual e da rotina caótica. Passaram a formar encontros, eventos, brincadeiras, piqueniques, relações reais e cordiais. A sala de estar se estendeu do interior da casa para a rua, a sensação de pertencimento trouxe pessoas de fora, o almoço de domingo para a calçada, a arte para os muros etc. Os moradores da rua começaram a compartilhar serviços, experiências de uso diferentes, resignificaram um espaço e o nomearam de Social Street. Atualmente a iniciativa se expandiu para outras ruas da Itália e inclusive da Argentina e Chile, além da criação de um site (www.socialstreet.it) que pretende servir de orientação para qualquer grupo Social Street do mundo.
124
GRRUA |
Figura 61 – Arte de fazer arte (Bolonha, IT. 2016) Fonte: Facebook Social Street https://www.facebook.com/Social-street-International-644306475619488/
Figura 62 – Nossa varanda (Bolonha, IT. 2016) Fonte: Facebook Social Street https://www.facebook.com/Social-street-International-644306475619488/
Figura 63 – Almoço de domingo (Bolonha, IT. 2016) Fonte: Facebook Social Street https://www.facebook.com/Social-street-International-644306475619488/
| ESTUDOS DE CASO . social street - rua fondazza
125
Figura 64 – Compartilhando (Bolonha, IT. 2016) Fonte: Facebook Social Street https://www.facebook.com/Social-street-International-644306475619488/
126
GRRUA |
Figura 65 – Entre as coisas, entre nós (Bolonha Fonte: Facebook Social Street https://www.facebook.com/Social-street-Internat al-644306475619488/
a, IT. 2016)
tion-
Figura 66 – Um mapa coletivo (Bolonha, IT. 2016) Fonte: Facebook Social Street https://www.facebook.com/Social-street-International-644306475619488/
| ESTUDOS DE CASO . social street - rua fondazza
127
[4].
128
GRRUA |
INVESTIGAÇÕES
Partindo das experiências mencionadas, das
e (re)significá-la.
definições estabelecidas nos capítulos anteriores e da
Amparada por leituras, referências, informações,
imersão no universo contemporâneo - que concebe
e motivada por questionamentos e conversas flagradas
transformações e mutações constantes
como uma
entre habitantes locais, a hipótese de assumir a rua
característica evidente do século XXI–, compreende-
como um instrumento significativo na vida desses
se a significativa influência dessa “nova cidade” no
indivíduos amadureceu como tema do Trabalho de
comportamento individual e coletivo da sociedade,
Conclusão de Curso, entendendo que a produção deste
provocando reflexões, sugerindo novas possibilidades
espaço tende a promover o aumento de relações, de
de apreensão dos espaços e gerando movimentos
usos, de múltiplas formas de mobilidade, permanências
urbanos que buscam construir a identidade da cidade
e coletividade. Embora seja importante perceber que | INVESTIGAÇÕES
129
a vivencia subjetiva de cada um, o encontro de
abranger extensões do espaço privado e público,
cada indivíduo com essas situações, e a forma como
expressando as características daqueles que habitam,
cada um interfere e cria ao seu modo, coloca em
na instância individualou coletiva, nas expressões de
exercício sentidos e experiências únicas, estas ações
rotina e nas poéticas urbanas.
tendem a resultar em compartilhamentos econvívio, já
Como meio que é, a rua, deve provocar, entre
que surgem pontos de interesses comuns promovendo
cidade e usuários, oportunidades de interação. A forma
o movimento de utilização da rua como território de
que possui naturalmente nos convida a usá-la e ocupá-
trocas e pertencimento.
la de diversas maneiras, retirando a necessidade de se
É
se
explorar e programar novos e caros projetos de espaço
torna uma forma de regular as relações sociais,
público. A rua é, portanto, um espaço que permeia
compreendendo que a qualidade do espaço público
nossas rotinas e por isso carrega uma característica
pode ter consequências diretas nas dinâmicas de
“indenitária” significativa que facilita o reconhecimento
uma sociedade, poisa produção e a reflexão destes
ou manifestação da a sensação de pertencimento, assim
espaços facilita a formação de encontros e identidades.
como determinados elementos que encontramos nela,
Estando, então, a identidade da cidade relacionada
fazem repensar o modo como nos relacionamos com o
com essas condições e elementos, a rua torna-se uma
meio em que vivemos. O desnível de uma calçada, a
marca temporal e social entre lugares, do passado e
dimensão da própria rua e das calcadas, a existência de
do presente, de convivência e circulação; permitindo
fachadas ativas, térreos abertos, ciclovias, alpendres,
130
nesse
GRRUA |
contexto
que
a
arquitetura
mobiliários urbanos, degraus, todos são elementos que
maneiras de permanecer, de sentar, de se reunir
funcionam como catalisadores, tanto com o próprio
com amigos e vizinhos, etc. Além de iniciativas e
espaço da rua, quanto na relação do espaço urbano
programas como o “Ruas Abertas”, a promoção de
dos indivíduos.
eventos e a provocação que esses trazem a partir de
Viabilizar a apropriação desse espaço nos faz
suas intervenções no espaço público, desencadeia
refletir sobre as possibilidades da cidade ser utilizada,
sensações também expressivas para a ressignificação
e como podemos interferir nela ao nosso modo a fim
da rua.
de voltarmos a fazer parte desse todo, resgatar e
Trazendo
essas
conclusões,
estabelecidas
criar memórias. Quando se propõem a abertura de
até então, para a procedência e discussão deste
ruas apenas para pedestres e ciclistas, coloca-se em
trabalho, a relevância dessas intervenções, em um
cena todos esses valores e a reflexão, tanto daquele
espaço fragmentado como é a cidade contemporânea,
que observa, quanto daquele que usufrui do benefício.
conduziu-me a novas análises de ressignificação da
Ambos são convocados a repensar a rua e o espaço
rua e à comparação com de minhas experiências ao
público como um outro lugar possível e convidativo.
longodo caminho com o lugar onde moro.
A ideia de que a rua pode ser palco para
O movimento constante da cidadesugeriu-me
brincadeiras, cinema, shows, festas, manifestações
para novos materiais a serem explorados, iniciativas
artísticas ganha novas proporções, e se torna plausível
que retomam e discutem o ser-na-cidadee que
vê-la com outros olhos e identificar, na mesma, novas
possibilitaram-me enxergar, nas ruas do meu próprio | INVESTIGAÇÕES
131
bairro,oportunidades com escalaspossíveis para
mudanças da cidade contemporânea; [3] levantamento
o exercício(e aplicação em projeto) de proposta de
material- mapas de usos, gabaritos, fluxos, cheios e
intervenções, baseadas nos conceitos estudados e nas
vazios, público e privado; [4] levantamento sensorial
análises geradas, dentro da dimensão do Trabalho de
através da observação e convívio com o espaço em
Conclusão de Curso.
dias e horários diferentes (estudo da ocupação e dos
Estabelecido o bairro da Vila São Francisco, Zona
elementos que compõem o espaço, observação das
Oeste de São Paulo, como área inicial de analise,
dinâmicas locais e comportamento dos transeuntes); [5]
identifiquei a importância de explorar espacialmente o
cruzamento de mapas, para analisar as informações
local a fim de compreender a situação atual em que
obtidas sobre o espaço mais a relação das informações
se encontra organizado, e significado simbólico do
flagradas durante as visitas;
mesmo, na história da cidade e na minha própria - uma vez que é o bairro em que nasci e resido até hoje. Para isso defini uma metodologia de trabalho que assume os seguintes pontos: [1] levantamento de dados históricos do bairro, abordando desde a origem do espaço até sua configuração atual; [2] análise da transformação sócio espacial do bairro considerando as atuais 132
GRRUA |
Figura 67 – Vila São Francisco, 2016. Fonte: Elaborado pela Autora
| INVESTIGAÇÕES
133
1955 Oficialmente o primeiro loteamento organizado e dividido em ruas, pela empresa São
1936 Área urbana pertencente à família italiana Matarazzo e dividida em três grandes fazendas, a região começou a ser aberta a estradas e fazer parte de um possível projeto de loteamentos.
1970
conjunto com a companhia Comércio Agrícola Industrial Grama, ambas da família Matarazzo. A extensa fazenda ia desde a divisa com o atual município de Osasco-SP até às margens do Rio Pinheiros. De seu desmembramento, surgiram inúmeros bairros, como Rio Pequeno, Jaguaré, Parque dos Príncipes, Jardim Guadalupe (Osasco-SP), Cidade São Francisco, entre outros.
Origina-se uma Vila Militar de casas, construídas pelo Exército brasileiro. O surgimento da vila contribui para o crescimento do bairro, com a abertura de escolas municipais e particulares, e a vinda de diversas famílias, incluindo a minha.
O industrial italiano Francesco
A família Matarazzo, em conjunto com o Cardeal
Matarazzo, passa a fazer diversos
Dom Agnelo Rossi, constroem a capela de São
desmembramentos da referida
Francisco de Assis com o intuito de atrair pessoas
fazenda.
para a região assim como o desenvolvimento da
1950
134
Francisco de Administração e Comércioem
GRRUA |
região. Ocorre o prolongamento de ruas, aumento de loteamentos, e crescimento de comércios.
1960
[4.1]
VILA SÃO FRANCISCO 1980 - 1985
2000 A formação de um espaço apenas para automóveis começa a se concretizar e os
Começam a surgir prédios residenciais e
condomínios passam a se isolar do bairro
condomínios de médio e alto padrão.
assim como os próprios indivíduos.
Grandes loteamentos designados A Cia. Grama passa a vender os lotes da antiga
a condomínios de alto padrão,
Fazenda Matarazzo para outras empresas
inauguração de um parque pertencente
como Ionian, Gafisa, Camargo Correa entre
aos condomínios e a construção de um
outras e institui um desenvolvimento acelerado
significativo centro comercial com banco,
do bairro. Até então mantem-se a presença de
academia, restaurantes etc.
um gabarito de até 2 andares com um desenho favorável para o pedestre. A abertura de farmácias, padarias etc.
1980
1990 - 1995
As casas da antiga vila militar são todas comércios e serviços, a verticalização torna-se a primeira opção para os novos moradores que chegam no bairro. O mercado imobiliário investe na compra de lotes e na construção de novos condomínios com áreas de lazer privativas. Não se vê mais pessoaspelo bairro, apenas carros. A opção de transporte público é escassa e apenas encontrada na Avenida Corifeu de Azevedo Marques.
2005 - 2010 | INVESTIGAÇÕES . vila são francisco
135
2010 - 2016 A redução da ação urbana, ou seja, o empobrecimento
da
experiência
urbana
na
região, assim como na maior parte das cidades
suas características e tem suas relações cada vez mais diminuídas diante do isolamento e anonimato desejado por parte dos indivíduos.
contemporâneas, leva ao bairro uma perda de
O habitante do bairro, naquele momento, fazia
relações, o espaço urbano torna-se um simples
parte de uma massa, de um coletivo vivendo num
cenário, sem corpo, sem identidade. Assim como já
sistema programado e as experiências particulares do
discutido, anteriormente, neste trabalho, o conceito
indivíduo na cidade acabaram sendo eliminadas – o
de rua de convivência, defendido pelo arquiteto
homem tornou-se uma figura genérica (DARODA, 2012,
holandês Hertzberger( 1999) , segundo o qual
p. 30).
os moradores reconhecem pontos de interesse
No entanto, foi a constatação dessa situação que
em comume assim começam a utilizar o espaço
levou determinados indivíduos da cidade,portanto, do
da rua como território para trocas, não mais se
bairro, a repensarsuas relações com o meio onde vivem
aplica ao bairro. Ospróprios moradores, residentes
e retomarsua atenção e desejo de desenvolver ações
desde os anos setenta, aproximadamente, não se
para a área.
reconhecem neste espaço que perdeu muitas de 136
GRRUA |
Em 2015, a implantação de ciclo faixas no
bairro, assim como em toda São Paulo, trouxe uma
Os praticantes ordinários das cidades atualizam
discussão extremamente importante para a cidade,
os projetos urbanos e o próprio urbanismo, através da
não só pela mobilidade urbana oferecida, mas pela
prática, vivência ou experiência dos espaços urbanos.
ressignificação do desenho e do uso do espaço
Os urbanistas indicam usos possíveis para o espaço
público. Na Vila são Francisco é visível o aumento de
projetado, mas são aqueles que o experimentam no
ciclistas e consequentemente de pessoas praticando
cotidiano que os atualizam. São as apropriações e
esportes e pedestres optando por este meio de
improvisações dos espaços que legitimam ou não aquilo
transporte. Considerando que cada indivíduo pode
que foi projetado, ou seja, são essas experiências do
acumular diferentes percepções, resultado das mais
espaço pelos habitantes, passantes ou errantes, que
diferentes experiências urbanas vividas por cada um,
reinventam esses espaços no seu cotidiano (JACQUES,
essas mudanças e a intensidade dessas experiências é
2008).
determinante na sua forma de inscrição na cidade, e, ao
Ainda que haja essa movimentação crescente,
se fazer isso de forma coletiva, no bairro onde residem,
percebe-se um processo lento de conexão com o bairro
conferem ainda mais significado e vivacidade ao local,
e parte dessa condição dá-se pela falta de qualidade
legitimando-o verdadeiramente como espaço urbano.
do espaço público, da estrutura viária, da forma como | INVESTIGAÇÕES . vila são francisco
137
se concebem os projetos residenciais e comercias através de enormes muros, que excluem a relação com a rua e o pedestre, assim como a falta de iluminação e segurança que tornam inviável vivenciar e experimentar esse espaço de maneira adequada e positiva. Para compreendermos a situação visualmente e analisarmos tecnicamente, realizei visitas periódicas ao local, durante os meses de julhoa setembro deste ano, a fim de criar uma compreensão melhor do local, levantar informações, e pontuar ações necessárias diante de suas qualidades e adversidades. Tendo isso como princípio elenquei o levantamento através de mapas de estudo de caso.
138
GRRUA |
[4.2]
MAPAS fluxos moradores
pedestres da escola e padaria moradores
pedestres da escola
pedestres que usam o serviço
LEGENDA fluxo de automóveis fluxo de pedestres
| INVESTIGAÇÕES . mapas
139
gabarito
LEGENDA 1 e 2 pavimentos 1 a 5 pavimentos 6 a 10 pavimentos 11 e 12 pavimentos acima de 12 pavimentos
140
GRRUA |
movimento
LEGENDA permanência em fds permanência diária bloqueio por muros
| INVESTIGAÇÕES . mapas
141
público privado
LEGENDA privado público vazio
142
GRRUA |
sensorial
LEGENDA possibilidade de lazer possibilidade de encontros coletivos
| INVESTIGAÇÕES . mapas
143
usos
LEGENDA institucional comércio residencial área verde serviço uso indefinido
144
GRRUA |
A partir dos levantamentos realizados no local,
A viela em questão começa na Rua Passagem
identifiquei uma viela com potencial para ser um
Sete e terminando na calçada da Avenida Corifeu de
instrumento de conexão entre rua e usuários – moradores
Azevedo Marques. Em seu prolongamento há um lado
e demais usuários da cidade. O local onde está inserida
inteiramente murado que faz fronteira com um terreno
e sua relação direta com as quatros ruas adjacentes,
particular atualmente utilizado como estacionamento e o
sendo três delas ruas sem saída, sugere oportunidades
outro lado que possui acesso de 9m, aproximadamente,
de encontro, coletividade e lazer. O fato da viela atravessar
às passagens 7,6,5,4 intercalado com os muros laterais
essas ruas permite que ela seja adotada como um
das casas e algumas plantas.
elemento de transição e até mesmo um convite para os moradores, e demais pedestres, para se apropriarem e usarem o espaço da rua. | INVESTIGAÇÕES . mapas
145
p4 p5 p6 p7
p4 - passagem 4 p5 - passagem 5 p6 - passagem 6 p7 - passagem 7 146
GRRUA |
p7
p6
p6
p4
p6
p5
p4
p4
p4
p6
p4
p6
| INVESTIGAÇÕES . mapas
147
[5]. INTERVENÇÃO E [RE]SIGNIFICAÇÃO
148
GRRUA |
[5.1]
ensaios
No início deste trabalho, elencamos a escala, a
pelo desnível que é usado eventualmente como local
forma convidativa e oentre as coisascomo elementos
de apoio e para sentar-se, pelos alunos das escolas
de extrema relevância para se pensar uma cidade para
mais próximase até mesmo limite para estacionar
pedestres e para o convívio, portanto, entendo como
carros. Em uma das ruas o desnível é maior, o que
necessária a mesma abordagem para apreender esse
não torna o lugar tão acessível como os demais, mas
lugar. O muro possui 2m50cm e o gabarito das casas
como interferência e apropriação do espaço, um dos
não ultrapassa dois andares (aproximadamente 6
moradores moldou uma pequena escada de cimento
metros), possibilitando que estejam próximas da escala
para facilitar a passagem da rua para a viela. O trajeto
humana, ponto importante para que se possa obter
é fácil, sendo o terreno plano, e não há iluminação
contato visual com a vida da cidade e a sensação de
pública, o que torna o local inseguro e inutilizado e
bem-estar, segundo Gehl (2011). Os acessos ás ruas
evitado durante a noite.
são aberturas diferenciadas pelo piso que se altera e | ENSAIOS
149
É um lugar que passa desapercebido pelo olhar
e projetar a cidade buscando formas de compreender
da maioria das pessoas, assim como as próprias ruas
como podemos proporcionar condições para que seus
conectadas a ele que servem cotidianamente como
usuários imaginem, criem, percebam e, através do
estacionamento e passagem. Denomino-o lugar, pois
convívio, gerem novas experiências no espaço urbano.
segundo Certeau (1998), lugar é “[...] uma configuração
É a partir dessa concepção que proponho alguns
instantânea de posições. Implica uma relação de
objetos e intervenções que serão aplicados através de
estabilidade”, por exemplo uma praça ou uma avenida
três ensaios e investigações nesse lugar que passarei a
quando planejadas e construídas, ausente de significado,
chamar de espaço.
assim como se encontra a viela em questão. Para
Segundo o filósofo Merleau-Ponty(1945), adoto
Certeau (1998), podemos entender o espaço como
para essa viela da Vila São Francisco, São Paulo, o
a prática do lugar, ou seja, como os indivíduos o
conceito de espaço espacializante, ou seja, lugar
transformam a partir das suas ocupações, apropriações
em que a forma e seus demais elementos se organizam
e vivências.
gerando a noção de um espaço capaz de assumir
Tomando como base os conceitos abordados por
diferentes configurações e de se reorganizarem entre
Hertzberger(1999) e Gehl(2011) ao longo do trabalho,
si, sendo potenciais criadores e transformadores, não
as demais analises de outros autores, como a de
apenas de um espaço, mas, sim, de múltiplos espaços
Certeau (1998), e as experiências vivenciadas, ficou
possíveis dentro do campo da cidade.
claro, para a autor deste TCC, a importância de pensar 150
GRRUA |
O espaço não é o meio (real ou lógico) onde se dispõem as coisas, mas o meio pelo qual a posição das coisas se torna possível. Significa que ao invés de imaginá-lo como uma espécie de éter onde se banham todas as coisas ou de concebê-lo abstratamente como um caráter que lhe seja comum, devemos pensá- lo como a uma força universal de suas conexões. Portanto, ou eu não reflito, vivo nas coisas e considero vagamente o espaço ora como meio das coisas, ora como seu atributo comum, ou então reflito, recoloco o espaço em sua origem, penso atualmente as relações que estão sob essa palavra e observo então que elas só vivem por um sujeito que as descreve e que as mantém, passo do espaço espacializado ao espaço espacializante. (MERLEAU-PONTY, 1999, p.328)
corpografías e trocas. O fio condutor dessa ideia é o estimulo ao uso da rua através de elementos que potencializam
formas
de
convívio,
permanências,
produção social e que gerem diferentes dinâmicas de uso e apropriação, atuando, dessa forma, nareabilitação e reafirmação da rua na construção da identidade da cidade. Parto da premissa que, a relação entre indivíduo e cidadedá-se através da memória urbana,de experiências na cidade e do convívio dentro do espaço enquanto vivido. Dado isso, os ensaios apresentados visam flagrar um processo de geração de possibilidades, mas que só serão legitimadas através da pratica, da memória, e da interaçãodaqueles que experimentam as ruas no seu
Esse espaço urbano será estimulado por uma
cotidiano.O caminho para alcançar a cidade se faz pela
prática que chamarei de ensaio e que, por sua vez,
experiência, pela vivência que se traduz numa
elege o processo como metodologia de trabalho,
permanente invenção do cotidiano (CERTEAU,
sendo resultado de diferentes investigações sensoriais,
1995, p. 202, apud DARODA, 2012, p. 20). O desafio em se pensar esses ENSAIOS como | ENSAIOS
151
estratégia de projeto é buscar compreender como é possível viabilizar condições para que se gerem experiências agradáveis diante desse espaço que, atualmente, oferece condições
negativas.
Como
sensibilizar o indivíduo contemporâneo que possui uma relação tão automática com a cidade? Como fazer estes usuários se perceberem como parte da cidade, como transformadores do espaço urbano? Como transformar o espaço num convite e conectalo com a rua? Considerando todas essas questões, os ensaios foram divididos em três momentosque considerei importante para acomodar e responder todo esse universo de percepções e investigações:
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[5.2]
001 [sensações]
[1] Inicialmente o primeiro ensaio dará continuidade ao processo que vem sendo discutido no trabalho através das sensações e do olhar, capazes de nos deslocar do estado de inerciae nos transportar para reflexões, percepções e, dessa forma, convidar-nos a interagir com o espaço. Este ensaio se apresentará através de intervenções que, ao se manifestarem, ao serem ativadas, formam novas espacialidades e ecoam, através da repetição e das sensações, para a rua, que sucessivamente ecoa para o indivíduo, que ecoa para a cidade.
| ENSAIOS . 001 [sensações]
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1.1Ver através Experimentando através do espaço, o usuário é convidado a se mover de diferentes formas para poder interagir e descobrir por dentro das frestas um novo olhar, sentir novas texturas na parede, diferentes escalas que ocorrem a partir do ângulo que se olha, possibilidades que se dão através da luz que atravessa os rasgos por entre o limite do muroe se manifestam no asfalto, no corpo etc. Essa intervenção tem a intenção de transformar a interação do espaço com o corpo numa percepção da memória que é vivenciada com todos os ambientes que compõem aquela experiência.
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1.2 Ábaco Ultrapassando o limite criado pelo muro, faço dele um objeto. Faço dele um pedaço transformado da cidade. Um recorte em frente à rua abre espaço para um equipamento que se utiliza de outros limites impostos pelos indivíduos que acabam excluindo a própria rua da cidade. São esses limites: placas, correntes e palavras negativas que impedem a entrada e uso do espaço. Buscando conectar o indivíduo a toda essa atmosfera, utilizo as placas e as transformo em possibilidades de uso e interação, capazes de estimular reflexões sobre o direito a cidade e principalmente a rua. Assim, permitese, espontaneamente, a mudança de palavras, o dinamismo da brincadeira, o encontro etc. 156
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1.3 Céu Proponho a repetição de um objeto, que remete aos cones encontrados na rua, como forma de apreensão da imagem e do olhar diante da cidade. Provoco a desconstrução da imagem fixa de PROIBIDO ENTRAR, limitada pelos cones, e a construção de uma provocação ao usuário através de uma cobertura que cria uma nova espacialidade, um novo ambiente. Enquanto caminha o usuário é estimulado por novas sensações que surgem a partir das cores, das texturas, das escalas diferentes que se manifestam por cima dos indivíduos e do trajeto. O cone, que compõe o espaço, introduz novas possibilidades que ainda não podemos perceber, uma experiência única para cada um. 158
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1.4 Luz “Pode-se dizer ao pé da letra que o espaço se sabe a si mesmo através do meu corpo”(MERLEAU-PONTY, 1975, pg.437). O envolvimento do corpo, dos indivíduos neste processo é fundamental. É um conjunto de experiências físicas e sensoriais constatadas através do espaço e da ocupação. Mais do que um indivíduo, a intervenção torna-se ainda mais intensa com a presença de mais pessoas, e, portanto, reconhecemos a importância do coletivo e do convívio para se reafirmar o uso desse espaço como um eco para a rua e a permanência na memória. Todo esse diálogo é proporcionado por um trajeto de círculos interligados no chão e no muro que, ao serem tocados pelos usuários, iniciam uma interação através de luzes e cores. Quanto mais usuários mais luzes e cores aparecem e formam possibilidades diferenciadas de imagens. O contato cria uma corrente condutiva que acende, ao mesmo tempo, o círculo do chão e o do muro, relacionando os dois suportes em planos distintos. A intenção é promover aproximação e encontro entre as pessoas e a cidade. 160
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[5.3] 1 Capítulo 3.1, pág. 123
002 [corpo e memória] [2] O segundo ensaio abordará a troca como corpo de intervenção estabelecendo um encontro entre São Paulo e Bologna. Em contato com a iniciativa da Social Street criada na Itália
1
surgiu a oportunidade de vivenciar e experimentar pessoalmente o projeto durante os meses de setembro e outubro de 2016.- Bologna, la rossa, la dotta e la grassa. A primeira impressão que a cidade nos deixa é de uma identidade multicultural e de uma diversidade enorme. Logo de início sintome anestesiada por seus arcos e sua característica cromática vinda de sua coloração avermelhada, originada por seus tijolos. A cor confere uma atmosfera singular ao lugar e se soma à presença de pessoas usando a rua como lazer para torná-la uma cidade única. Esses elementos fazem um elo com a arquitetura e os espaços formados pelo desenho urbano. É uma cidade marcada pela multiplicação de formas de arte, de produção, apropriação do espaço público, em uma estrutura física concebida por diferentes temporalidades, que sugerem novas percepções e possibilidades de uso no espaço urbano. A presença dos arcos, as praças usadas como palco e espaço de contemplação juntam-se aqueles que caminham e humanizam todo o desenho da cidade. A promoção de atividades e eventos nas ruas são acontecimentos constantes que valorizam a ideia de convívio, compartilhamento, identidade e real ocupação de espaços. Estão presentes, no cotidiano do centro, manifestações artístico-culturais e uma diversidade histórica, étnica e de valores físicos materiais e simbólicos que o representam simbolicamente. A experiência tornou-se ainda mais enriquecedora quando meu deparei, finalmente, com a Via dell’Indipendenza que se abre apenas para pedestres no final de semana. A avenida | ENSAIOS . 002 [corpo e memória]
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é palco para mesas, apropriações, almoços, arte e memória. Seguindo por ela, numa caminhada de aproximadamente trinta minutos deparei-me com a Rua Fondazza e pude experimentar a atmosfera e real proposta do que havia estudado até então. Gosto de pensar que fui surpreendida por situações inesperadas, mas que na verdade eram simples momentos provocados pela forma convidativa que se deduzia através da arquitetura e desenho do espaço, a escala agradável que possibilitava um espaço de permanência e afetivo para seus moradores e o entre as coisas que era resultado dos arcos, o percurso oferecido, e bancos recém colocados pelos usuários. Ao assumir o espaço público como um elo entre os indivíduos e a cidade, a iniciativa assumiu a rua como ela deve ser, que existe em função de sua interação com os usuários, e com contexto na qual está inserida, sendo dessa forma adotada por esses como parte de sua história. Pude vivenciar um aniversário com a presença de uma mesa de um dos vizinhos com direito a ‘una bella pasta’, um show de jazz, um piquenique, brincadeiras etc. O projeto urbano criado pelos próprios moradores, resgatou uma discussão importante sobre a interação entre as pessoas e a rua através da memória da infância, das diferentes formas de apropriação e experimentação coletiva. Apesar das diferenças geográficas, históricas e arquitetônicas, ambas as cidades evidenciam um movimento crescente de mudança e busca por uma cidade para as pessoas. Escolhida a Via Fondanzza e a Via dell’Indipendenza (Bologna) como reflexão e analise para essa intervenção, em conjunto com as ruas e a viela de estudo, optei pelo levantamento fotográfico como forma de investigação 164
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2
Elemento de contestação ao aparente caos da realidade em constante transformação do período entre as duas grandes guerras, a fotomontagem foi um método de criação e uma nova modalidade de expressão que teve como precursores, por exemplo, a Arte Moderna e Giulio Carlo Argan, abraçada pelos dadaistas, construtivistas russos e surrealistas. As fotomontagens dos dadaístas de Berlim e dos construtivistas russos possuíam como característica comum uma dimensão ética e estética extremamente conectada com o desejo de romper com os velhos estatutos da arte assumindo sobreposições, produções fragmentadas, abusando das linhas de força do plano e com diferentes usos de escala e dimensões. Satírica ou apologética, elas sempre buscavam uma decodificação reflexiva e rápida de sua mensagem pelo observador.
2 e a fotomontagem para a concepção deste ensaio. A fotomontagem por sua vez, consiste na combinação de fotografias ou de fragmentos delas, que se desdobra em diversas possibilidades de modo a criar uma nova imagem e significado. Proponho essa abordagem cruzando diferentes espaços e tempos em imagens relacionadas, a partir de fotografias feitas no espaço de intervenção e nas minhas vivencias nas ruas de Bologna. Levada por tudo que analisei até agora e inspirada pelo personagem flâneur de Baudelaire*, explorei as duas cidades, observei seus fragmentos, e através das lentes e do olhar captei relações, intervenções, trocas, arquitetura, espaço público e indivíduos etc. Adotando como processo a desconstrução da cidade e da imagem fixa que temos dos dois lugares, o foco é redescobrir e construir, através de diferentes cenas (espaço), significados e de vários instantes de cada cena (tempo), um novo olhar e uma nova visibilidade, capaz de provocar e incitar novas possibilidades e interpretações.
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[5.4] 003 [trocas |
bologna/sp]
[3] O terceiro ensaio investigará uma proposta de intervenção que anseia relacionar o corpo e a cidade através de equipamentos urbanos projetados para criar situações que estimulam diferentes usos e apropriações e que ressignificam o espaço. Como objeto base para essas provocações escolhi o muro e os desníveis da viela. A partir desses elementosarquitetônicoscriarei convites à interação entre corpos – dos usuários, dos objetos, dos elementos que compõem o espaço – e a própria rua, reconhecendo e reconstruindo a mesma. | ENSAIOS . 003 [trocas | bologna/sp ]
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Mesa - Articulada
Mesas com tampo em madeira, fixadas em uma superfície de concreto por intermédio de mãos-francesas articuladas
Armário
em mandeira com portas venezianas, e compartimentos internos.
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Espriguiçadeira
em madeira com seus assentos retrateis para melhor comodidade do usuário.
Banquinhos
em madeira, alojados em vĂŁos abertos sob medida, em uma superfĂcie de concreto.
Horta Vertical
Cultivo de ervas e temperos em caixotes de madeira reaproveitados, parafusados em uma superficie de concreto
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[A passagem sete é uma das pontas onde se inicia a viela e a única onde não há um contato imediato entre a rua e o caminho do espaço em si, portanto, escondo-o ainda mais dos indivíduos e da cidade. Ao contrário das outras ruas, nesta não há um desnível, mas a continuação do muro que carrega consigo um caráter de limite, barreira. Nas diferentes casas há, por trás das grades, quintais onde as crianças brincam e pequenas hortas que se intercalam entre carros e bicicletas guardadas. Há poucas experiências visuais e principalmente físicas, já que o local não inspira o encontro de pessoas e tão pouco a relação imediata entre corpo e cidade. O movimento constante é de automóveis e as janelas são estáticas e fechadas, não havendo olhos para a rua e nem a vitalidade necessária para que exista como espaço e não um local. 178
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Buscando criar e viabilizar elementos que
incentivem o uso coletivo e social que a rua é
estimulem os indivíduos a se encontrarem e se
capaz de proporcionar para a cidade, encorajando
tornarem usuários daquele espaço, identificando-
diferentes usos e apropriações.
se com o mesmo, resolvi tomar como partido a
A horta será o elemento principal de conexão
presença do muro e assumi-lo como suporte para
e será acompanhada por alguns encaixes
uma horta vertical e comunitária, propondo uma
feitos no muro e que receberão alguns cubos,
experiência agradável, tanto corporal quanto visual,
garantindo oportunidades para se sentar, para
capaz de integrar o objeto com a rua e com o
apoiar, para brincar etc. Essa ação, que traz vida
usuário. A escolha da horta comunitária como objeto
e ativa o espaço, conduz a pequenas e novas
foi motivada pelo efeito que este artefato ocasiona
espacialidades criadas temporariamente pelos
nas pessoas, evocando a memória das cidades do
próprios indivíduos dentro do espaço maior que
passado que conviviam e se organizavam através
é a rua, e agrega motivos comuns para que haja
da natureza. A horta traz à lembrança de se estar
trocas e encontros entre os vizinhos. ]
vivenciando uma experiência natural e orgânica, que não mais se vive na cidade, e possibilita a troca de informações e conversas breves enquanto se planta e colhe, compartilhando o benefício com outros moradores. A ideia é que esses elementos conectados | ENSAIOS . 003 [trocas | bologna/sp ]
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[A passagem seis possui uma forma convidativa mais expressiva que as demais devido ao desnível entre a viela e a rua que sugere diferentes formas de apropriação e uso assim como a continuação do espaço até o muro. Infelizmente o vazio, a carência de elementos que provoquem os sentidos físicos e visuais, e a bolha que se insere a sociedade atual, não viabiliza essas possíveis experiências dinâmicas e sensoriais. Diante disso proponho uma intervenção inspirada em situações que vivenciei em Bologna e que acredito serem estímulos significativos para funcionarem como praticais sociais propulsoras da retomada do espaço da rua e do dialogo da mesma com os indivíduos, principalmente moradores. Trabalharei com a continuidade do mobiliário urbano da passagem sete articulado com o muro e com a mudança 182
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do caráter do mesmo para uma tela de possíveis
deste, sugerindo apropriações para outros
manifestações artísticas que se darão pela
eventos, como pequenos shows ao ar livre, e
presença de vazios passíveis de intervenção
proporcionando a permanência e a sensação de
criados por tapumes como se fossem rascunhos,
pertencimento. ]
materiais de pintura – pinceis, sprays, tinta, giz etc. – e a existência de um telão capaz de receber um cinema ao ar livre. A estrutura do cinema se dará através dos bancos que servirão de assento para a plateia e apoio para que se projetem vídeos eventualmente através da lona, permitindo às pessoas repensar o modo como se relacionam com o meio em que vivem e usufruir de momentos de lazer. Além do mobiliário feito através dos cubos, proponho bancos que se utilizam do desnível como meio de encaixe e encosto para descanso, capazes de configurar, de formas diversas, o espaço ao redor, estimulando a ocupação | ENSAIOS . 003 [trocas | bologna/sp ]
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[ Aberta para o portão do colégio e para
corpo e das diferentes formas de uso. Amparada
a área de maior fluxo dentre as demais, a
pelas experiências vividas e a necessidade e
passagem cinco possui uma demanda maior
apropriações espontâneas flagradas no espaço,
de áreas de estar, já que alunos e moradores
tomo como partido o espaço de convívio através
frequentam aquele ponto especifico da viela como
de mesas, aberturas ou janelas – como quiser
local de encontro e passagem durante o dia. Há a
chamar – momentos de estar dados através
necessidade de humanizar esse espaço público
das possibilidades de se sentar na janela, de se
e torna-lo um elemento, dentro da cidade, ainda
fazer um pic-nic etc. Adotarei o uso da madeira
mais apelativo para esses usuários que, apesar
e tapumes para criar os mobiliários e conversar
de frequentarem, o fazem com desconforto,
com a paisagem desse espaço urbano, propondo
insegurança e não vislumbram o espaço da rua
ideias de compartilhamento entre os usuários e de
em si.
promoção de mais atividades que ecoem a partir
Essas barreiras criadas, inclusive pelo muro,
dessa já gerada pelos objetos. ]
serão substituídas por mobiliários articulados aos 3 objetos de intervenção: RUA, VIELA e MURO. Serão soluções baseadas no estar, no lazer e nas relações sociais. Os equipamentos deverão dialogar e reconfigurar o espaço através do | ENSAIOS . 003 [trocas | bologna/sp ]
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[A passagem quatro possui uma entrada
e a cidade mas agora com elementos que
mais estreita e um fluxo maior de crianças
incentivam a contemplação e o encontro através
que dura um intervalo pequeno no período da
da rede e a janela, que abre o cenário para a
manhã. É um espaço fechado, mas composto
continuação da cidade, brincadeiras e memorias
por relações espontâneas que acontecem
provocadas pelos balanços e skates. A ideia
ocasionalmente entre a rua e os moradores. A
dessa instalação é criar uma nova espacialidade
partir da minha intervenção procurarei fortalecer
de lazer, concebendo um lugar de relaxamento e
essa troca e provocar novos estímulos e
interação capaz de convidar pessoas a também
sensações que concretizem o espaço como lugar
transformarem a rua a seu modo, estabelecendo
de possibilidades diversas de lazer e coletividade.
novos cenários e reflexões sobre a rua. ]
Para tornar isso uma possibilidade viva e pulsante, evoco, mais uma vez a Social Street, em que a presença das crianças e da memória que abarca a infância contribui muito para qualificar a rua e atrair diversas manifestações e apropriações sociais. A proposta mantem a linha de raciocínio das demais através dos equipamentos urbanos desfazendo os limites físicos entre os indivíduos | ENSAIOS . 003 [trocas | bologna/sp ]
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[6]. CONCLUSÃO
194
GRRUA |
[6.0]
CONCLUSÃO
Este trabalho manifestou-se inicialmente através
direção a seleção do meu objeto de estudo principal:
de inquietações e experiências pessoais que me
a rua. Compreendi sua capacidade de configurar-se
levaram a esse tema e à escolha de estudá-lo nesse
como espaço de diferentes dimensões, transformações,
ano de conclusão do curso de arquitetura e urbanismo.
mas principalmente como local que une o coletivo, a
No início, o TCC1 representou uma imersão na cidade
permanência, o lazer, e encontros.
e na sociedade contemporânea, acentuando meu olhar
Através de experiências em campo, e análises
crítico e minhas reflexões. Amparada por referencias,
de estudos de caso na cidade de São Paulo, investiguei
leituras e vivencias deparei-me com três questões
uma maneira de rediscutir e (re)significar a rua na
fundamentais para a discussão pretendida, que
construção da identidade urbana, o que resultou
potencializaram minha visão diante do espaço urbano:
na intensificação da minha percepção como futura
forma convidativa, escala e entre as coisas. Esses
profissional e como cidadã, inserida nesse contexto.
conceitos e seus desdobramentos nortearam-me em
Além do aspecto sensível e afetivo, e de troca | CONCLUSÃO
195
constante com a cidade, que caracterizam a forma
posto, o envolvimento das pessoas é uma outra parte
como convivo com o lugar onde moro e a metrópole
fundamental neste processo. As situações em que os
paulistana, todas essas questões ampliaram meu senso
indivíduos estabelecem um contato social a partir de
de responsabilidade ao pensar e projetar a “cidade que
iniciativas em que a rua se torna uma extensão das
vivemos” e com a intenção de revelar a “cidade que
habitações, como em Bologna, por exemplo, revelando
queremos viver”.
ideais comuns de convívio e lazer, têm sido crescentes e,
Percebo, cada vez mais, como é expressiva a
sobretudo, têm mostrado o quão importante é o caminho
mudança dos espaços urbanos e como isso reflete
colaborativo, com a participação dos moradores para
sobre o papel do arquiteto e urbanista, sendo ele
sensibilizar e permitir um diálogo com a cidade, entre
intermediário na materialização destes anseios e
os vizinhos , e no âmbito de cada individuo.
estímulos, mas, ainda assim, uma pequena parte de um
Correlato às experiências físicas, de reflexão, e
processo muito maior que necessita ser mais difundido
de todas as análises e leituras, escolhi o eco como uma
e discutido.
palavra detentora de todo o processo de intervenção
Tornou-se primordial neste TCC identificar a
que propus para finalizar esse trabalho. O uso do eco
rua como uma oportunidade para que os moradores
no sentido do compartilhar um som e um olhar que se
reconheçam pontos em comum em suas vidas, e assim
refletem, que se repetem e se propagam pela cidade. A
comecem a utilizar o espaço como território para trocar
partir de uma intervenção no espaço proporcionar um
suas experiências e exercer seu direito à cidade. Isto
convite de uso e apropriação, de memória e identidade
196
GRRUA |
que ecoa para a rua e para o indivíduo. No desafio de (re)significar a rua e projetar ideias para o espaço urbano, entendi como podemos sensibilizar o indivíduo cada vez mais envolvido em rotinas automáticas, criar diálogos capazes de ainda promover maior senso de respeito, diversidade e cidadania. Para a cidade, despertar esses espaços através de intervenções significa o regresso às nossas memorias e ao sentido democrático dos próprios espaços públicos que foram subvertidos, e, ao mesmo tempo, ao progresso na construção da nossa identidade.
| CONCLUSÃO
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198
Figura 68 – Memórias. Fonte: Elaborado pela Autora - arquivo pessoal.
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“A liberdade da cidade é, portanto, muito mais que um direito de acesso àquilo que já existe: é o direito de mudar a cidade mais de acordo com o desejo de nossos corações. Mas se Park está certo – ao refazer a cidade refazemos a nós mesmos – então precisamos avaliar continuamente o que poderemos estar a fazer de nós mesmos, assim como dos outros, no decorrer do processo urbano. Se descobrirmos que nossas vidas se tornaram muito estressantes, alienantes, simplesmente desconfortáveis ou desmotivantes, então temos o direito de mudar de rumo e de buscar refazer nossas vidas segundo uma outra imagem e através da construção de um tipo de cidade qualitativamente diferente. A questão do tipo de cidade que desejamos é inseparável da questão do tipo de pessoas que desejamos nos tornar.” (David Harvey - A Liberdade da Cidade- grifo da autora)
| CONCLUSÃO
199
[7.0]
LISTA DE IMAGENS
Figura 00 – Avenida Paulista, 2016. Fonte: Elaborado pela autora. – páginas 10 e 11 Figura 01 - A caminho da escola (Cambridge, 2013). Fonte: Elaborada pela autora – página 22 Figura 02 – A arte de se aproximar (Cambridge, 2013). Fonte: Elaborado pela autora. – página 23 Figura 03 – Minha Feira preferida (Cambridge, 2013). Fonte: Elaborado pela autora – pagina 24 Figura 04 – Hora do encontro é toda hora (Cambridge, 2013). Fonte: Elaborada pela autora – página 25 Figura 05 – Nosso cotidiano (Cambridge, 2013). Fonte: Elaborada pela autora. – página 26 Figura 06 – Porque não um piquenique? (Cambridge, 2013) Fonte: Elaborada pela autora – página 27 Figura 07– Uma boa e nova Iniciativa (Cambridge, 2013). Fonte: Elaborada pela autora – página 28 Figura 08 – Rua pra todos (Cambridge, 2013). Fonte: Elaborada pela autora – página 31 Figura 09 – Quintal de casa (Cambridge, 2013). Fonte: Elaborada pela autora. – página 32 Figura 10 – Virada Cultural. Fonte: Site – Bia Ferrer – https://biaferrer.wordpress.com/eventos/video-mapping/virada-cultural-2014-video-mapping-no-mappin-spbrasil/ - páginas 34 e 35 Figura 11 – Nuit Blanch. Fonte: Site The Guardian – Alamy http://www.theguardian.com/travel/blog/2012/oct/03/paris-nuit-blanche-festival-viewpointsmapping-no-mappin-spbrasil/ - página 36 Figura 12 – Forma Convidativa. Fonte: Hertzberger, 1999. – página 42 Figura 13 – Forma Convidativa II. Fonte: Hertzberger, 1999. – página 43 Figura 14 – Forma Convidativa III. Fonte: Hertzberger, 1999. – página 44 Figura 15 – Forma Convidativa IV. Fonte: Hertzberger, 1999. – página 45 200
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Figura 16 – Tokyo. Fonte: Ghel, 2010. – página 48 Figura 17 – Public Life. Fonte: Ghel, 2010. – página 49 Figura 18 – Cities for people. Fonte: Ghel, 2010 – página 50 Figura 19 – Street. Fonte: Ghel, 2010.- página 52 Figura 20 – Espaço para todos (paulista, 2016). Fonte: Elaborado pela autora. – página 57 Figura 21 – Fique Á vontade (Paulista, 2016). Fonte: Elaborado pela autora. – página 58 Figura 22 – Dimensões (Paulista, 2016). Fonte:Elaborado pela autora.- página 60 Figura 23 – Posso ver e ser visto (Paulista, 2016). Fonte: Elaborada pela autora. – página 61 Figura 24 - Sala de estar (Paris, 2013). Fonte: Elaborada pela autora – página 64 Figura 25 – Hora do descanso (Paris, 2013). Fonte: Elaborada pela autora – página 64 Figura 26 – Quer dançar comigo? (Paris, 2013). Fonte: Elaborada pela autora – página 65 Figura 27 – Novo sofá (Paris, 2013). Fonte: Elaborada pela autora – página 65 Figura 28 – Apropriação espontânea (Paulista, 2016). Fonte: Gabriela Matsuda/Instagram. – página 66 Figura 29 – Preciso relaxar (Paulista, 2016). Fonte: Elaborada pela autora. – página 67 Figura 30 – Observando (paulista, 2016). Fonte: Elaborado pela autora. – página 68 Figura 31 – Vislumbrar (Paulista, 2016). Fonte: Elaborado pela autora. – página 69 Figura 32 – Do sofá pra rua (Paulista, 2016). Fonte: Elaborado pela autora. – página 70 Figura 33 – Encosto (Paulista, 2016). Fonte: Elaborado pela autora. – página 74 Figura 34 – Use com carinho (Paulista, 2016). Fonte: Elaborado pela autora. – página 76 Figura 35 – Ponto de ônibus e de encontro (Paulista, 2016). Fonte: Elaborado pela autora. – página 77 Figura 36 – A planta é de todos (Pinheiros, 2016). Fonte: Elaborada pela autora – página 85 | LISTA DE IMAGENS
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Figura 37 – Sente-se como quiser (Pinheiros, 2016). Fonte: Elaborada pela autora – página 85 Figura 38 – Sejam bem-vindos (Pinheiros, 2016). Fonte: Elaborada pela autora – página 85 Figura 39 – Compartilhe aqui (Pinheiros, 2016). Fonte: Elaborada pela autora – página 85 Figura 40 – Passagem (Pinheiros, 2016). Fonte: Elaborada pela autora – página 86 Figura 41 – Convívio (Pinheiros, 2016). Fonte: Elaborada pela autora – página 87 Figura 42 – Sobre nós ( Pinheiros, 2016). Fonte: Elaborada pela autora – página 88 Figura 43 - Cidade-se (Pinheiros, 2016). Fonte: Elaborada pela autora – página 89 Figura 44 – Cidade é para brincar (Paulista, 2016). Fonte: Elaborada pela autora – página 95 Figura 45 – Cidade é para dançar (Paulista, 2016). Fonte: Elaborada pela autora. – página 98 Figura 46 - Lugar de encontros (Paulista, 2016). Fonte: Elaborada pela autora. – página 99 Figura 47 – Imaginação (Paulista, 2016). Fonte: Elaborada pela autora – página 100 Figura 48 – Traga sua bike (Paulista, 2016). Fonte: Elaborada pela autora – página 101 Figura 49 – Vamos todos juntos (Paulista, 2016). Fonte: Elaborado pela autora. – página 103 Figura 50 – Memória da infância (Paulista, 2016). Fonte: Elaborada pela autora – página 104 Figura 51 – Além da faixa de pedestre (Paulista, 2016). Fonte: Elaborada pela autora – página 105 Figura 52 – Brincando de criar (São Paulo, 2016). Fonte: Elaborada pela autora – página 111 Figura 53 – Respiro (São Paulo, 2016). Fonte: Elaborado pela autora. – página 112 Figura 54 – Vendo a rua passar (São Paulo, 2016). Fonte: Elaborada pela autora – página 113 Figura 55 – Programa Rua Aberta (São Paulo, 2016). Fonte: Elaborada pela autora – página 114/115 Figura 56 – Descobrindo a cidade (São Paulo, 2016). Fonte: Elaborada pela autora – página 117 Figura 57 – O Palhaço o que é? (São Paulo, 2016). Fonte: Elaborada pela autora – página 118 202
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Figura 58 – Sobre histórias e encontros (São Paulo, 2016). Fonte: Elaborada pela autora – página 119 Figura 59 – Uma nova plateia (São Paulo, 2016). Fonte: Elaborada pela autora. – página 120 Figura 60 – Vem todo mundo! (São Paulo, 2016). Fonte: Elaborada pela autora. – página 121 Figura 61 – Arte de fazer arte (Bolonha, IT. 2016). Fonte: Facebook Social Street https://www.facebook.com/Social-street-International-644306475619488/ - página 124 Figura 62 – Nossa varanda (Bolonha, IT. 2016). Fonte: Facebook Social Street https://www.facebook.com/Social-street-International-644306475619488/ - página 125 Figura 63 – Almoço de domingo (Bolonha, IT. 2016). Fonte: Facebook Social Street https://www.facebook.com/Social-street-International-644306475619488/ - página 125 Figura 64 – Compartilhando (Bolonha, IT. 2016). Fonte: Facebook Social Street https://www.facebook.com/Social-street-International-644306475619488/ - página 126 Figura 65 – Entre as coisas, entre nós (Bolonha, IT. 2016). Fonte: Facebook Social Street https://www.facebook.com/Social-street-International-644306475619488/ - página 127 Figura 66 – Um mapa coletivo (Bolonha, IT. 2016). Fonte: Facebook Social Street https://www.facebook.com/Social-street-International-644306475619488/ - página 127 Figura 67 – Vila São Francisco, 2016. Fonte: Elaborado pela Autora – página 133 Figura 68 - Figura 68 – Memórias. Fonte: Elaborado pela Autora - arquivo pessoal.- página 198 Mapa 01 – Rua Dr. Rodrigues Guião (Pinheiros, 2016). Fonte: Elaborada pela autora. – página 84 Mapa 02 – Avenida Paulista - base de dados da prefeitura de SP. Fonte: Elaborada pela autora. – página 97
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