CONJUNTO HABITACIONAL EM CONTAINER UMA ALTERNATIVA AO CONVENCIONAL
BEATRIZ RIBEIRO GOMES
CENTRO UNIVERSITÁRIO SENAC BEATRIZ RIBEIRO GOMES
CONJUNTO HABITACIONAL EM CONTAINER Uma alternativa ao convencional
SÃO PAULO 2016
BEATRIZ RIBEIRO GOMES
CONJUNTO HABITACIONAL EM CONTAINER Uma alternativa ao convencional Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Centro Universitário Senac Campus Santo Amaro - como exigência parcial para obtenção do grau de Bacharel em Arquitetura e Urbanismo. Orientador: Prof. Me. Ricardo Wagner Alves Martins
SÃO PAULO 2016
“ Acredito que as coisas podem ser feitas de outra maneira e que vale a pena tentar.� Zaha Hadid
Agradecimentos À todos que de alguma forma colaboraram para minha formação. Às minhas amigas Carolina Battistini, Larissa Wetzel, Gabriella Nery, Maria Carolina, Mariana Ruiz e Marília Brancatte, que tanto colaboraram para que mais este ciclo se encerrasse. À Profª. Draª Valéria Fialho e ao meu orientador Prof. Me. Ricardo Wagner Alves Martins por toda a ajuda e compreensão. À minha família principalmente, minha mãe e avó que sempre se esforçaram para que eu chegasse até aqui, e à minha irmã que está sempre ao meu lado. Um agradecimento especial ao Pietro Marras, por todo o suporte e carinho durante o desenvolvimento deste trabalho.
Resumo Considerando as questões habitacionais da cidade de São Paulo e a necessidade de projetos alternativos que possam contribuir como uma resposta quantitativa e qualitativa, este estudo aborda o uso do container na arquitetura no âmbito habitacional, considerando suas reais vantagens e também desvantagens nesse ramo em que vem sendo inserido. Como primeira parte do trabalho, foram levantados dados históricos e atuais para a fundamentação teórica do projeto em questão, um Conjunto Habitacional em Container, desenvolvido na segunda etapa. Como base projetual foram relacionados cinco estudos de caso, que contribuíram como referência em diversos aspectos, tanto como projetos habitacionais de cunho popular, como na adaptação do container para seu uso na arquitetura. Estudos de conforto ambiental e ergonomia se fizeram necessários, devido às características do material, além da identificação do container como objetivo sustentável, por seus diversos aspectos, no campo da construção civil. Palavras-chave: conjunto habitacional; container; identidade territorial
Abstract Considering the housing issues in the city of SĂŁo Paulo and the need for alternative projects that can offer both quantitative and qualitative answers to them, this study discusses the use of containers in architecture for housing purposes, considering its real advantages and disadvantages in the field. Both historical and current data were collected for the theoretical foundation of the project in question, a container housing development. As a basis for the project, five case studies that served as a point of reference in many aspects, in both social housing projects and the adaptation of containers for architectural use, were listed. Environmental comfort and ergonomic studies were necessary due to the characteristics of the material to be used, in addition to the identification of the container as a sustainable and economic object in the field of construction, considering its different aspects. Keywords: housing development; container; territorial identity
Lista de Siglas HABISP - Sistema de Informações para habitação Social na
CDHU - Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano
cidade de
FNRU - Fórum Nacional pela Reforma Urbana
São Paulo
PAR - Programa de Arrendamento Residencial
ONU - Organização das Nações Unidas
ZEIS - Zona Especial de Interesse Social
MTST - Movimento Sem Teto de São Paulo
FGTS - Fundo de Garantia do Tempo de Serviço
SEHAB - Secretaria Municipal de Habitação
PNH - Política Nacional de Habitação
COHAB - Companhia de Habitação Popular
PAC - Programa de Aceleração de Crescimento
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
PlanHab - Plano Nacional de Habitação
IDH - Índice de Desenvolvimento Humano
PMCMV - Programa Minha Casa Minha Vida
SEMPLA - Secretaria Municipal de Planejamento
ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas
IAPs - Instituto de Aposentadoria e Pensões
CSN - Companhia Siderúrgica Nacional
BNH - Banco Nacional de Habitação
CBCA - Centro Brasileiro da Construção em Aço
CAPs - Caixas de Aposentadoria e Pensões
USP - Universidade de São Paulo
CIAM - Congresso Internacional de Arquitetura Moderna
PMSP - Prefeitura Municipal de São Paulo
IAPI - Institudo de Aposentadoria e Pensões dos Industriários
WCED - World Comission on Environment and Development
SFH - Sistema Financeiro de Habitação
Lista de Figuras Fig. 1 - Favela de Paraisópolis - São Paulo
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Fig.10 Planta tipo - Apartamento A
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Fig.14 Corte Conjunto Pedregulho
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Fig.21 Dimensionamento de espaços para acesso e
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Fig.24 Módulo de referência
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Fig.36 Passarelas metálicas
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Fig.42 Vista interna
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de abril de 2016
Fig.37 Pátio e passarelas
Fig.43 Planta de situação p.85
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Fig.44 Setorização por cor dos blocos
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Fig.51 Planta Térreo
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Fig.52 Setorização de usos
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Fig.53 Planta Unidades - Lâmina p.88
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Fig.56 Relação com o entorno p.90
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Gleba G - Heliópolis: Disponível em: <http://www.vitruvius.com.br/revis-
Fig.50 Fachada do conjunto
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Jardim Edite. Disponível em: <http://www.vitruvius.com.br/revistas/
Gleba G - Heliópolis: Disponível em: <http://www.vitruvius.com.br/revis-
Fig.49 Unidade habitacional B
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Jardim Edite. Disponível em: <http://www.vitruvius.com.br/revistas/
Gleba G - Heliópolis: Disponível em: <http://www.vitruvius.com.br/revis-
Fig.48 Unidade A adaptada
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Gleba G - Heliópolis: Disponível em: <http://www.vitruvius.com.br/revis-
Fig.47 Unidade habitacional - A
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Fig.57 Relação com o entorno
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Fig.63 Segundo pavimento
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Fig.58 Construção da casa container
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05 de abril de 2016
Fig.64 Maquete eletrônica - sobreposição
Fig.59 Fachada com ciculação vertical
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Fig.65 Conjunto de edifícios de container
Fig.60 Telhado verde e varanda
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Fig.66 Pátio Interno
Fig.61 Ambiente Interno
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Fig.67 Varanda dos quartos
Fig.62 Pavimento térreo
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Fig.68 Vista interna dos apartamentos
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Fig.69 Fluxo de ventilação nos ambientes
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FROTA;SCHIFFER. Manual do conforto térmico: arquitetura e urbanismo. São Paulo: Studio Nobel, 2003, p.132
Fig.70 Vegetação como artifício ao conforto
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Fig.76 Estudo de gabarito
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Editora Senac, 2007, p.130 e 131
Foto do autor
Fig.80 Acesso a favela Jd. Panorama
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Foto do autor
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Fig.81 Exterior da Favela
Fig.73 Contraste entre a favela e o entorno
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Fig.82 Terreno de implantação
junho de 2016
Foto do autor
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Fig.83 Barracos de madeira/ Contraste com o entorno
Modificado pelo autor. Disponível em: < http://geosampa.prefeitura.
Foto do autor
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Fig.84 Composição placa Tetra Pak
Fig.75 Estudo de gabarito
p.114
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Foto do autor
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Fig.74 Mapa de Zoneamento
p.114
Foto do autor
Fig.79 Estudo entorno
p.112
p.114
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GUGEL,Miram. Projetando espaços: Design de interiores. São Paulo:
Fig.72 Área de intervenção
p.113
Modificado pelo autor. Disponível em: < https://www.google.com.br/
Fig.78 Estudo entorno
mo. São Paulo: Studio Nobel, 2003, p.134
Fig.71 Dimensionamentos mínimos
Modificado pelo autor. Disponível em: < https://www.google.com.br/
Ecopex
p.115
p.115
p.115
SUMÁRIO Introdução ____________________ 26 e 27 1. São Paulo e a problemática habitacional ________ 30 a 33 1.1 Processo Histórico _________________________ 33 a 39 1.2 A segregação socioespacial _________________ 40 a 43 1.2.1 Identidade e desapropriação _____________44 e 45 2. Habitação de Interesse Social ____________ 2.1 Habitação Social no Brasil _____________ 2.1.1 Edifício Japurá _________________ 2.1.1 Conjunto Residencial Pedregulho ___ 2.2 Definindo habitação: Da casa ao lar _____ 2.3 Desenho Universal na HIS ____________
48 e 49 49 a 52 56 a 59 59 a 61 62 e 63 63 a 68
3. Container: Uma nova metodologia de projeto _________ 70 3.1 Dimensão e característica ____________________ 71 a 75 3.1.1 Vantagens e desvantagens ____________ 75 a 78 2.2 O aço na arquitetura ________________________ 78 a 80
4. Estudo de caso _______________________________________ 81 4.1 Conjunto Habitacional Corruíras ___________________ 83 a 86 4.2 Conjunto Habitacional Heliópolis _________________ 86 a 89 4.3 Jardim Edite ___________________________________ 89 a 92 4.4 Casa Container ________________________________ 92 a 94 4.5 Vila Estudantil Keetwonen _______________________ 95 e 96 5. Habitação em Container ____________________________ 98 5.1 Sustentabilidade ___________________________ 99 e 100 4.2 Conforto ambiental e ergonomia______________ 101 a 106 6. Considerações Finais __________ 107 7 . Projeto ________________________________________ 110 7.1 Localização __________________________________ 111 7.2 Programa mínimo _____________________________ 112 7.3 Levantamento de dados 7.3.1 Uso do sola e gabarito ____________________ 113 7.3.2 Fluxograma de acessos ____________________ 114 7.3.3 Levantamento fotografico _______________ 114 e 115 7.4 Conjunto Habitacional em Container - Projeto Final 117 a 153 7.4.1 Conclusão _______________________________ 155 8. Bibliografia _________ 157 a 159
I nt ro d u รง รฃo
Quando falamos da cidade de São Paulo torna-se claro o quadro do déficit habitacional encontrado no município. Segundo o levantamento do HABISP de 2010, 7.74% do território da cidade é ocupado por favelas ou loteamentos irregulares. Existem medidas que vem sendo tomadas pela prefeitura, como políticas e programas de reurbanização de favelas, mas que ainda não atingem a demanda necessária, seja por falta verba pública ou investimentos privados nas obras, bem como a má administração destas políticas, que podem levar muito tempo para serem realizadas, ou até interrompidas antes mesmo de sua conclusão. A questão habitacional da cidade é o ponto chave para a melhoria do todo, é preciso tratar de igual para igual as necessidades da população de baixa renda, investindo em melhorias e instalação destas moradias próximas a infraestruturas, ou vice e versa, bem como a estruturação de um projeto de habitação viável e acessível a essa parcela de moradores do município. A favela, ou loteamento irregular, não encontra-se mais apenas nas periferias, a mesma permeia a mancha urbana, e incorpora-se ao tecido da cidade, para tanto é necessário um programa que entenda essa
26
inserção e que aceite essa população como parte do todo. Levando em conta todo este quadro, este trabalho consistirá na viabilização do projeto de um conjunto residencial acessível a baixa renda, tendo como partido além da redução de custos e tempo, ser modular, para que assim possa ser construído em maior escala, podendo talvez, atender a demanda do déficit de habitação de São Paulo. Um projeto que se adeque mais facilmente as diversas tipologias de terreno presentes no município, tendo como premissa a variabilidade e acessibilidade, podendo assim atender a demanda das diferentes famílias que habitarão estas moradias. A ideia é que o conjunto se integre a cidade, para tanto, a busca do terreno de implantação deverá ser feita seguindo alguns fatores, como áreas de moradias irregulares ou próximas as mesmas, mas que estejam inseridas na mancha urbana, como próximas a centralidades e áreas com infraestruturas. Dito isso, como fundamentação projetual, será realizado um estudo causa e efeito, onde primeiramente será entendido o processo de construção do déficit habitacional da cidade e como o processo histórico de São
Conjunto Habitacional em Container
Paulo influenciou no quadro atual, levando em conta a questão da segregação sócio urbana que se configurou. Será estudado então o início do conceito de habitação social, como ocorreu e o porquê do surgimento deste tipo de construção, além do processo de sua inserção no Brasil. Para isso serão estudados dois projetos de conjuntos residenciais, o Edifício Japurá e o Conjunto Residencial Pedregulho, como eles se configuravam tanto em sua inserção na cidade, quanto como projeto em si. O container foi o artifício que surgiu como alternativa para viabilizar o projeto em questão. Serão estudas suas dimensões e características e como vem sendo inserido no campo da arquitetura, como atua e pode atuar do ponto de vista da moradia. Serão realizados então dois estudos de caso como entendimento do processo necessário para a utilização deste material na construção civil. Chega-se enfim a questão de como viabilizar este projeto, como tornar este conjunto residencial de container habitável, confortável e provedor de qualidade de vida para seus habitantes. Para isso será feito um estudo de ergo-
nomia e conforto ambiental, garantindo então a qualidade do espaço a ser projetado, bem como o estudo da questão da acessibilidade, para que assim ele possa de fato atender a diversas famílias e suas configurações.
27
28
Conjunto Habitacional em Container
1. SĂŁo Pa u lo e a P r ob l em ĂĄt i c a Ha b i tac i o n al
29
Para que se possa realizar uma proposta proje-
tual coerente, é preciso analisar o quadro atual de São Paulo, para assim, ter uma visão geral e adequar as necessidades habitacionais da cidade ao projeto em questão. Segundo o levantamento do HABISP de 2010, na cidade de São Paulo, encontram-se 92,64km² de loteamentos irregulares, número que representa 6.14% do município, 24km² de favelas que representam 1,6% do
Fig.1 Favela de Paraisópolis - São Paulo
território e 1814 cortiços levantados entre 2005 e 2010, sendo 1091 ainda considerados cortiços, 208 em obra para se adequar à Lei Moura, explicada mais à frente, 66 foram interditados por oferecerem riscos aos moradores e apenas 36 foram requalificados. Os núcleos urbanizados, que são favelas que já possuem infraestrutura, representam 2.4km², ou seja 10.49% da área de favelas da cidade. Estes dados demonstram uma melhor ilustração da situação do território urbano, carente de habitação.
30
Fig.2
Cortiço na Rua do Glicério - São Paulo
Conjunto Habitacional em Container
A leitura dos números acima permite a relação
“Vivemos um ciclo de expansão eco-
entre a quantidade de moradias precárias e assenta-
nômica na cidade, que teve aumento
mentos irregulares comparado a área total do muni-
de renda e enorme aumento da dispo-
cípio de São Paulo. Existem hoje, medidas e políticas
nibilidade de crédito para a aquisição de imóveis. O reflexo foi a elevação
que visam a melhoria desta situação, porém como um
nos preços, muito acima do aumento
todo o quadro ainda é grave. Além de medidas de reur-
da renda das pessoas. Isso significa
banização e requalificação é preciso criar uma política
que terrenos e imóveis capturaram
que barre a exploração do preço da terra, como uma
uma parte importante das riquezas
política fundiária, e a especulação imobiliária, que não
que foram produzidas na cidade”
permite um acesso à cidade igual para todos, encare-
cendo o preço de aluguéis e das habitações de forma
O fato é que com o preço dos aluguéis não acessíveis
geral. Moradias próprias ou aluguéis encontram-se
a população e um número de medidas que não aten-
em preços que não condizem com a realidade de salá-
de a massa de baixa renda, o déficit habitacional de
rio da população mais pobre, não deixando escolha a
São Paulo em 2015, por exemplo, girava em torno de
não ser residir em áreas ocupadas ou marginalizadas.
230.000 moradias, segundo a avaliação de Raquel.
Segundo Raquel Rolnik, ex-relatora especial
da ONU para o Direito à Moradia Adequada:
Como alternativa, houveram então as invasões
dos prédios
BONDUKI, Nabil. Origens da Habitação social no Brasil. São Paulo: Estação Liberdade, 2002, p.17 e 18.
31
vazios e abandonados encontrados no centro, bem
A questão é que existem sim políticas voltadas
como a ocupação irregular de terrenos na cidade,
para esta parcela da população, como o Programa de
assim como afirma o coordenador nacional do MTST,
Reurbanização de Favelas da SEHAB, bem como a regu-
Guilherme Boulos:
larização de loteamentos irregulares e construção de “De 2013 para cá, não apenas em São
unidades habitacionais 1, porém não se tornam suficien-
Paulo, mas em várias regiões metro-
tes perante o déficit habitacional da cidade por diver-
politanas no país, houve aumento
sos fatores, que podem tanto se enquadrar na comple-
expressivo das ocupações, o que, na minha avaliação, tem relação direta com a explosão da especulação imobiliária. A terra virou ouro no Brasil e
xidade do quadro da encontrado quando em uma má administração e falta de políticas que previnam o processo especulativo da terra, dificultando a inserção das
o aluguel virou uma coisa impagável.”
políticas habitacionais, assim como afirma Bonduki 2.
Trata-se aqui de uma moradia que
O problema habitacional deve ser prioridade quan-
além de não trazer dignidade, não se
do se fala sobre São Paulo e perante a essa situação
torna definitiva. Por não ser algo de
busco uma alternativa as construções habitacionais
propriedade do morador, a qualquer
populares, que possam ser incorporadas a cidade já
momento podem ser despejados, seja
construída e escassa de terra. A ideia é que a habitação
por reintegração de posse, por regularização da área ou por obras públicas.”
seja acessível tanto a população de baixa renda que
1 SEHAB. Urbanização de Favelas: A Experiência de São Paulo. São Paulo: Boldarini Arquitetura e Urbanismo, 2008, p.14 2 BONDUKI. Nabil. Os pioneiros da habitação social: Cem anos de política pública no Brasil. São Paulo: Unesp, 2014, p.16
32
Conjunto Habitacional em Container
1.1 Processo histórico
irá habitar o conjunto, quanto para a construção, seja ela por investimentos públicos ou privados.
O processo evolutivo de São Paulo influenciou
diretamente na situação habitacional do município, que tornou-se segregado do ponto de vista social e também urbano, bem como insuficiente na proposta de habitação. A conformação deste território começou principalmente no início do século XX3, marcado por uma mudança na configuração social brasileira. Com a transformação econômica, houve a expansão das cidades e portando o surgimento das metrópoles. Em São Paulo, uma das mais industrializadas, as atividades urbanas interligaram-se ao complexo cafeeiro, o que garantiu um crescimento populacional não antes visto4. Com um grande número de migrações houve um aumento significativo da população, assim como indica a tabela 1.
3 e 4 BONDUKI, Nabil. Origens da Habitação social no Brasil. São Paulo: Estação Liberdade, 2002, p.17 e 18.
33
Tabela 1: Evolução percentual da população- São Paulo5
Ano
População
Período
Percentual
1872
26.020
1872-1890
124,78%
1890
64.934
1890-1900
200,20%
1900
260.000
1900-1910
60,38%
1910
314.000
1910-1920
92,58%
1920
541.435
--------------
--------------
vida. Pode se perceber então uma política de interesse e de capital, onde cada vez mais a cidade era das classes mais abastadas, não estendendo o direito à cidade para as mais pobres, deixando portanto de ser democrática. Assim como afirma Raquel Rolnik: “A lei organiza, classifica e coleciona os territórios urbanos, conferindo significados e gerando noções de civilidade e cidadania diretamente correspondentes ao modo de vida e à micropolítica familiar dos grupos que estiveram mais envolvidos em sua formulação. Funciona portanto, como referente cultural fortíssimo na cidade, [...] ao estabelecer formas permitidas e proibidas, acaba por definir territórios dentro e fora da lei, ou seja, configura regiões de plena cidadania e regiões de cidadania limitada.”6
Esta urbanização atrelada ao processo de indus-
trialização deu início a criação de um espaço heterogêneo que propiciava à produção e reprodução de relações capitalistas. Com a baixa valorização no mercado de trabalho, e o encarecimento das terras, os operários com seus baixos salários não conseguiam habitar as regiões mais privilegiadas da cidade, passando assim a ocupar regiões periféricas e cortiços, estes que em sua maioria se localizavam no centro, porém não forneciam uma habitação digna e com qualidade de
Considerando a evolução da cidade e a morfolo-
5 SANTOS, Carlos José Ferreira dos. Nem tudo era italiano: São Paulo e pobreza 1890 - 1915, 2003, p. 33 6 Raquel Rolnik, apud SANTOS, Carlos José Ferreira dos. Nem tudo era italiano: São Paulo e pobreza 1890 - 1915, 2003, p. 13
34
Conjunto Habitacional em Container
gia urbana que se instalava, bem como a configuração
ma de moradia em São Paulo. A pouca extensão das
das habitações em São Paulo, parte-se para o estudo
linhas de bonde para as localidades periféricas não
de como se iniciou e do que se tratava a habitação cole-
proporcionou o surgimento de loteamentos perifé-
tiva, além do processo de formação das favelas, e suas
ricos de cunho popular, bem como a moradia em vi-
necessidades do ponto de vista do indivíduo e sua rela-
las operárias que eram oferecidas apenas por alguns
ção com a cidade. Foi feito um estudo desde as primei-
industriais. A somatória destes pontos relacionada à
ras habitações destes tipos presentes em São Paulo.
inexistência de uma política social voltada para a ques-
O cortiço é uma destas moradias, surgiu como alter-
tão da habitação, gerou a necessidade do trabalhador
nativa aos trabalhadores, migrantes e imigrantes na
de morar próximo ao centro, dotado de terras caras.
capital, principalmente durante o processo de indus-
Não havendo outra opção para ele, surge então a
trialização, onde os salários baixos não permitiam o
moradia de aluguel, que levou a criação dos cor-
acesso à terra ou a uma moradia própria. É difícil afir-
tiços, já que as habitações unifamiliares pode-
mar ao certo a data em que surgiu o primeiro, porém
riam custar até metade do salário dos operários.
foi em 1870 em que houve a proliferação dos mesmos7.
Com um crescimento populacional considerá-
o cortiço tornava-se desde então algo de grande
vel devido a industrialização e a transformação da ca-
rentabilidade para os especuladores, que cobra-
pital em um centro econômico, configurou-se o proble-
vam preços abusivos por locações sem qualquer
Como única alternativa aos trabalhadores,
7 KNOLL, Fabio. Cortiços: a experiência de São Paulo, 2009, p. 21
35
qualidade de vida, assim como afirma Kowarick:
Este tipo de habitação possui características
próprias. É uma moradia coletiva multifamiliar marca“O capitalismo que se instaura baseia
da por uma ocupação excessiva. Tratam-se de casas
seu processo de excedentes na paupe-
unifamiliares subdivididas em vários cômodos alu-
rização dos trabalhadores, e ao mesmo tempo, precisa manter a unidade familiar a fim de explorá-la e garantir a sua continuidade. O cortiço – subdivisão de
as instalações elétricas e sanitárias de uso comum.
De todo modo, foram feitas algumas políticas
moradias em maior número possível
voltadas para este setor, como a Lei Moura, criada em
de cubículos – aparece como a forma
1991, que reconhece o cortiço como uma unidade usa-
mais viável para o capital de reproduzir
da como moradia multifamiliar e que obriga os proprie-
a classe trabalhado- ra a baixos custos
tários a manter padrões mínimos nas habitações cole-
[...] com a industrialização, a terra ur-
tivas, garantindo assim a salubridade das edificações9.
banatransforma-se numa mercadoria
que gera enormes lucros e a construção ou aluguel de casas são realizados com semelhantes expectativas de ganho pelos proprietários de imóveis.”8
gados, cada um abrigando uma família, sendo então
Hoje, existe em São Paulo, o Programa de Cortiços,
em que a prefeitura conjuntamente com a SEHAB busca a reforma e melhora da qualidade de vida destas habitações, tentando garantir o não aumento dos aluguéis e usando como premissa a Lei Moura. Segundo a SEHAB,
8 KOWARICK, Lucio, ANT, Clara, VERAS, Maura. O cortiço em São Paulo: sua. História e atualidade. São Pauto, s.d. p. 1.mimeo 9 KNOLL, Fabio. Cortiços: a experiência de São Paulo, 2009, p. 51
36
Conjunto Habitacional em Container
em 2012, foram levantados 1169 cortiços em São Paulo.
Além das questões aqui levantadas, é im-
portante ressaltar a cultura do medo e a criação,
pela
otipados,
sociedade,
de
marginalizados
moradores e
estere-
descriminados.
As favelas surgem como outra opção de mo-
radia para as classes mais baixas. Com o processo de irradicação dos cortiços, somado ao aumento constan te da população de São Paulo, este tipo de habitação torna-se viável a
população
Fig.3 Cortiço - São Paulo
de
baixa
renda,
e
mantem-
-se presente até hoje na paisagem da cidade.
centro da cidade não comportava toda a população,
que passou a ocupar as bordas da cidade.
Houve entre os anos de 1920 e 2010 um incre-
mento de aproximadamente 95% da população de São
A infraestrutura da cidade não acompanhou todo
Paulo . Essa superpopulação fez com que a ocupação
este crescimento populacional, do ponto de vista do
do território da cidade fosse em sentido à periferia,
abastecimento, do viário e do transporte, da habi-
dito aqui sobre ocupações regulares e irregulares. O
tação e da organização do território. A população
10
10 CASTILHO, Juliana. A favelização do espaço urbano em São Paulo, 2013, p.51
37
foi à busca por uma melhor qualidade de vida, uma
ram de ponta de lança para favelas e
parcela pobre migrava para a cidade de São Paulo,
loteamentos, regulares e irregulares.
vista como símbolo do progresso. Gerou-se assim
O território metropolitano, cada vez mais, estruturou-se por um sistema
um aumento no número dos bairros pobres e deu-
rodoviário. Esse último, que possibi-
-se início as favelas, já que essa população não se
litou a ocupação de áreas cada vez
enquadrava nos padrões do mercado imobiliário.
mais distantes dos centros urbanizados em locais desprovidos dos mais
“A expansão da periferia pela metró-
básicos equipamentos urbanos, foi
pole ocorreu principalmente a partir
um dos responsáveis pelo chamado
da década de 70, quando inúmeros
padrão periférico que ainda domina
loteamentos foram abertos nas periferias dos municípios limítrofes, ampliando a própria periferia da cidade. A política habitacional praticada pela COHAB nos anos 70 e início de 80 rei-
a organização física da metrópole.”11
O desinteresse do mercado imobiliário nas áre-
as próximas a mananciais e a áreas de Proteção Am-
terou a periferização dos moradores
biental, barateou o custo das terras, estimulando o
de baixa renda, com a construção de
crescimento de loteamentos irregulares nestas áreas,
grandes conjuntos habitacionais em
gerando outro problema relacionado ao da habitação,
áreas limítrofes da capital, que servi-
o problema ambiental, já que estas invasões destroem
11 CARVALHO; PASTERNAK; BOGUS apud CASTILHO, Juliana. A favelização do espaço urbano em São Paulo, 2013, p.37
38
Conjunto Habitacional em Container
áreas de proteção e os moradores acabam habitan-
do áreas de risco ou impróprias para moradia, como
das favelas. Segundo a prefeitura de São Paulo, é
beira de córregos e encostas, além de conviver com
um programa novo que desenvolvido pela Secre-
a falta de infraestrutura encontrada nestas regiões.
taria Municipal de Habitação visa a urbanização e a
regularização fundiária de áreas degradadas, ocu-
O termo favela possui várias definições e
também algumas características específicas. Estas características podem ser definidas como ausência de serviços básicos, habitações precárias ou ilegais e construções inadequadas, alta densidade e superlotação, condições de vida insalubre e perigosa, insegurança da posse, assentamentos irregulares ou informais e pobreza e exclusão social.
Hoje, existe o programa de reurbanização
padas desordenadamente e sem infraestrutura.
O objetivo é dar aos moradores o acesso à cida-
de formal, com ruas asfaltadas, saneamento básico e
serviços públicos. O programa também visa o reassen-
tamento de famílias que se encontram em área de risco.
Entretanto há algumas falhas neste programa, é
preciso uma maior participação da comunidade sob as
Este tipo de ocupação se torna cada vez mais pre-
intervenções, como envolver os moradores na tomada
sente na cidade de São Paulo, hoje não ocupando mais
de decisões por exemplo, assim como afirma Bete Fran-
apenas as periferias, mas permeado pela mancha urba-
ça, superintendente de habitação popular da cidade de
na, torna-se cada vez mais evidente. Segundo o Censo
São Paulo. Medidas estão sendo tomadas para tentar
IBGE 2010, em São Paulo, existiam 1020 aglomerados
retratar a falha que houve em termos de políticas habi-
subnormais, que abrigavam mais de 1.200.000 pessoas.
tacionais no passado, porém o quadro de São Paulo é
Essa moradia tornou-se uma alternativa à classe mais bai-
grave, e a ainda vivemos uma emergência habitacional.
xa perante o déficit habitacional encontrado na cidade.
39
1.2 A segregação socioespacial
Entende-se segregação como o ato de iso-
gêneo, a “seleção natural” ocorre na através da sociedade, sendo portanto a configuração do espaço urbano fruto do trabalho humano.11
É possível destacar dois modos de visão da se-
lar ou ser isolado de um grupo, um processo de dis-
gregação espacial, uma visão clássica em que a mes-
sociação ou separação social e/ou física. Existem
ma ocorria em círculos concêntricos e uma visão mais
vários tipos de segregação, mas aqui trataremos
atual, que não permite a primeira, já que a cidade não
principalmente da social e espacial urbana, do ponto
possui mais apenas uma centralidade. Com a criação de
de vista da configuração da cidade, mais especifica-
outras centralidades as regiões periféricas e centrais se
mente da metrópole de São Paulo, com objetivo de
reconfiguram, exigindo uma nova abordagem de estu-
entender o processo pelo qual a questão habitacio-
do, bem como a observação de que a mancha da favela
nal passou em relação a sua inserção no tecido urba-
não se encontra mais apenas nas periferias e sim espa-
no e como se distribuem as habitações cunho popu-
lhada pelas cidades. Todavia, é preciso analisar levando
lar e de mais alta renda no território do município.
em conta estas duas visões, já que mesmo com esta
O
as
mudança no tecido urbano, o contraste e a segrega-
refor-
ção se evidenciam quando comparamos as novas cen-
ma urbana e cultural. Com a vinda de novas tec-
tralidades de São Paulo, por exemplo, com a periferia.
nologias, São Paulo era símbolo do progresso.
Desde então a cidade cresce de modo hetero-
também de outra forma, através da cidade dos muros,
desenvolvimento
grandes
40
cidades
industrial
uma
trouxe
necessidade
para de
Hoje, além do que já citado, a segregação se dá
Conjunto Habitacional em Container
onde a população rica, se separa da pobre através de con-
Fig.4 Mapa de IDH - 2000 - São Paulo
domínios e casas muradas, como uma espécie de bolha.
Configura-se então o quadro de segregação so-
cioespacial, nada mais do que um reflexo da segregação social, relacionado a luta de classes. Chegamos então à discussão e o esclarecimento dos dois modos de segregação existentes, a voluntária – autossegregação – e a involuntária. A primeira consiste em grupos ricos que se afastam do inchamento das cidades e da classe baixa e o segundo de quem não tem opção a não ser residir e locais com pouca infraestrutura. Para ilustrar as pesquisas e dados levantados, analisa-se então a configuração espacial-social do estado de São Paulo, como entendimento desta concentração de rendas e infraestruturas em determinadas áreas da cidade, lembrando que o que será apresentado aqui é a maior concentração encontrada em determinada região:
41
Fig.5 Mapa de Vulnerabilidade - 2004 - SĂŁo Paulo
Fig.6 Mapa de Rendimento Mensal - 2004 - SĂŁo Paulo
42
Conjunto Habitacional em Container
A análise das figuras, nos permite ver a concen-
políticas para eles, sendo principalmente a de moradia,
tração de maior alta renda e desenvolvimento humano
a falta de aluguéis com preços condizentes com a reali-
(IDH) aglomeradas em uma região na cidade, a Sudes-
dade de salário, a falta de terras com infraestrutura em
te, bem como sendo a área menos vulnerável do muni-
um preço acessível. A cidade tornou-se um mecanismo
cípio e mais bem dotada de infraestrutura, como ser-
de segregação, que busca separar ricos e pobres, dei-
viços, grandes comércios, escolas e equipamentos de
xando de ser uma cidade para todos, já que as cama-
saúde. Este dado confirma todo o estudo já discutido,
das menos favorecidas da população encontram-se ex-
a relação entre a segregação social e a espacial presen-
cluídas do ponto de vista político, social e econômico.
te nas cidades, contribuindo para a concentração de
A cidade é um direito de todos e deve ser tratada
determinadas populações em partes específicas, onde
como tal, a principal questão é que enquanto as po-
o ônus sempre cai para o lado da classe mais baixa.
líticas públicas não fo rem condizentes com a re-
alidade destas classes mais baixas,
Todo este estudo é necessário para configurar a
e não forem
discussão da cidade atual, e as reais necessidades habi-
abrangentes o suficiente, atingindo toda a deman-
tacionais de São Paulo, onde as políticas públicas conti-
da, bem como criando projetos alternativos que pos-
nuam ocorrendo em forma de interesse e a cidade con-
sam vir como soluções a esta situação, a cidade não
tinua rodando em torno do capital. Tudo visa o lucro,
será um lugar democrático, dificultando cada vez
as infraestruturas, a especulação imobiliária, o investi-
mais os pobres de exercerem a sua cidadania.
mento em rodovias e avenidas favorecendo sempre o transporte privado, enquanto isso a população pobre, que mais precisa do poder público sofre com falta de
43
1.2.1 Identidade e desapropriação
“A identidade territorial é uma iden-
A desapropriação é tema recorrente quando
que se dá tanto no campo das idéias
o assunto em questão trata de favelas e loteamen-
quanto no da realidade concreta”
tidade social definida fundamentalmente através do território, ou seja, dentro de uma relação de apropriação
tos irregulares. Estas, são ações cotidianas para os
moradores destas regiões, mas que independente
das classes sociais precisam ser olhadas com aten-
tempo por todos que ali habitam, abrigam ge-
ção, visto que possui relação direta com a quebra
rações de famílias, histórias e estilos de vida.
e perda da identidade territorial de cada morador.
Esta identidade deve ser entendida como um
mente as famílias moradoras de ocupações irregula-
caráter simbólico, pois representa o apego ao lugar
res, tratam da remoção destas pessoas, por determi-
onde as casas estão construídas. Assim como esta-
nados fatores, seja por risco, por estarem alocadas
belecemos relações afetivas com nossa moradia, seu
em áreas de futuras obras públicas, entre outros. A
local de inserção representa um sentimento de segu-
realocação, muitas vezes se dá para áreas muito dis-
rança e de posse, além de relações de proximidades
tantes da que originalmente os abrigava, podendo
com o exterior, serviços e vizinhos, que atuam como
ainda não conter todas as infraestruturas que ali se
um prolongamento da vida cotidiana na habitação. O
encontravam. Toda essa mudança afeta diretamente
território garante a sensação de pertencer a algum
as pessoas, que acostumadas com um certo ambien-
lugar. Assim como afirma Haesbaert (1999, p.172)
te, são obrigadas a adaptar-se ao que lhes foi imposto.
44
Muitas
vezes,
construído
ao
longo
do
As desapropriações, que assombram principal-
Conjunto Habitacional em Container
É fato que desapropriações por obras públicas podem
no mesmo local onde as pessoas já residem, entre-
ocorrer em áreas de classe média e alta, onde tam-
tanto, ainda existem casos, como o do Jardim Edite,
bém há a criação e existência da identidade territo-
que apenas após muita luta conseguiram a provisão
rial. Entretanto, fica clara a diferença do tratamento
de um conjunto habitacional naquele mesmo lugar
imposto para com as diferentes classes. Assim como
de onde seriam desapropriados, e ainda assim mui-
demonstra Ermínia Maricato sobre as Operações Urba-
tos foram realocados para conjuntos bem distantes.
nas Água Espraiada e Faria lima e as desapropriações,
sendo a primeira relacionada a Favela Jardim Edite e a
priações são realmente necessárias, podendo ocorrer
segunda a casas de classe média existentes na região:
por diversos fatores, entretanto, em conjunto com
Conclui-se então, que muitas vezes as desapro-
esta ação deve ser pensada a questão da identidade “[...] os dois movimentos não têm o mesmo tratamen-
to e a mesma indenização. Um deles é de cidadãos: organizam-se, buscam e conquistam o apoio dos vereadores e da mídia. [...] Não lograram salvar seus locais de convívio mais conseguiram algumas mudanças no traçado viário e nos planos de desapro-
territorial, principalmente em relação as favelas, onde os moradores dependem muito mais da ajuda pública e da provisão de moradias. Pode-se pensar, sempre que possível, em uma solução, como a manutenção
priação. O outro, o dos moradores das favelas, tem sua resistên-
das pessoas nas proximidades de seu antigo território,
cia quebrada com ameaças, com a pressão cotidiana do entulho
garantindo assim a identidade territorial de cada um.
e do trator na porta de casa, com os cachorros e policiais. [...]”12
Alguns programas de reurbanização de fa-
velas preveem a melhoria e realização de moradias
45
2. Ha bitação d e I nt e r e s s e So c i al
A problemática habitacional sempre es-
ments nova-iorquinos e as Mietkasernen berlinenses.
teve presente no cenário mundial, mas foi após
Todas estas com algumas características em comum,
o período da Revolução Industrial e do proces-
como as altas densidades, instalações sanitárias pre-
so de urbanização das cidades que esta questão
cárias e um local sem qualquer qualidade de vida.
tomou grandes proporções, acelerando o qua-
Uma das primeiras intervenções realizadas pelo Estado
dro de precariedade das condições de moradia.
sobre a questão habitacional, foi a iniciativa de erradica-
Como introdução às habitações de cunho
ção dos cortiços entre outros territórios tidos como in-
popular no Brasil, foi levantado um histórico das
desejáveis. Sempre atuando como medidas de ordem
políticas habitacionais adotadas no mundo, com
sanitária, foram responsáveis por um grande número de
enfoque nos países da Europa e Estados Unidos,
desalojados, uma espécie de antipolítica habitacional.
identificando o surgimento e aplicação destas ações.
As primeiras intenções de reforma da situação
to na regulamentação das produções rentistas, em
habitacional tiveram início no século XIX, aparecen-
relação a criação de propostas de novas moradias, se-
do como vilas, cidades operárias e ações filantrópicas
gunda ideia essa que surge com mais força no fim do
(BONDUKI, 2014). Entretanto, em temos numéricos fo-
século XIX (SILVA, 2001). Na Europa, a reforma social e
ram pouco significativas, a população de baixa renda
o planejamento urbano incorporaram a questão habi-
que crescia nas cidades industriais, em sua grande par-
tacional, e foi aceita a necessidade de produção de no-
te, vivia em casas precárias criadas ou adaptadas pelo
vas moradias, neste momento aliada ao processo sani-
capital rentista. Entre algumas das tipologias destas
tarista citado acima. A remoção dos cortiços dava-se
habitações pode-se citar os slums londrinos, os tene-
conjuntamente a construção de unidades no mesmo
48
Os Estados Unidos preconizaram o investimen-
Conjunto Habitacional em Container
2.1. Habitação de Interesse Social no Brasil
local. Levantava-se cada vez mais a questão de que a garantia das condições de habitação era dever do Estado.
Como um dos maiores exemplos a serem cita-
dos em termos de política e construção habitacional
está o ocorrido na cidade de Viena, conhecido como
sileiro, a habitação social sempre esteve tratada como
Viena Vermelha. Após a primeira guerra e adotando
objeto de segunda categoria. Entretanto, na segunda
questões reformistas, o socialismo presente na cida-
metade do século XX, frente a busca pelo enfrenta-
de deu início a um programa habitacional que busca-
mento do problema habitacional foram tomadas al-
va articular um projeto de desenvolvimento da classe
gumas ações, citadas mais adiante (BONDUKI, 2014).
trabalhadora. Intenção clara na produção dos conjun-
tos habitacionais que eram multifuncionais e abriga-
dos de produção habitacional entre a Era Vargas e o
vam diferentes serviços, escola, cultura e entre outros.
Golpe Militar, sendo a primeira dotada de qualidades
Silva (2011), e após
projetuais mas em menor escala, realizadas pelo IAPs
todos os dados levantados aqui, tem-se a con-
(Institutos de Aposentadorias e Pensões) e a segunda,
clusão de que os programas de moradia e a
produzida pelo BNH (Banco Nacional de Habitação) em
produção em larga escala tiveram maior concentra-
que a qualidade deixa de ser um aspecto relevante, pre-
ção no período do entreguerras, ocorrendo de manei-
conizando uma produção massiva e a homogeneidade.
ra diferente nos determinados lugares e tendo seus
programas implantados pelas administrações locais.
ficada aqui em forma de linha do tempo, destacando
Assim como afirma
No campo da arquitetura e do urbanismo bra-
Num quadro geral pode-se destacar dois mo-
A história da produção habitacional é exempli-
suas principais ações e momentos mais importantes,
49
desde o século XIX até a atualidade, apresentando
quer proteção estatal e qualidade de vida, os cortiços.
os progressos e retrocessos da habitação no Brasil12.
Em um primeiro momento, o Estado limitado
sa a ser entendida como uma questão do Estado.
no setor da habitação devido ao liberalismo vigente,
O período Vargas marca a produção habitacional no
atua apenas com isenções fiscais e políticas sanitatis-
Brasil, e é neste período que são criados os IAPs, or-
tas, sendo a produção e aluguel de moradias pertinen-
ganizados de forma corportativa e divididos por se-
tes ao mercado. A produção rentista encontrava-se
tores. Em 1937, com a implementação das carteiras
favorável visto a economia do país, surgindo a primei-
prediais, a atuação dos IAPs no setor da habitação
ra iniciativa de habitação coletiva, as vilas operárias,
garante condições mais favoráveis ao fincanciamen-
produzidas por duas vertentes. A primeira, investida
to, com juros mais baixos e prazos prolongados. A
pelas empresas, contava com equipamentos coletivos
questão habitacional passa a ser tratada como social,
associados as habitações, introduzindouma tipologia
mas ainda sem existir uma política pública de ha-
que seria desenvolvida adiante. O outro modelo de vila
bitação. Há nesta época a criação do FCP, uma polí-
era produzido pelo mercado rentista, e visava exclusi-
tica habitacional frustrada de caráter universalista.
vamente o lucro, estando este à frente das qualidades
das habitações, que neste caso não contavam com
tativo
dos
equipamentos associados. Entretanto o acesso das vi-
finir
novas
las não era garantido a todos e aos que não podiam
responsável pela produção em massa referenciada inter-
pagar pelos aluguéis sobravam as moradias sem qual-
nacionalmente e relacionada com a arquitetura moderna.
Após a Revolução de 30, a habitação pas-
Período
marcado
projetos
pelo
topologias,
12 BONDUKI, Nabil. Origens da Habitação social no Brasil. São Paulo: Estação Liberdade, 2002, p.17 e 18.
50
e
pelo
lado
impacto sendo
qualiao
o
deIAPI
Conjunto Habitacional em Container
Lei do Inquilinato, que regulamentava a relação entre inquilino e locador, onde foi determinado o congelamento dos valores dos aluguéis e a proibição do
BNH baseando seus programas no financiamento da
despejo, desestimulando
o investimento em casas de aluguel, tornando-se assim
car o fim do BNH e crise do SFH, além da inexistên-
negativo para o processo de produção de moradias, au-
cia de políticas federais de habitação. Entranto po-
mentando o número de carência de habitações.
de-se detacar a tomada de algumas medidas, como
Em 1964 destacam-se outras ações pe-
a criação do CDHU, um dos órgãos de maior produ-
rante oa habitação social, fase que inicia com o
ção habitacional do país. Ainda a criação do Estatu-
Golpe militar e tem seu declínio em 1980 e con-
to da Cidade, que ainda atua como regulamentação
ta com a implementação do BNH e do SFH.
dos instrumentos para regularização do uso do solo
Marcado pela criação de recursos que garan-
urbano, instituindo ainda o IPTU progressivo, para
tiam o financiamento habitacional, ofereceu uma pro-
combater a especulação imobiliária, a outorga one-
dução massiva de habitações, perdendo os projetos de
rosa, usocapião, em terrenos privados e a institui-
arquitetura na diversidade e a qualidade encontrada
ção das ZEIS ( Zonas Especiais de Interesse Social).
nos do período anterior. Os projetos caracterizavam-se
pela homogeneidade e despreocupação com a inser-
objetivo de coordenar uma nova política urbana, in-
ção urbana, além do predomínio do financeiro sobre
cluia questões habitacionais, de saneamento am-
a qualidade. Afastadas as propostas de reformas urba-
biental e mobilidade, estruturando uma nova polí-
nas, a propriedade privada passou a ser o objetivo do
tica habitacional. Entretanto, no fim do século XX,
casa própria. Sendo o único período até agora em que tivemos realmente uma Política Nacional de Habitação. Entre os anos de 1986 e 2002 pode-se desta-
A criação do Ministério das Cidades, com o
51
houve grande aumento do desemprego, o que levou ao aumento dos saques do FGTS e consequentemente à um desequilíbrio do SFH. Este quadro diminuiu a capacidade de investir em habitação e saneamento. Ainda neste período, as favelas e assentamentos precários cresceram significativamente.
Entre os anos de 2007 e 2008 houve o aumento
da demanda por empreendimentos imobiliários , a terra então passou por um processo especulativo, o que influenciou diretamente a produção de habitações.
O Plano Nacional de Habitação surge com o
objetivo de equacionar os problemas encontrados no país, propondo soluções para enfrentar-los, levantando pela primeira vez os déficits do setor. Foi estabelecida também a necessidade da incorporação de demais eixos, como o fundiário. Com a crise global de 2008 as estratégias não sairam do papel.
Como uma dos maiores políticas de habita-
ção pode-se citar o Programa Minha Casa Minha vida, estabelecido em 2009, que deixando de atender as
52
diretrizes do PNH, buscava a produção em massa através de unidades prontas. O PMCMV, segundo Bonduki, “abordou a questão de maneira incompleta, deixando de lado aspectos fundamentais em uma politica de habitação, como a estratégia fundiária”.
Devido a todas estas questões, o programa aca-
bou resultando em moradias periféricas, sendo áreas carentes de emprego e infraestrutura e desaeticulados da malha urbana, além de contar com projetos sem qualidade arquitetônica e urbanística. A distribuição desta política pelo país é desigual, tendo maior concentração na região Nordeste. Mesmo com números e avanço significativos, ainda é insuficiente perante o quadro do déficit acumulado no Brasil (BONDUKI, 2014).
Incorporado ao levantamento da consru-
ção de habitação no país, foram realizados os estudos de dois projetos representativos no aspecto da produçao de habitação social, referenciando o estudo em questão em relação à incorporação de empreendimentos aliados as moradias, funcionando como elementos complementares a mesma.
Conjunto Habitacional em Container
L I NHA D O TEM P O 53
Criação das carteiras prediárias/ IAPs no campo da habitação
Final do Séc. XIX/ Rep. Velha
Implementação do BNH e do SFH
1942 1937
Vilas operárias, intervenção do Estado, mercado rentista
1983
1991
1964 Lei do Inquilinato
Fonte: BONDUKI, Nabil. Origens da Habitação social no Brasil. São Paulo: Estação Liberdade, 2002.
54
Caixa Econômica Federal como agente financeiro do SFH
1990 Fundo Nacional de Moradia
Programa de Urbanização das favelas no Rio de Janeiro, criação do CDHU em São Paulo
Conjunto Habitacional em Container
Estatuto da Cidade
Nova Política Nacional de Habitação
2003
Criação do PAC de Reurbaniza- Instituição do Programa ção de assentamentos precários Minha Casa Minha Vida (PMCMV)
2004
2001
Criação do Ministério das Cidades
2008
2006 2007
Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social
2009
Plano Nacional de Habitação (PlanHab)
55
2.1.1 Edifício Japurá
Fig.7
Implantação complexo de cortiços - Bexiga, São Paulo
Edifício localizado no antigo vale do córrego Bexi-
ga, na Bela Vista, concebido entre os anos de 1945 e 1957, sendo desde a fase de projeto até o fim de sua construção. Realizado pelo IAPI, Instituto de aposentadorias e pensões dos industriários, e mediante ao projeto de Eduardo Kneese de Mello e ao paisagismo de Roberto Burle Marx, situa-se sobre um antigo complexo de quatro cortiços: Vaticano, Pombal, Navio Parado e Geladeira.
A área de implantação, ao sul da região central,
bitação
baseada
nos
princípios
do
Movimen-
situava-se em uma região desvalorizada, onde em 1940
to Moderno, segundo
ele a ha bitação não de-
e 1945 passaram as avenidas e viadutos do Perímetro
veria ser apenas moradia, assim como afirma:
de Irradiação, do Plano de Avenidas, do então prefeito Prestes Maia. A execução do Edifício Japurá contou também com o apoio da Prefeitura Municipal, o prefeito queria mostrar que através de suas intervenções, zonas deterioradas como esta poderiam ser recuperadas.
56
O arquiteto defendia a ideia de uma ha-
“Eu acho que habitação não é só casa. Habitação é um conjunto e, quando nós fazemos milhares de casas, não estamos resolvendo o problema da habitação. Não adianta nada fazer mil casas num lugar qualquer se esses mil, qui-
Conjunto Habitacional em Container nhentos mil, moradores, em média, não estiverem servidos por comércio, por lazer, por escolas, por abastecimento, por trabalho, por cultura; então, este conjunto não é habitação, é um grupo de casas, mas não é habitação.”13
A solução encontrada para a viabilização do pro-
jeto foi a verticalização e aproveitamento máximo do terreno, este irregular e de topografia acidentada. Constituído de dois blocos, o arquiteto aproveitou o recuo do edifício maior para a construção de um bloco de dois pavimentos, onde encontravam-se pequenos conjuntos comerciais e acima, quitinetes destinadas a solteiros.
O outro edifício, construído como uma grande
lâmina e assentado praticamente na mesma implantação do antigo cortiço navio parado, constitui-se de
Fig.8 Planta tipo - Apartamento Solteiro
13 REGINO; PERRONE. Eduardo Augusto Kneese de Mello: sua contribuição para habitação coletiva em São Paulo, 2006
57
288 unidades habitacionais em quatorze pavimentos.
Fig.9 Corte transversal Ed. Japurá
Os apartamentos são duplex, uma solução encontrada para diminuir o custo da construção, já que foi projetada uma rua central que dá acesso as habitações, diminuindo o número de parada dos elevadores. No projeto, pode-se encontrar o uso de elementos presentes nos cinco pontos da Nova Arquitetura, preconizada por Le Corbusier, como o terraço jardim, projetado , que conta com uma marquise curvilínea e projeto paisagístico de Burle Marx.
Construído abaixo do nível da rua, o aces-
so ao bloco é feito por passarelas envidraçadas que remetem as antigas pontes que ligavam os edifícios dos cortiços que ali existiam. Para o aproveitamento máximo do terreno, o
ção e verticalização. A habitação passar a ser ape-
prédio é elevado sobre pilotis, e em seu subsolo aconte-
nas elemento de um complexo onde desenvolve-
cem um restaurante e uma lavanderia, além de outros
-se uma vida urbana (REGINO;PERRONE, 2006).
equipamentos coletivos destinados aos moradores.
dia para a classe média e grande parte de
O projeto busca resolver o problema da
moradia
58
através
da
racionalização,
coletiviza-
seus
Hoje,
reformado,
equipamentos
atua
coletivos
como foi
mora-
desativada.
Conjunto Habitacional em Container
2.1.2 Conjunto Residencial Pedregulho
Pedregulho, ou Conjunto Residencial Prefeito
Mendes de Moraes, fica localizado no bairro de São Cristovão no Rio de Janeiro e foi projetado por Affonso Eduardo Reidy em 1947, tendo sua obra concluída em 1952. Fig.10 Planta tipo - Apartamento A
Vencedor do prêmio na primeira Bienal de
São Paulo em 1953, exemplifica uma obra com sentido social dotada de soluções ambientais e espaciais, com qualidade técnica e plástica. Nesta obra, nota-se princípios defendidos por Le Corbusier, como o estudo das tecnologias aplicadas na construção, na economia dos meios utilizados e nas preocupações funcionais ligadas a aspectos formais, como controFig.11 Planta tipo - Apartamento B
le da luz e da ventilação e facilidade de circulação.14
14 Clássicos da Arquitetura: Conjunto Residencial Prefeito Mendes de Moraes. Disponível em: <http://www.archdaily.com.br/br/01-12832/classicos-da-arquitetura-conjunto-residencial-prefeito-mendes-de-moraes-pedregulho-affonso-eduardo-reidy> Acesso em: 05 de maio de 2016
59
O complexo conta com 328 unidades habitacio-
de acesso ao prédio, bem como uma espécie de rua
nais, além de edifícios de uso público e esportivos, cada
intermediária que garante o acesso as habitações.
qual definido por um volume, onde a forma indica a dife-
rença funcional de cada um. Assim como afirma o Reidy:
apartamentos
Outro recurso utilizado foi a produção de duplex,
garantindo
maior
rendi-
mento, já que era possível acessar os quatro pa“A função habitar não se resume na vida de dentro de casa. Estende-se em atividades externas,
vimentos de habitação sem o uso de elevadores.
compreendendo serviços e instalações complementares que proporcionam ao habitante as facilidades necessárias à vida de todo o dia [...]”
A construção é formada por blocos de
apartamento, sio
esportivo,
creche, piscina,
escola
primária,
playground,
centro
gináde
saúde, lavanderia coletiva e uma cooperativa.
Reidy, projetou um grande edifício de forma
serpenteada. Alocado sobre pilotis, que possuem alturas variáveis, acompanham a geografia natural do terreno, garantindo a vista da baía de Guanabara em todos os apartamentos, outro artifício utilizado para vencer os declives foi o uso de passarelas
60
Fig.12 Conjunto Pedregulho
Conjunto Habitacional em Container
ternacionalmente, quando ligou a arquitetura moderna brasileira, com elementos como plasticidade e rigor construtivo à uma habitação social, dentro de um contexto urbano, este em 1950, que passava por uma grande crise de moradia (BONDUKI, 2013).
Hoje o complexo encontra-se degradado em
vários de seus equipamentos, como pontos de lixo e a falta de telhado no posto de saúde. Sobre a degradação e má administração afirma o arquiteto Lucio Costa: “Contribuiu de fato, mas era uma coisa que visava Fig.13 Edifício serpenteado - “Rua” central
mais longe. E isso aí o ambiente não ajudou. O Brasil negativo sempre interfere nas iniciativas inovadoras.”
O arquiteto garante a integração da construção
com a paisagem montanhosa onde o conjunto está inserido. A concepção da fachada livre, com o recuo dos pilares, permitiu a utilização de cobogós por toda a parte posterior do bloco e a rua intermediária também permite à fachada uma maior permeabilidade visual. Este projeto utilizou artifícios que repercutiram in-
Fig.14 Corte Conjunto Pedregulho
61
2.2 Definindo Habitação: da casa ao lar “A casa segue sendo o lugar central da existência humana, o sítio onde a criança aprende a compreender sua existência no mundo e o lugar de onde o homem parte e regressa.”15
ço próprio e de segurança. Tendo uma relação íntima e direta com o usuário, adequa-se ao modo de vida de cada um, atendendo as necessidades cotidianas.
Entretanto, quando tratamos do termo casa,
precisamos estabelecer as diferenças entre este ambiente construído do lar. Muitas vezes utilizados como sinônimos, possuem características diferentes. A casa abriga o lar e atua como refúgio do homem, o lar, ganha vida na edificação e é a representatividade das relações pessoais, familiares e cotidianas, é um reflexo
A relação entre lar e casa torna-se as-
de seus habitantes e construído por suas memórias e
habita-
identidade. A casa atua como uma proteção e fortale-
ção, sendo esta de interesse social ou não.
cimento destas relações, é apenas um objeto que ocu-
pa o espaço, a vivência das pessoas a tornam um lar.
sunto
relevante
quando
se
trata
de
Construída sempre com o intuito de abrigar
alguém ou alguma família, a casa remete a um invólu-
Em um projeto de habitação, muito mais do
cro que atua como espaço delimitador entre público
que a estética e racionalidade da construção, deve-se
e privado, garantindo uma ideia e sensação de espa-
prever um ambiente capaz de estimular esta relação,
15 Casa e lar: a essência da arquitetura. Disponível em: <http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/03.029/746> Acesso em: 20 de maio de 2016
62
Conjunto Habitacional em Container
2.3 Desenho Universal na HIS
garantindo uma distribuição espacial adequada, que gera uma identidade do usuário com sua moradia e admite a verdadeira concepção do lar. Estabelecer espaços que provoquem a sensação de segurança e de ambiente próprio, mas que ao mesmo tempo pos-
sibilitem a integração dos moradores e a convivência.
nos Estados Unidos, como resposta a ideia de homem pa-
O conceito de Desenho Universal surge em 1960
drão. Foram realizados projetos de produtos e espaços utilizáveis por todos, em sua máxima extensão, assim não havendo a necessidade de adaptá-los especialmente para pessoas com deficiência e mobilidade reduzida.
Ron Mace, arquiteto e cadeirante, cria em 1987 a
terminologia Universal Design, que acreditava se tratar do início de uma nova percepção, capaz de aprimorar os objetos e espaços projetados, os tornando acessíveis a todos. Foi durante a década de 90 que Ron, juntamente com outros arquitetos estabelece os sete princípios do desenho universal, exemplificados a seguir.
63
Fig.15
Equitativo/Igualitário:
Espaços, objetos e produtos que possam ser utilizados por pessoas com capacidades diferentes, evitando segregar ou estigmatizar qualquer usuário.
64
Fig.16
Uso flexivel/adaptável:
Produtos e ambientes que admitam adequações e transformações e que atendam pessoas com diferentes habilidades, podendo modificar-se a qualquer uso. Prever a adaptabilidade, de forma que dimensões de ambientes possam ser alteradas.
Conjunto Habitacional em Container
Fig.17
Uso simples e intuitivo:
De fácil entendimento para que qualquer pessoa possa compreender. Eliminar complexidades desnecessárias.
Fig. 18
Informação de fácil percepção:
Quando a informação necessária é comunicada de modo que atenda às necessidades do receptador. Maximizar com clareza as informações essenciais, tornando fácil o uso do espaço ou equipamento.
65
Fig.19
Tolerância ao erro/seguro:
Minimizar riscos e possíveis consequências de ações eventuais. Considerar a segurança na concepção de ambientes e a escolha dos materiais, visando minimizar os riscos de acidentes.
66
Fig.20 Esforço físico :
Dimensionamento de espaços para acesso e uso abrangente: Fig.21
Dimensionar elementos e equipamentos para que sejam utilizados de maneira eficiente, segura, confortável e com o mínimo de fadiga.
Dimensões e espaços adequados para o acesso, alcance, manipulação e uso, independente das dimensões de um corpo, da postura ou mobilidade do usuário.
Conjunto Habitacional em Container Fig.22
Ambientes dimensionados para rotação e área de transferência de um cadeirante:
A habitação é um direito de todos, e não deve
Habitação, juntamente com a Secretaria de Estado dos
prescindir a igualdade, deve contemplar as neces-
Direitos das Pessoas com Deficiência, este livro contém
sidades do ser humano em todas as etapas da vida.
os conceitos de acessibilidade e busca implementar a
Sendo assim, o desenho Universal deve ser tra-
ideia de Desenho Universal nas habitações populares.
tado igualmente quando falamos sobre habitação so-
O objetivo é orientar prefeituras, órgãos públicos, en-
cial. São Paulo é um dos pioneiros a adotar estes concei-
genheiros e arquitetos sobre a implantação dos prin-
to, em 2010 foi lançado o livro “Diretrizes do Desenho
cípios do desenho universal nos projetos de moradia.
Universal na Habitação de Interesse Social no Estado
de São Paulo”, realizado pela Secretaria de Estado da
como a possível realização e acesso a prática de ta-
Entende-se aqui o conceito de universal
67
refas cotidianas, podendo ser realizada por todo ou
acessibilidade. Revisada em 2004, a NBR 9050, con-
qualquer indivíduo, atuando através desta concep-
têm todas as medidas básicas a serem seguidas, como
ção como extensão da promoção de inclusão social.
por exemplo altura de interruptores, tomadas, vão de
portas, inclinação e larguras de rampas, entre outros.
As habitações inclusivas devem conter espa-
ços dimensionados e adequados as necessidades
das pessoas com mobilidade reduzida, proporcio-
o meio urbano, seja nos transportes, no mobiliário e
nando conforto e bem estar ao usuário. No caso de
edifícios públicos, no viário e principalmente nas ha-
uma moradia acessível a um cadeirante, por exem-
bitações, não se restringindo apenas ao interior da
plo, o projeto deve prever áreas de manobra, fle-
casa, as áreas comuns e externas devem ser pensa-
xibilidade de acesso aos mobiliários e aberturas,
das igualmente em termos do desenho universal, es-
garantindo que os deslocamentos e movimentos
tendendo-se aos acessos e áreas de lazer. Uma mora-
possam ser realizados de forma independente.
dia digna e provedora de qualidade de vida é direito
A ABNT, Associação Brasileira de Normas téc-
e desejo de todo cidadão, para tanto os projetos ha-
nicas, estabeleceu em 1985 a primeira norma sobre
bitacionais devem prever apartamentos e implanta-
Fig.23 Área de manobra 180º:
ções de conjuntos que permitam a inclusão social e
Fig.24 Módulo de referência:
A acessibilidade deve estar presente em todo
a inserção do desenho universal. A moradia deve ser capaz de atender as necessidades do usuário, seja pelas mudanças que ocorrem nas fases da vida ou por percalços que podem surgir no meio do caminho.
68
Conjunto Habitacional em Container
3. Con tai n er : U ma nova m e t od ologi a d e P r o j et o
69
Com maior repercussão no exterior e cresci-
permanentes, assim como o projeto a ser proposto.
mento considerável no Brasil, o container vem sendo
Surgindo como um nova vertente de projeto no cam-
utilizado cada vez mais como proposta de projeto na
po da arquite tura, essa tipologia se utiliza de um ob-
construção civil, abrigando desde funções habitacio-
jeto modular e de caráter flexível, que propõem um
nais, como comerciais e de serviços. A arquitetura,
novo modo criativo e eficiente de ocupar o espaço.
entre outros setores, visto a situação ambiental que
nos encontramos, busca em escala crescente o desen-
quiteto Celso Costa, do escritório Costa Con-
volvimento de projetos ecoeficientes, e o container
tainer,
surgiu como uma alternativa vantajosa à construção.
ção, a aprovação das casas feitas de container
Abrigando desde programas permanentes a
junto às prefeituras funcionam da mesma forma e
programas temporários, pode atuar também como
incluem as mesmas taxas que uma casa de alvenaria.
Em termos de legislação, segundo o arespecializado
neste
tipo
de
moradias de caráter urgente, permitindo deslocamentos e modificações futuras, assim como o projeto do arquiteto japonês Shigeru Ban, Habitação Temporária de Contêiner em Onagawa, Miyagi, no Japão, que propôs a criação de blocos de moradia com três andares cada um, servindo como solução às famílias que sofreram com o tsunami. (figura 27)
Por sua Resistência e durabilidade, o contai-
ner, além de habitações temporárias, admite questões
70
Fig.25
Habitação Temporária de Contêiner
constru-
3.1 Dimensões e características
Estas caixas metálicas feitas em aço, possuem
uma estrutura leve mas altamente resistente, capaz de resistir ao uso constante no transporte de mercadorias,
Inventado pelo americano Malcom McLe-
bem como a ações de chuva ou de incêndio. Por serem
an, na década de 50, o container surgiu como uma
modulares e possuírem um encaixe perfeito são facilmen-
inovação e alternativa ao transporte e armazena-
te empilháveis, quando vazios podem ser sobrepostos
mento de cargas, facilitando seu deslocamento e
até dez containers sem qualquer acréscimo estrutural.
empilhamento em navios. Os containers até então
mediam 33 pés, e foi só em 1968 que eles muda-
entretanto algumas são mais utilizadas e in-
ram e passaram a ser os modelos como são conhe-
dicadas para o uso na construção civil, como
cidos hoje, os Standard, que medem 20 e 40 pés.16
o Dry Standard, o High Club e até o Refeer.
Existem
várias
tipologias
de
container,
Responsáveis por 90% do movimento de mer-
cadorias pelo mundo, os containers, que possuem uma vida útil de aproximadamente 100 anos, são descartados após 10 anos de uso amontoando-se nos portos. Muitas vezes é mais vantajoso comprar um container novo do que enviá-lo de volta vazio.
16 A história completa dos container. Disponível em: <http://mirandacontainer.com.br/historia-completa-containers/> Acesso em: 29 de maio de 2016
Fig.26
Container Dry Standard: Destinado ao uso de cargas gerais, é um dos mais utilizados para o transporte no mundo, totalmente fechado, possui portas padrões no fim do container e chão de madeira. Geralmente transportam produtos como alimentos, móveis e roupas, sendo um dos mais utilizados para transformação em casas e escritórios. 20’ Dry 40’ Dry Dimensões Largura Comprimento Altura Largura Comprimento 2,59 m 2,438 m 12,192 m Externa 2,438 m 6,06 m 2,39 m 2,352 m 12,03 m Interna 2,352 m 5,9 m
Fig.27 Container
Este container é praticamente igual ao Dry Standand, a diferença é que possui 1 pé a mais em sua altura, comportando uma carga maior e mais alta. Em sua maioria carregam roupas, brinquedos, eletrodomésticos e cargas a granel. Mais indicado para o uso em habitações por possuir pé direito maior,. 40’ HC Dimensões Externa Interna
72
Largura Comprimento Altura 2,89 m 2,438 m 12,192 m 5,69 m 2,352 m 12,03 m
High Club:
Conjunto Habitacional em Container Fig.28 Container
Refrigerado/Refeer: O Refeer possui chão de alumínio e portas reforçadas com aço e revestimentos em aço inoxidável. Com isolamento próprio, este container possui um motor que mantem a temperatura interna de acordo com a necessidade do produto que está transportando. Apesar de ser mais caro que os outros, também são utilizados em construções por já possuir isolamento térmico. 20’ Refeer Dimensões Externa Interna
Largura Comprimento Altura 2,59 m 2,438 m 6,06 m 2,26 m 2,285 m 5,45 m
40’ Refeer Largura Comprimento 2,438 m 12,192 m 2,285 m 11,57 m Fig.29 Container
Open Top:
Da mesma tipologia do Dry Standard, com a diferença de não possuir teto fixo, com barras de sustentação geralmente é coberto por uma lona, e atua no transporte de cargas que não passam pela porta padrão do container. 20’ Dimensões Externa Interna
Largura Comprimento Altura 2,59 m 2,438 m 6,06 m 2,36 m 2,34 m 5,89 m
40’ Largura Comprimento 2,438 m 12,192 m 2,352 m 12,024 m
73
Fig.30 Container
Flat Rack: Atuando também no transporte de cargas que excedem as dimensões do container, o Flat Rack possui apenas as paredes das extremidades, estas que podem ser fixas ou móveis. Ideal para carregar cabos, bobinas e tubos de aço. 20’ Dimensões Externa Interna
Largura Comprimento Altura 2,59 m 2,438 m 6,06 m 2,31 m 2,352 m 5,90 m
40’ Largura Comprimento 2,438 m 12,192 m 2,41 m 12,020 m
Fig.31 Container Ventilado:
Container semelhante ao Dry Standard, mas que possui pequenas aberturas para ventilação no teto ou nas laterais, sendo ideal para o transporte de cargas orgânicas. 20’ Dimensões Externa Interna
74
Largura Comprimento Altura 2,59 m 2,438 m 6,06 m 2,31 m 2,352 m 5,90 m
40’ Largura Comprimento 2,438 m 12,192 m 2,41 m 12,020 m
Conjunto Habitacional em Container
3.1.1 Vantagens e desvantagens
Hoje, as empresas que vendem, alugam ou modificam containers para usos comerciais e residenciais vem crescendo. Atuam na provisão de habitações temporárias ou fixas, além de fornecer mão de obra especializada para adequar estas caixas metálicas ao projeto em questão.
Apesar desta nova tipologia ainda ser mais conhe-
cida no exterior, o número de projetos cresce no Brasil, bem como arquitetos adeptos a essa nova tecnologia.
Além de contribuir com questões de sus-
tentabilidade através da reciclagem do container, que amontoam-se nos portos, o uso deste material pode trazer muitas vantagens no ramo da construção civil. Cada vez mais, aparece como alternativa aos projetos convencionais, podendo equiparar-se qualitativamente as construções em alvenaria.
Com um grande número de containers ma-
rítimos inutilizados nos portos, o valor de compra deste material é baixo, além de poder ser reutilizado, há também a possibilidade de compra-lo novo. Quando utilizado como base de projeto, dispensa a compra e uso de materiais como água, areia e cimento, preservando recursos naturais e contribuindo para um processo mais limpo, com menos entulho no canteiro de obras.
Por já possuir uma estrutura pronta e alta-
75
mente resistente, o container aloca-se facilmente
meses para ser “construída”, montada e instalada.”17
aos terrenos, economizando no processo de terra-
planagem, bem como nas fundações, que podem
obra especializada, porém empresas que atuam neste
utilizar-se de sapatas rasas, garantindo uma menor
ramo e realizam o preparo do container para habita-
interferência no solo e mantendo uma boa perme-
ções, comércios e escritórios cresce no Brasil, algumas
abilidade do terreno. Todas estas questões, atrela-
das empresas que podem ser citadas são a Delta Con-
das a uma boa administração do projeto, podem ge-
tainers, Bunker Metal e a NHJ do Brasil, entre outras.
rar uma economia de até 30% na construção, assim
Muitas destas já realizam o trabalho de recorte para
como afirma o arquiteto Danilo Corbas em entrevista.
as esquadrias, adequação do ambiente ao projeto,
Outra vantagem do uso deste material é a
como instalações de estruturas para paredes drywall,
possibilidade de uma obra mais rápida. Com o deslo-
além de recortes de portas e janelas, molduras, pin-
camento da base estrutural do projeto, o container,
tura externa e preparação para partes hidráulicas.
já pronta, a alocação no terreno e finalização da obra
torna-se muito mais ágil, assim como afirma o arquite-
montagem mais simples, além de uma possibilida-
to Celso Costa, do escritório Costa Container: “Atual-
de maior de configurações e flexibilidade de projeto.
O trabalho com este material exige mão de
A modularidade do container garante uma
mente, uma casa container com 100 m² leva apenas 03
17 Costa Container Arquitetura. Disponível em: < http://www.costacontainer.com.br/> Acesso em: 29 de maio de 2016
76
Conjunto Habitacional em Container
vel por este tipo de veículo, e permita o uso de empilhadeiras e guindastes que possam auxiliar na montagem.
Por ser feito em aço, um bom condutor de
calor e possuir pouca qualidade acústica, quando não utilizado o modelo Refeer, precisam de um trabalho de isolamento térmico e acústico. Outro ponto a ser observado é a questão da carga que foi transportada, prevenindo possíveis contaminações, bem como um tratamento antiferrugem. Fig.32 Recortes para esquadrias
O uso do container na construção ci-
vil, ainda desperta estranheza e muitas dúvidas, seja por questões culturais, por sua dimen
Por possuir uma estrutura leve, permite o des-
são, pelo tipo de material que é feito, ou por
locamento por terra, realizado principalmente por ca-
antes ter sido utilizado para o transporte de cargas.
minhões. Assim, torna possível a realocação do imóvel
pronto para outro local caso seja necessário. “É possível
las “escolas de lata” implantadas em São Paulo, que
instalá-los em um imóvel alugado e levá-los junto na mu-
realizadas sem qualquer projeto de conforto am-
dança.”, afirma Perci Hultmann dono de uma empresa
biental, obtiveram enormes problemas com rela-
de construção com containers. Entretanto, é preciso es-
ção ao calor, por exemplo, mistificando o uso deste
tar atento a necessidade de um terreno que seja acessí-
material como artefato da arquitetura, quadro este
Muito da questão cultural no Brasil se dá pe-
77
3.2 O aço na arquitetura
que vem sendo e deve ser mudado. Fato é, que desde que estudado e utilizado de forma correta pode trazer muitas vantagens no ramo da construção.
Aqui, o estudo do terreno, do conforto
ambiental e da ergonomia se fazem necessários para garantir um ambiente confortável ao usuário, porém todas estas questões, se olhadas com atenção, podem ser atendidas garantindo um bom projeto sustentável, econômico e funcional.
A construção em aço surge no século XVIII
na Inglaterra e desde então vem incorporando seu sistema a índices de precisão e desenvolvimento no setor. No Brasil, foi apenas no fim do século XIX que o aço passou a ser utilizado, mas sempre
como
peças
importadas
e
pré-fabricadas.
Com o surgimento da CSN, Companhia Siderúrgica
Nacional, em
1946
o
aço
passa
en-
tão a ser um produto de fabricação nacional.18
No Brasil era utilizado principalmente no setor
industrial, diferente da construção civil que foi desenvolvida sempre privilegiando o concreto e alvenaria. Na Inglaterra por exemplo, 70% dos prédios com mais de quatro andares possuem estrutura de aço, já aqui este número não atinge 5%.19 Entretanto, segundo o
18 Centro Brasileiro de Construção em Aço. Disponível em: <http://www.cbca-acobrasil.org.br>Acesso em: 15 de maio de 2016 19 Era do aço. Disponível em: < http://au.pini.com.br/arquitetura-urbanismo/152/artigo34881-6.aspx> Acesso em: 15 de maio de 2016
78
Conjunto Habitacional em Container
CBCA, Centro Brasileiro da Construção em Aço, este
riais mais eficientes e que gerem
quadro vem mudando, e o que demonstra isto é que
baixo impacto ao meio ambiente”.20
este tipo de construção, em 2014 por exemplo, cor-
Devido a consolidação das construções em
respondeu a 36% do total do consumo aparente de
concreto, mesmo com estes avanços, o aço ainda é
aço no país. Ainda mais, segundo pesquisa Industrial
pouco utilizado quando com- parado principalmen-
Anual do IBGE o número de construções em aço no
te a países como Inglaterra, Estados Unidos e Ja-
Brasil cresceu em média, entre 2002 e 2012, 11% ao ano.
pão. “Com raras exceções, os arquitetos brasileiros
Acredita-se que a evolução deste tipo de cons-
permanecem ain da presos ao racionalismo moder-
trução se dê pelo aumento de projetos mais eficientes,
no, que pouco utilizou o aço como sistema cons-
que procuram soluções que gerem menor impacto
trutivo [...]”, afirma o arquiteto Siegbert Zanettini.
ambiental, assim como argumenta VanderLey John,
professor de Engenharia da Escola Politécnica da USP:
dem gerar muitas vantagens, entre elas estão a pre-
As construções com este tipo de material po-
cisão construtiva, já que diferente das estruturas de “A tendência é que se busquem
concreto, as metálicas são medidas em milímetros,
soluções
cola-
garantindo uma estrutura mais precisa e nivelada,
borem para a produção de edifi-
uma maior preservação do ambiente, reciclabilida-
tecnológicas
que
cações de qualidade, com mate-
de, as estruturas podem ser desmontadas e reapro-
20 Era do aço. Disponível em: < http://au.pini.com.br/arquitetura-urbanismo/152/artigo34881-6.aspx> Acesso em: 15 de maio de 2016
79
veitas, menor prazo de execução e racionalização de
temas metálicos no Brasil é a questão da cultura e falta de
materiais e mão-de-obra, já que com a adoção de sis-
repertório para propor soluções fora do convencional.
temas industrializados o desperdício de materiais é muito menor, entre outros ganhos. Segundo Zanetti: “O aço é um material com amplas possibilidades de uso – de grandes edificações a obras-de-arte e mobiliário urbano. O controle de qualidade da indústria, da fundição à usinagem e pintura, e a precisão milimétrica da montagem são muito superiores em comparação ao método artesanal.”21
O aço permite muitas qualidades para a constru-
ção que devem ser levadas em conta no desenvolvimento projetual, entretanto, como afirma o arquiteto José Wagner Garcia, a maior dificuldade em trabalhar com sis-
21 Construções Metálicas: O uso do Aço na Construção Civil. Disponível em: <http://wwwo.metalica.com.br> Acesso em: 23 de maio de 2016
80
4. E s t u d os d e C aso
4. Estudo de caso
permitindo um aproveitamento maior do terreno
Os estudos de caso realizados a seguir foram feitos se-
zer reservado, garantindo identidade aos conjuntos.
guindo um protocolo de pesquisa. A escolha das edifica-
Outro fator utilizado para a seleção dos projetos foi
ções buscou elementos projetuais que complementas-
a existência da proposta de habitações acessíveis.
sem o projeto a ser desenvolvido, analisando elementos
que garantem qualidade às habitações estudadas.
containers e aparecem como referência na utilização
Estabelecido em dois blocos de estudo abri-
deste material, bem como a adaptação do mesmo para
gam de forma setorizada habitações de interesse so-
fins habitacionais. O estudo destas edificações propor
cial e projetos de moradias que utilizaram o container
cionam um maior conhecimento de como promover
como base estrutural, esta divisão ocorre devido a
conforto em espaços pequenos como o container ga-
inexistência de projetos que unem as duas tipologias.
rantindo ao mesmo tempo todos os equipamentos
No primeiro bloco, a escolha priorizou conjun-
necessários para a vivência humana. Dois projetos
tos habitacionais alocados sobre ou próximos a fave-
em diferentes escalas, mas com a mesma função, afir-
las e loteamentos irregulares, garantindo a perma-
mam a versatilidade do container tanto em sua adap-
nência da população em seu antigo local de moradia.
tação e modulação como em formas de implantação.
Surgem como referência de programa a ser adotado, incorporando serviços e espaços comerciais complementares às habitações. Apresentam propostas de implantação que valorizam o espaço construído,
e proporcionando aos habitantes um espaço de la-
O segundo bloco, abriga projetos realizados em
4.1 Conjunto Habitacional Corruíras Jabaquara, São Paulo
Localizado ao lado do metrô Jabaquara, e proje-
tado pelo escritório Boldarini Arquitetos e associados em parceria com a Secretaria de Habitação – SEHAB-PMSP, o projeto faz parte da operação urbana consorciada água espraiada, e tem como objetivo o reassentamento da favela Minas Gerais, localizada próxima a construção.
O conjunto possui 244 unidades habitacionais,
Fig.33 Fachada edifício
dispostas em dois blocos que compõem um conjunto escalonado, onde o acesso é feito por ruas em níveis diferentes, já que o terreno onde está implantado possui um declive de quase 20 metros. O projeto tira partido deste desnível, uma passarela de entrada realiza a chegada ao térreo elevado, possibilitando uma disposição dos apartamentos de tal modo em que não há a necessidade do uso do elevador, mes-
Fig.34 Corte - Aproveitamento do terreno
mo se tratando de um conjunto vertical. Dispõe-se quatro apartamentos para cima do térreo elevado e quatro para baixo, permitido pela lei neste caso o uso exclusivo de escadas como circulação vertical.
A implantação do conjunto cria um pátio re-
cuado de 24m², recurso utilizado para garantir a insolação de todos os apartamentos virados para este vazio. O projeto aposta também na força da circulação horizontal, realizada por passarelas abertas, que interligam todo o conjunto, o objetivo é Fig.35 Pátios internos
criar e manter esta relação entre os moradores.
Os apartamentos de 48m² possuem uma tipolo-
gia simples e algumas unidades adaptadas para cadeirantes, possuem medidas mínimas, mas que são confortáveis. A distribuição das moradias foi feita de forma pensada, já que as famílias mais numerosas ficam nos pavimentos inferiores, os deficientes no nível da rua e as pessoas com problemas de saúde nos apartamentos virados para uma rua onde encontra-se um hospital. Fig.36 Passarelas metálicas
84
Conjunto Habitacional em Container
Fig.39 Unidades habitacionais / acessíveis
Fig.37 Pátios e passarelas
Fig.38 Implantação
Fig.40 Vista interna
85
4.2 Conjunto Habitacional Heliópolis Heliópolis - Gleba G, São Paulo Fig.41 Pavimento tipo - Habitações
Projeto realizado em um terreno situado na
entrada da comunidade de Heliópolis, atuando como transição entre cidade formal e informal. Projetado pelo escritório Biselli & Katchborian como parte do programa de Reurbanização de Favelas da Prefeitura de São Paulo e através da Secretaria de Habitação, o projeto é pensado como uma quadra urbana.
Para a construção dos blocos de apartamentos,
foi utilizado o sistema de alvenaria de bloco de concreto. Em sua maioria são blocos repetidos, mas que de toda forma possuem uma singularidade em sua fachada, pela disposição das habitações e reforçada principalmente pelo uso da cor. Os pórticos de entrada de cada Fig.42 Vista interna
bloco, são os elementos não repetitivos na construção, foram realizados em concreto armado e possuem cada
86
Conjunto Habitacional em Container
um uma cor, identificando a entrada de cada edifício.
O projeto se aproveita da geografia do terre-
no, que permitiu a construção de um edifício de oito andares de apartamentos, sem o uso de elevadores. As passarelas, levam aos térreos elevados criados em diferentes níveis, permitindo o acesso aos apartamentos superiores e inferiores, possibilitando a construção de um maior número de unidades de apartamentos utilizando apenas a escada como circulação vertical.
Fig.43 Planta de Situação
Fig.44 Setorização por cor dos blocos
87
Os apartamentos foram projetados de modo a
ter flexibilidade de configuração, já que ali morariam famílias que poderiam variar bastante em seu número de pessoas, de 5 a 11 pessoas. Há também apartamentos para deficientes, que ficam localizados nos térreos dos blocos. Além de contar com um pátio aberto de uso comum, o térreo conta também com salas comerciais, utilizadas pelos próprios moradores.
Fig.45 Acesso aos térreos por passarelas
Fig.47 Unidade habitacional - A
88
Fig.46 Pátio Interno
Conjunto Habitacional em Container
4.3 Jardim Edite São Paulo
Projetado para abrigar os moradores da fa-
vela Jardim Edite, localizada no mesmo terreno de implantação do projeto, situa-se entra as avenidas Jornalista Roberto Marinho e Luís Carlos Berrini, um dos maiores polos de crescimento de São Paulo. Fig.48 Unidade A adaptada
Com a parceria da SEHAB o projeto é uma realiza-
ção dos escritórios MMBB e H+F, faz parte do programa de reurbanização de favelas do município de São Paulo e está dentro da Operação Urbana Consorciada Água Espraiada. Entretanto, é preciso citar que sua realização só foi possível devido a organização e pressão política dos moradores da favela, que seriam realocados para outras moradias, mas que resistiram as desapropriações, Lutaram e conseguiram a construção de um conjunto habitacional no mesmo terreno em que já ocupavam.
Fig.49 Unidade habitacional - B
O
conjunto
habitacional
é
verticaliza-
89
do, e o primeiro que utiliza elevadores desde 200, o uso surgiu como artifício no projeto pela necessidade de adensamento do conjunto. O edifício conta com 15 andares dispostos em 3 torres, e dois blocos lineares, que resolvem no térreo os programas públicos e o acesso aos prédios. A cobertura destes edifícios lineares funciona como um térreo elevado interligando todos blocos habitacionais. O conjunto ainda conta com uma creche, uma unidade de saúde e um restaurante-escola, utilizados por todos.
Fig.50 Fachada do conjunto
Fig.51 Planta - Térreo
90
Conjunto Habitacional em Container
Fig.52 Setorização de usos
Fig.53 Planta unidades - Lâmina
Fig.55 Vista interna Fig.54 Planta unidades - Torre
91
4.4 Casa Container Cotia, São Paulo
Projetada pelo arquiteto Danilo Corbas, foi uma
das primeiras deste estilo a serem construídas no Brasil.
Com uma área total de 196m² e dois andares,
utiliza em sua construção 4 containers reciclados de 40’, com dimensões de 12m de comprimento e 2.90m de altura. A ideia do arquiteto era realizar uma construção o mais sustentável possível, portanto os conFig.56 Relação com o entorno
tainers foram comprados em São Vicente, no litoral paulista, desamassados e reutilizados como estrutura principal da casa. As portas e janelas foram recortadas no próprio local de compra e o container foi transportado já pronto para ser alocado no terreno.
A
casa
é
composta
por
três
quartos,
sala de estar, sala de jantar e cozinha gourmet
integradas,
escritório,
três
banheiros,
área de serviço, garagem coberta e varanda. Fig.57 Relação com o entorno
92
Conjunto Habitacional em Container
Com a premissa de criação de um projeto sustentável, o arquiteto utiliza na construção de sua casa diversos artifícios ecologicamente corretos.
Estes artifícios possibilitaram uma econo-
mia tanto nos recursos naturais quando financeiros. O reaproveitamento do container, representou o ganho em muitos fatores, como por exemplo na economia com a fundação da casa, já que a estrutura metálica sendo mais leve, permite usar sapatas isoladas, pequenas e rasas. As árvores presen-
Fig.58 Construção da casa container
tes no terreno também foram aproveitadas para ajudar no sombreamento e redução do calor excessivo.
Corbas utiliza o sistema de captação de
água da chuva, reaproveitada para serviços domésticos.
Como solução térmica o projeto conta com ven-
tilação cruzada e o telhado verde, que ajuda no isolamento e manutenção da temperatura. Além disto, há na casa um isolamento feito com lã de PET, um sistema de isolamento térmico e acústico ecologicamente correto. São utilizadas também telhas térmicas tipo Fig.59 Fachada com circulação vertical
93
sanduíche de poliuretano na cor branca, que refletem a luz do sol e ajudam a controlar a temperatura.
Fig.62 Pavimento térreo
Fig.60 Telhado verde e varanda
Fig.61 Ambiente interno
94
Fig.63 Segundo pavimento
Fig.64 Maquete eletrônica - Sobreposição
Conjunto Habitacional em Container
4.4 Vila Estudantil Keetwonen Amsterdã, Holanda
telhado que drena as águas da chuva, ajudando na diminuição do calor e no isolamento, protegendo também a estrutura dos containers da ferrugem.
A vila possui ainda uma cafeteria, um su-
Um projeto idealizado pela TempoHousing
permercado, uma área de escritórios e de espor-
ganhou vida em Amsterdã com o objetivo de aten-
tes. Cada bloco de apartamentos possui uma área
der a demanda por alojamentos estudantis. Este edi-
fechada e reservada para o estacionamento de bi-
fício conta com mil containers empilhados em cin-
cicletas, transporte muito comum na Holanda.
co andares e está localizado próximo ao centro da cidade. Os containers atendem as necessidades de seus moradores, contando com todos os equipamentos básicos necessários em um apartamento.
Com banheiro, cozinha, varanda e sala
de estudos, possuem ainda grandes janelas, que permitem bastante incidência de luz natural.
O
apartamento ainda conta com um sistema de ventilação
automática
com
várias
velocidades.
Além do reaproveitamento dos containers,
estes enviados da China, o complexo conta com um
Fig.65 Conjunto de edifícios de container
95
Fig.66 Pรกtio Interno
96
Fig.67 Varanda dos quartos
Fig.68 Vista interna dos apartamentos
Conjunto Habitacional em Container
5. Ha b i tação e m Con tai n er
97
Como produto final do estudo levantado até
estudados a seguir artifícios, tanto naturais quanto
aqui, será realizado o projeto de um conjunto habi-
artificiais, capazes de atenuar e resolver estes pos-
tacional, tendo como base construtiva o uso do con-
síveis problemas. A ergonomia também é essencial
tainer. Esta metodologia de projeto surgiu como
quando tratamos de habitação, para que assim essa
artifício para a realização deste conjunto de habita-
possa prover uma boa qualidade de vida para seus ha-
ções, tanto por suas qualidades construtivas, quanto
bitantes, facilitando as atividades diárias de cada famí-
pelas facilidades que proporcionaram em relação a
lia. Para tanto, o conjunto contará com módulos que
sustentabilidade, custo e tempo, bem como a possi-
serão agrupados ou encaixados para a realização de
bilidade de realocação e maior facilidade de inserção
cômodos com medidas mínimas, porem confortáveis.
desta construção em diversas tipologias de terreno.
Quando tratamos deste tipo de construção,
logo se pensa nas questões ergonômicas e de conforto ambiental, já que trata-se de uma caixa metálica que servirá como base estrutural para uma habitação. Levando em conta as questões já levantadas no capítulo quatro, como a alta condutividade de calor e pouca qualidade acústica presente neste material, serão
98
Conjunto Habitacional em Container
5.1 Sustentabilidade “O desenvolvimento sustentável significa atender as necessidades do presente, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de
importantes da economia mundial e tem um papel importante no quadro ambiental. Os edifícios são responsáveis por 40% do consumo de energia mundial, 16 % da água potável e 25 % da madeira das florestas, bem como a emissão de 50% do CO2.22
atender suas próprias necessidades”.
Estas informações ressaltam a importân-
(World Comission on Environment and
cia de construções mais sustentáveis, que tenham
Development WCED 1987)
como premissa a diminuição do impacto ambiental das edificações e um melhor aproveitamento dos re-
A questão de sustentabilidade vem sendo aplica-
cursos naturais, com um uso racional dos elementos
da à construção civil, entre outros setores, de for-
necessários para iluminar e ventilar os ambientes,
ma cada vez mais presente. Levando em conta a si-
preconizando a mínima alteração no local em que
tuação ambiental em que nos encontramos, este
será inserida.O container entra como uma inovação
deve ser um assunto relevante no âmbito projetual.
neste tipo de arquitetura, por ser um material reci-
clado e permitir o aproveitamento correto de recur-
A construção civil é um dos setores mais
22 LAMBERTS, Roberto apud SOLANO, Rosana. A importância da Arquitetura Sustentável na redução do impacto ambiental, 2008.
99
sos naturais e a inserção de elementos que garan-
estas questões, com o uso do container e o aprovei-
tam uma arquitetura mais sustentável, vem sendo
tamento correto dos recursos naturais buscará uma
cada vez mais utilizado no ramo da construção civil.
edificação sustentável, podendo possibilitar uma di-
Com o reaproveitamento deste material, tor-
minuição nos gastos após a ocupação. A sustentabili-
na-se dispensável o uso de areia, tijolo, cimento, água,
dade além de garantir um menor impacto ambiental
entre outros materiais utilizados em uma construção
também favorece a economia, já que com o aprovei-
comum. Isso gera uma obra mais limpa, garantindo tam-
tamento dos ventos, da luz solar ou das águas pluviais
bém a diminuição do entulho no canteiro de obras. A
ajuda na diminuição dos gastos como por exemplo,
utilização do container permite também um maior res-
com equipamentos de aquecimento e de iluminação.
peito ao perfil do terreno, por ser modular, acomoda-se mais facilmente no local de implantação, diminuindo o impacto no ambiente a ser inserido, assim como afirma a empresa ESSER, arquitetura e engenharia sustentável.
Ainda sobre a redução do impacto ambien-
tal pela utilização do container, o arquiteto Danilo Corbas afirma que este tipo de construção permite fundações mais rasas, por ser um material leve e já possuir uma estrutura pronta, garante uma menor interferência no solo e respeito ao lençol freático.
100
O projeto a ser realizado preconizará todas
Conjunto Habitacional em Container
5.2 Conforto Ambiental e Ergonomia
O estudo do conforto ambiental torna-se
essencial para o projeto que será realizado. Assim como já afirmado, o container possui características próprias que precisam ser levadas em conta. Entra-se então na questão de como o projeto arquitetônico atrelado as noções de conforto podem resolver estas questões da melhor maneira possível.
A arquitetura tem o papel de conceber um
edifício capaz de prover relações de conforto com o usuário, garantindo assim, condições térmicas compatíveis ao conforto térmico humano, já que quanto mais confortável se encontra o usuário melhor será a sua capacidade de trabalho ou de descanso.
O conforto ambiental, principalmente quando
ligado as questões de habitação, pode ter duas interpretações, a física e a subjetiva. Do ponto de vista físico trata-se de questões ligadas a integridade física
humana, para que assim as necessidades primárias se cumpram. Podemos citar então atributos ligados ao conforto ambiental do contexto físico, como segurança, que funciona como base para a noção de bem estar, a adequação ambiental, como obtenção de um equilíbrio entre meio e corpo e a eficiência, que garante maior facilidade e melhor realização das tarefas no ambiente da habitação, como por exemplo a cozinha, que deverá conter medidas adequadas para o serviço que será executado, garantindo maior conforto ao usuário. Para que possa se realizar uma plena ideia de conforto, os elementos físicos devem estar ligados aos subjetivos, que tratam de uma questão mais psicológica e cultural, como as noções de lar, de privacidade e de território.23
O conforto, neste caso, deve atuar garantindo
a qualidade projetual da habitação. Para isso, será necessária uma adequação do projeto ao terreno em que o mesmo será implantado. O entendimento do vento, da posição do sol, das áreas de sombra e do clima da região tornam-se essenciais para o sucesso do projeto.
101
Aqui, a busca pelo o conforto ambiental será
A ventilação entra como elemento fundamen-
realizada utilizando principalmente elementos natu-
tal, já que a renovação do ar, garante uma melhor
rais, como o vento, o sol, a água da chuva e a vege-
dissipação do calor. A ventilação natural atua no edi-
tação. A construção de um edifício que possua ca-
fício pelas aberturas, que deverão ser previstas e ade
racterísticas que permitam uma resposta térmica
quadas do ponto de vista da dimensão e posi-
coerente, não significa um aumento no custo da cons-
ção, atuando uma como entrada e outra como
trução, e sim uma redução de custo de utilização e
saída,
garantindo
um
fluxo
de
ar
manutenção de equipamentos, garantindo também uma condição ambiental interna mais agradável.24
Como soluções que poderão ser adequadas ao
conjunto, encontram-se, principalmente, a orientação e posição das aberturas e quantidade dos elementos translúcidos e transparentes, além da adequação de possíveis brises-soleil que ajudam no controle térmico natural. Será necessário a previsão do equilíbrio entre elementos opacos e transparentes para a provisão de uma qualidade ambiental dentro do container.
Fig.69 Fluxo de ventilação nos ambientes
23 SILVA, Helga e SANTOS, Mauro. ProArq18 – O Significado do conforto no ambiente residencial, 2011 24 FROTA, Anésia e SCHIFFER, Sueli. Manual do Conforto Térmico, 2006 p.18
102
adequado.
Conjunto Habitacional em Container
As imagens ao lado representam exemplos de
Assim como afirma Joana Golçalves, arquite-
fluxos de ar dentro de um ambiente, sendo este sem
ta e professora da FAU-USP, medida simples podem
divisórias internas, ou parcialmente dividido. A posição
se tornar eficazes para garantir conforto ao usuário:
destas aberturas é muito importante pois exercem grande influência na quantidade e qualidade da ventilação
“Entre outras medidas importantes
do ambiente. A vegetação também pode ser aliada ao
estão o uso de vidros claros para a boa penetração da luz natural, de
conforto térmico do projeto, atuando como um prolon-
esquadrias que se abrem para os be-
gamento da face do edifício, dissipando ou melhor dire-
nefícios da ventilação noturna, e a
cionando os ventos, assim como mostra a figura a seguir.
especificação de revestimentos externos opacos em cores claras para a maior reflexão da radiação”.25
Os containers, como são feitos de aço, pos-
suem uma alta condutividade de calor, portanto, a partir da escolha do container que será utilizado, deverão ser definidas as medidas para atenuar esta Fig.70 Vegetação como artifício ao conforto
questão. Se o escolhido e mais adequado ao projeto
25 Zonas de Conforto. Disponível: <http://au.pini.com.br/arquitetura-urbanismo/162/artigo60713-1.aspx.> Acesso em: 25 de abril de 2016
103
não for o refrigera do, ou refeer, como é mais conhe-
trução com containers, os isolantes somados as pare-
cido, deverá ser previsto um isolante térmico. En-
des externas e as de revestimento interno formam uma
tre o mais utilizado neste tipo de construção está o
espécie de sanduíche que permite uma melhor qualida-
de lã de PET, sendo o mais ecologicamente correto.
de acústica, podendo ser até superior as de alvenaria.27
Outro
artifício
que
pode
ser
utiliza-
Tão importante quando o conforto ambiental,
do para melhorar o conforto térmico é o telha-
está a ergonomia, que entra como atributo para garan-
do verde. Além de proteger a cobertura do edi-
tir um espaço adequado e com qualidade para o usuário.
fício contra a chuva e os raios solares, a camada
Entende-se ergonomia como a interação entre o homem
de terra ajuda no equilíbrio térmico do edifício.26
e o ambiente, otimizando a realização das atividades,
Há também a possibilidade do uso de telhas
garantindo maior conforto e qualidade de vida. Assim
em cores claras, que refletem a luz solar, ajudando
como afirma Vera Bins Ely, professora de arquitetura e
na diminuição do calor que passa para o ambiente,
urbanismo na Universidade Federal de Santa Catarina:
assim como pudemos observar no estudo de caso
“(...) a Ergonomia é uma disciplina
realizado sobre a Casa Container de Danilo Corbas.
científica que estuda as interações
A questão sonora também é bastante discutida quan-
dos indivíduos com outros elementos
do tratamos do container como habitação, entretanto, segundo o arquiteto Celso Costa, especialista em cons-
do sistema – máquinas, equipamentos, ambientes – fazendo aplicações
26 Benefícios de telhados verdes em casa. Disponível em: <http://atitudesustentavel.com.br/blog/2012/05/14/5-beneficios-de-telhados-verdes-em-casa/> Acesso em: 29 de abril de 2016 27 Casa container: um conceito novo e sustentável de moradia. Disponível em: <http://www.tuacasa.com.br/casa-container/> Acesso em 29 de abril de 2016
104
Conjunto Habitacional em Container de teoria, princípios e métodos de
com deficiência, ou não possa morar com qualidade
projeto, com o objetivo de melho-
e em um espaço projetado para ela. O conjunto habi-
rar o bem-estar humano e a eficá-
tacional de containers contará com habitações des-
cia das atividades desempenhadas.”28
A ergonomia, aqui em relação à habita-
ção, trata desde a relação do homem com o mobiliário quanto com o espaço construído, como por exemplo tamanho de corredores, inclinação e largura de rampas, bem como o tamanho dos ambientes da casa, acomodando mais confortavelmente o usuário.
Considerando as dimensões do container, de-
verá ser previsto no projeto modulações que permitam essa qualidade ambiental, garantindo as medidas necessárias para um bom uso do espaço.
A questão da acessibilidade não pode ser dei-
xada de lado e a ergonomia entra como elemento principal nesta questão, para que assim tanto uma pessoa
tinadas a deficientes físicos, buscando uma adequação do espaço às necessidades destas pessoas.
A ergonomia, desde as dimensões dos am-
bientes até a dis posição dos mobiliários, entra como responsável pela espaciali-dade, habitabilidade e organização dos moradores na habitação.
A função ergonômica é essencial em um am-
biente para que o projeto tenha qualidade, não só do ponto de vista estético mas também funcional. No livro Projetando Espaços – Design de Interiores, Gurgel esboça as medidas mínimas necessárias para uma boa realização das atividades, sem comprometer o uso e o espaço a sua volta.
A vantagem desta construção em containers é a
28 BINS ELY, Vera apud SOUZA, Jacqueline. O interior da habitação popular: uma análise do arranjo do mobiliário pela ótica da Ergonomia, 2012
105
Fig.71 Dimensionamentos mínimos
variabilidade de configurações que podem ser criadas, se adequando ao uso de cada família. Isso torna-se importante, já que cada um possui uma necessidade diferente, tanto do ponto de vista ergonômico quanto ambiental.
A vantagem desta construção em containers é a
variabilidade de configurações que podem ser criadas, se adequando ao uso de cada família. Isso torna-se importante, já que cada um possui uma necessidade diferente, tanto do ponto de vista ergonômico quanto ambiental.
106
Conjunto Habitacional em Container
6. Considerações finais
Em vista do número alarmante de pessoas residindo em ocupações irregulares e favelas na cidade de
São Paulo, assim como demonstram os dados percentuais levantados, bem como atrelando os resultados obtidos às pesquisas complementares, como das ações públicas em vigor, chegou-se à percepção da emergência habitacional encontrada na cidade, já identificada e exemplificada por Raquel Rolnik anteriormente.
A configuração desse quadro, juntamente com inquietações pessoais, levaram à busca por uma alternativa
que pudesse incorporar às políticas públicas já vigentes, uma possibilidade de construção mais acessível e rápida de habitações populares. A pesquisa e levantamento de alternativas levaram ao estudo do container como alternativa de projeto, que, assim como já apresentado, vem sendo cada vez mais incorporado no ramo da construção civil.
Adaptando o container através da aplicação dos conceitos de conforto ambiental e ergo-
nomia, a segunda parte do projeto contará com a proposta de um conjunto habitacional de containers, alocado em regiões de infraestruturas e próximas a áreas ou sobre ocupações irregulares. O projeto a ser apresentado busca possibilitar uma nova visão no campo da habitação social, que através de ações sustentáveis, como a reutilização do container, pode ainda contribuir com a produção em maior escala. Entretanto,
de
forma
alguma
prescindindo
das
questões
de
qualida-
de ambiental e de vida, pontos-chave para o desenvolvimento que virá na próxima etapa.
107
108
Conjunto Habitacional em Container
7. P r o j eto
109
Buscando atender as inquietações geradas a
ção rápida, será realizado o estudo do terreno
partir dos estudos feitos anteriormente, será realiza-
escolhido, bem como alternativas mais baratas de
do o projeto de uma moradia popular traduzido na
projeto e aproveitamento dos recursos naturais, que
forma de um Conjunto Habitacional de Containers.
possam prover um ambiente agradável e funcional.
O quadro do déficit habitacional da cidade de
São Paulo nos mostra a necessidade da criação de projetos alternativos que possam colaborar como uma resposta rápida e funcional a esta questão. Para isso será incorporado ao projeto o uso do container como estrutura das habitações, já que este material, assim como afirmado no capítulo quatro, permite uma construção mais rápida e com um custo mais baixo.
O
objetivo
é
mostrar
uma
alternati-
va à construção convencional, que possa surgir como solução ao problema habitacional que vivemos hoje, garantindo uma qualidade de vida igual ou superior as construções de alvenaria.
O quantitativo tem que estar aliado ao qua-
litativo, principalmente quando tratamos de habitação, para tanto, vinculada a ideia de produ-
110
Conjunto Habitacional em Container
7.1 Localização
Como premissa para a escolha do terreno, de-
finiu-se como um dos pontos principais, a garantia de identidade com o local de moradia, e para isto, buscaram-se áreas próximas ou sobre ocupações irregulares e favelas. Uma boa localização era outro fator que deveria ser atendido, para tanto, o terreno deveria encontrar-se próximo a centralidades ou a infraestruturas, sendo estas viárias, de comércio ou serviço.
O terreno escolhido fica localizado no Jardim Pa-
norama, entre as ruas Armando Petrella, Pedro Avancine, Contos Azuis e Professor Simão Faiguenboim. Inserido na sub-prefeitura do Butantã, é conhecido por seus
A favela Jardim Panorama, que divide
muro com empreendimentos e casas grandiosas, conta com moradias de alvenaria e de madeira, o cenário do local impressiona pelo contraste.
Outro fato que colaborou com a escolha do ter-
reno foi a ligação da favela com o ambiente em que ela está inserida. Com pequenos comércios e restaurantes atendem a muitos funcionários dos prédios vizinhos, que vão almoçar por um preço bem mais em conta, contribuindo para a renda de quem ainda vive ali.
A
vulnerabilidade
encontrada
na
ocu-
pação fica evidente. A favela, que existe deste 1957, vem diminuindo ao longo do tempo.29
grandiosos apartamentos residenciais e pelo luxuoso Parque Cidade Jardim. Entretanto, abriga ainda uma favela, de mesmo nome, em que moram hoje 400 famílias.
29 A favela do Parque Cidade Jardim: uma metáfora da São Paulo moderna. Disponível em: < http://brasil.elpais.com/brasil/2016/01/20/politica/1453318772_454529.html>. Acesso em: 05 de junho de 2016
111
7.2 Programa mínimo Como programa a ser seguido, o projeto contará com a previsão de empreendimentos associados ao térreo das moradias, atendendo a demanda por pequenos comércios, estacionamento e restaurantes já existentes hoje na favela, buscando manter e colaborar com a forma de renda dos moradores. O projeto dispõe ainda de creche, restaurante-escola e uma biblioteca/sala de leitura. Como um todo, serão previstas áreas de lazer e de convívio distribuídas ao longo do terreno, buscando atender a todos. Considerará questões acessíveis, incluindo a acessibilidade não só na habitação mas também na área externa, aumentando assim a inclusão social. O projeto da unidade dos apartamentos, realizados em container, mesmo podendo abranger diversas formas, neste caso, apresenta uma tipologia única, dotada das infraestruturas necessárias para uma residência, buscando promover uma boa qualidade de vida, incluindo as principais questões ergonômicas e de conforto ambiental.
112
Fig.72 Área de intervenção
Fig.73 Contraste entre a favela e o entorno
Conjunto Habitacional em Container
7.3 Levantamento de dados 7.3.1 Uso do solo e gabarito
O terreno localiza-se em uma área de ZEIS e próximo a regiões exclusivamente residenciais e de uso misto. Torna-se ideal por possuir relações diretas com os empreendimentos em volta, que encontram-se muito próximos ao terreno, como por exemplo. A projeto buscará incorporar este núcleo, hoje irregular, ao local onde está inserido. Com uma proposta vertical, mas que possui no máximo seis pavimentos, o edifício mantém relação com seu entorno.
Fig.74 Mapa de Zoneamento
Fig.75 Estudo de gabarito
Fig.76 Estudo de gabarito
113
7.3.2 Fluxograma e acessos O local possui três acessos, sendo dois deles em ruas com menor movimento. Há ainda pontos de ônibus dispostos na frente do terreno, facilitando o deslocamento dos moradores.
7.3.3 Levantamento fotográfico Fig.71 Estudo entorno
Fig.78 Estudo entorno
114
Fig.77 Estudo de fluxos e indicação de acessos
Fig.79 Estudo entorno
Conjunto Habitacional em Container
Fig.80 Acesso a favela Jd. Panorama
Fig.82 Terreno de implantação
Fig.81 Exterior da Favela
Fig.83 Barracos de madeira/ Contraste com o entorno
115
7.4 Conjunto habitacional em container Projeto final O projeto final do conjunto habitacional buscou atender grande parte da demanda por habitação encontrada na favela do Jardim Panorama. Com uma implantação não linear, conta com oito blocos de habitações, estas, que possuem os térreos, compostos por pequenos comércios ou serviços. A proposta de inserção dos edifícios buscou interferir o mínimo possível no terreno em questão, tendo em vista sempre a diminuição os custos. Maquete eletrônica - Volumetria
116
Os blocos de habitação encaixam-se no terreno e utilizam de suas curvas de nível como apoio e também como respiro, já que possibilitam a criação de vazios, que deixam o todo mais leve. Ainda sobre redução de custos, o projeto aproveita-se do desnível do terreno e também incorpora o mesmo em sua circulação vertical. Com o objetivo de que que a grande maioria das habitações fossem acessíveis, todos os blocos se interligam por passarelas e rampas que tem como ponto de partida a cota de nível referente a do andar em questão. Todavia, encontram-se dispostas pelo conjunto escadas que permitem um deslocamento mais rápido.
Conjunto Habitacional em Container
Estudo Volumétrico de composição
A acessibilidade encontra-se também nos caminhos que percorrem o terreno. Por possuir declive acentuado, os mesmos são dispostos na diagonal, permitindo vencer as alturas, por tornarem-se mais longos e menos inclinados. O térreo dos oito blocos de habitação localizam-se em diferentes níveis do terreno, mas se encontram e tornam-se únicos em determinados andares,
garantindo uma unidade visual e mantendo a relação de vida em comunidade que os moradores sempre tiveram. As passarelas dispõe-se ao longo dos prédios e garantem esta interligação dos mesmo, contando ainda com espaços de parada para permitir o convívio, ou observar as praças e a paisagem do entorno. A implantação, assim como já afirmado, não é linear, os blocos são dispostos paralelos a
117
rua e também na diagonal. Desenvolvida não casualmente, além de garantir que os prédios se interligassem, o conforto ambiental foi o ponto chave para a determinação da mesma. Nenhum bloco encontra-se disposto com a fachada diretamente para Leste ou Oeste, áreas estas com insolação direta, difíceis de sombrear. Em sua grande maioria estão dispostas entre o Norte e o Sul, aproveitando as fachadas para áreas que necessitam de maior insolação, mas com raios solares mais amenos ou que precisam ser mais frescas.
Estudo área de lazer e circulação
118
Outro fator importante para a determinação da disposição dos blocos foi a criação de praças centrais, que também contribuem para o conforto, já que contam com áreas de vegetação e sombra, permitindo um local mais fresco e ventilado. O conforto ambiental torna-se primordial neste caso, por tratar-se de um objeto metálico que absorve bastante calor, para tanto, foram pensadas alternativas não apenas dentro das unidades, mas também no conjunto como um todo. Nas praças distribuídas pelo conjunto encontram-se “decks”, que atuam como elemento de parada, descanso e lazer. Por estar inserido em um terreno com grande declive, se fazem necessárias áreas de “platô” que permitem o respiro. As áreas de lazer, como quadras, horta e playground, encontra-se nas bordas do terreno, com o objetivo de estimular a interação entre os moradores do conjunto e seus vizinhos, garantindo uma maior integração do projeto ao local em que foi inserido, bem como estabelecendo uma relação entre os moradores da antiga comunidade com o entorno. Outro
Conjunto Habitacional em Container
ponto que reforça esta interação é o térreo livre, que sem grades e muros incorpora-se a cidade e permitem acesso por todas as ruas que rodeiam o terreno. Foi explorado no projeto também o uso da cor. Através de uma paleta de azuis, foi criado um degradê, sendo o mais escuro no térreo e clareando de forma à acompanhar a verticalidade. A opção pelo uso da cor, se deu tanto pela manutenção da identidade dos container, originalmente coloridos , como também para contribuir para a unidade do todo. Os tons
Tem sua estrutura composta por elementos metálicos, sendo estes vigas e pilares em “H” e passarelas que se sobrepoem às coberturas dos container De toda forma os containers sobrepostos estruturam-se sozinhos, podendo aguentar vários andares sem nenhum reforço estrutural, entretanto, como foram realizados recortes nas paredes externas e o conjunto apresenta balanços de diferentes tamanhos, foi necessário a inserção destes reforços estruturais.
de azul, assim como determinados andares do container se encontram e criam uma unidade visual que garante outra interpretação do projeto como um todo. Croqui - Estudo paleta de cores
Composição estrutural
119
Planta c ota 7 29 120
Conjunto Habitacional em Container
121
Planta c ota 7 32 122
Conjunto Habitacional em Container
123
Plan ta c ota 736 124
Conjunto Habitacional em Container
125
Planta c ota 7 39 126
Conjunto Habitacional em Container
127
P lanta c ota 742 128
Conjunto Habitacional em Container
129
Planta c ota 7 45 130
Conjunto Habitacional em Container
131
Planta c ota 7 48 132
Conjunto Habitacional em Container
133
Planta c ota 7 51 134
Conjunto Habitacional em Container
135
Planta c ota 7 54 136
Conjunto Habitacional em Container
137
138
Conjunto Habitacional em Container
c o rte aa 139
140
Conjunto Habitacional em Container
c orte bb 141
142
Conjunto Habitacional em Container
c orte c c 143
O projeto conta ainda com o desenvolvimento do layout e infraestrutura dos apartamentos. Dispondo de dois containers cada unidade, os mesmo encontram-se paralelos um ao outro, e formam uma residência de 57m².
Planta Humanizada Nas unidades foram previstas todas as necessidades básicas de um morador, e conta como sala de estar, jantar, lavanderia, cozinha, banheiro e dois quartos. As paredes internas são compostas por chapas, por tanto, o layout permite alterações e pode ser adaptado a qualquer tipo de família, sendo esta maior ou menor, podendo adaptar-se também as necessidades de um deficiente físico ou um morador com mobilidade reduzida.
144
A disposição dos ambientes foram pensadas para garantir o conforto do usuário. Mesmo que encontrando-se dentro de um container, conta com espaços amplos e de fácil acesso, garantindo um fluxo fácil e intuitivo, que assim como visto anteriormente, garante a inclusão e o desenho universal, podendo ser facilmente adaptado à um deficiente visual por exemplo. O conforto ambiental dentro das unidades foi pensado de diversas formas. Todas as unidades contam com um forro rebaixado e recuado a 10cm das paredes internas do container, sendo que neste rebaixo encontra-se uma grelha que permite a entrada de ar. Este artifício foi utilizado para garantir a ventilação cruzada, e resfriamento dos ambientes, estabelecendo a manutenção de uma temperatura mais amena dentro da residência.
Vista externa apartamento
Conjunto Habitacional em Container
bém foi incorporado ao projeto. Instalado na cobertura dos últimos blocos, garante que as coberturas não tenham contato direto com o sol, permitindo o resfriamento da mesma e do ambiente como um todo, já que os raios solares não entram em contato direto com o metal, estabelecendo uma temperatura mais amena.
Detalhe construtivo
Outra técnica utilizada para garantir o confor- Fig.84 Composição placa Tetra Pak to interno foi a utilização de placas feitas de Tetra Pak O projeto do apartamento como um todo bus(fig.84), que além de sustentáveis por serem reutili- cou a alternativa do container como uma forma de bazadas, são extremamente resistentes e diminuem até ratear sua construção, entretanto, tendo sempre como 60% a temperatura do ambiente, além de servirem premissa o conforto e bem estar o usuário, procurando como um bom isolante acústico28. O teto verde tam- dar “uma cara de lar” para um objeto tão industrial.
28 Placa ecológica Tetra Pak Disponível em: < http://www.ecopex.com.br/telhas-e-placas/placa-ecologica-tetra-pak/>. Acesso em: 05 de setembro de 2016
145
PLANTA LAYOUT
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Conjunto Habitacional em Container
PLANTA LAYOUT - ACESSĂ?VEL
147
PLANTA PISO
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Conjunto Habitacional em Container
CORTE AA
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TELHADO VERDE
CANO DE EXAUSTÃO DO BANHEIRO
CORTE BB
PLACAS ECOLÓGICAS TETRA PAK TUBULAÇÃO APARENTE
150
Conjunto Habitacional em Container
Vistas Internas
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Vistas Internas
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Conjunto Habitacional em Container
Vista Interna
153
154
Conjunto Habitacional em Container
Conclusão A escolha do tema e o desenvolvimento do projeto tiveram como objetivo discutir a inserção de novas tipologias e técnicas construtivas nas habitações de cunho popular. O estudo buscou explorar estas técnicas e como poderiam ser inseridas nos projetos destinado a baixa renda, mantendo qualidade e podendo proporcionar maior rapidez e custo benefício. De toda forma, durante todo o desenvolvimento do conjunto, buscou-se atrelar as questões da demanda habitacional de São Paulo à necessidade de soluções criativas, que pudessem vir a favorecer este mercado. A discussão sobre o déficit habitacional, reinserção dos moradores das favelas e identidade territorial esteve presente tanto na fundamentação teórica quando no projeto em questão. Incorporaram-se todos os elementos pertinentes discutidos durante a pesquisa ao conjunto habitacional, respondendo assim algumas inquietações geradas durante o processo de desenvolvimento.
155
8. b i b l i o g r af i a
Conjunto Habitacional em Container
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Mariana. de uma
BONDUKI, na,
Lei
Nabil. do
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inquilinato
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casa
social própria.
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Estação
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