AnaCr i s t i naFa r a c odoAma r a l
A
I
Ce nt r odeAr t e , Cul t ur aeCo nv i v ê nc i a
:
CENTRO UNIVERSITÁRIO SENAC - CAMPUS SANTO AMARO BACHARELADO EM ARQUITETURA E URBANISMO
Ana Cristina Faraco do Amaral
Trabalho de Conclusão de Curso Arquitetura Inclusiva: Centro de Arte, Cultura e Convivência
São Paulo - SP 2016
ANA CRISTINA FARACO DO AMARAL
ARQUITETURA INCLUSIVA: CENTRO DE ARTE, CULTURA E CONVIVÊNCIA
Monografia
de
conclusão
de
curso
apresentada ao Curso de Arquitetura e Urbanismo do Centro Universitário SENAC Santo
Amaro,
como requisito
conclusão do curso.
Orientador: Prof. Mestre RALF JOSÉ CASTANHEIRA FLORES
São Paulo - SP 2016
parcial
à
FOLHA DE APROVAÇÃO
Ana Cristina Faraco do Amaral
ARQUITETURA INCLUSIVA: CENTRO DE ARTE, CULTURA E CONVIVÊNCIA
Monografia apresentada como requisito para obtenção do grau de Arquiteto e Urbanista pelo Centro Universitário Senac, pela seguinte banca examinadora:
Monografia apresentada em: _____/_____/_____
Orientador: ______________________________________________ Prof. Ms. Ralf José Castanheira Flôres
Avaliador 1: ______________________________________________
Avaliador 2: ______________________________________________
À minha irmã, a verdadeira inspiração para a realização deste trabalho.
AGRADECIMENTOS
Agradeço aos meus pais, por acreditarem em mim e me apoiarem, por todo o carinho, paciência e compreensão ao longo desses 5 anos de curso; Aos professores e professoras do Centro Universitário Senac, pela dedicação e por fazerem parte da minha trajetória; Ao meu professor orientador Ralf Flôres, pelas críticas, conselhos e orientações ao longo do desenvolvimento deste trabalho; À Barbara Murano, pela parceria e pelos excelentes conselhos; À Viviane Fowler, pelas oportunidades de aprendizado na ONG Ritmos do Coração; Às minhas amigas Aline, Amanda e Ângela pelo apoio, pelas conversas, pelas vivências e aprendizados ao longo desses 5 anos; À minha amiga Caroline Ribeiro pela amizade e pelas conversas e desabafos nas horas difíceis; E à minha irmã, por me proporcionar o aprendizado de observar o mundo por outros ângulos.
RESUMO Este trabalho aborda a questão da acessibilidade na arquitetura, traçando um panorama da evolução histórica das leis e normas, revisitando a trajetória das preocupações e discussões sobre a acessibilidade no Brasil. Aponta a questão da acessibilidade como fator essencial para a garantia do exercício dos direitos constitucionais das pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida. O objetivo final deste trabalho é a proposição de um equipamento cultural multidisciplinar, com base nos princípios de desenho universal e que possa se transformar em um modelo de referência da conciliação entre estética, função e uso numa edificação destinada ao desenvolvimento de atividades de arte-educação, exposições e eventos culturais, resultando em um espaço de convivência e inclusão social integrado à natureza, que contemple a diversidade humana num ambiente que ofereça conforto, segurança, acessibilidade e bem estar.
Palavras-chave: Acessibilidade. Desenho Universal. Equipamento Cultural. Inclusão Social. Diversidade Humana.
ABSTRACT This work addresses the issue of accessibility in architecture, tracing an overview of the historical development of laws and regulations, revisiting the course of the concerns and discussions about accessibility in Brazil. Points the issue of accessibility as a key factor to guarantee the exercise of constitutional rights to people of disabilites or reduced mobility. The ultimate goal of this work is the proposition of a multidisciplinary cultural equipment, based on the principles of universal design and that may become a reference model of conciliation between aesthetics, function and use of a building for the development of art education activities, exhibitions and cultural events, resulting in a living space and integrated social inclusion to nature, covering human diversity in an environment that offers comfort, safety, accessibility and wellness.
Keywords: Accessibility. Universal Design. Cultural Equipment. Social Inclusion. Human Diversity.
LISTA DE FIGURAS Figura 1: Homem Padrão (Imagem editada pela autora) .......................................... 15 Figura 2: Deficiência segundo a Convenção da ONU sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (Imagem editada pela autora) ......................................................... 18 Figura 3: Tríade Vitruviana (Imagem editada pela autora) ........................................ 33 Figura 4: Fachada do CCBB em São Paulo, SP (Fonte: spcentrohistoricocultural.blogspot.com) .................................................................... 41 Figura 5: Fachada CCBB SP (Fonte: checkinsaopaulo.com) .................................... 42 Figura 6: Elevador de acesso ao antigo cofre (Fonte: acervo da autora) .................. 43 Figura 7: Museu Reina Sofia, vista aérea (Fonte: Google Maps) .............................. 44 Figura 8: Fachada do MNCARS; elevadores panorâmicos em aço e vidro (Fonte: en.wikipedia.org) ....................................................................................................... 45 Figura 9: Edifício anexo, praça com escultura (Fonte: tienesplaneshoy.com) .......... 45 Figura 10: Palacio La Moneda, vista aérea (Fonte: Google Maps) ........................... 47 Figura 11: Fachada do Palacio La Moneda (Fonte: archdaily.com.br) ...................... 48 Figura 12: Centro Cultural Palacio La Moneda, elevador interno (Fonte: Plataforma Architectura) .............................................................................................................. 48 Figura 13: Centro Cultural Palacio La Moneda, rampas internas (Fonte: Plataforma Architectura) .............................................................................................................. 49 Figura 14: Centro Cultural Palacio La Moneda, vista da passarela (Fonte: Plataforma Architectura) .............................................................................................................. 49 Figura 15: Fachada Pinacoteca do Estado de São Paulo (Fonte: temporadalivre.com) .................................................................................................. 50 Figura 16: Passarelas de acesso aos espaços de exposição (Fonte: higormap.wordpress.com) ......................................................................................... 51 Figura 17: Elevador panorâmico interno (Fonte: acervo da autora) .......................... 51 Figura 18: Mapa Tátil da Galeria de Esculturas da Pinacoteca (Fonte: acervo da autora) ....................................................................................................................... 52 Figura 19: Museu Maxxi, vista aérea (Fonte: Google Maps) ..................................... 53 Figura 20: Fachada Museu Maxxi (Fonte: grandearquitetura.com.br) ....................... 53 Figura 21: Museu Maxxi, interno (Fonte: archdaily.com.br) ...................................... 54 Figura 22: Museu Solomon R. Guggenheim, vista aérea (Fonte: Google Maps) ...... 55
Figura 23: Fachada do Museu Guggenheim em perspectiva (Fonte: greatbuildings.com) ................................................................................................... 55 Figura 24: Museu Guggenheim, rampa Slope (Fonte: greatbuildings.com) .............. 56 Figura 25: Museu Guggenheim de Nova York em corte (Fonte: designboom.com) .. 56 Figura 26: Circulação coberta em blocos da ACIC - Florianópolis - SC .................... 85 Figura 27: Placas (Fonte: wandco.com/2007/04/children-friendly-acessible-hospital-) .................................................................................................................................. 85 Figura 28: Seattle Children Hospital (Fonte: www.studio-sc.com/seattle-childrenshospital.php) .............................................................................................................. 86 Figura 29: CHRISTUS Spohn - Hospital Corpus Christi (Fonte: www.sinalizar.files.wordpress.com)........................................................................... 86 Figura 30: Módulo de referência para projetos (Fonte: Guia de Acessibilidade: Espaço Público e Edificações - Governo do Ceará).................................................. 88 Figura 31: Módulo de referência pessoa em cadeira de rodas (Fonte: Guia de Acessibilidade: Espaço Público e Edificações - Governo do Ceará) ......................... 88 Figura 32: Rota acessível (Fonte: www.eduardoronchetti.com.br/acessibilidade) .... 89 Figura 33: Padrão de Acessibilidade nos diversos espaços (Fonte: CPA - Comissão Permanente de Acessibilidade) ................................................................................. 90 Figura 34: Macro área de estudo (Fonte: Google Maps) ........................................... 91 Figura 35: Levantamento - Mapa de Fluxos (Fonte: acervo da autora) ..................... 92 Figura 36: Levantamento - Mapa de Uso do Solo (Fonte: acervo da autora) ............ 93 Figura 37: Terreno - vista da rua Dr. Nicolau de Sousa Queirós (Fonte: acervo da autora) ....................................................................................................................... 94 Figura 38: Terreno - vista da rua Dr. Nicolau de Sousa Queirós (Fonte: acervo da autora) ....................................................................................................................... 94 Figura 39: Mapa de dados do terreno (Fonte: acervo da autora) .............................. 97 Figura 40: Setorização do programa (Fonte: acervo da autora) ................................ 98 Figura 41: Estudo de volumetria I em planta (Fonte: acervo da autora) .................. 101 Figura 42: Estudo de volumetria I em vista (Fonte: acervo da autora) .................... 101 Figura 43: Estudo de volumetria II em planta (Fonte: acervo da autora) ................. 102 Figura 44: Estudo de volumetria II em vista (Fonte: acervo da autora) ................... 102 Figura 45: Representação de contenção com solo grampeado (Fonte: www.solotrat.com.br) ............................................................................................... 105 Figura 46: Térreo (Fonte: acervo da autora) ........................................................... 106
Figura 47: Piso Educativo (Fonte: acervo da autora) .............................................. 106 Figura 48: Piso Auditório (Fonte: acervo da autora) ................................................ 107 Figura 49: Implantação/Planta de cobertura (Fonte: acervo da autora) .................. 108 Figura 50: Corte 1 (Fonte: acervo da autora) .......................................................... 109 Figura 51: Cortes 2 e 3 (Fonte: acervo da autora) .................................................. 109 Figura 52: Corte 4 (Fonte: acervo da autora) .......................................................... 110 Figura 53: Fachada - rua Dr. Nicolau de Sousa Queirós (Fonte: acervo da autora) 110 Figura 54: Edifício em perspectiva (Fonte: acervo da autora) ................................. 111 Figura 55: O Homem Diverso (Fonte: http://www.cvi-rio.org.br) .............................. 112
LISTA DE TABELAS Tabela 1: Análise dos Estudos de Caso - Adequação para Acessibilidade .............. 57 Tabela 2: Análise dos Estudos de Caso - Intervenções Acessíveis .......................... 64 Tabela 3: Análise dos Estudos de caso - Projetos de referência Estética ................. 70 Tabela 4: Quadro nº 04 anexo da Lei nº 13.885/2004............................................... 96 Tabela 5: Parâmetros referentes à classificação do terreno escolhido ..................... 97 Tabela 6: Quadro de áreas do programa de necessidades ...................................... 99
SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 15 2. O DESENHO UNIVERSAL .................................................................................... 20 2. 1 - Contextualização e Histórico ................................................................. 20 2.2 - Os 7 Princípios do Desenho Universal ................................................... 22 2.3 - Legislação Brasileira............................................................................... 23 3. A CIDADE, O EDIFÍCIO, O ESPAÇO ACESSÍVEL ............................................... 29 3.1 - Vivência e Acessibilidade ....................................................................... 30 3.2 - Acessibilidade x Estética ........................................................................ 32 3.3 - Cultura e sociedade ................................................................................ 37 4. ESTUDOS DE CASO ............................................................................................ 40 4.1 - Adequação para Acessibilidade ............................................................. 40 4.1.1 - Centro Cultural do Banco do Brasil, São Paulo......................... 41 4.1.2 - Museu Reina Sofia, Madrid, Espanha ....................................... 43 4.2 - Intervenções Acessíveis ......................................................................... 46 4.2.1 - Centro Cultural Palacio La Moneda, Santiago, Chile ................ 46 4.2.2 - Pinacoteca do Estado de São Paulo, SP .................................. 50 4.3 - Projetos de Referência Estética ............................................................. 52 4.3.1 - Museu Maxxi, Roma, Itália ........................................................ 53 4.3.2 - Museu Solomon R. Guggenheim, Nova York, EUA .................. 54 4.4 - Análise da acessibilidade nos estudos de caso ...................................... 57 5. O PROJETO .......................................................................................................... 76 5.1 - Pensando no projeto e nos princípios de Desenho Universal ................ 77 5.2 - Orientabilidade no ambiente construído ................................................. 81 5.3 - O projeto e os critérios da norma NBR 9050/2015 ................................. 87 5.4 - Terreno ................................................................................................... 91 5.4.1 - Levantamento Físico ................................................................. 91 5.4.2 - Zoneamento .............................................................................. 94 5.5 - Cálculos para a área de projeto .............................................................. 96 5.6 - Programa de Necessidades ................................................................... 98 5.7 - Primeiros Esboços ................................................................................ 100
5.7.1 - Estudo de volumetria I ............................................................ 100 5.7.2 - Estudo de volumetria II ........................................................... 101 5.8 - Partido do projeto ................................................................................. 103 5.9 - PROPOSTA .......................................................................................... 105 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................ 112 7. REFERÊNCIAS ................................................................................................... 113
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1. INTRODUÇÃO
Ao longo da história, muitos arquitetos se preocuparam em realizar estudos para determinar uma relação ideal entre as dimensões físicas do ser humano e os espaços que iriam ocupar para a realização de suas várias atividades, como fator decisivo para o processo projetual. Em 27 a.C., Marcus Vitruvius Pollio estudou essa questão e apresentou um modelo ideal de escala para o ser humano, segundo raciocínio matemático que se baseava na divina proporção. Durante o período da Renascença, Leonardo da Vinci (1452-1519) representou graficamente a perfeição dessas medidas humanas ao inscrever o homem vitruviano dentro de duas figuras geométricas elementares: o círculo e o quadrado. Os estudos do arquiteto Charles-Edouard Jeanneret-Gris, mais conhecido como Le Corbusier, também estão descritos dentro dessa mesma concepção. Le Corbusier dedicou-se ao desenvolvimento de uma medida universal para a arquitetura e, em 1948, criou o Modulor - sistema de medidas baseado nas proporções de um indivíduo supostamente ideal, inicialmente com 1,75m e mais tarde com 1,80m de altura.
Figura 1: Homem Padrão (Imagem editada pela autora)
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As
atividades
humanas
estão
relacionadas
com
três
dimensões
arquitetônicas: a dimensão micro, onde são abordadas questões referentes à escala do homem; a dimensão média, com questões referentes à escala das edificações; e a dimensão macro, onde é abordada a escala da cidade; e, para a definição de projetos em cada uma dessas áreas, é necessário contar com uma base de medida para o corpo humano. A cidade é como um cenário onde acontece a interação entre diferentes pessoas na sociedade, um espaço no qual todos devem ter a oportunidade de realizar suas atividades com equidade, ou seja, todos devem ter seus direitos assegurados de forma igualitária. Essa interação entre as pessoas estabelece uma relação de coletividade e convívio dentro do espaço urbano, mas, para que esta interação contemple a diversidade humana, é necessário oferecermos condições de acessibilidade para que todos possam ter assegurado seu direito primordial de ir e vir. Preocupados com a questão da organização das cidades, um grupo de 28 arquitetos liderados por Le Corbusier, Hélène de Mandrot e Sigfried Giedion fundaram, em 1928, os CIAM - Congressos Internacionais da Arquitetura Moderna (Congrès Internationaux d'Architecture Moderne). O CIAM foi um dos muitos manifestos do século 20 que pretendeu difundir a causa da arquitetura como arte social e, para isso, os principais arquitetos modernos europeus organizaram uma série de eventos com o objetivo de discutir os rumos da arquitetura, do urbanismo e do design para difundir os princípios do Movimento Moderno. Em 1933, em Atenas, foi realizado o IV Congresso Internacional de Arquitetura Moderna cujos debates deram origem a um documento conhecido como Carta de Atenas. A Carta aborda questões sobre o patrimônio histórico das cidades, respeitando sua personalidade e seu passado, se consolidando como um documento sobre teoria e metodologia de planejamento urbano. Este documento aborda as cidades sob o ponto de vista de arquitetos, propondo análises a partir de seu estado atual e das situações críticas, apontando aspectos que deveriam ser respeitados para a melhoria da estrutura urbana, conforme descrito no artigo oitenta e sete: Art. 87 - Para o arquiteto, ocupado aqui com as tarefas do urbanismo, o instrumento de medida será a escala humana.
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A arquitetura, após a derrota, desses últimos cem anos, deve ser recolocada a serviço do homem. Ela deve deixar as pompas estéreis, debruçar-se sobre o indivíduo e criar-lhe, para sua felicidade, as organizações que estarão à volta, tornando mais fáceis todos os gestos de sua vida. Quem poderá tomar as medidas necessárias para levar a bom termo essa tarefa, senão o arquiteto, que possui o perfeito conhecimento do homem, que abandonou os grafismos ilusórios, e que, pela justa adaptação dos meios aos fins propostos, criará uma ordem que tem em si sua própria poesia? (CARTA DE ATENAS)
Na década de 1950, a expansão desordenada das cidades deu origem à formação de guetos, núcleos de pobreza e exclusão social, que desencadearam uma série de debates na tentativa de reverter esses problemas. Porém, os arquitetos perceberam que os modelos e padrões urbanos organizados e descritos pela Carta de Atenas já não atendiam mais as necessidades das cidades da época, e começaram a avaliar novas propostas para remodelação dos padrões urbanos e arquitetônicos, colocando o movimento moderno em crise. Em 1952, com o rompimento dos CIAM's, surgiram movimentos que incentivavam a redescoberta das cidades, propondo a reversão de suas bases e valores, utilizando como principal instrumento as derivas. Em consequência destes movimentos, a Carta de Atenas foi reavaliada em 1977, em um novo Encontro Internacional de Arquitetos, em Machu Picchu, no Peru, resultando num documento conhecido como Carta de Machu Picchu. Este novo documento tem como objetivo geral para o planejamento urbano, a interpretação das necessidades humanas e a elaboração de propostas que estejam dentro de um contexto apropriado à diversidade da população. O homem vitruviano e a Carta de Atenas foram modelos que surgiram como uma proposta de padronização para o desenvolvimento de projetos, na tentativa de incluir a todos pela média, o que acabou evidenciando a exclusão de todo e qualquer indivíduo que não se enquadrasse nestes padrões. A partir daí surgiu o equivocado pressuposto de que é o homem que deve se adaptar ao ambiente e não o contrário.
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A relação das pessoas com o ambiente é uma relação de mão dupla. A deficiência resulta da interação entre as pessoas e as barreiras arquitetônicas, em primeiro lugar, mas também as atitudinais.
Figura 2: Deficiência segundo a Convenção da ONU sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (Imagem editada pela autora)
Quando uma pessoa com deficiência está em um ambiente acessível, suas atividades são preservadas, e a deficiência não afeta suas funções. Em uma situação contrária, alguém sem qualquer deficiência colocado em um ambiente hostil e inacessível pode ser considerado deficiente para esse espaço. (CAMBIAGHI, 2007)
Quando o ambiente construído não leva em consideração as necessidades ou limitações humanas, ele pode chegar a ser mais inóspito que o meio natural. Há alguns anos, detectou-se que as pessoas que enfrentavam problemas com o ambiente não eram somente aquelas que tinham deficiências. Criou-se então a expressão pessoas com mobilidade reduzida para definir o grupo social com problemas de acesso e utilização dos ambientes construídos. Essa denominação inclui pessoas com deficiência, crianças, idosos, pessoas carregando pacotes, empurrando carrinhos de bebê, carrinhos de compra e aquelas que estão com alguma lesão temporária. (CAMBIAGHI 2007, p.46)
O professor de arquitetura da Universidade da Califórnia em Berkeley, Raymond Lifchez, afirma que a arquitetura só pode ser capacitante se os arquitetos desenvolverem empatia, ou seja, é necessário adquirirmos vivências para desenvolvermos percepções acerca das dificuldades que as pessoas com deficiência enfrentam para acessar espaços e ambientes internos e externos, sejam eles públicos, privados ou particulares.
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Neste contexto, vale ressaltar a relevância do papel do arquiteto e urbanista em
criar
propostas
que
garantam
acessibilidade
a
todas
as
pessoas,
independentemente de sua idade, habilidade, dimensão ou condição física e sensorial, na tentativa de eliminar as barreiras para que elas possam usufruir de ambientes e oportunidades em igualdade de condições, de modo autônomo, seguro e sem esforços desnecessários, através da aplicação do conceito de Desenho Universal.
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2. O DESENHO UNIVERSAL
Em 1963, foi criada em Washington, EUA, uma comissão denominada Barrier Free Design (Design sem Barreiras) para discutir questões relativas aos desenhos de projetos arquitetônicos, questionando projetos modulares, desenvolvidos por arquitetos e urbanistas durante o período da arquitetura moderna, que se baseavam nos padrões humanos de Vitruvius e Le Corbusier. A expressão desenho universal foi utilizada pela primeira vez em 1985, nos EUA, pelo arquiteto Ronald Mace1, usuário de cadeira de rodas e respirador artificial, na tentativa de remodelar os conceitos dos projetos de arquitetura e design para que os ambientes projetados fossem adequados às necessidades de todos os indivíduos, principalmente àqueles com características físicas diferentes das estabelecidas para o "homem padrão". O desenho livre de barreiras foi pensado, inicialmente, para pessoas com algum tipo de limitação física ou sensorial, mas acabou, muitas vezes, dando origem a locais de segregação. A partir da evolução para Desenho Universal, os conceitos passaram a ser mais abrangentes, visando atender a todos: crianças, adultos, idosos, pessoas com mobilidade reduzida, pessoas com baixa visão, obesos, grávidas, altos, baixos, pessoas com carrinhos de bebê, etc. Desta forma, o conceito de desenho universal representa a real possibilidade de garantir que o indivíduo possa desfrutar de ambientes e oportunidades iguais aos cidadãos considerados "normais", sem receber um tratamento discriminatório devido à suas características pessoais.
2. 1 - Contextualização e Histórico
Os princípios do Desenho Universal e da Arquitetura Inclusiva surgiram após a 2ª Guerra Mundial, devido a muitos veteranos de guerra mutilados não conseguirem mais exercer funções do dia-a-dia, evidenciando as dificuldades frente às barreiras arquitetônicas e o desconforto nas edificações quando utilizadas por pessoas com deficiência. 1
Ronald Mace (1941-1998): arquiteto americano, formado em design. Criador do termo desenho universal e fundou o Centro de Design Universal da Universidade Estadual da Carolina do Norte.
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Com o fim da guerra, houve uma evolução na busca por alternativas para melhorar a qualidade de vida das pessoas com deficiência, resultando no desenvolvimento de diretrizes para a acessibilidade, através da criação de leis, normas e informações para que estas pessoas pudessem utilizar os ambientes de forma segura e autônoma. A partir destas discussões, a Organização das Nações Unidas deu início a um programa de sensibilização e conscientização geral em relação à reabilitação de militares e, também, de vítimas civis que retornaram doentes ou mutiladas dos conflitos da guerra, buscando fazer com que estas e outras pessoas com deficiência passassem a ser reconhecidas e ter os seus direitos assegurados, através de documentos nacionais (EUA) e internacionais, que propõem a valorização da diversidade humana e trazendo visibilidade para esses grupos mais vulneráveis, de forma a promover a cidadania e melhoria da qualidade de vida dessas pessoas. Na década de 1970, surgiram as primeiras padronizações (normas e leis) de acessibilidade nos EUA. Em 1972, a Universidade de Berkeley (EUA) organizou um grupo de estudos sobre acessibilidade e implantou a primeira rampa acessível da cidade, que recebeu, inclusive, uma placa comemorativa. Em seguida, em 1975, a Assembleia Geral da ONU promulgou a Declaração dos Direitos das Pessoas Deficientes. No ano de 1979, o professor de arquitetura da Universidade de Buffalo (EUA), Edward Steinfeld2, desenvolveu um estudo comparativo entre os custos de uma obra quando ela é projetada e edificada de forma acessível atendendo aos conceitos de desenho universal, e os custos para uma adaptação aos critérios de desenho universal para uma edificação já existente. A partir de sua análise, Steinfeld concluiu que os custos para realizar uma adaptação com características livres de barreira em um edifício já existente seriam de 4 a 35% vezes mais caros do que construí-los com acessibilidade desde o princípio. No início dos anos 1980, o Conselho Sueco de Pesquisa (Vetenskapsradet) órgão oficial do governo sueco que promove pesquisas em vários campos - realizou uma pesquisa no campo da construção na qual identificou que os custos adicionais
2
Edward Steinfeld (1946): arquiteto americano e professor da Universidade de Buffalo (EUA) com mais de 100 publicações e 3 patentes. Conhecido internacionalmente por suas pesquisas e palestras nas áreas de desenho universal, acessibilidade e design para a vida.
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para uma construção acessível variam entre 0,5% e 1% acima dos custos totais de construção. Em 1981, a ONU declarou este ano como o Ano Internacional de Atenção à Pessoa Portadora de Deficiência. No ano seguinte, a ONU aprovou o Programa de Ação Mundial para Pessoas com Deficiência (PAM), com o objetivo de assegurar às pessoas com deficiência o direito de terem as mesmas oportunidades que os cidadãos considerados "comuns", em igualdade de condições, para assegurar-lhes melhorias na condição de vida por meio do desenvolvimento econômico e social. No Brasil, os conceitos de Desenho Universal e Acessibilidade só começaram a ser discutidos na década de 1980, após a ONU ter declarado o ano de 1981 como o Ano Internacional das Pessoas Portadoras de Deficiência.
2.2 - Os 7 Princípios do Desenho Universal
O desenho universal foi criado com o objetivo de desenvolver projetos, objetos e acessórios para atender a todos os tipos de usuários, assegurando uma acessibilidade plena. Na década de 1990, o arquiteto Ronald Mace criou um grupo formado por arquitetos e pesquisadores do Centro de Desenho Universal da Universidade Estadual da Carolina do Norte, nos EUA, para debater sobre o assunto e definiram sete princípios para o desenho universal, sendo eles: 1) Uso Equitativo Propor espaços, objetos e produtos que possam ser utilizados por usuários com diferentes habilidades e prover os mesmos significados de uso para todos os usuários, a fim de evitar a segregação. 2) Flexibilidade de Uso Criar
ambientes
ou
sistemas
construtivos
que
permitam
adequações
e
transformações a um largo alcance de preferências e habilidades individuais, possibilitando que o usuário faça sua escolha na forma de utilização. 3) Uso Simples e Intuitivo Uso de fácil entendimento, independentemente da experiência, do conhecimento, das capacidades linguísticas ou do grau de concentração dos usuários, eliminando complexidades desnecessárias e sendo coerente com as expectativas e intuição do usuário.
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4) Informação Perceptível Utilização de diferentes meios de comunicação, como símbolos, informações sonoras, táteis, entre outros, para a compreensão de usuários independentemente das condições e das habilidades sensoriais de cada um. 5) Tolerância ao Erro (Segurança) Considerar a segurança na concepção de ambientes e a escolha de materiais de acabamento e demais produtos a fim de minimizar os riscos e as consequências adversas de possíveis acidentes, organizando de forma mais protegida os elementos que possam oferecer algum perigo em potencial. 6) Mínimo Esforço Físico Dimensionar elementos e equipamentos para que sejam utilizados de maneira eficiente, segura, confortável exigindo um mínimo de energia, permitindo que o usuário mantenha a posição do corpo neutra e a força a ser utilizada seja de moderada intensidade. 7) Tamanho e Espaço para Acesso e Uso Acesso e uso abrangente aos espaços, possibilitando sua utilização por usuários de acordo com suas necessidades para atividades cotidianas de forma a acomodar variações ergonômicas. Esses princípios, quando são utilizados como instrumento para a orientação de projetos desde sua fase de concepção, eliminam custos de adaptações restritas e oferecem maiores alternativas tanto de conforto nas soluções de acessibilidade quanto nas opções de elaboração estética em harmonia com o conjunto arquitetônico em desenvolvimento, possibilitando a criação de espaços que consigam
atender
a
todos
independentemente
de
suas
necessidades
e
características pessoais.
2.3 - Legislação Brasileira
No Brasil, os conceitos de desenho universal só começaram a ser discutidos a partir da década de 1980, com o objetivo de conscientizar os profissionais da área de construção sobre a acessibilidade, o que resultou em adequações da legislação e normas técnicas.
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No ano de 1985, Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) criou a primeira norma referente à acessibilidade do país: a primeira versão da norma ABNT NBR 9050 - Adequação das Edificações e do Mobiliário Urbano à Pessoa Deficiente. A norma foi revisada em 2004 e, novamente, em 2015. Após três anos da criação da primeira norma brasileira de acessibilidade, foi promulgada a Constituição Federal de 1988, que afirma em seu artigo 227, parágrafo segundo: Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. (...) § 2º A lei disporá sobre normas de construção dos logradouros e dos edifícios de uso público e de fabricação de veículos de transporte coletivo, a fim de garantir acesso adequado às pessoas portadoras de deficiência. (CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988)
Este artigo ressalta o caráter social fundado em valores como a dignidade humana e a cidadania, norteando toda e qualquer iniciativa privada e pública, e cita explicitamente a garantia do acesso às pessoas com deficiência. Em outubro de 1989, foi editada a Lei nº 7.853 que dispõe sobre o apoio às pessoas portadoras de deficiência, sua integração social e sobre a Coordenadoria Nacional para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência - CORDE, de acordo com o artigo segundo: Art. 2º - Ao Poder Público e seus órgãos cabe assegurar às pessoas portadoras de deficiência o pleno exercício de seus direitos básicos, inclusive dos direitos à educação, à saúde, ao trabalho, ao lazer, à previdência social, ao amparo à infância e à maternidade, e de outros que, decorrentes da Constituição e das leis, propiciem seu bem-estar pessoal, social e econômico. (LEI Nº 7.853/89)
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Dez anos depois, em 1999, foi criado o Decreto nº 3.298 para regulamentar essa Lei nº 7.853/89, que estabelece como um dos objetivos da Política Nacional a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência, assegurando seu acesso, ingresso e permanência em todos os serviços oferecidos à comunidade, a partir das alterações da redação do seu artigo segundo: Art. 2º - Cabe aos órgãos e às entidades do Poder Público assegurar à pessoa portadora de deficiência o pleno exercício de seus direitos básicos, inclusive dos direitos à educação, à saúde, ao trabalho, ao desporto, ao turismo, ao lazer, à previdência social, à assistência social, ao transporte, à edificação pública, à habitação, à cultura, ao amparo à infância e à maternidade, e de outros que, decorrentes da Constituição e das leis, propiciem seu bem-estar pessoal, social e econômico. (DECRETO Nº 3.298/99)
No ano de 1994, no Rio de Janeiro, aconteceu o VI Seminário IberoAmericano de Acessibilidade ao Meio Físico, onde o arquiteto americano Edward Steinfeld apresentou seus conceitos de desenho acessível e universal. Segundo o arquiteto, desenho acessível é diferente de desenho universal; Steinfeld diz que o desenho acessível trata de produtos e edifícios acessíveis para pessoas com deficiência, enquanto que o desenho universal prevê o atendimento a todos os usuários, de forma a incluir também a população com limitações para um melhor desempenho de tarefas e uso dos espaços. Em 2000, foram criadas duas leis federais: as leis nº 10.048 e nº 10.098. A Lei Federal nº 10.048/00 tem como objetivo garantir a prioridade de atendimento às pessoas com deficiência, idosos, gestantes, lactantes, pessoas com crianças de colo e obesos, conforme artigo primeiro. Já a Lei Federal nº 10.098, conhecida como Lei Nacional de Acessibilidade, prevê o estabelecimento de normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida: Art. 1º - Esta Lei estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida, mediante a supressão de barreiras e de obstáculos nas vias e espaços públicos, no mobiliário urbano, na
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construção e reforma de edifícios e nos meios de transporte e de comunicação. (LEI FEDERAL Nº 10.098/00)
O objetivo da lei nº 10.098 é suprimir as barreiras e obstáculos das vias e espaços públicos, no mobiliário urbano, na construção e na reforma de edifícios já existentes, nos meios de transporte e meios de comunicação. Além de prever a garantia da acessibilidade no meio físico, a lei também aborda a acessibilidade nos sistemas de comunicação para garantir o direito de acesso à informação. No ano de 2004, foi criado o Decreto Federal nº 5.296 que regulamenta as leis federais nº 10.048/00 e nº 10.098/00 (Lei Nacional de Acessibilidade), define parâmetros para as normas técnicas da ABNT e revisa a NBR 9050. Ainda em 2004, ocorreu a Conferência Internacional sobre Desenho Universal, no Rio de Janeiro, para difundir os conceitos do desenho universal. Em 2005, foi aprovada a Lei nº 11.126, que dispõe sobre o direito do portador de deficiência visual de ingressar e permanecer em ambientes de uso coletivo acompanhado de cão-guia, de acordo com o artigo primeiro: Art. 1º - É assegura de cão-guia o direito de ingressar e de permanecer com o animal em todos os meios de transporte e em estabelecimentos abertos ao público, de uso público e privados de uso coletivo, desde que observadas as condições impostas por esta Lei. (LEI Nº 11.126/05)
Em março de 2007, ocorreu a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, promulgada pela ONU, com o objetivo de promover, proteger e assegurar o desfrute pleno e equitativo dos direitos humanos e liberdades fundamentais por pessoas com deficiência e promover o respeito pela sua inerente dignidade. O Brasil assinou seu Protocolo Facultativo na busca pela implementação dos direitos das pessoas com deficiência e ratificou a convenção com status de emenda constitucional. Foram definidos prazos para a aplicação da acessibilidade nas edificações de uso público e privado; as de uso público com previsão para junho de 2007, e as de uso privado com previsão para dezembro de 2008. Em 2009, foi criado o Decreto Federal nº 6.949, que promulga a Convenção Internacional Sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência cujo Protocolo Facultativo havia sido assinado em março de 2007, em Nova York. O artigo 9 do
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decreto assegura às pessoas com deficiência o acesso, em igualdade de oportunidades com as demais pessoas, ao meio físico, ao transporte, à informação e comunicação, bem como a outros serviços e instalações de uso público: Art. 9 - Acessibilidade 1. A fim de possibilitar às pessoas com deficiência viver de forma independente e participar plenamente de todos os aspectos da vida, os Estados Partes tomarão as medidas apropriadas para assegurar às
pessoas
com
deficiência
o
acesso,
em
igualdade
de
oportunidades com as demais pessoas, ao meio físico, ao transporte, à informação e comunicação, inclusive aos sistemas e tecnologias da informação e comunicação, bem como a outros serviços e instalações abertos ao público ou de uso público, tanto na zona urbana como na rural. (DECRETO FEDERAL Nº 6.949/09 CONVENÇÃO INTERNACIONAL SOBRE OS DIREITOS DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA)
E por fim, no ano de 2015, foi instituída a Lei Brasileira de Inclusão (LBI) nº 13.146, de acordo com o Estatuto da Pessoa com Deficiência, com o objetivo de assegurar e promover o exercício dos direitos da pessoa com deficiência, visando sua inclusão social e cidadania. Art. 1º - É instituída a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência), destinada a assegurar e a promover, em condições de igualdade, o exercício dos direitos e das liberdades fundamentais por pessoa com deficiência, visando à sua inclusão social e cidadania. (LEI BRASILEIRA DE INCLUSÃO Nº 13.146/15)
A Lei Brasileira de Inclusão, citada acima, tem como base a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo, ratificados pelo Congresso Nacional através do Decreto Legislativo nº 186/08. É sabido e citado em livros e palestras dos especialistas no tema de acessibilidade e desenho universal que a simples existência das normas e leis não são suficientes para garantir seu cumprimento e garantir a acessibilidade no cotidiano e na realidade das pessoas com deficiência. Enquanto arquitetos temos
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não apenas a responsabilidade mas também a oportunidade de nos debruçarmos sobre esse tema, nos apropriarmos das melhores práticas para elaborar proposições que não se restrinjam apenas à preocupação quanto ao cumprimento dessas normas, mas sobretudo sobre a possibilidade de agregar, através do nosso trabalho, maior qualidade de vida e bem estar para essas pessoas, além de assegurar o direito à cidadania ao construirmos acessos ao invés de projetarmos barreiras.
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3. A CIDADE, O EDIFÍCIO, O ESPAÇO ACESSÍVEL
Na arquitetura, assim como em outras áreas, os projetos devem atender aos requisitos de legislação e aos objetivos de uso e função, assegurando conforto, segurança e bem estar aos usuários mas, também, contemplando a estética e o diálogo com o entorno. Atualmente, o Brasil conta com uma das mais avançadas legislações sobre acessibilidade. Porém, apesar dos numerosos amparos jurídicos e do vasto conhecimento técnico, a maioria dos arquitetos, urbanistas e engenheiros ainda não cumprem adequadamente com os requisitos das normas de acessibilidade. As cidades se caracterizam e se qualificam como lugares de ação onde as pessoas transitam buscando realizar suas atividades e, neste esforço, convivem com os elementos do ambiente, que podem ser seus apoios ou seus obstáculos. [...] as cidades se tornarão efetivamente democráticas para esse seguimento quando superarem as barreiras urbanas, e todos os cidadãos, deficientes ou não, capacitados a participar ativa e igualitariamente das decisões coletivas. Uma cidade para ser acessível,
precisa
atender
as
diferentes
necessidades
[...]
(MASSARI, 2007)
A acessibilidade, na grande maioria das vezes, não é considerada uma prioridade na fase de concepção dos projetos arquitetônicos. Em muitos projetos são realizadas apenas adaptações para que os edifícios estejam de acordo com as leis e normas de acessibilidade, ao invés de serem projetados pensando em todos os tipos de usuários desde o início, ao invés de serem projetados dentro dos princípios do desenho universal. Esta abordagem costuma resultar em soluções inadequadas que acabam gerando ambientes de má qualidade, geralmente caracterizados pela falta de integração com espaços adjacentes onde, por vezes, se tornam espaços de segregação.
Para
evitar
este
tipo
de
solução
é
necessário
pensarmos
profundamente nas necessidades a serem atendidas como um todo, buscar referências de soluções eficientes já adotadas em outras edificações e manter-se atualizado sobre as novas tecnologias de apoio para a adequação à acessibilidade de espaços já construídos.
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Edward Steinfeld realizou um estudo onde concluiu que os custos para a realização de uma adaptação em um edifício já existente seria de 4 a 35% mais caro do que construí-los com acessibilidade desde o princípio. Por que não, então, projetar pensando na melhor qualidade de vida e utilização dos espaços para todos? Por que não projetar com base nos princípios de desenho universal? Muitas vezes, quando se fala em acessibilidade, as pessoas pensam apenas na pessoa com deficiência física, principalmente no cadeirante. Segundo o Censo Demográfico de 2010 do IBGE, cerca de 24% da população brasileira (o equivalente a 46 milhões de brasileiros) possuem algum tipo de deficiência, seja ela auditiva, mental, motora ou visual. Ao projetar um espaço é necessário levar em consideração alternativas que permitam um melhor aproveitamento dos espaços pelos usuários. Quando pensamos na organização e disposição de espaços internos, por exemplo, estamos pensando automaticamente na relação entre forma e função das edificações, de modo a harmonizar os espaços. Quando se projeta visando um melhor aproveitamento dos espaços, estamos melhorando a qualidade de vida dos usuários. Esses conceitos também passaram a vigorar nos projetos de residências, surgindo a visão de casa para a vida toda. Isso garante que a moradia pode sofrer mudanças e adaptações ao longo dos anos para atender as diversas necessidades que venham a surgir ao longo da vida do usuário, sem prejuízo ou comprometimento do espaço.
3.1 - Vivência e Acessibilidade
Quem nunca passou pela experiência de lidar com os desafios de deslocamento diante das incontáveis barreiras de acesso, tanto no meio urbano quanto no interior das edificações, não tem a noção do quão imprescindível é o olhar do arquiteto sobre esta questão, pois é da dificuldade de acesso que deriva a maior deficiência e dependência que um ser humano pode experimentar ao tentar exercer o seu direito de ir e vir. Desde criança, presencio algumas dificuldades enfrentadas por pessoas com deficiência, principalmente pelas pessoas com mobilidade reduzida, através da convivência com a minha irmã que é cadeirante, hoje com 18 anos. Devido à falta de
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acessibilidade na cidade, oportunidades de acesso aos equipamentos de lazer nos parques infantis, como por exemplo, balanços, gangorras, escorregadores, eram bem difíceis, o que também impactava na interação com outras crianças, pois esses brinquedos não possuíam nenhum tipo de adaptação para pessoas com deficiência. As poucas e únicas vivências nesses locais eram a partir de adaptações artesanais feitas pelos meus pais, na tentativa de dar oportunidade a ela de vivenciar essas experiências lúdicas tão importantes para as crianças, mas com a segurança necessária para não sofrer acidentes. Outra grande dificuldade foi o acesso às escolas. Quase sempre não possuíam acessibilidade para a pessoa com deficiência chegar às salas de aula; muitas vezes precisando ser carregada por funcionários pelas escadas. Além das dificuldades provocadas pela falta de acessibilidade arquitetônica havia, também, a dificuldade de acesso devido a barreiras atitudinais. Consultórios médicos, de psicologia e de psicopedagogia também são desafios para pessoas com deficiência. Muitos consultórios funcionam em sobrados sem acessibilidade, levando o paciente com deficiência a ser carregado para o piso superior ou obrigando-o a receber o atendimento na recepção, sem falar na falta de acessibilidade em banheiros, que muitas vezes não permitiam acesso para o cadeirante passar pela porta. Ainda com relação aos consultórios, outro tipo de barreira encontrada com muita frequência são os carros estacionados em frente aos sobrados, inviabilizando a passagem da cadeira de rodas pelo estreito espaço entre os carros e os muros de delimitação do terreno, o que muitas vezes é difícil até mesmo para pessoas obesas e idosas, com bengalas, muletas e andadores. Além dessas, muitas outras situações sempre precisaram ser vencidas com muita determinação e criatividade. Entretanto, mesmo com tantas dificuldades, nunca deixamos de frequentar esses locais. Eu sempre procurei observar atentamente essas dificuldades e barreiras e me perguntava como poderiam ser solucionadas. Hoje, após a convivência com pessoas que possuem outros tipos de deficiência (auditiva, intelectual e visual) percebo outras dificuldades e também elementos que facilitam o deslocamento e utilização de espaços para essas pessoas, como por exemplo pisos táteis, placas informativas simples, entre outros. Acredito que é necessária uma transformação no olhar dos arquitetos; o arquiteto tem o dever de projetar espaços obedecendo a objetivos específicos de uso e função mas, também, de modo a oferecer conforto, segurança e bem estar
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aos usuários. Porque não começar a projetar utilizando os princípios do desenho universal como ferramenta para evitar a criação de barreiras arquitetônicas?
3.2 - Acessibilidade x Estética
A acessibilidade é frequentemente abordada apenas como uma questão de adaptação, uma mera exigência de adequação à lei onde, por vezes, é deixada de lado por ser considerada um elemento limitador da estética dos projetos. E muitos arquitetos possuem essa visão de incompatibilidade entre a função e a estética com questões de acessibilidade. Na arquitetura, os projetos são resultantes do conhecimento específico na área, da vivência do profissional e da criatividade, mas, sobretudo, são fundamentalmente influenciadas pelos valores cultivados, ou seja, pela maneira como enxergamos a vida. Analogamente, a maneira como os arquitetos enxergam o papel da arquitetura influencia diretamente a prioridade que eles elegerão como premissa para sua forma de projetar. No movimento moderno, por exemplo, tivemos várias correntes onde cada uma elegeu suas prioridades segundo as quais a forma era orientada (função, comportamento, contexto, etc.) que foi o ponto de partida para seu processo projetual. No início do século XX, após o período do Art Nouveau (aproximadamente entre 1890 e 1910), o movimento moderno passou a incluir os princípios do funcionalismo e racionalismo em seus projetos, discutindo questões de uso e função, para uma melhor adequação dos materiais a serem utilizados. Os princípios do funcionalismo na arquitetura resgatam um antigo conceito descrito na Tríade de Vitrúvio, que se baseava em três elementos fundamentais da arquitetura: utilidade e comodidade (utilitas), beleza (venustas) e solidez (firmitas). Portanto, segundo esta tríade, uma construção só passará a ser chamada de arquitetura quando ela possuir uma função, estiver firme e bem estruturada e for bela.
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Figura 3: Tríade Vitruviana (Imagem editada pela autora)
Louis Henry Sullivan3 foi o primeiro arquiteto modernista a defender a teoria de que a forma segue a função, com inspiração nos conceitos de Horatio Greenhough4, de que forma e função coincidem. É a lei das coisas orgânicas e inorgânicas, de todas as coisas físicas e metafísicas, das coisas humanas e sobre humanas, de todas as verdadeiras manifestações da mente, do coração e da alma, que a vida é reconhecida na sua expressão, que a forma sempre segue à função, é uma lei. (SULLIVAN, 1896)
Sullivan afirmava que se a forma segue a função, os projetos deveriam possuir um caráter mais orgânico, já que a forma também era influenciada pela necessidade de se vivenciar a beleza. Ele afirmava, ainda, que uma vez satisfeitos os aspectos funcionais, a beleza arquitetônica surgirá de forma natural. Na década de 1890, Sullivan marcou uma ruptura no pensamento moderno vigente até então, através da arquitetura dos arranha-céus, colocando em prática suas teorias. Acreditava que a forma deveria ter uma identidade própria advinda de sua função e que os arranha-céus eram produto da soma de forças sociais e tecnológicas. Dessa maneira, concebeu uma expressão estética nunca antes vista para seus arranha-céus, acentuando sua verticalidade.
3
Louis Henry Sullivan (1856-1924): arquiteto americano e um dos pioneiros em arquitetura de arranha-céus da Escola de Chicago. Responsável pela revolução no movimento moderno devido à sua teoria de que a forma segue a função. 4
Horatio Greenhough (1805-1852): escultor e teórico americano contemporâneo de Sullivan.
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Adolf Loos5 foi outro arquiteto a considerar o emprego de formas simples e adequadas ao uso prático. Loos considerava impossível que um projeto sem um uso prático fosse belo, que era a eficiência que gera a beleza da edificação. Esse pensamento minimalista de que é a eficiência que determina a forma do edifício influenciou trabalhos de arquitetos como Le Corbusier e Mies van der Rohe, gerando uma mudança no olhar dos arquitetos modernistas para a questão da funcionalidade e usabilidade de seus projetos. Loos tentou estabelecer um método de projetar edifícios utilizando como base a razão pragmática; seus edifícios eram projetados baseando-se em formas puras e eram orientados em função de sua viabilidade econômica e qualidade de utilização. Ele acreditava que tudo que não pudesse ser justificado pela razão era passível de eliminação. Chegou a trabalhar em parceira com Sullivan para a elaboração de um projeto para o Chicago Tribune. Em 1896, quando inaugurou seu atelier de arquitetura em Viena, Loos flexibilizou suas ideias ampliando sua preocupação com questões estéticas resultando em novas formas de construção. Na década de 1930, o funcionalismo começou a ser discutido com maior aproximação da forma estética, incorporando-a aos princípios de usabilidade e funcionalidade nos projetos. A ideia era manter a função e uso em primeiro plano, o que acabou sendo visto de forma pejorativa, por ser associado às formas mais simples e comerciais de se construir edifícios. Foi então que começaram a surgir novos conceitos dentro da arquitetura moderna,
como
a
arquitetura
orgânica,
por
exemplo.
Influenciado
pelos
ensinamentos e teorias de Louis Sullivan, o arquiteto Frank Lloyd Wright 6 começou a discutir e introduzir os conceitos de organicidade ao modernismo, buscando relacionar a arquitetura, o homem e a natureza. Wright afirmava que a arquitetura orgânica era uma reinterpretação dos princípios da natureza, onde a arquitetura se relaciona com o ambiente de forma a criar uma continuidade entre espaço interno e externo, trazendo coerência entre a edificação e o todo. Ele partia do princípio de que a arquitetura orgânica é como um organismo vivo, que nasce das necessidades dos indivíduos.
5
Adolf Loos (1870-1933): arquiteto austríaco e um dos pioneiros da arquitetura moderna. Em 1922, trabalhou em parceria com o arquiteto Luis Henry Sullivan em um projeto para o Chicago Tribune. 6
Frank Lloyd Wright (1867-1959): arquiteto e escritor americano. Influenciou os rumos da arquitetura moderna com suas ideias e obras e é considerado um dos arquitetos mais importantes do século XX.
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Um dos conceitos centrais nas obras de Wright é que o projeto deve ser individual, de acordo com sua localização e finalidade. Influenciado pela revolução industrial, ele criava uma nova arquitetura para residências buscando novas tecnologias que ajudassem a melhorar a qualidade de vida dos usuários e enfatizava a relação entre forma e função da edificação de forma harmoniosa, na tentativa de harmonizar, também, a relação entre o homem e a natureza. Com a chegada do movimento pós-moderno, houve uma reformulação nos conceitos de forma e função. A forma passou a ser derivada da soma de três fatores: a eficiência funcional e construtiva; o esforço de se obter a beleza; e o significado cultural. Isso significa que a forma deve ser autônoma, ou seja, a busca da forma também deve ser orientada por princípios como a forma segue a estética e o significado. Quando começamos a pensar num partido de projeto com base nos princípios do desenho universal, uma ferramenta que tem fundamental relevância é a empatia. Observar e refletir sobre como diferentes pessoas percebem um espaço e se disponibilizar a vivenciar experiências sensoriais, tem um potencial de transformar a nossa percepção. Enquanto arquitetos temos a responsabilidade de projetar e conceber espaços com características de forma, estética, conforto e bem estar, que além de abrigar as pessoas que ali desempenharão as atividades a que este espaço se destina, irão perceber-se e sentir-se no interior deste espaço. Esta mudança na percepção provoca também uma transformação na nossa atitude ao observar e investigar ambientes. É como se abríssemos uma nova porta que dá acesso a outros sentidos. Lembro-me de uma vivência muito significativa que tive ao comparecer a uma apresentação de um grupo musical, onde um dos amigos do nosso grupo era uma pessoa com deficiência visual. Enquanto aguardávamos para entrar no auditório, ouvíamos as vozes do público que conversava no foyer. Nosso amigo disse: "este espaço é amplo, pois as vozes estão dispersas; se dissipam pelo espaço" e, ainda: "eu sinto uma corrente de ar passando por mim, parece haver uma porta larga à nossa direita". Esta vivência me fez compreender que a visão muitas vezes nos restringe, e me levou a refletir sobre as dimensões multissensoriais do espaço arquitetônico.
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A este respeito, no seu livro Os olhos da pele: a arquitetura dos sentidos (2005), o arquiteto finlandês Johani Pallasmaa aborda as relações entre a arquitetura e os sentidos e, através de sua capacidade e sensibilidade, ele traduz o impacto das dimensões da experiência humana na arquitetura. Eu confronto a cidade com meu corpo; minhas pernas medem o comprimento da arcada e a largura da praça; meu olhar, inconscientemente projeta meu corpo contra a fachada da catedral, onde ele passeia sobre as molduras e contornos, percebendo as dimensões das reentrâncias e saliências; o peso do meu corpo encontra a massa da porta da catedral e minha mão agarra o puxador à medida em que penetro no escuro vazio que segue. Eu me experimento na cidade, e a cidade existe através da minha experiência corporificada. A cidade e meu corpo se complementam e definem mutuamente. Eu moro na cidade e a cidade mora em mim. Experiências sensoriais se integram através do corpo, ou melhor, na própria constituição do corpo e no modo humano de ser. (...) nossos corpos e movimentos estão em constante interação com o ambiente; o mundo e o ser (self) informam e redefinem um ao outro constantemente. A noção de corpo e a imagem do mundo se tornam uma contínua experiência existencial; não há corpo separado de seu domicílio no espaço, e não existe espaço desvinculado da imagem inconsciente da percepção do ser (self). (PALLASMAA 2005, p. 40)
Quando pensamos em acessibilidade e desenho universal, esta percepção multissensorial nos convida a repensar o modo de materializar os espaços que pretendemos conceber. Esta percepção nos permite ressignificar os espaços de modo a ampliar as possibilidades de projeto e, consequentemente, aumentar qualidade desses espaços e seu potencial de utilização e conforto, de forma a tornálo atrativo e atender a diversidade. O espaço arquitetônico é o espaço vivido e não o espaço físico, e o espaço vivido transcende a geometria e a mensurabilidade. (PALLASMAA, 2005)
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3.3 - Cultura e sociedade
Na década de 1960, surgiram críticas sobre os conceitos de funcionalismo dentro do movimento moderno. Arquitetos como Robert Venturi, Philip Johnson, Michael Graves, Aldo Rossi e James Stirling começaram a discutir o excesso de funcionalidade nos projetos e as abordagens do movimento moderno em relação à visão urbanística das cidades, da desagregação das comunidades e das relações humanas, dando início e corpo ao movimento pós-moderno. O movimento pós-moderno teve grande força entre as décadas de 1970 e 1980, quando começou a desenvolver um novo estilo arquitetônico, trazendo o uso de referências históricas nos projetos em forma de colagem. Foi um período que também ficou caracterizado pelo avanço em descobertas e inovações tecnológicas, sociais, artísticas e científicas. Com os avanços tecnológicos no processo projetual, os edifícios passaram a assumir formas mais ousadas, fugindo do funcionalismo moderno. Os arranha-céus entraram em foco na construção arquitetônica e começam a surgir propostas de projeto voltadas para o desenvolvimento de edifícios comerciais e culturais. Os projetos para edifícios comerciais começavam a ser influenciados por grandes empresas internacionais que buscavam uma nova imagem corporativa, reforçando a associação desse novo estilo à nova cultura do consumo. Neste contexto, a cultura passa a ser definida como um fenômeno social produzido pelo homem onde, segundo David Harvey7, a ideia de coletividade se expande na arquitetura e na escala da cidade, fazendo com que os arquitetos passassem a considerar as condições culturais da sociedade nos projetos. Do mesmo modo como produzimos coletivamente as nossas cidades, também produzimos coletivamente a nós mesmos. Projetos que prefigurem a cidade que queremos são, portanto, projetos sobre (nossas) possibilidades humanas, sobre quem queremos vir a ser ou, talvez de modo mais pertinente, em quem não queremos nos transformar. (HARVEY 2000, p. 159)
7
David Harvey (1935): geógrafo britânico e professor da Universidade da Cidade de Nova York. Trabalha com questões voltadas à geografia urbana.
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A cultura passou a ganhar visibilidade dentro da sociedade principalmente após o surgimento dos centros culturais. Os centros culturais surgiram com o objetivo de reunir diversas funções em um mesmo local, criando um novo panorama de espaços e trazendo, também, exposições temporárias. Com isso, passaram a atrair um público maior, mais variado, o que aumentou a frequência de uso desses espaços, passando a impulsionar a economia e o consumo do capital. Com o aumento da utilização desses espaços, começam a surgir demandas de acessibilidade visando transformar os centros culturais em ambientes mutáveis, mais fluidos e contínuos, possibilitando uma melhor utilização desses espaços em busca de uma maior interação com o usuário. Tudo aquilo que o homem é e faz está ligado à experiência do espaço. Nosso sentimento do espaço resulta da síntese de numerosos dados sensoriais, de ordem visual, auditiva, cinestésica, olfativa e térmica. (Edward Hall, 1986 apud COHEN, 2006 p.35)
Em 2013, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) realizou o Congresso Internacional de Hangzhou e deste evento, resultou a emissão de um documento conhecido como a Declaração de Hangzhou no qual reconhece o potencial da cultura como um "motor" do desenvolvimento sustentável pois ela tem o poder de contribuir no desenvolvimento social inclusivo através da liberdade de expressão artística, por meio de programas culturais que incentivem a criatividade, reforçando as possibilidades e capacidades humanas e promovendo o entendimento mútuo e trocas culturais entre povos. (...) a cultura deve ser considerada como um fator fundamental da sustentabilidade, pois ela é uma fonte de sentido e de energia, de criatividade e de inovação, e um recurso para responder aos desafios e encontrar soluções apropriadas. (DECLARAÇÃO DE HANGZHOU, 2013)
Além de todo o potencial econômico e político da cultura, o que mais me motiva é a possibilidade da cultura e das artes em geral contribuírem para a valorização e o desenvolvimento das pessoas e, principalmente, para aquelas que encontram dificuldade de se capacitar através dos métodos convencionais de educação.
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À medida que os espaços culturais se tornam acessíveis, as pessoas com deficiência passam, também, a conseguir frequentar e usufruir desses espaços, não apenas como fonte de educação mas também como fonte de lazer e interação com outras pessoas, promovendo sua efetiva participação na sociedade e contribuindo para o nosso crescimento enquanto seres humanos. Com base nisso e no meu grande interesse de frequentar e conhecer espaços de cultura, optei por elaborar um projeto voltado para edifícios culturais, assumindo o desafio de colocar em prática os conceitos de desenho universal buscando uma conciliação entre estética e função. Para isto, selecionei alguns edifícios culturais como estudo de caso, que serão mostrados a seguir, para embasar meus estudos para o desenvolvimento da minha proposta.
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4. ESTUDOS DE CASO Existem várias definições para um estudo de caso. Robert K. Yin8, em Estudo de Caso: planejamento e métodos, conceitua um estudo de caso como uma investigação empírica que investiga um fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto e destaca que, para investigá-lo devemos considerar: A essência de um estudo de caso, a principal tendência em todos os tipos de estudos de caso, é que ele tenta esclarecer uma decisão ou um conjunto de decisões: o motivo pelo qual foram tomadas, como foram implementadas e com quais resultados. (ROBERT K. YIN, 2010)
Para embasar minha proposta de trabalho utilizei como estratégia a investigação das soluções de acessibilidade encontradas nos estudos de caso, em diferentes espaços. Os estudos de caso foram divididos em três categorias: a primeira, Adequação para acessibilidade; a segunda, Intervenções acessíveis; e a terceira, Projetos de referência estética.
4.1 - Adequação para Acessibilidade
Nesta primeira modalidade serão exploradas edificações históricas onde foram realizadas simples adequações, através de equipamentos e dispositivos que viabilizem a circulação das pessoas com deficiências nos diversos ambientes, visando o cumprimento das normas e leis de acessibilidade. Como exemplo para esta seção, abordarei o Centro Cultural do Banco do Brasil, em São Paulo, e o Museu Reina Sofia, em Madrid. A escolha do CCBB SP como um dos meus estudos de caso se deve ao fato do prédio ser um edifício histórico e cultural que foi adaptado e hoje conta com soluções que atendem aos diversos públicos, em conformidade com a norma NBR 9050. Além disso, oferece propostas interessantes como, por exemplo, um espaço
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Robert K. Yin (1941): cientista social americano formado em história pela Harvard College.
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tátil sensorial onde os visitantes com deficiência visual podem interagir com peças que exemplifiquem o conteúdo das exposições. O Museu Reina Sofia foi escolhido por ser também um edifício histórico que adotou soluções de acessibilidade, cujo aspecto visual da intervenção já é perceptível no primeiro contato com a fachada do edifício.
4.1.1 - Centro Cultural do Banco do Brasil, São Paulo
O edifício que hoje abriga o Centro Cultural do Banco do Brasil foi construído em 1901, na Rua Álvares Penteado, centro histórico da cidade de São Paulo. O edifício foi comprado pelo Banco do Brasil em 1923, e foi inaugurado em 1927 após sofrer uma reforma projetada pelo arquiteto Hippolyto Gustavo Pujol Júnior, para que o edifício se transformasse em uma agência bancária. Na década de 1990, a agência bancária foi fechada e transformada em um Centro Cultural mantido pelo Banco do Brasil. O edifício passou por um processo de restauro e adaptação para acessibilidade realizado pelo arquiteto Luiz Telles, e foi reaberto em abril de 2001.
Figura 4: Fachada do CCBB em São Paulo, SP (Fonte: spcentrohistoricocultural.blogspot.com)
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O edifício possui uma mistura de estilos diferentes; na fachada, é possível notar a presença de elementos como arcos romanos, colunas gregas, janelas e portas nos estilos Art Déco e Art Nouveau, além de elementos de simetria. Na área interna, é possível notar que os capitéis das colunas seguem o estilo tradicional neoclássico. Os vitrais localizados na parte superior do edifício e as grades de ferro do mezanino e do primeiro andar apresentam curvas e florais pertencentes ao estilo Art Nouveau. E os lustres do Hall de entrada e as luminárias são caracterizadas com formas geométricas típicas do estilo Art Déco.
Figura 5: Fachada CCBB SP (Fonte: checkinsaopaulo.com)
Durante a reforma para se transformar em centro cultural, foram instalados alguns recursos de acessibilidade, como por exemplo: a construção de uma rampa de acesso localizada na entrada lateral do edifício (entrada através do café); foram implementados dois elevadores com botões em braile e ascensoristas; e construídos banheiros adaptados e instalados telefones acessíveis no piso térreo.
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Figura 6: Elevador de acesso ao antigo cofre (Fonte: acervo da autora)
Além desses recursos disponibilizados para a promoção da acessibilidade física, também foi desenvolvido um espaço tátil-sensorial, onde os visitantes com deficiência visual podem perceber elementos da exposição; e desenvolvidos aplicativos para celulares com o conteúdo das exposições em uma linguagem para audiodescrição.
4.1.2 - Museu Reina Sofia, Madrid, Espanha
MNCARS: MUSEU NACIONAL CENTRO DE ARTE REINA SOFIA No século XVI foi construída a primeira fundação do edifício, que hoje é a sede do museu, a pedido do rei Filipe II da Espanha para ser o Hospital San Carlos. O objetivo do rei era unificar, em um único prédio, todos os serviços hospitalares de Madrid. No século XVIII, devido às instalações insuficientes e inadequadas, o rei Carlos III decidiu fazer uma nova fundação para o hospital. Essa nova fundação foi projetada por José de Hermosilla e, posteriormente, por Francesco Sabatini, que assumiu o projeto após a morte de Hermosilla.
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Em 1788, após a morte de Carlos III, as obras foram interrompidas e o edifício foi ocupado, passando a funcionar como Hospital Geral de Madrid. Porém, como as obras haviam sido interrompidas, apenas um terço do projeto de Sabatini foi finalizado adequadamente e desde então o edifício passou por várias modificações, até ser fechado em 1965. O edifício esteve em vias de demolição até a rainha Sofia assinar um decreto real, em 1977, declarando-o Monumento Histórico-Artístico e assegurando sua sobrevivência. Em 1980, o prédio começou a ser restaurado pelo arquiteto Antonio Fernández Alba e foi reaberto em 1986, como Centro de Arte Reina Sofia, nome em homenagem à rainha. O centro de arte destinou os níveis 0 e 1 da antiga fundação do hospital para abrigar exposições temporárias. No final de 1988, as últimas modificações do espaço foram concluídas, incluindo a construção de três torres de elevadores em aço e vidro, projetadas em conjunto com o arquiteto britânico Ian Ritchie. Ainda em 1988, o Ministério da Cultura espanhola decretou-o como Museu Nacional.
Figura 7: Museu Reina Sofia, vista aérea (Fonte: Google Maps)
Em setembro de 1992, o rei Juan Carlos e a Rainha Sofia inauguraram o acervo permanente do museu que, até então, só havia recebido exposições temporárias. Em 2001, o museu sofreu uma remodelação e ampliação, desta vez projetada pelo arquiteto francês Jean Nouvel, sendo reaberto em setembro de 2005. Nesta remodelação, um novo edifício foi incorporado ao já existente, na lateral do terreno, onde anteriormente funcionavam os edifícios anexos ao hospital. A proposta do
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arquiteto francês era unificar o antigo edifício ao espaço comum, conectando-os com a criação de uma praça. Com essa ampliação, o museu ganhou cerca de 8 mil m², que foram divididos entre espaços para exposições temporárias, um auditório com capacidade para 500 pessoas, um auditório menor com capacidade para 200 pessoas, uma livraria, restaurante e administração.
Figura 8: Fachada do MNCARS; elevadores panorâmicos em aço e vidro (Fonte: en.wikipedia.org)
Figura 9: Edifício anexo, praça com escultura (Fonte: tienesplaneshoy.com)
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Como recursos de acessibilidade para a utilização do museu foram construídos elevadores panorâmicos externos, acessados através de rampas de acesso localizadas ao lado das escadas laterais da edificação. Além da acessibilidade física, o museu desenvolveu programas para a promoção da acessibilidade comunicacional, como por exemplo: visitas descritivas para deficientes visuais; audioguias; programa de exploração tátil de esculturas do acervo do museu; intérpretes em língua de sinais espanhola (ILSE); e folhetos em braile.
4.2 - Intervenções Acessíveis
Nesta segunda modalidade serão exploradas edificações onde foram realizadas intervenções com a criação de novos elementos que dialogam harmonicamente com a arquitetura do espaço já existente, a partir de reflexões mais aprofundadas sobre o espaço e os critérios de acessibilidade. Nos estudos de caso para esta seção, abordarei o Centro Cultural Palacio La Moneda, em Santiago, e a Pinacoteca do Estado de São Paulo. A escolha do Centro Cultural Palacio La Moneda como estudo de caso desta seção se deve ao fato de ser uma intervenção realizada em um edifício histórico, projetada no subsolo da edificação e com todos acessos feitos por meio de rampas. Já a Pinacoteca do Estado de São Paulo foi escolhida por ser um edifício histórico com uma intervenção pensada com o objetivo de atender todos os públicos e promover uma melhor circulação e acesso aos espaços e salas de exposição, além de oferecer propostas interessantes de acessibilidade cultural, como a galeria tátil por exemplo.
4.2.1 - Centro Cultural Palacio La Moneda, Santiago, Chile
O Palacio La Moneda foi projetado pelo arquiteto italiano Joaquín Toesca, para abrigar a Casa da Moeda, construído entre 1786 e 1805, quando o Chile ainda era uma colônia espanhola. O palácio possui estilo neoclássico e suas paredes
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foram construídas com pedras largas, chegando a mais de um metro de largura, para dar resistência aos frequentes abalos sísmicos que ocorrem na região. Em 1845, durante o mandato do presidente Manuel Bulnes Prieto, o palácio foi convertido em sede do Governo chileno e residência oficial de seus presidentes. A função de Casa da Moeda ainda foi mantida até 1929. Em 1932, foi realizada uma reforma no edifício e acrescentado um terceiro pavimento à fachada sul. Durante o golpe de estado de setembro de 1973, o palácio foi bombardeado e permaneceu fechado por muitos anos. Em 1981, durante a ditadura de Augusto Pinochet, o edifício foi reconstruído e reinaugurado. Após o fim da era Pinochet e com a redemocratização do Chile, o edifício foi repintado em sua cor original, branco gelo.
Figura 10: Palacio La Moneda, vista aérea (Fonte: Google Maps)
Em 2005, foi realizada uma intervenção pelo arquiteto Christián Undurraga, que construiu um centro cultural no subsolo do edifício e remodelou a área pública em frente ao palácio (que até então era utilizada como estacionamento dos carros oficiais), transformando-a numa grande praça aberta.
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Figura 11: Fachada do Palacio La Moneda (Fonte: archdaily.com.br)
O projeto do Centro Cultural foi construído no lado sul do Palacio La Moneda, sendo acessado por rampas localizadas na lateral do edifício. O projeto foi idealizado levando em consideração a utilização por todas as pessoas, contando com rampas de acesso internas e externas, além de elevadores (com botões em braile e sinalização sonora) que permitem que o público acesse os dois níveis do centro cultural. O projeto chegou a competir no Prêmio Rogelio Salmona e recebeu o menção honrosa.
Figura 12: Centro Cultural Palacio La Moneda, elevador interno (Fonte: Plataforma Architectura)
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Figura 13: Centro Cultural Palacio La Moneda, rampas internas (Fonte: Plataforma Architectura)
Figura 14: Centro Cultural Palacio La Moneda, vista da passarela (Fonte: Plataforma Architectura)
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4.2.2 - Pinacoteca do Estado de São Paulo, SP
O edifício da Pinacoteca foi projetado por Ramos de Azevedo e Domiziano Rossi para ser a sede do Liceu de Artes e Ofícios. Foi fundado em 1905 e regulamentado como museu público estadual em 1911. Na década de 1990, sofreu uma reforma projetada pelo arquiteto Paulo Mendes da Rocha, para adequar o edifício às necessidades técnicas e funcionais de um museu atual. O projeto também contou com a participação dos arquitetos Eduardo Colonelli e Welliton Torres.
Figura 15: Fachada Pinacoteca do Estado de São Paulo (Fonte: temporadalivre.com)
A intervenção transformou o edifício de estilo neoclássico em um dos museus mais modernos do país, com espaços privilegiados capazes de organizar seu acervo e, ao mesmo tempo, receber exposições de nível internacional. Os pontos chaves da intervenção foram a construção das passarelas que atravessam os pátios, como eixos atravessados no edifício, de modo a criar acessos às salas e saguões do edifício; foi construído um elevador para o transporte do público e de obras ao museu; um laboratório para restauro de obras; uma biblioteca e a instalação de um sistema de ar condicionado nas áreas de depósito do acervo.
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Figura 16: Passarelas de acesso aos espaços de exposição (Fonte: higormap.wordpress.com)
Como recursos de acessibilidade, foi construído um elevador panorâmico interno com botões em braile e avisos sonoros; construídas passarelas de acesso ao elevador e à salas de exposição; implantado o piso tátil direcional; implementação de mapa tátil para localização; foram construídos banheiros adaptados em todos os pisos e um fraldário masculino no piso térreo.
Figura 17: Elevador panorâmico interno (Fonte: acervo da autora)
No último piso, foi implantada uma galeria tátil de esculturas brasileiras do acervo da Pinacoteca e um mapa tátil de localização das esculturas.
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Figura 18: Mapa Tátil da Galeria de Esculturas da Pinacoteca (Fonte: acervo da autora)
4.3 - Projetos de Referência Estética
Nesta terceira e última modalidade serão exploradas edificações que discutem questões estéticas em suas concepções projetuais juntamente aos objetivos de uso e função, analisando também os recursos de acessibilidade oferecidos por esses espaços. Como exemplo para esta seção, abordarei o Museu Maxxi, em Roma, e o Museu Solomon R. Guggenheim, em Nova York. No Museu Maxxi, o que me chamou mais a atenção foram as questões plásticas e estéticas que o projeto discute, e o diálogo entre as linhas e curvas da edificação que resultam em espaços amplos e livres. No Museu Solomon R. Guggenheim de Nova York o que chamou mais atenção foram os aspectos plásticos e estéticos de suas formas orgânicas e puras, e a forma como foi pensada sua circulação vertical (rampa Slope). Isto fez dele um objeto de extremo interesse para estudo e reflexão para os objetivos da minha proposta.
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4.3.1 - Museu Maxxi, Roma, Itália
Em 1999, foi realizado um concurso para a elaboração de um projeto para o Museu Nacional de Artes do Século XXI, onde o projeto de Zaha Hadid foi o vencedor, levando 10 anos para ser construído. O edifício proposto por Zaha Hadid é uma composição de tubos retangulares dobrados e sobrepostos, cruzados e empilhados uns sobre os outros. A estrutura do edifício é composta de paredes laterais curvas feitas de concreto, escadas com perfis de aço pintados de preto e um teto aberto, recebendo luz natural.
Figura 19: Museu Maxxi, vista aérea (Fonte: Google Maps)
A ideia do projeto é indicar fluxos e caminhos que se sobrepõem e se conectam criando um espaço dinâmico e interativo. A continuidade dos espaços faz com que sejam adequados para qualquer tipo de exposição móvel e temporária, sem divisões de paredes ou interrupções.
Figura 20: Fachada Museu Maxxi (Fonte: grandearquitetura.com.br)
O Maxxi é dividido em dois museus: um voltado para a arte e outro para a arquitetura. Também possui um auditório, uma biblioteca com mídia especializada
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em arte e arquitetura, uma livraria, cafeteria, bar-restaurante e galerias para exposições temporárias, performances e atividades educacionais. A grande praça pública projetada em frente ao museu foi planejada para abrigar obras de arte e eventos ao vivo. Em 2010, o museu ganhou o Prêmio Stirling.
Figura 21: Museu Maxxi, interno (Fonte: archdaily.com.br)
Como recursos de acessibilidade, foram construído elevadores internos com botões em braile e avisos sonoros; rampas de acesso à algumas salas de exposição; e desenvolvidos audioguias das exposições.
4.3.2 - Museu Solomon R. Guggenheim, Nova York, EUA
O museu, localizado em Nova York, foi projetado pelo arquiteto Frank Lloyd Wright a pedido de Solomon Robert Guggenheim, e construído entre os anos de 1956 e 1959. O edifício é famoso por suas linhas curvas que representam a arquitetura moderna em sua forma mais orgânica. Por especificação de Solomon Guggenheim, o museu não poderia ser comparado de forma alguma com qualquer outro museu já existente. Então Wright decide utilizar formas geométricas que tem origem nas formas puras (cilindros, cones, polígono de três lados, etc.) e formas orgânicas. Esses elementos estão
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presentes no edifício definindo a espacialidade dos ambiente e através dos detalhes construtivos.
Figura 22: Museu Solomon R. Guggenheim, vista aérea (Fonte: Google Maps)
O projeto trabalha com efeitos plásticos de planos flutuando sobre planos; uma sobreposição de camadas, cortadas e colocadas uma sobre as outras (de forma a estabelecer uma outra maneira de construir que não seja a tradicional).
Figura 23: Fachada do Museu Guggenheim em perspectiva (Fonte: greatbuildings.com)
A circulação vertical do museu é feita através da rampa Slope, uma rampa circular com inclinação de três graus que passa por todos os pisos do edifício.
A r q u i t e t u r a I n c l u s i v a | 56
Figura 24: Museu Guggenheim, rampa Slope (Fonte: greatbuildings.com)
Além da rampa, outros recursos de acessibilidade oferecidos pelo museu são: elevadores com botões em braile; banheiros adaptados; intérpretes em ASL (american sign language); aplicativos para celulares com o conteúdo das exposições para audiodescrição; e teleconferências e videoconferências gratuitas para pessoas com limitações que não conseguem visitar o museu.
Figura 25: Museu Guggenheim de Nova York em corte (Fonte: designboom.com)
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4.4 - Análise da acessibilidade nos estudos de caso
Tendo em vista a minha proposta de trabalhar com Desenho Universal e por acreditar que o espaço construído tem papel fundamental na superação das dificuldades de circulação de pessoas com deficiência nos ambientes, adotei o estudo de caso como estratégia de investigação e, através deles, procurei observar e analisar características que contribuem para melhorar a experiência destas pessoas nos diversos ambientes, levando em consideração os critérios dos princípios do Desenho Universal, da Acessibilidade ao meio físico, e da orientação espacial para a composição de uma régua que me possibilitasse obter referenciais para estudar possibilidades para o meu projeto.
Tabela 1: Análise dos Estudos de Caso - Adequação para Acessibilidade
Adequação para Acessibilidade
Com base no partido do projeto
Terreno
Características do projeto
O edifício (distribuição dos espaços)
Centro Cultural Banco Brasil -
MNCARS: Museu Reina Sofia -
São Paulo
Madrid
Plano. Localização: Centro Histórico
Plano. Localização: zona de Atocha,
de São Paulo.
próxima ao centro de Madrid.
Edifício
histórico,
CONDEPHAAT
tombado e
pelo
Conpresp.
Elementos externos preservados.
Museu Nacional – Ministério da Cultura espanhola (1988)
Concentrado em bloco único, a
A proposta de Jean Nouvel integrou
edificação possui cinco andares,
três novos edifícios que se erguem
subsolo, mezanino e cobertura, com
em torno de um pátio, cada um
um
que
deles com um programa dominante.
andares,
O primeiro, ao sul, é o da biblioteca.
iluminado por uma claraboia em
O segundo, a oeste, é o dos
vitral executada pela Casa Conrado
encontros:
(fundada em 1988 pelo alemão
protocolo, bar e restaurante. O
Conrado Sorgenicht) e uma torre
terceiro,
grande
atravessa
vão
todos
central os
auditório,
ao
norte,
sala
é
o
de
das
A r q u i t e t u r a I n c l u s i v a | 58
baixa,
integrada
ao
corpo
da
exposições temporárias, o único
edificação, que evidencia a entrada
que está comunicado diretamente
principal.
com o museu-matriz. Os novos espaços permitiram cobrir ainda outras necessidades: armazéns de obras de arte, livraria, escritórios, salas
de
reuniões
e
sala
de
protocolo. Programa bastante enxuto e bem distribuído; se desenvolve ao redor do pátio de modo prático, com fluxos
e
acessos
legíveis.
A
disposição linear dos ambientes
Foram alojadas novas salas de
facilita a compreensão do programa
exposição, uma biblioteca e centro
Programa de
que consiste em: cinema, sala de
de
necessidades
vídeo e sala para workshops no
administrativos, uma livraria, café,
primeiro
um auditório e armazéns para a
andar;
exposições
espaço
e
para
cybercafé
no
documentação,
escritórios
conservação das obras.
segundo; salas de exposição e teatro
com
(capacidade
pé :135
direito
duplo
pessoas)
no
terceiro andar. Os
edifícios
que
abrigam
a
biblioteca e as salas de exposições Estrutura em concreto armado, com colunas com capitéis trabalhados, do térreo até o primeiro andar. A partir do segundo piso, os capitéis Estrutura e materiais
são retos e as lajes simples. Uma estrutura
de
perfis
metálicos
revestida com gesso foi executada para apoiar a claraboia, que era menor do que o vazio central do quarto andar. A alvenaria é de tijolos.
temporárias foram construídos com aço
laminado,
enquanto
o
do
auditório tem sistema de concreto protendido. Predominância do vidro e
de
materiais
reflexivos.
Na
construção predomina o uso de materiais e técnicas inovadoras. É o caso da composição de fibra de vidro e poliéster que recobre o edifício do auditório por dentro e por fora. Pode-se citar ainda o uso de perfis de proteção feitos de alumínio extrudado,
o
revestimento
Alucore e zinco para a cobertura.
de
A r q u i t e t u r a I n c l u s i v a | 59
O museu tem duas entradas, uma na fachada principal do edifício A
entrada
principal,
com
três
aberturas, todas com 2 degraus, não são acessíveis a pessoas em Acesso à Edificação (todos utilizam a mesma entrada,de forma segura)
cadeiras de rodas. Além disso, não possuem piso de tátil de alerta, nem faixas
contrastantes,
corrimãos,
o
circulação
de
deficiência reduzida,
que
nem
dificulta
pessoas
visual, além
de
a com
mobilidade idosos.
As
pessoas usuárias de cadeira de Com foco na Acessibilidade do meio físico
rodas utilizam a entrada lateral, anexa à cafeteria.
Sabatini e outra no edifício Nouvel. O acesso para cadeiras de rodas é feito pela rua Santa Isabel pela Plaza de Sancez Bustillo. O acesso ao edifício Nouvel (ao lado da Ronda de Atocha) não tem qualquer barreira e é acessível a visitantes em cadeiras de rodas através de rampas. Cada edifício possui o seu próprio
acesso.
Há
acessos
independentes tanto da biblioteca como
do
auditório
e
do
restaurante/cafeteria para o exterior do Museu. O visitante também transita livremente entre o edifício Sabatini e os novos espaços. A circulação entre os dois edifícios é feita por meio de rampas com
As
Circulação horizontal (barreiras, rota, sinalização tátil)
circulações
são
inclinação adequada de 8,5%; com
amplas, livre de barreiras, porém
corrimão duplo em ambos os lados.
não
Todos os desníveis existentes nas
há
piso
principais
tátil
em
nenhum
ambiente. Alguns desníveis são
salas
vencidos
rampas, exceto a sala E1 (Área 1),
por
possibilitando
meio a
de
rampas
circulação
de
de
exposições
possuem
localizada no 1º andar do edifício
cadeiras de rodas, mas não são
Sabatini,
que
sinalizadas com piso tátil de alerta e
demanda auxilio de funcionários
nem possuem corrimãos.
para
PCR
e
tem
degraus
PMR.
Não
e
há
sinalização com piso tátil de alerta em frente aos elevadores. Realizada
Circulação vertical
por
meio
de
05
Três torres de elevadores em aço e
elevadores, sendo 04 elevadores
vidro, sendo duas delas fornecem a
novos (um deles é de uso exclusivo
circulação vertical para as duas
de funcionários) e 01 elevador de
entradas
1920 que foi restaurado (antigo
Sabatini, acessadas por rampas e
elevador do cofre), para acesso ao
há também elevadores no edifício
subsolo por pessoas usuárias de
Nouvel. Os auditórios e a biblioteca,
cadeira de rodas. Há ainda duas
situados no edifício Nouvel, têm
escadas, uma para o público e outra
seus
principais
próprios
do
edifício
elevadores.
Os
A r q u i t e t u r a I n c l u s i v a | 60
que funciona como circulação de
elevadores possuem Braille e relevo
emergência do edifício.
nas
botoeiras,
porém,
não
anunciam o andar por meio de aviso sonoro. A
cobertura
é
precisão
perfurada
com
possibilitando
canalização
da
luz
a
natural
na
biblioteca, nas áreas de exposições e no pátio. A biblioteca mescla a luz e Vitral Iluminação
para
iluminação
a
sombra.
Luzes
centrais
natural
propagadas por cúpulas suspensas
localizado no vão central, confere
feitas de gesso e cristal lavrado.
boa visibilidade.
Enormes panos de vidro aparecem riscados
por
cortinas
de
aço
perfurado, que criam uma qualidade de
iluminação
propícia
para
o
estudo. Os terraços são protegidos por enormes vidraças e aberturas de iluminação zenital. As pessoas em cadeira de rodas conseguem
Com base nos princípios do Desenho Universal
espaços, Princípio 1 Uso equitativo dos espaços (uso de todas as áreas e ambientes por todos)
De modo geral, as adaptações realizadas
na
proporcionaram
edificação
meios
para
a
utilização dos espaços por todos os tipos
de
usuários,
de
maneira
idêntica ou equivalente.
visitar de
todos
forma
os
equitativa,
exceto a sala E1 onde necessitam auxilio para vencer os degraus. Há três banheiros para cadeirantes, localizados: no primeiro e no quarto andar do Edifício Sabatini e o último no
edifício
colocou
à
Nouvel.
O
disposição
museu para
os
visitantes que solicitarem bengalas e
cadeiras
de
rodas.
Não
há
sinalização tátil no piso. Princípio 2 Uso flexível (respeita ritmo dos usuários, corrimão, canhotos)
Os
usuários
podem
escolher
circular por elevador ou por escada e há bancos para descanso dos usuários que apresentem ritmo mais lento para percorrer o espaço.
Os usuários podem optar entre circular por rampa ou elevador. A rampa não possui patamares, o que dificulta o percurso por usuários que tenham mobilidade reduzida, já que a extensão é bastante longa.
A r q u i t e t u r a I n c l u s i v a | 61
Embora o percurso pelos andares
A
Princípio 3
seja fácil e legível, o que dificulta
consequente
Uso simples e
um pouco a sua leitura é o fato de
desafiadoras, principalmente para
intuitivo (fácil
não serem utilizados pictogramas
pessoas com deficiência visual, em
compreensão
nem
para
função da extensão do complexo,
com
da diversificação de percursos e da
para todos)
haver
orientação
mapas de
táteis
pessoas
deficiência visual.
leitura
dos
espaços
compreensão
e são
falta da sinalização tátil no piso. Há mapas de orientação, folhetos
Os ambientes não dispõem de
em Braille e em fonte ampliada e
Princípio 4
sinalização tátil e sonora e a visual
áudio guias para pessoas com
Comunicação e
é deficitária, pois em geral, as
deficiência visual. Há signo guias
informação
fontes utilizadas para sinalização
para
fácil e
são pequenas. Em cada pavimento,
auditiva e amplificadores de sinal
perceptível
nas áreas próximas aos elevadores
nas bilheterias e individuais para
(visual, sonora,
e à escada há mapas de orientação
facilitar a comunicação de pessoas
tátil)
visual, porém não há equivalente
que utilizam prótese auditiva ou
em Braille.
implante
pessoas
com
deficiência
coclear.
Não
há
sinalização tátil no piso. A falta de sinalização tátil de alerta no piso coloca em risco pessoas Princípio 5
com deficiência visual diante das
Tolerância ao
escadas. A falta de sinalização
A falta de sinalização tátil no piso
erro
indicando a existência da entrada
constitui-se sempre num risco para
(perigos e riscos
lateral que é acessível pode levar
a segurança da circulação de
no
pessoas idosas ou com mobilidade
pessoas com deficiência visual.
deslocamento)
reduzida a correrem risco ao entrar pela entrada principal que não tem corrimão para apoio. A
Princípio 6
As rampas têm inclinação superior à
Necessidade de
norma (8,33%) o que exige maior
esforço físico
esforço físico para o percurso dos
(mínimo)
usuários.
questão
que
mais
chamou
atenção foi a falta de sanitários em todos os andares, o que obriga o usuário de cadeira de rodas a percorrer um trajeto que envolve deslocamento horizontal e vertical até o banheiro acessível.
Princípio 7
Há
pavimentos
sem
sanitário
Dimensão dos
acessível. Alguns andares não têm
espaços para
bebedouro acessível e não há
uso e interação
assentos para pessoas obesas.
No auditório há lugares reservados para cadeiras de rodas atrás da última fileira de assentos; acessado a partir do hall de entrada com um elevador
de
uso
restrito.
O
A r q u i t e t u r a I n c l u s i v a | 62
cadeirante
tem
acesso
a
uma
plataforma para uma rota acessível alternativa. Há três banheiros para cadeirantes,
localizados:
no
primeiro e no quarto andar do Edifício Sabatini e o último no
Foco na Orientação espacial
edifício Nouvel. Orientação
Os percursos pelos andares são
espacial
facilmente legíveis, principalmente
Em diferentes áreas de circulação e
(percepção do
pela presença do vão central que
na ligação entre os edifícios e áreas
espaço – Meio
delimita os corredores ao seu redor,
de acesso aos elevadores estão
Ambiente
conferindo um bom entendimento
disponíveis mapas de localização.
Construído)
da circulação pelos pavimentos. O piso da praça é antiderrapante e
Deslocamento (pisos antiderrapantes e antirreflexo)
Os espaços amplos e iluminados favorecem um deslocamento com segurança.
anti-reflexo, porém, na área interna existem várias áreas onde a luz é refletida no piso, o que dificulta e confunde
o
deslocamento
de
pessoas com baixa visão. O
CCBB
possui
um
programa
Abordagem
educativo voltado para o público
sensorial
com deficiência, que desenvolve
(análise geral)
atividades
que
exploram
várias
possibilidades sensoriais. O
setor
Foco sensorial
desenvolve
educativo atividades
O MNCARS desenvolveu vários programas sensoriais para que as pessoas
com
possam
deficiência
desfrutar
exposições
visual
das
permanentes
suas e
temporárias.
do
CCBB
sensoriais
voltadas ao público com deficiência Referencial tátil
visual, há inclusive um espaço no
(texturas)
segundo andar onde encontra-se uma maquete tátil do prédio do CCBB-SP e apostilas em Braille e
O MNCARS disponibiliza a visita táctil Museu a Mano, que acerca às pessoas com deficiência visual a revolução do conceito de escultura do século XX.
com fonte aumentada. Referencial visual (cores/jogo de luz/sombra, molduras no piso)
Repetições de espaços
Jogo de luz e sombra é uma
semelhantes; Não foram
presença constante nos ambientes,
identificados elementos
notadamente
diferenciadores que sirvam como
impacto da luz sobre as superfícies
referenciais, por exemplo, para
brilhantes e lisas é um convite aos
caracterizar os diferentes andares e
visitantes
a alocação de seu programa.
experimentarem uma diversidade
na
e
biblioteca.
passantes
O
a
A r q u i t e t u r a I n c l u s i v a | 63
de sensações proporcionadas pela estratégia projetual.
Referencial olfativo (composições
Não há.
Não há.
Não foram encontrados.
Não foram encontrados.
vegetais) Referenciais sinestésicos (elementos com água, sinos de vento) A monumental cobertura elevada por cima dos terraços e que não se A
contribuição
da
luminosidade
proporcionada pela claraboia no vão central que permeia a circulação de todos os pavimentos.
Uma Pontos a destacar:
iniciativa
destacada
é
vale
ser
Semana
de
Acessibilidade que o CCBB realiza anualmente através de atividades elaboradas pelo setor Educativo, onde
são
Inclusivas
realizadas
criativas
debaixo da qual se percebe o entorno
nos
reflexos
e
transparências. Afastada a menos de um metro do Edifício Sabatini,
que a
apoia no edifício é como uma asa
Ações
voltadas
público com deficiência.
ao
deixa passar os raios luminosos. O impacto da luz sobre as superfícies brilhantes e lisas consegue gerar a impressão
de
"descompor"
a
volumetria e "desfazer" a forma. O vermelho intenso brinca com a luz, resultando num efeito onde as superfícies lisas e brilhantes dão a impressão de se desfazerem com a luminosidade. Este efeito pode ser observado do café.
A r q u i t e t u r a I n c l u s i v a | 64
Tabela 2: Análise dos Estudos de Caso - Intervenções Acessíveis
Intervenções Acessíveis
Terreno
Características do projeto
Centro Cultural Palacio La
Pinacoteca do Estado de São
Moneda - Chile
Paulo
Plano.
Localização:
Plano. Localização: bairro da Luz,
metropolitana de Santiago.
centro de São Paulo.
O Centro Cultural Palácio de La
Trata-se de um edifício histórico,
Moneda redefiniu o destino de uma
tombado pelo CONDEPHAAT em
área pública até então destinada a
1982 e pelo Compresp em 1991, de
estacionamentos
veículos
padrão neoclássico, construído em
oficiais. Desde suas origens, o
1900, para ser a sede do Liceu de
edifício
foi
Artes e Ofícios. É o mais antigo
concebido tanto em seu interior
museu de arte de São Paulo, e tem
como em seu exterior, como uma
caráter fortemente monumental. Em
praça
sua
do
de
Centro
pública
circulação
Com base no partido do projeto
região
Cultural
aberta
das
à
pessoas.
livre A
arquitetura
materiais
destacam-se
nobres, e
formas
estratégia do projeto se inspirou na
geométricas
regulares
e
lógica dos pátios que caracterizam
organização lógica e organizada
o Palácio do século XVIII.
dos espaços internos. Edifício de caráter monumental, constituído
por
composto
por
bloco três
único,
pavimentos:
térreo, primeiro e segundo andar. O primeiro
abriga
as
exposições
Instalado em 3 pavimentos, a partir
temporárias e áreas administrativas;
O edifício
de 6,5 metros abaixo do piso da
no
(distribuição dos
rua, pois foi construído no subsolo
exposições de longa duração do
espaços)
da praça situada em frente ao
acervo permanente e a galeria tátil
Palácio Del Gobierno.
de
segundo
andar
esculturas
peças
são
ficam
as
brasileiras,
cujas
etiquetadas
em
linguagem Braille; no térreo estão localizados: o auditório, as áreas técnicas, a cafeteria e ainda um pequeno espaço expositivo.
Programa de necessidades
No pátio central estão localizadas
O
salas expositivas a leste e oeste do
problemas relativos à complicada
centro,
espaços
distribuição
das
neutros capazes de se adaptar a
exposições
espalhadas
diferentes tipos de uso. Ao norte,
inúmeras salas e com circulação
consideradas
projeto
visava
resolver
áreas
os
de por
A r q u i t e t u r a I n c l u s i v a | 65
um pequeno pavilhão abriga o
estruturada a partir dos vazios
Centro de Documentação das Artes.
internos formados por uma rotunda
Em direção ao sul, se desenvolvem
central em formato octogonal e dois
dois níveis de programa: no nível
pátios
mais baixo, uma sala longa e
realizada solucionou questões de
estreita é outro espaço adequado
fluxo
para exposições. Entre esta sala e o
passarelas
estacionamento para 560 carros
proporcionaram uma conexão mais
dispostos em quatro níveis, estão
eficiente
localizadas as adegas e instalações
incorporou
de serviço. No nível intermediário,
transporte de pessoas e de carga,
entre o piso de acesso e área de
novos sanitários, ampliou a área
exposição está o Arquivo Nacional
para
de Cinema. Há ainda espaço para
laboratórios
oficinas, biblioteca, loja/quiosque e
depósitos.
laterais.
A
através
da
intervenção
inserção
metálicas
entre
os
que
espaços,
elevadores
o
acervo, de
de
para
biblioteca, restauro
e
lanchonete/restaurante. Concreto armado em geral, vigas e
As colunas e paredes do edifício
lajes de concreto protendido, pisos
são feitas de alvenaria de tijolos,
com
com vigas de ferro revestidas de
acabamento
em
granito,
Estrutura e
clarabóias de vidro laminado e
tijolo.
materiais
temperado. Possui pilares redondos
acabamentos de madeira e vidrou
de concreto e um painel metálico
ou metal e vidro. Foi instalada uma
vazado na área
cobertura possui estrutura metálica
de
exposição,
utilizado como elemento estético.
Com foco na Acessibilidade do meio físico
janelas
possuem
e tampo de vidro. O acesso à Pinacoteca é bastante
Acesso à Edificação
O centro cultural se encontra a 6,5m
(todos utilizam a
abaixo do nível da rua, sendo
mesma entrada,
acessados por meio de uma rampa
de forma
As
panorâmica, escadas e elevador.
favorecido pela região que conta com várias opções de transporte público. A entrada de pessoas em cadeira de rodas é feita por uma rampa que acessa o nível inferior ao
segura)
da entrada. Espaços amplos e bem iluminados. A intervenção realizada resolveu
Circulação horizontal (barreiras, rota, sinalização tátil)
Os
ambientes
são
amplos
e
questões
de
fluxo
através
da
totalmente nivelados, porém não
inserção de passarelas metálicas
possuem sinalização tátil no piso.
que proporcionaram uma conexão
Áreas com ilhas de "pufs" para
mais eficiente entre os espaços,
descanso.
cruzando os pátios internos em dois níveis,
rompendo
com
a
verticalidade de 22m de pé direito e
A r q u i t e t u r a I n c l u s i v a | 66
estabelecendo a horizontalidade.
Um novo elevador interligado à O visitante pode optar entre várias
passarela de um dos pátios laterais
alternativas
Há
garante circulação mais confortável
acesso interno por meio de rampas
para os visitantes e maior facilidade
Circulação
de concreto com guarda-corpo de
para transporte das obras, que
vertical
vidro, por 01 elevador (apenas um)
antes era feito por meio de quatro
ou através de escadas. Há, ainda,
escadas
uma plataforma elevatória próximo
edifício. Atualmente, então, são dois
à entrada
elevadores e quatro escadas que
de
circulação.
nas
extremidades
do
viabilizam a circulação vertical.
Iluminação
Iluminação natural filtrada pelas
A
placas de vidro dispostas entre
exuberância
vigas da cobertura apoiada sobre
interior do edifício, enriquecendo a
estrutura
apreciação das obras de arte e da
metálica,
e
vigas
de
concreto protendido.
intervenção
proporcionou
de
luz
natural
no
própria arquitetura. Ao refletir sobre uso equitativo, uma questão que chama a atenção é o acesso ao interior do edifício que
Com base nos princípios do Desenho Universal
para o público em geral é feito Princípio 1 Uso equitativo dos espaços (uso de todas as áreas e ambientes por todos)
através da escadaria de dois lances Todos os espaços do centro cultural
laterais, enquanto para pessoas em
asseguram
de
cadeira de rodas o acesso é feito
utilização por todos os tipos de
por duas portas adjacentes à base
usuários em todos os ambientes,
lateral da escadaria e cujo acesso
mesmo que de forma não autônoma
depende
por falta da sinalização tátil no piso.
segurança para abrir a porta tipo
a
possibilidade
de
funcionários
da
corta fogo que só abre por dentro do prédio. Muitas vezes as pessoas em cadeira de rodas ficam a espera deles enquanto o restante do grupo aguarda no interior do edifício.
Princípio 2 Uso flexível (respeita ritmo dos usuários, corrimão, canhotos)
Os usuários podem acessar os espaços
através
de
rampas,
escadas ou elevador. Há bancos distribuídos nos pavimentos para descanso.
O espaço pode ser percorrido no tempo necessário e desejado por cada
usuário,
há
bancos
para
descanso. Há também recursos sensoriais
e
visitas guiadas.
disponibilidade
de
A r q u i t e t u r a I n c l u s i v a | 67
Princípio 3 Uso simples e intuitivo (fácil compreensão para todos)
É um espaço muito amplo e com Os espaços são muito amplos e de
circulações similares nos andares, o
difícil orientação para pessoas com
que dificulta a orientação. Possui
deficiência visual, além disso, não
piso tátil apenas no último andar de
possui sinalização tátil ou sonora.
exposição, junto a uma galeria tátil e sinalização sonora no elevador.
Princípio 4
Possui sinalização visual indicativa
Comunicação e
dos diversos ambientes, em tons
informação
contrastantes com as cores do piso
fácil e
e paredes. Há um terminal visual
perceptível (visual, sonora, tátil)
eletrônico
de consulta
sobre a
exposição no saguão de entrada, porém não dispõe de mapa tátil.
De forma geral a Pinacoteca conta com boa sinalização visual nos diversos ambientes, fazendo o uso de pictogramas e utilizando cores para a identificação das salas de exposição.
Os espaços são amplos e, pelo material
disponível,
percebemos
Princípio 5
que é possível a circulação para as
Tolerância ao
pessoas em cadeiras de rodas ou
A falta de sinalização tátil no piso
erro
com mobilidade reduzida. Porém,
oferece
(perigos e riscos
as pessoas com deficiência visual
deficiência visual diante de escadas
terão
e também no acesso às passarelas.
no deslocamento)
enorme
dificuldade
no
risco
às
pessoas
com
deslocamento devido à falta de sinalização tátil no piso, em todos os ambientes. O acesso externo é feito sobre um piso irregular de difícil circulação por cadeirantes, a entrada no prédio
Princípio 6
O que chamou a atenção foi o longo
obriga o cadeirante a esperar pela
Necessidade de
percurso da rampa sem patamares
abertura da porta e depois ele
esforço físico
para descanso. Porém, há a opção
precisa
de circulação vertical por elevador.
caminho,
(mínimo)
percorrer
um
longo
com
rampa
com
inclinação acima do permitido pela norma, demandando esforço extra para conseguir vencer o desnível.
Princípio 7 Dimensão dos espaços para uso e interação
Somente em 2010 entrou em vigor
Toda a estrutura expositiva é
no Chile a lei que estabelece uma
adequada para aproximação e
série de regulamentos que propõem
alcance visual de todos os públicos,
uma mudança de mentalidade em
além do edifício assegurar
relação às pessoas com deficiência,
acessibilidade física por meio de
postulando
rampas, elevador e banheiros
que
é
o
ambiente
construído que gera o grau de
acessíveis, mas cujas portas são
A r q u i t e t u r a I n c l u s i v a | 68
deficiência para as pessoas. Em
mais estreitas do que a norma NBR
outubro de 2015, os ministros do
9050 estabelece (nem todos os
Desenvolvimento Social, de Obras
cadeirantes conseguem acessá-lo).
Públicas (Alberto Undurraga) e o
A Pinacoteca disponibiliza, ainda,
Diretor
cadeiras de rodas por empréstimo a
Nacional
do
Serviço
Nacional de Deficiência assinaram
pessoas com mobilidade reduzida
um acordo de cooperação para
que as solicitarem.
promover
a
inclusão
e
acessibilidade para pessoas com deficiência tanto na concepção e construção
de
infraestruturas
públicas quanto para avançar de forma
colaborativa
na
implementação de políticas públicas inclusivas. Orientação espacial
Foco na Orientação espacial
(percepção do espaço – Meio Ambiente Construído)
A leitura do espaço é bastante complexa, com múltiplos espaços. A compreensão destes espaços por pessoas com deficiência visual é desafiadora.
O espaço é extremamente amplo e com longos corredores bastante similares. Sem o auxílio de pontos de referência que possam orientar.
Os três pavimentos da Pinacoteca
Deslocamento (pisos antiderrapantes e antirreflexo)
Os ambientes de circulação são
são revestidos com pisos regulares,
bastante
iluminados,
antiderrapantes e antirreflexo. Os corredores são bastante amplos e
porém
amplos
e
não
foram
encontradas
informações
que
pudessem
com iluminação adequada,
viabilizar conclusões seguras sobre
possibilitando um deslocamento
a caracterização do piso.
seguro, exceto pela falta da sinalização tátil. Em 2003, foi implantado um
Foco sensorial
programa de acessibilidade física e sensorial, o PEPE – Programa Abordagem
Não foram encontradas informações
Educativo para Públicos Especiais,
sensorial
que pudessem viabilizar conclusões
que trabalha com recursos
seguras.
multisensoriais. Este programa
(análise geral)
desenvolve atividades voltadas a pessoas com deficiências sensoriais, intelectuais e físicas.
A r q u i t e t u r a I n c l u s i v a | 69
O setor educativo desenvolveu
Referencial tátil (texturas)
Parece não haver, embora. Não
reproduções de algumas obras do
tenham sido encontradas
acervo utilizando peças com relevo
informações que pudessem
e texturas e também reproduziu
viabilizar conclusões seguras.
peças através de maquetes montáveis e desmontáveis. A luminosidade, produzida ou
Referencial
As entradas das salas de exposição
reproduzida pelos recursos
visual
são emolduradas com revestimento
arquitetônicos projetados oferece ao
(cores/jogo de
na cor vermelho, o que facilita a
visitante a oportunidade de usufruir
luz/sombra,
percepção
molduras no
principalmente para as
piso)
e
t
identificação, pessoas
com baixa visão.
rt ” ú
r r
“ br z
tr
é
nuances de luz e sombra projetadas nas paredes.
Referencial olfativo (composições vegetais)
Não foram encontradas informações
O setor educativo trabalha também
que pudessem viabilizar conclusões
com materiais sensoriais que
seguras.
envolvem o sentido do olfato.
Referenciais
Na lateral da rampa externa, que dá
sinestésicos
acesso ao centro cultural, há uma
Não foi percebida intencionalidade
(elementos com
parede de água que também serve
arquitetônica que contemplasse
água, sinos de
o complexo sistema de refrigeração
este aspecto.
vento)
do ar interior. O espaço de exposição/convivência é
um
espaço
flexível
para
a
realização de diversas atividades, desde Pontos a destacar:
feiras
exposições
e
artesanais
até
apresentações
de
orquestras com total acessibilidade. A biblioteca possui acessibilidade incluindo o acervo cujas estantes estão em altura acessível.
Os amplos espaços da edificação secular são extremamente convidativos para a contemplação ao simples deslocamento por seus ambientes, constituindo num atrativo independe das exposições. Outro aspecto a ser destacado é a galeria tátil que é eficientemente acessível ao público com deficiência visual.
A r q u i t e t u r a I n c l u s i v a | 70
Tabela 3: Análise dos Estudos de caso - Projetos de referência Estética
Projetos de Referência Estética Museu Solomon R. Guggenheim -
Museu MAXXI - Roma
Terreno
Nova York
Plano. Localização: bairro Flamingo,
Localização:
Roma.
York.
5th
Avenue,
Nova
Localizado no terreno de um antigo quartel militar, o museu é composto por
cinco
tubos
retangulares
Com base no partido do projeto
sobrepostos que se conectam à construção original do terreno, que
A volumetria se baseia na forma de
foi preservada. As paredes curvas
um
dos tubos dialogam e contrastam
piramidal
com as fachadas simétricas em
curvas
estilo neoclássico do entorno. O
sobreposição de planos a partir de
conceito principal do projeto está
formas geométricas diferentes cria
Características
diretamente ligado à finalidade do
um efeito plástico, dando a ideia de
do projeto
edifício como um centro para a
camadas flutuantes recortadas. As
exibição de artes visuais.
principais
Dois
zigurate
invertido
terraplanado) de
uma
(templo e
espiral.
formas
nas A
geométricas
elementos arquitetônicos principais
utilizadas foram o arco, o círculo, o
caracterizam o projeto: os muros de
triângulo e o quadrado, que estão
concreto que definem as galerias de
presente em todos os elementos da
exposição
construção, desde a volumetria até
e
determinam
entrelaçamento gerando
de
conexões
pontes
que
ligam
o
volumes com
os detalhes construtivos.
várias
edifícios
e
galerias; e o telhado transparente que modula a luz natural. Projetado
como
um
verdadeiro
campus multidisciplinar e multiuso das artes e da cultura, o MAXXI cria O edifício (distribuição dos espaços)
um complexo urbano para a cidade que pode ser desfrutado por todos. O MAXXI é constituído por duas instituições, denominadas MAXXI Arte
e
MAXXI
Arquitetura,
dedicadas respectivamente à arte e arquitetura do século XX e XXI.
A galeria principal possui uma forma cilíndrica em espiral, com um vazio central e iluminação natural por meio de uma claraboia em cúpula. O bloco retangular abriga as demais galerias e conecta o volume circular menor, onde está localizado o café. Em 1992, foi inaugurada uma torre anexo ao museu, projetado pela Gwathmey Architects.
Siegel
&
Associates
A r q u i t e t u r a I n c l u s i v a | 71
Além dos dois museus, o MAXXI inclui um auditório, biblioteca e biblioteca
de
mídia,
livraria
e
Programa de
cafeteria, espaços para exposições
necessidades
temporárias, espaços ao ar livre, eventos
ao
vivo
e
atividades
Além das galerias, o museu inclui um
auditório,
cafeteria,
loja
e
laboratórios.
comerciais, laboratórios e locais de estudo e lazer. O A estrutura do novo edifício é composta
de
paredes
laterais
curvas feitas em concreto autoadensável
(SCC)
aparente;
As
estruturas horizontais são, na sua maioria, compostas por vigas de aço pintadas de preto, às vezes revestidas com painéis de concreto Estrutura e
reforçado com fibra de vidro (GRC),
materiais
como no caso das vigas do teto, que é, na verdade, um aparelho complexo, constituído por estruturas com vidros duplos superiores e inferiores, providos de um sistema de proteção solar composto por grelhas
metálicas
ajustáveis;
A
estrutura do teto também acomoda o sistema de iluminação artificial.
Guggenheim
é
composto
principalmente de concreto armado. e de concreto de peso normal moldado in loco. O material das paredes radiais internas e das rampas
é
o
concreto
leve.
O
material utilizado para o exterior das paredes
espirais
concreto
curvas
projetado,
ou
foi
o
gunite.
Wright usou gunite para obter uma fachada monolítica sem emendas. Estrutura de concreto tem vãos de mais de 18m e balanços com mais de 7m. A estrutura da galeria principal se desenvolve através de uma rampa em espiral com três graus de inclinação, que faz seis voltas no vão central do edifício, de 30,5m de altura. As janelas são emolduradas
em
aço
e
as
Acesso à
Do lado externo, um calçadão de
Edificação
pedestres segue o contorno do
A entrada principal da galeria está
(todos utilizam a
edifício, restaurando uma ligação
nivelada com a rua e possui pé-
mesma
urbana que foi bloqueada por quase
direito baixo, sendo delimitado pela
um
fachada frontal.
entrada,de físico
Com foco na Acessibilidade do meio
claraboias de alumínio.
forma segura) Circulação horizontal (barreiras, rota, sinalização tátil)
século
pelo
antigo
quartel
militar. Os corredores formam fluxos que se
O museu parte do princípio de um
conectam
espaço
criando
um
espaço
inteiro, no
contínuo qual
todos
e
dinâmico e interativo. Os amplos
interligado,
os
espaços interiores, definidos pelas
ambientes são visualizados pelos
paredes da exposição, são cobertos
usuários que fazem o percurso de
A r q u i t e t u r a I n c l u s i v a | 72
por um telhado de vidro que ilumina
cima para baixo. Não há sinalização
as galerias com a luz natural filtrada
tátil no piso.
pelas linhas das vigas em fita no teto que ajudam a articular as várias orientações das galerias e facilitam a circulação através do museu. O acesso aos espaços é feito por meio de um elevador principal e da O Circulação vertical
acesso
às
diferentes
áreas
expositivas é feito por meio de escadas
e
passarelas
em
tom
contrastante com o espaço, além de elevadores.
rampa Slope, uma rampa espiralada com
inclinação
de
três
graus,
passando por todos os pisos do edifício e onde estão expostas as obras.
Possui
anexos
e
dois
uma
elevadores
escada,
que
permitem o acesso e circulação pelo bloco retangular. O museu recebe iluminação natural através dos feixes de luz que passam pela cobertura de vidro, pelos entremeios das vigas de concreto do teto do terceiro andar. As galerias têm um sistema de sombreamento Iluminação
externo
cuidadosamente
projetado
(as
nervuras de aço) e orientadas para o sul, alavancas externas ativas ajustáveis, como persianas internas para reduzir a radiação solar e criar condições de iluminação de 50 a 200 lux. A iluminação artificial está sob controle de um sofisticado
Uma grande claraboia com cúpula de
aço
e
vidro
fornece
uma
iluminação de fundo difusa para o espaço interno, enquanto uma faixa contínua de janelas de fita fornece uma iluminação natural específica para as obras de arte localizadas ao longo da rampa de exposição. Posteriormente, foi adicionado um sistema de iluminação artificial para garantir a iluminação adequada às obras
de
arte
em
todas
as
condições.
Princípio 1 Desenho Universal
Com base nos princípios do
sistema
Uso equitativo dos espaços
(uso de todas as áreas e ambientes por todos)
Os amplos e iluminados espaços possibilitam a utilização por todos os tipos de usuários, porém, as pessoas
com
deficiência
visual
terão muita dificuldade de circular pelos
ambientes
de
modo
autônomo, em função da falta de sinalização tátil no piso diante da
Todos
os
espaços
do
museu
asseguram a utilização por todos os tipos de usuários.
A r q u i t e t u r a I n c l u s i v a | 73
constante variação de níveis entre os espaços.
A rampa espiralada da
galeria
Princípio 2
A conexão entre diversos ambientes
principal permite que os usuários
Uso flexível
é feita por meio de escadas e
façam sua própria rota para acessar
(respeita ritmo
passarelas que demandam esforço
a exposição. O público também
dos usuários,
para
mobilidade
pode acessar os mesmos espaços
corrimão,
reduzida. Não foram visualizados
com o elevador principal e os
canhotos)
espaços de descanso.
elevadores anexos para as demais
pessoas
com
galerias. O conjunto de estrutura e vigas em fita ajuda a direcionar o trajeto dos Princípio 3 Uso simples e intuitivo (fácil compreensão para todos)
usuários, cujo percurso permanece
O percurso proposto começa no
generosamente iluminado. Por outro
elevador para acessar o nível mais
lado, a densa textura de espaços
alto da rampa, onde está localizada
interiores e exteriores entrelaçados
a claraboia. Os usuários descem a
e sobrepostos uns sobre os outro
rampa de modo fluído, enquanto
cria
observam as obras expostas.
um
espaço
extremamente
complexo para ser percorrido por pessoas com deficiência. Nas fontes pesquisadas Princípio 4 Comunicação e informação fácil e perceptível (visual, sonora, tátil)
Princípio 5 Tolerância ao erro (perigos e riscos no deslocamento)
e nas
Nas fontes pesquisadas e nas
imagens e vídeos assistidos foram
imagens e vídeos assistidos não
observadas
foram visualizadas informações ou
informações
visuais,
algumas com pictogramas, porem
comunicação perceptível, porem
as fontes não foram suficientes para
acredito que as fontes não foram
formar
uma
suficientes para tirar alguma
quanto
à
elementos
opinião eficiência e
nem
conclusiva destes se
há
conclusão quanto à existência destes elementos e nem se há
disponibilidade de outras linguagens
disponibilidade de outras linguagens
que assegurem a acessibilidade.
que assegurem a acessibilidade.
O piso reflexivo parece ser do tipo
Não foram encontradas referências
não antiderrapante, fator de risco
ao tipo de piso, porém, nas fotos e
para
vídeos
pessoas
com
deficiência
foi
visualizado
um
piso
visual, idosos, entre outros. A falta
reflexivo que parece ser do tipo não
da sinalização tátil no piso constitui
antiderrapante, fator de risco para
sempre um risco para as pessoas
pessoas
cegas, seja diante de desníveis no
idosos, entre outros. A falta da
com
deficiência
visual,
A r q u i t e t u r a I n c l u s i v a | 74
piso, vãos e escadas, entre outros.
sinalização tátil no piso constitui sempre um risco para as pessoas cegas.
Há
Princípio 6 Necessidade de esforço físico (mínimo)
diferença
de
níveis
entre
diversos ambientes, os percursos
O acesso do público à galeria
são longos e, para uma pessoa em
principal é feito pela rampa Slope.
cadeira de rodas, o esforço é muito
Porém, há a opção de circulação
intenso se a cada circulação por um
vertical pelo elevador principal. Nas
piso ela necessitar ir até os pontos
outras galerias, o acesso pode ser
onde se encontram os elevadores
feito pelos elevadores anexos e
para conseguir se deslocar para o
pela escada.
nível seguinte.
Princípio 7 Dimensão dos espaços para uso e interação
Pelo que foi possível observar nas
Pelo que foi possível observar nas
diversas fontes consultadas (vídeos
diversas fontes consultadas (vídeos
e fotos), os espaços são todos
e fotos), os espaços são todos
amplos
amplos
e
parecem
livres
de
e
parecem
livres
de
barreiras, porém não consegui obter
barreiras, porém não consegui obter
informações
informações
a
respeito
das
a
respeito
das
características de outros recintos –
características de outros recintos –
banheiros, auditório – para poder
banheiros, auditório – para poder
fazer análises mais detalhadas.
fazer análises mais detalhadas
As formas fluidas e sinuosas, a
Foco na Orientação espacial
variedade e o entrelaçamento de Orientação
espaços com piso reflexivo e o uso
Do átrio central é possível visualizar
espacial
modulado da luz natural levam a um
os seis pavimentos da rampa. Os
(percepção do
quadro espacial e funcional de
espaços expositivos também são
espaço – Meio
grande complexidade, oferecendo
abertos, permitindo a visão dos
Ambiente
visões incessantes e mutáveis dos
trabalhos
Construído)
ambientes do prédio o que torna a
lugar da galeria principal.
legibilidade do espaço desafiadora para pessoas com deficiência. O piso é de epóxi cinzento e Deslocamento (pisos antiderrapantes e antirreflexo)
reflexivo, e com a incidência da luz sobre o piso pode confundir a e dificultar a percepção visual dos usuários, pessoas
principalmente que
rebaixamento da visão.
das
apresentam
expostos
de
qualquer
A r q u i t e t u r a I n c l u s i v a | 75
Abordagem sensorial (análise geral)
Referencial tátil (texturas)
Não foram encontradas informações que pudessem viabilizar conclusões
Não há.
seguras. Possui contrastes de cor entre a
Referencial
Foco sensorial
visual (cores/jogo de luz/sombra, molduras no piso)
circulação e os espaços; as áreas de circulação como escadas e passarelas estão destacadas na cor preto e com iluminação bilateral embutida em todo o traçado do piso das áreas de circulação, enquanto as paredes são destacadas pela cor
Possui iluminação zenital na lateral da rampa espiral acompanhando sua inclinação, de modo a mudar a percepção das obras de arte de acordo com as variações climáticas e as estações do ano.
branca e pelo concreto aparente. Referencial olfativo (composições vegetais)
Não foram encontradas informações que pudessem viabilizar conclusões
Não há.
seguras.
Referenciais sinestésicos (elementos com
Não foram encontrados.
Não foram encontrados.
água, sinos de vento) Um ponto importante do projeto é a questão da flexibilidade de uso dos espaços. A ausência de paredes convencionais
e
as
divisórias
suspensas do forro permitem que sejam feitas alterações nos espaços Pontos a destacar:
para atender as necessidades dos curadores para cada exposição. "um novo tipo de espacialidade fluida
de
múltiplos
pontos
perspectiva
e
fragmentada,
projetada
de
geometria para
encarnar a fluidez caótica da vida moderna". Zaha Hadid
A r q u i t e t u r a I n c l u s i v a | 76
5. O PROJETO
Conceber um projeto com base nos princípios do Desenho Universal é um desafio significativo, pois, embora não possamos afirmar que o conceito seja novidade, ainda é difícil encontrar referências de projetos realizados com este embasamento. Quando buscamos referências em arquitetura e acessibilidade, o que encontramos são projetos desenvolvidos de forma tradicional, buscando apenas soluções de acessibilidade de forma a atender às exigências da norma ABNT NBR 9050/2015. Acredito que alguns motivos contribuem para esta realidade: O primeiro e mais desafiador para ser trabalhado está relacionado aos valores cultivados em nossa sociedade, que ainda tem muita resistência em lidar com as diferenças, com a deficiência e com o fato de que um dia todos nós nos tornaremos idosos ou, de alguma forma, pessoas com deficiência. A este respeito, durante a divulgação do Primeiro Relatório Mundial sobre a Deficiência, publicado pela Organização Mundial da Saúde em 2011, a Diretora geral da OMS escreveu: "A deficiência é parte da condição humana. Quase todo mundo, em algum momento da vida, terá temporária ou permanentemente uma ou mais deficiências. Devemos fazer mais para quebrar as barreiras que segregam as pessoas com deficiência. Barreiras que, em muitos casos, as forçam a viver às margens da sociedade". (CHAN, Margaret)
O segundo ponto é que muitos profissionais da área de arquitetura e projetos atuantes no mercado não tiveram em sua formação contato com os conteúdos de Desenho Universal e Acessibilidade, e a multidisciplinaridade e complexidade deste tema faz com que existam muitas dúvidas relativas à sua aplicação prática. Sobre esta questão das incertezas na prática profissional, Donald Schön afirma: Profissionais de projeto, tais como arquitetos e projetistas urbanos [...] lidam frequentemente com a incerteza, a singularidade e com o conflito. As situações fora da rotina que surgem durante a prática são, pelo menos em parte, indeterminadas e devem ser tornadas coerentes de alguma forma. (SCHÖN, 2000)
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Isso decorre do fato de que projetar é uma atividade complexa que requer compreensão de múltiplos fatores e impõe a resolução de inúmeras situações adversas que vão se instalando à medida que avançamos no processo. O terceiro ponto acredito que seja de caráter pessoal, uma escolha ao mesmo tempo pessoal e profissional de aceitar novos desafios, de se disponibilizar a assumir os riscos de enfrentar de caminhos inseguros e resultados incertos, mas que fazem parte de todo processo de construção de um novo percurso e de evolução, tanto profissional quanto pessoal. Sabemos que a mudança de todo e qualquer paradigma é um processo longo, mas responder às demandas que surgem das necessidades de uma sociedade que se abriu ao debate sobre acessibilidade e inclusão também faz parte dos desafios a serem encarados pelos arquitetos, num percurso no qual ainda há muito a aprender para atuar de forma efetiva, apesar de já serem observadas iniciativas e conscientização nesse sentido.
5.1 - Pensando no projeto e nos princípios de Desenho Universal
Projetar com base no Desenho Universal implica numa grande mudança de referencial, que vai além da prática comum de remoção das barreiras para um grupo específico de pessoas (pessoas com deficiência), evoluindo para uma forma de atender às necessidades ambientais de praticamente todos os usuários, independentemente da idade ou habilidade. Significa projetar todos os produtos, edifícios e espaços exteriores de forma que possam ser usados por todas as pessoas na maior extensão possível. Desenho universal não é um estilo de design, mas uma orientação para projetar, com base nas seguintes premissas:
A deficiência não é uma condição especial de poucos;
É comum e afeta a maioria de nós em alguma parte de nossas vidas;
Se um projeto funciona bem para as pessoas com deficiência, ele funciona melhor para todos;
Usabilidade e estética são compatíveis entre si. Este é um objetivo ambicioso, que exige conhecimento detalhado de áreas,
soluções e consequências das escolhas feitas. Neste desafio está implícita uma
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série de exigências, às vezes controversas, para elaborar a fim de nos certificarmos de que todas as possibilidades acessíveis foram exploradas para atender as demandas de todos os usuários. É necessário prestar atenção à abrangência de especificidades dos usuários, como mobilidade, visão, audição, compreensão, etc. As soluções devem funcionar igualmente bem tanto para aqueles com habilidades médias, ditas normais, quanto para as pessoas com deficiência. Outro detalhe importante é que, além das pessoas com deficiência, as crianças devem ser incluídas entre os usuários que têm necessidades a serem consideradas. Muitas exigências funcionais adicionais são comuns às crianças, aos idosos e pessoas com deficiências funcionais reduzidas. Os princípios do desenho universal podem ser considerados como componentes de um processo projetual que irá trabalhar em prol da melhoria da qualidade da funcional para todos, desde o início do projeto até o seu resultado final. O grande desafio para os projetistas e designers é conseguir fazer a transposição da teoria para a prática, onde todas as necessidades destes grupos de usuários precisam ser identificadas, consideradas e incluídas desde a fase de planejamento e concepção do projeto. Um projeto arquitetônico baseado em Desenho Universal deve contemplar: - Usabilidade do ambiente construído por todas as pessoas, incluindo as Pessoas com Deficiência. - Promoção da segurança e bem-estar para todos. - Autonomia para todos os públicos ao fazer uso do ambiente. - Garantia de que ninguém seja excluído do uso do ambiente construído em função de barreiras físicas (Acessibilidade). Existem algumas diretrizes sobre a forma como este processo pode ser orientado e, a este respeito, foi criado um artigo intitulado Universal Design Planning and Design for All, pelo Norwegian State Council on Disability, uma agência estatal norueguesa responsável pelas políticas de acessibilidade na Noruega, no qual são descritos cinco pontos baseados no Desenho Universal que são relevantes para a arquitetura e para o processo projetual: 1) A construção deve assegurar uso equitativo e acessível para todos os usuários;
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O edifício/projeto deve contemplar todos os grupos de usuários, assegurando possibilidades igualitárias de se locomoverem facilmente, com segurança e autonomia e de utilizarem todos os espaços e ambientes previstos no edifício/projeto. Soluções especializadas para determinados grupos de usuários devem ser evitadas; as soluções normais devem ser utilizáveis por todos. O acesso principal, a entrada e o sistema de circulação interna do edifício devem ser projetados de forma a permitir que todos os grupos possam utilizar a mesma solução. 2) O design do edifício deve ser de fácil compreensão e ser utilizado por todas as pessoas; Soluções comuns que servem para todos os grupos tornam o uso mais simples. Complexidade e soluções especializadas devem ser evitadas. A entrada do acesso principal deve ser fácil de localizar e de ser percorrida até o interior do edifício, e ser utilizável por todos. Elevadores, escadas, banheiros, informações etc. devem ser facilmente localizáveis e alocados em uma posição lógica e intuitiva. O sentido do fluxo de movimento no interior do edifício/projeto deve ser natural e lógico. Alternativas e possibilidades devem ser claramente sinalizadas. A sinalização deve ser composta por símbolos simples, claros e conhecidos e também incluir sinalização tátil no piso e áudio guias. A utilização de texturas e cores diferenciadas nos diferentes ambientes é sempre benéfica e desejável. 3) O design do edifício deve exigir pouco esforço físico e ser utilizado de forma eficiente e com um mínimo de esforço; A entrada e a utilização do edifício/projeto devem ser concebidas de forma que possam ser utilizada por todos os grupos de usuários, o que implica em não escolhermos soluções que exijam mobilidade total, grande esforço e distâncias que sejam adequadas apenas para serem percorridas por pessoas a pé e com ritmo rápido. Exemplos disto incluem: uma circulação que favoreça suave percurso, rampas com declives suaves, entradas sem degraus, corrimãos ajustados tanto para pessoas em pé quanto sentadas (CDR), portas que tenham puxadores fáceis de abrir ou portas automáticas. Considerar sempre a possibilidade de adotar portas automáticas com velocidade reduzida, maçanetas com um puxador grande e simples, elevadores com portas automáticas e compartimentos de tamanho
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adequado, sinalização clara e posicionada a alturas adequadas a pessoas em pé e sentadas (CDR). 4) A edificação inteira deve ser projetada para ser usada por todas as pessoas, independentemente do tamanho do corpo, postura ou mobilidade dos usuários; Todas as partes do edifício/projeto devem ser dimensionadas de modo que possam ser utilizadas por todos os grupos. Isto inclui a entrada, os balcões de atendimento, as salas e áreas em diferentes partes e pisos do edifício, portas, corredores, elevadores, sanitários, barreiras, escritórios, cabines de telefone, etc. 5) Os materiais utilizados na edificação e na circulação de ar no seu interior não devem gerar desconforto aos usuários. Usar materiais que não agridam o meio ambiente e que podem ser usados por todos. Evitar o uso de materiais que possam causar reações alérgicas, ou seja, evitar materiais que produzam gases residuais. Evitar carpetes, materiais e elementos que acumulem poeira. Manter a edificação limpa durante toda a construção e limpar corretamente antes de ser liberada para uso. Devem ser elaborados manuais com orientações sobre possibilidades eficientes de limpeza dos ambientes da edificação. Um sistema de ventilação corretamente dimensionado e um qualificado e eficiente plano de monitoramento do funcionamento deste sistema resultam em condições saudáveis e bem estar ambiental. A adoção destes princípios ajuda as pessoas a utilizarem os ambientes em segurança, com dignidade, conforto, comodidade e confiança. Desta forma, as pessoas poderão se sentir confiantes para tomar decisões eficazes sobre a forma como irão utilizar um ambiente, de forma independente, sem experimentar esforço excessivo ou segregação. Elas terão condições de participar, de forma igualitária, das atividades que o espaço oferece. Todo bom projeto deve resultar num espaço inclusivo. Após a conclusão de um projeto, este deve ser avaliado se conseguiu resultar num ambiente inclusivo. Em outras palavras, verificar se os espaços atendem a diversidade de pessoas sem gerar algum tipo de segregação ou exclusão, de forma que os usuários possam usufruir desses espaços para uma convivência social mais saudável e inclusiva. Através da concepção e gestão do ambiente construído, a frustração e o sofrimento experimentado por muitos devido à exclusão causada por barreiras
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arquitetônicas podem ser eliminados, especialmente quando se trata de pessoas com deficiência, idosos e famílias com crianças pequenas. Todos nós somos beneficiados por um ambiente projetado em alinhamento com os princípios do Desenho Universal, que se traduz em ambientes inclusivos. Projetar para pessoas com deficiência físico-motora é uma tarefa que já se tornou mais próxima do cotidiano dos arquitetos, pela necessidade de atender aos requisitos legais, e também porque as soluções técnicas a serem adotadas dependem, de maneira simples e direta, da compreensão e aplicação dos parâmetros antropométricos descritos na NBR 9050/2015. Sobre esta questão, Dischinger e Bins Ely citam: Se já existe conhecimento teórico e prático bastante significativo em relação às soluções dos problemas de acessibilidade para pessoas com deficiências motoras, a presença de deficiências sensoriais requer ainda um maior aprofundamento nas soluções técnicas. No caso de ausência total ou parcial de visão, boas soluções exigem, além do conhecimento teórico, contato direto com os usuários com diferentes tipos de deficiência visual para compreender seus processos de percepção e orientação espacial. (DISCHINGER E BINS ELY, 2010)
5.2 - Orientabilidade no ambiente construído
A arquitetura como arte de construir tem como objetivo principal abrigar as atividades humanas, entretanto, na concepção do projeto devem ser consideradas questões que vão além da sua dimensão funcional. Estudos de projetos partindo dos fatores humanos, em sua grande maioria, têm foco nos aspectos visuais, sendo encontrados poucos trabalhos que abordam a multisensorialidade do ambiente construído, aplicadas à prática do processo de projeto. Para se deslocarem pelo espaço, as pessoas precisam conseguir se orientar, ou seja, perceber onde estão, identificar a estrutura física do espaço ao seu redor, saber onde desejam ir e como se deslocar para chegar até o seu destino. Todos nós
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buscamos referências, seja no primeiro dia de aula numa nova escola ou faculdade, num novo emprego, numa nova cidade, estamos sempre em busca de referências para conseguir planejar o nosso deslocamento. Assim é também com as pessoas que utilizam outros sentidos que não a visão. Desde pequenos aprendemos a ler o espaço em que nos encontramos, seja ele em escala macro ou micro, o que muda é qual ou quais sentidos utilizamos para realizar esta tarefa. É isto que ajuda na percepção que as pessoas têm do espaço ao seu redor, e a partir desta leitura e da relação que o indivíduo consegue ter com ele é que os espaços são classificados quanto à sua legibilidade, se são intuitivos ou complexos. A criação de mapas mentais bem definidos leva o indivíduo a se deslocar e explorar um local com maior facilidade, tendo como pontos de referência elementos que podem, ou não, ser fortemente legíveis. Legibilidade, segundo Kevin Lynch9, é um atributo característico ao observador que, segundo critérios perceptivos quanto à cor, forma ou disposição de elementos na cidade, pode evocar uma forte imagem do ambiente, tornando-o passível de ser adequadamente lembrado pelos usuários. Uma vez que o arquiteto interioriza e compreende as necessidades dos diversos tipos de usuários para realizarem as atividades propostas por um espaço, ele desenvolverá maior habilidade de imaginar, pesquisar e projetar o ambiente de forma a contribuir para melhorar a experiência dos usuários ao se deslocarem dentro deste ambiente. O arquiteto pode aprimorar sua forma de projetar a partir do conhecimento de elementos que contribuem para facilitar a leitura e percepção do espaço construído, embutindo informações e referências multissensoriais neste ambiente e, desta forma, influenciar as experiências e sensações que este ambiente pode proporcionar aos usuários. Estas informações e referenciais podem ser inseridos através da programação e aplicação de cores, texturas, luz, forma, temperatura, cheiros, entre outros elementos que possam ser percebidos, sentidos, e interpretados de maneiras distintas, dependendo, da cultura, experiências prévias, estado de espírito, entre outras condições, de quem vivencia o espaço.
9
Kevin Lynch (1918-1984): urbanista e escritor, graduado em planejamento urbano pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT)em 1947.
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Um conceito que contribui significativamente para conseguirmos trabalhar este objetivo relacionado à melhoria da percepção e legibilidade do espaço construído é o wayfinding, também conhecido como orientabilidade no percurso. O Wayfinding consiste num conjunto de pistas constituídas por elementos visuais, auditivos, táteis, olfativos e sinestésicos, que facilitam a compreensão e leitura dos ambientes construídos, facilitando às pessoas a tomada de decisões para se movimentarem dentro de um espaço de maneira orientada e segura.
As quatro etapas do Wayfinding
Orientação: refere-se à consciência de posicionamento do indivíduo frente a elementos que estão próximos a ele e ao destino. Esta etapa pode ser facilitada caso seja possível dividir o espaço em tamanhos menores e de fácil identificação.
Escolha de rota: refere-se à escolha de um caminho que leva o indivíduo até o destino desejado. Esta etapa pode ser facilitada caso não exista um grande número de caminhos alternativos, onde os caminhos curtos são preferíveis em relação aos caminhos longos.
Observação da rota: refere-se à observação e análise do caminho, ou seja, ao longo do percurso o indivíduo lê as pistas e consegue perceber se está ou não caminhando no sentido desejado. Caso o caminho seja claro (com princípio, meio e fim), a pessoa sempre saberá onde está.
Reconhecimento do destino: é o reconhecimento do destino quando chegamos a ele. Esta etapa pode ser facilitada se o indivíduo perceber que o local de destino é o ponto final de uma rota, e caso o local tenha alguma identificação de que é o ponto de destino.
Os Princípios do WAYFINDING
Segundo um estudo do Instituto MIT, para se ter um sistema de wayfinding eficaz é necessário seguir alguns princípios, detalhadas abaixo:
Criação de uma identidade em cada local, diferente de todos os outros: é necessário dar a cada espaço navegável uma identidade única onde o indivíduo
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possa associar os elementos mais próximos com o macroespaço. E quando se fala em identidade significa aquilo que faz um espaço diferenciável de outro.
Use pontos de referência para fornecer pistas de orientação e tornar os locais memorizáveis: esses pontos de referência podem ter dois propósitos distintos. O primeiro é que este ponto seja legível para que o indivíduo consiga perceber onde está. E o segundo é conseguir que esses pontos se tornem memorizáveis, facilitando o seu reconhecimento por todos os indivíduos.
Criação de caminhos bem estruturados: quando se fala em caminhos bem estruturados, quer-se dizer caminhos que sejam contínuos e possuam um começo, meio e fim, em cada sentido pelo qual seja visto. Além disso, devem mostrar um progresso ao indivíduo.
Criar regiões de diferentes características visuais: dentro do macroespaço, é preciso dividi-lo em regiões com uma identidade distinta das demais, onde cada uma terá um conjunto de atributos visuais característicos. As regiões não precisam ser delimitadas com elementos físicos divisórios, mas que seja consensual a percepção de que uma determinada área pertence a uma região, e não à outra.
Não fornecer ao usuário muitas opções na navegação: este princípio indica que o sistema de wayfinding deve ter um caminho principal para que os indivíduos possam seguir.
Utilize pontos de vista de pesquisa: por exemplo, um mapa é um valioso auxilio à navegação, por colocar todo o espaço dentro de ponto de vista do indivíduo. Com isso, ele pode saber o que está próximo a ele (vizinhança), quais os destinos disponíveis, quais rotas ele poderá utilizar, o tamanho do espaço, a distância até o destino.
Fornecer sinais em pontos de decisão para auxiliar a decisão: estes pontos de ã
ã
“
”
í
r
rá t
r
ã (
t
rá
na rota ou mudará de direção?). E este sinal deve conter informações adicionais para auxiliar o indivíduo na tomada da decisão. Para a orientação espacial das pessoas com deficiência visual, alguns referenciais têm maior relevância nos ambientes, geralmente elementos fixos e verticais. Segundo Bentzen & Marlow (2000), o meio-fio, por exemplo, é considerado uma referência confiável pelas pessoas com deficiência visual, pois permite que elas
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consigam distinguir o limite entre a calçada e a rua. Outro elemento vertical e fixo que também pode ser considerado um referencial válido é uma cerca viva. Na imagem abaixo, alguns referencias:
Figura 26: Circulação coberta em blocos da ACIC - Florianópolis - SC
Abaixo, exemplos de informação que facilita a localização do destino dos diversos usuários, apresenta uma borda táctil que é facilmente perceptível pelos usuários deficientes visuais.
Figura 27: Placas (Fonte: wandco.com/2007/04/children-friendly-acessible-hospital-)
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Indicadores direcionais que contrastam com a superfície do piso da calçada para um diretório prédio, e em seguida, um para a entrada com as portas automáticas. A localização e padrão dos indicadores direcionais são uniformemente aplicadas para fornecer informações de orientação. As portas são de uma cor que contrasta com os seus arredores, e as portas de vidro de cor contrastantes têm bordas ao redor. Para evitar que as pessoas, pessoas com deficiência visual particularmente, de caminhar para os painéis de vidro, as portas de vidro e painéis laterais têm gravado adesivos / marcadores ao nível dos olhos para fornecer um ponto de referência indicando a presença de um painel de vidro.
Figura 28: Seattle Children Hospital (Fonte: www.studio-sc.com/seattle-childrens-hospital.php)
Figura 29: CHRISTUS Spohn - Hospital Corpus Christi (Fonte: www.sinalizar.files.wordpress.com)
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5.3 - O projeto e os critérios da norma NBR 9050/2015
A Norma Brasileira de Acessibilidade a edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos - NBR 9050/2015,- é o documento que estabelece os critérios e parâmetros técnicos que deverão ser observados no projeto de edificações para que possam resultar num objeto final que atenda às condições de acessibilidade de modo a proporcionar a utilização de maneira autônoma, independente e segura do ambiente, edificações, mobiliário e demais elementos à maior quantidade possível de pessoas, independentemente de idade, estatura ou limitação de mobilidade ou percepção. Esta Norma define os termos acessibilidade, em seu item 3.1.1 e acessível no item 3.1.2, ambos na página 2, da seguinte forma: Acessibilidade: Possibilidade e condição de alcance, percepção e entendimento para utilização, com segurança e autonomia, de espaços, mobiliários, equipamentos urbanos, edificações, transportes, informação e comunicação, inclusive seus sistemas e tecnologias, bem como outros serviços e instalações abertos ao público, de uso público ou privado de uso coletivo, tanto na zona urbana como na rural, por pessoa com deficiência ou mobilidade reduzida. Acessível: Espaços,
mobiliários,
equipamentos
urbanos,
edificações,
transportes, informação e comunicação, inclusive seus sistemas e tecnologias ou elemento que possa ser alcançado, acionado, utilizado e vivenciado por qualquer pessoa. (ABNT NBR 9050/2015)
Para que fossem estabelecidos estes critérios e parâmetros técnicos, foram consideradas diversas condições de mobilidade e de percepção do ambiente, com ou sem a ajuda de aparelhos específicos, como próteses, aparelhos de apoio, cadeiras de rodas, bengalas de rastreamento, tecnologias assistivas de audição, órteses, próteses ou qualquer outro tipo de equipamentos necessário ao atendimento das necessidades individuais específicas.
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Nela encontram-se, também, os parâmetros antropométricos que deverão ser utilizados como referencial para a concepção e dimensionamento dos diversos espaços a serem projetados.
Figura 30: Módulo de referência para projetos (Fonte: Guia de Acessibilidade: Espaço Público e Edificações - Governo do Ceará)
O Módulo de Referência considera uma pessoa utilizando a cadeira de rodas; isto pressupõe que, para a utilização da cadeira, exigi-se espaço maior que as medidas da mesma. Assim, em um projeto de arquitetura, deve-se considerar como MR a projeção no piso da área de 0,80 x 1,20 m ocupada por uma pessoa em cadeira de rodas.
Figura 31: Módulo de referência pessoa em cadeira de rodas (Fonte: Guia de Acessibilidade: Espaço Público e Edificações - Governo do Ceará)
Para que uma edificação possa ser concebida dentro dos parâmetros da acessibilidade, um conceito extremamente importante que deve ser trabalhado é o de Rota Acessível, cuja definição encontra-se no item 3.2.1, na página 5: Trajeto contínuo, desobstruído e sinalizado, que conecte os ambientes externos ou internos de espaços e edificações, e que possa ser utilizado de forma autônoma e segura por todas as pessoas, inclusive aquelas com deficiência e mobilidade reduzida. A
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rota
acessível
pode
incorporar
estacionamentos,
calçadas
rebaixadas, faixas de travessia de pedestres, pisos, corredores, escadas e rampas, entre outros. (ABNT NBR 9050/2015)
De forma resumida:
Trajeto contínuo que conecta ambientes (origem e destino);
Desobstruído, livre de obstáculos e sinalizado;
Percurso de forma autônoma e segura por todas as pessoas;
Atender as métricas de acessibilidade da NBR 9050/2015;
O caminho mais curto entre dois pontos.
Rota acessível externa: estacionamentos, calçadas, faixas de travessias de pedestres (elevadas ou não), rampas, escadas, passarelas e outros;
Rota acessível interna: corredores, pisos, rampas, escadas, elevadores
Alguns aspectos importantes que merecem ser destacados e exemplificados são:
Cuidar para que não existam saliências que possam ser perigosas para pessoas com deficiência visual ao longo do percurso da Rota Acessível Interna da edificação.
Avaliar e de preferência evitar a utilização de pavimentos articulados ou blocos de concreto aerados em Rota Acessível Externa, pois podem causar risco de tropeço. A "Rota Acessível" tem sido considerada como fator preponderante para a
classificação de espaços inclusivos.
Figura 32: Rota acessível (Fonte: www.eduardoronchetti.com.br/acessibilidade)
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Na fase preliminar da concepção de um projeto com base no Desenho Universal, devemos ter especial atenção às seguintes áreas:
Área de embarque/desembarque (ponto de drop-off)
Acessos externos, calçada, circulação
Entrada – acesso (nível, piso tátil)
Recepção / sinalização / informação
Circulação horizontal: corredores, rotas
Circulação vertical: elevador e escada, rampas
Portas internas (larguras das folhas iguais ou diferentes, maçanetas)
Função desejada
Banheiros
Rotas acessíveis
Saída
Figura 33: Padrão de Acessibilidade nos diversos espaços (Fonte: CPA - Comissão Permanente de Acessibilidade)
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5.4 - Terreno
Com o objetivo de identificar áreas, preferencialmente vazios urbanos, para a implantação do meu projeto, realizei derivas no bairro da Aclimação, na região delimitada pelas estações Ana Rosa e Paraíso do metrô (linhas 1-Azul e 2-Verde). Defini previamente uma macro área de estudo levando em consideração alguns critérios como, por exemplo, proximidade à estações de metrô e pontos de ônibus cuja região tivesse boas condições de acessibilidade, de modo a facilitar a circulação das pessoas até o edifício a ser proposto e cujo local fosse o mais equidistante possível das várias regiões da cidade. Partindo deste princípio, delimitei um perímetro a percorrer com as estações Ana Rosa e Paraíso do metrô como pontos limítrofes pois são estações que fazem conexão com linhas que acessam várias regiões diferentes da cidade.
Figura 34: Macro área de estudo (Fonte: Google Maps)
5.4.1 - Levantamento Físico
Fiz um planejamento prévio à visita onde preparei duas bases a partir de um arquivo base extraído do site do Geosampa que utilizei em campo para mapeamento da região quanto ao uso e ocupação do solo e fluxos urbanos. Os dados levantados durante a visita estão nos mapas abaixo:
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Figura 35: Levantamento - Mapa de Fluxos (Fonte: acervo da autora)
A principal via dessa macro área escolhida é a Rua Vergueiro, com intenso fluxo de veículos e pessoas, principalmente devido ao acesso ao metrô. A partir da estação Paraíso, a Vergueiro segue paralelamente à Avenida 23 de Maio (corredor norte-sul da cidade), mas também permite acesso à Avenida Bernardino de Campos. Foram identificadas 3 áreas de vazios urbanos dentro das características desejadas para abrigar o meu projeto. Dos 3 terrenos, escolhi o terreno localizado entre as Rua Dr. Nicolau de Sousa Queirós e Rua Artur Sabiá/ Av. Armando Ferrentini. O terreno escolhido possui 1989,0468 m² e 10m de desnível. Está localizado em uma região predominantemente residencial.
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Figura 36: Levantamento - Mapa de Uso do Solo (Fonte: acervo da autora)
O terreno escolhido está localizado próximo a um ponto de ônibus e mais próximo da estação Ana Rosa do metrô. Em frente ao terreno, existe um ponto de táxi. O ponto de ônibus está situado na Rua Dr Nicolau de Sousa Queirós, onde circulam duas linhas:
805L-10 - Aclimação (circular)
857R-10 - Terminal Campo Limpo
Figura 30: Ponto de Táxi em frente ao terreno escolhido (Fonte: Google Maps)
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Figura 37: Terreno - vista da rua Dr. Nicolau de Sousa Queirós (Fonte: acervo da autora)
Figura 38: Terreno - vista da rua Dr. Nicolau de Sousa Queirós (Fonte: acervo da autora)
5.4.2 - Zoneamento
O terreno escolhido está localizado no distrito de Vila Mariana, numa área classificada como ZM-3a09 - Chácara do Castelo (zona mista de alta densidade) conforme o mapa de uso e ocupação da região (subprefeitura de Vila Mariana) e conforme especificação do Quadro 04A do livro XII - anexo da Lei nº 13.885, de 25 de agosto de 2004, que estabelece normas complementares ao Plano Diretor Estratégico, institui os Planos Regionais Estratégicos das Subprefeituras, dispõe sobre o Parcelamento, disciplina e ordena o Uso e Ocupação do Solo do Município de São Paulo.
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O terreno selecionado está enquadrado no item III do artigo cento e oito da referida lei, conforme texto abaixo: Art. 108. Para fins de uso e ocupação do solo, a Macrozona de Estruturação e Qualificação Urbana, fica subdividida nas seguintes zonas de uso: (...) III. zonas mistas ZM: porções do território da Macrozona de Estruturação e Qualificação Urbana, destinadas à implantação de usos residenciais e não residenciais, inclusive no mesmo lote ou edificação, segundo critérios gerais de compatibilidade de incômodo e qualidade ambiental, que têm como referência o uso residencial, classificadas como: (...) c) ZM 3a: zona mista de densidades demográfica e construtiva altas, com coeficiente de aproveitamento mínimo igual a 0,20, básico igual a 1,0 e máximo variando de 1,0 até o limite de 2,5. (LEI Nº 13.885/2004)
Segundo o artigo cento e quarenta e nove desta mesma lei: Art. 149. Nas zonas mistas, será permitida a instalação de usos não residenciais toleráveis - nR2 nas vias locais, desde que sejam atendidas as seguintes disposições: I - não houver, num raio de 500,00m (quinhentos metros), traçado a partir do ponto médio da extensão do alinhamento do imóvel, outra zona ou outra via da categoria em que o uso pretendido seja permitido; II - sejam observados os parâmetros de incomodidade e as condições de instalação estabelecidos no Quadro n.º 02/e para as categorias de via coletoras; Parágrafo único. Na situação prevista no "caput" deste artigo não se aplicam as disposições do Quadro n.º 04 anexo.
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Tabela 4: Quadro nº 04 anexo da Lei nº 13.885/2004
MACROZONA DE ESTRUTURAÇÃO E QUALIFICAÇÃO URBANA COEFICIENTE DE
CARACTERÍSTICAS DE DIMENSIONAMENTO
APROVEITAMENTO
E OCUPAÇÃO DOS LOTES
CARACTERÍSTICAS ZONA DE DA ZONA DE USO
USO
TAXA DE
TAXA DE MÍNIMO BÁSICO MÁXIMO OCUPAÇÃO
PERMEABILI
MÁXIMA
DADE MÍNIMA
FUNDOS E LATERAIS GABARITO
LOTE FRENTE MÍNIMO MÍNIMA (M²)
(m)
0,20
1,00
2,00
0,5*
0,15
DE ALTURA
ALTURA DA ALTURA DA FRENTE EDIFICAÇÃO EDIFICAÇÃO MENOR OU SUPERIOR A
MÁXIMO
IGUAL A 6 m
(m)
ZM-3a09
ZM - alta densidade Chácara do
RECUOS MINIMOS (m)
125 m²
5m
Castelo
Sem limite
5m
Não exigido
6m
3m
(Fonte: Tabela extraída e editada a partir da lei nº13.885/2004)
*Verificado artigo 192 da Parte III da Lei nº 13.885/2004, referente à taxa de ocupação na ZM para edificações de até 12 metros de altura: Art. 192: Nas zonas mistas - ZM, a taxa de ocupação poderá chegar a 0,70 quando o gabarito de altura da edificação não exceder 12,00 m (doze metros).
5.5 - Cálculos para a área de projeto
A Taxa de Ocupação é a relação percentual entre a projeção da edificação e a área do terreno. Ou seja, ela representa a porcentagem do terreno sobre o qual há edificação. No caso, a taxa de ocupação da região ZM-3a09, região onde está localizado o terreno escolhido, é de: TO = 0,5 (50% - de acordo com a tabela do Quadro n.º 04) TO = 0,7 (70% - limite máximo para edificações com gabarito até 12m) O Coeficiente de Aproveitamento é um número que, multiplicado pela área do lote, indica a quantidade máxima de metros quadrados que podem ser construídos em um lote, somando-se as áreas de todos os pavimentos. CA = ?
x
1989,0468
397,80936 ≤ m² a ser construído ≤ 3.978,0936
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Resumo dos dados a serem considerados no projeto: Parâmetros ref. a classificação do terreno escolhido: Zona de uso
ZM-3a09
Características
ZM de alta densidade
Tipo de instalação permitida
Usos residenciais e não residenciais toleráveis
Coeficiente de aproveitamento
0,20 < CA < 2,00
Taxa de ocupação máxima
50 %
Taxa de permeabilidade mínima
15 %
Gabarito de altura máximo
Sem limite
Recuos mínimos
Frontal 5m e lateral 3m
Tabela 5: Parâmetros referentes à classificação do terreno escolhido
Figura 39: Mapa de dados do terreno (Fonte: acervo da autora)
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A partir do levantamento realizado, podemos concluir que se trata de um terreno bastante interessante do ponto de vista de sua localização e acessos, tendo em vista que pode ser acessado por duas ruas, é bem servido por transportes públicos, pois há proximidade com as linhas azul e verde do metrô e é servido por duas linhas de ônibus. Do ponto de vista físico, é um terreno que se caracteriza por uma complexidade em função do desnível da encosta que apresenta declividade em duas de suas faces, o que irá demandar um equacionamento bastante cuidadoso, envolvendo execução de cortes e/ou aterros, dependendo da solução a ser adotada.
5.6 - Programa de Necessidades
Figura 40: Setorização do programa (Fonte: acervo da autora)
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Tabela 6: Quadro de áreas do programa de necessidades PROGRAMA SETOR
SETOR 1 LOBBY/EXPO
SETOR 2 ADM/TÉCNICO
PAVIMENTO
AMBIENTES
ESPECIFICAÇÃO
QUANT. ÁREA
Atendimento/Balcão
1
16
Saguão exposição
1
225
Loja
1
25
Secretaria
1
37
Sala de Reunião
1
32
Arquivo
1
32
PISO TÉRREO
Área Expositiva
(+787)
PISO TÉRREO
ADMINISTRAÇÃO
(+787)
Diretoria
2
25
Sala Administração
1
50
Copa
1
18
CIRCULAÇÃO
-
105,58
4
40
Salas para Salas Multiuso
atividades/ oficinas
RECURSOS
ÁREA
ACESSIBILIDADE
TOTAL
Piso Tátil (alerta/direcional) Sinalização
266 m²
(visual/tátil) Balcão rebaixado
Piso Tátil (alerta/direcional) Sinalização (visual/tátil) Equipamentos
299,58 m²
rebaixados
Piso Tátil
artísticas
(alerta/direcional) Sinalização (visual/tátil) Equipamentos
SETOR 3 EDUCATIVO
PISO (+784)
Espaço
Espaço de reuniões
1
41,5
Educadores
DML (depósito limpeza) CIRCULAÇÃO Auditório 105 lugares SETOR AUDITÓRIO
PISO (+778)
Auditório
Espaço para cadeira
240,40 m²
de rodas Copa
Serviços
rebaixados
Sala de controle luz/som
1
18
1
30
-
110,9
1
189
1
11
Sinalização (visual/tátil) Acentos
200 m²
especiais/reservados Projeção/cinema
Cozinha
1
18
SETOR 5 LAZER/
Sinalização (visual/tátil) Circulação x
PISO (+778)
Lanchonete
CONVIVÊNCIA
disposição das Área Clientes
1
117
135 m²
mesas Balcão rebaixado
SETOR 4 BIBLIOTECA
Espaço de Leitura PISO (+790)
1
120
Biblioteca Acervo
1
117
Equipamentos rebaixados
283,25
Sinalização
m²
(visual/tátil)
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TODOS OS
TODOS OS
SETORES
PISOS
BANHEIROS
Pesquisa
1
18
CIRCULAÇÃO
-
28,25
Banheiro Feminino
1/piso
15
Banheiro Masculino
1/piso
15
Banheiro Acessível
2/piso
3,65
Piso Tátil (alerta/direcional)
Boxe e lavatório (NBR 9050) Piso Tátil (alerta/direcional)
149,20 m²
Sinalização (visual/tátil)
5.7 - Primeiros Esboços
Para este terreno, o maior desafio de projeto está relacionado à questão de circulação, para vencer os 9m de desnível. Inicialmente, ao fazer a leitura topográfica, percebi que para vencer o desnível eu precisaria implantar um equipamento que, independente de ser rampa ou escada, ocuparia uma porção significativa da área central do terreno e considerei como uma situação que limitaria o desenvolvimento do meu projeto. Considerando que o terreno possui acesso por duas ruas, em diferentes níveis topográficos, a possibilidade de criar um fluxo de circulação de pessoas na parte central do terreno me pareceu mais interessante. Com a circulação central, comecei a delinear possíveis volumetrias do edifício, o que resultou no estudo de volumetria I e no estudo de volumetria II.
5.7.1 - Estudo de volumetria I
Circulação: elevador funicular para acesso interno e externo, escada para acesso externo apenas que pode funcionar como uma espécie de arquibancada para as atividades que acontecerem no piso mais baixo, e elevador vertical para acesso interno apenas.
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Figura 41: Estudo de volumetria I em planta (Fonte: acervo da autora)
Figura 42: Estudo de volumetria I em vista (Fonte: acervo da autora)
5.7.2 - Estudo de volumetria II
Circulação: rampa para acesso interno e externo e elevadores de acesso interno.
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Figura 43: Estudo de volumetria II em planta (Fonte: acervo da autora)
Figura 44: Estudo de volumetria II em vista (Fonte: acervo da autora)
Desde a leitura topográfica do terreno, percebi que a parte "baixa" (+778,0) do meu terreno, próxima à Rua Artur Sabiá, é uma área privilegiada em vários sentidos; é uma área que está sempre iluminada e está praticamente nivelada. A partir disso, estabeleci, como uma das metas de projeto, manter aquela área aberta onde pudesse ser utilizada como a principal área de convivência.
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5.8 - Partido do projeto
Ao iniciar um projeto o arquiteto se depara sempre com um terreno, se depara com um público-alvo que tem as suas necessidades específicas, se depara com um código de obras e principalmente, se depara com a elaboração de suas ideias, e aí existe o receio de as ideias fluírem rumo a uma contradição entre as necessidades e as possibilidades técnicas e com essa contradição não chegar a um ritmo, a uma expressão e a uma clareza, resultando numa proposta que não qualifique o seu projeto. É aí que o arquiteto precisa trabalhar com a maior ferramenta do seu ofício que se chama: PARTIDO ARQUITETÔNICO. É com esta ferramenta que ele irá trabalhar em busca de caminhos para conseguir êxito no seu projeto. Segundo Lucio Costa10: “...enquanto satisfaz apenas às exigências técnicas e funcionais não é ainda arquitetura; mas quando - popular ou erudita - aquele que a ideou para e hesita ante a simples escolha de um espaçamento de pilar ou de relação entre altura e largura de um vão e se detém na procura obstinada da justa medida entre cheios e vazios, na fixação dos volumes e subordinação deles a uma lei e se demora atento ao jogo de materiais ao seu valor expressivo - quando tudo isso vai a pouco somando, obedecendo aos mais severos preceitos técnicos e funcionais, mas também àquela intenção superior que seleciona, coordena e orienta em determinados sentido toda essa massa confusa e contraditória de detalhes, transmitindo assim ao conjunto ritmo, expressão, unidade e clareza - o que confere à obra o seu caráter de permanência. Isto sim é arquitetura". (COSTA, Lucio)
Para o desenvolvimento deste projeto, especifiquei os seguintes parâmetros do partido arquitetônico:
TERRENO – acesso fluido por duas ruas; desnível bilateral de seis e nove metros; área de encontro no centro do terreno;
10
Lucio Costa (1902-1998): arquiteto e urbanista brasileiro, autor do projeto do Plano Piloto da cidade de Brasília
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FINALIDADE – espaço de convivência para pessoas com e sem deficiência; equipamento cultural;
IMPLANTAÇÃO – iluminação natural; desnível;
PROGRAMA – setores: exposição; administração; biblioteca; educativo; auditório; lanchonete; lazer e convivência;
CONCEITOS – Desenho Universal; arquitetura dos sentidos;
LEGISLAÇÃO – NBR 9050/2015; Lei Nacional de Acessibilidade
ELEMENTOS CONSTRUTIVOS – estrutura metálica; fechamento em vidro; laje nervurada;
FORMA e VOLUME – leveza; transparência; acolhimento; fluxo central; cheios e vazios;
FLEXIBILIDADE – salas reversíveis; utilização do espaço de convivência para eventos e apresentações;
VIABILIDADE – sustentabilidade: sistema de captação de águas pluviais e telhado verde.
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5.9 - PROPOSTA
O primeiro ponto do projeto a ser desenvolvido seria o tratamento das curvas de nível. Como o terreno possui declividade em duas de suas faces (uma delas com 6m e a outra com 9m), seria necessário definir uma contenção para que pudesse ter um melhor aproveitamento da área de projeto. Para isso, escolhi a contenção em solo grampeado, pois permite o mínimo de interferência das contenções da edificação.
Figura 45: Representação de contenção com solo grampeado (Fonte: www.solotrat.com.br)
O solo grampeado é feito com estacas de aço cravadas no solo. Inicialmente é feito um furo com sondas perfuratrizes no perfil do terreno para a inserção de grampos de aço. Após os grampos serem posicionados no talude, recebem a injeção de uma nata de cimento, ficando totalmente recobertos. Feito isso, é colocada uma malha de tela soldada sobre o talude e feito o jateamento de concreto, que cobrirá toda essa malha. Ao final, é feito o revestimento, geralmente utilizando elementos de concreto pré-fabricados. Neste projeto, a opção escolhida foi pelo bloco pré-fabricado tipo TERRAE. Definida a contenção, parti para a definição da malha estrutural e da organização do programa de necessidades. Uma intenção de projeto foi manter uma relação de contraste com o entorno, levando em consideração que a região do terreno é uma região predominantemente residencial e com prédios altos.
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Como a frente do terreno está localizada na Rua Dr. Nicolau de Sousa Queirós, que é mais movimentada, defini o piso da cota 787 como o piso térreo do meu edifício, com o setor administrativo e expositivo no andar.
Figura 46: Térreo (Fonte: acervo da autora)
Abaixo do piso térreo, estão os pisos Educativo e Auditório, onde ocorrem as principais atividades do Centro de Arte e Cultura.
Figura 47: Piso Educativo (Fonte: acervo da autora)
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No piso Auditório, acessado pela Rua Artur Sabiá, foi prevista uma área de convivência para a realização de atividades e eventos, além de um jardim sensorial.
Figura 48: Piso Auditório (Fonte: acervo da autora)
A circulação é feita por dois elevadores panorâmicos e uma escada metálica com guarda-corpo de vidro, localizados na região central do terreno. O piso tátil (em azul) sinaliza a rota acessível do projeto.
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Figura 49: Implantação/Planta de cobertura (Fonte: acervo da autora)
O telhado verde é uma alternativa bastante interessante tanto do ponto de vista estético quanto do ponto de vista de conforto ambiental, mas pode ser também uma composição com função de sustentabilidade, quando combinado a um mecanismo de captação de água de chuva que contribui para reduzir a sobrecarga do sistema de drenagem pluvial urbana, além de possibilitar o armazenamento de água passível de aproveitamento para usos diversos. O sistema escolhido foi o EPAMS® Drenagem Pluvial por sistema antivórtice.
Estrutura A estrutura para este projeto é composta por pilares em perfil metálico I de 30cm, vigas metálicas também em perfil I e lajes alveolares. No Piso Auditório, os pilares foram revestidos de concreto e colocada uma laje nervurada (laje cubeta). A malha estrutural possui vãos de 10m, 8,30m e 8m.
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Figura 50: Corte 1 (Fonte: acervo da autora)
Figura 51: Cortes 2 e 3 (Fonte: acervo da autora)
A opção por utilizar estrutura metálica foi muito influenciada pelo fato do aço ter alta resistência e oferecer possibilidade de utilização de elementos mais esbeltos. São estruturas de fácil instalação e permitem uma melhor qualidade de construção e menor manutenção, oferecendo segurança e resistência.
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Figura 52: Corte 4 (Fonte: acervo da autora)
Além da estrutura metálica, utilizei fechamento em vidro nas fachadas e nos espaços. O vidro é considerado um elemento moderno e versátil por suas características de durabilidade e transparência que ajudam a integrar espaços, além de ser um elemento estético.
Figura 53: Fachada - rua Dr. Nicolau de Sousa Queirós (Fonte: acervo da autora)
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Figura 54: EdifĂcio em perspectiva (Fonte: acervo da autora)
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6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Minha opção de desenvolver um trabalho teórico-prático, ao invés de apenas um trabalho teórico, deveu-se ao fato de acreditar que debater questões de Desenho Universal sem passar pela experiência de conceber um projeto arquitetônico embasado nos seus princípios, vivenciando todos os desafios de fazer a transposição da teoria para a prática, se constituiria num discurso superficial. Procurei, através deste trabalho, estudar a fundo todas as variáveis na tentativa de dar corpo a um objeto que pudesse ser uma referência, no intuito de colaborar através desta primeira tentativa com uma discussão que precisa ser levada a diante para que possa, a cada nova experiência, ser compartilhada, questionada, debatida e aprimorada. Tenho certeza de que muito maior do que o resultado do meu objeto final, foi a trajetória que consegui construir neste período de desenvolvimento deste trabalho. Vivenciei momentos de desespero e outros de extrema euforia. Sigo na esperança de que este tema apareça cada vez mais nas discussões das salas de aula e, principalmente, se transforme em um tema de real interesse para os arquitetos.
Figura 55: O Homem Diverso (Fonte: http://www.cvi-rio.org.br)
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7. REFERÊNCIAS
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ALMEIDA PRADO, Adriana R. de; LOPES, Maria Elisabete; ORNSTEIN, Sheila Walbe. Desenho Universal - caminhos da acessibilidade no Brasil. Editora Annablume, 2010.
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado, 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm> - Acessado pela última vez em: 20 maio 2016.
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BRASIL. Decreto nº 3.298, de 20 de Dezembro de 1999. Regulamenta a Lei n 7.853, de 24 de outubro de 1989, dispõe sobre a Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência, consolida as normas de proteção, e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/d3298.htm> - Acessado pela última vez em: 20 de maio de 2016.
BRASIL. Lei Federal nº 10.048, de 8 de Novembro de 2000. Dá prioridade de atendimento às pessoas que especifica, e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L10048.htm> - Acessado pela última vez em: 20 de maio de 2016.
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BRASIL. Lei Federal nº 10.098, de 19 de Dezembro de 2000. Estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção de acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida, e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L10098.htm> - Acessado pela última vez em: 20 de maio de 2016.
BRASIL. Decreto Federal nº 5.296, de 2 de Dezembro de 2004. Regulamenta as Leis nº 10.048, de 8 de novembro de 2000, que dá prioridade de atendimento às pessoas que especifica, e 10.098, de 19 de dezembro de 2000, que estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida, e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2004/decreto/d5296.htm>
-
Acessado pela última vez em: 20 de maio de 2016.
BRASIL. Lei nº 11.126, de 27 de junho de 2005. Dispõe sobre o direito do portador de deficiência visual de ingressar e permanecer em ambientes de uso coletivo acompanhado de cão-guia. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/Lei/L11126.htm>
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Acessado pela última vez em: 20 de maio de 2016.
BRASIL. Decreto Federal nº 6.949, de 25 de agosto de 2009. Promulga a Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo, assinados em Nova York, em 30 de março de 2007. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/decreto/d6949.htm>
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