Os espaços esquecidos de São Bernardo do Campo: dos vazios às dinâmicas urbanas

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Carolina Rosa Battistini

Os espaços esquecidos de São Bernardo do Campo: dos vazios às dinâmicas urbanas


Elaborada pelo sistema de geração automática de ficha catalográfica do Centro Universitário Senac São Paulo com dados fornecidos pelo autor(a). Battistini, Carolina Rosa Os espaços esquecidos de São Bernardo do Campo: dos vazios às dinâmicas urbanas / Carolina Rosa Battistini - São Paulo (SP), 2016. 124 f.: il. color. Orientador(a): Ricardo Luis Silva Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Arquitetura e Urbanismo) - Centro Universitário Senac, São Paulo, 2016. 1. espaço público; 2. vazios; 3. dinâmicas; 4. São Bernardo do Campo I. Silva, Ricardo Luis (Orient.) II. Título


CAROLINA ROSA BATTISTINI

Os espaços esquecidos de São Bernardo do Campo: dos vazios às dinâmicas urbanas

Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Centro Universitário Senac – Campus Santo Amaro, como exigência parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Arquitetura e Urbanismo. Orientador: Profº Me. Ricardo Luis Silva.

São Paulo 2016



Aos professores do Senac que acompanharam minha trajetória, especialmente meu orientador Ricardo Luis, e todas as pessoas que conheci durante o curso, com as quais aprendi muito e compartilhei experiências e vivências importantes para meu crescimento pessoal e profissional. Aos meus pais, minha família e amigos que estiveram comigo, me apoiando e incentivando em todos os momentos, e à Gabriela Sartori e Stela Sartori pela oportunidade de estágio. Muito obrigada.



As cidades do mundo “A cidade Um caminho Um rio São lugares do exercício de se deslocar O rio Uma cidade O caminho É um exercício de se deslocar O caminho Um rio dentro da cidade É um exercício de se deslocar A cidade Um rio, um caminho Só assim a poesia das cidades do mundo O homem e a cidade desaparecem Ele olha e vê outra cidade Esta agora é feita de vidro.” (Jerome Rothenberg)



Resumo Os espaços esquecidos são vazios na cidade. As pessoas passam por eles, mas não permanecem. A partir do momento que estes vazios são ocupados pelas pessoas, elas trazem um novo significado para eles e a percepção se transforma. O espaço muda e ele se torna seguro e agradável. Durante o desenvolvimento do trabalho o meu foco foi analisar os espaços de São Bernardo do Campo, através das minhas percepções ao caminhar e vivenciar a cidade de dentro para fora, para que dessa forma escolhesse um espaço para intervenção. Palavras-chave: espaço público; vazios; dinâmicas; São Bernardo do Campo.

Abstract The forgotten spaces are void in the city. People go through them, but do not stay. From the moment that these voids are occupied by people they bring a new meaning to them, the perception of space changes and it becomes safe and enjoyable. During the development of the work my focus was to analyze the spaces of São Bernardo do Campo, through my perceptions from walking and experiencing the city from the inside out, so that way choose a space for intervention. Keywords: public space; voids; dynamics; São Bernardo do Campo.



Sumário

Introdução 13 1. Os espaços esquecidos 15 2. O valor do vazio 18 3. Caminhar para conhecer e transformar 21 4. Arte como elemento de visibilidade no espaço 25 5. São Bernardo do Campo 30

- Localização 32 - Perambulações 34 - Os espaços de lazer 38 - Os espaços de deslocamentos 48 - Os espaços residenciais 58 - Os espaços de comércio 66 - A cidade do imaginário 76

6. Estudos de caso 81 - Centro Aberto 81

- Mill St Skatepark 82 - Banyoles 83

7. O projeto 84 - A escolha do terreno 86

- Praça do viaduto 102 - Praça da banca de jornal 108 - Praça da rodoviária 114

8. Considerações finais 121 Referências bibliográficas 122 Lista de figuras 124



Introdução Para realizar um trabalho que fale sobre a cidade é preciso estar nela, vivenciar os espaços e compreender as interações que ocorrem neles. O ato de caminhar pela cidade faz com que criemos nossas percepções do espaço urbano, e ao caminhar despreocupadamente, em um ritmo mais lento, conseguimos prestar atenção para os detalhes que compõem a cidade. Descobrimos os caminhos possíveis, as dificuldades encontradas pelos pedestres e observamos os espaços: como eles são apropriados, as dinâmicas e os usos que recebem. Nestas perambulações despreocupadas pela cidade nosso olhar se torna mais atento à medida que mudamos a forma de observar apressada do dia-a-dia, e a partir do entendimento do campo de estudo é possível mapear os espaços de interesse, descobrir o que precisam e escolher o melhor local para fazer uma intervenção. Neste trabalho relato as experiências vividas ao caminhar pelo município de São Bernardo do Campo. A escolha da cidade poderia ser qualquer outra, visto que encontramos espaços esquecidos em quase todas, porém como morei em São Bernardo do Campo durante 20 anos achei pertinente tratar sobre as questões dos espaços públicos dessa cidade que me inquietavam, principalmente após começar o curso de Arquitetura e Urbanismo e conseguir estabelecer uma relação mais próxima das questões urbanas, percebendo que a relação distante da maioria dos moradores com o espaço urbano é mais evidente. As poucas opções de transportes públicos e o sistema viário que prioriza o transporte particular criam uma cidade que afasta as pessoas do espaço da rua. A cidade torna-se uma paisagem vista de fora e em uma velocidade mais rápida. As opções de lazer mais comuns nessa cidade de carros são os shoppings centers e outros espaços fechados, onde as pessoas evitam o ambiente externo. Os espaços públicos de São Bernardo do Campo não me atraíam para caminhar, porém ao começar minhas visitas descobri que a cidade pode oferecer dinâmicas para receber usos no espaço livre conectados com a vida coletiva.

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Os espaços vazios nos proporcionam diversas possibilidades de apropriação e deixam a cidade mais rica com suas ocupações espontâneas. Os usos cotidianos da rua e a organização de grupos para fazer pequenas intervenções que mudam a percepção do espaço através da criação de mobiliários urbanos confortáveis e a manutenção dos espaços pelos usuários, além de intervenções artísticas como dança, teatro, música e outros diversos tipos de artes visuais, configuram uma nova identidade urbana. A partir do momento em que as pessoas cuidam de um espaço ele se torna um lugar mais agradável e convidativo para a permanência. A primeira parte deste trabalho apresenta uma contextualização sobre os conceitos de espaço e lugar (capítulo 1), o valor do espaço vazio capaz de receber significados (capítulo 2), a importância do corpo que explora a cidade e a vive de maneira próxima (capítulo 3) e a arte que é capaz de explicitar características destes espaços e levar visibilidade a eles (capítulo 4). Na segunda parte apresento a cidade de São Bernardo do Campo através do olhar que desenvolvi por meio da pesquisa teórica e das perambulações. Após esta imersão chegamos na terceira e última parte, onde apresento uma proposta de intervenção, que visa levar mais dinâmica para os espaços vazios.

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1. Os espaços esquecidos Para classificar os espaços esquecidos é preciso compreender os conceitos de espaço, lugar e não-lugar. Em um primeiro momento podemos procurar as definições destas palavras. Deste modo, espaço significa “a distância entre dois pontos, ou a área entre limites determinados”; lugar, por sua vez, é definido como “espaço ocupado”. Podemos entender, portanto que o lugar está inserido no espaço e, para que este se torne ocupado e se transforme em lugar é necessária uma intervenção humana. Para Tuan (1983) os conceitos de espaço e lugar estão relacionados, portanto, não são compreendidos separadamente. O espaço torna-se lugar a partir do momento em que é atribuído um significado a ele. “Os lugares são centros aos quais atribuímos valor e onde são satisfeitas as necessidades biológicas de comida, água descanso e procriação” (TUAN, 1983, p. 04). Essa transformação de espaço em lugar se dá através do tempo percorrido com as experiências vividas pelo indivíduo e do tempo histórico, a relação com o passado traz significado para o lugar e aumenta o sentimento de identidade. Outra relação que Tuan faz entre tempo e lugar, é definindo este como pausa: Se o tempo for concebido como fluxo ou movimento, então o lugar é pausa. De acordo com este enfoque, o tempo humano está marcado por etapas, assim como o movimento do homem no espaço está marcado por pausas. (TUAN, 1983, p. 219).

Esta interpretação do espaço como movimento também aparece na obra de Certeau (1990). Ao comparar os dois conceitos ele define que lugar “implica uma indicação de estabilidade”, enquanto espaço “é um cruzamento de móveis”. Quando ele define o espaço a partir do movimento refere-se às apropriações feitas através de caminhadas, onde o corpo está inserido e em contato com o meio: “Em suma, o espaço é um lugar praticado. Assim a rua geometricamente

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definida por um urbanismo é transformada em espaço pelos pedestres. ” (CERTEAU, 1990, p. 202). Augé (1994), partindo da discussão de Certeau sobre o espaço móvel, e dos pressupostos de que o lugar é pausa, habitado e atribuído de significado, define o “não-lugar” com o o oposto do lugar. Para ele a “supermodernidade” cria deslocamentos a grandes distâncias em períodos de tempo cada vez mais curtos, afastando a relação do corpo com o espaço, as pausas que ocorrem são em lugares vazios de significado e identidade. Se um lugar pode se definir como identitário, relacional e histórico, um espaço que não pode se definir nem como identitário, nem como relacional, nem como histórico definirá um não-lugar. A hipótese aqui defendida é a de que a supermodernidade é produtora de não-lugares, isto é, de espaços que não são em si lugares antropológicos e que, contrariamente à modernidade baudelairiana, não integram os lugares antigos [“lugares de memória”]. AUGÉ, 1994, p. 73).

“O espaço do não-lugar não cria nem identidade singular nem relação, mas sim solidão e similitude” (AUGÉ, 1994, p. 95). Os “não-lugares”, portanto, são espaços de movimentos rápidos, que não convidam à permanência durante um período longo de tempo, sendo assim, não é possível estabelecer vínculos com eles. Norberg-Schulz (2006, p. 454) apresenta o conceito romano do genius loci, ou seja, o “espírito do lugar”. Cada lugar possui suas características e influenciam na identidade de um povo, assim como as necessidades do povo influenciam na organização do lugar. “A identidade humana pressupõe a identidade do lugar”. (NORBERG-SCHULZ, 2006, p. 457). Portanto, para que um espaço se torne lugar é preciso que ele seja habitado. Os espaços esquecidos ainda não se tornaram lugares, são abandonados, deixados de lado pelas pessoas que passam por eles todos os dias sem observá-

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los, já que eles não convidam à permanência, muitas vezes por não possuírem equipamentos que possam agrega-los de valor, significado e identidade ou por parecerem banais, não despertando o interesse do olhar já acostumado com a paisagem conhecida do cotidiano. Assim, com o tempo estes espaços se tornam ociosos.

Pontos de ônibus são exemplos destes “não - lugares”, que servem apenas para permanecer durante um período curto de tempo. (Imagem: São Bernardo do Campo - Acervo da autora)

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2. O valor do vazio Uma forma só tem sentido por sua estreita ligação com seu espaço interior (vazio pleno). A percepção do que chamo vazio pleno me veio no momento em que abrindo uma cesta compreendi bruscamente a relação de totalidade que unia o interior à forma externa. (Lygia Clark, O vazio pleno, 1960).

Os “vazios-plenos” para Lygia Clark são espaços repletos de possibilidades, eles não possuem frente e verso, nem diferenças entre interior e exterior. Sendo assim, podemos moldá-los de acordo com aquilo que queremos. Tenho pavor do espaço, mas sei também que através dele me reconstruo. O seu sentido prático sempre me falta nas crises pois a primeira coisa que sinto é a falta de percepção dos planos e perco o equilíbrio físico. [...] É preciso se morrer mesmo integralmente e deixar o novo nascer com todas as implicações terríveis do “sentimento de perda” da falta de equilíbrio interior, do afastamento da realidade já adquirida; é o vazio vivido como tal, até o momento dele se transformar em vazio pleno, cheio de uma nova significação.1

Figura 1: Lygia Clark - “Caminhando”. A fita de Moebius utilizada une o interior com o exterior.

Em sua obra “Caminhando” (1964), Lygia Clark utiliza uma fita retangular torcida e colada nas extremidades (fita de Moebius), com esta técnica não é possível identificar qual é a frente ou o verso da fita, quando ela é recortada pode-se formar um caminho “infinito”.

Contemporâneo à Lygia Clark, Hélio Oiticica também experimentava espaços sem frente e verso. Os “Núcleos” (1960) e “Penetráveis” (1962), precisavam ser percorridos para serem compreendidos, já que não possuiam vistas pré Manuscrito s/d, inédito. In ROLNIK, Suely. Molda-se uma alma contemporânea: o vazio-pleno de Lygia Clark. In The experimental exercise of freedom: Lygia Clark, Gego, Mathias Goeritz, Hélio Oiticica and Mira Schendel, The Museum of Contemporary Art, Los Angeles, 1999. 1

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Figura 2: Hélio Oiticica - “Grande Núcleo” (1960), obra que pode ser percorrida, não tem frente nem verso.


estabelecidas para serem observadas. Solà-Morales (1995) denomina os vazios de terrain vagues, que seriam os espaços esquecidos das cidades. A palavra terrain é “uma extensão de solo de limites precisos”, localizada dentro da cidade. Vague pode ser entendida como vazio, mas também como liberdade, espaço de possibilidades, indeterminado e impreciso. “São lugares aparentemente esquecidos, onde parece predominar a memória do passado sobre o presente. ” (SOLÀ-MORALES, 1995). Os terrain vagues são espaços paradoxais. Apesar de possuírem uma primeira conotação com sentido negativo, por serem espaços abandonados vazios de ocupação e significado, os terrain vagues são também possibilidades de escape do sufoco urbano, a esperança de novas possibilidades. Neles novas identidades podem ser criadas. O entusiasmo por esses espaços vazios, expectantes, imprecisos, flutuantes é, em código urbano, a resposta a nossa estranheza ante o mundo, ante nossa cidade, ante nós mesmos. (SOLÀ-MORALES, 1995).

Em Walkscapes, Careri (2002) fala sobre os espaços sedentários e nômades descritos por Gilles Deleuze e Félix Guattari como “estriados” e “lisos”. Os espaços sedentários então seriam os cheios, construídos e estáveis, enquanto os nômades são os vazios e “líquidos”. Partindo dessa definição dos vazios como a parte líquida da cidade, Careri descreve o “arquipélago fractal”, que se desenvolve do centro para as margens, onde a parte central é construída, congelada e densa, com uma malha definida, já as margens são vazias e dinâmicas, compostas por ilhas em expansão. São nesses espaços vazios que a cidade se organiza. Os espaços vazios que determinam a sua forma constituem os lugares que melhor representam nossa civilização em seu desenvolvimento inconsciente e múltiplo. Estas amnésias urbanasnão só esperam ser preenchidas de coisas, mas constituem espaços vivos a que nós atribuímos significados. (CARERI, 2002, p. 184).

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Seguindo nessa definição de vazios como espaços de novas apropriações, descobertas e possibilidades, Guatelli (2012) discute os entre-lugares que são “livres da influência de qualquer imposição ocasionada por uma precondição”. A liberdade de usos se dá nos espaços entre. Para ele, os entressão espaços transitórios, o arquiteto não pode controlar como estes espaços serão utilizados, mas sim potencializá-los para que ocorra a melhor interação. “Estar entre as coisas entre-lugares diz respeito a não ser nem isso nem aquilo, um ou outro, mas a chance de um vir-a-ser outro possibilitado justamente por essa indefinição. “ (GUATELLI, 2012, p. 14). São os espaços vazios, sem usos definidos que possibilitam novas dinâmicas urbanas. Neles desenvolvem-se usos espontâneos, que não precisam seguir condições preestabelecidas pelos espaços construídos. Os vazios são capazes de se moldar de acordo com as nossas necessidades.

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3. Caminhar para conhecer e transformar Com o crescente uso do automóvel algumas pessoas perderam o hábito de caminhar pela cidade. As percepções que temos do território urbano são bem diferentes quando nosso corpo está em contato direto com ele. A velocidade da caminhada facilita nossa observação do que está ao redor, diferente de quando estamos dentro de um carro, onde tudo passa em uma velocidade maior e não temos uma aproximação com o exterior. Careri (2002) defende a prática de caminhar como uma forma de intervenção na paisagem. Como foi dito anteriormente, a cidade é formada por espaços cheios inseridos em um grande vazio ou nas palavras de Careri, espaços sedentários dentro do espaço nômade. O arquiteto diz que a cidade é como um oceano composto por ilhas, estas são os lugares de parada, enquanto o oceano vazio é o espaço do caminhar. A primeira forma de intervenção na paisagem foi o menir. Os estudos indicam que os nômades do período neolítico utilizavam os menires para marcar o território. Estes monólitos geralmente eram colocados em lugares simbólicos, com significados sagrados e serviam como uma forma de orientar suas viagens. Antes dessa marcação do espaço com elementos artificiais, os nômades transformavam a paisagem a partir dos seus deslocamentos. Segundo Careri, a presença física do homem já é capaz de fazer alterações no espaço e em seu significado. Antes do neolítico e, portanto, antes do menir, a única arquitetura simbólica capaz de modificar o ambiente era o ato de andar, uma ação que era ao mesmo tempo perceptiva e criativa e que, na atualidade, constitui uma leitura e uma escrita do território. (CARERI, 2002, p. 51).

O crítico Walter Benjamin identificou na obra do poeta Charles Baudelaire o personagem do flâneur, um indivíduo que caminha despreocupadamente

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pela cidade moderna, pós Revolução Industrial, observando todos os detalhes que seus olhos podem captar. “A cidade é a realização do velho sonho humano do labirinto. Nessa realidade, sem querer, o flâneur se consagra”. (BENJAMIN, 1929 apud CARERI, 2002, p. 72). Ao fazer suas perambulações, o flâneur consegue experimentar tudo o que a cidade tem a oferecer. [...] o flâneur, aquele personagem efêmero que, rebelandose contra a modernidade perdia o seu tempo deleitando-se com o insólito e o absurdo em suas perambulações pela cidade. (CARERI, 2002, p. 74).

No início do século XX, os artistas dadaístas programaram uma série de visitas pelos espaços banais de Paris como uma forma de contestação da arte e apropriação do espaço urbano. Como Careri aponta, nesta época os artistas de vanguarda representavam a velocidade e as grandes transformações em suas obras. Os dadaístas foram os primeiros artistas que “levaram a representação do movimento para o espaço real ”e exploraram a “cidade da banalidade”, o oposto da cidade futurista e desenvolvida. “Dada eleva a tradição da flânerie à categoria de operação estética” (CARERI, 2002, p. 74). A exploração Dada não deixou nenhum objeto no local, a intervenção artística se deu apenas a partir da presença do corpo no espaço banal. Era uma obra “ante arte”, que pretendia “aproximar a arte da vida cotidiana”. Careri observa que antes o espaço público era destinado apenas para intervenções arquitetônicas e, quando um artista queria intervir fora das galerias, acontecia através de esculturas. Os dadaístas, portanto, usam o ato de caminhar como uma forma artística de ocupar o espaço. Dada passa da tradução de um objeto banal [ readymade2] no espaço da arte, para a tradução da arte – através da pessoa e dos corpos dos artistas Dada – em um lugar banal da cidade. (CARERI, 2002, p. 76).

Os Dadas fizeram somente uma exploração, três anos depois os surrealistas

Objeto criado por Marcel Duchamp que mistura peças de uso cotidiano sem qualquer valor estético.

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voltaram a interagir com o espaço. Nesta intervenção os artistas não foram a um espaço banal previamente escolhido. Os surrealistas escolheram aleatoriamente uma cidade no mapa e fizeram uma “viagem errante” até ela, uma deambulação. Eles tinham como objetivo uma investigação subjetiva dos grandes espaços vazios que os levariam até a cidade escolhida. Esta ação foi como uma “escrita automática no espaço real”. A deambulação – palavra que contém a mesma essência da desorientação e do abandono do inconsciente – se desenvolve em bosques, campos, trilhas e pequenas aglomerações rurais. [...] O espaço aparece como um sujeito ativo e vibrante, um produtor autônomo de afeições e ralações. (CARERI, 2002, p. 82 e 83).

Após o fim desta deambulação os surrealistas continuaram suas perambulações pelas cidades, nas “zonas marginais e inconscientes”. A partir dessas caminhadas eles produziam mapas de sensações para caracterizar os lugares percorridos, os chamados mapas influenciais. Segundo Careri, as perambulações surrealistas eram como “uma investigação psicológica da nossa relação com a realidade urbana”. Nos anos 1950, os situacionistas começaram a realizar derivas dentro das cidades, não mais em campos vazios, afim de desenvolver as deambulações feitas pelos surrealistas, elaborando uma investigação destas experimentações urbanas e transformando a leitura subjetiva da cidade em objetiva: A deriva é uma construção e uma experimentação de novos comportamentos na vida real, a materialização de um modo alternativo de habitar a cidade, um estilo de vida que se situa fora e contra as regras da sociedade burguesa, e que propõe uma superação da deambulação surrealista. (CARERI, 2002, p. 92).

Careri analisa que os situacionistas não enxergavam a prática do caminhar apenas como um ato onírico e inconsciente, mas sim como uma forma de

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transformar e contestar as relações humanas e o urbanismo. Assim, eles poderiam trazer as práticas artísticas para o mundo real, e também usá-las para fazer críticas à sociedade capitalista que prioriza o trabalho em detrimento dos momentos de lazer. Dessa forma, eles criavam situações para tornar a cidade um ambiente mais espontâneo e lúdico, e que valoriza a vida coletiva. O conceito da deriva está ligado indissoluvelmente ao reconhecimento dos efeitos da natureza psicogeográfica, e a afirmação de um comportamento lúdico-construtivo, o que a opõe em todos os aspectos às noções clássicas de viagem e de passeio. (DEBORD, 1956 apud CARERI, 2002, p. 94).

A partir das derivas, os situacionistas produziam mapas psicogeográficos. Estes mapas traduziam o que as experiências feitas na cidade despertavam no comportamento dos indivíduos. Para que estas representações contribuíssem na exploração lúdica da cidade, as características subjetivas interessavam mais que as características técnicas. Assim, as pessoas podiam seguir estes mapas das maneiras que bem entendessem. Nos anos 60, o artista Tony Smith fez uma viagem por uma rodovia em construção na periferia de Nova York. Nesta sua experiência, Smith fez contestações sobre o que é arte. ”O asfalto ocupa grande parte da paisagem artificial, mas não é possível o considerar como uma obra de arte. “ (SMITH, 1966 apud CARERI, 2002, p. 120). A partir desse momento, são abertas várias questões sobre o papel das calçadas e das ruas na paisagem. Para o artista, a rua pode ser interpretada de duas maneiras: um objeto onde se realiza a travessia, ou a travessia como uma atitude que se converte em forma, ou seja, a experiência do andar que constrói a rua e os caminhos artificiais da paisagem. Estas questões abriram possibilidades para os artistas da Land Artcomeçarem suas experiências e investigações em desertos e periferias. Assim, a prática de andar começa a se tornar uma arte autônoma. (CARERI, 2002).

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Figura 3: Guy Debord - “The Naked City”. O mapa é composto por ilhas de sensações registradas durante as derivas e as setas são todos os caminhos possíveis para seguir


4. Arte como elemento de visibilidade no espaço A arte tem a capacidade de nos deter, de desacelerar nosso ritmo e restituir o valor do tempo para a lentidão da contemplação. A arte desperta de novo nosso interesse por tudo o que nos rodeia, suprime as regras e reescreve o espaço em que vivemos. (GALOFARO, 2003, p. 102).

A caminhada nos ajuda a reconhecer o espaço e desenvolver territórios, a partir dessas explorações, a arte é capaz de transformá-lo e trazer visibilidade para ele. Com a land art, os artistas puderam levar suas intervenções para os espaços fora de museus e galerias, e dessa forma aproximar o público das interações com o espaço e a arte. Em paralelo ao movimento land art, no Brasil podemos citar os artistas neoconcretos representados por Hélio Oiticica e Lygia Clark. Oiticica explorava a cidade em suas perambulações pelas periferias e morros do Rio de Janeiro, e Lygia fazia suas experimentações dos vazios plenos e dos “objetos relacionais”, com os quais buscava os estímulos sensoriais do corpo. Dessa forma, os neoconcretos ocupavam os espaços fora de museus e utilizavam o corpo como uma forma de expressão artística, como um meio que carrega a arte. Segundo Galofaro (2003), os limites entre arte e arquitetura estão se diluindo. A arte começa a ocupar o espaço da paisagem e a arquitetura passa a ser vista e sentida como um objeto artístico. Em ambos os casos, a paisagem e o contexto em que elas estão inseridas tornam-se relevantes, visto que as duas são capazes de modificar o espaço e, principalmente, as percepções que temos dele. A arte incorpora conceitos e reflexões livres, e busca a participação do observador, que passa a desfruta-la. A arquitetura torna-se permeável, rompem-se as margens entre o interior e o exterior e começa a ser considerada como um objeto. O olhar do artista e o do arquiteto se sobrepõe no espaço existente entre as coisas, na dinâmica

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fluida das cidades e da natureza-paisagem que as rodeia. (GALOFARO, 2003, p. 30 e 31).

Galofaro também fala das dinâmicas diversas que podem ocorrer nos espaços vazios. Essas dinâmicas “revelam a identidade do espaço”. Os artistas e arquitetos criam objetos para dar forma ao espaço de maneira flexível e interativa, e quem ativa estes objetos são os usuários. Para ele, a diferença entre a arquitetura e a land artse dá pela primeira que organiza as atividades e acaba restringindo o movimento, enquanto a segunda não segue regras, ela se forma pelas ações dos indivíduos e da natureza, ou seja, “O objeto não é o protagonista, se não o espaço dinâmico criado pelas ações que se desenvolvem em torno dele”. (GALOFARO, 2003, p. 31). Para Richard Long, o ato de andar é uma forma de arte. Desta maneira, não existem objetos artificiais nas produções dele. Sua arte tem caráter efêmero, e se dá a partir dos elementos encontrados no cenário natural e do caminho marcado no chão por onde ele andou. Sendo assim, o protagonista da intervenção é o corpo, que estava presente na paisagem. Os pesos, as distâncias e o clima são sentidos através do corpo, e as pedras carregadas e distâncias percorridas não ultrapassam os pesos e medidas que o corpo consegue aguentar. (CARERI, 2002). “Decidi fazer arte andando utilizando linhas e círculos, ou pedras e dias. ” (LONG apud CARERI, 2002, p. 145). Em 1967 ele realizou sua obra de maior destaque: “A Line Made by Walking”, que consistia em andar por um campo vazio formando uma linha a partir da grama pisada. “[...] Long combina duas atividades aparentemente separadas: a escultura (a linha) e o andar (a ação). [...] Com o passar do tempo, esta escultura desapareceria”. (FULTON, 1991 apud CARERI, 2002, p. 146). Como observa Careri, na linha estão ausentes o corpo, o objeto e a ação, porém por trás de seu significado ela representa o resultado de um corpo que fez uma ação, ficando entre a escultura e a performance.

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Figura 4: Richard Long - “A Line Made by Walking” (1967).


Continuando com esta ideia de andar como forma de arte, podemos destacar Robert Smithson. De uma forma diferente de Tony Smith e Richard Long, por exemplo, que que discutiam sobre as linhas das rodovias e caminhos em espaços vazios fora das cidades, Smithson queria propor uma nova visão e exploração da cidade que há no entorno dessas rodovias, geralmente cidades periféricas, esquecidas pelo tempo. (CARERI, 2002). Desta forma, em 1967, Smithson publicou um artigo na revista Artforum relatando sua visita e convidando as pessoas para um tour pelo que ele chamou de “Monumentos de Passaic”. Passaic é uma cidade com caráter industrial, localizada na periferia do estado de Nova Jersey. A cidade foi escolhida por ser o lugar onde Smithson passou sua infância e por conter os “novos monumentos”3, descritos por ele como algo que “ao invés de fazer surgir em nós a recordação do passado, parecem querer nos fazer esquecer o futuro”. (SMITHSON, 1966 apud CARERI, 2002, p. 170). Esse esquecimento do futuro descrito por ele se dá através da construção desses novos monumentos artificiais, como as indústrias, que degradam a natureza. Dessa forma, com o passar do tempo, essas construções transformam o espaço em um não-lugar. Esse panorama zero parecia conter ruínas às avessas, isto é, todas as novas edificações que eventualmente ainda seriam construídas. Tratava-se do oposto da “ruína romântica” porque as edificações não desmoronam em ruínas depois de serem construídas, mas se erguem em ruínas antes mesmo de serem construídas.(SMITHSON, 1967).4

Figura 5: Robert Smithson - “Negative Map Showing Region of the Monuments along the Passaic River” (1967).

Figura 6: Robert Smithson - “The Bridge Monument Showing Wooden Side-Walks” (1967).

Seguindo as questões sobre a junção entre arte e arquitetura, e entre paisagem natural e artificial, um dos primeiros artistas que conseguiu uni-las efetivamente foi Gordon Matta-Clark. O trabalho dele consiste em fazer cortes Do artigo “Entropia e os novos monumentos” escrito por Robert Smithson em 1966. A entropia é um conceito da termodinâmica, que está diretamente relacionado com a organização de um sistema. Portanto, quanto maior a desordem do sistema, maior é sua entropia. 4 Observações de Smithson sobre as construções que aconteciam na Rodovia Estadual de Nova Jersey durante seu passeio em Passaic, e descritas em seu artigo “A Tour of the Monuments of Passaic”. 3

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Figura 7: Robert Smithson - “The Fountain Monument” (1967).


e retirar pedaços de arquiteturas abandonadas, e assim “confundir o método de construção com o de demolição” e “experimentar o espaço em constante transformação”. (GALOFARO, 2003, p. 32). Galofaro analisa que os cortes feitos nas construções criam novas relações entre o interior e o exterior, ou seja, há mais aberturas e vazios que permitem a diluição dos limites rígidos que os separam. Além disso, ao fazer esses recortes Matta-Clark une o movimento e liberdade propostos pela arte com a rigidez da arquitetura, e contesta o abandono desses edifícios. Nosso pensamento em torno da anarquitetura não se reduzia em fazer peças que demonstram uma atitude alternativa para os edifícios, ou melhor, para as atitudes que determinam a contenção do espaço [...]. Pensávamos mais em vazios metafóricos, ocos, espaços excedentes, lugares não aproveitados [...]. Por exemplo, os lugares em que você abaixa para amarrar os sapatos, lugares que são simples interrupções de seus próprios movimentos cotidianos. (MATTA-CLARK apud GALOFARO, 2003, p. 33).

Figuras 8 e 9: Gordon Matta-Clark - “Sppliting” (1974).

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Nas obras dos artistas Christo e Jeanne-Claude, a relação entre arte e paisagem é feita de maneira a trazer grande impacto visual, porém sutil ao mesmo tempo, já que suas intervenções não fazem interferências definitivas na paisagem, apenas chamam a atenção para ela e potencializam suas características, trazendo novas percepções para o lugar. Como, por exemplo, seus trabalhos embalando edifícios e outras paisagens. O tecido envolvendo um edifício atraí o olhar, por ser algo que não pertence a ele. Além disso, a leveza do tecido remete a algo temporário. Running Fence é uma de suas intervenções mais impactantes. Consiste em uma barreira de 39,4 km, feita com panos de nylon e instalada em um terreno natural e vazio. A ideia era de que ela pudesse ser vista através de várias perspectivas e em diversos momentos do dia, causando assim diferentes percepções. A leveza do tecido é importante para unir a obra ao espaço natural, já que ele é capaz de trazer as percepções do vento de uma maneira visual. (GALOFARO, 2003). A arte, portanto, é capaz de ressignificar espaços vazios, utilizando objetos ou apenas caminhando e fazendo registros sobres eles. Qualquer uma dessas formas de intervenção abrem novas possibilidades, chamando a nossa atenção para o que estava esquecido e gerando novas percepções sobre o que está ao redor. Quando um espaço do nosso cotidiano recebe uma intervenção artística nós diminuímos nossa velocidade e paramos para observá-lo. Esta velocidade reduzida se torna importante nas cidades, onde tudo está em constante transformação em um ritmo acelerado.

Figura 10: Christo and Jeanne-Claude - “Running Fence” (197276).

Figura 11: Christo and Jeanne-Claude - “The Wrapped Roman Wall” (1973-74)

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5. SĂŁo Bernardo do Campo


- Localização O município de São Bernardo do Campo está localizado na região do Grande ABC e faz divisa com Diadema, São Caetano do Sul, Santo André e São Paulo. A maior parte de seu território está localizada em área de proteção de mananciais, por abrigar a Represa Billings e vegetação remanescente da Mata Atlântica. Por sua localização e histórico na produção automobilística e moveleira, o município tornou-se um polo de empregos. Com isso, o desenvolvimento da cidade sempre priorizou o transporte individual, através da construção de extensas rodovias e avenidas de ligação. Para o transporte coletivo entre municípios, há a opção dos trólebus da EMTU (Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos de São Paulo) com uma linha que integra com Santo André e São Mateus, e outra que integra com Diadema e Jabaquara.

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- Perambulações Para a escolha do perímetro das perambulações, levei em conta a facilidade de acessos através de transportes públicos. O centro da cidade foi uma área pertinente, visto que tem mais acessos e ligações. Ainda que um grande número de pessoas circule pela região, podemos encontrar espaços esquecidos. Não é preciso ir para fora da cidade para encontrar os terrain vagues, eles existem dentro do centro, e ao caminhar podemos observá-los.

Para classificar estes espaços, dividi em 3 grupos:

Rios e córregos: assim como acontece na cidade de São Paulo, a área urbana de São Bernardo do Campo se desenvolveu em cima de rios e córregos. Eles ficam escondidos embaixo das principais avenidas e poucas pessoas sabem da sua existência, apenas lembram que ali existe um rio quando ele transborda e alaga as ruas nas épocas de chuvas constantes. Para lidar com esta consequência, a prefeitura fez obras - ainda em andamento - que têm como objetivo conter as enchentes em pontos críticos da cidade. Os rios e córregos que estão abertos são tratados com descaso, suas águas são poluídas e eles não participam das dinâmicas urbanas. Após o levantamento da hidrografia da região, através do mapa que o site da prefeitura de São Bernardo do Campo disponibiliza, o foco das perambulações foi percorrer estas vias em que os rios se encontram para de alguma forma trazer de volta a memória destes “espaços esquecidos”. Vazios residuais: além de esconder os rios, o sistema viário pensado para carros cria espaços residuais, como pequenas praças que não possuem mobiliário, ou quando possuem são precários e pouco convidativos, baixios de viadutos que tem potencial para serem utilizados, visto que são áreas cobertas e poderiam abrigar diversos usos, e também extensas áreas verdes que são utilizadas apenas como rotatórias. Arquiteturas: como Robert Smithson observou em seu artigo sobre os monumentos de Passaic, os edifícios são ruínas antes de serem construídos. Em

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São Bernardo do Campo, além dos edifícios que eram utilizados, porém foram abandonados com o passar dos anos, há alguns edifícios que nem chegaram a ficar completos. Em ambos os casos essas arquiteturas abandonadas criam espaços mortos na cidade, e por não passarem segurança, são evitados pelas pessoas.

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Linhas do Transporte Metropolitano (EMTU)

*Mapas ampliados nas folhas anexas 1 e 2

Rios e cรณrregos


Espaços de lazer Rios e córregos Caminhos percorridos

Espaços de deslocamento

Espaços residenciais

Espaços de comércio


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- Os espaços de lazer Neste grupo de caminhos percorridos percebi que há predominância de atividades de lazer. A avenida Kennedy é conhecida por seus bares e restaurantes. Nela também se encontram o Parque Raphael Lazzuri, o Golden Square Shopping e o Ginásio Poliesportivo. Na Avenida Lucas Nogueira Garcez está localizado o Pavilhão Vera Cruz, que foi um importante estúdio cinematográfico e hoje abrigas eventos como exposições e feiras. Nesta região também se encontra o parque de diversões Cidade da Criança, a Pinacoteca de São Bernardo do Campo, a Faculdade de Direito e a Universidade Federal do ABC. No período da manhã, a avenida Kennedy e a Barão de Mauá são utilizadas para caminhadas e exercícios no canteiro central das pistas. Nos fins de semana, durante a noite, as pessoas vão para os bares e restaurantes, e as ruas ficam mais dinâmicas e movimentadas. Ao caminhar por esta região podemos encontrar também, durante a semana, diversas vans que vendem cachorro-quente ocupando as calçadas. Há três espaços com grande potencial nesta região: o terreno localizado na avenida São Paulo (1), que é utilizado para a montagem da quermesse no mês de junho, a rotatória que fica entre a Kennedy e a Barão de Mauá (2), e a praça da avenida Lauro Gomes (3).

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Espaรงos esquecidos...

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Rios sob o concreto...

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Diversidade de usos: durante a semana - fins de semana

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- Os espaços de deslocamentos Por serem próximos de onde estão localizados o terminal rodoviário e avenidas extensas, caracterizei estes espaços como de deslocamento. As avenidas Pereira Barreto e Aldino Pinotti, por exemplo, não são confortáveis para pedestres, visto que há muitas fachadas fechadas para a rua, como o shopping e os condomínios com muros e paredes altas de estacionamentos. Além disso, entre as duas avenidas há uma extensa área verde vazia, parecida com um bosque, com árvores densas e grama alta. Ao longo da avenida, o único lugar que pode convidar à permanência, além do shopping, é o Parque da Juventude, muito frequentado para caminhadas e prática de esportes. Na Pereira Barreto também podemos encontrar postos de gasolina desativados e arquiteturas abandonadas. Esta é a área com mais arquiteturas abandonadas, em frente ao parque há o Museu do Trabalhador, que começou a ser construído em 2012, porém as obras pararam há algum tempo e ele ainda não recebeu usos(1). Os espaços com maior movimento de pedestres são as praças do terminal(2) e a Samuel Sabatini, com uma parte localizada no baixio do viaduto(3). Estas praças podem ser chamadas de “não-lugares”, pois são utilizadas apenas como passagem para pegar os transportes públicos. Elas não possuem equipamentos, quem ocupa e leva alguma dinâmica para as praças são os vendedores ambulantes.

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As arquiteturas...

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- Os espaços residenciais Nestes caminhos nos deparamos com o entorno predominantemente residencial, por isso é uma área pouco movimentado, em qualquer horário do dia as ruas ficam vazias, com excessão da avenida Imperatriz Leopoldina, que possui comércios e serviços em sua extensão. Além disso, no final da avenida encontrase a Praça do Professor, lugar agradável para fazer caminhadas, esta praça é bastante utilizada pelos moradores da região e por quem trabalha próximo. Já a Praça Teresinha Rodrigues, localizada próxima a Praça do Professor é o oposto, não possui mobiliários, apenas alguns bancos mal posicionados e a grama alta. Entre as avenidas Pery Ronchetti e Francisco Prestes Maia as residências tem características de classe média alta. Já a Pery Ronchetti é degradada, o rio que passa no meio da avenida é poluído e está sumindo aos poucos, coberto pelo concreto. Algumas partes não são confortáveis para o pedestre andar, pois a calçada é estreita e mal pavimentada. Em sua extremidade a avenida é mais degradada, é onde podemos encontrar mais lixo no rio e nas áreas vazias. Nesta área há 3 terrenos com potenciais: duas grandes áreas verdes vazias na Rua Elizabete Sabatini(1), uma saída da avenida Pery Ronchetti(2) e a Praça Teresinha Rodrigues(3).

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- Os espaços de comércio Estes espaços são predominantemente de comércios e serviços, isso faz com que suas ruas sejam bem movimentadas durante o dia e em todos os dias da semana. Aos domingos o fluxo de pedestres é menos intenso, e à noite eles se esvaziam. Uma característica importante durante o dia são as barracas de vendedores ambulantes que ocupam as esquinas da rua Marechal Deodoro (a mais movimentada e com maior concentração de comércio) em alguns pontos há barracas de comidas que se utilizam da calçada para colocar messas e bancos. As praças Lauro Gomes, Matriz e Santa Filomena são pontos de parada. Durante a semana são ocupadas predominantemente por homens que ficam sentados conversando e por vendedores. A Lauro Gomes é um ponto importante de comércio popular, as barracas de camelôs ocupam até uma parte da calçada da avenida Faria Lima, com uma maior concentração nos pontos de ônibus. Outro ponto de comércio é a Galeria do Coração, que cruza a quadra e faz a ligação entre a rua Marechal e a avenida Faria Lima. Na avenida Francisco Prestes Maia há também alguns comércios e serviços, porém o fluxo de pedestres é menor. As praças não possuem equipamentos e não são confortáveis.(1) A Faria Lima é bem movimentada durante os dias da semana, porém aos domingos e a noite ela fica quase deserta, só passam carros e ônibus. No final da Faria Lima está localizado o Terminal Ferrazópolis, do outro lado da avenida há uma grande área livre embaixo do viaduto, onde foram colocados paralelepípedos no chão para que ela não fosse utilizada.(2)

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- A cidade do imaginário A partir da referência do livro “Guia Fantástico de São Paulo”, onde Ángela Leon faz seus croquis baseados em uma cidade do imaginário dela, uma São Paulo que ela gostaria que existisse, com mais contato com a natureza e com os rios, produzi croquis para imaginar: como seria São Bernardo do Campo se os rios e córregos estivessem abertos e limpos? E se as pessoas tivessem mais contato com a natureza? E se os não-lugares se tornassem lugares?

Se o rio da Avenida Lauro Gomes fizesse parte da vida das pessoas como uma opção de lazer...

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Se a Avenida Francisco restes Maia nĂŁo fosse pavimentada e mostrasse o seu rio...

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Se o baixio do viaduto fosse utilizado como รกrea de lazer...

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Se o baixio do viaduto fosse um lugar sem impeditivos...

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6. Estudos de caso - Centro Aberto, São Paulo

Ano: 2014

Prefeitura de São Paulo e METRO Arquitetos

O projeto Centro Aberto foi implantado em espaços públicos do centro de São Paulo que eram utilizados apenas como passagem: Largo Paissandu e Avenida São João, e Largo São Francisco e Praça Ouvidor Pacheco e Silva. Após visitas, pesquisas e conversas com os frequentadores destas duas áreas, foi feito um projeto piloto de ativação do espaço público, que consiste na instalação de equipamentos que tornam a experiência do pedestre e a permanência das pessoas nas praças mais agradável.

Figura 16: Praça Ouvidor Pacheco e Silva

A intervenção consiste na instalação de bancos modulares que criam espaços confortáveis para sentar, disponibilização de mobiliários portáteis, vegetação, tratamento de piso, iluminação, sinalização, novas faixas de pedestres que tornam a travessia mais rápida e segura, além de criar espaços que podem abrigar intervenções artísticas, atividades lúdicas, comida de rua, entre outras ações que tornam a vida no espaço público mais dinâmica.

Figura 12, 13, 14 e 15: exemplos da “caixa de ferramentas” do Centro Aberto

Figura 17: Largo Paissandu

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- Mill St Skatepark, Cidade do Cabo, África do Sul

Ano: 2013 (concurso PLAYscapes) – 2014

Equipe: Gerrit Strydom, Lwandile Gcume e Aline Cremon, juntamente com Errol van Amsterdam e Marvin Fester da C2C Consulting Engineers, e Clive Crofton da Spyda Ramps O projeto foi o vencedor do concurso PLAYscapes, proposto para transformar espaços abandonados da cidade em lugares convidativos para a permanência. Neste projeto, a equipe propôs um skatepark embaixo de um viaduto localizado no bairro Gardens. Esta área próxima a residências era conhecida por ser perigosa e evitada pelos moradores, principalmente durante a noite. O grande número de skatistas utilizando pistas informais próximas ao bairro tornou pertinente a implantação do skatepark. A intervenção não tornou o lugar agradável apenas para quem gosta de andar de skate, mas também para quem passa por lá e mora próximo, pois o espaço se tornou mais seguro e agradável.

Figura 19: Mill Street antes do skatepark

Figura 20: O skatepark tornando o lugar ativo e ocupado

Figura 18: Corte do skatepark

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- Banyoles, Girona, Espanha

Ano: 2007

MIAS Architects

O município de Banyoles se desenvolveu sobre uma rede de canais que servia para secar o pântano existente na região. Com o pântano seco, os canais passaram a abastecer as indústrias que surgiram no entorno. Além disso, a cidade se desenvolveu priorizando os carros em detrimento dos pedestres, tornando-se difícil caminhar pelas ruas estreitas. O projeto teve como partido criar um ambiente mais agradável para pedestres, então para isso foi proibido o uso de automóveis. Os canais foram restaurados e em alguns pontos da praça foram descobertos e alargados, trazendo a presença deles para a dinâmica urbana e criando lugares agradáveis para crianças brincarem. O uso de rocha Travertino também foi uma escolha importante, visto que ela é encontrada nas fachadas de alguns edifícios medievais, trazendo assim a memória da região através do uso do material local.

Figura 21: Crianças brincando no canal aberto da praça

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7. O projeto


- A escolha do terreno Após as visitas pela área de estudo escolhi os espaços mais interessantes e com maior potencial para receber intervenções. Os critérios partiram do tamanho dos vazios, como no caso da área 2 que tem possibilidades de abrigar diversos eventos; áreas verdes que podem ser integradas - 4, 5 e 7 - ; áreas que não possuem mobiliários confortáveis e convidativos - todas - ; áreas que podem ser integradas com o rio - 1 e 9 - e as áreas vazias onde podemos aproveitar a cobertura do viaduto - 3, 4 e 12 - . No caso das arquiteturas decidi escolher apenas uma, o museu - 6 - , pois ele é uma ruína que nunca ficou completa para ser utilizada. A partir dos espaços de interesse marcados, foi feita a segunda parte das visitas, agora mais focadas nas aproximações com estes espaços, para observar suas características, como fluxos de pedestres e carros, áreas de sombra, acessos por transporte público, sensações de segurança/conforto ou medo/desconforto, entre outras dinâmicas, para desta forma conseguir escolher a melhor área para uma intervenção. Para a leitura desta parte acompanham vídeos que foram produzidos através da câmera do celular durante as visitas. Os vídeos não possuem cortes, pois a intenção é de que eles sejam complementos para que o leitor possa ter uma aproximação das experiências sonoras e espaciais do cotidiano da cidade.

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Espaço 1 – Praça Antonio Giglio - Área verde vazia próxima ao rio e à ciclovia (possibilidade de integração), porém o fluxo de carros na avenida Lauro Gomes, que separa o terreno do rio e da ciclovia, é muito alto. - Próximo ao terreno há o Conjunto Habitacional Rudge Ramos “pombal”, a Fundação Santo André e futuramente, irá passar o metrô. - Grande fluxo de carros e pouco de pedestres, desconforto na permanência. - Não possui equipamentos. - Esta parte da avenida Lauro Gomes é degradada e considerada perigosa.

Praça sem mobiliários

Sem fluxo de pedestres pela praça

Fachada de muro desconfortável para andar

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Espaço 2 – Avenida São Paulo - 2 extensas áreas vazias localizadas entre o ginásio poliesportivo, o Parque Raphael Lazzuri e a Universidade Federal do ABC. - A avenida Kennedy (travessa) recebe grande fluxo de pessoas todos os dias, especialmente aos fins de semana. - Aos domingos a avenida São Paulo é fechada para carros, atraindo diversas pessoas para fins de lazer. - A extensa área próxima à UFABC é ocupada pela quermesse em junho e julho. - A ocupação destas áreas é mais aberta e livre que a do Parque Raphael Lazzuri, visto que não possui grades ou restrições, como por exemplo, a entrada de animais. - O Conjunto Habitacional Rudge Ramos está localizado entre os terrenos 1 e 2, portanto a intervenção atenderia os moradores do conjunto com uma opção de lazer livre. - Um dos acessos para a UFABC é feito pela Avenida São Paulo, portanto não seria pertinente restringir o uso de carros durante a semana.

Apropriação da rua fechada para carros

Sem os carros na rua os usos se tornam mais livres

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Espaço 3 – Praça Ibrahim de Almeida Nobre - Grande rotatória localizada embaixo do viaduto Kenzo Uemura. - O baixio do viaduto pode ser aproveitado para atividades cobertas. - A rotatória é utilizada por pessoas que caminham pelo entorno. - No baixio há paralelepípedos no chão para impedir a ocupação. - O fluxo de carros é intenso, portanto a travessia de pedestres é complicada. - Mesmo com alguns pedestres passando por lá, o fluxo de carros é muito maior.

Chegada por baixo do viaduto após conseguir atravessar a rua

Pessoas caminhando pela rotatória

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Espaço 4 – Praça Samuel Sabatini - Canteiros vazios fragmentados que podem ser integradas, embaixo do viaduto José F. Medina Braga. - Grande fluxo de pedestres, devido aos pontos de ônibus que existem nestes canteiros, e ao shopping, à prefeitura no entorno. - Vendedores ambulantes que ocupam a área de forma espontânea, aproveitando o fluxo dos pontos de ônibus. - Não há lugares para sentar enquanto espera o ônibus, além dos bancos dos pontos.

Horário de pico, a calçada fica desconfortável para a demanda de pessoas

Vendedores ambulantes

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Espaço 5 – Praça Isidoro Marcioni - Bancos que não convidam à permanência. - Próxima ao shopping e a colégios. - Facilidade de acessos através de transporte público, com pontos de ônibus e trólebus próximos e uma parada de taxi na praça. - Grande fluxo de pessoas que “cortam caminho” pela praça. - Há comércios e residências no entorno, além de uma banca de jornal inserida na praça.

Banca de jornal que “vira as costas” para a praça, e caminho na grama feito pelos pedestres

Bancos desconfortáveis, utilizados apenas para permanências curtas

Além de desconfortáveis, alguns bancos estão quebrados

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Espaço 6 – Museu do trabalho e do trabalhador - Projeto do escritório Brasil Arquitetura. - Arquitetura que virou ruína antes de ficar completa. A obra foi iniciada em 2012 e ficou parada durante mais de 3 anos, tornando-se um espaço degradado. Atualmente as obras foram retomadas. - O terreno é localizado próximo de diversos equipamentos públicos, como a Prefeitura e o Terminal Rodoviário. A proposta do projeto é criar uma arquitetura que possa ser permeada pelo espaço público trazendo uma nova dinâmica para a região.

Barraca de comida ocupando a calçada do museu

Figura 22: Croqui Brasil Arquitetura

Tapumes da obra e museu ao fundo

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Espaço 7 – Praça Samuel Sabatini - Rodoviária - Localizada na entrada do terminal rodoviário de São Bernardo. - Há um grande fluxo de pessoas pela praça todos os dias, porém ela serve apenas como passagem, visto que não oferece nenhum equipamento para convidar a permanência. - Pela localização e o grande fluxo há ocupações espontâneas de vendedores de comida, trazendo um novo uso para a praça. - Como possui grandes árvores esta praça torna-se um local de clima agradável para permanência, pois possui diversas áreas de sombra.

Utilização da raíz da árvore como um lugar alternativo para sentar

Vendedores ambulantes ocupando a praça com cadeiras

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Espaço 8 – Praça Professor Paulo Onézimo Affini - Localizada em uma área predominantemente residencial. - Também não possui equipamentos. - Sem muito fluxo de pedestres e fluxo médio de carros. - A praça é mais afastada das grandes avenidas, por estar em um nível mais alto, portanto possui caráter tranquilo, com menos barulho e áreas de sombra.

Vista da praça

Moradores do entorno sentados na mureta

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Espaço 9 – Avenida Pery Ronchetti - “Bolsão” localizado na avenida Pery Ronchetti. - A avenida está em obras para terminar a canalização do Córrego Saracantan. - Região degradada, não transmite segurança. - Pouco fluxo de pedestres e muitos carros. - Espaço vazio na margem do córrego. - Muito concreto e lixo. - Sem mobiliário, grama ou áreas de sombra.

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Espaço 10 – Praça Teresinha Rodrigues Fini - Inserida em uma área predominantemente residencial, está localizada atrás do Colégio Arbos. Próximo à praça se localiza também a EMEB Professora Nadia Aparecida Issa Pina e a Praça do Professor. - É um extenso terreno vazio, com árvores e bastante sombra, e que recebe um considerável fluxo de pessoas diariamente, que cortam caminho por dentro da praça, deixando suas marcas de caminhada na grama.

Pessoa cortando caminho pela praça

Bancos de concreto dispostos nas extremidades da praça

Caminho na grama feito pelo fluxo de pedestres

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Espaço 11 – Praça Bispo Natanael Inocencio do Nascimento - Localizada na região central, na Avenida Pretes Maia. Avenida movimentada com diversos comércios e serviços. - Pontos de ônibus próximos. - Bancos dispostos de maneiras desconfortáveis. - Áreas de sombra agradáveis para permanência. - Grande fluxo de pedestres e carros na avenida, porém a praça é vazia na maior parte do tempo. - Falta de equipamentos como lixeiras próximas aos bancos e iluminação. - Lixo jogado no chão. Homens sentados no chão, pois a disposição dos bancos não possibilita as dinâmicas

Bancos mal posicionados e muito lixo no chão

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Espaço 12 – Praça Miguel Etchnique - Próxima ao Terminal Ferrazópolis. - Praça localizada no baixio do viaduto, onde tem paralelepípedos que impedem a ocupação. - Passagem de pedestres que frequentam o entorno, como o supermercado Wall Mart e o Shopping São Bernardo Plaza. - Grande fluxo de carros. - Não tem áreas de sombra além do viaduto.

Paralelepípedos que impedem a ocupação

Caminho deixado pelos pedestres

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Após as visitas foram escolhidas três áreas para intervenção: a Praça Samuel Sabatini (4), a Praça Isidoro Marcioni (5) e a Praça Samuel Sabatini rodoviária (7). Localizadas próximas aos prédios da Prefeitura e do futuro museu, as praças tem características de conexão, elas abrigam pontos de ônibus, de táxi e o terminal rodoviário, por isso tornam-se espaços de passagem e de parada para esperar algo (transporte ou pessoas). O grande fluxo de pedestres e a falta de mobiliário urbano faz com que hajam ocupações espontâneas do espaço, como barracas de comidas, vendedores ambulantes e apropriação de lugares para sentar. Isso mostra a necessidade de criar passagens e pontos de encontro que atendam a demanda das pessoas e torne o cotidiano mais confortável. Desta forma, o projeto é composto por faixas de pedestres elevadas que facilitam a travessia e interligam os canteiros fragmentados, bancosarquibancadas em deck de madeira que, através das mudanças de níveis, criam lugares para sentar e configuram os novos espaços de caminhada, espelhos d’água que trazem a memória dos rios e córregos e a banca de jornal que agora abre para os dois lados, afim de se tornar mais integrada com o interior da praça. A intenção foi criar lugares sem usos predefinidos, para assim possibilitar diversas dinâmicas. A partir do momento que o espaço oferece equipamentos, as pessoas se apropriam deles como for melhor e mais interessante para elas, mesmo prevendo os usos, eles podem mudar de acordo com o cotidiano dos usuários.

*Desenhos ampliados nas folhas anexas (3 a 10)

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Banca de jornal Ponto de táxi

Pontos de ônibus Viaduto

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Prefeitura

Terminal rodoviário

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Museu

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Praça do Viaduto Fluxo de pedestres Fluxo de carros Pontos de ônibus

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Faixas de pedestres elevadas Bancos em deck de madeira Área permeável Espelho d’água

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Praça da Banca de jornal Fluxo de pedestres Fluxo de carros Pontos de ônibus

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Faixas de pedestres elevadas Bancos em deck de madeira Área permeável Espelho d’água

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Praรงa da Rodoviรกria Fluxo de pedestres Fluxo de carros

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Faixas de pedestres elevadas Bancos em deck de madeira Área permeável Espelho d’água

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8. Considerações finais O curso de Arquitetura e Urbanismo desperta o interesse para assuntos da cidade, assim não conseguimos mais ter a mesma visão e nos tornamos críticos sobre como esta recebe as pessoas. Os espaços públicos precisam acolher e proporcionar conforto para seus usuários, são eles que abrigam a vida em comunidade, possibilitam encontros, lazer, entre outras diversas atividades do cotidiano. O arquiteto projeta os espaços e idealiza como as pessoas irão utilizá-los, porém é apenas a partir da vivência e necessidades delas que estes espaços são ativados. Um lugar que permite encontros e permanências gera o sentimento de identidade em seus usuários, sendo eles moradores do entorno ou visitantes, que passam a ocupar e cuidar dele. Há também cada vez mais uma necessidade das pessoas de viver o espaço público, fora dos lugares fechados onde elas se sentem presas no dia-a-dia. A vida nos espaços abertos torna-se um respiro para o cotidiano dos moradores das metrópoles. Para que isso ocorra, a cidade precisa ser provida de equipamentos que priorizam o pedestre, oferecendo mais segurança e conforto para ele. Durante o desenvolvimento do trabalho passei por uma (re)descoberta do espaço público de São Bernardo do Campo que me proporcionou o inicio de reflexões quanto às diversas possibilidades para a cidade se tornar ainda mais atrativa e humanizada.

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125



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