Uma intervenção urbana: O estudo e a aplicação dos conceitos de cidade sustentável

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UMA INTERVENÇÃO URBANA [PROJETO VILA SOCORRO] O estudo e a aplicação dos conceitos de cidade sustentável

Fiona Susan Platt



CENTRO UNIVERSITÁRIO SENAC Fiona Susan Platt

Uma intervenção urbana: o estudo e a aplicação de conceitos de cidade sustentável PROJETO VILA SOCORRO

Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Centro Universitário Senac Campus Santo Amaro, como exigência para obtenção do grau de Bacharel em Arquitetura e Urbanismo. Orientação: Prof Ms. Marcella de Moraes Ocke Mussnich

SÃO PAULO 2016



Não resta dúvida de que as áreas urbanas com diversidade emergente geram usos desconhecidos e imprevisíveis e perspectivas visuais peculiares. Mas não se trata de um inconveniente da diversidade. Trata-se da questão essencial, ou parte dela. Isso está de acordo com uma das atribuições das cidades. Isso é necessário para que a vida urbana funcione adequada e construtivamente, de modo que a população das cidades possa preservar (e desenvolver ainda mais) a sociedade e a civilização. JACOBS, Jane. In: Morte e Vida de Grandes Cidades, 2013, p.267.



AGRADECIMENTOS Agradeço a todos que me ajudaram a desenvolver este trabalho, à professora orientadora, aos docentes da universidade que contribuíram com orientações, à minha família e amigos.


ABSTRACT This paper consists of an urban intervention project, in which by studying and analyzing the concepts for a sustainable city, with the intention of applying them as design premises, with a view to look for an answer for the problems of the city. The systematization of the studied concepts along with the collected information about the city, will serve as base for the creation of a project that transforms a part of the city, in a sustainable environment. Keywords: Sustainable City, Urban Intervention, Reurbanization, Sustainable Development


RESUMO Este trabalho consiste de um projeto de intervenção urbana, que ao estudar e analisar os conceitos de cidade sustentável, a fim de aplicá-los como premissas de projeto, procura responder às problemáticas da cidade. A sistematização dos conceitos estudados em conjunto com as informações coletadas sobre a cidade, serviram de base para a criação de um projeto que transforme um trecho da cidade em uma ambiente sustentável. Palavras Chave: Projeto de cidade sustentável, Intervenção Urbana, Reurbanização.



SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO...........................................................................................p.15 Objetivos. Justificativa Metodologia 2.

OS CONCEITOS DE CIDADE SUSTENTÁVEL.......................................... p.21 2.1 Sobre a sustentabilidade 2.2 O desenvolvimento do ideais 2.3 Sobre cidade sustentável 2.4 Sobre os conceitos 2.5 O cunho social da cidade sustentável

3.

OS CONCEITOS EM MEIO A NOSSA REALIDADE URBANA..................p.79 3.1 Plano Diretor 3.2 Zoneamento 3.3 Os espaços produtivos paulistanos 3.4 A cidade e algumas análises

4.

OS ESTUDOS DE CASO...........................................................................p.93 4.1 Urbano: Mission Bay Area 4.2 Urbano: Diagonal Sul 4.3 Urbano: Uma vivência em Copenhague 4.4 Edifício: Algae City 4.5 Edifício: Linked Hybrid 4.6 Edifício: Living Steel para Habitação Sustentável 4.7 Rua: Bell Street Park 4.8 Rua: Cantinho do Céu



5. PROJETO VILA SOCORRO......................................................................p.149 5.1 O local de intervenção e suas características 5.1.1 Histórico da área 5.1.2 Percepção do espaço 5.1.3 Levantamentos 5.1.4 Problemas e potencialidades 5.1.5 Drenagem e topografia 5.1.6 Uma cidade acessível 5.2 A interpretação dos conceitos na área 5.3 Estudos da área aplicando os conceitos 5.4 O desenvolvimento 6.

CONSIDERAÇÕES FINAIS......................................................................p.197

BIBLIOGRAFIA



1. INTRODUÇÃO


1. INTRODUÇÃO Uma discussão que permeia o campo da arquitetura e urbanismo é o nosso planeta e os seus problemas sociais. Portanto acredita-se que este seja o momento para refletir e propor um projeto que procure discutir questões pertinentes neste sentido. Neste trabalho de conclusão de curso (TCC) é apresentada uma possibilidade de projeto de intervenção na cidade, com o intuito de interpretar em nossa realidade urbana os conceitos definidos de cidade sustentável. Em uma perspectiva de

1 Informações com base no Artigo Jornal ComCiencia (Unicamp), Cidades sustentáveis?

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um planeta com população cada vez mais urbana, com cidades cada vez maiores, dando origem a megacidades – cidades com populações acima de 10 milhões de habitantes – e megarregiões – conurbação de diferentes cidades em uma região muito mais ampla – é preciso desenvolver modelos de sustentabilidade urbana capazes de alinhar o desenvolvimento desses espaços com respeito aos princípios da sustentabilidade. (LEITE, 2012, p. 133)

Em um momento de maior atenção ecológica e escolhas mais sustentáveis nos modos de vida, as novas propostas de projeto urbano e edifícios em grandes cidades também buscam se encaixar nos parâmetros sustentáveis, utilizando mecanismos para captação e reuso de água, energias renováveis, sistemas de drenagem urbana, entre muitos outros. Esta crescente questão é sustentada pelo fato que as cidades são representantes de 2/3 do consumo mundial de energia e responsável por aproximadamente 75% de todos os resíduos gerados1. Portanto, o tema de rediscutir e propor novas opções de ocupação urbana pensados com sustentabilidade, se mostra de fato atual e relevante ao campo da arquitetura e urbanismo. Afinal, como é esta cidade idealizada e o que é cidade sustentável? A cidade sustentável de acordo com alguns peritos no assunto como Richard Rogers, Carlos Leite, Júlio Moreno entre outros, é aquela que consegue conciliar todos os usos de uma cidade grande de forma social, econômica e ecológica. Isto porque estes conceitos (social, econômico e ecológico) são os três pilares


do desenvolvimento sustentável que estão sendo discutidos afim de obter um futuro sustentável. Como levantar a questão de cidade sustentável em uma cidade tão insustentável como São Paulo? Na verdade não há sustentabilidade urbana se não pensarmos em soluções de intervenções sustentáveis em cidades consolidadas e em crescimento. Assim o papel da arquitetura neste sentido é de ir planejando a cidade e ajudando-a a crescer de forma a utilizar melhor os espaços. A cidade de São Paulo é palco ideal para se repensar o espaço urbano e arquitetônico de maneira sustentável, pois apresenta diversos problemas em comum aos das metrópoles atuais, como expansão urbana descontrolada, falta de saneamento básico nas periferias, déficit habitacional e áreas subutilizadas, sendo estes alguns deles, que permitem uma ampla discussão sobre o assunto na

busca por soluções e respostas. O objetivo deste trabalho é propor um projeto de intervenção urbana que busca sanar problemas da cidade, com a aplicação de conceitos de cidades sustentáveis a partir da leitura e da análise destes. Assim, este projeto busca tratar dos problemas da cidade de São Paulo dos quais, dentro do debate que os conceitos de cidade sustentável levantados, são pertinentes não só em relação ao local, mas também às necessidades humanas e ao desenvolvimento urbano em geral. A intenção é discutir um trecho da cidade como objeto de estudo, uma possível proposta de vida sustentável que envolva todos os usos de uma cidade. O produto deste trabalho é um projeto com a especulação de qual o tipo de cidade que se resulta, ao aplicar conceitos de cidades sustentáveis. Assim, criar uma possibilidade de resposta aos problemas das grandes metrópoles de expansão territorial,

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poluição de águas, segregação social e mobilidade, focando em soluções sustentáveis: O conceito de cidade sustentável reconhece que a cidade precisa atender aos objetivos sociais, ambientais, políticos e culturais, bem como aos objetivos econômicos e físicos de seus cidadãos. É um organismo dinâmico tão complexo quanto a própria sociedade e suficientemente ágil para reagir com rapidez às suas mudanças que, um cenário ideal, deveria operar em ciclo de vida contínuo , sem desperdícios. (LEITE, 2012, p. 133)

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A metodologia aplicada neste projeto é de pesquisa teórica e análise, seguido por processo projetual. o Levantamento bibliográfico e revisão bibliográfica a respeito do tema. o Levantamento dos diferentes conceitos de cidade sustentável. o Análise dos conceitos sustentáveis. o Desenvolvimento de estudos na área de intervenção

considerando os conceitos estudados. o Definição do projeto de ocupação para a área de estudo. o Detalhamentos e aproximações do projeto para maior entendimento das estruturas urbanas. A cidade aqui imaginada, quando se fala da “cidade sustentável”, é um lugar de morar, trabalhar, ter espaços de lazer, onde se possa dividir este espaço com muitas outras pessoas. É uma cidade que vai buscar gerar o mínimo de lixo e carbono possível, gerar a maior quantidade de energia possível e reciclar o máximo possível, além de produzir alimentos nos espaços de convivência para atender necessidades de uma forma comunitária. Pode parecer muito, mas poucas diferenças na produção do espaço e da arquitetura podem possibilitar que nosso modelo atual de vida nas cidades mude para atingir o que o futuro pede.


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2. OS

CONCEITOS DE CIDADE

SUSTENTÁVEL


2. OS CONCEITOS DE CIDADE SUSTENTÁVEL Este capítulo vai introduzir o tema da sustentabilidade e vai se debruçar sobre possíveis respostas de como as cidades podem ser sustentáveis. Será dedicado em reunir os conceitos de cidade sustentável aqui coletados e estudados. Mas afinal, o que são estes ‘conceitos’ mencionados? Estes que chamados de ‘conceitos’ sustentáveis ou ‘conceitos de cidade sustentável’ aqui, expressam o que de fato é um pot-pourri de todos os elementos de design, processos de projeto, meios de intervenção e até as mais triviais tecnologias de auto sustentabilidade2, estudados, pesquisados e analisados neste trabalho. São das mais diversas naturezas, mas sempre consistem

2 Termo auto sustentabilidade não muito utilizado, é proveniente da ecologia que define a exploração de recursos naturais em base nãopredatória. Aqui utilizado para representar a fusão de algo que é sustentável com algo que se auto sustenta.

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de estratégicas sustentáveis. Mas antes que seja possível aprofundar nos conceitos, é importante contextualizar o surgimento da temática da sustentabilidade globalmente falando, e como o assunto passou a ser pauta em todos os campos de produção (de alimentos, de produtos, de espaços, entre outros).

2.1 Sobre a sustentabilidade Atualmente temos muito contato com a palavra sustentabilidade. Faz parte do cotidiano das pessoas no mundo globalizado e contemporâneo. Mas por que ela está tão presente em nosso vocabulário? E será que todos que já ouviram a palavra sabem o que ela significa? A sustentabilidade, aliada à noção de responsabilidade socioambiental, surge como pauta de debate, depois que os efeitos da poluição de uma sociedade de produção industrial passaram a ser visíveis. Nas cidades os problemas de poluição no ar, na água, nas ruas, passaram a demonstrar o rumo não-ecológico que a humanidade estava caminhando. Com isso, alguns profissionais da área


ambiental e de desenvolvimento urbano e econômico, começaram a questionar se este seria o modelo ideal de desenvolvimento, em relação aos recursos naturais, saúde e crescimento da humanidade. Assim, Rodrigo Berté (2009), na introdução do livro Gestão socioambiental no Brasil conta qual a urgência na exploração de novas maneiras de vida na sociedade humana:

A nossa civilização, no que se refere à trajetória de ocupação e de exploração de nosso planta, encontra-se em um momento crucial, pois a Terra apresenta sinais de alarme que apontam para evidências de esgotamento de sua capacidade de suporte para as atividades humanas. BERTÉ (2009)

Ainda de acordo com Berté (2009), o meio ambiente, é entendido por muitas definições, como sinônimo de natureza e nesta concepção há um distanciamento entre o ambiente e o homem. Mas, partindo do princípio que o homem integra o meio social e utiliza dos recursos naturais, o meio ambiente passa a ser uma

concepção multidimensional. Desta maneira podemos entender que o homem utiliza da natureza para viver e então o meio em que o homem vive é o ambiente, logo é o meio ambiente. Este meio ambiente nada seria, se não fosse pelo fato que o próprio é um organismo natural, equilibrado e sensível, onde pode adoecer e morrer, portanto o mesmo deve ser utilizado da maneira mais inteligente e racional possível. Parece ser uma descrição ingênua mas que na realidade tem relação com uma análise sucinta da sociedade contemporânea: moradia, lazer, trabalho, produção e consumo. “Como posso viver bem se a minha matéria de produção foi extinta ?” “E como posso consumir se eu não produzi nada ?” É entendendo que para se viver bem no futuro, há uma necessidade no presente em considerar a melhor forma a se usufruir do meio ambiente. A palavra sustentabilidade não é um termo técnico, passível de definição única. Conforme José E. Veiga (2010) a noção de sustentabilidade jamais pode ter definições suficientemente claras para que seu sentido venha a ser aceito por um largo consenso. Para o autor é um novo valor atribuído à sociedade. Assim, para S. Silva (2000) “a sua noção está mais relacionada a uma tendência,

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a um processo norteador de reflexões e ações determinadas por opções humanas em face ao seu relacionamento com o meio envoltório em circunstâncias específicas” (SILVA, 2000, p.9 Apud MÜLFARTH, 2002, p. 32). Completando estes discursos, “a noção de desenvolvimento sustentável e a própria ideia de sustentabilidade são, mais do que conceitos homogêneos e bem delimitados, campos de disputa sobre diferentes concepções de sociedade” (SCOTTO, CARVALHO e GUIMARÃES, 2009, p. 8 Apud LAMIM-GUEDES, 2015) e pode ser algo muito próximo de uma concepção de harmonização entre objetivos sociais, ambientais e econômicos. Assim, o fato de não ser um termo necessariamente definido, carente de respaldo técnico torna-o um conceito amplo. Com isso se permitiu a utilização deste para diversos seguimentos da sociedade, o que não foi necessariamente positivo, pois sua utilização disseminada, acabou fazendo que o termo fosse generalizado. O professor

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economista Ignacy Sachs, ao longo de sua carreira, fez parte deste debate contemporâneo sobre a necessidade de um novo paradigma de desenvolvimento baseado na convergência entre os fatores da sociedade. Sachs fala da concepção dos caminhos para um desenvolvimento sustentável em seu livro “Caminhos para o desenvolvimento sustentável” e define a mais usada classificação da sustentabilidade: que a mesma só é atingida quando engloba aspectos sociais, econômicos, ecológicos, espaciais e culturais. O problema de sustentabilidade existe e é concreto, mas não adianta discutir os objetivos sociais e a sustentabilidade ecológica sem pensar no terceiro pé do tripé, que é a viabilidade econômica. (SACHS, 2013)

Na maioria dos casos, devido uma popularização do termo, com muitas confusões conceituais, acaba trazendo dificuldade na aplicação prática de sua teoria. O termo começou a ser utilizado em 1970 pelo campo da ecologia, que significa a “capacidade de um ecossistema absorver tensões ambientais sem, perceptivelmente, mudar seu estado ecológico para um estado diferente.”


de acordo com o autor José Eli da Veiga (2010) no livro Sustentabilidade A legitimação de um novo valor. Já em 1972 na cidade de Estocolmo, que naquele no ano foi sede do primeiro encontro mundial com o intuito de preservar o meio ambiente, a Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente Humano, se falou em buscar premissas para preservação do meio ambiente e foi usado o termo desenvolvimento sustentável para sugerir maneiras de pensar um futuro consciente. Em 1980 o termo sustentabilidade passou a ser utilizado para o desenvolvimento urbano e econômico. Em 1992 com a Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento, considerada um dos principais marcos da questão ambiental em termos de políticas internacionais ao longo da história, são legitimados os termos ‘sustentabilidade’ e ‘desenvolvimento sustentável’ como ponto de partida nos cinco acordos para o futuro mundial, neste dia efetivados.

Mesmo assim ainda é um campo de debate de diversas opiniões contrárias, mas principalmente porque acaba questionando os meios de produção cravados na sociedade, afetando muitos que têm medo de serem prejudicados com a mudança inevitável. Para um desenvolvimento econômico é necessário uma ruptura ideológica no crescimento urbano e uma interrupção no ciclo de consumo e de produção, para reconfigurar o processo produtivo. “A economia poderia, assim, continuar a crescer, sem que os limites ecológicos fossem rompidos, ou que recursos naturais viessem a se esgotar.” Veiga (2010) Para Krause (1999)3 a sustentabilidade é um conceito que integra e unifica a consciência crítica da atual conjuntura ambiental e gera propósito estratégico para os processos na construção do futuro. Certamente, para este trabalho, isto foi levado em conta, assim como todos os outros conceitos estudados, mas principalmente o que a sustentabilidade diz ser essencial para o futuro contemporâneo. Será premissa inicial do projeto, a efetivação de um espaço que busque dar solução para cumprir com os conceitos de sustentabilidade.

3 Capitulo de introdução do livro Meio ambiente, desenvolvimento sustentável e políticas públicas organizado por Clóvis Cavalcanti – Ver referencia bibliográfica.

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Diagrama de sustentabilidade

Figura 01 Fonte: Baseado em ELKINGTON, John. Canibais com garfo e faca, São Paulo, Makron Books, 2001. 472p. e na SD 21000 – AFNOR, 2003 - redesenhado pela autora.

Para sintetizar este capítulo, o diagrama apresentado, muito utilizado para explicar o que é sustentabilidade, aqui não deixa de fazer o mesmo. É um constante lembrete do ciclo que qualquer ação no espaço deve conter para atender o conceito de sustentabilidade. Em seguida, é traçada uma linha do tempo sobre o que foi discutido em cada evento importante sobre sustentabilidade de forma resumida, para apenas contextualizar como se tem pensado globalmente para um caminho do desenvolvimento sustentável. 26 | Os conceitos de cidade sustentável


2.2 O desenvolvimento dos ideais Para a elaboração deste segmento do capítulo, a ajuda e as aulas de Sustentabilidade e Arquitetura, no curso de arquitetura e urbanismo do Centro Universitário Senac no primeiro semestre de 2016 do professor José Luis Silva de Oliveira foram essenciais. Em seguida, a coletânea das sínteses de cada uma das Conferencias das Nações Unidas sobre sustentabilidade foram colocadas de maneira a contextualizar o desenvolvimento sustentável globalmente falando. Foi levada em consideração a importância de cada uma das conferências, pois a cada ano, estas reuniões propõem medidas novas e vão criando metas para atingir, e assim reduzir os impactos ambientais. Rachel Carson, em 1962, publica o livro Primavera Silenciosa (The Silent Spring), que foi um

pioneiro trabalho que questionava os meios de produção em relação ao impacto negativo para com o meio ambiente, e é um sensível relato de problemas gerado por más práticas no uso do ambiente. Como mencionado anteriormente, o debate ‘ambiental’ desabrochou em meados dos anos 1960-70 quando o mundo passou por um crise ambiental e energética. O mundo posterior à segunda guerra mundial resultou em um notável acúmulo de armamentos nucleares e ocasionou um sério risco de extermínio em massa (guerra fria). A multiplicação de usinas nucleares aumentou o problema do escape de radioatividade para o meio ambiente e coloca a questão do que fazer com o perigoso lixo atômico. Não só isso, mas o acúmulo de gás carbônico na atmosfera também representa um risco de catástrofe, pois ocasiona o crescimento do efeito estufa, que eleva as médias térmicas da maior parte dos climas do planeta, contribuindo para a o efeito da inversão térmica ou aquecimento global. Além destes problemas, outros, como a contaminação de alimentos por produtos químicos nocivos à saúde humana, com o uso de agrotóxicos ou adubos químicos, também se tornaram um problema emergente da sustentabilidade, pois prejudicam o solo e toda a sociedade

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4 Considerado um dos indivíduos mais influentes no movimento de arquitetura verde. Seu trabalho tem feito impacto positivo na direção da arquitetura sustentável, e por isso recebeu prêmio de prestigio Buckminster Fuller Prize. É o atual CEO do Instituto Internacional de Habitar no Futuro – focando sempre na transformação do mundo para uma sociedade justa, rica de cultura e ecologicamente restauradora.

de consumo que se alimenta destes produtos ‘envenenados’. Com o modelo de sociedade que se estabeleceu, vimos também uma crescente poluição dos oceanos e mares, um avanço da desertificação, o desmatamento acelerado das últimas grandes reservas florestais originais do planeta (Amazônia, bacia do rio Congo e Taiga) e a extinção irreversível de milhares ou até milhões de espécies vegetais e animais. O resultado disso tudo é o aumento de acontecimentos catastróficos ao redor do mundo, tais como furacões, ciclones, tufões, tsunamis, ondas de calor, tempestades, enchentes, mudanças drásticas no clima, entre outros. O autor do livro The Philosophy of Sustainable Design, Jason F. Mclennan4 (2004) comenta que ao longo de sua jornada como arquiteto, passou a entender alguns pontos chave. Fala que nós, como sociedade, não podemos continuar por muito tempo pelo caminho que estamos hoje, no qual todos os anos atingimos novos recordes

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na quantidade gasta de agua, energia, e materiais usados, além da poluição e lixo gerados. Diante deste cenário nada animador, a ONU (Organização das Nações Unidas) promoveu a primeira Conferência Internacional (Estocolmo, 1972) com a temática do meio ambiente humano, que buscou debater novos caminhos para um futuro menos devastador da natureza. Alguns acharam as preocupações ambientais exageradas e que o desenvolvimento de soluções técnicas eram a resposta para os problemas socioambientais. Outros anunciavam um apocalipse caso o crescimento demográfico e econômico (de consumo) não fosse imediatamente interrompidos. Frente a estas duas visões diferentes, a conferencia encerrou com uma alternativa intermediária. Esta teve como principal resultado uma declaração oficial, na qual designou a premissa de que as gerações futuras, e a população mundial, teriam o direito incontornável de viverem em um ambiente com saúde e sem degradações. Assim, o ‘despertar da consciência ecológica mundial’ iniciou um movimento internacional de países com a intenção de promover formas alternativas de desenvolvimento que integrassem a


preservação da natureza e dos recursos naturais. Surgiram, assim, as principais conferências sobre o meio ambiente, que passaram a debater sobre as melhores estratégias, metas e ações pautadas sob uma perspectiva ambiental. Reunindo os principais líderes mundiais em torno de temas referentes à preservação da natureza e ao desenvolvimento sustentável. As principais conferências ambientais internacionais foram as de Estocolmo, em 1972, a Rio-92; a Rio+10, em 2002, e a Rio+20, em 2012. No âmbito nacional, dois anos após o início das discussões, é criada a secretaria do meio ambiente. Em 1986 é formulada a Política Nacional de Meio Ambiente e com isso, a exigência da realização de estudos e relatórios de impacto ambiental. Junto à isto, aconteceu o primeiro seminário “Universidade e Meio Ambiente”, que teve como eixo central, a inserção da

temática ambiental no ensino superior. Na constituição Brasileira de 1988 o Art. 225 fala que todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. (JUSBRASIL, 2016) Novamente na esfera global, o termo desenvolvimento sustentável é citado pela primeira vez como premissa no Relatório Nosso Futuro Comum de 1987, da Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento das Nações Unidas. Este estabeleceu que “desenvolvimento sustentável” significaria uma forma de desenvolvimento que permita fazer uso dos recursos naturais sem esgotá-los, preservando-os para as gerações futuras. Isto significa que seria preciso incorporar no planejamento atual não apenas os fatores econômicos, mas também as variáveis sociais e ambientais, considerando as consequências das ações em longo prazo. Agora os eventos, reuniões, debates, novas políticas e planos começaram a

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5 A agenda 21 é um documento global que inclui uma declaração de objetivos e metas, assim como um conjunto de estratégias e ações a serem seguidas a fim de atingir os objetivos estabelecidos nesta agenda para um desenvolvimento ambiental.

acontecer com maior frequência. No Brasil, em 1989 é criado do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (IBAMA), resultado da fusão de superintendências; foi organizando um Fundo Nacional de Meio Ambiente (FNMA), designado à obtenção de recursos para suporte a implementação de projetos relacionados ao ambiente. Em 1992, no Rio de Janeiro, chamada de Rio-92, a Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente e o Desenvolvimento, chamada Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC), foi considerada um dos principais marcos da questão ambiental em termos de políticas internacionais ao longo da história. O encontro, com a presença de 172 países, teve como resultado a assinatura de cinco importantes acordos ambientais: a Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento; a Agenda 21 5; os Princípios para a Administração Sustentável das Florestas; a Convenção da Biodiversidade; e a Convenção

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do Clima. Com tudo isso, se consagrou o conceito de desenvolvimento sustentável internacionalmente. Também ficou definido que, em um período de dez anos, uma nova conferência seria realizada para ampliar as discussões realizadas e avaliar os resultados e o cumprimento dos acordos aprovados. (MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE, 2016) Nesse meio tempo, A Conferência das Partes (COP) o órgão supremo da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC), reúne anualmente os países em conferências mundiais. Das conferências ambientais realizadas, as mais debatidas e conhecidas, são: a COP-1 em Berlim, em 1995; a COP2 em Genebra, no ano seguinte; a COP-3 em Kyoto, no ano de 1997; entre outras. Assim vamos acompanhar ao longo dos anos, os avanços rumo à um mundo com menores emissões de gases, causadores do efeito estufa, na atmosfera. Em 1994, a Conferência Europeia sobre Cidades Sustentáveis, em Aalborg, Dinamarca, resultou na Carta de Aalborg, ou Carta das cidades europeias para a sustentabilidade. Neste momento também aconteceu o primeiro Congresso Ibero-Americano de Educação Ambiental em Guadalajara, no México.


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1995 – Berlim, Alemanha – COP 1

Foi a primeira reunião à tratar especificamente dos problemas do aquecimento global. A Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima mostrou um cenário de incerteza quanto às ações a serem tomadas pelos países para reduzir a emissão de gases do efeito estufa. Os participantes do encontro então decidiram instituir o Mandato de Berlim, que estabeleceu o prazo de dois anos para análises e avaliações sobre o assunto. As discussões resultaram em um catálogo de instrumentos que poderiam ser usados pelas nações de acordo com as necessidades específicas.

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1996 – Genebra, Suíça – COP 2

Esta convenção definiu que cada país poderia procurar as soluções que considerassem mais adequadas para a sua redução de emissões. Os participantes também começaram a debater a ideia de apontar metas para serem colocadas em prática a curto prazo. Ficou estabelecido neste momento, que os relatórios do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) definiriam o norte das decisões futuras.

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1997 – Kyoto, Japão – COP 3

Criou-se pela primeira vez um documento que estabeleceu metas para reduzir as emissões de gases do efeito estufa, após intensa negociação entre os participantes. Este, chamado de Protocolo de Kyoto 6 , visava o cumprimento das metas, entre 2008 e 2012, por 37 países industrializados. No entanto, vários participantes, entre eles os Estados Unidos, não ratificaram o documento e decidiram não seguir as metas, alegando prejuízos ao desenvolvimento econômico. Após anos de incerteza sobre a adesão das nações, o protocolo passou a valer

6 O Protocolo de Kyoto é um tratado complementar à Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima. Criado em 1997, abriu negociação de redução ou limitação de emissões em função da sua visão sobre a capacidade de atingi-la no período considerado, definiu metas de redução de emissões de gases para os países desenvolvidos, sendo estes também os responsáveis históricos pela mudança atual do clima. Entre 2008 e 2012 para os países Partes do Anexo I, o compromisso era de reduzir suas emissões totais de gases de efeito estufa em no mínimo 5%. Este chamado de primeiro período de compromisso. Para os outros países, os Países do Não-Anexo I, o Brasil incluso, foram estabelecidas medidas que limitam o crescimento de emissões, com a introdução de recursos financeiros e tecnológicos. Entrou em vigor no dia 16 de fevereiro de 2005, após à exigência da ratificação por, no mínimo, 55% do total de países-membros da Convenção e dos responsáveis por, pelo menos, 55% do total das emissões de 1990, ser atendida. O Brasil ratificou o documento em 23 de agosto de 2002, sendo sua aprovação interna confirmada por meio do Decreto Legislativo nº 144 de 2002.

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efetivamente em fevereiro de 2005. Foi para a história, como um acordo percursor de caráter ambiental firmado pela comunidade internacional, apesar das divergências. O Brasil, igualmente aos demais países em desenvolvimento, não participa do Protocolo de Kyoto de forma obrigatória mas de forma voluntária, por meio do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) 7, que gera projetos de créditos de carbono. (VINHAS; DA SILVA, 2016)

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1998 – Buenos Aires, Argentina – COP 4

Começaram as discussões sobre um cronograma para implementar o Protocolo de Kyoto. 7 O mecanismo de desenvolvimento limpo (MDL) serve para auxiliar as partes do anexo I do Protocolo de Kyoto, à cumprirem suas metas estabelecidas. Foi um dos três mecanismos de flexibilização, contemplados no protocolo, sendo eles: o Comércio de Emissões, a Implementação Conjunta e o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), sendo este último o único que permite a inclusão das partes que não do anexo I, os países em desenvolvimento. O MDL pode permitir que as partes possam financiar as reduções certificadas de emissões, de atividades em qualquer país ratificado do Protocolo, voluntariamente, a fim de promover e contribuir para o desenvolvimento sustentável nacional.

No mesmo ano, no Brasil, é aprovada a Lei de crimes ambientais do Brasil – Lei N° 9.605/98, que é considerada uma legislação ambiental que visa principalmente à proteção ao meio ambiente. As penas agora têm uniformização e gradação adequadas e as infrações são claramente definidas. Foi visto como um enorme avanço, considerando que anteriormente à esta lei, não havia classificação dos crimes ambientais, e muitas vezes a antiga lei era muito vaga para sequer efetivar uma punição frente à crimes ambientais. (O ECO, 2014) Este também foi o ano em que a temperatura do oceano Pacífico subiu 4°Celsius formando o fenômeno atmosférico-oceânico El Niño, em que a um nível mundial, afeta os regimes de chuva em regiões tropicais e de latitudes médias. (CPTEC Apud DE OLIVEIRA, 2001)

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1999 – Bonn, Alemanha – COP 5

Foi marcada por discussões técnicas sobre mecanismos a serem criados para que o Protocolo de Kyoto pudesse ser seguido.

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2000 – Haia, Holanda – COP 6

Aqui, a proposta dos Estados Unidos de incluir áreas de agricultura e de floresta como sequestradoras de carbono (regiões que diminuem a quantidade de gás carbônico da atmosfera) foi o foco das discussões. O objetivo dos norte-americanos era negociar uma forma de eliminar os gases poluentes da atmosfera, sem reduzir muito as emissões. Nesta os participantes não chegaram a um consenso sobre quais sanções deveriam ser aplicadas aos países que descumprissem suas metas. Todos concordaram em se reunir extraordinariamente em uma nova data em julho de 2001. Neste ano foram estabelecidos os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) pela ONU, que incluía oito objetivos de combate à problemas que desaceleram o desenvolvimento humano global (pobreza e doenças) a ser alcançados até o final de 2015. Desde então, para garantir uma vida com dignidade, houveram progressos significativos ao observar que a pobreza global continua diminuindo; mais crianças do que nunca estão frequentando a escola primária; mortes infantis caíram drasticamente; o acesso a água potável expandiu significativamente; as metas de investimento para combater a malária, a aids e a tuberculose salvaram milhões de pessoas. Estes objetivos fizeram um real impacto na vida das pessoas, e esse progresso pode ser replicados em todos os países. (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, 2016)

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2001 – Bonn, Alemanha – COP 6,5

Os participantes se reencontraram novamente, depois de seis meses, com poucas expectativas de atingir um bom resultado nas negociações. Os Estados Unidos, então sob o comando do presidente George W.

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Bush, rejeitaram definitivamente o Protocolo de Kyoto e participaram das negociações somente como observadores. Apesar das baixas expectativas, os países alcançaram acordos em várias questões importantes, como a extensão de florestas e outras regiões sequestradoras de carbono, que seriam incluídas na contagem para a redução dos gases do efeito estufa. Também foram definidos os princípios para as sanções a países que descumprissem as metas e os mecanismos que transferem a obrigação de redução de um país para outro, em troca de compensação financeira. Nesta COP é divulgado o relatório de grande impacto, no qual fica cada vez mais evidente a interferência do homem nas mudanças climáticas.

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2001 – Marrakech, Marrocos – COP 7

No final do segundo semestre de 2001, os participantes se reuniram novamente para a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima anual. As negociações sobre o Protocolo de Kyoto estavam quase completas e os resultados foram compilados em um documento chamado de Acordos de Marrakech. Nesta conferência decide-se iniciar o consórcio de créditos de carbono. A Rio+10 – cujo nome oficial foi Cúpula Mundial sobre o Desenvolvimento Sustentável – ocorreu na cidade de Johanesburgo, na África do Sul, no ano de 2002, e contou com a presença de representantes de 189 países. Os principais tópicos dessa cúpula foram a afirmação da questão do desenvolvimento sustentável com base no uso e conservação dos recursos naturais renováveis, e a reafirmação dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM), proclamados dois anos antes pela ONU. Contudo, foi nesta conferência, que aumentaram as críticas sobre a falta de resultados concretos em prol da preservação ambiental e a posição de muitos países no sentido de não abandonarem suas ambições políticas em benefício da

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conservação dos recursos. Nesse sentido, a maior parte das acusações por parte de ONGs e ativistas ambientais foram direcionadas aos países desenvolvidos sobre a falta de perspectivas no combate às desigualdades sociais. No Brasil, em 2002, há a regulamentação da Lei nº 9795/99 e do Órgão Gestor da Política Nacional de Educação Ambiental, que definem as bases para a sua execução. Aqui, fica explícito que a educação ambiental é ainda muito inconsistente no ambiente político, dependendo dos interesses.

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2002 – Nova Déli, Índia – COP 8

Os integrantes da União Europeia, sob o comando da Dinamarca, tentaram sem sucesso, obter mais comprometimento e ação dos países. Pedem ações mais objetivas para a redução das emissões. Os países entram em acordo sobre as regras do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL).

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2003– Milão, Itália – COP 9

O foco da convenção foi resolver os últimos detalhes técnicos a respeito do Protocolo de Kyoto. Aprofundam-se nas diferenças entre os países industrializados e o resto do mundo. Uma forte onda de calor toma conta do continente europeu, elevando as temperaturas a níveis recordes e provocando mortes e incêndios florestais. Foi o verão mais quente de que se tem registro na Europa.

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2004 – Buenos Aires, Argentina – COP 10

Na décima Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança

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do Clima, os países começaram a discutir o que aconteceria quando a vigência do Protocolo de Kyoto chegasse ao fim, em 2012. As discussões técnicas também continuaram.

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2005 –Montreal, Canadá – COP 11/CMP

Esta foi a primeira convenção depois que o Protocolo de Kyoto entrou em vigor. Assim, além do encontro anual dos países participantes do Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, foi realizado também a conferência entre os países do Protocolo de Kyoto (que tem sigla CMP). As nações que ratificaram a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, mas que não aceitaram o Protocolo de Kyoto ficaram como observadores da CMP. O foco das duas convenções foi o que fazer depois que o Protocolo expirasse, em 2012. Durante os anos, Brasil, China e Índia tornaram-se emissores importantes. É proposto pelo Brasil a negociação em dois trilhos: um pós-Kyoto e outro, paralelo, entre os grandes emissores, incluindo os Estados Unidos. Entra em vigor o Protocolo de Kyoto, ratificado por 141 países. Os EUA anunciam um plano de redução de emissão de gases poluentes através do desenvolvimento de novas tecnologias. Esse plano foi assinado pela Austrália, Japão, China. Índia e Coréia do Sul.

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2006 – Nairóbi, Quênia – COP 12/CMP 2

Nesta reunião, foram discutidas as últimas questões técnicas a respeito do Protocolo de Kyoto. O trabalho de chegar a um novo acordo sobre o que fazer depois que o Protocolo expirar em 2012, continuou. O Brasil apresenta a proposta de um mecanismo de incentivos financeiros para a manutenção das florestas, o REDD (Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação). Usa se exemplo, com a Lei de Gestão de Florestas Públicas (112084/2006) que regula a gestão das florestas

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brasileiras em áreas públicas, criando o Serviço Florestal Brasileiro. O Relatório Stern, do economista britânico Nicholas Stern, gerou grande impacto mundial ao afirmar que com um investimento de apenas 1% do PIB Mundial se pode evitar a perda de 20% do mesmo PIB num prazo de 50 anos.

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2007 – Bali, Indonésia – COP 13/CMP 3

Os países conseguiram avançar em um acordo para substituir o Protocolo de Kyoto. Primeiro, com o reconhecimento do então recémlançado documento do IPCC (Intergovernmental Panel on Climate Change–IPCC) que trouxe conclusões definitivas sobre os sinais de aquecimento global. Depois, com a produção de um novo texto, que pedia ações mais rápidas para reduzir as emissões de gases do efeito estufa. Por fim, foi aprovada a adoção do Plano de Ação de Bali, que estabeleceu o cenário para as negociações da 15ª Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima em Copenhague, na Dinamarca, em 2009. É criado o Mapa do Caminho, com cinco pilares de discussão para facilitar a assinatura de um compromisso internacional em Copenhague: visão compartilhada, mitigação, adaptação, transferência de tecnologia e suporte financeiro. Ficou acertada a criação de um fundo de recursos para os países em desenvolvimento e as Ações de Mitigação Nacionalmente Adequadas (Namas).

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2008 – Poznan, Polônia – COP 14/CMP 4

Continuaram a trabalhar em um novo acordo para ser discutido em Copenhague. A mudança de governo nos Estados Unidos foi a marca da reunião, que discutiu soluções antecipadas pelo novo presidente,

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Barack Obama. Os países alcançaram um consenso sobre o programa de trabalho e o plano de ação para a convenção de Copenhague e sobre como funcionaria o Fundo de Adaptação, que serve para apoiar mudanças concretas nos países menos desenvolvidos. O Brasil lança o Plano Nacional sobre Mudança do Clima (PNMC), incluindo metas para a redução do desmatamento. E apresenta o Fundo Amazônia, iniciativa para captar recursos para projetos de combate ao desmatamento e de promoção da conservação e uso sustentável na região.

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2009 – Copenhague, Dinamarca – COP 15

O encontro teve a participação dos países frequentadores e de empresas, organizações não-governamentais, especialistas, órgãos das Nações Unidas, agências especializadas, Banco Mundial e entidades internacionais interessadas no assunto. Teve a participação do maior número de chefes de Estado e governo da história dos encontros internacionais com agenda ambiental, desde a Rio-92. A expectativa era de que os países desenvolvidos e industrializados assumissem metas para reduzir, até 2020, entre 25% e 40% das emissões. Essa porcentagem comparada ao nível de poluição medido em 1990. Pelo que foi estabelecido no acordo vigente, o Protocolo de Kyoto, essas nações deveriam cortar, até 2012, cerca de 5% de suas emissões. Não chegaram a um consenso sobre um novo instrumento legal e vinculante para limitar as emissões de gases de efeito estufa e enfrentar o aquecimento do planeta.

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2010 – Cancún, México – COP 16

Este ano, a conferência chegou ao fim com uma série de acordos fechados. Um deles foi a criação do Fundo Verde do Clima, para administrar o

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dinheiro que os países desenvolvidos se comprometeram a contribuir para deter as mudanças climáticas. São previstos US$ 30 bilhões para o período 2010-2012 e mais US$ 100 bilhões anuais a partir de 2020.

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2011 – Durban, na África do Sul – COP 17

O Protocolo de Kyoto (cujo prazo expiraria ao final de 2012) foi estendido de 2013 a 2017. Foi prevista a criação de um novo protocolo para combater as mudanças climáticas. Assim, teve como objetivo a formação de um grupo de trabalho para conduzir a criação desse instrumento, que deve ser concluído em 2015. Já a implementação do novo documento ficaria para 2020. O possível novo acordo deve levar em conta recomendações do novo relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), ainda por ser lançado. É estimado que as avaliações científicas sobre as medidas para conter o aquecimento global devam ser mais severas. Procurou adiantar a operacionalização do “Fundo Verde”, que busca disponibilizar recursos para os países mais vulneráveis às mudanças climáticas combaterem e se adaptarem as consequências do problema. Na concepção de boa parte dos grupos ambientalistas, o resultado em Durban foi muito pior do que o esperado. “Conduzidos pelos Estados Unidos, os países desenvolvidos renegaram as suas promessas, enfraqueceram as regras sobre ações climáticas e fortaleceram aqueles que permitem às suas corporações lucrarem com a crise do clima”, criticou Sarah-Jayne Clifton, da organização Amigos da Terra Internacional. (REDAÇÃO ECODESENVOLVIMENTO, 2012)

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2012 – Doha, Catar – COP 18

A conferência terminou com o tratado de Kyoto renovado até 2020.

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Este é o único acordo que compromete os países desenvolvidos com a redução dos gases de efeito estufa. Mas agora o grupo de países comprometidos ficou reduzido a 36 países. Juntos, eles respondem por apenas cerca de 15% do total de emissões de gases estufa de todo o mundo. A frase a seguir exemplifica o que aconteceu “Queríamos mais. Acreditamos que é necessário mais. Mas também acreditamos que uma Conferência que garantiu o segundo período do Protocolo de Kyoto é, por definição, um sucesso”, Izabella Teixeira, ministra do Meio Ambiente do Brasil. (REDAÇÃO ECODESENVOLVIMENTO, 2012) Com a realização na cidade do Rio de Janeiro, novamente dez anos depois, em 2012, a Rio+20 (Conferência da ONU sobre o Desenvolvimento Sustentável) reuniu um total de 193 representantes de países que realizaram uma avaliação das políticas ambientais até então adotadas e produziram um documento final intitulado O futuro que queremos, onde reafirmam uma série de compromissos pertinentes à agenda global. No entanto, a falta de clareza e objetividade, além de não estabelecerem metas concretas para que os países reduzam a emissão de poluentes e preservem ou reconstituam suas áreas naturais, gerou uma certa dúvida sobre sua eficácia.

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2013 – Vasróvia, Polônia – COP 19

Os principais resultados estimados desta COP, eram de fechar uma série de acordos em temas sensíveis na agenda de negociação internacional do clima. Os temas mais importantes da agenda de Varsóvia foram: a Plataforma de Durban (ADP), o regime de compensação por perdas e danos, o financiamento climático e pagamento por emissão reduzida com o combate ao desmatamento e à degradação florestal (REDD+).

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Apenas o último avançou consideravelmente na COP 19. Acreditava-se na possibilidade que esta conseguisse avançar na questão do financiamento. Ou seja, as ambiciosas metas de financiamento apresentadas na COP 15 (Copenhague, 2009) pelo Green Climate Fund (GCF), estão longe de serem atingidas. O que acabou evidenciando também o quão problemático está o diálogo sobre o tema entre os negociadores que dão pequena margem para manobras de negociação. Existia também alguma expectativa de avanço na construção de um regime internacional de compensação por perdas e danos associados às mudanças do clima para países em desenvolvimento. No entanto, novamente os resultados apresentados dentro destes temas pelos negociadores em Varsóvia não atingiram as expectativas. Também era esperado que na negociação desta reunião, para o futuro acordo climático global que sucederia o Protocolo de Kyoto, chamada Plataforma de Durban (ADP), definisse os pontos estratégicos para o novo acordo, a fim de orientar as negociações nas próximas COPs. Um avanço notável que Varsóvia deixou para o enfrentamento das mudanças climáticas, que pode ser considerada o principal resultado político, foi a definição de regras para o acordo REDD+ 8. (TOLEDO, 2015)

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2014 – Lima, Peru – COP 20

A COP 20 começou com um rascunho de propostas para o acordo, quando foi apresentado um novo texto de negociação. Apesar de dados apresentados em relatórios, que alegam que o custo de adaptação às mudanças climáticas em países em desenvolvimento provavelmente irá aumentar, os países desenvolvidos ainda insistiram em deixar adaptação e financiamento de fora das contribuições nacionais. O desenho do novo acordo climático ainda se mostra com lacunas importantes para se preencher. Um dos avanços significativos foi o anúncio que os países, que juntos

8 REDD+ é um acordo em torno de regras para pagamento por esforços de redução de emissão decorrentes de ações contra o desmatamento e degradação florestal. As negociações em torno desse tema se arrastavam há sete anos. Este acordo foi aprovado, acompanhado por compromissos de financiamento em torno dos US$ 280 milhões por parte dos Estados Unidos, Alemanha, Noruega e Reino Unido. O mecanismo de REDD+ existia dentro da UNFCC desde a COP 16 (Cancun, 2010), mas não possuía nenhuma orientação que articulasse as ações nesse tema. A decisão aprovada estabelece o “pagamento por resultados”, incentivando os países desenvolvidos a colaborem com esforços de combate ao desmatamento em países em desenvolvimento, como foi o caso do acordo ente Brasil e Noruega em 2010, que se comprometeu a depositar cerca de US$ 1 bilhão para o Fundo Amazônia.

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correspondem à mais de 50% de emissões mundiais (Estados Unidos, China e a União Europeia), comprometeram-se com a redução. Neste encontro são feitas sugestões, de todos os participantes, a fim de contribuir com a elaboração do novo acordo. O Brasil propôs a chamada, Diferenciação Concêntrica, e sugeria a aplicação de nova metodologia específica para cada grupo de países, para o acordo climático. Teve boa aceitação entre as delegações e serviu como um pontapé inicial para um processo mais focado na negociação do texto. Como André Nahur (Coordenador do Programa de Mudanças Climáticas e Energia do WWF-Brasil) comenta, “embora as negociações tenham começado com sinais políticos importantes, a discussão ainda está longe de terminar, pois há uma lacuna de emissões de gases de efeito estufa (GEE) que deve ser eliminada urgentemente antes de 2020”. Assim ainda há metas importantes a serem levadas em consideração. (WWF-Brasil, 2014) Neste ano, anteriormente à COP20, os representantes de mais de 200 países se reuniram em Bonn (Alemanha), a im de preparar o terreno de negociações do novo acordo climático global. Mesmo com objetivos relativamente ambiciosos na agenda, demostrou evidentes dificuldades recorrentes nas últimas duas décadas que ainda persistem e ameaçam o futuro do processo diplomático no âmbito das Nações Unidas. Ao invés de focarem nas bases para apoiar as discussões em Lima, muitos negociadores expressaram maior preocupação em revisar questões procedimentais dentro das negociações. Ou seja, as divergências políticas que quase paralisaram as conversas na COP19 persistiram em Bonn. Mais tarde neste ano, mas ainda anterior à COP 20, em Nova Iorque os chefes de Estado de 125 países participaram da Cúpula do Clima da Organização das Nações Unidas (ONU) com a intenção de descreverem suas políticas e reafirmarem compromisso no

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próximo evento (COP 20). (TOLEDO, 2014) No encontro, os debates giraram em torno dos temas de costume como os possíveis conflitos entre as demandas por preservação ambiental e livre comércio, ou ainda a origem dos fundos que financiarão a adaptação à mudança climática nas porções mais pobres do globo. Porém o objetivo principal da cúpula foi para a assinatura da Declaração de Nova York sobre florestas, que visa zerar o desmatamento até 2030. Como o documento não fazia distinção entre desmatamentos ilegais e legais o Brasil não foi um dos signatários, mesmo com a crítica de grupos ambientalistas. Por outro lado, o Brasil destacou o caráter multifacetado do desenvolvimento sustentável, pois demonstra os desafios da sustentabilidade urbana, ressaltando a preocupação do estado em dissociar as negociações climáticas de um segmento específico da sociedade. Em conclusão, a noção de confiança depositada na capacidade do mercado de limitar as emissões de GEE é semelhante à crença de que o livre comércio auxiliará na adaptação à mudança climática. Esta adaptação deverá ser revisada em seu método de atuação dos estados para contribuir com a redução das mudanças climáticas. (EQUIPE PONTES, 2014)

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2015 – Paris, França – COP 21

O novo acordo global que busca combater os efeitos das mudanças climáticas, bem como reduzir as emissões de gases de efeito estufa, foi efetivado no documento chamado de Acordo de Paris. E foi ratificado pelas 195 partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC) e pela União Europeia. A reunião recordou a decisão a criação do Grupo de Trabalho Ad Hoc sobre a Plataforma de Durban para a Ação Reforçada, e também as pertinentes decisões da Conferência das Partes. Parabeniza a adoção da resolução da Assembleia Geral das Nações Unidas, “Transformando Nosso Mundo: a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável”, como um importante

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papel no avanço do acordo sustentável global. As partes, no acordo, reconhecem que as mudanças climáticas representam uma ameaça urgente e potencialmente irreversível para as sociedades humanas e para o planeta. Com isso, contam com a cooperação de todos os países, e de sua participação, numa resposta internacional eficaz e apropriada, com vista a acelerar a redução das emissões globais de gases de efeito estufa. Reconhecem ainda que serão necessárias reduções profundas nas emissões globais, a fim de alcançar o objetivo final da Convenção, e enfatizando a necessidade no combate às mudanças climáticas, por ser uma preocupação comum da humanidade. Destaca que é urgente acelerar a implementação da Convenção e seu Protocolo de Kyoto, a fim de ampliar a ambição pré-2020. Para isso é necessário melhorar o apoio financeiro, tecnológico e de desenvolvimento de capacidades pelos países desenvolvidos para os em desenvolvimento. Com isso o documento determina, no que diz respeito ao financiamento climático, que os países desenvolvidos deverão investir em medidas de combate à mudança do clima e adaptação em países em desenvolvimento. Determina também, que as Partes deverão, ao tomar medidas para combater as mudanças climáticas, respeitar, promover e considerar suas respectivas obrigações em matéria de direitos humanos, o direito à saúde, o direito ao desenvolvimento. Um ponto interessante é que o acordo visa atender a necessidade de promover o acesso universal à energia sustentável em países em desenvolvimento, particularmente na África, por meio da implantação reforçada das energias renováveis. É importante também, o que determinou, ao concordar em defender e promover a cooperação regional e internacional de modo a mobilizar a ação climática mais forte e mais ambiciosa de todos os interessados, incluindo a sociedade civil, o setor privado, as instituições financeiras,

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cidades e outras autoridades subnacionais, comunidades locais e povos indígenas. (ONU-BR, 2015) Como vimos nas discussões da COP21, em setembro do mesmo ano, os países adotaram um conjunto de metas como parte de uma nova agenda de desenvolvimento sustentável. Funciona como um plano de ação para que os que constituem a organização social mundial: os governos, o setor privado e a sociedade civil. Para que estes atuem em parceria e fortaleçam o combate aos desafios globais, indispensável para o desenvolvimento sustentável. Cada meta engloba ações específicas a serem alcançadas nos próximos 15 anos. Com isso desenvolveram os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e as 169 metas que foram construídos sobre o legado dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, e busca concluir o que estes não conseguiram alcançar. Estes objetivos também buscam concretizar os direitos humanos de todos. Por fim, estes são integrados e indivisíveis, e equilibram as três dimensões do desenvolvimento sustentável: a econômica, a social e a ambiental. (Organização das Nações Unidas ONU-BR, 2016) Destes 17 objetivos mencionados, os de número 09 (Construir infraestruturas resilientes, promover a industrialização inclusiva e sustentável e fomentar a inovação) e de numero 11 (Tornar as cidades e os assentamentos humanos inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis), despertam uma noção de que as cidades globais devem se adequar à parâmetros de desenvolvimento sustentável. Em conclusão deste pensamento global sobre o desenvolvimento, que buscou evidenciar as necessidades de mudança na configuração atual, devido à quantidade de poluição emitida no setor das indústrias, é demonstrado a partir de mapas dos alarmantes efeitos no mundo a partir de emissões de dióxido de carbono.

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Figura 02 Fonte: The Carbon Map, editado e traduzido pela autora.

Mapa de consumo e de emissão de CO2 Podemos ver os países que tem aumentado seu crescimento nas emissões de carbono e que também consomem muito (China e Ásia em geral). Também é possível observar países que não emitem, mas consomem (União Europeia). No Brasil, por exemplo, tivemos um aumento significativo nas emissões de carbono, mas não consumimos muito. Neste mapa visualizamos a real situação sobre a emissão de gases (CO2) no mundo atual. É para tentar mudar este quadro de desigualdade entre os países consumidores / emissores de gases, que

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as reuniões e conferências são realizadas desde 1972 em Estocolmo. Neste capítulo vimos que o avanço do conhecimento científico e das técnicas de estudo do meio natural, em conjunto do desenvolvimento da ecologia, fez com que a consciência sobre as mudanças climáticas, em função do aumento de emissões de CO2, aumentasse e despertasse na população e nos novos planos de governo, um movimento frente a estas recentes problemáticas. Muitos cientistas apontaram os efeitos danosos da evolução das sociedades no sistema capitalista, e quando esta área de conhecimento foi difundida, contribuiu para elevar o número de adeptos do pensamento da necessidade de mudança nos meios de produção e consumo. Demostraram a importância em relação à redução de emissões de carbono e da poluição em geral, e que poderão causar mudanças climáticas que não são só indesejadas, mas que podem causar catástrofes inimagináveis. Entre estas, enchentes, secas e tempestades são alguns exemplos dos efeitos das alterações ambientais, além do alarmante aumento do nível dos oceanos. Aqui tratou-se de mostrar como, globalmente, as nações estão em busca de um futuro menos poluente. Com isso foram evidenciadas as dificuldades em tratar de mudança em setores de organização do desenvolvimento da sociedade capitalista. Como as indústrias, empresas e governos são os responsáveis por tomarem medidas para a redução e substituírem o uso de combustíveis fósseis por novas tecnologias energéticas, além de fiscalizar, conscientizar, criar projetos e afins, foi necessário introduzir um novo esforço coletivo entre os diversos agentes. Este diálogo conjunto entre os agentes ainda não se estabeleceu de maneira concreta e positiva, mas faz-se muito necessária. Esta síntese geral global procurou mostrar que as questões politicas frente aos problemas ambientais são de caráter complexo, que envolve não só o financiamento em si, mas também as relações econômicas industriais que movem a economia mundial. Além disso,

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exige a inter-relação dos países desenvolvidos, que por si só acarreta debates e posições adversas, mas com os países em desenvolvimento também, que necessitam do auxílio técnico-financeiro para atingirem as mudanças acordadas pelo movimento. Esta relação internacional direta para atingir os mesmos objetivos é tarefa árdua de debate com o apoio de profissionais de diversos campos. Para este trabalho, o entendimento desta ação global nos leva a pensar que ao projetar uma cidade, ou uma intervenção urbana num segmento da cidade existente, para sua reestruturação e readequação do seu espaço, é necessário levar em consideração o que está se pensando para o futuro global, ou seja, para o futuro das cidades também. Portanto a intervenção arquitetônica e urbana tem caráter de longo prazo, considerando que hoje se constrói um espaço, que tem que atender as demandas da cidade e da sociedade em constante mutação, para durar mais cem anos no mínimo. Assim, entende-se que uma cidade que contribui para a auto suficiência energética e alimentícia, é uma cidade que está alinhada aos pensamentos globais de sustentabilidade urbana e desenvolvimento sustentável.

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2.3 Sobre cidades sustentáveis

Diagrama esquemático de consumo de energia e produção de resíduos

A sobrevivência da sociedade sempre dependeu da manutenção do equilíbrio entre as variáveis de população, recursos naturais e meio ambiente. O desleixo para com este princípio foi desastroso e as consequências, fatais para antigas civilizações. Da mesma forma, estamos sujeitos às leis de controle de sobrevivência. Entretanto, somos os primeiros a constituir uma civilização global e, portanto, os primeiros que enfrentam, simultaneamente, a expansão da população a nível mundial, a destruição dos recursos naturais e do meio ambiente. (ROGERS, 2001. p.3)

É pertinente dizer que as cidades são o grande desafio estratégico para o planeta neste momento, e que é necessário reinventá-las para um desenvolvimento sustentável. Conforme Leite (2012) a pauta de ‘Cidade do século XXI’ é abordada ao redor do planeta, em todos os países, pois um planeta urbano, saudável, depende do funcionamento equilibrado do todo. O quadro (figura 03) demonstra o caráter urgente na

Figura 03 Fonte: Leite, 2012, editado pela autora.

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mudança no planejamento das cidades metropolitanas, pois hoje elas são palco para um processo de esgotamento hídrico e consumo exagerado de recursos naturais. Este fato foi proveniente do crescimento desenfreado da população que vive em cidades desde 1900 até hoje (figura 04). Conforme Rogers (2001) o crescimento da população urbana e os padrões ineficientes de moradia estão contribuindo para o aumento da taxa de poluição e erosão. Rogers (2001) também aponta a ironia ao constatar que o próprio habitat da humanidade é

Figura 04 Fonte: ROGERS, 2001, p.4, editada pela autora.

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o maior agente destruidor do ecossistema e a maior ameaça para a sobrevivência da humanidade no planeta. Assim complementa que em nenhum outro lugar a implantação do desenvolvimento sustentável é mais necessário e benéfico do que nas cidades. As cidades, conforme Rogers (2001), abrigam as oportunidades de emprego e riqueza e garantem a estrutura física necessária para uma comunidade urbana. Ao longo dos anos, as cidades se transformaram em estruturas tão complexas e difíceis de administrar que perderam o foco da sua essência de satisfazer as necessidades humanas e sociais das comunidades. Gráfico do crescimento da população mundial.


Assim Rogers (2001) conclui que há uma necessidade de criar novos conceitos de planejamento urbano para reintegrar as responsabilidades sociais nas cidades. Um problema vigente na construção de nosso habitat urbano continua sendo a dominação das forças do mercado e um influente agente financeiro. Assim o resultado se dá na produção de espaços caóticos e territórios divididos, fechados e impermeáveis. “A cidade é uma complexa e mutante matriz de atividades humanas e efeitos ambientais.” (MORENO, 2001. p.85) Segundo Moreno (2001) o ecologista Herbert Girardet imaginava que as cidades eram como ‘metabolismos’ circulares onde se reduz o consumo ao implementar maior eficiência e maximizar a reutilização dos recursos. Moreno (2001) salienta que segundo José Chacon de Assis9 em seu decálogo de princípios que, orientam e dispõem de diretrizes para atingir a estimada cidade auto

sustentável: o 1° – Aplicação da eco-arquitetura, com o objetivo de atingir a eficiência energética, o bom uso dos materiais, a adaptação à paisagem natural, o reaproveitamento de patrimônio histórico e se integrar à condições climáticas da região. o 2° – Uma cidade que provê a saúde e o saneamento, garantindo o suprimento de água de qualidade, um destino ideal para os resíduos sólidos, e promover o tratamento de esgoto com métodos de infraestrutura verde. o 3° – Uma cidade auto sustentável, para Assis, deve suprir a necessidade de transportes coletivos não-poluentes, como ferroviário e ciclo-viário. o 4° – Proteção e conservação de águas e mananciais. Para isso, deve-se proteger os cursos d’água em sua forma natural e resguardar a mata ciliar, podendo transformar o espaço das margens e promover um múltiplo uso. o 5° – Utilizar de fonte alternativa e renovável de energia, onde pretende-se aproveitar todas as tecnologias possíveis de implantação para depender de diversas fontes ao invés de uma só. o 6° – Complementando o anterior, é necessário conservar energia de forma

9 O engenheiro eletricista José Chacon de Assis atua em questões sociais e ambientais há mais de 40 anos. É autor do livro “Brasil 21Uma Nova Ética para o Desenvolvimento”, que aborda o tema do desenvolvimento sustentável e ainda, ao longo de muitos anos, escreveu inúmeros artigos para jornais e revistas de todo o país (a maioria sobre questões de sustentabilidade sócio ambiental), que acabaram resumidos em um novo livro: Brasil Cidadão.

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a otimizar a geração de produtos, diminuir desperdícios domésticos e aumentar a eficiência energética em todos os aspectos das relações urbanas. o 7° – Estabelecer uma agricultura ecológica e local, promovendo a piscicultura e o ecoturismo, até como alternativas econômicas viáveis. o 8° – Aplicar fins sustentáveis para os produtos e dejetos, considerando o ciclo de vida dos produtos, em todos os processos provenientes na produção e mais tarde nos impactos ambientais. o 9° – Promover a conscientização e educação ambiental, abrangente e integrado a outras disciplinas para incentivar a manutenção e continuação do desenvolvimento sustentável nas cidades. o 10° – Incentivar o respeito à biodiversidade, tanto ao recuperar florestas e margens de rios com vegetação nativa, quanto ao aplicar a biotecnologia de modo sustentável.

Este guia para uma cidade auto sustentável exige que, para

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que sua execução seja fiel ao estimado, é necessário a atuação de diversos profissionais, arquitetos e planejadores, além de técnicos de sistemas. Com isso observamos que a necessidade de práticas de desenvolvimento sustentável se mostram cada vez mais claras. Não apenas em função do crescimento populacional nas cidade mas também devido com o que isso resultou: em um ciclo de consumo de energia desenfreado e com um produção de resíduos de tamanha quantidade que não se sabe o que fazer. Uma vez que grande parte da produção e do consumo se concentra nas cidades, com o atual processo de produção linear que acaba gerando poluição, este deve ser substituído pelo sistema circular de uso e reutilização (figura 05). Estes processo tem a capacidade de aumentar a eficiência do núcleo urbano, reduzindo seu impacto ao meio ambiente. Para isto, as cidades devem ser planejadas para administrar o uso dos recursos, por meio de nova forma de planejamento urbano, holístico e abrangente. (ROGERS, 2001) O campo da construção e arquitetura compreende grande parte da responsabilidade de redesenhar os espaços e sistemas que servirão como


Diagrama do sistema urbano de metabolismo linear e circular

Figura 05 Fonte: ROGERS, 2001, p.31, editada pela autora.

solução para muito dos problemas ambientais. Cabe à investigação arquitetônica, com o auxílio dos avanços tecnológicos, sugerir novas propostas de espaços sistêmicos para se viver e trabalhar, com o intuito de promover a otimização de energia, alimentos, habitações, comércios e empregos no mesmo espaço. Se houver um contínuo movimento em remover barreiras para permitir meios sustentáveis e aplicar tecnologias apropriadas, é possível um futuro sustentável. A maioria dos impasses para um futuro sustentável não são tecnológicos, mas sim, baseados no receio, tanto econômico, junto aos grandes empresários e donos de indústrias, quanto social, junto à população. Rogers (2001) observa que as próprias cidades deveriam ser vistas como um sistema ecológico, traduzido no planejamento das

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cidades e no gerenciamento do uso dos recursos. Comenta também que não haverá cidade sustentável, no ponto de vista ambiental, até que a ecologia urbana, a economia e a sociologia sejam fatores presentes no planejamento urbano. Assim, no sistema de cidade compacta e sobreposta, que o autor objetiva, há uma complexidade que rejeita o modelo de divisão por zonas mono-funcionais e de predominância do transporte automotivo individual. Para o conceito de Rogers (2001), as cidades densas, por meio de um planejamento integrado, tendo em vista um aumento na sua eficiência energética, um menor consumo de recursos, um menor nível de poluição e ainda evitando o espraiamento urbano, é o modelo contemporâneo para as cidades sustentáveis. As cidades compactas propostas, criam uma rede de vizinhanças, que acomodam diversidade e atividades publicas e

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Imagem de auxílio para a visualização do conceito de núcleo compacto

Figura 06 Fonte: ROGERS, 2001, p.39, editada pela autora.


privadas sobrepostas. Outro fator importante deste modelo é que o trabalho e outros serviços ficam ao alcance da comunidade, significando a diminuição dos deslocamentos motorizados individuais. Assim estas cidades compactas sustentáveis criam uma estrutura urbana flexível para uma comunidade forte, dentro de um ambiente saudável. A figura 06 demonstra que os núcleos compactos de uso misto reduzem as necessidades de deslocamentos e criam bairros sustentáveis e cheios de vitalidade. Além disso, demonstra a possibilidade de criar núcleos compactos e unidos por transportes de massa em resposta às demandas locais. Neste sistema compacto, se busca fazer a geração de energia, próximo - ou no local, e com isso dividir o uso da mesma com as múltiplas atividades sobrepostas. Além disso, esta geração visa reciclar e utilizar de estações combinadas de calor para queimar o lixo, gerando energia de calor, diminuindo o consumo de energia público.

Como Rogers (2001) comenta, há cidades Norte Americanas que conseguiram um grau de eficiência de 70% na reciclagem do lixo urbano; aqui o lixo deve ser visto como um recurso a ser aproveitado. Cidades sustentáveis são, necessariamente, compactas, densas. Como se sabe, maiores densidades urbanas representam menor consumo de energia per capita. [...]as cidades mais densas da Europa e da Ásia são hoje modelos na importante competição internacional entre as global green cities, justamente pelas suas altas densidades, otimizando as infraestruturas e propiciando ambientes de maior qualidade de vida promovida pela sobreposição de usos. (LEITE, 2012, p.13)

Assim, para Leite (2012), dentro da nova rede de fluxos mundial e de processos inovadores, parece evidente qual deve ser o papel das metrópoles. O potencial do território central rejeitado é imenso e pode ser reestruturado produtivamente, na nova economia, se planejado estrategicamente. Reciclar e reestruturar o território produtivamente é algo que se busca no planejamento estratégico metropolitano a fim de impulsionar as atividades econômicas, vinculadas à vocação do local. Assim, aliados às políticas de desenvolvimento econômico e urbano

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com a gestão urbana eficiente, atinge-se uma vitalidade do tecido urbano, promovendo o desejável re-desenvolvimento urbano sustentável. (Leite, 2012) Para atingir uma cidade sustentável é necessário transformá-la em uma rede estratégica de núcleos policêntricos compactos e densos, otimizando infraestruturas e abrindo novas áreas verdes. Os projetos urbanos que visam uma cidade sustentável devem dar ferramentas para que a regeneração urbana e o re-desenvolvimento destes territórios ocorra. Leite (2012) complementa, que as cidades são elemento-chave para o desenvolvimento sustentável global e que enfrentam um grande desafio:

Um dos desafios para a promoção das cidades sustentáveis está na mobilidade urbana. O reequacionamento da mobilidade nas cidades passa necessariamente pela reinvenção concomitante dos modelos de transporte público e individual. (LEITE, 2012)

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Cada vez mais o conceito

de cidade sustentável está entrelaçado com a qualidade e oferta de mobilidade no espaço urbano. Esta deve dotar seus fluxos com opções de mobilidade, a fim de permitir flexibilidade inovadora no deslocamento urbano. Frente às características de cidade sustentável aqui demonstradas, a cidade de Copenhague na Dinamarca é considerada um exemplo. Esta, no que diz respeito aos setores de energia, mobilidade e gestão de resíduos, apresenta eficiência admirável. É conhecida pelo foco em mobilidade sustentável, pois 40% da população dinamarquesa se locomove de bicicleta todos os dias. Os transportes públicos são movidos à bateria elétrica, e além disso a cidade desde 1970, se tornou pioneira na energia eólica. Hoje conta com um fazenda eólica instalada no mar que produz quase 20% da energia gerada na Dinamarca. Não investiu apenas na energia eólica, pois atualmente, 33% da energia é produzida por fontes renováveis, embora o objetivo seja de 50% para 2020. (ALTARES, 2015) A cidade também se destacou no ano de 2009 quando foi implementado o Plano de Gestão de Resíduos da prefeitura para destinar corretamente a demanda de lixo produzido por cada habitante. (PENSAMENTO VERDE, 2013) Com isso,


a cidade já foi vencedora de diversos prêmios internacionais para um desenvolvimento sustentável. Mais para frente neste trabalho nos estudos de caso, será possível uma maior aproximação e entendimento da cidade de Copenhague. Masdar city, a cidade planejada pelo estúdio de arquitetura Foster + Partners no meio do deserto, com metas de emissão nula de gases do efeito estufa e de reaproveitamento integral dos resíduos gerados, também pode ser colocada como um exemplo de urbanidade criada a partir de princípios de desenvolvimento urbano sustentável. A base para alcançar esses objetivos sustentáveis, neste caso, é a utilização em massa da tecnologia de ponta, tanto no planejamento da cidade quanto na geração de energia, mobilidade e construções. Conforme Leite (2012) o alto desempenho atingido, se contrapõe pela dificuldade de replicação do modelo que se tornou custoso e tem a necessidade de implantação em

áreas com condições específicas. Leite (2012) também comenta sobre Dongtan Eco-City que é uma das novas ‘eco-friendly-smart-hightech carbonneutral-city’ sendo desenvolvidas a altos custos para uma privilegiada população de 500 mil habitantes no interior da China. Leite (2012) conta que para atingir um desenvolvimento sustentável das cidades deve-se contemplar uma agenda estratégica para o século XXI, devendo incorporar os seguintes tópicos, a fim de atingir os objetivos esperados para o futuro das cidades: o Uma nova economia com um mercado socialmente responsável e ambientalmente sustentável; o Visão ampla de superação do modelo individualista e imediatista; o Novo padrão de relação social corporativa, com um relacionamento horizontal eco-operativo; o Novos indicadores do progresso humano, menos economicistas, como o IDH, metas do milênio, pegada ecológica, índices de sustentabilidade; Por fim, Rogers (2001) também coloca em tópicos as características que, para o seu conceito de cidade sustentável, deve conter:

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o Cidade justa: gestão participativa e direito à vida para todos. o Cidade bela: onde a arquitetura da paisagem toca o espírito. o Cidade criativa: onde tem visão aberta e facilmente mutável o Cidade ecológica: onde o impacto ambiental é minimizado, e onde o espaço construído versus paisagem natural estão em equilíbrio. o Cidade fácil: onde o espaço público estimula a mobilidade e a informação é universal o Cidade compacta e policêntrica: limita a expansão territorial e integra as comunidades próximas e maximizam a interação. o Cidade diversificada: onde muitas atividades diferentes geram vitalidade e estimulam vida pública essencial. Assim podemos concluir que a cidade sustentável é baseada no modelo de desenvolvimento urbano que promove altas densidades misturando funções urbanas, e que para isso requalifica

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o espaço a partir do planejamento de readequação urbana. Estes espaços das cidades a serem transformados devem ser considerados em relação a formas de implantação adequadas, paisagem visualmente equilibrada e a implantação de uma diversidade de usos compatíveis com o espaço.


2.4 Sobre os conceitos Após o recorte aqui apresentado sobre o tema da sustentabilidade e de cidades sustentáveis, está destacado a seguir o que será utilizado como ferramentas teóricas no processo projetual, a fim de atingir um espaço urbano sustentável. Estas são um conjunto de conceitos que se sobressaíram na temática de desenvolvimento sustentável das cidades, e então identificados como necessários para serem utilizados na elaboração do projeto de intervenção urbana. Pelo fato do critério utilizado para esta seleção ser de caráter não restritivo, os conceitos aqui destacados são desde conceitos de abrangência pontual até de grande escala, além de terem enfoques diferenciados no que se diz respeito à tipologia de ferramenta para um desenvolvimento sustentável. Vale comentar que na pesquisa bibliográfica foram

observados muitos outros conceitos que apresentavam importância na temática, mas que em algum aspecto, seja por ter menor capacidade de adaptação para a realidade brasileira, seja por terem características conflituosas com outros conceitos selecionados, foram desconsiderados nesta seleção. Muitas vezes estes conceitos estão atrelados uns aos outros, pois suas teorias se correlacionam. Podem até fazer parte da mesma linha de pensamento de planejamento urbano, mas independente disto, foram estudados um a um separadamente. Isto se dá, pois a intenção neste momento é de sistematizar as informações destes, formando um glossário temático a fim de servir de base na fundamentação e na determinação do programa do projeto de intervenção urbana deste trabalho. É fundamental mencionar que o conjunto dos conceitos selecionados é que vão permitir a construção de uma cidade com ideais sustentáveis. Os conceitos sozinhos aplicados em um espaço urbano não necessariamente proporcionarão a qualidade de um espaço sustentável almejado.

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Reestruturação dos vazios urbanos Os vazios urbanos em questão, são constituídos por área sem limites claros e sem uso atual que normalmente representa rupturas no tecido urbano. São reconhecidos por Leite (2012) como fraturas urbanas que possuem área disponível repleta de expectativas acompanhadas de sua memória urbana. Estes são verdadeiros espaços residuais que surgiram a partir do processo de mudança do modo de produção do modelo capitalista. Antes as cidades tinham grandes porções do seu território com ativo uso industrial. Mas conforme dito, as indústrias passam a serem ‘expulsas’ do território metropolitano, tanto por aumento de taxas fiscais, como também pelo aumento da restrição de atividade industrial poluente na cidade. O resultado foi a criação de grandes cicatrizes urbanas, que sobraram com a degradação urbana e falta de atividade produtiva na região. São espaços residuais, que passaram por um processo de deterioração. Hoje o único uso ativo (do entorno) é a passagem de veículos, que transitam sem o mínimo de relação com estes espaços. Estes vazios urbanos são palco ideal para as recorrentes mutações urbanas. Na cidade de São Paulo ainda existem muitos espaços residuais como por exemplo a Moóca, a Barra Funda e uma enorme área na zona sul de São Paulo.

Cluster urbano (de inovação e de tecnologia) Este conceito foi pensado como uma nova estratégia produtiva na economia do século XXI. Este modelo é reconhecido como instrumento de ação nos espaços das cidades. Leite (2012) conta que a estratégia do cluster urbano é pautada em criar centros produtivos especializados em serviços avançados. Este tema é discutido por diversos autores, e assim como o termo sustentabilidade é difícil a sua definição única. Com isso, possui uma extensa

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lista de rótulos para designa-lo, como Tecnópolis, cidade da ciência e o mais comum no Brasil, o parque tecnológico, entre outros. Os clusters são capazes de alavancar os processos de regeneração urbana de áreas em transformação produtiva, como elementos-chave na geração de novas funções do espaço urbano. A regeneração urbana aqui estimada vai propor funções ao território, e não apenas organiza-lo espacialmente. A principal preocupação na sua elaboração é gerar uma estrutura econômica capaz de atrair continuamente investimentos empresariais. Assim, como Leite (2012) explica, o primeiro passo para promover a implantação de um cluster é a identificação de quais tipologias de aglomerações produtivas são compatíveis com o potencial existente do local. Os clusters de alta tecnologia vão assumir um papel evidente no cenário econômico. Assim, podem ser considerados uma reinterpretação dos polos de desenvolvimento. Este promove uma concentração geográfica de empresas e instituições interconectadas em torno de um determinado setor e concebe um espaço dotado de infraestrutura especializada condizente à temática produtiva ali estabelecida. (Porter, 1998. Apud Leite, 2012) A transformação produtiva aqui proposta é dependente das suas relações de inovação informacional e à nova tipologia tecnológica. É considerado que os caminhos de atuação são conjuntos entre o poder publico e a inciativa privada, no que diz respeito ao desenvolvimento industrial local e a politica de incentivo à qualificação de pequenas e medias empresas. Este modelo é um meio promissor que visa constituir e incentivar o desenvolvimento de aglomerados especializados nas cidades. Este sistema mostrou um poder inovador na sua capacidade de desenvolvimento local, transformando os parques tecnológicos em zonas de urbanização indutora de estratégias de promoção econômica. O meio mais inovador dos clusters tem como objetivo induzir um crescimento industrial com a atração de novas empresas de alta tecnologia em um espaço urbano privilegiado. Este sistema inovador se estabelece a partir do resultado de inciativas governamentais. Assim, como finalidade, pretende propiciar alianças

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10 O termo cidade real aqui utilizado funciona para enfatizar a discrepância que estes espaços produtivos (clusters urbanos), que apresentam características morfológicas de cidade empresarial, com o cenário existente do local de inserção.

estratégicas e neutralizar limitações referentes às consequências negativas do novo paradigma econômico. Para efetivar a consolidação destes espaços a ação do governo é fundamental. Estas estratégias devem ser objeto de política publica, onde dispõem de ferramentas tais como de incentivos fiscais e do oferecimento de instalações e infraestruturas produtivas a fim de atrair a preferência do mercado empresarial naquela área. (LEITE, 2012) Por fim, é necessário, para uma não monofuncionalidade do espaço criado, o estabelecimento de uma concepção espacial dispersa em meio aos outros usos da cidade, buscando o equilíbrio entre as atividades econômicas e urbanas. Este equilíbrio é fator essencial para uma relação com a cidade no entorno do espaço estabelecido, pois caso contrário pode se criar uma ilha urbana isolada da cidade real10. No Brasil hoje temos um exemplo da aplicação deste conceito em uma política pública na cidade de Recife em Pernambuco, chamada de Porto Digital. A missão foi inserir Pernambuco no cenário tecnológico e inovador do mundo. A sua implementação contou com recursos do governo do estado com a infraestrutura necessária. Foi criado o Núcleo de Gestão do Porto Digital (NGPD), associação civil sem fins lucrativos, qualificada como Organização Social (OS), para implantar o modelo de governança e os projetos estruturadores. Além de desenvolver projetos de capacitação para jovens e profissionais das empresas localizadas no território do parque tecnológico, fornece ferramentas para promover a inclusão social da comunidade em seu entorno.(PORTODIGITAL, 2016) Para os planejadores o projeto, após os 16 anos de implementação, representa sucesso. Mais de 250 mil empresas estão estabelecidas no local e este processo de ocupação estimulou a instalação de serviços variados como centros de capacitação, casa de recepção, dezenas de restaurantes, cinema, teatro e institutos de artes. Um dos fatores para este sucesso, foi a regulamentação que reduz 60% da cobrança no Imposto sobre Serviços (ISS), além de permitir até 15 anos de isenção no Imposto Predial e Territorial Urbano

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(IPTU) para as empresas que ocuparem e assumirem a responsabilidade pela conservação de construções do Recife Antigo. Como resultado muitos casarões abandonados têm sido restaurados e adequados para receber empresas modernas. Assim, mesmo quem critica a falta de incentivo para moradias reconhece que o Porto Digital devolveu, aos poucos, a vitalidade ao Recife Antigo. Aos domingos, carros não circulam e as ruas se transformam em um centro de lazer com espetáculos ao ar livre, feira de artesanato e espaço para ciclistas, skatistas e patinadores.(GAZETA DO POVO, 2014) Área do parque tecnológico Porto Digital

Figura 07 e 08 Fonte: PORTO DIGITAL, 2016.

Reestruturação produtiva e territorial O modelo em pauta, foi pensado como resposta à crise econômica mundial de 1970 com a queda na produtividade industrial e consistiu na reorganização do sistema e dos processos produtivos e na reorganização dos sistemas de gestão. (LEITE, 2012) Para alcançar outras alternativas de recursos e forças de trabalho, as empresas passaram a separar as diversas funções de produção que não dependem necessariamente da proximidade uma das outras, possibilitando a sua realocação em lugares diferentes. Muitas atividades produtivas, além de alguns serviços, foram sendo transferidos para diferentes localizações pelo

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mundo. Leite (2012) explica que nesta nova fase do capitalismo, o surgimento dos setores de produção flexível e o processo de internacionalização são concomitantes ao processos de reestruturação tecnológica e de transformação estruturais. Dão inicio a uma nova fase da globalização econômica, proporcionando o desenvolvimento das chamadas opções de serviços. Esta reorganização do processo produtivo aparece como solução à crise estrutural do capital. Além do especial interesse no crescimento do emprego no setor de serviços, outra característica importante é o aumento da mobilidade do capital e da força de trabalho para alcançar todos os mercados. A política de governo para a sustentabilidade tem que conter medidas para estimular aqueles setores que efetivamente adicionem valor, contribuindo para reestruturar uma área em degradação. Claro, a identificação de tais setores exige mais investigação. (CAVALCANTI, 1999, p.35) A analise do desenvolvimento urbano com base no processo de reestruturação produtiva deve contemplar as mudanças no mercado de trabalho e a redefinição do papel das cidades, que aparecem agora também como um empreendimento. Passa a ser necessária a adoção de novas formas de planejamento e gestão urbanos como o chamado marketing de cidades e embelezamento, os projetos de regeneração urbana de centros históricos. (LEITE, 2012) Os autores como Manuel Castells, Peter Hall e Saskia Sassen, conforme Leite (2012), desenvolveram seus estudos e trabalhos acerca dos impactos dos processos de informação da economia no território e na organização das cidades. Hall na sua teoria de redes, acredita na criação de um sistema urbano de hierarquias, formado por setores de produção global que se baseiam em pontos nodais locais que também atuam globalmente. Leite (2012) explica que na busca por maiores níveis de produtividade, este tipo de estratégia urbana é o meio pelo qual as cidades buscam se inserir novamente na economia mundial. A tão almejada produtividade depende essencialmente de três condições, sendo estas a conectividades, a inovação e a flexibilidade institucional.

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Como mencionado, este conceito só funciona a favor de uma cidade com desenvolvimento sustentável, se atrelado aos outros conceitos expostos. Caso contrário, pode resultar em grandes conflitos territoriais, ocasionando o oposto do esperado para este trabalho.

Economia verde e circular Ao discutir a reestruturação de cidades e desenvolvimento sustentável, é impossível não tratar do desenvolvimento econômico que avança em conjunto às cidades. A economia mundial vive, desde o fim dos anos 1970, uma crescente mudança de paradigma, caminhando rapidamente da tradicional produção, majoritariamente industrial, fordista, para um sistema em que os serviços predominam. (LEITE, 2012, p.69)

Com o novo pensar dos espaços e meio de desenvolvimento, se estabelece um novo meio econômico também. Esta nova economia vai visar um mercado socialmente responsável e ambientalmente sustentável. Como são mudanças que estão acontecendo nos processos atuais de desenvolvimento sustentável, esta nova economia (verde) ainda não tem definição unânime. Os sistemas produtivos dos serviços, avançam aceleradamente, adotando contínuas inovações, tanto para aperfeiçoar os serviços conhecidos, quanto para a criação de novos serviços inovadores relacionados à produção digital. A questão levantada por este conceito é que, o que é produzido hoje está baseado na mesma forma que produzíamos no inicio da revolução industrial: Extraindo recursos naturais que demoram milhões de anos para serem gerados na natureza (petróleo, madeira, minério, entre outros), transformando os recursos em matérias primas e posteriormente desenvolvendo produtos que são vendidos e consumidos. Em termos gerais é esse o processo desde a Revolução Industrial: A Economia Linear (Extrair, produzir, descartar). (WISEWASTE, 2016) Então diferente do antigo modelo econômico impulsionado pela sociedade

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11 Termo em inglês que significa “cadeia de suprimentos” ou “cadeia logística”, na tradução para o português. Consiste num conceito que abrange todo o processo logístico de determinado produto ou serviço, desde a sua matéria-prima (fabricação) até a sua entrega ao consumidor final.

de consumo de bens, a economia criativa (circular), sugere que baseado no conhecimento, as inovações e tecnologias impulsionarão o desenvolvimento econômico alinhado ao desenvolvimento urbano consciente. Isto é, quando se projeta um espaço no qual irá constar uma série de usos comerciais, a economia criativa adota o espaço e usufrui da diversidade de pessoas para inovar no serviço e no produto que oferece. É um movimento a favor da circularidade, da simbiose entre os ecossistemas exatamente como a natureza nos ensina todos os dias. Uma economia onde o resíduo de um ecossistema é matéria-prima para outro. (WISEWASTE, 2016) Outra maneira de expor este conceito, é que o ato de desperdiçar não ocorre só com o lixo, assim visa usar recursos renováveis ou recicláveis na cadeia produtiva e com isso criar um sistema circular de supply chain11. É um conceito associado a uma extensão da vida útil dos materiais pelo processo de reutilização inteligente. A economia verde ou ecológica (BEGOSSI, 1999) compreende o conceito de capital natural e o capital cultural. O capital natural inclui o capital gerado por recursos não-renováveis, recursos renováveis e serviços ambientais, estes então se referem ao capital produzido pelo homem. Já o capital cultural é proveniente dos meios e adaptações da sociedade humana, que ao interagir, modificam o ambiente. Um problema que tende a acontecer com esta reestruturação econômica, resultante do processo de globalização, é o fato que a riqueza econômica tente a se concentrar em áreas específicas. Com isso acaba gerando ilhas territoriais, o que não contribui muito para atingir um futuro sustentável. (LEITE, 2012) Porém, este efeito de concentração territorial só acontece quando a implementação deste conceito não está associada a um planejamento urbano de ocupação equilibrada do espaço urbano. Hoje já existem exemplos de startups e micro empresas que adotam o sistema de economia circular, além de outras empresas de maior porte. Este é um modelo que apesar de ser pensado essencialmente para os processos produtivos industriais, pode ser adotado em qualquer situação de fabricação

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de algum produto.

Shrinking cities movement e Smart Growth – O movimento para o encolhimento urbano e o crescimento inteligente Este conceito está atrelado ao planejamento do encolhimento urbano, que as cidades americanas tem testado. Conforme Leite (2012) com este planejamento, estas cidades estão conseguindo atingir uma diminuição dos territórios urbanos, e estão implementando áreas verdes onde o uso urbano ficou obsoleto. Como está ocorrendo a diminuição populacional natural, devido ao envelhecimento da população em algumas cidades desenvolvidas dos Estados Unidos, estas aproveitaram para promover um planejamento verde nas áreas que se deterioraram e ficaram sem uso. Assim aumentam a possibilidade da inovação e reinvenção das cidades. Em contraponto, o movimento Smart Growth, ou o crescimento inteligente, há algumas décadas vem buscando promover cidades mais compactas. Primeiramente a ideia básica deste movimento questiona o porque de não repovoar os espaços das cidades que entraram em declínio econômico e populacional. Isso tem como objetivo reaproveitar as infraestruturas urbanas e edificações habitacionais existentes, ajudando ainda para promover a recuperação de patrimônio histórico e cultural. Foi observado que estes modelos reconfiguram o espaço urbano que sofreu um esvaziamento, e dão novo significado para a área, focando nos residentes atuais, buscando renovar a sensação de pertencimento destes. As cidades como Buffalo, Cleveland e Detroit são exemplos onde o numero da população residente acabou sendo reduzida em aproximadamente 50% em 50 anos. Nos espaços urbanos desocupados, as cidades promoveram um movimento de green demolition, demolindo o existente para gerar novos parques e espaços verdes. Richard Bucci12, descreveu este processo como

12 Anterior Prefeito de Binghamton no estado de Nova York, EUA.

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uma adição urbana através da subtração, ou seja, ao subtrair as estruturas degradadas da cidades, adiciona à cidade espaços verdes públicos de qualidade, reorganizando aquele espaço urbano inicialmente carente de atrativos.

Cradle to Cradle Teoria originalmente desenvolvida pelo arquiteto e designer americano William McDonough e pelo químico alemão Michael Braungart em sua publicação Cradle to Cradle: Remaking a Way We Make Things em 2002. (LEITE, 2012) Buscaram demostrar que a maioria dos materiais que reciclamos, vai apenas ser convertido para uma menor utilização, mas que o seu fim será, independentemente do esforço de reciclar, um aterro ou incinerador. Como mencionado antes, o papel da indústria e sua mudança no sistemático processo produtivo é essencial para que, em conjunto com a sociedade civil e a construção urbana, atinjam-se resultados reais para um mundo menos poluente. Assim esta abordagem “modela a indústria humana sobre os processos da natureza em que os materiais são considerados como os nutrientes que circulam no metabolismo saudável.” (LEITE, 2012, p.34) Os propulsores do conceito, propõem que a indústria tem um papel de proteger e enriquecer os ecossistemas e o metabolismo biológico da natureza. Para isto, deveriam adotar um metabolismo produtivo com técnicas sistemas e materiais que gerem zero desperdício. Este é inspirado na natureza (movimento cíclico), promovendo um ciclo fechado de produção sem desperdício criando um ciclo de vida continuo tanto para a indústria e seu objetivo econômico quanto para a natureza. A mudança do processo produtivo industrial o torna mais complexo e inteligente, pois utiliza poucos recursos finitos e usa mais os artificiais. Muitas vezes abreviado para C2C (de berço a berço, ou de inicio a inicio) é um modelo, que não necessariamente é apenas aplicado para o processo industrial, mas pode ser reproduzido em muitos aspectos da sociedade

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contemporânea, como nos ambientes urbanos, edifícios, economia e sistemas sociais.

Tipologias arquitetônicas replicáveis O canadense Bruce Mau criador do Instituto Sem Fronteiras, fala que o design pode ser repensado para uma produção em massa, que foca em um ideal mais coletivo, inteligente e estratégico. Conforme Leite (2012), Bruce Mau, pensando nos problemas sociais, sugere que o design massivo pode ser uma resposta tipológica na arquitetura social. Se um modelo for estrategicamente desenvolvido, pode ser replicado inúmeras vezes, podendo gerar uma visão mais democrática na habitação. O projeto para o concurso internacional Elemental de Moradia PréFabricada, realizado pelos escritórios de arquitetura SPBR e GRUPOSP Arquitetos, é uma boa referencia arquitetônica alinhada ao pensamento de minimização dos materiais e processos. Ao criarem uma única estrutura préfabricada que funciona como laje e parede, compondo o espaço interno da habitação, as únicas ações em obra, fora a instalação das peças pré-moldadas, são a movimentação da terra e montagem de estrutura de fundação + pilares. O resultado do projeto é um conjunto habitacional realizado em tempo recorde, com resíduos de materiais quase nulos. Com isso vimos que a ideia de pré-fabricação como elemento construtivo da arquitetura, otimiza não só os materiais gastos na produção do edifício como também em tempo e energia. Estes são fatores atraentes ao conceito de cidade sustentável, pois nesta pode-se buscar todos os mecanismos possíveis para atingir resultados mesmo que misturados e sobrepostos uns aos outros. Para a construção de edificações habitacionais neste estudo de cidade é possível especular ou pela pré-fabricação de peças, ou pela sua fabricação por moldes in loco. É necessário se atentar à qualidade arquitetônica em relação ao conforto térmico-acústico, insolação, iluminação e ventilação natural. Isso,

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pois este sistema pode gerar dificuldade para atender à escala humana com qualidade. Ainda assim é considerado um bom exemplo de possibilidade de modulação, verticalização e aproveitamento do espaço. Imagem do processo de construção instalação do módulo préfabricado

Figura 09 Fonte: Website SPBR

Arquitetura auto sustentável Este conceito geral, é que quando se aplica conceitos sustentáveis em um sistema (um edifício), a rede ( o conjunto de edifícios = cidade) se torna um sistema muito mais fluído e funcional. A ideia de fomentar a arquitetura auto sustentável no espaço irá contribuir para que os objetivos de eficiência ecológica/climática se multipliquem.

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É claro que a ideia de edifícios coletores, que captam energia do sol e vento, não é nova. Novas, no entanto, são as possibilidades técnicas (tornadas factíveis pelos últimos avanços para o armazenamento de hidrogênio) capazes de realizar um arquitetura mais ‘generosa’, que absorve e conserva mais energia do que precisa, podendo assim abastecer seu entorno. Também é nova a responsabilidade individual que inverte a relação entre a natureza e a cidade, concebendo e construindo uma nova geração de arquitetura. (BOERI, 2014, p.444)13

Com Boeri vimos que a arquitetura sustentável pode não só suprir as necessidades energéticas pontuais do edifício, mas que esta em conjunto, resulta em uma geração de arquitetura consciente que influencia as pessoas ao despertar na sociedade o hábito da cultura sustentável. A arquitetura tem o poder de, se dotada de espaços específicos, proliferar ações produtivas, como o cultivo de hortaliças. Esta, implantada numa cidade que visa suprir as suas próprias necessidades, vai buscar se enquadrar aos meios de vida do cidadão, inclusive no âmbito alimentício. Além de tudo, para atender os novos usos estimulados pela apropriação do espaço, vai buscar prover energia suficiente propiciando mais espaços de uso comunitário. Dentro deste e do próximo tema é valido mencionar a contribuição dos estudos da Permacultura que é um conceito diretamente ligado à sustentabilidade. Este foi criado na década de 70, pelos ecologistas australianos Bill Mollison e David Holmgren, quando tiveram a ideia de criar sistemas de planejamento em escala humana baseados na harmonia com a natureza.

Infraestrutura verde A infraestrutura verde engloba uma série de tecnologias e tipologias de projeto aplicados nos espaços livres, e que juntas geram um sistema conectado que se auto alimenta. Isso é percebido como parte de uma estratégia de implantação de espaços abertos urbanos, paisagisticamente tratados para serem muito mais do que meras ações de embelezamento urbano, mas também para desempenharem funções infra-estruturais relacionadas ao manejo das águas urbanas, conforto ambiental, biodiversidade, alternativas de circulação, acessibilidades e imagem local. (CORMIER; PELLEGRINO, 2008)

13 Texto Cinco desafios ecológicos para a cidade contemporânea, publicado no livro Urbanismo Ecológico organizado por Mohsen Mostafavi e Gareth Doherty.

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A abordagem desta estrutura é de incorporar funções aos espaços abertos urbanos, ao aplicar tecnologias de alto desempenho. A função dado ao espaço é a própria função que a natureza deu, de escoamento e de absorção da água da chuva, mas com o modelo rodoviarista que provocou a impermeabilização de toda a cidade, ficou difícil para o próprio solo exercer sua função previamente determinada. Este conceito é um resgate ao papel da malha viária, considerando que seu espaço é livre e que espaços livres deveriam ser permeáveis para maximizar a absorção da água na cidade, também para dar lugar para ocupar e aproveitar o espaço da quadra. Assim este conceito de projeto paisagístico, na escala do planejamento urbano, é composta de áreas naturais e outros tipos de espaços abertos que constituem uma rede infra-estrutural integrada em quase todas as paisagens urbanas. Na escala regional essa rede de espaços é composta de parques, corredores verdes e espaços naturais preservados. Esses espaços livres tradicionais podem ser a base para um sistema de infra-estrutura verde. Corte esquemático do jardim de chuva

Figura 10 Fonte: OLIVEIRA, Tarsila; GIAQUINTO, Joana L.; FRAZÃO Daniel M. de M. As melhores Práticas de Estágio na PMSP. 2013

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As tipologias de projetos paisagísticos de infraestrutura verde, compreendem os jardins de chuva, canteiros pluviais, biovaletas, a lagoa pluvial, o teto verde, a cisterna e as grades verdes. Os sistemas naturais oferecem valiosos serviços ecológicos para as cidades: o abastecimento de água, o tratamento das águas pluviais, a melhoria do microclima, a diminuição da concentração de carbono, o controle ambiental, a regulação climática, a recreação e o lazer, provendo uma ampla gama de benefícios para a sociedade. A aplicação criativa de sistemas naturais serve para atender aos desafios de readequação da infra-estrutura urbana já implantada, voltando a atenção à drenagem e à qualidade da água. Por fim, este conceito é essencial pensando em um conjunto sustentável e é parte significativa na construção da paisagem urbana de qualidade.

Educação e Consciência Ambiental O conceito de educação ambiental é algo que normalmente não é pensado junto ao planejamento da cidade. Porém, a cidade que estamos buscando alcançar não se assemelha ao que normalmente vimos no cotidiano das cidades. Claro que apenas isso não é justificativa para julgar este conceito como indispensável ferramenta da cidade sustentável: A educação ambiental como formação de cidadania ou como exercício de cidadania tem a ver, portanto, com uma nova maneira de encarar a relação homem/natureza. O conceito de natureza passou a incluir os seres humanos que são, em essência, seres sociais e históricos, e o conceito de homem passou a incluir a natureza biofísica. É por isso que se fala atualmente na necessidade de construir uma nova relação homem/ natureza ou até um novo contrato entre os dois, já que, na verdade, ambos pertencem a uma mesma entidade ontológica. (LEONARDI, 1999, p.398) 14

14 Capítulo 23 do livro Meio ambiente, Desenvolvimento sustentável e Políticas Públicas organizado por Clóvis Cavalcanti.

Com isso vimos que o homem deveria ter relação direta com a natureza no seu cotidiano e não só isso, mas como também deveria exercer a função de cidadão para com a cidade. É com o fomento da prática da educação Os conceitos de cidade sustentável | 73


ambiental no espaço que se cria a sensação de pertencimento e de cuidado com o espaço em que se vive.

2.5 O cunho social da cidade sustentável A sustentabilidade, como foi previamente levantado, é sustentada por três pilares: o econômico, o social e o ecológico. Com isso em mente, é no ambiente urbano que as diferenças sociais ficam evidentes com as tendências de segregação social, desigualdades no acesso a serviços urbanos e insegurança. Assim, conforme mencionado, os conceitos coletados, muitas vezes se explorados de maneira individual no espaço urbano, podem não apresentar o resultado esperado. O que foi observado após o estudo destes conceitos individualmente, é que o equilíbrio e funcionamento de cada esfera destes, é fundamental para o que se deseja para este espaço. Neste momento é tentador relacionar as deficiências de inter-

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relação entre os órgãos dos poderes executivos pelo mesmo motivo: muitas vezes esforços unidos realizam mais feitos do que esforços separados. O mesmo pode ser associado com a estrutura do mercado de maneira linear. Porém estes temas são extremamente complexos e não cabe o aprofundamento destes neste momento. Portanto, o que é necessário ressaltar, é que as relações entre os pilares da sustentabilidade, além do uso conjunto dos conceitos destacados, são fundamentais para atingir o projeto estimado. Com isso em mente, é evidente que há uma disputa na conquista do espaço urbano e que o agente econômico tem mais poder na hora de se estabelecer espacialmente. Este fato faz com que as camadas sociais que não tem o mesmo poder financeiro, terminem por ocupar as periferias urbanas, espaços de caráter informal e com falta de infraestrutura. A cidade de São Paulo ao longo do tempo sofreu um esvaziamento do centro, sendo que uma das consequências resultou em edifícios desocupados, em uma área de dotada de infraestrutura urbana, e por sua vez consequente aumento da expansão de ocupação informal nas periferias. A população de baixa renda, sem conseguir se adequar às


Mapas comparativos entre os dados de 1997 e o estimado para 2020 Figura 11 Fonte: Cenรกrios futuros - Secretaria dos Transportes Metropolitanos

Os conceitos de cidade sustentรกvel | 75


exigências formais do aluguel nas áreas centrais, teve que buscar um imóvel cada vez mais distante do centro (muitas vezes provenientes de loteamento irregular em área ocupada) e que se adapte às limitações formais e econômicas, (também muitas vezes informal) para suprir a sua necessidade habitacional. A falta do aparato social para a população em situação informal impede que esta resida na cidade formal, gerando uma ineficiente utilização dos recursos urbanos. O estado falhou no trabalho de reverter a situação com o planejamento público. O resultado deste errôneo processo urbano, é um descabido mau uso do solo: áreas dotadas de infraestrutura subutilizadas e áreas de fragilidade ambiental com alta densidade populacional gerando um possível mau direcionamento de resíduos. Os mapas apresentados (figura 11) mostram que desde 1997 os locais na cidade que tem maior oferta de trabalho não estão associados aos locais onde a densidade populacional

76 | Os conceitos de cidade sustentável

é maior. Assim pode-se concluir que este modelo de crescimento, onde as relações entre trabalho e moradia não existem espacialmente, não favorecem uma otimização dos espaços urbanos, bem como seus deslocamentos e infraestruturas viárias e de transporte. Desta forma, ao evidenciar este fator, o projeto de intervenção urbana proposto neste trabalho, busca propor mais dinâmicas entre os usos em um só espaço. A gestão da cidade demonstrou o despreparo em suprir as necessidades da população urbana, onde o déficit habitacional é de 582 mil moradias (IBGE; PNAD; FJP; CEI, 2012) na região metropolitana de São Paulo. Por consequência, o desenvolvimento da cidade mostrou complexas questões sociais. Tendo em vista as problemáticas sócioespaciais de São Paulo (um exemplo de muitas cidades brasileiras), um projeto que visa uma cidade sustentável vai tentar promover uma cidade mais justa para o conjunto da sociedade. Considerando o conceito de direito à cidade, um desafio deste projeto é conciliar o cunho social das cidades com as premissas de cidade sustentável. Superando formas clássicas de organização, novas redes mobilizam a sociedade, articulando cidadãos antes isolados, e lançam outros jeitos de construir desejos coletivos. De diferentes maneiras, recuperase o vigor utópico, elemento indispensável para o renascimento do urbanismo. (BONDUKI, 2011)




3. OS CONCEITOS

EM MEIO A NOSSA REALIDADE URBANA


3. OS CONCEITOS EM MEIO A NOSSA REALIDADE URBANA “Desde 2007 o mundo presencia uma realidade nova, historicamente radical: há mais gente nas cidades do que no campo. Atualmente, somos mais de 50%, e até 2050 seremos mais de 75%.” (LEITE, 2012) A cidade mais do que nunca é o palco das trocas, das interações sociais, culturais e econômicas. Porém neste processo de espraiamento urbano, vem-se somando à cidade a situação dos espaços informais. “As megacidades dos países em desenvolvimento vêm sofrendo um processo de favelização progressiva.” (LEITE, 2012) Uma das características da explosão urbana contemporânea é 80 | Os Conceitos em meio a nossa realidade urbana

a grande desigualdade na distribuição de renda e de oportunidades econômicas. É necessário levar em consideração a presente demanda pelo direito à cidade com qualidade. Leite coloca: “O dado é estarrecedor: a população mundial que vive em favelas cresce a uma taxa de 25% ao ano” (2012). Moreno (2002) fala que a lei do Estatuto da Cidade de 2001, por sua vez, trouxe diretrizes gerais para uma política de desenvolvimento social das cidades, apontando para o direito à cidades sustentáveis, entendido como o direito à terra urbana, moradia, saneamento ambiental, infraestrutura urbana, transporte coletivo e serviços púbicos de qualidade. Também define que nas cidades são necessários a adoção de padrões de produção e consumo de bens e serviços de expansão urbana, compatíveis com os limites da sustentabilidade ambiental, social e econômica em sua área de influência. Esta reforça a aplicação de gestão democrática da cidade, prevendo instrumentos como políticas urbanas em diversas instâncias de governo, audiências e consultas públicas e iniciativa popular em projeto de lei e de planos, programas e projetos de desenvolvimento urbano,


como meios pertinentes para os novos modelos de intervenção urbana. Moreno (2002) fala também que para os planejadores e políticos, há um claro desafio na criação de políticas que gerem um equilíbrio social. E que para arquitetos e urbanistas, a tarefa é de complementar e criar locais que promovam a interação humana, e não a separação de grupos sociais diferentes.

de São Paulo. Para atingir esses objetivos é necessário combater a terra ociosa, que não cumpre a função social, orientar o crescimento da cidade nas proximidades do transporte público, qualificar a vida urbana na escala de bairro e promover o desenvolvimento econômico na cidade. A criação da Macroárea de Estruturação Metropolitana define um

3.1 Plano Diretor O plano diretor estratégico da cidade de São Paulo, aprovado no ano de 2014, busca, conforme a Gestão Urbana da Secretaria do Desenvolvimento Urbano desta cidade, uma aproximação do emprego e moradia, e reequilibrar as problemáticas sócio-espaciais da cidade para os cidadãos. Na criação do novo PDE o principal objetivo, conforme a Gestão Urbana, foi humanizar e reequilibrar a cidade

Mapa de marcoáreas do plano Diretor de São Paulo Figura 12 Fonte: Prefeitura de São Paulo - PDE

Os Conceitos em meio a nossa realidade urbana | 81


da cidade de São Paulo com os demais municípios da metrópole. Este espaço foi destinado a projetos específicos que tem como um dos principais objetivos requalificar os espaços públicos reaproximando a cidade das suas águas. A cidade está incentivando a construção de edifícios de uso misto com fachadas ativas que dêem vida aos espaços públicos da cidade, ao longo dos eixos de transporte coletivo. (GESTÃO URBANA, 2016). Para chegar a estas delimitações das áreas, o Plano Diretor realizou estudos em relação às oportunidades vigentes na cidade. Os locais que tendem a apresentar oportunidades e vulnerabilidades foram pontuados. Neste mapa (figura 13) é possível observar que na área de intervenção há maior nível de oportunidades, e que o território a sudoeste apresenta maior nível de vulnerabilidade social. Este fato é interessante, pois o projeto pretende trazer uma aproximação da população com vulnerabilidade para as oportunidades e criar um espaço onde pode haver empregos e moradias.

82 | Os Conceitos em meio a nossa realidade urbana

Mapa de oportunidades e vulnerabilidade de São Paulo Figura 13 Fonte: Prefeitura de São Paulo - PDE


NOROESTE

AVENIDA CUPECÊ

ARCO LESTE FARIA LIMA, ÁGUA

ESPRAIADA, CHUCRI ZAIDAN CENTRO

MACROZONA DE ESTRUTURAÇÃO E QUALIFICAÇÃO

ARCO TIETÊ

URBANA

ARCO PINHEIROS

MACROZONA DE PROTEÇÃO E RECUPERAÇÃO

ARCO TAMANDUATEÍ

AMBIENTAL

ARCO JURUBATUBA

FERNÃO DIAS

ARCO JACU PÊSSEGO N

N 0

2km

5

10

20 km

0

2km

5

10

20 km

ESCALA GRÁFICA

ESCALA GRÁFICA

Mapa da macrozona de São Paulo Figura 14 Fonte: Prefeitura de São Paulo - PDE

As análises urbanas realizadas, se mostram importantes para entender quais as definições e mecanismos de hoje para o futuro da cidade.

Mapa dos setores da macroárea de esruturação metropolitana de São Paulo Figura 15 Fonte: Prefeitura de São Paulo - PDE

Os Conceitos em meio a nossa realidade urbana | 83


3.2 Zoneamento A Lei de Zoneamento, a nova Lei de Parcelamento, Uso e Ocupação do Solo (LPUOS), teve sua revisão sancionada neste ano. Esta revisão buscou normatizar a ação pública e privada sobre as formas de uso do solo da cidade e trouxe avanços significativos para que todo o processo de desenvolvimento urbano ocorra de acordo com as estratégias do PDE. De acordo com o mapa, o local de intervenção se encontra em uma área predominantemente industrial, conforme a lei nº 16.402, de 22 de março de 2016 no artigo 14°. As Zonas Predominantemente Industriais (ZPI) são porções do território destinadas à implantação e manutenção de usos não residenciais diversificados e não estimula novos usos residenciais. Assim mesmo, este trabalho vai questionar os parâmetros da lei atual. Isto, porque a investigação de cidade sustentável segue outros parâmetros e preceitos

sobre o que é mais favorável para a cidade. Além disso, levando em consideração que a dinâmica de desenvolvimento da metrópole que é São Paulo está em exacerbada transformação, por mais que recém revisada, alguns aspectos da lei podem não condizer com o que aquele espaço vai significar em um futuro próximo. Ainda assim, entendendo que o local tem um caráter econômico para a região e para a cidade, não se pretende acabar com os usos locais, mas sim requalificá-los frente ao estudo dos conceitos da cidade sustentável. A real mudança, levando em conta a legislação vigente, é da inserção de um denso uso habitacional, equilibrado com as funções econômicas da área.

Novo zoneamento de São Paulo Figura 16 Fonte: Prefeitura de São Paulo - PDE

84 | Os Conceitos em meio a nossa realidade urbana


ZONAS LINHA

ZPI - 1 (Zona Predominantemente Industrial 1) ZPI - 2 (Zona Predominantemente

CINCO

METRÔ

LILÁS

Industrial 2) ZDE - 1 (Zona de Desenvolvimento

ESCADARIA

Econômico 1) ZDE - 2 (Zona de Desenvolvimento Econômico 2)

ZC (Zona de Centralidade) ZCa (Zona de Centralidade Ambiental) ZC - ZEIS (Zona de Centralidade lindeira à ZEIS)

ZCOR - 1 (Zona Corredor 1) CASTRO

ZCOR - 2 (Zona Corredor 2) ZCOR - 3 (Zona Corredor 3) ZCOR a (Zona Corredor Ambiental)

ZM (Zona Mista) N

ZMa (Zona Mista Ambiental)

ESCALA GRÁFICA 0

50m

10m

250m

100m

500m

ZMIS (Zona Mista de Interesse Social) M.

C.P.T.

ZMISa (Zona Mista de Interesse Social Ambiental) ZEIS 1,2,3,4 E 5

LINHA

ZEU (Zona Eixo de Estruturação da

(METRÔ)

LILÁS

CINCO FAVELA

Transformação Urbana)

LINHA FAVELA

CINCO

METRÔ

LILÁS

ZEUa (Zona Eixo de Estruturação da Transformação Urbana Ambiental)

FAVELA

ESCADARIA

ZEUP (Zona Eixo de Estruturação da Transformação Urbana Previsto) ZEUPa (Zona Eixo de Estruturação da

FAVELA

Transformação Urbana Previsto Ambiental) ZEM (Zona Eixo de Estruturação da

FAVELA

FAVELA

FAVELA

FAVELA

Transformação Metropolitana) ZEMP (Zona Eixo de Estruturação da

FAVELA

AVENIDA

Transformação Metropolitana Previsto)

ENGENH EIRO

FAVELA

EUSÉBIO

ZEPAM (Zona Especial de Proteção

STEVAUX

Nos mapas ao lado é possível observar o zoneamento de forma mais aproximada. Observa-se que o território inteiro da área de intervenção é delimitada como zona predominantemente industrial, salvo às áreas de ZEIS (Zona de Especial Interesse Social). O fato desta área ser delimitada com os mesmos parâmetros de ocupação não condiz com a real necessidade e uso que a área apresenta hoje. O que vale comentar é que, mesmo que este zoneamento passou por uma recente revisão, este não parece ser condizente com a real necessidade de cada local específico. Este é mais um fator que leva a acreditar na necessidade de um plano urbanístico específico para a área. É de importância ressaltar a delimitação da ZEPAM (Zona Especial de Proteção Ambiental), que se situa na margem do braço do rio Pinheiros. Resta a dúvida do motivo pelo qual as outras margens não tem a mesma atenção ambiental. Por fim, as áreas de ZEIS no local são ZEIS 1 e 2. ZEIS 1 são demarcadas em áreas com assentamentos precários e ZEIS 2 são demarcadas em glebas e terrenos desocupados, não utilizados ou subutilizados.

Ambiental)

ZONAS DE ESPECIAL

INTERESSE SOCIAL

CASTRO

ZEIS 1

ZEIS 2

ZEIS 3

Praça / Canteiro

FAVELA

FAVELA

ZOE (Zona de Ocupação Especial) ZERa (Zona Exclusivamente Residencial Ambiental)

Os Conceitos em meio a nossa realidade urbana | 85


3.3 A cidade e os espaços produtivos As informações deste tópico abordado a seguir foram coletadas a partir de um estudo realizado pela Secretaria de Municipal de Desenvolvimento Urbano da cidade de São Paulo que pretende subsidiar as ações do poder municipal para o fortalecimento das atividades econômicas do Setor de Tecnologia da Informação e Comunicação (STIC), especialmente no que se refere ao desenvolvimento urbano. Para isso, procura-se evidenciar o seu papel econômico, urbano e social, bem como a sua inserção no conjunto da economia, apontando forças, fraquezas e potencialidades. (São Paulo: SMDU, 2015) Conforme descrito, este estudo parte da premissa de que a combinação entre economia e território permite potencializar as políticas públicas, garantindo mútuos benefícios, seja na redução da desigualdade sócio- espacial, 86 | Os Conceitos em meio a nossa realidade urbana

seja no aumento da competitividade das atividades produtivas na cidade. Com isso, este estudo tem relação direta com os conceitos estudados e como este processo faz parte do desenvolvimento para o futuro das cidades. Neste recorte podemos observar que este discurso está diretamente relacionado aos estudos realizados de como alcançar uma cidade sustentável. Esta articulação é necessária para a democratização da cidade. A articulação entre serviços, pesquisa e indústria nas cidades tem sido considerada decisiva para a capacidade de cada aglomerado urbano gerar inclusão social, bons empregos e salários e ter capacidade de resistência e recuperação diante das crises. Nesse sentido, para São Paulo, o STIC pode ser importante para reverter esse quadro. (São Paulo: SMDU, 2015)

Outro fator a ser destacado neste trecho é o reconhecimento de que o setor da Tecnologia da Informação e Comunicação pode ser fator impulsionador para um desenvolvimento mais sustentável de uma cidade. Após uma extensa análise de dados quantitativos e espaciais, o estudo sugere uma possibilidade de criar novas aglomerações ou polos dessas atividades, ou promover uma distribuição mais equitativa dos empregos relacionados às tecnologias da informação que devem


passar pelo fortalecimento do seu segmento com melhor distribuição territorial e que emprega, proporcionalmente, a maior parcela de trabalhadores com escolaridade média: a indústria TIC. (São Paulo: SMDU, 2015) Estes são dois dos mapas resultantes deste estudo, e evidenciam que, por mais que existam hoje, em São Paulo, empregos e estabelecimentos na área da tecnologia e comunicação, estes estão localizados nos polos comerciais da cidade. Isto faz com que haja uma concentração de fluxo intenso de pessoas nos horários de pico, e também que ocorra uma segregação sócioeconômica no espaço. Como mencionado, o estudo visa uma descentralização das oportunidades, aproximando a população dos empregos, e vice-versa. Foi observado que o resultado do estudo contribui para um dos conceitos de desenvolvimento sustentável da cidades para o futuro.

Mapa de empregos e estabelecimentos no setor da tecnologia Figura 17 Fonte: Prefeitura de São Paulo - PDE

Os Conceitos em meio a nossa realidade urbana | 87


3.4 A cidade e algumas análises

15 Capítulo 22 do livro Meio ambiente, Desenvolvimento sustentável e Políticas Públicas organizado por Clóvis Cavalcanti

De forma fragmentada, o processo de urbanização no Brasil ocorre para dar espaço ao automóvel e ao desenvolvimento do capital imobiliário, sem procurar a essência da modernidade, que é a superação das necessidades básicas do homem. Além disso, a concentração de renda e a urbanização dispersa produzem uma cidade difusa, comprometendo o futuro das gerações, uma vez que na sua base está a busca de novas fronteiras de valorização, ação que desconsidera o custo ambiental de dilapidação de recursos naturais e de poluição da água e do ar. (ASCHER, 2010)

O que pode ser entendido no texto de Ascher, é que o que se tem feito no passado urbano não é mais compatível com as necessidades de uma cidade atual. Citando Moreno (2002): “O que se pode dizer é que o planejamento urbano tradicional, aquele que pretendia organizar a cidade de todo mundo, perdeu a voz.”, reafirmando esta percepção. Leite (2012) comenta que dentre as várias facetas que se vão produzindo

88 | Os Conceitos em meio a nossa realidade urbana

pelo atual processo de globalização, encontram-se, no âmbito do território, as contradições das cidades globais e suas realidades locais. Em cidades como São Paulo, hoje se verifica essa situação de modo dramático. Surgem enclaves globais em meio ao território fragmentado local: cenários urbanos globalizados por uma arquitetura homogênea e globalizada, controlados e privatizados, que fornecem uma imagem ilusória de familiaridade conectada à rede global de fluxos econômicos. (LEITE, 2012, p. 57)

A cidade de São Paulo enfrenta uma série de problemáticas urbanas. Conforme Jacobi15 (1999) o principal desafio nos dias atuais é que uma cidade do porte de São Paulo, crie as condições a fim de garantir uma qualidade de vida aceitável, sem interferir negativamente no seu meio ambiente e território, e buscando agir para evitar a continuidade do nível de degradação, notadamente das regiões habitadas pelos setores mais carentes. A cidade de São Paulo, à semelhança de muitas cidades brasileiras, se encontra numa situação bastante delicada quanto à destinação dos resíduos sólidos, e os modelos tradicionais para levá-la adiante apresentam uma série de problemas e contradições na sua execução. As proposta alternativas têm sido timidamente implantadas e frequentemente descontinuadas, dificultando um salto qualitativo que se faz muito necessário no sistema de gestão do lixo. (JACOBI, 1999, p. 388)15


Para a cidade, o conceito de densidade urbana e verticalização é, conforme Aciloy (1998), encorajado pela provisão de eficiência na manutenção das infraestruturas públicas e serviços. Ele afirma que a promoção de espaços urbanos mais densos em áreas da cidade dotadas de equipamentos públicos e infraestruturas de mobilidade é um caminho a tomar ao articular medidas para uma cidade sustentável. Ao pensar em sistemas sustentáveis para uma cidade com inúmeros problemas, principalmente em destinar os resíduos para fins menos poluente, foi observado a necessidade de trabalhar no espaço urbano em pequenos trechos, dotando estes de infraestrutura necessária para atender um único espaço, em contraposição ao atual que coleta resíduos de uma área muito extensa, impossibilitando um ciclo sustentável dos seus dejetos. Foi observado também, a seguir nos estudos de caso, o tratamento de saneamento básico criado no

projeto Cantinho do Céu, a fim de observar medidas executadas frente à esta questão. Uma outra análise que deve ser realizada neste momento, é em relação a cidade de São Paulo com a área de intervenção. Em seguida, os mapas descrevem algumas características observadas.

Os Conceitos em meio a nossa realidade urbana | 89


Aqui

na

subprefeitura

observar

a Além

da Guarapiranga e do limite de proteção aos

do

caráter

ambiental,

uma

uma área de linhas de transmição, trazendo para o projeto

do limite do manancial, é importante destacar o

uma atenção com a relação da escala do pedestre e do

caráter ambiental que a área demonstra.

Socorro no distrito Socorro.

do

necessidade de destacar que a área de intervenção ocupa

mananciais. Apesar de não contemplar área dentro

função às subprefeituras de São Paulo. localizada

possível

proximidade da área de intervenção com a Represa

Este mapa demontra a posição da área de intervenção em Está

é

caráter estético na cidade.

R

SEM DENOMINACAO R

SEM

R

DENOMINACAO

Campo Limpo

Sto. Amaro

C. Ademar

M' Boi Mirim

Socorro

LIMITE DAS

SUBPREFEITURAS

LIMITE DOS

0

2km

LINHAS DE

LIIMTE DA ÁREA

ENERGIA

TRANSMISSÃO DE

DE PROTEÇÃO

DISTRITOS

N

RIOS E REPRESAS

AOS MANANCIAIS 5

10

20 km

N

ESCALA GRÁFICA

0

2km

5

10

N

20 km

ESCALA GRÁFICA

0

2km

5

10

20 km

ESCALA GRÁFICA

Mapas de análise da cidade de São Paulo

Figura 17

90 | Os Conceitos em meio a nossa realidade urbana

Fonte: Prefeitura de São Paulo - PDE


Há significativos meios de transporte próximos à área de intervenção. Entre estes, uma estação de metrô

INFRAESTRUTURA DE TRANSPORTES

(linha lilás), corredores de ônibus , terminais de ônibus e estações de trem (linha esmeralda da CPTM). Este fato representa um potencial de conexão urbana com locais de trabalho, sendo possível uma ocupação

A área de intervenção está localizada ao lado

mais expressiva do espaço.

uma das vias mais utilizadas na cidade de São Paulo.

Av. Presidente Castelo Branco

Rodovia dos Bandeirantes

Rodovia Presidente Dutra

Via Anhanguera T

Rodovia dos

T T

Trabalhadores Av. das Nações Unidas (Marginal Tietê)

T

T

T

T

Via Raposo Tavares

T

T

T T T T

T

T

Av. Prof. Francisco Morato

T

T

T

Rodovia dos Imigrantes

(Marginal Pinheiros)

T

T

Via Anchieta

Av. das Nações Unidas

T

T

T

T

T

T T T

T

Av. dos Bandeirantes

LINHA FÉRREA

T

LINHA VERMELHA DO METRÔ

T

T

TERMINAL DE

LINHA AZUL DO METRÔ

T

ÔNIBUS URBANO

LINHA VERDE DO METRÔ

TERMINAL DE ÔNIBUS RODOVIÁRIO

LINHA AMARELA DO METRÔ

PRINCIPAIS VIAS DA CIDADE DE SÃO PAULO

N

0

2km

5

LINHA LILÁS DO METRÔ

CORREDOR DE ÔNIBUS

10

ESCALA GRÁFICA

20 km

N

0

2km

5

10

ESCALA GRÁFICA

20 km

N

0

2km

5

10

20 km

ESCALA GRÁFICA

Mapas de análise dos transportes na cidade de São Paulo Figura 18

Fonte: Prefeitura de São Paulo - PDE

Os Conceitos em meio a nossa realidade urbana | 91



4. OS ESTUDOS DE CASO


4. OS ESTUDOS DE CASO A discussão sobre o tema cidade apresenta alto nível de complexidade, pois as dinâmicas urbanas são das mais diversas naturezas. Esta diversidade de relações urbanas é que fazem da cidade um objeto de estudo de várias facetas. Assim observa-se que para a análise da cidade é necessário destacar que esta tem diferentes escalas de aproximação. Esta aproximação das escalas de projeto são: a escala urbana, a escala da arquitetura do edifício e a escala do pedestre e da rua. O estudo de projetos destas três escalas que utilizam conceitos sustentáveis, vão servir como uma base de referência de projeto e irão auxiliar no desenvolvimento do projeto de intervenção aqui proposto. Este capítulo será dedicado aos estudos de caso abordados neste trabalho. Foram escolhidos 94 | Estudos de caso

levando em consideração dois critérios: a) maior similaridade com o rumo do projeto a ser desenvolvido neste trabalho; b) pertencente às três escalas que o projeto aborda, sendo estas, a escala macro ou urbana, a escala do edifício, ou da arquitetura, e a escala da rua, do pedestre. Como há inúmeras referências interessantes e relevantes para o ponto de vista de cidade sustentável, que abordam as três escalas fora do país, aqui foi levado em conta a busca por referencias no Brasil. Parece algo desnecessário para se considerar, mas é importante, pois o fato de estudar referencias no âmbito nacional e internacional, fornece um arcabouço de conhecimento mais completo. Assim temos, a seguir, a lista dos projetos que serão desdobrados e por fim analisados conforme o ponto de vista arquitetônico e amarrados aos conceitos de cidade sustentável antes estudados. Ao se tratar da escala urbana e abordando projetos de requalificação urbana será objeto de estudo o projeto urbano de Mission Bay Area em São Francisco no Estados Unidos e a proposta estratégica de revitalização urbana Diagonal Sul em São Paulo. Sobre a segunda escala de projeto


sustentável para estudo de caso, o projeto Concurso Internacional ‘Building a Sustainable World’ em Paranaguá (PR) no Brasil pelo escritório Andrade Morettin Arquitetos, o projeto Linked Hybrid em Beijing na China pelo escritório do arquiteto Steven Holl e o projeto para o concurso internacional Living Steel para habitação sustentável. O último grupo de escala de projeto é o da rua e do pedestre, onde se busca uma qualidade de espaço público com o uso de infraestruturas verdes para composição do leito carroçável. Os projetos escolhidos para serem estudados são o projeto do Bell Street Park, promovido pela prefeitura de Seattle e projetado pelo escritório de design SvR e por último mas não menos importante o projeto de urbanização do complexo Cantinho do Céu, do escritório de arquitetura Boldarini Arquitetos Associados. Os estudos de caso organizados com o critério de escalas, serão analisados neste sentido também. Como este trabalho trata de cidade e a discussão que permeia o campo é

bem extenso, é necessário ser objetivo na análise, e assim, por fim de cada estudo de caso, serão evidenciados quais os principais elementos investigados, pensando sempre que os elementos ressaltados podem vir a ser referência direta e uma diretriz relevante no processo deste projeto de intervenção urbana, aqui proposto. A seguir o quadro demonstra o âmbito no qual cada projeto foi abordado e um exemplo de quais os aspectos que serão analisados no escopo de cada escala.

Diagrama do olhar específico para cada estudo de caso Figura 19 Fonte: Da autora.

Estudos de caso | 95


4.1 Mission Bay Area A Bay Area congrega a região da Califórnia de San Jose a Oakland, e nesta região vem surgindo nova geração de cluster urbanos ligados à biotecnologia. Em especial, a cidade de São Francisco, está buscando liderar o campo da bio-economia e também tem impulsionado processos de reestruturação produtiva que se mostraram presentes nos projetos de regeneração urbana. O projeto teve início na década de 80 quando a proprietária da área de Mission Bay, a empresa de transportes ferroviários Santa Fe Pacific Realty Corporation, aceitou a possibilidade de participação pública na elaboração do projeto urbanístico para o espaço. Foram realizados concursos públicos para projeto urbanístico da área, e com isso, foram apresentadas muitas propostas de mudança de uso, mas o projeto vencedor

96 | Estudos de caso

deste concurso foi cancelado. Em 1998 o projeto desenvolvido como proposta final pelo escritório Johnson Fain de Los Angeles foi aprovado pela gestão da época, e a partir do desenvolvimento do novo master plan urbano, o mesmo foi implantado. De acordo com a Prefeitura de São Francisco (2016) o projeto da área portuária de São Francisco é coordenado pela agência governamental San Francisco Redevelopment Agency e está sendo construído pela empresa Catellus Development (incorporada pelo grupo FOCIL-MB LLC) Este é um caso de um redesenvolvimento urbano-econômico nos Estados Unidos de parceria público-privada, no qual as empresas desde cedo participam ativamente do desenvolvimento do projeto. Fez parte de uma estratégia de inovação urbana com a utilização do cluster, neste caso, de biotecnologia desejando estabelecer o processo de reestruturação produtiva de um vazio urbano de 122 hectares. Tem caráter de intervenção urbana de grande escala e seu tempo de implantação é longo. Seu objetivo é fazer a metrópole crescer por dentro e reabilitar áreas centrais. Elementos fundamentais em projetos desse porte e natureza são


infraestrutura e acessibilidade. Um dos elementos funcionais (de infraestrutura) deste projeto é a implantação do campus científico e de empresas relacionadas com a faculdade, que é a maior propulsora do desenvolvimento na área, do ponto de vista econômico. Isto significa por volta de 9 mil pessoas trabalhando na área apenas com o setor de biotecnologia, que é um campo que funciona como motor da economia da região, portanto demonstra promessa econômica para a área. Conforme Leite (2012) funciona “como elo fundamental nos contínuos processos de reinvenção urbana e reestruturação produtiva, incentivando a desejável permanência da vida metropolitana”, além da presença de uma economia da educação e cultura avançada, e de instituições de estudo e pesquisa, público e privadas, fazendo desta região um polo de inovação e ciência. Então como todos os clusters de

sucesso, este tem um claro agente financeiro do projeto e um claro objetivo de atração, não apenas de investimento, mas também de pessoas e dinamismos. No âmbito da acessibilidade, novos acessos foram criados, ligando o território ao restante do centro da cidade e ampliação de linhas de ônibus. Houve também um alto investimento em transporte sobre trilhos, da linha de metrô de superfície MUNI, que passou a conectar a região com o distrito financeiro, além da nova estação de trem CalTrain Station, que interliga o Vale do Silício. Leite (2012) ainda fala que o projeto pretende criar uma área habitacional para mais de 10 mil moradores, uma zona de comércio de alta qualidade, uma área de laboratórios e empresas de biotecnologia, uma zona empresarial de alta tecnologia, um hotel de 500 quartos, um novo campus de bio-investigação de Universidade da Califórnia em São Francisco (UCSF). Foram construídas 6 mil unidades de habitação até agora e destas, 1700 (28%) são moradias de interesse popular. O projeto atualmente tem mais de 400 mil metros quadrados de espaços comerciais, sete edifícios da UCSF em funcionamento, e além de um complexo hospitalar e outras estruturas públicas (escola, delegacia de polícia, bombeiros e biblioteca) conta com 5 hectares de parques e área de lazer.

Estudos de caso | 97


O sistema de áreas verdes criado, rodeia a área e cruza horizontalmente, servindo como um eixo conector formado de espaços livres que estimulam o transporte não motorizado assim como estabelece presença permanente deste espaços de lazer por toda a área. É importante que o projeto tem buscado reabilitar antigos edifícios industriais e galpões de valor arquitetônico utilizando métodos de mudança de usos, reforços estruturais, restauro de fachadas e acabamentos internos. Como resultado do projeto da área, hoje estão concluídas obras arquitetônicas de destaque, como o campus da UCSF pelo escritório vencedor do concurso Machado, Silvetti & Associates com Gordon H. Chong & Partners e paisagismo de Olin Partnership, um novo parque linear Mission Creek com o paisagismo projetado novamente por Olin Partnership, o estádio de Baseball para o time San Francisco Giants chamado 98 | Estudos de caso

Diagramas estruturais do projeto e planta do uso do solo Figura 20 Fonte: Website do escritório Jonhson Fain, traduzido pela autora.

de Pacific Bell Park, projetado pelo escritório Populous, todas pensadas como instrumento de renovação da região. É um projeto que pretende servir de modelo completo e inovador de desenvolvimento urbano sobre uma área metropolitana deteriorada, que atingiu uma renovação e requalificação urbana em mais de 120 quarteirões. Recentemente foi premiado um modelo de desenvolvimento sustentável pelo


Departamento de Habitação e Desenvolvimento Comunitário da Califórnia (HCD). Mission Bay foi designado como um projeto catalisador através do Programa Piloto de estratégias sustentáveis de HCD. Este é o último e maior de uma série de projetos de regeneração urbana de áreas industrial-portuárias deterioradas de São Francisco. Apesar de ter muitos benefícios, de acordo com o que Daniel Solomon16 e Owen Kennerly17 (2015) escrevem em seu artigo ‘Habitação de Interesse Social Energiza a Área de Mission Bay em São Fransisco’ traduzido do inglês (Affordable Housing Energizes San Francisco’s Mission Bay), a nova área de Mission Bay tem sido criticada pela mídia local pela natureza homogênea e monolítica de seus edifícios. Ao contrário dos bairros mais antigos de São Francisco, Mission Bay estabeleceu-se relativamente rápido, sob um master plan composto por grandes parcelas

de espaço uniformemente dividido. Em outros lugares de São Francisco, os quarteirões da cidade tendem a conter edifícios de múltiplas escalas. Mas em Mission Bay, a maioria das estruturas singulares preenchem uma quadra inteira, com pouca variação no tamanho da planta, das alturas, ou volume. A crítica também se estende para o valor das unidades habitacionais que se comparam à área mais nobre da cidade. Foi observado que as críticas comuns sobre o projeto são em relação à tipologia monótona estabelecida com edifícios que ocupam quadras inteiras devido ao parcelamento do solo restritivo. A cidade de São Francisco tem um custo de vida muito alto e sofre com um déficit habitacional para a população de baixa renda. É de se imaginar que neste novo projeto urbano, na cidade mais cara de se viver dos Estados Unidos desde os anos 80, com um enfoque para a reestruturação produtiva com a implementação de um cluster urbano (o novo campus de bioinvestigação de Universidade da Califórnia em São Francisco), que haja uma tendência para uma exclusão social. Mas o fato é que, ao buscar críticas sobre esta temática, não haviam muitos motivos para que estas existissem. John King, colunista para o ‘Crônicas de San

16 Daniel Solomon, é mestre arquiteto e urbanista pela Universidade da Califórnia em Berkeley em 1966 e foi professor na mesma instituição. É cofundador do Congresso de Novo Urbanismo, uma organização cujos princípios ajudaram a moldar a prática do projeto comunitário contemporâneo, autor de inúmeros artigos e de três livros (ReBuilding, Global City Blues, e Cosmopolis), além de vencedor de alguns prêmios internacionais de arquitetura. 17 Owen Kennerly é arquiteto formado na Universidade da Califórnia (University of California) entre 1991 e 1994 em Berkeley nos Estados Unidos.

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Francisco(SFGATE)’ em 2014, comenta que a população critica a estrutura espacial e plástica do bairro, ao apontarem que a Mission Bay Area não tem o mesmo aspecto antigo de arquitetura vitoriana que o resto da cidade tem. Mas para o colunista o fato do bairro ser composto de edifícios novos e simples, acaba oferecendo mais oportunidades de moradia para diversos grupos da sociedade. O cenário de torres comerciais, casas flutuantes e quadras bem estruturadas fazem parte do espaço urbano da cidade assim como todo o resto. É dessa maneira que deve ser daqui para frente. O plano urbanístico estabeleceu áreas para o desenvolvimento habitacional. Com isso também estabeleceu que 28% da área é reservada para habitações de interesse social que atendam a população com três níveis de diferentes classes sociais (média, baixa e muito baixa renda). Para a garantia de construção destes, o governo adquiriu terras por meio de um acordo com a empresa construtora do projeto, e

definiu um patrocínio para empresas sem fins lucrativos visando a construção das unidades habitacionais. Além disso, investidores privados ficam responsáveis pela construção de uma parcela restante das habitações a serem incluídas no projeto imobiliário. Apesar da aparência de blocos de tamanho médio de condomínios, um deles destaca-se por suas avantajadas varandas. Este contém 140 unidades para a população idosa de baixa renda. Atrás desta situação, nota-se funcionários terminando detalhes de acabamento em um novo complexo com 99 unidades sociais de habitação, sendo que 50 destes são destinados à famílias sem teto. Foi observado uma atenção especial para o âmbito social deste projeto, a fim de não ocasionar uma exclusão sócio-espacial, que antes não existia, pois a área do projeto era antes de uso estritamente industrial.

Vista do canal do Mission Bay Figura 21

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Fonte: SFGATE, Mission Bay, model of housing diversity in San Francisco


Este projeto foi estudado para entender certos aspectos deste caso, pois leva em consideração os pontos positivos e negativos apontados durante o processo de projeto na intervenção urbana que será proposta neste trabalho. É importante entender as dificuldades de implantação de um projeto nesta escala e se atentar a problemas de proporção que surgem devido a tradução do desenho na escala real, para evitar uma mono-funcionalidade inesperada no nível da rua. Outro fator que é significante para esse projeto é tomar conhecimento do agente econômico que irá proporcionar a transformação urbana, e buscar manter os dois lados, da balança imobiliária (dos agentes financeiros e do cunho social), em equilíbrio para atingir os objetivos de ambos. Este caso do Mission Bay Area é um projeto de transformação urbana que de fato está reconstruindo a área para um melhor uso da cidade, e é uma inspiração de projeto urbano que visa uma maior conexão e aproveitamento de espaços

Imagens da transformação no tempo da área de Mission Bay Figura 22 Fonte: Google Earth, editado pela autora.

públicos na formação de uma rede de espaços verdes e de transporte na cidade. Apesar de demonstrar fatores de sucesso, o espaço construído acabou resultando, devido à escala do parcelamento do solo além dos parâmetros de ocupação, em espaços uniformes e invariáveis na paisagem urbana. É uma crítica pertinente, na qual é valido a atenção ao estabelecer parâmetros de ocupação do solo para qualquer espaço urbano. Assim este projeto não apenas explicita fatores positivos no planejamento da requalificação deste espaço, como demonstra fatores negativos, que devem ser questionados.

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4.2 Diagonal Sul Este é um projeto de redesenvolvimento urbano sustentável chamado de Proposta Estratégica na Operação Urbana Diagonal Sul e foi apresentado na conferência Urban Age South America em São Paulo no ano de 2008. Os autores do projeto são o Carlos Leite, o Bernd Rieger e Eduardo Della Manna, mas também participaram do trabalho apresentado os seguintes profissionais: Nádia Somekh (consultora em desenvolvimento urbano); Cláudio Bernardes e João Crestana (desenvolvimento); Joerg Spangenberg (sustentabilidade); Lourenço Gimenez (circulação); Thiago Duarte e João Paulo Daolio (desenho urbano). Trata-se de um eixo linear com aproximadamente 13 km de extensão da Barra Funda à Estação Mooca no qual se buscou promover o adensamento populacional e atividades com base na proposta 102 | Estudos de caso

de promover o reaproveitamento dos vazios urbanos centrais com um trabalho factível do ponto de vista legal e economicamente viável. A área do projeto é em uma parcela da cidade de uso industrial que se estabeleceu na expansão da cidade de São Paulo pois se localiza no eixo estratégico de transporte ferroviário entre santos e Jundiaí. Foi importante vetor de industrialização pesada principalmente automobilística, mas passou por processo de desocupação, não só pela decadência do modelo fordista mas também pela expulsão de indústrias pesadas da cidade por aumento de impostos e aluguel das áreas. Esta área sofreu também com a contaminação do solo devido mal uso e manejo de materiais químicos. O resultado foi uma área com território fragmentado e descaracterizado, com grandes volumes de galpões e antigas fábricas. Não por coincidência, a área é estabelecida como a área da Operação Urbana Arco do Tamanduateí, que anteriormente dividida em dois e chamada de Operação Urbana Diagonal Sul e Norte. De acordo com o portal online da prefeitura de São Paulo, Gestão Urbana:


O Arco Tamanduateí é um dos setores da cidade para o qual foi elaborado um Projeto de Intervenção Urbana, em conjunto com a sociedade, com o objetivo de orientar as transformações estruturais deste estratégico lugar da cidade. (Prefeitura São Paulo, 2016)

Conforme os autores do projeto em artigo no portal online Vitruvius “A orla ferroviária e o território da Diagonal Sul apresentam a última oportunidade de construção de um território metropolitano; sua reinvenção é urgente.” Este projeto apresenta uma proposta para o território da Operação Urbana Diagonal Sul. Defendem que esta urgência é real, pois ao mesmo tempo que a expansão da cidade é continua, leva a população à áreas da cidade com pouca infraestrutura e baixas condições de moradia. Este fenômeno é promovido pelo o processo de migração do centro financeiro da cidade de São Paulo pelo território. Ou seja, o reaproveitamento dos vazios urbanos centrais é um contraponto à expansão periférica na cidade. A área é caracterizada por Leite (2012) “como a última oportunidade de construção de território metropolitano articulador, que poderia e deveria ser visto como oportunidade ímpar de se construir uma cidade linear”.

Master Plan - elementos estratégicos Figura 23 Fonte: Artigo no portal Vitruvius.

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O partido deste projeto é de adensar as áreas subutilizadas presentes na área ao mesclar funções distintas, como habitação, transportes, comércio, serviços, lazer etc. Busca também, dar nova função para os armazéns e galpões, atualmente ociosos e recuperar terrenos industriais ao impulsionar seu desenvolvimento econômico, voltado para os setores da informação e comunicação com novos valores locacionais, mas vinculadas à vocação do território. Este projeto foi pensado estruturalmente encima de quatro matrizes urbanas: A primeira é a de infraestruturas e neste segmento, foca em promover a reutilização das estruturas urbanas com a modernização do sistema ferroviário, reativar o patrimônio histórico buscando sua permanência na paisagem como memória patrimonial do território ao recapacitar a área em nova indústria de base tecnológica e recuperação do rio Tamanduateí para utilização de transportes de cargas leves. A segunda matriz de 104 | Estudos de caso

projeto é a de fluxos. Neste âmbito, o projeto buscou otimizar os fluxos da cidade com a combinação de sistemas e modais de transportes, visando maior articulação e acessibilidade por todo território, assim como desenhar um tecido urbano com características morfológicas contínuas que permitem maior organização de elementos de energia, água e esgoto. Em terceiro, o eixo verde é priorizado no projeto, contemplado em toda sua extensão, que junto à ferrovia cria um parque urbano linear onde tem como principais funções articular os vazios e equipamentos existentes e criar um campo de retenção de águas pluviais e contenção de águas fluviais a partir do desenho de diversos espelhos d’água. A quarta e última matriz de projeto é a de bordas urbanas, na qual promove a implantação de habitação social ao longo do parque linear e busca dispor de diversas tipologias para uma cidade para todos. Também estimula o aumento da densidade demográfica da área destinada para verticalizados volumes de habitação nas bordas do terreno. A estratégia principal que permeia as quatro matrizes do projeto é a garantia do uso coletivo. Para isso foi desenhado uma grande marquise aberta elevada que conecta os dois lados do eixo


Master Plan Diagonal Sul, eixo ipiranga-tamanduateí Figura 24 Fonte: Artigo no portal Arcoweb.

ferroviário se constituindo em múltiplos níveis. Com isso novas possibilidades de convivência surgem para o cidadão desfrutar da cidade. O projeto foi pensado também para que o mercado imobiliário, conhecido agente urbano, tenha interesse econômico, mas que ainda siga o modelo de desenvolvimento urbano desenhado na proposta. Portanto os autores formularam mecanismos legais para que o projeto alcançasse seus objetivos urbanos. Estes mecanismos são, conforme Leite (2012) a criação de agência local para operação e gestão das intervenções; implementação de parceria público-privada que permite continuidade no projeto urbano; atração dos agentes imobiliários para construção do novo bairro sustentável e o desenvolvimento de mecanismos específicos de incentivos fiscais para deter o declínio da tipologia industrial de valor arquitetônico. Em suma, o projeto estudado busca atingir uma série de objetivos visando a renovação da cidade. Leite (2012) ainda comenta que “Este projeto assume o desafio de trabalhar nas cidades existentes, reutilizando infraestruturas em vez de substituí-las ou negá-las”.

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Os autores contam que para atingir os objetivos do projeto, foi necessário a elaboração de estratégias dinâmicas e flexíveis que foram traduzidas em diretrizes. Estas visam a integração com o planejamento metropolitano para reabilitar os dois principais elementos de estruturação urbana: sistema hídrico e sistema de mobilidade (linha férrea). Com isso visa assegurar a sustentabilidade com a integração das ações (organizacional e financeira). Foi estabelecido no projeto que as áreas subutilizadas centrais, identificadas como vazios urbanos, são palco ideal para a aplicação das diretrizes estabelecidas. Os mecanismos propostos pelas diretrizes visam uma renovação urbana em áreas abandonadas (wastelands e brownfields) ao promover a construção de equipamentos públicos de significado simbólico para a região e de intenso uso social. Com isso a cidade que se estimou deste estudo é dotada 106 | Estudos de caso

O elemento estruturador, a marquise linear central Figura 25 Fonte: Site do autor do projeto.


de sistema de transporte público de qualidade e alta densidade, apresentando menores níveis de emissões de gases per capita. Este sistema de cidade incentiva os deslocamentos reduzidos o que minimiza a necessidade de novas infraestruturas de mobilidade. É uma proposta de cidade sustentável, na qual busca uma estrutura de vida fundamental que mistura diversas funções e padrões sociais, reinventando o padrão de coexistência territorial da metrópole e resgatando a vida na metrópole. Este projeto, apesar de demonstrar uma série de mecanismos e soluções inovadoras, não foi um projeto executado, então cabe a análise critica deste, para identificar quais as ferramentas que servirão de referencia para realizar uma intervenção na cidade e quais destes são apenas discurso teórico. Ainda que o projeto realizado neste trabalho foi resultado de um estudo teórico dos mecanismos e conceitos para atingir uma cidade sustentável, buscou-se critérios para determinar

quais poderiam ser efetivados com sucesso no espaço urbano sem provocar mais problemas urbanos e sociais, além dos que já existem. Assim, é fundamental distinguir quais discursos cabem neste momento, como sugestão para uma cidade mais sustentável. Está claro também que este projeto necessita um alto nível de investimento para ser implementado, tanto público quanto privado, devido à escala das intervenções. É evidente que este foi uma experimentação na temática de renovação do território urbano e de reestruturação produtiva, que considerou responder o impasse político-financeiro com o incentivo à agentes privados. Assim foi observado que faltam mecanismos que limitem a imposição coorporativa na produção dos espaços. Por último, o quadro (figura 26) coloca as fases propostas para implementação do projeto, no qual exemplifica uma maneira sistematizada de transformação urbana aqui estruturada. Um ponto positivo que vale levar em consideração neste projeto foi a capacidade de traduzir em breves linhas de diretrizes as mudanças elaboradas. A transformação de pensamentos conceituais e discursos Estudos de caso | 107


teóricos em tópicos é importante ao sintetizar um projeto urbano, que sempre apresenta facetas complexas na sua concepção.

Quadro de faseamento na intervenção proposta Figura 26 Fonte: Artigo no portal Vitruvius.

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4.3 Uma vivência em Copenhague Devido à minha própria experiência, ao ter visitado a cidade de Copenhague, foi possível observar de perto as questões mencionadas referentes à cidade sustentável, cujo projeto é aqui apresentado. A minha presença na cidade deveu-se à participação de um evento de arquitetura, um workshop chamado ECOWeek, que reuniu alguns alunos de todos os lugares do mundo. Neste evento observamos a cidade e foinos dada a tarefa de projetar um espaço na cidade. A seguir as imagens retratam características específicas da cidade de Copenhage a fim de confirmar as características de uma cidade sustentável mencionadas neste trabalho em um espaço urbano existente.

Copenhague: Um exemplo de mobilidade urbana Figura 27 Fonte: Foto da autora, em julho de 2013

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Mobilidade urbana - modais de transporte Figura 28 Fonte: Foto da autora, em julho de 2013

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Espaços públicos de qualidade alinhados à questão de mobilidade Figura 29 Fonte: Foto da autora, em julho de 2013


Espaços públicos de qualidade alinhados à questão de mobilidade Figura 30 Fonte: Foto da autora, em julho de 2013

Mobilidade verde - bicicleta o veículo mais utilizado Figura 31 Fonte: Foto da autora, em julho de 2013

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Mobilidade urbana - metrô e trem 24h no final de semana Figura 32 Fonte: Foto da autora, em julho de 2013

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Espaços públicos de qualidade alinhados à questão de mobilidade Figura 33 Fonte: Foto da autora, em julho de 2013


Espaços públicos de qualidade - horta comunitária Figura 34 Fonte: Foto da autora, em julho de 2013

Espaços públicos de qualidade Figura 35 Fonte: Foto da autora, em julho de 2013

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O conjunto destas imagens demonstra a variedade de espaços públicos de qualidade na cidade além de diversos modais de transporte com extrema qualidade. Além disso retratam como estes espaços estão interligados entre si e a cultura urbana que existe em função disso. Por estas imagens acompanhar a experiência de uma cidade considerada sustentável.

Energia renonvável - Fazenda eólica Figura 36 Fonte: Foto da autora, em julho de 2013

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4.4 “Algae City” ‘Algae City’ é um projeto realizado para o concurso internacional ‘Building a Sustainable World’ em 2007 na cidade de Paranaguá, no estado do Paraná e foi executado pelo escritório Andrade Morettin Arquitetos, com os colaboradores Marcio Tanaka, Marina Mermelstein, Thiago Natal e Thomas Kelley. O local deste projeto apresenta, conforme Canez e Silva (2015): “É uma situação urbana precária, frente a uma natureza frágil, localizada na Baía de Paranaguá”, onde “A ineficiência do planejamento urbano e regional neste território está agravada pela presença do antigo porto incrustado em uma região de laguna.” Conforme os autores do projeto, estes buscaram criar uma resposta de contenção da expansão urbana existente no local com uma intervenção de alta

densidade constituída pela organização de módulos autossuficientes. Estes módulos foram pensados, tomando por base os novos desafios de consumo de energia, e conforme os autores do projeto, são “infra-estruturas públicas para transporte, produção alimentar e de energia limpa com base no hidrogênio gerado a partir de algas”. Os autores do projeto buscaram uma solução para o desafio proposto do concurso procurando solucionar problemas de aglomeração ineficiente existentes ao discutir cidades do futuro. A citação a seguir de Júlio Moreno (2002) no livro ‘O Futuro das Cidades’, exemplifica um pouco as intenções de cidades sustentáveis com o discurso alinhado ao do projeto em pauta: As edificações igualmente deveriam retomar o conceito de uso misto , aproximando executivos nos escritórios e moradores nos apartamentos, ao mesmo tempo que se resgataria a vida nas ruas e se reduziria a necessidade de as pessoas se deslocarem de carro para o trabalho todos os dias. Uma estrutura urbana assim talvez seja mais complexa de planejar, mas aqui a questão básica é simplificar não a vida dos planejadores, e sim a dos habitantes das cidades. MORENO, 2002 p. 87

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Neste projeto foi desenhada uma plataforma que funciona como uma extensa galeria de serviços urbanos e a sua sobreposição constitui o solo urbano de uma superestrutura. A morfologia deste espaço construído estimula uma ocupação racional do território e promove a contenção de ocupações informais desordenadas, assim como também proporciona uma função de cenário para as mudanças contínuas de ocupação, e que são inerentes à dinâmica da cidade sustentável. Permitir a mutabilidade ordenada no espaço urbano construído é uma questão essencial ao se pensar na cidades para o futuro. Deste modo o conceito da cidade que os autores criaram partiu de uma ideia de cidade compacta e alcançou o conceito de superestrutura. Na composição espacial e urbana da superestrutura, os parâmetros de densidade e urbanidade não se enquadram no que conhecemos hoje nas metrópoles. Extrapola medidas e números, abraçando ainda mais a característica de cidade do futuro. Conforme os autores do projeto, “nós concebemos uma cidade que tem por objetivo de restabelecer a relação entre o indivíduo e o domínio público”. Portanto o ambiente criado é urbano e diversificado, constituindo um amplo espaço público, o qual pode ser apropriado intensamente. Como resultado, o uso deste espaço público é indeterminado, caracterizando-o como objeto de debate permanente pela comunidade, estimulando a participação social, sendo esta mais uma ferramenta essencial no desenvolvimento de cidade. 116 | Estudos de caso

Imagem interna da superestrutura Ocupação do espaço público Figura 37 Fonte: Website dos autores do projeto.


Imagem da entrada da superestrutura - Acesso e conexão Figura 38 Fonte: Website dos autores do projeto.

A superestrutura descrita, agora chamada de uma célula fazendo parte de uma tecido urbano composto por diversas células, deve acomodar 50 mil habitantes em sua área de implantação de 1 quilômetro quadrado [100 ha]. Conforme os autores do projeto, eles criaram então um eixo estruturador que vai conectar a cidade existente à pequena rede de 4 células autárquicas, resultando em um modelo mais produtivo de ocupação do meio ambiente, mas ainda inserido na paisagem com simplicidade. Esta ocupação não só oferece benefícios ambientais e sociais, como coloca a cidade visível dentro do panorama global de mercado e crescimento, estimulando assim a procura do mercado imobiliário e financeiro. Os autores explicam que toda esta rede (cidade existente conectada com as células propostas) é sustentada energeticamente por um sistema gerador de hidrogênio. Há um potencial na capacidade de armazenamento que é aproveitado ao proporcionar estoques para eventuais crises. Além desta, a superestrutura deve contar com outras fontes de abastecimento de energia, para estabelecer um equilíbrio saudável das fontes de energia limpas, dentre elas: perfuração profunda, fazenda solar, centrais elétricas movidas pelas marés [maremotriz], e bio-diesel feito a partir do descarte das algas. Estudos de caso | 117


Diagramas explicativos do funcionamento da superestrutura Figura 39 Fonte: Website dos autores do projeto.

Implantação da rede urbana Figura 40 Fonte: Website dos autores do projeto.

Este estudo serviu aqui como um exemplo de uma exploração com a mudança na tipologia urbana convencional para uma estrutura desenhada para afetar minimamente o solo e ordenar o imprescindível crescimento urbano. Não só isso, como este projeto sintetiza soluções provenientes do conceito de cidade sustentável. 118 | Estudos de caso


4.5 Linked Hybrid O projeto Linked Hybrid (ou Dangdai MOMA) é um complexo de uso misto com oito torres conectadas por pontes elevadas, chamadas de “skybridges”, construído na cidade de Pequim (Beijing) na China entre os anos de 2003 e 2009. O projeto é assinado pelo escritório Steven Holl Architects que além do arquiteto em si e a sua numerosa equipe de profissionais do escritório, contou com uma equipe de complementares especializados, como engenheiros estruturais, técnicos de iluminação, técnicos de fachadas (pele de vidro), paisagistas, e design de interiores. O projeto foi financiado pela empreendedora Modern Green Development Co., Ltd. Beijing que é uma empresa que tem atuado ao redor do mundo com conceitos de construção sustentável tecnológica, aplicando sistema de energia geotermal mundialmente e também sistemas de reuso de água na Ásia. De acordo com o website da Modern

Green (2016) eles acreditam em tecnologias verdes para espaços de convivências confortáveis, para um novo estilo de vida e para um futuro melhor. A construção foi realizada pela construtora Beijing Construction Engineering Group, na qual é uma figura presente na construção de cidades chinesas. Foi premiado por diversos prêmios internacionais, por ser um empreendimento sustentável considerado uma maravilha do mundo arquitetônico.

Implantação do projeto Figura 41

Fonte: Website dos autores do projeto.

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18 Dan Hill é diretor-sócio na firma de design global e engenharia Arup e membro da Academia Internacional de Artes digitais e Ciências (IADAS). É Bacharel em Ciência da Computação pela Universidade de Hertfordshire, (1988-1992) e Mestre de pesquisa, com o temática: ‘Cultural Industries in the digital city’, pela Universidade Metropolitana de Manchester (19951997). É autor de diversos trabalhos publicados e premiados.

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O projeto é localizado no canto nordeste do quadrante da parte central de Beijing, em frente a via expressa S12 airport expy, de esquina com a Xibahe South Road, e logo ao lado há um retorno expresso pra acessar a E 2nd Ring Road que leva ao centro histórico e distrito financeiro. Com o que o Dan Hill18 (2011) aponta no artigo Diáro: Linked Hybrid por Steven Holl Architects, projetar para a ocupação de espaço em Pequim contemporânea publicado no blog de arquitetura do autor, “Do lado de fora do complexo, você está instantaneamente em outra Pequim.[...] Em um passeio de volta para os vários viadutos, e sob um, ao lado do canal, eu passo pelo início de um mercado de rua, onde as pessoas estão expondo os variados itens na calcada” (citação traduzida pela autora do trabalho). A cidade de Pequim (Beijing) é uma metrópole globalizada que enfrenta problemas sociais e por consequência, também de segregação social do espaço. Tem no seu traçado histórico ruas densas e praças movimentadas,

diferentemente de como a cidade que se desenvolveu envolta, formada por grandes bolsões de cidade espalhados e sem conexão entre eles, resultado de um desenvolvimento imobiliário desenfreado e falta de gestão na privatização do espaço.

Diagramas de proposta de ocupação do espaço urbano

Figura 42 Fonte: Artigo no portal ArchDaily.


19 Arquiteto técnico para a empresa Ensynch, autor de artigos na página Dezeen e atual engenheiro principal de gestão de serviços na empresa Microsoft. É formado no instituto DeVry de Tecnologia como Engenheiro de tecnologia eletrônica de 1990 a 1993.

Frente à estes problemas da cidade desconexa, um dos conceitos de projeto é a quebra deste modelo existente, para se tornar um espaço desfragmentado com maior fruição e espaços públicos com vida ativa. Outro conceito do projeto, segundo a empreendedora Modern Green, nasceu da inspiração da obra “Dance” do artista francês Henri Matisse. Assim é observado em sua composição volumétrica que a disposição das torres organizadas formam movimento, façanha plástica do arquiteto, que faz com que a estrutura rígida dê sensação de leveza. Complementando, o Brad 19 Turner (2009) comenta que as torres são posicionadas em formato de “ciranda” e acabam expressando a vocação de coletividade da implantação. Os autores procuraram criar, em vez de torres como objetos isolados ou ilhas particulares em uma cidade cada vez mais privatizada indo contra à atual onda de empreendimentos privatizados na China, uma arquitetura que

permitisse novos deslocamentos no eixo “Z” da dimensão urbana, moldando a ideia de transitar nos espaços de infiltração dos edifícios que funcionam como espaço público. De acordo com o arquiteto, buscaram criar um novo espaço urbano do século 21, poroso e convidativo, aberto ao público por todos os lados. O nome do projeto é indicação expressa da ideia: traduzido para o português literal, como Híbrido interligado.

Relação da obra Dance com o partido volumétrico do Linked Hybrid Figura 43

Fonte: Website do museu MoMa e revista online MasContext, editado pela autora

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Segundo o arquiteto Steven Holl (2016), este é um projeto que contempla 644 apartamentos, espaço verde público, zona comercial, hotel, cinemateca, pré-escola, escola Montessori, estacionamento subterrâneo em uma área de 220 mil metros quadrados. Este mix de usos tem a intenção de funcionar como espaços de condensação social, resultando em uma experiência especial da vida da cidade para os residentes e visitantes. A forma com que é distribuído o programa vai, conforme o arquiteto, promover relação interativa e estimular encontros nos espaços públicos que variam de comercial, residencial e educacional até o recreacional. A ideia com isso é fazer o complexo por inteiro em um espaço urbano tridimensional no qual os edifícios no chão, no subsolo e sobre o sobre o solo são fundidos. Fazem isso com a distribuição sistemática do programa a fim de criar um looping de fluxo urbano, aspirando a ser estrutura complexa do vivenciar “uma cidade dentro da cidade”

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como em vez de forma simplista linear como diz o autor Steven Holl. Também diz que este espaço promove uma experiência do espaço, envolta, sobre e através das camadas espaciais multifacetadas e espera que o circuito público pelo céu, constantemente vai gerar relações aleatórias, criando essência urbana fundamental da diversidade.

Diagrama de acesso e circulação de pedestres Figura 44 Fonte: Artigo no portal ArchDaily.


De acordo com os autores do projeto esta organização se dá a partir dos andares: No térreo há uma série de passagens abertas além de ter lojas e restaurantes que ativam o espaço no entorno do espelho d’água e as entradas para o cinema e o hotel. No nível intermediário, no ultimo pavimento dos edifícios menores, foi criada uma rota verde, passando por cima dos telhados verdes, dispondo de novo tipo de espaço verde. Já do décimo segundo até o décimo oitavo pavimento, conectado pelas pontes multifuncionais, é equipado com piscinas, academia, café, galeria de arte, auditório e um salão de beleza conectando as oito torres residenciais com a torre de hotel e oferecendo vistas espetaculares sobre a cidade em desenvolvimento. Os acessos foram criados nas áreas públicas do térreo e levam, com a utilização de elevadores, aos espaços verdes e outras passagens públicas do projeto. Apesar de ser muito claro quando exposto em narrativa explicativa e demostrado com o

diagrama de acesso e circulação do projeto, a partir de um estudo sobre o projeto, este talvez não tenha atingido o fluxo esperado. H. Dinh, um arquiteto residente do complexo, para artigo no The Wanderlister+, comenta: Em termos de espaço, os apartamentos dentro do MOMA são ótimos. Eu não tenho nenhuma idéia de como chegar às passarelas de vidro elevadas que ligam todas as torres juntas. Há ginásio e piscina em algum lugar no desenvolvimento, mas não tenho idéia de onde é ou até se eles estão concluídos ainda. DINH, 2011

Segundo Turner (2009), o projeto apresenta intenção sustentável na sua concepção. No centro do complexo há um espelho d’água que capta a água de reuso (agua cinza) e no inverno é congelado e transformado em pista para a prática pública de patinação no gelo. A água captada é canalizada para tanques com filtros ultravioletas, e depois colocadas de volta no grande espelho d’água. É estimado que 220.000 litros de água são captadas de todas as unidades de apartamentos e serão reciclados a cada dia, reutilizada para irrigação da paisagem e dos telhado verdes, descargas, resultando em uma diminuição de 41% no uso de água potável. Turner (2009) ainda fala, com base no texto do arquiteto, que a terra escavada durante a construção do projeto foi utilizada no desenho paisagismo criando uma série de pequenos morros que abrigam áreas públicas de lazer. Estes destinados ao pequeno parque recreativo

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do projeto, foram estabelecidos como cinco montes paisagísticos, nos quais trazem equipamentos de lazer específicos para cada faixa etária. Conforme Turner (2009) cerca de 70% energia gasta no edifícios para calefação e esfriamento é gerada a partir de um sistema de bomba de calor geotérmico, composto por 660 poços geotérmicos a 100 metros de profundidade, abaixo da fundação do porão. Esta dimensão do sistema e sua eficiência, é a maior do mundo em construção residencial e foi considerada uma inovação revolucionária na arquitetura sustentável. Uma característica de sua inovação é que no espaço sobre os poços, ele cria uma grande área verde, o que minimiza a poluição gerada pelo sistema, tanto a sonora quanto a emissão de dióxido de carbono na atmosfera. A maior dificuldade deste projeto é fazer que todas as intenções do arquiteto, de cidade aberta e de estimular múltiplos usos distribuídos pelos edifícios, aconteça da forma projetada/

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planejada. É uma árdua tarefa combater os obstáculos de uma trajetória a favor da qualidade urbana e arquitetônica, assim como comenta Hill (2011) na conclusão de seu artigo: O desafio mais interessante para a prática de arquitetura de qualquer maneira é encontrar formas de lidar com a ocupação do espaço de forma mais estratégica.[...] Um bom designer tem que redesenhar o próprio contexto, por vezes, a fim de permitir o seu verdadeiro potencial que se está redesenhando a organização do cliente, os sistemas baseados em narrativas culturais em torno do projeto, ou neste caso, os quadros políticos que de outra forma impedem a construção de funcionar como um todo. HILL, 2011.

Assim, o projeto tem sido criticado por não conseguir atender às necessidades imediatas da cidade no seu entorno. A cidade como foi comentado anteriormente, sofre com problemas de segregação sócio/espacial e é um território delicado que perde com as ocupações de grandes empreendimentos que acabam criando uma privatização geral do espaço público, Hill comenta: Em Pequim e Xangai, o contexto do edifício só pode sobrecarregar o edifício. Por esta razão, é possível admirar profundamente tudo dentro do perímetro do Linked Hybrid, e ainda assim declarar o edifício essencialmente problemático por causa de suas relações com o contexto imediato. HILL, 2011.

Isto se dá, pois a inserção condominial de edifícios de classe alta, não são coerentes com a totalidade do entorno, e não se incomoda em


Foto do projeto finalizado Figura 45 Fonte: Artigo na revista online Mas Context.

‘expulsar’ as dinâmicas urbanas das pessoas que usufruíram do espaço anteriormente. As opções de serviços e varejo de ponta que aparecem ao longo do interior, apresentam caráter de “condensador social”, e o mercado urbano oferecido naquele espaço gera uma barreira impenetrável aos que passam pelo espaço com um menor poder aquisitivo. Isto dito, o relato a seguir exemplifica o que está sendo discutido:

O MOMA foi projetado para ser auto-suficiente, mas não parecem estar funcionando como tal (neste momento). O pátio, pode parecer muito surpreendente no design, não é tão ativo quanto poderia ser. Há dois bares/cafés aleatórios, mas eles não parecem muito convidativos. [...] mas é realmente uma cidade fantasma. DIHN, 2011

Para complementar, a gestão condominial se equipa de agentes reguladores do espaço com o uso de segurança privada armada, quebrando certas intenções do partido arquitetônico: Atualmente, Linked Hybrid falha nas estratégias de sua "cidade aberta", tanto no interior do edifício - você simplesmente não pode acessá-lo – ou em termos de como ele pode "sobressair” sua porosidade e começar a vazar positivamente influencia na área circundante. HILL, 2011

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É um projeto embasado com muitos conceitos importantes de arquitetura sustentável e ideologia de cidades do futuro, mas parece falhar em certos aspectos de sua empreitada ideológica, neste sentido quase impossível de suceder em todos os aspectos considerando o atual contexto. A resistência de terem executado o ideal por completo mesmo com a ciência de que as expectativas de ocupação e apropriação do espaço não viessem tão naturalmente é admirável. Independente de problemas adjacentes, acredito que o projeto expressa um bom resultado no sentido da exploração de volume e tipologia contemporânea (materiais e soluções tecnológicas) e o projeto aparenta na escala do pedestre, ser um complexo oblíquo e curioso, que gera interesse estético para a cidade. É um edifício importante como um exemplo de edifício tecnológico com intenções sustentáveis o que certamente é um feito no cenário global. Este irá servir de exemplo em relação à sua concepção

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construtiva e ideológica, também contando que o local de intervenção do projeto neste trabalho apresenta problemáticas comparáveis aos aqui estudados. Por fim, cabe neste momento perguntar se este edifício sustentavelmente construído, contribui para a construção de uma cidade mais sustentável. Considerando que a cidade sustentável visa que os âmbitos econômicos e sociais além do ecológico se relacionem, este projeto pode ser questionado em nível de sustentabilidade urbana que ele traz para a cidade. Por mais que há uma área verde pública, que teoricamente é um espaço de uso democrático, esta localizada no fundo do lote, o que implica atravessar a barreira de guardas privados, que basicamente servem de peneira social, que permite ou não a entrada de pessoas. Este fato faz com que este projeto perca sua força sustentável pois carece do terceiro pilar fundamental para a sustentabilidade: o social.


4.5 Living Steel Este é um projeto vencedor do 2° Concurso Internacional Living Steel para Habitação Sustentável em Recife, no Pernambuco. Foi realizado em 2007 pela equipe do escritório Andrade Morettin Arquitetos com os colaboradores Marcio Tanaka, Marina Mermelstein, Merten Nefs e Thiago Natal. Para os autores do projeto, o foco não só foi atender ao lote específico em Recife, mas também procurar fazer deste projeto uma possível resposta aos importantes problemas habitacionais em meio à grande pressão do crescimento populacional, uma realidade ao redor do mundo. O local de inserção do projeto foi analisado pela equipe, e é caracterizado como tendo alto índice pluviométrico, altas temperaturas com pouca flutuação e grande umidade, pois se localiza na zona tropical úmida. Também observaram que as tipologias arquitetônicas das construções de locais da mesma faixa do mundo e com problemas sociais parecidos, tinham características parecidas e

então usaram ferramentas essenciais no âmbito da aclimatação da edificação proposta.

Imagem ilustrativa do conjunto arquitetônico Figura 46 Fonte: Website dos autores do projeto.

Ainda sobre a análise do local realizada pelos autores do projeto, Recife possui notável rede hidrográfica na sua sub-região costeira e assim apresenta uma relação instável entre o solo e a água, sendo comum a ocupação de Estudos de caso | 127


terras baixas, periodicamente inundáveis. Deste modo, um dos segmentos do projeto foi pensar uma estrutura leve sobre pilotis, remetendo à utilização de palafitas, tipologia característica de ocupações em áreas com o solo inundável. Com uma área de terreno de 11.240 m2, a proposta de blocos com 4 pavimentos, resulta em uma área construída de 10.275 m2, onde os arquitetos garantem um adensamento saudável desejado e atingem os objetivos econômicos, de orçamento restritivo, ao evitar a necessidade de circulação vertical mecanizada. Conforme o artigo ‘Habitação Sustentável em Aço’ no portal Met@lica de construção civil, o concurso Living Steel do qual o projeto foi vencedor, é um programa mundial, criado em 2005 por onze grandes grupos siderúrgicos a fim de estimular projetos inovadores na construção de habitações, respondendo às aspirações econômicas, ambientais e sociais de uma população mundial em crescimento, com o uso do aço. Faz parte dos objetivos do concurso, a implantação de boas 128 | Estudos de caso

práticas ambientais e a inovação de design e construção. Como o concurso tinha por objetivo uma arquitetura consciente em relação ao aquecimento global e que atendesse às configurações de uma nova ordem mundial, os arquitetos do projeto, criaram uma resposta que foi a chave fundamental para atender a todos os quesitos do concurso. Este projeto seria um argumento do papel da arquitetura neste contexto, e definiria quais parâmetros adotar, ao desenvolver um projeto na qual a essência , de acordo com os arquitetos, é “não apenas se adequar às questões de sustentabilidade ambiental e social, mas ter sua própria concepção originada e contida nestes parâmetros: uma ‘Arquitetura Essencial’.”

Implantação do projeto e o programa distribuido Figura 47 Fonte: Artigo no portal Met@lica de construção civil.


Os arquitetos explicam que a implantação foi estudada para proporcionar uma ampla ventilação cruzada dos edifícios e do conjunto arquitetônico, maximizando o fluxo de ar, permitindo que a corrente de vento permeie a implantação, para que os edifícios sejam sempre favorecidos com muita corrente de ar com consequente maior conforto ambiental. O conceito do projeto, estabelecido pelos arquitetos, foi de desenvolver um modelo arquitetônico na qual a arquitetura revelaria os parâmetros sustentáveis adotados como premissas. Desta forma criando um conjunto no qual sua beleza consiste em destacar a essência do projeto que são as premissas de conforto ambiental vinculadas ao seu contexto urbano. Os parâmetros utilizados para a concepção do projeto são sete, sendo estes: o uso do solo, o desempenho bioclimático, a construção e a operação, os materiais e os recursos (desempenho ambiental), a flexibilidade e a reprodutibilidade,

os fatores sócio-culturais e o custo. Em seguida, cada um destes parâmetros serão analisados de acordo com o que os arquitetos propõe.

Diagrama de fluxo de ventilação que atravessa a implanação

Figura 48 Fonte: Artigo no portal Met@lica de construção civil.

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1.

O uso do solo

Considerando as características do meio urbano do projeto, as intenções são de potencializar a permeabilidade do projeto em todos os sentidos. Os blocos isolados permitem fluxo permanente de ar por todo terreno. Procura criar um modelo mais produtivo e consciente do solo, desacelerando o avanço da mancha urbana. O número de pavimentos é resultado da capacidade de carga do solo. O paisagismo foi pensado com espécies nativas apenas, necessário para uma manutenção de baixo consumo.

incidência de raios solares, mas permitindo a entrada de ar, como mais um recurso para o conforto térmico do espaço interno. É uma característica essencial para a minimização de custo do projeto, além de potencializar o resfriamento, o fato do edifício ser livre da utilização do vidro (Glass free). Isto se torna possível pela ausência de baixas temperaturas mesmo no inverno.

2. Desempenho bioclimático A arquitetura utilizou recursos estratégicos com efeitos de sombreamento e potencialização da ventilação cruzada, atingindo espaços fluidos e vazados, sem sequer precisar de soluções artificiais para climatização. Assim foram utilizadas divisórias internas de meia altura e venezianas de correr para barrar a intensa 130 | Estudos de caso

Dados estatísticos informacionais - Recife no inverno Figura 49 Fonte: Website do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos


Como o conjunto está sob constante ventilação, evitam-se espaços que acumulem partículas de umidade e consequente formação de mofo. Foram utilizados materiais de pouca absorção térmica para não estimular a permanência de calor nos ambientes em qualquer situação, incluindo a utilização de uma paleta de cores claras, minimizando assim a absorção da radiação solar. A sua estrutura é leve, sobre pilares com a primeira laje distanciada do solo, permitindo a ventilação também por baixo do edifício. Por fim, a sua cobertura funciona como um para-sol com grandes beirais e com varandas que também contribuem para o sombreamento, além de servir como uma boa proteção contra chuvas.

3.

Construção e Operação

A construção é realizada de forma simples e é composta de poucos componentes essenciais. São componentes pré-fabricados, montados no local, gerando pouco resíduo. Além disso, os perfis de aço da estrutura são facilmente encontrados no mercado (medidas universais) e foi idealizado para ser inteiramente parafusado, dispensando o uso de solda in loco. Este é um sistema facilmente reprodutível. Assim como a estrutura metálica, o uso de painéis de laje, são elementos industrializados que já são fornecidos com acabamento e dispensam o uso de pinturas e manutenção. Para o funcionamento da construção são utilizados recursos passivos, e o edifício passa a exigir uma operação menos complexa, minimizando assim os custos. Por fim, todos os materiais utilizados podem, existindo a necessidade de manutenção, serem substituídos e descartados para serem reciclados. 4. Materiais e recursos (Desempenho ambiental)

Cortes esquemáticos das práticas sustentáveis no edifício Figura 50 Fonte: Artigo no portal Met@lica de construção civil, editado pela autora.

O projeto busca minimizar o uso de materiais pois prevê este fator como premissa da arquitetura “essencial”. Mesmo considerando que o edifício foi embasado em soluções passivas, é necessário a utilização de energia para funcionar e se manter. Foi instalado um sistema de geração de energia limpa, in loco, compatível com o meio e viabilidade financeira, com a geração de energia Solar (fotovoltaica) na cobertura. Além disso, foi Estudos de caso | 131


instalado um sistema de reuso de águas pluviais, dispensando o reuso de água cinza, pois o alto índice pluviométrico da região atendem as necessidades ao longo do ano. Nas especificações dos materiais, buscou-se uma certificação ecológica com custo acessível, obtendo um equilíbrio entre o âmbito da indústria global com os materiais locais. 5. Flexibilidade e Reprodutibilidade Como mencionado, o uso dos materiais acabados possibilitam que o projeto tenha características de fácil reprodutibilidade. Para os arquitetos, a concepção de um sistema de infraestrutura flexível em sua disposição do espaço interno permitindo apropriação, foi produto da discussão sobre o conceito da arquitetura essencial. Este sistema do edifício é adequado a toda a faixa tropical úmida e tem total capacidade de mutabilidade do uso, fazendo deste um modelo que possa ser reproduzido em outros contextos e dimensões. 132 | Estudos de caso

6.

Fatores sócio-culturais

Em um mundo globalizado, existem diversos padrões de organização familiar, portanto as unidades são como salões flexíveis. Promovem a intervenção no espaço para melhor adequação às necessidades pontuais de cada indivíduo, gerando sensação de pertencimento e bem estar. Este envolvimento leva aos residentes terem maior compromisso com a preservação do lugar: “fator fundamental na balança da sustentabilidade do conjunto (empreendimento).” Ao mesmo tempo que as varandas e circulação horizontal funcionam como protetores das intempéries, são espaço gerador de convivência e dinâmicas humanas podendo também tornar-se estruturadores da comunidade. A ciência do uso de materiais locais e industriais com certificações integra os habitantes em uma sociedade produtiva e o espaço faz desenvolver uma identidade cultural nas pessoas.

Planta do pavimento tipo - Diferentes configurações internas Figura 51 Fonte: Artigo no portal Met@lica de construção civil.


7. Custo Umas das premissas da arquitetura essencial é a viabilidade econômica e a função social que ela irá atender. A predominância de recursos naturais, como o vento e a iluminação natural, reduzem o consumo energético e necessidade de ações mecanizadas. Isto intensifica a economia em energia gasta para a construção dos edifícios e o capital invertido. Em conclusão, todos os outros parâmetros ajudaram na redução de tempo de execução e de desperdício de materiais, promovendo uma economia em todos os aspectos. Este projeto é um exemplo de aplicação de conceitos sustentáveis e o faz com grande sensibilidade com o entorno e o indivíduo que irá usufruir da arquitetura sensível. Apesar de ser um projeto não executado, é base para uma série de noções construtivas de mínimo impacto. A maneira com a qual a organização das ideias frente à concepção de arquitetura essencial é de fato uma orientação para o projeto a ser aplicado neste trabalho. Estudos de caso | 133


4.7

Bell Street Park

Segundo a prefeitura de Seattle (2016), o projeto do Bell Street Park foi realizado pela mesma, por meio do departamento de parques e recreação (Seattle Parks and Recreation Department) que ao promover o comitê consultivo de espaços verdes para os cidadãos em 2008, propôs um programa de melhorias para os próximos seis anos, contribuindo para o plano de metas por mais espaços públicos na cidade até 2024, que até então estava bem desencaminhado. A autoria do projeto é do grupo SvR Consultant, Landscape Architecture & Civil Engineering com a colaboração do escritório Hewitt Landscape Architecture and Urban Design. O grupo SvR liderou o desenho urbano e de engenharia de inovação no projeto da Bell Street Park, em uma rua que antes servia um único propósito, e buscou dar direito de passagem para todos os meios de mobilidade, transformando

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o espaço em um ambiente de convivência pública, vibrante, seguro e verde. O bairro onde esta rua se encontra, tem características únicas dentro da cidade de Seattle, explica a prefeitura de Seattle. Ele está geograficamente próximo ao bairro da orla e do centro e apresenta uma mistura eclética de empresas e residências, além da presença de arquiteturas variadas. A diversidade equilibrada existente resultou em um dos bairros mais densos da cidade, que cresceu em quantidade de habitações (246%) entre os anos de 1990 a 2005. A comunidade deste espaço é ativa e dedicada, e apoia uma série de programas, inclusive mais de trinta agências de serviços humanos e habitação social do bairro. O projeto aqui estudado, contou com a participação pública em suas etapas, que com uma assídua presença da comunidade dentro das reuniões participativas, estimulou a equipe de designers a levarem em consideração dois quesitos: enfatizar a importância da segurança, a ativação do espaço e a iluminação; e o uso de materiais verdes/ reciclados. O bairro Belltown possui um parque, o Regrade Dog Park, mas que claramente não atende às necessidades básicas da região e muito menos às exigências estabelecidas no plano de bairro, que visa um bairro de uso misto, habitável e ativo, direcionado para os pedestres. Conforme a prefeitura de Seattle o projeto foi proposto inicialmente no plano de bairro de Belltown em 1998. Mas naquela época os recursos e investimentos para a abertura de espaços livres infelizmente não acompanharam o ritmo do


20 É jornalista local veterano, atual produtor e editor de notícias e política no portal online do jornal Seattle Met.

crescimento da região. Porém, Josh Feit20 (2014) no artigo ‘The Bell Street Park Project Proves Sharing the Road Can Be Fun’ comenta que, ao longo dos anos, a escassez de áreas disponíveis a preços acessíveis na cidade, para a criação de novos parques, fez com que a prefeitura se organizasse e usasse recursos do fundo do programa de implementação de parques destinada à aquisição de terrenos, para transformar as ruas que já eram de propriedade pública em espaços ‘parque/rua’. Conforme o portal do site da prefeitura de Seattle, este novo conceito de parque se estende da primeira avenida até a quinta avenida na rua Bell Street. Este recorte de quatro quarteirões faz parte da primeira fase de um projeto de longo prazo para um corredor verde de ligação do bairro beira-mar Elliott Bay ao bairro histórico de Denny Park. Para o desenho de plantio, os arquitetos contaram com o fator de estar criando um sistema unificador de circuitos para o parque. O resultado foi um espaço de 56 mil m2 transformados em um

espaço híbrido de atividades de parque com funções de rua. Feit (2014) lembra que a intenção de Seattle é configurar um shopping à céu aberto neste espaço, mas não da forma convencional existente, e sim de uma maneira bem aberta e inovadora, que irá servir de espaço integrador para a comunidade de Belltown.

Implantação do Bell Street Park Figura 52 Fonte: Memorial descritivo do projeto pela prefeitura de Seattle.

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A realização do projeto que durou de 2009 a 2014, foi construído pela construtora AGR Construction Inc., que dividiu a sua construção em quatro blocos individuais. A prefeitura conta que o projeto demorou mais do que o planejado pois houve interferência da obra do túnel que a companhia Puget Sound Energy estava realizando. Os arquitetos descrevem o projeto do Bell Street Park como um espaço de lazer e estar públicos para as pessoas, enquanto também permite o acesso à automóveis, ônibus, bicicletas e ambulâncias. Ainda comentam que o projeto consistiu em converter uma faixa de trânsito e reconfigurar o estacionamento, essencialmente dividindo a rua em eixos de circulação compartilhada de pedestres e de carros ao longo da via, ocasionalmente criando bolsões onde as pessoas podem se reunir em torno de foodtrucks, jardins e equipamentos de lazer, configurando o espaço de um parque linear. Este projeto tornou a rua uma espécie de calçadão multiuso de quatro quadras, revitalizadas com paisagismo,

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melhor iluminação e espaços mais abertos.

Corte tipo do modelo de design Figura 53

Fonte: Website da prefeitura de Seattle, departamento de parques e recreação.

Os arquitetos contam que o maior desafio do projeto foi a adição segura de experiências de parque - passear e brincar, se reunir e comer – permitindo ainda o fluxo de carros, motos, ônibus e veículos de emergência. E assim enumeram as diretrizes tomadas na concepção do projeto, para atender estas necessidades conflitantes:


o Redistribuir – O espaço de veículos foi reduzido a duas pistas, com alguns bolsões de estacionamento, gerando mais espaço para vegetação e pessoas. o Elevar – O leito carroçável foi elevado para o nível da calçada para uma superfície contínua, compartilhada. O nível contínuo, do início ao fim, irá encorajar pedestres, ciclistas e carros a dividirem o espaço.

deficientes visuais. Para resolver essa questão a pavimentação é escura e táctil, formando faixas de textura para sinalizar as mudanças de calçada comum para a via compartilhada. o Misturar – O uso da zona central é em tom médio de cinza, e as texturas de cores escuras fazem borda aos limites, afunilando a largura do leito carroçável, formando bolsões de espaço de convivência. o Cultivar – Seleção de uma rica diversidade de vegetação para remeter a um conjunto natural, além de espécies mais duráveis e resistentes, formando áreas verdes dez vezes mais arborizadas que as outras ruas do centro.

o Traçar – Um desenho de tapeçaria recortada no espaço compartilhado, foi pensado para misturar elementos de parque e de rua, unificando o corredor e proporcionar um detalhamento que reivindica a rua como um parque. o Rotacionar – O grid do desenho foi girado para quebrar convenções de desenho de pavimentação da rua e para promover movimentos diversos ao longo e através da mesma. o Articular – O fluxo de pedestres, bicicletas e veículos é transformado em movimento fluído, com área de transito diminuído com bolsões de acumulação de pessoas em locais apropriados. o Guiar – Espaços compartilhados podem ser desafiadores para os

Diretrizes de concepção do projeto Figura 54 Fonte: Memorial descritivo do projeto pela prefeitura de Seattle

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Para Feit (2014) em outro artigo, o ‘Pedestrian Chronicles: Building Bell Street Park - Growing up by Slowing Down’, um ponto crucial que fez funcionar a criação de espaços de permanência de pedestres nas esquinas, foi forçar os carros a prestarem mais atenção, ao criar mais pontos de entrada para o tráfego de pedestres. Também comenta que, com o uso de corredor de canteiros, recuos, zonas mistas de uso, faixas de pedestre em X, área do cão, e um plano de nível igual entre a calçada e rua (sem calçadas), é fácil ver o quão vibrante este trecho do centro se tornaria. Josh Feit (2014) quando estava descrevendo o projeto, lembra que este tem uma considerável semelhança com o trabalho inovador de Janette SadikKhan, a ex-secretária de transporte da cidade de Nova Iorque que realizou um programa que redesenhou muitos dos cruzamentos mais movimentados da cidade como praças públicas, a mais famosa transformação sendo o trecho da Broadway, na Times Square com 1 hectare de novo espaço público. Este projeto tem duas curiosidades adicionais, quando da apresentação final à prefeitura. A primeira é que para a realização deste

projeto as árvores existentes da rua tiveram que ser removidas. É um assunto pertinente a ser tratado com seriedade e compromisso, e este projeto considerou este fator desde o início. A equipe da secretaria e os autores do projeto fizeram uma revisão do catálogo de árvores existentes e desenvolveram um plano de replantio com o objetivo de replantio, manutenção e poda dos próximos 30 anos ao longo do corredor da rua. A segunda curiosidade é que o departamento de parques e recreação e o de artes e cultura, juntos, selecionaram a artista de espaços públicos Sheilla Klein para trabalhar com o escritório de design, na criação de arte no local consistente com o espaço e os objetivos do projeto. A prefeitura espera que a disseminação da arte seja uma catalisadora de atividades no parque.

Foto do projeto implantado por completo 138 | Estudos de caso

Figura 55 Fonte: Website do escritório SvR.


Tendo sido este um trabalho de intervenção para ativação do espaço público completo promovido pelo departamento de parques e recreação da cidade de Seattle, foram autorizadas mudanças de licenças para o uso externo do espaço de restaurantes e o desenho do limite de ocupação da calçada foi ajustado para acomodar e encorajar o uso mais intenso dos restaurantes existentes e futuros. Outra ação, realizada pela prefeitura em conjunto com o King County Metro e SDOT foi redirecionar as linhas de ônibus nos finais de semana, permitindo que a comunidade pudesse aproveitar as quadras para eventos de verão, ou podendo simplesmente apresentar um pedido de Uso Aplicado do parque para agendar o espaço por completo. Depois de finalizada a obra, o escritório SvR trabalhou com a comunidade de Bell Street Park, através da comunidade DON Neighborhood Matching Grant, para desenvolver um plano de Arte e Ativação para atrair seus vizinhos, os empresários locais e

funcionários da cidade na ativação do parque. O Plano estabelece uma visão compartilhada para a ativação do parque ao longo da Rua Bell, e traduz as prioridades da comunidade em um plano de trabalho palpável, que irá animar o parque ao longo dos próximos cinco anos. Neste trabalho vimos uma série de exemplos positivos de transformação do espaço público, tanto no âmbito de qualidade de espaço gerado, quanto no âmbito de troca entre os agentes envolvidos. Aqui no projeto de intervenção deste TCC é possível catalisar e sintetizar o pensamento aplicado neste projeto estudado para a idealização da qualidade de espaço urbano que estamos procurando para a cidade sustentável. Qual a cidade mais sustentável senão aquela que consegue acomodar, priorizando o pedestre, todos os usos de uma rua, com qualidade de espaços urbanos verdes? Enfim, este projeto servirá de referência tanto na metodologia, quanto nos conceitos aplicados para o espaço urbano.

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4.8

21 Arquiteta e Urbanista formada pela Faculdade de Belas Artes de São Paulo (1986), Mestre e Doutora em Arquitetura e Urbanismo pela FAU / USP (1996-2003); professora adjunto e pesquisadora do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo na Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM), É líder do Grupo de Pesquisa Urbanismo Contemporâneo: redes, sistemas e processos, além de muitas outras ocupações.

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Cantinho do Céu

Este é um extenso projeto de urbanização, localizado no complexo Cantinho do Céu, que compreende o Residencial dos Lagos, Cantinho do Céu e Jardim Gaivotas, situado no distrito do Grajaú, subprefeitura da Capela do Socorro em São Paulo. É uma região ambientalmente protegida, ocupada por assentamentos irregulares que apresenta condições precárias de infraestrutura à beira da represa Billings, sendo isolada da cidade por um corredor de linhas de alta tensão. Para compreender as problemáticas que a área de intervenção do projeto sofre, foi extraído do artigo ‘Direito à Cidade e ao Ambiente na Metrópole Contemporânea, o projeto “Cantinho do Céu” na represa Billings, São Paulo’ escrito por Angélica Benatti Alvim21 (2011) um recorte que traz uma contextualização da área:

Até a década de 1950, a área do Cantinho do Céu era totalmente coberta pela Mata Atlântica. Em 1987, um empreendedor particular, juntamente com a empresa imobiliária Cipramar, subdividiu ilegalmente a península, derrubando as árvores e vendendo lotes de 125 m² para a população de baixa renda. O loteamento foi construído sobre um terreno acidentado e muitas casas foram erguidas precariamente em encostas íngremes, algumas das quais propensas a erosão, em “áreas de risco geotécnico.” Não havia ruas pavimentadas, água potável, sistema de esgoto nem eletricidade. Após grandes protestos, a SABESP (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) instalou, em 1994, na comunidade, três caixas d’água, cuja captação por parte da população dependia da distribuição por caminhões, causando inúmeros conflitos. Em 1995, a SABESP instalou uma rede de água, embora com fornecimento intermitente. Em 1992, foi parcialmente instalado o sistema de esgoto, as moradias foram ligadas à rede elétrica e foi implantada alguma iluminação pública. Em 1995, os domicílios foram ligados às linhas telefônicas e, em 1998, os moradores adquiriram o direito do estabelecimento formal dos nomes das ruas.

Com isso foi possível enxergar o tipo de dificuldade que os residentes da área sofrem no seu cotidiano para obter uma infraestrutura urbana de qualidade. Este projeto vai proporcionar uma infraestrutura de saneamento ambiental e melhoria das condições de acesso e mobilidade e vai servir diretamente à população residente do Cantinho do Céu, proporcionando o Direito à Cidade e ao Ambiente de forma integrada.


Realizado pela prefeitura do município de São Paulo em parceria com o governo do Estado, faz parte do Programa de Saneamento Ambiental dos Mananciais do Alto Tietê – Programa Mananciais, que tem como objetivo proteger e manter a qualidade dos recursos hídricos e das fontes de água potável. É uma intervenção de caráter emergencial, pois consiste de um assentamento que representa um impacto ambiental negativo para o manancial e para a qualidade de abastecimento de água da população da Região Metropolitana de São Paulo. Marina Pita22 (2011) no artigo para a revista ‘Infraestrutura Urbana’ expõe que este projeto pretende reduzir o volume de esgoto sem tratamento que é despejado na represa e alterar a relação dos moradores com a bacia por meio da inclusão e melhoria da qualidade de vida. A elaboração dos projetos de urbanismo, arquitetura e paisagismo se deu pelo escritório Boldarini Arquitetos Associados com Melissa Matsunaga e um amplo grupo de arquitetos

colaboradores. Contaram também com a consultora de paisagismo Suzel Maciel e o consultor estrutural Wagner Garcia. Uma série de empresas e profissionais da área também contribuíram para o projeto específico e construção do projeto. O artista Maurício Adinolfi propôs para as empenas do parque um estudo cromático, chamado cores da Billings, com a finalidade de compor uma paisagem com o ambiente natural e construído. A Secretaria Municipal de Habitação, em conjunto com a Promotoria Pública, desenvolveram estudos e diretrizes para servir de alternativa a uma ação civil pública que determinava a desocupação da área. Com isso o poder público municipal promoveu diversas experimentações para intervir nos espaços territoriais com assentamentos na sub-bacia de drenagem e tem adotado intervenções específicas para conjunto social e físico. Os arquitetos contam que no projeto de urbanização, elaborado no local desses loteamentos irregulares que compõe o Cantinho do Céu, foi essencial levar em consideração as possibilidades de mobilidade urbana para a população. O arquiteto adiciona, no artigo para o portal ‘Archdaily’, que para um projeto de intervenção no espaço informal consolidado da cidade, é necessário considerar as preexistências territoriais, em

22 Jornalista em comunicação social pela PUC SP (20032008) e pós graduada em Economia urbana e gestão pública com pela Cogeae PUC SP(20102011) Atual repórter na Momento Editorial, vem se especializando em Tecnologia da Informação e Comunicação.

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suas potencialidades e limitações. Alvim (2011) complementa o discurso do arquiteto Marcos Boldarini: Em áreas ambientalmente protegidas, o desafio é redobrado: ao mesmo tempo em que a preservação ambiental deve ser garantida, o direito à moradia torna-se questão essencial [...] Intervenções em áreas protegidas devem garantir o direito à cidade e ao ambiente, reconhecendo as preexistências e qualificando-as, e, ao mesmo tempo, recuperando e preservando os atributos ambientais para gerações futuras. ALVIM (2011)

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Este projeto é de natureza delicada, pois abrange aproximadamente 150 hectares e abriga cerca de 30.000 moradores. Assim, o objetivo, para o arquiteto, é integrar o conjunto com a cidade formal, dotá-lo de infraestrutura urbana e qualificar o espaço como ambiente construído. O arquiteto define este projeto como um desafio, pois intervir nessa grande área, que é um objeto de ação civil pública, e tem um espaço consolidado e denso de ocupação precária, além de ser ambientalmente frágil por estar tão próximo à represa Billings, não

é tarefa fácil. Para a equipe, foi necessário realizar uma série de novas experimentações de projeto, buscando sanar os problemas de espaços com ocupação irregular e de risco (ambiental e sanitário), principalmente nas ocupações nas margens da represa que não contavam com saneamento básico, o que significava que todos os dejetos do conjunto urbano iam diretamente para a represa. Quando a equipe estava elaborando o projeto, criaram hipóteses de intervenção para suprir os déficits de infraestrutura e de formas de organização da população. Os arquitetos acreditam que o assentamento deveria ser qualificado e integrado à cidade, buscando resolver questões fundiárias e de pós-ocupação, além de providenciar condições para reforçar a inclusão social.

Urbanidade de passeio público criada ao longo da margem Figura 56 Fonte: Arcoweb.


O início do projeto de urbanização do Cantinho do Céu foi destacar a importância do espaço público e coletivo para a população local, e transformálo em principal ferramenta na qualificação do bairro. Com isso a ativação e qualificação do espaço público, entendido como espaço suporte às manifestações coletivas cotidianas consolidadas, iria despertar a sensação de pertencimento da comunidade. O projeto de intervenção urbana, para os loteamentos irregulares Residencial dos Lagos, Cantinho do Céu e Gaivotas, consistiu em realizar um conjunto de estratégias: o Preservação da vida – Remoção ou a correção da situação, em áreas de risco identificadas. o Integração urbana – Respeitar a autonomia tipológica existente para implantação das novas intervenções o Complementação e adequação da infraestrutura

urbana – Implementar melhorias de saneamento e de mobilidade em todo o assentamento. o Universalização do acesso à infraestrutura e aos serviços urbanos – Prever a instalação de equipamentos comunitários adequados e compatíveis com a comunidade e criar mais áreas de lazer e de esportes. o Adequação do espaço urbano e ambiental – Executar intervenções no bairro como um todo, criando nova identidade urbana. o Geração de condições necessárias para a regularização fundiária do parcelamento do solo. Após um projeto social de cadastramento e mapeamento dos assentamentos, considerado um etapa crucial em qualquer projeto de reurbanização desta complexidade, somente algumas remoções de construções existentes foram consideradas necessárias (cerca de 30%), definidas sob critérios técnicos. Foram selecionadas as casas que apresentavam a impossibilidade de conectálas às infraestruturas, ou as que se encontravam situação de risco, mas principalmente, das casas que estavam localizadas às margens da represa. Com a liberação das margens, foi destinado o espaço do novo parque.

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todas as decisões. No âmbito da adequação da infraestrutura, é importante mencionar que foram estruturadas as condições de acesso e mobilidade, com a análise das estruturas viárias existentes. Foi elaborado um conjunto de propostas que procurou integrar, articular e conectar os três loteamentos entre si, integrados com a malha viária do entorno. Neste foram propostas novas ruas, vielas e escadarias, garantindo o acesso entre diversos pontos de interesse, tanto para dentro da área, quanto para conexão com o entorno.

Diagramas de estratégias na transformação do espaço urbano Figura 57 Fonte: Archdaily, editado pela autora.

O escritório de arquitetura lembra que o desenvolvimento o projeto executivo só saiu do papel, à medida que a remoção de casas acontecia. Esta metodologia se justificou, pois não se tinha o conhecimento exato da área, considerando que este sofreu ocupação desordenada. Possibilitou também um olhar aprimorado das escolhas de projeto no decorrer da obra e ainda permitiu que a comunidade participasse das escolhas de projeto ao longo de

Quadro comparativo de transformação do conjunto urbano e da via Figura 58 Fonte: Pini, editado pela autora.

144 | Estudos de caso


Olhando para o tecido urbano e para a categoria de tráfego de cada via, a equipe de arquitetos determinou que a pavimentação asfalto-padrão seria utilizada nas vias de maior fluxo; nas vias com declividade maior que 15% o tratamento da pavimentação seria com concreto armado; e as vias de menor tráfego, receberiam pavimento intertravado (permeável) de concreto com sistema de drenagem localizado no centro da via. Nestas em vez de bocas de lobo tradicionais, foram instaladas grelhas metálicas chamadas de boca-de-leão. As ruas perpendiculares ao parque, foram tratadas para marcar o acesso ao parque e projetadas para o compartilhamento entre o automóvel e o pedestre. No final delas, criaram praças para formar uma área de transição entre a moradia e o parque, o privado e o público. Agora com as vias principais asfaltadas, o Cantinho do Céu terá acesso por micro-ônibus, carros de apoio da empresa de água e esgoto, caminhão de lixo, vans escolares e bombeiros. O projeto para o parque proposto, com extensão de 7km na margem da represa, constitui um espaço público aberto associando usos de lazer e recreação, e busca uma tendência de conscientização ambiental de conservação e preservação. Configura-se em um espaço de apropriação coletiva na faixa entre a represa e o conjunto de área ocupada.

O projeto cria um sistema de áreas verdes, estabelecendo caminhos diversificados em planos diferentes, permitindo a acessibilidade ao longo do percurso. Algumas ambiências foram criadas, seguindo as premissas para o parque, como os três decks de madeira, as variadas arquibancadas ajardinadas, as áreas livres dotadas de bancos/espreguiçadeiras, um platô para atividades diversas e um bloco de atividades esportivas. A premissa para esta variedade de espaços, é de estimular o uso, como de lazer e contemplação, por todas as faixas etárias, proporcionando qualidade de vida e sensação de pertencimento para a população local.

Implantação com legenda de programa Figura 59

Fonte: Archdaily, editado pela autora.

Estudos de caso | 145


O parque tem vocação de sistematizador do fluxo das águas, pois é criado em patamares de gramados que ao receber a água da chuva, naturalmente favorecem a infiltração. O excedente da água, vai sendo direcionado à represa ou segue para os dispositivos de canalização subterrânea. Foi utilizada a pavimentação permeável ao longo dos percursos, permitindo até 90% de infiltração, contribuindo ainda mais para uma natural absorção da água da chuva sem interferências impermeáveis como o concreto. Em outros pontos o uso de decks elevados também não interferem na infiltração e se adaptam facilmente ao terreno irregular, permitindo suave transição entre níveis, melhorando a acessibilidade. Foi elaborado um trabalho minucioso de manutenção e reconstituição de espécies vegetais nativas, promovendo uma qualidade de vida aos moradores. Houve um meticuloso trabalho no projeto de intervenção. O arquiteto explica que a implantação e traçados do parque tem uma aparência complexa pois levou em consideração 146 | Estudos de caso

Praça em níveis para inflitração de água e diferentes espaços de estar Figura 60

Fonte: Arcoweb.

vários tipos de interferências, desde ajustar o desenho de uma passarela para evitar a remoção de uma árvore, até contornar a tampa da boca de lobo da rede de esgoto. Por fim, cumpriram um plano de implementação do parque, que estabelecido por um conjunto de condicionantes (características do relevo, hidrografia, remanescentes de vegetação e acessos existentes), resultou em um conjunto de ações em seis trechos de intervenção. O projeto durou de 2008 a 2012, até a conclusão da primeira


etapa do Residencial dos Lagos. A segunda etapa foi iniciada em 2014 e está em andamento. A última etapa a ser executada está prevista para conclusão no ano de 2020. De acordo com o Habisp no catálogo de exposições, a área teve 7.250 metros de drenagem urbana instalada, foram instaladas 470 ligações domiciliares de esgoto e concluídas mais de 80 mil metros quadrados de pavimentação de vias. Desde a abertura do parque a comunidade ampliou sua relações de sociabilidade e de contato com o lugar onde vivem. Este projeto foi estudado, pois é um real exemplo de como intervir nas margens de águas, além de ser um caso de sucesso de ativação do espaço público. Utiliza diversos conceitos de cidade sustentável e parece ter colocado em prática todos eles. O enfoque desta análise foi perceber como, frente à uma série de dificuldades, um espaço pode ser re-apropriado para retomar a sua função social e valorizar a relação entre a sociedade e o ambiente. Também é referência de como em um parque de margem (que o projeto deste trabalho, devido a configuração da área de intervenção, tende a ser considerado, até mesmo para resgatar o limite de APP [Área de Preservação Permanente] é possível distribuir diversos usos, inserindo passagens e caminhos, para uma natural apropriação do espaço pela população ao redor. Este projeto do ‘Cantinho do Céu’, será utilizado como inspiração e guia na concepção do projeto de intervenção urbana aqui proposto, os conceitos atingidos do resgate de fluxo de pessoas, as diretrizes propostas e as espacialidades propiciadoras de relações de coletividade social.

Estudos de caso | 147



5. PROJETO

VILA SOCORRO


5. PROJETO VILA SOCORRO 5.1 O local de intervenção e suas características A cidade contemporânea é o local do convívio entre as diferenças e da construção do coletivo. Por um lado, as cidades reúnem condições culturais e materiais capazes de propiciar a elevação dos padrões de dignidade desejáveis para a sociedade significando o lócus privilegiado das atividades econômicas mais relevantes [...] e difusoras dos novos padrões de relações sociais — incluindo as de produção — e de estilos de vida. Por outro, a crise socioeconômica, no contexto recente, vem assumindo dimensões sócioespaciais que tem nos centros urbanos uma maior visibilidade: crescem o desemprego, a informalidade e a pobreza que se aliam à ausência de infraestruturas básicas (saneamento e transportes) e de políticas públicas eficazes, resultando em disparidades de várias ordens que se expressam no espaço urbano desigualmente desenvolvido e segregado. (ALVIM, 2011)

150 | Projeto Vila Socorro

Área do prjeto de intervenção urbana - barreiras urbanas Figura 61 Fonte: Google Earth, 2016


A área designada para a intervenção urbana se situa na Zona Sul de São Paulo, onde é possível debater e colocar em prática todas as questões de cidade anteriormente discutidas neste trabalho. O local de intervenção chamado de Vila Socorro, é um bairro na ponta norte da área da Subprefeitura Capela do Socorro. Este espaço sofre uma série de problemas sendo uma delas, a possível comparação deste espaço urbano à uma ilha isolada, pois aparenta existir como um resultado de um espaço residual de terra que restou entre os braços dos cursos d’água da Marginal Pinheiros e do rio Guarapiranga, e entre a Avenida Guarapiranga que traça uma ruptura, interrompendo a conexão urbana, criando uma barreira física. 5.1.1 Histórico da área

de São Paulo com o objetivo de explorar os serviços de produção e distribuição de energia elétrica, assim como os serviços de iluminação e transporte coletivo. (SABESP, 2008)

A área é marcada pela expansão industrial que se consolidou após a construção da barragem da represa e da estrada que levava até ela. Após a sua construção, o bairro da Zona Sul de São Paulo passou por diversas transformações caracterizadas pela função recreativa que a represa assumiu, atraindo para a região muitos visitantes. Isto definirá as formas de ocupação do solo e as atividades econômicas que ali se instalaram, com a criação de clubes e bares. Nas décadas de 1920 e 1930 a imprensa já fazia publicidade das praias da represa, onde as famílias faziam footing nos finais de semana. (PREFEITURA SÃO PAULO, 2016)

A ocupação da Capela do Socorro está estreitamente relacionada à expansão e estruturação urbanas da Subprefeitura de Santo Amaro, à qual esteve administrativamente ligada até 1985.

As obras para a construção da represa do Rio Guarapiranga tiveram início em 1906, pela The São Paulo Trainway Light and Power Co., empresa que se instalou em 1899 na cidade

Projeto Vila Socorro | 151


Fotos aéreas datadas para visualização da ocupação e consolidação

Figura 62 Fonte: Google Earth, editado pela autora.

A figura 62 mostra a diferença da ocupação urbana no decorrer do tempo, evidenciando uma rápida consolidação econômica da região. A Bacia do Guarapiranga, que ocupa uma área aproximada de 630 km2 e possui um alto potencial hídrico, tornou-se então fonte de abastecimento á partir desta época. Entretanto, devido á uma ocupação desordenada e irregular na região, já nos anos 60, o manancial passou a enfrentar problemas ambientais, como o comprometimento da água do reservatório. (PREFEITURA SÃO PAULO, 2016)

152 | Projeto Vila Socorro


A figura 63, mostra a expansão para o lado de Santo Amaro, quando esta ainda nem fazia parte da cidade de São Paulo.

Figura 63 Fonte: blog do Giesbrecht.

Mapa histórico da expansão de São Paulo

5.1.2 Percepção do espaço O levantamento da área se deu por visitas ao local e levantamentos fotográficos. A seguir as imagens exemplificam as características levantadas no local

Projeto Vila Socorro | 153


Utilização de diferentes modais de transporte

Figura 64

Fonte: Foto da autora, em junho de 2016

154 | Projeto Vila Socorro

Estas imagens (figura 65) nos mostram que o movimento de pessoas na beira a Avenida Guarapiranga é ativo, até no período noturno, próximo às áreas de maior uso comercial

Visualizações da avenida Guarapiranga Figura 65 Fonte: Foto da autora, em junho de 2016


Comércios dentro da área. Figura 66 Fonte: Foto da autora, em junho de 2016

Comércios dentro da área. Ainda em se tratando de comércio, mas desta vez no interior da área, pode-se observar alguns comércios locais em esquinas e até mesmo a presença da comida de rua (o carro que serve sanduíches) todos os dias da semana em frente a uma indústria. Foi observado na área também que estes comércios funcionam para atender às pessoas que trabalham no local durante o dia. Porém foi observado um único exemplo de um bar que fica aberto durante a noite (figura 60), para atender também a população local (bem pouca) e os funcionários das indústrias que fazem o turno da noite, pois há algumas indústrias que funcionam ininterruptamente durante a noite.

Figura 67 Fonte: Foto da autora, em junho de 2016

Projeto Vila Socorro | 155


Habitações em meio a área Figura 68

Fonte: Foto da autora, em junho de 2016

156 | Projeto Vila Socorro

A figura 68 mostra os exemplos de habitação que se encontram na área. Há uma variedade de tipologias habitacionais na área, tais como casas geminadas no padrão imobiliário encontrado literalmente em qualquer lugar da cidade e algumas ocupações irregulares (imagem do canto superior esquerdo), todas quase que totalmente estabelecidas, e de fato encrustadas nas margens do rio Guarapiranga. Curioso também é o fato da empresa Bayer, e estas casas informais dividirem praticamente o mesmo espaço. O estacionamento da empresa está localizado atrás das casas, e como uma ação higienista/ estética existe uma vegetação trepadeira em frente ao gradil que separa ambos.

Ocupação de casas e o estacionamento da Bayer Figura 69

Fonte: Foto da autora, em junho de 2016

Este espaço em geral tem muitas particularidades, tais como em frente às casas em questão, com uma estrutura como se fossem garagens ou churrasqueiras. Estes espaços parecem ser o espaço de lazer das casas, seu quintal. E em frente a este espaço, encontra-se mais um estacionamento da Bayer.


Vazios urbanos.

Vazios urbanos. Figura 70

Fonte: Foto da autora, em junho de 2016

Em seguida nota-se outra grande característica do local. Como o espaço é principalmente industrial, acaba por resultar espaços urbanos de péssima qualidade, considerando que a rua se torna um espaço residual entre dois muros de fábrica. Como se estes espaços já não fossem de baixa qualidade urbana, há ainda alguns imóveis industriais, que hoje estão em desuso e abandonados. Fato que acaba contribuindo ainda mais para o caráter fantasmagórico de algumas ruas sem diversidade de usos. No período noturno não deixa de ser diferente, onde nas ruas desérticas até o som ecoa.

Figura 71 Fonte: Foto da autora, em junho de 2016

Projeto Vila Socorro | 157


Visualização da área ao lado do rio Pinheiros Figura 72 2016

Fonte: Foto da autora, em junho de

158 | Projeto Vila Socorro

Visualização da área ao lado do rio Guarapiranga As figuras 72 e 73 demonstram as visualizações da área pelo leito dos rios.

Figura 73 Fonte: Foto da autora, em junho de 2016


Fotografias do local

LINH A

01

03

02

04

05

06

LILÁS

07

(METRÔ)

08

09

CINCO

LINHA

CINCO

METRÔ

LILÁS

30

10

ESCADARIA

03 28 07 09

29

11

28 24

01

11

A

RO

BIO

EUSÉ

05

13

20

26

AUX STEV

06

NHEI

30

25

ENGE

02 08

04

27

12

17

10

15

AVENID

Neste mapa podemos ver o local exato das fotografias numeradas dentro da área. As setas numeradas correspondem ao numero da fotografia e a direção da seta consequentemente para a direção da foto. A seta na cor verde representa as fotografias que apresentam possíveis potencialidades para a área. A seta na cor laranja representa as imagens que demonstram problemas na área.

RO

CAST

19 21

14

16

12

14

18

13

22 26

25

24

23

N

00

15

22

21

20

19

18

17

16

100m 100m

50m 50m

1km 500m

Projeto Vila Socorro | 159


Uso e ocupação do solo 5.1.3 Levantamentos

Aqui estão colocados em sequência os levantamentos relizados na área de intervenção, para reunir as informações necessárias sobre o local.

(METRÔ)

LILÁS

CINCO P

LINHA RAMPA

CINC

FAVELA

O

P

METRÔ P

LILÁS

P

FAVELA

P

ESCADARIA

C R

C

BAYER S.A.

BAYER CORPSCIENCE

FAVELA

ASSOCIAÇÃO RELIGIOSA IMPRENSA DA FÉ

LUMINI

FAVELA

CIMPOR CONCRETO

BRASFOR

SPRIMAG BRASIL

SIGRA TEXTEIS

FAVELA

SANTO ALBERTO EDITORA

WORMER RACKS PARA SERVIDORES

TRW AUTOMOTIVE

DIEHL METALÚRGICA

MONTANA QUÍMICA

MONTANA QUÍMICA

IDEAL LOCAÇÃO DE VEÍCULOS

CONABOR

MONTANA QUÍMICA

BT LOGISTICA INTEGRADA ESTAMPOCAR Fi&El

PRISMEX ALPTEC MARCAS VIÁRIAS DIP ELETRÔNICA

SELLER INK INDÚSTRIA E COMÉRICO DE TINTAS

AUSTEX

KRON INSTRUMENTOS ELÉTRICOS

CLASSIC AMENITIES

TEC VIDRO

FICO FERRAGENS

BLUEMETAL CONLINE BELMAY

EMPLAS INDÚSTRIA DE EMBALAGENS PLÁSTICAS

CCS

POLIMIX CONCRETO ESAB

ARTPLAN

EUTECTIC DO BRASIL AERO MECÂNICA DARMA

SHOPPING FIESTA AUTOSTAR COMÉRCIO DE VEÍCULOS BLINDADOS

TENDA ATACADO

COPENAG ARMAZÉNS GERAIS

MOTEL VILLAGE

TECMECANIC

UNITY COMÉRCIO DE BRINDES

JOLI MATERIAIS PARA CONSTRUÇÃO

ENGEMIX CONCRETO

ANACONA FERRAMENTARIA DE FERRAMENTAS PRECISÃO HIDRAMAC

KENNEDY CALHAS

24 DE MARÇO A+ MEDICINA DIAGNÓSTICA

FAVELA

FAVELA

POSTO IPIRANGA

POSTO IPIRANGA

POSTO SHELL

CHURRASCARIA BRASÃO

POSTO IPIRANGA

PRAÇA AURÉLIO BRACCIALI

N

0 0 100m 100m 50m 50m

LEGENDA:

160 | Projeto Vila Socorro

FAVELA

NEOREX DO BRASIL

ECOPONTO CIDADE SAUDÁVEL

No mapa de uso e ocupação do solo, é possível observar que a predominância da ocupação do local é de uso industrial. Há também uma presença de usos habitacionais e comerciais (Tenda Atacado e Shopping Fiesta).

ASSOCIAÇÃO DESPORTISTA CLASSISTA BAYER

BLANTECH

INDUSTRIAL ATIVO IMÓVEL VAZIO

500m 1km COMÉRCIO

SERVIÇOS

INSTITUCIONAL

TRANSPORTE

COMÉRCIO LOCAL

RESIDENCIAL

ESPAÇO PÚBLICO

ENERGIA


Gabarito CINCO

LINHA RAMPA

CINC

FAVELA

O

P

METRÔ P

LILÁS

P

FAVELA

P

ESCADARIA

FAVELA

FAVELA

(V. SOCORR

O-C

SOC)

FAVELA

AVENI DA

EIRO

ENH

MARGIN

AL

ENG

FAVELA

PE

RIP

ER

I

AVENID

ÉBIO

A

EUS

Um gabarito de dois a três pavimentos é predominante na área. Isto configura um conjunto urbano com alturas relativamente baixas. Já no entorno da área, há uma presença de edificações com gabaritos de até mais de dez pavimentos. Esta análise permite um entendimento frente o gabarito médio da região. O projeto leva isto em consideração ao não propor gabaritos muito altos para não descaracterizar a área por completo.

A

RU

FAVELA

FAVELA

P P

P

N

0 0 100m 100m 50m 50m

LEGENDA:

500m 1km TÉRREO

2 PAV. (6m)

3 PAV. (9m)

4 PAV. (12m)

5 a 9 PAV. (+15m)

10 PAV. (+30m)

Projeto Vila Socorro | 161


Fluxos - Infraestruturas de transporte existentes Neste mapa estão destacados os fluxos de transportes. É possível observar que a área de intervenção é atendida no quesito de infraestrtura de mobilidade. Em um raio de 1 quilometro (a partir do ponto central da área de intervenção) encontra-se à disposição quatro modais de transporte diferentes: ônibus (corredor e 2 terminais), bicicleta (ciclovia marginal pinheiros), metrô (linha lilás) e trem (linha CPTM esmeralda).

TERMINAL GUIDO CALOI

FAVELA

FAVELA

FAVELA

FAVELA

FAVELA

ESTAÇÃO SOCORRO

FAVELA

FAVELA

N

0 0 100m 100m 50m 50m

162 | Projeto Vila Socorro

ESTAÇÃO SANTO AMARO

FAVELA

LEGENDA:

500m 1km CORREDOR DE ÔNIBUS

FAIXA EXCLUSIVA DE ÔNIBUS

LINHA DE ÔNIBUS

CICLOVIA


Fluxos - Classificação das vias Para os fluxos representados neste mapa foram considerados a quantidade de fluxos de pessoas ou automóveis que transitam diariamente. As principais vias de acesso para a área são: a avenida Guarapiranga, a avenida Guido Caloi e a marginal Pinheiros. Dentro da área de intervenção há um baixo fluxo de automóveis, e um considerável fluxo de pedestres.

FAVELA

FAVELA

MARGINAL PINHEIROS AV. GUIDO CALOI

FAVELA

FAVELA

RUA ALEXANDRE DE GUSMÃO FAVELA

FAVELA

RUA LAGRANGE

RUA PTOLOMEU

FAVELA

FAVELA

AV. GUARAPIRANGA AV. ATLÂNTICA

N

0 0 100m 100m 50m 50m

LEGENDA:

1km 500m

VIA - EXPRESSA

VIÁRIO - FLUXO INTENSO

VIÁRIO - FLUXO BAIXO

PEDONAL

VIÁRIO - FLUXO MÉDIO

Projeto Vila Socorro | 163


Equipamentos LEGENDA: REDE DE DITRIBUIÇÃO DE GÁS - COMGÁS ASSISTÊNCIA SOCIAL ABASTECIMENTO (MERCADÕES, SACOLÕES E FEIRAS LIVRES) CONECTIVIDADE DIGITAL WIFI LIVRE CULTURA BIBLIOTECA TEATRO/CINEMA ESPAÇOS CULTURAIS

ESPORTES CENTRO ESPORTIVO CLUBE CLUBE DE COMUNIDADE

1km

EDUCAÇÃO ENSINO INFANTIL

m

250

ENSINO FUNDAMENTAL /MÉDIO REDE PRIVADA ENSINO TÉCNICO PÚBLICO SAÚDE SAÚDE MENTAL HOSPITAL

N

0

0

164 | Projeto Vila Socorro

100m

100m

50m

50m

1km

500m

Neste mapa estão localizadas os pontos na cidade (do entorno) onde existem equipamentos públicos e privados. Observa-se em um raio de 1 km (do centro da área de intervenção,) a falta de equipamentos em geral.


Meio físico O levantamento do meio físico demonstra que o território não sofre com risco geológico, porém está próximo a uma área de risco. Foi observado aqui também uma real necessidade de focar a atenção para a descontaminação das áreas afetadas. Algumas das áreas contaminadas já estão em processo de descontaminação. Ao longo da avenida Guarapiranga há três pontos de alagamento, o que pode ser associado à falta de drenagem urbana no local além da existente (sob os cursos d’água existentes).

N

0 0 100m 100m 50m 50m

LEGENDA:

1km 500m DRENAGEM

ÁREA CONTAMINADA (FONTE: CETESP)

PONTO DE ALAGAMENTO

RISCO GEOLÓGICO

Projeto Vila Socorro | 165


5.1.4 Problemas e potencialidades 23 As APPs se destinam a proteger os solos e, principalmente, as matas ciliares. Este tipo de vegetação cumpre a função de proteger os rios e reservatórios de assoreamentos, evitar transformações negativas nos leitos, garantir o abastecimento dos lençóis freáticos e a preservação da vida aquática. [O ECO] Segundo o atual Código Florestal, Lei nº12.651/12: Art. 3o Para os efeitos desta Lei, entende-se por: (...) II - Área de Preservação Permanente - APP: área protegida, coberta ou não por vegetação nativa, com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica e a biodiversidade, facilitar o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas; O Código Florestal atual, no seu art. 4º, estabelece como áreas de preservação permanente: I - as faixas marginais de qualquer curso d’água natural perene e intermitente, excluídos os efêmeros, desde a borda da calha do leito regular, em largura mínima de: (...) b) 50 (cinquenta) metros, para os cursos d’água que tenham de 10 (dez) a 50 (cinquenta) metros de largura;

166 | Projeto Vila Socorro

Os longos deslocamentos casatrabalho-casa, os engarrafamentos de transito, o alto consumo de energia e combustível, o uso extensivo da terra e a alta densidade populacional e construtiva estão concentrados no tempo e no espaço, fato este que põe a produtividade urbana em questão. Este fenômeno nos coloca as questões da gestão apropriada das densidades urbanas e do uso do solo, que irão determinar o grau de sustentabilidade do meio ambiente urbano. (ACIOLY, 1998)

Ao longo dos rios observamos uma grande potencialidade: a criação de um parque nas margens, primeiramente para cumprir o recuo obrigatório em área de APP23, e também para aproveitar a extensa área verde existente. Além da proposta de criação de um parque, foi observado um real potencial de mobilidade urbana verde. Hoje a ponte Friedrich Bayer da ciclovia existente, já funciona como meio de transição urbana no espaço.

As margens - O potencial de um parque Figura 74 Fonte: Foto pela autora, em junho de 2016


Por consequiência, aqui será sugerido uma potencialização na conexão entre os possíveis modais de transporte. Um problema identificado é a contaminação do solo proveniente do mau uso do solo pelas indústrias que ocuparam a área quando ainda nem havia legislação à respeito. Outro problema é a falta de fiscalização da destinação dos resíduos químicos.

O potencial de um parque e a necessidade de drenagem urbana Figura 75 Fonte: Foto pela autora, em junho de 2016

Projeto Vila Socorro | 167


Mapa de problemas e potencialidades (METRÔ)

LILÁS

CINCO

LINHA

Neste mapa estão representados quais foram os problemas e potencialidades observados na área. Entre os problemas observados, a falta de espaços públicos e a presença de muros altos no limite do lote são identificados como os mais críricos. Além disso observouse que há um grande potencial para a abertura de praças públicas. Estas funcionam tanto como área verde auxiliando no processo de descontaminação do solo (ver mapa do meio físico, pág. 165), quanto para compor um sistema de espaços públicos.

RAMPA

CINC

O

P

METRÔ P

LILÁS

MODAL METRÔ MODAL TREM

C R

C

C.P .T.M

.

MODAL BIKE

MODAL TREM

MODAL ÔNIBUS

P P

P

N

00

100m 100m 50m 50m

500m1km

LEGENDA: POTENCIALIDADES PARQUE AMBIENTAL DAS MARGENS

TRANSPOSIÇÕES URBANAS POR BICICLETA - CICLOVIA

PROBLEMAS

168 | Projeto Vila Socorro

P

P

ESCADARIA

MUROS ALTOS E AUSÊNCIA DE FACHADAS ATIVAS SEM RELAÇÃO COM A ESCALA DO PEDESTRE

HABITAÇÃO DE INTERESSE SOCIAL EM ÁREAS SUBUTILIZADAS

ABERTURA DE PRAÇAS PARA CRIAÇÃO E UM SISTEMA DE ESPAÇOS LIVRES

ISOLAMENTO TERRITORIAL POUCOS PONTOS DE ACESSO

OFERTAS DE TRABALHO DEVIDO PROXIMIDADE À 4 MODAIS DE TRANSPORTE ALTERNATIVOS


Mapa de problemas e potencialidades

C.P.

5.1.5 Drenagem e topografia

T.M.

A LINH

O mapa ao lado é uma ferramenta de análise entre estes temas. É possível observar que o relevo na área de intervenção é pouco acidentado. O nível dos rios está a poucos metros abaixo da margem. Este trecho (entre 720 e 725 metros de altitude) sofre frequentemente com alagamentos pontuais. Pensando neste problema, o traçado azul, com indicação de direção é um estudo inicial para uma proposta de drenagem urbana no projeto, realizado em função do declive natural do espaço.

(METRÔ)

LILÁS

CINCO

LINHA CINCO

METRÔ LILÁS

ESCADARIA

AVENIDA

NHEIR

ENGE O IO

EUSÉB UX

STEVA

RO

CAST

N

00 100m 100m 50m 50m

1km 500m

LEGENDA: TOPOGRAFIA

DRENAGEM

800 - 790 m

780 - 770 m

760 - 750 m

740 - 730 m

790 - 780 m

770 - 760 m

750 - 740 m

730 - 725 m

725 - 720 m

TRAÇADO POTENCIAL PARA DRENAGEM POR MEIO DE INFRAESTRTURA VERDE

Projeto Vila Socorro | 169


5.1.6 Uma cidade acessível A ocupação desordenada e espraiada da mancha urbana em direção às áreas periféricas, em geral, ambientalmente frágeis, traz um significativo impasse entre o processo de urbanização das cidades e a proteção do ambiente, o direito à moradia e a preservação ambiental, se contrapondo aos modelos difundidos em décadas anteriores, em que o ideal era o ordenamento do meio urbano, independente dos processos reais. (ALVIM, 2011)

Alvim (2011) comenta que as políticas públicas em curso no Brasil, particularmente as urbanas e ambientais, reconhecem a necessidade de equacionamento da ocupação de baixa renda nos assentamentos precários (favelas e loteamentos irregulares e clandestinos) localizados em áreas protegidas como ação fundamental à sustentabilidade do território. Nesse contexto, os assentamentos precários são reconhecidos e tratados como um dos mais importantes fatores a serem considerados para um 170 | Projeto Vila Socorro

desenvolvimento sustentável das cidades. Uma alternativa para combater o déficit habitacional, é a oferta de habitações de interesse social promovidos pela Secretaria de Habitação por parte do governo. Essa opção é utilizada quando o território está saturado por um intenso uso habitacional de caráter informal. Este tipo de intervenção faz parte de uma política urbana inovadora que busca conferir qualidade urbana e ambiental e, ao mesmo tempo, integrar este assentamento à cidade formal. Este é um âmbito (de acesso à habitação de qualidade na cidade) que faz parte da discussão mencionada anteriormente referente à cidade sustentável, pois é dessa maneira que é possível garantir uma atenção social no espaço urbano. É se atentando para esta população que reside nestes aglomerados subnormais, ao dotar de infraestrutura de habitação acessível na cidade, que se completa um desenvolvimento sustentável da cidade. Mapa de aglomerados subnormais em São Paulo

Figura 76 Fonte: IGBE


5.2 A interpretação dos conceitos na área Alvim (2011) esclarece que é fundamental para alcançar um projeto sustentável além da utopia, uma integração do ambiente com a sociedade. Qualquer intervenção deve ser pensada que em seu território existe uma rede de relações humanas. O modelo urbano que será proposto visa traduzir em soluções espaciais o acesso a habitação, emprego, tecnologia, serviços, educação e recursos da sociedade – direitos básicos para todos os habitantes da cidade. Atualmente, um dos principais desafios para aqueles que atuam com políticas públicas, entre eles arquitetos e urbanistas, é a implementação de um conjunto de políticas urbanas articulado a projetos e intervenções capazes de transformar a cidade em um ambiente equilibrado e socialmente justo. (ALVIM, 2011)

Os diagramas (figura 77 e 78) expressam, de maneira sintética, a possibilidade de mistura de usos neste espaço. A área de intervenção está localizada

entre as relações existentes da cidade e então apresenta um fluxo de pessoas diário, local e pontual. A intenção aqui é aproximar o uso residencial dos modais de transporte e das oportunidades de trabalho que estão do lado leste do rio Pinheiros. Além de aproximar as ofertas de trabalho ao estabelecer um novo ‘polo’ comercial. Em associação aos conceitos de desenvolvimento sustentável, aqui se visa uma cidade composta por uma rede cíclica de pequenos núcleos de cidades sustentáveis, sendo este projeto um exemplo de núcleo sustentável. Neste núcleo a relação entre um desenvolvimento econômico, uma postura ecológica de ocupação e espaços sociais é fundamental. ESTUDAR Diagrama de fluxos TRABALHAR atuais na cidade Centro / Berrini ESTUDAR TRABALHAR Santo Amaro

MORAR periferia zona sul

Figura 77 Fonte: Da autora.

TRABALHAR Indústrias

MORAR Grajaú/Interlagos

TRABALHAR ESTUDAR

MORAR

Diagrama de núcelo sustentável Figura 78 Fonte: Da autora.

Projeto Vila Socorro | 171


Para uma sistematização dos conceitos estudados, estes foram reorganizados em tópicos a fim de facilitar a tradução destes para um programa e para as linhas de diretrizes. CONCEITOS DE CIDADE SUSTENTÁVEL ESTUDADOS E LEVANTADOS:

Mapa de rede cíclcica na cidade composta por pequenos núcleos Fonte: Google Earth, editado pela autora. sustentáveis Figura 78

172 | Projeto Vila Socorro

• Cidade sustentável = Cidade densa e diversa • Rede de cidade em micro sistemas cíclicos de funcionamento de cidade que compõem uma cidade dentro de um macro sistema. • Sistema compacto e integrador – maximizar a integração • Modelo comunitário de cidade – comunidade ativa influencia a identidade e paisagem urbana do seu espaço. • Modelo cooperativo e social de negócios para o espaço urbano • Um espaço urbano flexível, criativo e mutável. • Reestruturação de vazios urbanos • Clusters urbanos de inovação e tecnologia • Reestruturação Produtiva e territorial • Economia circular • Crescimento inteligente das cidades • Cradle to Cradle (de inicio a inicio) • Tipologias arquitetônicas replicáveis • Arquitetura autossustentável • Infraestrutura verde • Educação e consciência ambiental


CONCEITOS DE CIDADE SUSTENTÁVEL ESTUDADOS E LEVANTADOS:

5.3 Estudos da área aplicando os conceitos Neste capítulo o foco foi realizar estudos em função do que foi pesquisado. Estes estudos se deram de forma experimental, tendo em vista que os conceitos sistematizados, agora serão mesclados e ensaiados na área de intervenção. Neste processo a ideia foi experimentar as diversas aplicações dos conceitos apresentados variando as tipologias e os locais para o programa proposto. A partir dos conceitos organizados em tópicos, estes foram categorizados dentro dos três pilares para um desenvolvimento sustentável e a partir disto é que foi elaborado um programa de diretrizes para a intervenção.

CIDADE SUSTENTÁVEL = CIDADE DENSA E DIVERSA REDE DE CIDADE EM MICRO SISTEMAS CÍCLICOS DE FUNCIONAMENTO DA CIDADE QUE COMPÕEM UMA CIDADE DE UM MACRO SISTEMA SISTEMA COMPACTO E INEGRADOR - MAXIMIZA INTEGRAÇÃO MODELO COOPERATIVO E SOCIAL DE NEGÓCIOS PARA O ESPAÇO URBANO UM ESPAÇO URBANO FELXÍVEL, CRIATIVO E MUTÁVEL REESTRUTURAÇÃO DOS VAZIOS URBANOS CLUSTERS URBANOS DE INOVAÇÃO E TECNOLOGIA REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA E TERRITORIAL ECONOMIA CIRCULAR CRESCIMENTO INTELIGENTE DAS CIDADES

CRADLE TO CRADLE (DE INICIO A INICIO)

CONCEITOS

TIPOLOGIAS ARQUITETÔNICAS REPLICÁVEIS

CIDADE ECOLÓGIA (cíclica)

CIDADE ECONÔMICA (inteligente)

ARQUITETURA AUTOSUSTENTÁVEL

CIDADE SOCIAL

INFRAESTRUTURA VERDE EDUCAÇÃO E CONSCIENCIA AMBIENTAL

MACRO DIRETRIZES

MODELO COMUNITÁRIO DE CIDADE COMUNIDADE ATIVA INFLUENCIA A IDENTIDADE E PAISAGEM URBANA DO SEU ESPAÇO

Projeto Vila Socorro | 173


TRADUÇÃO DOS CONCEITOS PARA O PROGRAMA PROPOSTO A organização em tópicos dos conceitos nas três temáticas de intervenção foi necessária para traduzir estas idéias e conceitos em diretrizes de intervenção no espaço. Este processo é importante, pois este projeto visa incluir, mesmo se de maneira sutil, todos os conceitos identificados aqui como essenciais para o planejamento para um desenvolvimento sutentável das cidades. Com isso, as diretrizes criadas neste projeto estão sempre vinculadas à algum conceito levantado. Estas também foram pensadas inicialmente a partir de verbos de ação, pois esta metodologia auxiliou na tradução dos conceitos no programa proposto hoje.

174 | Projeto Vila Socorro

Estes verbos de ação não só como auxiliaram na concepção das diretrizes, mas também facilitam a rápida compreensão do se pretende para cada diretriz. O quadro a seguir demonstra a metodologia aplicada para uma associação entre as diretrizes de projeto e os conflitos,


CONCEITOS DE CIDADE SUSTENTÁVEL ESTUDADOS E LEVANTADOS: CIDADE SUSTENTÁVEL = CIDADE DENSA E DIVERSA REDE DE CIDADE EM MICRO SISTEMAS CÍCLICOS DE FUNCIONAMENTO DA CIDADE QUE COMPÕEM UMA CIDADE DE UM MACRO SISTEMA

MACRO DIRETRIZES 01

02

CRIAR - NOVO EIXO DE CIRCULAÇÃO ( PREMISSA DE ADENSAMENTO E FACHADA ATIVA)

ESTIMULAR - NOVOS USOS COMPATÍVEIS COM O EIXO DE CIRCULAÇÃO ( CONCENTRAR

INVESTIMENTOS PARA UM ADENSAMENTO URBANO E FACHADA ATIVA)

03

TRANSFORMAR - ESPAÇOS SUBUTILIZADOS PARA USOS INSTITUCIONAIS (CRIAÇÃO DE ESPAÇOS COMUNITÁRIOS, EDUCATIVOS, CULTURAIS PARA ATENDER A POPULAÇÃO LOCAL)

SISTEMA COMPACTO E INEGRADOR - MAXIMIZA INTEGRAÇÃO MODELO COOPERATIVO E SOCIAL DE NEGÓCIOS PARA O ESPAÇO URBANO

04

05

UM ESPAÇO URBANO FELXÍVEL, CRIATIVO E MUTÁVEL 06 REESTRUTURAÇÃO DOS VAZIOS URBANOS CLUSTERS URBANOS DE INOVAÇÃO E TECNOLOGIA REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA E TERRITORIAL

EDUCAÇÃO E CONSCIENCIA AMBIENTAL MODELO COMUNITÁRIO DE CIDADE COMUNIDADE ATIVA INFLUENCIA A IDENTIDADE E PAISAGEM URBANA DO SEU ESPAÇO

(SERVIÇOS, SAÚDE, COMÉRCIO ESPECIALIZADO, SETOR TECNOLÓGICO)

AUXILIAR - A PERMANÊNCIA (DOS USOS ATUAIS A SE ADAPTAREM AOS PARÂMETROS DO PLANO URBANÍSTICO POR MEIO DE INCENTIVOS FISCAIS)

08

ESTABELECER - ESPAÇO E SISTEMAS PARA OS PROCESSOS DE RECICLAGEM

09

REMOVER - INDÚSTRIAS INCOMPATIVEIS COM O USO FUTURO E/OU CONTAMINANTES (CONCRETO E QUÍMICA)

10

PRODUZIR - HABITAÇÕES DE INTERESSE SOCIAL DE QUALIDADE COM TECNOLOGIAS EFICIENTES

11

IMPLANTAR - SISTEMAS DE DRENAGEM URBANA COM INFRAESTRUTURAS VERDES

12

MODIFICAR- PROJETO DE ARQUITETURA PARA MELHOR APROVEITAMENTO DO SOLO

13

READEQUAR E REALOCAR - HABITAÇÕES QUE ESTÃO EM SITUAÇÃO DE IRREGULARIDADE

14

GERAR - ENERGIA PELO PROCESSO DE DECOMPOSIÇÃO DE ESGOTO (DUPLA FINALIDADE)

ARQUITETURA AUTOSUSTENTÁVEL INFRAESTRUTURA VERDE

PROMOVER - OUTROS USOS

PROPOR - ESPAÇOS COMUNITÁRIOS PARA A PRODUÇÃO ALIMENTÍCIA (HORTA COMUNITÁRIA)

CRADLE TO CRADLE (DE INICIO A INICIO) TIPOLOGIAS ARQUITETÔNICAS REPLICÁVEIS

(CRIAÇÃO DO PARQUE DA MARGEM COM FOCO AMBIENTAL E DO SISTEMA DE ESPAÇOS LIVRES)

07

ECONOMIA CIRCULAR CRESCIMENTO INTELIGENTE DAS CIDADES

PRESERVAR - AS MARGENS DOS RIOS

Projeto Vila Socorro | 175


Nos estudos realizados, alguns fatores não variam, pois foram inicialmente destacados como diretrizes essenciais. No momento do levantamento e de interpretação dos conceitos para um conjunto de diretrizes, algumas áreas foram automaticamente reservadas. Estas são as localizações de algumas das áreas direcionadas para habitação social e a mudança do perímetro do shopping Fiesta. Para a definição de áreas destinadas para habitação de interesse social, foram destacados os locais onde antes existiam habitações informais, que não apresentavam qualidade em sua ocupação, fazendo com que a adequação destas habitações se configure com a construção de novos edifícios habitacionais. Ainda destacamos para a construção de novas habitações, áreas de tamanho significativo (buscando realmente oferecer abundantes espaços sociais) que hoje estão em desuso. Já a delimitação do novo perímetro do shopping Fiesta se deu pela conclusão de que o fato do shopping ter apenas um pavimento, acaba subutilizando 176 | Projeto Vila Socorro

o espaço. O espaço urbano deve ser para todos e utilizado de maneira que tenha o melhor aproveitamento possível. Para este trabalho, foi proposto que o shopping doasse a área delimitada pelo projeto, por meio de uma parceria entre o poder público e privado. O poder público financiaria parte do custo para a reforma, além de promover incentivos fiscais e o shopping realizaria a reforma e doaria a área restante. Para esta área adquirida ao espaço urbano, propõe-se que esta faça parte do parque da margem, colaborando como função no sistema de drenagem natural, promovendo um natural tratamento da água antes que entre no rio, com a implantação de Wetlands (conceito de infraestrutura verde). Entende-se que esta diretriz de verticalização do shopping, a fim de desocupar a área para fazer parte do parque da margem, apresenta dificuldades formais na cidade existente, considerando a falta de verba para a realização de todas as obras necessárias. É possível supor que possam ser arrecadadas verbas providas dos agentes privados locais que tenham interesse na revitalização da área. Além disso, considera-se que as futuras revisões da lei de parcelamento, uso e ocupação do solo do município de São Paulo, possam modificar os parâmetros de ocupação para o espaço do shopping, resultando em uma imprescindível mudança deste espaço de ocupação retrógrada.


Estudo 01 Neste estudo o eixo de circulação e adensamento foi pensado para acessar diretamente a ponte Friedrich Bayer, ao longo da rua Antônio Foster, buscando um maior fluxo de pessoas no eixo entre a Avenida Guarapiranga e a Estação Santo Amaro do Metrô. O outro eixo (transversal) aqui proposto é na rua Olinda, na qual existem alguns imóveis subutilizados, permitindo uma mudança do entorno sem provocar muitas remoções. Ao longo destes eixos propostos foram distribuídas áreas para a promoção da mudança de tipologia, tanto de ocupação, quanto de uso. Em seguida foram distribuídas áreas para o incentivo de serviços com o critério de trazer para dentro da área um maior fluxo de pessoas ao oferecer serviços. Assim foi observado que o eixo longitudinal proposto, pode efetivar as mudanças estimadas. Em compensação o eixo transversal na rua Olinda pode promover um movimento muito próximo da avenida, podendo gerar um espaço vazio e pouco utilizado no restante da área, fenômeno que já acontece hoje e que não se busca repetir.

2

3

1

LEGENDA: Eixo de circulação

1 - Rua Olinda

Usos comercais e produtivos

2 - Ponte Friedrich Bayer

Usos de serviços qualificados

3 - Rua Domingos Jorge

Habitação de Interesse Social Sistema de espaços públicos

Projeto Vila Socorro | 177


Estudo 02

178 | Projeto Vila Socorro

Neste estudo, apesar da análise positiva do eixo longitudinal proposto no primeiro estudo, foi proposto a mudança para a rua Ferreira Viana. Foi avaliado que, por ser mais central na área, poderia promover um uso mais ativo ao longo do território e de maneira mais distribuída. Assim o eixo transversal também foi modificado, seguindo a mesma linha de raciocínio: se os novos usos forem muito próximos da avenida Guarapiranga, podem acabar ativando o espaço lindeiro à avenida, mas ainda continuar com os espaços vazios dentro do bairro. Desta maneira, foram distribuídas as áreas que promovem usos comerciais e produtivos ao longo da rua Olinda, resultando em um eixo com espaços livres e com diversidade de usos, um resultado próximo ao que se busca neste trabalho. Mais uma vez os usos de serviços especializados acabam mais setorizados no espaço, principalmente por dois motivos: dentro do bairro existem indústrias e usos consolidados sem necessidade de serem removidos, e no canto direito (item 4 no mapa) encontramse edifícios em desuso e espaços disponíveis para promover estas mudanças.

2

3 1

4

LEGENDA: Eixo de circulação

1 - Rua Lagrange

Usos comercais e produtivos

2 - Ponte Friedrich Bayer

Usos de serviços qualificados

3 - Rua Ferreira Viana

Habitação de Interesse Social

4 - Setorização do uso de serviços

Sistema de espaços públicos


Estudo 03 Neste terceiro estudo a intenção foi de identificar, dentro das propostas já apresentadas, o que poderia promover mais pontos positivos e de possível análise. Foi identificado que para estabelecer o eixo longitudinal, a rua Domingos Jorge (de acesso à ponte e então ao metrô) parece mais adequada para reforçar e estimular os fluxos de mobilidade reduzida (pedonal e cicloviário). No eixo transversal, observam-se maiores oportunidades de transformação (devido à maior presença de espaços livres e pelo acesso direto à nova entrada do parque da margem pela parte posterior do shopping) na rua Lagrange. Além de mesclar os pontos positivos dos estudos anteriores, foi considerado a necessidade de um aprimoramento na distribuição espacial dos usos de serviços e comércio. Com isso, adotou-se uma postura de delimitar o maior número de áreas possíveis para a transformação do uso do solo, sempre considerando evitar a necessidade de retirar usos muito consolidados. Desta forma foi reforçada a postura de maximizar a transformação do solo neste espaço.

2

3

1 4

LEGENDA:

Eixo de circulação

1 - Rua Lagrange

Usos comercais e produtivos

2 - Ponte Friedrich Bayer

Usos de serviços qualificados

3 - Rua Domingos Jorge

Habitação de Interesse Social

4 - Um novo acesso ao parque da margem

Sistema de espaços públicos

Projeto Vila Socorro | 179


5.4 O desenvolvimento Com o estudo dos conceitos de cidade sustentável, tem-se um melhor entendimento sobre as necessidades e intenções frente à área. Aqui se apresenta o potencial, considerando tudo o que foi dito, para formar algumas premissas de projeto. Foi possível identificar como fatores necessários: a delimitação para a criação de um parque seguindo as margens dos rios, a potencialidade de inovação econômica para impulsionar a área que hoje parece estagnada, e a implantação de infraestrutura verde. Além de todos os outros conceitos e valores estudados, que serão aos poucos inseridos no contexto da área. Apesar deste projeto não fazer parte de um planejamento da cidade como um todo, ele considera as necessidades de um entorno próximo, e das características da região metropolitana como um todo, para se ter um entendimento do perímetro destacado, podendo 180 | Projeto Vila Socorro

assim propor mudanças para este espaço urbano específico, dentro da interpretação dos conceitos de cidade sustentável estudados. Considera-se também que este projeto pode fazer parte de um futuro plano de concepção de uma cidade sustentável que é constituída por estas comunidades sustentáveis e inteligentes. Com isso pode-se imaginar territórios urbanos, com problemas, ou similares ao projeto destacado, ou que contém um caldeirão de problemáticas associadas às questões de cidades sustentáveis ao redor do município de São Paulo e toda a sua região metropolitana. Assim, este projeto de intervenção urbana, se caracteriza como um plano urbanístico que compõem um conjunto de infraestruturas e usos, visando atingir os objetivos de sustentabilidade urbana e de desenvolvimento sustentável, debatidos anteriormente. Uma das intenções deste projeto é que após uma organização espacial (do plano urbanístico), a sociedade civil ali estabelecida com os novos moradores (das novas ofertas de habitação) se organizem em conjunto para de fato estabelecer uma comunidade ativa. Com isso, este espaço deixa de ser apenas um plano urbano com novas construções com tecnologias sustentáveis, mas passa a ser uma comunidade que funciona em harmonia, constituindo um espaço urbano que pode crescer em conjunto e desenvolver uma identidade individual, independentemente de ter passado por um processo de implementação de um projeto urbanístico, que pode constituir linguagens sem conexão com a identidade do local. A proposta deste projeto urbanístico é estabelecer um redesenho urbano e arquitetônico em uma área que apresentava uma série de problemas espaciais.


MASTERPLAN Em seguida será apresentado o masterplan do projeto em função das diretrizes associadas aos conceitos. Este projeto foi pensado como se o estado no seu papel de agente regulador do espaço, solicitasse projetos de intervenção urbana para desenvolver núcleos sustentáveis das cidades. Foram propostas ações de melhoria nos espaços públicos (função do estado) e nos espaços privados com o auxílio de incentívos fisciais. Com isso, o projeto de intervenção de um plano urbanístico específico (para atingir cidades sustentáveis) só se efetiva, em seu total potencial, se todos os agentes da sociedade, desenvolverem juntos um espaço urbano comunitário. Ao lado segue um diagrama para exemplificar:

ESTADO

+

PLANO URBANÍSTICO ESPECÍFICO

=

+

COMUNIDADE ATIVA

+ SETOR PRIVADO (Incentivos)

CIDADE SUSTENTÁVEL

Projeto Vila Socorro | 181


(METRÔ)

LILÁS

O

CINC

A

LINH CIN

CO

METRÔ

LILÁS


O

CINC

A

LINH

CIN

CO

MACRO DIRETRIZES

METRÔ

LILÁS

NOVO EIXO DE CIRCULAÇÃO USO PRODUTIVO E MISTO INSTITUIÇÕES E ESPAÇOS COMUNITÁRIOS SISTEMA DE ESPAÇOS LIVRES SERVIÇOS DE SAÚDE E TECNOLOGIA ADAPTAÇÃO AMBIENTAL PARA PERMANÊNCIA PRODUÇÃO ALIMENTÍCIA COMUNITÁRIA SISTEMA INTERNO DE RECICLAGEM IMÓVEIS PARA REMOVER HABITAÇÃO SOCIAL DRENAGEM URBANA MODIFICAÇÃO DA ARQUITETURA EXISTENTE SUBSTITUIÇÃO DAS HABITAÇÕES PRECÁRIAS PRODUÇÃO DE ENERGIA N

0 50 100m ESCALA GRÁFICA

500m



Masterplan - Usos LINHA CINC

O

METRÔ

LILÁS

Estão destacados neste mapa as delimitações para a implementação das diretrizes. Nas diretrizes estão delimitados os usos e parâmetros para cada uma delas. Este projeto foi desenhado para que estas áreas se desenvolvessem de maneira conjunta.

N

00

100m 100m 50m 50m

500m

1km

LEGENDA: SISTEMA DE ESPAÇOS LIVRES

INSTITUIÇÕES E ESPAÇOS COMUNITÁRIOS

PRODUÇÃO DE ENERGIA

PRODUÇÃO ALIMENTÍCIA COMUNITÁRIA

USO PRODUTIVO

SERVIÇOS DE SAÚDE E TECNOLOGIA

SISTEMA INTERNO DE RECICLAGEM

MODIFICAÇÃO DA ARQUITETURA EXISTENTE

Projeto Vila Socorro | 185


Masterplan - Mudanças LINHA CINC

O

METRÔ

LILÁS

As mudanças aqui destacadas, são as modificações que ocorrerão ao longo do tempo. Além disso, o termo mudanças se aplica ao eixo de circulação existente na área. Neste mapa também está destacado o traçado da proposta de drenagem.

N

00

100m 100m 50m 50m

500m 1km

LEGENDA: NOVO EIXO DE CIRCULAÇÃO

186 | Projeto Vila Socorro

IMÓVEIS PARA REMOVER

ADAPTAÇÃO AMBIENTAL PARA PERMANÊNCIA

DRENAGEM URBANA

SUBSTITUIÇÃO DAS HABITAÇÕES PRECÁRIAS

MODIFICAÇÃO DA ARQUITETURA EXISTENTE


Usos existentes e as áreas à modificar RAMPA

CINC

O

P

METRÔ P

LILÁS

P

P

Este mapa mostra dentro do mapa de usos atuais, as áreas a serem afetadas ou modificadas ao longo da implantação do projeto. Facilita uma compreensão sobre o que de fato está sendo retirado ou não.

C R

FAVELA

FAVELA

FAVELA

FAVELA

FAVELA

FAVELA

N

00

100m 100m 50m 50m

LEGENDA: USOS ATUAIS

500m INDUSTRIAL ATIVO IMÓVEL VAZIO

COMÉRCIO COMÉRCIO LOCAL

1km

SERVIÇOS

INSTITUCIONAL

TRANSPORTE

RESIDENCIAL

ESPAÇO PÚBLICO

ENERGIA

ÁREA DELIMITADA PARA APLICAÇÃO DAS DIRETRIZES DE PROJETO - À MODIFICAR

Projeto Vila Socorro | 187


Sistema de espaços públicos LINHA CINC

O

METRÔ

LILÁS

Aqui é possível observar que na áreas que antes não haviam espaços públicos de qualidade, hoje há uma grande parcela do território destinado para a preservação. No parque da margem é possível imaginar uma série de equipamentos e usos compatíveis com o espaço, tanto de preservação, quanto de lazer, esporte e contemplação.

3

2

1 Pista de Skate e quadrinha para atender a população local Figura 79 Fonte: Skyscrapercity

N

0

100m 50m

LEGENDA: 1km

1. Pista de Skate e quadrinha 2. Wetlands e preservação das águas

188 | Projeto Vila Socorro

3. Contemplação às espécies de forração coloridas.

PARQUE DA MARGEM

PRAÇAS


Usos habitacionais de interesse social LINHA LINHA

Para a implementação das habitações, se pensou em estruturas modulares e replicáveis. O uso de um módulo construtivo, neste caso, não representa ser elemento que desqualifica o espaço interno do edifício. Para a remoção de domicílicos irregulares, foi considerada a quantidade de famílias na nova distribuição do solo. Com a criação de unidades que não só suprem a necessidade local, mas pode suprir a necessidade de outras famílias de outros locais, como da área em risco geológico próximo à área. .

CINC

O

METRÔ

LILÁS

NÚCLEO MARGINAL II 37 DOMICÍLIOS

NÚCLEO PTOLOMEU 30 DOMICÍLIOS FAVELA VIELA BAYER 54 DOMICÍLIOS

FAVELA MARGINAL III 28 DOMICÍLIOS

01 02

03

Edifícios 04 e 05 FAVELA FERREIRA VIANA 159 DOMICÍLIOS

05

Edifício 01

N

0

04

LEGENDA:

100m 50m

500m

HABITAÇÃO SOCIAL

TÉRREO COM COMÉRCIO LOCAL DESTINADO PARA LOCAÇÃO AOS RESIDENTES DA HIS

HABITAÇÕES PRECÁRIAS RELOCAÇÃO PARA OS PROJETOS DE HIS

ÁREA DE ESPORTES VARIADOS

HIS 04 56 UNIDADES HABITACIONAIS HIS 01 160 UNIDADES HABITACIONAIS 0

25m 10m

Figura 80 e 81 Fonte: Foto da autora.

HIS 02 128 UNIDADES HABITACIONAIS

HIS 03 80 UNIDADES HABITACIONAIS

HIS 05 80 UNIDADES HABITACIONAIS

100m

Projeto Vila Socorro | 189


Uso produtivo LINHA CINC

O

Neste mapa é possível observar as áreas delimitadas para um uso produtivo. Foram pensados parâmetros para estes:

METRÔ

LILÁS

N

0

100m 50m

500m

LEGENDA:

190 | Projeto Vila Socorro

USO PRODUTIVO - Embasamento de até 9 metros de altura Proibição de muros lindeiros ao lote alternativa grades após limite da área pública doada Incentivos fiscais ao reaproveitamento de estruturas e retrofit

RECUO OBRIGATÓRIO de 5m Exceção quando há edificação sem recuo

GABARITO MÁXIMO 8 PAVIMENTOS - taxa de ocupação acima do embasamento = até 70%

DOAÇÃO OBRIGATÓRIA ENTRE 15 E 20% DE ÁREA EDIFICÁVEL PARA ÁREA PÚBLICA - Incentivos fiscais em forma de isenção de IPTU em até 10 anos


Serviços de saúde e tecnologia LINHA LINHA CINC

O

Neste mapa está destacado as áreas reservadas para o estímulo dos usos de serviços, de saúde e tecnologia. Estima-se que devido os incentivos, os novos serviços a serem instalados aproveitem das estruturas existentes dos grandes galpões subutilizados, economizando energia de trabalho além de materiais contrúidos em boas condições.

Modelo volumétrico representando os espaços de serviços Figura 82

Fonte: Foto da autora.

METRÔ

LILÁS

N

0

LEGENDA:

100m 50m

500m

SERVIÇOS DE SAÚDE E TECNOLOGIA Incentivo à retofit e reaproveitamento de estruturas industriais. Incentivo à usos específicos: Serviços de saúde, Serviços no setor da tecnologia e comunicação, Serviços educacionais (escolas, universidades) e comércios especializados (dentros dos campos de atuação dos usos permitidos). INCENTIVOS - Redução no valor do IPTU. Caso estes usos utilizem os parâmetros de ocupação dos usos produtivos o incentivo também é de isenção por período de tempo.

Projeto Vila Socorro | 191


Instituições e espaços comunitários LINHA LINHA CINC

O

Nestes usos institucionais,foram pensados os mais diversos programas para atrair muitas pessoas e atender a todos os tipos. A falta de equipamentos públicos foi identificada na análise e a implantação destas é considerado fator chave no projeto. São nestes locais onde as pessoas fortalecem seu senso de comunidade.

METRÔ

LILÁS

CENTRO DE CULTURA E FABLAB

CENTRO COMUNITÁRIO

CRECHE

CASA DE CULTURA DIGITAL

CLUBE DE COMUNIDADE BIBLIOTECA ESCOLA

CINEMA PÚBLICO Circuito Spcine

Modelo volumétrico representando os espaços no projeto Figura 83

Fonte: Foto da autora.

192 | Projeto Vila Socorro

N

0

LEGENDA:

100m 50m

500m

INSTITUIÇÕES E ESPAÇOS COMUNITÁRIOS


Um sistema de reciclagem LINHA LINHA CINC

O

METRÔ

LILÁS

Para este uso se pensou em um espaço de triagem e um espaço onde podem acontecer, desde o picode de plástico até a confecção de obras de arte com os resíduos. CENTRAL DE CATADORES LOCAIS UM NOVO ECOPONTO

N

0

LEGENDA:

100m 50m

500m

SISTEMA INTERNO DE RECICLAGEM

Projeto Vila Socorro | 193


Produção de energia LINHA LINHA CINC

O

METRÔ

LILÁS

Este mapa mostra dentro da área de intervenção, o espaço designado para ser instalado a infraestrutura de destino para os resíduos sólidos (esgoto) para a geração de energia, devido o calor produzido no processo de compostagem dos resíduos. Esta energia gerada é destinada para a manutenção do parque e para iluminação noturna da área inteira. Pode-se contar também com postes que iluminam que captam a luz solar como alternativa. Após o processo de compostagem completo, o resído resultante pode ser usado como adubo dentro da área de intervenção ou até mesmo repassado para fazendas agricolas e afins.

N

0 50m

194 | Projeto Vila Socorro

LEGENDA:

100m 500m

PRODUÇÃO DE ENERGIA




5.

CONSIDERAÇÕES FINAIS


5. CONSIDERAÇÕES FINAIS Por mais que as questões apontadas desde o início deste trabalho sobre os efeitos do aquecimento global nas cidades como o efeito estufa, são uma justificativa válida para um projeto de aplicação do pensamento de desenvolvimento sustentável para as cidades, outras questões também são importantes de serem mencionadas, para reforçar a necessidade de ao menos repensar o método atual do planejamento das cidades. Os cenários de cidades cosmopolitas tendem a cada vez mais configurar espaços frios, desumanos, em escala de cinzas e construções cada vez mais impermeáveis, sem levar em consideração a necessidade do equilíbrio entre natureza e construção. A falta de espaços verdes livres de edificações de qualidade, também fazem parte deste cenário.

Figura 84 Cidade Cinza: uma reflexão sobre qual é cidade que queremos Fonte: Morarkallas, divulgação do documentário Cidade Cinza

198 | Conclusão


Assim, ao olhar para a cidade que temos, a pergunta que este trabalho buscou responder então foi: que cidade que queremos? E para que tipo de cidade que precisamos lutar? Aqui se tem uma proposta para uma imagem da cidade que queremos para o futuro, em contraponto da imagem que é utilizada para representar a cidade hoje. Uma cidade de equilíbrios é o fator mais crucial para se imaginar um desenvolvimento sustentável da cidade. Gastamos muita energia dentro de casa e muita energia nos deslocamentos ao trabalho, em geral consumindo muito da nossa vida e tempo, que nos é uma riqueza finita. Este é o escopo do funcionamento e logística da vida da sociedade civil e o cotidiano na que ela vive. Temos também o outro lado da moeda da sociedade que são os nossos processos de produção e os atuais sistemas urbanos (energia, esgoto, água, tratamento, transporte, lixo, gás entre outros) que são os maiores consumidores da energia e recursos. Assim com a aplicação de um desenho do espaço inovador, associado a novas tecnologias conectadas, permite-se um efeito real sobre um ponto de vista do desenvolvimento sustentável. O avanço do desenvolvimento tecnológico é mais um fator essencial para ajudar a atenuar os efeitos gritantes do aquecimento global, pois a utilização do avanço tecnológico no desenvolvimento das cidades permite uma maior eficiência energética e uma redução no desperdício gerado em cidades. Esta é uma solução mais clara e palpável para o futuro das cidades a fim de reduzir os efeitos causados pelo aquecimento global, que conforme comentado anteriormente, não apenas causam efeitos globais de longo prazo, mas também causam efeitos pontuais no cotidiano das cidades. A aliança entre este desenvolvimento tecnológico e os processos de planejamento urbano e arquitetura em geral, vão então permitir que a cidade funcione de maneira mais fluida e inteligente. A mudança deste processo, desde o planejamento à construção das arquiteturas, vai reestabelecer esse novo modo de vida, voltado a menores desperdícios de tempo e recursos para apropriar-se dos espaços de lazer.

Conclusão | 199


Este plano urbanístico de núcleos sustentáveis na cidade, como proposto neste trabalho, funciona como um sistema cíclico pertencente a uma rede de um macro sistema, que regula, propõe e incentiva uma série de aplicações de tecnologias para atingir um máximo aproveitamento dos recursos naturais, incluindo uma redução considerável na produção de resíduos. Estas tecnologias podem ser desde as mais complexas, para os conjuntos de usos que produzem maior impacto ambiental, até as mais simples (de fácil manutenção e até mesmo de caráter caseiro) de usos de menor impacto. Assim a distribuição de mecanismos de energia limpa, de reuso e de zero lixo atingem a área do núcleo sustentável de cidade como um todo, efetivando um trecho da cidade com um desenvolvimento de fato sustentável. O mesmo se auto-sustenta em muitos aspectos, e alivia a pressão no sobrecarregado sistema de distribuição de energia e sistema de saneamento básico existentes das cidades. Para o uso efetivo destas tecnologias, são propostos uma série de mecanismos, instrumentos urbanísticos e incentivos urbanos, de forma que não necessariamente há uma regra opressora, mas sim um benefício coletivo que não só é urbano, mas civil também em todos os sentidos. Como este é um projeto que foca no que se pode fazer para o futuro das cidades, esta ideia de ‘utilizar das tecnologias atuais’ depende do momento em que o plano urbanístico projetado será aplicado. Como este não necessariamente define e delimita nenhum tipo de tecnologia específica, mas sim sugere opções atuais, focando em qual tipo de benefício cada uma delas pode trazer no momento de sua aplicação, está aberto para poder aplicar a tecnologia que estiver à frente no momento específico.

200 | Conclusão

Por fim é importante destacar que o projeto apresentado neste trabalho buscou criar uma relação entre os agentes público e privado a partir da democratização do espaço, com infraestrutura e lazer. A comunidade deste espaço passa a zelar pelo espaço que construiu e passa a dar identidade ao local. Combinada a essa sensação de pertencimento, as infreaestruturas sustentáveis tendem a prosperar e resultar um tipo de cidade para todos que tanto se busca.


Figura 85 Maquete volumĂŠtrica do projeto proposto Fonte: Foto da autora.

ConclusĂŁo | 201



BIBLIOGRAFIA LIVROS, ARTIGOS E DISSERTAÇÕES BONDUKI, Nabil. O modelo de desenvolvimento urbano de São Paulo precisa ser revertido. Estudos Avançados 25. 2011 CANEZ, Ana Paula; SILVA, Cairo Albuquerque. Composição, partido e programa – uma revisão de conceitos em mutação. Porto Alegre, Ritter dos Reis, 2015, p. 127 CAVALCANTI, Clóvis. Meio ambiente, desenvolvimento sustentável e políticas públicas. 2.ed. – São Paulo. Editora Cortez. 1999. 436p. CORMIER, Nathaniel; PELLEGRINO, Paulo R. M. Infra-estrutura verde: Uma estratégia paisagística para a água urbana. Paisagem Ambiente: ensaios - n. 25 - São Paulo. 2008 HALL, Peter. Cidades do Amanhã. São Paulo. Perspectiva. 2011 JACOBS, Jane. Morte e Vida das Grandes Cidades. Martins Fontes: São Paulo, 2011. LEITE, Carlos. Cidades sustentáveis Cidades inteligentes, desenvolvimento sustentável num planeta urbano. Porto Alegre. Bookman. 2012 MCLENNAN, Jason F. The Philosophy of sustainable design. 2004 MORENO, Júlio. O futuro das cidades. Senac. 2001


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UMA INTERVENÇÃO URBANA:

O ESTUDO E A APLICAÇÃO DE CONCEITOS DE CIDADE SUSTENTÁVEL

ANEXO

Fiona Susan Platt


Um estudo de drenagem e infraestrutura urbana



O Estudo inicial PARQUE DA MARGEM


CROQUI Visualização do rio Guarapiranga PARQUE DA MARGEM


CROQUI Visualização do rio Guarapiranga PARQUE DA MARGEM


CROQUI Visualização do rio Pinehiros


CROQUI Visualização do rio Pinehiros PARQUE DA MARGEM


FOTOS MAQUETE Situação atual


FOTOS MAQUETE Situação atual


FOTOS MAQUETE Inserção das habitações



FOTOS MAQUETE Inserção das habitações


FOTOS MAQUETE Inserção dos usos produtivos


FOTOS MAQUETE Inserção dos usos produtivos


FOTOS MAQUETE Inserção dos usos produtivos


FOTOS MAQUETE Inserção dos usos produtivos


FOTOS MAQUETE Inserção dos usos de serviço



FOTOS MAQUETE Inserção dos usos de serviço


FOTOS MAQUETE Inserção dos usos de serviço


FOTOS MAQUETE Inserção dos usos de serviço


FOTOS MAQUETE Inserção dos usos institucionais


FOTOS MAQUETE Inserção dos usos institucionais


FOTOS MAQUETE Inserção dos usos institucionais



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