Requalificação de Espaços Residuais da Rua Sobrália (Campo Grande, São Paulo/SP)

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CENTRO UNIVERSITÁRIO SENAC SANTO AMARO

GUSTAVO RODRIGUES DE ANDRADE

REQUALIFICAÇÃO DOS ESPAÇOS RESIDUAIS DA RUA SOBRÁLIA, CAMPO GRANDE, SÃO PAULO

São Paulo 2016

CENTRO UNIVERSITÁRIO SENAC


SANTO AMARO

GUSTAVO RODRIGUES DE ANDRADE

REQUALIFICAÇÃO DOS ESPAÇOS RESIDUAIS DA RUA SOBRÁLIA, CAMPO GRANDE, SÃO PAULO

Monografia apresentada à banca avaliadora do Centro Universitário Senac – Campus Santo Amaro, como exigência para a obtenção do título de bacharel em Arquitetura e Urbanismo.

Orientação: Prof.º Dr. Ricardo Dualde.

São Paulo 2016


Gustavo Rodrigues de Andrade

Requalificação dos espaços residuais da Rua Sobrália, Campo Grande, São Paulo

Monografia apresentada à banca avaliadora do Centro Universitário Senac – Campus Santo Amaro, como exigência para a obtenção do título de bacharel em Arquitetura e Urbanismo.

Orientação: Prof.º Dr. Ricardo Dualde.

A banca examinadora dos Trabalhos de Conclusão, em sessão pública realizada em 13/12/2016, considerou o candidato:

1) Examinador (a) 2) Examinador (a) 3) Presidente


Dedico este trabalho a minha família em primeiro lugar, a meu pai Hamilton, minha mãe Marilda e meu irmão Vinícius, amores da minha vida que sempre estarão ao meu lado me ajudando e dando todo o suporte de que preciso para alcançar meus objetivos e sonhos.

Grandes agradecimentos a todos os meus amigos, tanto os de infância, que sempre me ajudaram, quanto os da faculdade que, depois de cinco anos continuam em minha vida. Sem eles nada disso seria possível. Também não seria possível sem toda a ajuda e conhecimento passados pelos professores do Senac, principalmente na reta final, ao meu orientador, professor Ricardo Dualde, um muito obrigado!

Por fim, desejo toda sorte a todos.

“...Paisagem, país feito de pensamento da paisagem, na criativa distância espacitempo, à margem de gravuras, documentos, quando as coisas existem com violência mais do que existimos: nos povoam e nos olham, nos fixam. Contemplados, submissos, delas somos pasto somos a paisagem da paisagem. ”

DRUMMOND, Carlos Drummond de Andrade, em As impurezas do branco.


RESUMO O presente trabalho tem por objetivo ir além de um questionamento do urbanismo implantado que originou a criação das primeiras legislações para a formação da atual da cidade. Analisando o processo histórico do local para entender as

transformações

que

se

fizeram

no

espaço

público.

Para tal, foram feitas análises conceituais para entender comportamentos sociais de um indivíduo em uma grande cidade, estudando as morfologias da região e as transformações

ocorridas

em

relação

ao

espaço

urbano.

Sendo assim, fez-se necessário entender a origem do atual urbanismo e, para tal, buscou-se compreender as primeiras regras de uso e ocupação do solo e o processo de

desenvolvimento

da

região

Sul

de

São

Paulo.

Levantaram-se todo tipo de uso e ocupação presentes na rua escolhida para a requalificação, avaliando em seguida suas dinâmicas apresentadas e, por fim, identificando suas problemáticas, visando desenvolver um plano de atividades e diretrizes consistentes para a utilização dos espaços públicos da rua que alcance a população local que, como em qualquer região, tem suas diversidades. Palavras-chave: Urbanismo; espaço público; rua; São Paulo.


ABSTRACT The objective of this study is to examine implanted urbanism that formed primary constitutions to the city’s current design, analyzing the historical process to understand mutations that built the current public space. For that matter, conceptual analysis was developed to comprehend an individual’s social behavior in a major city, studying the region’s morphology and the transformations developed in urban area. It was aimed to consistently solve an anxiety emerged from the experience of the analyzed street’s daily use. Therefore, it is necessary to understand the current urbanism’s origins and, for that purpose, it was sought to comprehend the initial rules for the soil’s use, occupation and process of development of São Paulo’s South region. For the purposes of analysis, use types and occupation present in the street chosen for requalification were gathered to evaluate their presented dynamics and, finally, to identify urban issues in order to develop an activity plan and consistent guidelines to operate the street’s public spaces so they can encompass local population and its diversities.

Key words: Urbanism; public space; street, São Paulo.


LISTA DE FOTOS Foto 1 - Aeroporto de Congonhas ............................................................................. 15 Foto 2 - Conexão Cultural – Museu da Imagem e do Som, São Paulo ..................... 17 Foto 3 - Plaza Santa Ana, Madrid, Espanha ............................................................. 18 Foto 4 - Lynch – 1981 - Espaços Públicos ................................................................ 23 Foto 5 - Canteiro central ............................................................................................ 38 Foto 6 - Urbanização consolidada ............................................................................. 39 Foto 7 - Inserir título .................................................................................................. 40 Foto 8 - Inserir título .................................................................................................. 41 Foto 9 – Praça ........................................................................................................... 43 Foto 10 - Praça.......................................................................................................... 44 Foto 11 - Calçadas x área verde ............................................................................... 45 Foto 12 - Praça de acesso ........................................................................................ 45 Foto 13 - Núcleo Habisp ............................................................................................ 46 Foto 14 - Escadaria na parte de cima ....................................................................... 47 Foto 15 - Escadaria na parte debaixo ....................................................................... 48 Foto 16 - Canteiro para um tipo de uso ..................................................................... 51 Foto 17 - Canteiro sem uso ....................................................................................... 52 Foto 18 - The Better Block Foundation Dallas ........................................................... 68 Foto 19 - Ocupação em parte (Porto Alegre - RS) .................................................... 69 Foto 20 - Praia em Campus Martins, Detroit, EUA .................................................... 70

LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Antiga da planta com seu zoneamento que delimita funções: .................. 27 Figura 2 - Arquivo histórico da subprefeitura de Santo Amaro. ................................. 29 Figura 3 – Ano 2000 (inserir título) ............................................................................ 30 Figura 4 - Ano 2004 (inserir título) ............................................................................. 31 Figura 5 - Uso e ocupação do solo............................................................................ 33 Figura 6 - Mapa de 2015 (inserir título) ..................................................................... 35 Figura 7 - Satélite do Google Maps, arte destacando a rua na região ...................... 37 Figura 8 – Parque o Mundo da Xuxa ......................................................................... 53 Figura 9 – Estação Jurubatuba ................................................................................. 58 Figura 10 – Proposições para a qualificação............................................................. 67


LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1 - Pontos baseados nos princípios e práticas do Guia do espaço público, por Jeniffer Heemann e Paola Caiuby Santiago com parceria PPS (Project for Public Spaces), para um espaço público bem-sucedido ...................................................... 16 Gráfico 2 - IDHM ....................................................................................................... 53 Gráfico 3 - Trabalho .................................................................................................. 55 Gráfico 4 - Educação ................................................................................................. 55 Gráfico 5 - Renda ...................................................................................................... 57 Gráfico 6 - IDHM ....................................................................................................... 59 Gráfico 7 - Trabalho .................................................................................................. 60 Gráfico 8 - Educação ................................................................................................. 61 Gráfico 9 - Renda ...................................................................................................... 63

LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Renda Pobreza e Desigualdade .............................................................. 56 Tabela 2 – Renda Pobreza e Desigualdade .............................................................. 63


SUMÁRIO

1

INTRODUÇÃO

11

2

O VALOR SOCIAL/SIMBÓLICO DA CIDADE

11

3

O NÃO LUGAR/ESPAÇO VAZIO

13

4

O BOM ESPAÇO PÚBLICO

16

5

CIDADE MODERNISTA

19

6

PENSAMENTO PÓS-MODERNO

23

7

CITY SÃO PAULO

25

7.1

Parcelamento feito pela Companhia CITY

26

8

ZONA SUL

27

9

CARACTERIZAÇÃO DA RUA

36

9.1

Valores atuais

45

9.2

Diagnostico socioeconômico

52

9.3

Requalificação da área

66

9.4

Política de Atividades

67

9.5

Propostas de Diretrizes

70

9.6

Cortes das Propostas

71


11

1 INTRODUÇÃO A principal motivação deste trabalho é uma inquietação com relação à dinâmica do indivíduo com os espaços públicos da região de convivência diária. A falta de apropriação dos usuários desses espaços em uma grande cidade como São Paulo leva à ausência de identidade espacial com seus bairros e, muitas vezes, ao abandono dos espaços como a própria rua, a pequena praça do bairro, e outras áreas de uso público que antes serviam, por exemplo, de pontos de encontro dos cidadãos exercendo a vida em comunidade. Tais áreas, então, acabam inutilizadas ou consideradas inapropriadas, o que culmina em sua degradação.

O que hoje é um resíduo no desenho da cidade moderna a ser evitado ou apenas transitado rapidamente, antes era de grande importância na vida em comunidade, um espaço reconhecido como local de encontro, tanto para lazer quanto para prática civil e política. Antigos usos públicos tiveram seus espaços alterados e agora encontram-se em locais de comércio e, neste caso, sua localização se dá pelo consumo e sensação de segurança.

Como área de abrangência do projeto foi escolhido o Distrito de Campo Grande, localizado na macrorregião da Zona Sul de São Paulo. Por meio de análises socioeconômicas e tipológicas da região, pretende-se elaborar um projeto de requalificação urbana. A Rua Sobrália foi escolhida como área de intervenção para tal requalificação pois, apesar de estar localizada em um bairro heterogêneo, ela apresenta pontos distintos e evidencia transições que ocorrem na região. As áreas apresentam características em comum e, por isso, é possível criar parâmetros de desenho urbano com a população local, respeitando seus hábitos diários, criando signos de identificação com o bairro e colocando em prática ações em comunidade, transformando esses em locais prazerosos para convivência.


12

2 O VALOR SOCIAL/SIMBÓLICO DA CIDADE É possível perceber hoje que a relação da terra com a cidade é um valor associado ao capital pelo poder econômico, não só pelo valor material como também pelo poder territorial imposto nas práticas sociais que acontecem dentro do espaço.

Ao refletir sobre a necessidade primária da terra percebemos que ela mudou com o passar do tempo. A princípio, sua função social era garantir e satisfazer necessidades para a subsistência do homem, servir como abrigo e fonte de alimentos. Analisando como o espaço da terra dentro da cidade tornou-se cada vez mais disputado por grupos com diferentes ideologias e defensores de suas identidades particulares entendemos que o valor social e os antigos valores da terra mudaram ou perderam-se com o passar dos anos.

Os espaços públicos, antes reservados para o convívio entre as pessoas em comunidade, tinham grande representatividade na vida dos habitantes da cidade e contavam com inúmeras atividades comunitárias, como comércio, política e diversas dinâmicas sociais. Essa função deixou de existir para os indivíduos, que em muitas vezes, esses espaços são utilizados somente para mobilidade. O fato de que alguns espaços públicos não abrangem toda a diversidade da população causa sensação de insegurança já que essas áreas ficam restritas àqueles que detêm maior poder econômico/físico, sendo o carro seu principal agente, tornando ruas menos utilizada por pedestres. Além de se tornar uma área de convívio social entre as pessoas, a disputa da rua dentro da cidade ficou restrita hoje a somente ao valo econômico que ela pode gerar.

Analisando o planejamento urbano para delimitação das áreas e suas funções dentro da cidade, encontra-se as áreas destinadas à circulação, trabalho, moradia, áreas verdes e as diferentes ocupações do solo, e identificam-se os chamados espaços residuais, áreas desdenhadas pelo desenho urbano e, assim, pelos cidadãos. São espaços ignorados pelos habitantes; partes da cidade que as pessoas


13 evitam

frequentar,

o

que

gera

abandono

e

falta

de

segurança.

Esses espaços eram destinados ao comércio, à política e a atividades comunitárias. Parques, praças ou a própria rua, que antes eram ambientes coletivos em que os habitantes se encontravam, entram em decadência e tornam-se subutilizados e até perigosos; as pessoas pertencentes a esse espaço não criam ou encontram signos de relações de identificação com ele.

Uma crítica à sociedade moderna diz respeito à forma de ocupação que se faz do espaço público, em que a cidade não se pauta pela ideia de troca de informações. O valor da troca – até mesmo material – por uma ocupação temporária quase não faz mais parte vida pública. Não se busca respeitar o aspecto humano, construindo um modo de viver mais colaborativo e horizontal nas grandes cidades. Portanto, é necessário um novo olhar para requalificar espaços e antigos usos de modo consciente.

3 O NÃO LUGAR/ESPAÇO VAZIO O conceito dos não lugares foi proposto pelo antropólogo francês Marc Augé para identificar os espaços de passagem que não criam nenhum tipo de identidade, lugares transitórios que não possuem características específicas, são impessoais e, assim, não estabelecem relações de significado com o indivíduo nem com a história ou valores simbólicos. Para Augé, é a identidade do local que o forma, reúne e o une com as pessoas.

Espaços transitórios como shoppings, aeroportos, entre outros, tornam-se cada vez mais importantes da vida contemporânea das cidades. São lugares em que existe a vida coletiva, mas cada vez mais o indivíduo se torna alheio aos demais, isolado em sua individualidade, em suas ações e possibilidades de escolhas particulares e, na maior parte das vezes, esse espaço público não permite a troca de informações pois está designado a satisfazer um objetivo: o de consumo. O não lugar não surge apenas do resíduo de projetos mal resolvidos, mas também a partir da visão que a comunidade tem desse espaço. Um possível trajeto pode ser considerado um não


14 lugar, uma vez que determinada parte da população se quer está ciente de sua existência, o que agrava sua condição de abandono.

Segundo Bauman, em Modernidade Líquida, as relações dos indivíduos em sociedades contemporâneas tendem a ser menos frequentes e menos duradouras. A cultura do medo é fabricada e fomentada pela mídia e pelo poder político, que contribuem para acentuar a alarmante desigualdade social. Os espectros das ruas inseguras mantêm a população afastada do espaço público e das possibilidades e prazeres da vida em comunidade, o que incentiva a construção de praças, parques e lojas, espaços que são mais seguros, mas não incentivam a permanência neles e oferecem menos liberdade aos usuários.

(...) a distinção entre lugares e não lugares passa pela oposição do lugar no espaço. (...) O não lugar é o contrário da utopia: existe e não alberga sociedade orgânica alguma. E que de dia para dia, acolhe cada vez mais pessoas. Tempo/Espaço, Modernidade Liquida.

Os não lugares não requerem nenhum tipo de relação humana ou civilidade, o que faz com que as opções de atividades de aprendizado público que antes os espaços ofereciam, hoje sejam cada vez menores. Ocupando cada vez mais espaços, eles reformulam o desenho da cidade, criando mais formas de tornar invisível as diferenças e as semelhanças. São espaços vazios de significado, não apenas mais shoppings ou aeroportos, mas espaços expandidos que atingem áreas abandonadas – os chamados vazios urbanos – espaços em que a vida coletiva era representada, mas que têm sido abandonados pelos cidadãos que se afastam das ruas e dessas relações públicas por medo.

(...) são lugares não colonizados e lugares que nem os projetistas nem os gerentes de usuários superficiais reservam para a colonização. Eles são, podemos dizer, lugares que “sobram” depois da restruturação de espaços realmente importantes: devem sua presença fantasmagórica à falta de superposição entre a elegância da estrutura e a confusão do mundo (qualquer mundo, inclusive o mundo desenhado propositalmente), notório por fugir a classificações cabais. Mas a família dos espaços vazios não se limita às sobras dos projetos arquitetônicos e às margens negligenciadas das visões dos urbanistas. Muitos espaços vazios são, de fato, não apenas resíduos inevitáveis, mas ingredientes necessários de outro processo: o de mapear o


15 espaço partilhado por muitos usuários diferentes. (...) Tempo/Espaço, Modernidade Liquida.

Os vazios urbanos são espaços que sobram do desenho das cidades e são vistos como negativos. Esses espaços ora podem servir como respiros das grandes metrópoles, oferecendo um pouco da natureza em meio ao cinza, ora apresentam-se como áreas violentas, obscuras, esquecidas, marginalizadas e inabitadas, que transmitem insegurança e, por isso, são evitadas.

A inserção dos vazios na malha urbana decorre do processo de urbanização e da falta de planejamento atrelada a ele. Devido às grandes mudanças estruturais que ocorreram nas formas de produção, típicas das metrópoles, os vazios urbanos refletem as contradições sociais das grandes cidades. Com novas lógicas de mobilidade urbana, comercialização e concentração de capital, os modais de utilização do espaço/tempo indicam uma série de conflitos e contradições sociais.

Foto 1 - Aeroporto de Congonhas

Fonte: Site da Infraero.


16

4 O BOM ESPAÇO PÚBLICO Levando em consideração a qualidade de vida em uma metrópole como São Paulo, analisa-se o urbanismo atual e se ele atende os requisitos de um espaço público de qualidade. Segundo analises do Guia do Espaço Público, que o principal ponto do urbanismo é o comércio, ou intercâmbio (que são entendidos da mesma maneira) – a relação de troca. Não somente a troca de bens, mas também o comércio de ideias.

Três aspectos são importantes para a criação de um espaço de qualidade no urbanismo contemporâneo: a boa condição do entorno, o ambiente cidadão e o respeito à escala humana; a proximidade nas relações; e a criação de âmbitos de uma espécie de segurança natural.

Cidades com forte infraestrutura de cafés, bares, restaurantes etc., facilitam o intercâmbio de informações, projetos, atividades políticas e demais relações, o que promove um bom urbanismo, aquele em que se estabelecem espaços de intercâmbio e elimina lógicas de produção de espaços individualizados, como condomínios ou bairros fechados, vias motorizadas, que acabam por matar a cidade. Os lugares públicos têm a função de incentivar interações entre os habitantes e a própria cidade, promovendo comunidades mais saudáveis e felizes.

Para promover áreas de participação comunitária, os espaços públicos devem abranger ferramentas de planejamento, de desenho e de gestão. Mais do que criar um desenho urbano superficial, é necessário favorecer o desenvolvimento de atividades (econômicas, sociais, ambientais e culturais) que embasam sua evolução. A Project for Public Spaces, organização sem fins lucrativos de Nova York que ajuda na criação de espaços públicos de qualidade, afirma que o trabalho de promover espaços comunitários consiste em olhar, ouvir e fazer perguntas paras as pessoas que frequentam um espaço em específico, vivendo ou trabalhando, com o objetivo de descobrir suas necessidades e desejos.


17 A visão da comunidade é essencial para o processo de fazer lugares, assim como a compreensão do espaço e das formas como ótimos lugares incentivam conexões sociais e iniciativas bem-sucedidas. (Guia do espaço público, Jeniffer Heeman e Paola Caiuby Santiago).

Gráfico 1 - Pontos baseados nos princípios e práticas do Guia do espaço público, por Jeniffer Heemann e Paola Caiuby Santiago com parceria PPS (Project for Public Spaces), para um espaço público bem-sucedido

Fonte: Guia do espaço público.

No gráfico da Imagem 2, é possível perceber alguns de vários pontos cruciais no desenvolvimento de um bom espaço. Para que um lugar seja bem-sucedido é essencial que os acessos e conexões a ele sejam viabilizados, é necessário que ele seja visível à distância e conte com ampla rede de transporte público. Também é importante pensar sobre conforto e a imagem do espaço de modo que o tornem convidativo, o que inclui levar em consideração também a segurança, a limpeza dá área e a disponibilização de lugares para que os usuários possam ficar sentados e nela permanecer. Outro aspecto fundamental são os usos e atividades oferecidos ao público: para que os usuários frequentem a área é necessário que as atividades


18 equilibrem a presença de homens e mulheres, pessoas sozinhas ou em grupos, jovens ou idosos, na tentativa de fazer com que o espaço nunca fique vazio. Além disso, é importante pensar na questão da sociabilidade que, apesar de difícil alcance, cria forte senso de lugar e a ideia de pertencimento quando os usuários podem encontrar seus amigos, reconhecer vizinhos e até conhecer novas pessoas.

A imagem a seguir foi retirada do Guia do Espaço Público, e mostra pessoas ocupando o espaço coletivo, um bom exemplo de utilização pela vida pública.

Foto 2 - Conexão Cultural – Museu da Imagem e do Som, São Paulo

Foto: Ana Roman. Fonte: Guia do Espaço Público.

A imagem a seguir também foi retirada do Guia e mostra um espaço público de qualidade, onde as fachadas interagem com a praça e promovem o comércio tanto material como de informações.


19 Foto 3 - Plaza Santa Ana, Madrid, Espanha

Fonte: Guia do Espaço Público.

5 CIDADE MODERNISTA Ao estudar o conceito de cidade modernista, é necessário entender a relação da cidade com a sociedade. Diferente do campo, cidades são compostas por uma população em agrupamento que não produz sua subsistência alimentar. Pressupõese, então, uma divisão técnica entre os que produzem bens de subsistência ou manufaturados, simbólicos e de proteção.

A história das cidades é marcada pelas técnicas de transporte e armazenamento de bens, de informações e, assim, a sociedade moderna procurou novas lógicas para o funcionamento das cidades, uma buscando racionalizar as ações praticadas.

Analisando

as

transformações

da

sociedade

moderna,

percebe-se

principalmente no Ocidente a vontade de manter lógicas funcionalistas dentro das cidades, o que um esforço ainda maior do planejamento urbano para conseguir atingir as diversas camadas desenvolvidas na cidade, o que causa prejuízos no desenho urbano e forma espaços sem planejamento, desprovidos de identidade, “buracos” urbanos em meio público que as pessoas evitam permanecer por algum tempo.


20 É incorreto falar de modernidade como um período passado para se referir à sociedade moderna e os conceitos criados por ela. O termo adequado para esse caso é “modernização”, pois não se trata de um estado, tampouco de um processo continuo de transformação da sociedade. A modernização resulta do relacionamento entre três dinâmicas socioantropológicas: a individualização, a racionalização e a diferenciação social. Assim, as lógicas de apropriação e domínios individuais não levam em consideração as lógicas coletivas; as sociedades modernas separam e reúnem indivíduos, porém não grupos. A racionalização ressalta as ações humanas e as leis naturais: o que antes era visto como “obra de deuses”, torna-se uma espécie de “desencantamento do mundo”. Não há mais escolhas, apenas repetições de atos utilizando conhecimentos científicos, agindo a partir de experiências e mobilizando, assim, as técnicas. A diferença social é uma espécie de separação que diversifica as funções de grupos e indivíduos pertencentes à mesma sociedade, reforçada pelo desenvolvimento da técnica, do social e do trabalho. As fases da modernização podem ser divididas em fases: a primeira é marcada pelo fim da Idade Média e o começo da Revolução Industrial. A segunda fase caracteriza-se pela Revolução Industrial, respeitando as lógicas capitalistas, o pensamento técnico e resultou nas duas primeiras revoluções urbanas modernas. Como característica desse urbanismo novas concepções surgiram, dividindo espaços, separando o público do privado, ruas, calçadas, dividindo traçados e, assim, formando o “urbanismo moderno” como forma de organização de cidade sob zoneamento, que Le Corbusier e a Carta de Atenas definem mais tarde, como ferramentas que o urbanismo moderno cria para construir uma cidade regrada e separadora de funcionalidades por meio de zoneamentos específicos.

Devido ao crescente número de pessoas, informações e bens, é necessário adaptar a cidade para que ela possa atender às novas demandas, o que requer uma rede de água, saneamento, energia e comunicação bem estruturadas para garantir a produção, o consumo e as operações mercantis. A eletricidade foi importante para potencializar o crescimento das cidades, tanto verticalmente (elevadores) como horizontalmente (bonde, motor a explosão), sendo assim, a diferença social desenhava um novo modo no espaço: com os elevadores, as pessoas de classes


21 financeiras menos favorecidas ocupavam camadas inferiores enquanto os ais favorecidos iam para camadas cada vez mais superiores. Mais tarde, com o desenvolvimento dos transportes coletivos, formaram-se bairros residenciais de alta renda e bairros industriais para fábricas e operários. O transporte coletivo foi crucial para a ampliação dos territórios urbanos, seguido pelo automóvel individual. Foi possível notar o fordismo no sistema de produção e de consumo no espaço urbano, com conjuntos habitacionais, casas individuais, eletrodomésticos, hipermercados e infraestrutura viária.

(...) foi criada, assim, toda ordem de estruturas e procedimentos para “planejar” mais racionalmente as cidades, ou seja, o mais cientificamente possível, para agir apesar das limitações da propriedade privada, para ordenar, isto é, predefinir e estimular a expansão periférica e a renovação. Os novos princípios do urbanismo, François Ascher.

Pode-se dizer que o urbanismo atual indica uma terceira fase da modernização, com um período para reflexão que ressalta seus dramas devido ao progresso. A sociedade então assume uma postura crítica denominada pós-moderna, buscando libertar-se do racionalismo e de suas certezas, desprendendo-se das formas de pensamento moderno de progresso.

Chega-se à modernização reflexiva, em que a ação depende de uma reflexão que permita analisar uma resposta que adéque e que não busque uma resposta preexistente ou uma tradição. Entende-se agora a complexidade da vida social, evidenciada pelo avanço das técnicas e ciências do espaço.

(...) A sociedade traduz, assim, cada vez mais, suas dificuldades, seu temor e sua insegurança em termos de risco, isto é, em termos de perigos que ela deve ser capaz de identificar, medir e gerir. (...). Os novos princípios do urbanismo, François Ascher.

Na sociedade moderna não existe mais um local ”certo” para as relações sociais, a distância espacial tem inúmeras possibilidades dando a impressão de que os indivíduos podem estar em mais lugares e simultaneamente. Com novos meios de transporte e de comunicação, abrem-se oportunidades de escolhas, das mais


22 importantes às mais cotidianas, como o local para fixar residência ou as atividades diárias, o que resulta na mudança da natureza do local. Sociedades cada vez mais individualistas que geram novas lógicas de segregação e só aumenta a diferença entre os mais favorecidos e os menos favorecidos, o que gera mais violência e dificulta relações sociais, ao mesmo tempo em que aumentam as medidas de segurança. Portanto, os excluídos ou os menos favorecidos não dispõe de opções de escolha e de mobilidade na cidade, e por isso tendem a residir em conjuntos habitacionais, vivendo da economia local e apenas em convívio com as pessoas do próprio bairro, ou até mesmo nem com elas.

As mudanças rápidas da economia, mostram que já se começa a sair do industrialismo e parte-se para uma economia baseada na produção, apropriação, venda e uso de conhecimento e informações. Assim, a indústria cada vez mais dependerá dessa nova lógica de economia, tendo que conhecer o mercado e escolher as melhores técnicas a aplicar para eliminar incertezas. O planejamento urbano entra em crise com a produção repetitiva (keynesianas e tayloristas), indo de encontro à diferença social e diversificação das futuras demandas, impossibilitada de atender todas as características individuais da população. Ao pensar em uma legislação para a ocupação do espaço, lógicas do Plano Diretor e do Zoneamento precisam resguardar os direitos de todos os indivíduos que vivem na cidade respeitando a multipluralidade cultural e possibilitará transformações para se adaptar a novas necessidades que a sociedade apresenta e não pode deixar de pautar o que o local em questão pode se tornar em curto, médio e longo prazo.


23 Foto 4 - Lynch – 1981 - Espaços Públicos

Fonte: The Image of the City, LYNCH.

6 PENSAMENTO PÓS-MODERNO Após as três grandes revoluções urbana modernas, chega-se a uma redefinição de vários aspectos, desde a transformação da mobilidade, o espaçotempo individual, coletivo e uma sociedade cada vez mais precavida nas ações, analisando todas as relações de risco.

Tomando estudos de Jane Jacobs como referência de caso, seu livro Morte e Vida de Grandes Cidades Americanas, publicado 1961, foi um ataque direto ao tipo de planejamento urbano moderno e adequa-se também aos tempos de hoje em nossas cidades, que ainda seguem funções separatistas de território e reforçam o individualismo. Jacobs acredita que, em uma sociedade cheia de diversidades, o urbanismo não poderia ser planejado. Em outras palavras, ele não deveria estabelecer regras de ocupação de espaço com apenas uma função, mas que isso dependeria de


24 interações humanas, que cada indivíduo poderia criar seus espaços que atenderiam às suas necessidades.

Na transformação da mobilidade, torna-se cada vez mais importante a acessibilidade e as oportunidades de encontro entre pessoas, o que é fonte de riqueza das regiões urbanas. Um exemplo é a valorização de áreas próximas às infraestruturas de transporte, como concentração de ocupação corporativa, comércio e atividades de lazer.

Formadas pela nova revolução moderna, as escalas do tempo, espaço, atividades individuais e coletivas modificam-se e aumentam.

A cidade passa a oferecer serviços vinte e quatro horas, planos diretores adaptáveis e a promover eventos que acontecem simultaneamente, desde o bairro à metrópole. Entretanto, os serviços públicos não atendem à demanda diversificada e não respondendo a todas necessidades sociais, por isso

É preciso redefinir as relações de interesses coletivos e individuais. É necessário renovar essa dinâmica da sociedade para construir decisões públicas , reduzindo as formas de segregação que excluem parcelas menos favorecidas do desenvolvimento econômico.

O neourbanismo é um novo urbanismo que produz mudanças nas formas de concepção das cidades e que alguns autores assim o denominam para distingui-lo do anterior. Adaptando-se à sociedade complexa, o neourbanismo elabora inúmeros panos de natureza variadas, buscando formas coerentes para a construção de uma gestão estratégica. Assim, reflete-se de forma analítica para elaborar projetos urbanos em dinâmicas incertas.

Inovadora, essa nova forma de gerir a cidade substitui a antiga lógica linear de diagnóstico, identificando necessidades e definindo um programa. Agora, utiliza-se de


25 um modo mais interativo, aberto a novos elementos, com ações mais cautelosas e objeto mais durável. enquanto o urbanismo moderno assegurava projetos regrados, tendo zoneamento, funções, densidade e gabaritos definidos para sua realização, o neourbanismo destaca objetivos e resultados a ser obtidos, com iniciativa de estimular setores públicos e privados a encontrar novas formas de realização de seus objetivos, tornando-os mais eficazes para a comunidade por meio da tecnologia de ciências variadas para operações urbanas, o que se faz necessário, já que as cidades contemporâneas traduzem maior diversidade funcional em zonas urbanas, os limites. Se antes eram almejadas soluções permanentes e homogêneas, agora busca-se adaptar ao processo de individualização da sociedade que necessita de uma maior variedade de soluções.

Analisando Os novos princípios do urbanismo, de François Ascher, nota-se que o autor cria uma forma de resumir e qualificar o neourbanismo que, apresentado na seguinte forma, coloca uma série de tópicos sob análise na contemporaneidade:

Criação de dispositivos para fazer plano de analise, discussão e que façam

evoluir; 

Urbanismo reflexivo, informações produzidas antes, durante e depois.

Tornando

instrumento

de

negociação e conhecimento; 

Urbanismo precaução, que considera as externalidades que sofre o espaço

para um desenvolvimento sustentável; 

Urbanismo convergente, concepção de projeto que levam a intervenção de

multiplicidade de atores e logicas; 

Urbanismo reativo, em sintonia com as dinâmicas presentes da sociedade;

Urbanismo multifacetado, composto pelas diferenças e soluções múltiplas;

Urbanismo estilisticamente, que consegue levar em conta o desenho urbano

dando lugar as escolhas estéticas e formais também; 

Urbanismo multissensorial, criando laços diversos do lugar.


26 Assim, entende-se que o neourbanismo está em constante mutação e apresenta variadas formas de crescimento, já que se exige mais conhecimento, experiência e respeito da cidade pelo indivíduo. Portanto faz-se necessário um planejamento urbano que leve em considerações a diversidade de dinâmicas para buscar soluções mais consistentes e melhor elaboradas.

7 CITY SÃO PAULO Os famosos bairros jardins de São Paulo, construídos pela Companhia City São Paulo, com projeto do inglês Barry Parker, o mesmo que implantou o primeiro bairrojardim em Londres, apresentam o mesmo conceito que foi implantado na Europa, que consiste em bairros com casas de alto padrão, arborizados, com intenção de aproximar o homem da cidade com a natureza.

A empresa adquiriu mais de quinze milhões de metros quadrados em São Paulo, em parceria com a Prefeitura da cidade à época. É possível afirmar que a Companhia City influenciou as primeiras leis de zoneamento da cidade. No período e que a empresa Light, concessionaria que administrava serviços de eletricidade e transporte, retificava o Rio Pinheiros e abria uma expansão territorial através de suas linhas de trem, a City criou laços com a Light e passou a usufruir dos acessos e condições privilegiadas como infraestrutura e valorização dos seus loteamentos.

À medida que São Paulo crescia, surgia um forte mercado de terra que se formava nas áreas próximas ao Rio Pinheiros e ficavam destinadas à comercialização e loteamento e, dessa forma, a Companhia City aproveita o processo de modernização e adquire mais terrenos pela cidade.

No projeto de implantação do primeiro bairro jardim, o Jardim América, é possível identificar itens importantes para a compreensão do urbanismo realizado em São Paulo, já que ele respeita elementos naturais do terreno, como topografia, drenagem e vegetação, além de itens que valorizam a escala do pedestre, como calçadas largas, regras de recuo tanto para a frente quanto para os fundos com


27 afastamentos laterais, com objetivo de promover o conforto ambiental e arborização dos espaços público, criando moldes de exemplo de sucesso para realização de bairros planejados paulistanos.

7.1

Parcelamento feito pela Companhia CITY A Companhia City adquiriu vários terrenos em São Paulo e implantou, então, o

primeiro bairro planejado da cidade, o Jardim América, com curvas de níveis respeitadas, ruas arborizadas, limites de ocupação de espaços e mais regras de zoneamento, tornando-se padrão de qualidade para futuros loteamentos.

No decorrer dos anos 30, São Paulo – e, em especial, a Zona Sul – passou por um grande processo de industrialização, com a implantação de fábricas em longos terrenos de várzea dos rios (Pinheiros e Tietê), por onde passavam as ferrovias, desenhando um novo perfil urbano. A Companhia City implanta projetos em terrenos da zona sul de São Paulo, não obtendo o mesmo sucesso de outros bairros jardins, devido ao rápido processo de desenvolvimento da região.


28 Figura 1 - Antiga da planta com seu zoneamento que delimita funções:

Fonte: Imagem retirada do acervo do Estadão.

8 ZONA SUL Devido ao grande desenvolvimento industrial pelo qual a cidade passou, é difícil medir os limites territoriais exatos da Zona Sul de São Paulo, que abrange a maior parte da cidade. No zoneamento, a região Sul engloba as subprefeituras da Capela do Socorro, Campo Limpo, Cidade Ademar, Socorro, Parelheiros e M’ Boi Mirim, enquanto a centro-Sul engloba as subprefeituras de Vila Mariana, Jabaquara e a do objeto de estudo do presente trabalho, a Subprefeitura de Santo Amaro. Além de próximas, as regiões apresentam semelhanças física e nas dinâmicas sociais e, juntas, são popularmente conhecidas como uma única região Sul.


29 A formação da área foi estimulada pelo desenvolvimento industrial e com ele surgiu um urbanismo moderno, e que era necessário resolver questões típicas da metrópole, como habitação, transporte e infraestrutura. Era preciso planejamento urbano e, portanto, foram criadas regras de zoneamento específicos (citados no tópico anterior), que tiveram grande influência da Companhia City com as obras de energia e mobilidade da empresa Light. Assim surgiram as primeiras leis de ocupação do solo, separando funções e seguindo um modelo de urbanismo oriundo da Europa. A cidade de São Paulo, então, cria modelos de bairros jardins (Jardim América e Jardim Europa) bem-sucedidos, reproduzindo na Zona Sul o mesmo tipo de zoneamento que na atualidade identifica-se que o resultado não foi mesmo, devido ao rápido desenvolvimento urbano e industrial que acontecia na cidade, a uma política de loteamento inexistente, ou apenas, era incapaz de atender uma demanda de pessoas e acarretando ocupações irregulares.


30 Figura 2 - Arquivo histórico da subprefeitura de Santo Amaro.

Fonte: Site Subprefeitura de Santo Amaro. Data: 1954.

A imagem acima mostra a formação de vários elementos da cidade. Na parte superior está localizada a região de Santo Amaro, também o que hoje é o Largo Treze, que já possui o traçado do que viriam a ser loteamentos no futuro. Já na retificação do Rio Pinheiros, que encontra as barragens da Represa Guarapiranga, é possível visualizar o que e antes eram áreas inundadas e de várzea do Rio, vazias e já se preparando para futuras ocupações.


31 Figura 3 – Ano 2000 (Imagem Satélite)

Fonte: GEOSAMPA.


32 Figura 4 - Ano 2004 (Imagem Satélite)

Fonte: GEOSAMPA.

Na figura 3 é possível identificar grande urbanização da região, com uma malha urbana densa e traçados de funções bem delimitados, reunindo no mesmo perímetro, às vezes lado a lado, o convívio de lotes residências com fábricas, indústrias e equipamentos públicos.

A figura 4 exibe em detalhes o objeto de análise deste trabalho. Nela, percebese como a rua tem dois nomes e, mais importante, dois tipos de ocupação. A primeira delas, a parte que serve de coletora da Avenida Nossa Senhora do Sabará, tem


33 gabarito baixo, restrito ao uso residencial e com comércio local em algumas casas. No segundo tipo de ocupação presente na rua, percebe-se a mudança de loteamento com grandes terrenos reservados para as indústrias, alterando em poucos metros duas dinâmicas da cidade que se relacionam no mesmo ponto público, a rua.

A seguir, no mapa de Uso e Ocupação do Solo da Subprefeitura de Santo Amaro datado de 2004, a seguir na figura 5, é possível notar as divisões feitas pelo loteamento na região, o Sistema de áreas verdes do município, a Macrozona de estruturação e qualificação urbana, a Macrozona de proteção ambiental e as Zonas Especiais.

Identifica-se na área da futura intervenção, que está já entre duas centralidades lineares, a ZM-1 (Zona Mista de Baixa Densidade) e a ZPI (Zona Predominante Industrial).


34 Figura 5 - Uso e ocupação do solo

Fonte: Mapa retirado da Subprefeitura de Santo Amaro, na Secretaria Municipal de Desenvolvimento, anexo Zoneamento de São Paulo.


35 O que se conclui sobre o zoneamento de 2004 é que falta o reconhecimento das transformações que aconteceram no urbanismo e de suas dinâmicas apresentadas na região, assim permitindo só dois tipos de ocupações do solo, o industrial, que é predominante, e uma zona de baixa densidade. Um urbanismo que não atendeu às necessidades do local da melhor forma possível, permitindo na região o desenvolvimento de diversos não lugares. Setores que precisavam ser desenvolvidos, como dinâmicas econômicas locais, mobilidade e diversos outros equipamentos urbanos, ficaram esquecidos.

O mapa de 2015, na figura 6 a seguir, apresenta o zoneamento atual da via, em que o local para a requalificação encontra-se entre dois eixos estruturais que promovem o crescimento imobiliário e comercial da região e, a fim de assegurar a qualidade de vida dentro dos bairros, o zoneamento garante o gabarito local baixo determinado como uma Zona Mista em grande parte de sua área, que ainda apresenta uma ZEPAM (Zona Especial de Proteção Ambiental) no perímetro do Grêmio Esportivo Campo Grande e, agora, com uma ZDE (Zona de Desenvolvimento Econômico) a seu lado, que tem como objetivo manter ou aprimorar áreas industriais onde não será possível construir usos residenciais.


36 Figura 6 - Mapa de 2015 (Zoneamento)

Fonte: Mapa retirado da Subprefeitura de Santo Amaro, na Secretaria Municipal de Desenvolvimento, anexo Zoneamento de 2015 em São Paulo.

O que se pode concluir a partir do novo zoneamento de 2015 é que ele atende às novas dinâmicas populacionais e apresenta novos eixos estruturais que evidenciam o desenvolvimento local, mas apresenta falhas ao ainda classificar uma


37 região com crescente IDH em ZPI, quando o mais adequado seria criar serviços para atender os novos perfis sociais que se demonstram carentes.

9 CARACTERIZAÇÃO DA RUA A Rua Sobrália apresenta também outro nome (Avenida Salim Antônio Curiati) ao longo da sua extensão, devido a um urbanismo que identificou dois tipos de traçado. Em seu mapa de uso e ocupação do solo, percebem-se três tipos diferentes de zoneamento: a ZM-1, zona mista de baixa densidade; a ZPI, zona predominante industrial; e ZER-1, zona exclusivamente residencial de baixa densidade. Localizada no meio de duas centralidades lineares, a Avenida Nossa Senhora do Sabará e a Avenida Engenheiro Alberto Zagottis. A rua deste estudo é caraterizada como coletora, distribuindo fluxo para ambas as avenidas.

Na extensão da rua está localizado o parque industrial da Coca-Cola, nas proximidades da Avenida Engenheiro Alberto Zagottis, que mostra seu zoneamento modernista baseado na separação de funções e mantém lado a lado zonas habitacionais e industriais. Com a atual diversidade de ocupações o local enfrenta problemas no processo de modernização da região para suprir as várias camadas da sociedade.


38 Figura 7 - Satélite do Google Maps, arte destacando a rua na região

Fonte: Google Earth. 2014.

A foto 5, abaixo, mostra o grande canteiro central em relação ao entorno: de um lado a comunidade consolidada e, do outro, o muro de arrimo, evidenciando grande potencial verde e de área pública. A foto 6, em seguida, mostra o tipo de construção predominante da região, para habitação, e nota-se um tipo único de loteamento formado por imóveis residenciais compostos por até dois ou três pavimentos, no máximo.


39 Foto 5 - Canteiro central

Fonte: Foto prรณpria.


40 Foto 6 - Urbanização consolidada

Fonte: Foto própria.

A foto 7, abaixo, mostra a empresa de logística e como a modernização da região trouxe pontos que podem promover empregos e maior dinamismo ao espaço. Já a foto 8, em sequência, mostra um equipamento esportivo – o Clube Grêmio – que, além de oferecer área de lazer, dispõe de comércio e espaço para atividades coletivas.


41 Foto 7 – Fábrica

Fonte: Foto própria.


42 Foto 8 – Parque Infantil do Grêmio.

Fonte: Foto própria.

A foto 9 mostra um uso destinado ao público que frequenta o Clube, parque infantil de primeiro plano e ao fundo quadra de futebol e bar/restaurante. Uso interessante, porém, não de acesso livre, mesmo não pagando para entrar.


43 Foto 9 – Praça

Fonte: Foto própria.

A foto 9 e 10 mostra um exemplo dos diversos espaços que sobraram na cidade, decorrentes de um urbanismo moderno que segue regras funcionais: áreas de praças formadas entres os loteamentos, por exemplo, que são subutilizadas ou até completamente inutilizadas e abandonadas.


44 Foto 10 - Praรงa

Fonte: Foto prรณpria.


45 Foto 11 - Calรงadas x รกrea verde

Fonte: Foto prรณpria.


46 Foto 12 - Praça de acesso

Fonte: Foto própria.

A foto 11 detalha a área verde, um resíduo de loteamento para um pequeno centro empresarial, aproveitada pelos trabalhadores para passar tempo em suas horas de intervalo. Já na foto 12 mostra a praça residual que, além de ter função de respiro, é também de acesso para outra rua localizada em uma cota superior.

9.1

Valores atuais Ao iniciar os estudos de caso frequentando a rua para uma análise reflexiva

sobre sua formação e para reconhecimento, identificam-se resultados do urbanismo e seus valores individuais e coletivos, como características construtivas dos loteamentos, a relação das pessoas que habitam a região, como elas ocupam os espaços públicos, a identificação do indivíduo com a rua, a relação das pessoas que


47 apenas transitam da rua, o comércio presente e a infraestrutura do local (calçadas, saneamento, transporte, acessos, entres outros).

Foto 13 - Núcleo Habisp

Fonte: Foto própria.

A foto 13 mostra o resultado de uma ocupação irregular do terreno (devido a uma política de habitação equivocada) que, sem seguir regras de recuo, constrói em toda sua área perdendo conforto ambiental e prejudicando as áreas abertas, que seriam destinadas à área de serviço do imóvel. Resolve-se, então, de maneira inadequada, transformando os valores e restringindo o que deveria ser espaço de uso coletivo para as extensões de suas casas.


48 Foto 14 - Escadaria na parte de cima

Fonte: Foto prรณpria.


49 Foto 15 - Escadaria na parte debaixo

Fonte: Foto própria.

A escadaria é um espaço transitório de conexão e importante para o fluxo dos que moram ou utilizam a região. Localizada na praça residual da rua, como outras praças, encontra-se subutilizada, ocupando grande espaço público, com árvores frutíferas, como a bananeira, e espaço para práticas comunitárias. Dotada de potencial de espaço social é evitada por muitos, além de sofrer com a falta de iluminação, às vezes parecendo invisível para os habitantes locais, tornando-se monofuncional, ou seja, utilizada apenas para mobilidade.


50 Apesar de uma área da rua ser mais estreita, há uma parte da a via com grande alargamento, com canteiros centrais na área de perímetro industrial nas proximidades da Avenida Engenheiro Alberto Zagottis, onde está localizado também o Grêmio Esportivo Campo Grande e o núcleo Habisp, loteamento precário já consolidado e que possui saneamento básico.

Esses grandes canteiros perdem suas potencialidades de área pública para o uso restrito de transporte individual, que não fica apenas no canteiro, mas também nos dois sentidos da rua. O espaço usado como estacionamento para os trabalhadores dessas área restrita da rua perde os valores coletivos, inclusive porque, em outros horários do dia e aos finais de semana, ficam inutilizados. O urbanismo hoje tem dificuldades para atender às diversas demandas da sociedade e os diferentes valores no momento de ocupar o solo.


51 Foto 16 - Canteiro para um tipo de uso

Fonte: Foto prรณpria.


52 Foto 17 - Canteiro sem uso

Fonte: Foto própria.

9.2

Diagnóstico socioeconômico A partir de dados retirados do Atlas de Desenvolvimento Humano do Brasil, do

PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento), em parceria com a Fundação João Pinheiro e IPEA, é possível agrupar setores sob aspectos sociais e econômicos da região, percebendo dois tipos diferentes de caracterização do território, cujos limites encontram-se na rua de análise, evidenciando as áreas de transição.

A primeira área identificada chama-se, Jurubatuba: Parque O Mundo da Xuxa.


53 Figura 8 – Jurubatuba: Parque O Mundo da Xuxa.

Fonte: Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). http://www.undp.org/content/brazil/pt/home.html. Data: 2015.


54 Gráfico 2 – IDHM.

Fonte: Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). http://www.undp.org/content/brazil/pt/home.html. Data: 2015.

O IDH presente na região é elevado, acima do considerado alto segundo a ONU, e chega a 0,88.


55 Gráfico 3 – Trabalho.

Fonte: Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). http://www.undp.org/content/brazil/pt/home.html. Data: 2015.


56 Gráfico 4 – Educação por Faixa Etária.

Fonte: Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). http://www.undp.org/content/brazil/pt/home.html. Data: 2015.


57 Tabela 1 – Renda, Pobreza e Desigualdade.

Fonte: Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). http://www.undp.org/content/brazil/pt/home.html. Data: 2015.


58 Gráfico 5 – Renda.

Fonte: Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). http://www.undp.org/content/brazil/pt/home.html. Data: 2015.

Analisando o gráfico 5, é possível perceber o grande aumento da renda per capita da região no período de 2000 a 2010. Entretanto índices como o da pobreza e da extrema pobreza continuaram aumentando. É possível perceber no índice Gini que a desigualdade durante esses anos não teve alterações relevantes.

A segunda área identificada chama-se Estação Jurubatuba.


59 Figura 9 – Estação Jurubatuba.

Fonte: Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). http://www.undp.org/content/brazil/pt/home.html. Data: 2015.


60 Gráfico 6 – IDHM.

Fonte: Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). http://www.undp.org/content/brazil/pt/home.html. Data: 2015.

Neste caso, o IDH está um pouco abaixo do ideal, em 0,78 e, por isso, é possível assegurar diferentes tipologias marcando uma possível transição.


61 Gráfico 7 – Educação por Faixa Etária.

Fonte: Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). http://www.undp.org/content/brazil/pt/home.html. Data: 2015.


62 Gráfico 8 - Trabalho

Fonte: Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). http://www.undp.org/content/brazil/pt/home.html. Data: 2015.

Ao analisar gráfico 8, observa-se que a renda cresceu entre os anos de 2000 a 2010 e as porcentagens dos índices de pobreza e de extrema pobreza caíram, o que acarretou a melhora do índice Gini, que evidencia a diminuição da desigualdade.


63 Tabela 2 – Renda, Pobreza e Desigualdade.

Fonte: Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). http://www.undp.org/content/brazil/pt/home.html. Data: 2015.


64 Gráfico 9 - Renda

Fonte: Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). http://www.undp.org/content/brazil/pt/home.html. Data: 2015.


65


66


67 9.3

Requalificação da área Buscando a requalificação urbana dos espaços residuais que se encontram ao

longo da via heterogênea estudada, foi possível identificar, ao analisar perfis socioeconômicos da região, duas caracterizações territoriais distintas que pedem atenção especial.

A principal característica foi escolhida pela sua representatividade no espaço, ocupando a maior parte da via, caracterizada como uma área residencial com pequenos comércios locais, densidade de morador por habitação entre 2,90 a 3,30 e um IDH elevado, acima dos 0,80, porcentagem considerada alta pela ONU. Entretanto, o aumento da renda nos últimos anos veio acompanhado também pelo aumento da pobreza, e a área apresenta altos índices de desigualdade e agentes distintos utilizando do mesmo espaço.

A segunda característica da rua é a região industrial em que permanecem alguns lotes de empresas como a Coca-Cola, e outros lotes de fábricas e serviços. Percebe-se um processo de transição da região: lotes de antigas indústrias estão sendo vendidos e mudando o tipo de ocupação, como de prédios habitacionais. Espaços de baixa densidade estão caminhando para um processo de urbanização parecido com o da primeira área caracterizada anteriormente.


68 Figura 10 – Proposições para qualificação.

Fonte: Retirada do site da prefeitura Gestão Urbana SP.

9.4

Política de Atividades Para construir um plano de atividades estruturado e chegar a um projeto que

atenda às necessidades do local, interligado ao novo Zoneamento e evitar traçar um desenho urbano superficial que passe por cima de valores, identificaram-se as problemáticas da região, descritas anteriormente, passando pela pesquisa do uso da ocupação do solo, que possui dois pontos particulares e distintos que se encontram na mesma via – a rua Sobrália. São esses pontos que dividem funcionalidades da rua, parte residencial, com pequeno comércio local, e parte industrial, que manteve apenas uma grande indústria, a Coca-Cola, e cujos novos tipos de ocupação não corresponde ao Zoneamento 2014 atual.


69 Pretende-se criar diretrizes para o planejamento urbano, como a revisão dos usos atribuídos ao local, o valor do coletivo e de território, visando tornar o plano mais consistente e estruturado. Outra diretriz diz respeito à reestruturação física dos espaços, levando em consideração que a comunidade que reside ou frequenta a rua busca manter certas características, como o pequeno comércio local que abastece a área (possível requalificação/modernização), melhoria da infraestrutura viária, melhor apropriação das áreas residuais, desenvolvimento de economia sustentável em que seja possível cultivar determinados tipos de alimentos (hortas comunitárias), criação de novos postos de comércio (feiras) e proteger e garantir a qualidade ambiental da via.

Foto 18 - The Better Block Foundation Dallas

Fonte: Project for Public Spaces

.


70 Foto 19 - Ocupação em parte (Porto Alegre - RS)

Fonte: Project for Public Spaces


71 Foto 20 - Praia em Campus Martins, Detroit, EUA

Fonte: Project for Public Spaces

9.5

Propostas de Diretrizes

Recuperação Urbana e Ambiental;

Qualificação da urbanização consolidada;

Redução da Vulnerabilidade urbana.

Pode-se concluir a partir da pesquisa elaborada que, para alcançar soluções bem-sucedidas para um projeto, é necessário desenvolver uma análise minuciosa da área em questão e, só depois de muita pesquisa sobre seu desenvolvimento, os tipos de indivíduos que se instalaram, suas dinâmicas sobre o espaço, será possível localizar as necessidades e problemáticas do local, e identificar os parâmetros necessários para a requalificação da Rua Sobrália, que reflete diversas outras


72 características comuns ao bairro do Campo Grande. Parâmetros propostos: Permeabilidade mínima; Calçadas; Iluminação; Sinalização; Ciclovia; Arborização; Economia sustentável; Acessibilidade.

9.6

Cortes das Propostas

Foram feitos cortes das propostas:


73


74

Os desenhos foram formatados para A4, portanto estĂŁo fora de escala.


75

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ASCHER, François. Os novos princípios do urbanismo, 2010. JACOBS, Jane. Morte e vida em grandes cidades americanas, 1961. BAUMAN, Zygmunt. Modernidade liquida, 2001. SANTIAGO, Paola Caiuby. HEEMANN, Jeniffer. Guia do espaço público. GRAHAM, Stephen. O novo contexto urbanístico, 1995. DA SILVA, José Afonso. Direito Urbanístico Brasileiro.


76 REFERÊNCIAS DIGITAIS

Portal da Prefeitura da Cidade de São Paulo:

http://www.capital.sp.gov.br/portal/.

Secretaria

de

Desenvolvimento:

http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/desenvolvimento_urbano/legislaca o/planos_regionais/index.php?p=1891.

http://gestaourbana.prefeitura.sp.gov.br/rede-de-equipamentos/territoriosceu/projeto/ VITRUVIOS: http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/06.072/353. http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/resenhasonline/11.123/4244. CIA CITY: http://ciacity.com.br/. Lei Nº6.766: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L6766.htm. GEOSampa: http://geosampa.prefeitura.sp.gov.br/PaginasPublicas/_SBC.aspx. http://www.capital.sp.gov.br/portal/. http://vivapacaembu.com.br/detNot.asp?id=60&moda=014&contexto=03&area=&eve nto=. http://urbanidades.arq.br/2010/02/seguranca-nas-cidades-jane-jacobs-e-os-olhos-darua/.

TESES/DOUTORADOS: FAU/USP: http://www.fau.usp.br/index2.html.


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