Feiras livres: Quando o cotidiano desenha a cidade

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Feiras Livres quando o cotidiano desenha a cidade


CENTRO UNIVERSITÁRIO SENAC BACHARELADO EM ARQUITETURA E URBANISMO

JÉSSICA SANTANA DE OLIVEIRA

FEIRA LIVRE quando o cotidiano desenha a cidade.

Trabalho Final de Graduação, apresentado ao curso de Bacharelado em Arquitetura e Urbanismo no Centro Universitário Senac sob orientação da Prof.ª. Drª. Myrna de Arruda Nascimento.

SÃO PAULO 2016


Um tema inesperado, mal sabia que existia tanto da feira em mim. Nada disso seria possível sem os esforços dos meus pais, Manuel e Lucineide, tão amados. Agradeço também a minha irmã Joyce, sempre presente apesar da distância, meus queridos amigos Gabriella e Luis, base e apoio em todos os momentos difíceis da nossa graduação, aos amigos que conquistei na faculdade e as irmãs escolhidas para a vida, companheiras até nas madrugadas de trabalho, Giulia, Geovana e Thais. Em especial, sou muito grata por ter a orientação de uma professora exemplar e tão paciente com as minhas indecisões, obrigada Myrna, sei que te dei trabalho. Por fim, dedico este resultado a todos citados anteriormente e principalmente ao meu avô, Seu Vino, que hoje monta sua barraca de feira lá no céu.


RESUMO O cotidiano acostuma o olhar; o hábito evita perceber a cidade. Em um mundo onde ações mecanizadas estão tomando o lugar dos pequenos prazeres da vida, este Trabalho de Conclusão de Curso discute a transformação do olhar habituado procurando mostrar possibilidades de novas visões que modificam a cidade. Como tradição milenar, a feira livre é um dos melhores exemplos de um evento que habita o cotidiano, com trocas sociais que a transformam em uma oportunidade de fugir desta automatização. Acompanhamos, nos últimos anos, o surgimento das feiras orgânicas, que trazem para a cidade novas formas de enxergar o consumo de alimentos saudáveis por meio de praticas ecológicas no cultivo e plantação dos alimentos. Esta nova ideologia pede espaço na cidade. O tema deste trabalho é apresentar possibilidades de sistematizar a implantação destas feiras, utilizando o bambu, sua sustentabilidade e flexibilidade como parâmetros para a identidade das feiras orgânicas em São Paulo. Palavras-chave: Feiras livres, feiras orgânicas, cidade, bambu.

ABSTRACT The daily routine accustom the vision; the habit avoids the perception og the city. In a world where mechanical actions are taking the place of little pleasures in life, this final work discuss thetransformation of habituated view by showing the possibility of new visions that modify the city. As a millenary tradition, the free fair is onde of the best examples of na event that exists in the daily routine, with social interchange, is na opportunity of escaping this automation. We followed, in the lasst years, the apparition of organic free fairs, that brings to the city. New aways to see the healthly foods consumption though ecological practices in teh cultivation and planting of food. This new ideology asks for sapace in the city, the theme of this work is to presente possibilities to systematize the implemetation of these fairs, using the bamboo, its sustainability and flaexibility as parameters for the identity of organic fairs in São Paulo. Key - words: Free fair, organic fair, city, bamboo.

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Fig 1 Foto barraca de verduras e legumes da feira livre na Alameda Jauaperi, no bairro Moema em São Paulo, registrada em 2016, autoral.

Feira é festa, é alegria é trabalho e dedicação todo dia. Explosão de cores aos olhos, é fantástica é fantasia. Do sorriso entre as conversas até o preparo na cozinha, vida longa as feiras, vida longa a toda sua magia! 5


SUMÁRIO RESUMO INTRODUÇÃO 1. RAÍZES 2.1 A experiência acadêmica como origem do trabalho 2.2 A raiz que gera o fruto: surgimento das feiras na história das cidades 2.3 São Paulo, 102 anos de feiras livres

2. OLHAR, PERMANECER, UTILIZAR 3. DIREFENTES OLHARES

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3.1 O olhar do ex- feirante - conversa com Júlio - Dias de Feiras 3.2 O olhar do pesquisador - conversa com Prof. Antônio Hélio Junqueira

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3.3 O olhar pessoal - histórias de Seu Vino e sua venda 3.4 O olhar do feirante agricultor

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livro 100 anos de feiras livres na cidade de São Paulo

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4. FRUTOS 4.1 Feira livre Jauaperi - Moema, Zona Sul de São Paulo 4.2 Feira livre Sta. Cecília - Centro de São Paulo 4.3 Feira livre Sumarezinho - Zona Oeste de São Paulo

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5. FRUTOS ORGÂNICOS 5.1 Fruto do bem x Fruto do mal 5.2 Feira orgânica do Parque da Água Branca – Zona Oeste de São Paulo 5.3 Feira orgânica no Modelódromo do Ibirapuera - Zona Sul de São Paulo 5.4 Feira orgânica no Largo da Batata- Zona Oeste de São Paulo

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6. A MATÉRIA DA TERRA 6.1 O bambu e suas propriedades 6.2 Encaixes, cortes e amarrações 7. DA MATÉRIA NASCE O NOVO - A COLHEITA 8. CONSIDERAÇÕES FINAIS 9. LISTA DE IMAGENS 10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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1. INTRODUÇÃO Em toda feira livre as trocas ultrapassam os limites de compra e venda de produtos e alimentos, são repletas de conversas, histórias e energia contagiante. Desde a Idade Média a feira livre é um evento cotidiano na qual mantêm a sua configuração milenar perdurando até os dias atuais. Toda semana as cores, os sons, os carrinhos cheios e as sacolas invadem as ruas juntamente com os personagens que vendem com alegria os seus produtos. Doam sua atenção aos clientes (muitas vezes velhos conhecidos), sempre acreditando no trabalho diário, persistindo com o sorriso maior do que o cansaço do corpo. Uma feira é identificada facilmente, a sua essência, tão conhecida, não se modificou com o decorrer dos anos. Porém a necessidade de adaptar-se as transformações no consumo e estilo de vida da população levam a novos segmentos deste evento. Como exemplo, recentemente surgem no cenário feiras conhecidas como orgânicas e agroecológicas. Estas feiras refletem a inovação da produção dos alimentos e principalmente as preocupações atuais em relação a degradação do meio ambiente, emissão dos gases poluentes na atmosfera (aquecimento global), saúde humana, animal, boa forma física e bem estar. Aliados à busca de meios contrários aos métodos e mecanismos da agroindústria, como a utilização de agrotóxicos e outros elementos químicos, transformam-se em importantes veículos para o acesso a alimentos naturais, conhecimento sobres as frentes de produções orgânicas/ agroecológicas e aproximação do tema para a população. Ter este conhecimento sobre o mundo dos orgânicos e compreender a sua relevância para o campo são quesitos imprescindíveis. Estreitar as relações com a cidade, do agricultor, que tem todos os cuidados com a plantação e colheita de um alimento saudável ao cliente que busca novos meios de consumo consciente. A compreensão da importância das feiras orgânicas e agroecológicas levam a necessidade de expansão da informação destes eventos para todos os limites da cidade, atingindo todas as camadas sociais.

Sendo assim, o foco do trabalho de conclusão de curso é por intermédio da arquitetura e dos estudos relacionados a este evento efêmero na cidade, alcançar uma nova identidade para as feiras orgânicas e agroecológicas, mantendo as suas raízes na feira livre, mas elevando o seu papel fundamental social e características sustentáveis. A forma encontrada para representar esta intenção veio com a criação de uma cobertura montável e desmontável, acompanhada de um expositor que substitui a barraca de feira. Ambos compostos por um material natural e sustentável: o bambu. 8


Utilizado há muitos anos em pequenas construções, porém ainda pouco trabalhado em grandes estruturas, o bambu é uma enorme gramínea que vem ganhando destaque nas áreas de arquitetura e engenharia. Principalmente após avanços nos estudos sobre suas propriedades físicas e novos meios de tratamento para prolongar o tempo de vida útil. Os encaixes e amarrações possíveis com o bambu, transformam este material em estrutura de grandes construções como casas, pontes, escolas entre outras. Aqui ele é a principal fonte de identidade para as feiras orgânicas, na tentativa de expandir toda a importância que estes eventos trazem para a vida das cidades. Aumentar a visibilidade do agricultor/feirante e de seu trabalho rural e urbano, sem a necessidade de competir com as feiras livres de rua. O trabalho então é dividido em sete capítulos. O primeiro, Raízes, dividido em três subcapítulos, inicia com um relato sobre a experiência realizada na feira da Liberdade, no centro de São Paulo, durante a graduação. A inquietação com a utilização dos espaços públicos, já questionados anteriormente, retomam neste momento e a feira livre, evento que se apropria temporariamente de espaços e da cidade, .transforma-se no objeto de estudos desta pesquisa. Os subcapítulos seguintes vão tratar da história das feiras livres no mundo e na cidade de São Paulo. No segundo capítulo voltamos o olhar para o cotidiano e toda transformação que pequenas intervenções causam no cenário urbano habitual. Discutimos e direcionamos a reflexão para a cidade e para a representação e simbologia da feira livre, sua relevância social e espacial nos dias atuais. Seguindo, apresentamos diversas visões sobre a feira livre, entrevistas e depoimentos coletados em conversas com o ex feirante Júlio Bernardo, o engenheiro agrônomo e professor Hélio Junqueira, uma história pessoal e a visão dos feirantes agricultores, tão relevantes para as decisões finais de projeto. O terceiro capítulo incorpora vivências realizadas nas visitas as feiras livres selecionadas na cidade de São Paulo: Feira Livre de Moema, da Santa Cecília e do Sumarezinho. Acompanhar a montagem da feira, conversar com os feirantes, entender as relações sociais e a importância deste evento nos dias atuais, caracterizando cada local de forma diferente, foram pontos relevantes no contexto do trabalho. As feiras orgânicas e agroecológicas são tema dos capítulos quatro e cinco. O mundo dos produtos naturais e a forma de produção que respeita a sustentabilidade chamam a atenção para um novo segmento de feiras ainda pouco explorado e tímido perto de outros eventos na cidade. Nestes capítulos são ressaltados os valores que motivaram a decisão de tornar as feiras orgânicas e agroecológicas o foco final da pesquisa. 9


Os últimos capítulos (cinco e seis) tratam do material escolhido como fonte de identificação das feiras orgânicas e agroecológicas, o bambu, apresentando as suas potencialidades e os motivos escolhidos para transforma-lo na estrutura da cobertura e novo mobiliário dessas feiras. Em seguida, são aprontadas as questões técnicas de projeto. Implantações dos locais escolhidos, materiais necessários para a montagem e desmontagem da cobertura e do expositor criados especialmente para as feiras orgânicas e inspirados nas raízes das feiras livres. A intenção deste trabalho é de forma simbólica elevar a importâncias de eventos efêmeros na cidade, da movimentação e vida necessários no dia a dia, fugindo temporariamente dessa automatização gerada pela tecnologia avançada que nos cerca.

Que as feiras livres estejam presentes por outros tantos anos e que a alimentação saudável, plantação, colheita e o respeito do agricultor com a natureza agregados a nova identidade das feiras orgânicas e agroecológica sejam incentivos suficientes para a expansão desses eventos em todas as partes da cidade, levando a informação, alimento fresco e alegria a todos.

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CAPÍTULO 1

RAIZES A feira livre é um evento milenar que sofre pequenas alterações ao longo dos anos. Atrelada principalmente à necessidade de abastecimento populacional é também espaço de finanças e de todos os tipos de acertos sociais na Idade Média. Fonte de renda de diversas famílias, hoje divide espaço com a reunião e organização de outros tipos de fornecedores, como mercados e hortifrútis, implantados e construídos nas cidades, mas se mantêm firme, adaptando-se às modificações do cotidiano e das próprias metrópoles.

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1.1 A experiĂŞncia acadĂŞmica como origem do trabalho

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FIG 2. Uso do muro como apoio para refeição em contraste com a necessidade do mobiliário projetado para essa finalidade. (Foto Matheus Leitzke, 2013).

O interesse em tratar sobre feiras livres nasceu da experiência na matéria Desenho do Objeto: Mobiliário, realizada no terceiro semestre do curso de arquitetura e urbanismo no Centro Universitário Senac, sob orientação do Prof. Gabriel Pedrosa. Grupos com quatro integrantes, Gabriella Neri, Jéssica Oliveira, Luís Garcia e Matheus Leitzke, tinham como proposta de exercício a criação de um mobiliário urbano com o intuito de auxiliar determinado espaço da cidade, transformando - o, modificando o olhar habituado e permitindo a interação pública.

Após estudos em vários locais da cidade, o escolhido para intervenção foi a feira da Liberdade, localizada no centro da capital paulista. Conhecida por representar imigrantes japoneses que se instalaram no bairro, caracterizando- o tradicionalmente com a cultura oriental. A feira acontece aos finais de semana e contempla barracas de acessórios, artesanato, roupas e principalmente comidas típicas japonesas. 13


FIG 3. Mapa com a localização da feira na cidade de São Paulo. Disponível https://www.google.com.br/maps/place/Feira+da+Liberdade/@-23.5551288,46.6376911,17z/data=!3m1!4b1!4m5!3m4!1s0x94ce59a92408af4b:0x4d066614014259ad!8m2!3d23.5551337!4d-46.6355024)

em:

O fácil acesso ao metrô Liberdade e a simbologia do espaço voltada para o ambiente oriental, atraem grande número de visitantes que aproveitam o lazer, comércio, cultura e alimentações oferecidos na feira. É neste último item o embasamento do projeto de intervenção do espaço proposto naquela ocasião. Como dito anteriormente, a feira contém uma variedade de barracas com diversas refeições típicas dos atrativos locais. Porém, o espaço onde se concentram essas barracas é reduzido e não comportam a demanda de pessoas em busca de um apoio ou descanso.

Por este motivo os muros e escadas do metrô são utilizados para apoiar os pratos e sentar. Além disso, o alto índice de idosos visitantes à feira contribuiu com a ideia do mobiliário proposto na disciplina, pois não possuíam um espaço para descanso (Fig. 2). Usando os muros do metrô como apoio, o objeto desenvolvido pelo grupo tinha estrutura em aço e dois bancos separados por uma mesa central, de madeira, a sustentação da estrutura era garantida por encaixes adaptados ao muro, como mostram as Fig. 4 ,5 e 6.

O conceito do trabalho (que nomeamos de “Liberdade”) era transformar uma parte da praça em área de estar, com diversas mesas e bancos, com coberturas protetoras das diferentes condições climáticas, e, simultaneamente atender a demanda dos visitantes da feira. Voltar a atenção à 14 necessidade desse espaço foi a principal intenção do trabalho.


FIG 4. Desenho 3D do modelo projetado, apoiado no muro. (Render desenvolvido para o trabalho em grupo 2013, Gabriella Neri, Jéssica Oliveira, Luís Garcia e Matheus Leitzke)

FIG 5. Simulação em 3D do mobiliário projetado em toda a extensão do muro. (Render desenvolvido para o trabalho em grupo 2013, Gabriella Neri, Jéssica Oliveira, Luís Garcia e Matheus Leitzke)

Após a execução do protótipo, o equipamento foi instalado no local estudado, provocando discussões entre usuários e comerciantes sobre a conveniência deste tipo de mobiliário na feira. Argumentando os benefícios de um espaço para os clientes, feirantes, visitantes, e as possibilidades de uma movimentação dos trabalhadores para dar continuidade no projeto e ter sua instalação permanente. Infelizmente não foi possível levar o trabalho a esse nível de crítica e desenvolvimento, mas a experiência nos levou ao entendimento das relações entre o uso do espaço e o público que utiliza a feira. Gerando assim descobertas das quais pequenas mudanças proporcionam grandes impactos, quando inseridas em um contexto social.

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FIG 6. Casal utilizando o protótipo do mobiliário projetado e instalado na feira. (Foto Matheus Leitzke, 2013)

Esse ensaio ansiava pela continuidade do projeto Liberdade, transformando-o em pesquisa para o trabalho de conclusão final que aqui apresentamos, porém após algumas reflexões, a ideia matriz desta pesquisa se transformou e foi além do objeto e do espaço antes estudados. Nossa atenção agora volta-se às feiras em geral, estudando novas propostas de intervenção e discutindo a sua permanência na cidade. Afinal este cenário é originário de um mundo antigo e muito conhecido, que necessita ser explorado e adaptado no contexto contemporâneo.

Assim, a pesquisa: “FEIRAS LIVRES: quando o cotidiano desenha a cidade” foi construída com base em alguns levantamentos, interpretações e análise que apresentamos a seguir.

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1.2 A raiz que gera o fruto: surgimento das feiras na histรณria das cidades

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Segundo o Dicionário Etimológico Nova Fronteira da Língua Portuguesa (CUNHA, 1999), a palavra feira vem do latim féria que significa dia de festa, dia de repouso, dia de feriado. Na Idade Média esses eventos aconteciam principalmente em datas festivas, organizadas muitas vezes pela Igreja e, por atraírem maior número de pessoas, se tornaram principal ponto para os comerciantes da época venderem suas mercadorias. As trocas e o comércio surgem muito antes da Idade Média no mundo ocidental. Os primeiros documentos que mostram a existência humana, quando o homem se locomove encontrando outros da sua espécie, já registravam trocas e funcionavam como permutações de quaisquer objetos que despertassem o interesse. Quando o sedentarismo e a formação de “tribos” se configuram, a troca transforma-se no primórdio do comércio; os objetos são expostos e permutados por outros, dependendo da necessidade do grupo. Segundo Gordon Childe (O que aconteceu na história, Rio de Janeiro: Zahar, 1966), desde o paleolítico superior há indícios de troca de produtos, o que representa, em certa medida, uma forma de comércio, normalmente de artigos de luxo como conchas. A existência desse intercambio de objetos demostra que os grupos, então existentes, não se encontravam tão isolados e que a troca de ideias também acontecia. (VARGAS, 2001)

As primeiras feiras, com configuração semelhante a que conhecemos hoje, aconteceram anos depois, com a queda do sistema feudal entre os séculos X e XI na Europa. A cidade medieval deu origem a algumas imagens urbanas que, submetendo-se a várias transformações, permanecem até os dias de hoje. A cidade medieval foi um exercício de ousadia e inteligência de uma população rural que, capacitando-se profissionalmente, se associava para encontrar um novo modo de ganhar a vida. A vida nova, livre de tutela dos senhores feudais, a liberdade para produzir e superar as suas dificuldades e, sobretudo, uma nova relação social: a ajuda mútua. Para isso havia apenas uma lei: a competência no ofício e a associação com seus iguais: a guilda dos ofícios e seus artífices. (FERRARA 1999, pág.201)

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FIG. 7 - Cena no Mercado, 1550 - Pieter Aersten

A aglomeração de pessoas nos burgos força alterações no abastecimento e na produção de gêneros, modificando as formas de comércio. Essa nova vida estava diretamente ligada a formação de feiras e mercados levando à população produtos que poderiam ser comercializados diretamente com produtores e artesãos. O valor das mercadorias também podia ser negociado, facilitando a compra. As feiras eram detalhadamente planejadas, organizadas e executadas. Embora nelas fossem transacionados toda sorte de gêneros, havia dias específicos para o comércio de determinadas mercadorias: fazendas, couros, peles. Esses equipamentos comercias experimentariam o seu apogeu na Europa medieval, entre os séculos XII e XIII. (JUNQUEIRA 2015, pág. 22)

Além da compra e venda de alimentos, nas feiras aconteciam todo tipo de troca comercial, de moedas e de acertos de contas. Com o passar dos anos, a realização desse evento se transformou em um acontecimento social, onde as notícias e todo tipo de informação corriam com rapidez, bem como as práticas políticas de grupos que uniam-se para quaisquer reivindicações.

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FIG. 8 - Movimentação da feira, encontro e relação dos clientes. Foto autoral, 2016. Ao longo do tempo e da História, as feiras conservaram, recriaram e reafirmaram ciclicamente seus caracteres e atributos originais, mantendo uma identidade milenar, reconhecível nas mais diferentes partes e culturas do mundo onde se instalaram. São mercados vivos, dinâmicos, móveis, alegres, insubordinados. Montam-se e desmontam-se. Alimentam e reproduzem a vida, as informações e os vínculos sócio afetivos entre as pessoas e as mercadorias, entre o urbano e o rural. Põem em movimento símbolos, valores e sentidos que tornam habitável e humana a mais fria, impessoal e cosmopolita das metrópoles contemporâneas. (JUNQUEIRA 2015, pág. 27)

Essas características convertem a feira livre em um evento efêmero, que transita pelas cidades há milénios, transformando- as em grandes palcos de um movimento com enriquecida identidade e importância na distribuição de alimentos para a população de todo o mundo, a seguir veremos como as feiras se instalaram na cidade de São Paulo. 20


1.3 SĂŁo Paulo, 102 anos de feiras livres

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FIG. 9 - Barraca de ovos, montagem da feira do bairro Moema – São Paulo. Foto autoral, 2016.

A São Paulo do séc. XVI, colonizada pelos portugueses era composta de pequenos povoados que mantinham sua alimentação com subprodutos da raiz da mandioca, algumas frutas, trigo, milho e algodão, plantados aos modos simples dos indígenas. As moedas nessa época não eram circuladas, assim a troca de mercadorias era a melhor forma de obter outros produtos necessários. O escambo, ou seja, o pagamento de mercadorias em outras espécies de gêneros, era prática comercial generalizada na São Paulo colonial. Ela era não apenas tolerada, mas também incentivada e apoiada pelas autoridades públicas, pois que, em realidade não havia como fazer de outra maneira, haja vista a “absoluta falta de numerário”. A ausência de moedas em circulação permanecerá presente no cotidiano da população paulista até o final do século XVI. (JUNQUEIRA 2015. pág.42)

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FIG. 10 - Negras Quitandeiras - Marc Ferrez - 1895.

Pequenos mercados eram membros da colônia e serviam principalmente aos mascates, viajantes que subiam da região de Santos. Além desses, o comércio ambulante sempre esteve presente. Em meados do século XIX, São Paulo contava com a disseminação de ambulantes conhecidas como “quitandeiras”, escravas negras de aluguel que comercializavam alimentos e produtos para seus senhores, ganhando apenas uma singela quantia pelo trabalho. As negras quitandeiras circulavam pelos pontos de aglomeração de pessoas na cidade, especialmente pela rua do Comércio e nos largos da Misericórdia e de São Bento, concentrando-se também de baixo das pontes, como a do Carmo e do Acu. A municipalidade, apesar de suas incontáveis tentativas, encontrava grande dificuldade em fazer com que essas comerciantes ambulantes adotassem barracas fixas. (JUNQUEIRA 2015, pág.66

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A tentativa de definir lugares para o comércio de mercadorias vai se afirmando ao longo do tempo em várias construções de mercados e quitandas em partes do centro paulista. Segundo JUNQUEIRA (2015, pág.50) os primeiros sinais da feira livre poderiam ser percebidos na cidade de São Paulo em 1687, pois são identificadas iniciativas para oficializar o comércio de “gêneros da terra, hortaliças e peixes. Mais tarde, em 1749, era possível detectar também a existência de certas modalidades de feiras localizadas fora do perímetro da cidade, nos locais de pouso de tropas. Somente em 1914 as feiras livres da cidade de São Paulo passam a ser regulamentadas por meio do ato nº 710, de 25 de agosto de 1914, do prefeito em exercício Washington Luís Pereira de Souza. Essa solução chega à cidade como uma vertente para minimizar os custos dos alimentos vendidos, assim as feiras livres nessa época eram denominadas “mercados francos”, pois os produtos comercializados nesses locais não eram sujeitos a impostos. A primeira feira regulamentada, a nível de experiência aconteceu no Largo General Osório no centro paulistano, recebia 26 feirantes e já era considerada tradicional antes mesmo da sua oficialização.

Cinquenta anos após o ato, a Secretaria de Abastecimento da Prefeitura Municipal de São Paulo, anuncia o Decreto nº 5.841 (15 de abril de 1964), visando a organização das feiras livres na cidade, em resposta aos ataques da elite em relação a realização do evento na capital. Esse decreto é o primeiro a esquematizar a implantação das feiras livres, limitando sua instalação próxima a escolas, hospitais e igrejas, impedindo também a realização de duas feiras em distâncias mínima de 1.500 metros. Além disso, organizava os números máximo e mínimos de feirantes e as barracas devem localizar-se de acordo com o produto a ser vendido, como atualmente. Considerado o decreto mais completo a ser editado pelo poder público, ao longo dos anos, passará somente por atualizações e complementos.

Mesmo com os constantes e incansáveis ataques da mídia e da elite paulistana ao longo dos anos obrigando a sua extinção; e posteriormente a construção de outros equipamentos que disputavam e ganhavam fortemente o espaço na cidade, a feira se mantem, colorida e agitava, pronta para completar mais alguns séculos. Não será tão cedo que tomarão o seu lugar.

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FIG. 11 - Feira do Largo do Arouche, uma das mais importantes da cidade, dĂŠcada de 1950. (DisponĂ­vel em: https://www.facebook.com/100anos/photos/pb.642030575938245.2207520000.1465332686./683415011799801/?type=3&theater) 25


CAPÍTULO 2

OLHAR PERMANECR UTILIZAR A rotina diária, a conexão e os avanços da tecnologia informam sobre qualquer assunto em questões de segundos, mas distanciam o homem da vivência na cidade, cegando-o em relação as paisagens que ela contempla. Essa automatização gerada pela tela dos computadores, celulares e falta de tempo, levam a insegurança em ambientes desconhecidos pelo olhar, principalmente ligados a apropriação da rua. Eventos como a feira, importante para a sociedade, é um exemplo de acontecimento cotidiano que deixou de ser visto por muitos olhares ao longo dos anos. A intenção desse trabalho é atrair esse olhar novamente para as feiras.

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A rotina relacionada ao trabalho e as atividades diárias automatizam o homem que se acostuma com trajetos e trechos que o levam para os mesmos lugares. Os caminhos conhecidos parecem distanciar a insegurança e acostumam o olhar. Entramos no carro e com ele no prédio, no shopping, mercado ou na garagem de casa. Depois da criação do automóvel, o andar pela rua se transformou em uma atividade rara, modificando a relação do homem com o espaço. Esse distanciamento ocasiona uma série de transformações na cidade, que configurando-se de acordo com a falta de utilidade das ruas e dos espaços públicos. Assim os edifícios viram condomínios fechados, rodeados de grandes muros que ignoram o que é externo. A cidade ideal, passa a acontecer dentro deles, em uma simulação da sensação de segurança a qual não encontra- se nas ruas. Acompanhando de perto essas modificações, a feira livre permanece com a sua realização no espaço público, mesmo sob fortes ameaças da sociedade moderna, opositora a existência do evento, considerado sujo, barulhento e desagradável. Mesmo com alguns defeitos, a feira é um movimento que leva vida para as ruas, bairros e cidades em uma explosão de cores e sons. Se o olhar acostumado a ignorá-la for desafiado a enxergar a feira diferenciadamente, poderá melhorar a sua relação com o espaço, criando uma relação antes inexistente É esse passo que este trabalho procura dar, aproximar o olhar para um evento cotidiano ignorado há muitos anos por parte da sociedade. Atrair as pessoas para as possibilidades que a utilização dos espaços públicos podem configurar na cidade como um todo, gerando benefícios relacionados à segurança e vivência nas ruas.

A permanência na cidade e a transformação do olhar podem gerar uma identidade com o espaço, fortalecido pela memória, enraizando cada vez mais a realização das feiras livres.

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CAPÍTULO 3

DIFERENTES OLHARES Como visto, a feira é um espaço sócio cultural da rua e se mantêm ao longo dos anos como local para venda de produtos frescos, abastecimento e compartilhamento de histórias que aproximam a relação do consumidor com o feirante e muitas vezes atravessam gerações. Assim, é de extrema importância relatar a experiência de pessoas que conhecem esse mundo, de formas diferentes. Do olhar de um filho de feirantes que trabalhou por 20 anos nas feiras, passando pela compreensão de um pesquisador formado em Engenharia Agronômica pela Escola Superior de Agricultura da Universidade de São Paulo, um relato de família e nova visão dos agricultores que vendem diretamente seus alimentos orgânicos nas feiras, todas as conversas a seguir mostram a relevância desse evento milenar para os dias atuais, considerando transformações observadas na tentativa de acompanhar a modernização da vida e do cotidiano, aumentando essa relação do feirante com sua freguesia. As conversas foram feitas de maneira informal, os textos passaram por revisão e todos os autores citados estão cientes.

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3.1 O olhar do ex- feirante conversa com JĂşlio Bernardo - autor do livro Dias de Feiras

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FIG.12. Caminhão estacionado para montagem da feira. Disponível em: http://www.hypeness.com.br/2015/07/fomos-acompanhar-a-montagem-de-uma-feira-livre-de-rua-naregiao-central-de-sao-paulo/

Um dos primeiros contatos com o mundo das feiras veio através do livro DIAS DE FEIRA, que traz uma visão saudosa e particular do ex-feirante (atualmente temido crítico de gastronomia) Júlio Bernardo, ou simplesmente JB, em um apanhado de histórias vivenciadas em seus 20 anos de experiência nas feiras livres de São Paulo.

A leitura do livro transporta para o mundo de quem passam boa parte da vida entre legumes, frutas, carnes, ovos, peixes, pingas ou drogas utilizadas para combater o cansaço das inúmeras horas de trabalho. Afinal, para o alimento chegar até o cliente, o processo é longo e começa na madrugada, enquanto muitos ainda estão dormindo. Enquanto alguns poucos trabalhadores chegam em casa e os playboys saem perfumadinhos para a balada, discretos fruteiros estacionam com seus enormes caminhões naquele ponto da rua que se tornará o epicentro nervoso do meio da feira e descarregam caixas de frutas, barracas de madeira e lonas, quase que silenciosamente, para não perturbar o sono daqueles que trabalham em horários dito mais comercial. Até porque não se deve brigar com a freguesia, especialmente se ela for composta na maioria de vizinhos. (BERNARDO, 2014 pág.15)

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FIG.13 - Exposição dos peixes feita sobre camadas de gelo para conservar o alimento. Disponível em: http://www.hypeness.com.br/2015/07/fomos-acompanhar-a-montagem-de-uma-feira-livre-de-rua-naregiao-central-de-sao-paulo/

A descrição sobre a montagem das barracas, o processo de venda, a xepa e desmontagem, os truques e malandragens dos ex presidiários em busca da reintegração social, as histórias de famílias inteiras que se dedicam há anos no ramo e também das brigas, resolvidas dentro do ambiente sem envolvimento policial externo, transformam essas pessoas em personagens de um mundo convertido no evento cotidiano, passageiro na cidade, modificando-a por algumas horas. Cores, sons e cheiros trazem fortes lembranças àqueles que se encontram nessas histórias. A vontade de aproximar a opinião desses personagens com a de quem frequenta as feias livres é um dos objetivos do trabalho. Dar voz aos trabalhadores e suas famílias que sobrevivem das vendas deste comércio de rua e da sua realização na cidade. Da conversa com o autor, fica claro que na sua opinião a feira ainda sobreviverá por muitos anos, mesmo obrigada a dividir espaços com mercados, hortifrútis, e pequenas vendas. Não há competição. O que se encontra na feira, produto fresco, com a opção de negociar o valor e toda a memória que gera as relações sociais, certamente não pode ser encontrado em outros locais. Questões como a limpeza e higiene dos produtos e da feira são pontos levantados por JB como problemas que pedem soluções que fortaleçam o evento, a necessidade de instruir os trabalhadores em relação a conservação da mercadoria, principalmente se tratando das carnes e pescados, o suporte público em relação as essas instruções, são mudanças necessárias para a permanência das feiras na cidade.

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FIG.14 - Final da feira livre no bairro de Moema, zona sul de São Paulo. Foto autoral, 2016.

A carga e descarga dos produtos, montagem e desmontagem das barracas são processos que poderiam ser facilitados na opinião de JB.

A leitura do livro e a conversa com o autor, aproximaram minha observação da vida além das barracas, do cotidiano do feirante ou ajudante, das senhoras boleiras vendendo o café no começo do expediente aos donos dos botecos que recebem seus clientes preferidos ao final do dia. Entre facas e sorrisos, essas pessoas encontram nesse espaço a oportunidade de mostrar o seu talento, a dedicação a venda de sua mercadoria, o lucro gerado do esforço e do trabalho. Desse mundo poucos sabem e conhecem, mas muitos não viveriam sem ele. Como o próprio Júlio termina seu livro, vida longa as feiras!

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3.2

O olhar do pesquisador conversa com Prof. Antônio Hélio Junqueira - livro 100 anos de feiras livres na cidade de São Paulo.

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FIG.15 - Feira livre no bairro Santa Cecilia, vista de cima do Elevado Costa e Silva. – São Paulo. Foto autoral, 2016.

Antônio Hélio Junqueira é Doutor em Ciência da Comunicação e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo e mestre em Comunicação e Práticas do consumo pela Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM). Engenheiro agrônomo, é especialista em abastecimento alimentar urbano e trabalha com consultoria e treinamento na empresa Hortica. Com grande conhecimento sobre o universo das feiras, Hélio é um verdadeiro amante do evento, tema do seu livro lançado este ano na capital paulista. São 307 páginas que contam a história das feiras livres na Idade Média e na cidade de São Paulo, desde o seu descobrimento pelos portugueses, criação dos mercados municipais e a divisão dos espaços com estas construções, da vida do feirante e suas visões, até a relevante necessidade desse tipo de comércio nas ruas.

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A leitura do livro foi base para o contexto histórico apresentado no trabalho, fontes que tratassem desse tema especificando a sua relação com as cidades são restritas e dificilmente encontradas. Hélio levou meses unindo informações dos livros e pesquisas realizadas para constatar um contexto certificado em relatos históricos reais. Na sua opinião, nas feiras livres acontecem relações que não se reproduzem em outros ambientes. A aproximação dos fregueses com os feirantes é importante socialmente, o que torna esse evento insubstituível. Outro fator diferencial da feira é o preço. Os mercados e hortifrútis dificilmente conseguem competir com a “hora da xepa”, valiosa para pessoas que mesmo com orçamentos reduzidos, conseguem garantir os alimentos da semana, o custo benefício nesse caso, é evidente. A conversa com o professor foi empolgante, ouvir e compartilhar informações tão relevantes para todo o processo de pesquisa e realização do trabalho de conclusão de curso trouxe grande apoio para a decisão final de projeto, mesmo que este trabalhe a identidade das feiras orgânicas.

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3.3 O olhar pessoal - histรณrias de Seu Vino e sua venda.

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FIG.16 – Seu Vino e seu filho Manuel, na feira do Recife. Desenho autoral, 2016. 37


Cidade do Recife, entre os anos 70 e 80, feira livre do bairro Cordeiro. Era lá que o Senhor José Custódio, mais conhecido como Seu Vino montava sua barraca, todas as sextas, sábados e domingos. Vendia algumas frutas compradas em uma cidade interiorana, adquiridas também para comercializar semanalmente na sua vendinha no pequeno município de Bizarra, 160km de distância da capital. A viagem do município até Recife era longa, mas necessária para acrescentar renda ao mês, garantindo as refeições do dia, afinal, criar 4 filhos não era tarefa fácil. Para viajar, Seu Vino contava com a ajuda de Dona Nevinha, sua esposa, que mantinha a ordem na casa, cuidando dos filhos enquanto o pai saia todos os dias para trabalhar. Costurar alguns panos e tecidos era a forma que a humilde e forte senhora encontrava para ajudar nas finanças. O filho mais velho, Manuel, com 14 anos na época, ficava feliz quando o pai o convocava para reforçar a ajuda nos dias de feira. O trabalho para o jovem era mais divertido do que cansativo, a energia do ambiente cheio de pessoas de todos os tipos, cores e sons contagiava e motivava nas vendas.

Após anos de feira, Seu Vino cansado com a locomoção da pequena Bizarra até a capital Recife, decidiu se desfazer da barraca, mantendo somente a vendinha na cidade como fonte de renda. Inconformado com a decisão do pai, Manuel tenta convencê-lo a deixar cuidando do negócio, pois, mesmo jovem, acreditava que dava conta do serviço. Apesar da insistência do filho, Seu Vino sempre foi cabeça dura, não acreditava que o menino conseguiria levar o trabalho a sério, com toda responsabilidade que ele necessitava ter, era trabalho difícil demais para levar sozinho. Sem conseguir convencer o pai, Manuel, na época com 21 anos, não se encontrava mais na pequena Bizarra onde nasceu, queria algo novo, explorar outros caminhos e encontrar outras oportunidades na vida que sonhava. Decidiu assim, partir para São Paulo, na esperança de conseguir um futuro melhor. Nesse meio tempo, enquanto se adaptava ao novo endereço, encontrou uma baiana que conquistou seu coração, casaram-se e fizeram seu caminho.

Meu pai não se tornou feirante na terra da garoa, seguiu por outros caminhos, mas mantêm a saudade dos tempos que trabalhava com meu avô. Seu Vino era exigente, mas tinha um coração enorme, hoje todos nós sentimos sua falta. 38


3.4

O olhar do feirante agricultor

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FIG.17 - A feirante - óleo sobre tela 46x55, autor: Francisco Eduardo.

Os avanços tecnológicos na produção agrícola, a mecanização do campo e o uso de componentes químicos para as plantações aumentaram o número de alimentos produzidos por tempo de colheita, mas diminuíram as oportunidades e os direitos dos pequenos agricultores e suas famílias que se viam obrigados a seguir os padrões tecnológicos impostos, ou a sair da zona rural, tentando a vida na cidade urbana.

Com as mudanças nos hábitos da população, a crescente preocupação com a saúde e a quantidade de agrotóxicos que consumimos graças ao sistema da agroindústria, as formas de 40


plantio consideradas naturais e sustentáveis estão lentamente se destacando e os pequenos agricultores voltando para as zonais rurais, acreditando no trabalho e no fruto da terra, vendido nas feiras orgânicas da cidade. Wagner é um exemplo do movimento citado anteriormente. Trabalha há 15 anos como agricultor e feirante, garantindo a renda mensal através da venda de seus produtos em feiras orgânicas como a do Parque da Água Branca, zona oeste de São Paulo. Sua esposa e filha ajudam nas vendas, cenário comum nas feiras orgânicas: a família geralmente participa do plantio, colheita e venda dos produtos, criando uma relação de aproximação direta com o consumidor¹. Quando questionado sobre a importância das feiras orgânicas na cidade, Wagner não hesita, em afirmar que o produto fresco de procedência conhecida (o consumidor pode visitar as áreas onde o plantio é feito e ter acesso ao certificado de qualidade do produto Lei nº 10.831), garantem a volta da clientela. Outra questão muito relevante é a crescente preocupação da população em relação a doenças e enfermidades como o câncer, que são recorrentes nos dias atuais. A saúde e o bem estar físico se transformam em prioridade e a procura por alimentos saudáveis e naturais aumenta, de acordo com o acesso as informações sobre a origem dos produtos que são consumidos. Por não ter atravessadores como na feira livre de rua, o lucro do agricultor é direto, beneficiando o seu sustento. Para expor os seus produtos nas feiras, uma taxa é cobrada pela prefeitura (no caso de locais como o Modelódromo e no Largo da Batata), além disso os feirantes agricultores que fazem parte da Associação de Agricultura Orgânica colaboram mensalmente com um valor determinado para manter a sua representação na cidade e aumentar a sua divulgação, tão necessária. Tanto Wagner como outros feirantes encontrados ao longo do desenvolvimento deste trabalho, relatam a sua satisfação em trabalhar no próprio negocio, com a família, entregando para as pessoas alimentos sustentáveis, produzidos pela natureza com o respeito que ela (e os consumidores) merecem.

¹ Wagner Ribeira é agricultor há 15 anos, trabalha como feirante e conta com ajuda da esposa e filha nas vendas 41 aos domingos no Parque da Água Branca, em São Paulo. Conversa realizada no dia 09/10/2016.


CAPÍTULO 4

FRUTOS Frutas, verduras, legumes, temperos, pastel, caldo de cana, tapioca, blusas, calças, saias, sapatos, presilhas, afiador de alicate, consertos, panelas, facas, bolos, café, gritos, homem, mulher, criança, cachorro, carrinhos, sacolas, cores, e tudo que se pode ou não imaginar, acontece nas feiras da cidade de São Paulo. A troca vai além do produto, troca-se também sorrisos, conversas, agradecimentos, atenção. Nas horas em que a feira acontece a cidade se transforma em um mar de barracas que contam histórias. Mergulhar nesse mundo, é só o primeiro passo de muitos que pretendemos dar!

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4.1 Feira livre Jauaperi Moema, zona sul de SĂŁo Paulo.

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FIG. 18, 19 e 20 - Alameda do Jauaperi, sem a feira livre e com a feira livre ocupando os espaços, São Paulo. Imagem Google Maps e fotos autorais, 2016. 44


FIG. 21 - Alameda do Jauaperi, clientes escolhendo seus produtos, bairro de Moema – São Paulo. Foto autoral, 2016.

Realizada no bairro de Moema há mais de vinte anos, a feira da Pavão recebe 144 barracas em 725m lineares (dados disponíveis em: http://www9.prefeitura.sp.gov.br/secretarias/sdte/pesquisa/feiras/) todas as quartas feiras da semana. Sua configuração principal se estende pela Alameda Jauaperi, atravessando as ruas Pavão e Bem- te -vi, que também abriga algumas barracas. Para aproximação com a vida do feirante e da feira, foi preciso acompanhar sua montagem. Trabalhar com esse evento não é fácil, muitos feirantes acordam antes das 4h da manhã para chegar ao local da feira, evitando surpresas ao longo do caminho e garantindo a barraca pronta no horário estipulado (todas as barracas devem estar prontas até as 7h30 da manhã segundo Decreto Municipal nº48.172, disponível em: http://www3.prefeitura.sp.gov.br/cadlem/secretarias/negocios_juridicos/cadlem/integra.asp?alt= 07032007D%20481720000). 45


FIG. 22 - Organização dos produtos nas barracas, montagem da feira, bairro de Moema – São Paulo. Foto autoral, 2016.

Às 6h da manhã, as barracas de frutas e legumes, as primeiras a chegar, já estão em seus lugares, as caixas dão espaço para as bancadas, onde os alimentos são distribuídos. As barracas de acessórios são as últimas a serem montadas, junto com os peixes e carnes. Esse tipo de organização acontece na maior parte das feiras, como regra interna dos feirantes, assim alimentos mais perecíveis como a parte de pescados e carnes ficam menos tempo submetidos a agentes externos, como o clima. Já os acessórios, utensílios e roupas, são mais fáceis e rápidos de organizar, não demandam tanto tempo quanto outras mercadorias. Após a retirada das mercadorias, carros e caminhões ficam estacionados nas calçadas, atrás das barracas. Alguns feirantes utilizam o estacionamento de um supermercado recente no bairro e outros, as ruas paralelas. A proximidade das barracas facilita a carga e descarga.

Alguns fregueses começam a aparecer; são esses que penhoram os melhores produtos, mais frescos e saborosos, vendidos a preços maiores, por conta da qualidade.

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FIG. 23 - Montagem da barraca de pescados, carnes e aves, bairro Moema – São Paulo. Foto autoral, 2016. .... As primeiras freguesas se preocupam apenas com qualidade, e estão dispostas a pagar um pouco a mais por isso, sem frescuras. Até porque o produto dessa hora nem se compara às sobras vendidas muito tempo depois, na desesperadora “hora da xepa”... (BERNARDO, 2014 pág.15)

É exatamente na “hora da xepa” (entre 12h e 13h) que o movimento da feira está em seu auge. Os preços caem para que todos os produtos sejam vendidos, pois segundo os próprios feirantes “mercadoria não volta para casa”. No caso da feira de Moema, não se ouvem muitos gritos, os trabalhadores sabem exatamente os bairros onde a voz alta atrai o freguês e onde esta tática só prejudica a venda. Por esse motivo, o que chama a atenção de quem está neste horário na feira é o preço: quanto mais barato, melhor. As primeiras barracas começam a ser desmontadas às 13h30, os alimentos que não foram para a casa da freguesia, voltam para as caixas, as lonas são enroladas e guardadas nos caminhões junto com as bancadas e outras partes dos expositores. Tudo precisa ser retirado antes das 14h, quando chegam os responsáveis pela limpeza das calçadas e ruas. A limpeza geral, feita pela prefeitura municipal, acontece até 15h. Por Moema ser um bairro residencial de classe média alta, essa feira é composta de clientes antigos, senhoras e senhores em sua maioria aposentados, fregueses de muitos anos, já conhecem os vendedores e vão certeiros nas barracas de costume. A troca nesses casos, vai além da mercadoria.

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FIG. 24 - Limpeza das ruas e calçadas realizada pela Prefeitura Municipal de São Paulo. Foto autoral, 2016.

Imagine que para a troca se realizar é necessário o ENCONTRO. E a troca não será apenas de MERCADORIAS. Ideias, palavras, experiências e sensações fazem parte do ENCANTO. E essa TROCA não pode prescindir do ESPAÇO PÚBLICO para se materializar. (VARGAS, 2011)

A quantidade de jovens é pequena em relação as donas de casa e empregadas domésticas que têm as compras semanais como parte do trabalho. Essa relação acontece também por conta das características do bairro. As barracas de pastéis são as que recebem o maior número desses jovens que aproveitam a saída das escolas próximas para comer com os amigos, pessoas que trabalham na região e algumas famílias com seus filhos também param nas pontas das feiras para se deliciar com um bom pastel e caldo de cana.

O encanto desta feira está no encontro, nas relações próximas de feirantes e clientes bem atendidos. De forma geral o ambiente mescla memória afetiva com interesses rápidos de quem corre contra o tempo para conseguir os alimentos da semana. Dar uma passadinha na feira também é válido, e muitos se enquadram nesse esquema. 48


FIG.25 - Dona Maria organizando seus temperos. Feira no bairro Moema, São Paulo. Foto autoral, 2016.

Se o olhar for além das cores das mercadorias, é possível identificar com facilidade sorrisos correspondentes às brincadeiras dos feirantes para chamar a atenção e vender, ou de alguns para trabalhar, organizando os alimentos acompanhados de uma melodia cantarolada. Essa energia está presente todo tempo, contagiando aqueles que se dispõem ao contagio. A feira cura qualquer mau humor!

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FIG 26 - Mapa perceptivo feira de Moema. As cores representam as divisĂľes dos produtos: amarela bananas, verde - verduras, vermelho - frutas, laranja - verduras, rosa claro - acessĂłrios, azul - carnes e peixes. Desenho autoral, 2016.

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4.2

Feira livre Sta. Cecília – Centro de São Paulo.

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FIG. 27 - Imagem Rua Sebastião Pereira, bairro Santa Cecília - São Paulo. Foto autoral, 2016.

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FIG.28 - Utensílios domésticos vendidos em barraca na frente do Largo da Santa Cecilia, São Paulo. Foto Autoral, 2016.

Um percurso de 693m e 160 barracas configuram a feira do centro da capital, na rua Sebastião Pereira, no bairro de Santa Cecília. Não é a maior feira da cidade, mas está entre elas. É praticamente impossível contar o número de pessoas que frequentam ou passam por ela aos domingos, quando acontece. A diversidade de produtos é incrível, além de frutas, verduras e legumes, são vendidos CDs, produtos de higiene, sacolas para compras, artigos infantis, utensílios de cozinha, especiarias, entre outros. Aqui, os gritos podem ser ouvidos a metros de distância, não existe outra maneira de chamar atenção. A originalidade é usada para destacar a venda, a exemplo do Rei das Panelas. Este serviço, oferecido no local, partiu da ideia de abrir a parte traseira do caminhão, transformando-a em um toldo para proteção da chuva e do sol; na base desta estrutura ficam o maquinário e peças necessários para os reparos realizados na hora em panelas, afiação de alicates, tesouras, conserto de carrinhos utilizados para compras, fogões, etc. Este serviço também entrega as encomendas da semana anterior e acolhe as que são recebidas, que ficam dispostas no chão. O caminhão fica estacionado no final da feira, em frente ao Lago da Santa Cecilia, acompanhado de barracas que vendem artigos para cozinha, e outros feirantes que fazem o mesmo trabalho com reparos em geral. 53


FIG. 29 - Rei das Panelas, criatividade para atrair atenção dos clientes., bairro Santa Cecília, São Paulo. Foto autoral, 2016.

O caminho da feira, registrado a seguir, acontece a partir da imagem do Rei das Panelas, seguindo pelo ambiente dos pastéis que formam grandes barracas com toldos cobrindo mesas e cadeiras, espaço bem aproveitado pela população local e de passagem. As barracas de pastéis e os espaços de estar formam uma “entrada” para a feira no Largo da Santa Cecilia, entrada essa que parece transportar para um outro mundo, da feira, cheio de pessoas, sons e cores, confuso, mas ao mesmo tempo compreensível, dentro de sua lógica. Diferente da feira no bairro de Moema, aqui existem pessoas de todas as idades, com número maior de jovens e famílias com crianças. Por ser em uma região central, a presença de pedintes e mendigos que se abrigam embaixo do Minhocão é grande, eles aproveitam as compras dos clientes na esperança de garantir um alimento para o dia. Há barracas com todos os tipos de queijos possíveis, de produtos em conserva, a reservada somente para alimentos feitos com milho, a de chás e especiarias em uma barraca com cartazes que explicam a origem e finalidade dos produtos vendidos. Além disso, a alegria de pessoas humildes que dedicam suas manhãs de domingo para feira é também parte da caracterização desse espaço, que acontece uma vez por semana.

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FIG.30 - Barraca de ervas para chás e especiarias. As informações sobre os alimentos ficam penduradas acima, feira no bairro Santa Cecília, São Paulo. Foto autoral, 2016.

É possível encontrar pequenas alterações na forma de vender os produtos, como por exemplo porções de legumes e verduras menores, já embaladas e cortadas, prontas para consumo, visando o cliente que mora sozinho, ou famílias com poucos integrantes. A forma de pagamento também se modernizou, algumas bancas, atualmente, aceitam todos os tipos de cartões de crédito e débito, facilitando a compra do cliente (não é necessário dar troco).

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FIG.31 - Barraca João e Ana com banner para chamar atenção dos fregueses, bairro da Santa Cecília, São Paulo. Foto autoral, 2016.

FIG.32 - Alimentos vendidos em porções menores, cortadas e prontas para consumo, feira bairro Santa Cecília, São Paulo. Foto autoral, 2016. 56


FIG.33 - Mapa perceptivo feira Santa CecĂ­lia. As cores representam as divisĂľes dos produtos: amarela bananas, verde - verduras, vermelho - frutas, laranja - verduras, rosa claro - acessĂłrios, azul - carnes e peixes. Desenho autoral, 2016.

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4.3

Feira livre Sumarezinho – Zona Oeste de São Paulo

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FIG.34- Vista do começo da feira Sumarezinho, Rua Cayowaa altura 2008, Pinheiros – São Paulo. Foto autoral, 2016.

Silenciosa, uma das primeiras impressões sobre a feira do Sumarezinho. 116 barracas em 592m (dados site: http://www9.prefeitura.sp.gov.br/secretarias/sdte/pesquisa/feiras/lista_completa.html) configuram o evento. É semelhante à feira da Santa Cecília em termos de tamanho, e com a de Moema, em termos do silêncio e nas características dos fregueses que, como na feira da zona sul, são em maioria senhoras e senhores idosos e empregadas domésticas. Alguns poucos jovens também aproveitam as compras. A Rua Cayowaa, onde se realiza o evento, é bem larga e assim recebe quatro corredores de barracas. As passagens ficam um pouco estreitas, alguns carrinhos distraídos passam por cima do pé, os clientes envolvidos se desentendem, mas seguem suas compras.

Como não podem gritar, os feirantes utilizam as boas frases prontas de venda, tiradas e piadas para chamar atenção dos clientes; eles sabem o que falar. Os pontos de pastéis ficam nas pontas da feira, como de costume. Poucas barracas, duas de um lado e mais duas do outro. O caldo de cana não deixa de marcar presença, há uma barraca de cada lado da feira, a exemplo da maioria em São Paulo. 59


FIG.35- Mapa perceptivo feira do Sumarezinho. As cores representam a divisão dos produtos: amarela -

bananas, verde - verduras, vermelho - frutas, laranja - verduras, rosa claro - acessórios, azul - carnes e peixes. Desenho autoral, 2016.

Com um grande número de feirantes, Sumarezinho tem barracas de queijos, salgadinhos e condimentos, além do senhor que fica na zona central, com seu pequeno bloco de madeira formando uma mesa de apoio para a placa “conserta-se fogões e panelas”, a senhora que vende panos de pratos, outra com sua barraca de acessórios diversos, alguns infantis, além das barracas de frutas e verduras essenciais em todas as feiras. Em 592m poucas pessoas faziam suas compras, a dimensão semelhante à da feira da Santa Cecília, se diferencia quando o assunto é freguesia. A feira do centro parece receber o triplo de pessoas aos domingos. 60


CAPÍTULO 5

FRUTOS ORGÂNICOS As preocupações com a boa alimentação e com a saúde do corpo se tornam cada dia mais importantes. O aumento visível no número de doenças que estão diretamente relacionadas com a produção dos alimentos, o uso abusivo de químicos e outros produtos da indústria alertam a população que busca alternativas saudáveis para reduzir ao máximo a ingestão destes elementos nocivos. A agroecologia e a produção de alimentos orgânicos se destacam nesse ambiente atual, trazendo a conscientização social desde a forma de trabalho do agricultor, no respeito com a natureza e principalmente com a produção de alimentos saudáveis, cenário em que os agrotóxicos e químicos não tem vez. Assim, apoiar este produtor, agricultor e feirante é também apoiar a sustentabilidade, levando cada vez mais a saúde para a mesa dos consumidores.

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5.1 Fruto do bem x fruto do mal

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FIG.36 – Recorte Cartilha desenvolvida pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento Secretaria de Desenvolvimento Agropecuário e Cooperativismo – Brasília 2009.

Segundo a Lei nº 10.831, de 23 de dezembro de 2003- Art. 1º: considera-se sistema orgânico de produção agropecuária todo aquele em que se adotam técnicas específicas, mediante a otimização do uso dos recursos naturais e socioeconômicos disponíveis e o respeito à integridade cultural das comunidades rurais, tendo por objetivo: a sustentabilidade econômica e ecológica; a maximização dos benefícios sociais; a minimização da dependência de energia nãorenovável; e o empregando, sempre que possível, de métodos culturais, biológicos e mecânicos, em contraposição ao uso de materiais sintéticos. Também é observada a eliminação do uso de organismos geneticamente modificados e radiações ionizantes, em qualquer fase do processo de produção, processamento, armazenamento, distribuição e comercialização, e a proteção do meio ambiente.

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Após as Grandes Guerras Mundiais, o abastecimento alimentar tornou-se uma das principais preocupações, já que a quantidade de terras improdutivas na Europa e em outros continentes impediam a produção agrícola e aumentavam consideravelmente os níveis de fome.

Pensando em toda a problematização e com a ideologia de extinguir a fome mundial, surgiu nos Estados Unidos um programa que buscava aumentar a produção agrícola, utilizando tecnologias que alteravam a forma de plantio, acelerando o processo de fertilização do solo com o uso de agrotóxicos e mecanização dos campos. As sementes são modificadas cientificamente e possuem resistência a pragas e outros tipos de problemas que podem impedir a plantação. Esse sistema foi estudado em meados de 1940, mas a sua denominação foi criada em 1966, em uma conferência em Washington, por William Gaud, segundo SANTILLI, 2009. Assim nasceu a Revolução Verde.

A partir do início da Revolução Verde, um dos principais argumentos para a disseminação desse modelo de produção agrícola (gestado nos Estados Unidos e na Europa) para os países em desenvolvimento foi a promessa de que ele acabaria com a fome do mundo. Isso, evidentemente, não ocorreu, entre outras razões porque o impacto da modernização agrícola e da revolução verde foi extremamente desigual em todo o mundo, e apenas segmentos sociais e muito específicos se beneficiavam dos avanços tecnológicos e dos aumentos de rendimento e de produtividade, ocasionados pela substituição dos sistemas agrícolas convencionais pelos sistemas modernos. O novo modelo agrícola e suas mudanças tecnológicas beneficiaram especialmente as grandes propriedades rurais, monocultoras, voltada para a exportação de cultivos comerciais (SANTILLI, 2009).

Como este novo meio de produção tem um custo inacessível por boa parte dos pequenos agricultores rurais, estes são obrigados a vender sua mão de obra para o agronegócio, em um sistema de exploração do trabalho, na procura de um sustento mínimo. Com o passar dos anos ficaram claros os impactos que a Revolução Verde desencadeou: sem recursos suficientes, famílias inteiras desses pequenos agricultores passam atualmente por dificuldades, lidando com a fome diariamente. Além disso, os impactos socioambientais são cada vez mais visíveis, contaminação dos alimentos, surgimento de pragas mais resistentes aos agrotóxicos, contaminação das água e do solos, erosão e salinização, desertificação, devastação de floretas, marginalização socioeconômica dos pequenos agricultores, perda da autossuficiência alimentar, êxodo rural, migração para as cidades, desemprego e intoxicação humana e animal. 64


Os efeitos que os produtos químicos causam à saúde são assustadores, grande parte de doenças como o câncer são reflexos dessa contaminação por alimentos da indústria e do agronegócio. A preocupação com a saúde e com o corpo se tornam então cada dia maiores, aumentando também o interesse do consumidor sobre a origem do produto comercializado e adquirido. Seguindo o desenvolvimento desse mercado, grupos de agricultores passam a se especializar em produções mais naturais, como a orgânica e a agroecológica onde a sustentabilidade é o foco principal.

Para conhecer melhor o universo dos produtos naturais e orgânicos, sua realidade e possíveis demandas de projeto arquitetônico, foram visitadas três feiras orgânicas que acontecem na cidade de São Paulo: a feira do Parque da Água Branca, na zona oeste, a do Modelódromo do Ibirapuera, na zona sul e do Largo da Batata, também na zona oeste.

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5.2 Feira orgânica no Parque da Água Branca - zona oeste de São Paulo.

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FIG.37 – Clientes e feirante agricultor na feira do Parque da Água Branca, São Paulo. Foto autoral, 2016.

A feira do Parque da Água Branca, foi a primeira feira orgânica registrada na cidade de São Paulo, no ano de 1991. A feira orgânica acontece dentro do Parque, em um galpão cedido pela prefeitura municipal e administrado pela Associação de Agricultores Orgânicos, uma instituição que representa e zela pelos direitos dos produtores agrícolas. São mais de 40 barracas já montadas e fixas dentro do galpão, onde os feirantes expõem seus produtos todas as terças, sábados e domingos das 7h às 12h. A novidade aqui acontece em um novo horário, a primeira feira noturna de São Paulo também acontece às terças das 16h30 às 20h30, 67


FIG.38 - Espaço de laser com mesas e cadeiras para visitantes do parque e da feira, São Paulo. Foto autoral, 2016.

no mesmo local, facilitando as compras para fregueses que não conseguem ter acesso à feira no horário comum. Shows musicais e participação de cozinheiros profissionais realizando receitas que atraem o público, fazem parte do evento noturno. Em frente ao galpão onde se instalam as barracas, um pequeno quiosque serve tortas e bolos feitos com produtos de base orgânica, vendidos na feira. Para conforto e descanso dos clientes, mesas e cadeiras formam um espaço de estar cercado de árvores do parque. O estacionamento para caminhões de carga e descarga dos produtos fica na parte de trás do galpão, facilitando o manuseio das caixas com mercadorias. De forma geral, a feira orgânica do Parque da Água Branca é bem movimentada, com crianças e pessoas de todas as idades. Alguns clientes já são velhos conhecidos dos feirantes e se relacionam amigavelmente como visto nas feiras de rua. Visitar estas feiras e detectar suas principais diferenças em relação as feiras de rua convencionais é importante para a construção de um pensamento sobre frutos orgânicos e a força que tomaram nos últimos tempos com as mudanças na cidade e no estilo de vida da população. 68


5.3 Feira orgânica no Modelódromo do Ibirapuera - zona sul de São Paulo.

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FIG. 39 - Entrada da feira, a equipe de segurança é contratada pela prefeitura e paga com parte da taxa cobrada aos feirantes, São Paulo. Foto autoral, 2016.

Organizada no Centro Esportivo e de Lazer Modelódromo do Ibirapuera, esta feira orgânica é registrada pela prefeitura de São Paulo, juntamente com a feira do Parque Burle Marx, na Vila Andrade. O Modelódromo está localizado próximo ao maior parque da cidade, o Ibirapuera, na Rua Curitiba - Paraíso. São 29 barracas ordenadas em 164m (dados disponíveis em: http://www9.prefeitura.sp.gov.br/secretarias/sdte/pesquisa/feiras/), que acompanham o desenho do Centro Esportivo todos os sábados da semana.

Por se realizar em um espaço aberto e amplo as barracas se distribuem espaçadamente configurando uma paisagem composta também de grandes e esbeltas árvores que cercam o ambiente. A sensação é de tranquilidade, organização e passeio. A feira é silenciosa, os sons vêm das crianças que se divertem em singelos brinquedos feitos de pneus reciclados, dos pássaros que cantam nas árvores e das conversas empolgadas entre fregueses e produtores que sorridentes explicam sobre a procedência do alimento e tiram dúvidas recorrentes. 70


Grande parte dos frequentadores da feira do Modelódromo são casais entre 25 e 40 anos, com e sem filhos. Poucas senhoras e senhores fazem parte desse grupo. Alguns clientes aproveitam o estacionamento na praça Carlos Gardel, outros preferem usar a bicicleta, e os que moram nas proximidades não utilizam meios de transporte.

Como há um espaço de brincar, o número de crianças nesta feira é considerável em comparação a outras, animais de estimação também são frequentes, já que o Modelódromo abriga um lugar especial para eles, um cachorrodromo. Para alimentação e descanso, mesas e cadeiras configuram um espaço de estar próximo aos brinquedos de pneus, facilitando a interação dos pais com as crianças. Aqui o pastel é trocado por tapiocas de todos os sabores e o caldo de cana sede espaço para o suco verde, feito com frutas e verduras dos produtores locais. Atrás das barracas se encontram famílias, compostas na maioria dos próprios produtores dos alimentos à venda. Os filhos jovens articulam com os fregueses uma conversa de igual para igual, de quem conhece o processo de colheita e produção do alimento. Também se manifestam aqueles que preocupados com a saúde e qualidade de vida, se interessam por mercadorias livres de componentes químicos. Iniciada às 7h como de costume, os feirantes começam a desmontagem 13h e a feira é encerrada às 15h, quando os agentes de limpeza já estão finalizando seu trabalho. A quantidade de caminhões é pequena em relação ao volume de barracas, alguns produtores terceirizam o trabalho de montagem e desmontagem, preocupando-se assim somente com a mercadoria para comercialização. Os feirantes que não utilizam esses serviços, deixam os caminhões no estacionamento interno do Modelódromo.

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5.4 Feira orgânica no Largo da Batata - zona oeste de São Paulo.

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Fig. 40. Barracas no Largo da Batata, 2014 – Imagem do site yelp,. Disponível em https://www.yelp.com.br/biz_photos/largo-da-batata-s%C3%A3o-paulo?select=a5r8rp6mHNOq75ufN1A4Q

Inaugurada no ano de 2014, a feira orgânica do Largo da Batata, conhecida como Quarta no Largo, contava com a participação de 14 produtores que exibiam para venda os seus produtos semanalmente as quartas – feiras, das 7h ao meio dia. ( INFORMAÇÕES RETIRADAS DO SITE: http://www.teiaorganica.com.br/fornecedores-produtos-organicos/feira-de-organicos-do-largoda-batata. Em visita a feira, este ano, surpreendemo-nos com o fato de somente dois dos quatorze produtores continuam vendendo suas mercadorias na Quarta no Largo. Dona Olívia é produtora há 10 anos e Seu Estevão motorista da produtora Aparecida, que não estava presente no dia. Na conversa, explicaram que com o tempo a procura pelo alimento caiu, assim como as vendas, levando os agricultores a desistirem de expor no Largo.² A falta de incentivo ao produtor agrícola e principalmente a falta de informação sobre os alimentos orgânicos, são fatores relatados por todos os feirantes que trabalham vários dias durante a semana, em praticamente todas as feiras da cidade. ² Olivia Silva, agricultora e feirante e Estevão Caldeira, motorista e feirante. Conversa realizada em visita ao Largo no dia 19/12/2016.

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A falta de informação do consumidor é um ponto importante para o enfraquecimento das feiras orgânicas na cidade. O tema orgânico e agroecológico é pouco divulgado e se distancia da população que não tem o conhecimento sobre a importância desses alimentos e dos benefícios de seu consumo diário. O alimento natural geralmente está relacionado ao custo elevado, o que, em comparação com os alimentos da feira livre convencional, não se difere extraordinariamente: tirando o “horário da xepa” (horário do almoço em que a feira está prestes a terminar), onde os produtos que sobram são comercializados a custos reduzidos, nos horários em que o alimento ainda está fresco, o valor do produto é equivalente ao vendido na feira orgânica.

Assim, para fortalecer a feira orgânica, ajudando a divulgar o trabalho do produtor e a qualidade do alimento, é necessário criar uma identidade que transforme a feira em um evento diferenciado, mantendo suas raízes milenares tradicionais, mas inovando na sua forma de apresentação, para que este evento continue na cidade, se espalhando cada dia mais. É neste momento que a arquitetura se envolve com tema desta pesquisa, propondo a criação de um projeto efêmero, destinado especialmente às feiras orgânicas na cidade de São Paulo, na esperança que a sua importância aumente e identidade seja reconhecida, atingindo a população que ainda não tem o acesso, desejado pelos comerciantes, a esse tipo de evento.

O material escolhido para o desenvolvimento do projeto é o bambu, pouco utilizado como estrutura no Brasil, mas conhecido mundialmente por sua qualidade e resistência, sendo comparado a madeira em termos de resistência. No capítulo a seguir, este material e a sua relevância para o trabalho são discutidos e detalhados.

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CAPÍTULO 6

A MATÉRIA DA TERRA Conhecido e utilizado há anos em países como a China e Colômbia, o bambu é um material que comprova a sua versatilidade e resistência física destacando-se atualmente no cenário das construções sustentáveis. Estudos sobre a sua composição, ligações, encaixes e amarrações, aumentam as possibilidades deste material, transformando- o em um forte substituto de outros elementos clássicos como a madeira e do aço. No Brasil o seu conhecimento começa a se expandir com o uso na decoração e em espaços externo como pergolado, por exemplo, mas ainda sofre preconceitos associados ao seu emprego em pequenas construções precárias e subdesenvolvidas. É necessário então introduzir o conhecimento sobre o material escolhido neste trabalho como base estrutural das coberturas e expositores que constituirão a nova identidade das feiras orgânicas e agroecológicas nas cidades. 75


6.1 O bambu e suas potencialidades

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Fig. 41 – Composição do bambu – disponível em: http://www.faac.unesp.br/Home/PosGraduacao/MestradoeDoutorado/Design/Dissertacoes/roberval-braz-padovan.pdf

Composto basicamente por raízes, colmos e nós o bambu é considerado uma grande gramínea. Abundante em países como China e Japão, esta planta tradicional era comumente utilizada em construções residenciais e templos, transformando os povos orientais em grandes dominadores das técnicas do uso deste material como estrutura. Entretanto as ações da natureza danificaram grande parte das obras feitas de bambu, pois antigamente existiam poucos recursos para estudos sobre as possibilidades de resistência desse material, quando exposto a mudanças climáticas. Com o aumento das preocupações relacionadas ao meio ambiente a procura por materiais sustentáveis também cresce, trazendo o bambu de volta ao cenário das construções estruturais. Pesquisas e testes realizados atualmente comprovam as propriedades físicas do material, amplamente resistente há tração, flexão e compressão. Além disso, o peso específico reduzido facilita o seu transporte e a sua extração não causa danos ao meio ambiente, pois atinge um tamanho satisfatório com todas as qualidades superiores em média três anos após o plantio.

Da mesma forma, foram desenvolvidos tratamentos para elevar o tempo de vida do bambu e sua resistência a pragas. Hoje são encontradas diferentes técnicas de imersão, aquecimento e esterilização. O método conhecido como Boucherie, por exemplo, trata do preenchimento dos canais de seiva por um composto de cromo, cloro e bromo, sendo o mais utilizado na construção civil. 77


Fig. 42– Catedral de Pereira, Colômbia. Projeto do arquiteto Simon Velez.

Há cerca de 30 anos pesquisando esse recurso, o professor Khosrow Ghavami, do Departamento de Engenharia Civil da PUC-RJ, defende firmemente o uso do bambu na construção civil. Ele estudou 14 espécies e 3, em especial, com 10 cm ou mais de diâmetro são excelentes para o ramo da construção. As 3 espécies são: guadua (Guadua angustifolia), o bambugigante (Dendrocalamus giganteus) e o bambumossô (Phyllostachys pubescens). Todas podem ser encontradas no Brasil; por exemplo, no estado do Acre, em que 38% da superfície é coberta por bambuzais. ENGENHARIA CIVIL, UFRJ. Disponível em: https://blogdopetcivil.com/2015/05/14/versatilidade-equalidade-uso-do-bambu-na-construcao-civil/ 78


Fig. 43 – Centro Cultural Max Feffer, em Pardinho, SP. Projeto do escritório Amima – arquitetos Leiko Hama Motomura, Mauricio Alito, Carolina Maihara, Thais Cuha, Marcelo Nunes e Danielle Muhle, 2008.

O bambu pode ser visto atualmente com maior frequência no designer de interiores, em esteiras, painéis, objetos artesanais, pergolados entre outros. Já na área da construção, no Brasil o uso ainda é pouco conhecido, mas vem se destacando em grandes obras como o Centro Cultural Max Feffer, fig. 43, projeto do escritório brasileiro Amima e em trabalhos do escritório Bambu Carbono Zero, especializado no uso desse material. Sendo assim, os benefícios descobertos no bambu, sua ligação com os alimentos orgânicos, plantados e extraídos com respeito a natureza e ao meio ambiente, transformam essa gramínea no material escolhido para ser utilizado no projeto de cobertura montável e desmontável desenvolvido especialmente para feiras orgânicas e agroecológicas, neste trabalho de conclusão de curso. A seguir são apresentados estudos relacionados aos possíveis encaixes , entalhes e amarrações regularmente usados nas estruturas feitas de bambu, contando também sobre o escolhido para conectar os bambus da cobertura projetada para as feiras.

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6.2 Encaixes, cortes e amarrações

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Fig. 44 – Encaixes boca de pescado com gancho para fortalecimento da estrutura. Foto do acervo do escritório Bambu Carbono Zero, 2016.

. Após os diversos estudos desenvolvidos para compreensão sobre as propriedades físicas do bambu, foi preciso também conhecer o seu comportamento quando utilizado como estrutura. As possibilidades de encaixes e amarrações são encontradas em livros e pesquisas desenvolvidos com esta finalidade, como no livro Manual de construcción com bambú de Oscar Hidalgo Lopez (1981), utilizado como base para o entendimento da capacidade deste material. Importante ressaltar que hoje o bambu pode ser utilizado na construção como substituto da madeira e até do aço. Pode ser empregado como revestimento de pisos, paredes, coberturas, mobiliários como cadeiras, mesas, bancos entre outros. Mas o seu real interesse neste trabalho é como viga e pilar, na construção de uma cobertura montável e desmontável. 81


Fig. 45 – Encaixes, uma orelha, duas orelhas, boca de pescado, bico de flauta e bizel. Desenho autoral, 2016.

Fig. 46 – Encaixes, uma orelha, duas orelhas, boca de pescado, bico de flauta e bizel, experiência de recortes feitos na oficina do Centro Universitário Senac, pela autora, 2016.

Para obter os recortes com uma orelha e duas orelhas é preciso riscar o bambu desenhando o “dente” ou orelha como é chamado. Com uma serra fita ou serra de mão, retira-se a parte desnecessária do bambu, deixando somente o pedaço usado como encaixe. Nos outros casos é necessário o uso de uma serra copo, para criar o desenho arredondado sem danificar ou rachar a peça. Os processos são simples, uma vez que os materiais necessários são de fácil acesso e a execução pode ser feita manualmente, barateando o seu custo total. Além dos encaixes, para reforçar a construção são feitas ligações entre as peças, utilizando cavilhas, amarrações, ganchos de metal, entre outros modelos, figs 49 e 50. . 82


Fig. 47 e 48 – Encaixe a bizel, demonstração com experiência realizada pela autora com o material em oficina e encaixe com boca de pescado, 2016.

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Fig. 49 – Emprego de passadores e gancho metálico na união de peças horizontais e verticais. Fonte: Manual de construccion con bambu, Oscar Hidalgo Lopez, 1981.

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Fig. 50 – Amarrações utilizadas para firmeza da estrutura. Fonte: Manual de construccion con bambu, Oscar Hidalgo Lopez, 1981.

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Fig. 51 – Estrutura de tenda desmontável criada pelo escritório Bambu Carbono Zero, será utilizada nas coberturas propostas no projeto de identidade das feiras. Disponível em: http://bambucarbonozero.com.br/

A partir dos modelos tradicionais de encaixe, são elaboradas atualmente diversas técnicas que auxiliam as conexões entre os bambus. A junção metálica desenvolvida pelo escritório Bambu Carbono Zero para tendas desmontáveis é um exemplo e será utilizada como base para as coberturas projetas nas feiras orgânicas e agroecológicas. Esse sistema é composto por um quadrado de aço recortado em cada face por círculos onde são rosqueados os bambus base da estrutura. Um pino é conectado a ponta dos elementos que trabalham como suporte e contraventamento. Esses encaixes facilitam o trabalho dos feirantes e agricultores na montagem e desmontagem das coberturas, aumentando o tempo das vendas.

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Fig. 52 – Conexão criada pelo escritório Bambu Carbono Zero, será utilizada nas coberturas propostas no projeto de identidade das feiras. Disponível em: http://bambucarbonozero.com.br/ 87


CAPÍTULO 7

DA MATERIA NASCE O NOVO A COLHEITA As listras coloridas das lonas nas barracas, a distribuição dos alimentos nas bancadas, os corredores criados na disposição no espaço, são símbolos comuns e encontrados em qualquer feira livre de São Paulo. Recentes no cenário das feiras urbanas, as orgânicas e agroecológicas seguem a identidade conhecida há tantos anos, mas ainda tímidas, com pequeno número em relação as feiras de rua, utilizam espaços como parques e praças para acontecer. Das visitas e conversas ocorridas ao longo do trabalho entre os agricultores feirantes um ponto era comum: a falta de informação da população é um dos principais motivos negativos na expansão das feiras orgânicas nas cidades. Se o consumo não é estimulado, a venda perde a sua força. Nasce então o projeto das coberturas orgânicas, com a intenção de através da arquitetura efêmera, da utilização do espaço público e simbologia encontrada nas experiências realizadas durante o trabalho, aproximar as pessoas do tema orgânico e agroecológico, aumentando a visibilidade dessas feiras na 88 cidade.


Fig. 53 – Frutas, verduras e legumes encontrados nas feiras orgânicas. Disponível em: http://www.redetiradentes.com.br/por-que-comprar-organicos/

Como visto anteriormente, as feiras orgânicas são recentes no cenário das cidades. Geralmente encontradas em parques, praças ou estacionamentos de shoppings, estas feiras (ainda em número reduzido) são minoritariamente reconhecidas e pouco divulgadas, dificultando o acesso e a proximidade da população. As visitas realizadas e as conversas com os feirantes agrícolas mostraram a necessidade de expandir esse evento, chamando a atenção da população, aumentando a divulgação do alimento orgânico, seus benefícios e a importância do trabalho agrícola.

“A feira orgânica é boa porque nela não existem atravessadores, a gente vende o produto fresco direto pro cliente e o preço sai mais barato que no mercado, pode ver. Além de ser o sustendo do agricultor...”³. A forma escolhida para destacar as feiras orgânicas na cidade de São Paulo vem através da arquitetura, possibilitando mudanças na configuração e apropriação dos espaços já utilizados, transformando as barracas tradicionais em coberturas montáveis e desmontáveis acompanhadas de novos expositores. ³Fala do feirante Wagner, durante conversa em visita a feira orgânica do Parque da Água Branca. Conversa realizada dia 09/10/2016.

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Fig. 54 e 55– Modelo tridimensional explodido para entendimento dos encaixes e montado, desenvolvidos pela autora, 2016.

Criados a partir do bambu, material escolhido e das raízes históricas das feiras livres de rua, a intenção é oferecer para o evento novas visões, uma identidade original que mantenha os seus símbolos reconhecíveis. O módulo de cobertura desenvolvido para o evento é composto por 16 peças de bambu encaixadas através da estrutura metálica desenvolvida pelo escritório Bambu Carbono Zero e apresentada anteriormente fig. 57. As figs. 54 e 55 mostram a forma de montagem, feita geralmente pelo próprio feirante agricultor. O tamanho, peso e conexões foram pensados na intenção de facilitar a carga e descarga, o carregamento e armazenamento do material. A lona quadriculada é referente as lonas utilizadas nas barracas, mas neste caso é feita com material reciclado e instalada através de amarrações nas estruturas dos bambus, finalizando a cobertura com um módulo de 2,5m X 2,5m X 2,7m de altura.

Os encaixes metálicos permitem as modificações nas dimensões dos módulos, que podem ser conectados, aumentando o espaço de exposição e criando diferentes possibilidades, como mostram os modelos da fig. 56.

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Fig. 56 – Modelos tridimensionais, simulação do módulo em uma unidade, duas e quatro, demonstrando as diferentes dimensões. Autoral, 2016.

As coberturas podem ser montadas de acordo com a quantidade de alimento para a venda, assim como o número de expositores necessários para a organização dos produtos. Os expositores quadrados foram elaborados e dimensionados no sentindo de diminuir ao máximo o tempo gasto com a montagem e desmontagem da feira. Assim as prateleiras podem ser carregadas facilmente e já montadas com as madeiras laterais que impendem que o alimento caia. São encaixadas direto na base, por um sistema de cremalheiras sendo conectados as prateleiras, com fácil montagem fig. 59. A base com 1,20m de altura, pode ser carregada sem a necessidade de desmontagem, pois todas as madeiras são dimensionadas com 2 cm de espessura e por serem de bambu, o peso é consideravelmente leve em relação as madeiras comuns fig. 61.

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4 unidades

12 unidades

24 unidades

1 unidade

6, 2 e 8 unidades com 12cm de diâmetro.

Fig. 57 – Materiais utilizados na construção dos módulos, suas medidas e respectivas quantidades. Desenhos tridimensionais desenvolvidos pela autora, 2016. 92


Fig. 58 – Modelo tridimensional do novo expositor de alimentos nas feiras orgânicas, desenvolvido pela autora, 2016.

base

Detalhe encaixe com sistema de cremalheiras

Fig. 59 e 60 – Modelo expositor explodido, exibindo peças para montagem e detalhe dos encaixes utilizados, desenvolvidos tridimensionalmente pela autora, 2016.

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Madeiras para prateleiras

Madeiras utilizadas como apoio

Madeiras utilizadas na base Fig. 61 – Peças feitas com madeira de bambu, utilizadas no expositor com medidas, todas com 2cm de espessura. Desenho tridimensional desenvolvido pela autora, 2016. 94


Fig. 62 – Modelo renderizado cobertura com um módulo e expositor. Desenho 3D desenvolvido pela autora, 2016.

As três feiras orgânicas conhecidas durante o trabalho (Parque da Água Branca, Modelódromo e Largo da Batata), e as observações realizadas nas visitas, serviram como exemplo para as simulações das diferentes implantações possíveis com o mobiliário desenvolvido fig. 67, 68 e 70. Como cada espaço contempla uma disposição única, a versatilidade das coberturas pode ser identificada na montagem do módulo, que adapta-se as necessidades dos feirantes e as dimensões dos locais onde são montadas. O objetivo então vem da identidade com o material bambu e os expositores criados especialmente para as feiras orgânicas, essa representatividade estará sempre associada aos alimentos orgânicos e agroecológicos, aumentando a visibilidade do feirante agricultor e de seus produtos. Através da arquitetura é possível transformar antigos hábitos em novas experiências visuais, sem desvincular as feiras orgânicas da simbologia das feiras e sua história nas cidades, abrindo portas para outros estudos relacionados ao tema eventos efêmeros como as feiras livres de rua e feiras orgânicas. 95


Fig. 63 e 64 – Modelos renderizado cobertura com dois módulos e oito expositores. Desenhos em 3D desenvolvidos pela autora, 2016.

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Fig. 65 e 66 – Modelos renderizados cobertura com quatro módulos e oito expositores com diferente configuração. Desenhos em 3D desenvolvidos pela autora, 2016.

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Fig. 67 – Largo da Batata, simulação da disposição das coberturas de acordo com o desenho de piso da 98 praça. Desenho autoral, 2016.


Fig. 68 – Simulação detalhe de implantação distribuição dos modelos de cobertura no Modelódromo do Ibirapuera em um corredor com 15m de largura, criando novos usos para o espaço. Desenho autoral, 2016. 99


Fig. 69 – Foto montagem coberturas modelas em 3D no Modelódromo do Ibirapuera. Desenvolvido pela autora, 2016.

Sendo assim, que as feiras livres e feiras orgânicas continuem colorindo as cidades por muitos anos, apropriando cada vez mais os espaços públicos, estreitando a relações sociais e a intimidade do homem com as ruas. Vale repetir, vida longa as feiras!

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Fig. 70 – Simulação detalhe implantação distribuição dos modelos de cobertura no Parque da Água Branca, substituindo o uso do galpão, onde a feira acontece atualmente. O número de coberturas modifica de acordo com a quantidade de feirantes. Desenho autoral, 2016.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

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O tema escolhido para o trabalho nasce da experiência acadêmica realizada na feira tradicional da Liberdade, São Paulo. As modificações geradas pela instalação do mobiliário e o respaldo positivo e otimista dos frequentadores da feira e trabalhadores, transformaram- se na premissa para uma abordagem mais ampla sobre as formas de utilização do espaço público e a necessidade de atenção para novos tipos de apropriações na cidade. A vontade de ampliar o discurso sobre as relações do homem com a cidade me levaram a aproximar os estudos deste trabalho às feiras livres, eventos efêmeros, milenares, de grande importância social, carregados de simbologias reconhecíveis e identidade. Conseguir documentos que contassem a história das feiras livres na Idade Média e principalmente na cidade de São Paulo foi dificultado pela falta de informações completas sobre a evolução dessas trocas no decorrer dos anos. Coincidentemente o livro 100 anos de Feiras Livres na Cidade de São Paulo do professor Hélio Junqueira, estava com lançamento previsto para o primeiro semestre de 2016. Este livro foi a porta de entrada para o mergulho na antiguidade, nas trocas milenares, modificações do espaço e do evento com o tempo, das escravas que vendiam os alimentos nas ruas, da primeira legislação oficial das feiras em São Paulo e todo o contexto que as cercam até os dias atuais.

Após leitura sobre o mundo das feiras, era preciso vivenciar todo o processo de montagem e desmontagem que acontecem diariamente nas ruas da cidade. A visita a feira de Moema, as 6h da manhã ficou registrada na minha memória, a energia dos feirantes e a alegria já estavam presentes na montagem das barracas, ajudando a colorir as ruas do bairro, assim como as frutas, verduras e legumes. Acompanhar as vendas compreendendo as relações sociais concebidas por trocas que vão além dos produtos e todo o processo da transformação do espaço com seus pontos negativos e positivos, auxiliaram nas decisões finais do trabalho. A cada visita, eram reconhecidas as formas de trabalho, o carregamento e descarregamento dos produtos, as maneiras de chamar atenção do cliente, que variam de acordo com o bairro onde a feira é instalada, o pagamento em cartões de crédito e debito, contemporâneos, as embalagens com frutas e verduras cortadas, individuais... A identidade geral era a mesma, mas cada feira tinha suas observações que a diferenciavam das outras, tornando este evento tão mais especial.

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A relação com as feiras livres tomou outras direções quando ocorreu a aproximação as feiras orgânicas, até então, pouco conhecidas. O entendimento sobre as formas de plantio sustentáveis e vendas de produtos sem elementos químicos, são de extrema importância no contexto atual da distribuição dos alimentos, na tentativa da diminuição dos altos níveis de agrotóxicos consumidos diariamente no país. As leituras sobre o universo dos produtos orgânicos, agroecológicos e as conversas com pessoas próximas que não tinham conhecimento sobre o tema, as opiniões dos agricultores registradas nas visitas, sobre a falta de informação e divulgação das feiras orgânicas se tornaram aliadas a intenção de aumentar a relação do homem com os espaços públicos da cidade através desses eventos. Assim surge o projeto final deste trabalho.

Era preciso desenvolver uma nova identidade para as feiras orgânicas da cidade de São Paulo. Para manter o tema associado aos alimentos orgânicos, o material escolhido é o bambu, responsável pela estrutura das coberturas e expositores substitutos da barraca de feira. Foram necessárias vários estudos para entender a potencialidade do bambu usado como estrutura e os encaixes possíveis, os testes realizados na oficina foram um grande auxilio este momento. A visita ao escritório Bambu Carbono Zero e todas as informações compartilhadas e experiências, completaram esta etapa de conhecimento.

Finalmente, o objetivo do trabalho é ir além da nova identidade, facilitar o cotidiano do feirante, com montagens mais rápidas da cobertura e do expositor, diferenciar o uso na cidade, chamando a atenção daqueles que ainda não conhecem o mundo dos alimentos orgânicos e os benefícios que trazem para a saúde e meio ambiente. Com certeza este tema poderá ir além deste ensaio, possibilitando novas formas de apresentação a partir de estudos mais aprofundados sobre as propriedades do material e necessidades dos feirantes agricultores. Deixo então a satisfação de ter a oportunidade de conhecer o trabalho árduo das pessoas que se dedicam todos os dias para o alimento natural chega a nossa mesa. Como futura profissional de arquitetura, este ensaio proporcionou diferentes experiências e visões sobre a profissão e as alternativas de trabalho possíveis. A arquitetura não existe sem a cidade, sem as pessoas, sem os espaços.

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Lista de imagens

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• Figura 1: Foto barraca de verduras e legumes da feira livre na Alameda Jauaperi, no bairro Moema em São Paulo, registrada em 2016, autoral. • Figura 2: Uso do muro como apoio para refeição em contraste com a necessidade do mobiliário projetado para essa finalidade. (Foto Matheus Leitzke, 2013). • Figura 3: Mapa com a localização da feira na cidade de São Paulo. Disponível em: https://www.google.com.br/maps/place/Feira+da+Liberdade/@-23.5551288,46.6376911,17z/data=!3m1!4b1!4m5!3m4!1s0x94ce59a92408af4b:0x4d066614014259ad!8m2!3 d-23.5551337!4d-46.6355024) • Figura 4: Desenho 3D do modelo projetado, apoiado no muro. (Render desenvolvido para o trabalho em grupo 2013, Gabriella Neri, Jéssica Oliveira, Luís Garcia e Matheus Leitzke) • Figura 5: Simulação em 3D do mobiliário projetado em toda a extensão do muro. (Render desenvolvido para o trabalho em grupo 2013, Gabriella Neri, Jéssica Oliveira, Luís Garcia e Matheus Leitzke)

• Figura 6: Casal utilizando o protótipo do mobiliário projetado e instalado na feira. (Foto Matheus Leitzke, 2013) • Figura 7: Cena no Mercado, 1550 Pieter Aersten. Disponível em: http://pt.wahooart.com/@@/9H5P9V-Pieter-Aertsen-Cena-do-mercado-(fragmento-EcceHomo),-%C3%B3leo-sobre-madeira • Figura 8: Movimentação da feira, encontro e relação dos clientes. Feira realizada no bairro Moema - São Paulo, 2016. Foto autoral.

• Figura 9: Barraca de ovos, montagem da feira do bairro Moema – São Paulo, 2016. Foto autoral. • Figura 10: Negras Quitandeiras Marc https://br.pinterest.com/pin/366339750916182124/

Ferrez

-

1895.

Disponível

em:

• Figura 11: Feira do Largo do Arouche, uma das mais importantes da cidade, década de 1950. Disponível em: https://www.facebook.com/100anos/photos/pb.642030575938245.2207520000.1465332686./683415011799801/?type=3&theater)

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• Figura 12: Caminhão estacionado para montagem da feira. Disponível em: http://www.hypeness.com.br/2015/07/fomos-acompanhar-a-montagem-de-uma-feira-livrede-rua-na-regiao-central-de-sao-paulo/ • Figura 13: Exposição dos peixes feita sobre camadas de gelo para conservar o alimento. Disponível em: http://www.hypeness.com.br/2015/07/fomos-acompanhar-a-montagem-deuma-feira-livre-de-rua-na-regiao-central-de-sao-paulo/ • Figura 14: Final da feira livre no bairro de Moema, zona sul de São Paulo. Foto autoral, 2016.

• Figura 15: Feira livre no bairro Santa Cecilia, vista de cima do Elevado Costa e Silva. – São Paulo. Foto autoral, 2016.. • Figura 16 Seu Vino e seu filho Manuel, na feira do Recife. Desenho autoral, 2016 • Figura 17: A feirante - óleo sobre tela 46x55, autor: Francisco Eduardo • Figuras 18, 19 e 20:: Alameda do Jauaperi, sem a feira livre e com a feira livre ocupando os espaços, São Paulo. Imagem Google Mapas e fotos autorais, 2016.

• Figura 21: Alameda do Jauaperi, clientes escolhendo seus produtos, bairro de Moema – São Paulo. Foto autoral, 2016. • Figura 22: Organização dos produtos nas barracas, montagem da feira, bairro de Moema – São Paulo. Foto autoral, 2016. • Figura 23: Montagem da barraca de pescados, carnes e aves, bairro Moema – São Paulo. Foto autoral, 2016. • Figura 24: Limpeza das ruas e calçadas realizada pela Prefeitura Municipal de São Paulo. Foto autoral, 2016 . • Figura 25: Dona Maria organizando seus temperos. Feira no bairro Moema, São Paulo. Foto autoral, 2016. • Figura 26: Mapa perceptivo feira de Moema. As cores representam a divisão dos produtos: amarela - bananas, verde - verduras, vermelho - frutas, laranja - verduras, rosa claro acessórios, azul - carnes e peixes. Desenho autoral. 107


• Figura 27: Imagem Rua Sebastião Pereira, bairro Santa Cecília - São Paulo. Foto autoral, 2016. • Figura 28: Utensílios domésticos vendidos em barraca na frente do Largo da Santa Cecilia, São Paulo. Foto autoral, 2016.

• Figura 29: Rei das Panelas, criatividade para atrair atenção dos clientes., bairro Santa Cecília, São Paulo. Foto autoral, 2016. • Figura 30: Barraca de ervas para chás e especiarias, informações sobre os alimentos ficam penduradas acima, feira no bairro Santa Cecília, São Paulo. Foto autoral, 2016. • Figura 31: Barraca João e Ana com banner para chamar atenção dos fregueses, bairro da Santa Cecília, São Paulo. Foto autoral, 2016. • Figura 32: Alimentos vendidos em porções menores, cortadas e prontas para consumo, feira bairro Santa Cecília, São Paulo. Foto autoral, 2016. • Figura 33: Mapa perceptivo feira Santa Cecília. As cores representam a divisão dos produtos: amarela - bananas, verde - verduras, vermelho - frutas, laranja - verduras, rosa claro acessórios, azul - carnes e peixes. Desenho autoral, 2016.

• Figura 34: Vista do começo da feira Sumarezinho, Rua Cayowaa altura 2008, Pinheiros – São Paulo. Foto autoral, 2016. • Figura 35: Mapa perceptivo feira do Sumarezinho. As cores representam a divisão dos produtos: amarela - bananas, verde - verduras, vermelho - frutas, laranja - verduras, rosa claro - acessórios, azul - carnes e peixes. Desenho autoral, 2016. • Figura 36: Recorte Cartilha desenvolvida pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento Secretaria de Desenvolvimento Agropecuário e Cooperativismo – Brasília 2009.

• Figura 37: Clientes e feirante agricultor na feira do Parque da Água Branca, São Paulo. Foto autoral, 2016. • Figura 38: Espaço de laser com mesas e cadeiras para visitantes do parque e da feira, São Paulo. Foto autoral, 2016. • Figura 39: Entrada da feira, a equipe de segurança é contratada pela prefeitura e paga com parte da taxa cobrada aos feirantes, São Paulo. Foto autoral, 2016. 108


• Figura 40: Barracas no Largo da Batata, 2014 – Imagem do site yelp, disponível em https://www.yelp.com.br/biz_photos/largo-da-batata-s%C3%A3o paulo?select=a5r8rp6mHNOq75ufN1-A4Q • Figura 41: Composição do bambu – disponível em: http://www.faac.unesp.br/Home/PosGraduacao/MestradoeDoutorado/Design/Dissertacoes/roberval-braz-padovan.pdf • Figura 42: Catedral de Pereira, Colômbia. Projeto do arquiteto Simon Velez. • Figura 43: Centro Cultural Max Feffer, em Pardinho, SP. Projeto do escritório Amima – arquitetos Leiko Hama Motomura, Mauricio Alito, Carolina Maihara, Thais Cuha, Marcelo Nunes e Danielle Muhle, 2008.

• Figura 44: Encaixes boca de pescado com gancho para fortalecimento da estrutura. Foto do acervo do escritório Bambu Carbono Zero, 2016. • Figura 45: Encaixes, uma orelha, duas orelhas, boca de pescado, bico de flauta e bizel. Desenho autoral, 2016. • Figura 46: Encaixes, uma orelha, duas orelhas, boca de pescado, bico de flauta e bizel, experiência de recortes feitos na oficina do Centro Universitário Senac, pela autora, 2016. • Figuras 47 e 48: Encaixe a bizel, demonstração com experiência realizada pela autora com o material em oficina e encaixe com boca de pescado, 2016. • Figura 49: Emprego de passadores e gancho metálico na união de peças horizontais e verticais. Fonte: Manual de construccion con bambu, Oscar Hidalgo Lopez, 1981. • Figura 50: Amarrações utilizadas para firmeza da estrutura. Fonte: Manual de construccion con bambu, Oscar Hidalgo Lopez, 1981. • Figura 51: Estrutura de tenda desmontável criada pelo escritório Bambu Carbono Zero, será utilizada nas coberturas propostas no projeto de identidade das feiras. Disponível em: http://bambucarbonozero.com.br/

• Figura 52: Conexão criada pelo escritório Bambu Carbono Zero, será utilizada nas coberturas propostas no projeto de identidade das feiras. Disponível em: http://bambucarbonozero.com.br/ • Figura 53: Frutas, verduras e legumes encontrados nas feiras orgânicas. Disponível em: http://www.redetiradentes.com.br/por-que-comprar-organicos/

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• Figuras 54 e 55– Modelo tridimensional explodido para entendimento dos encaixes e montado, desenvolvidos pela autora, 2016. • Fig. 56 – Modelos tridimensionais, simulação do módulo em uma unidade, duas e quatro, demonstrando as diferentes dimensões. Autoral, 2016.

• Figura 57: Materiais utilizados na construção dos módulos, suas medidas e respectivas quantidades. Desenhos tridimensionais desenvolvidos pela autora, 2016. • Figura 58: Modelo tridimensional do novo expositor de alimentos nas feiras orgânicas, desenvolvido pela autora, 2016. • Figura 59 e 60: Modelo expositor explodido, exibindo peças para montagem e detalhe dos encaixes utilizados, desenvolvidos tridimensionalmente pela autora, 2016. • Figura 61: Peças feitas com madeira de bambu, utilizadas no expositor com medidas. Desenho tridimensional desenvolvido pela autora, 2016. • Figura 62: Modelo renderizado cobertura com um módulo e expositor. Desenho 3D desenvolvido pela autora, 2016.

• Figura 63 e 64: Modelos renderizado cobertura com dois módulos e oito expositores. Desenhos em 3D desenvolvidos pela autora, 2016. • Figuras 65 e 66: Modelos renderizados cobertura com quatro módulos e oito expositores com diferente configuração. Desenhos em 3D desenvolvidos pela autora, 2016. • Figura 67: Largo da Batata, simulação da disposição das coberturas de acordo com o desenho de piso da praça. Desenho autoral, 2016. • Figura 68: Simulação detalhe de implantação distribuição dos modelos de cobertura no Modelódromo do Ibirapuera, criando novos usos para o espaço. Desenho autoral, 2016. • Figura 69: – Foto montagem coberturas modelas em 3D no Modelódromo do Ibirapuera. Desenvolvido pela autora, 2016. •

Figura 70: Simulação detalhe implantação distribuição dos modelos de cobertura no Parque da Água Branca, substituindo o uso do galpão, onde a feira acontece atualmente. O número de coberturas varia de acordo com a quantidade de feirantes. Desenho autoral, 2016. 110


Referências bibliográficas

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LIVROS • BERNARDO, Júlio. Dias de Feira - 1ª ed. - São Paulo: Companhia das Letras, 2014 CARTILHA SOBRE PRODUTOS ORGÂNICOS. REDE ZERO. Disponível em: http://www.redezero.org/cartilha-produtos-organicos.pdf. Acesso em 10 out. 2016. • FERRARA, Lucrécia. Olhar periférico: Informação, Linguagem, Percepção Ambiental -2ª. ed. – São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1999. •

• JUNQUEIRA, Hélio e PEETZ, Márcia. 100 anos de feiras livres na cidade de São Paulo - São Paulo: Via Impressa Edições de Arte, 2015. • LEI 10.831 DE DE DEZEMBRO DE 2003. Disponível em https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/L10.831.htm . Acesso em 23 set. 2016

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• HIDALGO, Oscar. Manual de construcción com bambú. Universidad Nacional de Colombia, 1981. Disponível em: http://www.basta.jabagalea.fr/tutorielbambou/manual-de-construccioncon-bambu-o.h.lopez.pdf. Acesso em 23 set. 2016. • VARGAS, Heliana. Espaço terciário: o lugar, a arquitetura e a imagem do comércio – São Paulo: Editora SENAC São Paulo, 2001.

DISSERTAÇÕES E TESES: • CLEPS, Geisa. O comércio e a cidade: novas territorialidades urbanas – Sociedade e Natureza. Uberlândia – MG, 16(30): 117-132, jun. 2004. Disponível em: http://www.seer.ufu.br/index.php/sociedadenatureza/article/viewFile/9183/5648Acesso. Acesso em: 29 mar. 2016 • MASCARENHAS, Gilmar e DOLZANI, Miriam. Territorialidade e cultura na metrópole contemporânea - Ateliê Geográfico Goiânia-GO v. 2, n. 2 p.72-87. Ago. 2008. Disponível em: file:///C:/Users/Planejamento/Downloads/4710-18001-2-PB.pdf. Acesso em: 13 abr. 2016

• PADOVAN, Roberval. Bambu na Arquitetura: design de conexões estruturais – Universidade Estadual Paulista , Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação – Programa de pós graduação em Designer, Bauru – 2010. Disponível em: http://www.faac.unesp.br/Home/PosGraduacao/MestradoeDoutorado/Design/Dissertacoes/roberval-braz-padovan.pdf. Acesso em: set 2016. 112


PONTES, Bruno. Cidade e Comida uma aproximação ao tema – Universidade São Paulo, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, São Paulo – 2015.

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Disponível

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• BAMBU CARBONO ZERO. Disponível em: http://bambucarbonozero.com.br. Acesso em: 12 set 2016. • ENGENHARIA CIVIL, UFRJ. Disponível https://blogdopetcivil.com/2015/05/14/versatilidade-e-qualidade-uso-do-bambu-naconstrucao-civil/ . Acesso 04/11/2016.

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• FEIRA MAPS. Disponível em: http://www9.prefeitura.sp.gov.br/secretarias/sdte/pesquisa/feiras/. Acesso em: 30 mar. 2016 • FEIRAS ORGÂNICAS IDEC. Disponível em: http://feirasorganicas.idec.org.br/. Acesso em 30 mar.2016

• IBUKU. Luxury bamboo design. Disponível em: http://ibuku.com/. Acesso em: 04 out. 2016. • PESSOA, FERNANDO. Páginas de Pensamento Político. (Introdução, organização e notas de António Quadros.) Vol. II. Mem Martins: Europa-América, 1986. 1ª Pub. in Revista de Comércio e Contabilidade, nº 3. Lisboa: 25-3-1926. Disponível em: http://arquivopessoa.net/textos/97. Acesso em: 29 mar. 2016 • PINTEREST. Disponível em: https://br.pinterest.com/pin/35606653280651384/. Acesso em: 01 jun. 2016 • SIMÓN VELÉZ. Disponível em: http://www.simonvelez.net/. Acesso 12 set. 2016. • SITIO DA MATA. Disponível em: http://www.sitiodamata.com.br/bambu-para-construcao . Acesso em 15 out 2016.

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