M a ri a n a G o d oi Ru i z
A R QU I T E T U R A DE E M E RG Ê N CI A HABITAÇÃO TRANSITÓRIA
CENTRO UNIVERSITÁRIO SENAC MARIANA GODOI RUIZ
ARQUITETURA DE EMERGÊNCIA HABITAÇÃO TRANSITÓRIA
SÃO PAULO 2016
CENTRO UNIVERSITÁRIO SENAC MARIANA GODOI RUIZ
ARQUITETURA DE EMERGÊNCIA HABITAÇÃO TRANSITÓRIA
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Centro Universitário SENAC como requisito à obtenção do grau de Bacharel em Arquitetura e Urbanismo. Orientadora: Prof. Dra. Valéria Fialho
RUIZ, Mariana Godoi. Arquitetura de Emergêcia - Habitação Transitória. São Paulo, 2016. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacherelado em Arquitetura e Urbanismo) - Centro Universitário SENAC, 2016. Orientadora: Prof. Dra. Valéria Fialho 1. Arquitetura de Emergência 2.Desastres 3.Habitação Transitória 4.Brasil 5. Desabrigados.
RESUMO Desastres são cada vez mais recorrentes e ao longo dos anos vem tomando proporções maiores, esta magnitude se dá pelo fato de que as cidades estão cada vez mais vulneráveis e populosas. Este trabalho tem como finalidade estudar as situações de desastre no Brasil e entender as medidas que atualmente são incapazes de lidar com o problema e, a partir de uma análise teórica, compreender como a arquitetura de emergência pode auxiliar nesse cenário. Análises estas que direcionaram para o projeto de habitação transitória com inserção no Brasil que se adapta a diversas circunstâncias de desastres e aos contextos sociais. Palavras Chave - Arquitetura de Emergência, Desastres, Habitação Transitória, Brasil, Desabrigados.
ABSTRACT Disasters are increasingly recurrent and over the years has taken major proportions, this magnitude is given by the fact that cities are increasingly vulnerable and crowded. This work aims to study the disaster in Brazil and understand the measures that are currently unable to handle the problem, from a theoretical analysis, to understand how the emergency architecture can help in this scenario. These analysis pointed to the transitional housing project with insertion in Brazil that fits various disaster circumstances and social contexts.
Keywords - Emergency Architecture, Disaster, Transient Housing, Brazil, Unsheltered.
LISTA DE ABREVIATURAS COMDEC - Coordenadoria Municipal da Defesa Civil. CNC - Computer Numeric Control. EM-DAT - The International Disaster Database. IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. OMS - Organização Mundial da Saúde . ONG - Organização não governamental ONU - Organização das Nações Unidas. PNADS - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios. SINDEC - Sistema Nacional de Defesa Civil. SINPDEC - Sistema Nacional de Proteção e Defesa Civil. UNDRO - United Nations Disaster Relief Organization. UNHCR - The UM Regugee Agency. UNISDR - The United Nations Office for Disaster Risk Reduction.
LISTA DE FIGURAS Figura 1. Número de Desastres Reportados entre 1900 a 2015
2
Figura 2. Maiores Desastres Naturais no Mundo
3
Figura 3. Ocorrência de Desastres no Mundo entre 200 e 2010
4
Figura 4. - Distribuição por região dos desastres atendidos pela Defesa Civil Nacional
6
EM-DAT: THE OFDA/CRED International Disaster Database. Disponível em <http://www.emdat.be> acesso em 15 março 2016.
Autor, adaptado a parti de: Maiores tragédias naturais dos últimos anos no mundo. ZH notícias, 2013. Disponível em < http://zh.clicrbs.com.br/rs/noticias/noticia/2013/11/relembre-algumas-das-maiores-tragediasnaturais-dos-ultimos-anos-no-mundo-4328917.html?impressao=sim1> acesso em 15 março de 2016. EM-DAT: THE OFDA/CRED International Disaster Database. Disponível em <http://www.emdat.be> acesso em 22 março 2016.
SEDEC, 2009. Disponível em < http://igeologico.sp.gov.br/> acesso em 22 março 2016
Figura 5. Número de Desastres por Países: 1976-2005 7 EM-DAT: THE OFDA/CRED International Disaster Database. Disponível em <http://www.emdat.be> acesso em 22 março 2016.
figura 6. Déficit habitacional por região metropolitana - 1991 a 2000 7 CARDOSO, 2004 apud ANDERS, Gustavo. Dissertação Abrigos Temporários de Caráter Emergencial, São Paulo, 2007.
Figura 7. Linha do Tempo - Desastres no Brasil 1967 – 2016
8
Figura 8. Abrigos em Santa Catarina
11
Figura 9. Abrigos no Acre
11
Figura 10. Abrigos em Mariana.
11
Figura 10. Abrigos em Rondônia
11
Figura 11. Soe Ker Tie House
15
Principais Desastres Ambientais Ocorridos no Brasil. EBC, 2015. Disponível em <http://www.ebc.com.br/noticias/meio-ambiente/2015/11/conheca-os-principais-desastres-ambientaisocorridos-no-brasil> Acesso em 27 março 2016. Rompimento de Barragem,Mariana.G1, 2015. Disponível http://especiais.g1.globo.com/minas-gerais/2015/ desastre-ambiental-em-mariana/1-mes-em-numeros>.Acesso em 27 março 2016. ROSSETO, Luciana. Desabrigados pelas chuvas em SC serão alojados em módulos de madeira.G1,2009. Disponível em < http://g1.globo.com/Noticias/Brasil/0,,MUL974513-5598,00DESABRIGADOS+PELAS+CHUVAS+EM+SC+ SERAO+ALOJADOS+EM+MODULOS+DE+MADEIRA.html> Acesso em 9 abril 2016
MADEIRO, Carlos. Abrigo no Acre vira "minicidade" com juizado, posto de saúde e até cinema. UOL,2015. Disponível em< http://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2015/03/08/abrigo-no-acre-vira-minicidade -com-juizado-posto-de-saude-e-ate-cinema.htm#fotoNav=58> Acesso em 30 abril 2016.
630 Desabrigados não sabem onde vão morar. R7,2015. Disponível em <http://noticias.r7.com/ minas-gerais/uma-semana-apos-tragedia-630-desabrigados-nao-sabem-onde-vao-morar-12112015 >.Acesso em 9 abril 2016. PORFIRO, Mary. Distrito de Nazaré recebe barracas.G1,2015. Disponível em< http://g1.globo.com/ro/rondonia/noticia/ 2015/03/distrito-de-nazare-recebe-barracas-mantimentos-e-agua-potavel-em-ro.html> Acesso em 30 abril 2016. Soe Ker Tie House.Disponível em<http://arqprovisoria.blogspot.com.br/2014/01/projetos-soe-ker-tie-house-tailandia.html>. Acesso em 07 abril 2016.
Figura 12. Soe Ker Tie House
15
Figura 13. Corte Longitudinal
15
Figura 14. Global Village
16
Figura 15. Global Village
16
Figura 16. Global Village desmontado
16
Figura 17. Cartilha explicativa para montagem
16
Figura 18. Softshelter
17
Figura 19. Softshelter montagem.
17
Figura 20. Desenhos Paper Log House
18
Figura 21. Paper Log House – Índia
19
Figura 22.Espaço interno.
19
Figura 23. Desenho Escola Flutuante
20
Figura 24. Escola Flutuante
20
Figura 25. Escola Flutuante
20
Figura 26.WikiHouse montagem
21
Figura 27.WikiHouse produção
21
Soe Ker Tie House. Disponível em<http://arqprovisoria.blogspot.com.br/2014/01/projetos-soe-ker-tie-house-tailandia.html>. Acesso em 07 abril 2016. Desenho Soe Ker Tie House. Disponível em<http://arqprovisoria.blogspot.com.br/2014/01/projetos-soe-ker-tie-house-tailandia.html>. Acesso em 07 abril 2016. Global Village Shelters. Disponível em< http://inhabitat.com/prefab-friday-global-village-shelters/>.Acesso em 01 maio 2016. Global Village Shelters. Disponível em<http://tectonicablog.com/?p=58647>.Acesso em 01 maio 2016. Global Village Shelters. Disponível em<http://tectonicablog.com/?p=58647>.Acesso em 01 maio 2016. Global Village Shelters. Disponível em<http://tectonicablog.com/?p=58647>.Acesso em 01 maio 2016. Softshelter,2011. Disponível em <http://www.dezeen.com/2011/08/23/softshelter-by-molo/>.Acesso em 20 abril 2016. Softshelter,2011. Disponível em <http://www.dezeen.com/2011/08/23/softshelter-by-molo/>.Acesso em 20 abril 2016.
Pin's Case Study: Shigeru Ban's Paper Log House. Disponível em http://indayear2studio-1314s1.blogspot.com.br/ 2013/09/pins-case-study-shigeru-bans-paper-log.html#.V1B9bpErLIU. Acesso em 02 abril 2016. Paper Log House Índia. Disponível em http://www.architectmagazine.com/project-gallery/paper-log-house-india> Acesso em 02 abril 2016. Projetos Humanitário de Shigueru Ban. Disponível em < http://www.archdaily.com.br/br/01-185116/projetoshumanitarios-de-shigeru-ban> Acesso em 02 abril 2016. Escola Flutuante. Disponível em<http://noctulachannel.com/escola-flutuante-cheias-makoko/>.Acesso em 27 abril 2016. Disponível em<http://www.archdaily.com.br/br/01-106805/escola-flutuantes-de-makoko-slash-nle-architects>. Acesso em 27 abril 2016. Escola Flutuante de Makoko. Disponível em< https://arquiteturascontemporaneas.wordpress.com/2013/11/27/ x-bienal-de-arquitetura-escola-flutuante-de-makoko-como-virar-sua-cidade/ >. Acesso em 27 abril 2016. WikiHouse. Disponível em < http://www.zdnet.com/article/wikihouse-an-open-source-home-design-and-build-kit/> .Acesso em 20 abril 2016. WikiHouse. Disponível em <http://semema.com/imprima-sua-casa-em-5-etapas/> .Acesso em 20 abril 2016.
Figura 28. TETO esquema de montagem
22
Figura 29. TETO montagem
22
Figura 30 implantação TETO
23
Figura 31. Implantação TETO
23
Figura 32. Super Adobe revestido
24
Figura 33. Construção
24
Figura 34. Espaço interno
24
Figura 35. Espaço interno
24
Figura 36. CCO1 fechado
25
Figura 37. CCO1 montado
25
Figura 38. Processo de montagem
25
Figura 39. Processo de montagem
26
Figura 40. Espaço Interno
26
Figura 41. Flat-Pack implantação.
27
Figura 42.Flat-Pack implantação
27
Figura 43. Exos desmontado
28
Figura 44. Exos implantação
28
Figura 45. Processo de montagem
28
TETO,Brasil. Disponível em <http://www.techo.org/paises/brasil/> .Acesso em 21 abril 2016.
TETO,Brasil. Disponível em <http://www.techo.org/paises/brasil/> .Acesso em 21 abril 2016. TETO,Brasil. Disponível em <http://www.techo.org/paises/brasil/> .Acesso em 21 abril 2016. TETO,Brasil. Disponível em <http://www.techo.org/paises/brasil/> .Acesso em 21 abril 2016. Super Adobe. Disponível em<http://www.dwell.com/profiles/article/castles-made-sand>.Acesso em 22 abril 2016. Super Adobe. Disponível em< https://www.jovoto.com/projects/300house/ideas/12137>.Acesso em 22 abril 2016.
Super Adobe. Disponível em< http://inhabitat.com/build-your-own-disaster-proof-earth-home-using-materials-of-war/>. Acesso em 22 abril 2016.
Super Adobe. Disponível em< http://inhabitat.com/build-your-own-disaster-proof-earth-home-using-materials-of-war/>. Acesso em 22 abril 2016. CCO1. Disponível em<http://www.designboom.com/design/concrete-canvas/>. Acesso em 02 maio 2016 Architecture for Humanity, Design Like You Give a Damn: Architectural Responses to Humanitarian Crises, 2006. Pág. 86-87 CCO1. Disponível em<http://www.designboom.com/design/concrete-canvas/>. Acesso em 02 maio 2016 Architecture for Humanity, Design Like You Give a Damn: Architectural Responses to Humanitarian Crises, 2006. Pág. 86-87 CCO1. Disponível em<http://www.designboom.com/design/concrete-canvas/>. Acesso em 02 maio 2016 Architecture for Humanity, Design Like You Give a Damn: Architectural Responses to Humanitarian Crises, 2006. Pág. 86-87 Flat- Pack. Disponível em< http://popupcity.net/ikea-launches-flat-pack-modular-refugee-shelter/>.Acesso em 02 abril 2016. Flat- Pack. Disponível em< http://popupcity.net/ikea-launches-flat-pack-modular-refugee-shelter/>.Acesso em 02 abril 2016. IKEA designs. Disponível em< http://www.theplaidzebra.com/ikea-designs-pre-made-tiny-homes/ >.Acesso em 02 abril 2016. IKEA designs. Disponível em< http://www.theplaidzebra.com/ikea-designs-pre-made-tiny-homes/ >.Acesso em 02 abril 2016. Meet the Exos. Disponível em<http://www.reactioninc.com/exo>. Acesso em 10 maio 2016. Meet the Exos. Disponível em<http://www.reactioninc.com/exo>. Acesso em 10 maio 2016. Meet the Exos. Disponível em<http://www.reactioninc.com/exo>. Acesso em 10 maio 2016.
SUMÁRIO 1.
1
2.
2
3.
6
ARQUITETURA EM UM CENÁRIO PÓS - DESASTRE
INTRODUÇÃO DESASTRES
2.1
DESASTRES NO BRASIL
2.2
10
ABRIGO TEMPORÁRIO NO BRASIL
12
4.
13
HABITAÇÃO TRANSITÓRIA
5.
14
ESTUDOS DE CASO
5.1
15
5.2
16
Soe Ker Tie House
Global Village Shelters
5.3
17
5.4
18
5.5
20
Softshelter. Paper Log Houses.
Escola Flutuante de Makoko. 21
5.7
22
WikiHouse. TETO.
30
6.1
31
PROJETO
5.8
24
Super Adobe.
5.9
25
CCO1 ou Concrete Canvas.
5.10
26
Flat-Pack Refugee Shelter
5.11
28
Reaction Housing System
5.6
6.
5.12
Considerações
29
32
HABITAÇÃO TRANSITÓRIA
6.3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
48
BIBLIOGRAFIA
PARÂMETROS PROJETUAIS
6.2
7.
47
Terremoto Haiti ,2010.
DisponĂvel em < http://ici.radio-canada.ca/emissions/point_du_jour/2014-2015/chronique.asp?idChronique=360089> Acesso em: 07 abril 2016.
1. INTRODUÇÃO
O trabalho tem como intuito refletir sobre a importância da criação de estruturas temporárias que atendam às necessidades de uma família desabrigada, analisando situações de uma forma global e com enfoque no Brasil. As análises são feitas a partir de dados que comprovam a imensidão e complexidade do tema, deixando clara a insuficiência de atitudes que envolvam o problema. O Brasil passa todos os anos por situações de desastres onde milhares de famílias ficam desabrigadas e desamparadas, desta forma o trabalho constata o porquê do aumento das ocorrências de desastres em meio urbano e como o poder público reage a estas situações. Este aprofundamento teórico e as análises de casos de abrigos temporários já instalados no Brasil, permitem a compreensão da preocupante deficiência neste contexto. Entende-se que a arquitetura de emergência pode sanar os problemas de infraestrutura em situações de desastres; por meio de estudo de caso foi possível perceber que projetos de abrigos temporários já instalados ao redor do mundo tiveram uma grande importância no aumento da qualidade de vida das famílias desabrigadas. Contudo, o objetivo final desta pesquisa é a realização de um projeto de habitação transitória com inserção no Brasil, que atenda aos critérios e necessidades apontadas.
Portanto, a estrutura do trabalho pode ser dividida em duas partes, enquadramento teórico e projeto. O capítulo 2 abrange dados gerais sobre o que é desastre e como ele está presente no mundo como também a compreensão de diversos fatores do desastre no Brasil e como funcionam os abrigos temporários no país. O capítulo 3 entende como a arquitetura pode ajudar nessas situações e o 4 enfim define a proposta de infraestrutura capaz de amenizar os impactos de um desastre, a habitação transitória. O capitulo 5 estuda 11 projetos, não somente no contexto de alojamento, mas aqueles que se adequam ao tema de temporalidade e emergência, são analisados e evidenciados pontos como: matéria prima, tempo e modo de construção, sustentabilidade e flexibilidade na adaptação de situações e terrenos, o capítulo também conta com considerações e conclusões sobre os projetos estudados a fim de ressaltar os prós e contras. A segunda parte do trabalho se inicia no capítulo 6, com a conclusão de parâmetros projetuais, definidos a partir das análises anteriores e o projeto final de habitação transitória, que visa atender todas as necessidades estudadas.
1
2. DESASTRES A ocorrência de desastres sempre esteve presente no mundo mas, com o aumento das áreas urbanizadas e o crescimento populacional, seus danos se tornaram mais devastadores. Este trabalho pretende tratar dessas catástrofes em meio urbano. Por definição, desastre é o resultado de eventos adversos, naturais ou provocados pelo homem, sobre um cenário vulnerável, envolvendo extensivas perdas e danos humanos, materiais, econômicos ou ambientais. Causando assim, grave perturbação ao funcionamento de uma comunidade ou sociedade, e excedendo a capacitação que a mesma possui de lidar com o problema utilizando meios próprios¹. O desastre acarreta uma situação de emergência ou até uma situação de calamidade pública, porém o cenário atual não
possui respostas rápidas e organizadas para tais acontecimentos, muito menos prevenções. No contexto presente existe um grande despreparo do Estado, uma parca contribuição do meio acadêmico e uma falta de organização social, fatores que prorrogam um enfrentamento mais efetivo e eficaz do problema.1 As ações humanas tem intensificado a ocorrência de desastres. Más políticas urbanas combinadas com o descontrolado crescimento populacional, segregação sócio espacial, incansável exploração dos recursos naturais e mudanças climáticas decorrentes destas interferências, são fatores que criam cenários urbanos frágeis e vulneráveis.2
Número de Desastres Reportados entre 1900 a 2015:
figura 1.
Todos os Continentes Américas
¹BRASIL.Decreto nº 7.257/2010, Sistema Nacional de Defesa Civil (Sindec). ²REGO, Ana Elizabeth. Análise e diretrizes para a produção de abrigos temporários em situações de emergência. Revista Especialize Online, Recife. 2013. 2
Segundo dados do EM-DAT³, desastres pelo o mundo aumentaram de forma significante de 1900 a 2014, agravando-se ainda mais a partir de 1960, período de intensa urbanização em grande parte dos países. Aponta-se também semelhante crescimento nas Américas. A UNISDR4 estima que a população mundial em 2030 será de 8,1 milhões, sendo que 5 milhões viverão em áreas urbanizadas. Segundo Ian Davis5, há diferenças significativas entre desastres que ocorrem em países desenvolvidos e em subdesenvolvidos. Existem consequências singulares para cada região por envolverem condições sociais, culturais, políticas e econômicas, como diferenças na prevenção do desastre e nas ações pós-desastre.
VULNERABILIDADE
FATORES SOCIOECONÔMICOS
FATORES FÍSICOS
Fatores de Vulnerabilidade, adaptado a partir de UNISDR,20124
figura 2.Maiores
Desastres Naturais no Mundo
³ EM-DAT: The International Disaster Database. 4 UNISDR -The United Nations Office for Disaster Risk Reduction - UNISDR, 2012,pág.18 disponível em: < http://www. unisdr.org/files/31963_predisasterrecoveryweb.pdf> acesso em:22 março 2016. 5 O arquiteto Ian Davis é especialista em abrigos de emergência, reconstrução e redução de riscos dos desastre desde 1972. Teorizou o tema “Arquitetura de emergência” pela primeira vez, em 1978. DAVIS, Ian. Arquitectura de Emergencia.Barcelona,1980 apud. FRADE, Rita. Dissertação Arquitectura de Emergência Projectar para zonas de catástrofe.Portugual, 2012.
3
Países subdesenvolvidos apresentam números de mortes e desabrigados maiores por estarem dentro de um quadro de vulnerabilidade, devido a habitações irregulares em locais de risco, falta de infraestrutura e à falta de políticas de planejamento para a prevenção de desastres, existindo assim, uma relação direta com a pobreza. Contudo, países desenvolvidos não são menos propícios a desastres, porém possuem uma estrutura socioeconômica mais capacitada para responder e lidar com a situação pós- desastre. Desastres matam milhares de pessoas todos os anos, e uma parcela muito grande é
desalojada e perde todos os seus bens. Estima-se que no ano de 2013 cerca de 20 milhões de pessoas ficaram desabrigadas6 devido a este tipo de ocorrência. Desabrigado, segundo a designação dada pela SINDEC7, é aquele que depende exclusivamente das providências do Estado para obtenção de moradia provisória e suportes como alimentação, vestuário, medicamentos, dentre outras. Segundo Valencio8, na condição de abrigado, o afetado tem sua rotina do lar modificada, o que altera o habitus9 e resulta na perda das referências como cidadão e como indivíduo, dificultando assim, sua recuperação tanto física quanto psicológica. Portanto é necessário um compromisso pós-desastre que ajude na recuperação digna e qualificada do desabrigado, minimizando o impacto e auxiliando as vítimas.
figura 3.
Ocorrência de Desastres no Mundo entre 200 e 2010 (EM-DAT,2010)
TERRA, 22 milhões ficam desabrigados em 2013 por desastres naturais. 2014. Disponível em:< http:// noticias.terra.com.br/mundo/22-milhoes-ficam-desabrigados-em-2013-por-desastres-naturais,8309c2a1b2188410VgnCLD200000b2bf46d0RCRD.html>.Acesso em: 22 março 2016. 7 SINDEC - Sistema Nacional de Defesa Civil 8 VALENCIO, N.F.L.S.Práticas de reabilitação no pós-desastre relacionado às chuvas: lições de uma administração participativa de abrigo temporário. In: IV Encontro da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Ambiente e Sociedade, 2008, Brasília. 9 Habitus - “interiorização da exterioridade e de exteriorização da interioridade”. Bourdieu, 1994, p. 60-61. 4 6
Desmoronamento em Kathmandu , Nepal.
DisponĂvel em < http://iissonline.net/the-tricky-ethics-of-the-lucrative-disaster-rescue-business/> Acesso em 07 abril 2016.
5
2.1 DESASTRES NO BRASIL No Brasil, os principais desastres são inundações, enchentes, deslizamentos do solo, eventos estes que se tornam cada vez mais frequentes e são reflexos de um país com problemas socioeconômicos atrelados a uma grande taxa de urbanização10 nas metrópoles. Pesquisas da PNADS11 mostram que, em 2003, 15% da população brasileira recebeu um salário mínimo por mês e 36% recebeu entre um a três salários. Elementos que refletem como os problemas econômicos estão relacionados com o déficit habitacional no país. Segundo dados do EM-DAT³, o Brasil é um dos países do mundo mais atingidos por eventos hidro meteorológicos, tendo registrado no período de 1960 a 2008, 5.720 mortes e mais de 15 milhões de pessoas desabrigadas. Ainda segundo o EM-DAT, no Brasil ocorrem cerca de 30 a 119 desastres por ano12. Estes números comprovam que as cidades brasileiras são alvos de diversas situações de catástrofes provocadas pelas ações do homem como, por exemplo, as mudanças climáticas decorrentes da degradação ambiental e o intenso processo de urbanização das cidades. Esta súbita expansão aumenta a concentração populacional nas áreas urbanas periféricas o que ocasiona ocupações em áreas impróprias para moradia e mais permeáveis a desastres, assim como construções que não seguem as condições legais, o que aumenta ainda mais os riscos. Por isso, a pobreza não é o único motivo de desastres, mas é um fator condicionante, pois a classe social mais baixa está sempre mais vulnerável. 6
figura 4. -
Distribuição por região dos desastres atendidos pela Defesa Civil Nacional (SEDEC, 2009)
Segundo a Organização Mundial da Saúde no Brasil13, as condições de vulnerabilidade são resultados de processos sociais e ambientais e dessa forma podem ser definidas como vulnerabilidade socioambiental, uma combinação dos fatores: • Sociais, que resultam na precariedade das condições de vida e proteção social (trabalho, renda, saúde e educação, assim como aspectos ligados a infraestrutura, como habitações Cf. Anexo 1. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 2013. d Disponível em < http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/ populacao/trabalhoerendimento/pnad2013> acesso em 24 março 2016. 12 Cf. Figura 5. 13 OMS. Desastres Naturais e Saúde no Brasil. Série Desenvolvimento Sustentável e Saúde 2.Brasília,2014, 1ª edição.Pág.12 . 10 11
figura 5. Número
de Desastres por Países: 1976-2005 (EM-DAT)
saudáveis e seguras, estradas, saneamento, enfigura 6. Déficit habitacional por região metropolitana tre outros) que tornam determinados grupos po- 1991 a 2000 (CARDOSO, 2004) pulacionais principalmente entre os mais pobres, vulneráveis aos desastres; • Ambientais, resultantes da degradação ambiental (áreas de proteção ambiental ocupadas, desmatamento de encostas e leitos de rios, poluição de águas, solos e atmosfera, entre outros) que tornam determinadas áreas mais vulneráveis frente à ocorrência de ameaças e seus eventos subsequentes. De acordo com o censo de 201014, 11.425.644 brasileiros vivem em aglomerados subnormais, onde 49,8% reside na região Sudeste do país, com maior concentração nas metrópoles de São Paulo e Rio de Janeiro, estados que desde 2000 possuem os maiores registros de déficit habitacional. 14
IBGE. Censo Demográfico 2010. Resultados Disponível em < http://censo2010.ibge.gov.br/resultados>. Acesso em: 26 março 2016.
7
1967
1979
2009
CARAGUATATUBA - SP deslizamentos
MINAS GERAIS E ESPÍRITO SANTO
NORTE E NORDESTE
3 mil desabrigados (20% da populção da cidade na época)
1974
enchentes 47 mil desabrigados
enchentes 186 mil desabrigados
24 mortos
19 mortos
1984
2010
TUBARÃO - SC
SANTA CATARINA
enchente 90% da cidade submersa 60 mil desabrigados
enchentes 198 mil desabrigados
SÃO LUIZ DO PIRATININGA - SP
49 mortos
8
inundação 24 edifícios tombados pela Condephaat destruídos 700 desabrigados
2011 REGIÃO SERRANA DO RIO DE JANEIRO
2016 SÃO PAULO
enchentes e deslizamentos 35 mil desabrigados
enchente e deslizamentos 57 desabrigados
916 mortos
18 mortos
... figura 7.
2015 MARIANA - MG
rompimento de barragens 82% das edificações da cidade destruídas 1.594 desabrigados 20 mortos
Linha do Tempo - Desastres no Brasil 1967 - 2016
Como citado, os desastres sempre estiveram presentes, mas com a urbanização e a interferência do homem, como no caso de Mariana – MG, seus danos são mais intensos e recorrentes, sempre atingindo uma escala maior de famílias. Foram analisados alguns dos maiores desastres registrados no Brasil, que causaram grave perturbação. Dessa forma é necessário entender como se dá o suporte em relação a alojamentos para os desabrigados, após os desastres desta magnitude.
9
2.2 ABRIGOS TEMPORÁRIOS NO BRASIL O abrigo temporário é uma resposta imediata a uma situação de desastre, que no Brasil é de responsabilidade do órgão Municipal de Defesa Civil (COMDEC ou SINPDEC), de competência municipal, estadual ou federal, e que pode ter cooperação de entidades privadas, públicas ou humanitárias. São aplicados dois tipos de instalações de abrigos: os fixos e os móveis. Os fixos são edificações públicas ou privadas adaptadas para habitação (ex.: escolas, ginásios, clubes, hotéis, quarteis entre outras) e os móveis são constituídos por barracas instaladas em áreas pré-determinadas da região afetada (ex.: campos de futebol, quadras poliesportivas descobertas, descampados horizontais, entre outras.)15 Apesar de serem ações recorrentes no país, ainda não são feitas de forma ideal, havendo muitas falhas nos aspectos de infraestrutura, higiene, alimentação, assistência médica e psicossocial e muitas vezes com superlotação, o que afeta a privacidade, criando um local inadequado para as famílias desabrigadas. Todas as pessoas reagem psicologicamente quando se veem envolvidas numa situação de desastre. No entanto, durante o tempo de permanência em um abrigo temporário, as suas reações tornam-se hostis perante três manifestações:
aglomeração, desenraizamento e incerteza.16 O momento pós-impacto é onde o grupo mais sofre, quando contabilizam os danos materiais e sentem os efeitos dos danos psicológicos. Os abrigos em sua maioria não seguem um compromisso de reabilitação digna para com os afetados, mas fortificam os problemas já existentes e intensificam a degradação de suas vidas. As famílias são submetidas a uma crise de sentido, em razão da descaracterização social que não lhes permitia situar-se, reconhecer-se e ocupar um espaço próprio.17 Analisando casos de abrigos temporários em vários estados do país, é possível concluir que as ações tomadas são incapazes de minimizar o sofrimento social e providenciar o mínimo necessário, dando continuidade ao desastre.
Administração de abrigos temporários. Secretaria de Estado da Defesa Civil.Rio de Janeiro, 2006. 1ªed. 246 pág. 16 BEDOYA, F. G. Habitat transitório y vivenda para emergências. Universidad Nacional de Colombia.Colombia 2004. 17 VALENCIO, N.F.L.S. Abandonados nos desastres: uma análise sociológica de dimensões objetivas e simbólicas de afetação de grupos sociais desabrigados e desalojados. Brasília, 2001. apud BOURDIEU, P. Meditações pascalinas. Rio de Janeiro, 2001. 15
10
Análises de Abrigos temporário em regiões do Brasil SANTA CATARINA
figura 8. Abrigos em Santa Catarina
Em 2008, 1.200 famílias desalojadas, que já vivam em um ginásio desde que tiveram suas casas destruídas pela chuva, foram alojadas em moradias provisórias de madeira. A previsão era de que as famílias permanecessem nos módulos de 25m² e 37m² construídos dentro de 6 galpões alugados por 12 meses. Os banheiros e cozinhas eram de uso coletivo.
ACRE
figura 9. Abrigos no Acre
Em 2015, 5.000 famílias desabrigadas, foram alojadas no Parque de Exposição de Rio Branco, separadas por divisórias de madeira e lonas.Os banheiros e cozinhas eram de uso coletivo.
MINAS GERAIS
figura 10. Abrigos em Mariana.
Em Mariana 300 pessoas ,desabrigadas pelos rompimentos das barragens, são instaladas no ginásio poliesportivo da cidade. Nos dias seguintes a mineradora Samarco, responsável pelas barragens, ofereceu transferência para hotéis por período provisório e casas de aluguel por período permanentes.
RONDÔNIA
A Defesa Civil abrigou 115 famílias afetadas por enchentes em barracas de emergência implantadas em terrenos vazios da região. figura 10. Abrigos em Rondônia.
11
3. ARQUITETURA EM UM CENÁRIO PÓS-DESASTRE
Compreende-se arquitetura de emergência como o lado da arquitetura que lida com as urgências, tendo respostas rápidas em relação a infraestruturas 18, numa situação inesperada como em um momento de pós-desastre. Esta pesquisa pretende tratar de alojamentos, ainda que a arquitetura de emergência possa se envolver em outros campos e programas. Segundo Ian Davis5 existem três respostas para esses tipos de situação: a imediata – período de socorro imediato; a temporária – período de reabilitação; e a permanente – período de reconstrução. Também pela UNDRO19 foram estabelecidas quatro fases de respostas: fase 0 – momentos anteriores ao desastre, de prevenção e preparação de ações rápidas; fase 1- até o quinto dia após o acontecimento; fase 2- do sexto dia ao terceiro mês; e a fase 3 – período de reconstrução. A resposta imediata consiste instintivamente na procura de um abrigo. alguns desabrigados conseguem se instalar em casa de amigos e familiares, outros em hotéis. Contudo, uma grande parcela não possui essas opções, e vão para abrigos improvisados pela defesa civil. Temporária é a resposta transitória entre o momento imediato a reabilitação completa. Esta deve envolver as questões de temporalidade e habitação mínima.
Entende-se que as soluções que a arquitetura pode proporcionar devem ter como princípios atender as necessidades fundamentais do indivíduo, as condições de habitar, requisitos que irão garantir a identidade e dignidade que o desabrigado tem como direito.
"É chocante que os arquitetos não trabalhem para atender às necessidades urgentes dos povos tocados por crises naturais e humanitárias. Temos de encontrar formas para abrigar pessoas (depois de um desastre) que são adaptadas à realidade econômica, aos terrenos, aos desastres e perigos locais e aos materiais disponíveis. Nós temos as habilidades e competências para fazer isso. Não devemos esquecer que a base da nossa profissão é fornecer a todas as pessoas um lugar decente para viver." 20
Infraestrutura - Base indispensável à edificação, à manutenção ou ao funcionamento de uma estrutura concreta ou abstrata, visível ou percebida racionalmente. 19 United Nations Disaster Relief Organization. Natural Disasters and Vulnerability Analysis.1980 20 Coulombel, P. Beyond Shelter Architecture and Human Dignity 2011, p. 287. 18
12
4. HABITAÇÃO TRANSITÓRIA Habitação Transitória é uma estrutura de alojamento temporária para situações extremas. A necessidade de um alojamento é essencial, ele é um fator condicionante para a reabilitação e segurança do afetado. A transitoriedade traduz o abrigo passageiro, que se destina apenas a durar por um determinado tempo e situação, onde o contexto da emergência será o originador destas características. Segundo Babister21, o abrigo atende as necessidades básicas, como proteção dos elementos externos, sendo ele um espaço físico, preservação da dignidade, dando á vitima controle da situação, orientação e identidade, onde o abrigo pode ser visto, mesmo que provisório, como a imagem de um lar. Este abrigo se trata de um habitar atípico, e por estar em um contexto particular, tende a seguir parâmetro e critérios para ser construído. Algumas premissas fundamentais são o rápido fornecimento, baixo custo, ser adaptável e de fácil montagem, de preferência com a participação do usuário. Deve se levar em consideração também os aspectos locais, sociais e culturais.
"Habitar, é um fenômeno complexo, que se desenvolve em contextos espaciais e temporais e acontece mediante a ocupação de um Lugar, de uma estrutura física que muda às vezes muito rapidamente mas que apesar de tudo mantém a sua identidade durante algum tempo." 22
BABISTER, Elizabeth. The Emergency Shelter Process with Application to Case Studies in Macedonia and Afghanistan. Journal of Humanitarian Assistance, 2002 22 Norberg-Schulz, C. Genius Loci: Hacia una Fenomenología de la Arquitectura. Nueva York,1980. apud GONÇALVES, Bruno.Dissertação Arquitetura de emergência: O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe. Portugual,2015. 21
13
5. ESTUDOS DE CASOS O estudo tem como finalidade analisar e compreender 11 projetos, construídos ou não, que irão servir como referência para o desenvolvimento do projeto final da Habitação Transitória, que visa sua implantação no Brasil. Os projetos serão abordados e comparados por uma questão qualitativa e quantitativa, itens como: o tempo de montagem, matéria prima, técnica construtiva, implantação, sustentabilidade, reciclagem, mão de obra e flexibilidadede adaptação. Serão analisados projetos emergenciais, como foco em alojamentos, contudo serão estudadas outras obras que se adequam ao tema em relação à temporalidade e estrutura.
14
5.1 Soe Ker Tie House. O projeto Soe Ker Tie House que tem como tradução casas de borboletas, abriga um orfanato em Noh Bo, Tailândia. Possui capacidade para 24 crianças refugiadas de guerra. Foi realizado pelo escritório TYIN Tegnestue Architects,
5.1.1 Descrição do Projeto. Seus componentes estruturais são pré-fabricados e a montagem é feita no local da implantação. Alguns materiais construtivos são colhidos no próprio local, pelo fato do projeto levar em consideração as técnicas locais, como a tecelagem com bambu, que foi utilizada nos fechamentos dos abrigos. O telhado possui as águas invertidas, que proporciona ventilação natural, captação da água da chuva e sua fundação eleva a construção do solo o que elimina os problemas com a umidade. O projeto faz uso de cores em seu acabamento e entre os módulos foram criados espaços de lazer e convivência, com a intenção de proporcionar às crianças o seu próprio espaço privado, um lugar onde elas possam interagir brincar e identificar como lar.
5.1.2 Materiais - Revestimento de bambu; - Estrutura pré-fabricada de madeira e aço, que são conectadas por parafusos; - Telhado metálico pré-fabricado; - Fundação estruturada sobre pneus velhos e concreto. (de cima para baixo) figura 11. Soe Ker Tie House, figura 12. Soe Ker Tie House e figura 13. Corte Longitudinal.
15
5.2 Global Village Shelters. Global Village Shelters desenvolvido por Daniel Ferrara e Mia Ferrara com colaboração da organização Architecture for Humanity, são abrigos de emergência de caráter temporário, foram utilizados em desastres no Caribe, Afeganistão, Paquistão e Haiti.
5.2.1 Descrição do Projeto
Estima-se que possui durabilidade de até cinco anos, sua área total é de 6,25m² e o espaço interno é livre, podendo abrigar até quatro pessoas. Todos elementos de sua estrutura são compostos por peças pré-fabricadas. A montagem destas peças é feita de forma simples e rápida, sendo entregue uma cartilha explicativa para sua construção, onde o próprio abrigado pode montar com facilidade e em minutos. Sua estrutura é leve e barata e ao estar desmontada é extremamente compacta, facilitando sua circulação e distribuição para qualquer área.
5.2.2 Materiais - Placas de polipropileno. (de cima para baixo): figura 14. Global Village, figura 15. Global Village e figura 16. Global Village desmontado.
16
figura 17. Cartilha explicativa para montagem.
5.3 Softshelter Concebido pelo escritório canadense Molo, é um sistema de divisórias, de caráter emergencial imediato, que tem como finalidade proporcionar privacidade em abrigos improvisados após uma situação de desastre.
5.3.1 Descrição do Projeto As divisórias são unidas por painéis magnéticos, dessa forma é necessário poucas pessoas para sua montagem, sem necessidade de ferramentas. As separações podem formar quartos individuais ou podem se agrupar para formar outros ambientes, como corredores e salas.
5.3.2 Construção e Materiais.
figura 18. Softshelter
- Kraft sanfonado, que se expande e contrai.
figura 19. Softshelter montagem.
17
5.4 Paper Log Houses. “What is permanent? What is temporary? Even a building made of paper can be permanent as long as people love it,” Shigeru Ban.
Paper Log House é um projeto de habitação temporária, desenvolvido pelo arquiteto japonês Shigeru Ban em 1995, para situações de emergências. Onde foi levado em consideração o custo, sempre que há uma situação de emergência isto é um fator determinante. As habitações foram implantadas em cinco situações de emergência: Japão (1995), Turquia (1999),Índia (2001), Haití, (2010) e Filipinas (2014), sempre havendo diferenças entre elas, havendo flexibilidade no projeto para cada contexto em que foi inserido.
através de papéis descartados o interior dos tubos da estrutura, além de serem impermeabilizados e revestidos com poliuretano transparente. Na Índia a cobertura original dos abrigos foi substituída por uma de forma abobadada, construída com cana de bambu, coberta por esteiras que são tradicionais na região.
5.4.2 Processo Construtivo e Materiais
- Caixas de cerveja cheias com sacos de areia foram usadas para a fundação; - Tubos de papelão no sentido vertical (cada com 106 milímetros de diâmetro e 4 milímetros de espessura), formam as paredes com função estrutural, servindo de apoio para a cobertura; - Lonas de plástico são presas em treliças cons5.4.1 Descrição do Projeto truídas por tubos de papelão formam a cobertu ra, a lona pode ser retirada no verão para permitir Sua primeira implantação foi no Japão, mais ventilação e iluminação. após um terremoto que deixou cerca de 300 mil pessoas desalojadas. Shigeru Ban desenhou um abrigo de emergência de baixo custo e de construção rápida, que é facilmente montado e desmontado com materiais reutilizáveis, podendo ser descartados e reciclados, onde cada elemento desempenha uma função. Cada habitação foi construída entre seis e dez horas e com espaço interno de 16m². O mesmo projeto foi implantado na Turquia em 1999, porém com alterações no modelo para se adaptar ao local, tendo dimensões maiores, pois as famílias turcas são mais numerosas. Como clima mais ameno, preocupações em relação ao isolamento térmico foram tomadas, reforçando figura 20. Desenhos Paper Log House
18
figura 21. Paper Log House - Ă?ndia
figura 22.Espaço interno.
19
5.5 Escola Flutuante de Makoko. O arquiteto Kunlé Adeyemi do NLE Architects, com o patrocínio do Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas (PNUD) e a Heinrich Boell Foundation, da Alemanha, realizou o projeto de uma Escola Flutuante em 2012 na cidade de Lagos, uma das 10 cidades mais poluídas no mundo, que sofre por frequentes inundações. Com a escola flutuante, crianças da região não ficarão sem aula nos períodos de cheias, podendo chegar à escola utilizando barco e canoas, que são típicos na região.
5.5.1 Descrição do Projeto A escola que tem como composição uma seção triangular pode abrigar até 100 crianças e possui 10 metros de altura e três andares, construída e sustentada por uma base flutuante de 32m². Conta com uma área de lazer, sala de aula e áreas livres, não podendo depender de eletricidade e nem de água, possui uma estrutura de painéis solares e um sistema de captação de água da chuva em sua cobertura.Seus elementos construtivos contam com materiais reciclados, mão de obra e técnicas disponíveis no local.
5.5.2 Construção e Materiais. - 256 barris de plástico formam a base flutuante de 32m²; - A estrutura e o acabamento tem como matéria prima principal a madeira reutilizada; - O fechamento é feito em algumas partes por ripas ajustáveis de madeira, que funcionam como persianas. (de cima para baixo) figura 24. e 25. 20
Escola Flutuante
figura 23. Desenho Escola Flutuante
5.6 WikiHouse Módulos para imprimir e construir uma casa com poucos recursos por Alastair Parvin e Nick Ierodiaconou, que deram inicio ao projeto das WikiHouses em 2011. Baseia-se em casas impressas em máquinas de CNC, onde os arquitetos disponibilizam os modelos em uma biblioteca virtual de livre acesso que qualquer um pode baixar, adaptar, imprimir e construir.
5.6.1 Descrição do Projeto. “WikiHouse é um programa livre, usando um programa de modelagem 3D, juntamente com uma impressora que corta madeira (CNC), você pode construir a partir do zero, importar alguns designs do site do WikiHouse, ou misturar os dois. Então você manda seu desenho para um serralheiro, que irá cortar as peças de madeira.” diz Parvin. 23 Funciona como um quebra-cabeça, onde as partes são encaixadas sem necessidade de ferramentas, e não é preciso ter habilidade especifica ou treinamento para montar. Recentemente foi dado inicio ao um projeto de WikiHouse em favelas do Rio de Janeiro, onde querem criar um ecossistema colaborativo dentro da favela baseada no Open Sourcex.
figura 26.WikiHouse montagem
5.6.2 Construção e Materiais. - Protótipos realizados com madeira compensada. 23
Parvin, Alastair.Architecture for the people by the people. Disponível em: < https:// www.ted.com/talks/alastair_parvin_architecture_for_the_people_by_the_people?language=pt-br> Acesso em 23 maio 2016
figura 27.WikiHouse produção
21
5.7 TETO TETO é uma ONG que constrói casas, com ajuda de voluntários, para pessoas em áreas de risco. A ONG articula com as subprefeituras de São Paulo para buscar os bairros de periferia onde há demanda por esse tipo de suporte habitacional.
5.7.1 Descrição do Projeto.
8. Durante dois dias os voluntários constroem as casas com placas pré-fabricadas de madeira; 9. No final do segundo dia a casa é finalizada e entregue a família, após um tempo os voluntários retornam para pintar as casas construídas.24
5.7.2 Construção e Materiais.
O projeto é baseado em casas pré-molda- - Placas de madeira pré-fabricadas. das de madeira que variam entre 18m² e 15m² , criadas por engenheiros e arquitetos da ONG. O processo demora meses: selecionar as famílias, organizar espaços, comprar e entregar materiais. As construções das casas duram dois dias, com auxílio de voluntários em um mutirão e das próprias famílias beneficiadas. O procedimento do TETO funciona da seguinte forma: 1. O TETO avalia uma comunidade e as condições de moradias das famílias; 2. Os voluntários se reúnem com a liderança da comunidade visitada e apresentam o trabalho da figura 28. TETO esquema de montagem ONG; 3. Com apoio do lideres, o teto faz visitas para conhecer as famílias interessadas no programa; 4. As famílias são listadas e entrevistadas de acordo com o nível de necessidade; 5. Ao se comprometer com a ONG as famílias pagam um valor de R$150,00, de forma simbólica; 6. Na noite que antecede a construção, as famílias desmontam as casas que vivem; 7. O grupo de voluntários fornecem os materiais necessários; 24
TETO, 9 Passos para entender como funciona. Disponível em < http://www.techo.org/paises/brasil/> Acesso em 25 maio 2016.
22
figura 29. TETO montagem
(de cima para baixo) figura 30. e 31. Implantação TETO
23
6.8 Super Adobe A técnica construtiva Super Adobe foi desenvolvida em 1995, pelo arquiteto Nader Khalili, consultor da ONU para a arquitetura sustentável, com apoio do instituto Cal-Earth juntamente com a UNHCR26. Técnica que é capaz de construir abrigos de emergências, como os que foram usados no Irã como asilo para refugiados de guerra. Se baseia em uma construção simples e ecológica, que dispensa o uso de mão de obra qualificada.
5.8.1 Descrição do Projeto. O processo de construção Super Adobe pode ser feito pelo próprio usuário, com custo mínimo, utilizando sacos tubulares, dispostos em forma circular, levantando paredes em formato de cúpula, que possuem função estrutural. As camadas são unidas por arame farpado e as dimensões dos abrigos podem variar e ainda podem ser construídos com mais de um andar. É uma construção rápida, de grande resistência. Com conforto térmico e acústico, resultando da matéria prima principal, a terra. Esta estrutura suporta um revestimento exterior para aumentar a resistência e durabilidade.
(de cima para baixo) figura 32. Super Adobe revestido, figura 33. Construção e figura 34. Espaço interno.
5.8.2 Construção e Materiais. - Sacos de polipropileno, preenchidos terra; - Arame farpado entre as camadas, para a união dos sacos.
24
figura 35. Processo de Montagem.
5.9 CCO1 ou “Concrete Canvas” Projetado Peter Brewin e Will Crawford o sistema possui uma forma semelhante a de uma tenda ou barraca. Tem como finalidade promover alojamento rápido, que pode ser usado como abrigo de emergência, posto médico ou até mesmo para armazenamento de alimentos e equipamentos.
5.9.1 Descrição do Projeto. Entrega, hidratação e inflamento, são os processos para que o Cco1 esteja pronto para uso. Ele é entregue dobrado em um saco plástico com peso médio de 30kg, pode ser implantado por qualquer pessoa sem treinamento e em 40 minutos ele está finalizado. Estima-se que pode ter vida util de 10 anos.
5.9.2 Construção e Materiais. - Cco1 é feito de um tecido impregnado com cimento que em contato com a água, após a secagem, endurece; - É distribuído dentro de uma embalagem de plástico; - Posiciona-se a embalagem no local da implantação então enche-se com água, aguardando por quinze minutos para que o cimento hidrate; - Após esta etapa abre-se o saco e a estrutura começa a inflar através de uma reação química; - Portas e aberturas de ventilação são deixadas sem pano de concreto colado à pele de plástico, permitindo que os pontos de acesso possam ser facilmente cortados.
(de cima para baixo) figura 36. CCO1 fechado e figura 37. CCO1 montado.
figura 38. Processo de montagem.
25
5.10 Flat-Pack Refugee Shelter.
figura 39. Processo de montagem.
Abrigo de emergência projetado pela fundação IKEA25 juntamente com a UNCHR26, vem sendo usado em muitas situações para refugiados de guerra. Se trata de um abrigo flexível, adaptável, modular e embalado em caixas de papelão.
5.10.1 Descrição do Projeto. Sua montagem é rapida, sendo necessárias cerca de 4 horas, ele é leve para o transporte e pode ser montado no local, sem necessidade de ferramentas ou mão de obra especializada, o próprio dasabrigado consegue montar. As unidades possuem cerca de 17 m² e abrigam até cinco pessoas. Tem durabilidade de até 3 anos. Sobre a cobertura existe uma rede metálica que reflete o calor de dia e o retém durante a noite, e um painel solar recolhe a energia necessária para acender uma lâmpada interior.
5.10.2 Construção e Materiais. - Na cobertura possui uma folha de aluminio para o isolamento do abrigo; - Estrutura é metálica e unida com arames; - Revestido em plástico leve semirrígido. IKEA FOUNDATION, companhia transnacional privada, de origem sueca, especializada na venda de móveis. Atualmente é a fundação que mais está presente no mundo e tem como missão financiar programas holísticos , a longo prazo em algumas das comunidades mais pobres do mundo, fornecendo casa, saúde, educação e renda familiar sustentável e ao mesmo tempo ajuda as comunidades lutar e enfrentar a mudança climática . 26 UNCHR, órgão das Nações Unidas, tem como missão dar apoio e proteção a refugiados de todo o mundo, garantindo que todos tem o direito de procurar asilo e encontrar refúgio seguro, tendo fugido violência, perseguição , guerra ou desastre em casa. 25
26
figura 40. Espaço Interno.
(de cima para baixo) figura 41.e figura 42.Flat-Pack implantação.
27
5.11 Reaction Housing System. Projetado pelo americano Michael McDaniel, se baseia em um sistema de abrigos de emergência, constituídos por unidades de alojamentos, chamadas de “Exos”.
5.11.1 Descrição do Projeto. Os “Exos” são módulos que podem se conectar e se necessário receber outras funções, como instalações sanitárias e cozinhas. Os dois elementos que compõem os abrigos são transportados separadamente, facilitando o seu transporte e armazenamento. Seu design permite o armazenamento de longo prazo, com fácil capacidade de empilhamento. Os elementos são montados facilmente e são necessárias 4 pessoas, que demoram em média 2 minutos. Cada unidade possui uma área de 7,2m² (de cima para baixo) figura 43. Exos desmontado e figura 44. Exos
5.11.2 Construção e Materiais.
implantação.
- Dois elementos leves de PVC (uma base para o chão e um escudo que serve como paredes e telhado).
figura 45. Processo de montagem.
28
5.12 Considerações Através das análises realizadas, entende-se que a arquitetura de emergência atua no mundo todo, mas com ênfase em países subdesenvolvidos e existem alguns esforços de agências humanitárias e arquitetos para reverter o quadro do pós-desastre, como a UNHRC. Os abrigos implantados obtiveram triunfo nos cenários pós desastre, oferecendo maior qualidade de vida aos desabrigados. Muitas vezes a reconstrução das famílias demora mais do que o esperado, e nesses casos mais extremos os abrigos foram essenciais para a sobrevivência. Eles foram inseridos em situações diversas, resultantes de desastres naturais, como a Escola Flutuante de Makoko ou, como o orfanato Soe Ker Tie House, para crianças refugiadas de guerra na Tailândia. Estas situações criam diferentes abordagens do tema, com estratégias distintas de técnicas construtivas, tecnologias, matéria prima, custos, tempo de construção, dentre outros. Os materiais empregados nos projetos estudados mostram ser de caráter vernacular, reciclados ou industrializados, sempre levando em consideração a funcionalidade do material, a economia, a leveza e o transporte. Muitos fazem uso de materiais mais atuais e tecnológicos, como as variáveis de termoplásticos. A matéria prima irá definir o tipo de montagem utilizada podendo ser encaixada, impressa ou conectada. A pré-fabricação se torna quase uma premissa de projeto, sendo analisada em todos os estudos. A técnica construtiva definirá a mão de obra para construção. Os abrigos em que o próprio usuário tem a possibilidade de construir apresentam maiores vantagens pois, além de não necessitarem de mão de obra qualificada, o envol-
vimento pode ser benéfico de forma emocional. O contexto cultural foi levado em conta em alguns projetos, mais intensamente no do arquiteto Shigeru Ban, com a Paper Log House, que em todas as suas implantações se envolveu com a cultura local e com o clima do país. Mesmo com foco em alojamento é possível notar algumas outras necessidades em situações como essas para aumentar a qualidade de vida desses refugiados. No entanto há uma deficiência em projetos que envolvem instalações sanitárias e cozinhas, porém este é um tema com outros fatores a se considerar. Este trabalho tem como foco a inserção do projeto de habitação temporária no contexto nacional, e como confirmação da deficiência de abrigos desta natureza no país, foi analisado o projeto TETO, que funciona de forma paliativa para famílias que vivem em áreas irregulares e de extrema pobreza. Tendo em vista os aspectos observados, temos que priorizar alguns critérios de projeto, como abranger as questões de sustentabilidade, pois é necessário se preocupar e entender o que acontecerá com os materiais após os abrigos serem desmontados, uma vez que eles são transitórios. Questões como eficiência energética e captação de água são elementos que qualificam ainda mais o projeto. A economia é um fator essencial e viabilizador para implantação. A funcionalidade e rapidez de transporte são vitais para a entrega em qualquer região e área, por isso, depois de construído, os abrigos precisam ser adaptáveis para qualquer contexto. O espaço interno deve atender as necessidades básicas para abrigar as famílias e fornecer privacidade e dignidade. 29
6. PROJETO O aprofundamento teórico permitiu a compreensão de que situações de desastres são uma realidade eminente; permitiu também embasamentos e estratégias projetuais. As análises de dados permitiram um maior entendimento das situações de desastres no Brasil e a compreensão da deficiência de abrigos de qualidade que suportem as famílias desabrigadas. A partir desta percepção é possível traçar critérios para a implantação de uma habitação transitória que atenda às necessidades básicas e carentes atualmente no país. O estudo de caso possibilitou o conhecimento de referências implantadas em diversas partes do mundo, fornecendo também parâmetros que direcionarão à elaboração do projeto. Ele visa atender as necessidades emergências do desabrigado, tendo características viáveis, levando em conta o contexto do problema e do país. Dignidade, segurança e identidade são fatores que são promovidos a partir de um local de abrigo, onde neste trabalho é definido como habitação transitória.
DIGNIDADE
Dessa forma o projeto precisa conter os seguintes direcionamentos: • Ser transitório, de forma que a situação de emergência dite o tempo de vida do projeto, podendo ele ser renovável; • Racionalização de espaço que abrigue as atividades cotidianas de uma família brasileira; • Possuir flexibilidade de adaptação a situações e locais; • Possuir rapidez de montagem e transporte; • Ter caráter sustentável; • Integrar técnica construtiva que não necessite de mão de obra qualificada, onde o próprio alojado possa construir; • Envolver questões de eficiência energética e captação de água; • Atender as variáveis do local, como o clima; • Matéria prima barata e leve, que se enquadre nos requisitos apontados.
SEGURANÇA
FATORES FISICOS E PSICOLÓGICOS
HABITAÇÃO TRANSITÓRIA IDENTIDADE
30
6.1 Parâmetros Projetuais
TRANSITÓRIO - SITUAÇÃO x TEMPO NECESSIDADES BÁSICAS x COTIDIANO FLEXIBILIDADE
RACIONALIZAÇÃO MODULAR
ADAPTÁVEL RENOVÁVEL DURÁVEL RAPIDEZ - MONTAGEM E TRANSPORTE
TÉCNICA CONSTRUTIVA
CONFORTO AMBIENTAL
SUSTENTABILIDADE SEM MÃO DE OBRA ESPECÍFICA MATÉRIA PRIMA LEVE E BARATA CAPTAÇÃO DE ÁGUA EFICIÊNCIA ENERGÉTICA CLIMA
Desastres - desmoronamentos, eventos hidrometeorológicos, incêdios e vendavais.
Desabrigados - Disponível em <http://super.abril.com.br/blogs/superlistas/os-10-maiores-periodos-de-seca-no-brasil/> e < http://jovempan.uol.com.br/noticias/brasil/governo-do-acre-prepara-operacao-para-desabrigados-retornarem-aos-seus-lares.html>. Acesso em: 07 abril 2016
31
6.2 HABITAÇÃO TRANSITÓRIA
O Projeto Habitação Transitória, leva em conta toda a análise feita nesta pesquisa, visando à qualidade de vida do desabrigado, abrangendo os fatores físicos e psicológicos. Além de promover as soluções de infraestrutura, o projeto traz também o envolvimento emocional entre o desalojado e o abrigo, sendo a oportunidade de uma relação de identidade, lar e segurança em um momento de tragédia, além de amenizar a sensação de perda. Idealizado para ser compacto e leve, as peças do abrigo chegam a família por meio de três caixas de papelão (devidamente protegidas e embaladas), sendo possível ser carregadas facilmente.27 Dentro das caixas há uma quantidade de cinco módulos (abrigo de 12,5 m2) e um manual do 32
passo a passo da montagem, conforme a necessidade, uma família pode receber mais que um kit. O ponto inicial do projeto foi proporcionar um abrigo onde à própria família desabrigada pudesse montar e moldar seu lar temporário, com o uso da modularização, foi possível a criação de variadas formas e tamanho de abrigo, adaptando assim para cada diversidade de situação. Exemplo, uma família de três pessoas terá um abrigo menor daquela que possui seis, adequando-se ao tamanho ideal. A modularização também traz a flexibilidade de função, mesmo sendo ele com o intuito principal de alojamento,é possível prever outros usos, como enfermaria emergencial, cozinha coletiva, banheiros temporários e etc.
O desenho do abrigo já prevê o acoplamento de acessórios, como placas de captação de energia solar, gerando energia mínima para o uso de instrumentos usados no dia a dia, e calhas para a captação de agua pluvial, para as necessidades básicas. Empregar a tecnologia nos materiais foi fundamental para a realização do projeto, possibilitando o uso das matérias primas que são descartes poluentes na natureza e dar um novo destino a elas, os materiais escolhidos para a construção do abrigo são 100% reciclados, como o polipropileno (PP) que compõe embalagens de massas e biscoitos, potes de margarina, seringas descartáveis, utilidades domésticas, entre outros 28 e a borracha do pneu. O polipropileno compõe toda a estrutura e fechamento do abrigo. Este é um plástico já visto nos estudos anteriores de abrigos emergenciais e que obteve um comportamento muito satisfatório, chegando a durar até 5 anos. Algumas características do PP são: baixo custo, alta resistência ao impacto e à fratura por flexão ou fadiga, boa estabilidade térmica e apresenta pouca absorção de água, portanto não apresenta umidade significativa.29 O seu processo de reciclagem funciona de forma rápida e barata, depois de separado, enfardado e estocado, o plástico é moído por um moinho
de facas e lavado para voltar ao processamento industrial. Após secagem, o material é transformado em grãos, para produzir nova peças.27 A borracha de pneu compõe toda a base e piso do abrigo. No Brasil, em 1993, 0,5% do lixo urbano brasileiro eram de pneus velhos e fora de uso sendo que demoram cerca de 600 anos para se decompuser na natureza.30 Sua reciclagem acontece de forma que os pneus são cortados em lascas e purificados por um sistema de peneiras. As lascas são moídas e depois submetidas à digestão em vapor d’água e produtos químicos, o produto obtido pode ser então refinado em moinhos até a obtenção de uma manta uniforme ou extrudado para obtenção de grânulos de borracha e seguir para seu novo destino. 30 Hoje já se é utilizado o piso proveniente dessa reciclagem, onde possui as vantagens de ser antiderrapante, não soltar lascas, ser atóxicos e antialérgicos e suportar auto impacto de absorção.31 O tempo de vida do abrigo é ditado pelo tempo de recuperação das famílias, podendo ele ser desmontado e reutilizado para outras situações ou voltar para o processo de reciclagem.
Cf. Desenho 1. Reciclagem de Plásticos.Disponível em :<http://www.setorreciclagem.com.br/reciclagem-de-plastico/como-montar-uma-empresa-de-reciclagem-de-plastico>. Acesso em: 03 novembro 2016. 29 Polipropileno. Disponível em: <http://www.resumosetrabalhos.com.br/polipropileno.html>. Acesso em: 26 outubro 2016. 30 Reciclagem de Pneu. Disponível em: <http://www.recicloteca.org.br/material-reciclavel/outros-pneu-e-entulho/>. Acesso em: 26 outubro 2016. 31 Pisos de Pneu. Disponível em: <http://www.archdaily.com.br/br/787683/conheca-o-piso-feito-com-pneus-reciclados>. Acesso em: 26 outubro 2016. 27 28
33
6.2 HABITAÇÃO TRANSITÓRIA Abrigo Temporário
Captação da água da chuva,
Baixo custo
Captação de energia solar,
para situações de emergências.
materiais reciclados e meio de produção barata.
Rapidez na montagem e desmontagem
sistema que pode ser facilmente acoplado.
sistema que pode ser facilmente acoplado.
Montagem feita somente por meio de encaixes.
estima-se montagem/desmonstagem em menos de um dia.
Montagem Modular e Flexível,
Sem necessidade de mão de obra qualificada.
Durabilidade e Reutilização
Sem necessidade do uso de qualquer instrumento específico.
modulos que se adaptam à situação de emergência, numero de familias e necessidades especiais.
materiais resistentes, um abrigo pode durar mais do que uma situação de emergência.
34
Materiais 100% reciclados,
estrutura e fechamentos de placas recicladas de PP cortadas na laser, base e pisos de borracha de pneu reciclado e moldado na injetora.
Borracha de Pneu Reciclado
Placa de Polipropileno Reciclado
17 milhões de pneus são descartados por ano no Brasil.32
150mm
pneu triturado
máquina injetora
utensílios de PP
máquina corte a laser
Logística de trasnporte,
três caixas de papelão, contendo todas as peças para um abrigo padrão de 15m2, esse volume pode ser facilmente transportado por caminhão, container e avião, agilizando e prorcionando a chegada rápida e em qualquer terreno.
Reciclagem de Pneu. Disponível em: <http://www.recicloteca.org.br/ material-reciclavel/outros-pneu-e-entulho/>. Acesso em: 26 outubro 2016.
32
35
Desenho 1
simulação ilustrativa : peças dentro das caixas de papelão.
2,50
Caixa 1
3,00
Caixa 2 50
2,
3,0
0
Caixa 3 0
3,5 50 1,
36
PASSO A PASSO - MONTAGEM
peça A1 - espaçamento entre as bases de 1m de distância.
peça B2 - encaixe os pilares na base/ piso.
peça C1 e C2 - encaixe as paredes internas nos pilares
peça A2 - encaixe o piso na base.
peça B3 - encaixe a viga nos pilares
peça C3 - encaixe a cobertura sobrepostas nas vigas
peça piso.
B1 - encaixe os pilares na base/
peça B4 - encaixe da presilha de borracha para a fixação das vigas.
peça C4 - encaixe os fechamentos laterais na base e viga. 37
1
2
encaixe intercalado
3
5 6
4 desenho explodido para detalhamento
38
4 1
detalhe: encaixe sobreposto das telhas, para evitar a entrada de água
2 ecaixe das vigas laterais intercaladas
detalhe: fechamententos com porta balcão, funcionando como janela. A dobra da porta é feita pelo próprio poilpropileno que suporta tensão por flexão, sem a necessidade do uso de dobradiças
5
detalhe: encontro da viga com o pilar
3
detalhe: pequena viga, para o encaixe dos fechamentos lateriais
detalhe: presilha de borracha que faz o travamento do encaixe da viga com o pilar
6
detalhe: encaixe das paredes/cobertura com um sistema semelhante de prateleiras (levanta, encaixa, desce e trava). 39
simulação de um abrigo com 3 módulos - área total de 7,5 m2
40
simulação de um abrigo com 5 módulos e varanda - área total de 12,5 m2
vista lateral - simulação de um abrigo com 3 módulos - área total de 7,5 m2
2.70
2.70 2.00
.75 2.50
1.00
corte com as medidas do módulo base
corte com simulação interna - sem escala
prevendo o acoplamento de acessórios para a captação de água da chuva e energia solar. 41
planta com simulação interna - área total de 12,5 m2 sem escala 42
planta com simulação interna - área total de 12,5 m2 sem escala pequenas aberturas entre a viga lateral e as paredes internas que proporcionam a ventilação cruzada e conforto térmico.
corte com simulação interna - área total de 12,5 m2 sem escala 43
planta com simulação interna - área total de 12,5 m2 sem escala 1m
2.5 m 44
simulação da flexibilidade de modularização
Exemplo de áreas vazias dentro da cidade consolidada que pode abrigar esta atividade: simulação da implantação dos abrigos em espaço urbano, como em campos. 45
simulação da implantação dos abrigos em espaço urbano - estacionamentos. 46
6.3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O trabalho teve como intuito ressaltar a importância de estruturas temporárias no Brasil,
analisando toda a deficiência e complexidade do problema. Sendo uma realidade em constante evolução, o projeto levou em conta toda a delicadeza de um momento de desastre, pensando além das estruturas físicas, mas também as psicológicas.
A partir das analises anteriores, o desafio do projeto foi identificar e resolver problemas
encontrados em abrigos estudados, dessa forma o ponto de partida foi a modularização, que proporcionou a flexibilidade que as estruturas emergenciais necessitam para se adaptar e melhorar a qualidade de vida das famílias desalojadas.
Dar um novo destino para os materiais reciclados também foi um fator essencial para o
projeto, que proporcionou a leveza e o baixo custo.
Portanto, o projeto traz simplicidade na forma e na montagem, considerando a importân-
cia de ser prático.
47
7. BIBLIOGRAFIA Secretaria de Estado da Defesa Civil. Administração de abrigos temporários. Rio de Janeiro, 2006. 1ªed. 246 pág. Architecture for Humanity, Design Like You Give a Damn: Architectural Responses to Humanitarian Crises, 2006. BABISTER, Elizabeth. The Emergency Shelter Process with Application to Case Studies in Macedonia and Afghanistan. Journal of Humanitarian Assistance, 2002. BEDOYA, F. G. Habitat transitório y vivenda para emergências. Universidad Nacional de Colombia. Colombia 2004. BRASIL.Decreto nº 7.257/2010, Sistema Nacional de Defesa Civil (Sindec). Coulombel, P. Beyond Shelter Architecture and Human Dignity 2011, p. 287. DAVIS, Ian. Arquitectura de Emergencia.Barcelona,1980 apud. FRADE, Rita. Dissertação Arquitectura de Emergência> Projectar para zonas de catástrofe .Portugual, 2012. EM-DAT: the International Disaster Database. IBGE. Censo Demográfico 2010. Resultados Disponível em < http://censo2010.ibge.gov.br/resultados>. Acesso em: 26 março 2016. NORBERG-SCHULZ, C. Genius Loci: Hacia una Fenomenología de la Arquitectura. Nueva York,1980. apud GONÇALVES, Bruno.Dissertação Arquitetura de emergência:O papel da arquitetura na resolução dos problemas pós-catástrofe. Portugual,2015. OMS. Desastres Naturais e Saúde no Brasil. Série Desenvolvimento Sustentável e Saúde 2.Brasília,2014, 1ª edição.Pág.12 . OMS. Desastres Naturais e Saúde no Brasil. Série Desenvolvimento Sustentável e Saúde, 2.Brasília,2015, 2ª edição.
48
Parvin, Alastair.Architecture for the people by the people. Disponível em: < https://www.ted.com/ talks/alastair_parvin_architecture_for_the_people_by_the_people?language=pt-br>.Acesso em: 23 maio 2016 Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 2013. Disponível em <http://www.ibge.gov.br/home/ estatistica/populacao/trabalhoerendimento/pnad2013>.Acesso em: 24 março 2016. REGO, Ana Elizabeth. Análise e diretrizes para a produção de abrigos temporários em situações de emergência. Revista Especialize Online, Recife. 2013. SINDEC - Sistema Nacional de Defesa Civil TERRA. 22 milhões ficam desabrigados em 2013 por desastres naturais,2014. Disponível em:< http://noticias.terra.com.br/mundo/22-milhoes-ficam-desabrigados-em-2013-por-desastres-naturais,8309c2a1b2188410VgnCLD200000b2bf46d0RCRD.html>.Acesso em: 22 março 2016. TETO, 9 Passos para entender como funciona. Disponível em < http://www.techo.org/paises/brasil/> Acesso em: 25 maio 2016. UNISDR -The United Nations Office for Disaster Risk Reduction - UNISDR, 2012,pág.18 disponível em: <http://www.unisdr.org/files/31963_predisasterrecoveryweb.pdf>. Acesso em:22 março 2016. United Nations Disaster Relief Organization. Natural Disasters and Vulnerability Analysis.1980 VALENCIO, N.F.L.S. Abandonados nos desastres: uma análise sociológica de dimensões objetivas e simbólicas de afetação de grupos sociais desabrigados e desalojados. Brasília, 2001. apud BOURDIEU, P. Meditações pascalinas. Rio de Janeiro, 2001. VALENCIO, N.F.L.S.Práticas de reabilitação no pós-desastre relacionado às chuvas: lições de uma administração participativa de abrigo temporário. In: IV Encontro da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Ambiente e Sociedade, 2008, Brasília.
49
ANEXO
anexo 1. Global ity populations, urbanization 2030. DisponĂvel em<http://www.economist.com/node/21642053?fsrc=scn/tw/te/bl/ed/megacities>. Acesso em 13 abril 2016.