ARQUI TETURA, I DENTI DADEECI DADE PROJ ETODEEQUI PAMENTOURBANOPARAOLARGODABATATA
SARAHDI ASMACI ELDELI MA
Centro Universitário SENAC
Sarah Dias Maciel de Lima
ARQUITETURA, IDENTIDADE E CIDADE: PROJETO DE EQUIPAMENTO URBANO PARA A CIDADE DE SÃO PAULO
São Paulo 2016
Sarah Dias Maciel de Lima
ARQUITETURA, IDENTIDADE E CIDADE: PROJETO DE EQUIPAMENTO URBANO PARA A CIDADE DE SÃO PAULO
Monografia apresentada como exigência parcial para conclusão do Curso de Graduação Bacharelado em Arquitetura e Urbanismo Centro Universitário SENAC, sob a orientação do Professor Me. Nelson José Urssi
São Paulo 2016
AGRADECIMENTOS
Ao meu Deus que foi o meu refúgio, a minha fortaleza e o meu socorro bem presente nos meus vários momentos de angústia, pela Sua misericórdia, e pelas oportunidades ao longo dessa jornada acadêmica. Aos meus pais, Ricardo e Iris, e meu irmão Samuel pela paciência, compaixão, amor e incentivo. Que em todas as adversidades me fizeram lembrar que eu não estava sozinha e me ajudaram. Às minhas amigas, Talita, Paloma, Mariana, Helena, e aos demais amigos e colegas que nesta minha vida acadêmica tiveram paciência, me apoiaram e sempre me incentivaram a não desistir perante todas as dificuldades. Aos mestres e doutores que me orientaram, ajudaram e se dedicaram como formadores da minha postura acadêmica e profissional. E à todos qυe de forma direta оυ indireta participaram dа minha formação. Muito obrigada.
RESUMO O contexto histórico urbano, político, econômico e social constitui fatores importantes de grande impacto sobre a formação das cidades desde tempos remotos na história humana. A união da herança histórica com o advento da tecnologia e globalização, permitiu a formação de uma paisagem urbana contemporânea alicerçada em seus efeitos positivos, porém, também nos negativos resquícios desse acelerado desenvolvimento urbano atual. Este estudo pretende compreender como o indivíduo-usuário-cidadão, agente urbano, relaciona-se com os objetos urbanos e interage nessa paisagem da cidade. O projeto resulta na criação de equipamento urbano para o Largo da Batata.
Palavras-chave: cidade, paisagem urbana, indivíduo, design de produto, cultura.
ABSTRACT The urban, political, economic and social historical context are important factors that have had a great impact on the formation of cities since ancient times in human history. The union of historical heritage with the advent of technology and globalization, allowed the formation of a contemporary urban landscape based on its positive effects, but also on the negative remnants facts of this accelerated urban development. This study intends to understand how the individual-user-citizen, urban agent, relates to urban objects and interacts in city landscape. The project results in the creation of urban equipment for Largo da Batata. Key-words: City, cityscape, individual, product design, culture.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 Demarcação da localização e do perímetro urbano do logradouro do Largo da Batata. Fonte: Google Maps ...... 31 Figura 2 Mapa das áreas no Largo da Batata. Fonte: A Batata Precisa de Você ........................................................ 33 Figura 4 Mapa de Cheios e Vazios do entorno imediato do Largo da Batata .................................................................... 34 Figura 5 Mapa de Uso e Ocupação do Solo do entorno imediato do Largo da Batata ................................................. 34 Figura 6 Mapa de Gabarito das Edificações do entorno imediato do Largo da Batata ................................................. 35 Figura 7 Mapa de Espaço Público e Privado da região do Largo da Batata .................................................................... 35 Figura 8 Mobiliário previamente existente no Largo da Batata. Fonte: foto da autora ................................................ 37 Figura 9 Palete PBR Fonte: http://www.abras.com.br/palete-pbr/palete-pbr-i-desenho/ ... 38 Figura 10 Desenho de exemplo dos encaixes macho e fêmea utilizados .................................................................... 39 Figura 11 Implantação .......................................................... 42 Figura 12 Banco modular para 3 lugares com encosto ......... 43 Figura 13 Banco modular individual com encosto................. 44 Figura 14 Banco modular para 3 lugares sem encosto ........ 44 Figura 15 Jardineira .............................................................. 45 Figura 16 Deck...................................................................... 45
Figura 17 Papeleira .............................................................. 46 Figura 18 Paraciclo ............................................................... 46 Figura 19 Estrutura do banco modular para 3 lugares sem encosto para uso em esportes ............................................. 47
SUMÁRIO
7. Considerações Finais .................................................48
INTRODUÇÃO ................................................................. 09 1. História da Cidade ......................................................10 2. Ambiente Urbano ........................................................16 3. Paisagem Urbana e o Indivíduo ................................ 21 4. Experiência Humana na Cidade ................................ 25 5. Estudos de Caso ........................................................ 28 6. Proposta ...................................................................... 30 6.1 O Largo da Batata ...................................................... 31 6.1.1 Contexto Histórico ................................................... 31 6.1.2 A Batata Precisa de Você ....................................... 32 6.1.3 Levantamentos ........................................................ 34 6.2 Projeto ....................................................................... 37 6.2.1 Implantação ..............................................................40 6.2.2 Família de Mobiliário ...............................................43
REFERÊNCIAS ................................................................ 49
pesquisa de campo, para se obter as informações
INTRODUÇÃO Este
trabalho
desenvolvimento
necessárias. Essa estratégia metodológica estabelece a abordará do
as
homem
questões social,
históricas os
do
primeiros
consciência de termos e ideias, por exemplo, de história e pré-história
(ARGAN,
1998;
MOTA,
BRAICK,
2002;
agrupamentos até a formação da cidade. Como o espaço
MUMFORD, 1998), da imagem do ambiente urbano
urbano contemporaneamente se apresenta, e a antiga
(LYNCH, 1997), do espaço urbano (CARLOS, 2007;
relação interativa entre indivíduo e paisagem urbana. O
JACOBS, 2011) e a prática da vivência urbana (SPECK,
objetivo é entender os efeitos diretos do desenvolvimento
2012; CARERI, 2013). O projeto tem como o principal
histórico, político, econômico e social humano no ambiente
intento o estímulo do indivíduo ao convívio, à permanência
urbano, como um processo global de evolução. Analisar a
e à observação do espaço urbano da cidade de São Paulo,
forma tal como os profissionais arquitetos, urbanistas e
estabelecendo uma melhor relação entre o habitante da
designers têm agido sobre o plano urbano e como o
cidade e o lugar.
indivíduo comum relaciona e apreende a paisagem à sua volta, bem como descobrir a importância do ato do andar, o meio principal utilizado para tal ‒ a rua ‒ e os elementos físicos perceptíveis que a circundam. "Como a paisagem urbana contemporânea se formou e como ela se encontra? Essas indagações embasaram as reflexões do presente. A pesquisa será desenvolvida por revisões bibliográficas, estudos de caso e pela observação do contexto urbano ‒
9
1. HISTÓRIA DA CIDADE
materiais. Mas, a fim de se chegar mais próximo à origem das cidades, deve-se juntar aos estudos arqueológicos, os estudos das mais íntegras estruturas e atividades urbanas,
O conhecimento que o humano moderno tem a respeito da origem da cidade são de recentes fatos da história, onde se contextualiza
a
cidade
no
espaço
e
no
tempo
contemporâneo com todos os elementos que a constituem, quer nas suas edificações ou nas suas avenidas, ruas, parques e recursos. O aprofundamento da história nos leva à surpreendente descoberta de suas origens. O exercício da pesquisa científica nos permite uma viagem no tempo e nos
elementos
formadores
de
sua
história.
por mais distantes que estejam no tempo, espaço e cultura. Cronologicamente, Mumford apresenta que em algum momento da pré-história aconteceu a tendência humana para a vida social com outras espécies de animais, ocupando a caverna, o esconderijo, o acampamento e depois a aldeia, o santuário, a pequena povoação e por fim a cidade. Para Mota e Braick (2002) a história pode ser
Sua
considerada o relato da trajetória do indivíduo sobre a face
compreensão relaciona a criação das cidades e as origens
da Terra, desde o momento em que deixa de ser um
pré-históricas do homem.
simples animal para se tornar um ser humano.
Lewis Mumford (1998) inicialmente explicita que há uma
Denomina-se como Pré-história o período anterior ao
tendência em se estudar o homem primitivo pelos
homem desde o surgimento dos hominídeos. Ainda
resquícios físicos, como seus ossos, cacos, instrumentos e
segundo as autoras, a história está dividida e baseada em
armas, esquecendo o exercício de sobrevivência (a
uma data referencial de um fato histórico da civilização
linguagem e o ritual, por exemplo) de poucas evidências
ocidental, a invenção da escrita, cerca de 5000 anos a.C. A
10
Pré-história,
então,
estaria
fundamentada
nas
O período paleolítico se refere ao que os historiadores
documentações arqueológicas que abrangem toda a fase
designam como o "período da pedra lascada”, oposto ao
anterior à escrita, há aproximadamente quatro milhões de
período seguinte, “período da pedra polida”. Ainda segundo
anos, com a origem dos primeiros seres humanos que
Mota e Braick (2002), a sociedade paleolítica, de
detinham características do homem atual.
caçadores e coletores, assegurava sua alimentação através da caça, da pesca e da coleta de frutas e raízes,
Durante
a
Pré-história,
a
pedra
foi
utilizada
mais
extensamente como material para elaboração de objetos e, posteriormente, o metal. Por esse motivo, divide-se a préhistória em três períodos: o Paleolítico (do grego palaiós = antigo e lithio = pedra, pedra antiga), o Neolítico (pedra nova) e a Idade dos Metais. Alguns autores, como Lewis Mumford, identificam um período intermediário para algumas regiões e o denominam como Mesolítico (pedra intermediária).
dominavam o uso do fogo também para essa finalidade, além de proteção contra os animais e o frio. Nômades, vivendo em grupos diversos e com baixo crescimento demográfico, os homens paleolíticos sofriam com as extremas condições climáticas e se abrigavam nas cavernas. Mumford (1998) relata o cemitério como o primeiro ponto de fixação, em meio aos seus incessantes deslocamentos e, em segundo lugar, outra parte do ambiente que usava e, periodicamente, regressava era a
O relato ainda apresenta muitas questões hipotéticas,
caverna. Mumford ressalva, também, que além da função
algumas datas são incertas, muitos fatores permanecem
doméstica, a atribuição na arte e no ritual foi ainda mais
ainda desconhecidos, e novas evidências podem alterar a
importante nesse lugar.
ciência do que se conhece a respeito desse distante período da história do homem.
Quanto à sua organização social, Burns (1968) afirma que sinais de um desenvolvimento da cultura não material
11
foram achados. Áreas onde era trabalhada a pedra e
Logo, o autor afirma que o primeiro princípio de origem da
lareiras,
cidade é o local de reunião para culto, que se assume
sugerindo
o
começo
da
vida
coletiva
e
cooperativa, talvez até de instituições sociais, foram
como alvo para a peregrinação:
descobertas. Confere-se maior significado ao zelo que esses homens tinham com os defuntos, sepultando-os em [...] sítio ao qual a família ou os grupos de clã são atraídos, a intervalos determinados e regulares, por concentrar, além de quaisquer vantagens naturais que possa ter, certas faculdades “espirituais” ou sobrenaturais, faculdades de potência mais elevada e maior duração, de significado cósmico mais amplo do que os processos ordinários da vida. (MUMFORD, 1998, p 16)
covas rasas juntamente a objetos de valor e outros utensílios;
essa
pode
ser
uma
indicação
do
desenvolvimento de um sentimento de religiosidade ou crença de alguma forma de vida após a morte. Lewis Mumford (1998) atesta que os mortos foram os primeiros a possuir uma morada fixa (uma caverna, uma cova sinalizada por um montão de pedras, um túmulo coletivo), e esses lugares se tornaram marcos, pois
As pinturas rupestres, para Facchini (1997), são belíssimas
estabeleceu-se um ponto do qual os homens paleolíticos
representações expostas nas paredes das cavernas e os
retornavam para comungar com os espíritos e mitigá-los.
objetos, em pedra, ossos e madeira, deixados por essa
Apesar do acúmulo de mantimentos e da caça não os
civilização são decorados com fino senso artístico. Esse
estabelecerem,
essa
cuidado com os mortos é enriquecido com sinais, que
circunstância. Nessas mesmas moradas ‒ santuários e
apontam uma vida futura. A busca pela representação com
sepulturas, pode-se encontrar os primeiros sinais de vida
sinais vai além de somente as necessidades básicas e de
cívica, muito antes de alguma aglomeração fixa em aldeias.
sobrevivência,
os
mortos
demandavam
mas também
valores
simbólicos
que
12
direcionam a outros significados, esse nível de cultura mais
Neolítico, a civilização passou pelo período mediano,
elevado expõe o por quê do homem neanderthalense ter
mesolítico, onde se reconhece os ajuntamentos familiares,
se difundido pelo planeta.
acampamentos, uma nova economia, os sítios propícios
Conforme Mota e Braick (2002) estabelecem, o período designado Mesolítico correspondeu aos últimos cem mil anos
do
período
anterior,
o
Paleolítico,
onde
o
aprimoramento das técnicas de produção dos objetos originou, de um progresso gradual de estruturação cultural, o arco, a flecha, as lanças e outros diversos instrumentos
para a permanência com os suprimentos necessários para um tempo mais longo. Mumford reafirma, “Com aquelas aldeolas mesolíticas, surgem os primeiros vislumbres de finalidades agrícolas, e da mesma forma, os primeiros animais domésticos, os animais de estimação e guardiães da casa [...] " (MUMFORD, 1998, p 17).
de ossos, dentes e argila. Também se caracterizou pela
Por milhares de anos, desde os primórdios, o homem
capacidade de modificação do meio terrestre, colaborando
lidava com a natureza do mesmo modo que qualquer outro
para o processo de sedentarização de alguns grupamentos
animal, vivia como extrator, sem a preocupação de
humanos que tendiam a se fixarem em determinadas
procriar, agia apenas como predador e coletor. Do ponto de
regiões, e pela passagem de uma organização predatória
vista
para uma produtora, relacionada à criação de animais e à
impactante, havia a necessidade de deslocamento pela
uma atividade agrícola primária, que anteriormente se dava
utilização dos recursos naturais. Mantinha-se em grupos
pela
transformações
reduzidos pela disponibilidade de mantimentos. O processo
aconteceram também em outras atividades ‒ culturais,
da agrupamento regular, a plantação de novas sementes, o
profissionais e artísticas ‒ e recebeu o nome de Revolução
uso de animais como gado, com habilidade para tração e a
Neolítica, uma vez que, antes desse novo período,
locomoção coletiva, aumentaram.
caça,
coleta
e
pesca.
Essas
ambiental,
a
economia
era
fundamentalmente
13
Nenhum estágio dessa revolução se sucederia entre os
mais tempo disponível para investir em outras atividades e,
nômades mais primitivos. Foi crucial a adoção da ocupação
portanto, ocorre uma divisão de trabalhos, cada um procura
permanente de uma área por um tempo longo bastante,
se dedicar mais especificamente a um ofício, aumentando
que
o vínculo e a interdependência entre as famílias, iniciando,
fosse
possível
a
observação
do
curso
de
desenvolvimento dos processos naturais, para a tentativa
também, o processo de trocas e comércio.
de reprodução dos mesmos, resultando a agricultura. Como consequência da Revolução Neolítica, as atividades pecuárias, agrícolas e a domesticação implicaram, para Mumford
(1998),
em
duas
grandes
mudanças
na
sociedade, são elas: "a permanência e continuidade de residência e o exercício do controle e previsão dos
Dentre
as
particularidades
do
período
neolítico,
evidenciam-se a já mencionada presença da pecuária e da agricultura, mais o desenvolvimento de cerâmica, a produção de utensílios de pedra polida e o processo mais efetivo de sedentarização do homem.
processos outrora sujeitos aos caprichos da natureza.",
Simultaneamente
como já foi explicitado, juntamente a isso, as práticas de
desenvolve-se e consolida-se uma instituição relevante das
nutrição e criação que resultaram em um sensível aumento
civilizações humanas, a família. Mumford (1998) aborda
da
mulher
que os agrupamentos se davam por membros de uma
desempenhou uma função importante quanto à sua
mesma família, pais e filhos, que com o tempo começaram
capacidade de carinho e afeto nos processos de
a se associar a outras famílias, dando início a uma nova
crescimento e na educação cumulativa de plantas e
espécie de colônia, a aldeia. Quanto à instituição do
animais. Com a preocupação pela procura de alimento
Estado, para Mota e Braick (2002), no período neolítico,
reduzida no cotidiano neolítico, os homens agora tiveram
não existiu; verdadeiramente, os homens não organizavam
população.
Ainda
segundo
o
autor,
a
ao
progresso
técnico
neolítico,
14
autoridades de maneira hierárquica, apesar de terem um chefe, sua função era meramente de pacificador e, através do discurso, ele não tinha a capacidade nem o poder de tomar medidas coercivas com seus semelhantes. Foi chamado "o primeiro entre os iguais". Mas o fato é que:
Todos esses novos hábitos e funções emprestam sua contribuição à cidade, quando ela veio a surgir; e, sem esse componente da aldeia, até a maior comunidade urbana teria carecido de uma base essencial de permanência física e continuidade social. (MUMFORD, 1998, p 20).
A criação das cidades é geralmente atribuída aos sumérios, um povo do sul da Mesopotâmia. Mas outras surgiram em todo o Crescimento Fértil e também na Índia e na China. Uma das mais antigas foi Jericó, na Palestina - um núcleo habitado há 11 mil anos, nas proximidades do Rio Jordão. No ano 8000 a.C., Jericó era uma grande aldeia cercada de muralhas de pedra. Por volta de 3000 a.C., era um centro de funções nitidamente urbanas, rodeado de muros [...]. (MOTA; BRAICK, 2002, p 32)
Mota e Braick (2002) afirmam que, no decorrer do tempo, em diferentes partes do mundo apareceram as cidades, seio de populações com uma maior área estabelecida; novas sociedades com uma forma de organização de
À todas estas circunstâncias e ao resultado que elas
governo central e administração. Sucederam, então, a
permitiram, da perpetuidade e da subsistência, do aumento
tecnologia, técnicas de construção, calendários para medir
populacional e, assim, da ampliação dos agrupamentos, da
o tempo, a escrita, por fim, um novo povo.
sedentarização, da complexidade cultural, pequenas vilas se formaram, abrigando algumas centenas de pessoas. Em outras condições favoráveis, aldeias oásis como Jericó:
15
2. AMBIENTE URBANO
Mumford (1998) também se refere aos muitos fatores atuais que, primeiramente, se manifestam despretensiosos, mas que podem, posteriormente, confessar estratégias
As cidades hoje estão desprovidas do que é necessário
racionais para impulsionar um crescimento, a concentração
para aqueles que nela vivem cotidianamente. Se por um
de poder e funções, que deviam ser impedidos.
momento histórico foram originadas com base nas necessidades primitivas do homem pré-histórico, ao longo
Em relação à arquitetura desse ambiente urbano, Argan
da história foram moldadas pelas influências políticas,
(1998) reforça que todos os edifícios têm uma qualidade
culturais e religiosas de seus povos; e, ainda, mais
representativa,
recentemente, com o advento da industrialização e do
paradoxos, deficiências e receios sociais. Tendo em vista o
capitalismo, o despejo frenético do exercício invencionista
ambiente urbano contemporâneo, a cadeia de "restos"
da diversidade de materiais construtivos, se tornaram uma
arquitetônicos, denominados como arquitetura e ao mesmo
selva de contradições e ambiguidades que, ao invés de se
tempo
converter num lugar de paz, atrai as pessoas para uma
especulação excessiva, são representações de uma
fábrica de indivíduos doentes, estressados, perdidos,
desafortunada verdade social e política.
desnorteados e insatisfeitos. Tal como diz Argan (1998) que, antes, a cidade conhecida como "seio materno" transforma-se
em
sinônimo
de
insegurança,
medo,
angústia e luta pela sobrevivência, e que na própria perturbadora experiência cotidiana dos indivíduos, o
não
e
como
que
frequentemente
arquitetura,
por
expõem
serem
fruto
os
da
O urbanismo, como uma nova disciplina, é composto de uma
parte
demográficos,
científica
que
econômicos,
realiza
severos
produtivos,
estudos sanitários,
tecnológicos dos agregadores sociais; de uma parte sociológica que investiga as organizações sociais e a
ambiente urbano expressa sua opressão e repressão. 16
evolução esperada delas; de uma parte política na
"Seu campo de operação é toda a esfera social e nem só
orientação
desses
esta porque, a rigor, a realidade que a disciplina urbanística
avalia
assume como estruturável e se propõe estruturar é o
circunstâncias sociais do ponto de vista do passado e do
mundo inteiro considerado oiké, habitação do homem.”
futuro; e, por fim, uma parte estética que se encerra na
(ARGAN, 2005 p 212).
para
desenvolvimentos;
resolução
de
o uma
elementos
direcionamento parte
histórica
formais.
É
que
determinado,
resumidamente, pelo autor com a seguinte afirmação: “Trata-se, porém, de saber o que e com que fim se programa, se planeja, se projeta.” (ARGAN, 2005 p 212).
Vê-se que o grande passo para a transformação do urbanismo é a desconstrução das ideologias que a ele se agregaram, tanto no plano utópico, quanto no material. Jane Jacobs (2011) diz que ao se lidar com as cidades,
Para Argan (1998), no ambiente urbano, a presença
lida-se com uma dimensão da vida muito complexa e
humana deve sempre ser abordada na programação, no
intensa e, por esse motivo, há um limite estético crucial no
planejamento ou no projeto, como existência social, caso
que pode se fazer com as cidades, já que elas não são
não se pensasse que a existência social devesse ser,
obras de arte. Apesar da arte ser necessária, tanto na
futuramente, melhor do que é, esses fatores não seriam
constituição das cidades, quanto em outras áreas da vida
possíveis ‒ planejar ou projetar ‒ mas, concomitantemente,
para dar explicações, mostrar seus significados, esclarecer
mesmo que se programe, projete ou planeje, o resultado
o diálogo entre a vida humana e tudo que está ao seu
não é necessariamente urbanismo e, entretanto, não é por
redor, como uma forma de reafirmar a humanidade, ela não
esse motivo que o urbanismo simboliza somente o campo
é a vida, e, ainda "A confusão sobre elas é, em parte, a
humano-social no plano global ou uma regra para todos os
razão de as iniciativas do planejamento urbano serem tão
regimes políticos democráticos. Assim, o autor diz que:
decepcionantes. É importante desfazer essa confusão para
17
obter melhores táticas e estratégias de desenho urbano"
mais produto, mas que essa intermediação pode e deve ser
(JACOBS, 2011, p 415).
unicamente a escola, em cada um de seus níveis e em cada um de seus domínios; e a escola, seja qual for, deve
Outros pensamentos foram enraizados dos momentos de transformações políticas e sociais que as origens do urbanismo atravessaram; estes o distanciaram da grande problemática das cidades, transformadas pelos intensos movimentos de migração, globalização, industrialização, progresso, desenvolvimento científico e amadurecimento ecológico.
ensinar para produzir cidade como forma importante da sociedade. Mas, ao invés disso, o que se sucede é a disciplina do urbanismo como um ensino adicional de uma faculdade de arquitetura. A problemática da cidade, um organismo histórico em constante progresso, é posta à parte, pois não é desejável que a sociedade possua história. Entretanto, Argan ainda declara: "Mas é este o fim
A situação exige e traz uma oportunidade ímpar onde a
a que deveria visar uma arte que fosse consciente de ser e
Arquitetura e o Urbanismo pode se solidificar como ciência,
deve ser, como sempre foi, um fato de cultura urbana, e
através de sua estruturação histórica e rica bagagem de
cuja teoria, mais ainda do que uma estética, seria um
conhecimento para a formação do indivíduo. Sendo assim,
urbanismo geral.” (ARGAN, 2005, p 224).
este passará a ter uma visão mais aberta sobre as questões do ambiente em que vive, contribuindo para que sua
experiência,
enquanto
ser,
tenha
a
qualidade
necessária para poder desfrutar do ambiente urbano. Argan (2005) afirma que o mercado não instala mais a conexão entre o artista e o mundo social, já que a obra de arte não é
Para isto, é evidente que deverá haver um exercício das Universidades, Conselhos e Profissionais no sentido de contribuir para que as políticas, currículos e disseminação desse conhecimento sejam amplos e organizados. E se surgir a dúvida quanto ao destino do profissional Arquiteto e Urbanista, esta é a oportunidade para solidificação da
18
ciência, pois surgirão novos clientes, agora conscientes do
mais oportunidades, mais informações, e diferentemente
que realmente necessitam para interagir com o meio, e
daqueles primitivos, ele não tem que caçar, plantar, coletar
observando o ambiente urbano da perspectiva de quem o
e se reproduzir como obrigação, mas somente trabalhar,
pratica diariamente.
consumir e viver. Aqui, Argan (2005) relata que a cidade, em uma lógica abrangente, é um bem de consumo, um
A tendência do indivíduo viver nas zonas urbanas ainda é crescente dia a dia. Ele pode até migrar, querer mudar para outros lugares diferentes dos quais está habituado, mas sua opção ainda será estar em uma zona urbana. Portanto, a evolução do homem o projeta para um ser urbano e, de alguma forma, a história nos conta e os fatos nos demonstram esta verdade. O homem adotou um estilo de vida urbano e utiliza toda a gama de serviços que a cidade oferece: culturais, educativos, comerciais, saúde, transporte e lazer.
enorme sistema de informações fadado a definir o máximo consumo de informações. Porém, a única forma de manter ou devolver ao homem alguma autonomia de decidir e escolher, uma liberdade de envolvimento determinante, também no plano político, é dar a ele possibilidades de não consumir aquilo que for pré-determinado para ele, ou de consumir de modo diferente, de outra forma que o consumo imediato, indiscriminado e prescrito, como instituição de poder, pela sociedade de consumo. Essencialmente, é a restituição ou a conservação da capacidade do indivíduo de
Mas esta convergência é traduzida pela necessidade de
apreciar e fruir o ambiente urbano de um meio distinto das
consumo desses serviços, e pode se posicionar em
determinações contidas no programa de quem o propôs,
determinado momento como um homem
"[...] de dar-lhe a possibilidade de não assimilar, mas de
paleolítico,
consumindo o que está em volta. Parece que tende a
reagir ativamente ao ambiente.” (ARGAN, 2005, p 219)
crescer à medida que o indivíduo dispõe de mais recursos,
19
Essa voracidade pelo consumo deve ser tratada, pois
moradia, transporte, estacionamentos, vias de acessos,
representa mundialmente uma tendência, o que era um
áreas de resíduos, tratamento de poluentes, uso do solo;
trânsito lento e decorrente dos fatores históricos e
tudo isto, demandando atenção, fiscalização e gestão.
conjecturais é um caminho e não será desestimulado e nem aniquilado pelas acomodações naturais do ciclo evolutivo ou de ações do próprio homem; e se não existirem planejamentos atentos a esta demanda, se corre o risco de uma destruição do fato. A respeito disso, Mumford (1998) relata que a civilização metropolitana comporta em si mesma os potenciais explosivos que aniquilarão todas as qualidades de sua existência e que planejar o futuro sem considerar essa verdade é "[...] trair um dos sintomas típicos daquele divórcio da realidade que tem
caracterizado
científicos
de
a
atual
extermínio
exploração e
destruição
dos
agentes
em
massa”
(MUMFORD, 1998 p. 567)
Um aspecto importante neste contexto é que os desafios ambientais e as possibilidades de urbanização estão estreitamente
ligados,
como
indicado
pela
Agência
Europeia do Ambiente (2016). O que as cidades hoje exigem de seus governantes, e é sensível para uma parcela de seus moradores, é o tratamento dos problemas sociais, econômicos e ambientais, resultantes de pressões, como o excesso de população ou o declínio da mesma, as desigualdades sociais, a poluição e o tráfego. E ainda mais, junto a tudo isso, as cidades devem estar atentas ao provimento de planos emergenciais que previnam ou tratem os eventos provenientes de desastres e catástrofes, ora causados pelas alterações climáticas, ora causados pela
Este estilo de vida também tem exigido das cidades mais
desatenção do próprio homem, e ora causado por
atenção na manutenção de sua infraestrutura para
atentados, visto no Relatório do GT Habitat do Conselho
comportar as necessidades dos indivíduos, como por
das Cidades (2015).
exemplo, água, energia, esgoto, alimentos, hospedagem,
20
3. PAISAGEM URBANA E INDIVÍDUO
administração do tempo e das finanças, que a vida urbana verte às pessoas que nela vivem, convivem e sobrevivem. Como visto nos tópicos anteriores, a cidade é produto de
A paisagem urbana é um dos meios de comunicação mais
construções ao longo do tempo no espaço e como obra
antigos das sociedades ocidentais (MENDES, 2006), pela
arquitetônica só pode ser percebida também de forma
sua natureza plural, tem o poder de exercer variadas
temporal. Pesavento afirma que "[...] para o resgate da
funções e provocar diferentes interpretações, como por
memória e da história de uma cidade é preciso convocar e
exemplo, com a sua propriedade comunicacional. A
recolher registros de uma outra época, testemunhos e
paisagem urbana é observada de forma consciente ou
traços de diferentes naturezas, que possam dar conta das
inconsciente e, dessa mesma forma, o indivíduo espera
transformações
que ela proporcione bem-estar e prazer. “A paisagem
(PESAVENTO, 2005, p 11).
urbana é, assim, a roupagem com que as cidades se apresentam a seus habitantes e visitantes.” (SILVA, 2010, p 302). O autor desta frase também indica que essa roupagem, como a boa aparência das cidades, tem como consequência efeitos psicológicos expressivos sobre seus habitantes. Projeta um equilíbrio com um cenário aprazível e atraente de conjuntos e de componentes harmoniosos, e com a carga neurótica, da junção de problemas como: o trânsito, as poluições visual, atmosférica e sonora, a
do
espaço
urbano
no
tempo."
A percepção e a construção de imagens de uma cidade consistem diretamente da relação entre o observador e o seu ambiente, a sua vivência, sendo elas, portanto, variáveis. Trata-se da ligação, da combinação e da interação da paisagem urbana, e seus elementos de ordem natural,
humana,
social,
cultural
ou
econômica
(SCHÜTZER, 2011) com o sistema sensorial humano individual resultando em imagens igualmente individuais que, em conjunto, formam uma ou mais imagens públicas
21
de um local (LYNCH, 1997). Kevin Lynch ainda indica que
espaço público urbano e outros espaços compostos por
a cidade não é apenas algo observável por toda a
pessoas, ruas, calçadas, edifícios, mobiliários, arborização
população, como também se torna o resultado do que os
e a topografia de um lugar, todos de equivalente
agentes construtores constantemente modificam nela, em
importância para construção dessa imagem.
sua estrutura, mesmo que no nível de seus detalhes, tornando-a de certa forma instável, sem um resultado final, ininterrupta. Sobre isso, Schützer (2011) coloca que a paisagem urbana é alterada continuamente acompanhando as mudanças da sociedade, ou então Carlos, “Na metrópole, a paisagem vai revelando o movimento de um
Estes elementos não são vistos de forma individual, mas das suas inter-relações, principalmente, do ponto de vista da nossa percepção, como dito anteriormente, onde pela vivência se incorpora um entorno, uma sequência de elementos e lembranças de experiências passadas.
‘fazer-se incessante’ que aniquila o que está produzido
Lynch (1997) atenta em seu estudo para os objetos físicos
com o objetivo de criação de outras formas.” (CARLOS,
perceptíveis na cidade, examinando-os detalhadamente
2007, p 34) e “nenhuma situação aparece como é
nas áreas centrais das cidades norte-americanas de Jersey
destinada, para todo o sempre, nenhuma forma declara ser
City, Boston e Los Angeles. Os cidadãos entrevistados,
desta maneira e não de outra.” (BENJAMIM, 1987 apud
moradores e trabalhadores que, portanto, tinham uma
CARLOS, 2007 p 34).
relação longa com a área, a partir da análise de descrições
Das partes constituintes na formação da imagem do ambiente, que podem ser compreendidas pelos cidadãos na paisagem urbana, estão os elementos móveis e imóveis (LYNCH, 1997), e neles podemos, então, englobar o
dos locais, identificação de lugares, desenhos e passeios imaginários, puderam construir, do ponto de vista do pedestre, as imagens individuais das cidades. Cinco elementos principais observáveis foram as seguintes
22
formas físicas: as vias, os limites, os bairros, os pontos
prevalecem visualmente são os mais fortes, sendo
nodais e os marcos.
barreiras aquáticas, construções, paredes ou muros.
As vias são os elementos predominantemente constatados
Os bairros são reconhecidas extensões bidimensionais de
nas imagens individuais, são os canais de circulação por
médio ou grande porte, onde por seus atributos triviais são
onde o cidadãos se deslocam de maneira habitual,
identificadas na cidade com características diferentes de
ocasional ou potencial, e de onde a cidade pode ser
outras partes, destacando uma identidade, por suas
observada. Por particularidades, adquirem certa relevância,
distinções físicas, ou conotações sociais por exemplo,
como quando fazem parte de um trajeto habitual, ou
diferentemente dos critérios administrativos e regionais;
quando concentram uma atividade específica, qualidades
esta é a percepção do pedestre de delimitação dessa área.
espaciais
próprias,
as
fachadas
dos
edifícios
com
características distintas, sua exposição visual a partir de outros locais da cidade, sua regularidade, continuidade, direção e entre outros fatores que singularizam e provocam a observação dos transeuntes.
Os pontos nodais são núcleos, pontos de convergência, que acontecem ao longo de um trajeto e possibilitam aos observadores concentrarem,
se se
direcionarem encontrarem,
ou ou
partirem, pararem
se o
deslocamento. Lugares como estações de trem e metrô Os limites são como barreiras ao observador, que não
funcionam, na maioria das vezes, como esse elemento, e a
obrigatoriamente são intransponíveis, mas que podem ser
impressão visual como o seu impacto, são aspectos
penetráveis e, em alguns casos, direcionar um percurso,
importantes para o reconhecimento do ponto nodal.
contornar a cidade e delimitar uma área como uma fronteira. Os que têm uma forma contínua, impenetrável e
Os marcos são elementos de forma física simples, de escala variável, de propriedade singular ou inolvidável no 23
ambiente que, ainda que de pequeno valor simbólico ou
agentes produtores e construtores de cidade têm uma
funcional, tendo uma fisionomia nítida e possuindo as
função importantíssima em um nível que vai muito além do
propriedades de contraste com o entorno imediato ou
superficial na paisagem da cidade, como disse Cullen,
distante, e destaque em sua posição espacial, são assim
“Todavia o objetivo fundamental dos urbanistas continua a
melhor identificados e, portanto, suscetíveis a serem
ser a comunicação com o público, não tanto pela via
lembrados e escolhidos.
democrática, como pela via emocional.” (CULLEN, 2006, p 18). Com essa afirmativa, o autor aborda três aspectos que
Quando se trata ainda da pluralidade e diferentes elementos que cada cidade pode ter, Lynch (1997) descobriu que as pessoas têm a capacidade de adaptação aos seus arredores e que cada uma pode extrair estrutura e identidade dos objetos que estão ao seu alcance. Isso quer dizer que, mesmo havendo uma variedade de referências para cada ser humano, ele é capaz de se ambientar ao que seu entorno lhe oferece, o reconhecer e lhe dar significado. “O homem tem em todos os momentos a percepção da sua posição relativa, sente a necessidade de se identificar com o local em que se encontra, e esse sentido de identificação, por outro lado, está ligado à percepção de todo o espaço circundante.” (CULLEN, 2006, p. 14). Dessa maneira, é possível identificar que os
devem ser considerados para entender essa relação; são eles, a óptica, o local e o conteúdo, que juntos vêm dizer das propriedades do ponto de vista do indivíduo da cidade, do seu senso de localização e reação perante o espaço, e da própria constituição da cidade, sua composição específica. Ao ponto de vista de Cullen, junta-se a seguinte indicação,
reafirmando
a
importante
atribuição
do
profissional perante a produção do ambiente urbano: Uma cidade não é um ambiente de negócios, um simples mercado onde até sua paisagem é objeto de interesses econômicos lucrativos; mas é, sobretudo, um ambiente de vida humana, no qual se projetam valores espirituais perenes, que revelam às gerações porvindouras a sua memória. (SILVA, 2010, p 302)
24
4. EXPERIÊNCIA HUMANA NA CIDADE
humanos são mais complexas e que eles precisam constantemente de estímulo. Além da segurança e do conforto, o entretenimento é um ponto essencial a ser
No Direito Urbanístico Brasileiro (2010), José Afonso da
considerado, do contrário, os pedestres não optarão pelo
Silva
propõe
determinado
que o pelos
espaço
espaços
livre
na
públicos
cidade
seja
andar, mas sim pelo dirigir, e isso abrange outras questões
urbanos
não-
do por quê preferir o andar à outra forma de locomoção nas
edificáveis e aqueles privados reservados à integração dos
cidades, como, por exemplo, a econômica.
patrimônios públicos, incluindo as vias de comunicação. Para Mazzei, Colesanti e Santos (2007) os espaços livres
No plano arquitetônico das cidades, os estacionamentos e
têm a função de prover ventilação e iluminação às altas
edifícios
edificações, possibilitar às áreas importantes um respaldo
superfície de asfalto, além de outros edifícios pouco
para sua preservação e conservação e “dar oportunidade
convidativos são um tanto hostis com os transeuntes. Nota-
ao cidadão satisfazer suas necessidades de ocupação do
se que o pensamento mais cuidadoso com a vida humana
tempo livre (física, psicológica e social)” (MAZZEI,
das calçadas tenta adentrar a concepção dos “starchitects”
COLESANTI, SANTOS, 2007, p. 37).
e urbanistas, mas ainda essa preocupação de “criar vida de
de
garagem
com suas
empenas
cegas
e
rua” se encontra, ironicamente, tão baixa na lista de Em Walkable City, Jeff Speck (2012) indica dez passos
prioridades quanto não sair do orçamento ou ainda, manter
para que o caminhar na cidade seja útil, seguro, confortável
a chuva do lado de fora do edifício. Consequência disso é
e interessante. Em seu nono passo sobre fazer superfícies
a redução da atração pelo caminhar na cidade. (SPECK,
amigáveis e únicas, ele enuncia que somente segurança e
2012, p 245/246).
conforto não são suficientes, que as motivações dos seres
25
Assim, o caminhar revela-se um instrumento que, precisamente pela sua intrínseca característica de simultânea leitura e escrita do espaço, se presta a escutar e interagir na variabilidade desses espaços, a intervir no seu contínuo devir com uma ação sobre o campo, no aqui e agora das transformações, compartilhando desde dentro as mutações daqueles espaços que põem em crise o projeto contemporâneo. (CARERI, 2013, p 32/33)
Speck (2012) aborda, também, que na busca por mais sustentabilidade, as cidades devem levar em consideração que, para o típico pedestre, as fachadas de lojas comuns são ainda mais atrativas e interessantes que as paisagens mais viçosas. Nisso, ao querer promover o andar, não se deve deixar que o impulso do “esverdeamento” desvitalize as qualidades substanciais da urbanidade, que atraem as pessoas, especialmente aos centros das cidades. Em outro âmbito, Francesco Careri (2013) enaltece a prática do andar em determiná-la como uma prática
Essa perspectiva revela o quão importante é para o meio
estética, onde de uma necessidade natural humana de se
urbano que as pessoas estejam interagindo diretamente
mover, ela se torna uma forma de intervenção urbana,
com ele. Com isso, observa-se agora a seguinte afirmação:
como uma experiência afetiva capaz de transformar não-
“As ruas e suas calçadas, principais locais públicos de uma
lugares* em meios-lugares pela transurbância ‒ o ato de
cidade, são seus órgãos mais vitais.” (JACOBS, 2011, p.
atravessar a zona mutante, explorar os lugares não
29). As ruas são os locais por onde a maioria das pessoas
conhecidos. Como se pode ver no trecho abaixo:
vivencia o espaço e ainda segundo a autora, as calçadas por si só, não têm significado, elas estão associadas ao seu entorno, os edifícios, outras calçadas, a rua e os outros usos circunvizinhos.
*
Cf. AUGÈ, 2004.
26
Carlos (2007) também manifesta que o espaço é sinônimo de acumulação de tempos, e por esse motivo se deve pensar no uso dos lugares, nas ações em relação do
sentidos dos espaços públicos que faz da rua um local de passagem, mas essa situação revela contradições. (CARLOS, 2007, p 47)
construído, no traçado, largura das ruas e avenidas, pelo fluxo, tipos e densidade, a frequência; a rua, nesse
Essas contradições revelam-se no que este estudo até o
contexto, é um elemento pelo qual é possível se pensar
momento abordou. Reúne-se aqui a ação humana de
como "o lugar da experiência, da rotina, dos conflitos, das
transposição e o principal espaço onde ela ocorre na
dissonâncias, bem como, através dela desvendar a
cidade. Rodriguez (2009) em seu artigo aponta que a
dimensão do urbano, das estratégias de subsistência e de
sobrecarga de informações, os déficits de legibilidade dos
vida, pois marca a simultaneidade do cheio e do vazio e
espaços urbanos e a perda de sentido do lugar são as três
das temporalidades diferenciadas" (CARLOS, 2007, p 46).
propriedades da vida urbana de grande influência sobre o
E além disso, a rua não é apenas local do espetáculo
modo de ser do seu povo. Estas questões se ligam
urbano, mas lugar onde os trajetos são dotados de sentido,
diretamente à afirmação anterior da autora, o apenas
onde ela vira indício comum das formas de apropriação.
"passar" do homem pelas ruas na verdade engloba muito mais do que somente tal prática em si.
A forma aqui vai ganhando sentido no ritmo da vida cotidiana, do tempo determinando o uso pelos estratos da sociedade que vão determinando o uso que marca o ritmo da rua. Para muitos, nas ruas, os homens não fazem mais do que passar, principalmente em uma metrópole super edificada como São Paulo, onde efetivamente, redefine-se os
27
5. ESTUDOS DE CASO Tabela 1 Estudos de Caso
Para os estudos de caso, foram investigados projetos de identidade visual e mobiliário urbano para cidades diferentes pelo mundo que abrangem técnicas diversas de concepção, são eles: "Porto." do Whitestudio, "Cyclehoop" de Anthony Lau, "People For Smarter Cities" da IBM associada a Ogilvy & Mather e "JiraJira" de Martijn Hartwig e Dario Goldbach. A análise se deu pelo levantamento de seis itens em cada um deles: a descrição do projeto, o processo projetual, os materiais e produção, a identidade visual, a programação cromática e a programação tipográfica. Uma tabela de estudo foi feita da seguinte forma:
O resultado foi a observação de aspectos importantes, que devem ser considerados na concepção do projeto deste trabalho: 28
Identidade visual
Pertencimento
História/releitura
Ícones e símbolos da cidade
Diversidade de pontos de vista
Preocupação estética: cores, conceito.
Embasamento/Justificativa
Preocupação infraestrutural
Retrofit / Parasita
Harmonia com o entorno
Produção em série
Estudo de necessidade direta
Nova função com simples mudança
Utilidade
Materiais / Representação
Texto e tipografia
Estudo de necessidade
Simplicidade / materiais
Mobilidade
Adaptabilidade à cidade
Qualidade além da função
Esses conceitos representam relevantes abordagens para que o projeto possa atender o objetivo de estabelecer uma nova relação do indivíduo com a cidade, que, em muitos outros projetos, veio sendo deixada de lado.
29
6. PROPOSTA
Dessa forma, o objetivo é recuperar e proporcionar o resgate da mais recente identidade do Largo da Batata
A presente proposta, a partir dos estudos levantados a
que, por definição, também é uma praça, "...logradouro
respeito da evolução da cidade, do ambiente urbano, da
delimitado por vias de circulação e/ou pelo alinhamento de
paisagem urbana e da experiência humana ‒ a urbanidade,
imóveis, criado com o intuito de propiciar, em região
tem como objetivo tanto estimular as pessoas, pedestres, a
urbana, espaços abertos e destinados ao lazer e à
se atentarem mais à cidade quando nas ruas e nas
recreação comunitária." (São Paulo, 2008). O resgate do
calçadas, como também fazer com que os elementos na
encontro, do convívio, da permanência, da sociabilidade,
cidade promovam a relação e a união do indivíduos entre si
que hoje ainda é desfavorável pela insuficiência e
e com o meio urbano. Assim como Carlos (2007) afirma,
precariedade de recursos e mobiliários que promovam a
uma nova relação espaço-tempo é impositiva no período
humanização desse espaço urbano.
atual e, portanto, novas interferências na relação entre o habitante e o lugar são necessárias.
A proposta é a de um conjunto de mobiliários urbanos que possa minimamente suprir a vocação de um espaço árido,
O projeto é criar equipamento urbano para o Largo da
potencial para a interação dos indivíduos entre si e com a
Batata, por meio da identificação das necessidades,
cidade, ao mesmo tempo que mantém o princípio do plano
especificidades e potencialidades do local, levantados a
que os cidadãos iniciaram autonomamente. Cria-se, assim,
partir de estudos, conversas, imersão e convívio com o
uma intervenção leve, adaptada à ecologia urbana
lugar e as pessoas habituadas ao Largo.
paulistana, com princípios sustentáveis para os materiais.
30
6.1 O LARGO DA BATATA
6.1.1 CONTEXTO HISTÓRICO
O Largo da Batata é um logradouro público localizado no
O levantamento do histórico do local realizado pela
distrito de Pinheiros, zona oeste da cidade de São Paulo.
organização A Batata Precisa de Você (2016) apresenta
Está situado na confluência da Avenida Brigadeiro Faria
que a primeira ocupação do Largo se deu pelos índios
Lima e das ruas dos Pinheiros, Teodoro Sampaio, Cardeal
guaianás, depois a chegada dos jesuítas em 1560 e, até o
Arcoverde, Baltazar Carrasco, Martim Carrasco, Chopin
início do século XX, foi o período em que o Largo da Batata
Tavares de Lima e Fernão Dias. Pelo decreto da
sempre desempenhou o papel de centralidade no de
Legislação Municipal, o largo é "o alargamento ao longo de
Pinheiros, sendo também um representante da trajetória do
um logradouro, geralmente em frente a algum edifício
bairro como um todo.
público" (São Paulo, 2008). Em meados desse mesmo século, como um lugar de conexão e migração nordestina, o largo se torna um núcleo para comercialização de produtos agrícolas, com o Mercado Caipira, em 1910, e, principalmente nos anos 20, com a chegada dos japoneses, que em 1928 criaram a Cooperativa Agrícola de Cotia (CAC), dando e fixando a antonomásia de Largo da Batata, referência a um dos produtos comercializados no local. Dá-se, assim, a Figura 1 Demarcação da localização e do perímetro urbano do logradouro do Largo da Batata. Fonte: Google Maps
convergência das rotas de transporte público para a região
31
e,
portanto,
o
desenvolvimento
do
comércio,
das
residências e de outras melhorias urbanas, como a
então, volta como um vazio, sem qualquer mobiliário urbano, árvores ou indício de projeto urbanístico.
construção da Avenida Brigadeiro Faria Lima nos anos 70, a construção do metrô, concluída em 2010, e a presença
Ainda no ano de 2013, o Largo da Batata se transformou em um dos palcos das manifestações do Movimento Passe
do Terminal Rodoviário Largo da Batata até 2011.
Livre2, que evidenciaram as discussões sobre o direito à
Com a falência da CAC, em 1994, os camelôs passaram a
cidade e à qualidade de seus serviços aos cidadãos. Com
ocupar o largo, juntamente com o comércio local de
essa sucessão de fatos, em janeiro 2014, um grupo de 10
açougues, casas de forró, lojas de artigos religiosos e
pessoas
prostíbulos. Muda-se, assim, o foco que, previamente,
semanalmente, este foi o princípio do coletivo A Batata
vinha sendo a comercialização de alimentos, para o de
Precisa de Você.
se
sentiu
motivado
a
ocupar
a
praça
transportes. Em 2007, a dinâmica da região começou a mudar com a proposta da Operação Urbana Faria Lima e, em 2013, os
6.1.2 A BATATA PRECISA DE VOCÊ
cidadãos recebem novamente o Largo da Batata, porém, a
É um movimento de apropriação baseado no direito à
proposta
cidade, de Henri Léfèbvre. A organização se denomina da
ganhadora
do
Concurso
Público
Nacional
"Reconversão Urbana do Largo da Batata", promovido pelo
seguinte forma:
Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB), do arquiteto Tito Lívio, prevista pela Operação, não foi entregue. A área, 2
O Movimento Passe Livre (MPL) é um movimento social autônomo, apartidário, horizontal e independente, que luta por um transporte público de verdade, gratuito para o conjunto da população e fora da iniciativa privada.
32
A Batata Precisa de Você é formado por moradores e frequentadores do Largo da Batata e pessoas dispostas a transformar a Batata em um espaço e estar e não apenas de passagem. (...) Nossos objetivos são fortalecer a relação afetiva da população local com o Largo da Batata; evidenciar o potencial de um espaço hoje ainda árido como local de convivência; testar possibilidades de ocupação e reivindicar infraestrutura permanente que melhore a qualidade do Largo como espaço público. (A BATATA PRECISA DE VOCÊ, 2016)
manter um calendário para organização e a promoção dessas atividades gratuitas e públicas que qualquer indivíduo queira propor a qualquer momento. O coletivo resume que sua proposta é transformar: "o Largo de novo em um espaço vivo, com qualidade de convivência. Transformar um não-lugar em um lugar." ( A BATATA PRECISA DE VOCÊ, 2016). O mapa abaixo se encontra no site da iniciativa, onde eles separam a praça em três espaços diferentes afim de estabelecer uma organização dos espaços para as
O coletivo dispõe-se a estabelecer um canal aberto de
atividades.
comunicação entre o poder público, os cidadãos e associações, a fim de debater sobre os processos de gestão compartilhada. Em pouco mais de 2 anos de ocupação, A Batata Precisa de Você conseguiu mudar significativamente a dinâmica da praça, permitindo uma melhor ocupação da mesma pelos cidadãos paulistanos. Ele já promoveu iniciativas como, atrações musicais, oficinas diversas, jogos de rua, conversas e um workshop para a construção de mobiliários para o largo, além de Figura 2 Mapa das áreas no Largo da Batata. Fonte: A Batata Precisa de Você
33
6.1.3 LEVANTAMENTOS
cidade de São Paulo. Com o levantamento das áreas cheias e vazias, é possível observar que nas redondezas, apenas um lote se encontra subutilizado, além do grande terreno abandonado no quadrante centro-leste do mapa, pertencente à antiga CAC (Cooperativa Agrícola de Cotia), que atualmente seria destinado às obras da Operação Urbana Faria Lima, citada anteriormente neste trabalho.
Figura 3 Mapa de Cheios e Vazios do entorno imediato do Largo da Batata
O entorno do Largo da Batata, sendo parte da centralidade antiga do bairro de Pinheiros, desde o ano de sua fundação em 1560, encontra-se bastante adensado, assim como grande parte das outras regiões mais antigas da
Figura 4 Mapa de Uso e Ocupação do Solo do entorno imediato do Largo da Batata
34
O perfil do uso do solo na região próxima ao Largo da
A configuração dos gabaritos das edificações do entorno
Batata se dá, predominantemente, pelas edificações com
do Largo mostra uma predominância no perfil baixo,
finalidade comercial, como foi exemplificado anteriormente
prédios de 1 a 5 pavimentos, como vistos na Figura 4, em
com o histórico de ocupação da área. As residências,
sua maioria edifícios comerciais, característicos da capital,
serviços e instituições se encontram em um perímetro além
bem como alguns residenciais.
do imediato ao Largo.
Figura 6 Mapa de Espaço Público e Privado da região do Largo da Batata Figura 5 Mapa de Gabarito das Edificações do entorno imediato do Largo da Batata
35
No mapa de espaços públicos e privados da figura acima, é possível observar um percentual maior de espaços públicos na região, um pouco mais da metade do mapa tem essa característica. O que configura o Largo da Batata e seu entorno como um local potencial de concentração e passagem de pessoas, diferentemente de outras regiões da cidade.
36
6.2 PROJETO
Das madeiras nas quais os paletes PBR podem ser feitos
O projeto dos mobiliários prevê o reaproveitamento das peças constituintes de um palete PBR usado para a
O objetivo é poder reutilizar essa madeira, restaurando-a e dando-lhe um novo uso. O Largo da Batata já possuía uma série de mobiliários feitos a partir desse material, mas que, o
tratamento
adequado
e
pelo
descuido,
anairoba, amapá, oiticica e timborana), planeja-se que na fabricação do equipamento urbano, essas madeiras
fabricação dos painéis de fechamento dos objetos.
sem
(pinus, faveira, pinho-do-paraná, louro-vermelho, eucalipto,
se
deterioraram rapidamente.
passem por uma triagem, a fim de estabelecer as que estejam ainda em boa qualidade. As principais peças a serem reutilizadas no novo equipamento são as ripas que constituem o palete. É um total de 23 partes, e 4 tipos diferentes de estruturas que se repetem: 8 ripas de 95mm x 1200mm, 3 ripas de 145mm x 1000mm, 3 ripas de 145mm x 1200mm e 9 blocos de 145mm x 145mm x 75mm, todas as ripas devem possuir 21mm de espessura pelo padrão brasileiro. A figura 10 mostra como é feito o encaixe de todas as partes na concepção do palete.
Figura 7 Mobiliário previamente existente no Largo da Batata. Fonte: foto da autora
37
resíduos, incluindo todo tipo de custo relacionado, desde a mão de obra até a documentação. Ao se considerar o custo total do ciclo de vida de um material, por exemplo, é possível se fazer projetos com uma economia considerável de custos a longo prazo, além de poder reduzir também desperdícios e impactos ambientais. O aço inoxidável não precisa de revestimentos ou pintura para protegê-lo da corrosão, além de ser mais resistente a Figura 8 Palete PBR Fonte: http://www.abras.com.br/palete-pbr/palete-pbr-idesenho/
agressões do ambiente. Pode-se notar que o uso desse material em mobiliários urbanos ainda é baixo no Brasil, devido a uma análise rasa
A parte estrutural do mobiliário deve ser feita em aço
e prioritária ao custo inicial, imediato.
inoxidável, visto a sua vantagem em relação aos outros
Uma das técnicas construtivas usadas de encaixe das
materiais. O aço inoxidável, através do método de análise
peças de madeira é a chamada "fixed tongue-and-groove",
CCV (Custeio do Custo e Vida), apresenta um melhor custo
uma espécie de encaixe macho-fêmea para a formação
benefício. Essencialmente, existe uma equação onde é
dos painéis, como na figura 9. Também foi utilizado o
somado o preço do produto à multiplicação do custo anual
encaixe "edge-to-edge" com uma seção longitudinal em 45º
de energia, com a vida estimada e com o fator de
na ripa.
desconto, dessa forma, é possível chegar a um resultado mais preciso sobre o real preço de compra, o custo total de um produto, de sua aquisição até a disposição final de 38
Figura 9 Desenho de exemplo dos encaixes macho e fêmea utilizados
A técnica de acabamento e conservação mais apropriada para a madeira neste projeto é o verniz marítimo afim de que se proteja contra as intempéries e confira maior durabilidade ao material exposto.
39
6.2.1 IMPLANTAÇÃO
Na área 4, planeja-se a instalação de mobiliário propício ao uso de skatistas e patinadores. Atualmente esse espaço é regularmente frequentado por esses esportistas, mas
Na implantação, Figura 11, identifica-se áreas numeradas
devido a inadequação do espaço, eles têm causado a
de 1 a 8 com algumas especificidades de uso. A proposta é
deterioração do mobiliário existente.
que os mobiliários sejam implantados de forma que valorizem o uso potencial já recorrente no Largo da Batata
A área 5, assim como nas áreas 1 e 2, o perfil de permanência dos cidadão é mais frequente, dá-se a
Nas áreas 1 e 2, o fluxo de pessoas idosas ou que
instalação dos mobiliários que novamente permitam o estar
procuram um descanso é mais recorrente que de outro
prolongado.
perfil, principalmente pela presença da Igreja Nossa Senhora de Monte Serrat, esta é também a região mais
Na área 6, hoje, existe a Praça das Araucárias, que
arborizada do Largo, propõe-se a instalação de bancos ao
promove um fluxo maior de adultos e crianças para lazer e
redor das árvores, para permitir e melhorar a permanência
descanso no local, muitos esportistas tendem a usar essa
prolongada dos indivíduos.
área para a prática do skate e do patins, mas a proposta é que eles se localizem prioritariamente nas áreas 4 e 7, afim
Na área 3, propõe-se a instalação de decks, com a
de evitar confrontos entre os tipos de usuários.
finalidade também de palco, para que se possam realizar eventos. É a região mais ampla da do Largo que permite a
A área 7, localizada próxima ao Mercado Municipal Eng.
reunião das pessoas para eventos diversos.
João Pedro de Carvalho neto, hoje possui a presença de vários vendedores ambulantes e esportistas, a projeto é que se possa destinar a área para a ocupação desses dois 40
perfis de frequentadores, o mobiliário a ser implantado
fluxo grande de pedestres devido à saída da estação de
tende a atentar ao skatistas e patinadores.
metrô e às paradas de ônibus.
Na área 8, às quartas-feira acontece a Feira de Orgânicos
Lixeiras e paraciclos cabem estar presentes por todo o
do Largo da Batata, atualmente foi instalada uma estrutura
Largo, visto que são mobiliários de uso frequente e geral
de pergolado para atender essa demanda, há também um
de qualquer usuário ou transeunte do Largo da Batata.
41
Figura 10 Implantação
42
6.2.2 FAMÍLIA DE MOBILIÁRIO
Todas as medidas cotadas nos desenhos a seguir estão na unidade de medida de metro,
Para atender às necessidades do Largo da Batata e promover novamente a humanização do lugar segundo as ordens de implantação, foi concebido o seguinte conjunto de mobiliários urbanos:
Banco modular para 3 lugares com encosto (Figura 12)
Banco modular individual com encosto (Figura 13)
Banco modular para 3 lugares sem encosto (Figura 14)
Jardineira (Figura 15
Deck (Figura 16)
Papeleira (Figura 17)
Paraciclo (Figura 18)
Estrutura do banco modular para 3 lugares sem encosto para uso em esportes (Figura 19) Figura 11 Banco modular para 3 lugares com encosto
43
Figura 12 Banco modular individual com encosto
Figura 13 Banco modular para 3 lugares sem encosto
44
Figura 14 Jardineira
Figura 15 Deck
45
Figura 16 Papeleira
Figura 17 Paraciclo
46
Figura 18 Estrutura do banco modular para 3 lugares sem encosto para uso em esportes
47
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
espelho da verdade política e social. A necessidade do indivíduo estar em um ambiente com uma paisagem
Os efeitos que as questões políticas, culturais, religiosas e
agradável se revelou um ponto profundo do entendimento
econômicas tiveram no desenvolvimento das cidades mais
sensitivo, analisando como se dá a interação dele ao andar
recentemente têm se mostrado mais impactantes, visto as
pelas calçadas, ruas e lugares públicos na cidade; dos
situações problemáticas urbanas, sociais e individuais
elementos móveis, principalmente os objetos físicos que
identificadas,
observado
são muito bem observados pelos pedestres e que têm a
historicamente no início da formação das cidades em suas
capacidade de devolver essa interação, promovendo a
estruturas organizacionais. A produção de espaço pelos
permanência, humanizando espaços urbanos.
contrariamente
ao
que
foi
agentes construtores se mostrou fundamental nesse processo, considerando a relação direta entre o indivíduo e o ambiente externo urbano, e a sua consequência no bemestar das pessoas. A pesquisa através dos autores abordados se mostrou muito rica de informações que complementaram a ideia inicial do estudo, permitindo um aprofundamento em cada uma dessas questões, sendo possível a identificação da atribuição da arquitetura, urbanismo e design na construção de ambientes voltados para o ser humano, para a existência social. E hoje, o que é visto, são cidades reflexo de uma patologia urbana, como
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REFERÊNCIAS
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