Nas Rotas dos Bacalhaus
Séc. IX ao Séc. XVI SENOS DA FONSECA 2005
Nas Rotas dos Bacalhaus
Séc. IX ao Séc. XVI SENOS DA FONSECA 2005
Introdução
E
ste livro nasceu da pretensão de querer saber exactamente, como teria sido o «antes» da Faina Maior (Le Grand Mètier); porque a inquietação para mim, não é o que somos ou o que vamos ser. Mas sim, porque somos, e como somos. Preenchi uma vida em que, sem disso me aperceber, mantive-me atento a todos os sinais que concorressem para tal percepção, acumulando-os no disco duro (se assim lhe quisermos chamar) da memória. Mas não tão duro que não tenha estado plenamente alerta, aberto, atento e receptivo, a tudo quanto o conhecimento científico foi dando resposta coerente às interrogações e perplexidades. Nesta matéria como noutra bem mais fundamental - e total -, não tenho qualquer espécie de dúvida que um dia, com ele, chegará a resposta final, o «Graal» universal. O deslumbramento que me assaltou quando, passada a fase de incredibilidade pela constatação segura de que uma das maiores aventuras do ser humano se tinha indiscutivelmente concretizado num tempo pré-científico, fez redobrar em mim o interesse por aquela epopeia marítima; e quando por meu pai - a quem devendo tudo, devo por acrescen-
to, este interesse pelo devir histórico fui posto perante a interrogação da «fiabilidade» da teoria de segredo dos nossos Descobrimentos, e por via disso, deixando de duvidar, tive o convencimento pleno do paradigma da sua «impraticabilidade», dei por mim a estabelecer elos de ligação entre uma arrojada aventura (a dos norses) e um feito persistente, metódico, já com alguns laivos de conhecimento científico, mas não menos arrojado na essência (o dos portugueses). Era preciso ligá-los, dar-lhes o mínimo de coerência. Procurei perceber, depois, porque da Grande Faina só nos é dado repetidamente, massivamente, exaustivamente, conhecimento de factos sobre os quais, tempo suficiente não é decorrido, ainda, para uma reflexão despojada que os não enviese. Melhor seria perceber as causas do que os efeitos. Por um simples exercício de método comparado. Mas fi-lo acima de tudo, por reconhecimento a tantos com quem convivi, de quem ouvi histórias de pasmar - e de encantar! -, que me deram uma vida plena de orgulho ao poder ajoujar-me à aureola da sua grandeza. De todos esses - que tantos foram! -, seja-me permitido destacar dois, em particular: meu tio e paNas rotas dos Bacalhaus-Séc. IX ao Séc. XVI - 3
drinho, Cap. Júlio Paião - figura de enorme prestígio entre os seus pares, homem singularmente austero, de uma frontalidade que raiava a dureza no trato, mas onde co-existia uma «babada» e quase obsessiva dedicação a este seu sobrinho, o que me marcou para toda a vida, - com quem, diariamente, anos a fio, percorri de bicicleta os caminhos para o ancoradouro do CRUZ DE MALTA, onde, de boné de capitão propositadamente encomendado no Costa de Aveiro, me alcandorei a «capitão» do dito lugre, sonhando um dia ver aquelas velas enfunadas, bem caçadas, rasgando o vento, obedecendo ao «meu leme, seguindo o meu rumo». O outro, por destino da vida, meu sogro, Cap. Vitorino Parracho, que me fez entender melhor a questão desta dupla personalidade co-existindo nestas singulares personagens, quase míticas: - De como um homem do mar, determinado, exigente, e rezingão (q.b.), mandão a bordo, se transformava, saco posto no cais, no mais afável ser que conheci, homem bom, brincalhão, jocoso, onde residia uma permanente boa disposição, de uma bonomia que tocava a todos; e a mim, dum modo muito especial, por me ter aberto a sua família, recebendo-me com uma franca e fraterna amizade, que durou do primeiro até ao último dia, sem que um qualquer que fosse, se tenha tornado excepção.
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Sinto com pena não existirem já, na minha terra, homens como aqueles, com compleição humana de grandeza igual àquela pleia que a emolduraram e lhe definiram o retrato, para todo sempre. Foi uma geração de ouro que se igualava nos feitos e nas virtudes, aos saberes e obras de uns outros «ílhavos» que, em terra, se exercitavam na estética, na escrita, na vida cívica, engrandecendo-a, dando-lhe adequado lugar de destaque no panorama nacional. Não deixaram vindouros para continuar viagem. FOI PENA!!! Cumpre-me relembrá-los, desta ou de outra maneira.
Caro Leitor: Sei bem quanto é despojado o trabalho que lhe entrego nas mãos… Mas também aí, segui os conselhos do sábio mestre, que foi meu pai: “a história não se faz com romances, mas com factos”… Para exercício de crítica, e para eventual correcção de naturais imperfeições, decidi ir por este caminho, procedendo a este ensaio. Por isso serão bem vindas todas as achegas, mesmo as que me queiram dizer que não valeu a pena. Senos da Fonseca
NAS ROTAS DOS BACALHAUS SÉCULO IX ao SÉCULO XVI PARTE I
1- OS NORSES NO ATLÂNTICO NORTE O tempo das polémicas parece ter acabado: - é hoje pacífico, inquestionável, que os Normandos estiveram na Groenlândia e na Terra-Nova, no Século IX. Depois do seu aparecimento em 763 d.C nas costas da Britânia, uma nova identidade de colonos Vickings, mais sedentários e menos guerreiros, começaram a espalhar-se pelo curso do Sena (Normandia - NORTHMAN’S LAND) e pelo litoral oeste de Inglaterra e Irlanda. Nesse Século, todas as regiões setentrionais da Europa estavam colonizadas e havia outros Vickings, procurando ainda, novas paragens, movidos por um espírito nómada de aventura, espantoso. Estes Vickings satisfaziam-se mais com aquilo que os belos pomares e trigais das referidas regiões proporcionavam, do que com a satisfação do espírito guerreiro, indomável, sanguinário e bárbaro, dos seus antepassados de época anterior. Em 860 d.C, a tripulação de um drakkar perdida no golfão dos mares, regressa à Noruega com a notícia de que, a oito dias de viagem para oeste, existia uma gran-
de ilha montanhosa, que parecia desabitada. Logo se preparou uma expedição de três navios de alto bordo, comandada por FLOKI VILGERDASON que contou com colaboração, diz a lenda, de três corvos. Quando os largou, “um seguiu na direcção da popa; o outro, poisou no navio, e o terceiro, voou em frente”. Com ou sem corvos, FLOKI concluiu que perto “haveria grandes rios”. Navegou ao longo de uma costa recortada, onde avistou grandes planícies verdes e, mais longe, distinguiu enormes montanhas cobertas de gelo. Do mar avistou um grande fiord, gelado; daí, ter dado
Viagem dos vickings à Islândia (fig. 1) Nas rotas dos Bacalhaus-Séc. IX ao Séc. XVI - 5
Viagem Eric ”O Vermelho” à Greenland d.C. 983-986
Um desses colonos, guerreiro sanguinário, ERIC “O VERMELHO”, foi, por continuadas rixas e assassínios expulso desta terra; temendo voltar à Noruega, aventurou-se com a família e trinta vizinhos (983-986) navegando sempre a oeste, na procura de uma terra branca de que ouvira falar.
O que encontrou ao fim de quatro dias Viagens de Caça e Comércio d.C. 1050-1350 foi contudo desolador: uma massa imensa, embora Bases na Gronelândia (fig. 2) deslumbrante, de àquela terra o nome de ISLÂNDIA glaciares incrustados nas montanhas rochosas onde apenas habitavam as mor(TERRA DOS GELOS). sas. ERIC não desiste e ruma a Sul, proA partir de 870 d.C começaram a chegar curando região mais habitável. Ao doos primeiros colonizadores que se dis- brar um cabo (hoje FAREWELL), ERIC tribuíram ao longo da costa verdejante vislumbra uma extensa zona verde onde onde pastoreavam o gado que tinham acampa. Denomina-a de GREENLAND trazido consigo; instalaram-se numa (GRONLAND), TERRA VERDE. zona, a que deram o nome de Baía do Decide voltar à Islândia para dar conta Fumo (hoje REYKJAVIC). do seu achado e como consequência obEm 930 d.C contavam-se já perto de ter absolvição do anátema que sobre ele 30.000 colonos - que se haveriam de de- pesava; conseguida aquela, logo se atira signar por NORSES - sendo necessário, de novo à aventura, levando consigo dada tal intensidade de povoamento, mais vinte e cinco navios, dos quais, apenas catorze chegam ao destino. Mas “definir o limite de propriedade”. o caminho estava aberto e, cerca de Viagens à Vinland d.C. 1000-1015
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1000 d.C, a Gronelândia atinge já os 3.000 colonos na base LESTE. Na base de OESTE, 160 milhas a norte ao longo do Estreito de Davis, que se admitia mais promissora, nunca se ultrapassou uma fixação superior a 1.000 - 1.500 colonos. Por isso, a anterior, sobreviveu até 1400 d.C. Ali estabelecido tem Viagem de BJARN farta prole e, dentre Viagem de LEIF esta, um filho LEIF Viagens Exploratórias de LEIF (LEIFR) ERICSSON, que cedo segue as pisadas do Viagens de Bjarn e de Leif (fig.3) Pai: é descrito como um homenzarrão forte, destemido, ar- cido 1000 d.C numa longa, destemida e guto, muito mais moderado e justo que aventurosa saga. seu Pai, Eric “o Vermelho”. Leif é descrito como um “esplêndido homem do Avistaram terra, lançaram ferro, e demar”, o primeiro Vicking a fazer via- sembarcaram. gens comerciais entre a Gronelândia a Escócia e Noruega. A sua coragem é A esta terra, Leif, deu o nome de temperada por uma enorme prudência, HELLULAND (TERRA DOS SEInão indo para o desconhecido sem pro- XOS); prossegue então, avistando praias curar saber, o mais detalhadamente que de areia fina até perder de vista e, por as condições lhe permitiam, o que «po- detrás delas, uma imensa floresta, de que resulta o chamar à região, TERRA deria encontrar». DAS FLORESTAS. Dois dias depois No KNARR que adquire a um merca- chega a uma ilha onde dá conta, a “erva dor (BJARN) que lhe teria dito “existi- crescia em abundância”. rem outras terras a sudoeste”, LEIF, “O VENTUROSO”, lança-se no desconhe- Tinham assim chegado à região a que, Nas rotas dos Bacalhaus-Séc. IX ao Séc. XVI - 7
contrados, permitindo a reconstrução das mesmas, hoje celebrizadas como as CABANAS DE LEIF. LEIF tinha assim chegado à ANSE AUX MEADOWS, no nordeste da actual Terra Nova. Ali estabelece base, de onde, partindo no Verão e regressando no Inverno, faria o reconhecimento da zona próxima (hoje Golfo de S. Lourenço). No local foram posteriormente encontrados vestígios de um «estaleiro» para construção de embarcações (fig. 5) pejado de pregos para as mesmas, que foram fundamentais para fixarem a data da permanência daquela colónia de navegadores/fazendeiros.
Carta geral das expedições vickings (fig. 4)
posteriormente, foi dada a designação de Terras do Labrador. Não pretendendo fazer um reconhecimento da região, Leif decide fazer-se ao mar e descer para Sul, até que encontra os verdejantes prados, afinal, a riqueza que procurava das informações recolhidas de Bjarn. Depara-se-lhe uma zona de pradaria imensa, capaz de satisfazer as suas gentes que, antes do mais, procuravam alimento para o seu gado. LEIF desembarca e logo elege aquela zona para o acampamento de Inverno num prado imenso, cortado por um rio pejado de enormes Salmões - onde os novos colonos ergueram as suas habituais construções de palha e turfa, cujos vestígios, séculos mais tarde, foram en8 - Nas rotas dos Bacalhaus-Séc. IX ao Séc. XVI
Mapa dos achados arqueológicos na Hansa de Meadows (fig. 5)
2- OS NORSES NA VINLÂNDIA Um dia, um dos colonos traz a LEIF umas belas e apetitosas bagas, que o deixam extasiado quando delas faz prova; tão soberbas as acha, que com elas enche uma das embarcações, aquando do regresso. Bagas ou uvas, certo é que LEIF dá àquela região o nome de VINLÂNDIA (TERRA DO VINHO) que, alguns, consideraram tratar-se da actual TERRA NOVA. O que seria exactamente a VINLAND e o eventual relacionamento deste nome com o termo “VIN”, tem gerado grande polémica entre os académicos. É que no arcaico Norueguês (velho germânico) existe a mesma palavra com dois significados diferentes: se escrita com um “i” curto, significaria TERRA DE ERVA (GRASSLAND). Se escrita com um “ii” longo, significaria TERRA DE VINHO (VINLAND). (Anexo I) No FLATEYJARBÓK a palavra é escrita com dois “ii” o que reforça a ideia do significado “vinho”. Só após as primeiras escavações na ANSE AUX MEADOWS, quando se tornou evidente que nunca lá teriam existido uvas, foi retomada a ideia de VINLAND significar, tão só, a terra prometida de “pastos imensos”. Feitas leituras atentas das Sagas, comparando-se os roteiros, o problema não foi totalmente explicado. Ora poderia suceder - admitimos nós -, que os aven-
tureiros tenham trazido as bagas a LEIF que teria ficado em Meadows; e aí, LEIF, teria decidido atribuir a designação de VINLAND, não exactamente à Ilha onde se encontrava instalado (mais tarde Terra Nova), mas sim, a toda a região sobranceira ao Golfo de S. Lourenço. Temos para nós, depois de várias leituras, comparados estudos e sagas, que esta é a explicação mais viável: VINLAND seria pois uma região - a costa norte da actual MASSACHUSETTS - e não, estritamente e só, a TERRA NOVA. LEIF regressa à Gronelândia para dar notícia do achado, o que despoletou novas e várias tentativas de colonização daquelas paragens.
Knarr das sagas (fig. 6)
Assim, organizam a 4ª viagem levada a cabo pelo seu irmão THORVALD, expedição que, contudo, não teve êxito, pois começam a importuná-los uns indígenas que se mostram indomáveis e a Nas rotas dos Bacalhaus-Séc. IX ao Séc. XVI - 9
Vickings nas sagas (fig. 7)
quem chamam de SKRAELINGS. Evidências arqueológicas demonstram que populações índias envolvidas em complexas misturas com povos de ascendência pré-histórica, habitaram a costa da New Foundland (Terra Nova) e a zona Central-Sul do Labrador. Seria destes a ascendência dos Skraelings. É a vez de KARLSEFNI - Thorfinn, “O Valente”, (cunhado de Leif), embarcar em três navios com 150 aventureiros, para intentar sem grande êxito, face ao ataque dos indígenas, a 5ª grande viagem, de que acaba por desistir. A 6ª viagem, e a última, é mesmo encabeçada pela filha de Eric, FREYDIS, que tenta refazer a viagem de Thorfinn KARLSEFNI mas, a sua crueldade e as querelas surgidas entre a tripulação, fa10 - Nas rotas dos Bacalhaus-Séc. IX ao Séc. XVI
zem abortar a expedição. Instala-se o desinteresse e os colonizadores concentram-se na Gronelândia. O frio intenso (hoje está provado ter-se verificado uma profunda mudança climática do Século X ao século XIII, provocando um arrefecimento substancial daquelas paragens) (Anexo II), as dificuldades na alimentação, o abandono dos seus compatriotas, mais interessados na Europa e nas suas riquezas mercantis, que na aventura, originaram que a colonização dos Norses, os descendentes de Eric “o Vermelho”, acabe por extinguir-se, por volta de 1261 d.C.
Mapa de Stefansson 16th-c (fig.8)
3- HELLULAND, MARKLAND, VINLAND HELLULAND corresponde à actual TERRA DE BAFFIN; MARKLAND à TERRA DO LABRADOR, e a região mais a sul, correspondendo muito aproximadamente, ao norte da Nova Inglaterra e da Nova Escócia, corresponde ao que Leif denominou, afinal como a VINLAND Estávamos assim chegados à América do Norte, quase cinco Séculos antes de Colombo! Facto verdadeiramente espantoso, que levou a que durante muitos anos, universitários um pouco lentos em admitir que a sua corporação se tinha enganado, a manterem-se presos a uma argu- Gravura das regiões identificadas (fig. 9) mentação que, pensavam, seria capaz de arredar da história esta aventu- do... Certo é que o foi, sem qualquer ra deslumbrante, um dos maiores feitos motivo para dúvidas subsistentes. da humanidade: Se realmente prova-
4- A SAGA DOS VICKINGS Desta SAGA dos Vickings, de que existe parca documentação histórica - o que é claramente compreensível - só se conheciam factos por relatos orais que foram incluídos nas diversas Sagas (a Saga d’ERIC “O Vermelho”, a Saga dos Gronelandeses, The Vinland SAGAS, The Book of the ICELANDERS, e outros), a maior parte das quais se encontra no FLAT EYJARBÓK, o ex-
A saga d’ Eric “ o vermelho” (fig.10) Nas rotas dos Bacalhaus-Séc. IX ao Séc. XVI - 11
tenso código Islandês que foi escrito entre 1382 e 1395 e traduzido por Magnus MAGNUSSON. SAGAS, que escritas passados que estavam três Séculos do seu acontecimento, desculpam alguns exageros e, até, o povoamento das mesmas com aspectos mitoló- Reconstrução das cabanas dos norses na Groenlândia (fig.11) gicos e outros. Poderá mesmo acontecer - os investigadores são que foram encontradas em IGAL. O dessa opinião - o perpassar de uma certa fiord d’ERIC tem hoje o nome de TUinvenção nos relatos de algumas das NIGDLIARFIK. A zona onde ele se instalou é identificada e corresponde à suas personagens. actual Kaksiarsuk. No Museu de CopeMas hoje, dados arqueológicos confir- nhague existe uma pedra rúnica, enconmam-nas em absoluto quanto ao seu as- trada em 1824, a 72º 58´ de latitude Norpecto fundamental: - os Normandos te, que tem feito correr muita tinta pois, chegaram às Terras Setentrionais afirma-se, ser apócrifa; mas embora discutível quanto à sua verdadeira datação, Americanas cerca do ano 1000 d.C . e só quanto a isso, vem provar, outros Do acerbo daqueles dados, ressaltam elementos não houvesse que, embora esentre outros, os vestígios de 150 quintas pantosas, estas expedições foram bem normandas, e os restos de uma catedral reais.
Pedra rúnica (fig.12) 12 - Nas rotas dos Bacalhaus-Séc. IX ao Séc. XVI
5- PROVA DEFINITIVA DE INGSTAD Estava contudo, ainda para chegar, a prova que viria dissipar todas as dúvidas: De facto, uma maior confirmação, agora sim, já cientificamente indiscutível, viria, quando no início dos anos sessenta foram encontradas por um grupo de peritos (um dos quais viria a ser Governador do leste da Gronelândia e de Spitzbergen, o Dr. Helge INGSTAD) vestígios de grandes casas do tipo Normando construídas pelos Norses (Anexo III), com paredes de turfa e madeira, que objecto de estudo científico - submetidas a teste de carbono 14 - as peças aí encontradas viriam confirmar, sem margem para qualquer dúvida, a sua datação como (sendo) do ANO MIL. Acabaram-se assim, pois, as incertezas. Os locais foram posteriormente escavados por uma equipa internacional apoiada pela UNESCO, que confirmou em absoluto as descobertas de INGSTAD, encontrando um imenso espólio de utensílios nórdicos, inclusivamente, vários objectos de toillete feminina perfeitamente identificados e datados.
navegador” (História dos Descobrimentos) -, o primeiro Europeu a descobrir a costa nordeste do continente Americano. É inegável que a Saga dos Normandos se fez por etapas sucessivas, partindo sempre para mais além, para novo empreendimento, após se estabelecerem na terra achada anteriormente. Assim, da Irlanda ou Noruega, atingem as Feroers, a Islândia, a Gronelândia, a Terra Nova e, por fim, a América Continental. Cedo os Normandos tiveram a percepção das estradas dos ventos que levam para Oeste para depois retornar a NE. As referências geográficas (NANSEN) e as direcções dos itinerários (LANGLOIS) estabelecem “condições objectivas” que vêm confirmar que os Normandos não poderiam ter deixado de atingir o continente Norte Americano.
Há então, afastadas que estão as dúvidas, reflectir desde logo que, atingidos o Labrador e Terra Nova por estes fazendeiros/marinheiros, em tal período, é certo que tal acontecimento, se outros não houvesse, viria colocar em causa ter sido de facto Vespúcio - que Gago Coutinho reconhece “mais um narrador que Nas rotas dos Bacalhaus-Séc. IX ao Séc. XVI - 13
6- EMBARCAÇÕES DOS VICKINGS
Knarr vicking (fig.13)
Com que tipo de barcos fizeram os Normandos estas viagens?...será curioso saber-se… Os nórdicos tinham dois tipos de embarcação para as viagens do alto: o DRAKKAR e o KNARR. O primeiro maior que o segundo; ora com proas e popas alevantadas e iguais (permitindo navegar em qualquer direcção) ou, com popa mais truncada. Havia ainda os pequenos HOLKERS, bem mais pequenos, tipo «bote», para serem usados na subida de rios e nas zonas menos profundas. 14 - Nas rotas dos Bacalhaus-Séc. IX ao Séc. XVI
Knarr vicking costeiro (fig. 14)
Do DRAKKAR e HOLKERS reconhece-se nas embarcações do nosso País, nos seus primórdios, uma clara e inquestionável influência (séc. XI e XII), espe-
Knarr do alto (fig. 15)
cialmente nas zonas da costa norte (ver os halocas e aloques portugueses), a primeira das quais Quirino da Fonseca afirma, “tratar-se do holker escandinavo”. O KNARR Vicking, versão do DRAKKAR de que hoje se começam a encontrar vestígios arqueológicos no nosso País (Sado e, parece agora, na nossa RIA DE AVEIRO ?...) era utilizado para longas viagens, tendo cerca de 16 m de comprimento e 5 m de boca. A proa elevada não tinha contudo a forma guerreira, recurvada, de dragão, do drakkar. Era feito em tabuado de pinho nórdico, perfeitamente chanfrado e sobreposto (trincado), e a quilha e costados, seriam feitos em carvalho. As obras vivas eram estanques, cobertas por peles de animais aplicadas em verde sobre o casco e, depois, recobertas com um massame feito de óleo vegetal (ou de peixe) e cal (conchas esmagadas) que agarrava consistência mesmo debaixo de água. A vela (quadrada) era feita de tecido de lã, sendo o cordame feito de
Knarr vicking a navegar (fig.16)
pele de morsa entrançada. Da proa até ao mastro (único), havia um convés sob o qual se guardavam utensílios, e onde se abrigava a tripulação. À ré, lateralmente a estibordo, estava colocada a esparrela, o leme da altura. Havia remos que podiam ser utilizados e, na zona central, quando o KNARR tinha dimensão maior, era construído um porão para transporte de animais.
Knarr vicking navegando a 70o vento (fig.17) Nas rotas dos Bacalhaus-Séc. IX ao Séc. XVI - 15
7- E DEPOIS DOS VICKINGS?...
O AVISTAMENTO DE DIOGO de TEIVE
Terminada esta Saga quem foram os seguintes frequentadores da Terra Nova? No início do século XV (1412) - na Histoire du Port de Bayone -, CROZIER afirma que nessa data, vinte barcos Bascos se encontravam a pescar baleia na GROENDERFIOERD e no golfo de GRUNDER. Ora, nessa época, os Bascos pescavam a baleia nas costas da Irlanda. Sucedeu que aquelas teriam entretanto desaparecido daqueles mares, pelo que, indo em sua procura, avistaram uma nova terra em cujas águas depararam com uma quantidade imensa de Bacalhaus, facto que deu origem à outorga do nome «A TERRA DOS BACALHAUS» àquela zona do Atlântico Norte. Formalmente, documentalmente contudo, a presença dos Bascos só é referenciada em 1528, pelo que anteriores visitas são do domínio das suposições. É certo que por essa altura, contudo, já Diogo de Teive, navegador português diz-nos Fernando Colombo na História della Vita e Fatti di Cristoforo Colombo, segundo cópia de Bartolomeu de Las CASAS, na História de las Índias partindo do Faial navegou para Ocidente, para Sudoeste, 150 Léguas e, ao regressar, teria encontrado a ilha das Flores. Fazendo-se ao mar, daqui navegando para NORDESTE - diz-nos ainda 16 - Nas rotas dos Bacalhaus-Séc. IX ao Séc. XVI
Fernando Colombo -, Teive toma a latitude do cabo Clear na Irlanda, de onde rumando sempre a oeste acercou-se de uma ilha, que Jaime Cortesão, Damião Peres e Armando Cortesão aceitam, poder tratar-se da Terra Nova. (História da Viagem de Diogo de Teive e Pêro Vasquez de la Frontera ao Banco da Terra Nova em 1452 - Jaime Cortesão, e ainda do mesmo: - LOS PORTUGUESES - integrado na História da América y de los Pueblos Americanos - A. Ballesteros). Teive - assegura-se -, obedeceria a ordens secretas de D. Henrique, de quem era escudeiro, dono de caravela e descobridor das Flores, na procura das Antilias ou das Sete-Cidades, ilha mítica, pois, dizia-se “teria sido fundada por seis bispos e um arcebispo, em fuga da península aquando das invasões muçulmanas, no século VIII”, tendo sido procurada, sucessiva e intensamente pelos navegadores do Atlântico, já que na altura, pensava-se, seria(m) a base para se chegar ao oriente desejado. Teive teria realizado essa viagem em 1452, ou até, talvez antes (segundo Las Casas, Fernando Colombo e Damião Peres). Esta viagem originaria forte controvérsia. De facto, Jaime Cortesão, analisando as informações de Fernando Colombo e de Las Casas, (DESCOBRIMENTOS PORTUGUESES - TOMO II), decide corrigir o rumo Nordeste indicado,
para Noroeste, pois esse seria - diz - , o único que possibilitaria a ida à Terra Nova, deixando o Cabo Clear por LOESTE e regressar aos Açores, como se afirma na descrição da viagem. Duarte Leite e o brasileiro Marcondes Sousa contestaram Cortesão, mais preocupados contudo com a identificação daquilo que Teive teria avistado, do que com o rumo provável da viagem. A ideia de Cortesão fez escola e é S. MORISON que ousa esclarecer que o rumo, deveria ter sido, de facto, NORDESTE, pois,
Possível itinerário da viagem de Diogo de Teive (fig. 18)
feita a viagem em Agosto (nisso há absoluto acordo), diz Morison, nessa altura do ano, os ventos nas latitudes entre os 45º-60ºN, sopram invariavelmente do NOROESTE ou do OESTE; assim Teive teria navegado para a Irlanda, deixando o cabo Clear por LESTE (per lo este,
como nos diz Fernando Colombo), e, subindo a latitudes mais altas, teria encontrado os ventos de LESTE (os mesmos que teriam levado os Norses até à Vinland), que o encaminharam até ao dito convencimento de que teria terra pela frente (Terra Nova?); nestas paragens, apanhou os ventos do Oeste para regressar aos Açores. Hoje, com conhecimentos muito mais apurados sobre as grandes navegações à vela e seus roteiros, esta hipótese, parece-nos evidentemente lógica. Dadas as condições climatéricas “habituais nestas regiões sub árticas, (em que) apesar da sua latitude temperada, o Atlântico é o mar onde os gelos baixam até latitudes mais próximas do equador - com fortes ventos do oeste, fortíssimas brumas, gelos e inclemência do clima”; temendo o Inverno, impedido de a elas aportar, Teive regressa, pois e apenas, com a notícia da sua convicção... Curiosamente nesta viagem leva a bordo o piloto andaluz Pietro (Pêro) Vasquez (VELASCO) - o mesmo que irá dar a Colombo (facto relatado nos Pleitos de Cólon) a informação sobre as terras a Ocidente . Diogo de Teive teria sido, assim, o primeiro Português, e o primeiro EuroNas rotas dos Bacalhaus-Séc. IX ao Séc. XVI - 17
aquelas paragens e que Gago Coutinho refere, mais se deveria chamar Planisfério Português, pois, foi seu autor, um português anónimo. Na sua obra fundamental, “Discovery of North América” (1892), Harrisse, “nota que a primitiva nomenclatura de Terra-Nova, é exclusivamente Portuguesa; o primitivo Cabo Race é o actual Cap Race”; Harrisse regista ainda, que entre 1431 e 1492 - vinte e uma!explorações, foram feitas pelos portugueses na procura das Sete Cidades. Não há contudo registos de que tais viagens tenham provocado qualquer acção ou impulsionado outras expedições no sentido da exploração da riqueza de tal região. IMAGO MUNDI 1410 (com anotações de Colombo) (fig. 19)
peu depois dos Norses, a encontrar, ou se quisermos ser mais precisos, a avistar a VINLAND, terra de que já se falava na Europa, depois da saga dos Normandos.
As viagens de Diogo de Teive, hoje tidas como indiscutíveis, podem, no dizer de Jaime Cortesão, “entenderem-se como um elo da cadeia que vai do descobrimento dos Açores à procura das ilhas perdidas das Sete Cidades e/ou Antilias forjada sob o signo do Infante D. Henrique”.
Gago Coutinho na História dos Descobrimentos (Novas Reflexões) refere a obra de Henry Harrisse, jurisconsulto americano que em finais do Século XIX (1882 e seguintes), publicou vários livros entre os quais, LES CORTE REAL (1883), onde aparece referido o Planisfério de Cantino, até então quase desconhecido, o primeiro onde foram apontadas Planisfério de Anónimo Português, dito de Cantino (fig. 20) 18 - Nas rotas dos Bacalhaus-Séc. IX ao Séc. XVI
8- COLOMBO TAMBÉM LÁ ESTEVE.... Hoje é sabido ter Colombo estado na Islândia em 1477, pois é ele que nos diz: “Eu naveguei em 1477, no mês de Fevereiro, cem léguas para lá da ilha de TILE (Islândia) onde a parte austral fica a 73 º da linha do equinócio (um erro de Colombo mas que demonstra a autenticidade da viagem, o que para nós é mais importante) e não a 63 º como alguns A Antilia – Carta de Pizzigano (fig. 21) querem fazer crer; ela não se encontra sobre o meridiano mo à Gronelândia, organizada em onde segundo Ptolomeu começa o oci- 1476/77 pelo rei Cristiano I da Dinamardente, mas mais a oeste (…) e à época ca, a pedido de D. Afonso V - consequando lá fui o mar não estava gelado quência da exaustão dos cofres públicos, (…) mas as marés eram tão fortes que e da experiência dos Normandos, naem certos lugares montavam a 26 bra- queles mares - , viagem que Colombo ças(?) e desciam outro tanto (…)” (em relata, como acima vimos, fazendo con- La Découverte de L’Amérique - Tradu- siderações sobre as posições sugeridas ção de Soledad ESTORACH e Michel por Ptolomeu para as já referidas AntíLEQUENNE, e em - Christophe Co- lias, e/ou, Sete Cidades. lomb - Samuel MORISON), integrado numa expedição que teria chegado mes-
9- NAVEGADORES PORTUGUESES NA TERRA NOVA A importância desta imensa reserva natural, é continuadamente desconhecida e inexplorada até ao fim do Século XIV, meados do Século XV. Depois dos Bascos e das suas campanhas exploratórias para a pesca, é só em
1497, quando o veneziano Cabot é enviado pelo Rei de Inglaterra para se inteirar da Terra Nova - curiosamente seguindo indicações dadas por um tal “Labrador dos Açores” (João Fernandes Labrador) - que aquele dá conta da incomparável riqueza da região, surpreNas rotas dos Bacalhaus-Séc. IX ao Séc. XVI - 19
endido com os seus numerosos bancos, povoados de imensos cardumes de bacalhaus pois, relata, “está tão abarrotado de cardumes de peixe que os podemos apanhar com uma simples linha”. E continua: “daqui em diante a Inglaterra não terá mais necessidade de importar peixe da Islândia, de onde vêm grandes quantidades de stockfish” 9.1- João Fernandes Labrador O topónimo Labrador pelo qual se designa a península NE Americana, foi um verdadeiro quebra cabeças para os historiadores, e só um acaso fortuito permitiu explicá-lo, quando o historiador açoreano Ernesto do Canto, encontrou uma demanda de um tal Pedro de Barcelos, em que este afirma “houve um mandado de el-rei nosso Senhor para ir descobrir, eu e um João Fernandes Labrador, no qual descobrimento andámos uns bons três anos…” pelo que, pela data da demanda, Canto sugere a data do feito, como muito provável de ter acontecido em 1492. Em consequência da mesma, Henrique VII concede a João Fernandes Labrador uma carta patente sobre “umas terras que ele encontrara quando andou navegando com Pedro de Barcelos” (diz-se ter sido este “o sponsor” de tal re-descoberta - MORISON na European Discovery, QUINN em New American World) pelos mares ocidentais, viagem que se fixou, poder ter sido concretizada entre 1492 e 1498 (datas de que, volta não volta, aparecem desencontradas opiniões). Não sobre a viagem, mas pela data exac20 - Nas rotas dos Bacalhaus-Séc. IX ao Séc. XVI
ta em que a mesma teria sido levada a cabo, perante o registo que da mesma aparece no planisfério de Cantino, atrás referido, dado existirem dúvidas se a referência aí feita foi consequência de informação sugerida desta viagem ou, se foi colhida pelo autor anónimo, após as viagens de Corte-Real (mais provável). 9.2- João Álvares Fagundes, funda na TERRA NOVA a primeira colónia de pesca europeia Em 1502 um mercador de Viana do Castelo, João Álvares Fagundes fez uma viagem de exploração ao sul da Newfoundland (Terra Nova). Largou em Abril para uma viagem de reconhecimento, para o Norte, onde pensava estabelecer-se, face a um alvará concedido pelo Rei Venturoso, onde lhe era prometida, “a Capitania de todas as terras que descobrisse dentro do limite a norte(?) (LESTE) da linha de demarcação com Castela e a sul da Costa Leste da Terra Nova dos Bacalhaos”. Em Maio, o navegador passou SABLE ISLAND, a que chamou Santa Cruz e, pouco depois, chegou à Nova Escócia que contornou para Norte a partir de uma baía a que pôs o nome de Aguada, que se pensa ser, a entrada do estreito de Canso, incluindo Chedabucto Bay. «Costeou» o Cap Breton, a que chamou de S. João - pois lá passou o 24 de Ju-
nho - e a 29 do mesmo mês «encontrou» a ilha de S. Pedro; prosseguiu viagem, descobrindo as ilhas de S. Pantaleão e a ilha Pitiguoem, que provavelmente correspondem às paragens de St.-Pièrre e Miquelon. Dobra a península de Burin onde descobre as Onze Mil Virgens (conjunto enorme de pequenas ilhas em Placenta Bay, onde ainda hoje se referenciam “umas” VIRGIN ROCKS), e só então regressa a Portugal, em Setembro do mesmo ano. Depois de em Lisboa fazer valer os direitos prometidos na carta régia, obtidos estes, parte com a família, em 1522 (ou 1525), decidido a empreender nova viagem para se estabelecer na Capitania que lhe fora outorgada. Poucas notícias se sabem da colónia piscatória que foi instalar, mas existe a referência, exarada em 1570 num manuscrito de um seu neto, Francisco de Sousa Fagundes, publicado por Biggar no original e em tradução nos “LES PERCURSEURS DE JEAN CARTIER”, manuscrito que existe em Portugal, onde se diz: «Haverá 45 ou 50 anos, que de Viana se juntarão certos homens fidalgos, e pela informação que tiveram da Terra Nova do bacalhau, se determinaram a hir povoar algua parte della, como de feito forão em hua nau e hua caravella e por acharem a terra muito fria …. correram para a costa de leste até darem na Nordeste e ali habitaram…”.
Certo é que Fagundes funda aí, uma estação permanente de pesca em terra que se crê ter sido a primeira de países europeus! - algures, perto do Cap Breton. O que acima se refere, gerou, pois, imensa polémica, dado que o que se sabe resulta de uma tradição oral, e não, de acontecimentos registados que permitissem chegar a uma terra, identificá-la, e fixar o modo de lá voltar. Isto é o que na opinião de historiadores se define como uma descoberta. Por isso, muitos defendem que estas visitas ocasionais dos Normandos, dos Bascos e depois dos Portugueses, acima referidas, tiveram muito de ocasional, foram fruto de diversas circunstâncias pelo que, as mesmas, quanto ao que nos diz respeito, se não integrariam naquilo que foi o processo dos Descobrimentos Portugueses. Este «parece que alheamento» da coroa pelos descobrimentos a Ocidente, sempre feitos à custa dos «cabedais» dos navegadores - ou contra alvíssaras prometidas - poderá ter dois significados: ou era perfeitamente adquirido que aquelas terras estavam para lá do limite de divisão de Tordesilhas (Anexo IV), não questionando por causa de tão escassa parcela (a ilha da Terra-Nova), ou, sabíamos, já então, claramente, que o caminho para as «índias» não passava por ali. O que parece contudo ser certo, é que os Nas rotas dos Bacalhaus-Séc. IX ao Séc. XVI - 21
Portugueses foram dos primeiros a chegar a estas paragens, muito embora seja discutível saber por que povos do Norte da Europa teriam sido acompanhados
nas suas deambulações atrevidas, plenas de aventura, arrojo e pertinácia. E de inquestionável «saber marinheiro».
10- VIAGENS DE CABOT. CORTE REAL O 1º DESCOBRIDOR DA TERRA DOS BACALHAUS. É pois chegada altura de trazermos à cena os Corte Reais. Mas antes que aí penetremos, passemos uma olhadela pela célebre viagem de Giovani Cabot (CABOTTO) para entendermos o seu significado. Cabot, era italiano (mais própriamente um veneziano, como Colombo(?)) que teria a intenção de convencer Henrique VII de Inglaterra a nele confiar, para concretizar uma viagem semelhante à de Colombo, propondo-se encontrar o oriente das especiarias, a passagem para CATHAY, navegando para Oeste. Em 1495 parte para Inglaterra, a fim de apresentar o seu projecto ao Rei Henrique daquele país. Chegado, consegue despertar o interesse de Henrique VII, e vê mesmo ser-lhe atribuída uma concessão muito extensa, pela qual, lhe seriam “concedidas todas as regiões e costas a oriente, ocidente e a norte…” Ora Cabot mistificou muito da sua viagem e procurou ampliar o feito pois, quando lá chegou, já os Portugueses lá 22 - Nas rotas dos Bacalhaus-Séc. IX ao Séc. XVI
Viagens Cabot (fig. 22)
andavam, ou lá teriam estado. Nenhuma confirmação concreta junta, e isto, apesar de ter levado indicações seguras que lhe foram confiadas por um “tal mercador” português, FERNANDES LABRADOR. Em carta do mercador Lorenzo Pasqualigo, diz este para Veneza: “o nosso veneziano … partiu de Bristol, num pequeno navio … e regressou, dizendo ter descoberto o grande cã (China). Trouxe umas armadilhas, já que não encontrou ninguém e uma agulha de fazer redes… e viu uns entalhes nas árvores… e por isso lhe parece que há gente… Na volta teria descoberto duas ilhas e as referidas Sete Cidades.
nitivamente a SAGA DOS BACALHAUS.
Cabot no cabo Bonavista (fig. 23)
Cabot estava convencido, e disso convenceu o próprio rei, que teria descoberto o sítio de onde viriam as especiarias pois, afirma, “pretender fazer de Londres um mercado mais importante de especiarias que Alexandria”. Imaginou assim, ter chegado à Ásia, e ao comércio rico do oriente. Por isso, pretendeu ir lá numa segunda viagem para o que organiza nova expedição, sucedendo porém, que desapareceu durante a mesma. As viagens de Cabot, ao contrário das dos Corte Reais não tiveram qualquer impacto na cartografia do tempo. E não tiveram outra consequência, que não fosse a constatação da riqueza daquelas paragens em peixe, o que teria contribuído para uma definitiva e coordenada procura das mesmas, para a prática de uma pesca que desde o início foi já intensiva. Começava defi-
É por volta de 1500 que os Corte Reais se começam a interessar pelas riquezas que, através de viagens feitas pelos mares Setentrionais, João Corte Real parece adivinhar serem muito prometedoras, João Corte Real donatário da Capitania da Angra, na Ilha Terceira - refere Gaspar Frutuoso em Saudades da Terra Século XVI -, que lhe teria sido concedida em 1474, a ele e a Álvaro Martins Homem, por D. Beatriz, viúva de D. Fernando, aquando do regresso daqueles de uma viagem às Terras dos Bacalhaus, a ordem de El-Rei. Depois de muito deambular por aquelas paragens, João Corte Real envia uma petição a D. Manuel, para “conthenuar” à sua própria custa os seus trabalhos para “ buscar, descobrir e achar” as ditas ilhas e terra firme”, obtendo em consequência do pedido, uma carta régia que lhe concede valiosos privilégios sobre as terras acha-
Viagem G. Corte real 1500 (fig. 24) Nas rotas dos Bacalhaus-Séc. IX ao Séc. XVI - 23
das ou a achar. Para garantir esta concessão, seu filho Gaspar, iniciou duas viagens de que há notícias, agora sim, documentadas. A primeira A. Galvão, (TRATADO DOS DESCOBRIMENTOS) localiza-a em 1500, e diz ter sido realizada por dois navios (há dúvidas se não teriam sido três) tendo Gaspar “descoberto uma terra muito fresca e verde… pelos 50 graus…” a que chamou TERRA VERDE. Quanto à segunda, em que Gaspar desapareceu, assume-se ter sido feita por três barcos, dois dos quais regressaram a Lisboa com sete nativos “que falavam uma língua desconhecida” e tinham, “uma tez diferente de to-
Das investigações, das diferentes interpretações sobre o número de navios que se integraram nas viagens, o que se pensa, é que Gaspar Corte Real na primeira viagem já teria avistado e feito reconhecimento da Terra Nova - em 1501 Corte Real diz ter chegado a uma “terra firme” que era “côtinua” com a terra de Santa Cruz onde “havia lá esquimós” e, ao sul, índios vivendo “nudi” - à qual os seus navios não puderam aportar, “por causa dos gelos”, pelo que se admite que, afinal, teria ido mesmo também até à Groenlândia. E seria este (então) o avistamento referido no mapa de Cantino… e não, o anterior, de João Fernandes Labrador e Pedro de Barcelos. O que é certo é que o mapa de 1504 de Jorge Reinel representa a Terra Nova de um modo muito semelhante a Cantino, mas com uma série de topónimos de ilhas e cabos que ainda hoje guardam esses nomes: - CABO DA ESPERA, BAÍA DA CONCEIÇÃO, CABO RASO, ILHA DOS BACALHAUS.
Gaspar Corte Real na Terra Nova (fig. 25)
dos os indígenas que até aí tinham sido trazidos para Portugal em todas as expedições”. 24 - Nas rotas dos Bacalhaus-Séc. IX ao Séc. XVI
Semanas e meses passados da chegada das primeiras embarcações regressadas a Lisboa, como Gaspar Corte Real não aparecesse, seu irmão Miguel pede autorização ao rei D. Manuel para o procu-
Atlas de Vaz Dourado onde aparece a designação terra dos Corte Reais e terra do Labrador (fig. 26)
rar, e parte nesse intento, depois de obter carta de Mercês, em Maio de 1502. Nada mais se volta a saber dele. Sabe -se que chegados à Terra Nova deu ordem para dispersar os navios, com a obrigação de se reunirem até 20 de Agosto, trato que ele próprio, Miguel Corte Real, não cumpre, pelo que, os outros dois capitães regressam a Lisboa. Aqui, o terceiro irmão, VASQUEANES Corte Real, pediu a D. Manuel autorização para partir em busca dos irmãos, ao que, o Monarca desta vez não cedeu, pois, tendo já a seu cargo enviado à Terra Nova duas Naus, elas não teriam trazido quaisquer notícias dos navegadores desaparecidos. Este desaparecimento dos Corte Reais chega mais tarde a trazer para a discussão, elementos introduzidos pela questão da Pedra de DIGHTON, rochedo situado na foz do Rio TAUNTON, no Estado de Massachussets, depois removida para o Dighton Rock Museum, pedra onde se afirmava estar gravada uma ins-
crição referindo a presença de Miguel Corte Real naquele local. Muito tem dado que falar tal pedregulho. Há as mais sérias reservas às leituras abusivas que foram, e ainda vêm sendo feitas sobre esse assunto, de que já ouvimos falar em Ílhavo pelo seguidor do Prof. Delabarre, o próprio Dr. Luciano Silva. Jaime Cortesão, mas muito especialmente Luís Albuquerque (Dúvidas e Certezas dos Descobrimentos Portugueses), liminarmente, duramente, violentamente até, desmontaram as pretensões dos que afirmaram decifrar a pedra, “lendo nas inscrições a prova de que Corte Real ali teria estado”, e até - afirmam! “ter sido chefe de indígenas locais” - (Dr. Manuel Luciano Silva). Damião Peres acredita num desaparecimento dos Corte Reais em mares tão difíceis e não “os vê como chefes tribais, na ameríndia das margens do rio Tau-
Carta de Diogo Ribeiro (1532) ( fig. 27) Nas rotas dos Bacalhaus-Séc. IX ao Séc. XVI - 25
ton”. Da mesma opinião são os nossos mais eruditos historiadores já acima re-
feridos, a que se juntam Armando Cortesão e Gago Coutinho.
11-O INÍCIO DA GRANDE SAGA DOS BACALHAUS A partir do princípio do Século XVI intensificou-se a ida de diversas embarcações na procura dos Bacalhaus, agora com um programa perfeitamente claro e objectivo, com a finalidade de capturar esta espécime de peixe que passou então a ser essencial a uma Europa que tinha, por motivos religiosos, nessa altura, 150 dias por ano de abstinência de carne. Portugal acompanha esta epopeia, e é tal a importância económica das capturas que em 1506, D. Manuel, reclama para a corte o dízimo na pesca do Bacalhau nos portos de Aveiro e Viana (H.P.
“História de gentibus septentrionais” Roma 1555 (fig. 28)
BIGGAR atrás citado, afirma “que tal imposto se destinaria ao pagamento dos custos das viagens de Corte Real”), o que dá conta da importância do mesmo na nossa economia significando que nesses anos, era já muito intensa a pesca do fiel amigo. Esses benefícios foram 26 - Nas rotas dos Bacalhaus-Séc. IX ao Séc. XVI
sucessivamente renovados pelos Reis D. João III em 1522, passados para seu filho em 1538, e confirmados por D. Sebastião em 1576. Há notícias, como atrás referimos, sobre o estabelecimento de uma primeira colónia em terra, fundada por portugueses a sudeste da Terra Nova, havendo contudo, hoje ainda, alguma hesitação quanto às datas exactas da sua fixação: uns afirmam ter sido estabelecida em 1506 (isto é, para se ter uma ideia, seis anos após a segunda viagem de Gaspar Corte Real!), outros na sequência da viagem de Álvares Fagundes em 1524/25 e outros como Morison, referem-na em 1544. De todos os modos, teria sido, pensa-se, uma das primeiras, senão a primeira, dos países Europeus. Essa colónia era composta de gentes de Aveiro e Viana do Castelo que, no dealbar da Saga dos Bacalhaus, sempre estiveram juntas. Refere-se desse tempo, como se pode verificar da citação de ADRIANO BALBI em 1882 “...puisque’ ils y allaient á cette époque, le seul port d’Áeiro y envoiyant soixante navires par an… (…) d'ailleurs les noms des ports de ille de Terre Neuve sont presque tous portugais…”
Assim, constatamos que só de Aveiro sairiam 60 embarcações, de um total de 150 que o País enviava no último quartel do Século XVI, à Terra Nova (Anexo V). Se pensarmos que pela mesma altura (1548) a França tinha neste esforço de pesca 150 embarcações, podemos avaliar da importância desta actividade, no nosso país, naqueles tempos. Esta colónia que chegou a controlar grande parte do litoral, optava por salgar e secar o bacalhau em instalações, em terra, que os navios vinham abastecer. Sabe-se que a colónia se mantinha a funcionar, ainda, em 1579, nas mãos de Vasqueanes (?) Corte Real. Curiosamente, a palavra BACALHAU vem do nome dado pelos Bascos a tal espécime de peixe, designando-o por BAKAILU, derivando para BACALAO as suas variantes encontradas nos bancos. Condições climáticas no século XIII levaram ao progressivo desaparecimento do Bacalhau da Mancha e das costas Irlandesas. Há documentos que referem ter sido celebrado em 1327, um acordo entre pescadores portugueses e Eduardo III de Inglaterra, em que é concedido àqueles, durante “cincoenta anos”, direitos de pesca nas costas daquele reino. Reza o acordo referenciado em TRADIÇÕES HISTÓRICAS E ECONÓMICAS de Eurico VALLE (Lisboa 1991): “tratado de 1327-1377 entre Inglaterra
e Senhorios das cidades marítimas do Porto e Lisboa, e outros do Reino. Previa que os pescadores portugueses poderiam ir pescar livremente nos portos de INGLATERRA e BRETANHA, ou noutros portos e lugares pagando somente os direitos devidos ao País”. Foi o negociador do mesmo Afonso Martins, chamado de ALHO. A crise do arenque nos mares setentrionais, com a posição assumida pela Dinamarca, leva à procura de outra espécime mais rentável e, acima de tudo, capaz de aguentar longos períodos de salga. Vai então começar a saga do BACALAO iniciada pelos franceses no dealbar do Século XVI, no que serão acompanhados por Bascos, Dinamarqueses, Portugueses e outros. No Atlas do italiano Andrea Bianco (1436), aparece numa zona a oeste do Atlântico, o nome de stoc fis de onde derivará o nome inglês de stockfish, que quer dizer peixe seco ao ar sobre cordas (em francês ESTOC - poisson de bâton). Algo parecido com o secretismo dos descobrimentos portugueses, vai passar-se então com as primeiras Campanhas à procura dos Bacalhaus; a pesca miraculosa que era feita por alguns, leva à procura de novas informações. O segredo é mantido tão ciosamente quanto possível. Tal segredo guardado durante os primeiros achados, porque pouco ou nada Nas rotas dos Bacalhaus-Séc. IX ao Séc. XVI - 27
referido em manuscritos, mas apenas em versão oral, pôde ser mantido até às viagens de Cabot e Cartier (1534). A partir daí, e depois das viagens de Corte Real, o segredo terminou. Todas as flotilhas dos armadores de pesca da Europa foram em busca do el-dorado de então. Desde o Século XV (1470) e, principalmente nos primeiros decénios do Século
XVI, os portos portugueses (Aveiro e Viana) e também os normandos (Honfleur 1506), bretões (Bréaht 1508 e Dahouet 1510) bascos (Cap Breton) destes são referidas já em 1412 uma vintena de embarcações ao largo da Islândia -, passam a armar embarcações para pescar o bacalao e, em alguns casos, praticarem mesmo, inicialmente, uma pesca múltipla: a da baleia conjuntamente com a do bacalhau (bascos).
12- FROTA DOS BACALHAUS NO SÉCULO XV E SÉCULO XVI Uma frota imensa, começa então a ganhar corpo; na Histoire de la pêche française de la morue dans L’amerique septentrionale - La Morandière refere que todos os portos, mesmo os mais pequenos, se afirmam como armadores de “Terre-Neuves”. Continua, para sublinhar que tudo o que era “matelot” ou pescador de peixe fresco, passa a integrar a frota para os Bancos. A dimensão de tal frota em França, se parece excessiva a alguns, é, pelo contrário, confirmada por outros historiadores que até a julgam, pecar por defeito, pois, só os arquivos de La Rochelle e de Bordéus registam armar, a meio do século XVI, para cima de 150 embarcações. No fim do Século XVI, utilizando uma tecnologia rudimentar, eram já colhidas 100.000 toneladas de bacalhau por ano, quantidade que no séc. XIX, 28 - Nas rotas dos Bacalhaus-Séc. IX ao Séc. XVI
No ínicio a tonelagem das embarcações era limitada 30 a 40 ton (tonéis), dez a doze Homens (fig. 29)
atingia valores que oscilavam segundo os anos, entre 150.000 a 400.000 toneladas por ano.
No século XVIII, GRANVILLE - Ílhavo da pesca Bacalhoeira francesa - acolhe na sua bacia - pois nem sequer era porto de grande qualidade - mais de uma centena de terras novas, empregando tal actividade 6.000 tripulantes, registados. Em 1578 um navegador inglês, PARKHURST, estima em 350 a 380 o nú-
13-
AS
PRIMEIRAS
Pesca bacalhau à deriva ( fig.30)
mero de bacalhoeiros a pescar na Terra Nova, dos quais, 150 serão franceses.
EMBARCAÇÕES
DA
PESCA
DO
BACALHAU Os Bascos e os Portugueses nas suas primeiras idas aos bancos empregam a caravela (Anexo VI).
ganho à bolina, sendo dos navios da época o único que capaz de fazer rota contra ventos contrários, bolinando (67,º5); diz-nos ainda Pedro Quirino da Fonseca, que a tonelagem deste tipo de embarcação variava entre os vinte e os oitenta tonéis, e ainda ser a caravela “a embarcação que melhores características apresentava para a pesca do alto era a de dois masUm dos primeiros esboços conhecidos de uma caravela, sigla de um construtor (fig. 31) tros, por exigir Embarcação “de excepcionais qualida- uma tripulação reduzida, ser de manodes marinheiras, esbelta, bolineira, exí- bra fácil, e aguentar-se muito bem com gua de porte, muito veloz, vocacionada os ventos da costa e do mar largo, e ter para a pesca em zonas longe da costa reacções muito rápidas”. (Quirino da Fonseca), resistente a mar forte, com excelente comportamento no A partir o século XVI verifica-se o deNas rotas dos Bacalhaus-Séc. IX ao Séc. XVI - 29
Caravelas (fig 32)
saparecimento deste tipo de embarcação; os franceses usaram os mais diversos tipos de navios de alto bordo, como os drogues (barcos de dois mastros, envergando no mastro grande duas velas quadrangulares), os brigantines (embarcações de 100 a 150 tonéis, de bordo baixo, que tinham a vantagem de poder envergar remos que lhes permitiam deslocarem-se nas calmarias), as fragatas, as pinassas e os biscaYennes, de que hoje existem réplicas que permitem fazer uma ideia da sua forma e características. Só mais tarde apareceram as Goèletes. A travessia atlântica demorava então, em média, dois meses, sendo a navegação feita por estima, dum modo empírico: os pilotos - os franceses usaram o pi-
loto e o capitão de pesca, enquanto ao que se crê, os portugueses fundiram numa só pessoa, as duas funções - iam até à latitude 44º ou 45º, e aí, sabiam que navegando sempre para oeste no mesmo paralelo, um dia ou outro, prevendo por estima a velocidade do navio ao longo da viagem, chegariam ao banco pretendido. Ou, pelo menos, bem perto. Pela côr das águas - e também pelo aparecimento de certas aves -começavam um trabalho de sonda: “chegados às 30, 40 ou 50 braças, estavam nos bancos e era, pois a altura de iniciar a pesca” (LA MORANDIÈRE).
Barco St. Malo de 100 Ton - Séc XVI-XVII (fig. 33)
30 - Nas rotas dos Bacalhaus-Séc. IX ao Séc. XVI
Ao tempo procurava-se o grande Banco, plataforma imensa de altos fundos, de forma triangular, situado ao Sul e Sudeste da Terra Nova, com uma superfície total que se aproxima dos 112.000 km2, e com uma profundidade entre os 40 a 90 metros. A Terra Nova é assim, como que “o grande barco amarrado no oceano, perto dos bancos de pesca” e torna-se, rapidamente, uma criptocolónia multinacional.
Carta geral (fig. 34)
14- MÉTODOS DE PESCA NO SÉCULO XV E SÉCULO XVI Nos princípios da aventura dos Bacalhaus, eram dois os tipos do método utilizado na sua captura. Os Bascos e Portugueses chegados à Terra Nova procuravam e metiam os seus barcos nos havres abrigados das ilhas. Uma vez o barco seguro, era desarmado, e uma parte da equipagem ia em chalupas (em- Preparação Bacalhau em Terra (fig. 35) barcando seis homens) à pesca à linha (linhas que chegavam a de exposição variável, chamadas “soatingir sete a dez kilómetros - Nelson leils” (Anexo VII) para obter uma boa Caseils - Cinq Siécles de Pêche à la Mo- secagem. rue), a algumas milhas da costa. A outra parte da equipagem descia a terra, para Mais tarde os Franceses criam estabelepreparar a zona onde o peixe capturado cimentos e bases permanentes em Plaiera tratado, salgado, e posto a secar. sance sobre a costa sudeste da Terra Nova, que não tarda em tornar-se a CaSendo referidas ao tempo dez operações pital da colónia para onde trazem os Nas rotas dos Bacalhaus-Séc. IX ao Séc. XVI - 31
(ou do bacalhau verde). A embarcação uma vez chegada ao banco, envergava uma superfície reduzida de pano; a barra do leme era trancada a sotavento, e os homens, protegidos dentro de barricas debruadas a couro, linha na mão, instalavam-se nas mesmas envergando um Preparação do bacalhau (À esquerda a cabana da preparação - échafaud - onde uma avental do mesmo chalupa descarrega) (fig. 36) material que lhes viseus agregados familiares, chegando es- nha da garganta aos joelhos, o qual cosas colónias a atingir números muito locavam por fora dos barris para não molhar os pés. Era o seu posto de pesca elevados de presença humana. que ocupavam da aurora ao crepúsculo, Os primeiros colonos não se estabele- assim expostos ao rude clima inclemenciam em função da combinação dos di- te, dos bancos. versos aspectos geográficos, oceânicos, ou biológicos, mas tão só, por três ra- A pesca era feita com uma linha forte zões: condições conjecturais de vento, (refere-se de cerca 4 mm) e de um commarés e correntes que permitissem o fá- primento de cerca de cem braças. (cento cil acesso (à vela ou a remo) à pesca; e sessenta metros), presa a um chumbo área para estabelecer a secagem; e abun- de oito a dez libras. Do chumbo, saía dância de água fresca. Os primeiros lugares ocupados não foram os havres protegidos, nem a proximidade de terrenos férteis: “o critério essencial era a acessibilidade aos bancos de pesca” - diz-nos POL CHANTRAINE O outro tipo de pesca era a chamada pesca errante
Base st. Pièrre 1654 (pintura Lewis Parker) (fig. 37)
32 - Nas rotas dos Bacalhaus-Séc. IX ao Séc. XVI
uma linha mais fina de seis a dez metros, à qual se ligava o anzol. O pescador após mergulhar a linha, deveria imprimir-lhe um movimento contínuo de subir e descer, afim de chamar a atenção do bacalhau sobre o isco. Sobre este fazem-se conjecturas sobre qual o tipo usado no século XVI. Não teria sido o harenque fresco, nem a lula ou o “capelin” mas, admite-se, o harenque ou “maqueraux” - cavala - salgados, importados de França. A pesca era feita a barlavento para que as linhas não passassem por debaixo dos fundos das embarcações. Da pesca praticada numa plataforma exterior, passou-se à colocação das barricas no convés, junto à borda, com a aplicação de um cabo onde eram montados toldos de
contar a pesca diária de cada um, o peixe era tratado nos moldes que se mantiveram quase inalteráveis até ao Século
Pesca errante (fig. 39)
anterior, numa tradição que se manteve praticamente imutável, ao longo da histórica epopeia. Se a pesca era boa, nesses tempos primitivos, um homem poderia apanhar 100 bacalhaus por dia. O número de pescadores por cada embarcação (40 a 50 Ton) naqueles primórdios, era compreendido entre 10 a 12. Este tipo de pesca tinha o grande inconveniente de a zona junto à embarcação, por acção dos dejectos lançados à água, se transformar em campo para predadores que afugentavam o bacalhau.
Pescador na barrica protegido do vento por tela (fig. 38)
protecção dos ventos, para os pescadores. Recolhido o peixe, cortada a língua que despejada numa barrica servia para
Só a partir de meados de 1780 este tipo de captura, onde as embarcações iam derivando com os ventos e as correntes, sofreu alteração, com a utilização da linha de fundo (dormant) que se atribui ao Cap. SABOT, o qual veio também a introduzir longos e fortes cabos em “chambre” de fundear, que permitiu fixar a embarcação num dado pesqueiro e Nas rotas dos Bacalhaus-Séc. IX ao Séc. XVI - 33
Chalupas ligadas à embarcação na pesca ( fig.40)
evitar sua deriva. A partir daqui, os homens não pescam mais nas embarcações, mas em chalupas ( tripuladas por três a seis homens) (Anexo VIII), embarcações que irão mais tarde (1875), dar lugar aos nossos conhecidos dóris (warys) (Anexo IX) que alguns dizem inspirados nos dóris canadianos, mas que, outros, afirmam terem a sua origem nos bascos - chalupas que se afastam da embarcação prin-
34 - Nas rotas dos Bacalhaus-Séc. IX ao Séc. XVI
cipal, muito embora, nos primeiros tempos, fiquem a ela ligadas por uma linha, evitando perderem-se: esta obrigatoriedade foi estabelecida pela circular de 30 Janeiro de 1821 (Loture), prática que deixava pouca liberdade ao pescador sendo por isso visceralmente repudiada e, nem sempre cumprida pelos mais afoitos, finalmente prescrita em 1840. A utilização de um aviso SONORO teve o mérito de permitir mais afastamento e, por isso, melhores capturas.
BACALHAUS
PARTE II 15- INÍCIO DA EXPLORAÇÃO DAS ROTAS «AS ROTAS DOS BACALHAUS» es- do de conserva, até então conhecido ao tavam pois, claramente encontradas - tempo, a salga. mas, mais importante, delas dada correcta informação no séc. XVI - sendo Referimos anteriormente que os Portuconhecidas por toda uma Europa ansio- gueses foram, com grande probabilidasa por ir ao encontro de novos mundos. de, os primeiros a estabelecer uma base Diversa cartografia (Planisfério Anóni- fixa de pesca na costa sudeste da Terra mo, dito de Cantino 1502; Atlas Miller Nova, (que pensamos ficaria algures, de 1519; Planisfério de Diogo Ribeiro perto da baía de Plaisance), havendo no1529; Atlas de Gaspar Viegas 1537; tícia que “as embarcações de Aveiro são Atlas de João Freire 1546; Atlas Uni- referidas pescar no Cap Breton”, imeversal de Sebastião Lopes 1565; Pla- diatamente após o baptismo da ilha, por nisfério de Domingos Teixeira 1573; Corte Real, em 1501 Carta Vallard 1574; Atlas de Vaz Dourado 1576 …) estava então disponível, onde se referenciava, já com relativa proximidade, a posição da «TERRA DOS BACALHAUS», permitindo o seu acesso por centenas de embarcações demandando anualmente aquelas paragens, com o objectivo de carrear para o mercado Europeu, ávido por ra- CAP BRETON Provável zona de pesca da 1ª colónia piscatória Portuguesa na Terrazões económicas, Nova (1521/22) (fig. 41) mas e também, por razão de dieta religiosa (muito especial- Três anos mais tarde, Malouins e Normente para o mundo mediterrânico) esta mandos desembarcaram no Cap Rouge, espécime de peixe, que tinha a excelente atribuindo àquela zona, o nome da característica de suportar o único méto- «Costa do Chapéu Vermelho». Para 36 - Nas rotas dos Bacalhaus-Séc. IX ao Séc. XVI
logo em seguida, em 1524, Giovanni de Verrazano, tomar possessão da Terra Nova em nome de François I, Rei de França. Pouco depois, como referimos, H. Gilberte em nome dos ingleses, apropria-se da costa entretanto abandonada (à força) pelos Portugueses, e funda SAINT JOHN’S. Estas proclamações políticas contraditórias, de posse das novas paragens, onde se vislumbravam enormes riquezas encerradas nos seus mares, não auguravam nada de bom. A França e a Inglaterra que tinham perdido para Espanha e Portugal, o domínio das «novas terras» a Sul, não estavam agora dispostas a prescindir de uma potencial, e então adivinhada riqueza, que lhes tinha vindo parar às mãos por circunstâncias várias, que não por inteiro merecimento. As primeiras escaramuças viriam a ser apenas o início de uma luta encarniçada, violenta, sangrenta mesmo em alguns dos seus episódios; e que iria durar três Séculos, com consequências que não ficariam circunscritas àquelas duas potências europeias, pois que a indefinição sobre quem detinha o poder real sobre aquelas paragens, provocaria reflexos sobre os demais, que impotentes, iriam assistir aos acontecimentos, inibidos de neles participar por ausência de capacidade bélica e/ou diplomática: - os Portugueses seriam arredados desde logo (1583/1602) e os Bascos, ainda que mais tarde (1650-1700) e por razões dis-
tintas, iriam ser dos primeiros a retirarem-se de cena. De facto, de entre as consequências dessa «GUERRA DOS BACALHAUS» o título aqui é nosso! - que iremos referir resumidamente, ressalta desde logo, no que se nos refere, o interesse (histórico) de sublinhar que aquela trouxe como consequência imediata e directa, o afastamento das embarcações de pesca portuguesas da base anteriormente estabelecida na Terra-Nova. Só (aqui) iríamos voltar como nação, sublinhe-se, na primeira metade do séc. XIX, já que há razões que colocam a discussão, saber se, durante tão longo período, esporadicamente ou sistemáticamente, embarcações nacionais a soldo de armadores e/ou comerciantes estrangeiros implantados no país, não teriam participado no esforço de pesca ou, pelo menos, no transporte dessas capturas. Mais provável, como admitimos, é que marinheiros e pescadores portugueses aproveitando a vinda das embarcações francesas e inglesas para se abastecerem de sal em Portugal, tenham sido engajados para fazerem parte das tripulações das mesmas, dadas as extremas dificuldades de recrutamento de pessoal capaz, quer em Bristol - porto de maior importância na Inglaterra -, quer na Bretanha e Normandia. Portugal que tinha tido uma acção pioneira na «redescoberta» das novas paNas rotas dos Bacalhaus-Séc. IX ao Séc. XVI - 37
ragens - hoje não podemos escamotear o feito dos Norses -, poderia politicamente ter exercido reclamação de posse das mesmas - se para tal tivesse força - pois que, sendo a Terra Nova, a única parte do Continente Norte Americano que «caía» a Leste da linha de Tordesilhas, tal se enquadraria numa decisão de autoridade Papal sobre a posse de novas terras, por isso, perfeitamente admissível no séc. XV/XVI; ao contrário, fomos obrigados a abandonar pela força aquelas paragens, para só aí voltar, de um modo organizado, três séculos depois.
lhau seco” -, ou “bacalhau em pasta” “bacalhau verde” -, esses registos nos dão quase a certeza: 1- De que não deixámos de frequentar aquela zona do mar do Norte, ainda que não integrados num desígnio Nacional de pescas. 2- Que pelo contacto havido aquando do transporte do bacalhau entrado nos nossos portos - e porque não pescado?! - mantivemo-nos, continuadamente, conhecedores das técnicas usadas para a captura do fiel amigo, o que nos viria a ser fundamental, mais tarde.
Há em nossa opinião um ponto que merece estudo atento, porque induz a uma reflexão, já que levanta novas pistas que Assim, nos séc. XVI/XVII verificámos devem ser exploradas: uma consulta à a entrada, só no Douro, das seguintes Lista de Visitas de Saúde feitas às em- embarcações: barcações entradas no Douro ANO NOME BARCO PROV. CARGA DESTINO Reg fl nos séc. XVI e 1500 BISCAIA BISCAIA Bac. Domingues Lopes 5 XVII (nos outros ESTOCOLMO Bac. Guilherme “de Viana” T. NOVA Bac. 56 portos a situação T. NOVA Bac. seria idêntica…), PLYMOUTH Bac. 1 revela-nos que a WAYMOUTH Bac. 1 Terra Nova con1676 T. NOVA Bac. João Croque 78 tinuava a ser freT. NOVA Bac. João Pouslen 80 quentada, mesT. NOVA Bac. “ 60 mo depois da BORDÉUS Bac. João Moransey nossa saída, por 1690 FIDELIDADE T. NOVA Bac “de vento” Natanil Rolante 43 muitas e diversas 1694 JOÂO T. NOVA Bac “de vento” Carlos Oblan 18 1697 Nª Srª da Batalha T. NOVA Bac Domingos C. Guimarães 22 embarcações Bac “de vento” Rcardo Alves portuguesas (al- 1698 BOA VONTADE T. NOVA gumas com a curiosidade de serem comandadas por Mas sabemos que além destes - os namestres ingleses); somos por isso leva- vios só tinham visitas de saúde quando dos a admitir como provável, que, ora provenientes de zonas denunciadas trazendo bacalhau “de vento” - “baca- como potencialmente perigosas para a 38 - Nas rotas dos Bacalhaus-Séc. IX ao Séc. XVI
saúde pública - aportaram ao Porto, para descarregar bacalhau, muitos outros. Há notícias de um GASPAR da LOMBA, de Miragaia, que em 1585 se dirigiu para a Terra Nova, “com o compromisso de vender no Porto toda a carga” ( pescada? comprada?...). O Douro, alcança no séc. XVI o estatuto de porto internacional por via do Bacalhau e, no séc. XVII, chega mesmo a lograr atingir um ponto alto na sua notoriedade. Em Aveiro, informações de José Ferreira da Cunha, dizem-nos que, de 26 de Julho de 1619 até 27 de Maio de 1624, teriam entrado “300 navios em Aveiro dos
quais 109 carregados de Bacalhau”. Poderemos pois admitir que nestes séculos de interregno (?) da pesca na Terra Nova, terão existido causas maiores Internas e Externas - que nos distraíram a atenção da exploração de uma riqueza que viria a tornar-se fundamental para a economia da Europa em geral, e de Portugal em particular, tal a penetração do bacalhau na dieta alimentar do nosso País, o qual, não sabendo colher e/ou reproduzir - os benefícios da “sua aventura”, se viu remetido a uma realidade social onde o povo, que era pobre, continuou ainda mais pobre, mesmo depois da sua gesta maior. E em que o bacalhau assume o estatuto de «alimentação dos pobres» (Anexo X).
16- RAZÕES INTERNAS DO NOSSO AFASTAMENTO DE TRÊS SÉCULOS Durante este hiato, foi verdade que “os novos mundos” então descobertos, as carreiras das «índias» e depois a dos «brasis», ocuparam as nossas frotas mercantes com tal intensidade, que levaram os governantes a esquecer a necessidade de criar incentivos e/ou exercer influências - por exemplo a nível da nossa aliança com Inglaterra -, que nos permitissem ficar na Terra Nova, continuando a compartilhar as vantagens da grande aventura da pesca do fiel amigo. A ocupação filipina, com a louca aventura de Filipe II levando à requisição de todas as embarcações de alto bordo do
reino, para a «sua» Armada Invencível - de cuja dieta alimentar, note-se, o bacalhau foi vitualha fundamental - arruinaria a nossa frota mercante, reduzida após o descalabro, a pouco mais que zero. Sem dúvida que um dos grandes problemas da época dos Descobrimentos foi a insuficiência do país em meios humanos, inviabilizando assegurar tão enorme e desmesurada epopeia. O Tresllado dum mandado do Conselho da Fazenda da matricula (…) gerall soNas rotas dos Bacalhaus-Séc. IX ao Séc. XVI - 39
bre ha gente de navegação”, de 22 de Agosto de 1626, no seu ponto 15, é claramente elucidativo, quando refere: «He por falta que há de pilotos espirimentados pera carreira da jindia (…) dar se toda há ordem he fazer toda a dilliemsia posivellm pera que se crjem he fação….(…) he para ser piloto mais callificado he muj necesario que seja marinhejro…» e o ponto 17 do mesmo assume, «e com ho mesmo jntento dse acrescentar (…) e aumentar ho exersisio he arte de navegação,(…) he encamjnhar … e..ha maior camtidade de sogejtos… “ Não havia dinheiro que suportasse o estado de penúria «humana» a que a Nação tinha sido reduzida. Embora do Oriente jorrasse um caudal de riqueza parecendo não ter fim, esta era desbaratada logo que aqui chegada: - nunca a conseguimos fixar e, muito menos, reproduzir. «Todos» emigravam, conduzindo à destruição do tecido produtivo da Nação, incluindo o primário, pois na era da opulência, nem de “cereais já nos bastávamos”. A miséria era geral, grassando por tudo quanto é lado. No séc XVI, a fome era tanta, que os pobres “acorrendo em bandos para Lisboa caíam rendidos pela beira do caminho”. No séc. XVII os ingleses forneciam-nos tudo: trigo, lanifícios e bacalhau, tendo, pelo tratado de 1645, ficado autorizados a negociar directamente com o Brasil. Mais: - somente à Inglaterra podería40 - Nas rotas dos Bacalhaus-Séc. IX ao Séc. XVI
mos ir buscar embarcações. O Rei tudo pagava, e tudo emprestava, na convicção de o poço das riquezas orientais tudo solveria a curto prazo. Nem as naus de que precisávamos já conseguíamos construir, tal era a falta de mão de obra; «as carreiras» estavam inundadas de estrangeiros, pois os nossos, já nem para as mesmas chegavam, e isto, apesar de lá estarem «quase todos». “A metrópole praticava com o Brasil o mesmo erro que com a India; era um simples canal de circulação de riqueza”. Mais tarde, as carreiras do Brasil defrontar-se-iam com igual, ou acrescida carência. Fomos - e continuamos a ser -, uma Nação que sempre pensou cobrir o défice da produção nacional, com “o ouro ou pedras preciosas” que «chegariam» do exterior; a pátria de D. João II, passando por D. Manuel I, D. João III, (D. João V e VI incluídos ) representava pouco mais do que uma plataforma onde os muito ricos vinham ostentar prodígios de sumptuosidade, na compra e exibição do fausto e de inutilidades, contrastando com os pobres que sobreviviam miseravelmente com esmolas daqueles, «atiradas» no intuito de salvação da (sua) alma. A vinda dos Filipes nem maior consciência nacional nos parece ter trazido; «aceitámos» o seu jugo, como aceitaríamos qualquer outro, pois viviase na ilusão de que, o que era preciso, era entrar na aventura, partir!..
“Culturalmente Portugal achava-se na idade média… depois de ter proclamado o Renascimento”, diz-nos António Sérgio, na Breve Interpretação da História de Portugal. Daquele período resume-nos, ainda, Herculano : “quando os diamantes e o oiro do Brasil vinham inundar Portugal de riquezas… então era preciso entulhar frades, de capelães, de cónegos, de monsenhores, de principais, de escribas, de desembargadores, de caturras, de rimadores, e de elegias, o insondável sorvedouro das inutilidades(…) Com agentes espertos para vender diamantes na Holanda, e obreiros hábeis para cunhar oiro nos paços da moeda, estavam supridos os trabalhos de educação do povo, actividade, tudo”. O Brasil vai mesmo tornar-se a «Metrópole». Sucumbimos, então, literalmente. O País, tornado na nova «colónia do
Brasil», sem governo, sem coroa, vira palco onde se dirimem os interesses das grandes potências europeias; de colónia do Brasil, sujeita-se ao domínio francês, para, mais tarde, «vestir» a albarda dos ingleses. Neste longo período, não é pois de estranhar que uma actividade que obrigaria ao envolvimento de fortes recursos, financeiros, humanos e políticos - a da pesca longínqua -, tenha sido postergada para objectivo secundário. As outras riquezas sempre pareceram estar ali à mão de semear, prontas para serem colhidas sem grande esforço, sem necessidade de uma «faina» difícil, sofrida, que necessitava de apreciáveis meios financeiros e humanos para a concretizar, meios, que o País não tinha, disponíveis. As grandes potências, essas, tinham-nos perdido o respeito, para que lhes merecêssemos uma ajuda. Ao invés, tentavam pilhar-nos o que sabiam não sermos capazes de gerir, ou guardar.
17- RAZÕES EXTERNAS PARA O AFASTAMENTO Mas o certo é que a disputa entre os dois grandes blocos continentais sobre o domínio da Terra Nova, manteve tal intensidade e excessos desde o séc. XVI até ao séc. XIX, que por si só, nos retirariam qualquer veleidade de intromissão. Não tínhamos força política ou de armas, para entrar em tal desiderato.
nas que provocaram esse afastamento de séculos, detenhamo-nos em perceber o que foi a “primeira”
Para compreendermos as razões exterNas rotas dos Bacalhaus-Séc. IX ao Séc. XVI - 41
18- «GUERRA DOS BACALHAUS» Na segunda viagem de Jacques Cartier, em 1536, este navegador declara a possessão da Terra Nova para o rei Francês, reafirmando, a primeira proclamação de VERRAZANO. E, assim, logo em 1604, os pescadores franceses fundam o seu primeiro estabelecimento sobre a Ilha. Desta declaração de facto, vai desenvolver-se nesta primeira fase, e atingir a sua maior expressão nesse século (XVII) e seguinte, o tipo de pesca sedentária, cuja metodologia referimos anteriormente. A população para as campanhas, vinda de França para laborar nas «secarias» - alguma fazendo-se acompanhar das suas famílias -, não seria em número suficiente, nem teria a força de armas, para responder às agressões inglesas que desde cedo se começaram a verificar. Ocorre então um novo acontecimento como consequência da chegada à ilha de um número cada vez maior de imigrantes ingleses, a maior parte vindos da
Acádia - Nova Escócia (Fig. 42) 42 - Nas rotas dos Bacalhaus-Séc. IX ao Séc. XVI
Acádia, região colonizada pelos escoceses (Nova Escócia), nas quais irá despertar a consciência de direitos proveniente de se reconhecerem, como os naturais insulares terra novenses. É certo que grande número destes imigrantes não vinha motivado para a pesca, mas tão somente atraído pelas excelentes forragens vislumbradas em ilhas tão verdes, tão prometedoras, tal como teriam parecido a LEIF, o Vicking, no ano 1000 d.C. E são mesmo estes imigrantes que penetram no seu interior, numa primeira tentativa de colonização e fixação na Ilha, em perfeito contraste com a ocupação sazonal dos franceses, que apenas focalizada sobre as praias, se restringia às épocas da primavera e verão. Esta disposição inicial dos imigrantes, que não criaria problemas de maior, foi-se entretanto modificando quando se sentiram atraídos, eles também, para o aproveitamento das riquezas piscatórias, que eram imensas e se encontravam ali ao dispôr, na beirada. O interior da Ilha, finalmente, acabou por se mostrar não tão apetecido como inicialmente sugerido: mostrou-se mesmo inóspito, sem recursos que justificassem uma permanência efectiva, pelo que, timidamente iniciam uma prestação de serviços nos “échafauds” franceses (Anexo XI), locais onde o bacalhau pescado era
tratado para a secagem, onde passaram a ter uma utilidade inesperada pois que, para além de representarem o acesso a uma mão de obra de difícil recrutamento no continente, viriam a ser preciosos, quando encarregues de cuidar dos mesmos durante o período do seu abandono (obrigatório) pelas colónias piscatórias francesas, no Inverno. Pela primeira vez na História, povos da Europa tinham chegado a novas terras, desprezando em absoluto a colonização das mesmas, e até, mostrando nenhum interesse no reconhecimento de novas potencialidades, eventualmente existentes no seu interior. Desta vez, não se procurava o ouro ou a prata naquelas terras, ainda totalmente desconhecidas, mas, tão somente, «colonizar» (explorar) as beiradas da sua costa, que se anteviam povoadas por uma inesgotável fonte de riqueza. As colónias piscatórias não tinham ligação entre si por terra, só o mar lhes dava acesso, não tendo sido sequer, tentado, estabelecêla… A colonização não se iria exercer sobre a terra, mas sim sobre a «posse» de franjas do mar, pois era ali, que se encontrava «o ouro» Inicialmente as pressões sobre o governo de Inglaterra vieram dos armadores de Bristol (onde os Judeus tinham clara e determinante importância) que sentiram, com a cada vez maior extensão da ocupação dos “havres” pelos franceses, fugir-lhes o monopólio (pretendido) das
pescas, o que claramente punha em risco o retorno dos financiamentos adiantados, aquando das viagens de reconhecimento de LABRADOR e CABOT; o governo inglês não mostrando grande interesse em arriscar posturas bélicas, pressionado, não foi mais longe do que assinar um primeiro acordo (1635), “pelo qual a França passaria a pagar um imposto de 5% do valor das capturas efectuadas nas águas da Terra Nova”. Facto é, contudo, que tal convenção nunca seria levada à prática, pois desde logo os MALOUINS, ancestralmente oriundos do corso, gentes de pouco respeito pela Lei, opõem-se e não cumprem a obrigatoriedade de sujeição a tal imposto. A convenção não vai, por isso, mais longe do que a intenção, e nada na prática se altera, razão pela qual, a referida taxa é abolida em 1660 por Carlos II de Inglaterra, dada a impraticabilidade da sua real aplicação. Os franceses, perante a fraqueza demonstrada pela governação de Londres, vão continuar a apoderar-se de novas zonas, e, depois de expulsar os últimos portugueses e uma colónia de ingleses, assumem o controlo total da baía de PLAISANCE, onde se fortificam, dispostos a, se necessário for, responder pela força. Plaisance tinha, efectivamente, condições excepcionais como zona de secagem; provida de uma longa praia de aproximadamente mil e quinhentos metros, muito larga, coberta de grossos calhaus rolados, logo foi loteada em áreas Nas rotas dos Bacalhaus-Séc. IX ao Séc. XVI - 43
proporcionais às tonelagens de cada «armador» presente. E aí instalados, os franceses desde logo assumem a posição irredutível de ali restar, de uma vez por todas.
tomar a Capital da Ilha, a que mudam o nome para SAINT JEANS. É pois o tratado de UTRECHT (1713) - que pôs termo à Guerra de Sucessão de Espanha, da qual a França sai enfraque-
Guilherme de Orange chegado ao trono de Inglaterra, não podia, contudo, aceitar tal desafio, resolvendo por isso enviar uma expedição para pôr cobro a tal provocação. O comodoro WILLIAMS, chefe da armada punitiva, não contava contudo com a determinação e o espírito combativo dos bascos, que o afrontaram com ferocidade, astúcia e determinação, pelo que, Williams, não teve outra solução do que bater em retirada. Os franceses, entusiasmados com esta capacidade de re- St Pièrre et Miquelon (Fig. 43) sistência, decidem então melhorar a fortificação de Plaisance e, até, cida - que leva este país a perder, não só reforçar a guarnição com tropas (?) pa- toda a Acádia, mas e também, todas as gas pelos benefícios das pescas; e indo possessões detidas na Terra Nova, como mais longe, põem em prática nova estra- St-Pièrre, Miquelon e Plaisance. tégia, tomando a iniciativa de organizar expedições de posse sobre colónias vi- Como única contra partida é-lhe perzinhas inglesas, atacando-as, e até, apri- mitido, entretanto, ter a exclusividade sionando os seus navios. A guerra assu- de pesca e de secagem sobre uma exme então uma dimensão brutal, tendo tensa parte da costa norte da ilha, e tamsido cometidas numerosas atrocidades bém, na parte da costa que vai do cabo perpetradas de parte a parte sobre coló- Bonavista, a Leste, à ponta de Riche, a nias indefesas de pessoas (e bens), que Oeste, zonas que tomam a designação sem protecção, trabalhavam nas “seca- de FRENCH-SHORE, estabelecendorias”, em terra. Nesta posição de «ata- se complementarmente “a obrigatorieque», os Franceses chegam mesmo a dade da condição de os pescadores não 44 - Nas rotas dos Bacalhaus-Séc. IX ao Séc. XVI
fixarem bases permanentes no mesmo”, o que significa, na prática, deixar as zonas de pesca no fim de cada campanha anual. Desde logo tal disposição vai criar um novo estado de turbulência, esta agora fratricida, pois vai forçar a uma disputa entre a frota francesa, em cada início de campanha anual, pelo disputado melhor local para cada um, aí, estabelecer o seu «rivage» - zona de pesca e tratamento do peixe - o que conduziu, como veremos, a problemas muito graves que irão obrigar à intervenção das autoridades francesas, no sentido de estabelecerem convenções para abolir tais disputas. Desde já convém aqui referir que durante todo este período de guerra nas «praias da costa», longe das mesmas, a pesca errante nos bancos, só parcialmente foi atingida por tais disputas, mantendo-se, ou até, aumentando a sua dimensão, em parte como consequência do (seu) afastamento do epicentro daquele belicismo, no convencimento de que, “sendo o mar domínio de todos” - assim se considerava na altura, quando acabada a autoridade Papal sobre o mesmo - era livre, sem limites a sua exploração; mas e também, pela realidade objectiva derivada do facto de os Ingleses nem sequer, ainda então, praticarem, ou se interessarem, por este método de pesca, cujo knowhow iriam, em 1835, vender(!) aos Armadores Portugueses, como
adiante veremos!. Aos Ingleses - é consistente sublinhá-lo - nunca importou a pesca do bacalhau, mas muito mais, a detenção do monopólio da sua comercialização: - a Inglaterra, país protestante, não sentia a obrigatoriedade da dieta dos países católicos Europeus, e, por isso, o bacalhau nunca entrou nos hábitos alimentares da sua população. Note-se que nesta altura (séc. XVII) os armadores franceses aprestavam já então, duas frotas de perto de 250
A Pesca no Banco no Séc. XVI (Fig. 44) Nas rotas dos Bacalhaus-Séc. IX ao Séc. XVI - 45
«velas» cada, a primeira que saía em Janeiro, enquanto que a segunda seguia apenas em Março. Neste mesmo período, na pesca errante, eram empregues cerca de uma centena de embarcações. O número directo de mão de obra envolvida, ultrapassaria, de longe, os 10.000 homens!... Newfoundland Séc. XVIII (Fig. 45)
Enquanto se desenvolviam novos aspectos na luta de possessão, uma nova disputa, agora entre franceses, viria a desenvolver-se, como consequência da obrigatoriedade da não
permanência durante o Inverno das «companhas», nas bases de tratamento de peixe, disputa que ficaria conhecida como a,
19- GUERRA DOS «RIVAGES» A ocupação sazonal dos «havres», os quais não eram pré-fixados, nem sujeitos a direitos anuais adquiridos, obrigou a criar um sistema regulamentador que gerisse a distribuição das embarcações pelos pontos de tratamento e secagem do peixe capturado na costa. Assim, foi fixado que o primeiro Mestre Capitão (Anexo XII), cujo navio chegasse ao «havre» do Petit Maitre - desde há muito uma espécie de ponto de encontro das embarcações do Petit-Nord -, assumiria o título de «ALMIRANTE DA PESCA», com as consequentes prorrogativas inerentes ao desempenho do mesmo, que durariam durante toda a campanha. Entre atribuições e funções, tinha o Almirante arvorado a vantagem de poder 46 - Nas rotas dos Bacalhaus-Séc. IX ao Séc. XVI
escolher o seu «havre», decisão que fixava num quadro colocado no estabelecimento - o échafaud - contendo a indicação do “dia da sua chegada e do «havre» da sua escolha”. À medida que os outros iam chegando, cada um escolhia o seu local de pesca - o seu havre -, de entre os restantes, inscrevendo essa escolha no referido quadro, o qual, ficava à guarda de um dos homens de confiança do «Almirante». Este, detinha, a autoridade de decidir em pleitos de conflitos de interesses, e a de zelar pelo cumprimento de obrigações contidas na Convenção Inter-Armadores, como por exemplo, a de fazer cumprir a proibição, sujeita a pesada
prática de uma verdadeira luta contra-relógio aquando da viagem de ida para os bancos, qualquer que fosse o tempo, superando-se em muitos casos os limites de uma boa e adequada prática de navegação, zelosa da segurança das vidas das tripulações e das embarcações. Chegou-se à ousadia de lançar chalupas ao mar, as quais, mais ligeiras e por isso mais rápidas, permitiam superar as últimas milhas antes do Petit-Maitre, quaisquer que fossem as condições do tempo. Como consequência desta prática, a inevitabilidade de muitos acidentes, com resultados trágicos de perdas, de bens e de vidas. Esta prática foi proibida, sob pena de uma pesada multa ser aplicada, a quem a transgredisse. Foi então tentada uma outra solução, em que intervinha uma espécie de “polícia da pesca”: em cada baía era atribuído ao Capitão Ordenança de 1681 fixando as prorrogativas do “ALMIRANTE” mais idoso, o título de HOMEM no PETIT MAITRE (fig. 46) PRUDENTE (Prud’homme), o coima, de um capitão lançar no «havre» qual ficava investido de autoridade adonde exercia a pesca, o lastro do seu na- ministrativa e judiciária. Em St-Pièrre, vio. A carga do mesmo seria o garante este título, era atribuído por consenso entre os «camaradas», sendo concedida do pagamento destas pesadas multas. ao «Prud» uma “indemnização compenEsta Convenção teve de ser banida, pois, sadora” pela perda de tempo resultante na prática, acarretou consequências de- do cumprimento desta função. sastrosas, pondo em risco, e até provocando, a perda de muitas vidas das tri- Só mais tarde, já no séc. XIX, mais conpulações dos navios, pelo facto de a cretamente em 1821, depois de um prorrogativa de ser o primeiro, levar à exaustivo trabalho de identificação de Nas rotas dos Bacalhaus-Séc. IX ao Séc. XVI - 47
todos os «havres», foi fixada antes da largada, a regra de atribuição dos mesmos por períodos de três anos, aumentados para cinco, em 1852. E, em particular, mas muito importante, esta distribuição e fixação dos “havres”, era ape-
nas para efeito da “instalação de preparação e secagem do bacalhau”, já que a pesca pelas chalupas, essa, ficaria livre “em todos os havres, ocupados ou não ocupados, bem como em todo mar”
20- RECOMEÇO DAS HOSTILIDADES. EMERGÊNCIA DUM PROBLEMA NOVO - O DE EXCLUSÃO SOCIAL A tranquilidade que se verificou após a criação do French Shore termina em 1744; novas posições irredutíveis - uma vez mais !... - levam a que a pesca sedentária se suspenda em 1745, e só recomece de novo, em 1748. É que os «naturais da Terra Nova», de sangue inglês, mas e também, francês, começaram a sentir-se (já) fortemente enraizados, assumindo-se como os senhores daquelas paragens, “ofendidos com a intrusão destes colonizadores, que os excluíam”. Acresce, que a corrente de imigração inglesa, não parou de crescer. Tal população que se assumia como os «naturais», e que inicialmente se mostrara desinteressada da pesca, tendo-se deslocado mais para o interior em procura de novos recursos, começa agora a estabelecer-se, ela também, junto à costa, decidindo participar na actividade da pesca, o que lhe é vedado; sentindo-se «excluídos», porquanto os franceses entendem que no French Shore teriam o monopólio absoluto da mes48 - Nas rotas dos Bacalhaus-Séc. IX ao Séc. XVI
ma - o que os insulares locais não aceitam. Inicia-se assim um novo período de
Baía de Saint Georges no French Shore (Colónia Irlandesa, tolerada pelos Franceses) (fig. 47)
luta, a que nem o tratado de AIX LA CHAPELLE (1478) consegue pôr fim. Aparece, talvez pela primeira vez no mundo civilizado, uma disputa de cariz sócio político, em que uma população que se considera a local, já enraizada embora de recentíssima formação! ,inicia a tomada de consciência dos seus direitos e vai questionar os «direitos(?)» daqueles que se assumiam, apenas por razões de «descoberta», exploradores da riqueza que diziam também pertencerlhes. Iniciam por isso fortes protestos junto das Autoridades Inglesas, levando estas a suspender, em 1756, os direitos anteriormente atribuídos ao FrenchShore, muito embora com algumas tergiversações. As novas populações locais - «OS TERRANOVENSES» - vão mais longe do que inicialmente as suas tímidas reclamações faziam prever. Num grito de revolta, que dois séculos mais tarde se tornaria o símbolo de libertação dos povos colonizados, afirmou-se já então - “A TERRA NOVA PARA OS TERRANOVENSES”. Passando das palavras aos actos, os insulares «terranovenses» tentariam invadir e tomar posse dos «havres» franceses, no intuito de criar situações «de facto», consumadas e irreversíveis, o que só não iria acontecer, porquanto, no «velho continente», as negociações diplomáticas conduziriam ao tratado de Paris de 1763 que veio repôr (e garantir) o French Shore, mantendo à França o “direito de pescar à distância de três léguas de todas as costas pertencentes à Inglaterra” no golfo de S. Lourenço,
concedendo-lhe ainda a posse de StPièrre e Miquelon. Aos armadores franceses chegam a ser dadas garantias oficiais de que “podem em toda a segurança enviar os seus navios a pescar na Terra Nova”, facto que uma vez mais se não confirmou: bem pelo contrário, como seria natural esperar, os franceses seriam mal recebidos pelos «terranovenses já instalados», que ocupando os antigos locais de pesca daqueles, se recusaram a perder os direitos das suas novas conquistas, indiferentes às hesitações da coroa inglesa, que já então, pouco lhes dizia. E é só após a guerra da Independência, aquando do Tratado de Versailles (1783), em que aos dois países beligerantes se vieram juntar, agora, os Estados Unidos, que a situação parece recompôr-se, já que, finalmente, a França fortalecida, consegue a definição de um novo estatuto para uma nova zona de pesca com alterações das áreas do FrenchShore, é certo -, mas que a iriam beneficiar, pois as zonas da ponta ocidental do Riche e cabo Raye, que agora lhe eram atribuídas, além do bacalhau, eram pródigas em outras espécies como crustáceos e salmão. Sem dúvida que as milhas necessárias para ir de França à costa Oeste, eram em maior número que as necessárias para «arribar» à Costa Leste; mas nesta nova costa, os Franceses encontraram um clima mais ameno, com melhores condições para a secagem, com uma primavera que aparecia primeiro, e um Inverno Nas rotas dos Bacalhaus-Séc. IX ao Séc. XVI - 49
que passaram pelo transporte dessas gentes nas embarcações da pesca errante, as quais, antes da faina no Banco, aproveitavam para se abastecer do isco enquanto desembarcavam os «graviers» em terra firme. Outra solução ensaiada, foi a de fretar navios de grande porte para levar estas gentes, reunindo-as para embarque, em datas fixadas. O French Shore depois de 1783 (Fig. 48)
menos rigoroso. Parecia assim ter chegado um tempo de acalmia, mas, facto irreversível, era que a pesca sedentária estava inevitavelmente ferida de morte, condenada, dadas as dificuldades da sua exequibilidade. Para suportar os gastos da luta com Inglaterra, dando protecção armada às colónias piscatórias, chegou a ser instituído um imposto de três libras por tonel de capacidade do barco, pago o qual, o Capitão recebia uma espécie de «passaporte». Se nos bancos esse «passaporte» não fosse apresentado, a embarcação seria confiscada. Para além destes encargos que punham em causa a rentabilidade económica da exploração, começavam também a surgir graves dificuldades com o recrutamento dos «graviers». O transporte da população que ia trabalhar em terra, nas “secarias”, era problema complicado, ensaiando-se por isso diversas soluções, 50 - Nas rotas dos Bacalhaus-Séc. IX ao Séc. XVI
A Revolução Francesa traria um inevitável acrescento às dificuldades então já patentes, obrigando a uma suspensão da pesca do outro lado do Atlântico por um período de mais de vinte anos, já que apenas em 1816 foram as ilhas St-Pièrre e Miquelon, definitivamente, restituídas à França. Este país em 1904, renunciaria aos privilégios do French-Shore, tendo recebido em troca determinadas rectificações de fronteiras em África, para lá da Inglaterra ter indemnizado os pescadores franceses. (segundo Marcel Dubois e J. Kergomar, em Geografia Económica). E como golpe decisivo que viria a pôr termo a esta actividade de pesca (sedentária) nas costas da ilha da Terra Nova, refira-se o aparecimento de novas técnicas piscatórias entretanto introduzidas pelo Cap. Sabot (já anteriormente referenciadas) que vieram proporcionar melhores capturas e, assim, deslocar o interesse da pesca sedentária para a pesca no banco.
21- AFASTADOS... E PRÓXIMOS... Parece-nos pois claro que, perante esta luta das duas grandes potências emergentes no novo panorama político europeu, Portugal foi obrigado a manter-se fora da mesma pelas razões anteriormente referidas, o que não significou que não continuasse a ser um dos principais fornecedores de SAL às mesmas, e também, o não impediu de ocupar um lugar proeminente na clientela do sistema monopolista da comercialização do bacalhau, entretanto implantado pelos ingleses. Certo é que Portugal tornou-se rapidamente um dos principais consumidores deste peixe, pelo que, os portos portugueses continuaram em permanente contacto com estas gentes da pesca no «Mar do Norte», o que, estamos em crer, criou condições para «podermos afirmar», que, individualmente, pelo menos alguns, estiveram na Terra Nova antes do recomeço oficial da nova fase da Faina Maior no séc. XIX. Este intenso contacto com os mercadores de Sal e Bacalhau (verde) - a maior parte ingleses - que se estabeleceu nos nossos portos, chegado o momento oportuno, foi determinante para a escolha do parceiro a quem nos iríamos aliar para o regresso à captura do fiel amigo, que em todas as circunstâncias tinha já uma preponderância notável nos hábitos alimentares das populações do nosso País.
mantinham-se activos na comercialização do peixe importado, com benefícios chorudos, cujas alcavalas alfandegárias, não deixavam de representar apreciável conforto para os cofres exauridos do Estado. E talvez paralelamente a essa não negligenciável acção lucrativa, recrutariam ainda tripulações para as «companhas» dos países envolvidos na exploração dos recursos marinhos daquelas paragens, perante as reais dificuldades em se abastecerem de mão de obra qualificada, nos seus próprios países. Para retermos uma ideia deste esforço de pesca para satisfazer a clientela do sul da Europa, referiremos que em 1792 - o último ano de pesca do séc. XVIII, pelas frotas francesas - o armamento destes era de 202 navios com uma captura global de 191.153 Toneladas. A Inglaterra, não tão interessada neste esforço de pesca, dado o baixo consumo deste peixe - praticamente seguindo todo para exportação - não atingiria as 100.000 Toneladas.
Porto, Aveiro, Viana, Figueira da Foz e Lisboa, pelo menos estes, estavam pejados de comerciantes que, se por um lado se envolviam na compra do sal, Nas rotas dos Bacalhaus-Séc. IX ao Séc. XVI - 51
22- DESENVOLVIMENTO DA “PESCA AO BANCO” espaço ocupado pelos mesmos, conduzindo à adopção, em 1848, de cabos mistos de algodão e metálicos, bem como a uma introdução, incessante de melhorias nos cabrestantes, o que aumentaria decisivamente a manobrabilidade e segurança das embarcações. Goèlete de Dois Mastros (Fig.49)
Com o declínio da pesca sedentária - em 1894 havia apenas quinze navios franceses que à mesma se dedicavam, reduzidos a seis, em 1904 - estava chegada a hora da afirmação do método da pesca ao banco, mas agora, dados os excelentes resultados das novas técnicas introduzidas pelo Cap. SABOT, a embarcação principal já não andava «à rola», mantendo-se antes fundeada no banco por fortes cabos de algodão, em chambre, utilizando-se na pesca a linha de fundo, outra das «invenções» de Sabot. Posteriormente, foram substituídas as pesadas chalupas pelos nossos conhecidos dóris, alterações nem sempre totalmente bem aceites, dados os riscos corridos pelas tripulações destas pequenas embarcações. Aos problemas surgidos com o desgaste dos cabos de fundeio, veio juntar-se o 52 - Nas rotas dos Bacalhaus-Séc. IX ao Séc. XVI
Este método de pesca tinha novas vantagens, face às dificuldades sentidas pela pesca na costa: 1- As embarcações poderiam fazer duas campanhas anuais se a primeira viagem terminasse em Junho, saindo para nova campanha em Julho. 2- O número de pessoal envolvido era muito menor. A utilização de pequenas embarcações, as GOÈLETES de dois mastros, ocupava uma tripulação de apenas dez a doze homens, a que se juntava o tradicional moço (Anexo XIII). 3- O peixe capturado era tratado e salgado a bordo, o que, com novos e apurados conhecimentos da técnica de salga, permitia trazê-lo em verde em boas condições, transportando-o em grande parte directamente para Mar-
selha, que se viria a tornar num dos maiores centros mediterrânicos de comercialização deste peixe. 4- O mar era de todos, propriedade onde não havia (ainda) interferência nem controlo político, o que retirava os medos sentidos com a interminável «Guerra POLÍTICA dos Bacalhaus». Quando tudo parecia diferente, tempos calmos para agora se recolherem os benefícios da riqueza dos mares, eis que nova guerra de interesses vai surgir, uma
O Martírio do Moço (Fig. 50)
guerra que teve a ver com as limitações ou até impossibilidade de acesso ao isco, pela frota francesa.
23- «A GUERRA DO ISCO» Uma boa captura - capitães que conheci da Frota Branca, diziam-no nos anos sessenta… - residia em boa parte, na utilização de um bom e adequado isco. O Bacalhau que é um peixe extraordinariamente voraz, em permanente busca de alimentação, tem contudo a característica vincada de exercer uma escolha selectiva, em cada momento, do alimento apetecido. O isco - «la boette» -, era pois essencial; naqueles primeiros tempos, sem capacidade de conservação, os Terra Novas estavam sujeitos ao isco possível: para início da campanha levavam já do porto de armamento, o arenque ou a cavala salgados. Seguidamente, aguardavam com ansiedade a chegada aos bancos, da lula, que uma vez aparecida, obrigava a que toda a tripulação -cozinheiro, capi-
tão, moços, todos enfim! - fosse deslocada para apanhar a maior quantidade possível deste cefalópode. Por vezes, a quantidade era tal, que o Mar se toldava de um rosa intenso, misturando-se com o azul forte das águas do banco. Outras vezes faltava ao encontro, ou era apanhada em pequenas quantidades claramente insuficientes para uma boa pescaria. Tal facto transformava-se em caso muito sério, pois poderia comprometer toda uma campanha. Os Terra Novas, perante essa situação, eram obrigados a dirigirem-se a terra, aproveitando para descarregar a primeira pesca e adquirir aos «terranovenses locais», o arenque, ou o «capelim» espécie de sardinha que aparecia abundantemente em St- Pièrre e Miquelon. Ora esta disponibilidade e real interesse Nas rotas dos Bacalhaus-Séc. IX ao Séc. XVI - 53
das populações locais para fornecer os pescadores dos bancos, levaria a uma nova forma de colocar entraves à pesca francesa, com a intenção clara de pretender desferir-lhe um «golpe» que a abatesse de vez. Assim, em 1886 - agora no Parlamento da Terra Nova - foi votada e aprovada uma Lei Local que ficou co- Secagem do Capelim (Fig. 51) nhecida como «BaitBill», que proibia às populações locais a cavalo. Para iscar milhares de anzóis, pesca para fornecimento do arenque eram necessários muitos milhares de aos franceses, “muito embora permitis- «coucous». (75.000 por maré). Estes, se àqueles equiparem-se para a sua eram apanhados vivos e depositados em apanha”, proposta impraticável, não local próprio: esmagados com um maço apenas pelos custos que acarretaria, mas de madeira, ou, mais informalmente, e também, pelo tempo perdido que obri- pelas pesadas tamancas dos pescadores, pelo que, passado pouco tempo, garia tal ocupação. exalavam um fedor verdadeiramente Foi então que o engenho das tripulações insuportável. voltou a funcionar, fazendo com que a Lei, se tornasse, afinal, bem mais O «caracol» apanhava-se para umas prejudicial às populações locais -pela vinte marés, pelo que, no final, quando perda de rendimentos dessa actividade- da sua utilização, estava já podre; enque aos terra novas franceses; com contrava-se disseminado por todo o efeito, estes, por iniciativa dos pescadores Banco, mais fortemente no sudeste, e tide Fécamp que desde há muito tentavam nha entre outras, a particularidade de outras soluções no sentido de diminuir ser um isco bem preferido dos bacaos custos da compra do isco, passaram lhaus, para lá da grande vantagem de ao uso intensivo do BULOT - em inglês existir durante todo o ano. As tripulao Soft Clamp - que também designavam ções lançaram-se na sua apanha, e atenpor GRAND VIGNOT, RAN ou tas, as autoridades francesas da pesca, COUCOU, uma espécie de grande chegaram a fazer cartas das zonas da caracol marinho que se apanhava com apanha deste gastrópode, que eram disnassas iscadas com pedaços de carne de tribuídas, antes da saída da frota para a 54 - Nas rotas dos Bacalhaus-Séc. IX ao Séc. XVI
Terra Nova. Num documento da altura explicava-se “ o bulot vive sobre os fundos de areia (…) e não se apanha para lá dos fundos dos 70 metros (…) desloca-se muito pouco (…) havendo duas variedades de bulots… o coucou e o biscornu…” Um novo impulso - ironicamente por ra-
zões opostas à ideia dos legisladores locais - foi dado à pesca à linha na Terra Nova: outros países procuravam a oportunidade de se juntar aos franceses e ingleses, como foi o caso dos americanos que começaram a aparecer com as suas velozes escunas nos finais séc. XVII início séc. XVIII, a pescar na costa e no banco.
24- A CHEGADA DOS «AMERICANOS» desenvolvido um apreciável sistema comercial e industrial, não poderiam deixar de olhar com interesse, para o processo das pescarias. Uma situação climática privilegiada, permitia-lhes realizar duas campanhas de pesca por ano: a de Inverno ao longo da costa; a de Verão nos Bancos. A ocupação da nova colónia era permanente, e desde muito Mapa mostrando a parte Nordeste da Nova Inglaterra, Nova Escócia e Terra Nova (Fig. 52) cedo estes colonos afirmaram a pretenNo lado oeste do Atlântico, um pouco a são de negociar com total liberdade, sem sul da Ilha da Terra Nova, no nordeste limitações de qualquer espécie, pretenda nova América, começaram a apare- samente impostas pela coroa inglesa, cer os primeiros colonos que iriam dar inclusive, colocar de parte a obrigatorieorigem à NOVA INGLATERRA. Estes dade de lhes comprar o sal, adquirindocolonos que procuravam também explo- o no Brasil, França e até na Martinica, rar a riqueza das terras da região, tendo onde iam vender as suas capturas. Nas rotas dos Bacalhaus-Séc. IX ao Séc. XVI - 55
A situação foi-se agravando, pois que o «garrote» inglês pretendeu intervir; e, assim, por uma lei de 1775 foi impedido o acesso dos barcos americanos aos bancos, pretendendo os ingleses assegurar o controlo total do comércio do bacalhau. Agora a guerra iria travar-se entre Ingleses e Zonas de Secagem em Massachusetts (Fig. 53) Americanos, com vexame para aquele país (imperial) europeu ingleses pescam… “mas não preparar que viu serem-lhe aprisionados em 1776, ou secar na mesma ilha”. Houve algupelos americanos, cerca de 342 navios. mas divergências entretanto sanadas peEsta «guerra» só viria a terminar, aquan- los tratados de 1814, 1818 e 1854, até que do da Declaração da Independência em o tratado de Washington em 1871 fixou 5 de Março de 1783 onde, entre outros nos seus artºs 18º, 19º e 20º, a igualdade pontos, foi estabelecido que, “os cida- absoluta de direitos para ambos os ladãos americanos continuarão a gozar dos. sem moléstia, do privilégio da pesca no grande banco, e golfo de S. Lourenço” Desde o início que os Portugueses partiem todas as zonas em que os pescadores ciparam no BIG JOB americano, com uma grande colónia de emigração que ainda hoje se faz sentir, fazendo parte das tripulações dos barcos americanos, neles chegando a desempenhar altos cargos de Capitães e/ou Mestres. Neste confronto, os Americanos tiveram como aliada a França, muito embora de um modo reservado, já que, na sua concessão de auxílio, esteve sempre a defesa das possessões daquela em St.-Pièrre e Miquelon. A típica Banking Schooner (Fig. 54) 56 - Nas rotas dos Bacalhaus-Séc. IX ao Séc. XVI
25- FINALMENTE O REGRESSO DE PORTUGAL AOS BANCOS DA TERRA-NOVA As pescas portuguesas tinham caído em profunda crise no séc. XVII e XVIII, e pareciam não tomar rumo diferente no início do séc. XIX. Às crises inibidoras já referidas, no início do séc. XIX, a aplicação de novas taxas como o imposto do pescado, conduziria a uma descapitalização das empresas impedindo a veleidade para outros investimentos, que não a pesca costeira: a da sardinha em toda a costa, e a do atum no Algarve. Nos Açores, a pesca da baleia fazia acorrer àquele arquipélago grandes frotas de Baleeiros europeus e americanos, que por todos os mares (incluindo o dos Açores) procuravam aquela espécie que tão importante se tornara para a economia mundial. Os pescadores locais criariam as suas pequenas companhias, participando localmente na captura da espécie, que depois era vendida às frotas que vinham em sua demanda. Foram entretanto dados pela Governação, alguns passos, muito embora de um modo tímido, já que se demorava a perceber que o mar sendo uma fonte inesgotável de riqueza escondida - pelo menos até ali parecia ser!... - exigiria mais do que simples e avulsas medidas, por vezes contraditórias, pois, logo que nascidas, acontecia serem alvo de revogação célere, não estimulando o capital privado a arriscar. Com o decreto de 6 de Novembro de
1830, que tinha como finalidade a fixação de incentivos para (toda) a pesca em geral, abolindo “de hoje em diante os direitos e contribuições, (…) sobre peixe pescado em barcos ou navios portugueses” parecia querer romper-se com esse estado de coisas, pois era claramente ousado, já que, tratando-se de uma lei com aplicação universal ao mundo das pescarias, abrangendo não só a pesca realizada na costa portuguesa como outra levada a cabo em qualquer outra parte longínqua… abria novos e interessantes horizontes às actividades da pesca no País. Fosse de peixe fresco, salgado, ou até seco, eliminando as taxas proporcionais às quantidades pescadas, impondo em contrário, uma taxa por embarcação qualquer que fosse a sua tonelagem (três mil reis de direitos e quatrocentos e oitenta reis de emolumentos), parece fazer antever, ter sido, aquando da sua feitura, tomada em especial consideração a grande tonelagem que a pesca do bacalhau, até aí desactivada, teria necessariamente de utilizar, caso pretendesse regressar à faina. Se esta Lei foi ou não feita para satisfazer um «lobbie» que pretendia reiniciar a pesca longínqua nos bancos da Terra Nova, nada apurámos, para lá de se saber que a mesma foi fortemente influenciada pela posição do Judeu Jacob Frederico Torlade Pereira, cônsul português Nas rotas dos Bacalhaus-Séc. IX ao Séc. XVI - 57
dexação do imposto à tonelagem da embarcação) de que teria sido a pesca longínqua (bacalhau e baleia), o objectivo principal da mesma. O facto é que por coincidência ou não, logo nos anos seguintes, é formada a Companhia de Pescarias Lisbonense cujos desígnios seriam os de se pretender dedicar à “pesca da sardinha, baleia e bacalhau” e que, em 1835, envia à Terra Nova CINCO ESCUNAS - não SEIS como comumente é afirmado - ( Anexo XIV) - entretanto adquiridas aos ingleses, tendo incluido na compra, a tripulação, a aquisição de dóris, a palamenta… tudo! A Companhia não teve vida fácil nem lucrativa; os resultados não foram animadores, como indicamos no Anexo XIV; “face aos fracos resultados obtidos, apenas as campanhas do bacalhau continuaram até 1857, dados os resultados perante tantas asneiras cometidas no plano técnico comercial”, aí se afirma.
Memória enviada à Companhia de Pescarias Lisbonense pelo Consul Jacob T. Pereira - 1835 (Fig. 55)
na América, ao oferecer à Companhia de Pescarias Lisbonense um estudo sobre a pesca do Bacalhau naquele país, estudo que teria servido para influenciar o poder político e seria publicado, mais tarde, sob o título “Memória Sobre a Pesca do Bacalháo”. Na arquitectura da referida Lei, há fortes indícios (de entre os quais a não in58 - Nas rotas dos Bacalhaus-Séc. IX ao Séc. XVI
Para se ver como os nossos políticos sempre estiveram desfasados com a realidade, atentemos no que disse Rocha e Cunha, ao tempo, em “Notícias sobre as Industrias Marítimas na área da jurisdição da Capitania do porto de Aveiro”:
- a situação disse, “levou o Governo Português a negociar em 1842 com os ingleses e em 1849/50 com a França no sentido de obter uma concessão na Terra Nova” com a intenção de se explorar a pesca sedentária.
tal afectação, o que veio a acontecer por portaria e 14 de Abril de 1886, muito embora apenas,“ para as embarcações existentes na altura” e não para as novas. A indecisão continuava… um passo em frente e logo outro atrás …
Era já tarde demais !
Em 1848 foram enviados 19 barcos ao banco; cinco escunas, doze patachos, um brigue e uma barca, (para um total de 325 homens, segundo Baldaque da SILVA - 1892), que depreendemos, seriam pertença, na totalidade, da Companhia de Pescarias Lisbonense (Anexo XIV) embora na História da referida Companhia se indique terem sido mandados construir 12, faltando por isso saber da origem de dois.
Como anteriormente vimos, a guerra político/económica que se travava entre aqueles dois países na Terra Nova, levaria ao aborto das negociações, pois este tipo de pesca estava claramente fora de causa, condenado.
O desaire da Companhia de Pescarias não obsta ao aparecimento de novas Companhias, como a «BENSAUDE e Cª» e a «MARIANO e Irmãos» que se Por outro lado, referindo o relatório, a lançam em novas tentativas de retomar posse do lugre Patacho NEPTUNO, este o tempo perdido, mesmo que logo de não aparece na lista de Baldaque (Aneinício, sintam a incompreensão (e falta xo XV - Quadro 1). de visão) do Governo Português, quando em 1885, este, decide considerar “o bacalhau pescado pelos barcos portugueses como produto estrangeiro”, pelo que deveria “ficar sujeito a taxa de direito de importação, que representava 33,5 réis por Kg” (Mário MOUTINHO História da Pesca do Bacalhau). Tal posição anacrónica, que faria regredir os esforços encetados, levaria à intervenção da Associação Comercial de Lisboa no sentido de ser reconsiderada Lugre Neptuno (Fig. 56) Nas rotas dos Bacalhaus-Séc. IX ao Séc. XVI - 59
Será que este Neptuno, virá a ser o mesmo que foi pertença da Parceria Geral das Pescas, mais tarde? Se como pensamos tal ser bem possível, será bom investigar se os «Bensaúdes» não estiveram na génese da Companhia de Pescarias Lisbonense, o que apenas viria confirmar a importância que os capitais Judeus tiveram no relançamento da Pesca de Bacalhau. Certo é que em 1902 foram 15, as embarcações enviadas à Terra Nova, conforme se fica a saber pela lista anexa (Anexo XV - Quadro nº 2). Em 1917 o esforço de pesca continua a subir, com o envio de 40 barcos, agora já de diversos portos de armamento, conforme se pode apreciar da lista anexa (Anexo XV - Quadro 4), embarcando um total de 1.400 homens. E vai crescer ainda mais, atingindo em 1924 o número apreciável de 65 unidades, para uma capacidade de 13.806 toneladas.
orientação do arquétipo do desenvolvimento das pescas, intenso, verificandose de 1934 a 1967 quase que uma duplicação no número de unidades.(Anexo XV - Quadro 4). Mas o fim estava bem próximo… Os franceses tinham feito a primeira experiência de pesca de arrasto em 1904 com o LA JEANNE (Arcachon), que não teve resultados positivos. Insistiram, contudo, no mesmo ano, enviando o vapor l’HECLA e, logo de seguida, o L’AUGUSTIM LE BOGUE. Em 1930 são já uma vintena, os arrastões enviados ao banco por aquele país. Os portugueses apenas iniciariam o emprego do arrasto com o Stª JOANA, em 1936, tarde demais (muito embora tenha havido uma primeira experiência mal sucedida, com o vapor ELITE, em 1909 e 1910).
É certo que no período da Primeira Guerra Mundial (1914/18) este esforço abrandou, pois em 1918 apenas foram enviados 11 Veleiros, aumentando porém esse número, logo após a mesma (Anexo XV - Quadro 3).
O número da frota de arrasto portuguesa chega aos 22, nos anos sessenta, e atinge o seu máximo em 1967 (34 arrastões), ano em que, contudo e paralelamente, insistíamos ainda na pesca à linha, armando nesta data 33 navios para este tipo de pesca (os franceses tinham praticamente acabado com a mesma em 1939).
Com o Estado Corporativo, o ritmo de crescimento da frota à Vela, ou à Vela e a Motor, ou de Arrasto, é, apesar de toda a controvérsia deste período, das incongruências nos actos de planificação e
Enquanto nós parecíamos não saber por onde ir, nem como ir, atrasando-nos ano após ano, afastando-nos decisivamente do pelotão da frente que estava em grande mutação tecnológica. A evolução iria
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ser rápida com o aparecimento dos navios fábricas onde as máquinas substituíram profundamente o homem; a tecnologia fez disparar as capturas a níveis impensáveis. Menos pessoal por quintal de bacalhau capturado, era o objectivo destas desenvolvidas unidades, onde se iniciaram a aplicação de processos de detecção, arrasto e tratamento de peixe, altamente sofisticados. Outros Países vêm juntar-se à frota histórica com os seus navios de arrasto, alguns, verdadeiras fábricas flutuantes: Franceses, Alemães, Polacos, Ingleses, Russos, Espanhóis e outros, juntamente com os Portugueses, depressa vão provocar uma sobre-exploração dos recursos, o que vai conduzir ao aparecimento de novas lutas encetadas pelos insulares locais da Terra Nova, que em 1970 se insurgem (agora) contra os arrastões ingleses, quando a sua pesca artesanal foi atingida brutalmente e posta em causa a sua subsistência, ao sentirem na pele o estigma do desemprego, começando a sobreviver dos subsídios provenientes do mesmo; mais tarde, esta sobrepesca vai conduzir à moratória de 1992, que virá a ser imposta pelo Canadá, evocando a rarefacção verificada no bacalhau. A história repete-se... Voltaram as razões externas a limitar-nos a pretensão.
fruto de um exagerado proteccionismo do regime, chegada a hora de reformar, não soube, por omissão dos políticos e/ ou dos armadores, reencontrar o caminho certo para absorver os novos parâmetros advindos de uma profunda mudança social, política e económica. E a verdade é que somos um País voltado para o mar, e dificilmente seremos novamente «grandes», se lhe «virarmos» as costas. A Grande Faina iria desaparecer (ou reduzir-se a uma expressão limitada) como esforço colectivo, deixada nas mãos de meia dúzia de Armadores, por vezes mais interessados na comercialização do fiel amigo (que teimosamente ocupa lugar destacado nas nossas vitualhas), do que no real esforço de pesca. Quando ao conceito de «MARE LIBERUM» se seguiu o do «MAR RETALHADO» em zonas exclusivas quotizadas, deu para perceber que já nada, ou muito pouco, haveria a fazer: uma sobrecarga inaudita de um esforço de pesca, ajudado pelas novas tecnologias, “mostrou como a ignorância e a cupidez colocaram em perigo um dos vastos recursos alimentares do mundo, os Grandes Bancos da Terra Nova” (Pol CHANTRAINE).
Mas a verdade é que as grandes transformações políticas (internas) verificadas no País em 1974 tinham, entretanto, desferido uma mortal cutilada ao sector, que vindo de um tremendo estatismo, Nas rotas dos Bacalhaus-Séc. IX ao Séc. XVI - 61
ANEXOS
ANEXO I O MAPA DA VINLAND, (THE VINLAND MAP AND THE TARTAR RELATION - Skeltion 1965)- que teria sido feito antes da viagem de Colombo, é um documento sobre o qual se levantam dúvidas quanto à sua veracidade, mesmo depois de submetido a testes de carbono 14. As mesmas advêm da “idade” das tintas usadas, as quais contêm Ti O2 (ver Scientif Studies of the Vinland Map) não existente nas tintas daquela época. Tem por isso sido objecto de controvérsia quanto à sua validade histórica.
Mapa da Vinland
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ANEXO II A mudança climática verificada entre o Séc. IX e o Séc. XVI (designada como LITTLE ICE AGE in Iceland ) está bem expressa nas gravuras abaixo reproduzidas (VICKINGS IN THE FAROE ISLAND - Simun VARGE). NOTA IMP: A sequência das mudanças climáticas verificadas desde o Séc. IX ao Séc. XVI atingiu não só a Islândia, mas toda a região do Atlântico Norte.
A- DE 850 A 1000
Durante o período inicial da fixação dos Norses, o clima era mais temperado que hoje; a erva crescia verdejante, e havia árvores nas regiões mais baixas; o gelo apenas aparecia no topo das montanhas; o Chefe local já se tinha estabelecido numa «quinta» onde criava porcos, vacas e ovelhas, com os homens dependentes; mas no lado direito da gravura A sugere-se um homem livre que se tinha estabelecido numa zona independente (murada). Nas ilhas contíguas, escravos dedicavam-se à pesca.
Nas rotas dos Bacalhaus-Séc. IX ao Séc. XVI - 65
B- ECONOMIA JÁ ESTABELECIDA (1250)
O tempo já se apresentava mais variável; havia gelo que descia até zonas mais baixas; agora havia muitas «quintas» independentes. Uma Igreja já tinha sido erguida; um rival (representado à direita na gravura) tinha aparecido, e emergia, rivalizando no poder; começavam a aparecer outras embarcações, para efectuar trocas comerciais.
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C- TEMPOS DIFÍCEIS (1350-1550)
O tempo tinha-se tornado muito frio, com muito nevoeiro e grande precipitação de neve; havia muito gelo a baixa altitude; por isso muitas quintas tinham sido abandonadas; a igreja tinha já um Bispo; os fazendeiros que ficaram tinham de completar a sua dieta com o peixe; embarcações inglesas e de outras paragens, iniciam a pesca nas águas locais e começam a apropriar-se do controlo do comércio de exportação do peixe.
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ANEXO III ESTRUTURA DE UMA CASA DOS NORSES EM MEADOWS
1-2-3 Quartos 4- Cozinha; Sauna 5- Armazém 6- Forja
68 - Nas rotas dos Bacalhaus-Séc. IX ao Séc. XVI
ANEXO IV VIAGENS A OCIDENTE. SEGREDO OU DESINTERESSE? Tem levantado acesa controvérsia, encontrar uma explicação lógica, coerente, sobre a posição da Corte, relativamente não só aos esforços feitos para as navegações a Ocidente - todas foram feitas à custa do esforço material dos descobridores, muito embora com promessas de concessões tentadoras -, bem como ao desinteresse da assunção da posse das mesmas, aquando das viagens «verificadas», dos Corte Reais. Nessa data o poder Papal não era ainda posto em causa, como veio a suceder no séc. XVII, quando confrontado com as novas ideias do MARE LIBERUM. Mas é licito reflectir: teria o tratado de Tordesilhas, com a divisão do mundo por uma linha imaginária que fixava, a leste e oeste, os direitos das duas nações Mapa Séc. XVI indicando a Linha de Tordesilhas descobridoras, obrigado ou aconselhado essa posição - ou a falta da mesma?!; ou teria sido claramente intuído por D. João II, e depois por D. Manuel I, que a procura do Oriente não seria alcançada, em qualquer circunstância, por aquelas paragens? Ou ainda, por detrás de tal postura, teria estado o aspecto desalentador daquelas inóspitas paragens, razão suficiente para a Coroa “se não desviar” do objectivo primeiro, que era o da procura de um acesso às Índias, que sabíamos claramente, se encontravam noutras latitudes?... ; ou haveria já informação segura na coroa de que o Cabo da Boa Esperança «era» claramente à nossa disposição… e que, daí «para a frente» nos restava apenas(?!) ir ao encontro dos «pilotos da monção» ? Não tem havido uma posição clara dos nossos historiadores (académicos), sobre a matéria; mais: - as nossas viagens a Ocidente estiveram escondidas e muito pouco referidas. Foi mesmo preciso virem os de fora (Morison), para que ousássemos delas falar (Cortesão, Peres, Coutinho e Albuquerque) Nas rotas dos Bacalhaus-Séc. IX ao Séc. XVI - 69
ANEXO V OS “TERRA NOVAS” DE AVEIRO NO SÉC. XV /XVI Existem múltiplas referências que confirmam o que afirmamos na pág 27 sobre presença de embarcações saídas de Aveiro para a Terra Nova. Em documento de 1686 é referido: “ Como a «terra nova» era «nauegaçam» deste reino, e os moradores da ditta vila (Aveiro)(…) com os direitos de sua pescaria e «tracto» para o que fabricavam muitos navios e outras embarcações … (…) tiveram aquelas sobras de que «oie» totalmente estão faltos por falta da ditta «terra noua» que passou aos ingleses (…)” De entre essas referências registamos a de Carvalho da COSTA na Corografia Portuguesa : - “Por esta comodidade se «fabricavão» outro tempo em Aveyro tantas embarcações que sahião sessenta «naos» para a pescaria da Terra Nova…” e mais cem carregadas de sal para diversas partes… E de Rocha Madail a afirmação de que: “foi o descobrimento dos bancos da Terra Nova e consequente pesca do bacalhau que no século XVI provocou o desenvolvimento comercial de Aveiro o aumento da população, que tingiu o número de cerca de 12.000”. Uma referência conhecida, que reputamos de importante, é a de ser o Porto de Aveiro (em 1552) o que possui a maior tonelagem, não por ter maiores navios, mas por ter muitos navios pequenos (caravelas); caravelas de pesca, dizemos nós, pois era este, o tipo de navio que se utilizava na pesca do bacalhau na Terra Nova, nos séculos XV e XVI). O número de embarcações saídas para a pesca deve ter atingido o número máximo de cinquenta, que se foi reduzindo drasticamente daí em diante, até ao desaparecimento desta actividade, em 1583, como referimos. Cerca de 1680, com a redução do esforço de pesca, havia claramente um encerramento de muitas lojas de comércio de bacalhau em Aveiro, como se pode apreciar pela carta de sentença de D. Pedro do 70 - Nas rotas dos Bacalhaus-Séc. IX ao Séc. XVI
referido ano, solicitando passagem de certidão de encerramento de muitos comércios, certidão passada em 12 de Março de 1683 (A. Madail). No documento de 1686 é ainda referido: (…) tiveram aquelas sobras de que «oie» totalmente estão faltos por falta da ditta «terra noua» que passou aos ingleses (…) “ pelo que, continuamos a citar (…) “muitas pessoas da «ditta villa» pobres trabalhadores pescadores se «auzentaram para diverças» partes do reino…”
Aveiro Nas rotas dos Bacalhaus-Séc. IX ao Séc. XVI - 71
ANEXO VI CARAVELA LATINA Gago COUTINHO refere (na sua História dos Descobrimentos) pelo menos as seguintes viagens ao OESTE, no séc. XV: Teive 1452, Vogado 1462, Teles 1474 e Ulmo 1486. MORISON, fala-nos insistentemente desta última. Estas viagens, e posteriormente o esforço de pesca, foram levadas a cabo na Caravela, que Quirino da FONSECA define como a caravela de Pesca do Mar do Norte, a qual teria a característica de poder arrear o mastro grande durante a faina, aquando da função de deriva, ficando o mastro da mezena em operação, de serviço. Baseando-nos em diversas informações, projectámos em simulação de computador o que admitimos tenha sido a referida embarcação utilizada na pesca do mar do Norte.
Caravela da Pesca do Bacalhau no Séc XV - 20 Ton. (Tonéis) (Simulação Do Autor)
72 - Nas rotas dos Bacalhaus-Séc. IX ao Séc. XVI
ANEXO VII O SAL… OURO BRANCO… O sal era um bem precioso. Não só porque era (todo) obrigatoriamente levado da Europa, o que, dadas as quantidades enormes necessárias, obrigava à sua aquisição e transporte, muito embora a França fosse um excelente produtor do mesmo. De entre outros, Portugal, era um dos fornecedores principais das embarcações francesas. Nos «échafauds”, no final de estação, o sal que crescia era metido num enorme buraco, coberto com sílex, sobre o qual se fazia um grande fogo. Assim, desta maneira, este bem precioso, o sal, era conservado até à nova época, podendo vir a ser utilizado na Campanha do ano seguinte.
Secagem do Bacalhau no «Échafaud»
A secagem do bacalhau era feita sobre as rochas dispostas de maneira que permitisse a circulação do ar, ou pendurado em travessas de madeira, ou ainda, em longas mesas, formadas por varas (quando o terreno era arenoso). Nas rotas dos Bacalhaus-Séc. IX ao Séc. XVI - 73
A técnica de secagem consistia em DEZ “soleils”, correspondendo cada “soleil” a um tempo de exposição. Os dez “soleils” eram assim distribuídos: 1º Soleil - 1º dia; o bacalhau era estendido sobre a local de secagem. 2º Soleil - 2º dia; o bacalhau era exposto durante 12 horas e depois recolhido em pilhas de três. 3º Soleil - 3º dia; o bacalhau era exposto até ao final do dia, depois recolhido em pilhas de oito. 4º Soleil - 4º dia; mesma operação do 3º dia. 5º Soleil - após secagem os bacalhaus eram recolhidos em pilhas maiores, chamados «carneiros» (pilhas de 50). 6º Soleil - os «carneiros» ficavam expostos durante 10 a 12 dias, sem que lhes tocassem. 7º Soleil - passavam-se para cima os bacalhaus de baixo, os menos secos. 8º Soleil - mesma operação durante 15 dias, empilhagem - estendagem. 9º Soleil - mesma operação durante 1 mês. 10º Soleil - mesma operação durante 40 dias.
Secagem do Bacalhau 74 - Nas rotas dos Bacalhaus-Séc. IX ao Séc. XVI
ANEXO VIII CHALUPAS - embarcações utilizadas na pesca do bacalhau quer, nas campanhas sedentárias quer posteriormente na pesca nos bancos. Eram barcos fortes com uma tripulação de cinco homens e um noviço. Eram usadas duas chalupas em cada “TERRE NEUVE ”, havendo uma terceira sobressalente. Curiosamente a chalupa que pescava a bombordo, não tinha a mesma quantidade de linhas que a de estibordo. Isso era devido ao facto - explica Robert LOTURE na Histoire de la Pêche de Terre Neuve - de geralmente, sendo o vento no Grand Bank, nas primeiras horas, de SUL-SUDOESTE, virando depois a OESTE, por conjugação com as correntes de água, a de bombordo cai a sotavento e a de estibordo fica a barlavento, pelo que o regresso da chalupa de bombordo carregada, ao “TERRE–NEUVE”, era bem mais penoso.
Chalupas no Banco
Nas rotas dos Bacalhaus-Séc. IX ao Séc. XVI - 75
ANEXO IX O DÓRI: ORIGEM CANADIANA, AMERICANA OU BASCA? Ou outra?... Os Dóris - palavra derivada de WARYS - foram introduzidos pelos franceses em 1872/75, substituindo as chalupas. São embarcações de fundo chato, de linhas pontiagudas (esquife) nos dois extremos - cortadas à ré, onde podem armar um remo com costado em tabuado trincado. Tinham, na versão francesa, 6,00 m de comprimento, por 1,60 m de boca, e 0,60 m de bordo na zona mais baixa, e eram tripulados por dois homens. Nos finais da Frota Branca, os dóris evoluíram, desde o comprimento de 4,50 m, boca de 1,20 m até ao comprimento de 5,30 m, 1,50 m de boca e 0,60 m de bordo (exemplar no Museu Marítimo Ílhavo); os primeiros, adquiridos em Inglaterra (e/ou na América) indicam-nos que nessa altura a dimensão era bem menor; 3,50 m de comprimento e 1,20 m de boca. Na gravura que simulámos em computador, expressamos a comparação em escala real das referidas embarcações.
1
m
DÓRI Português DÓRI Francês
DÓRIS - Evolução
76 - Nas rotas dos Bacalhaus-Séc. IX ao Séc. XVI
Correntemente a sua origem é atribuída aos americanos e/ou canadianos que os utilizavam nas suas escunas.
Canoa Dóri-pescando no Sistema de Espinhel
Mas facto, é que Pedro Quirino da Fonseca (em - Origens da Caravela Portuguesa) apresenta a fotografia de uma primitiva embarcação feita de casca de árvores, encontrada na Baía da Condúcia, que tem absoluta identificação nas formas com o Dóri, o que vem confirmar a hipótese, já levantada, destas embarcações, canoas (proa e ré em bico) dos ameríndios primitivos, terem sido adaptadas, transformando-as nos dóris.
Curiosamente Renè BÈLANGER no seu estudo LES BASQUES DANS L’ESTUAIRE DE S. LORENZO, atribui a origem deste tipo de embarcações aos BASCOS, que, afirma, as teriam utilizado já, desde o Século XVI.
Embarcação primitiva feita de Casca de Árvore (Quirino da Fonseca)
A gravura abaixo indicia-nos claramente, ser essa a origem.. A forma primitiva é por de mais evidente...
«Dóri» de uma comunidade piscatória de Isafjordhur - In Iceland Discovers Nas rotas dos Bacalhaus-Séc. IX ao Séc. XVI - 77
ANEXO X «BACALHAU» DOS POBRES Que o bacalhau era alimentação para os «pobres», podemos constatar essa ideia, do facto de, em 1645, o mesmo ter sido incluído no livro de Regimento de Pagamentos da Coroa “para ser distribuído à pobreza”. Por uma leitura do preço médio dos géneros poder-se-á constatar que o preço do Bacalhau era, então, cerca de 1/3 do preço de carne, tendo mesmo o mais baixo preço de todos os géneros consumidos na época, incluindo a sardinha. O que não significa que não fosse motivo para tentativas de aumentos de preço por via especulativa, como se conclui de um documento de 1683, em que é feita queixa à coroa de que “os capitães fingem que hão-de sair com os navios para comprar o bacalhao por maior preço em prejuízo dos pobres...”
78 - Nas rotas dos Bacalhaus-Séc. IX ao Séc. XVI
ANEXO XI DESCRIÇÃO DO «ÉCHAFAUD» O «Échafaud», local de acampamento da pesca sedentária, era constituído por uma espécie de «pontão» em madeira (apanhada das muitas árvores existentes na região), prolongado sobre a água, que servia de cais onde vinham atracar as chalupas da pesca para aí descarregar o produto da mesma. Por vezes, era neste pontão colocado um canhão, como protecção contra corsários que vinham roubar peixe, e/ou contra intrusos hostis. No seguimento do cais havia uma hangar coberto, onde se fazia a preparação do peixe (cortadas as cabeças, esventrado, e lavado) tendo em vista a secagem, dita «habillage». O Sal era conservado no mesmo hangar, que servia ainda, para guardar as linhas de pesca. Perto ficavam as cabanas para recolha do pessoal, tipo casernas colectivas, com os catres de dormir dispostos em dois níveis onde cada um tinha os seus poucos haveres pessoais; a cabana do capitão e do mestre eram de tipo individual, munidas de um pequeno recanto para a escrita e guarnecidas com uns muito simples armários para guarda dos instrumentos de navegação, e algumas cadeiras. A cozinha era montada num pequeno hangar, somente para este fim. Havia apenas um gancho O «Échafaud» onde se pendurava o «panelão» sobre o fogo. Em cada maré, uma das chalupas deixava um homem em terra para que nesse dia desempenhasse a tarefa de cozinheiro. Naturalmente que as vitualhas eram extremamente simples e reduzidas: cabeça de Nas rotas dos Bacalhaus-Séc. IX ao Séc. XVI - 79
peixe, algumas batatas trazidas de França, alguns legumes que se conseguiam extrair da terra, tendo cada homem direito, por semana, a 250 g de manteiga, 500 g de carne salgada e 250 g de toucinho salgado sendo o pão cozido no local em fornos feitos para o efeito. Era fornecido vinho em quantidades variáveis conforme os hábitos de cada instalação, e do modo como corria a campanha, mas, no mínimo, eram distribuídos dois quartilhos por semana. A aguardente era «baptizada» pelo Armador, de meio por meio e distribuída com alguma prodigalidade (cerca de meio litro por dia). O pessoal destas estações era composto por marinheiros pescadores que embarcavam nas chalupas, e tinham ainda a tarefa de gerir o funcionamento do estabelecimento para além da captura do bacalhau, e por auxiliares completamente estranhos às tarefas piscatórias, a quem incumbia a limpeza da estação, sua arrumação, bem como a tarefa de secagem (SOLEILS) do peixe e seu acondicionamento.
80 - Nas rotas dos Bacalhaus-Séc. IX ao Séc. XVI
ANEXO XII Em França, por RICHILIEU é estabelecida a criação das primeiras escolas de «hidrografia», as quais foram “distribuídas” pelas principais vilas armadoras, com a finalidade de dar instrução adequada aos mestres capitães de navegação em alto mar; na prática não trouxeram os resultados a que se propunham, pois, como em Portugal muito mais tarde, os Capitães atingiam aquele posto, em função das horas de navegação noutros cargos, de prova da sua capacidade de comando e por uns adquiridos e breves conhecimentos teóricos de navegação, incluindo elementos rudimentares de astronomia, trigonometria e geografia. Em 1698, contudo, em França, torna-se a insistir nesta necessidade de dar mais completos conhecimentos aos Capitães de Pesca dos Mares do Norte.
Instrumento de Navegação Séc. XVI
Nas rotas dos Bacalhaus-Séc. IX ao Séc. XVI - 81
ANEXO XIII A FIGURA DO MOÇO ATRAVÉS DA GRANDE SAGA O MARTÍRIO DO POBRE MOÇO. «Levanta-te moço: são quatro horas. Leva o café ao piloto…» Se o moço não respondia de um salto, um valente “cachação” - quando não uns pontapés com as botifarras -, logo se abatia sobre a sua cabeça ou costados, despertando aquele corpo ainda criança que se abandonara, exausto, completamente vestido, fato oleado e botas de pau calçadas, sobre a enxerga para onde atirara o corpo desfalecido, ainda não havia, duas horas… Era uma vida de cão… Desde o início da SAGA DO BACALHAU (FAINA MAIOR; LE GRAND MÈTIER), uma figura desempenhou a bordo uma tarefa de transcendente importância, pela diversidade que a mesma comportava: fazer o rancho, limpar os aposentos do capitão e o posto de equipagem, baldear o convés, servir o café, o mata-bicho, ajudar na lavagem do peixe mergulhado nas celhas de água gelada, ajudar na manobra do navio, enfim, “pau para toda a obra”, em períodos consecutivos de 18 horas por dia. E nem o facto de, com muita frequência, o moço ser um familiar do Capitão - muitas das vezes seu filho ou sobrinho evitava a grande rudeza e a bestialidade do cargo, que eram “despejadas” para cima daquelas indefesas criaturas, cujas idades não ultrapassavam os oito anos nos séc. XVI e XVII; e só posteriormente (1841) foi fixada em França a idade mínima dos 12 anos; em 1907 passa este limite para os quinze anos como idade mínima (muitos dos capitães dos Bacalhoeiros que ainda conheci, tinham sido moços com idade de 9/10 anos)... 82 - Nas rotas dos Bacalhaus-Séc. IX ao Séc. XVI
Muitos moços sucumbiam, incapazes de suportar tarefas tão brutais para jovens sub alimentados, sem descanso, a que se juntava, muitas vezes, os maus tratos da própria tripulação. O que muitas vezes os levava à morte, por sobre esforço: ou em consequência dos maus tratos, escolhendo o suicídio, lançando-se às águas, procurando nesse acto de desespero a libertação para o seu sofrimento, o corte, com tão brutais amarfalhos. Em França, verificada a falta de voluntários, chegou a recorrer-se ao recrutamento forçado nos orfanatos.
Moços a bordo de uma Goèlete (Foto Briand Ozon Collection)
Nas rotas dos Bacalhaus-Séc. IX ao Séc. XVI - 83
ANEXO XIV RESUMO HISTÓRICO DA COMPANHIA DE PESCARIAS LISBONENSE Por ter sido a primeira Companhia a formar-se (31 de Outubro de 1835), logo após o Dec. Lei de 1830, que viria a pôr termo ao interregno de três séculos de ausência da Terra Nova, parece-nos de maior interesse a citação de uma análise feita por Francisco Franco, uma espécie de auditoria realizada em 1835, que informava no seu relatório - especificamente no relacionado com o Bacalhau, a parte que nos interessa - que as razões aduzidas para a formação da Sociedade, constituída por um capital de 1.000 contos de réis, distribuído por 10.000 acções, teriam sido motivadas pelo: “espírito de associação, que se tinha apoderado dos portugueses, a prodigiosa fecundidade dos peixes”..(….) Mas, facto é que na sua curta vida (falência em 1839) “estes resultados não se realizaram, pelo contrario, graves prejuízos se sucederam uns aos outros”… 84 - Nas rotas dos Bacalhaus-Séc. IX ao Séc. XVI
Por razões, justifica, “Da continuada rotação dos directores (que) deixa os negócios sem um centro (poder)… (…) “Foi determinado que a AG fosse constituída por cada sócio com 10 ou mais acções; elas eram 10.000… e andam passando de mão em mão.”. Iniciada a actividade a direcção estabelece quatro armações no Algarve, para o atum, (…) o que se mostraria ruinoso, pois, para lá das despesas enormes com a ida de três Administradores (refere) “as capturas foram desastrosas” A seca era feita no presídio da Trafaria, alugado ao Governo para o efeito, depois de tentada no Faial, em que, por razões climáticas, não se conseguiram resultados satisfatórios. Tinham-se fortes esperanças nas «companhas» da sardinha, mas sucedeu, que “A sardinha apanhada era pouca - não apareceu”… explica-nos E continua, logo adiante: “Para a pesca do bacalhao se mandaram vir de Inglaterra seis escunas (só vieram cinco) com peritos daquelas pescas e modo de preparar peixe; em Lisboa se juntou alguma tripulação e seguiram o seu destino para os Bancos da Terra Nova, devendo regressar à ilha do Fayal onde se estão fazendo os arranjos necessários para alli seccar o peixe debaixo da direcção de um inglês prático naquele processo”. Acrescentando, “e como as ultimas cargas de bacalhao não podem ir secar ao Fayal, por alli ser nesse tempo a Estação muito humida, mandaram-se vir para Lisboa, e pediu-se ao governo de S.M., o forte próximo ao presídio da Trafaria para esse fim; ao que S M annuiu”. E sobre a outra actividade que se pretendia implementar, a da pesca da Baleia, F. Franco elucida-nos; “Para a pesca da Baleia mandou a Direcção comprar em Londres duas Barcas, Nas rotas dos Bacalhaus-Séc. IX ao Séc. XVI - 85
mas uma era um brigue e outra um Palhabote (…) que têm vindo a este Porto receber capitães, e alguma tripulação Portuguesa e seguido o seu destino para o mar dos Açores e África do Sul” Ora é o próprio F. Franco que assume, ter sido desastrosa, a decisão de mandar vir tudo de Inglaterra, “péssimos resultados. As barcas eram impróprias para a pesca da baleia… e uma, a ESPECULAÇÃO foi aproveitada para a pesca do bacalhao“… elucida. As Escunas (Bacalhao) teriam vindo muito caras, pelo que “a dificuldade de obter numero de embarcações em Portugal a preço razoável… e o caro custos delas em Inglaterra decidiram a direcção em mandar construir 12 escunas, e já se estão fazendo na Vieira”. Era no riacho de Vieira, sendo o construtor Manuel Luís dos Santos. O contrato previa dar quatro prontas até Julho de 1836, quatro até Novembro do mesmo ano e as outras quatro, três meses depois. Mas não foi cumprido e, por isso, diz-nos, gastou-se muito dinheiro, “para de lá as tirar…” Cada escuna, refere, ficou em Nove Contos de Réis… E eram tão fracas - assume… - que anónimo as designou por «canastras» “Pior foi a emenda que o soneto…” diz. “As escunas além de caras eram más, pouco veleiras, e muito pequenas…” “Também mandaram vir os ingleses, os mais oppostos a ensinar (…) principalmente neste ramo… pois que iria (se nós pescássemos!), prejudicar o seu comércio”… Pelo que entende, não pode alegar-se ignorância “pois os Srs Torlades e Laroche, deram disso conhecimento” Este Laroche que teria viajado pela Europa “teria dito onde deveríamos encontrar navios e gentes capazes” “Os pescadores que vieram não eram práticos e não quiseram ensinar (…) como se viu no que fizeram no ano de 36…e em 37…Ora logo depois, os Portugueses sem eles, fizeram,” diz… “pescas duplas e triplas” 86 - Nas rotas dos Bacalhaus-Séc. IX ao Séc. XVI
A decisão de escolher os Açores foi errada, dado o clima húmido, muito embora a meio do caminho do banco. A ideia era “sair de Lisboa em Abril ou Março, para o banco, fazer a sua pesca, ir descarregar aos Açores, receber mantimentos e Sal e fazer nova pesca e regressar a Lisboa até Outubro”... o que diz ser impossível “os três hiates que fizeram viagem em 1836 apenas descarregaram, entre todos, 6.500 peixes (relatório de 1837, pág. 6) e na segunda viagem em que vieram directamente para Lisboa 8.000 peixes. Ora O PATACHO NEPTUNO do Cap. Pena, com toda a tripulação portuguesa, que esteve toda a temporada na pesca e veio directo para Lisboa descarregou 18.000 peixes” Em 1837 a COMPANHIA DE PESCARIAS DO ALGARVE apresentou um projecto de união com a Companhia Lisbonense, que não pareceu razoável. No relatório de 1837 diz-se: “no ano de 1837 mandaram-se nove embarcações para o Banco. Destas uma arribou duas vezes e não chegou ao banco… Que tal era o Capitão!!(sic) As restantes tiveram resultados infelizes, o que se pode atribuir a não se terem podido ajustar as tripulações senão a soldadas” A Escuna BICUDA naufragou nos mares da Islândia. Em 1838 mandaram-se 13 navios ao banco. Trouxeram em Outubro 187.694 peixes, que pesaram em fresco 7.260 quintais. Na secagem houve perda de 41% considerada exagerada “por não estar ainda aperfeiçoado o método de secagem”. A cada pescador tinha sido ajustado pagar, por cada milheiro de peixe fresco, 96$000 réis. Em 1839 a empresa começa a desmembrar-se, chegando a fretar os barcos do bacalhau para fins comerciais. Foi ainda, em extremo, tentado o negócio das Velas de estearina, sem resultados que permitissem inverter o processo. Foi assim feito um relato circunstanciado, uma verdadeira auditoria para a época, que procurou encontrar as causas da ruína. Nas rotas dos Bacalhaus-Séc. IX ao Séc. XVI - 87
Nas proposições contidas na mesma, praticamente não se encontra negócio rentável que permitisse a continuidade da Companhia, salvo, curiosamente no que respeita ao bacalhau, pois sobre esta actividade, a opinião do relator é: (…) “Sobre a observação das contas do Bacalhao, chama-se a atenção exacta, seria um bom investimento, se seguidas as técnicas de secagem do Sr. Laroche e desde que o “costeio” ordinário das escunas não exceda os 1.700$ réis, que o peixe venha bem escalado e salgado - a este respeito não pode haver duvidas - diz-se - e que com mais experiência mais pescas se farão… com tanto que se não mandem más as companhas”- diz. E termina: “é preciso confessar que a nossa seca não é perfeita e o nosso bacalhao não pode competir com o Sueco ou Dinamarquês que são” - diz, “também superiores ao inglês”
88 - Nas rotas dos Bacalhaus-Séc. IX ao Séc. XVI
ANEXO XV QUADROS SOBRE A EVOLUÇÃO DAS PESCAS NO PRIMEIRO SÉCULO DO RETORNO À TERRA-NOVA (1836/1930) QUADRO 1
PESCA NOS BANCOS DA TERRA-NOVA 1848 ARMAÇÂO
NOME BARCO
TON
TRIPULAÇÂO PESSOAS
NATURALIDADE
ESCUNA
DELFIN
111
16
TRAFARIA
ESCUNA
DURADO
108
17
DIV
PATACHO
PÉROLA
128
17
TRAFARIA
ESCUNA
THETIS
108
16
DIV
BRIGUE
VESTAL
131
18
DIV
PATACHO
MOREA
131
18
ALGARVE
PATACHO
LONTRA
120
17
ALGARVE
PATACHO
SEREIA
126
17
DV
PATACHO
TARTARUGA
128
17
DIV
PATACHO
GAROUPA
120
17
DIV
PATACHO
BOA FORTUNA
144
18
ALGARVE
PATACHO
ESPADARTE
123
17
ALGARVE
PATACHO
NOVA OLINDA
129
18
ALGARVE
ESCUNA
TENTATIVA
81
15
DIV
PATACHO
ALVACORA
130
17
TRAFARIA
ESCUNA
TRISTÃO
112
15
ALGARVE
PATACHO
SALEMA
121
1.717
DIV
PATACHO
ABROTEA
126
18
DIV
BARCA
EMPREZA
197
20
TRAFARIA
2.374
TOTAL - 325
Fonte BALDAQUE DA SILVA - 1892
Nas rotas dos Bacalhaus-Séc. IX ao Séc. XVI - 89
QUADRO 2
FROTA 1902 NOME DOS NAVIOS
ARMAÇÃO
TON
ARMADOR
CREOULA
ESCUNA
152
PARC GERAL DAS PESCARIAS
ARGUS
LUGRE-PATACHO
249
IDEM
GAMO
IDEM
315
IDEM
HORTENSE
ESCUNA
98
IDEM
GAZELA
LUGRE -PATACHO
325
IDEM
LABRADOR
LUGRE -PATACHO
216
IDEM
NAVEGADOR
LUGRE -PATACHO
208
IDEM
NEPTUNO
PATACHO
182
IDEM
SOCIAL
PATACHO
148
IDEM
JULIA I
LUGRE PATACHO
217
A.MARIANO & IRMÃO
JULIA II
LUGRE PATACHO
145
IDEM
JULIA III
HIATE
175
IDEM
TROMBETAS
LUGRE
235
GUILHERME MESQUIT
SANTIAGO
IATE
132
SANTIAGO & ROSA
TERRA-NOVA
LUGRE PATACHO
280
PARC LISB DE PESCAS
Fonte LEONE, João Carlos Oliveira, 1903
90 - Nas rotas dos Bacalhaus-Séc. IX ao Séc. XVI
QUADRO 3 QUADRO COMPARATIVO CONTENDO POR ANO O Nª DE BARCOS, SUA TON, INDICANDO A QUANTIDADE (TON) IMPORTADA ANO
nº barcos
TON
BAC. IMP
ANO
nº barc
TON
BAC. IMP
ANO
nº barc
TON
BAC . IMP
1.901
12
2.313
18.088
1.911
34
7.370
30.000
1.921
35
7.921
37.665
1.902
15
3.352
17.962
1.912
37
7.838
31.000
1.922
45
10.560
31.239
1.903
17
3.576
1.913
38
7.265
30.671
1.923
47
10.887
34.059
1.904
17
3.743
24.133
1.914
34
6.854
25.000
1.924
65
13.806
39.607
1.905
13
2.817
22.238
1.915
38
8.112
18.600
1.925
44
10.253
35.619
1.906
18
3.956
1.916
31
6.738
17.000
1.926
39
9.777
43.808
1.907
29
5.035
1.917
22
4.333
17.900
1.927
40
11.449
42.523
1.908
30
6.235
1.918
11
2.387
21.106
1.928
50
12.553
44.388
1.909
31
6.746
1.919
13
2.947
31.314
1.929
51
13.098
43.112
1.910
28
6.529
1.920
19
3.795
31.268
1.930
43
11.362
40.830
O Lugre Julia I que participou na Campanha de 1902 Nas rotas dos Bacalhaus-Séc. IX ao Séc. XVI - 91
QUADRO 4
FROTA DE PESCA BACALHOEIRA EM 1917 NOME
TIPO
TON
ARMADOR
LISBOA: ARGUS
LUGRE
237
PARC. GERA. PESCARIAS
CREOULA
PATACHO
144
IDEM
GAMO
LUGRE
300
IDEM
GAZELA
LUGRE
323
IDEM
NEPTUNO
PATACHO
183
IDEM
AQRGONAUTA
LUGRE
224
SOC NAC. PESCARIAS
NAUTILUS
LUGRE
342
IDEM
JULIA I
LUGRE
218
COMP. ATLANTICO
JULIA II
LUGRE
204
IDEM
JULIA III
HIATE
175
IDEM
JULIA IV
HIATE
AÇOR
HIATE
188
PARCERIA DE PESCA
IDEM
NAUTCO
LUGRE
187
A.M. FREITAS
LOANDA
ESCUNA
141
SOC. AFRICANA
FIGUEIRA FIGUEIRA
LUGRE
162
SOC OCEANO
OCEANO
LUGRE
222
IDEM
VOADOR
LUGRE
267
IDEM
MONDEGO
HIATE
163
SOC FOZ DO MONDEGO
ELVIRA
LUGRE
265
L.G.SANTIAGO
LEOPOLDINA
LUGRE
267
COMP. LUSITANA
TROMBETAS
LUGRE
235
IDEM
PESCADOR
LUGRE
258
SOC.FIGUEIRENSE
VIRGINIA
LUGRE
193
SOC FUGUEIRENSE
FLORINDA
HIATE
112
SOC. FLORINDA
AVEIRO AFRICANO
HIATE
95
PARC AFRICANA
ANFITRITE
LUGRE
179
PARC BOA UNIÃO
DOLORES
LUGRE
13
PARC. AVEIRENSE
SOFIA
HIATE
168
SOC BOA ESPERANÇA
PORTO VILA DO CONDE
HIATE
121
PARC, PORTUENSE
RIO AVE
HIATE
162
IDEM
AMÉRICA
LUGRE
200
IDEM
PORTUENSE
LUGRE
263
IDEM
FELISBERTA
GRE
378
PARC. DO DOURO
VENCEDOR
LUGRE
249
IDEM
PROGRESSO I
PATACHO
231
PARC. PROGRESSO
PROGRESSOII
PATACHO
249
IDEM
ACTIVA
ESCUNA
114
J.J. GOUVEIA
VIANA SANTA LUZIA
LUGRE
PARC. VIANA
SANTA MARIA
LUGRE
IDEM
PONTA DELGADA AUTONÓMICO
Palhabote
92 - Nas rotas dos Bacalhaus-Séc. IX ao Séc. XVI
177
QUADRO 5
TIPOS DE EMBARCAÇÕES À VELA, USADAS NA TERRA NOVA ATÉ AO SÉC. XX
Nas rotas dos Bacalhaus-Séc. IX ao Séc. XVI - 93
ANEXO XVI EMBARCAÇÕES DO SÉC. XIII/XVI USADAS NA PESCA PELOS PORTUGUESES (GRAVURAS de Raul Sousa Machado) BARCA PESCAREZA, Que também foi utilizada por D. Henrique nas primeiras explorações marítimas. Tinha 13,50 m de comprimento, 4,20 m de boca (aberta) e tinha popa redonda. De um só mastro, vela latina, foi denominada CARAVELA DE PESCA (10 a 22 tripulantes). Podia usar remos.
BARCA A BARCA, embarcação com que GIL EANES passou além Bojador, foi também utilizada na Pesca do alto, admitindo-se que tenha estado na Terra-Nova. Era um navio não muito pesado, lento, mas muito resistente. De notar que era de casco trincado, sendo o fundo praticamente chato, calando pouca água. A sua capacidade de carga, admite-se, poderia atingir 20/30Tonéis. Tinha um mastro situado a meia nau que envergava uma vela de pendão; podia envergar noutro mais pequeno, entre aquele e a proa, outra vela redonda, dando-lhe melhor governo. 94 - Nas rotas dos Bacalhaus-Séc. IX ao Séc. XVI
BARINEL Tinha maior porte do que a BARCA. Proa possante, com dois ou três mastros, usando pano redondo e latino só na ré. Casco liso. Podia usar remos para aproximação.
CARAVELA Já anteriormente referida tem o seu apogeu entre 1441 e a passagem do Cabo da BOA ESPERANÇA (BARTOLOMEU DIAS) Havia caravelas (CARAVELÕES) de dois, três e quatro mastros (a réplica Bartolomeu Dias e Boa Esperança estão entre os CARAVELÕES - 20 m de comprimento, 6 m de boca, para carga de 40/50 tonéis). Caravela Latina
A CARAVELA podia usar panos Latinos ou panos redondos no TRAQUETE (Séc. XV e XVI) podendo ir até aos 150 tonéis TONELAGEM EMBARCAÇÕES - X - TON referia o número de tonéis de vinho que a embarcação podia transportar sendo cada tonel equivalente a 40 pés cúbicos. Esta medida (jauge) foi utilizada até ao séc XIX na América. Nas rotas dos Bacalhaus-Séc. IX ao Séc. XVI - 95
ANEXO XVII A gravura abaixo reproduz o quatro mastros ESSER, um lugre que teve a particularidade de ser construído em Portugal em 1919, «francisado» em GRANVILLE em 1924. Tratava-se de um Terra Nova, construído em madeira, de 475 ton, com o comprimento de 48 metros que foi dos primeiros barcos a ser forrado a cobre. Na campanha de 1932, alguns dias depois de ter largado do banco, «abriu água» e, apesar de todos os esforços, não foi possível salvar o navio. A sua tripulação, constituída por 48 homens, foi recolhida por um vapor inglês Le Red Sea. (Cinq Siècles de Pêche à la Morue - Nelson CAZEILS)
O Lugre Esser
96 - Nas rotas dos Bacalhaus-Séc. IX ao Séc. XVI
BIBLIOGRAFIA
THE NORTH ATLANTIC SAGA - FITZHUGH, William e WARD, Elisabeth THE VINLAND SAGAS: THE NORSES DISCOVERY OF AMERICA – MAGNUSSON, Magnus e PALSSON, Hernann - Ed. Penguin 1965 HISTORICAL ATLAS OF THE VICKINGS - HAYWOO, John CONQUISTA NORMANDA - WIKIPEDIA THE VICKINGS DISCOVERY AMERICA - INGSTAD, Helge e Ane CHRISTOPHE COLOMB N’A PAS DECOUVERT L’AMERIQUE - BLANRUE, Paul Eric ATLAS DE CRISTOPHE COLOMB - NEBENZAHL, Kenneth LA DÉCOUVERT DE L’AMÉRIQUE - ESTORACH, SolEd.ad e LEQUENNE, Michel COLÓN Y SU SECRETO - MANZANO, Juan - Ed. Ed.iciones de Cultura Hispánica-Madrid 1989 A CAMINHO DA INDIA - LANDSTROM, Bjorn THE ATLANTIC CROSSING - MADDOCKS, Melvin HISTOIRE DU PORT DE BAYONE - CROIZIER MATTHEW citando Morison, em EUROPEAN DISCOVERY e QUINN em NEW AMERICAN WORLD OS DESCOBRIMENTOS PORTUGUESES - CORTESÃO, Jaime - Ed. Imprensa Nacional 1990 OS PORTUGUESES - CORTESÃO, Jaime (integrado na HISTÓRIA DA AMÉRICA – PUEBLOS AMERICANOS - BALLASTERO) HISTÓRIA DOS DESCOBRIMENTOS PORTUGUESES - PERES, Damião – Ed. Vertente – Porto 1943 NAVEGANTES PORTUGUESES - ALBUQUERQUE, Luís DÚVIDAS E CERTEZAS NA HISTÓRIA DOS DESCOBRIMENTOS PORTUGUESES ALBUQUERQUE, Luís - Ed. Documenta Histórica -1990
98 - Nas rotas dos Bacalhaus-Séc. IX ao Séc. XVI
A NÁUTICA E A CIÊNCIA EM PORTUGAL - ALBUQUERQUE, Luís - Ed. Gradiva-89 SOBRE O DESCOBRIMENTO E POVOAMENTO DOS AÇORES - CAMPOS, Luis HISTÓRIA DOS DESCOBRIMENTOS - COUTINHO, Gago - Ed. Quipu, Março 61 TRATADO DOS DESCOBRIMENTOS - GALVÃO António – 1563 AS ORIGENS DA CARAVELA PORTUGUESA - FONSECA, Quirino OS IRMÃOS CORTE REAL - LOPES, Francisco Ferreira - Ed. Instituto de Investigação Cientifica E Tropical , 1999 ARQUIVO DISTRITAL AVEIRO - MADAIL, Rocha A PESCA DO BACALHAU - Cap. MARQUES, Francisco - Oceanos A PESCA DO BACALHAU - AMAZALAK Moses Bensabat - Lisboa 1923 HISTÓRIA RESUMIDA DA COMPANHIA DE PESCARIAS LISBONENSE - FRANCO, Francisco Soares -1840 JOÃO ALVARES FAGUNDES - GANONG William Francisco - 1953 LES TERRES NEUVES - CAZEILS, Nelson LA FIN DES TERRES NEUVES - LECHANTEUR, Monique LES ROUTES ESPAGNOLES DE L’ ALANTIQUE - CHAUNU, Paul HISTOIRE DE LA PÈCHE FRANÇAISE AU MORUE DANS L’AMERIQUE - MORANDIÈRE, Charles (de) HISTOIRE DE LA GRANDE PÈCHE DE TERRE NEUVE - LOTURE, Robert – Ed. L’Ancre de Marine ,1949-St Malo CINC SIÈCLES DE LA PECHE AU MORUE - CAZEILS, Nelson - Ed. Oueste-France 1997 LA DERNIÈRE QUEUE DE MORUE - CHANTRAINE, Pol - Ed. L’Etincelle -Canadá
Nas rotas dos Bacalhaus-Séc. IX ao Séc. XVI - 99
LE GRAND MÈTIER - RECER, Jean - Ed. Le Temps- Lib Plon 1977 NORTH WEST EXPLORATION IN THE 15TH AND 16TH CENTURIES - POPE, Peter
100 - Nas rotas dos Bacalhaus-Séc. IX ao Séc. XVI
AGRADECIMENTOS
As gravuras apresentadas no presente trabalho foram retiradas dos seguintes livros e autores, a quem penhoradamente agradecemos: 1. Capa - “O Homem do Dóri” Emanuel MACEDO 2. THE NORTH ATLANTIC SAGA - William FITZHIGH e Elisabeth WARDA, ANEXO I fig. 2 ANEXO II fig. 8 fig. 10 fig. 14 fig. 15 fig. 16 fig. 17 ANEXO III
pág. 266 pág. 191 pág. 166 pág. 229 pág. 222 pág. 94 pág. 94 pág. 188 pág. 87 pág. 211
3. HISTORICAL ATLAS OF THE VICKINGS - John Haywood e Ed PENGUIM fig. 4 fig. 5 fig. 6 fig. 1
pág. 99 pág. 98 pág. 99 pág. 93
4. A CAMINHO DA INDIA - Bjorn Landstrom fig. 13 fig. 32
pág. 74 pág. 221
5. THE VICKINGS - Robert WARNICK fig. 7 fig. 9 fig. 28
pág. 137 capa interior pág. 102
6. Pesquisas na INTERNET fig. 3 fig. 12
Viagens Bjarn e Leif Vickings
102 - Nas rotas dos Bacalhaus-Séc. IX ao Séc. XVI
fig. 19 fig. 22 fig. 23 fig. 26 fig. 33 fig. 34 fig. 37 fig. 45 ANEXO IV fig. 42
Biblioteca Colombiana de Sevilha Viagens Cabot Heritage Mapa onde se menciona Terra dos Corte Reais e Terra do Labrador Barco St. Malo de 100 Ton – Século XVI-XVII Carta Geral Base St.Piérre 1654 New Foundland. Linha de Tordesilhas Acádia
7. CARTOGRAFIA PORTUGUESA Alfredo P. MARQUES fig. 20
Ilustrações
8. ATLAS DE CRISTPH COLOMB de KENETH NEHEZALH fig. 20 fig. 21
pág. 44/45 pág. 17
9. NAVIOS E NAVEGAÇÕES - Sousa MACHADO fig. 25 ANEXO XVI ANEXO XVI ANEXO XVI CONTRA CAPA
pág. 104 pág. 103 pág. 101 pág. 105 pág. 104
10. LES TERRE NEUVES - Nelson CAZEILS fig. 29 fig. 35 fig. 36 fig. 38 fig. 40 fig. 44 ANEXO VIII ANEXO VII
pág. 5 pág. 10 pág. 7 pág. 13 pág. 17 pág. 5 pág. 14 pág. 4 Nas rotas dos Bacalhaus-Séc. IX ao Séc. XVI - 103
11. CINQ SIÈLES DE PÊCHE À LÀ MORUE - Nelson CAZEILS fig. 30 fig. 39 fig. 43 fig. 47 fig. 46 ANEXO XIII ANEXO XI ANEXO VII
pág. 39 pág. 24 pág. 52 pág. 16 pág. 17 pág. 91 pág. 17 pág. 19
12. AS ORIGENS DA CARAVELA PORTUGUESA - P. Quirino da FONSECA fig. 31 ANEXO IX
pág. 78 pág. 94
13. LA FIN DES TERRE-NEUVAS - Monique LECHANTEUR fig. 41 fig. 48 fig. 51 ANEXO XVII
pág. 28 pág. 19 pág. 97 pág. 178
14. SOBRE O DESCOBRIMENTO DOS AÇORES - Luis CAMPOS Fig. 27
pág. 154
15. Pesquisas na BIBLIOTECA NACIONAL ANEXO XIV ANEXO XIII fig. 49 fig. 52 fig. 53 fig. 54 fig. 55 fig. 11
Foto: DON MORGAN THE ROCK AND THE COD – Gleason Pictorial 1620 Foto: OTTO KELLAND
104 - Nas rotas dos Bacalhaus-Séc. IX ao Séc. XVI
16. LE TEMPS – Jean Recher fig. 50 17. OCEANOS - TERRA NOVA - A EPOPEIA DO BACALHAU Anexo XV / Quadro 2
pág. 78
18. LES TERRE-NEUVAS – Laurent Girault – CONTI fig. que separa a I da II PARTE
pág. 109
19. OS IRMÃOS CORTE REAL – Francisco Fernandes Lopes fig. 24 20. AUTOR – Senos da Fonseca fig. 18 ANEXO VI ANEXO IX 21. Fotografia cedida por Capitão Aníbal Paião fig. 56 22. IMAGOTECA DE AVEIRO ANEXO V 23. THE ARMADA - Bryce WALKER ANEXO XII
Nas rotas dos Bacalhaus-Séc. IX ao Séc. XVI - 105
ÍNDICE
INTRODUÇÃO
3
PARTE I 1- OS NORSES NO ATLÂNTICO NORTE
5
2- OS NORSES NA VINLÂNDIA
9
3- HELLULAND, MARKLAND, VINLAND
11
4- A SAGA DOS VICKINGS
11
5- PROVA DEFINITIVA DE INGSTAD
13
6- EMBARCAÇÕES DOS VICKINGS
14
7- E DEPOIS DOS VICKINGS?... O AVISTAMENTO DE DIOGO DE TEIVE
16
8- COLOMBO TAMBÉM LÁ ESTEVE...
19
9- NAVEGADORES PORTUGUESES NA TERRA NOVA
19
9.1- JOÃO FERNANDES LABRADOR
20
9.2- JOÃO ÁLVARES FAGUNDES
20
10- VIAGENS DE CABOT CORTE REAL O 1º DESCOBRIDOR DA TERRA DOS BACALHAUS
22
11-O INÍCIO DA GRANDE SAGA DOS BACALHAUS
26
12-FROTA DOS BACALHAUS SÉC.XV E SÉC. XVI
28
13-AS PRIMEIRAS EMBARCAÇÕES DA PESCA DO BACALHAU
29
14-MÉTODOS DE PESCA NO SÉC.XV E SÉC.XVI
31
108 - Nas rotas dos Bacalhaus-Séc. IX ao Séc. XVI
PARTE II 15- INÍCIO DA EXPLORAÇÃO DAS ROTAS
36
16- RAZÕES INTERNAS DO NOSSO AFASTAMENTO DE TRÊS SÉCULOS
39
17- RAZÕES EXTERNAS PARA O AFASTAMENTO
41
18- «GUERRA DOS BACALHAUS»
42
19- GUERRA DOS «RIVAGES»
46
20- RECOMEÇO DAS HOSTILIDADES. EMERGÊNCIA DUM PROBLEMA NOVO DE EXCLUSÃO SOCIAL
48
21- AFASTADOS …E PRÓXIMOS
51
22- DESENVOLVIMENTO DA “PESCA AO BANCO”
52
23- «A GUERRA DO ISCO»
53
24- A CHEGADA DOS “AMERICANOS”
55
25- FINALMENTE O REGRESSO DE PORTUGAL AOS BANCOS DA TERRA NOVA
57
ANEXOS
63
ANEXO I – MAPA DA VINLAND
64
ANEXO II – MUDANÇA CLIMÁTICA ENTRE SÉC. IX E SÉC. XVI
65
ANEXO III – ESTRUTURA DE UMA CASA DOS NORSES EM MEADOWS
68
ANEXO IV – VIAGENS A OCIDENTE. SEGREDO OU DESINTERESSE?
69
ANEXO V – OS “TERRA NOVAS” DE AVEIRO NO SÉCULO XV/XVI
70
ANEXO VI – CARAVELA LATINA
72
Nas rotas dos Bacalhaus-Séc. IX ao Séc. XVI - 109
ANEXO VII – O SAL… OURO BRANCO…
73
ANEXO VIII - CHALUPAS
75
ANEXO IX – O DÓRI: ORIGEM CANADIANA, AMERICANA OU BASCA? Ou outra?...
76
ANEXO X - «BACALHAU» DOS POBRES
78
ANEXO XI – DESCRIÇÃO DO «ÉCHAFAUD»
79
ANEXO XII – ESCOLAS DE «HIDROGRAFIA»
81
ANEXO XIII – A FIGURA DO MOÇO ATRAVÉS DA GRANDE SAGA. O MARTÍRIO DO POBRE MOÇO
82
ANEXO XIV - RESUMO HISTÓRICO DA COMPANHIA DE PESCARIAS LISBONENSE
84
ANEXO XV - QUADROS SOBRE A EVOLUÇÃO DAS PESCAS NO PRIMEIRO SÉCULO DO RETORNO À TERRA NOVA (1836/1930)
89
ANEXO XVI – EMBARCAÇÕES DO SÉC.XIII/XVI USADAS NA PESCA PELOS PORTUGUESES
94
ANEXO XVII – O LUGRE ESSER
96
BIBLIOGRAFIA
97
AGRADECIMENTOS DE CEDÊNCIA DE MATERIAL 101
110 - Nas rotas dos Bacalhaus-Séc. IX ao Séc. XVI
Ficha Técnica: Título:
Nas Rotas dos Bacalhaus Séc. IX ao Séc. XVI
Autor:
Senos da Fonseca
Nº de Exemplares: 300 Nº de Edição:
1ª Edição
Ano: 2005 Composição, Pré-Impressão, Impressão e Acabamento:
PROCER Edições e Comunicação, S.A.
ISBN: 972-9171-61-0 Depósito Legal: 230630/05
“Os Vickings eram os mais importantes veículos de transporte e informação, experiência e cultura de uma parte do mundo conhecedor à outra parte… (HILLARY CLINTON) Séculos antes de Colombo, os NORSES (Vickings), estiveram no continente Americano. E muito antes de Vespúcio, os Norses, estiveram na América do Norte. Mesmo antes de Colombo, nós Portugueses, muito embora não enquadrados na Saga dos Descobrimentos, também lá chegámos, logo a seguir aos Normandos. É pois necessário, à luz das últimas descobertas arqueológicas efectuadas, que utilizando as mais modernas técnicas de datação pelo carbono 14 vieram confirmar em absoluto a tradição oral e escrita, terminar de vez com a polémica existente em alguns meios académicos, e, assim, reescrever a história. Preocupámo-nos em visitar as fontes que mereceram mais credibilidade; comparámos e consultámos SAGAS; procurámos uma explicação para o hiato que existe no quadro dos Descobrimentos sobre as Corte Real na Terra Nova Terras do Ocidente, em que a procura foi sempre feita à custa dos Descobridores que se propuseram «arriscar o seu cabedal» Porquê, tal desinteresse dos nossos Reis? Nova teoria do Segredo? Não tanto… E depois fomos ao encontro do início da «Faina Maior», aquando do seu exacto começo. O que é muito pouco conhecido…
Apoio: Associação Amigos do Museu de Ílhavo