Introdução de Use, é lindo, eu garanto

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FUNDAÇÃO ARMANDO ALVARES PENTEADO FACULDADE DE ARTES PLÁSTICAS

Use, é lindo, eu garanto Serena Labate Calcagniti Cardoso

São Paulo 2012


FUNDAÇÃO ARMANDO ALVARES PENTEADO FACULDADE DE ARTES PLÁSTICAS CURSO DE BACHARELADO EM EDUCAÇÃO ARTÍSTICA HABILITAÇÃO EM ARTES PLÁSTICAS

Use, é lindo, eu garanto

Trabalho de Graduação Interdisciplinar vinculado à disciplina Desenvolvimento de Projeto Integrado II, apresentado como exigência parcial para obtenção de certificado de conclusão do curso de Artes Plásticas.

Aluna: Serena Labate Calcagniti Cardoso Orientadora: Profª Maria Carolina Duprat Ruggeri

São Paulo 2012


Cardoso, Serena L. C.

Use, é lindo, eu garanto. Serena Labate Calcagniti Cardoso. Trabalho de Graduação Interdisciplinar – FAP/FAAP - São Paulo, 2012.

Orientadora: Maria Carolina Duprat Ruggeri

1. Cor. 2. Experiência. 3. Jogo. 4. Estética Relacional.

A todas as coisas vivas ou não, e que me fazem sentir viva.


AGRADECIMENTOS A todos que ajudaram a tornar lindo Use, é lindo, eu garanto. Aos meus pais e irmã, que cotidianamente nutrem meu processo criativo (espiritualmente, mentalmente e fisicamente). À minha fantástica companheira e orientadora Caru Duprat, por termos partilhado uma experiência singular. Aos companheiros de intensos quatro anos de curso, que tornaram o pão nosso de cada dia muito mais gostoso de se compartilhar. Aos professores, entidades que fazem tudo circular. Aos professores, mentores, amigos e poetas – gostaria especialmente de citar Amanda Scaf por tudo e sempre (e sua mãe Silvia pela sopa de beterraba e anos de carinho), Júlio Simões pelas madrugadas brincando com palavras, Charles Borges Casemiro e Selma Silene Fredo (responsáveis por nos ensinar essa brincadeira). À Estela Miazzi cuja presença é fundamental em minha vida, e também por seus registros fotográficos. Ao Rafael Pelizzer, pela matemágica e todo o resto. À Koji e Mônica Mori pela ajuda fundamental no processo embrionário do projeto. Ao Zé Maria e Gabriel Torggler cujas mãos forjaram meu sonho. À Sabrina de Sá, pelo fantástico projeto gráfico. E a todos que com seu próprio corpo ativaram, contemplaram e mexeram em Use, é lindo, eu garanto. 9


NOTA Esta publicação contém 5 partes e mais um flipbook armazenados conjuntamente. A concepção do formato desta publicação foi pautada em tentar aproximar a experiência que se tem com a obra Use, é lindo, eu garanto e a experiência que o leitor tem com este texto. São fornecidas possibilidades de combinações, ficando a cargo do fruidor da obra e/ou da publicação optar por sua própria combinação a partir destas “peças” interdependentes. É indispensável iniciar a leitura pela Introdução.

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Possibilidades de Sumário

Possibilidades de Sumário

Introdução Experiência O objeto, ou não Jogo Cor Considerações Finais Apêndice Referências Bibliográficas

Introdução Experiência Cor O objeto, ou não Jogo Considerações Finais Apêndice Referências Bibliográficas

Introdução O objeto, ou não Jogo Experiência Cor Considerações Finais Apêndice Referências Bibliográficas

Introdução Jogo Experiência O objeto, ou não Cor Considerações Finais Apêndice Referências Bibliográficas

Introdução Jogo Cor Experiência O objeto, ou não Considerações Finais Apêndice Referências Bibliográficas

Introdução Cor O objeto, ou não Experiência Jogo Considerações Finais Apêndice Referências Bibliográficas

Introdução Experiência Jogo O objeto, ou não Cor Considerações Finais Apêndice Referências Bibliográficas

Introdução Experiência Cor Jogo O objeto, ou não Considerações Finais Apêndice Referências Bibliográficas

Introdução O objeto, ou não Jogo Cor Experiência Considerações Finais Apêndice Referências Bibliográficas

Introdução Jogo Experiência Cor O objeto, ou não Considerações Finais Apêndice Referências Bibliográficas

Introdução Jogo Cor O objeto, ou não Experiência Considerações Finais Apêndice Referências Bibliográficas

Introdução Cor O objeto, ou não Jogo Experiência Considerações Finais Apêndice Referências Bibliográficas

Introdução Experiência O objeto, ou não Cor Jogo Considerações Finais Apêndice Referências Bibliográficas

Introdução O objeto, ou não Experiência Jogo Cor Considerações Finais Apêndice Referências Bibliográficas

Introdução O objeto, ou não Cor Jogo Experiência Considerações Finais Apêndice Referências Bibliográficas

Introdução Jogo O objeto, ou não Experiência Cor Considerações Finais Apêndice Referências Bibliográficas

Introdução Cor Experiência O objeto, ou não Jogo Considerações Finais Apêndice Referências Bibliográficas

Introdução Cor Jogo Experiência O objeto, ou não Considerações Finais Apêndice Referências Bibliográficas

Introdução Experiência Jogo Cor O objeto, ou não Considerações Finais Apêndice Referências Bibliográficas

Introdução Objeto Experiência Cor Jogo Considerações Finais Apêndice Referências Bibliográficas

Introdução O objeto, ou não Cor Experiência Jogo Considerações Finais Apêndice Referências Bibliográficas

Introdução Jogo O objeto, ou não Cor Experiência Considerações Finais Apêndice Referências Bibliográficas

Introdução Cor Experiência Jogo O objeto, ou não Considerações Finais Apêndice Referências Bibliográficas

Introdução Cor Jogo O objeto, ou não Experiência Considerações Finais Apêndice Referências Bibliográficas

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INTRODUÇÃO Quero fazer algo acontecer em alguém. Como for, onde for, quando for e em quem for. Como pode a cor comover? (no sentido de “colocar em movimento”) Qual é o corpo da cor? Qual a melhor forma (ou fôrma) para incorporar a sua vontade? Como o nosso corpo se relaciona com esse corpo cromático? Qual o território em que essas relações se dão? E em que tempo, ou talvez por quanto tempo? Sinto-me perturbada com a sensualidade da cor. Com essa sua vontade de ter um corpo, de ser incorporada e tocada. E como essas características afetam as pessoas. Para tentar compreender tal fenômeno, recubro com cor superfícies diversas na esperança de nesse processo de incutir a cor entender como a mágica acontece. Observo as pessoas observando e tocando essas superfícies. E alucino. A partir da minha experiência “íntima” com as cores, surge o desejo de tornar viável a mesma sensação encantadora que tenho a outras pessoas, e a partir desse desejo, começo a pensar em jeitos de torná-la possível. Considerações sobre a leitura dessa publicação: Como é possível compreender pela Nota e pelo Sumário, o leitor tem a possibilidade de escolher a ordem que achar melhor para ler os capítulos centrais, pois independentemente da ordem escolhida, o sentido permanece1. 1

A saber: existem 24 maneiras diferentes de leitura.

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Após a leitura dos capítulos, é indispensável retornar a este volume para inteirar-se das considerações finais. Capítulos: Experiência: Reflexão sobre o conceito de experiência, o artista como causador de experiências e suas responsabilidades. O objeto, ou não: Reflexão sobre a obra Use, é lindo, eu garanto: seu funcionamento, seu processo de execução, sua relação com o outro e sua essência. Jogo: Apresentação e reflexão sobre o conceito de jogo e a relação com Use, é lindo, eu garanto. Cor: Reflexão sobre esse elemento crucial de Use, é lindo, eu garanto.

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CAPÍTULOS (...)


CONSIDERAÇÕES FINAIS O pintor pode apenas construir uma imagem. Cabe esperar que essa imagem se anime para os outros. Então a obra de arte terá juntado vidas separadas, não existirá mais apenas numa delas como sonho tenaz ou um delírio persistente, ou no espaço como uma tela colorida: ela habitará indivisa em vários espíritos, presumivelmente em todo espírito possível, como uma aquisição para sempre. (Merleau-Ponty)

Durante o processo de reflexão do trabalho Use, é lindo, eu garanto, eu sentia como se estivesse manipulando um caleidoscópio2. A cada movimento meu, via novas possibilidades de encará-lo, vê-lo, interpretá-lo e tocá-lo, e todas incrivelmente agradáveis e belas para mim, porém seu título é também uma promessa e uma garantia. Garantia de que é lindo, que a experiência proposta é bela e boa. Mas, ao mesmo tempo, não tenho como ter essa garantia, pois como posso saber se a experiência acontece de fato? E se ela é efetiva? (como pensar na eficiência de uma experiência?). Antes de enlouquecer, me convenci que meu trabalho é simplesmente propor, e ter esperança nas palavras de Merleau-Ponty.

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Um caleidoscópio ou calidoscópio é um aparelho óptico formado por um pequeno tubo de cartão ou

de metal, com pequenos fragmentos de vidro colorido, que, através do reflexo da luz exterior em pequenos espelhos inclinados, apresentam, a cada movimento, combinações variadas e agradáveis de efeito visual. O nome “caleidoscópio” deriva das palavras gregas καλός (kalos), “belo, bonito”, είδος (eidos), “imagem, figura”, e σκοπέω (scopeο), “olhar (para), observar”.

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Apêndice A A História de dois quadrados (Em uma clara manhã) num espaço restrito de 8 x 10 cm existiam sem saber da presença do outro, mesmo cada um ocupando um canto do mesmo espaço. Quando pararam de olhar somente para a frente e começaram a olhar em volta, se viram. Movimentaram-se cautelosamente, se saudaram e por enquanto só sabiam que O Amarelo é amarelo. O Azul é azul. No início o Amarelo desconfiou do outro. E o azul, bem... tinha lá os seus motivos... O Amarelo tinha medo. Um medo inominável de perder-se dentro de si, um espaço íntimo de 2,5 x 2,5 cm. O Azul também tinha medo, mas seu medo era incolor. - Você vem sempre aqui? - Hum... o mais certo seria dizer que nunca saí daqui. - ... - E preciso admitir que não sei de onde vim e para onde vou. - ... - Ou o que sou... - Não tente complicar as coisas, nós simplesmente somos. - Eu sei... Mas não sabiam. Não sabiam que a vontade era que se juntassem. Sentiam-se incompatíveis.


Como eram os únicos que habitavam esse espaço e já sabiam da presença do outro, não podiam mais evitar. Antes estavam contentes vivendo cada um o seu tempo e agora sabiam que só lhes restavam 73,75 cm² de espaço. É nítido, direto e inquietante – um pensava assim do outro. É tão distante... mas mesmo assim vejo manifestando-se amarelamente diante de mim – pensava o outro. Se traçássemos uma linha imaginária, poderíamos dizer que eles estão a uma distância de 6,5 cm. Esse ridículo espaço entre. Silêncio #1 Sem motivo aparente, foram dominados por um sentimento. Um sentimento X sem motivo aparente. Coisa estranha de se acontecer assim. Impulsionou-se à frente E foi em sua direção. Quem é dotado de visão poderia descrever assim a cena: Estavam amarelo-azuLADO e azul-amareLADO LADO A LADO (retângulo) Silêncio #2 E de repente: Verde E quadrado novamente.

Apêndice B Registro Fotográfico de Use, é lindo, eu garanto



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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