Psicanálise e as Perversões

Page 1


Núcleo de Estudos e Pesquisas em psicanálise

A psicanálise e as Perversões Uma trajetória para formação de uma Ano I /2013

Psicanálise genuinamente Brasileira Profº Sérgio Costa

Estudo sobre Perversão Trabalho elaborado por: Sérgio Costa


Definição: Perversão (do latim perversione), substantivo feminino, significa: 1 – Ato ou efeito de perverter(se); 2 – Corrupção, desmoralização, depravação; 3 – Alteração, transtorno; 4 – Medicina – desvio ou perturbação de uma função normal, sobretudo no terreno psíquico. A etimologia da palavra “perversão” resulta de “per” + “ vertere” (quer dizer: pôr às avessas, desviar...), o que designa o ato de o sujeito perturbar a ordem ou o estado natural das coisas. Perversão sexual – qualquer anomalia do comportamento sexual, sendo que doença mental é um termo para descrever os sintomas e a condição daquelas pessoas que são encaminhadas a um psiquiatra. Esta descrição da doença tem alguma vantagem prática, já que não impede que ferramentas terapêuticas sejam utilizadas com relação a um amplo espectro de problemas humanos. Ela apresenta, no entanto, a desvantagem de permitir que a sociedade escolha quem ela chamará de “doente mental”, e, em um sistema social totalitário, o estado pode decidir quais indivíduos com desvios polítcos deverão ser considerados doentes mentais. Perversão na visão Freudiana (Psicanálise) Termo derivado do latim (perversione, pervertere, empregado em Psiquiatria e pelos fundadores da sexologia, para designar, ora de maneira pejorativa, ora valorizando as práticas sexuais consideradas como desvios em relação a uma norma social e sexual. A partir do século XIX, o saber psiquiátrico incluiu entre as perversões praticas sexuais tão


diversificadas quanto o incesto, a homossexualidade, a zoofilia, o sadomasoquismo, o travestismo, narcisismo, coprofilia, a necrofilia, o exibicionismo, o voyerismo e as mutilações sexuais. Retomado por Sigmund Freud a partir de 1896, o termo perversão foi definitivamente adotado como conceito pela Psicanálise, que assim conserva a idéia de desvio sexual em relação a uma norma. Nessa nova concepção, o conceito é desprovido de qualquer conotação pejorativa ou valorizadora e se inscreve, juntamente com a Psicose e a Neurose, numa estrutura tripartite. O termo perversão abrange um campo mais amplo na medida em que os comportamentos, as práticas e até as fantasias que ele engloba só podem ser apreendidos em relação a uma norma jurídica. A perversão sempre esteve ligada a todas as formas possíveis de arte erótica no Oriente e no Ocidente; por isso são múltiplas as variações do tema sobre Perversão. Ora são violentamente rejeitadas, por serem marginalizadas e vistas como uma abjeção, ora ao contrário, são valorizadas pelos escritores, poetas e filósofos, que as consideram superiores às chamadas práticas sexuais normais. Na antiga Grécia era considerada a forma suprema do amor (a homossexualidade), depois encarada como um vício satânico pelo Cristianismo e por fim classificado como uma degenerescência pelo saber psiquiátrico do século XIX, e em 1974 foi reconhecida como uma forma de sexualidade entre outras, na maioria dos países democráticos e modernos, a ponto de não mais ser classificada no


catalogo das novas “ Parafilias” ( Manual Diagnóstico e Estatístico dos Distúrbios Mentais - DSM III ). Sob esse aspecto, a teoria de Freud em matéria de perversão (principalmente a homossexualidade) rejeita todas as definições diferencialistas e não igualitárias da classificação psiquiátrica do fim do século, segundo a qual o perverso seria um “ tarado” ou um “ degenerado”, porém, por outro, ele conserva a idéia de norma e de um desvio em mateira de sexualidade. A classificação das perversões ( no plural) pertence, tradicionalmente, ao campo da Psiquiatria e da Sexologia, enquanto a Psicanálise faz questão de dar uma definição estrutural ao conceito de perversão (no singular). Em Freud todavia, as coisas não são tão simples, ele prefere empregar o termo no plural ( as perversões sexuais) e fala com mais freqüência de inversões do que perversões. Foi sempre em referência a um processo de negatividade e uma relação dialética com a neurose que Freud definiu a perversão. Ele fez da neurose “ o negativo da perversão” . Com isso sublinhou o caráter selvagem, bárbaro, polimorfo e pulsional da sexualidade perversa; uma sexualidade infantil e estado bruto, cuja libido se restringe a pulsão parcial. Ao contrário da sexualidade dos neuróticos, essa sexualidade perversa não conhece nem a proibição do incesto, nem o recalque, nem a sublimação. Se a sexualidade perversa não tem limites, é porque se organiza como um desvio em relação ao uma pulsão, a uma fonte (órgão) um objeto e um alvo. A


partir desses quatro termos, Freud distinguiu dois tipos de perversões: As perversões do objeto e as perversões do alvo. Nas perversões do objeto, caracterizadas por uma fixação num único objeto em detrimento dos demais, ele inclui, por um lado, as relações sexuais com um parceiro humano ( incesto; homossexualidade, pedofilia, auto-erotismo) e, por outro, as relações sexuais com um objeto não humano (fetichismo, zoofilia, travestismo). Nas perversões do alvo, distinguiu três espécies de práticas: o prazer visual (exibicionismo, voyeurismo), o prazer de sofrer ou fazer sofrer (sadismo, masoquismo), e o prazer pela superestimação exclusiva de uma zona erógena (ou de um estádio), isto é, ou da boca (felação, cunilíngua) ou do aparelho genital. A partir de 1915, Freud fez numerosas modificações em sua primeira concepção da perversão, em decorrência, de sua nova teoria do narcisismo, e depois de sua Segunda tópica e sua elaboração da diferença sexual. Assim, passou de uma descrição das perversões sexuais para a idéia de uma possível organização da perversão em geral como modelo de uma organização do eu baseada na clivagem . “ A perda da realidade na neurose e na psicose”, Freud introduziu o conceito de renegação, para mostrar que as crianças negam a realidade da falta do pênis na menina, e para afirmar que esse mecanismo de defesa caracteriza a psicose, em oposição ao mecanismo de recalque que encontramos na neurose: enquanto o neurótico recalca as exigências do isso ( id ), o psicótico renega a realidade.


Freud abordou a renegação a partir do fetichismo, afirmando que, nessa forma de perversão, o sujeito faz coexistirem duas realidades: a recusa e o reconhecimento da ausência do pênis na mulher. Daí uma clivagem do eu, que caracteriza não somente a psicose, mas igualmente a perversão. A partir desse ponto, a perversão se inscreveu numa estrutura tripartite. Ao lado da psicose, definida como a reconstrução de uma realidade alucinatória, e da neurose, resultante de um conflito interno seguido de recalque, a perversão aparece como uma renegação ou desmentido da castração, com uma fixação na sexualidade infantil. De 1905 a 1927, portanto, Freud passou de uma descrição das perversões sexuais para uma teorização do mecanismo geral da perversão que já não era apenas o resultado de uma predisposição polimorfa da sexualidade infantil, mas a conseqüência de uma atitude do sujeito humano confrontado com a diferença sexual. Nesse sentido, a perversão existe tanto no homem quanto na mulher, mas não se distribuiu da mesma maneira entre os dois sexos, no que concerne ao fetichismo e à homossexualidade. A partir dessa definição da perversão, baseada na clivagem do eu, os herdeiros de Freud não se cansaram de estudar as diferentes formas de práticas sexuais perversas masculinas e femininas, assim retirando da sexologia o privilégio de suas classificações sofisticadas. Mas, em vez de levar o movimento psicanalítico uma nova abordagem das perversões, esses trabalhos tiveram, num primeiro momento de 1930 a 1960, o efeito inverso. Tidos


como incuráveis, ou submetidos na análise ao uma pretensa normalização de sua sexualidade, os perversos não foram autorizados a praticar a psicanálise em nenhuma das sociedades integrantes da International Psycoanalytical Association (IPA) . Essa proibição, que visava essencialmente os homossexuais, foi sentida como uma grande discriminação, especialmente depois de 1972 quando a homossexualidade deixou de ser assimilada pela Psiquiatria a uma doença mental, quinze anos mais tarde, a uma perversão. Colocou-se então tanto para a Psiquiatria quanto para a Psicanálise, a questão de uma possível redefinição do Estatuto da perversão em geral e das perversões sexuais em particular. Perversão na visão Kleiniana Na teoria Kleiniana, a perversão é sempre descrita em função de uma norma e de uma patologia, mas qualquer idéia de desvio é afastada. Por isso, ela é encarada como um distúrbio da identidade de natureza esquizóide, ligado a uma pulsão feroz de auto destruição e destruição do objeto. Longe de ser a expressão de uma “ aberração” sexual, ela se torna a manifestação da pulsão de morte em estado bruto, a ponto de dar origem, no âmbito da análise, a uma reação terapêutica negativa ( ou perversão da transferência). Quanto à homossexualidade, ela é remetida a uma fixação na posição esquizoparanóide, que pode desembocar numa paranóia. As perversões sexuais são assimiladas a uma organização patológica do narcisismo. Assim, o Kleinismo tende a puxar a perversão para a psicose, afastando-se do diagnóstico de incurabilidade.


Perversão na visão Lacaniana Foi a Jacques Lacan e a seus discípulos franceses que coube o mérito, único na história de freudismo, de finalmente retirar a perversão do campo do desvio, para fazer dela uma verdadeira estrutura. Lacan foi muito mais sensível do que Freud, os freudianos e kleinianos à questão do Eros, da libertinagem e, acima de tudo, da natureza homossexual, bissexual, fetichista, narcísica e polimorfa do amor. Ele mesmo um libertino, preferia pensar que somente os perversos sabem falar da perversão. Daí o privilégio que conferiu desde o início a duas noções – o desejo e o gozo - , para fazer da perversão um grande componente do funcionamento psíquico do homem em geral, uma espécie de provocação ou desafio permanente a lei. Ao assim retirar a perversão do campo das perversões sexuais, a corrente lacaniana abriu caminho para novas perspectivas terapêuticas: não somente a perversão deixou de ser atingida pelo diagnóstico de incurabilidade, como também o perverso, já não sendo forçosamente catalogado como um pervertido sexual, pôde ter acesso à prática da psicanálise sem constituir um “perigo “ para comunidade. Essa concepção da perversão como estrutura levaria Lacan e sua Escola a tratar a homossexualidade no quadro da perversão. Perversões – Princípios gerais É manifesto o caráter sexual das perversões. Quando se cede aos impulsos patológicos, obtém-se o orgasmo. Quem iniciou a investigação das perversões foi Freud, quando descobriu a sexualidade infantil e mostrou serem idênticos aos


das crianças os objetivos sexuais dos pervertidos. Nas perversões, a sexualidade é substituída por um dos componentes da sexualidade infantil; o que constitui o problema são a causa e a índole desta substituição. A condenação das perversões como “ inferioridades constitucionais “ exprime entre outras atitudes, a tendência universal à repressão da sexualidade infantil. Na realidade, as perversões são coisa universalmente humana. Praticaram-se em todas as épocas e entre todas as raças; houve períodos em que algumas delas fora, de modo geral, toleradas se não altamente estimadas. Acrescentou Freud a observação de que tendências perversas ou atos ocasionais ( ou pelo menos, fantasias ) ocorrem na vida de todo indivíduo, tanto nos normais quanto nos neuróticos; tendências, atos, fantasias cujos sintomas a psicanálise revela serem atitudes perversas disfarçadas. Disse Freud “ se é correto que os obstáculos reais à satisfação sexual, ou que a privação neste particular fazem vir à tona tendências perversas em pessoas que, a não ser isso, nenhuma mostrariam, temos de concluir que algo nelas se inclina à prática das perversões; ou, se preferem, que as tendências hão de estar nelas presentes sob forma latente” . Visto que os objetivos da sexualidade perversa são idênticos aos da sexualidade infantil, a possibilidade de todo ente humano tornar-se pervertido em certas condições se enraíza no fato de haver sido criança. Os pervertidos são pessoas que tem a sexualidade infantil, e não adulta, o que resulta de parada no desenvolvimento, ou de regressão. O fato das


perversões se desenvolverem, com freqüência, como reação a decepções sexuais indica a efetividade da regressão. A formula singela que se apresenta é a seguinte: os indivíduos que reagem a frustrações sexuais com regressão à sexualidade infantil são pervertidos; aqueles que reagem com outras defesas ou que outras defesas empregam após a regressão são neuróticos. Vê-se, na análise, que os pervertidos, como os neuróticos tem repressões; mais ainda: tem também repressões patogênicas específicas; tem complexo de Édipo inconsciente e angústia de castração inconsciente, de modo que a ênfase excessiva de um dos componentes da sexualidade infantil não exclui a possibilidade de que outras partes desta sejam rejeitadas. Aliás, o sintoma perverso tal qual o sintoma neurótico, descarrega parte da catexia de impulsos que, originalmente se haviam rejeitado, assim facilitando a rejeição do restante. A diferença entre as neuroses e as perversões reside em que o sintoma, “ dessexualizado “ nas neuroses, é componente da sexualidade infantil nas perversões; e reside em que a sua descarga é dolorosa, mas gera orgasmo genital nas perversões. O pervertido, transtornado que seja em sua sexualidade genital pelo medo da castração, regride àquele componente da sua sexualidade infantil que, antigamente, em criança, lhe dera sentimento de segurança, ou, pelo menos, de tranquilização contra o medo; sentimento cuja gratificação terá sido experimentada com a intensidade especial por força desta negação ou tranquilização. Esquematicamente falando, o pervertido é pessoa cujo prazer sexual


está bloqueado pela idéia da castração; pela perversão ele tenta provar que não existe castração; na medida em que se acredita nesta prova, vem a tornar-se novamente possíveis o prazer sexual e o orgasmo. A perversão é uma transgressão da regra moral ou social, é uma transgressão da realidade (confusão entre fantasia e realidade, falta de elaboração do desejo) e uma transgressão da temporalidade (confusão do passado e do presente, ausência de elaboração da duração). É por este motivo que o termo “ distúrbio do juízo” ressurgem diversas observações, correspondendo a que os psicanalistas consideram a não-elaboração do ego ou de “clivagem” do ego. Isto mostra, diga-se de passagem, que o nível mental é uma abstração na personalidade concreta e que a evolução psicoafetiva controla o desenvolvimento do arcabouço intelectual. A importância do estudo das perversões contribui para a compreensão das neuroses e das psicoses. Os observadores pré-analíticos haviam estudado as perversões com anomalias do instinto uma espécie teratologia (estudo das monstruosidades) instintiva que emergia impulsivamente de uma vida psíquica normal sob outros ângulos. Seu mérito foi, entretanto, o de reconhecer o caráter sexual de algumas perversões para as quais este caráter não era evidente. A descoberta da sexualidade infantil e do papel que ela continua a desempenhar no adulto, nas fantasias inconscientes, permitiu a Freud aprofundar o condicionamento psicos-social das perversões,


considerando-as como condutas infantis anacronicamente fixadas. Depois de Freud os psicanalistas tem discutido sobre a origem das perversões, consideradas por Melaine Klein como meios de defesa contra a angústia primitiva e não como uma pura e simples regressão ao nível anterior da conduta e do desejo, que é a teoria clássica, adotada pela maioria dos autores. Principais Perversões Podemos classificá-las anomalias da escolha do objeto (o parceiro) e em anomalias do objetivo (erotização substitutiva de uma parte do corpo de uma situação real ou fantasiosa.. Ficaria muito extenso descrever todas essas condutas, que apresentam variações quase que infinitas devido à suas combinações. Iremos insistir neste caso, sobre a homossexualidade masculina devido à maior evidência (no sentido de estar mais exposto), neste caso, de necessidades terapêuticas. Eis as principais perversões: 1) pela anomalia da escolha do objeto: Alguns exemplos: 1.1) Homossexualidade – A homossexualidade, isto é, a atração erótica predominante e frequentemente exclusiva por um indivíduo do mesmo sexo. No homem, distinguimos geralmente homossexualidade narcísica, onde oculto da virilidade leva à busca de um parceiro que representa o ideal de beleza (amor grego); a pedofilia, amor pseudomaternal com o menino; a inversão ou uranismo, identificação com a mulher, busca da sedução, com passividade em relação a


um parceiro ativo; muito destes indivíduos tem uma profissão em geral feminina (cabeleireiro, costureiro, etc). Na mulher, o homossexualismo é bem menos conhecido porque elas raramente procuram uma consulta. Distinguimos apenas, em geral, a homossexualidade viril, que procura uma identificação masculina; ela é mais conhecida do público porque é mais visível; e a homossexualidade passiva, parceira procurada pela primeira. A ambivalência sexual frequente na mulher, explica a frequência das situações intermediárias; a melhor tolerância do ego em relação a homossexualidade e a melhor tolerância do grupo social explicam a raridade da necessidade de ajuda e do desconhecimento relativo da questão Distinções estruturais: a) A posição perversa – é o homossexualismo bem tolerado pelo ego, consiste na aceitação completa da tendência, que é vivenciada livremente. Podem ser indivíduos evoluídos e às vezes brilhantes (artistas, escritores, profissionais liberais), que conseguiram uma verdadeira “clivagem do ego”; a maioria tem uma clandestinidade completa, a maioria é bastante hábil para não se expor. b) A posição neurótica – é o homossexualismo mal tolerado pelo ego, é freqüente e sempre solicita ajuda. Origina uma angústia e uma culpa intensa, a tendência é identificada desde a adolescência, o indivíduo trava contra ela uma luta que pode ser traduzida por uma inibição da atuação ou por raras experiências, seguida de remorsos; ou então ele tenta algumas aventuras heterossexuais e o


fracasso do ato (impotência) ou falta de qualquer prazer (frigidez). Reforçam nele a idéia de sua anomalia. O homossexual neurótico se casa para escapar ao que ele considera seu vício e sua maldição. c) A posição psicótica – é a homossexualidade latente, isto é inconsciente. Isto porque a característica da psicose é a de “ desnudar” as tendências inconscientes, e a homossexualidade latente ( em cada um de nós), como estádio da evolução psicoafetiva, pode ser bruscamente projetada em ato. Ela desempenha um papel na psicopatologia das neuroses e é encontrada na vida normal, pois não é uma tendência patológica mas um componente da sexualidade normal; é preferível que o indivíduo reconheça em si mesmo esse componente para não ser surpreendido. A Psicanálise propôs uma teoria geral à qual, transcorridos mais de 60 anos, nenhuma outra pode substituir; a homossexualidade é um desvio adquirido da pulsão sexual que exprime um fracasso da experiência edipiana e uma regressão às pulsões e fantasias pré-genitais. O motivo deste fracasso e o tipo das posições regressivas devem ser procurados em uma imensidão de fatores, dos quais alguns são constitucionais (existem variações nos caracteres físico de masculinidade-feminilidade), outros acidentais (papel das longas enfermidades da infância, das seduções precoces); outros se relacionam com a estrutura da família e com os traços da personalidade dos pais.


1.2) Fetichismo – é uma perversão masculina, trata-se da inclinação erótica por um objeto, que pode ser uma coisa inanimada ou uma parte do corpo do outro: roupas, luva, roupas íntimas, etc. Também os cabelos, mamas, ou então são os pés ou os que os recobre. De qualquer forma, o objeto é necessário para a excitação sexual e é manipulado durante uma masturbação ou nas relações sexuais. A interpretação psicanalítica, é bastante abundante e pode ser esquematizada em torno de dois pólos: a negação (inconsciente) da castração feminina, particularmente clara e poderosa no homem, forma particular do fracasso da fase edipiana, constituindo um polo de regressão. O segundo polo é o da fixação, do qual mostraram os diversos aspectos: fixação oral, recordação dos objetos chupados pela criança; fixação anal, sobre os objetos separáveis do corpo. 1.3) Travestismo – o homem que é homossexual substitui o amor pela mãe por uma identificação com ela; o fetichista se recusa a reconhecer que a mulher não tem pênis. O travesti masculino pressupõe assumir, de uma só vez, as duas atitudes. Fantasia que a mulher possui pênis, deste modo superando a sua angústia de castração, e se identifica com essa mulher fálica. Daí a tendência fundamental do travestismo ser a mesma que se observa na homossexualidade e no fetichismo: a contestação da idéia de haver um perigo de castração. A identificação com a mãe, no entanto, se estabelece não pelo fato de imitar a sua escolha de objeto, mas pelo fato de que ela é


mulher. O ato do travesti tem dois significados inconscientes: ( a) um que é erótico-objetal: não é com uma mulher que a pessoa co-habita, mas com as vestes dela, as vestes que, simbolicamente, representam o seu pênis;( b) o outro significado é narcísico: o próprio travesti representa a mulher fálica debaixo de cujas roupas um pênis se esconde. Quanto aos travestis femininos, o fato de vestir roupas de homem não pode dar, é claro, à portadora a ilusão de que tem um pênis por baixo delas; mas dará a ilusão de que os espectadores acreditem na existência deste pênis, com a significação de que “se brinca de homem” .” Fingir que se tem pênis” e “ brincar de pai” são os significados inconscientes do travesti feminino. 2) Pela anomalia do objetivo ou do ato: Alguns exemplos: 2.1) Voyeurismo – é uma perversão que consiste em valorizar o jogo visual como pulsão parcial. Seu caráter passivo pode se integrar a uma conduta psicopática como agressão desviada e cínica. Porém, devemos aproximar dessas perversões condutas como a piromania, contentamento específico experimentado ao atear fogo. É mais comum os voyeurs se fixarem em experiências que lhes despertam angústia de castração, o paciente tenta negar a justificação do seu temor pela repetição das cenas apavoradas com certas alterações. A gratificação só é obtida se a cena sexual que o paciente quer presenciar preenche condições muito definidas; condições


que, neste caso representam a repetição de condições existentes na experiência infantil. 2.2) Exibicionismo - no exibicionismo, se tenta negar a castração mediante simples supercatexia de um instinto parcial. O ato exibicionista é praticado como uma espécie de gesto mágico, significando: “ mostro a vocês o que quero que vocês me mostrem” Ataques substitutivos (os “beliscadores”, os “roçadores”, caso histórico dos “cortadores de tranças”) suplementando a discussão do exibicionismo e do voyeurismo, que se relaciona com estas perversões ligada ao sadismo; é perversão por motivos evidentes, rara hoje em dia. Associando um ataque sádico a uma preferência fetichista pelos cabelos resulta, principalmente, do mecanismo tranquilizador que funciona no exibicionismo: a identificação com o agressor, significando: “ se corto as tranças de outra pessoa, as minhas não serão cortadas” .No caso, entretanto, a castração simbólica mostra-se com transparência espantosa. 3) Perversão oral Preferência pela zona oral como instrumento de gratificação sexual é raro ocorrer como perversão completa em si mesmo, com exclusão da possibilidade de outras modalidades de gratificação. Também nestes casos, vê-se, na análise, que a boca se torna substituto preferido dos genitais, caso em que a atividade genital é inibida pelo medo de castração. É o que se observa com clareza naqueles casos de felação que na análise, se percebe constituírem negações do arrancamento do pênis, ou


equivalentes respectivos. Também na preferência pela cunilíngua podem os dois sexos ser influenciados pela tendência a excluir o pênis do ato, ou pela fantasia de um pênis feminino oculto. Terapêutica Psicanalítica nas Perversões Quando se pensa na indicação do tratamento psicanalítico das perversões, um fator existe que ausente nas neuroses, complica o problema. É que nas perversões os sintomas são, ou, quando menos, prometem ser, prazerosos. O tratamento, de um lado, ameaça reacender os próprios conflitos a que o paciente fugiria mediante sua doença; ameaça também destuir um prazer; aliás, destuir o único prazer sexual que o paciente conhece. Não é comum que pacientes procurem um tratamento psicanalítico para tratar de sua perversão. O mais frequente é que no curso da análise, gradual e sutilmente, vão surgindo os sintomas da perversão que, amiúde, o terapeuta durante o longo tempo (às vezes anos ) sequer suspeitava da existência deles. Isso se deve a duas razões: uma, é a de que eles funcionam de uma forma em que a personalidade mantém-se absolutamente cindida ( como aparece na conhecida metáfora do “médico e monstro” ), com os aspectos contraditórios convivendo na mesma pessoa. A segunda razão que explica porque o lado perverso pode custar a aparecer é que tais pacientes convivem com ele de uma maneira egossintônica (aceitabilidade de idéias ou impulsos pelo ego). Sempre encontramos na história pregressa desses pacientes evidências de uma mãe simbiótica


(sedutora erógena e/ou narcisista, em cujo caso ela usa o filho como sendo uma mera extensão sua). Nessas pessoas sempre existem fortes componentes narcisistas e sado-masoquistas. Da mesma forma sempre encontramos uma baixa tolerância às frustações, uma nítida preferência pelo mundo das ilusões. Os pacientes com perversão demonstram uma grande habilidade para envolver as outras pessoas, o que fazem habitualmente com um jogo de seduções e que freqüentemente adquirem a forma de paixões. Depende o prognóstico, em primeiro lugar e antes de mais nada, da extensão a que se constata a determinação de se recuperar, ou da extensão a que esta se pode despertar. Além do descontentamento do paciente, podem motivá-lo certas considerações pelas pessoas que lhe são próximas. Em casos desta ordem, uma análise experimental terá por objetivo principal avaliar a vontade de se recuperar: daí por que, paradoxalmente, o prognóstico terapêutico será o melhor possível naqueles casos em que os pacientes pior se sentem, ou seja, nos casos em que se vê combinação com uma neurose.

Glossário


Auto-erotismo – Havelock Ellis inventou o termo “auto-erotismo” para designar “ os fenômenos da emoção sexual espontânea gerados na ausência de estímulo externo proveniente, direta ou indiretamente, de outra pessoa”. O uso comum fez de auto-erotismo um sinônimo de masturbação. O auto-erotismo é também uma fase no desenvolvimento das relações de objeto. Como não existem relações de objeto no nascimento, essas energias são forçosamente dirigidas para o próprio bebê. Na Psicanálise, o auto-erotismo é considerado a mais primitiva forma de relacionamento com o meio. Cunilíngua = cunnilingus – a posição da boca à vulva ou qualquer parte dos genitais externos femininos, geralmente o clitóris. Felação – estimulação oral do pênis. Objeto original dos lábios e da boca é o mamilo. (portanto, não é preciso muito poder criativo para substituir o objeto original (o mamilo) ou o dedo, que o substitui mais tarde, pelo objeto sexual do momento (o pênis), e para colocar o objeto sexual atual na situação em que era originalmente obtida satisfação. Fetichismo – termo criado por volta de 1750, a partir da palavra fetiche (derivada do português feitiço: sortilégio, artificio) retomado em 1887 pelo psicólogo francês Alfred Binet (1857-1911) e, mais tarde, retomado pelos fundadores da sexologia, para designar quer uma atitude da vida sexual normal que, consiste em privilegiar uma parte do corpo do parceiro, quer uma perversão sexual (ou fetichismo patológico), caracterizada pelo fato de uma das partes do corpo (pé, boca, seio, cabelos)ou objetos


relacionados com o corpo (sapatos, chapéus, tecidos, etc) serem tomados como objetos exclusivos de uma excitação ou um ato sexuais. Já em 1905, Sigmund Freud atualizou o termo, primeiro para designar uma perversão sexual, caracterizada pelo fato de uma parte do corpo ou um objeto serem escolhidos como substitutos de uma pessoa, depois para definir uma escolha perversa, em virtude da qual o objeto amoroso (partes do corpo ou objetos relacionados com o corpo) funciona para o sujeito como substituto de um falo atribuído à mulher, e cuja ausência é recusada por uma renegação. Gerontofilia – amor às pessoas idosas. Na questão da perversão seria um amor abusivo à pessoas idosas. Homossexualidade – termo derivado do grego (homos: igual) e criado por volta de 1860 pelo médico húngaro Karoly Maria Bnekert para designar todas as formas de amor carnal entre pessoas biologicamente pertencentes ao mesmo sexo. Entre l870 e 1910, o termo homossexualidade impôs-se progressivamente nessa acepção em todos os países ocidentais, substituindo assim as antigas denominações que caracterizavam essa forma de amor conforme as épocas e as culturas (inversão, uranismo, safismo, lesbianismo, etc). Definiu-se então por oposição à palavra heterossexualidade (do grego heteros: diferente), cunhada por volta de 1880, que abrangia todas as formas de amor carnal entre pessoas de sexos biologicamente diferentes. Incesto – chama-se incesto a uma relação sexual, sem coerção nem violação, entre parentes consangüíneos ou afins adultos (que tenham


atingido a maioridade legal), no grau proibido pela lei que caracteriza cada sociedade: em geral, entre mãe e filho , pai e filha, irmão e irmã. Por extensão, a proibição pode estender-se às relações sexuais entre tio e sobrinha, tia e sobrinho, padastro e enteada, madastra e enteado, sogra e genro, sogro e nora. Masoquismo – quando a satisfação sexual depende de o próprio sujeito sofrer dores, maus tratos e humilhações. Freud acreditava, originalmente, que o masoquismo era sempre secundário e representava uma volta do sadismo contra o próprio ego, sob a influência de sentimentos de culpa. Necrofilia – uma parafilia cuja condição é que o objeto de amor, seja ele heterossexual ou homossexual, esteja morto antes de poder consumar-se o orgasmo. Embora se trate de uma perversão rara, em termos gerais, alguns autores afirmam que entre agentes funerários, coveiros, etc há uma proporção relativamente elevada de indivíduos que tem essa perversão, seja de forma grosseiramente ostensiva ou de forma atenuada. Parafilia – é uma perversão catalogada na DSM-III. Pedofilia – amor por crianças. Este termo implica o amor por crianças pré-púberes, por parte de um adulto (pelo menos dez anos mais velho do que a criança), com fins sexuais. Polimorfo – perverso polimorfo referente a um indivíduo cujo comportamento sexual inclui muitas formas diferentes, às quais expressam tendências adultas e infantis, normais e anormais. Embora se manifeste frequentemente durante os distúrbios mentais, diz-se que a perversão polimorfa é normal


na infância, abrangendo atividades observadas no período do nascimento até os seis anos de idade e, sob a forma de perversões, na idade adulta. Sadismo – termo criado por Richard von Kraftt-Ebing em 1886 e forjado a partir do nome do escritor francês Donatien Alphonse François, marques de Sade (1740-1814), para designar uma perversão sexual – pancadas, flagelações, humilhações físicas e morais - baseada num modo de satisfação ligado ao sofrimento infligido ao outro. É um distúrbio psicossexual em que o orgasmo depende de torturar ou infringir dores. É considerado uma parafilia, o sadismo é uma defesa contra os medos de castração e os medos que a pessoa tem da própria excitação sexual. Sadomasoquismo – termo forjado por Sigmund Freud, a partir de sadismo e masoquismo, para designar uma perversão sexual baseada num modo de satisfação ligado ao sofrimento infligido ao outro e ao que provém do sujeito humilhado. Por extensão, esse par de termos complementares caracteriza um aspecto fundamental da vida pulsional, baseado na simetria e na reciprocidade entre um sofrimento passivamente vivido e um sofrimento ativamente infligido. Transexualismo – termo introduzido em 1953, pelo psiquiatra norte americano Harry Benjamin, para designar um distúrbio puramente psíquico da identidade sexual, caracterizado pela convicção inabalável que tem um sujeito de pertencer ao sexo oposto. Vampirismo – crença nos fantasmas sugadores de sangue (vampiros); execução de ações de um


vampiro. Embora o termo não seja usado freqüentemente em nenhum desses sentidos na psiquiatria clinica, quando aparece na literatura é geralmente na segunda acepção, como o ato de extrair sangue de um objeto, havendo prazer sexual concomitante. O sangue pode ser extraído por corte, mordida ou outro meio semelhante, e bebê-lo constitui, por vezes, uma parte importante da ação. Do ponto de vista psicodinâmico, o vampirismo é geralmente interpretado como expressão de conflitos em qualquer das seguintes áreas, ou em todas elas: sadismo e incorporações orais, medo de castração, desejos hostis agressivos (incluindo homicídio) e impulsos edipianos em relação à mãe. Zooerastia – termo de Krafft-Ebing para designar o intercurso sexual com um animal. Considerado geralmente como sinônimo de sodomia (o termo se refere ao intercurso anal). Zoofilia – excitação sexual causada pelas carícias de animais; zoolagnia. Não se refere ao intercurso sexual com animais, um ato para o qual Krafft-Ebing reservou o termo zooerastia.


-

-

-

-

-

Bibliografia Dicionário de Psicanálise Roudinesco e Plon Dicionário de Psiquiatria Robert J.Campbell Manual de Psiquiatria Henry Ey P.Bernard C.Brisset Fundamentos Psicanalíticos Teoria, técnica e clínica David E.Zimerman Obras de Freud Texto da Organização Mundial de Saúde


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.