Filosofia e Psicanálise

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Núcleo de Estudos e Pesquisas em Psicanálise

A psicanálise e a filosofia Uma trajetória para formação de uma Psicanálise genuinamente Brasileira Profº Sérgio Costa Abril/2004

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REFLEXÃO

O conhecimento humano tornou-se incontrolavelmente vasto... Enquanto o telescópio revelava estrelas e sistemas em número tal, a mente do homem não conseguia contá-los ou dar-lhes nomes; a geologia falava em termos de milhões de anos e a física descobria um universo no átomo. O conhecimento humano tornou-se incontrolavelmente vasto... Enquanto a biologia encontrava um microcosmo na célula; A fisiologia descobriu um mistério inesgotável em cada órgão, E a psicanálise em cada sonho. E assim... A antropologia reconstruía a Antigüidade do homem... A arqueologia desenterrava cidades e estados esquecidos... A teologia desmoronava enquanto a teoria política rachava. As invenções chegavam e complicavam a vida e a guerra, Enquanto as doutrinas econômicas derrubavam governos e inflamavam o mundo. E a filosofia, que antes havia convocado todas as ciências para ajuda-la a formar uma imagem coerente do mundo, e fazer um retrato atraente do bem? Acreditou muito que sua tarefa de coordenação era prodigiosa demais para a sua coragem, fugiu de todas essas frentes de batalha da verdade e escondeu-se em vielas escuras e estreitas, timidamente a salvo dos problemas e das responsabilidades da vida. O conhecimento humano tornara-se demasiado para a mente humana. Restou somente o especialista científico, que sabe “mais e mais” a respeito de ”menos e menos”, e o especulador filosófico, que sabe “menos e menos” a respeito de “mais e mais”. E o especialista passa a usar antolhos a fim de isolar de seu raio de visão o mundo inteiro... Perdeu-se a perspectiva. Os fatos substituídos pela compreensão... O conhecimento, dividido em mil fragmentos isolados, que já não gera sabedoria, E os homens estão aprendendo mais a respeito do mundo, mas estão cada vez menos capazes de expressar para seus semelhantes. O hiato entre a vida e o conhecimento está cada vez maior: Aqueles que governavam não compreendem aqueles que sabem. Floresce a ignorância popular! Proponho aqui, trabalharmos juntos

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Para ouvir os gênios e reproduzi-los, para depois sairmos de cena... Pois depois de nós, melhores atores virão. (Adaptação de Ghislene Lima, do prefácio do livro A história da Filosofia, de Will Durant, Rio de Janeiro: Editora Nova Cultural Ltda, 2000.)

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AGENDA Objetivo Geral Delinear a constituição e o desenvolvimento da teoria psicanalítica de Freud, principalmente as questões colocadas para o discurso filosófico. Objetivos específicos • Analisar o conflito, quase centenário, que a filosofia mantém com a psicanálise; • Apontar as razões deste conflito; • Permitir uma aproximação e reintegração entre estes dois saberes; • Propiciar reflexão sobre a legitimidade da psicanálise como objeto filosófico; • Reconstituir o discurso freudiano, determinando de onde ele fala e onde ele fala. Operações Aula expositiva utilizando recursos como: multimídia, gráficos, filme, discussão e reflexão, que nortearam a explanação do conteúdo programático. Filmes indicados A Odisséia Baraka Leituras indicadas Conferências introdutórias à Psicanálise - Sigmund Freud – Vols. XVI O ego e o Id – Sigmund Freud – Vol.XIX 7


O futuro de uma ilusão – Sigmund Freud, vol. XXI Grupo de estudos Dia e horário a combinar

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Índice

1.Introdução ............................................................................. 4 2. A filosofia............................................................................... 5 3. Freud e a filosofia................................................................. 12 4. A psicanálise e a filosofia..................................................... 15 4.1 A negação e a inadequação........................................ 15 4.2 O conceito de inconsciente......................................... 17 4.3 A metapsicologia de Freud......................................... 18 5. Freud e os filósofos.............................................................. 19 6. O reconhecimento da psicanálise......................................... 23 6.1 O descentramento do sujeito...................................... 24 1. Da consciência ao inconsciente............................ 25 2. O outro................................................................ 26 3. Pulsão.................................................................. 27 7. Conclusão............................................................................. 28 8. Bibliografia........................................................................... 29

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1. Introdução Freud, na passagem do século XIX para o século XX, estabeleceu uma interlocução entre a psicanálise e a filosofia, com suas problemáticas teóricas. Ocorreu um processo de interpelação recíproca entre as duas disciplinas: enquanto para a filosofia o sujeito está inscrito no campo da consciência e se manifesta no registro do eu; a psicanálise descentralizou do sujeito do campo da consciência e do eu. Freud não era filósofo, mas em uma das suas cartas a Fliess 1, afirmou que estava finalmente realizado o seu desejo de ser um filósofo com a invenção da psicanálise, e que nunca tivera talento para a terapêutica, apesar de sua atividade médica. Com isso, a psicanálise estava muito mais próxima da filosofia e bem afastada da medicina. O discurso freudiano apresentou uma série de pressupostos e teses sobre a subjetividade e desta decorreram conseqüências e desdobramentos imprevisíveis no percurso de Freud. A filosofia, por sua vez, leu o discurso freudiano de diferentes maneiras, em contextos diversos. Considera-se, aqui, a psicanálise como um saber, devido a formulação da existência do inconsciente, como outro registro psíquico. Portanto, defendendo a tese de que Freud não tenha sido influenciado por Empédocles ou por Platão, e sim que a presença de ambos tenha sido significativa em sua obra. Assim, o percurso teórico de Freud não só encontrou-se próximo da filosofia, como também um absoluto distanciamento. O que deve estar em questão são as diferentes concepções de Freud sobre o que era efetivamente filosofia, e como ele diferenciava a psicanálise desta.

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Otorrinolaringologista que morava em Berlim, a quem Freud atribuía uma elevada respeitabilidade, e compartilhava com ele suas primeiras concepções psicanalíticas, esperando o seu reconhecimento teórico.

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Para um maior esclarecimento sobre os pressupostos filosóficos que se tornaram base para a teoria psicanalítica, far-se-á um retorno à história do pensamento filosófico para que possamos apresentar a relação da teoria freudiana com a filosofia.

2. A Filosofia É importante compreender que a Filosofia, a ciência e a arte têm em comum a exploração do mesmo mundo. Todos enfrentam o mistério da existência do mundo, e de nossa existência como seres humanos e tentam obter um entendimento maior. Ambos fazem uso da inspiração e da critica, exploram o conhecimento e a experiência humanos, de tentar trazer a luz ao que está oculto, e de organizar de maneira articulada os seus achados. Enfim, uma enriquece a outra. Inicialmente, na narração dos mitos, que era incontestável e inquestionável, encontrava-se a origem das coisas por meio de lutas, alianças e relações sexuais entre forças sobrenaturais que governam o mundo e o destino dos homens. A Filosofia nasce quando os seres humanos começam a tentar entender o mundo, não por meio da religião ou aceitação da autoridade, mas pelo uso da razão: 

Enquanto através do MITO narrava-se como as coisas eram ou tinham sido no passado, a partir do presente, a FILOSOFIA preocupa-se em explicar como e porque no passado, no presente e no futuro as coisas são como são;

Enquanto através do MITO narrava-se as genealogias e rivalidades ou alianças entre forças divinas a partir de Urano, Gaia e Ponto, a FILOSOFIA preocupa-se em explicar a produção natural das coisas por elementos e causas naturais e impessoais a partir do céu, terra e mar e da composição, combinação e separação dos elementos: fogo, água, terra e ar;

Enquanto a narrativa MÍTICA era mantida pela confiança depositada em seu narrador, a FILOSOFIA não admite contradições, fábulas e nem coisas incompreensíveis.

A época arcaica introduz novidades que transformam a visão que o homem tem de si: a escrita, a moeda, a lei, a polis, que culminaram no 11


século VI a.C. com o aparecimento do filósofo: o Milagre grego, que foi a passagem do pensamento mítico para o pensamento racional e filosófico. Existiam duas características de grande importância para filosofia: afirmava-se que todos os homens eram iguais perante a lei e o direito e a garantia da participação do governo, podendo discutir, exprimir e defender em publico todas as opiniões que uma cidade deveria tomar. A partir disso surgiu a figura política do cidadão. A partir de Platão, em sua obra Apologia a Sócrates, pode-se caracterizar esse período como:      

A filosofia volta-se para questões humanas no plano da ação, dos comportamentos, das idéias, das crenças e dos valores; O homem é considerado um ser racional, capaz de conhecer-se a si mesmo, capaz de refletir; A Filosofia volta-se para as virtudes morais e políticas; Separa-se a opinião e as imagens das coisas das idéias; A verdade passa a ser invisível, imutável, universal e necessária; A opinião, as percepções e as imagens sensoriais passam a ser consideradas falsas.

Surge novo período marcado pela presença do filósofo Aristóteles, discípulo de Platão e preceptor de Alexandre Magno. A sua questão-chave era: O que é ser? Concluiu que as coisas não são apenas a matéria de que consistem materialmente. Para ele a forma de um objeto, embora não seja algo material, é inerente a este objeto mundano, e não pode existir separadamente dele. A verdadeira essência de um objeto é a função que esse desempenha: “Se o olho fosse um ser vivo, a visão seria uma alma”. 2 Com isso, rejeitou a teoria platônica das Formas e dividiu o conceito de “forma” em quatro tipos diferentes de “causa”:    

“De-que-isso-é-feito” “0-que-de-fato-faz-ou-cria-isso” “O-que-dá-a-isso-a-forma-pela-qual-é-identificado” “Razão-última-para-tudo-isso”.

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OSBORNE, Richard. Filosofia para principiantes. Objetiva Ltda: Rio de Janeiro, 1998, p.25

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Criou a lógica e estabeleceu uma classificação para os campos de conhecimento. A Filosofia encontra o seu ponto mais alto na metafísica e na teologia, de onde derivam todos os outros conhecimentos. Segue-se o último período da Filosofia antiga que é o helenismo. A polis grega desaparece e surge no cenário o Império Romano. Segundo os filósofos, agora o mundo é sua cidade e que são cidadãos do mundo. É o período da Filosofia cosmopolita. Surgem novos sistemas ou doutrinas, que explicam a natureza, o homem, as relações entre ambos e deles com a divindade. Predominam a preocupação com a ética, a física, a teologia e a religião. Os filósofos já não podem ocupar-se diretamente com a política, eles se encontravam mais inteirados com a sabedoria oriental, principalmente com os aspectos místicos e religiosos. Sob a influência do pensamento cristão, este período é marcado por sistemas: os céticos, os epicuristas, os estóicos e os neoplatonistas, todos preocupados como um homem civilizado deve viver num mundo inseguro, instável e perigoso. Já a partir do 1o. Século d.C. até o século VII, a filosofia, definida como patrística, resultou do esforço dos apóstolos Paulo e João e pelos primeiros padres da Igreja para conciliar a nova religião – o cristianismo com o pensamento filosófico grego e romano. O objetivo destes era que pudessem convencer os pagãos da nova verdade e converte-los a ela. Surgem as idéias do pecado, da criação do mundo, de Deus como unidade una, de encarnação e morte de Deus, do juízo final etc. Neste período foram introduzidas, também, as idéias de Santo Agostinho, do homem interior, aquele que se torna responsável pela existência do mal no mundo. Novos períodos marcam a história da filosofia:  Do séc. VIII ao séc. XIV marcada pelo domínio da Igreja, a chamada filosofia medieval ou Escolástica, onde ungia e coroava reis, organizava cruzadas à Terra Santa e criaram as primeiras escolas e universidades. O filósofo em destaque era Tomás de Aquino, com sua Filosofia considerada como modelo para o pensamento católico, por um longo período até o Concílio Vaticano II em 1962-1964. O tomismo (como é chamada a Filosofia fundada por Tomás de Aquino) consiste em sua maior parte de um casamento entre um 13


cristianismo já extensamente platonizado e a Filosofia de Aristóteles. Ele argumenta que todo o nosso conhecimento racional deste mundo é adquirido por meio da experiência sensorial sobre a qual nossa mente a seguir reflete. Defendia, também, que a essência de uma coisa é o que essa coisa é, e isso nada tem a ver com a questão de ela existir ou não.  No Período marcado pela descoberta das obras de Platão, desconhecidas até a Idade Média, e de novas obras de Aristóteles e outras de grandes autores, do séc. XIV ao séc. XVI, as linhas de pensamento foram os primeiros parâmetros de uma nova ciência que surgia: 

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Idéia de natureza como um grande ser vivo, ou seja, o homem faz parte da natureza e pode agir sobre ela através da magia natural, da alquimia e da astrologia; Valorização da vida ativa, a política, ou seja, a defesa de um ideal republicano onde propunham a “imitação dos antigos”; Ideal dos homens como artífice de seu próprio destino, tanto através do conhecimento quanto da política, das técnicas e das artes.

Este período foi, ainda, marcado pelas grandes descobertas marítimas, onde foi permitida uma visão crítica de sua própria sociedade, e culminou com a reforma protestante.  Já do séc. XVII ao séc. XVIII inicia-se o período conhecido como o grande racionalismo clássico, a filosofia moderna, quando ocorreram grandes mudanças intelectuais, que passa a ter como ponto de partida: 1o. O sujeito do conhecimento como consciência em si reflexiva; 2o. O objeto do conhecimento, ou seja, as coisas exteriores são conhecidas a partir das idéias formuladas pelo sujeito do conhecimento; 3o. Nova concepção da realidade, principalmente a partir de Galileu, como sistema racional de mecanismos físicosmatemáticos, que deu origem à ciência clássica (mecânica). Assim esse período é marcado pela idéia de conquista científica e técnica de toda a realidade e, ainda, de que a razão humana é capaz

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de conhecer a origem, as causas e os efeitos das paixões e das emoções além de governa-las e dominá-las.  Surge o período das luzes, do séc. XVIII ao início do séc. XIX, ou seja, do poder da razão, onde se afirmava que:    

O homem pode conquistar a liberdade e a felicidade social e política; O homem é um ser perfectível; O aperfeiçoamento da razão se dava pelo progresso das civilizações; A Natureza é o reino das relações necessárias de causa e efeito, e a civilização é o reino da liberdade e da finalidade proposta pela vontade livre dos próprios homens.

Os grandes interesses desse período foram marcados pelas ciências, principalmente a biologia, como a filosofia da vida; pelas artes, enquanto expressões de progresso da civilização; e pela origem e as formas de riquezas das nações (pensamento fisiocrata e mercantilista). Pode ser caracterizado, ainda, neste período:  

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O início das ciências: de Copérnico a Newton Uma nova teoria política: Com Maquiavel: “Já que minha intenção é dizer algo que será de uso prático para o interessado, achei apropriado representar as coisas como são na verdade, em vez de como são imaginadas.”3. O conhecimento científico como poder sobre a natureza: Com o patrono da ciência, Francis Bacon. O materialismo: Com Thomas Hobbes. O racionalismo: Lançado por Descartes 4 e depois por Spinoza, que era considerado como um precursor da crítica bíblica, e Leibniz, que na lógica dividiu todas as verdades em dois tipos: verdades de razão e verdades de fato. O empirismo: John Locke é considerado o pai fundador do empirismo: a informação sobre o mundo exterior a nós mesmos nos chega apenas por meio dos sentidos.

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MAQUIÁVEL, Nicolau. O príncipe, 1513. “Surpreendi-me com o grande número de falsidades que aceitara como verdades em minha infância.” 4

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Novos pensadores: Nova classe de intelectuais que eram livres pensadores na religião e radicais na política: Voltaire5, Diderot6, Rousseau7. O encontro do racionalismo e empirismo: entre as décadas de 1780 e 1880 ocorreu um florescimento da Filosofia, que começou com Kant, e sua obra foi enriquecida por Shopenhauer, Fitche e Schelling.  Com Kant o racionalismo e o empirismo se encontram. Para ele tudo que se aprende de um modo ou de outro, é aprendido devido ao aparelho corporal (os sentidos, o cérebro e o sistema nervoso central). Dessa forma, por um lado está o que existe, independentemente de nós e de nossa capacidade de experiência, e de outro está o que temos meios de experimentar; e nunca poderia haver motivos para acreditar que ambos são a mesma coisa. Argumenta, ainda, que o que é entregue à nossa consciência é o produto de nosso aparelho corporal, e a forma assumida se deve a natureza desse aparelho. De um lado temos o mundo dos fenômenos (onde as formas são dependentes do sujeito), e de outro lado, temos o mundo numênico (as coisas são tal como são em si). Este último mundo é o que Kant chama de transcendental, porque indica que ele existe, mas não pode ser registrado na experiência.  Shopenhauer acreditava ter corrigido e completado o trabalho de Kant, legando-nos uma única Filosofia kantianoschopenhaueriana. Ele aceitava a divisão da realidade de Kant, em fenomênica e numênica, mas argumentava que a numênica não podia consistir de coisas tal como são em si mesmas. E, ainda, que todo reino numênico tem o caráter de vontade, embora não como esta palavra é entendida normalmente, e sim com base em que a experiência direta mais próxima, que podemos ter de uma de suas manifestações, são nossos próprios atos de vontade, em que experimentamos, desde dentro o impulso, ímpeto, força,

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“O supérfluo é muito necessário.” “A palavra liberdade não significa nada.” 7 Introduziu as seguintes idéias:1a) A civilização não é uma coisa boa; 2a) Deve-se exigir que tudo na vida quer privada, quer pública, atenda às exigências do sentimento e dos instintos naturais; 3a) Uma sociedade humana é um ser coletivo com uma vontade própria que é diferente da soma das vontades de seus membros individuais, e que o cidadão deve se subordinar inteiramente a essa ”vontade geral”. 6

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energia inexplicável exibida aos movimentos físicos. É uma vontade que não tem personalidade, nenhum tipo de mente ou inteligência8.  Estamos diante, agora, de uma filosofia contemporânea, do séc. XIX ao séc. XX, que vem apresentar as principais questões: a história e o progresso; as ciências e as técnicas; as utopias revolucionárias; a cultura; o fim da filosofia; a maioridade da razão; o infinito e o finito. • História e progresso: A visão histórica de Hegel – “somos seres históricos”- e depois o positivismo de Augusto Comte – “saber para prever, prever para prover”. •

As ciências e as técnicas: Primeiro acreditava-se que o saber científico e a tecnologia poderiam dominar e controlar a natureza, a sociedade e os indivíduos. Depois surgiu a teoria crítica da razão, que distingue duas formas de razão: a razão instrumental, que é a razão técnico-científica, como forma de intimidação; e a razão crítica, que analisa e interpreta os limites e os perigos do pensamento instrumental.

Utopias revolucionárias: Antes se acreditava que a sociedade poderia torna-se nova, justa e feliz, a partir do otimismo no anarquismo, no socialismo e no comunismo. Depois, com o aparecimento das sociedades totalitárias – o fascismo, o nazismo e o stalinismo -, a Filosofia passou a desconfiar do crescimento da burocracia e que não seria possível os seres humanos derrubarem o poderio que os governa secretamente.

A cultura: A cultura que era vista como exercício da liberdade, pois é o modo próprio e específico da existência dos seres humanos; passa a admitir que existem diferentes culturas, que cada uma inventa seu modo de relacionar-se com o tempo, de criar a sua própria linguagem, de elaborar os seus mitos e suas crenças, de organizar o trabalho e suas relações sociais, de criar as obras de pensamento e arte.

O fim da Filosofia: No século XIX, para a Filosofia todos as explicações e conhecimentos seriam dados somente pelas ciências. Já no século XX, a Filosofia passou a mostrar que as

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Para Shopenhauer: “...enquanto estivermos entregues a multidão dos desejos com suas esperanças e temores constantes... nunca obteremos a felicidade ou a paz duradoura.” (MAGEE, Bryan.História da Filosofia. Edições Loyola: São Paulo, 2001, p. 139.)

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ciências não possuíam princípios totalmente certos, seguros ou rigorosos e que seus resultados eram, muitas vezes, duvidosos e precários. Isto ficou mais claro com o filósofo alemão Husserl, que propôs o estudo e o conhecimento rigoroso das possibilidades do próprio conhecimento científico. • A maioridade da razão: A Filosofia afirmava que os seres humanos haviam alcançado a maioridade racional, e que a razão se desenvolvia plenamente para que fossem atingidos o conhecimento completo da realidade e as ações humanas. Diante desse otimismo que novas questões foram levantadas: • Marx, voltado para a economia e política, descobriu que temos a ilusão de estarmos pensando e agindo sob nossa vontade própria, racional e livre, por desconhecermos o poder invisível – que é social – que nos força a pensar como pensamos e a agir como agimos. Para esse poder ele deu o nome de ideologia. • Freud, voltado para as perturbações e sofrimentos psíquicos, mostrou que todos os seres humanos têm a ilusão de que tudo quanto pensam, fazem, sentem e desejam, e que dizem ou calam estariam sob o controle de nossa consciência, por desconhecermos a existência de uma força invisível, de um poder que é psíquico e social, que atua em nossa consciência sem que ela o saiba. A esse poder ele deu o nome de inconsciente. A partir dessas duas descobertas a Filosofia volta a discutir sobre o que é e o que pode a razão, sobre o que é e o que pode a consciência reflexiva, e o que são e o que podem as aparências e as ilusões. •

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Infinito e finito: Durante o século XIX manteve a tradição de que a Natureza é eterna (dos gregos), que Deus é eterno (dos cristãos), e a idéia da totalidade, da qual os homens fazem parte e participam. Já no século XX surge o interesse pelo finito, pelo o que surge e desaparece, pelo que tem fronteira e limites. Esse interesse aparece, principalmente, na nova corrente filosófica – o existencialismo, que definiu o homem como “um ser para a morte”, ou seja, “um ser que sabe que termina e que precisa encontrar em si mesmo o sentido de sua existência.”9

MAGEE, Bryan.História da Filosofia. Edições Loyola: São Paulo, 2001, p. 53

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3. Freud e a Filosofia Vale determinar aqui a atitude de Freud em relação à Filosofia como realidade histórica. Freud declarava que quando jovem sentia-se fascinado pela especulação filosófica: inicialmente pela obra de Goethe sobre A natureza, que o levou optar pela carreira médica, mas foi na pessoa de Franz Brentano que encontrou a filosofia de forma mais direta e mais sistemática. Todavia, resistiu a ela preocupado em se conservar rigorosamente fiel ao domínio dos fatos. Diante disto, revelou-se hostil aos filósofos, tratando-os com dureza, na medida em que não se revelavam sensíveis à assimilação do conceito de inconsciente. Mas, na verdade, para ele a filosofia revelava-se inteiramente comprometida com a tese da equivalência entre consciência e psiquismo. Já inscrito na Faculdade de Viena (1873), quando tinha somente dezoito anos, encontrava tempo, durante o inverno de 1874-1875, para participar de cursos ministrados por Brentano, que era filósofo e psicólogo. Chegou mesmo a se especializar na história da filosofia, no “curso de lógica aristotélica”. Foi, ainda, a partir de Brentano que obteve contato direto sobre a filosofia de Stuart Mill, e indireto, com Platão. Foi neste círculo que Freud criou a tendência à especulação, que mais tarde teve que se separar. Dez anos mais tarde, Freud ainda apresentava suas especulações, quando chegou a redigir para Martha uma introdução geral à filosofia, que ele chamou de A.B.C. filosófico. E, ainda, em uma carta a Martha (16/08/1882) ele dizia: “A filosofia, que sempre imaginei como um objetivo e como um refúgio para minha velhice, cada vez mais me fascina todos os dias”.

Ainda, em uma correspondência a Fliess (01/01/1897), encontra-se o desejo especulativo: “Alimento, na profundidade de mim mesmo, a esperança de atingir, pelo mesmo caminho, meu primeiro objetivo: a filosofia”.

Já em 1914, na Contribuição à história do movimento psicanalítico, declara que a falta de “gosto pela leitura dos autores filosóficos em sua juventude” que se deve a sua ignorância em um texto de Shopenhauer. Freud volta a fazer declarações contrárias, novamente em 1925, alegando ter sempre “evitado cuidadosamente aproximar-se da filosofia

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propriamente dita”. E, em 1930, diante de um questionamento filosófico, ele disse: “Os problemas filosóficos e suas formulações são tão estranhos para mim, que não sei o que dizer a respeito”.

Diante da duplicidade do discurso freudiano em relação à filosofia e aos filósofos, é necessário especificar o seu discurso global, determinando os diversos níveis de abordagem. A partir daquilo que diz Freud, deve-se reconstituir sua fala em suas estatificações precisas. Ou seja, trata-se de determinar de onde ele fala situando onde ele fala, seguindo a lógica do discurso. Mas, para tanto, é necessário saber o que é a filosofia para Freud. É importante deixar claro, também, o que é a filosofia para Freud. A filosofia é uma resposta de certa forma endógena à exigência pulsional, pois responde à instância interna do desejo, racionalizando-o. Para ele, ao longo do tempo, a humanidade conheceu três concepções de mundo: a concepção animista, que é a mitológica, a concepção religiosa, e a concepção científica. O que vem determinar estas concepções, estes sistemas intelectuais, é a estruturação das relações entre a realidade e o pensamento. O sintoma da evolução é o declínio da “onipotência das idéias”: “Na fase animista, é a si mesmo que o homem atribui a onipotência; na fase religiosa, ele a transferiu aos deuses, sem todavia renunciá-la seriamente (...). Na concepção científica do mundo, não há mais lugar para a onipotência do homem, que reconheceu sua pequenez e resignou-se à morte, como submeteu-se a todas as necessidades naturais.”10

Freud ressalta que a arte é o único domínio em que a onipotência das idéias se manteve. É uma autêntica reminiscência do animismo primitivo. “Graças à ilusão artística, este jogo produz os mesmos efeitos afetivos, como se tratasse de algo real.”11

Já a filosofia depende, ao mesmo tempo, da arte e da ciência. Com a arte ela visa uma totalização e revela sua confiança na onipotência das idéias sustentada pelo desejo; e com a ciência ela exige que se leve em conta o real que por objetivo explicar.

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Freud in ASSOUN, Paul-Laurent. Freud: a filosofia e os filósofos. Rio de Janeiro: F. Alves, 1978, p.96 11 Ibid, p.96

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Em as “Novas Conferências”, Freud define a filosofia como um “animismo sem atos mágicos”: “Nossa filosofia é inegável, conserva certos traços essenciais de modo de pensar animista”. Para ele é o narcisismo da humanidade que cria resistências: de Copérnico a Darwin, e a do inconsciente, sendo esta última a mais cruel, porque obriga o Ego humano renunciar ao seu próprio domínio. Freud, ainda, vincula a atividade filosófica o mecanismo de sublimação. Ele diz: “A transformação da libido de objeto em libido narcísica traz evidentemente, 12 com uma renúncia aos objetos sexuais, uma dessexualização”. Para ele, o amor da sabedoria deriva da libido do ego, sendo que esta é originária da libido propriamente dita vinda do id, e que é dele que o amor ao saber tira sua força.

4. A Psicanálise e a Filosofia O consciencialismo da filosofia faz dela o obstáculo decisivo para a ciência psicanalítica e o fundamento alegado por Freud da oposição entre a filosofia e a psicanálise. Ao invés de definir as relações entre o universo físico e o universo psíquico, Freud se contenta em partir da oposição imediata e em enunciar quatro proposições: 1. “Limito-me a dizer o seguinte: não vejo nenhuma dificuldade em admitir um universo físico ao lado do universo psíquico”. 2. “A questão de saber em que relação eles se encontram, um em relação ao outro, só merece consideração quanto ao último: o psíquico”. 3. “O universo físico só possui um caráter psíquico porque é conhecido por nós apenas através de uma tomada de consciência psíquica.” 4. “Por outro lado, nossas tomadas de consciência psíquica impõem-nos também a necessidade de admitir uma realidade física por detrás da vida da alma”.

Para Freud compete ao filósofo decifrar essas proposições. E, dessa forma, constitui-se em objeto possível da reflexão filosófica, e não em diálogo com a filosofia. O que na verdade opera toda a defasagem lógica e terminológica entre a filosofia e a psicanálise, proporcionando um “diálogo de surdos”, é, simplesmente, o novo objeto que a psicanálise tem como tarefa em compreender e a filosofia em ocultar: o inconsciente. 12

Id, p.104.

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4.1 A negação e a inadequação O inconsciente para os filósofos, segundo Freud, significa o oposto do consciente: “Que também hajam, fora dos processos conscientes, processos inconscientes, eis uma idéia severamente contestada e energicamente defendida”.

A descoberta do inconsciente tal como ele o conceituou e fundamentou empiricamente exigia um repensamento geral de todas as formas de reflexão filosófica, e jogou por terra os saberes sobre o psiquismo instituído pela psiquiatria e a psicologia. Como nos apresenta muito bem Foucault, em sua obra intitulada “A história da loucura”, a psiquiatria passou a ser estabelecida como clínica, entre os séculos XVIII e XIX, fundada na racionalidade anátomoclínica. Reivindicava seus direitos de ser uma especialidade médica, mas não tinha como legitimar a alienação mental nos cânones da medicina, pois o cérebro dos ditos alienados não evidenciava qualquer lesão capaz de justificar essa pretensão. Com efeito, se os loucos tinham perdido a razão (delírios), estava ai o fundamento da enfermidade mental, pois tal fato se devia a uma transformação de ordem moral. Com isso, a psiquiatria, a partir de seus fundadores Esquirol e Pinel, propõe um tratamento moral 13, formulando efetivamente a possibilidade teórica da cura da alienação mental14. Pode-se reconhecer esses momentos da psiquiatria no discurso filosófico, quando para Kant a loucura era a perda irreversível da razão. Em contrapartida, para Hegel, que aplaudiu o novo modelo, pois sustentava a cura da loucura na medida em que esta não se fundaria mais na perda da razão, e sim apenas na sua alienação. Assim, a psiquiatria afasta mais tarde da causalidade moral e apresenta hipóteses biológicas (hereditariedade e degenerescência) em posição cada vez mais dominante. No entanto, a leitura psiquiátrica do psiquismo continuava no registro da consciência. Já a psicologia clássica, centrava seus estudos nas faculdades mentais (a sensação, a percepção, a atenção, a memória, a imaginação e o entendimento), porém registrados no campo da consciência. A certeza da existência do eu circulava sempre e apenas em torno do 13

A internação seria o ato inaugural do tratamento moral, e em nome disso, foram retirados dos Hospitais Gerais e inseridos nos asilos. 14 O modelo teórico anterior era o da demência, onde acontecia a perda total e absoluta das faculdades mentais.

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pensamento. A imaginação era considerada de maneira negativa, pois não oferecia subsídios positivos para elucidação do entendimento. Com isso, a pesquisa sobre sonhos não havia lugar no campo da psicologia clássica. Mediante o exposto, a psiquiatria e a psicologia clássica ficaram reduzidas à oposição verdadeiro/falso para realizar a leitura das perturbações do espírito. E a psicanálise veio subverter esses dois saberes sobre o psiquismo, pois vem articular uma solução para os impasses tão presentes: o conceito de inconsciente deslocando o psiquismo dos registros da consciência e do eu. 4.2 O conceito de inconsciente Freud partiu da questão da histeria, que apresentava uma série de sintomas que não podiam ser explicados pela anatomia patológica. Charcot, um neuropatologisa francês, dedicou-se à pesquisa da histeria utilizando a hipnose, que lhe permitiu reconhecer que existiam experiências psíquicas que não eram ditas em plena consciência. No entanto, permaneceu no registro de que na histeria existia uma lesão anatômica de ordem funcional. Em contrapartida, Bernhheim, um pesquisador suíço, supunha que a histeria era produzida pela sugestão ou auto-sugestão. Freud realizou uma crítica sistemática de ambos: não concordava com Charcot no que se refere à lesão anátomo-funcional, e nem com Bernheim sobre a ausência de qualquer substrato para a sugestionabilidade na histeria. Mas aprendeu com eles, com o emprego da hipnose, que havia uma região psíquica que estava fora do campo da consciência e do controle do eu e, ainda, a potência da linguagem na produção e cura dos sintomas. Foi com a articulação entre o traço psíquico e a linguagem, permeada pelo afeto, que o conceito de inconsciente se constituiu. Teve, também, a contribuição de Breuer que enriqueceu a sua teoria, pois para este a histeria era sempre produzida por uma alteração particular da consciência (divisão), provocada por uma causa traumática. Freud admitiu, inicialmente, à concepção do trauma, como corpo estranho no psiquismo, e junto com Breuer enunciaram que “os 23


histéricos sofrem de reminiscências”, o que veio subverter totalmente a interpretação da histeria. Mediante a isto, conceberam o método catártico para o tratamento da histeria. Observa-se, aqui, que o discurso freudiano baseou-se diretamente na Poética de Aristóteles na invenção do conceito de catarse: “O efeito moral e purificador da tragédia clássica, cujas situações dramáticas, de extrema intensidade e violência, trazem à tona os sentimentos de terror e piedade dos espectadores, proporcionando-lhes o alívio, ou purgação, desses sentimentos.”

Passado um tempo, Freud apresenta o sentido sexual como eixo de constituição da consciência segunda, e em 1896, passou a formular que só podia existir a histeria de defesa. Estende-se o conceito de defesa e, agora, o psiquismo estava configurado como um conjunto disperso de traços mentais: de uma das bordas do psiquismo estava o eu e a consciência, e na outra a presença de uma segunda consciência. A partir disso, surgem novos conceitos e teorias: de resistência, de realidade psíquica e realidade material, da teoria da sexualidade, a divisão psíquica em inconsciente, pré-consciente e consciente (1 a. tópica), e depois a 2a. tópica. Freud dá nome ao seu discurso teórico de metapsicologia, alegando que a leitura psicanalítica pretende ir além da psicologia. E pela indagação da metapsicologia que se pode situar a problemática crucial que a psicanálise colocou para a filosofia. 4.3 A metapsicologia de Freud Para Freud a leitura do psiquismo transcenderia a da psicologia, porque não se restringe ao estudo das faculdades psíquicas. Pressupõe que o psiquismo é um processo, propondo a este um triplo código de leitura: tópico, dinâmico e econômico, ou seja, qualquer experiência psíquica exige uma leitura que defina em que lugar psíquico estaria acontecendo, ou melhor, compreender o psiquismo de modo que transcenda os registros da consciência e do eu. Observa-se que diante da definição da metapsicologia ocorre uma ruptura com os pressupostos da psicologia clássica. Para Freud a psicologia seria uma leitura superficial do psiquismo, pois está restrita aos registros periféricos. 24


Ao denominar o saber psicanalítico como uma metapsicologia, Freud aproxima-se da metafísica15, quando identifica algo que se aproximam. Se a psicanálise é um saber fundado na interpretação, logo o psiquismo é construído em torno de conceitos de sentido e significação. Com a obra A interpretação dos sonhos, contrariando, mais uma vez, a psicologia clássica e a neuropatologia, Freud apresenta que os sonhos são, também, forjados pelo sentido. Que o sonho é o caminho real para o inconsciente, pois nele está o desejo em primeiro lugar. Depois dessa obra, circunscreveu outras formações do inconsciente, como os lapsos, os atos falhos e as piadas, como possibilidades de delinear o campo desejante em ato numa dada subjetividade, realizando assim o seu deciframento efetivo. Acontece aqui, com o método de interpretação elaborado pela psicanálise, a desconstrução teórica da psicologia clássica, com a suspensão momentânea do eu e do seu correspondente, ou melhor, da sua estratégia estritamente cognitiva. E neste contexto histórico é que Freud enunciou a sua aproximação maior com a filosofia e seu distanciamento da medicina.

5. Freud e os filósofos Freud nunca admitiu ter recebido influência de qualquer pensador – grego ou moderno – na produção da sua obra. Vejamos algumas manifestações desenvolvimento de sua obra.

filosóficas

que

contribuíram

no

Os principais enunciados de Empédocles, citados no texto de Capelle “Les Presocratiques”, principalmente o que foi reproduzido por 15

Parte da filosofia, que com ela muitas vezes se confunde, e que, em perspectivas e com finalidades diversas, apresenta as seguintes características gerais, ou algumas delas: é um corpo de conhecimentos racionais (e não de conhecimentos revelados ou empíricos) em que se procura determinar as regras fundamentais do pensamento (aquelas de que devem decorrer o conjunto de princípios de qualquer outra ciência, e a certeza e evidência que neles reconhecemos), e que nos dá a chave do conhecimento do real, tal como este verdadeiramente é (em oposição à aparência). Segundo, ainda, Aristóteles, estudo do ser enquanto ser e especulação em torno dos primeiros princípios e das causas primeiras do ser

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Schopenhauer, afirma que se apenas houvesse Eros, tudo seria um e não haveria diversidade. Anuncia a presença de uma outra força responsável pela separação, que é a destrutividade. Amor e Ódio, amor e destrutividade é a tese central de Empédocles que Freud exalta. Na obra Análise terminável e interminável (1937), da qual transcrevo parte que fala sobre esse filósofo grego: “Mas a teoria de Empédocles que merece especialmente nosso interesse é uma que se aproxima tanto da teoria psicanalítica dos instintos, que ficaríamos atentados a sustentar que as duas são idênticas, não fosse pela diferença de a teoria do filósofo grego ser uma fantasia cósmica, ao passo que a nossa se contenta em reivindicar validade biológica. Ao mesmo tempo, o ato de Empédocles atribuir ao universo a mesma natureza animada que aos organismos individuais despoja essa diferença de grande parte de sua importäncia. O filósofo ensinou que os dois princípios dirigem os eventos da vida do universo e na vida da mente, e que esses princípios estão perenemente em guerra um com o outro. Chamou-os de φιλία (amor) e νεικος (discórdia). Desse dois princípios – que ele concebeu como sendo, no fundo, ‘forças naturais a operar como instintos, e de maneira alguma inteligências com um intuito consciente’ -, um deles se esforça para aglomerar as partículas primevas dos quatro elementos numa só unidade, ao passo que o outro, ao contrário, procura desfazer todas essas fusões e separar umas das outras as partículas primevas dos elementos. Empédocles imaginou o processo do universo como uma alternação contínua e incessante de períodos, nos quais uma ou outra das duas forças fundamentais leva a melhor, de maneira que em determinada ocasião o amor e noutra a discórdia realizam completamente seu intuito e dominam o universo, após o que o outro lado, vencido, se afirma e, por sua vez, derrota seu parceiro. Os dois principais fundamentais de Empédocles- φιλία e νεικος – são, tanto em nome quanto em função, os mesmos que nossos dois instintos primevos, Eros e destrutividade, dos quais o primeiro se esforça por combinar o que existe em unidades cada vez maiores, ao passo que o segundo se esforça por dissolver essas combinações e destruir as estruturas a que elas deram origem. Não ficaremos surpresos, contudo, em descobrir que, em seu ressurgimento após dois milênios e meio, essa teoria se alterou em algumas de suas características. À parte a restrição ao campo biofísico que se nos impõe, não mais temos como substâncias básicas os quatro elementos de Empédocles: o que é vivo foi nitidamente diferenciado do que é inaminado, e não mais pensamos em mistura e separação de partículas de substância, mas na solda e na defusão dos componentes instintuais. Ademais, fornecemos um certo tipo de fundamento ao princípio de ‘discórdia’, fazendo nosso instinto de destruição remontar ao instinto de morte, ao impulso que tem o que é vivo a retornar a um estado inaminado. Isso não se destina a negar que um instinto análogo já existiu anteriormente, nem, é natural, a asseverar que um instinto desse tipo só passou a existir com o surgimento da vida. E ninguém pode prever sob que

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disfarce o núcleo da verdade continha na teoria de Empédocles se apresentará à compreensão posterior.”16

O trabalho de Sarah Kofman, publicado na Revista “Critique” (1969), intitulado Freud et Empédocles, citado por Antônio Gomes Penna, na sua obra Freud, as ciências humanas e a filosofia, aponta que: “Se entre os filósofos míticos Freud escolhe Empédocles mais do que qualquer outro, mais até do que Platão (...) é porque Empédocles é o único a dar uma ampla causalidade para todas as coisas (...) se é verdade que a realidade psíquica é a verdade do mito, pode-se dizer, também, que o mito de Empédocles serve de substituto provisório de uma racionalidade perfeita da última teoria das pulsões (...) necessitado do recurso do mito para preencher as lacunas da ciência, é nitidamente indicado em todos os textos freudianos. ”17

Em “Por que a guerra”, em uma carta enviada a Eisntein (1932), Freud caracteriza sua teoria das pulsões como teoria mitológica, aproximando, assim, a atividade científica e a produção do mito. Já Nietzsche havia observado e exaltado a relevância do mito como um discurso diretamente expressivo do inconsciente. Com Sócrates, o discurso da razão leva a cultura ao declínio. Para Nietzche, entre o mito e o saber racional, ele prefere ficar com o mito. Eugen Fink, na sua obra intitulada “La Philosophie de Nietzsche” diz que Sócrates aparece como um demônio-razão. Um homem em que todo desejo e toda paixão se transformaram em vontade de estruturar e de dominar racionalmente o ser – inventor do homem teórico. “Para Nietzsche, Sócrates é a figura histórica da ‘Aufklärung’ grega, pela qual a existência grega perde a maravilhosa certeza de seus instintos e, de um modo mais radical ainda, sua profundeza mítica”. 18

Já Freud ressalta a importância da razão e dos procedimentos racionais, discursivos, que conduzem ao conhecimento científico. No entanto, não descarta a relevância do mito, entendendo que ambos se revelam convergentes. Entende que o discurso mítico mostra-se tão preciso quanto o discurso da razão.

16

SIGMUND, Freud. Obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Edição Standard brasileira. Rio de Janeiro: Imago, 1996, p.262-263 17 Ibid, p.110-111 18 PENNA, Antônio Gomes. Freud, as ciências humanas e a filosofia. Rio de Janeiro: Imago, 1994, p.109.

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A aproximação entre Nietzsche e Freud se deve mais pelo fato de ambos operarem com a categoria do inconsciente. Em “Estudo Autobiográfico”, Freud relata: “O alto grau em que a psicanálise coincide com a filosofia de Schopenhauer – ele não somente afirma o domínio das emoções e a suprema importância da sexualidade, mas também estava até mesmo cônscio do mecanismo de repressão – não deve ser remetida a minha familiaridade com seus ensinamentos. Li Schopenhauer muito tarde em minha vida. Nietzsche, outro filósofo cujas conjecturas e intuições amiúde concordam, da forma mais surpreendente, com os laboriosos achados da psicanálise, por muito tempo foi evitado por mim, justamente por isso mesmo; eu estava menos preocupado com a questão da prioridade do que em manter minha mente desimpedida” 19.

A presença de Platão na obra de Freud decorre exatamente nas considerações sobre Eros e da extensão que concede ao conceito de sexualidade, temas tratados em “O banquete”. Em Por que a guerra (1932), Freud diz: “De acordo com nossa hipótese, as pulsões humanas são apenas de dois tipos: aquelas que tendem a preservar e a unir – que denominamos eróticas, exatamente no mesmo sentido em que Platão usa a palavra Eros em seu ‘Symposium’, ou sexuais, com a deliberada ampliação da concepção popular de sexualidade – e aquelas que tendem a destruir e matar, as quais agrupamos como pulsões agressivas ou destrutivas.”

Outra obra de Freud que encontramos a contribuição de Platão é a “Além do Princípio do Prazer”: “O que tenho no espírito é, naturalmente, a teoria que Platão coloca na boca de Aristófanes no ‘Symposium’ e que trata não apenas da origem da pulsão sexual, mas também da mais importante de suas variações em relação ao objeto.”

Kant é citado em sete dos volumes que integram a coleção das obras de Freud. Elas surgem como apontamentos como: para interpretação proposta por Kant para o significado de cômico; para uma equivalência entre o significado do inconsciente e da coisa em si; para a impossibilidade de se aceitar a universabilidade do tempo como forma definidora da atividade perceptiva; para uma interpretação psicanalítica do imperativo categórico que se fundaria no complexo de Édipo e no despotismo da figura materna internalizada. 19

SIGMUND, Freud. Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. V.XX, Edição Standard brasileira. Rio de Janeiro: Imago, 1996, p.62

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Cabe que se registre certa aproximação entre Freud e Kant, na medida em que ambos apontam para a relevância da intenção. No entanto, essa aproximação logo é nula, pois para Freud a intenção é desmascarada pela formação do superego, enquanto Kant rejeita esta instância para efeito de conceituar a dimensão ética.

6. O reconhecimento da psicanálise Na segunda metade do século XIX, os naturalistas alemães consideravam perigosa as formulações presentes no discurso filosófico, porque não deixavam avançar o conhecimento positivo pretendido pelas ciências. E, neste período, estava em destaque a filosofia de Hegel, que era atribuída como uma versão pantologista20 do mundo. Em decorrência desse desconforto, ocorreu um deslocamento teórico significativo, para a tradição alemã, de Hegel para Kant. Os naturalistas alemães consideraram a filosofia kantiana como uma crítica à filosofia hegeliana. Enquanto isso, Freud dizia que a psicanálise não era uma modalidade filosófica de saber, porque tinha a pretensão de ser um discurso científico. Mas o ponto da discórdia era exatamente porque a psicanálise tinha o saber voltado para a interpretação, logo se aproximava mais do discurso filosófico. Utilizava-se de diferentes argumentos para sustentar a psicanálise como pertencente ao campo da ciência, como por exemplo: os conceitos de matéria e de energia (da física) eram tão abstratos quanto o de pulsão, e distantes de qualquer empiricidade. Diante de todo esse movimento, a experiência psicanalítica foi transformada no laboratório de verificação científica (exemplo disso são os extensos casos clínicos publicados por Freud). Mas era no Círculo de Viena, onde o discurso neopositivista procurava diferenciar os enunciados científicos e filosóficos, que o discurso freudiano tinha que prestar contas, para que a psicanálise pudesse ser reconhecida como uma ciência e não como uma filosofia.

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Pantologismo: Doutrina que afirma a possibilidade de racionalização total da realidade

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Mas Freud teve que reconhecer que a psicanálise não atendia às regras neopositivistas da ciência. E, desde os anos 20, teve que aceitar isso definitivamente, tanto que quando enunciou o conceito de pulsão de morte, falou que se tratava de uma especulação, por ser algo que não poderia ser verificado empiricamente, mas que não poderia abrir mão disso. Mediante a isto, valeu-se de Platão e Empédocles. E, no final de seu percurso teórico, Freud valeu-se da metáfora da bruxaria, como forma de afirmar que seus enunciados não combinavam com os cânones neopositivistas do discurso da ciência. Essa atitude de Freud tinha fundamento na história do pensamento, quando se diziam que eram os espíritos malévolos os responsáveis pela loucura. Tudo isso, também, para afirmar que a psicanálise seria uma ciência de outra ordem e não uma modalidade do discurso filosófico, alegando que “não pretendia ser um sistema, nem realizar uma leitura totalizante 21 do real”. Na virada do séc. XIX para o século XX, Freud lança para a filosofia um problema: o descentramento do sujeito, com a concepção psicanalítica de que existe um psiquismo inconsciente e que a subjetividade transcenderia os registros do eu e da consciência. Coloca-se em questão a tradição constituída por Descartes, a filosofia do sujeito: - o “penso, logo existo”- , um paradoxo com a descoberta do inconsciente, como bem coloca Lacan: “o sujeito existia onde não pensava e pensava que não existia”, a existência do sujeito e a produção da verdade se realizariam para a psicanálise fora do registro do pensamento, inscrevendo-se nos registros do desejo e do inconsciente. Esse “descentramento do sujeito” ocorreu ao longo do percurso de Freud. 6.1 O descentramento do sujeito Para Freud a psicanálise implicava uma “ferida narcísica” para a humanidade devido aos descentramentos do psiquismo por ela promovidos. Antes da psicanálise aconteceram as revoluções copernicana e darwiniana: o homem acreditava ocupar um lugar privilegiado no cosmo e no campo do olhar divino, mas com a teoria heliocêntrica de Copérnico 21

Referências à filosofia hegeliana

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esta pretensão cai por terra literalmente; o homem era representado como um ser superior aos demais para o olhar divino, mas com a interpretação darwiniana foi remetido para as dimensões animais, perdendo sua aura de superioridade. E com a psicanálise? Esta retirou a última ancoragem da pretensão humana, o último reduto de sua suposta superioridade ao enunciar que a consciência não é soberana no psiquismo, e que o eu não era independente deste. Assim, a realidade psíquica deslocou-se da consciência e do eu para os registros do inconsciente e da pulsão, que passaram agora a regula-la. Registra-se aqui três sentidos diferentes de descentramento: da consciência para o inconsciente; do eu para o outro; da consciência, do eu e do inconsciente para as pulsões. O discurso freudiano colocou em questão os registros teóricos que o cogito se fundava: a consciência, o eu e a representação. 1. Da consciência ao inconsciente A consciência foi retirada de seu lugar destacado no psiquismo e relativizada em relação ao inconsciente. O inconsciente se contrapondo ao sistema pré-consciente e consciência (1a. tópica). O psiquismo constituído por representações permeadas por intensidades, que circulariam entre os diversos sistemas, quando ocorreria uma desarticulação e uma articulação da representação-coisa, materializando o impacto das pulsões, e a representação-palavra, remetendo à imagem acústica das palavras. A representação-coisa seria característica do inconsciente e a representação-palavra estaria no registro do pré-consciente, e do consciente temos o resultante da conjugação entre estes registros de representação. O registro do eu foi mantido como instância soberana no psiquismo, realizando a sua função cognitiva e, ainda, regulado pelo princípio da realidade. Dessa forma, o eu não seria uma instância sexualizada, mantendo-se pura racionalidade, podendo discriminar entre as representações inconscientes e as pré-conscientes e conscientes. Este descentramento do eu provocou efeitos importantes na filosofia: a fenomenologia criticou muito Freud pela promoção deste descentramento, pois a consciência perdia a sua consistência. Para os filósofos deste movimento, o inconsciente não passaria da condição de ser uma modalidade outra de consciência.

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Foi neste contexto teórico que Freud foi criticado por Sartre, nos anos 40, quando este insistia no mecanicismo e fisicalismo presentes na metapsicologia, esvaziando a consciência de sua plenitude. Para isso, baseou-se na fenomenologia de Husserl e na filosofia de Heidegger (Existencial), e em contrapartida enunciou a construção de uma analítica existencial, onde a centralidade moral e cognitiva da consciência seria retratada ou restaurada, devido ao destaque conferido ao conceito de projeto existencial. Já nos anos 60, Athusser ironizou a tradição fenomenológica e colocou Freud ao lado de Nietzsche como perturbadores desta filosofia. E, ainda, criticou os psicanalistas que se silenciaram mediante à sedutora e mundana teoria que estava implicada na fenomenologia e no existencialismo. Politzer valorizou a ruptura teórica da psicanálise com a psicologia clássica e a promoção do descentramento da subjetividade. Já Dalbiez, que criticou a doutrina freudiana, mas enfatizou a importância do método inaugurado pela psicanálise – a interpretação. De Politzer a Dalbiez consolidou-se uma tendência teórica na filosofia francesa, onde a psicanálise foi concebida como um saber da interpretação e onde se criticava o mecanicismo presente na metapsicologia. Aqui podemos destacar Lacan sustentando a depuração da metapsicologia de seus modelos mecanicistas, baseando-se na fenomenologia de Hegel e de Husserl, para destacar a inovação teórica do conceito de inconsciente. Na década de 50, Hyppolite aproximou a interpretação do modelo psicanalítico com a fenomenologia do espírito de Hegel, valorizando efetivamente o descentramento da subjetividade. Já nos anos 60, Ricoeur procurou inscrever a psicanálise no campo da filosofia contemporânea, enfatizando a sua dimensão hermenêutica, pois segundo ele, desde o séc. XIX surgiu a suspeita em relação à consciência como lugar de produção da verdade, evidenciada nos discursos de Nietzdche, Marx e Freud. 2. O outro Em 1914, Freud enunciou outro registro para o descentramento – o eu. O eu passou a ser concebido como uma instância totalizante do psiquismo e do corpo, e derivado do investimento do outro, e não seria originário como se pensava. 32


O outro é quem promoveria a unidade do eu e do corpo através de uma imagem. Constituía-se o narcisismo primário. Assim a subjetividade estaria sempre centrada entre o eu e o outro. O eu inscrito no campo do outro, perdendo sua autonomia absoluta, oscilando entre os registros do eu ideal e do ideal do eu. Foi a partir deste viés que Lacan introduziu Hegel na leitura da psicanálise, quando concebeu a constituição alienante do eu a partir da captura do outro – estádio do espelho. 3. Pulsão O conceito pulsão estava sempre referido ao registro psíquico do inconsciente, e que a pulsão seria fundamentalmente sexual. O conflito psíquico seria fundado estritamente no registro sexual, entre a libido do eu e a libido do objeto. Com o enunciado de pulsão de morte, em Além do princípio do prazer, Freud restabelece o conflito entre os registros do sexual e do não sexual. O não sexual enunciado como algo da ordem da morte se opondo decididamente à pulsão de vida. Com efeito, enquanto uma indicava a união e reunião, isto é, o amor (Eros) no sentido platônico, a pulsão de morte indicava a desunião, isto é, a discórdia (Tanatos). Neste contexto, Freud se valeu d referência de Empédocles, para apresentar a oposição insuperável entre o amor e a discórdia no fundamento da subjetividade. O descentramento, agora, colocou em questão o atributo da representação: Se a representação é uma produção de Eros, a pulsão de morte visaria sempre desconstruir as representações estabelecidas. Freud, aqui, baseou-se em Schopenhauer para dizer que o psiquismo se regularia pelo princípio de Nirvana, sendo necessária a insistência de Eros, para que o prazer se instituísse como princípio regulador da vida. Diante deste novo descentramento. Freud enunciou que tanto o funcionamento psíquico como a experiência psicanalítica poderiam ser formulados com a metáfora da guerra: não poderia mais saber qual seria o desdobramento de tal embate. E, por falar desta imprevisibilidade, desenvolveu um ensaio (1937), denominado Análise terminável e interminável, uma leitura trágica da subjetividade. Com esse terceiro descentramento surgiram novos fundamentos filosóficos: Lacan aproximou a pulsão de morte do conceito de vontade 33


de destruição de Schopenhauer; o próprio Freud com a compulsão de repetição de Kierkgaard. Focault, com sua leitura sobre o advento da hermenêutica na modernidade, no lugar da semiologia da Idade Clássica, aproxima-se teoricamente de Marx, Nietzsche e Freud. Rosset, também na constituição hermenêutica, aproxima Freud não somente de Nietzsche e Marx, mas também de Schopenhauer. Classifica a psicanálise no campo da filosofia trágica (pulsão de morte x pulsão de vida). Já Deleuze classificou a pulsão de morte no campo da filosofia da diferença, como crítica ao estruturalismo. Com a formulação final sobre o descentramento, Freud aproximou-se das filosofias de Nietzsche, Marx, Schopenhauer e Spinoza, e distanciouse das referências à Hegel, à fenomenologia, ao existencialismo e ao estruturalismo.

7. Conclusão Com todos estes desdobramentos, o discurso freudiano delineou um campo de interlocução com a filosofia, apresentando para esta novas questões. Diante de todo exposto aqui vale concluir que: 1. De Empédocles e Platão, Freud não recebeu efetivamente nenhum dos conceitos que integram o seu discurso; 2. A evocação de Empédocles se valeu mais como aval que era fornecido, o que não recebia de seus discípulos; 3. Que a convergência entre Empédocles e Platão, era por muitos proclamada, a que Freud também adere entre o discurso mítico e o derivado da atividade intelectual; 4. Que a linguagem do mito era a própria linguagem do inconsciente; 5. Que o trabalho de Freud sempre esteve voltado e centrado na observação clínica de seus pacientes; 6. O conceito de inconsciente pouco tem de comum com o que aparece apontado na obra de outros pensadores, pois somente Freud o tem como produto de um embasamento empírico.

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8. Bibliografia BIRMAN, J. Freud e a interpretação psicanalítica. Rio de Janeiro, Relume Dumará, 1991. _________. Freud e a filosofia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2003. CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Editora Ática, 1995. DURANT, Will. A história da filosofia. Os pensadores São Paulo: A nova cultural, 2000. FREUD, Sigmund. A interpretação dos sonhos. In: Obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Vol.IV e V. Rio de Janeiro: Imago, 1996 ______________. Três ensaios sobre a teoria da sexualidade. In: Obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Vol.VII. Rio de Janeiro: Imago, 1996. ______________. Totem e Tabu. In: Obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Vol.XIII. Rio de Janeiro: Imago, 1996 ______________. Metapsicologia. In: Obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Vol. XIV. Rio de Janeiro: Imago, 1996. ______________. Conferências introdutórias à psicanálise. In: Obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Vol. XV e XVI. Rio de Janeiro: Imago, 1996. ______________. Além do princípio do prazer. In: Obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Vol. XX. Rio de Janeiro: Imago, 1996. ______________. O futuro de uma ilusão. In: Obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Vol.XXI. Rio de Janeiro: Imago, 1996 ______________. Novas conferências introdutórias à psicanálise. In: Obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Vol.XXII. Rio de Janeiro: Imago, 1996. 35


______________. Análise terminável e interminável. In: Obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Vol. XXIII. Rio de Janeiro: Imago, 1996 FOUCAULT, Michel. A história da loucura. São Paulo: Ed. Perspectiva S.A, 1972. MAGEE, Bryan. História da Filosofia. Edições Loyola: São Paulo, 2001, p. 53 OSBORNE, Richard. Filosofia para principiantes. Objetiva Ltda: Rio de Janeiro, 1998 PENNA, Antônio Gomes. Freud, as ciências humanas e a filosofia. Rio de Janeiro: Imago, 1994.

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