Artesanato e Design

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Cristina テ」ila

ARTESANATO E DESIGN A ARTE DE CONSTRUIR OBJETOS



ARTESANATO E DESIGN A ARTE DE CONSTRUIR OBJETOS


ARTESANATO E DESIGN A ARTE DE CONSTRUIR OBJETOS Coordenação Geral: Francisco Caram

Fotografia: Brenda Marques Pena páginas: rosto e 4ª capa, 3, 8, 9, 11, 14, 15, 16, 17, 34, 50, 53, 54, 55, 56, 57, 58, 59, 61, 62, 63, 64, 66, 67, 75, 80, 83, 84, 85, 86, 88, 89, 91, 92, 98, 99, 100, 101, 102, 103, 107, 114, 137, 138, 139, 140, 158, 159, 161, 163, 164, 165, 166,167, 168,169, 1170, 171, 172, 173, 174,175, 178, 179, 180,,181, 182, 183, 184,185, 186, 188, 189, 192, 197, 198,

Coordenação editorial, Pesquisa histórica e Redação final: Cristina Ávila Projeto Gráfico: Sérgio Luz

Isabel Ávila - p. 45 Jean Assis - p. 24 Joubert Cândido

Produção Executiva: Neoplan Consultoria e Marketing Adp – Associação de Desenvolvimentos de Projetos. ISCEBRA – Instituto Sócio Cultural e Ecológico do Brasil Neoeditorial Equipe de Produção: Francisco Caram Luiz Claudio Rodrigues José Alfredo Salgado Júnior Theo Roberti Mendonça Roberval Santos Aquino Mauro Cassilhas Luiz Claudio Cassilhas Nathália Araújo Barros Oliveira Fabiana Pinheiro Ricardo Judice Cardoso Lucas Camisão Cintia Lopes Amaral Ludmila Santos Deslandes Brenda Marques Pena Iana Patrícia Martins Vieira

páginas: 12, 18, 45, 48, 49, 51, 52, 60, 70, 78, 79, 81, 94, 95, 106, 109, 111, 112,113, 115, 118, 120, 126, 127, 132, 141, 148, 149, 150, 151, 152, 153, 155, 160, 162, 176, 177, 187, 190, 191, 193, 195, 199, 200, 201, 204, 207, 208

Kátia Miranda - p. 90 Lux Color Fotografia - p. 39 Mariana Rocha Vasconcelos - p. 106 Sérgio Luz páginas: 10, 27, 28, 33, 38, 42, 43, 44, 65, 71, 72, 73, 74, 75, 77, 82, 86, 87, 93, 96, 97, 104, 105, 110, 116, 117, 119, 121, 122, 123, 124, 125, 128, 129, 131, 133, 134, 135, 139, 142, 143, 144, 145, 146, 147,

Revisão: Vanderléa Rocha

Ávila, Cristina A958a

Artesanato e design: a arte de construir objetos. / Cristina Ávila. –Belo Horizonte: Associação de desenvolvimento de Projetos, 2011. v. : il. 208 p. ISBN: Inclui referências. 1. Artesanato – Minas Gerais. 2. Objetos de arte. 3. Design. I. Título CDU: 745(815.1) CDD: 745


Cristina Ávila

ARTESANATO E DESIGN A ARTE DE CONSTRUIR OBJETOS

PRODUÇAO EXECUTIVA

GRUPO DE DESENVOLVIMENTO

ASSOCIAÇÃO DE DESENVOLVIMENTO DE PROJETOS

GRUPO DE DESENVOLVIMENTO

Rua Cuiabá, 1.244 - Prado - Belo Horizonte - MG - Brasil - CEP 30411-238 Tel.: 55 31 3275-0032 - Fax: 55 31 3291-0949 - www.gruponeoplan.com.br

ASSOCIAÇÃO DE DESENVOLVIMENTO DE PROJETOS

Rua Cuiabá, 1.244 - Prado - Belo Horizonte - MG - Brasil - CEP 30411-238 Tel.: 55 31 3275-0032 - Fax: 55 31 3291-0949 - www.gruponeoplan.com.br

Belo Horizonte ADP 2011

PATROCÍNIO


Agradecimentos: Affonso Ávila Amilcar Martins Isabel Ávila de Souza Lima Joubert Cândido Joanita da Cunha Santos Kátia Miranda Leonardo Assumpção Mariana Rocha Vasconcelos Mônica Todaro Nyssia Luz de Souza Lima Pedro Ávila de Souza Lima Rodrigo Duarte Yara Tupynambá Artesãos do Vale do Jequitinhonha Artesãos da Feira de artesanato da Afonso Pena Artesãos da Codevale Artesãos de Cachoeiro do Campo Artesãos de Ouro Preto Associação dos Artesãos da Praça Santa Rita de Sabará (As Arts) Associação de Artesãos de Barbacena Centro de Artesanato Mineiro Instituto Cultural Amilcar Martins/ICAM Memorial Minas Gerais-Vale Museu do Estanho SESC/MG Senac V&M do Brasil


Para KĂĄtia Caram Miranda, pela amizade, companherismo e gosto pela estĂŠtica popular mineira.



SUMÁRIO Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9 Conceituação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17 Artesanato . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17 Design . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19 Um pouco da história do design no Brasil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22 O surgimento do artesanato no Brasil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29 O Artesanato em Minas Gerais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37 Materiais mais utilizados no artesanato mineiro . . . . . . . . . . . . . . . . . 47 Barro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49 Fibras e vegetais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69 Fios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79 Pedras . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 113 Outros mateirais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 127 O Caso Específico e Exemplar do Vale do Jequitinhonha . . . . . . . . . . . . 149 Pequeno catálogo de peças do Vale do Jequitinhonha . . . . . . . . . . . . . 157 Artesãos de destaque do Vale do Jequitinhonha . . . . . . . . . . . . . . . . 191 Observações finais: a arte de construir objetos . . . . . . . . . . . . . . . . . 201 BIBLIOGRAFIA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 205



INTRODUÇÃO “O processo de produção artesanal, atualmente, guarda muitas influências do processo do passado. Dessa forma, não perdeu as características autênticas que poderiam ter sido superadas pelo desenvolvimento de novas tecnologias.”(...) Micênio Lopes dos Santos/Gustavo Melo Silva

Sentir-se parte do mundo, para algumas pessoas, é como sentir-se parte da natureza e, por meio dela, construir objetos utilitários ou decorativos que dialoguem com o território em que vivem e com a imaginação e a criatividade que uma região nelas desperta. Segundo o mestre Aurélio, artesanato são a técnica e a arte do artesão. Atualmente, artesanato, ecologicamente correto, é o caminho a percorrer, meta a ser atingida. Para o antropólogo e especialista em folclore e artesanato Saul Martins, artesão é a pessoa que faz com as mãos objetos de uso frequente na comunidade. O aparecimento do artesão seria, portanto, o resultado da paixão exercida pela necessidade sobre a inteligência, aliada à capacidade de inovação. (SEBRAE, 2006/2007, p.19). Existe grande distância entre o artesanato e os objetos industrializados. A mão do homem confere um estilo próprio, engrandecedor ao objeto, um sentido ao qual só se chega por meio da manipulação do material que, ao invés de ser igualitário, é errôneo, irregular, desigual. As bordas nem sempre são idênticas, podem ser tortas, não possuem equilíbrio lógico. Aí se encontra a grandeza do ato do artesão. A beleza da peça artesanal está na utilidade e no uso, ás vezes em um entre lugar, mesmo no indefinido, não no fato de ser único, como uma obra de arte em si, mas no parecer ser algo por demais conhecido, mas nunca idêntico. Presta-se à decoração, ao deleite, ao lazer, ao uso cotidiano e mesmo à fruição estética. Está em um campo intermediário e próximo do humano em sua variedade de materiais e técnicas.


Além disso, peças em série precisam de moldes e não de técnicas vindas da história, da oralidade, do observar, nem são passadas de geração a geração com acréscimos lentos à evolução da manufatura. Já a mecanização elimina a variação criativa, o acréscimo de um motivo, de uma imagem que vem à cabeça de um momento para outro, a identidade cultural de uma família de artesãos, uma região com sua fauna e flora, seu meio ambiente natural, uma etnia e as possibilidades que um material confere. A ideia é o ideal, e a prática é o refinamento. Existe um caminho percorrido até se encontrar marcas da ancestralidade na invenção atual, que inclui trocas dentro de um tempo volúvel, no qual vivências humanas imperam por meio das mídias. Outro aspecto interessante é que mesmo que o artesão siga um padrão, o objeto elaborado artesanalmente não segue um projeto a priori, como no caso do design (cuja palavra inglesa muitas vezes é mal compreendida como desenho, mas se refere essencialmente à prospecção, risco, projeto, seja em qualquer área que o profissional designer atue), tornando - se atemporal.

Cerâmica do designer Máximo Soalheiro., produzida para o filme Vinho de Rosas de Elza Cataldo.

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Cerâmica Saramenha Leonardo Ri Ouro Branco/MG Acervo Centro de Artesanato Mineiro

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Artes찾s pintando galinhas de cer창mica no atelier do artes찾o Valmir Santos, na cidade de Santa Cruz de Minas/MG.

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Para uma compreensão mais precisa, cabe definir que artesão é aquele que constrói à mão ou com instrumentos precários ou artesanais, em geral elaborados por ele próprio, objetos de uso frequente para uma comunidade, como faziam outrora e ainda fazem as comunidades tribais. A escolha do campo artesanal é apresentada para a população que vive do artesanato por meio do material adequado à transformação e que seja mais abundante no seu local de trabalho. Decorre, portanto, de seus recursos materiais. Assim, a pessoa que se dedica a essa forma tradicional de trabalho se inclina sobre uma determinada matéria não apenas em decorrência de uma habilidade manual, nem muito menos por um Kunstwollen ou vocação artística, mas aplica habilidades adquiridas na prática tradicional com o que encontra com mais facilidade. Portanto, emprega-se no artesanato o material disponível, gratuito ou de baixo preço. No artesanato indígena ou no doméstico, esse é normalmente extraído da natureza, mas não deixa de ser artesanato a produção de objetos com o aproveitamento de retalhos de papel, panos, fios de arame, de linha etc. A atividade artesanal está ligada aos recursos da natureza do estilo de vida e do grau de comércio com comunidades vizinhas, sendo o artesanato uma manifestação da vida comunitária. Dessa forma, se a argila é facilmente encontrada, teremos núcleos de ceramistas, como ocorre no Vale Jequitinhonha, o mesmo acontecendo com os teares na região do Campo das Vertentes, antiga tradição, guardada especialmente pelas mulheres. A habilidade da mão de obra artesanal resulta do hábito de confeccionar objetos e de seu aprimoramento. Um artesão não nasce um artesão, mas passa a fazer parte dessa categoria profissional pelo aprendizado que geralmente se dá desde a infância. Essa aprendizagem ocorre de maneira prática e informal, passada pela oralidade e motivada pelo convívio comunitário em um meio artesanal desenvolvido.

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Tradicionalmente, a formação do artesão se dá através de oficinas formais, nas quais o aprendiz lida com a matéria - prima, maneja as ferramentas, colhe o material e imita os mais entendidos no ofício. A princípio, o aprendiz faz tarefas simples ou de menor responsabilidade até chegar a tarefas finais e completas, quando passa a fazer parte do grupo dos artesãos ou passa a criar sua própria oficina, podendo, nesse ponto, ser chamado de mestre artesão. Essa é uma prática muito antiga, que remonta ao período medieval, quando foram criadas as corporações de ofícios e os chamados oficiais artesãos. Mas a atividade artesanal teve seu início na pré-história. Alguns artesãos se distinguem por revelar em sua arte não apenas traços culturais, oriundos de sua localidade ou experiência de vida em comunidades ou oficinas, mas os transformam, por meio de uma capacidade própria, o que é chamado de traço individual ou artístico de um artesão. É o que ocorreu com alguns artesãos do Vale do Jequitinhonha, que ganharam notoriedade nacional e mesmo internacional, como Noemisa Batista, Aparecida Gomes Xavier, Ulisses Pereira Chaves, entre outros que fazem parte de acervos de colecionadores e museus. Muitas técnicas foram mantidas em segredo pelos artesãos e descendem de povos autóctones. Ainda há uma predominância da mulher e da criança nas artes manuais, cujas presenças asseguram continuidade aos

Fachada histórica Wilson Fraga Gesso policromado Sabará/MG Acervo Centro de Artesanato de Sabará

artesanatos de diversas regiões, cabendo aos homens uma parcela menor nessa atividade, porém crescente devido ao mercado que se abre por meio das feirinhas de rua e mesmo de casas especializadas e associações. Esta publicação visa divulgar os afazeres artesanais mineiros, usando como método de organização não só as regiões, mas, sobretudo, os materiais, os temas e os autores na medida do possível. Dessa forma, pensamos em contribuir para a preservação dessa preciosa faceta criativa

Página anterior: Vista do interior do Mercado Central

do fazer humano tão presente na cultura mineira.

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Conceituação Artesanato Existem muitas dúvidas com relação ao surgimento da palavra artesanato. De acordo com a maioria dos estudiosos do tema, a criação do termo estaria vinculada ao vocábulo italiano artigiano, que significa artesão. No século XIX, artigiano evoluiu para artigianato para designar o regime de trabalho dos artesãos. No vocabulário francês, no século XV, surge a palavra artisan (artífice ou operário, membro de uma corporação de ofícios ou ainda artesão), e no século XX, temos o uso corrente do termo artisanat (artesanato), com o sentido de trabalhos manuais ou artesanais independente de oficinas. Em romeno, se diz artesano e em espanhol, artesania. Em alemão, temos handwerk (trabalho a mão ou trabalho manual, com o mesmo significado de artesanato. Já em inglês, há algumas diferenciações sutis handmade (artesanato), handcraft (arte manual) e handcraftsman (artífice manual, trabalhador manual ou artesão) ou craftsman (artesão propriamante dito). Em todos os grupos sociais, independente do nível de evolução econômica ou desenvolvimento comunitário, existem e sempre existiram trabalhos manuais e artesanais, seja em culturas ditas primitivas, semi-civilizadas, civilizadas, orientais ou ocidentais. De acordo com Saul Martins, alguns aspectos são importantes para a definição do que é o verdadeiro artesanato, a esses acrescentamos outros frequentemente observados nos dias de hoje, principalmente nos modos de divulgação e venda. Caracterizamos aqui alguns que consideramos essenciais: • O processo de trabalho artesanal é manual, ou seja, o trabalho se faz a mão ou com o auxílio de ferramentas simples de criação própria; • Os padrões são tradicionais, sem uso de moldes; • Produção de objetos úteis e, ao mesmo tempo, artísticos ou apenas úteis, mas que podem adquir valor estético mediante aprimoramento técnico e bom-gosto;


• Os artesãos criam formas e não simples produtos ou bens econômicos; • Emprego de material disponível, na maioria das vezes extraído do local de moradia. Contudo são também artesanais objetos feitos com aproveitamento de retalhos de papel, folha-de flandres, cobre, pano, fios de arame, linha ,restos de produção industrial reciclados etc. • Possuem caráter doméstico ou familiar, que é mantido como tradição; • Não há divisão ou hierarquização de trabalho, o artesão realiza todas as etapas do processo. Existe apenas a condição de aprendiz; • A aprendizagem é informal ( não acadêmica), mesmo que em oficinas, portanto prática; • O processo econômico é primário; em geral a venda é feita pelo próprio artesão; com exceção de comunidades que já possuam associações e meios de comunicação com atravessadores que exponham o trabalho em locais mais urbanas, em feiras, em lojas especializadas, chegando até a exportação, acontecimentos mais recentes. • É comum a qualquer povo e pode ser encontrado em qualquer camada social ou cultural. Desde as primitivas às civilizadas e até mesmos nas mais ricas.

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Design A palavra design surgiu, originalmente, de designare, termo em latim, mais tarde adaptado para o inglês design. Houve uma série de tentativas de tradução da palavra para o português, como projética industrial ou desenho industrial, que acabaram em desuso. Há que se considerar que as tentativas de tradução tiveram o erro comum de confundir design com desenho, quando o correto é a identificação com projeto. Portanto, para se ter um profissional que faça design, esse deve ter uma formação acadêmica ou erudita que possibilite que ele elabore um projeto funcional para a confecção de um determinado objeto por meio de um processo industrializado. No Brasil, graças à colonização, o processo de industrialização foi muito lento. Apenas em 1808, chegando ao Brasil a família real portuguesa, D. João VI revogou o alvará de D Maria I, abriu os portos ao comércio exterior e fixou taxa de 24% para produtos importados, exceto para os portugueses, que foram taxados em 16% . Em 1810, por meio de um contrato comercial com a Inglaterra, foi fixada em 15% a taxa para as mercadorias inglesas por um período de 15 anos. Nesse período, o desenvolvimento industrial brasileiro foi mínimo devido à forte concorrência dos produtos ingleses, que, além de serem de melhor qualidade, eram mais baratos, o que favoreceu a continuidade dos processos artesanais. Na década de 1880, ocorreu o primeiro surto industrial, quando a quantidade de estabelecimentos passou de 200, em 1881, para 600, em 1889, número ainda bem pequeno para um país do porte e tamanho do Brasil. Entre julho de 1914 e novembro 1918, ocorreu a Primeira Guerra Mundial e, a partir daí, constatase que os períodos de crise foram favoráveis ao crescimento industrial brasileiro. Isso ocorreu também em 1929, com a Crise Econômica Mundial / Quebra da Bolsa de Nova York e, mais tarde, em 1939, com a II Guerra Mundial, até 1945. Muitas dessas indústrias estavam nas mãos de imigrantes estrangeiros, que usavam projetos oriundos de seus países. Como veremos, a indrodução dos estudos acadêmicos de design no Brasil é recente e posterior à industrialização. Primeiro formamos operários, técnicos, engenheiros, arquitetos, para mais tarde pensarmos em um designer brasileiro, sendo esse papel cumprido por arquitetos, artistas plásticos e autodidatas.

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Voltando ao nosso tema, sintetizando, podemos dizer que design é sinônimo de projeto. Designer é o profissional que projeta os artefatos. Designer é a pessoa. E design é a atividade. É errônea, ainda que corrente, a afirmação de que alguém que está estudando “Design” ou apesar de estar estudando para ser um “designer”, seja chamado de designer. Mas não temos uma tradução mais adequada para denominar essa profissão. Na Bauhaus, adotou-se a palavra Gestaltung, que significa o ato de praticar a gestalt, ou seja, lidar com as formas ou formatação. Portanto, podemos denominar de design qualquer processo técnico e criativo relacionado à configuração, concepção, elaboração e especificação de um artefato por meio de um projeto. Esse processo normalmente é orientado por uma intenção ou objetivo ou para a solução de um problema. O design surge a partir da chamada Revolução Industrial, que teve início no século XVIII, na Inglaterra, com a mecanização dos sistemas de produção. Enquanto na Idade Média o artesanato era a forma de produzir mais utilizada, na Idade Moderna tudo muda. A burguesia industrial, ávida por maiores lucros, menores custos e produção acelerada, busca alternativas para melhorar a produção de mercadorias, como a criação de maquinaria, que cada vez mais substitui o trabalho manual e aumenta a tiragem da confecção de objetos. Para isso torna-se necessário não apenas projetar as máquinas, mas os objetos que as máquinas iriam fabricar, nascendo os incipientes operários (que manipulam as máquinas) e os designs, que projetam a fatura dos objetos que devem ser ergometricamente perfeitos. Temos várias coisas que podem ser projetadas, incluindo muitos tipos de objetos, como utensílios domésticos, vestimentas, máquinas, ambientes, e também imagens, como em peças gráficas, fontes tipográficas, livros e interfaces digitais de softwares ou de páginas da internet, redes sociais, entre outros. Existem diversas especializações, de acordo com o tipo de coisa a projetar. Atualmente, as mais comuns são o design de produto, o design gráfico, o webdesign, o design de moda e o design de interiores. O profissional que trabalha na área de design é chamado de designer.

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Há muita confusão quanto à filiação histórica do design. Mas cabe destacar, certamente, que a diferença fundamental entre designer e artesanato é que o objeto de design é fruto de um trabalho intelectual de natureza acadêmica, com estudos, medições ergonométricas, diagramações, processos científicos, matemáticos por meio de interfaces artísticas ou não, com grandes tiragens, podendo chegar a milhões de exemplares e com inspirações variadas, indiferentes da natureza, da comunidade e do local em que é feito. Tem caráter internacional. Sempre apresenta um projeto anterior, está em constante evolução tecnológica, independente da tradição, mesmo que essa possa ser usada como repertório teórico de estilos ou formas. Esse aspecto o diferencia completamente do artesanato, ainda que guarde algum parentesco com esse em relação à funcionalidade ou estética.

Poltrona Leve - Joaquim Tenreiro, 1947. Acervo particular

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Um pouco da história do design no Brasil Apesar de alguns historiadores tradicionais terem ligado a história do design brasileiro às origens coloniais, é um erro pensar em design em uma época em que, apesar de existirem mestres que produzissem objetos utilitários mais requintados, a esfera de ação desse estava limitada a uma comunidade, a pequenas oficinas e corporações de ofícios de caráter artesanal. Se pensarmos empiricamente, sem rigor cientifico, poderíamos dizer que o design brasileiro tem suas raízes ligadas à formação de uma cultura nacional. Para alguns autores, algumas atividades ligadas ao design já podem se observadas no século XIX, embora sem uma estrutura de ensino regular e mesmo sem seu reconhecimento como atividade distinta da arquitetura, da arte e da indústria de objetos utilitários. Guilherme Cunha Lima considera Eliseu Visconti como um dos precursores do moderno design brasileiro e também pioneiro no ensino dessa atividade em nosso país. Convidado em 1934 por Flexa Ribeiro, à época diretor da Escola Politécnica da Universidade do Rio de Janeiro, Visconti organiza e ministra um curso de extensão universitária em arte decorativa e arte aplicada às indústrias, adotando em seus ensinamentos a orientação de Eugène Grasset, uma das mais destacadas expressões do art-nouveau na França.

Autoretrato com pincéis Eliseu Visconti 1942 Óleo sobre madeira Coleção Itaú

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Mas a área só começaria a ser tratada como especialidade artística diferenciada a partir da criação do primeiro escritório de design no país, o FormInform, por Alexandre Wollner, Geraldo de Barros, Rubem Martins e Walter Macedo, após a volta de Wollner da Europa em 1958. Sua atividade levaria depois à fundação da primeira escola superior de design, a Escola Superior de Desenho Industrial (ESDI), no Rio de Janeiro, em 1963, sendo o marco inicial da profissionalização do design no Brasil. Muitos anos mais tarde nasceria a primeira entidade de classe, em 1987, no Rio Grande do Sul, a Associação dos Profissionais em Design do Rio Grande do Sul (APDesign). Ela seria seguida pela Associação dos Designers Gráficos (ADG, 1989), a Associação dos Designers de Produto (ADP) e a Associação Brasileira de Empresas de Design (ABEDesign), ambas de 2003. O design brasileiro possui grandes representantes, como o precursor Joaquim Tenreiro, nascido em Portugal e fixado no Brasil, onde trabalhou de 1933 a 1943 em firmas como a Laubisch & Hirth, Leandro Martins e Francisco Gomes, especializadas em fornecer móveis imitativos dos velhos estilos franceses, italianos, portugueses e de outras origens. Os internacionalmente conhecidos Irmãos Campana (Humberto e Fernando) na área de objetos e móveis decorativos e utilitários. Décio Pignatario, poeta concretista e um dos pioneiros da arte gráfica de vanguarda.

Décio Pignatari

Os representantes do MoMA Design Store, a loja do MoMA, no Soho, NY, que estiveram no Brasil, selecionaram os designers Kimi Nii, Francisca Junqueira, Renata Meirelles e Marcelo Kiokawa, participantes da mostra Paralela Gift, de 2 a 5 de março de 2009, no Pavilhão da Bienal no Ibirapuera, para integrar o Projeto MoMA’s Destination Design Program. No campo da moda, a São Paulo Fashion Week divulgou para o mundo nomes como o do mineiro Ronaldo Fraga, de Alexandre Hercovitch e do novíssimo Pedro Lourenço. Mas, só recentemente o design brasileiro tem assimilado a rica contribuição do artesanato popular em seu repertório estilístico. Em termos culturais, o Brasil conta hoje com um museu dedicado à preservação da memória do design brasileiro, o Museu da Casa Brasileira, que mantém o mais importante prêmio do setor em âmbito nacional, o Prêmio Design do Museu da Casa Brasileira.

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Croqui Coleção Verão 08-09 Ronaldo Fraga http://namidiacom.wordpress.com/2008/06/17/preview-verao-08-09-ronaldo-fraga/ - divulgação

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Vaso castiçal Alumínio reciclado Design de Eliseu de Rezende Santos

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Vestido Pulp Fiction (croquis e peça confeccionada) Estilista Marcos Pessoa Coleção “A vida é sonho”, confecção Cristina Ávila (modelo Carol Greiner - Agência Ford) 26


quadro

2,70 m

vidro

2,40 m

Estante para living de apartamento SĂŁo Pedro - Belo Horizonte/MG Designer Maria de Lourdes Resende Obra de arte Niura Bellavinha

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Caixa de papelão para colocar as lâminas impressas (os poemas de Laís e as pinturas de Niura), colada sobre capa dura coberta com papel verde

Clips - poemas de Laís Corrêa de Araújo e desenhos de Niura Bellavinha Design gráfico de Sérgio Luz

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O surgimento do artesanato no Brasil Quando o Brasil foi descoberto pelos europeus, inúmeros povos autóctones já tinham um alto desenvolvimento em atividades artesanais, fossem cerâmicas, cestaria para uso utilitário, lúdico ou religioso, assim como a incrível arte plumária e a pintura corporal. Muitos historiadores e antropólogos consideram o ponto alto da arte indígena os trançados indispensáveis ao transporte de caça, da pesca, de frutas, para a construção do arcabouço e da cobertura da casa e para a confecção de armadilhas. Um aspecto de destaque é que o indígena tem um alto nível de exigência estética e beleza, mesmo nos objetos mais utilitários. Outro aspecto importante a ressaltar: a arte indígena é mais representativa das tradições da comunidade em que está inserida do que da personalidade do indivíduo que a faz. É por isso que os estilos da pintura corporal, do trançado e da cerâmica variam significativamente de uma tribo para outra. Indiozinho (exemplo de arte plumária brasileira) - Mato Grosso Fonte: LAGO, Pedro Corrêa. Coleção Princesa Isabel - Fotografia do século XIX. Rio de Janeiro. Capivara, 2008. Acervo ICAM. Foto de Marc Ferrez

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Indiozinho com pé sobre cabeça de onça - Mato Grosso Fonte: LAGO, Pedro Corrêa. Coleção Princesa Isabel - Fotografia do século XIX. Rio de Janeiro. Capivara, 2008. Acervo ICAM Foto de Marc Ferrez

Tacape - arma indígena xavante - Mato Grosso Coleção Affonso Ávila Foto: Brenda Marques 30

Indio brasileiro - Mato Grosso Fonte: LAGO, Pedro Corrêa. Coleção Princesa Isabel - Fotografia do século XIX. Rio de Janeiro. Capivara, 2008. Acervo ICAM Foto de Marc Ferrez


Abano indígena xavante - Mato Grosso Coleção Affonso Ávila Foto: Sérgio Luz

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É preciso não esquecer que tanto um grupo quanto outro conta com uma ampla variedade de elementos naturais para produzir seus objetos: madeiras, caroços, fibras, palmas, palhas, cipós, sementes, cocos, resinas, couros, ossos, dentes, conchas, garras e plumas das mais diversas aves. Como em todas as culturas, um material tão variado aumenta as possibilidades de criação, como, por exemplo, os barcos e os remos dos Karajá, os objetos trançados dos Baniwa , as estacas de cavar e as pás de virar biju dos índios xinguanos. As peças de cerâmica que se conservaram testemunham muitos costumes dos diferentes povos autóctones. Possuem uma linguagem artística que influenciou diversas culturas e traduzem a experiência de amassar o barro encontrado em diversas comunidades brasileiras. Entre os povos indígenas, as peças da Ilha de Marajó são divididas em dois tipos: Santarém e Marajoara. As peças de Santarém apresentam tamanho pequeno, porém bem trabalhado. Já as peças Marajoaras têm tamanho grande e normalmente contêm pinturas de deuses ou animais, sempre contendo cores avermelhadas. Entre diversas tribos são encontradas máscaras. Essas costumam ter um caráter duplo: ao mesmo tempo em que são artefatos produzidos por um homem comum, são a figura viva do ser sobrenatural que representam. Elas são feitas com troncos de árvores, cabaças e palhas de buriti e são usadas geralmente em danças cerimoniais, como, por exemplo, na dança do Aruanã, entre os Karajá, quando representam heróis que mantêm a ordem do mundo. As cores mais usadas pelos índios para pintar seus corpos são o vermelho muito vivo do urucum, o negro esverdeado da tintura do suco do jenipapo e o branco da tabatinga. A escolha dessas cores é importante, porque o gosto pela pintura corporal está associado ao esforço de transmitir o estado de espírito em que a tribo se encontra – tristeza, alegria ou conflito por exemplo. Dentre todas as artes artesanais indígenas, a mais festejada é a arte plumária. No Brasil, existem pelo menos 30 grupos indígenas que produzem adornos plumários. Alguns deles: Xavante, Waurá, Juruna, Kaiapó, Tukano, Urubus-Kaapor, Asurini, Karajá. É interessante observar que a confecção das peças é feita exclusivamente pelos homens, que obedecem a um ritual de caça, coleta, separação, tingimento, corte, amarração da matéria-prima, a fim de dar uma forma específica a ela.

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Cerâmica Marajoara Anisio Belém/PA Coleção particular

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Ilustração de Debret Diversas “baianas” vestindo panos-da-costa numa rua do Rio de Janeiro do século XIX. Acervo ICAM 34


Extrapolando o conceito de enfeite, a arte plumária é um símbolo usado em ritos e cerimônias. Pode representar mensagens sobre sexo, idade, filiação (clã), posição social, importância cerimonial, cargo político e grau de prestígio dos seus portadores e possuidores. O uso dos ornamentos com plumas é quase privativo aos homens, principalmente nos cerimoniais em que eles possuem um papel mais destacado do que o das mulheres. Quando as índias usam algum enfeite plumário, ele se restringe aos tornozelos e são bastante discretos. Nos primórdios coloniais, era comum levar peças de artesanato indígena para a Europa como uma espécie de souvenir, e os mesmos indígenas influenciaram os primeiros colonizadores com suas técnicas de construção, cestaria, polimento de pedra, teares, tigelas e outros materiais utilitários. A escravidão indígena trouxe para os engenhos uma cultura de manejo com armas (arco e flecha), confecção de tecidos de algodão, cerâmicas para cozimento de carnes etc. A vinda de negros escravizados ao Brasil possibilitou a inclusão de novas raízes culturais ao Brasil. A que mais conhecemos é a vertente musical, especialmente o lundu, e o batuque, de onde se originaria o samba. Há também as religiões, a culinária e a dança. Mas o artesanato foi também fundamental. O Alaká africano, conhecido como pano da costa no Brasil, é produzido por tecelãs do terreiro de Candomblé Ilê Axé Opô Afonjá em Salvador, no espaço chamado de Casa do Alaká. Mestre Didi, Alapini (sumo sacerdote) do Culto aos Egungun e Assògbá (supremo sacerdote) do culto de Obaluaiyê e Orixás da terra, é também escultor e seu trabalho é voltado inteiramente para a mitologia e arte yorubana. Nos primeiros anos de colonização, foram instaladas oficinas artesanais que se espalharam por todas as comunidades urbanas e rurais, onde os artesãos tiveram a iniciativa de desenvolver suas habilidades. Mas, por meio da Carta Régia de 30 de julho de 1766, D. José I manda destruir as oficinas de ourives e declara fora da lei a profissão. Seu exemplo foi seguido por sua sucessora ao trono D. Maria I, que perseguiu quase todas as formas artesanais do Brasil.

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Aos alvarás da Rainha Maria I, seguem-se o de 5 de janeiro de 1785 e o de 26 de janeiro do mesmo ano, que proibiam a tecelagem caseira na colônia, abrindo apenas exceção para a tecelagem de panos grossos e que fossem destinados a vestir escravos. Essa situação só se reverteu com a carta régia do Príncipe Dom João de 1º de abril de 1808, que anulava alvarás proibidos de sua mãe e autorizava a atividade industrial caseira fosse ela qual fosse. D. Pedro I, na Constituição outorgada a 25 de março de 1824, aboliu as corporações de ofício no Brasil, seguindo assim o exemplo francês, embora atrasado. A carta da República de 14 de fevereiro de 1891, assim como a de 16 de julho de 1934, omitiam-se completamente, ignorando o artesanato. Mas a Constituição de Getúlio Vargas, de 10 de novembro de 1937, amparou-o no seu artigo 136. “O trabalho manual tem direito à proteção e solicitudes especiais do Estado”. As cartas que se seguiram silenciaram-se com relação ao artesão. As únicas referências até a metade do século XX proíbem a diferença entre o trabalho manual e técnico ou cientifico, em parágrafo único nº XVII art. 157 de 18 de setembro de 1946 e no parágrafo XVIII do artigo 158 da Constituição Castelana de 24 de janeiro 1966. Países mais desenvolvidos não se omitem em relação ao artesanato e protegem sua indústria caseira, reconhecendo sua elevada relevância econômica. Decreto nº 1.508, de 31 de maio de 1995, dispõe sobre a subordinação do Programa do Artesanato Brasileiro, e dá outras providências. Decreto nº 1.508, de 31 de maio de 1995, dispõe sobre a subordinação do Programa do Artesanato Brasileiro, e dá outras providências. Segundo o decreto, o artesão é considerado contribuinte individual pela Previdência Social e como trabalhador autônomo deve pagar o INSS. Além disso, muitos estados criaram associações e leis que protegem o verdadeiro artesão, inscrevendo e cadastrando-o em programas de apoio, comercialização e valorização do trabalhador.

Oxum - Ilustração do livro Os Deuses Africanos no Candomblé da Bahia de Caribé

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O Artesanato em Minas Gerais O artesanato mineiro tem como característica a multiplicidade de tipos e revela traços do passado colonial barroco. As igrejas e religiosidades inspiram os artesãos, que, com suas mãos habilidosas, produzem peças em prata, estanho, madeira, palha, ferro ou barro. Ao lado de grandes artistas e artífices, eram importantíssimos os oficios artesanais. Grandes nomes como Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, trabalhavam no sistema de oficina, usando mão de obra negra, infantil e artesãos para trabalhos auxiliares, eram os chamados aprendizes. Diante disso, podemos dizer que, desde o século XVIII, trabalhadores que utilizam as mãos e algum instrumento como extensão dos dedos para confeccionar peças de uso decorativo e utilitário se fazem presentes nas áreas colonizadas de Minas Gerais. Oficinas caseiras exibiam mestres, oficiais e aprendizes nas mais diversas atividades: produção de mobiliário doméstico, joalheria, instrumentos musicais, de trabalho e de transporte, objetos de lazer etc. Além disso, ao partirem para o centro da Colônia, tomados pela cobiça às pedras preciosas, junto às chamadas Entradas e Bandeiras, muitos homens carregavam experiências artesanais, que se mesclaram às experiências indígenas e, posteriormente, com a dos negros africanos, criando então uma variada e fantástica produção artesanal, que, nos dias atuais, chega a um alto nível de execução. As sociedades que se formaram em consequência do ouro tiveram um caráter urbano e havia necessidade de todo tipo de produto, o que propiciou uma economia no setor de transformação bastante eficaz. A sociedade mineira, escravista, não excluía do cenário social grupos de produtores independentes e trabalhadores livres. Pela necessidade, o mineiro criou e recriou suas peças com arte e beleza. No século XVIII, o processo de produção artesanal do mineiro foi enriquecido, principalmente pela criatividade de mestiços. E, embora se considerem notáveis as experiências portuguesas transplantadas e sincretizadas, a cerâmica, a tecelagem e a cestaria receberam influência indígena marcante, perceptível ainda em nossos dias. No século XIX, imigrantes e seus descendentes – italianos, alemães, judeus, sírio-libaneses, turcos, ciganos, ingleses, franceses e espanhóis marcaram, também, a história da cultura mineira, por meio de objetos artesanais, culinária típica, usos e costumes.

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Roca de tear Fazenda mineira Campo Belo/MG Sテゥculo XIX Coleテァテ」o Affonso テ」ila

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Advindo muitas vezes de mãos simples e pobres, o artesanato mineiro, tradicional ou novo, é uma arte popular marcada pela ousadia criativa. São mãos que moldam o barro, que conduzem o tear, que entalham a madeira, bordam panos, trançam a palha, confeccionam cestos, esculpem a pedra-sabão, fazem o metal obedecer a sua vontade, lapidam as pedras preciosas e semi-preciosas, produzindo jóias magníficas, entre inúmeras outras técnicas e materiais que são processados. Entretanto, não só o talento e a inspiração desse povo consagraram o artesanato mineiro como um dos mais admirados nas mais importantes salas de exposições pelo mundo, também os recursos naturais abundantes, necessários a essa atividade, se encontram por todo o território, do norte ao sul, do leste ao oeste. O artesanato teve seu reconhecimento em Minas no ano de 1969, quando foi fundado o Palácio das Artes, e nele um espaço dedicado ao artesanato mineiro, o Centro de Artesanato Mineiro. Até a década de 70, o artesanato era incipiente. Foi o movimento hyppie, a partir dos anos 60, que levou o artesanato para as ruas, mostrando-o principalmente aos estrangeiros que visitavam o Brasil. A partir de então, o artesanato teve o seu boom, firmando-se como uma das mais importantes manifestações artísticas e culturais do país. Foi quando houve o surgimento, em todas as partes, das chamadas feiras hyppies. Controversas, essas, hoje, não mostram um artesanato de raiz, mas exibem, desde peças de fatura manual de boa qualidade, a outras feitas em máquinas de tear modernas e mesmo industrializadas, sendo mais um mistão de revendas e exibição de trabalhos de toda espécie, longe do artesão de raiz e mais aproximado do trabalho manual influenciado por diversas mídias,vindos de outros estados, países, inclusive peças americanizadas. É sempre possível encontrar até camelôs e falsificações de todo o tipo, por isso o consumidor deve ter um bom olho para separar o joio do trigo e não cair na armadilha de falsos artesões. O melhor para quem quer conhecer o verdadeiro artesanato mineiro é procurar as Associações de classe, lojas autorizadas, Centros de artesanatos, já que hoje a fiscalização feita pelas prefeituras das inscrições de artesãos em feiras nem sempre é eficiente. Em 1974, a CODEVALE, entidade autárquica de Minas Gerais, foi criada, com o objetivo de promover o desenvolvimento da região do Vale Jequitinhonha, que guarda um dos mais expressivos núcleos de artesãos mineiros. Ela foi extinta, sendo substituída pelo Instituto de Desenvolvimento do Norte e Nordeste de Minas Gerais (IDENE), criado em 2002.  39


O Sebrae/MG lançou recentemente o Catálogo de Artesanato Minas Gerais/série Tipologias para divulgar produtos mineiros. Em quatro volumes, a coleção mostra peças produzidas por 370 artesãos. Os catálogos fazem parte do Programa SEBRAE de Artesanato para profissionalizar a atividade artesanal no estado, tornando-a competitiva e sustentável. Hoje, o artesanato produzido em Minas Gerais é reconhecidamente um dos mais expressivos da América Latina. A produção artesanal é exportada para a Europa e os Estados Unidos. Objetos como os tapetes arraiolos de Diamantina, as cerâmicas do Jequitinhonha e a prataria de Tiradentes chegam às galerias de arte, museus e lojas de todo o mundo. O artesanato mineiro se transformou em fonte de renda e incentivo ao turismo, beneficiando e distribuindo renda às mais diversas camadas da população. Ao confeccionar objetos, a criatividade do mineiro sempre foi especial. Nas variadas regiões culturais, de acordo com o processo histórico de cada uma, sobressaem-se diversas peças artesanais típicas. Catálogo SEBRAE. Acervo ICAM

Quem conhece a história da colonização mineira, suas cidades coloniais, recursos minerais e naturais compreende a presença de objetos utilitários e decorativos tão belos e talhados para o sucesso.

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Materiais e Técnicas As condições naturais de Minas Gerais, desde os primórdios de sua colonização, abriram espaço para a criação e adaptação de estilos artísticos. Um dos melhores exemplos de adaptação é a utilização da pedra-sabão, que, na ausência do mármore, material nobre e inexistente na região, foi largamente usado na confecção de peças utilitárias e mesmo na decoração arquitetônica de obras-primas. Exemplo fundamental são as portadas de igrejas, como a portada da Igreja de São Francisco de Assis, em Ouro Preto, obra de Antônio Francisco Lisboa - o Aleijadinho, cujo traçado é considerado extraordinário.

42 - Imagens de Minas Igreja de São Francisco de Assis

Portada da Igreja de São Francisco - Antônio Francisco Lisboa - O Aleijadinho Ouro Preto/MG.  41


As adaptações também podem ser notadas no campo da pintura, no mesmo templo, com a solução da decoração de parede em painéis laterais em azulejaria fingida ( imitação de azulejo), feitos em madeira, emoldurados ao gosto rococó, então em voga, que contam a história da vida de Abraão. Esses exemplos, ainda que não tratem de obras artesanais, pois, sem nenhuma dúvida, são obras de arte eruditas, com riscos anteriores à feição e acabamento requintado de acordo com modelos europeus, servem, neste texto, apenas para demonstrar que as transplantações culturais se adaptam à região e aproveitam os materiais regionais, na carência dos originais, aliando a tradição do uso desses à criatividade de nossos grandes artistas. Essa tradição se perpetuará até a contemporaneidade, como se vê na obra do escultor Amilcar de Castro, nas dobraduras de ferro.

Sem título Amilcar de Castro Chapa de ferro recortada e dobrada Coleção Cristina Ávila

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Dessa forma, podemos dizer que as condições naturais foram favoráveis ao enriquecimento cultural mineiro e surgiram em consequência direta da ocupação do solo no chamado ciclo do ouro e se mantiveram como uma tradição que se repete tanto no artesanato, nas artes-plásticas, como até mesmo no design, como no caso da premiada cerâmica de Máximo Soalheiro. Alguns artistas populares mineiros ganharam tanto prestigio que passaram à condição de destaque, num entre lugar, indo além da condição de artesão e ganhando status de criadores fundamentais como Geraldo Teles de Oliveira - GTO - nascido em Itapecerica, em 1913, fixado em Divinópolis. Descoberto já aos 50 anos, quando trabalhava como vigia noturno em um hospital, dizia ser induzido por um sonho obsessivo e recorrente que o induzia a entalhar madeira e a produzir expressivas esculturas de qualidade estética incomparável. Desde o início, suas obras ganham projeção nacional, e GTO consagrou-se como um dos grandes artistas visionários do país, conseguindo unanimidade da crítica – fato raro na arte popular. Participou de Bienais, expôs em galerias no Brasil e no exterior, tendo integrado mostras importantes de arte. Morreu aos 77 anos, deixando seguidores de sua estética e mesmo imitadores.

Procissão GTO Madeira entalhada Coleção Affonso Ávila

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Os materiais locais foram ao encontro das tradições advindas de etnias básicas – portuguesa, africana e indígena – e ofereceram condições para o desenvolvimento do artesanato mineiro, que se diferenciou conforme a matéria-prima encontrada nas regiões disponíveis aos artífices e artistas populares. Conforme a localização, a mão do povo pode transformar em peças utilitárias, decorativas, ou lúdicas desde pedras e metais preciosos, cuja exploração, como já dissemos, marcou o início da colonização da capitania, até o barro, as pedras-sabão, fibras, couros, madeiras da melhor qualidade, algodão, fios e materiais recicláveis, que podem ser acrescentados mais atualmente.

Tucano Pintura de criança indígena xingu Coleção Pedro Ávila de Souza Lima

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Assim temos, desde tapetes arraiolos de origem portuguesa, bordados e rendas, cerâmicas inventivas, jóias e bijuterias, objetos diversos em pedra-sabão, influenciados pela mescla das crenças cristãs, das tradições indígenas, por totens africanos e pela extensa arte de imigrantes de todas as partes que aqui foram chegando ao longo do tempo. Entre os temas mais recorrentes, temos objetos utilitários diversos, chamados popularmente de panelaria, luminárias, caixas de todos os tipos, objetos de fé, figuras humanas em atos do cotidiano, profissões, animais reais e imaginários, carrancas, figuras antropomorfas e assemelhadas a essas, maquetes, malas e bolsas, molduras, velas, roupas de uso pessoal, rouparia de cama e mesa, aplicação de rendas e bordados e outros. A seguir veremos os materiais mais usados, com exemplos de peças feitas a partir desses.

Carrinho de cerâmica, Noemisa Batista (Foto: Joubert Cândido) Bruxinhas de pano, anônimo (Foto: Isabel Ávila) Carrinho de madeira, Arnaldo (Foto: Joubert Cândido) Boneca de pano, anônimo (Foto: Isabel Ávila)

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Materiais mais utilizados no artesanato mineiro



Barro Como em outras áreas do Brasil, a cerâmica constitui-se no mais rico de todos os tipos de artesanato de Minas Gerais, não somente pela grande incidência de argilas e suas variedades, como pelo legado das tradições indígenas e portuguesas, que se incorporaram ao cotidiano de nossas populações rurais. A maior parte dessa produção, incluindo a cerâmica utilitária, demonstra a presença irrefutável de uma preocupação estética, que se expressa nos contornos agradáveis e nas decorações feitas sobre as peças, ora por meio da aplicação de ornamentos moldados separadamente ou modelados em relevo nos próprios objetos, ora pelo uso de tintas naturais ou barros de colorações diversas.

Destacam-se na produção de cerâmica, pela criatividade e capricho técnico com que a realizam, os artesãos do vale do Jequitinhonha e os do Norte de Minas, sobretudo os de Montes Claros, Janaúba e Januária, ainda que outras áreas do estado contribuam de maneira também significativa para sua difusão.

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Pote galinha | Cerâmica | Aquiles Bra | Cataguases/MG | Acervo Centro de Artesanato Mineiro | Foto: Brenda Marques 50

Objetos utilitĂĄrios


Travessas | Cerâmica | Waguinho | Pasmadinho/Itinga/MG | Acervo V&M do Brasil | Foto: Joubert Cândido

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Objetos utilitários


Panela de barro | Cerâmica | Waguinho | Itinga/MG | Acervo V&M do Brasil 52

barro - Objetos utilitĂĄrios


Fruteira | Cerâmica | Dona Penha | Araçuaí/MG | Coleção particular

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Objetos utilitários


Namoradeira | Cer창mica | Paulo Roberto | Sete Lagoas/MG | Acervo Centro de Artesanato Mineiro 54

Objetos Decorativos


Vaso com flores | Cerâmica | Associação Coqueiro Campo | Vale do Jequitinhonha/MG | Acervo Centro de Artesanato Mineiro

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barro - Objetos Objetos de Decorativos decoração


Maquete cidade | Cer창mica | Macirene | Vale do Jequitinhonha/MG | Acervo Minas Vale 56

Objetos Decorativos


Vaso | Cerâmica Saramenha | Leonardo Ri | Ouro Branco/MG | Acervo Centro de Artesanato Mineiro

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Objetos Decorativos


Pescador | Cer창mica | Leo Batista | Vale Jequitinhonha/MG | Acervo Minas Vale 58

Figuras Humanas em afazeres, atos do cotidiano e profiss천es


Benzedeira | Cerâmica | João Alves | Vale do Jequitinhonha/MG | Acervo Minas Vale

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Figuras Humanas em afazeres, atos do cotidiano e profissões


Lavadeira | Cer창mica | Ulisses Mendes | Itinga/MG | Acervo V&M do Brasil 60

Figuras Humanas em afazeres, atos do cotidiano e profiss천es


Enterro | Cerâmica | João Alves | Vale do Jequitinhonha/MG | Acervo Minas Vale

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Figuras Humanas em afazeres, atos do cotidiano e profissões


Tótem | Cerâmica | Margarida Pereira | Caraí/MG | Acervo V&M do Brasil 62

Animais e figuras antropomorfas


Figura antropomorfa | Cerâmica | José Maria | Vale do Jequitinhonha/MG | Acervo Minas Vale

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Animais e figuras antropomorfas


Moringa Sapo Boi | Cerâmica | Agostinha / Associação de Campo Alegre | Vale do Jequitinhonha/MG | Acervo Centro de Artesanato Mineiro 64

Animais e figuras antropomorfas


Moringa boneca | Cerâmica | anônimo | Vale do Jequitinhonha/MG | Coleção Affonso Ávila

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Animais e figuras antropomorfas


Crucifixo | Cerâmica | Noemisa | Vale do Jequitinhonha/MG | Acervo Minas Vale 66

Objetos de fé


Reizado | Cerâmica | João Alves | Vale do Jequitinhonha/MG | Acervo Minas Vale

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Objetos de fé



Fibras e vegetais Legados quase que exclusivos da cultura indígena e conformando-se como um artesanato basicamente utilitário, os produtos de fibras – matérias-primas vegetais mais refinadas, porém menos trabalhadas que os fios – costumam também destinar-se a fins lúdicos ou decorativos: miniaturas de bolsas e chapéus, bonecas de palha de milho, tapetes etc. Além de intimidade com a matéria-prima, o uso das fibras e trançados exige habilidade e treinamento constante do produtor, de cujas mãos experientes podem surgir belas peças de cestaria, redes e gaiolas, bolsas e suportes para plantas, peneiras e abanos, que revelam aspectos artísticos de real valor. A Zona Metalúrgica, a Zona da Mata e o Sul são as áreas que concentram o maior número de municípios e de artesãos produtores de peças de fibras. Essas podem ser, no entanto, facilmente encontradas nas demais regiões do Estado.

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Quejeira | Fibra de bananeira trançada | Dona Alba | Lavras/MG | Coleção Joubert Cândido 70

Objetos utilitários


Porta cachaça | Palha trançada | anônimo | Minas Nova/MG | Coleção Affonso Ávila

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Objetos utilitários


Chapéu | Fibra de palha | anônimo | Belo Horizonte/MG | Coleção Pedro Ávila de Souza Lima 72

Objetos utilitários


sacola | Fibra de bananeira bordada com fita | anônimo | Belo Horizonte/MG | Coleção Isabel Ávila de Souza Lima

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Objetos utilitários


Boneca | Fibra de palha de milho | anônimo | Patos de Minas/MG | Coleção Isabel Ávila de Souza Lima 74

Objetos de decoração


Boneca Índia Aurora | fibra de juta | anônimo | Mariana/MG | Coleção Affonso Ávila

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Objetos de decoração


Bailarina | Cabaça, massa epoxi e tinta latex | Juliana Queirós de Lima | Sabará/MG | Coleção da artesã 76

Objetos de decoração


Boneca | Bucha vegetal | anônimo | Bonfim/MG | Coleção Isabel Ávila de Souza Lima

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Objetos de decoração



Fios Os fios, muitas vezes, representam um processo intermediário, cuja matéria - prima costuma ser o algodão, a linha, a juta ou a pita, que são usados na tecelagem, no bordado e na confecção de rendas, em que também se utiliza o fio industrializado, adquirido dentro e fora do estado. Contribuíram para o desenvolvimento da fiação as três etnias básicas de nossa cultura. A tecelagem, vinculada sobretudo à tradição europeia e africana, foi também influenciada pela técnica indígena, que lhe transferiu a habilidade e o bom gosto manifestado no trançado de palhas e cipós. Já as tapeçarias, rendas e bordados são de origem quase que exclusivamente portuguesa, acrescida por imigrações posteriores, como as alemãs e italianas. Adaptando formas tradicionais de produzir e ornamentar, os panos de uso cotidiano, os enxovais (chamados também de rouparia), as roupas de recém - nascidos e mesmo de adultos. O uso de monogramas em jogos de cama, rendas de bilros, bordados de Viana do castelo, com motivos inspirados em animais domésticos, flores e folhas ou elementos geométricos bordados com linha de algodão azul, vermelha e branca inspiram bordadeiras mineiras. Em Diamantina, segue-se a tradição dos tapetes de arraiolo , que provêm de uma vila alentejana com o mesmo nome. São tapetes bordados à mão, com fios de lã e sobre tela. São uma das expressões mais verdadeiras do artesanato regional. Os desenhos mais tradicionais apresentam plantas e animais e são bastante coloridos. Os italianos contribuíram com técnicas como o crochê, o macramé e, principalmente, a fatura do frivoletê, extinta em muitos lugares e ainda presente em Minas Gerais. Já os alemães situados na Zona da Mata, com ampla atuação em Juiz de Fora, apresentam bordados em ponto cheio coloridos e confeccção de flores de tecido e fitas.

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Tapete arraiolo | lรฃ bordada sobre tela | Sandra Amorim | Passa Tempo/MG | Acervo SESC 80

Objetos utilitรกrios


Manta de tear | lã | anônimo | São João del Rei/MG | Coleção particular

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Objetos utilitários


Forro de bandeja | Crochê de linha | Liberalina Barros Ávila | Itaverava/MG | Coleção Cristina Ávila 82

Objetos utilitários


Toalha de mão | Bordado com fita | Eugênio | Belo Horizonte/MG | Coleção particular

Objetos utilitários


Toalha de mão | Linho bordado richelieu | anônimo | Barão de Cocais/MG | Coleção particular 84

Objetos utilitários


Toalha de lavabo | Linho, bordado em ponto cheio e ajur | anônimo | Belo Horizonte/MG | Coleção particular

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Objetos utilitários


Pelerini | Tricテエ de linha | Katia Miranda | BeloHorizonte/MG | Coleテァテ」o Cristina テ」ila 86

Objetos de uso pessoal


Sapato para dormir | Tricô de lã | Nyssia Luz | Belo Horizonte/MG | Coleção Isabel Ávila de Souza Lima

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Objetos de uso pessoal


Casaquinho e sapatinho de bebê | Trico de lã | Laís Corrêa de Araújo | Belo Horizonte/MG | Coleção Margareth Costa 88

Objetos de uso pessoal


Mandrião para batizado franciscano | Costura, ponto ajour e bordado sombra | anônimo | Belo Horizonte/MG | Coleção família Corrêa de Araújo Ávila

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Objetos de uso pessoal


Bata | Algodão costura e bordado | Alosita Caran Miranda | Teófilo Otoni/MG | Coleção Kátia Miranda 90

Objetos de uso pessoal


Pagão | Costura, composé e bordado | Joanita da Cunha Santos | Belo Horizonte/MG | Coleção Cristina Ávila

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Objetos de uso pessoal


Almofada | Crochê linha | Lélia Vidal | Belo Horizonte/MG | Coleção particular 92

Objetos de decoração


Caminho de mesa | Crochê linha | anônimo | barbacena/MG | Coleção particular

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Objetos de decoração



Madeira Os objetos artesanais em madeira, que faziam parte integrante do dia a dia de nosso indígena, sofreram posteriormente a influência africana e se enriqueceram no contato com a arte barroca portuguesa e, nos séculos XIX e XX, com o contato com marcineiros italianos e alemães. A grande variedade da produção mineira oferece desde as peças utiitárias, como os utensílios domésticos, as colheres de pau, os pilões, os cochos, as gamelas e os móveis aos artigos decorativos, lúdicos e religiosos. Dentre os últimos, predominam as esculturas figurativas das mais diferentes formas e tamanhos, que incluem de santos e orixós, oratórios, cenas do cotidiano, reproduções de danças e festas folclóricas, instrumentos musicais, ex-votos, diversas miniaturas, maquetes, móveis, às enormes carrancas do rio Sâo Francisco. As regiões que apresentam um número maior de indivíduos dedicados a essa atividade são a Zona Metalúrgica, o Alto São Francisco e o Vale do Jequitinhonha.

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Cadeira de varanda | Madeira entalhada | Pedro Miranda | Belo Horizonte/MG | Coleテァテ」o Affonso テ」ila 96

Objetos utilitテ。rios


Chapeleira | Madeira recortada entalhada e policromada | anônimo | Tiradentes/MG | Coleção Affonso Ávila

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Objetos utilitários


Pilรฃo trabalhado | Madeira entalhada | Geninho de Oliveira | Poรงos de Caldas/MG | Acervo SESC 98

Objetos utilitรกrios


Colher de pau | Madeira entalhada | Delfim Adelmo | Resende Costa/MG | Acervo SESC/MG

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Objetos utilitĂĄrios


Escultura Árvore Pássaro | Madeira entalhada | Adão de Lourdes | Mariana/MG | Acervo Centro de Artesanato Mineiro 100

Objetos de decoração


Escultura | Madeira entalhada e policromada | Maurino Araújo | ????G | Acervo Yara Tupinambá

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Objetos de decoração


Escultura Divino EspĂ­rito Santo | Madeira entalhada | Josias Cardoso dos Santos | Lagoa Dourada/MG | Acervo Minas Vale 102

Objetos de fĂŠ


Escultura Querubim | Madeira entalhada e policromada | Célio Feijó | Belo Horizonte/MG | Acervo Centro de Artesanato Mineiro

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Objetos de fé


Escultura São Francisco de Assis | Madeira entalhada | Antônio Fiuza | Ouro Preto/MG | Coleção Cristina Ávila 104

Objetos de fé


Oratório | Madeira entalhada | anônnimo | Serro/MG | Coleção Affonso Ávila

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Objetos de fé


Leão | Madeira entalhada | Márcio Julião | Prados/MG | coleção do artesão 106

Animais


Carranca | Madeira entalhada | Valmir | JanunĂĄria/MG | Acervo Centro de Artesanato Mineiro

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Animais e figuras antropomorfas


Carrinho | Retalhos de madeira | an么nimo | Cordisburgo/MG | Acervo Gruta Rei do Mato 108

Brinquedos


Caminhão | Retalho de madeira | Arnaldo | Couto Magalhães/MG | Coleção particular

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Brinquedos


Casa de boneca | Retalhos de madeira pregados e colados | anテエnimo | Belo Horizonte/MG | Coleテァテ」o Isabel テ」ila de Souza Lima 110

Brinquedos


Bonecos articulados | madeira policromada | MĂĄrcio JuliĂŁo | Prados/MG | Acervo atelier do artista

Casinha de boneca Madeira recortada e colada autor??????? local???????????? Acervo???????????????? Brinquedos



Pedras Pela abundância, variedade e qualidade das matérias-primas, o artesanato em pedras é muito importante em Minas Gerais, onde são trabalhadas pedras preciosas e semi-preciosas, pedrassabão e outras. As mais valiosas, tradicionalmente incrustadas em metais preciosos pelos mestres portugueses ou simplesmente lapidadas, são usadas para fazer adornos para homens e mulheres e imagens de santos. Para a confecção de pequenas esculturas — figuras de animais e frutas — são utilizadas pedras semi-preciosas, que servem também para fazer cinzeiros, prendedores de papel, cantoneiras para livros, chaveiros, brincos, pulseiras e colares, singularizados pelas características particulares de cada pedra e pela habilidade do artesão no seu corte e tipo de polimento. A pedra-sabão é utilizada em trabalhos bastante diferenciados, dos portais, soleiras, escadarias etc. na construção civil, aos utensílios domésticos e peças decorativas, como panelas, jarros, castiçais, cinzeiros e copos, imagens de santos, cópias de esculturas sacras, e tantos outros. Um exemplo relevante são as famosas minicópias das esculturas dos Profetas de Congonhas de Aleijadinho, que já se tornaram souveniers tipicos de quem visita Minas Gerais, especialmente o circuito das cidades históricas e as palmas folheadas a Ouro de Sabará, que remetem à fé católica mineira de origem colonial. Concentrado em poucos municípios, o artesanato de pedras se localiza sobretudo na Zona Metalúrgica e no sul, sendo também desenvolvido nas cidades de Teófilo Otoni e Montes Claros, onde é abundante a matéria-prima.

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Travessas | Pedra sabĂŁo | Luciano Aparecido | Santa Rita e Salto/Ouro Preto/MG | Acervo Centro de Artesanato Mineiro 114

Objetos utilitĂĄrios


Panela | Pedra sabão com detalhe em cobre | anônimo | Cachoeira do Brumado/Mariana/MG | Coleção Joubert Cândido

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Objetos utilitários


Ja rra com bacia | Pedra sabão | anônimo | Cachoeira do CAmpo/MG | Coleção particular 116

Objetos utilitários


Saboneteira | Pedra sabão | anônimo | Ouro Preto/MG | Coleção particular

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Objetos utilitários


Vaso | Pedra sabão | Atelier do Claudinho | Santa Rita/Ouro Preto/MG | Coleção Joubert Cândido 118

Objetos de decoração


Profeta Daniel | Pedra sabão | anônimo | Ouro Preto/MG | Coleção Affonso Ávila

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Objetos de decoração


Galinha | Pedra sabão | anônimo | CAchoeira do Campo/MG | Coleção Mônica Todaro 120

Objetos de decoração


Pedra pintada | Cristal bruto monocromado | Lira Marques | Araçuaí/MG | Acervo SESC/MG

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Objetos de decoração


Pingente coração | Pedra sabão e ouro | anônimo | Ouro Preto/MG | Coleção particular 122

Objetos de uso pessoal


Brincos | Rubi, brilhantes e ouro | anônimo | Ouro Preto/MG | Coleção particular

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Objetos de uso pessoal


Galinha com pintinhos | Caucita | an么nimo | Santa Luzia/MG | Cole莽茫o M么nica Todaro 124

Animais


Jogo resta um | Pedra sabão e bolinhas de gude | anônimo | Ouro Preto/MG | Coleção particular

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Brinquedos



Outros materiais Além dos trabalhos apresentados, a atividade artesanal em Minas Gerais abrange vários outros tipos de matérias - primas. Incluem-se entre essas os metais, os vidros, sub-produtos animais (como chifre e couro), sobras industriais, sintéticos, papel, sementes e flores secas. Favorecido pelas condições naturais, o Estado de Minas se mostra bastante profícuo no artesanato de metais, que engloba produtos feitos em ouro, prata, estanho e cobre, além de ferro, das folhas de flandres e de lata. Menos disseminados, mas demonstrando a capacidade do artesão de aproveitar em sua atividade quase todo tipo de material disponível, outros trabalhos artesanais são colocados à disposiçao dos consumidores: almofadas, bonecas, “mobilis” feitos de panos, esculturas, bijuterias confeccionadas a partir de ossos, sementes, penas, arranjos decorativos feitos com flores secas e uma infinidade de outros objetos. É importante mencionar que as peças mostradas neste livro representam uma ínfima parte daquilo que se produz no estado, tanto no que diz respeito à variedade de seu artesanato como ao diversificado acabamento dado às peças.

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Crucifixo | Ouro, coco e brilhante | anônimo | Diamantina/MG | Coleção particular 128

metal e coco


colheres de café e chá | Prata e opala | anônimo | Ouro Preto/MG | Coleção particular

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Metal e pedra


Conjunto de castiçais | Estanho | Imperial Estanho | São João del Rei/MG | Acervo Imperial Estanho 130

Metal


Palma | Cobre, douramento | Hercília | Sabará/MG | Coleção Cristina Ávila

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Metal


Sino | Bronze fundido | Atelier de Maria Lúcia e José Vierman | Tiradentes/MG | Coleção Joubert Cândido 132

metal


Castiçal | Ferro rebatido recortado e policromado | Oficina de Agosto | Bichinho (vitoriano Veloso)/MG | Coleção particular

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Metal


Tijela | Louça pintada | anônimo | Monte Sião/MG | Coleção particular 134

Metal


Ave | Vidro moldado no forno | anônimo | Poços de Caldas/MG | Coleção particular

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vidro


Berrante | Chifre de boi com alça de couro | anônimo | Uberaba/MG | Coleção particular 136

Sub-produto animal


Tambor de Reizado | Couro curtido, madeira e corda | Antônio Bastião | Minas Novas/MG | Acervo SESC

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Sub-produto animal


Colcha de fuxico | retalho costurado | Associação dos Artesãos da Praça Santa Rita de Sabará (As Arts) | Sabará/MG | coleção particular 138

Sobras industriais recicladas


Colcha | Retalhos costurados | Laís Corrêa de Araújo | Belo Horizonte/MG | Coleção Cristina Ávila

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Sobras industriais recicladas


Giramundo | Papelão coberto com retalhos de tecido | anônimo | São João del Rei/MG | Coleção Cristina Ávila 140

Sobras industriais recicladas


Boneca | Tecido, linha, renda, bordado e costura | Amélia Nazareth | Bicuíba/Raul Soares/MG | Coleção Joubert Cândido

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Sobras industriais recicladas


Almofadas | Retalho de couro | Evaldo | Belo Horizonte/MG | Coleção paricular 142

Sobras industriais recicladas


Jogo americano | Tecido de algodão pintado | Oficina de Agosto | Tiradentes/MG | Coleção Mônica Todaro

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Sobras industriais recicladas


Oratório | Papelão recortado e decorado | anônimo | Ouro Preto/MG | Coleção particular 144

Sobras industriais recicladas


Peso de papel | Massa de vidro reciclado | anônimo | Belo Horizonte/MG | Coleção Pedro àvila de Souza Lima

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Sobras industriais recicladas


Animal | escultura com restos de produtos industriais | anテエnimo | Serro/MG | Coleテァテ」o Affonso テ」ila 146

Sobras industriais recicladas


Colar | Sementes lágrimas de Nossa Senhora | anônimo | Belo Horizonte/MG | Coleção particular

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SEMENTE


Mapa do Vale do Jequitinhonha


O Caso Específico e Exemplar do Vale do Jequitinhonha A história do Vale do Jequitinhonha, habitado inicialmente por diversas tribos indígenas, dentre outras maxacalis, macuris, nakarene, tupinikim e várias de origem Ge – denominadas genericamente de botocudos, começou a ser colonizada no século XVI. A penetração da região decorreu em função da mineração – ouro e pedras- preciosas. A região do Rio do Jequitinhonha localiza-se a nordeste do Estado de Minas Gerais, sudeste brasileiro, e, segundo a Fundação João Pinheiro (1999), pode ser repartida em três zonas bem diferenciadas: o Alto, o Médio e o Baixo Jequitinhonha. O Baixo e o Médio Rio são marcados por grandes propriedades rurais, dedicadas à criação intensiva de gado e à silvicultura; o Alto Jequitinhonha, situado acima do Rio Araçuaí, é caracterizada pelas grandes extensões de terras planas – as chapadas – apropriadas por empresas, contrastando com as vertentes – as grotas – ocupadas pelos terrenos de agricultores familiares. O Vale do Jequitinhonha é considerado uma das regiões mais pobres do Estado de Minas Gerais, e é também considerado pelos parâmetros da UNESCO uma das mais pobres do mundo. A região ocupa uma área de mais de 85 mil km², onde vivem 1 milhão de pessoas, aproximadamente, distribuídos em cerca de 80 municípios. A maior parte do solo é árido, sendo castigado regularmente por secas e enchentes. Setenta e cinco por cento de sua população vive na área rural, praticando uma rudimentar agricultura e pecuária. No Vale do Jequitinhonha, produz-se um excelente e criativo artesanato em cerâmica, tecelagem, cestaria, esculturas em madeira, trabalhos em couro, bordados, pintura, desenho etc. Mas a cerâmica é a mais valorizada.


Os principais polos da atividade cerâmica são as cidades de Itinga, Araçuaí, Santana do Araçuaí, Turmalina, Caraí, Itaobim, Taiobeiras, Padre Paraíso, Joaíma e Minas Novas. Os mais famosos ceramistas são: Isabel Mendes da Cunha; João Pereira de Andrade, seu genro, casado com sua filha Glória Maria, também ceramista; Ulisses Pereira Chaves; Noemisa Batista da Silva; Raimunda da Silva (Dona Mundinha); João Alves e Dona Pedra, entre outros. Os trabalhos com barro no Vale iniciaram-se com a confecção de peças utilitárias, que eram feitas pelas mulheres chamadas de paneleiras. A tradição manteve-se por meio das gerações - bisavós, avós, mães e filhas – que faziam moringas, vasilhas, panelas, potes etc, tudo com uma marcante influência indígena. Produziam também figuras para adornar presépios e brinquedos utilizados pelas crianças.

Aneli levantando a base de uma boneca de cerâmica Santana do Araçuaí/Ponto dos Volantes/ MG

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Com o passar do tempo, passaram a produzir peças decorativas: figuras humanas, animais, cenas do cotidiano, tipos, usos e costumes da região. Hoje há quase um consenso de que o cliente (comprador) prefere peças decorativas, pois as utilitárias de plástico e de alumínio são concorrentes imbatíveis. O próprio artesão deprecia suas peças utilitárias, fazendo-as em miniaturas, quase que como souveniers, ou lembranças de um passado. São aspectos da modernidade industrial interferindo na história artesanal. No processo usam rudimentares fornos a lenha, a técnica dos roletes (cobrinhas), ao invés do torno de oleiro, placas e toscas ferramentas. Os pigmentos usados na decoração (pintura) são naturais (extraídos de barro) encontrados nas muitas jazidas de argila da região, chamadas de barreiros. O barro, a água e o fogo são os elementos básicos para a confecção dos trabalhos de cerâmica. A partir desses elementos, as peças são moldadas, depois colocadas

Forno à lenha Santana do Araçuaí/Ponto dos Volantes/MG

à queima. Mas não é qualquer barro que serve para a modelagem. Este não deve ter muita areia, pois o objeto pode se quebrar no forno, mas também não deve prescindir da areia senão o mesmo amolece. Portanto, há uma técnica que só a prática confere ao artesão. O barro tem que ter um pouco de esmeril (areia) como se fala na região.

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Como os barreiros costumam ficar longe dos centros mais urbanos, é preciso trazê-los em lombo de animal, em geral jegues. Depois é necessário começar a trabalhá-lo machucando-o, transformando-o em um pó fininho e peneirando-o. Depois, junta-se água à massa até chegar ao ponto. O ponto é dado através do amassamento manual, até chegar a uma substância úmida e com característica plástica. Para isso, o barro tem que ser muito bem peineirado e amassado, porque, se ficarem bolhas de ar, ciscos, grãos de areia, devido à expansão desses elementos, causada pelo aquecimento, estes poderão rachar, ou até partir no momento da queima. Somente após todo esse processo é que o barro está pronto para ser modelado.

Carregamento de barro. Araçuaí/MG

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As peças dos verdadeiros artesãos modelistas são modeladas sobre uma tábua, que o ceramista vai girando lentamente e irregularmente. Quando a peça é muito grande, o ceramista é que gira em torno da peça. Algumas peças são iniciadas pelo método do repuxo; a pessoa pega um bolo de barro e, a partir dele, vai subindo a peça, puxando a massa pelas laterais; outras são feitas a partir de “cordões” ou “pavios” (roletes de barro que são apoiados na tábua em forma de espiral), outros ceramistas abrem a massa com cilindros de barro. Apesar de os dedos serem os instrumentos de trabalho mais frequentes para “alisar” o barro, dando uniformidade à peça, os ceramistas usam também um sabugo de milho para executar essa tarefa. Eles costumam utilizar, ainda, outras ferramentas como facas, para cortar os excessos de barro, pedaços de cuia ou cabaço, vários estiletes de madeira, e um pedaço de pano, que vai sendo molhado em água e passado nas peças para torná-las bem lisas.

Amadeu molhando peça para torná-la mais lisa. Santana do Araçuaí/MG

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Alguns objetos, mais complexos, exigem acrescentar mais detalhes, depois que as peças já estão quase secas. Essa é uma tarefa bastante delicada, pois os ceramistas têm que ter muito controle sobre o ponto exato do secamento que lhes permita inserir esses detalhes, senão haverá problemas com a aderência dos mesmos. Ao final, são levadas à sombra para a secagem e depois para a queima. O ceramista observa o processo de queima com muito cuidado. Ele presta muita atenção ao forno e controla o que está acontecendo com as peças enquanto estão dentro dele. Segundo Ulisses Mendes, em depoimento a Sônia Missagia Mattos, em seu livro Artefatos de Gênero na arte do Barro: “Até hoje os nossos fornos são bem indígenas. Boca aberta, que eles falam. Porque existem os fornos fechados que o desenvolvimento trouxe (...). Então por todo o lado que a gente for aqui no vale, vai encontrar esse forno do sistema indígena. Eu já percebi que o forno industrial economiza lenha. Só que o povo do vale não confia não, de repente perde o trabalho todo.” Outra fase delicada é a pintura das peças. Em alguns casos, ela é feita anteriormente à queima e, em outros, depois de pintada, a peça deve novamente ser levada ao forno. Quase todas as tintas usadas na coloração das peças são elaboradas a partir da própria argila. Para dar brilho às peças, após prontas, é utilizada uma semente chamada “olho de boi”. Atualmente, é também usada uma água de barro preparada com a água que sobra após a sedimentação da argila. Esse procedimento é repetido várias vezes e acondicionado em garrafas. As diversas colorações, com exceção do preto e do verde, são conseguidas a partir dos pigmentos minerais presentes nas diversas tonalidades de argila presentes na região. O preto é feito a partir da trituração do carvão vegetal associado a algum tipo de resina para a fixação, e o verde é obtido do sumo da folha de maracujá. O branco é dado pelo oleio (um barro preto que se torna branco após a queima, muito usado para colorir os vestidos das famosas noivas modeladas na região). Todo esse processo advém da tradição passada oralmente e aprendida na prática desde criança. É comum ver menininhas brincando de fazer bonecas e panelinhas modeladas. O trabalho de homens com o barro, que se restringia mais à colheita do material, é uma evolução do caráter social da introdução do gênero masculino nessa atividade pela valorização material e da comercialização do artesanato.

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Não se pode deixar de considerar que a grande melhoria na vida dos artesãos ocorreu com a criação, na década de 70, da Comissão de Desenvolvimento do Vale do Jequitinhonha - CODEVALE. A entidade recolhia a produção dos artistas e revendia os produtos, principalmente em Belo Horizonte. Essa atuação oficial incentivou bastante o artesanato, trazendo uma significativa melhora no nível de vida dos moradores. Atualmente, em Santana do Araçuaí, terra da famosa ceramista Dona Isabel, existe a Associação dos Artesãos de Santana do Araçuaí, entidade criada em 1989, que promove Oficinas para os seus membros e comercializa em sua sede a produção cerâmica de seus associados, tanto utilitárias quanto decorativas: bonecas de variados tamanhos, flores, moringas, jarras, potes, sopeiras, saladeiras, fogareiros, galinhas, jogos para feijoada, miniaturas,

Dona Isabel Mendes e suas famosas bonecas

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Pequeno catรกlogo de peรงas do Vale do Jequitinhonha


Casal de noivos Cerâmica policromada Zezinha Vale do jequitinhonha/MG Acervo Yara Tupinambå

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Casal de noivos Cerãmica policromada Glória Maria Vale do jequitinhonha/MG Acervo Minas Vale

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Sereia Cer達mica policromada Delmira Santana do Ara巽uai/MG Acervo SESC/MG Ao fundo, colcha de tear de algod達o da artes達o Dona Leontina, Berilo/MG

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Noiva Cerãmica policromada Zezinha Coqueiro Campo/Minas Novas/MG Acervo SESC/MG

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O beijo Cer達mica policromada Amauri Minas Novas/MG Acervo SESC/MG

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Moças Cerãmica policromada Maria Aparecida Vale do jequitinhonha/MG Acervo Minas Vale

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Ciranda Cerãmica policromada anônimo Campo Alegre/Turmalina/MG Coleção particular

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Mulher amamentando Cerâmica policromada Izabel Vale do jequitinhonha/MG Acervo Yara Tupinambá

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Mulher com criança Cerâmica policromada Glória Maria Vale do jequitinhonha/MG Acervo Minas Vale

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Família Argila João Alves Vale do jequitinhonha/MG Acervo Minas Vale

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Cozinheira Cer창mica policromada Jo찾o Pereira Vale do jequitinhonha/MG Acervo Minas Vale

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Vestindo a noiva Argila JoĂŁo Alves Vale do jequitinhonha/MG Acervo Minas Vale

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Padre Franciscano Cer達mica policromada Mercinda Vale do jequitinhonha/MG Acervo Minas Vale

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Sanfoneiro CerĂŁmica policromada Noemisa Vale do jequitinhonha/MG Acervo Minas Vale

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Violeiro Cer達mica policromada Noemisa Vale do jequitinhonha/MG Acervo Minas Vale

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Cavaleiro CerĂŁmica policromada Noemisa Vale do jequitinhonha/MG Acervo Minas Vale

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Preto velho Argila Jo達o Alves Vale do jequitinhonha/MG Acervo Minas Vale

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Alzira no fogão Cerãmica policromada Ulisses Mendes Itinga/MG Acervo SESC/MG

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Lavadeira Cer芒mica policromada an么nimo Coqueiro Campo/Minas Novas/MG Acervo V&M do Brasil

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Máscara Cerâmica Lira Marques Araçuaí/MG Coleção particular,

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Cabeças Cerâmica policromada Izabel Vale do jequitinhonha/MG Acervo Minas Vale

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Figura antropomorfa Cerâmica policromada Noemisa Vale do jequitinhonha/MG Acervo Minas Vale

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Figura antropomorfa Cer창mica policromada Ulisses Vale do jequitinhonha/MG Acervo Minas Vale

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Figura antropomorfa Cerâmica policromada Ana Vale do jequitinhonha/MG Acervo Minas Vale

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Figura Antropomorfa Cer창mica policromada Noemisa Vale do jequitinhonha/MG Acervo Minas Vale

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Animais Cerâmica policromada Noemisa Vale do jequitinhonha/MG Acervo Minas Vale

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Animais Cer창mica policromada Noemisa Vale do jequitinhonha/MG Acervo Minas Vale

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Ave Cerâmica policromada Noemisa Vale do jequitinhonha/MG Acervo Minas Vale

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Animal Cer창mica policromada Noemisa Vale do jequitinhonha/MG Acervo Minas Vale

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Vaso gigante Cerâmica Adão e Regina Janaúba/MG Coleção particular

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S찾o Francisco Cer창mica Leo Batista Vale do jequitinhonha/MG Acervo Minas Vale

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Socador de pilão Cerâmica Leo Batista Vale do jequitinhonha/MG Acervo Minas Vale

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Escultura em madeira Dona Zefa Araçuaí/MG Acervo SESC/MG

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Escultura em madeira Dona Zefa Araçuaí/MG Acervo SESC/MG

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Noiva Cer達mica policromada Isabel Mendes Vale do jequitinhonha/MG Acervo Minas Vale

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Artesãos de destaque do Vale do Jequitinhonha ISABEL MENDES DA CUNHA Santana do Araçuaí no Município de Ponto dos Volantes. Dona Isabel (Isabel Mendes da Cunha) é certamente a mais famosa artesã que trabalha com barro no Vale do Jequitinhonha. Exerce o seu ofício, “mexe com o barro”, no pequeno vilarejo de Santana do Araçuaí, no Município de Ponto dos Volantes. Filha de louçeira, que possuía um saber ancestral obtido de seus antepassados indígenas, cresceu vendo a mãe trabalhar. No início, sua relação com o barro aconteceu como a de todas as crianças do interior. Na infância, modelava com argila objetos para as suas brincadeiras. Foi aí que surgiu o sonho de fazer bonecas, que só se materializou muitos anos após, já na idade adulta. Já casada e depois viúva, Dona Isabel, no esforço de criar seus filhos, fugindo das dificuldades de ganhar o pão de cada dia com o trabalho na roça, passou a produzir potes, travessas, figuras de presépios, que eram vendidas nas feiras da região. Nessa época, suas criações se destacavam em meio às outras graças à sua inventividade e o capricho na modelagem e decoração das peças.

Doan Isabel com sua filha Madalena  193


Como é comum entre a gente do povo, a mestre Isabel repassou seu conhecimento a todos os que a cercam, formando uma verdadeira escola. Tornaram-se ceramistas como ela as filhas Maria Madalena, Glória Maria e Rita. O filho, Amadeu, já ajudava a mãe quando ainda era lavrador e hoje se dedica ao artesanato ao lado da esposa, Mercina. João Pereira de Andrade, o genro casado com Glória Maria, desenvolveu uma temática própria, que inclui mulheres mais sensuais, parcialmente desnudas, moças na janela, grávidas e meninos pobres. A neta, Andréa Pereira de Andrade, também não nega a tradição: apesar de estudar artes plásticas na universidade, prefere os toscos instrumentos de trabalho da família, como a faquinha, a cuia e o sabugo de milho para alisar a superfície de suas pequenas, porém personalizadas e requintadas, esculturas. Fora da família merecem destaque entre suas pupilas Placedina Fernandes Nascimento, morta precocemente e que produzia fisionomias dramáticas de mães amamentando, além de Delmira Ferreira de Oliveira, cujo principal trabalho são ex-votos, especialmente retratos femininos também conhecidos como “cabeças de milagre”.

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Ulisses Mendes Ulisses Mendes nasceu no dia 11 de fevereiro de 1955 no município de Itinga e começou a se interessar pelo artesanato em barro ainda adolescente. Por volta dos 17 anos de idade já trabalhava em uma olaria da localidade, e nos intervalos ele esculpia algumas peças, tais como : figuras de animais , atos do cotidiano, mulheres sensuais e sofridas, objetos de fé, profissões típicas da região( canoeiros, pedreiros, oleiros) aves e etc. Sua figura mais recorrente e musa é a cozinheira Alzira, bastante sensual em seu ofício primordial para a vida cotidiana. No final dos anos 70 torna-se profissional do ofício sendo um dos artesãos do Vale do Jequitinhonha mais reconhecido no cenário nacional e internacional. São suas as palavras: “ Assim como o fogo destrói muitas coisas, ele também faz muitas coisas bonitas como a arte em argila.”

Ulisses Mendes em sua oficina

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ULISSES PEREIRA CHAVES Ulisses Pereira nasceu em 1922 no Vale do Jequitinhonha-MG, na localidade de Córrego Santo Antônio, distrito da cidade de Caraí, tendo falecido em 28 de dezembro de 2006, aos 84 anos. Quando criança, modelava com barro, para brincar, como todos os meninos do interior faziam. Criava animais - boi,vaca, passarinho, cachorro etc. Já crescido, junto com a família, ceramistas que produziam louças utilitárias, seguiu a tradição ao mesmo tempo que trabalhava como lavrador na lida com o cultivo da terra. Ulisses, que era analfabeto, assinava seus trabalhos grafando U.P, modelava esculturas de teor surrealista. Na maioria das peças, mistura formas de gente com bichos. Figuras antropomorfas e zoomorfas com várias cabeças - estranhos rostos e coisas do gênero, algumas chegando a medir 1 metro de altura. O artista relatava que, quando tirava o barro da terra, a forma da peça já estava determinada. Místico, certa vez disse, “O lugar onde trabalho é um santuário, aqui acontece um milagre, um mistério, as peças vão nascendo, tem aqui umas coisas invisíveis, uma espécie de respiração que existe”. Arredio, raramente saía de sua cidade. A viagem mais longa que fez foi ao Rio de Janeiro-RJ, em 1991, na ocasião de sua exposição “O Cavaleiro do Apocalipse”. Ulisses contava, nos últimos anos, com a ajuda da família na confecção das peças. Atualmente, seus filhos e netos seguem a mesma atividade. As peças são cozidas no forno a lenha, usando na decoração engobes de várias tonalidades. Seus trabalhos integraram exposições, até no exterior, comemorativas dos 500 anos do descobrimento do Brasil, podendo ser encontrados em importantes Museus e coleções particulares. No Rio de Janeiro-RJ, na Casa do Pontal e no Museu de Folclore Edson Carneiro da Funarte. Em João Pessoa-PB, no Centro Cultural de São Francisco.

Figura antropomorfa Cerâmica policromada Ulisses Pereira Chaves Coleção particular

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NOEMISA BATISTA DOS SANTOS Noemisa Batista dos Santos nasceu em 1947 e reside em Ribeirão Capivara, local próximo ao Município de Caraí, no Vale do Jequitinhonha. A artista é considerada uma das ceramistas mais criativas no que se refere à modelagem de peças decorativas feitas com barro. Seu estilo de modelar, sua decoração e temática são inconfundíveis. Seus trabalhos normalmente são de pequenas dimensões, retratando cenas do cotidiano rural em que sempre viveu: casamento, batizado, missa, caçada, casa (com detalhes de seus interiores), tarefas domésticas (mulher com pilão) etc.

Boneca Cerâmica policromada Noemisa Acervo Minas Vale

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JOÃO ALVES João Alves nasceu em 1964 e reside em Taiobeiras-MG, norte de Minas Gerais, Vale do Jequitinhonha. Suas esculturas retratam cenas do cotidiano da vida rural, apresentando figuras, a maioria femininas, sempre negras. Os temas abordados seguem cenas do cotidiano como: mulher socando milho; benzedeira; grávida com filho no colo, homem a caminho da feira carregando galinhas e ovos. A técnica aplicada consiste em fazer uma massa com dois tipos de barro, papelão (embalagem de ovos), algodão, tudo socado no pilão e cola plástica. A decoração, pintura, é feita com tinta acrílica em variadas cores. É importante observar o fato de que as peças não são levadas ao forno para queimar. As obras do artista constam do conceituado acervo da Casa do Pontal-Museu de Arte Popular Brasileira, no Rio de Janeiro. Internacionalmente, já participou de exposições no Missouri - EUA e em Buenos Aires, na Argentina.

Debulhadora de milho Cerâmica policromada João Alves Acervo Minas Vale

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Dona Zefa Nascida em Sergipe, Dona Zefa fez um longo caminho até Araçuaí, onde reside atualmente. No início de sua produção, a artesã utilizava a argila como matéria-prima até que descobriu a madeira e passou a trilhar um caminho impar ao retratar figuras com traços da cultura do nordeste brasileiro. Das malas de madeira que fabricava para sobreviver às suas abstrações, já nos anos 70, a artista ganhou reconhecimento nacional e internacional. Exporta suas peças para os Estados Unidos e para a Alemanha. Seus trabalhos hoje são encontrados em coleções particulares e museus do Brasil e exterior. É incontestável e forte a influência que a artesã exerce na produção artística local. Hoje aos 84 anos, Zefa diz que se aposentou. Com problemas de vista, não consegue mais talhar a madeira com a perfeição de antes, mas seu legado à cultura do vale do Jequitinhonha e à cidade de Araçuaí ficarão para sempre.

Dona Zefa em sua oficina

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Observações Finais A arte de construir objetos Aproximando-se de uma área relacionada à inteligência e ao afetivo, a história da construção dos objetos mescla-se às categorias psicológicas essenciais, funcionando na construção do tempo e do espaço, na produção do imaginário e ainda na percepção coletiva do fazer e do desejo humano. Tendo por objetivo o trabalho manual ligado a uma função específica e às características de uma região, fica implícito que para se compreender o processo da fatura artesanal é necessário a constituição, classificação e organização de séries na maior extensão possível. Dessa forma é que podemos observar como e a partir de qual motivação aparece, em uma dada região, determinada tradição (material e técnica) na confecção de objetos. É assim que vemos a produção artesanal, não como objetos silenciados, mas, ao contrário, que dialogam e participam de uma comunidade e, a partir dessa, podem crescer tanto em relação a sua própria produção cultural como à recepção da mesma. Os gostos e os modos de ver num tempo não se restringem a uma característica unívoca, mas dependem das condições com que os indivíduos recebem uma dada “produção tradicional”, fazem dela sua releitura, recriam objetos que expressam mais a mentalidade do que a grandiosidade objetiva de uma tradição. Do ponto de vista do artesanato, diferentemente do design, os objetos ganham visibilidade, não pela sua execução, projetada a priori, mas pelo arranjo da manufatura isolada. Uma a uma, ainda que possa haver um resultado serial. Há que se compreender ainda que as expressões materiais de um povo, desde os primórdios, são objetos- documentos das diversas áreas geoculturais e continuam vivos na transmissão prática ou pela oralidade, transformando-se perante o contexto sociocultural em que homens, mulheres e mesmo crianças lhes dão significado.

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Cabe ainda ressaltar que são cada vez mais cotidianas as diversas informações e difusões culturais, desde as primitivas transformações, a partir das três etnias básicas, acrescidas das novas conexões com materiais reciclados do lixo industrial. Não há também como indicar uma precedência entre as diversas soluções inventivas, sendo tão importante preservar os objetos tradicionais, considerados simplórios, tais como: panelas de barro, chapéu de palha, redes, assim como aqueles nos quais a imaginação e a presença fantasmagórica de mitos afazeres e atos do cotidiano lhes dão graça especial e os aproximam de uma mercantilização como “produtos artísticos”. Nesse processo comercial, interessa aos intermediários, como aos finalizadores, reduzir ao mínimo o conhecimento de autoria, tentando manter o caráter anônimo, porém ingressando os objetos escolhidos como artisticamente vendáveis nos processos críticos por suas qualidades formais, porém pitorescas. Esse reducionismo impõe um valor de mercado inferior ao da chamada arte maior e coloca uma fronteira entre o artesão e o seu público, assim como uma espécie de entrelugar como artífice e artista. Tudo isso conforme uma dada norma culta.

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Exemplo desse entrelugar já se vê em Minas Gerais desde o século XVIII e XIX com a transplantação da estética barroca e rococó para as chamadas cidades históricas. São recentes os estudos que apontam novas perspectivas de caráter estilístico, filosófico, histórico, antropológico, entre outros, que divulgam aspectos inusitados do fenômeno, destacáveis como as manifestações coletivas (festas e procissões), arquitetura do efêmero, criações anônimas, adaptações formais, ilustrações de textos, bens intangíveis etc. Até bem recentemente, só eram passíveis de serem tombados, e aceitos oficialmente como arte, monumentos que indicavam autoria erudita com parecer de especialista de renome. Para finalizar, é inegável a exuberância, a amplitude de temas, motivos ornamentais, o caráter maravilhoso de figuras monstruosas, como carrancas e imagens antropomorfas, motivos de influência barroco/rococó, como figuras piedosas da taumaturgia, a integração de elementos vegetais ao artesanato brasileiro, configurando tipologias seriadas. Mais recentemente, a imigração de outras culturas europeias trouxe o requinte do trabalho com bordados, tecelagem de fios à mão, rendas e outras técnicas que se mesclaram à confecção de objetos mais populares, provando a teoria de Saul Martins de que o artesanato não é uma condição de inferioridade popular, mas está presente em todas as culturas, mesmo nas ditas mais civilizadas e ricas. Do pitoresco ao estranhamento, do rústico ao requinte, a circularidade dos saberes confirma as transplantações de mãos duplas entre os povos na arte de construir objetos.

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Galinha Cer창mica XXXXX XXXXXXXXXXXXXXX/MG

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Divino Madeira Josias Cardoso Lagoa Dourada/MG

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Este livro foi impresso em papel couchĂŞ 150g, com capa dura, fontes Berlin Sans FB e Myriad Pro. Belo Horizonte - 2011




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