Teatro do Centro Cultural Minas Tênis Clube Temporada 2018
4 de setembro - terça-feira - 20h30
ANTÔNIO MENESES, cello Antônio Meneses é considerado pela crítica mundial um dos maiores violoncelistas internacionais. É vencedor de duas das competições mais importantes do mundo: Concurso ARD de Munique, em 1977 e Concurso Tchaikovsky de Moscou, em 1982. Em 2011 integrou como convidado de honra a comissão julgadora do Concurso Tchaikovsky em Moscou. Em 2015, recebeu o título de Doutor Honoris Causae pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Antônio Meneses nasceu em Pernambuco, numa família de músicos. Foi o pai, o trompista João Meneses, da Orquestra do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, quem primeiro o orientou em seus estudos musicais. Seu talento extraordinário levou o virtuose italiano Antonio Janigro, então em turnê pelo Brasil, a conduzí-lo para estudar na Europa, aos 17 anos, primeiro em Düsseldorf, depois em Stuttgart. A convite de Herbert von Karajan, apresentou-se com a Orquestra Filarmônica de Berlim, de cujo concerto resultou a gravação do Concerto Duplo de Brahms, ao lado da violinista Anne Sophie-Mutter. Antônio Meneses apresenta-se regularmente com as mais importantes orquestras internacionais, como a London Symphony Orchestra, Amsterdam Royal Concertgebow, New York Philharmonic, L’Orchestre de la Suisse Romande, National Symphony Orchestra, Vienna Symphony Orchestra, Filarmônica de Moscou, Filarmônica de São Petersburgo, Filarmônica Tcheca, Filarmônica de Israel, NHK Symphony Orchestra. É frequentemente convidado para os mais importantes festivais internacionais de música como: Casals, de Puerto Rico, de Salzburg, de Lucerna, Viena Festwochen, Berliner Festwochen, da Primavera, de Praga, Mostly Mozart, Sviatoslav Richter, dentre outros. Além da sua agenda de concertos, Antônio Meneses orienta cursos de aperfeiçoamento na Europa, nas Américas e no Japão. Desde outubro de 2007 Meneses é professor de violoncelo no Conservatório de Berna, Suíça. Antônio Meneses toca um violoncelo de Matteo Goffriller, feito em Veneza, por volta de 1710.
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JOHANN SEBASTIAN BACH (1685-1750) Suite Nº3, em Dó Maior BWV 1009 Praeludium Allemande Courante Sarabande Bourrée I & II Gigue
RONALDO MIRANDA (1948) Etius Melos - Hommage à Bach
MARLOS NOBRE (1939) Cantoria
ALMEIDA PRADO (1943) Preambulum
EDINO KRIEGER (1928) Pequena Seresta para Bach
MARISA REZENDE (1944) Preludiando
MARCO PADILHA (1955) Invocatio Opus 21 Nº1
CLÓVIS PEREIRA (1932) Suite Macambira
Prelúdio O Canto do Cego Dança (Grazioso) Coco Agalopado Frevo Canzonado
OBRAS
Os compassos iniciais do Prélude da Suíte no 3 em dó maior - uma expansiva linha descendente que cobre duas oitavas e alcança o dó grave da corda solta - são quase um atestado de intenção. Trata-se de um gesto declamatório que a partir de então cresce em intensidade até alcançar o clímax na nota pedal sol. Nós já encontramos algo parecido no prelúdio da Suíte em sol maior, mas neste Prélude em dó maior o efeito é ampliado em sua extensão. Próximo do término, interjeições vigorosas com acordes de quatro notas preparam a conclusão do movimento. A Allemande, como o Prélude, é expansiva em sua primeira manifestação. Enquanto inicialmente ela caracteriza inequivocamente um movimento de dança, a figuração elaborada e a diversidade rítmica que seguem tendem a ocultar esse fato. A Courante seguinte consiste de uma sequência praticamente ininterrupta de colcheias, na qual o contraste é alcançado com a alternância de passagens em arpejos com progressões melódicas sobre a escala. A Sarabande em acordes é um movimento contemplativo que Bach, apesar de escrever utilizando-se da convencional forma da dança, tanto expande como ao mesmo tempo imbui de conteúdo mais profundo e expressivo, de uma maneira como nenhum de seus predecessores ou contemporâneos logrou fazer. As duas Bourrées que seguem são, ao contrário, em um idioma muito direto de dança. Bach, contudo, enriquece essas alegres peças “galantes” com uma expressiva linha melódica e por meio de um contraste tonal entre suas duas partes. A Gigue final é vigorosa e alguns de seus acordes duplos conferem à peça um sabor exótico.
Nicholas Anderson “A obra Etius Melos - Hommage à Bach foi composta em janeiro de 2005, por solicitação do violoncelista Antonio Meneses, para funcionar como uma espécie de preâmbulo para a Suite Nº1 Sol Maior, para violoncelo solo, de Johann Sebastian Bach. O próprio título da composição - Etius Melos, um anagrama de Suite em Sol - já revela a origem da peça objeto da homenagem. Projetando uma forma ternária simples, utilizo em Etius Melos o motivo básico do início do Prelúdio da Suite em Sol de Bach modificando-o rítmica e melodicamente, com um intervalo aumentado. Esse é o ponto de partida das seções extremas - primeira e última - da obra. A parte central focaliza o tema utilizado por Bach na seção intermediária do Minueto, cujo contorno melódico, em sol menor, denota uma atmosfera dolente de caráter quase ‘seresteiro’. Identifico nesse motivo bachiano a mesma brasilidade que Heitor Villa-Lobos revelou em Bach, na sua série Bachianas Brasileiras: um clima que pode ser transubstanciado da Alemanha do Século XVIII para o Brasil dos nossos dias”.
Ronaldo Miranda “Através de uma encomenda do grande violoncelista Antonio Meneses, compus em 2004 a peça Praeambulum para ser tocada antes da Suíte Nº3 em Dó Maior, de J. S. Bach. É uma escrita em torno de Dó Maior, livremente tonal, e aparece vez ou outra as quatro notas relativas ao nome de Bach: si bemol - lá - dó - si. Alguns melismas nordestinos homenageiam as raízes pernambucanas de Antonio Meneses. Termina numa dominante, com harmonia de Sol Maior, antecipando o início da Suíte de Bach”.
Almeida Prado “Preludiando parte da proposta de Antonio Meneses, a quem é dedicada, de servir como um prelúdio à Suite Nº5, para violoncelo solo, de Bach. Assim, a peça sugere elementos presentes à linguagem barroca, como um ou outro fragmento melódico, uma ou outra figuração, e até mesmo uma referência à dó menor, tom desta Suite. O discurso se constrói de forma fragmentada, como a negar os afetos estabelecidos por seu modelo, introduzindo uma ambigüidade marcante de um outro tempo, um tempo de dúvidas”.
Marisa Rezende
“Cantoria, para violoncelo solo, nasceu da sugestão de Antonio Meneses para que eu escrevesse um prólogo à Suite N°2 em Ré Menor de Bach, e tem sua célula básica no pequeno motivo inicial da Suite Nº2, que é o germe de toda a obra (ré-fá-lá). De maneira totalmente natural o pequeno motivo bachiano desenvolveu-se em minha mente como o impulso inicial de uma cantilena à maneira das cantorias do nordeste do Brasil, mais especificamente dos cantadores populares de Pernambuco onde, coincidentemente, tanto Meneses como eu somos originários. A Cantoria retoma portanto a idéia do improviso do cantador nordestino, desenvolvendo-se em dois climas: um notadamente tonal e outro atonal, culminando em uma frase exaltada tipicamente nordestina”.
Marlos Nobre “Foi Villa-Lobos quem primeiro reverenciou, em suas Bachianas Brasileiras, a relação musical efetivamente existente entre a obra de Bach e certos elementos constitutivos do pensamento musical brasileiro. A proposta de Antonio Meneses, ao solicitar a seis compositores brasileiros de agora, páginas introdutórias ao Ciclo de Suítes de Bach para violoncelo solo, configura-se como um prolongamento, guardadas as distâncias de dimensões e de estilo, da homenagem genial de Villa-Lobos. A Pequena Seresta para Bach é uma página singela que deve ser compreendida sobretudo dentro desse contexto. Inicia-se com uma linha melódica de caráter seresteiro, que aos poucos cede lugar a procedimentos instrumentais encontrados nas Suites, mas numa linguagem mais contemporânea, para retornar, nos momentos finais, ao clima seresteiro inicial”.
Edino Krieger “Em uma de suas poesias, Vinícius de Moraes nos passa um momento de profunda lucidez: ‘Longe está o espaço onde existem os grandes vôos e onde a música vibra solta’. Assim penso minha música. Assim é Invocatio Nº1 para violoncelo solo, um preâmbulo à Suite Nº6 de J. S. Bach. Escrita em linguagem contemporânea com contraponto livre e apoio em trítonos, a obra se desenvolve até ser bruscamente interrompida por uma espécie de coral bachiano muito lento. Novamente, retornam os trítonos e efeitos que conduzem, aos poucos, para um chamado ao tema do prelúdio da aludida Suite, deixando caminho para que a grande música de Bach vibre solta”.
Marco Padilha O Prelúdio da Suíte Macambira do compositor pernambucano Clóvis Pereira bem serviria de introdução a Suíte nº1, de J. S. Bach. Ele mantem os traços iniciais da obra bachiana - tal qual ouvimos nos arpejos do Etius Melos, de Ronaldo Miranda. No Prelúdio, assim como em toda a Suíte de Clóvis Pereira, ressoa o modalismo típico do nordeste brasileiro, um dos inúmeros elementos de uma rica cultura nacional, que se estende da Bahia ao Piauí, assim como a planta macambira, que nomeia a obra. O Canto do Cego, uma pungente melodia de pedinte às vezes apoiada por acordes, surge como uma sarabanda meditativa. Na Dança característica, graciosa como uma cantiga de roda, Clóvis Pereira parece homenagear o virtuose do violino, o compositor italiano Nicolò Paganini. O nosso “Maestro Clóvis”, um dos “musicadores” do Movimento Armorial de Ariano Suassuna, ao lado de Guerra-Peixe e Cussy de Almeida, conjuga plenamente o erudito e o popular, sendo reconhecido compositor de frevos de rua, caboclinhos e maracatus. Em seu Coco-agalopado ele mistura, com humor, a 5ª Sinfonia de Beethoven, a cantiga do tirador de cocos e o processo poético do repente. O que seria um Frevo Canzonado? Talvez um caprichoso frevo essencialmente instrumental, uma criativa união da famosa dança pernambucana à canzone da renascença italiana, ancestral direta da fuga e da sonata, principais formas instrumentais da música erudita ocidental.
Marcelo Corrêa