Queridos amigos, queridas amigas, Pelo quinto ano consecutivo, o Minas Tênis Clube renova o apoio prestado à série “Concertos Teatro Bradesco”, permitindo ao público o privilégio de desfrutar de nova Temporada com excelentes músicos interpretando música de alta qualidade. Dos sete concertos que emolduram a Temporada 2017, o primeiro programa, trazido por cinco dos melhores percussionistas brasileiros, esboça um panorama do repertório contemporâneo para conjunto de percussão, dos autores norte-americanos Peck, Becker e Cahn, a composições dos próprios integrantes do Duo Desvio, entremeados pelo romeno Ligeti e o japonês Miki. Grande contraste provoca o repertório de câmera do segundo programa, com a presença do trio com piano, formação clássica aqui muito bem representada pelas superlativas irmãs coreanas Kim, e por três dos maiores compositores do gênero de todos os tempos: Mozart, Beethoven e Mendelssohn. No concerto seguinte, será concedida a excepcional oportunidade de ouvir importantes obras camerísticas pelos reputados membros do Quarteto Carlos Gomes. Os músicos abrilhantam a programação, tocando quartetos de Levy e Veslásquez, composições raramente executadas, ao lado do famoso Quarteto “Americano” de Dvorák. Simone Leitão, pianista de larga desenvoltura em múltiplas atividades artísticas e importante desempenho também como promotora, assina o quarto concerto da série, executando obras de Bach, Ravel e a primeira das três sonatas escritas por Ginastera para piano. Em agosto, mês em que completa 60 anos, Antônio Meneses oferece aos belo-horizontinos mais uma oportunidade de fruir sua música. Pela primeira vez no Teatro Bradesco, sua vinda é motivo de grande alegria pessoal ao dividir o palco com o artista. O nome de Anna Malikova, sempre aguardado pelo crescente número de fãs da pianista em Belo Horizonte, é garantia de que as obras de Chopin escolhidas para seu recital, mesmo muito conhecidas e consagradas, surpreenderão pelo encanto e refinamento de sua interpretação. No concerto de encerramento da Temporada 2017, recebemos a pianista brasileira Clélia Iruzun, radicada em Londres, em parceria com o celebrado quarteto britânico Coull Quartet, interpretando entre Haydn e Schumann, Iara, dos sete Quadros Amazônicos, de Mignone, na versão do autor para piano e quarteto de cordas. Gratos pela assídua e valiosa presença do nosso público e pelo incondicional apoio do Minas Tênis Clube, ambos imprescindíveis para esta realização, esperamos que a quinta edição dos “Concertos Teatro Bradesco” venha a atender às elevadas expectativas de todos.
Celina Szrvinsk Diretora Artística dos “Concertos Teatro Bradesco”
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DUO DESVIO LEONARDO GOROSITO e RAFAEL ALBERTO
Convidados DANIEL LEMOS, WERNER SILVEIRA E SÉRGIO ALUOTTO
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21 de março - terça-feira - 20h30
RUSSELL PECK (1945-2009) Lift-Off!
MINORU MIKI (1930-2011)
Marimba Spiritual, para marimba e 3 percussionistas Leonardo Gorosito, Marimba
GYÖRGY LIGETI (1923-2006)
Musica Ricercata nº 7 - Cantabile, molto legato
BOB BECKER (1947) New-Thaan
Werner Silveira, tambor
LEONARDO GOROSITO (1984) - RAFAEL ALBERTO (1987) Núcleo
WILLIAM CAHN (1947)
Time Traveler, para marimba e 4 percussionistas Rafael Alberto, Marimba
LEONARDO GOROSITO (1984) Bloco
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O duo DESVIO é formado pelos músicos e compositores Leonardo Gorosito e Rafael Alberto. Desenvolve um trabalho autoral dedicado à música brasileira, mesclando as influências populares ao pensamento erudito. O duo estreou o espetáculo autoral Cancioneiro em 2013 e foi convidado a executá-lo em diversos festivais pelo país. Sua mais recente conquista foi o festival Circuito de Música Acústica, realizado em Minas Gerais, do qual o duo saiu vencedor e teve como prêmio um show ao lado do renomado músico Hamilton de Holanda. DESVIO tem suas peças executadas por músicos e duos de outros países, como França, Alemanha, Bélgica, Cingapura, Japão e, principalmente, Estados Unidos. Tem recebido encomendas de novas obras para percussão, trilhas sonoras de publicidade e espetáculos de dança. Sua recente produção é a trilha sonora do espetáculo “Pai” da Cia Antônio Nóbrega de Dança e do espetáculo “Da quadrinha ao galope beira-mar”, junto a mesma companhia. Em 2016, estreou o inédito Concerto para Dois Pandeiros e Orquestra de Cordas, composto por Desvio, ao lado da Orquestra Ouro Preto. Atualmente, conta com três shows autorais: C’Alma (2016), Miniaturas (2014) e Cancioneiro (2013) - álbum lançado recentemente. Neste ano, DESVIO lançará o DVD Cancioneiro. Leonardo Gorosito integra o duo Desvio e é compositor. Possui Bacharelado pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), onde foi aluno de John Boudler, Carlos Stasi e Eduardo Gianesella. Obteve seu Mestrado e Diploma de Artista em Percussão pela Yale University, sob a orientação do professor Robert Van Sice. Rafael Alberto, outro integrante do duo Desvio, é compositor e percussionista principal da Orquestra Filarmônica de Minas Gerais. Formou-se no Conservatório de Tatuí sob orientação de Javier Calvino e Luis Marcos Caldana e concluiu seu Bacharelado em Percussão pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), tendo como professores John Boudler, Carlos Stasi e Eduardo Gianesella. Em 2011, concluiu seu Mestrado pela Stony Brook University, em Nova York, como aluno de Eduardo Leandro. Daniel Lemos iniciou seus estudos em percussão em 1992 na Escola Municipal de Música de São Paulo com a professora Elizabeth Del Grande. Em 1997, concluiu o bacharelado em Música com habilitação em Percussão pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), orientado por John Boudler, Carlos Stasi e Eduardo Gianesella. Daniel integrou o Piap, grupo de Percussão da Unesp, com o qual gravou o álbum Obras Brasileiras Inéditas para Percussão. De 1999 a 2007, foi timpanista da Orquestra Amazonas Filarmônica. Nesse mesmo período, lecionou no Centro Cultural Cláudio Santoro e na Universidade do Estado do Amazonas, realizando concertos como diretor dos grupos de percussão dessas instituições. Participou de festivais de música e encontros de percussão em várias cidades do Brasil. Aperfeiçoou-se com renomados professores, entre eles Vic Firth, Ney Rosauro, Eduardo Leandro, Christopher Lamb, Ricardo Bologna e Leigh H. Stevens. Sérgio Aluotto graduou-se em Percussão pela UFMG em 2004, sob orientação de Fernando Rocha. Estudou também na Drummers Collective, em Nova York, e participou de cursos, oficinas e aulas com os percussionistas Rubén Zuñiga, Eduardo Gianesella, Ricardo Bologna, Eduardo Leandro, John Rilley, Michael Lauren, entre outros. Em 2004, foi o músico mineiro selecionado para participar do projeto Orquestra para Todos, junto à Sinfônica Brasileira. Integrou a Sinfônica de Minas Gerais de 2001 a 2007, foi professor do bacharelado em Percussão da UFMG de 2004 a 2006. É colaborador da Orquestra Ouro Preto e integra a Filarmônica de Minas Gerais desde 2008. Como compositor-intérprete gravou o álbum Incipit, em 2005. Atuou ao lado de Mauro Rodrigues, Esdras Ferreira, Rufo Herrera, Werner Silveira, Dilson Florêncio, Eduardo Campos, Décio Ramos, Uakti e Skank.
Werner Silveira graduou-se em Percussão pela UFMG sob orientação do professor Fernando Rocha. De 2005 a 2010, foi professor e coordenador do Grupo de Percussão da Escola de Música do Centro de Formação Artística da Fundação Clóvis Salgado. Em 2010, coordenou o Departamento de Música desta mesma instituição. Entre 2001 e 2007, integrou o naipe de Percussão da Orquestra Sinfônica de Minas Gerais. Paralelamente às atividades na Filarmônica de Minas Gerais, Werner desenvolve o projeto Degustação Musical, um ciclo de palestras temáticas que tem como objetivo expandir e desenvolver nossas percepções pessoais e profissionais por meio da interação das artes, da história, da filosofia e da gestão.
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COMPOSITORES A música do compositor americano Russell Peck (19452009) transita entre sua formação erudita e a soul music americana, estilo que viu emergir durante sua adolescência em Detroit. Lift-Off!, para trio de percussão, foi escrito à época em que Peck se graduou cum laude pela Universidade de Michigan e recebeu o prestigiado Prêmio Koussevitsky, concedido por meio de sua associação com o Tanglewood Music Center. Em Lift-Off!, cada um dos três percussionistas toca três tambores de três diferentes tamanhos num diálogo contínuo. O resultado é semelhante a uma antífona a três coros, que criam um envolvente efeito tri-estéreo. Posteriormente, Lift-Off! foi incorporada ao concerto The Glory and the Grandeur, para três percussionistas e orquestra.
O compositor e percussionista americano Bob Becker (1947) emprega em sua música uma abordagem multicultural, misturando rufos militares ocidentais, música minimalista - herança do contato com Steve Reich - e expressões idiomáticas hindustanis, do norte da Índia. A organização rítmica na música hindustani é baseada em padrões rítmicos chamados tala e melódicos - no caso microtonais - chamados ragas. Na obra New-Thaan, original para tambor e fita magnética, a influência indiana é nítida. O material melódico-harmônico pode ser realizado por meios mecânicos de reprodução ou ser transposto para instrumentos acústicos ou eletrônicos. O título New-Thaan, é um neologismo criado a partir da expressão hindi Uthan, que significa “ascensão”.
Nascido em Tokushima e graduado em composição pela Universidade de Tóquio, Minoru Miki (1930-2011) tem se destacado como um dos principais compositores japoneses. Compôs um conjunto de nove óperas, nas quais descreve 1600 anos da história de seu país. Fundou a Pro musica Nipponia - também conhecida como Ensemble Nipponia uma orquestra constituída exclusivamente de instrumentos japoneses tradicionais. Marimba Spiritual, para marimba solo com trio de percussão é um de seus trabalhos mais conhecidos e executados. Nele, o instrumento solista realiza uma espécie de salmo no qual o responsório, ou resposta, é atribuído aos outros instrumentos. O tema, harmonicamente vazio, em paralelismo de sextas e sétimas sobre o bordão de quinta, confere caráter meditativo à obra. Além de Marimba Spiritual, Miki compôs diversas obras de câmara que utilizam percussão e marimba, a citar Time for Marimba e o Concerto para Marimba e Orquestra, todas dedicadas à virtuose do instrumento Keiko Abe.
William L. Cahn (1947), conhecido como Bill Cahn, atuou como percussionista principal na Orquestra Filarmônica de Rochester e é membro do grupo de percussão Nexus. Além de músico premiado, Cahn é autor de livros e idealizador de programas educativos sobre música. Time Traveler é dedicada à virtuose da marimba Mika Yoshida Stoltzman, que gravou a obra em 2002 no álbum Marimba Fase. A obra é marcada pela atuação do solista em dois instrumentos: a marimba e o donno, um tambor africano em forma de ampulheta, cujo tom pode ser regulado para imitar a fala humana.
O termo italiano ricercar - semelhante ao verbete inglês research - significa pesquisar, buscar ou explorar. O termo foi utilizado na música instrumental italiana, sobretudo na renascença e no barroco, como ato de se buscar a tonalidade, o modo ou sobre qual tema se baseiam as variações de uma peça musical. O compositor romeno György Ligeti (19232006) resgatou este conceito ao criar, no início dos anos 50, onze peças para piano denominadas Musica Ricercata. A primeira, toda construída sobre uma única nota - lá - encerra-se com a nota ré. A cada peça, são adicionados novos conjuntos de notas até a última peça, uma ricercata em homenagem ao Recercar cromatico post il Credo, composto em 1635 por Frescobaldi. Música Ricercata nº7 inicia-se e encerra-se com um acompanhamento ostinato de sete notas. O tratamento melódico é semelhante ao ricercar de variação renascentista, no qual um único tema é acompanhado de diferentes contrapontos em várias seções.
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A obra Núcleo, assinada pela dupla Leonardo Gorosito e Rafael Alberto, foi composta em 2015 e estreada no mesmo ano pelo Grupo de Percussão da Orquestra Filarmônica de Minas Gerais, no Memorial Vale, em Belo Horizonte. “Na peça, os percussionistas descrevem um movimento de afastamento completo dos centros, partindo de uma referência tonal no vibrafone até culminar em uma dispersão rítmica entre pandeiro, caxixi, prato e o curioso rói-rói”, explicam os autores. Bloco, de Leonardo Gorosito, foi inspirada no frevo e criada como música incidental do espetáculo Pai, da Companhia Antonio Nóbrega de Dança. O trabalho é marcado pela utilização de ritmos e instrumentos genuinamente brasileiros como aporte sensorial ao piano e ao violão. Posteriormente, a obra foi transcrita para instrumentos de percussão e orquestra de cordas. Esta última versão foi estreada no Grande Teatro do Sesc Palladium, em Belo Horizonte, pela Orquestra Ouro Preto em espetáculo dedicado exclusivamente às composições do Duo Desvio.
Marcelo Corrêa
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KIM TRIO TAEHYUN KIM , violino JIYEON KIM , violoncelo. NAYOUNG KIM , piano
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2 de abril - domingo - 20h30
WOLFGANG AMADEUS MOZART (1756-1791) Trio em dó maior KV548 Allegro Andante cantabile Allegro
LUDWIG VAN BEETHOVEN (1770-1827) Trio em dó menor op. 1 nº 3 Allegro con brio Andante cantabile con variazoni Minueto: Quase allegro Finale: Prestissimo
FELIX MENDELSSOHN-BARTHOLDY (1809-1847) Trio em ré menor op. 49 Molto allegro agitato Andante con moto tranquillo Scherzo: Leggiero e vivace Finale: Allegro assai appassionato
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O Kim Trio foi formado em 2000 pelas irmãs Nayoung Kim (piano), Taehyun Kim (violino) e Jiyeon Kim (violoncelo). Nascidas na Coréia do Sul, iniciaram seus estudos musicais no piano. Após a mudança de Taeyun para o violino e Jiyeon para o cello, receberam orientação na Sun-Hwa e Ye-Won Arts School, em Seul. Prosseguiram os estudos em Viena, Hanover, Berlim, Oslo e Hamburgo. Aperfeiçoaram-se também com músicos célebres como Rostropovitch, Beyerle, De Rosa, Kalichstein, W. Levin (LaSalle Quartet), F. Rados. O grupo já realizou turnês pela Austrália, Áustria, Alemanha, Itália, Brasil, Noruega e Coréia e realizou gravações para as rádios NDR, NRK, RBB e ABC. O Kim Trio é vencedor de vários importantes concursos internacionais para conjuntos de câmara tais como: Concurso Internacional de Música de Câmera da Noruega em 2003, Concurso Tapani (Itália) em 2004, Concurso Gaetano Zinetti (Itália) e Concurso Europeu de Música de Câmera de Karlsruhe (Alemanha) em 2005. Receberam ainda o “Prêmio Felix Mendelssohn” da Fundação Preußischer Kulturbesitz de Berlim, “Prêmio de Música de Câmera” do Freunde Junger Musiker na Alemanha e “Prêmio Hermann Rauhe” em Hamburgo. O alto nível das integrantes garantiu-lhes a obtenção de várias bolsas de estudos de importantes fundações alemãs como Friedrich Jürgen Sellheim, Fördervereins Live Music Now, Yehudi Menuhin e atualmente Fundação Oscar e Vera Ritter de Hamburgo.
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COMPOSITORES Com apenas oito anos, Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791) escreveu em Londres seus primeiros trios - seis, ao todo - para cravo, violino, violoncelo, dedicados à rainha Charlotte da Inglaterra. Tais trios, retratos de sua genial precocidade, foram publicados em Londres sob o título de “sonatas”, pois são remanescentes da forma trio-sonata barroca, na qual o violoncelo dobra a mão esquerda do teclado. Mozart somente retornou ao gênero aos vinte anos, com o Divertimento a tre. Entre 1786 e 1788, já em plena maturidade musical, ele compôs cinco trios de envergadura cuja venda lhe rendera um bom dinheiro. Surgiram à mesma época a ópera Don Giovanni, os últimos três concertos para piano e as últimas sinfonias. O Trio em dó maior K548, penúltima obra que dedicou ao gênero, associa-se à sua última sinfonia, a Sinfonia Júpiter, escrita no mesmo período e na mesma tonalidade. A atitude triunfante e positiva destas obras, sem questionamentos internos, demonstra a grandeza da música de Mozart dos últimos anos. A guerra territorial entre a Áustria e a Turquia, entre 1787 e 1791, levou ao declínio os concertos vienenses e a carreira de músicos que, assim como Mozart, dependiam dos auspícios da aristocracia. Mozart, porém, ignorou a guerra e profetizou musicalmente um futuro próximo no qual surgiriam Schubert e Beethoven. Em 1787, Ludwig van Beethoven (1770-1827) partiu para Viena a fim de receber aulas de Mozart, mas tal fato nunca se concretizou, pois, ao saber que a mãe agonizava, voltou imediatamente para Bonn. Em 1791, Mozart faleceu e, no ano seguinte, Beethoven retornou à Viena para estudar com Joseph Haydn, então considerado o “maior compositor vivo”. As aulas duraram até 1794, quando Haydn partiu em viagem para a Inglaterra. Neste mesmo ano, Beethoven começou a compor o que seria sua primeira publicação importante: os Trios para Piano Opus 1 dedicados ao Príncipe Carl von Lichnowsky. A publicação destas obras deu-se entre julho e agosto de 1795, véspera da chegada de Haydn que, para desapontamento do discípulo, desaconselhou a publicação do Trio Nº3 em Dó Menor. Este fato marcou a relação volúvel entre Haydn e Beethoven que culminou na amarga confissão deste: “com ele nada aprendi”.
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Entretanto, em outubro de 1795, as recém-concluídas Sonatas para Piano Opus 2 foram tocadas na presença de Haydn - a quem foram dedicadas - e, em dezembro do mesmo ano, Beethoven apresentou seu 1º Concerto para Piano e Orquestra sob a regência de seu professor. Considerando sua curta existência - 38 anos - o compositor alemão Félix Mendelssohn (1809-1847) deixou-nos uma extensa e variada obra, escrita com a insuperável maestria que já possuía aos primeiros anos da juventude. Entre suas composições de câmara com piano destacam-se três quartetos, um sexteto e dois trios, estes, os últimos a serem compostos. O Trio nº1 em ré menor, de 1839, provou ser um sucesso imediato desde a primeira execução realizada em Frankfurt, no ano seguinte, com o próprio compositor ao piano. Na ocasião, Robert Schumann, em suas atribuições como crítico musical, publicou a seguinte nota: “É necessário dizer muito pouco sobre o trio de Mendelssohn uma vez que ele está nas mãos de todos. Esta obra-prima é atual assim como foram atuais os grandes trios de Beethoven e Schubert, de modo que, no futuro, esta adorável composição também servirá de deleite para nossos netos e bisnetos. Mendelssohn ergueu-se tão alto que daqui a alguns anos será reconhecido como ‘o Mozart do século dezenove’ - que foi o mais brilhante entre os músicos e aquele que primeiro e mais claramente reconheceu as contradições de seu tempo. Depois de Mozart veio Beethoven, e este Mozart moderno será seguido por um novo Beethoven que já deve ter nascido. Bem, o que mais pode se dizer a respeito deste trio sem repetir as palavras dos que o escutaram? Os mais felizes ouviram-no pelas mãos de seu criador. Embora tenhamos arrojados virtuoses, raramente teremos uma performance de frescor tão encantador. E devo ressaltar que este trio não foi escrito para o piano tocar sozinho! Deixemos que esta obra atinja a todos, como deve ser, e prove mais uma vez a força artística de seu criador, cuja maturidade surge como uma flor desabrochada.” Marcelo Corrêa
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QUARTETO CARLOS GOMES CLÁUDIO CRUZ , violino ADOHNIRAN REIS , violino GABRIEL MARIN , viola ALCEU REIS , violoncelo
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ALEXANDRE LEVY (1864-1892) Quarteto em lá menor
Allegro commodo Scherzo: Allegro assai gracioso Adagio molto, quasi lento Finale: Allegro
GLAUCO VELÁSQUEZ (1884-1914) Quarteto em sol maior Allegro Moderato Scherzo: presto Adagio molto espressivo Finale: Allegro
ANTONÍN DVORÁK (1841-1904)
Quarteto nº 12 em fá maior op. 96, “Americano” Allegro ma non troppo Lento Molto vivace Vivace ma non troppo
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O Quarteto Carlos Gomes tem como seu principal objetivo a divulgação da Música Brasileira, Latino Americana, a Música de nosso tempo, além do amplo repertório composto para este gênero. Composto por quatro dos mais importantes músicos do cenário nacional, o quarteto realiza um constante trabalho de pesquisa junto a bibliotecas e museus sobre material nunca gravado e muitas vezes nunca executado. O quarteto é formado por Cláudio Cruz, regente da Orquestra Sinfônica Jovem do Estado de São Paulo, vencedor de diversos prêmios, entre eles o Grammy Awards, Adonhiran Reis, spalla da Orquestra Sinfônica da UFRJ, professor do Conservatório Brasileiro de Música, Gabriel Marin, violista da Orquestra Sinfônica da USP e por muitos anos primeira viola da Orquestra Sinfônica Brasileira, e Alceu Reis, que como primeiro violoncelo liderou as orquestras do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, a Orquestra Sinfônica Brasileira, e também foi vencedor do prêmio Grammy Awards. O conjunto vem surpreendendo o cenário musical e conquistando elogiosas críticas de seus pares. A temporada 2015-2016 inclui participações em prestigiosos festivais no Brasil e concertos em diversas cidades do país, com a colaboração de importantes artistas como Antonio Meneses, Bruno Giuranna, Monica Salmaso, entre outros.
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COMPOSITORES “Um anúncio de gênio!”, assim reverenciou Mario de Andrade o jovem Alexandre Levy (1864-1892), falecido com apenas 28 anos de vida. Pianista prodígio, Alexandre seguiu os passos do irmão três anos mais velho, Luiz, também pianista e compositor. Aos 23 anos foi estudar em Paris com Émile Durand e Vincenzo Ferroni. A despeito da formação francesa, sua maior influência foi a música germânica de Robert Schumann. Alexandre concluiu seu único Quarteto em março de 1885. É uma obra da juventude - ainda longe do estilo schumanniano -, na qual aspira claramente os moldes dos quartetos de cordas da primeira fase de Beethoven. No Allegro commodo o autor surpreende ao abandonar uma sequência de transições beethovenianas e desmembrar o tema inicial em pequenos fragmentos cromáticos. Tais fragmentos, de apenas três notas, reaparecerão no Adagio molto, um movimento lento inteiramente estruturado em escrita coral. O gracioso Scherzo é levemente valseado, bem ao gosto das peças de salão. O Finale é, sem dúvida, o movimento mais interessante do ponto de vista composicional. Nele, Alexandre Levy amplia o uso dos recursos musicais, contrastes estruturais, modulações, falsas reexposições, e conduz a obra a uma excitante conclusão. Glauco Velásquez (1884-1914) nasceu em Nápoles, Itália, e faleceu na cidade do Rio de Janeiro. Apesar da morte prematura, causada pela tuberculose, compôs em apenas uma década (1903-1913), cerca de cento e trinta obras que garantem seu lugar na história da música brasileira. Escritas há mais de um século, suas obras ainda possuem uma notável força inovadora e aguardam minuciosa revisão, análise e avaliação para serem enfim publicadas. É o caso do raríssimo Quartetto Primo em sol maior, composto entre agosto e setembro de 1910, no Meyer, Rio de Janeiro. Na verdade, já não é mais possível estabelecer laços tonais nos movimentos desta obra, exceto o Scherzo, em fá. A obra foi estreada em maio de 1913, por Paulina d’Ambrosio e Fredy Blank, nos violinos, Orlando Frederico, na viola e Gustavo Hess de Mello, no violoncelo. O Quarteto foi executado tam-
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bém no primeiro concerto da Sociedade Glauco Velásquez, criada após a morte do compositor. O crítico Oscar Guabarino escreveu à ocasião: “Dentre as peças executadas naquela noite, esse quartetto salienta-se naturalmente não só pelo gênero, que é o mais exigente da arte de composição, como pela franqueza na exposição das ideias musicais. Nota-se a dramaticidade musical no Moderato, franca e sem o artificialismo usado pelo autor, sobretudo na música para canto. É que a escola extensa do quartetto não lhe oferece os embaraços e as peias da música vocal. No Adagio é ele doentiamente terno e comunicativo, imprevisto desde que há o ataque do Scherzo, risonho e travesso, traçado como que de uma só penada. Mas é no Final que se pode apreciar o ardil do compositor, numa espécie de síntese musical”. O compositor tcheco Antonín Dvorák (1841-1904), aos quinze anos mudou-se para Praga a fim de estudar teoria musical, órgão, canto e, principalmente, viola. Tornou-se violista da Orquestra do Teatro de Praga, à época regida por Richard Wagner e Bedrich Smetana. Este último, também importante compositor, foi o criador da música nacional tcheca e influenciou grandemente a música de Dvorák. Em 1892, Dvorák mudou-se para os Estado Unidos, assumindo a direção do Conservatório de Nova York. O contato com a música nativa americana o fez iniciar uma nova fase composicional, agora sob a influência indígena e afro-americana. Desse período, podemos enumerar a Sinfonia “Do Novo Mundo”, o Quarteto “Negro” e o Quarteto “Americano”. Este último, composto em 1893, possui a influência da música indígena autóctone, perceptível nas melodias pentatônicas: “escrevi simplesmente temas originais utilizando as peculiaridades da música indígena e, aproveitando tais temas para criar motivos melódicos. Posteriormente, desenvolvi-os com todos os recursos modernos do ritmo, harmonia, contraponto e colorido orquestral”, declarou o compositor. Marcelo Corrêa
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SIMONE LEITĂƒO, piano
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J. S. BACH (1685-1750) Partita nº 2 BWV 826 Sinfonia Allemande Courante Sarabande Rondo Cappriccio
MAURICE RAVEL (1875-1937) Une barque sur l’ocean
J. S. BACH/FERRUCCIO BUSONI (1866-1924) Chacone em ré menor
ALBERTO GINASTERA (1916-1983) Sonata para piano nº 1 op. 22 Allegro marcato Presto misterioso Adagio molto appassionato Ruvido ed ostinato
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A dinâmica pianista brasileira Simone Leitão é fundadora da agência Brasil Classical, idealizadora do projeto Academia Jovem Concertante e da Semana Internacional de Música de Câmara do Rio de Janeiro, a Rio Music Week. Paralelamente tem uma carreira ativa como recitalista, camerista e solista de orquestras nas Américas, Europa e Ásia. A artista, mineira de Caratinga, é uma das pianistas brasileiras mais atuantes do atual cenário nacional. Reconhecida por seu intenso temperamento, capacidade técnica e direção rítmica, vem ganhando notoriedade por divulgar a música de concerto brasileira. Além disso, se tornou uma referência no panorama musical por idealizar empreendimentos culturais que fortalecem e criam novos públicos para a música erudita no Brasil. Simone se dedica especialmente ao repertório de Bach, Prokofiev, Rachmaninoff, compositores das Américas e a obras contemporâneas brasileiras escritas especialmente para ela. Mantém uma agenda internacional frequente e se apresenta nas principais salas anualmente, entre elas o Carnegie Hall, a Sala Cecília Meireles e a Sala São Paulo. Já trabalhou como solista ao lado das orquestras Miami Symphony, Amazonas Filarmônica, Neojibá, Sinfônica Heliópolis, Filarmônica do Espírito Santo e Sinfônica de Barra Mansa, em que esteve sob a batuta dos maestros Eduardo Marturet, Ricardo Castro, Apo Hsu, Daniel Guedes, Guilherme Bernstein, Helder Trefzger e Luiz Fernando Malheiro. Em 2010, a pianista fez uma bem-sucedida turnê pela China que a levou a seis cidades, tendo ministrado máster classes para os alunos do Conservatório de Pequim e da Universidade de Qindao. Lançou seu primeiro CD, com obras de Ginastera, Beethoven e Andre Mehmari, distribuído pelo selo americano MSR Classics, marcado por extensa turnê pelo Brasil e Estados Unidos. Em 2013 realizou turnê nacional com a Orquestra Sinfônica de Barra Mansa, regida pela taiwanesa Apo Hsu e pelo brasileiro Guilherme Bernstein, turnê que se tornou a base do documentário Pare Olhe e Escute, dirigido por Katia Lund e supervisão de Laís Bodanski. Em 2016 prepara seu novo álbum dedicado a obras de Bach, que está gravando na Noruega. Simone Leitão obteve seu Doutorado em Piano Performance e História da Música pela Universidade de Miami, Mestrado pela Academia de Música da Noruega e o Bacharelado em Música pela Uni-Rio. Especializou-se nas obras para piano e orquestra de Villa-Lobos. Em Miami foi aluna de Ivan Davis, famoso discípulo de Horowitz, na Noruega estudou com Geir Beaaten, e no Brasil trabalhou com Linda Bustani e Homero Magalhães.
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COMPOSITORES Membro mais célebre de uma família que durante seis séculos produziu músicos eminentes, Johann Sebastian Bach (1685-1750) foi não só o último grande representante da era barroca, mas o mais genial compositor da história da música ocidental. Sintetizou três séculos de criação musical, utilizando-se de formas e estilos existentes e elevando-os a um nível artístico superior. Além disso, com genialidade e intuição, indicou o caminho que a música viria a percorrer nos séculos posteriores. Dentre milhares de obras vocais e instrumentais de todos os gêneros, deixou-nos extensa lista de composições para instrumentos de teclado, da qual fazem parte três grupos de seis suítes: as francesas, as inglesas e as alemãs, ou Partitas. O termo suíte, ou “seguinte”, surgiu da música renascentista para alaúde, instrumento de difícil afinação no qual, uma vez afinado, preferia-se executar em sequência peças de mesma tonalidade. Cada uma das Suítes de Bach inicia-se com um Prélude, seguido por três movimentos estilizados de dança da sequência clássica do gênero: Allemande, Courante e Sarabande. Para o quinto movimento, Bach valeu-se de três tipos de dança - Menuet, Bourrée ou Gavotte - pertencentes ao grande acervo de formas de dança galante que enriqueceu a suíte barroca do final do século XVII. Bach sempre finaliza com a Gigue a sequência da suíte tradicional. “Oh espelho! A água fria congelada pelo tédio em teu quadro. Quantas vezes, por horas a fio, entristecido por sonhos procurei minhas memórias, como que folhas mortas debaixo do gelo? Quantas vezes me vi refletido em seu abismo profundo como um fantasma distante? Mas, oh horror! Nalgumas noites, em teu atroz manancial, reconheci a nudez do meu sonho desordenado!” Esse trecho do poema Hérodiade de Stéphane Mallarmé possibilita um vislumbre do que intentava Maurice Ravel (1875-1937) ao intitular Miroirs (espelhos) o conjunto de cinco peças para piano compostas em 1905. Ravel vivia um período de múltiplas conquistas: renovação estética, afirmação como compositor sério e libertação das amarras acadêmicas, que não raro o desiludiram. O “espelho”, uma das quintessências do ideário simbolista, era um título sumamente adequado. “[Miroirs] são um conjunto de peças para piano que supõem mudança bastante considerável em minha evolução harmônica”, disse Ravel, “elas desconcertaram até os músicos mais acostumados à minha maneira de compor”. A ligação de Ravel com outros movimentos literários e pictóricos evidencia-se
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através das dedicatórias das peças de Miroirs aos integrantes da sociedade Les Apaches, formada pela vanguarda artística francesa. Das cinco peças, o autor elegeu duas para transcrever para orquestra: Une barque sur l´océan e Alborada del gracioso. Ele admitiu, porém, que a versão para piano de Une barque sur l´océan soa muito mais rica do que orquestral. Quando a textura é orquestrada em diferentes instrumentos, perdem-se os efeitos de água: “Existe uma escritura pianística mais orquestral que a própria orquestra. Algo que com uma orquestra é impossível perceber”, comentou Oliver Messiaen sobre a orquestração de Ravel. Das seis sonatas para violino sem acompanhamento que J. S. Bach compôs em 1720, três são denominadas partitas, por se assemelharem à suíte de danças onde se alternam andamentos lentos e rápidos geralmente encerrados por uma alegre giga. Nascida da tradição irlandesa, giga é sinônimo de violino, ainda hoje conhecido por geige na Alemanha. A Partita nº2 para violino difere das demais por possuir, após a giga, uma grande ciaconna. Este célebre movimento em forma de variação é tão conhecido em sua instrumentação original como nas imortais transcrições para piano de Busoni e Brahms. E ainda para outros instrumentos a citar o violão, por André Segóvia, e a harpa, por Nicanor Zabaleta. Mendelssohn também publicara esta chacone com acompanhamento de piano, e Schumann fizera o mesmo com as seis sonatas para violino-solo. Considerado o maior compositor argentino, Alberto Ginastera (1916-1983) soube combinar, em sua música, a rudeza selvagem do gaúcho pampeano e a reflexão íntima de quem comtempla a vastidão das pastagens argentinas. A Sonata para piano nº 1 reflete uma complexa integração da identidade nacional e do método composicional, por meio da fusão de figurações rítmicas vivas, derivadas da dança, texturas evocativas, formas e expressões musicais modernas. Após o sucesso de sua Sonata para piano nº1, de 1952, Ginastera não compôs para o piano novamente até 1961, quando aceitou uma comissão da Fundação Koussevitzky para escrever um concerto para piano, no qual amplia alguns movimentos de sua primeira sonata. Ginastera só compôs sua segunda sonata para piano em 1981, e a terceira, no ano seguinte.
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ANTÔNIO MENESES, cello CELINA SZRVINSK, piano
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29 de agosto - terรงa-feira - 20h30
ROBERT SCHUMANN (1810-1856) Adagio e Allegro op. 70
DMITRI SHOSTAKOVICH (1906-1975) Sonata para violoncelo e piano op. 40 Allegro non troppo Allegro Largo Allegro
JOSร GUERRA VICENTE (1907-1976) Cenas Cariocas Valsa Seresteira Cantiga Choro
ALBERTO GINASTERA (1916-1983) Pampeana nยบ 2
HEITOR VILLA-LOBOS (1887-1959) Cantilena da Bachianas Brasileiras nยบ 5 O Trenzinho do Caipira
ASTOR PIAZZOLLA (1921-1992) Le Gran Tango
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Antonio Meneses é considerado pela crítica mundial um dos maiores violoncelistas internacionais. É vencedor de duas das competições mais importantes do mundo: Concurso ARD de Munique, em 1977 e Concurso Tchaikovsky de Moscou, em 1982. Em 2011 integrou como convidado de honra a comissão julgadora do Concurso Tschaikovsky em Moscou. Em 2015, recebeu o título de Doutor “Honoris Causae” pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Antonio Meneses nasceu em Pernambuco, numa família de músicos. Foi o pai, o trompista João Meneses, da Orquestra do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, quem primeiro o orientou em seus estudos musicais. Seu talento extraordinário levou o virtuose italiano Antonio Janigro, então em turnê pelo Brasil, a levá-lo para estudar na Europa aos 17 anos, primeiro em Düsseldorf, depois em Stuttgart. A convite de Herbert von Karajan apresentou-se com a Orquestra Filarmônica de Berlim, de cujo concerto resultou a gravação do Concerto Duplo de Brahms, ao lado da violinista Anne Sophie-Mutter. Antonio Meneses apresenta-se regularmente com as mais importantes orquestras internacionais, como a London Symphony Orchestra, Amsterdam Royal Concertgebow, New York Philharmonic, L’Orchestre de la Suisse Romande, National Symphony Orchestra, Vienna Symphony Orchestra, Filarmônica de Moscou, Filarmônica de São Petersburgo, Filarmônica Tcheca, Filarmônica de Israel, NHK Symphony Orchestra. É frequentemente convidado para os mais importantes festivais internacionais de música como: Casals, de Puerto Rico, de Salzburg, de Lucerna, Viena Festwochen, Berliner Festwochen, da Primavera, de Praga, Mostly Mozart, Sviatoslv Richter, dentre outros. Além da sua agenda de concertos, Antonio Meneses orienta cursos de aperfeiçoamento na Europa, nas Américas e no Japão. Desde outubro de 2007 Meneses é professor de violoncelo no Conservatório de Berna, Suíça. Antonio Meneses toca um violoncelo de Matteo Goffriller, feito em Veneza, por volta de 1710.
Celina Szrvinsk é hoje um nome reconhecido no país como pianista, pedagoga e produtora musical. Frequentemente tem sido convidada a ministrar master-classes, compor o quadro docente de festivais de música, como o Festival de Campos do Jordão e integrar júris em concursos importantes no Brasil, Alemanha e Suécia. Possui dois discos gravados em duo pianístico com Miguel Rosselini. O CD publicado em 2005 foi citado pela Revista Diapason entre as melhores gravações brasileiras do ano. No Japão, com a violinista Utae Nakagawa realizou tounées em 1998, 2004 e 2006 e gravou CD contendo sonatas de Grieg e Elgar. Seu duo com o violoncelista Antônio Meneses vem se apresentando nas principais capitais brasileiras e alguns países como Itália, Estados Unidos, Colômbia e Equador. Ainda com Antônio Meneses gravou, em Londres, CD pelo selo AVIE. Desde 1985 Celina Szrvinsk é professora na Universidade Federal de Minas Gerais, sendo seus alunos vencedores de concursos de piano e vários deles hoje professores em universidades brasileiras. É diretora artística das séries «Concertos Didáticos”, “Festival de Maio” “Concertos Teatro Bradesco”, projetos consolidados como programações de proa dedicadas à música de câmera em Belo Horizonte. Atuou como solista à frente das Orquestras Sinfônica Nacional, Sinfônica de Minas Gerais, Sinfônica da USP, Sinfônica Municipal de Campinas, Filarmônica de Goiás, Filarmônica de Minas Gerais e Filarmônica de Câmera da Polônia. Vencedora de vários concursos nacionais de piano, iniciou seus estudos em Goiânia, sua cidade natal, sob orientação de Wanda Goldfeld. Graduou-se na Universidade Federal de Goiás na classe de Wanda Fleury. De 1980 a 1985 prosseguiu os estudos na Universidade Federal do Rio de Janeiro, sob orientação de Luiz Medalha e de 1992 a 1996 cursou o Mestrado e Doutorado na Escola Superior de Música de Karlsruhe, Alemanha, na classe de Michael Uhde.
“Antônio Meneses e Celina Szrvinsk interpretaram obras de Schumann, Martinu, Edino Krieger e Schostakovich. Quatro compositores, quatro universos diferentes - a mesma preocupação com detalhes, sutilezas de um programa tecnicamente complicadíssimo que, nas mãos de Meneses e Celina, se transformou em um passeio pelas possibilidades expressivas da música...” “... Concertos assim valem por um montão...” João Luiz Sampaio - Estado de São Paulo - 2006 (Recital no Festival de Campos do Jordão)
“Seiscentas pessoas se emocionaram com o concerto do violoncelista pernambucano Antonio Meneses e da pianista goiana Celina Szrvinsk nesta quinta-feira dentro da Igreja da Sé [...] O talento e a técnica dos músicos aliada à escolha primorosa do repertório não deixaram crianças, jovens e idosos, de diferentes classes sociais, desgrudarem os olhos, os ouvidos e a alma desse concerto. Os calorosos aplausos do público fizeram Meneses e Celina voltarem para mais dois bis, aquecendo a noite que começou chuvosa e terminou cheia de estrelas.” Lívia Deodato - Estado de São Paulo - 2007 (Festival MIMO – Olinda)
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COMPOSITORES Autêntico representante do romantismo alemão, Robert Schumann (1810-1856) passou a infância e adolescência na livraria-editora do pai onde definiu não só o gosto literário, mas todo um universo poético cuja fantasia transportaria às criações musicais. Os anos 1848 e 1849 pertencem ao seu último período produtivo e coincidem com uma época de revoluções por toda a Europa. Ele próprio chegou a refugiar-se em Kreischa sob risco de alistamento na insurreição de Dresden. Mas o que realmente o atormentou não foram as barricadas e os bombardeios, e sim a árdua luta interior contra seus constantes sintomas de loucura. Em setembro de 1849 escreveu ao amigo Ferdinad Hiller: “Minha cabeça me fez sofrer tanto nestes últimos tempos que me foi impossível não só trabalhar, mas até pensar”. Apesar disso, reconhece: “Compus muito este ano... é preciso criar enquanto é dia”. Neste período fecundo surgiram várias obras camerísticas a citar Stücke in Volkston, para violoncelo e piano, Romanzen para oboé e piano, Fantasiestücke para clarineta e piano, com opção para violoncelo, e o Adagio e Allegro Opus 70, originalmente intitulado Romanze e escrito para trompa e piano, com opção para violino ou violoncelo. Nome estranhamente ausente dos livros de história da música brasileira é o de José Guerra Vicente (1907-1976). Ter nascido em Almofala, Portugal, não justifica o fato, pois aos onze anos veio para o Brasil e naturalizou-se brasileiro. Compositor e violoncelista, estudou também regência com Francisco Mignone na Escola Nacional de Música. Foi violoncelista da Orquestra Sinfônica do Teatro Municipal do Rio de Janeiro e da Orquestra Sinfônica Brasileira, além de professor do Instituto Villa-Lobos. Em 1960, sua Sinfonia nº3 Brasília obteve 1º lugar no Concurso da Rádio MEC, ombreando os concorrentes Guerra-Peixe e Cláudio Santoro. Em 1961, dedicou-se à música de câmara, escrevendo as Cenas Cariocas, três retratos nostálgicos da música suburbana do Rio de Janeiro. A obra, dedicada a Iberê Gomes Grosso, foi estreada em 1962 no Centro Cultural de Nova Friburgo, pelo violoncelista Antonio Guerra Vicente, filho do compositor, acompanhado ao piano por Luiz Carlos de Moura Castro. Na ocasião, o tríptico não se chamava Cenas Cariocas, e sim, 3 Peças para Violoncelo. Exímio pianista, Dmitri Shostakovich (1906-1975) começou a compor aos 14 anos e logo despertou o interesse dos principais músicos soviéticos. Seu desenvolvimento criativo, porém, foi profundamente determinado pelos políticos soviéticos. Assim como Mussorgski, defendia uma música cuja mensagem deve ser tão direta quanto possível. Mas seus ideais, estranhos ao realismo soviético, resultaram em conflito com autoridades russas que controlaram suas obras até 1953, ano da misteriosa morte de Stálin. Ao contrário de outros artistas patrícios, Shostakovich teve a coragem de não se exilar e suportou as consequências pós-revolucionárias de 1917. Chegou a ser preso por recusar-se a assinar uma lista contra o povo de Israel formulada pelo Comitê Central do Partido Comunista, lista que outros intelectuais russos assinaram sob forte coação. A Sonata para violoncelo e piano op.40 foi composta em 1934 sob encomenda do amigo violoncelista Victor Kubatski, que realizou a estréia com o compositor ao piano em dezembro do mesmo ano. A obra inicia-se serenamente, com melodia de ascendência tchaikoviskiana conduzindo à seção central, mais animada, prenunciando o scherzoso, segundo movimento. O terceiro movimento é uma
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grande meditação lírica confiada ao violoncelo. A obra encerra com um allegro sarcástico, grotesco e brincalhão, como quem camufla dos senhores da guerra a audácia se seu espírito iconoclasta. Sem a intenção de ser um compositor nacionalista, Alberto Ginastera (1916-1983) sempre buscou refletir em seus trabalhos os estados de alma trazidos pela natureza de seu país: “sempre que cruzo os Pampas, meu espírito fica inundado por sensações contrastantes, ora alegria, ora melancolia, produzidas por aquela imensidão sem limites e pela transformação que ocorre no campo ao longo do dia.” Ginastera compôs três “Pampeanas”: a primeira para violino, a segunda para violoncelo e a terceira para orquestra. Composta em 1950, Pampeana nº2 op.21 inicia-se com um recitativo do violoncelo, Lento e rubato, seguido por um dançante Allegro, intruduzido pelos acordes do piano num vigoroso ritmo folclórico pampeano. Após novas reflexões em recitativo do violoncelo, surge o movimento central da obra, Lento ed esaltado, tema presente no filme El puente, do cineasta argentino Carlos Gorostiza. A dança retorna no movimento final, Allegro vivace, sugerindo passos do malambo gaucho, um sapateado dançado por homens. Após a segunda ida à Paris, Heitor Villa-Lobos (1887-1959), de volta ao Brasil, iniciou o monumental conjunto das nove Bachianas Brasileiras, escritas entre 1930 e 1945. Elas são uma homenagem a música de J. S. Bach, a qual considerava “fonte folclórica universal, rica e profunda.” A Bachianas nº2, composta para grande orquestra, possui como último movimento O Trenzinho do Caipira: uma toccata sinfônica, na qual ressoam os ruídos de uma alegre locomotiva, a cruzar a paisagem do sertão, levando consigo uma comovente melodia. Igualmente tocante é a Ária da Bachianas nº5, original para soprano e oito violoncelos, em pizzicato, imitando instrumentos de cordas dedilhadas: “violão e Bach, dois amores da adolescência, estão aqui sugeridos”, lembra-nos o musicólogo Adhemar Nóbrega. A melodia, de inefável beleza, flui expressivamente por compassos alternados, ora meditativos ora levemente dançantes, como um choro-canção neobarroco. O bandoneonista e compositor argentino Astor Piazzolla (19211992) criou um estilo musical de vanguarda múltiplo e em constante transição, que chamava de “música contemporânea da cidade de Buenos Aires”. Combatido pelos tradicionalistas, caminhou independente e, na vez em que buscou um norte, recebeu da mestra Nadia Boulanger sua maior lição: “Seu tango é música nova, e é honesta. Nunca deixe de ser Piazzolla”. Seu nome e sua obra significam hoje a síntese entre o passado e o futuro do tango argentino. Le grand tango exibe a maturidade composicional de Piazzolla e pode ser considerada a simbiose perfeita da escrita tanguística e da música séria, por assim dizer, clássica e acadêmica. A obra foi composta em 1982 e dedicada ao legendário violoncelista russo Mstislav Rostropovich, que a estreou em New Orleans, em 1990. Le grand tango está dividido em três seções: Tempo di tango, Meno mosso e Più mosso.
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ANNA MALIKOVA, piano
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FRÉDÉRIC CHOPIN (1810-1849) Balada nº 1 em sol menor, op. 23 Noturno em dó menor op. 48 nº 1 Berceuse em ré bemol maior op. 57 Valsa op. 34 nº 1, em lá bemol maior Valsa op. 34 nº 2, em lá menor Valsa op. 42, em lá bemol maior Andante Spianato e Grande Polonaise Brilhante, op. 22
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Anna Malikova nasceu no Uzbequistão, onde recebeu suas primeiras aulas de piano com Tamara Popovich. Na Escola de Música Central e no Conservatório Tchaikovsky de Moscou estudou com Lev Naumov, graduando-se nesta última instituição em 1991. Mais tarde ela própria obteve o cargo de professora nesse Conservatório durante muitos anos. Sua carreira como recitalista e solista de orquestra teve início na antiga União Soviética, tocando em cidades como Moscou, São Petersburgo, Omsk, Baku, entre outras. Detentora de prêmios em importantes concursos em Oslo, Varsóvia (Concurso Chopin) e Sydney, Anna Malikova começou a tocar mais frequentemente na Europa Ocidental. Passou a ser convidada por importantes orquestras como Orquestra de Câmera da Austrália, Sinfônica de Sydney, Filarmônica Nacional de Varsóvia, Academia de St Martin in the Fields e a Orquestra Corporativa da Rádio Bávara, entre várias. Em 1993, Anna Malikova obteve o primeiro prêmio no Concurso ARD de Munique, prêmio que por 12 anos consecutivos já não era oferecido a nenhum pianista. Este sucesso garantiu-lhe destaque no cenário internacional. Atualmente apresenta-se como recitalista, camerista e solista por toda a Europa, América do Sul, Oriente Médio e Extremo Oriente. Paralelamente é convidada como jurada de importantes concursos, como o Concurso Chopin em Moscou e Beijing, Concurso Vianna da Motta, em Lisboa e Concurso Gyeongnam, na Coréia. Juntamente com sua agenda intensa de concertos, Anna Malikova aumenta continuamente seu repertório gravado. Até o momento já foram registradas em CD grande parte das obras importantes de Chopin, assim como obras de Schubert, Liszt, Shostakovich, Prokofiev e Soler. Como destaque entre as recentes gravações, encontram-se os cinco concertos de Camille Saint-Saëns, com a Orquestra Sinfônica da Rádio de Colônia, sob a regência de Thomas Sanderling. Essa produção ganhou em 2006 o Prêmio Internet Clássica e foi aclamada entusiasticamente pela crítica internacional. Em 2010 lançou CD com obras de Tchaikovsky seguido do Concerto nº 2 de Brahms com a Orquestra Filarmônica de Duisburg sob a regência de Jonathan Darlington. Para celebrar o centenário de morte de Scriabin, Anna Malikova registrou em CD a série completa das 10 sonatas para piano desse compositor. Malikova está ativa como solista com orquestra e recitais, que incluem reiteradas turnês pela Europa, Coreia, Japão, China, América do Sul e também como jurada de Concursos Internacionais de Piano na Itália, Panamá, Polônia, China e Japão.
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COMPOSITORES Fugindo do cerco militar russo e atrás de melhores oportunidades artísticas, Frédéric Chopin (1810-1849), aos 21 anos, abandonou definitivamente a Polônia e estabeleceu-se em Paris. Viajou pela Áustria, tocou em Dresden e chegou a Viena uma semana antes de eclodir a revolução em Varsóvia. Foi em Viena que ele esboçou a primeira de suas Baladas. Mas o ambiente vienense não lhe foi favorável, pois os austríacos não apreciavam os poloneses. Chopin era, ainda, desconhecido como compositor e apenas ligeiramente conhecido como pianista. A 1ª Balada foi finalizada em Paris quatro anos mais tarde, quando celebridade, fama e fortuna tornaram-se parte de sua vida. O termo balada foi uma invenção de Chopin, no sentido por ele usado, pois se distanciava grandemente do gênero homônimo dançado e cantado pelos trovadores no século XIII. Embora o título também sugira um estilo literário, estas peças estão livres de inspirações extramusicais. Chopin escreveu 21 Noturnos, atingindo a expressão máxima do gênero. O título noturno, amplamente usado no classicismo por autores como Mozart (Serenata notturna) e Haydn (Notturni) difere um pouco do sentido adotado no romantismo por John Field, Chopin e Gabriel Fauré. Primeiramente empregado para designar uma peça a ser executada à noite, o termo passara a traduzir-se por peças pianísticas de caráter sereno e meditativo, que sugerem ou evocam a noite. O Noturno op.48 nº1, composto no Castelo de Nohant, em 1841, reflete de maneira única a atmosfera etérea absorvida por Chopin. Em fevereiro de 1844, Chopin deu um breve recital no qual executou suas composições e improvisou. Ele executou a Berceuse, antes mesmo de finalizar a partitura: “é assim que os anjos devem ter cantado em Belém”, comentou um dos presentes. Chopin concebera a Berceuse um ano antes, em Nohant, como canção de ninar para filha da cantora Pauline Viardot, a pequena
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Louisette, que, naquele verão, estava aos cuidados de George Sand. Bohdan Zaleski, poeta polonês a quem Chopin dedicara o recital de 1844 escreveu: “ele evocou todas as vozes agradáveis e dolorosas do passado, nos levou por dumkas queixosas e finalizou com o Hino polonês em todos os estilos, dos heróis ao das crianças e dos anjos”. “Nada tenho daquilo que é necessário para as valsas vienenses. Sou incapaz, por natureza, de tocar valsas”, reconheceu Chopin. Ele, que fizera furor em Viena com obras concertantes e brilhantes - antes mesmo de partir definitivamente da Polônia - fez desabrochar nas valsas uma nova forma de expressão. Assim como as mazurcas, as valsas, gênero ao qual dedicou cerca de vinte obras, mesmo quando aspiram ao salão, são finas e sofisticadas: “para dança-las, metade das damas deveriam ser, ao menos, condessas”, brincou Schumann. A este universo, fazem parte a Valsa op.42 e Valsa op. 34 nº1. A saudosa Valsa op. 34 nº2, em lá menor, é um retrato fiel do compositor, sendo escolhida dentre todas as valsas que compôs, como a sua predileta. Em 1830, aos vinte anos e ainda residindo em Varsóvia, Chopin escreveu a Polonaise em mi bemol, na versão para piano e orquestra. Em Paris, quatro anos depois, compôs o Andante spianato em sol maior para piano solo, obra plácida e noturnal, a qual Chopin preferia executar isoladamente ou preludiando outras de suas composições. Em 1836, ele publicou as duas obras em conjunto sob o nome de Grande Polonaise Brillante précédée d’un Andante spianato, para piano e orquestra. Em 1838, publicou a versão para piano-solo. O termo italiano spianato, originário do verbo spianare - “aplanar” ou “acalmar” - deriva da palavra piano, do italiano “suave”, nome abreviado do instrumento de Chopin: o pianoforte. Marcelo Corrêa
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QUARTETO COULL ROGER COULL , violino PHILIP GALLAWAY , violino JONATHAN BARRITT , viola NICHOLAS ROBERTS , violoncelo
CLÉLIA IRUZUN, piano
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3 de outubro - terça-feira - 20h30
FRANZ JOSEPH HAYDN (1732-1809)
Quarteto op. 64 nº 4 em sol maior, Hob. III: 66 Allegro con brio Menuetto: Allegretto Adagio - Cantabile e sostenuto Finale: Presto
FRANCISCO MIGNONE (1897-1986) Iara, para piano e quarteto de cordas
ROBERT SCHUMANN (1810-1856) Quinteto com piano em lá maior, op. 44 Allegro brillante In modo d’una Marcia - Un poco largamente Scherzo- Molto vivace Allegro ma non troppo
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Formado em 1974 por estudantes da Royal Academy of Music, eles rapidamente alcançaram reconhecimento nacional e foram nomeados Quarteto em Residência da Universidade de Warwick em 1977, um cargo que eles mantêm até os dias atuais. O Coull Quartet, que inclui ainda dois de seus membros fundadores, tem se apresentado em concertos e também em transmissões de rádio por todo o Reino Unido, além da Europa Ocidental, as Américas, Austrália, China, Índia e Extremo Oriente. Desde meados da década de 1980, o Coull Quartet fez mais de 30 gravações com uma ampla seleção do repertório, desde os quartetos de Mendelssohn e Schubert até a música de câmara britânica do século XX e contemporânea. Seu CD de quartetos de Maw e Britten, gravados pelo selo Somm Label, recebeu reconhecimento universal, sendo destacado na “Editor’s Choice” da revista Gramophone e referido como o “Benchmark Recording” pela BBC Music Magazine. Suas gravações de música de Sibelius e Ian Venables também receberam excelentes críticas nas principais publicações musicais. A impressionante e original lista de obras comissionadas para o Coull Quartet inclui obras de Sally Beamish, Edward Cowie, Joe Cutler, David Matthews, Nicholas Maw, Robert Simpson e Howard Skempton. Dentre elas, constam quartetos de cordas, quintetos com piano ou instrumentista de sopro, obras com voz solo ou coro, e até mesmo uma peça para quarteto de cordas e tênis de mesa, executada durante as comemorações dos Jogos Olímpicos de 2012, em Londres. A rara combinação de maturidade e frescura que caracteriza as performances do Coull Quartet é muitas vezes destacada por críticos e editores musicais. O editorial do magazine inglês The Strad escreveu sobre o conjunto: “Aqui a performance é tão repleta de entusiasmo e entrega e ao mesmo tempo tão infundida de sabedoria acumulada em três décadas, que a música simplesmente se reinventa”.
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A feliz junção do colorido espírito brasileiro e musicalidade espontânea firmou a brasileira radicada em Londres, Clélia Iruzun, como uma das artistas mais interessantes, no cenário mundial, nos últimos anos. Clélia estudou na Escola de Música da Universidade Federal do Rio de Janeiro e na Royal Academy of Music onde se graduou com o Recital Diploma e diversos prêmios. Ela também trabalhou com pianistas de prestígio como Nelson Freire, Jaques Klein, Stephen Kovacevich e Fou Ts’Ong e com a famosa professora brasileira Mercês de Silva Telles, em Paris. Grandes compositores brasileiros como Francisco Mignone e Marlos Nobre dedicaram-lhe obras. Como solista em recitais e com orquestras, vem atuando pela Europa, Américas e Ásia. Ela ganhou prêmios importantes no Brasil e em competições internacionais, como Tunbridge Wells, no Reino Unido e Santander e Zaragoza, na Espanha. Já excursionou como solista na China tendo de apresentando no Grande Teatro de Xangai e na Sala da Cidade Proibida de Pequim, assim como no Konserthusets de Gotemburgo e Estocolmo, no Philharmonie de Poznan, no Queen Elizabeth Hall, Purcell Room e Wigmore Hall, em Londres, e no Brasil, onde excursiona em tournées todos os anos. Clélia também já apareceu várias vezes na rádio e televisão em vários países, incluindo transmissões para a BBC Radio 3. Ela gravou vários CDs com sucesso, numa variedade de repertório, de vai de compositores latinoamericanos aos Concertos de Mendelssohn, além do Concertino de Elizabeth Maconchy com a BBC Scottish Symphony Orchestra, a Música para Piano de Marlos Nobre - ambos no selo Lorelt - e o primeiro volume da música para piano de Frederico Mompou, lançado no selo SOMM Records. Lançou recentemente mais dois CDs: Ernesto Nazareth “Portrait of Rio” (Lorelt) e o segundo volume da música para piano de Frederico Mompou (SOMM), que foi selecionado como um dos melhores lançamentos do mês pelo magazine Sunday Times.
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COMPOSITORES Aos 29 anos, o compositor austríaco Franz Joseph Haydn (1732-1809) tornou-se mestre-de-capela do príncipe húngaro Nikolaus Eszterházy, cargo que ocupou durante 25 anos servindo três gerações. Durante este período, só pode escrever para outros que não o seu patrão mediante permissão e, somente em 1790, teve a liberdade de mudar-se para Viena e viajar para outros países. Em contrapartida às restrições, havia intensa vida musical em Eszterháza, palácio dos Eszterházy na Hungria, onde Haydn dispunha de excelentes cantores e instrumentistas. Lá, ele pode desenvolver e estabelecer definitivamente as formas instrumentais clássicas características da Primeira Escola Vienense: a sonata, o quarteto de cordas, o concerto e a sinfonia, preparando assim o caminho para Mozart e Beethoven. O gênero quarteto de cordas foi desenvolvido em substância e complexidade por Haydn em mais de oitenta obras. Os Quartetos Opus 54, 55 e 64, foram dedicados a Johann Tost, violinista da orquestra de Haydn em Esterháza. Na verdade, Haydn dedicara tais obras a Tost em gratidão a indicação pela venda e edição dos quartetos. O conjunto do Opus 64 foi publicado em 1790, na véspera da primeira viagem de Haydn para Londres. No Quarteto op.64 nº4, Haydn abre mão da escrita contrapontística, na qual as vozes dialogam, e opta pela primazia do primeiro violino, que conduz toda a obra solisticamente. Em 1942, o compositor brasileiro Francisco Mignone (1897-1986) escreveu os Quadros amazônicos, uma suíte de danças para orquestra, da qual faz parte o episódio Iara. A suíte, uma representação musical de diversas lendas folclóricas amazônicas, foi encomendada pela bailarina porto-alegrense Chinita Ullman, mestra inovadora do balé nacional, que coreografou a música em movimentos ondulantes e carregados de sensualidade e vigor. Ainda em 1942, Iara foi transformado em um bailado independente, ao qual foi incluído canções e novos episódios sinfônicos. Em 1946, o bailado, com roteiro de Guilherme de Almeida, foi coreografado por Vania Psota e recebeu cenário de Cândido Portinari. A produção, realizada pela Companhia de Bailados Russos e a música, regida pelo
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próprio compositor, recebeu o Prêmio da Associação de Críticos Teatrais de São Paulo. Posteriormente, Mignone transcreveu duas danças dos Quadros Amazônicos - Iara e Jaci - para quarteto de cordas e piano. Em 1957, ele registrou a gravação das novas versões em LP pela gravadora carioca Sinther, ao lado dos violinistas Edmundo Blois e Salvador Piersanti, do violista Afonso Henriques Garcia e do violoncelista Eugen Ranewski. Após um período de ávido estudo dos quartetos de Haydn, Mozart e Beethoven, Robert Schumann (1810-1856) compôs suas primeiras obras de câmara os Três Quartetos de Cordas op.41, o Quinteto op.44 e o Quarteto com piano op.47 - todas surgidas em 1842, ano dedicado inteiramente à produção camerística. O compositor apreciava tais obras particularmente: “elas parecem agradar igualmente a executantes e ouvintes, especialmente Mendelssohn. Para mim, a opinião de Mendelssohn é a mais valiosa, pois, de todos os músicos vivos, ele é o que tem mais lucidez”. A esposa de Schumann, Clara, deveria executar a parte do piano na primeira audição privada do Quinteto, em dezembro de 1842. No entanto, ela - a quem a obra foi dedicada - adoeceu na véspera, recaindo sobre Mendelssohn a inesperada tarefa. No mês seguinte, já recobrada, Clara Schumann estreou publicamente a obra na Gewandhaus de Leipzig. Ela tocou frequentemente o Quinteto ao longo de sua vida, incluindo uma audição especial para o compositor francês Hector Berlioz. O Quinteto de Schumann é a primeira obra escrita para a formação “piano e quarteto de cordas”. Antes, os quintetos de piano eram compostos para piano, violino, viola, violoncelo e contrabaixo. Em seu Quinteto, Schumann conectou tematicamente o primeiro e o último movimento, conferindo o caráter cíclico à obra. O Quinteto encerra-se com uma dupla fuga de dois temas: o tema principal do primeiro movimento e o tema principal do último movimento. Dessa forma, o autor concebe uma conclusão nobre, apropriada à obra. Marcelo Corrêa
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21 de março
DUO DESVIO
LEONARDO GOROSITO e RAFAEL ALBERTO Convidados
DANIEL LEMOS, WERNER SILVEIRA e SÉRGIO ALUOTTO 2 de abril
16 de maio
20 de junho 29 de agosto 5 de setembro 3 de outubro
KIM TRIO
TAEHYUN KIM, violino JIYEON KIM, violoncelo. NAYOUNG KIM, piano
QUARTETO CARLOS GOMES CLÁUDIO CRUZ, violino ADONHIRAN REIS, violino GABRIEL MARIN, viola ALCEU REIS, cello
SIMONE LEITÃO, piano ANTÔNIO MENESES, cello CELINA SZRVINSK, piano ANNA MALIKOVA, piano QUARTETO COULL
ROGER COULL, violino PHILIP GALLAWAY, violino JONATHAN BARRITT, viola NICHOLAS ROBERTS, violoncelo CLÉLIA IRUZUN, piano
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