Concerto bradesco 2018

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C O N C E R T O S

TE MP O R A DA 2017

Direção Artística: Celina Szrvinsk



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roporcionar ao público a oportunidade de assistir a grandes espetáculos de música erudita, protagonizados pelos mais importantes artistas do mundo, e a preços populares, é o objetivo da Diretoria do Minas, ao desenvolver as séries de concertos, que já estão em sua sexta edição. Para executar essa nobre tarefa, temos a honra de contar com a experiência e o bom gosto da renomada pianista e professora da Escola de Música da UFMG, Celina Szrvinsk. Ela é a responsável pela direção artística do programa, que já trouxe ao nosso palco os aclamados brasileiros Arthur Moreira Lima e Antonio Meneses, a escocesa Evelyn Glennie, a ucraniana Valentina Lisitsa e a uzbeque Anna Malikova. Na temporada 2018, a série terá nove recitais, incluindo o retorno dos festejados artistas Nelson Freire e Irmãos Assad, e a estreia dos russos Nikolai Lugansky e Sasha Boldachev, dentre outros influentes nomes da música erudita internacional. Também este ano, uma excelente novidade facilitará a presença do público em todos os espetáculos: o passaporte promocional com 20% de desconto. As temporadas de concertos são motivo de muita satisfação para nós, uma vez que, por meio dessa iniciativa, o Centro Cultural Minas Tênis Clube (CCMTC) cumpre a relevante missão de contribuir para a democratização do acesso dos mais diversos segmentos da população ao melhor da arte produzida no Brasil e no mundo. Sejam todos muito bem-vindos! Ricardo Vieira Santiago Presidente do Minas Tênis Clube


Queridos amigos e amigas,

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romover cultura é, sem dúvida, uma forma de encorajar a cidadania e estimular a convivência, nobres ideais que o Minas Tênis Clube abraça, há anos, por meio de suas múltiplas ações nessa área. Tem sido singular o incentivo concedido pelo clube à música erudita, através das séries de concertos, programações de destaque da agenda cultural de Belo Horizonte. Para a Temporada 2018, convidamos grandes artistas para nove especiais apresentações dedicadas à música de câmara. Na abertura, a presença do extraordinário pianista Nikolai Lugansky, por si só, confere grande prestígio à programação. O privilégio é ainda maior, por tratar-se de seu primeiro recital solo na cidade. Reconhecida e admirada por sua intensa atuação no meio musical mineiro, a família Barros se reúne para o segundo concerto da série. Formada por Elias, Eliseu, Gláucia, Alexandre e William, músicos da primeira geração, e por Lucas, Ruth, Hozana, Tiago, Sara e Ana Elise, da segunda, os Barros revelam seus notáveis talentos e devoção à música. O harpista e compositor Sasha Boldachev, um dos maiores virtuoses mundiais do instrumento, assume o terceiro concerto. Sasha alçou inusitados padrões de técnica, expressividade e de repertório, estando muitos de seus arranjos entre as obras mais desafiadoras escritas para a harpa. Nelson Freire volta ao palco do nosso teatro pela terceira vez, motivo de muito orgulho para nós. Com os autores e obras de seu programa, o solista dialoga com absoluta intimidade, como só fazem os intérpretes que chegaram ao auge da maturidade artística. Com apenas 26 anos, Daniel Ciobanu promete ascensão no cenário internacional. Vencedor do V Concurso BNDES no Rio de Janeiro, o pianista conquistou, no ano passado, o 2º prêmio no disputadíssimo Concurso “Arthur Rubinstein”, em Tel Aviv. Para o jovem artista, são muitos os convites, mas este é o primeiro para Belo Horizonte.


Ambos os músicos com sólidas trajetórias, Emmanuele Baldini, violinista italiano radicado em São Paulo, e a brasileira Lílian Barretto, pianista de ampla atuação em nosso meio, encontram-se para o sexto concerto desta temporada, interpretando magistrais obras de Fauré e Brahms. Os irmãos Sérgio e Odair Assad são nomes irrefutáveis do violão. Embora Sérgio viva em Chicago e Odair em Bruxelas, o duo circula pelo mundo. Entre o erudito e o popular, os violonistas mostrarão, com a mesma autoridade, a seleção de autores brasileiros, italianos e espanhóis que prepararam para esse recital. A participação de Antonio Meneses na Temporada 2018 é o retorno de um artista à sua casa. Distante do universo musical do nosso último programa, dessa vez tocaremos sonatas de Brahms e Grieg, autores românticos, cujas linguagens pessoais, bem distintas, não obstante sua contemporaneidade, configuram obras de marcante originalidade. Encerrando o ano, o Trio Porto Alegre, formado por Ney Fialkow, Cármelo de Los Santos e Hugo Pilger, figuras essenciais da cena brasileira, executa a imaginativa obra de Guerra Peixe e o monumental trio de Tchaikovsky. Apresento-lhes minhas calorosas boas vindas, na certeza de que a beleza de cada momento da música produzida pelos intérpretes da Temporada 2018 nascerá da sensibilidade de nossos ouvintes, gratificando o conjunto de todos os investimentos.

Celina Szrvinsk Diretora Artística da Série de Concertos


Jean-Baptiste-Millot

NIKOLAI LUGANSKY, piano


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25 março - domingo - 19h

ROBERT SCHUMANN (1810-1856) Cenas Infantis op.15

De Povos e Terras Distantes História Curiosa Cabra-Cega Criança Suplicante Felicidade Perfeita Grande Acontecimento Devaneios À Lareira Cavaleiro do Cavalo-de-Pau Quase Sério Demais Meter Medo Criança Dormindo Fala o Poeta

FRÉDÉRIC CHOPIN (1810-1849)

Barcarola em fá sustenido maior, op.60 Balada nº 4 em fá menor, op.52 Intervalo

SERGEI RACHMANINOV (1873-1943) Prelúdios op.23 e op.32 (Excertos)


Descrito pela revista Gramophone como “o performer mais inovador e meteórico de todos”, Nikolai Lugansky é um pianista de extraordinária profundidade e versatilidade. Trabalha regularmente com renomados maestros, a citar Osmo Vänskä, Yuri Temirkanov, Mikhail Pletnev, Charles Dutoit, Gianandrea Noseda e Vladimir Jurowski. Dentre os compromissos para a temporada de concertos em 2017 e 2018 estão concertos com as orquestras sinfônicas de Londres e Baltimore, Orchestra dell’Accademia Nazionale di Santa Cecilia, Filarmônica de Hong Kong, Junge Deutsche Philharmonie e Orquestra Sinfônica Yomiuri Nippon. Lugansky também participará de turnê europeia com a Royal Stockholm Philharmonic Orchestra, sob a regência de Sakari Oramo e com a Orquestra Nacional Russa. Um recitalista frequente em todo o mundo, suas próximas apresentações incluem o Wigmore Hall de Londres, o Théâtre dês Champs-Élysées de Paris, na 92nd Street em Nova York, Aix-enProvence, Lisboa, Tóquio, Rio de Janeiro e o Grande Salão do Conservatório de Moscou. Lugansky constantemente comparece em alguns dos festivais mais destacados do mundo, incluindo La Roque d’Anthéron e os festivais Verbier, Tanglewood e Ravinia. Entre seus colaboradores de música de câmara incluem Vadim Repin, Alexander Kniazev, Mischa Maisky e Leonidas Kavakos. Nikolai Lugansky ganhou vários prêmios por suas muitas gravações. Seu CD com as Sonatas para piano de Rachmaninov ganhou o Diapason d’Or e o ECHO Klassik Award, enquanto sua gravação dos concertos de Grieg e Prokofiev com Kent Nagano e Deutsches SymphonieOrchester Berlin recebeu a prestigiosa Gramophone Editor’s Choice. Suas gravações anteriores também ganharam vários prêmios, incluindo, além das premiações citadas, o BBC Music Magazine Award. O disco mais recente de Lugansky - A Grande Sonata e As Estações de Tchaikovsky - lançado em junho de 2017, encontrou críticas entusiasmadas e foi descrito como “perspicaz e maduro” (The Guardian). Nikolai Lugansky é Diretor Artístico do Festival de Tambov Rachmaninov e também é patrocinador e artista regular do Rachmaninov Estate e do Museu de Ivanovka. Lugansky estudou na Escola Central de Música de Moscou e no Conservatório de Moscou, onde dentre seus professores estão Tatiana Kestner, Tatiana Nikolayeva e Sergei Dorensky. Foi premiado com a honra do Artista Popular da Rússia em abril de 2013. “O pianista Nikolai Lugansky possui um impressionante comando sobre tudo o que interpreta. Sua técnica deslumbrante é excepcionalmente segura, equilibrada e bem articulada. A direção e a estrutura de suas interpretações são tomadas com exatidão. Sua postura de palco é modesta e absorta. Em meio a tantos exibicionistas do teclado, sua seriedade vem como um alívio abençoado... um verdadeiro herdeiro de uma profunda tradição pianística.” (Martin Kettle, The Guardian, maio de 2014) “Sua performance arde com convicção, propulsão e energia finamente complementada com um sentido inato de poesia”. (Bryce Morrison, Gramophone, janeiro de 2014) “Havia uma naturalidade sobre o jogo tecnicamente impecável de Lugansky, que fazia a música se destacar, não o artista.” (Stella Lorenz, BBC Music Magazine, dezembro de 2013)


COMPOSITORES E OBRAS Após dois anos de diligente dedicação ao estudo do piano, o compositor alemão Robert Schumann teve sua mão direita parcialmente paralisada. Incapaz de se consagrar à carreira de compositor-virtuose, confiou a Clara, filha de seu professor e sua futura esposa, a divulgação de seu trabalho. Mas isso não o impediu de erigir, em pouco mais de dez anos, uma monumental obra para piano, repleta de virtuosismo criativo, belo e dinâmico. Deste conjunto, surgem as Cenas Infantis, que possuem a característica de suas mais importantes criações: o encadeamento lógico de pequenas peças num ciclo organizado por dados extramusicais. Escrito em 1838, este ciclo, embora inspirado pela infância, não foi especificamente designado para ser executado por crianças ou jovens. Robert explicou para Clara: “talvez fosse um eco do que me dissera certa vez, que às vezes eu te parecia uma criança; de qualquer modo, subitamente tive uma inspiração e lancei ao papel cerca de trinta pequeninas coisas, das quais selecionei algumas e as chamei Cenas Infantis. Gostará delas, embora tenha de esquecer por algum tempo que é uma virtuose”. As barcarolas, tanto no sentido poético-literário, quanto no sentido musical, referem-se ao movimento de uma embarcação sobre as ondas. E sobre esse acompanhamento ondulante e perpétuo, desenrolam-se as mais diferentes inspirações melódicas, italianizadas, amorosas e exaltantes. Muitos compositores se inspiraram na imagem dos gondoleiros venezianos, a citar Offenbach, Mendelssohn, Chopin, Tchaikovsky, Fauré e Rachmaninoff. Na Barcarola, de Frédéric Chopin, o compositor, apaixonado pelo canto operístico de Bellini, decanta o que poderia ser a ária do timoneiro tornando-a algo metafísico, uma “apoteose misteriosa”, como observou Alfred Cortot. A Barcarola foi escrita em 1846 e representa o “poeta do piano” e sua nau, o próprio piano, atingindo a margem de sua vida: após esse ano, ele não compôs mais nenhuma peça de envergadura para o instrumento.

Sobre Frédéric Chopin e suas Baladas, Schumann escreveu: “Ele contou-me que havia encontrado inspiração para as Baladas em alguns poemas de seu amigo e compatriota Mickiewicz, embora considere que seria muito mais fácil a um poeta encontrar palavras para suas músicas, pois comovem o mais íntimo da alma”. Segundo Charles Rosen, “as Baladas possuem forma narrativa, mas não possuem um programa. Não há acontecimentos, apenas expressão elegíaca: nelas a forma narrativa é preenchida por um conteúdo lírico”. O termo balada foi uma invenção de Chopin, no sentido por ele usado, pois se distanciava grandemente do gênero homônimo dançado e cantado pelos trovadores no século XIII. A 4ª Balada foi escrita em 1842, em Nohant, no castelo de George Sand, novelista excêntrica e companheira de Chopin. Ali passaram as férias de verão, na esperança de que o compositor se curasse da tuberculose. Um dos amigos que os acompanharam notou que, em nenhum momento, Chopin se afastara tanto do mundo, como ao compor sua 4ª Balada, considerada frequentemente sua melhor obra. Em 1892, o compositor russo Sergei Rachmaninov publicou seu primeiro opus para piano solo, intitulado Morceaux de Fantaisie (peças de fantasia), do qual faz parte o famoso Prelúdio em dó sustenido menor op. 3. Entre 1901 e 1903, completou o conjunto de dez prelúdios e publicou-os sob op. 23. Posteriormente, Rachmaninov confessaria: “considero qualquer prelúdio do op. 23 superior ao meu primeiro Prelúdio [em dó sustenido], mas o público não está disposto a compartilhar da minha crença”. Somente em 1910 o compositor se decidiu por completar o ciclo de 24 Prelúdios em todas as tonalidades maiores e menores - o que não era propriamente sua intenção inicial - seguindo a tradição iniciada por Bach e mantida por Chopin, Alkan e Scriabin. Para isso, compôs treze prelúdios nas tonalidades não abordadas nos opus precedentes. O resultado foi o op. 32, um conjunto de peças inovadoras, de grande riqueza rítmica e ousadias harmônicas.

Marcelo Corrêa


FAMĂ?LIA BARROS, cordas e sopros


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17 de abril - terça-feira - 20h30

ANTONIO VIVALDI (1678-1741)

Concerto para quatro violinos em si menor, RV. 580 Allegro Largo - Larghetto Adagio - Largo - Allegro Elias Martins de Barros, Eliseu Martins de Barros, Hozana Martins de Barros, Thiago Barros, Sara Barros e Ana Eliza Barros, violinos Gláucia Barros e William Barros, violas Lucas Barros e Ruth Barros, cellos

JOSEPH HAYDN (1732-1809)

Trio nº 1 em dó maior “London Trio” Allegro moderato Andante Finale: Vivace Thiago Barros e Sara Barros, violinos Ruth Barros, cello

BENJAMIN BRITTEN (1913-1976)

Quarteto para oboé e trio de cordas, op. 2 “Phantasy Quartet” Alexandre Barros, oboé Elias Barros, violino William Barros, viola Lucas Barros, cello

WOLFGANG AMADEUS MOZART (1719-1787) Quinteto para clarineta K. 581 Allegro Larghetto Menuetto Allegretto con variazioni William Barros, clarinete Eliseu Barros e Hozana Barros, violinos Gláucia Barros, viola Lucas Barros, cello


Elias Martins de Barros é bacharel em música pela UFMG, pós-graduado em Neurociência e Psicanálise Aplicada à Educação pela Faculdade São Camilo. Atuou como solista e spalla nas orquestras Sinfônica da Escola de Música da UFMG, Sinfônica de MG, Sinfônica da PMMG e Orquestra de Câmara do SesiminasMusicoop, com intensa atuação no ensino do violino. É professor e maestro fundador da Orquestra/Escola de Música da cidade São Brás de Suaçuí, além de lecionar nos festivais de música de São Brás do Suaçuí e Ouro Branco. Eliseu Martins de Barros é bacharel em violino pela UFMG, pós-graduado em Neurociência e Psicanálise Aplicada à Educação pela Faculdade São Camilo e mestrando em Gestão Social e Desenvolvimento Local pela UNA-BH. Foi professor de violino nos festivais de música da FUNREI-São João DeI Rei, Pró-Música de Juiz de Fora, Ouro Branco, São Brás de Suaçuí, e no Festival de Domingos Martins, no Espírito Santo. Professor de viola de orquestra na UFMG, integrou a Orquestra Jovem do Mercosul e a Orquestra Jovem Mundial, no Japão, promovido pelo Pacific Music Festival. Solou e regeu concertos com as orquestras Sesiminas-Musicoop, Sinfônica da UFMG e Sinfônica de Cuiabá. Atuou como spalla e músico convidado na OSESP, Sinfônica do Teatro Nacional de Brasília, Sinfônica Brasileira e Sinfônica de Ribeirão Preto, UFMG, Sesiminas-Musicoop e Sinfônica de MG, além de atuar como spalla substituto e concertino da orquestra Filarmônica de MG de 2008 a 2012. É o criador do projeto Orquestra Jovem de Câmara Sesiminas-Musicoop, onde é também regente e coordenador pedagógico. Desde 2014 rege a orquestra Jovem Ramacrisna, em Betim. Alexandre Martins de Barros é hoje um dos mais importantes oboístas brasileiros. Vencedor de concursos de solistas e música de câmara, já atuou como músico efetivo e convidado nas principais orquestras do Brasil, a citar as sinfônicas de Manaus, Belém, Pernambuco, Bahia, Espírito Santo, Minas Gerais, São Paulo e Ribeirão Preto. Atuou como solista na maioria das orquestras que integrou. Recebeu prêmio de melhor aluno do festival de Campos do Jordão. Lecionou oboé nas escolas de música da Fundação Clóvis Salgado e São Brás de Suaçuí. Atualmente é o primeiro oboísta da Orquestra Filarmônica de MG. William Branham Martins de Barros é multi-instrumentista. Conquistou prêmios como pianista, clarinetista e violinista. Atualmente é violinista da Orquestra Sinfônica de MG. Já lecionou violino e viola em Ipatinga, São Brás do Suaçuí e Belo Horizonte. Além da vasta experiência como camerista, atuou como solista frente às orquestras do Sesiminas-Musicoop, UFMG e Sinfônica de MG. Integrou a Orquestra Filarmônica de MG como violista de 2008 a 2014. Gláucia Martins de Barros por duas vezes foi vencedora do concurso Jovens Solistas da Pró-música, Juiz de Fora. Foi solista nas orquestras da UFMG e Sesiminas-Musicoop. Integrou as orquestras Sinfônica de Ribeirão Preto, do Teatro Nacional de Brasília e Filarmônica de MG. É musicista da Orquestra Sinfônica de MG e também da Orquestra de Câmara Sesiminas-Musicoop. Lecionou viola na Escola de Música da Fundação Clóvis Salgado e atualmente colabora como professora e assistente de viola no projeto Orquestra Sinfônica de Betim. Os irmãos Elias, Eliseu, Alexandre, William e Gláucia Barros iniciaram muito cedo os estudos musicais por intermédio do pai. Atualmente, a terceira geração da família vem se juntando aos pais e tios nas apresentações. São eles Lucas Barros, violoncelista premiado nacional e internacionalmente, Ruth Barros, violoncelista, Hozana Barros, violinista concertino da Orquestra Sinfônica de Betim na Temporada 2016, e os violinistas Tiago Barros, Sara Barros e Ana Elise Barros.


COMPOSITORES E OBRAS Antonio Lucio Vivaldi iniciou os estudos musicais com o pai, violinista e mestre de música da famosa Catedral de São Marcos em Veneza. Antonio dedicou-se também aos estudos eclesiásticos, recebendo ordens menores aos 15 anos e ordenando-se padre aos 25. Era conhecido como Il prete rosso (o padre ruivo) devido aos cabelos ruivos que possuía: no entanto, nunca celebrou uma missa após a ordenação. Nessa época, obteve certa notoriedade como compositor, violinista e professor de música, pois lecionava num orfanato para meninas desvalidas, em Veneza. Muitas de suas obras foram escritas para serem executadas pelas órfãs do Ospedale della Pietà e sabe-se que, mesmo após afastar-se daquela instituição, o prete rosso continuou a enviar mensalmente dois concertos pelo correio. A coleção de 12 concertos intitulada L’estro armonico, “A inspiração harmônica”, foi escrito para as talentosas jovens do Pietà e dedicado ao apoiador da instituição, o duque Fernando de Médici. Vivaldi compôs cerca de 550 concertos, sendo 350 para instrumentos solo e, destes, 230 dedicados ao violino, dentre os quais se encontram Le Quattro Stagioni. Aos 58 anos, após uma longa carreira, estabeleceu-se em Viena, onde veio a falecer cinco anos mais tarde, completamente isolado, desconhecido e pobre. Até 1950, as edições de suas obras eram muito escassas. No século XX, o interesse pela obra de Vivaldi ressurgiu, avolumaram-se as gravações e publicações da sua música, assim como o público interessado neste estilo intenso e direto, tão característico do alto barroco italiano. Franz Joseph Haydn foi menino-cantor do coro da Catedral de Santo Estêvão em Viena até a mudança de voz, quando viu-se obrigado a trabalhar como músico independente tocando violino e instrumentos de teclado. Exerceu o cargo de diretor musical do Conde Morzin, na Boêmia e, posteriormente, foi contratado como Kapellmeister pelos Eszterházy, uma das mais importantes famílias húngaras. Mudou-se então para Eszterháza, o castelo dos Eszterházy na Hungria, onde trabalhou por vinte e cinco anos. Somente em 1791 obteve permissão de viajar para Londres, a convite de seu editor J. Solomon. Em sua segunda visita à capital inglesa, em 1794, ele compôs quatro Divertimentos para duas flautas e violoncelo, ou Trio sonatas, conhecidos como London Trios. Este agrupamento instrumental incomum reflete a crescente popularidade da flauta na Inglaterra, o instrumento amador mais elegante, perdendo apenas para o cravo. Leves e despretensiosos, os trios de Londres adquiriram notável sucesso e são usualmente tocados por um violino e uma flauta ou dois violinos acompanhados de violoncelo.

O compositor inglês Edward Benjamin Britten, aos 21 anos, despertou atenção com o seu Quarteto-Fantasia para oboé e cordas, no Festival da Sociedade Internacional de Música Contemporânea, em Florença. O Quarteto-Fantasia, o primeiro trabalho de Britten a ser apresentado publicamente no exterior, foi composto dois anos antes enquanto cursava o Royal College of Music. A obra, dedicada ao lendário oboísta britânico Leon Goossens, foi concebida especificamente para uma competição de “fantasias” - obras musicais de forma livre e em um só movimento - organizado por Walter Cobbett. Este, criou uma competição para incentivar a nova música de câmara inglesa. O Quarteto-Fantasia não conquistou a competição, porém foi executado na Rádio BBC em 1933 e, no ano seguinte, premiado em Florença. A performance, realizada na ocasião por Goossens e membros do International String Quartet, lançou o nome de Britten internacionalmente e anunciou sua promessa futura como compositor. O Quinteto para Clarineta K. 581, uma das mais inspiradas obras de Wolfgang Amadeus Mozart, possui a formação do quarteto de cordas acrescida da clarineta solista. Foi escrito durante o verão de 1789, paralelamente à composição da ópera Così fan Tutte, e dedicado a Anton Stadler, clarinetista da orquestra da corte de Viena. Stadler era conhecido por sua capacidade em explorar o registro grave da clarineta e por haver criado e desenvolvido uma extensão adicional para o instrumento através da implementação de novas chaves. Foi Stadler e este novo instrumento - a clarineta di bassetto ou clarinete-baixo - hoje em desuso, que inspiraram Mozart a compor um importante tríptico de obras para clarineta: o Trio K498, o Quinteto K581 e o Concerto K622. O “Quinteto de Stadler”, como o próprio compositor o chamava, foi estreado no Burgtheater de Viena, no concerto anual de natal de 1789, em beneficência das viúvas dos músicos vienenses. Stadler foi o clarinetista-solista e Mozart atuou como o violista do quarteto. Stadler e Mozart também foram colegas de maçonaria e, segundo Constanze, esposa de Mozart, eles chegaram a fundar uma sociedade secreta chamada Grotto, da qual nada mais se sabe. Constanze, após a morte do marido, acusou Stadler pelo desaparecimento do manuscrito original do Quinteto K. 581 e de trios inéditos para clarinetebaixo. Sempre endividado pelo envolvimento em jogos e apostas, Stadler provavelmente empenhou ou vendeu os raríssimos manuscritos autógrafos de Mozart que possuía.

Marcelo Corrêa


SASHA BOLDACHEV, harpa


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8 de maio - terça-feira - 20h30

“Três Pássaros”

LOUIS-CLAUDE DAQUIN (1694-1772) The Coucou

MIKHAIL GLINKA (1804-1857) The Lark

ALEXANDER ALYABIEV (1787-1851) The Nightingale

FRÉDÉRIC CHOPIN (1810-1849) Valsa op.70 Mazurka op.24 Fantasie-Impromptu op.66 “Música Russa”

SERGEI PROKOFIEV (1891-1953)

Dança dos Cavaleiros, do balé Romeu e Julieta

PIOTR TCHAIKOVSKY (1840-1893) Valsa das Flores, do balé O Quebra-Nozes

IGOR STRAVINSKY (1882-1971) Fantasia sobre o balé Petrushka “Pop songs”

RED HOT CHILLI PEPPERS Californication

NIRVANA

Smells like a teen spirit

ADELE Skyfall


Sasha Boldachev nasceu em São Petersburgo, Rússia. Sua mãe, Irina Sharapova, é professora titular do Conservatório de São Petersburgo e seu pai, Alexander Boldachev, é filósofo e futurólogo. Sacha começou a tocar piano e harpa desde criança: recebeu iniciação musical no Liceu Musical do Conservatório de São Petersburgo, em harpa, na classe de Karina Maleeva e composição, na classe de Svetlana Lavrova. Graduou-se na Escola Superior de Artes de Zurique, Alemanha, onde estudou harpa com Catherine Michel e Sarah O’Brien, composição com Mathias Steinauer, e regência com Marc Kissóczy. Estudou ainda com os grandes harpistas Xavier de Maistre, Jana Boušková, Anna Makarova, Marielle Nordmann, Isabelle Moretti, Natalia Shameeva, Elisabeth Fontan-Binoche, Susann McDonald, Marie-Pierre Langlamet e Isabelle Perra. Aos 5 anos, subiu ao palco e também compôs suas primeiras obras. O compositor Sergey Slonimsky escreveu Badaladas Natalinas especialmente para serem interpretadas por Sasha Boldachev, que, com 6 anos, tocou a obra no Festival de São Petersburgo. Sasha Iniciou sua carreira internacional aos 8 anos com um concerto interpretado ao lado da Orquestra Nacional da Lituânia. Venceu mais de dez concursos internacionais de harpa e composição e foi agraciado com vários prêmios, entre os quais British Brilliant Talent (foi o primeiro cidadão não britânico a receber esse prêmio) e ProEuropa (Áustria) pelo talento artístico extraordinário e contribuição para o desenvolvimento da arte européia. Recebeu bolsa de estudos dos bancos internacionais Vontobel (Suíça) e Banque Populaire (França). Como compositor, Sasha Boldachev se concentra predominantemente no repertório para harpa: além de suas próprias composições, faz arranjos para esse instrumento, alguns dos quais são considerados umas das obras mais virtuosas para harpa (a fantasia Scheherazade de RimskyKorsakov e o arranjo para harpa e piano da Suíte nº 1 de Rachmaninoff). Segundo os mestres de harpa, Sasha, apesar de sua pouca idade, conseguiu expandir o potencial técnico e expressivo do instrumento. Lançou vários álbuns como solista e integrante de conjuntos de câmara, dos quais os mais recentes são “Harpa como Orquestra” (melodias populares para orquestra de grandes compositores) e “Da Rússia com Harpa” (arranjos de uma antologia de 15 compositores russos, de Alyabiev a Slonimsky). Em 2015, ganhou o prêmio da Televisão Suíça Prix Walo, como integrante de seu conjunto Game of Tones. Na Rússia, participou de vários projetos promovidos pelas Casas de Música de Moscou e São Petersburgo, Fundação Spivakov, dos festivais “Olimpo Musical”, “Novos Nomes”, Festival Mozart, dos concursos “Jovens Intérpretes Russos”, “Geração Next” e “Rio de Talentos”. Sasha tem dado numerosos concertos, inclusive com as maiores orquestras internacionais, e já realizou turnês e workshops em mais de 40 países nos 5 continentes. No Teatro Bolshoi da Rússia, participa das mais importantes estréias, sob regência de Tugan Sokhiev, como solista convidado. Compõe e produz músicas em estilo contemporâneo, em cooperação com o estúdio Eric Racy. É autor de trilhas sonoras para peças teatrais e curtas-metragens. Em 2016, nos Estados Unidos, tornou-se um dos jurados dos concursos organizados pela Sociedade Americana de Harpa, e na Rússia é jurado do concurso “Nota Bene”. Solista convidado do Teatro Bolshoi da Rússia, Artista Exclusivo da Casa de Harpa Salvi Harps e Lyon&Healy, solista do conjunto Game of Tones.


COMPOSITORES E OBRAS O canto do “cuco” - esse pássaro cujo nome deriva da onomatopeia de duas notas emitidas pelo macho - inspirou diversos compositores barrocos, como Scarlatti, Vivaldi, Benedetto Marcelo e Haendel. Entre eles, podemos citar também o nome de LouisClaude Daquin, organista francês que tornou-se conhecido apenas por uma obra, Le Coucou, extraída da Quarta Suíte de seu livro de Pièces de Clavecin, ou “Peças para cravo”, escrito em 1735. “O povo cria a música e nós, os compositores, só fazemos o arranjo”, eis a postura artística do compositor russo Mikhail Glinka. Ele foi o primeiro a utilizar temas folclóricos e populares russos na música erudita no país que, até então, era orientado pela ópera italiana, francesa e pelos clássicos vienenses. É considerado o pai da música russa e foi o primeiro compositor russo a ter seu trabalho realizado no Ocidente. Uma de suas canções, The Lark, “A cotovia”, retirada do álbum de doze canções intitulado Adeus a São Petersburgo, de 1840, recebeu uma notável transcrição para piano solo do compatriota Mily Balakirev. Uma das principais influências musicais recebidas por Mikhail Glinka adveio do compositor Alexander Alyabiev, que assim como Louis-Claude Daquin - se tornou conhecido por uma única obra, The Nightingale, “O rouxinol”. Alyabiev iniciou tardiamente sua carreira de compositor, na década de 1820, pois passara muitos anos no exército. Em 1825, foi acusado de assassinar um convidado em sua casa após discutir sobre um jogo de cartas. E foi na prisão que compôs a mais famosa entre as cerca de duzentas canções de sua autoria. O Rouxinol foi transcrito para piano por Mikhail Glinka, em 1831, Franz Liszt, em 1834 e Ferdinand Beyer, em 1852. “Nada tenho daquilo que é necessário para as valsas vienenses. Sou incapaz, por natureza, de tocar valsas”, reconheceu Frédéric Chopin. Ele, que fizera furor em Viena com obras concertantes e brilhantes - antes mesmo de partir definitivamente da Polônia fez desabrochar nas valsas uma nova forma de expressão. Assim como as mazurcas, as valsas, gênero ao qual dedicou cerca de vinte obras, mesmo quando aspiram ao salão, são finas e sofisticadas: “para dançá-las, metade das damas deveriam ser, ao menos, condessas”, brincou Schumann. A valsa e mazurca, apesar de partilharem do mesmo compasso, possuem inflexões rítmicas distintas. Além disso, as mazurcas ligavam Chopin a sua terra-natal e as valsas, tão apreciadas nos salons, o ligavam ao meio aristocrático. O conjunto de quatro Mazurkas op. 24 foram publicados em 1836, quando o compositor tinha 26 anos. Já o conjunto de três Valsas op.70, apesar de terem sido compostas entre 1829 e 1832, só foram publicadas em 1855, após a morte do compositor. O editor, Julian Fontana, amigo de Chopin desde a adolescência no Liceu de Varsóvia, incluiu na publicação póstuma de 1855 a célebre Fantaisie-Impromptu, composta em 1834.

Estreado em 1940, no Teatro Kirov - hoje Teatro Marinsky - o balé Romeu e Julieta é uma das obras mais populares do compositor russo Sergei Prokofiev. Do balé, baseado na afamada tragédia de William Shakespeare, Prokofiev extraiu três suítes para orquestra e uma transcrição para piano. A segunda cena do primeiro ato - na qual as famílias rivais Montéquio e Capuleto lutam entre si até serem interrompidas pelo Príncipe de Verona - inspirou Prokofiev a compor a sombria Dança dos Cavaleiros. Tal número foi batizado também Montagues and Capulets nas versões da Suíte orquestral nº2 e da transcrição para piano op. 75. Piotr Tchaikovsky anteviu o sucesso de seu balé O Quebranozes. A prova disso reside no fato de inverter um procedimento costumeiro e estrear a versão da suíte orquestral nove meses antes do próprio balé. A adaptação do conto de Hoffmann por Alexandre Dumas foi musicada por Tchaikovsky em 1892. O balé O Quebra-Nozes, assim como A Bela Adormecida e O Lago dos Cisnes, é fruto da parceria entre o compositor e o coreógrafo franco-russo Marius Petipa. A Valsa das Flores, introduzida por um solo de harpa, ocorre ao final do segundo ato e foi escolhida pelo compositor para encerrar a suíte orquestral. Petrushka, de Igor Stravinsky, foi estreado em 1911, em Paris, pela companhia Ballets Russes de Sergei Diaghilev. O célebre bailarino Vaslav Nijinski encarnou o boneco Petrushka, com coreografia de Michel Fokine e cenário de Alexander Benois. Em 1921, Stravinsky transcreveu Três movimentos de Petrushka para o pianista Arthur Rubinstein. A partitura, uma das mais desafiadoras já escritas para piano, era demasiadamente difícil para o próprio compositor, que admitiu não possuir suficiente técnica para tocá-la. A Fantasia sobre o balé Petrushka, para harpa, foi arranjada por Sasha Boldachev. Mais do que o ineditismo e o inusitado das versões para harpa realizadas pelo jovem músico Sacha Boldachev, sejam pop songs, trilhas para cinema ou obras orquestrais, podemos presenciar o frescor e o bom gosto musical da arte secular da transcrição, cultivada pelos maiores compositores da história da música. Sasha permite que a harpa, um instrumento de 4000 anos, se renove no ambiente musical atual. Um de seus mais provocativos arranjos é a canção Californication, lançada em 1999 pela banda de rock norte-americana de rock Red Hot Chili Peppers. Na sequência, temos o maior sucesso da extinta banda de Seattle, Nirvana, Smells like a teen spirit, de 1991. O riff - progressão de acordes que formam o acompanhamento - desta canção, que introduz o álbum Nevermind, é marcante, assim como os riffs de Skyfall, da artista britânica Adele e o de James Bond Theme, que aparece propositalmente em Skyfall.

Marcelo Corrêa


NELSON FREIRE, piano


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22 de maio - terça-feira - 20h30

LUDWIG VAN BEETHOVEN (1770-1827)

Sonata em dó sustenido menor op.27 nº 2, “Ao Luar” Allegro sostenuto Allegretto Presto - Agitato

JOHANNES BRAHMS (1833-1897) Quatro Peças op.119

Intermezzo em si menor Intermezzo em mi menor Intermezzo em dó maior Rapsódia em mi bemol maior Intervalo

FRÉDÉRIC CHOPIN (1810-1849)

Improviso nº2 em fá sustenido maior, op.36 Balada nº3 em lá bemol maior, op. 47

CLAUDE DEBUSSY (1862-1918) Reflets dans l’eau

ISAAC ALBÉNIZ (1860-1909) Evocación Navarra


Na ausência das palavras, não há necessariamente o silêncio - apenas a certeza do imponderável. Essa parece ser a lição principal da arte do pianista brasileiro Nelson Freire. Avesso a entrevistas - e à tarefa de definir aquilo que no piano é natural e espontâneo -, ele deixa escapar um sorriso maroto ao dizer que tem brigado com as palavras “desde sempre”. Mas sua linguagem sobre o palco, no entanto, é fluida e levou à formação de uma gramática própria, construída ao longo de mais de 50 anos de uma carreira que o levou aos principais palcos de todo o mundo. “Sou mineiro de alma, mas carioca de coração”, define Freire sobre sua infância. Ele nasceu em Boa Esperança, no interior de Minas Gerais, onde começou os estudos de piano com Nise Obino. Aos 5 anos, porém, mudou-se para o Rio e passou a receber orientações de Lúcia Branco, antes de, na adolescência, seguir em direção à Europa, para estudar com Bruno Seidlhofer em Viena. “O Rio me viu crescer em todos os sentidos, pessoais e profissionais e é ainda hoje a cidade para onde volto, minha casa”, diz. Foi também na cidade que o pianista conheceu uma das principais influências de sua carreira, Guiomar Novaes. “Ouvi-la sempre provocou em mim impacto - e surpresa. Ela jamais se repetia. A cada apresentação sua, tinha-se a sensação de que aquelas obras acabavam de ser compostas. Tudo o que fazia era tão convincente e natural que parecia impossível de ser de outra maneira.” Freire refere-se a Guiomar, mas poderia estar falando de si próprio. Nas últimas décadas, seus recitais - assim como a parceria com maestros como Kurt Masur, Riccardo Chailly, Charles Dutoit, Colin Davis, Lorin Maazel ou Pierre Boulez -, no palco e em gravações pra o selo Decca/Universal, tem sido recebidos com encanto por público e crítica. Seu registro dos concertos de Brahms, por exemplo, foi indicado ao Grammy e recebeu da revista inglesa “Gramophone” o prêmio de melhor disco do ano, “o Brahms que esperávamos ansiosamente”. Já o disco dedicado a Chopin recebeu o Diapason D’Or e vendeu, apenas no Brasil, mais de 40 mil cópias. Escrevendo sobre o álbum com obras de Debussy, o crítico João Marcos Coelho atribuiu ao pianista “plena forma física e uma total maturidade artística”, capaz de “revelar os segredos” do compositor francês. Para um artista que, há pouco tempo, via com desconfiança gravações em estúdio, seu legado discográfico é notável - e será aumentado em breve por um volume todo dedicado à música brasileira, com ênfase em Villa-Lobos e alguns de seus contemporâneos. Freire diz não gostar de fazer balanços. Mas a memória, quando ele está sobre o palco, é parte intrínseca da interpretação musical. É como se, a cada interpretação, um mosaico de lembranças, capazes de nos transportar a outras épocas, dialogasse com a certeza de uma abordagem sempre renovada. E entramos assim em um mundo particular, no qual fica clara a recusa do virtuosismo como meta, a exploração máxima dos coloridos sonoros, o gosto pelo detalhe e a capacidade de, ao mesmo tempo, não perder de vista a arquitetura das obras. Tudo isso ele nos oferece a cada oportunidade em que sobe ao palco. Até que, em certo momento é preciso reconhecer os limites da palavra. E celebrá-los através da música. João Luiz Sampaio


COMPOSITORES A Sonata op.27 nº2, de 1801, foi oficialmente intitulada “Sonata ao Luar”, não por Ludwig van Beethoven, mas sim pelo poeta Rellstab, autor dos textos de muitas canções de Schubert. Com os olhos do pensamento, o poeta viu a imagem de “um pequeno barco ‘ao luar’, sobre o lago dos Quatro-Cantões”, ou Lago Lucerna. Franz Liszt caracterizou o Allegretto, em que se reflete um Ländler rústico, como “uma flor entre dois abismos”. Beethoven criara uma grande confusão, ao trocar a dedicatória da sonata, no último momento antes de ser publicada, endereçando-a a Condessa Giulietta Guicciardi ao invés da Condessa Henrietta Lichnowsky. Condessa, em alemão, é Gräfin. Desse modo temos as iniciais GGG que, transportadas em música, resultam na repetição da nota sol, usada no tema do 1º movimento. Isso contribuiu para aumentar as especulações quanto à enigmática “amada imortal”, destinatária incógnita da única carta de amor escrita por Beethoven. Aproximando-se de seu sexagésimo aniversário, Johannes Brahms se dedicara a criar peças para piano provindas de fontes mais íntimas do coração, do que tudo o que ele escrevera antes para este instrumento: uma coleção de confidências poéticas, em forma de som. Em algumas, ainda ecoam as reminiscências de seu passado, como o vigor demandado na execução e o uso de canções populares, como fonte de inspiração. Consideradas seu testamento pianístico, as peças foram agrupadas nos opus 116, 117, 118 e 119 e, apropriadamente, chamadas por Hanslick de “monólogos”. As coleções op.118 e op.119 foram as últimas composições para piano solo de Brahms. O conjunto de quatro peças do op.119 é diversificado: do lirismo intimista do primeiro Intermezzo, passa-se ao espírito leve e brincalhão dos intermezzos seguintes, até a “rude, áspera, brutal” Rapsódia, nas palavras do próprio compositor. Em carta para Clara Schumann, Brahms descreveu jocosamente sobre a primeira peça: “cada compasso deve soar como um ritardando, como se alguém quisesse chupar a melancolia de cada nota”. Para Clara, a peça era como “uma pérola cinza”. E indagou a Brahms: “você as conhece? Elas parecem estar veladas e são muito preciosas”. Nos quatro Improvisos de Frédéric Chopin reina o espírito livre de uma música que, como descreve Alfred Cortot, “deveria parecer nascer, de alguma maneira, de sob os dedos do executante”. Os Improvisos de Chopin correspondem, ao mesmo tempo, à liberdade de inspiração e à um esquema formal pré-determinado. Os Improvisos op.36, publicados em 1840, mostra-nos o período tardio de Chopin, caracterizado pela total ausência do estilo galante inicial e marcado pelo conturbado relacionamento com a escritora George Sand, com quem viveu entre 1838 e 1847. Chopin foi exímio na arte de improvisar: tocava sem hesitação, embora ao tentar anotar passasse dias em confinamento. O compositor sempre foi avesso aos palcos. Suas aparições em salas de concerto foram raras e remontam aos seus primeiros anos em Paris. Uma delas ocorreu no dia 21 de fevereiro de 1842, coincidentemente, no mesmo dia que seu primeiro mestre de piano, Wojciech Żywny, falecera na Polônia. No concerto, realizado na Sala Pleyel, Chopin executou sua 3ª Balada, juntamente com alguns noturnos, prelúdios

e mazurcas. Usado por Chopin em um sentido muito próprio, o termo balada tem sua origem no poema medieval nascido na Provença cuja narrativa ritmada servia de acompanhamento ao baile. Os temas principais de suas Baladas são em compasso binário-composto, moderado e dançante, como o refrão da 3ª Balada. Nesta obra, Chopin realizara um trabalho temático sofisticado, nem sempre percebido por intérpretes e críticos musicais. Da melodia inicial deriva quase toda a obra, através de variantes, inversões e, principalmente, no diálogo temático, utilizando os registros do piano como se fossem naipes de uma orquestra. O resultado aproxima-se de algo que Chopin deliberadamente nunca ousara fazer: música sinfônica. O primeiro livro de Images para piano de Claude Debussy marca o exato ponto central de uma evolução - ou revolução - que o compositor imporia ao instrumento, em menos de três décadas. Escrita após L’Isle Joyeuse (1904), obra que encerra com chave de ouro a fase anterior, Images I (1905) coincide com o nevrálgico ano no qual Einstein expõe a Teoria da Relatividade e comprova a Teoria Atômica, Freud publica Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade e Monet pinta a série Nymphéas e Reflets dans l’eau. O último quadro é homônimo à música de Debussy, a qual introduz magnificamente as duas séries de Images. José Eduardo Martins, em seu livro sobre Debussy, enredou uma comparação da música com a pintura de Monet: “Em Reflets dans l’eau, Debussy compreende o instante mutável da incidência da luz sobre uma superfície líquida. A consequência do espaço ocupado pela luz do instante, obtida por Monet, assemelha-se à consequência do tempo ocupado pelo som no instante, conseguida por Debussy.” A Suíte Ibéria, do compositor espanhol Isaac Albéniz, é um conjunto de doze peças divididas em quatro livros. Foram escritas em seus últimos quatro anos de vida e, estilisticamente, estão bem distantes das charmosas peças de salão que marcaram sua produção pianística, até aquele momento. A Suíte Ibéria conjuga nacionalismo espanhol - escola da qual foi um dos precursores, pianismo exuberante herança de seu mestre Franz Liszt, e técnicas impressionistas de composição - reflexo do contato com Claude Debussy em seu autoexílio parisiense. “A música nunca alcançara tal impressão colorida e diversificada”, escreveu Debussy, “de olhos fechados, nos deslumbramos a contemplar tal riqueza de imagens”. Albéniz deu o subtítulo de 12 nouvelles ‘impressions’ en quatre cahiers, reforçando a qualidade descritiva da obra. A primeira peça, Evocación, é o pórtico de entrada para a Suíte, preparando o ouvinte para a evocação dos elementos ibéricos, como o fandanguillo, transmutado pela lenteza e expressividade. A exuberante Navarra originalmente se destinava a fazer parte da Suíte Ibéria , mas o compositor desistiu, depois de declarar que a peça era “descaradamente barata” para o ciclo e a substituiu por Jerez. Albéniz faleceu antes de terminar a peça, que foi acabada por um de seus discípulos, o compositor francês Déodat de Séverac e publicada em 1912. Mas Navarra é digna de pertencer à Suíte Ibéria, pois exibe uma exposição magistral e desenvolvimento de temas folclóricos espanhóis.

Marcelo Corrêa


DANIEL CIOBANU, piano


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5 de junho - terça-feira - 20h30

JOHANNES BRAHMS (1833-1897) Duas Rapsódias op.79

Agitato Molto passionato, ma non troppo allegro

MODEST MUSSORGSKY (1839-1881) Quadros de uma exposição

Promenade Gnomus Promenade Il vecchio Castello Promenade Tuileries, disput d’enfants aprés jeux Bydlo Promenade Ballet des Petits Poussins dans leurs Coques Samuel Goldenberg et Schmulye Promenade Limoges, Le Marché Catacombae, Sepulcrum Romanum La Cabane de Baba-Yaga sur de Pattes de Poule La Grande Porte de Kiev

MAURICE RAVEL (1875-1937) La Valse


Vencedor do V Concurso Internacional BNDES de Piano, Daniel Ciobanu, 26 anos, cursa atualmente seu segundo mestrado em Berlim, na prestigiosa Universität der Künste, sob a tutela de Pascal Devoyon. Daniel Ciobanu completou o primeiro mestrado no Conservatório Real da Escócia, obtendo um diploma de honra de primeira classe na mesma instituição, sob a tutela de Aaron Shorr, Petras Geniusas e Steven Osborne. Durante seus estudos de bacharelado e mestrado na Escócia, foi generosamente apoiado pelo ABRSM com bolsa integral. Como resultado, angariou todas as principais competições internas de piano realizadas entre os alunos no conservatório, um feito inédito naquela instituição. Em Paris, recebeu o “Concertiste Diplome” pela École Normale de Musique, assim como o “6éme Diplome d’Execution” com “l’unanimité et les felicitations du jury”. Em 2016, Daniel ganhou grandes competições internacionais, incluindo o 1º Prêmio e Prêmio Especial para a melhor “Sonata Clássica” da prestigiada UNISA International Piano Competition, em Pretória, África do Sul, 1º Prêmio no Concurso de Piano Interparlamentar Sheepdrove, no Reino Unido, e o 1º Prêmio no Concurso Internacional de Piano do BNDES, realizado no Rio de Janeiro. Em 2017, Daniel ganhou o 2º Prêmio e o Prêmio da Audiência na renomada competição “Arthur Rubinstein” em Tel Aviv, Israel. Tal fato impulsionou sua carreira internacional com alguns concertos de estreia, incluindo Carnegie Hall, em Nova York, e Wigmore Hall, em Londres, além de concertos no Japão, China, África do Sul e Taiwan. Premiado com o Yamaha Music Foundation Europe Scholarship, Daniel recebeu o 3º Prêmio, no concurso “Campus Piano” em Paris, o 2º Prêmio no Concurso Internacional “André Dumortier”, na Bélgica, 2º Prêmio e Prêmio da Audiência no Concurso Internacional “Montrond les Bains”, em França, 1º e Prêmio Especial no “Comitê de Piano Moray”, em Elgin, 1º Prêmio no “Bromsgrove International Young Musicians Competition” e o “1º Grande Prêmio” no concurso “Morocco Philarmonique International Piano Competition 2015”, sendo o primeiro pianista na história da competição a receber todos os prêmios especiais, além de ser unanimemente votado pelo júri vencedor do 1º prêmio. Ao longo dos últimos anos, Daniel foi convidado a atuar ao lado de Lang Lang no Royal Festival Hall, em Londres. Dentre os recentes eventos de prestígio e concertos realizados estão o Teatro Verdi (Trieste, Itália), Auditório Charles Bronfman (Tel Aviv, Israel), Festival Pianofortissimo (Bolonha, Itália), Teatro Municipal (Rio de Janeiro), Baxter Hall (Cape Town, África do Sul), Fazioli Concert Series (Sacile, Itália), Bechstein Concert Tour (6 concertos na China), Animato Series e Auvers-surOise Festival (Paris), Edinburgh Fringe Festival e Newbury Spring Festival, no Reino Unido, e Arte con Anima(Grécia). Tem sido solista de diversas orquestras, a citar a sinfônica do Royal Conservatoire of Scotland, Philarmonique du Maroc, Chapelle Musicale de Tournai (Bélgica), Orchestre Cergy-Pontoise, Orquestra Nacional Real Escocesa, Orquestra de Pretória, Orquestra Sinfônica Brasileira.


COMPOSITORES Passados os anos de sua juventude, nos quais dedicou-se a obras para piano de grandes dimensões - como as sonatas, e de extremo virtuosismo - como as séries de variações, Johannes Brahms voltou-se às peças menores. Até mesmo a grande pianista Clara Schumann, sua confidente e inspiradora, achou que seus braços estavam sobrecarregados pelas exigências técnicas do estilo vigoroso de Brahms. As duas Rapsódias op.79, compostas quando tinha 46 anos, revelam uma disciplinada economia de meios, se observarmos suas anteriores criações pianísticas. Publicadas em 1880, elas são as maiores obras de movimento único de Brahms para piano. Inicialmente batizadas como “Caprichos”, as peças foram renomeadas pouco antes da publicação por sua dedicatária, a bela aluna e amiga de Brahms, Elisabeth von Herzogenberg. A morte do amigo, o pintor e arquiteto Victor Hartmann, em 1873, afetou profundamente o compositor russo Modest Mussorgsky. No ano seguinte, após visitar uma exposição dedicada a Hartmann, Mussorgsky criou desenhos musicais numa concepção inédita: retratou a si próprio como o visitante da exposição, detendo-se diante de cada quadro, entremeando os momentos de apreciação com pequenos passeios ou “promenades”. Representou a si mesmo com uma marcante melodia, mutável a cada impressão e elemento unificador da obra. O tema Promenade reaparece no trecho Catacumbas e em A Grande Porta de Kiev, que encerra magistralmente o ciclo. Uma nota de Mussorgsky, acima do manuscrito de Catacumbas, diz: “con mortuis in lingua mortua: a alma criadora de Hartmann morto me conduz aos mortos e os invoca...”. A orquestração de Quadros de uma Exposição por Maurice Ravel em 1929 contribuiu de forma notável para a sua celebridade. O prefácio da edição original para piano continha o seguinte programa escrito por Vladimir Stassov, a quem Mussorgsky dedicou a obra: Promenade - Introdução. Gnomo: Quadro que descreve um pequeno gnomo desajeitado e de pernas tortas. Promenade. Il vecchio Castello: Castelo medieval diante do qual canta um trovador. Promenade. Tuileries, disput d’enfants aprés jeux: Uma avenida do jardim das Tulherias, repleta de crianças e suas amas. Bydlo: Carro de bois polonês de enormes rodas.

Promenade. Ballet des Petits Poussins dans leurs Coques, ou “Ballet dos pintinhos em suas cascas” é um desenho de Hartmann para o cenário de uma pitoresca cena do bailado Trilby, de Marius Petipa. Samuel Goldenberg et Schmulye: Dois judeus poloneses, um rico e outro pobre. Promenade. Limoges, Le Marché: Mulheres que brigam violentamente no mercado de Limoges. Catacombae, Sepulcrum Romanum: Hartmann representou a si próprio examinando as catacumbas à luz de uma lanterna. La Cabane de Baba-Yaga sur de Pattes de Poule: No desenho de Hartmann aparece um relógio com a forma da cabana de Baba-Yaga sustentado por pés de galinha. Em sua música, Mussorgsky acrescentou o vôo de BabaYaga em seu pilão. A Grande Porta de Kiev: O quadro de Hartmann reproduz um projeto arquitetônico para a porta da cidade de Kiev, no estilo russo antigo, com uma cúpula semelhante a um capacete eslavo. Em 1909, o compositor francês Maurice Ravel iniciou a composição de seu primeiro grande balé, Daphnis et Chloé, o qual considerou uma “sinfonia coreográfica”. A obra, encomendada por Sergei Diaghilev para seu Ballets Russes, foi terminada e estreada somente três anos depois. Em 1919, Ravel conceberia um novo balé - La valse, o qual considerou “um poema coreográfico para orquestra” e apresentou o trabalho a Diaghilev na esperança de que ele o produzisse: “isto não um balé, é um retrato do balé”, comentou o empresário. Ravel nunca entendeu o elogio e encerrou o relacionamento com o Diaghilev. La Valse, concluída no ano seguinte, utiliza ideias de uma obra anterior, as Valses nobles et sentimentales, de 1911. Inicialmente intitulada Vienne, em homenagem a Johann Strauss II, La valse ambienta a apoteose da valsa vienense, em meados de 1850. Considerá-la uma metáfora para a decadente situação europeia do pósguerra é uma interpretação errônea, combatida pelo próprio compositor. Além da versão orquestral, a obra possui versões para um e para dois pianos.

Marcelo Corrêa


EMMANUELE BALDINI , violino LÍLIAN BARRETTO, piano


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10 de julho - terça-feira - 20h30

HEITOR VILLA-LOBOS (1897-1959) Impressões Seresteiras

GABRIEL FAURÉ (1845-1924)

Sonata para violino e piano em lá maior, op.13 Allegro molto Andante Allegro vivo Allegro quasi presto

CLARA SCHUMANN (1819-1896)

Romance para violino e piano nº 1, op.22

JOHANNES BRAHMS (1833-1897)

Sonata para violino e piano nº3 em ré menor, op. 108 Allegro Adagio Un poco presto e con sentimento Finale: Presto agitato


Emmanuele Baldini nasceu em Trieste (Itália) cercado pela música. Seu pai, Lorenzo Baldini, foi um importante pianista e didata italiano e sua mãe, Eletta Baldini, foi professora de teoria e solfejo no conservatório da sua cidade, além de formidável pianista. Depois dos estudos em Trieste com Bruno Polli, Baldini se aperfeiçoou em Genebra com Corrado Romano, em Salisburgo e Berlim com Ruggiero Ricci, e mais recentemente na regência com Isaac Karabtchevsky e Frank Shipway. Desde sua adolescência ganhou inúmeros concursos internacionais, dentre os quais destacam-se o “Premier Prix de Virtuosité avec Distinction”, em Genebra, o “Forum Junger Künstler”, em Viena, e mais dez concursos para solistas e grupos de câmara. Baldini tocou como solista e em duo pelo mundo inteiro, com cinco turnês no Japão, quatro nos EUA, uma na Austrália. Já se apresentou em todas as principais salas de concerto das capitais europeias, além da América latina, e principalmente no Brasil, que escolheu, em 2005, como sua residência. Emmanuele Baldini mora em São Paulo com sua esposa Veroni e com sua filha Lavinia. A incansável curiosidade e paixão pela música o fez ampliar seus horizontes, e depois de uma carreira notável como violinista (com mais de 20 CD gravados, quase 40 concertos diferentes em seu repertório e todas as sonatas mais importantes para violino), começou a se aperfeiçoar como regente. Fundou o Quarteto Osesp (com os chefes de naipe da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, da qual é spalla), intensificou sua atividade didática e, com o violino, começou a explorar o precioso repertório brasileiro, em parte injustamente desconhecido. Dentre suas colaborações musicais constam artistas de fama mundial, como Maria-João Pires, Jean-Philippe Collard, Antonio Meneses, Fábio Zanon, Caio Pagano, JeanEfflam Bavouzet, Ricardo Castro, Nicholas Angelich, entre outros. Claudio Abbado, escreveu sobre Baldini: “Estou impressionado tanto pela sua profundidade musical quanto pelo nível técnico.” Na Itália, Baldini foi spalla da Orchestra del Teatro Comunale di Bologna, Orchestra del Teatro alla Scala di Milano e a Orchestra del Teatro “Giuseppe Verdi” di Trieste. Desde 2005, é spalla titular da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (OSESP). Como convidado, foi spalla também da Orquestra Sinfônica da Galícia, na Espanha. Como regente, se destacam concertos no Teatro Colón de Buenos Aires, no Teatro del Sodre de Montevidéu, e apresentações com as principais orquestras da América latina. Desde 2017, é diretor musical da Orquestra de câmara de Valdivia, no Chile, começando assim um novo capítulo de sua atividade multifacetada.

Lílian Barretto estudou no Brasil com Gilberto Tinetti, Glória Maria Fonseca Costa e Jacques Klein. No exterior, fez parte da classe do prof. Jan Ekier, na Escola Superior de Música de Varsóvia, Polônia. Foi vencedora de inúmeros Concursos Nacionais de Piano, entre eles, o Concurso Nacional de Piano da Bahia, no qual ganhou uma bolsa de estudos para estudar na Academia Chopin, na Polônia. Recebeu, do Ministério da Cultura da Polônia, a Medalha de Ordem ao Mérito. Participou do Congresso de Mulheres Musicistas em Paris e, por dois anos consecutivos, realizou estágio de produção artística na Royal Opera House, em Londres. Além de sua carreira como solista e camerista, foi diretora da Sala Cecília Meireles, durante 4 anos, e do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, durante 17 anos. No Brasil, tocou sob a regência de Isaac Karabtchevsky, Simon Blech, David Machado, Júlio Medaglia, Roberto Duarte, Diogo Pacheco, Alceu Bocchino, Roberto Tibiriçá e muitos outros. Como camerista, realiza intensa atividade, tendo tocado com o Quarteto de Colônia, o tenor Aldo Baldin, o oboista Alex Klein, e o bandoneonista argentino Daniel Binelli, além dos duos permanentes com o violinista Paulo Bosísio e com a pianista Linda Bustani. Em 2001, foi jurada do Concurso Internacional de Piano Vianna da Motta, em Lisboa. Apresentou-se no Festival du Château de la Follie, Bélgica, no Festival Liszt de Grottamare, no Festival de Música de Rapallo, no Amiata Piano Festival, no Festival Les Nuits Pianistiques, em Marselha, França, tocando Mozart com a Orquestra Filarmônica de Baden-Baden, sob a regência do maestro Werner Stiefel, e no Musée Debussy em Saint-Germain-en-Laye, França. Gravou CDs com o tenor Aldo Baldin (Prelúdios e Canções de Amor de Cláudio Santoro e Vinicius de Moraes), gravado na Alemanha, com o bandoneonista Daniel Binelli (Piazzollando), e com o violinista Paulo Bosísio (Sonatas Românticas, gravado na Rádio Suisse Romande) e Francisco Mignone - a Integral da Obra Romântica. Gravou o DVD Ana Botafogo e Lílian Barretto em Três Momentos do Amor, ao vivo no Theatro Municipal do Rio de Janeiro em 2006. Desde 2009, é a diretora artística do Concurso Internacional BNDES de Piano do Rio de Janeiro. “Em duo, trio e solo, Lílian Barreto mostrou tudo aquilo que faz a felicidade na música: a paixão e o virtuosismo, a capacidade de entregar-se com profundidade e a arte de fazer a música falar.” (MDM - La Libre Belgique, Bruxelas, Bélgica)


COMPOSITORES “O caboclo lança suas sementes na terra, canta uma serenata para a lua, oferece uma grande festa e convida o índio branco para dançar”. Com essa inventiva estória o musicólogo Vasco Mariz alinhava as quatro peças do Ciclo Brasileiro de Heitor Villa-Lobos: Plantio do Caboclo, Impressões Seresteiras, Festa no Sertão e Dança do índio Branco. Das quatro obras que compõem o ciclo, escrito entre 1936 e 1937, a segunda - Impressões Seresteiras – é, sem dúvida, a mais conhecida. Dotada de grande plasticidade e arrojo, essa peça, estruturada em forma rondó e ritmo de valsa, possui uma das mais líricas melodias do compositor. A Sonata em lá maior op.13 é a primeira das duas sonatas para violino e piano compostas pelo compositor francês Gabriel Fauré. Com esta obra, concluída em 1876, Fauré inaugura uma nova fase para a música de câmara francesa. Dotada de originalidade e perfeição formal, a Sonata para violino op.13 obteve calorosa recepção em seu début, realizado em 1877, na capital francesa. “Nesta sonata”, escreveu Saint-Saëns, pela ocasião da estreia, “você pode encontrar tudo para seduzir um gourmet: novas formas, excelentes modulações, tons incomuns e o uso de ritmos inesperados. Uma magia flutua acima de tudo, englobando todo o trabalho, fazendo com que a multidão de ouvintes habituais aceitem a audácia inimaginável, como algo bastante normal.” Na década de 1850, o casal Robert e Clara Schumann - acompanhados de cinco filhos - mudaram-se para Düsseldorf. Robert foi contratado como Diretor de Música da Orquestra Municipal daquela cidade, sendo o primeiro e único cargo público que ocupara em sua vida. Em Düsseldorf, os Schumanns viveram com certo conforto e Clara pode tocar piano sem incomodar o marido, que se trancava no sótão, a fim de compor. A atmosfera promissora também inspirou Clara a compor, quebrando um hiato de sete anos. Em 1853, apresentaram-se aos Schumanns dois jovens que marcariam o casal por toda a existência: o violinista Joseph Joachim e o compositor Johannes Brahms. Naquele ano, Clara escreveria os Três romances para violino e piano, dedicados a Joachim. Publicados em 1855, os Romances foram executados por Clara e Joachim para o rei Jorge V de Hannover, primo da rainha Vitória, que comandava uma das côrtes mais musicais da Alemanha. Um crítico os elogiou, declarando: “as três peças exibem personalidades distintas, traçadas de maneira verdadeiramente sincera e concebidas por uma mão delicada e perfumada.” Em 1853, Johannes Brahms apresentou-se a Robert e Clara Schumann, que logo nele depositaram toda a confiança.

Robert publicou artigo na Neue Zeitschrift für Musik, declarando ser Brahms o sucessor há muito esperado de Beethoven. Em retribuição, Brahms escreveu-lhe: “O louvor público que você se dignou de me conceder aumentou tão grandemente as expectativas do mundo musical para com a minha obra, que não sei como vou conseguir, sequer parcialmente, fazer justiça a isso. Antes de tudo, isso me obriga a agir com o máximo de cautela na escolha das peças para publicação”. A severa autocrítica de Brahms, aliada à cobrança em satisfazer os predicados anunciados por Schumann, fê-lo destruir quase tudo o que havia composto anteriormente. Desfez-se, inclusive, de sua primeira sonata para violino e piano - em lá menor -, que teve a última execução, em 1853, dada pelo violinista Ferdinand David e o pianista Ignaz Moscheles. Brahms tivera intensa convivência com violinistas, o que poderia ter ampliado ainda mais suas exigências para a criação de uma sonata para violino e piano. Em 1851, conheceu o húngaro Eduard Reményi - quem o apresentou à música húngara que teve uma influência mais tarde em seu trabalho. Dois anos mais tarde, conheceu outro violinista húngaro, Joseph Joachim, que iria ser seu amigo e colaborador durante toda a sua vida. Em 1888, Clara Schumann completou sessenta anos de carreira e foi presenteada por Brahms com uma grande soma de dinheiro e uma nova composição: a 3ª Sonata para piano e violino. A obra foi iniciada no verão de 1886 e concluída, dois anos depois, durante um verão no lago Thun. A 3ª Sonata foi estreada em 1888, em Budapeste, tendo, ao violino, Jenö Hubay e, ao piano, o compositor. Clara Schumann estudou a obra em pequenas passagens, devido às recentes dores reumáticas e escreveu a Brahms: “pensei de novo no céu como reconhecimento, por ter mandado ao mundo uma personalidade tão robusta e tão sadia”, e, em outra carta, confessou a ele: “Robert e você foram a mais bela aventura da minha vida. Vocês representam a mais preciosa riqueza e a substância mais nobre”. As qualidades sinfônicas dessa obra a colocam à parte das demais sonatas para violino e piano. Em quatro movimentos, ela apresenta caráter e estrutura mais robustos e complexos, além da escrita do piano, explorada virtuosisticamente. Nenhuma sonata de câmara de Brahms foi escrita com acompanhamento de piano. Todas têm os instrumentos constitutivos em pé de igualdade. Na Sonata nº3 op. 108, o duo piano-violino bem poderia ser transcrito para grande orquestra, seja em forma de concerto para violino ou sinfonia, um mérito da grande proporção da obra e de seu refinado tratamento polifônico.

Marcelo Corrêa


DUO ASSAD SÉRGIO e ODAIR ASSAD , violões


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7 de agosto - terça-feira - 20h30 DOMENICO SCARLATTI (1685-1757) Três Sonatas

K.96, sol maior K.466, ré menor K.141, sol menor

MAURO GIULIANI (1781-1829) Variaciones Concertantes op.130

MARIO CASTELNUOVO-TEDESCO (1895-1968) Prelúdio e fuga nº7 Prelúdio e fuga nº17

JOAQUIN RODRIGO (1901-1999) Tonadilla

Allegro ma non troppo Minueto pomposo Allegro vivace Intervalo

ANTÔNIO CARLOS JOBIM (1927-1994) Crônica da Casa Assassinada Trem para Cordisburgo Chora Coração Milagres e Palhaços

EGBERTO GISMONTI (1947) Palhaço Baião malandro

HEITOR VILLA-LOBOS (1887-1959) Choros nº5

SÉRGIO ASSAD (1952) Suíte Brasileira Baião Canção Samba


Considerado, por muitos especialistas, como o melhor duo de violões em muitas décadas, os irmãos Assad criaram um novo padrão para este instrumento. Sua excepcional qualidade artística vem, além da família de músicos, dos estudos com os melhores violonistas da América do Sul. Sérgio e Odair tiveram um papel fundamental na criação e introdução de novo repertório para dois violões. Seu virtuosismo inspirou compositores como Astor Piazzolla, Terry Riley, Radamés Gnattali, Marlos Nobre, Nikita Koshkin, Roland Dyens, Jorge Morel, Edino Krieger e Francisco Mignone a criar músicas especialmente para eles. Astor Piazzolla, fascinado após ouví-los em Paris, em 1983, dedicou-lhes três tangos originais para dois violões: o Tango-Suite, hoje no repertório dos duos de todo o mundo. O Duo Assad atua com grandes nomes da cena internacional como Yo-Yo Ma, Nadja Salerno-Sonnenberg, Fernando Suarez Paz, Paquito D’Rivera, Gidon Kremer and Dawn Upshaw. Seu repertório inclui música original composta por Sérgio e releituras de música folclórica e jazz, além de música latina de quase todos os estilos, abrangendo ainda transcrições da literatura barroca de Bach, Rameau e Scarlatti e adaptações de obras de autores como Gershwin, Ginastera e Debussy. São reconhecidos por suas gravações para a Nonesuch Records e GHA. Em 2001, a Nonesuch lançou Sérgio e Odair Assad Play Piazzolla, que recebeu o Grammy Latino. Sua sétima gravação para a Nonesuch, lançada em 2007 é Jardim Abandonado, baseado em uma obra de Antônio Carlos Jobim, indicado como Melhor Álbum Clássico e com o qual Sérgio conquistou o Grammy Latino por sua composição Tahiiyya Li Oussilina. Odair vive em Bruxelas, onde ensina na Escola Superior de Artes. Sérgio mora em Chicago e faz parte do corpo docente do Conservatório de São Francisco. “O melhor duo de guitarras existente, talvez em toda a história… nenhuma antecipação poderia me ter preparado para a impressionante flexibilidade e completa unanimidade dos irmãos brasileiros”. The Washington Post


COMPOSITORES E OBRAS O compositor italiano Domenico Scarlatti durante quase dez anos esteve ligado à corte portuguesa como mestre de capela, servindo também como professor do infante Dom Antônio e sua irmã, a jovem princesa Maria Bárbara. Quando esta desposou o herdeiro do trono espanhol, Fernando VI, Domenico transferiu-se para a Espanha onde passou o resto de sua vida. A maior parte das 555 sonatas que compôs foi dedicada àquela princesa de dotes musicais excepcionais. Em muitas delas, o autor deixa transparecer a influência da música popular da Espanha principalmente no que se refere ao estilo da guitarra espanhola. Tornam-se assim autênticas as transcrições destas obras para o violão, sendo as mais célebres as realizadas pelo violonista paulista Carlos Barbosa Lima. Nascido na Itália, onde realizou seus estudos musicais, Mauro Giuliani mudou-se para Viena aos 25 anos e logo adquiriu uma formidável reputação como violonista e compositor. Considerado um dos maiores virtuoses do violão, estudou primeiramente violoncelo, instrumento que nunca abandonou. Conheceu Haydn, Beethoven, tocou com Rossini e Paganini, compôs proliferamente para o violão, lecionou e publicou dezenas de peças para o instrumento. Sua filha Emília seguiu lhe os passos como virtuose do violão, sendo considerada “não apenas um discípulo digno, mas um verdadeiro concorrente de seu pai”. Foi provavelmente para o duo com a filha que Giuliani compôs as Variações Concertantes para dois violões. O compositor ítalo-judeu Mario Castelnuovo-Tedesco estudou piano e composição no Conservatório de Florença. Em 1939, foi obrigado a deixar a Itália devido às perseguições sofridas por sua origem judaica. Emigrou para os Estados Unidos e foi contratado em Hollywood, onde trabalhou em trilhas para cerca de 200 filmes. Seu contato com o violão remonta à 1932, quando conheceu André Segóvia durante o Festival Internacional de Veneza. Logo após, Castelnuovo-Tedesco comporia Variações através dos séculos e Segóvia, ao apreciar a composição, declarou: “é a primeira vez que encontro um músico que entende imediatamente como escrever para o violão!”. Na década de 1960, Mario conheceu o célebre duo PrestiLagoya para o qual escreveu a Sonatina canônica, o Concerto para dois violões e Os violões bem-temperados, que compreendem 24 prelúdios e fugas em todas as tonalidades. A obra reflete o apreço do compositor pela música de J. S. Bach, autor do Cravo bem-temperado. Joaquín Rodrigo pertence ao grupo de compositores que, apesar da extensa lista de composições de excelente qualidade, adquiriu fama com uma única obra-prima, o Concierto de Aranjuez. Aos três anos teve a visão bastante danificada por uma doença que o deixou, mais tarde, totalmente cego. Em 1955, compôs a Fantasia para un Gentilhombre, dedicada a Segóvia e, em 1960, escreveu sua Tonadilla para dois violões, dedicada ao estimado duo PrestiLagoya. Em 1966, Rodrigo dedicou o Concierto Madrigal ao duo, porém Ida Presti morreu antes que pudessem realizá-lo.

Comparativamente a Villa-Lobos, embora em diferente instância, Antônio Carlos Jobim foi responsável pela “invenção” da música brasileira, partindo de recursos do populário nacional e universalizando-os. Teve formação erudita, trabalhou como arranjador e depois encontrou a vocação de compositor: “é culpa do Mário de Andrade. Ele disse: façam música brasileira. Éramos estudantes e líamos Mário. Fizemos”. Autor de cerca de 400 canções, compôs inúmeras trilhas para televisão e cinema. Em 1961, criou a trilha sonora para o filme Porto das Caixas, do cineasta Paulo César Saraceni. Em 1972, foi a vez de A Casa Assassinada, baseada na obra literária Crônica da Casa Assassinada do escritor mineiro Lúcio Cardoso. A adaptação, também dirigida por Saraceni, recebeu o prêmio de “melhor trilha sonora” no Festival de Brasília (1971) e no Festival de Gramado (1973). Egberto Amin Gismonti nasceu em uma família de músicos do Carmo, Rio de Janeiro, filho de pai libanês e mãe italiana. É um mestre na fusão da música erudita - desde a música europeia medieval até o mais contemporâneo experimentalismo - e da música brasileira. Por influência do choro, passou a se interessar pelos diferentes tipos de violão e começou a aprender o instrumento, passando para o violão de oito cordas por volta de 1973. Em 1977, gravou o Baião Malandro, sucesso presente no LP “Carmo”. Em 1986, gravou o disco “Alma”, no qual estão presentes os sucessos Água e Vinho, Palhaço, e 7 Anéis. Assim como as famosas Bachianas Brasileiras, os Choros de Heitor Villa-Lobos foram escritos para as mais diversas formações: desde solos e grupos camerísticos até grandes massas sinfônicas. O Choros nº1 para violão solo foi composto em 1920 e dedicado a Ernesto Nazareth. O nº5, de 1925, é original para piano solo e recebeu o sugestivo subtítulo Alma Brasileira. A obra foi transcrita para dois violões pelo Duo Assad especialmente para o CD O clássico violão popular brasileiro, no qual revelam a evolução histórica do violão brasileiro. Sérgio Assad nasceu em São João da Boa Vista, São Paulo, onde teve os primeiros contatos com o violão tocando com o pai, um bom bandolinista e chorão-músico. Estudou posteriormente com a célebre violonista e alaudista argentina Monina Távora. Além de notável intérprete é também arranjador e compositor, destacando entre suas obras a Saga dos Imigrantes e a Suíte Brasileira, para duo de violão, Uarekena, para 4 violões e a Suíte Natsu no Niwa, trilha sonora do filme dirigido pelo japonês Shinji Soum e gravada pelo Duo Assad em 1999. É digno de nota o registro de Sérgio em violão-solo para o “Acervo Funarte/Pro-Memus” da antologia de obras premiadas no I Concurso Nacional de Composição para Violão e Piano de 1977/78.

Marcelo Corrêa


ANTÔNIO MENESES, cello CELINA SZRVINSK, piano


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4 de setembro - terรงa-feira - 20h30

JOHANNES BRAHMS (1833-1897)

Sonata para violoncelo e piano em mi menor, op.38 Allegro non troppo Allegretto quasi Menuetto Allegro

EDVARD GRIEG (1843-1907)

Sonata para violoncelo e piano em lรก menor, op.36 Allegro agitato Andante molto tranquillo Allegro molto e marcato


Antônio Meneses é considerado pela crítica mundial um dos maiores violoncelistas internacionais. É vencedor de duas das competições mais importantes do mundo: Concurso ARD de Munique, em 1977 e Concurso Tchaikovsky de Moscou, em 1982. Em 2011 integrou como convidado de honra a comissão julgadora do Concurso Tchaikovsky em Moscou. Em 2015, recebeu o título de Doutor Honoris Causae pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Antônio Meneses nasceu em Pernambuco, numa família de músicos. Foi o pai, o trompista João Meneses, da Orquestra do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, quem primeiro o orientou em seus estudos musicais. Seu talento extraordinário levou o virtuose italiano Antonio Janigro, então em turnê pelo Brasil, a conduzí-lo para estudar na Europa, aos 17 anos, primeiro em Düsseldorf, depois em Stuttgart. A convite de Herbert von Karajan, apresentou-se com a Orquestra Filarmônica de Berlim, de cujo concerto resultou a gravação do Concerto Duplo de Brahms, ao lado da violinista Anne SophieMutter. Antônio Meneses apresenta-se regularmente com as mais importantes orquestras internacionais, como a London Symphony Orchestra, Amsterdam Royal Concertgebow, New York Philharmonic, L’Orchestre de la Suisse Romande, National Symphony Orchestra, Vienna Symphony Orchestra, Filarmônica de Moscou, Filarmônica de São Petersburgo, Filarmônica Tcheca, Filarmônica de Israel, NHK Symphony Orchestra. É frequentemente convidado para os mais importantes festivais internacionais de música como: Casals, de Puerto Rico, de Salzburg, de Lucerna, Viena Festwochen, Berliner Festwochen, da Primavera, de Praga, Mostly Mozart, Sviatoslav Richter, dentre outros. Além da sua agenda de concertos, Antônio Meneses orienta cursos de aperfeiçoamento na Europa, nas Américas e no Japão. Desde outubro de 2007 Meneses é professor de violoncelo no Conservatório de Berna, Suíça. Antônio Meneses toca um violoncelo de Matteo Goffriller, feito em Veneza, por volta de 1710.

Celina Szrvinsk é hoje um nome reconhecido no país como pianista, pedagoga e produtora musical. Frequentemente tem sido convidada a ministrar master-classes, compor o quadro docente de festivais de música, como o Festival de Campos do Jordão e integrar júris em concursos importantes no Brasil, Alemanha e Suécia. Possui dois discos gravados em duo pianístico com Miguel Rosselini. O CD publicado em 2005 foi citado pela Revista Diapason entre as melhores gravações brasileiras do ano. No Japão, com a violinista Utae Nakagawa, realizou tournées em 1998, 2004 e 2006 e gravou CD contendo sonatas de Grieg e Elgar. Seu duo com o violoncelista Antônio Meneses vem se apresentando nas principais capitais brasileiras e alguns países como Itália, Estados Unidos, Colômbia e Equador. Ainda com Antônio Meneses gravou, em Londres, CD pelo selo AVIE. Desde 1985, Celina Szrvinsk é professora na Universidade Federal de Minas Gerais, sendo seus alunos vencedores de concursos de piano e vários deles hoje professores em universidades brasileiras. É diretora artística das séries “Concertos Didáticos”, “Festival de Maio”, “Concertos Teatro Bradesco”, projetos consolidados como programações de proa dedicadas à música de câmera em Belo Horizonte. Atuou como solista à frente das Orquestras Sinfônica Nacional, Sinfônica de Minas Gerais, Sinfônica da USP, Sinfônica Municipal de Campinas, Filarmônica de Goiás, Filarmônica de Minas Gerais e Filarmônica de Câmera da Polônia. Vencedora de vários concursos nacionais de piano, iniciou seus estudos em Goiânia, sua cidade natal, sob orientação de Wanda Goldfeld. Graduou-se na Universidade Federal de Goiás na classe de Wanda Fleury. De 1980 a 1985 prosseguiu os estudos na Universidade Federal do Rio de Janeiro, sob orientação de Luiz Medalha e de 1992 a 1996 cursou o Mestrado e Doutorado na Escola Superior de Música de Karlsruhe, Alemanha, na classe de Michael Uhde.

“Antônio Meneses e Celina Szrvinsk interpretaram obras de Schumann, Martinu, Edino Krieger e Schostakovich. Quatro compositores, quatro universos diferentes - a mesma preocupação com detalhes, sutilezas de um programa tecnicamente complicadíssimo que, nas mãos de Meneses e Celina, se transformou em um passeio pelas possibilidades expressivas da música...” “...Concertos assim valem por um montão...” João Luiz Sampaio, Estado de São Paulo, 2006 (Recital no Festival de Campos do Jordão) “Seiscentas pessoas se emocionaram com o concerto do violoncelista pernambucano Antonio Meneses e da pianista goiana Celina Szrvinsk nesta quinta-feira dentro da Igreja da Sé [...] O talento e a técnica dos músicos aliada à escolha primorosa do repertório não deixaram crianças, jovens e idosos, de diferentes classes sociais, desgrudarem os olhos, os ouvidos e a alma desse concerto. Os calorosos aplausos do público fizeram Meneses e Celina voltarem para mais dois bis, aquecendo a noite que começou chuvosa e terminou cheia de estrelas.” Lívia Deodato, Estado de São Paulo, 2007 (Festival MIMO - Olinda)


COMPOSITORES E OBRAS Vinte anos separam as únicas sonatas escritas por Johannes Brahms para violoncelo e piano. A primeira, op. 38, foi composta entre 1862 e 1865 e a segunda, op. 99, data de 1886. A Sonata em mi menor op. 38 foi completada durante a estadia do compositor em Karlsruhe, no fim do inverno de 1865, época em que trabalhava no Sexteto para cordas, terminava as Valsas para piano e iniciava o grandioso Réquiem Alemão. A Sonata op. 38 foi escrita para o excelente violoncelista e também professor de canto Josef Gänsbacher, amigo de Brahms, que muito contribuiu para sua nomeação como regente da Singakademie de Viena. Nesta obra, Brahms segue a praxe clássica denominando-a “Sonata para piano com violoncelo” o que enfatiza a paridade dos dois instrumentos, em que o piano nunca se limita ao papel de acompanhamento. Originalmente tencionada a conter quatro movimentos, teve o Adagio eliminado pelo autor antes da publicação, que, depois de remodelado, tornou-se o movimento lento da sonata op. 99. No finale Allegro, Brahms experimentou, pela primeira vez, a intrincada façanha de unir as estruturas da fuga e da forma-sonata, experiência presente também no Primeiro Quinteto para Cordas e, em diferente grau, na Quarta Sinfonia. Estudiosos relacionam o tema principal do finale com o tema do Contrapunctus XIII de A Arte da Fuga de J. S. Bach, assim como a ideia da abertura do primeiro movimento com o Contrapunctus III. Contudo, o resultado é caracteristicamente brahmsiano e, se Brahms pretendia uma homenagem a genialidade de Bach, a fuga instrumental mais complexa que já compôs é prodigiosamente digna. A fim de despertar atenção mundial para a música norueguesa, Edvard Grieg fundou a União Musical de Cristiânia - atual Oslo - da qual fizeram parte um grupo de intelectuais nacionalistas, dentre eles o escritor Erik Ibsen, libretista de Grieg. A música de Grieg para o drama Peer Gynt, de Ibsen, impulsionou fortemente a fama mundial de seus dois autores. As composições de Grieg, quando não se baseiam em melodias folclóricas, estão repletas de

elementos originários da música popular norueguesa, a citar escalas modais e irregulares, ritmos ponteados e ornamentos característicos. Grieg incorporou tais componentes de maneira natural e combinou-os com ideias originais. “O reino da harmonia sempre foi o meu mundo imaginário”, afirmou o compositor, “e a relação entre meu sentido harmônico e as músicas folclóricas norueguesas é um mistério até para mim. Descobri que as sombrias profundezas das nossas melodias se devem à sua especial riqueza e às inesperadas possibilidades da harmonia”. Dentre centenas de composições, desponta uma singela, porém significativa, produção destinada à música de câmara, limitada a dez obras. Dentre elas, estão o Quarteto de Cordas op.27, as três Sonatas para violino e a Sonata para violoncelo op.36. Grieg escreveu a Sonata para violoncelo entre 1882 e 1883, período durante o qual atuou como regente da Bergen Harmonic Society. A obra foi dedicada ao irmão de Edvard, John Alexandersen Grieg, violoncelista amador, que, ao que parece, nunca a executou. O compositor, pelo contrário, em diversas ocasiões, tocou a parte do piano, inclusive durante uma de suas últimas aparições, em 1906, com o famoso violoncelista catalão Pablo Casals. Do concerto que realizaram em Amsterdã, Grieg anotou em seu diário: “Um dia de desespero! Primeiro, o tão bem considerado violoncelista Casals chegou na cidade às duas da tarde, e eu, pobre sujeito, devo ensaiar a exigente Sonata para violoncelo com ele para o concerto desta noite. Por um momento, pensei em tocar sem ensaiar, mas abandonei a infeliz ideia, pois resultaria em maior nervosismo. Ainda bem, pois, como resultado, tive uma grande satisfação: Casals é incomparável, um excelente artista! Para ele, a obra de arte vem antes do artista... Durante o concerto fiquei à vontade. Além da Sonata, toquei algumas Peças Líricas op.43, de modo que permaneci ao piano por todo o recital. Felizmente, meu desagrado comigo mesmo não foi compartilhado pelo público, que preenchia o auditório. Fui aplaudido calorosamente e chamado diversas vezes ao palco.”

Marcelo Corrêa


TRIO PORTO ALEGRE CÁRMELO DE LOS SANTOS , violino HUGO PILGER , violoncelo NEY FIALKOW , piano


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9 de outubro- terça-feira - 20h30

CÉSAR GUERRA-PEIXE (1914-1993) Trio para violino, violoncelo e piano (1960) Allegro moderato Andante Vivace

PIOTR ILITCH TCHAIKOVSKY (1840-1893)

Trio para violino, violoncelo e piano, “em memória de um grande artista” Pezzo elegiaco. Moderato assai Tema con variazioni. Andante con moto Variazione finale e coda. Allegro risoluto e con fuoco - Andante con moto


O Trio Porto Alegre foi fundado em Porto Alegre, em 1959. Originalmente, contava com a seguinte formação: Telmo Jaconi, violino, Jean Jacques Pagnot, cello e Zuleika Rosa Guedes, piano. Em 1984 o pianista Ney Fialkow e o violinista Amilcar Carfi passaram a integrar o grupo. Desde então, o conjunto vem se dedicando à difusão do gênero “Trio com piano”, realizando apresentações pelo país e exterior. Desde 2006, o Trio Porto Alegre mantém a formação: Cármelo de los Santos, violino, Hugo Pilger, cello e Ney Fialkow, piano. Suas apresentações incluem importantes salas de concerto no Brasil, Alemanha, Chile e Paraguai. Em Berlim, o trio integrou a série de concertos intitulada “Copa da Cultura”, em promoção conjunta do Ministério das Relações Exteriores do Brasil e do Ministério da Cultura alemão. Seu repertório tem abrangido peças consagradas e também trios de diversos compositores brasileiros. Premiado em diversos concursos, destacando-se o cobiçado título de melhor pianista do VII Prêmio Eldorado de Música, em São Paulo, dentre os primeiros prêmios em diversos concursos nacionais e no exterior, o pianista Ney Fialkow é hoje um dos destacados músicos do cenário nacional. Tem conciliado movimentada carreira de solista e camerista com a atividade de professor titular do Instituto de Artes UFRGS, em Porto Alegre. Suas aparições como solista e camerista tem cativado plateias de diversas salas de concerto no Brasil e no exterior e suas masterclasses apreciadas por jovens pianistas de diversos países. Em 2016 fez sua estreia em Paris, na Sala Cortot e lançou um CD nos EUA, em parceria com o baixista Marcos Machado. Ao lado do violinista Cármelo de los Santos, lançou o CD Sonatas Brasileiras, pelo qual recebeu o Prêmio Açorianos 2009 de Melhor CD Erudito e Melhor Intérprete Erudito. “...sonoridade perfeita, fraseado harmonioso, dedilhado preciso e suave, marca registrada dos grandes pianistas.” (O Estado de São Paulo) “...fervilhando brasilidade nos Ponteios de Guarnieri.” (L’Alsace, França)

Natural de Porto Alegre, Hugo Pilger teve como professores os violoncelistas Milton Bock, Márcio Malard, e Alceu Reis, com quem graduou-se na UNIRIO, instituição onde também concluiu seu mestrado e doutorado. Foi solista das maiores orquestras brasileiras e realizou turnês em diversos países da Europa, América do Sul e do Norte. Em 2006, estreou, no Brasil, a obra Tout un Monde Lointain de Henri Dutilleux, e, em 2009, estreou o concerto para violoncelo e orquestra Pro et Contra de Arvo Pärt. Outras estreias mundiais têm sido feitas por Hugo Pilger, de obras especialmente dedicadas a ele. Destacam-se em sua discografia, o CD Hugo Pilger interpreta Ernani Aguiar (Prêmio Açorianos de Música de “Melhor Intérprete Erudito” e “Melhor Álbum Erudito”) e o CD duplo, DVD e Blu-Ray, Presença de Villa-Lobos na Música Brasileira para Violoncelo e Piano, vol. I e II, que contém o primeiro registro do violoncelo que pertenceu a Heitor VillaLobos, projeto finalista do Prêmio da Música Brasileira de 2015, o CD Ernst Mahle, a integral para violoncelo. É autor do livro Heitor Villa-Lobos, o violoncelo e seu idiomatismo. É primeiro violoncelo da Orquestra Petrobras Sinfônica, membro do Quarteto Radamés Gnattali e professor de violoncelo na UNIRIO. “Ouvi cuidadosamente sua interpretação e a descobri cheia de qualidades...” (Henri Dutilleux)

O violinista brasileiro Cármelo de los Santos desfruta de uma movimentada carreira como solista, camerista e pedagogo. Desde sua extensa experiência como concertista às recentes apresentações dos 24 Caprichos de Paganini, seu virtuosismo e musicalidade têm cativado o público internacionalmente. Aos 16 anos, foi o mais jovem vencedor do “VII Prêmio Eldorado de Música”, em São Paulo. Tem se apresentado como solista convidado de mais de 40 orquestras, incluindo a New World Symphony, Santa Fé Pro-Musica, as sinfônicas de Southern Mississippi, Santa Fé, e New Mexico, a Filarmônica de Montevidéu, Orquestra Musica d’Oltreoceano (Roma), e as principais sinfônicas brasileiras como a do Estado de São Paulo, Brasileira e Petrobrás Pró-Música. Estreou em Nova York, em 2002, como solista e regente no prestigioso Weill Recital Hall do Carnegie Hall junto à Orquestra de Câmara ARCO. Em concursos internacionais, destacam-se os primeiros prêmios no IV Concurso Internacional de Instrumentos de Corda “Júlio Cardona” (Portugal) e concurso promovido pela Associação Nacional de Professores de Música (Estados Unidos), e o segundo prêmio no Concurso Internacional de Jovens Artistas (Argentina). Obteve o diploma de Bacharelado na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Mestrado na Manhattan School of Music, e Doutorado na University of Georgia, EUA. Cármelo é professor titular na Universidade do Novo México, Albuquerque, EUA e toca num violino Carl Becker, 1929.


COMPOSITORES E OBRAS Para Platão, toda a criação era uma imitação. Para Aristóteles, a imitação é o fundamento da expressão artística enquanto ação. Para Georg Lukács, a música é composta através da imitação. Nestas premissas filosóficas baseia-se o conceito de mímesis, defendido por César Guerra-Peixe, representante do pós-nacionalismo, que via no mimetismo “o fenômeno que consiste em tomarem diversos seres a configuração dos objetos em cujo meio vivem”. O próprio Guerra-Peixe talvez tenha sido um camaleão musical a viajar pelo Brasil e sintetizar os movimentos de vanguarda num folclorismo diluído e quase inconsciente. Belo Horizonte conheceu bem este artista, principalmente durante a década de 1980, quando foi professor de composição da Escola de Música da UFMG. O grupo de discípulos que formou é conhecido como “Escola Mineira de Composição” e ainda está em plena atividade artística e didática. Em 1960, Guerra-Peixe compôs o Trio para violino, violoncelo e piano, no mesmo ano em que escreveu a Sinfonia nº2 “Brasília”, a mais conhecida obra de sua fase nacionalista, ou como ele mesmo afirmava, do “período expressionista de cor nacional”. Naquele ano, a Rádio MEC criara um concurso para comemorar a mudança da capital para Brasília e a obra de Guerra-Peixe dividiu o segundo prêmio com Cláudio Santoro e Guerra Vicente. Ainda em 1960, o Trio empatou em primeiro lugar com Marlos Nobre no II Concurso Anual de Composição promovido pelo programa sexagenário da Rádio MEC “Música e Músicos do Brasil”. O compositor russo Piotr Tchaikovsky nasceu em 1840 em Votkinsk, nos Urais e morreu vítima de cólera em São Petersburgo, em 1893. Primeiramente destinado à carreira de direito, somente em 1861 passou a frequentar as classes da Sociedade Musical Russa, logo transformada no Conservatório de Moscou. Em 1863, abandona definitivamente o cargo no Ministério da Justiça e, em 1866, é convidado por Nikolai Rubinstein a assumir o cargo de professor de teoria no Conservatório de Moscou. Mas a manifestação de suas primeiras depressões nervosas, em consequência de seu temperamento, dos esforços como professor, compositor e crítico musical, de um desastrado casamento, e da má

receptividade a algumas de suas obras, levaram-no a um sério colapso, em 1876. A situação melhorou com o apoio da Madame Nadejda von Meck, misteriosa admiradora, que lhe propôs uma pensão anual de 6.000 rublos. Von Meck impôs a excêntrica condição de se comunicarem cotidianamente por carta, sem jamais se conhecerem pessoalmente. Em 1880, Tchaikovsky, compositor essencialmente sinfônico, explicou à sua benfeitora um dos motivos da sua reduzida criação camerística: “Você me pergunta porque nunca compus um trio. Esqueça isso, minha cara. Eu faria qualquer coisa para agradá-la, mas isto está acima das minhas possibilidades. Eu simplesmente não acredito na combinação do piano com o violino e o violoncelo. De minha parte, acho que os timbres desses três instrumentos não se fundem. É para mim um tormento ter que ouvir um trio ou uma composição de qualquer natureza para piano e cordas. A meu ver, o piano pode ser usado em apenas três situações: em solos, com a orquestra ou para acompanhamento...”. No entanto, em fins de 1881, Tchaikovsky se retratou: “Lembra-se de que declarei estouvadamente que detestava esta combinação de instrumentos? Bem, de repente, apesar de tudo, decidi testar minhas forças nesta área, na qual ainda não me aventurei. Já escrevi o início de um trio...”. Na verdade, Tchaikovsky havia planejado uma elegia musical a Nikolai Rubinstein, falecido precocemente naquele ano, com um trio no qual o piano retratasse as facetas e o virtuosismo do homenageado. Em 1882, escreveu novamente a von Meck: “o trio está terminado e posso dizer, com alguma convicção, que a obra não é nada má. Todavia temo, tendo escrito por toda a minha vida para a orquestra e só nos últimos tempos tendo-me dedicado também à música de câmara, que posso ter falhado em adaptar essa combinação instrumental ao meu pensamento. Em breve, eu temo ter arranjado para o trio música de caráter sinfônico, em lugar de escrever diretamente para os instrumentos. Tentei evitá-lo, mas não tenho certeza, se o consegui.” No dia 11 de março de 1882, o Trio foi estreado no Conservatório de Moscou, por ocasião do primeiro aniversário de falecimento de Nikolai Rubinstein.

Marcelo Corrêa


Temporada 2018 25 março 17 abril 8 maio

NIKOLAI LUGANSKY, piano FAMÍLIA BARROS, cordas e sopros SASHA BOLDACHEV, harpa

22 maio

NELSON FREIRE, piano

5 junho

DANIEL CIOBANU, piano

10 julho

EMMANUELE BALDINI, violino LÍLIAN BARRETTO, piano

7 agosto

DUO ASSAD, violões

4 setembro

9 outubro

ANTÔNIO MENESES, cello CELINA SZRVINSK, piano TRIO PORTO ALEGRE CÁRMELO DE LOS SANTOS, violino HUGO PILGER, violoncelo NEY FIALKOW, piano



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