Concertos didaticos 2013

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Sergey Kolesov e Elena Grinevich

Programa Claude Debussy (1862-1918) Clair de Lune da “Suite Bergamasque” Fernande Decruck (1896-1954) Sonata para saxofone e piano I. Très modéré - Expressif II. Andante III. Fileuse (“Canção da fiandeira”) IV. Nocturne et final François Borne (1840-1920) Fantasia Brilhante sobre temas da ópera “Carmen” Heitor Villa-Lobos (1887-1959) Ária das “Bachianas Brasileiras nº5”

Sergey Kolesov é um dos principais nomes do saxofone na Rússia. Venceu, entre 176 participantes de todo o mundo, o Concurso Internacional Adolphe Sax na Bélgica, em 2006, tornando-se o primeiro e único músico russo a ganhar o “Grande Prêmio” nessa competição que é considerada uma das mais importantes do planeta. Recebeu também na ocasião, o prêmio de melhor interpretação em todas as obras escritas especialmente para o certame. Graduado pela Academia Gnessin’s de Música (escola dedicada a talentos especiais), estudou na classe da professora Margarita Shaposhnikova, fundadora da escola russa de saxofone clássico. Sergey Kolesov é o primeiro colocado em vários outros prestigiados concursos internacionais como: Concurso “Selmer-Paris” na Ucrânia – 2003 Concurso Internacional “Saxiana” em Paris – 2004 Concurso Internacional de Música de Câmera “Salieri-Zinetti” em Verona – 2010 Concurso Europeu de Música de Câmera – Alemanha - 2011 Além de ativa carreira como concertista, Sergey Kolesov desempenha intensa atividade pedagógica na Rússia, Itália, Alemanha, Polônia, Bélgica, França, Noruega, Suécia, dentre outros. Foi solista de várias orquestras e participou como jurado do concurso internacional Lodz de saxofone na Polônia, em 2009, e do concurso “Quebra Nozes” para jovens solistas na Rússia, em 2007. Elena Grinevich é graduada pela Academia Gnessin’s de música na classe do professor Sergey Senkov e pós-graduada sob orientação da professora Tatyana Kandinskaya. Desde muito cedo foi premiada como solista em diversos concursos e festivais. Mais tarde passou a dedicar-se à música de câmara e atualmente é pianista da classe da professora Margarita Shaposhnikova e pianista acompanhadora de todos os concursos de saxofone realizados na Rússia. Seu duo com Sergey Kolesov foi considerado o melhor grupo entre os 62 participantes do Concurso Internacional “Salieri-Zinetti”, na Itália, e entre os 40 concorrentes do 4º Concurso Europeu de Música de Câmara em Karlshuhe, Alemanha. Elena Grinevich é professora de departamento de música de câmara da Escola Gnessin’s em Moscou. O duo Sergey Kolesov e Elena Grinevich já se apresentou em mais de 150 recitais por diversos países e possui dois CDs lançados: “Contrasts” (2010) e “Ritorno” (2012).

Astor Piazzolla (1921-1992) Suite “História do Tango” para sax-soprano e piano I. Bordel 1900 II. Cafe 1930 III. Night-Club 1960 IV. Concert d’Aujourd’hui

Sergey Kolesov, saxofone Elena Grinevich, piano Claude Debussy (1862-1918) publicou a Suite Bergamasque em junho de 1905. Ao que tudo indica, a obra foi escrita em 1890 e possuía, originalmente, a seguinte constituição: Prélude, Menuet, Promenade Sentimentale (posteriormente intitulada Clair de lune) e Pavane (depois transformada em Passepied). Trata-se da primeira importante composição de Debussy para piano e introduz a tendência de captar elementos pictóricos e literários. A Suite é também uma homenagem aos clavecinistas franceses dos séculos XVII e XVIII. O título bergamasque, também usado por Frecobaldi e Bach, evoca a antiga dança italiana originária de Bérgamo. Já o título Clair de Lune foi extraído do poema homônimo de Paul Verlaine que introduz as Fêtes Galantes, série de poemas inspirados nos personagens da commedia dell’arte retratados pelo pintor francês Antoine Watteau. Fernande Decruck (1896-1954) ou mais precisamente Jeanne Delphine Fernande Breihl-Decruck pertence à linhagem das compositoras-pianistas que despontaram na França entre os séculos 19 e 20, entre elas, Cécile Chaminade, Louise Farrenc e as irmãs Lili e Nadia Boulanger. Nascida em Gaillac, Fernande estudou órgão em Toulouse e tornouse professora deste instrumento no Conservatório Nacional Superior de Música de Paris, hoje Conservatório de Paris. Lá, conheceu o seu esposo, o professor de clarineta Maurice

Dedruck. Maurice era também contrabaixista e saxofonista e foi solista destes instrumentos na Filarmônica de Nova York, então regida por Arturo Toscanini. Foi nos Estados Unidos, na década de 30, onde Fernande escreveu as primeiras peças dedicadas ao saxofone, que totalizam mais de quarenta obras. Erroneamente, muitas de suas composições foram atribuídas a Maurice ou publicadas com o nome do marido, que aparece como co-autor da Sonata em dó sustenido menor para saxofone e piano, escrita por Fernande em 1943. Dedicada ao saxofonista francês Marcel Mule, a Sonata apresenta reminiscências do estilo impressionista, escalas pentatônicas e ousadas aplicações de técnicas politonais, contudo, está estruturada sob os moldes das sonatas românticas. A obra também possui versões para saxofone e orquestra e para solo de viola. O flautista francês François Borne (1840-1920) ingressa, com sua Fantasia Brilhante sobre temas de Carmen, na arte da transcrição romântica estabelecida por Franz Liszt no século 19, na qual, inúmeras vezes, árias favoritas de ópera se transformam em obras instrumentais virtuosísticas. Algumas transcrições buscam agradar o público e exibir os dotes do intérprete, outras, transmutam as notas originais em música mais rica, expressiva e intensa. A Fantasia Brilhante de Borne, original para flauta e piano, é leve e se enquadra na primeira opção. Na obra desfilam alguns temas famosos: da primeira aparição da protagonista, do destino, a habanera em diversas variações, a dança cigana e a canção do toureador. As melodias da ópera mais famosa de Bizet também inspiraram transcrições de diversos autores: a Sonatina sobre Carmen de Busoni, as Variações sobre Carmen do pianista Vladimir Horowitz e as Fantasias Carmen para violino e orquestra, uma do espanhol Pablo de Sarasate e outra do polonês Franz Waxman. Assim como os Choros, as nove Bachianas Brasileiras de Heitor Villa-Lobos (18871959) foram escritas para as mais diversas formações: desde solos instrumentais e grupos camerísticos até grandes massas sinfônicas. São uma homenagem a J. S. Bach, considerado por Villa-Lobos “fonte folclórica universal, rica e profunda.” As Bachianas nº5 foram escritas originalmente para soprano e conjunto de violoncelos. A Ária (Cantilena) foi composta em 1938 e o segundo movimento, Dança (Martelo), com texto de Manuel Bandeira, foi acrescido em 1945. A seção central da Ária apresenta um poema de Ruth Corrêa, disposto silabicamente em notas repetidas. Sua famosa melodia, exposta por duas vezes no movimento, flui expressivamente por compassos alternados, ora meditativos ora levemente dançantes, como um choro-canção neobarroco. A figura de Astor Piazzolla (1921-1992) como músico - bandoneonista e compositor - é titânica. Criou um estilo musical de vanguarda múltiplo e em constante transição, que chamava de “música contemporânea da cidade de Buenos Aires”. Combatido pelos tradicionalistas, caminhou independente e, na vez em que buscou um norte, recebeu da mestra Nadia Boulanger sua maior lição: “nunca deixe de ser Piazzolla”. Seu nome significa hoje, a síntese entre o passado e o futuro do tango argentino. E, ele próprio, ao descrever a história do tango, descreve também a trajetória de sua música: “Bordel 1900: O tango nasce em Buenos Aires em 1882. Os primeiros instrumentos utilizados são o violão e a flauta, aos quais se agregaram, posteriormente, o piano e o bandoneón. É uma música cheia de graça e vivacidade, que dão a imagem do bom-humor dos bordéis, da malícia das francesas, italianas e espanholas que lá vivem e dos seus frequentadores: o policial sedutor, o poeta marginalizado, o marinheiro e o contraventor. O tango é alegre. Café 1930: É outra época do tango - para ser ouvido e não dançado como antes. A transformação é total: novas harmonias, mais lento, romântico e melancólico. Surgem as orquestras de tango com dois violinos, dois bandoneóns, piano e contrabaixo e, por vezes, é cantado. Night Club 1960: o tango se internacionaliza. Brasil e Argentina coabitam Buenos Aires: Bossa-nova e tango-novo. Um público de iniciados frequenta clubes noturnos para ouvir o tango revolucionário romper novamente com suas formas tradicionais. Concerto de hoje: é o tango impregnado da nova música. Reminiscências de Bartók, Stravinsky e outros num cenário de tango. Abaixo está o tango, acima está a música. Este é o tango de hoje e do futuro.” Marcelo Corrêa


Kim Trio

Programa Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791) Trio em dó maior KV548 I. Allegro II. Andante cantabile III. Allegro Reinhard David Flender (1953) Trio em um movimento, para violino, violoncelo e piano

Intervalo

Dmitri Shostakovich (1906-1975) Trio nº 2 em mi menor op. 67 I. Andante II. Allegro con brio III. Largo IV. Allegretto

Kim Trio Nayoung Kim, piano Taehyun Kim, violino Jiyeon Kim, violoncelo

O Kim Trio foi formado em 2000 pelas irmãs Nayoung Kim (piano), Taehyun Kim (violino) e Jiyeon Kim (violoncelo). Nascidas na Coréia do Sul, iniciaram seus estudos musicais no piano. Após a mudança de Taeyun para o violino e Jiyeon para o cello, receberam orientação na Sun-Hwa e Ye-Won Arts School, em Seul. Prosseguiram os estudos em Viena, Hanover, Berlim, Oslo e Hamburgo. Aperfeiçoaram-se também com músicos célebres como Rostropovitch, Beyerle, De Rosa, Kalichstein, W. Levin (LaSalle Quartet), F. Rados. O grupo já realizou turnês pela Austrália, Áustria, Alemanha, Itália, Brasil, Noruega e Coréia e realizou gravações para as rádios NDR, NRK, RBB e ABC. O Kim Trio é vencedor de vários importantes concursos internacionais para conjuntos de câmara, a citar: Concurso Internacional de Música de Câmera da Noruega em 2003, Concurso Tapani (Itália) em 2004, Concurso Gaetano Zinetti (Itália) e Concurso Europeu de Música de Câmera de Karlsruhe (Alemanha) em 2005. Receberam ainda o “Prêmio Felix Mendelssohn” da Fundação Preußischer Kulturbesitz de Berlim, “Prêmio de Música de Câmera” do Freunde Junger Musiker na Alemanha e “Prêmio Hermann Rauhe” em Hamburgo. O alto nível das integrantes garantiu-lhes a obtenção de várias bolsas de estudos de importantes fundações alemãs como Friedrich Jürgen Sellheim, Fördervereins Live Music Now, Yehudi Menuhin e Fundação Oscar e Vera Ritter de Hamburgo.

Com apenas oito anos, Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791) escreveu em Londres seus primeiros trios - seis, ao todo - para cravo, violino, violoncelo, dedicados à rainha Charlotte da Inglaterra. Retratos de sua genial precocidade, eles foram publicados em Londres com título de “sonata”, pois são, a bem da verdade, remanescentes da trio-sonata barroca: neles o violoncelo dobra a mão esquerda do teclado. Mozart somente retornou ao gênero aos vinte anos com o Divertimento a tre. Nos anos de sua maturidade, mais precisamente, no produtivo período entre 1786 e 1788, ele compôs cinco trios de envergadura, muito semelhantes nos aspectos formais, cuja venda lhe rendera um bom dinheiro. Deste mesmo período são: a ópera Don Giovanni, os últimos três concertos para piano e as últimas sinfonias. O Trio em dó maior K548, penúltima obra que dedicou ao gênero, associa-se à sua última sinfonia, a Sinfonia Júpiter, escrita no mesmo período e na mesma tonalidade. A atitude triunfante e positiva destas obras, sem questionamentos internos, demonstra a grandeza de sua música final, que se recusa a olhar para uma época de guerra entre a Áustria e a Turquia, porém, que vislumbra um futuro próximo no qual surgirá Schubert e Beethoven. Nascido em 1953, em Bergneustadt, Alemanha, Reinhard David Flender é pianista e compositor, além de teólogo, musicólogo e editor musical. Estudou piano em Hamburgo e Münster e musicologia na Universidade Hebraica de Jerusalém, onde também recebeu aulas de composição com Josef Tal. Em 1991, foi premiado no Concurso Internacional de Composição de Viena e nomeado professor da Academia de Música de Hamburgo. Objetivando criar uma nova forma composicional com episódios entrelaçados, Flender escreveu o Trio em um movimento, em 1998. Encomendado pelo Trio Fontenay e estreado naquele mesmo ano, o Trio remonta a um trabalho anterior escrito para a mesma formação. O material temático é apresentado no prólogo em forma de cânone, cuja melodia, dada pelo violino, é imitada em sequência pelo piano e pelo violoncelo. Este material temático funciona como um fio condutor que perpassará toda a obra se transformando a cada episódio. O Trio, de espírito agitado, exige dos intérpretes grande força e concentração. No dialogo entre as cordas e o piano, tons dramáticos e passagens introspectivas se alternam. Ao final, um novo adensamento é coroado por um solo de piano, em forma de cadenza, até as cordas retornarem e a música se esvair, num breve suspiro. Assim como o compatriota russo Modest Mussorgski, Dmitri Shostakovich (19061975) defendia uma música cuja mensagem deve ser tão direta quanto possível. Porém, seus ideais estranhos ao “realismo soviético” resultaram em conflito com autoridades russas, que controlaram suas obras até 1953, ano da morte de Stálin. Ao contrário de outros artistas patrícios, Shostakovich teve a coragem de não se exilar e suportou as consequências pós-revolucionárias de 1917. Em meados de 1940, a União Soviética vivia um período de intenso anti-semitismo e Shostakovich chegou a ser preso por recusar-se a assinar uma lista contra o povo de Israel formulada pelo Comitê Central do Partido Comunista, a qual muitos intelectuais russos assinaram sob forte coação. Nesta época, compôs obras de caráter programático ou com textos que atacam o anti-semitismo: a Sinfonia Nº13 “Babi Yar”, o ciclo de canções Da Poesia Judaica e o Trio em mi menor, dedicado ao amigo Ivan Sollertinsky, um brilhante maestro e crítico musical morto misteriosamente. O Trio, composto em 1944, em plena Segunda Guerra Mundial, foi descrito como uma “mórbida obra-prima”. Shostakovich utilizou-se do espírito alegre do klezmer e das canções e das danças judaicas para, dissimuladamente, convertê-las num trágico tributo às vítimas do Holocausto que foram forçadas pela SS a dançar ao lado das próprias covas. Em 1944, durante a estreia da obra em Moscou, muitas pessoas choraram. O último movimento - a “parte judaica” - foi ovacionado e teve de ser repetido. Após a primeira performance pública, o Trio em mi menor foi proibido de ser executado até a morte de Stálin. Marcelo Corrêa


Annette-Barbara Vogel Maurício Veloso

Em 2010 a Gramophone Magazine saudou a “perfeita afinação” de Vogel e a Classical CD Review escreveu: “Vogel é o expoente mais ideal que um compositor pode desejar”. Considerada uma das melhores violinistas de sua geração, ela é reconhecida por “...performances com autoridade e altamente sensíveis” (Music Web International), e “uma técnica formidável, impressionante musicalidade e uma presença de palco comunicativa com orquestra e público.” (Concerto de Brahms, Wuppertaler Zeitung). O excepcional talento de Vogel é atestado por vários e prestigiosos prêmios (como solista) e bolsas de estudos: primeiro prêmio na Folkwang Competition (Essen), na Bund der Industrie Competition (Frankfurt) e na Deutscher Musikwettbewerb em Bonn. É detentora da medalha de ouro da International Competition Caltanisseta na Itália, foi finalista da International Carl Maria von Weber Competition em Munique, e agraciada com a Starling Scholarship. Vogel foi uma das escolhidas para se apresentar em um concerto de gala em honra do septuagésimo-quinto aniversário de Dorothy-Delay, no qual tocou o Concerto de Brahms com Keith Lockhart. Ela tem dividido o palco com artistas notáveis como C. Altenburger, L. Vogt, J. Levine, D. Sitkovetsky, S. Rivers, M. Kliegel, Vladimir Mendelssohn, E. Moser, P. Zazofsky e J. Lagerspetz. Vogel tem se apresentado nos festivais internacionais de Aspen, Gstaad, Graz, Seoul, Schleswig-Holstein, Kuhmo, Ravinia e Nova Scotia, e colaborado musicalmente com P. Amoyal, R. Gothoni, B. Greenhouse, A. Grumiaux, Lord Y. Menuhin, V. Pikaisen e o Tokyo String Quartet. Antes de ingressar para a Universidade Western (London, Canadá) em 2004, onde tem sido sempre altamente requisitada como pedagoga, Vogel atuou como professora de violino em diversas instituições: foi “Artist-in-Residence” na Universidade de Virgínia em Charlottesville, professora na Folkwang-Hochschule Essen, e subsequentemente professora na Universidade de Iowa, Iowa City, onde ela foi fundadora e diretora artística de “MAGISTERRA! International Chamber Music Festival and Academy”. Dentre mais de doze gravações de Vogel, dois CDs recentemente lançados com a esperada obra completa para violino de Hans Gál, receberam aclamação da crítica, citando suas “performances intensas... [e] marcante presença [de] sua sonoridade e projeção”. (The Strad) O lançamento de seu CD “Französische Komponistinnen”, em fevereiro de 2011, com obras das compositoras francesas Farrenc, Boulanger e Viardot recebeu o British IRR Outstanding. Sua mais nova gravação “Through the Centuries” (obras para violino e viola) foi lançada em março de 2013. Outra gravação, “European Women Composers of the 19th Century”, sera feita em outubro de 2013. Vogel gravou para Avie Records, Bluegriffin Recordings, Cybele Records, Eroica Classical Records, e Harmonia Mundi Germany. Maurício Veloso iniciou seus estudos de piano com apenas seis anos de idade, em Governador Valadares, MG, onde nasceu, sob a orientação de duas dedicadas professoras, Priama e Zenaide. Mais tarde afastou-se do piano por algum tempo e, após cursar o primeiro ano de Filosofia e um ano e meio de Direito, retomou os estudos com Raquel Peres e Sandra Fajardo. Já na UFMG, foi aluno dos pianistas Lucas Bretas e Maria Lígia Becker, ambos de fundamental importância para sua formação pianística. Em 1993, apenas oito anos após ter se mudado para Belo Horizonte, Maurício se torna professor da Escola de Música da UFMG, aprovado em primeiro lugar em concurso. Bacharel em Música pela EMUFMG (1990), torna-se Mestre em Música pela UFRJ em 1995 (classe de Sônia Goulart) e Doutor em Música pela Indiana University School of Music, Bloomington (EUA), em 2000. Maurício teve o privilégio de ser orientado, nos Estados Unidos, por Leonard Hokanson, um dos últimos discípulos do legendário pianista Artur Schnabel, e pelo cultuado Michel Block, único pianista a receber o “Prêmio Artur Rubinstein”, criado especialmente para ele pelo grande pianista polonês. Maurício Veloso, paralelamente à sua atuação como professor de piano, literatura do piano e música de câmera na Escola de Música da UFMG, tem se apresentado frequentemente como solista e camerista, e seu trabalho com a flautista Militza Franco e Souza, com quem forma há muito o Duo Instrumentalis, resultou no lançamento do “CD Duo Instrumentalis”, em 2012. Seu estilo pianístico é resultado de uma busca constante por honestidade e profundidade artísticas, refinamento e colorido sonoro. Após apresentações em London, Canadá, foi saudado como “formidável pianista e artista”. Anteriormente, seus mestres o haviam descrito como “um sincero e verdadeiro artista” (Michel Block) e “um verdadeiro artista e refinado pianista, que merece ser ouvido.” (Leonard Hokanson)

Programa Recital Violino e Piano Antonio Vivaldi (1678-1741) / Ottorino Respighi (1879-1936) Sonata em ré maior RV10 I. Moderato (a fantasia) II. Allegro moderato Franz Schubert (1797-1828) Sonata em lá maior, op. post. 162, D574 I. Allegro moderato II. Scherzo (Presto) III. Andantino IV. Allegro vivace Robert Schumann (1810-1856) Märchenbilder, op.113 I. Nicht schnell III. Rasch Ferrucio Busoni (1866-1924) Sonata para violino e piano nº2, em mi menor op. 36a I. Langsam - a tempo un poco più andante - Poco con moto, assai deciso - Adagio (attacca) II. Presto (attacca) III. Andante, piuttosto grave IV. Thema. Andante con moto (Coral de J. S. Bach: Wie wohl ist mir, o Freund der Seelen, Wenn ich in deiner Liebe ruh!) Var.1 Poco più andante Var.2 Alla marcia, vivace Var.3 Lo stesso movimento Var.4 Andante Var.5 Tranquillo assai Var.6 Allegro deciso, un poco maestoso - Più lento Coda: Più tranquillo, apoteotico - Tempo del Tema - Adagio

Annette-Barbara Vogel, violino Maurício Veloso, piano

A quantidade de obras musicais que possuem o violino como solista, seja sonata ou concerto, é incontável, e supera a literatura para outros instrumentos. O programa deste recital de violino e piano apresenta a trajetória da escrita para esta formação desde sua origem no período barroco, era dos violinistas-compositores italianos Corelli, Vivaldi, Geminiani, Locatelli, e Veracini; mostra o amadurecimento da forma-sonata clássica com Schubert, cita um exemplar da liberdade formal das pequenas romanças de Schumann, e encerra com a forma-sonata romântica, revisitada e ampliada por Busoni. Antonio Vivaldi (1678-1741) compôs cerca de 550 concertos, sendo 350 para instrumentos solo e, destes, 230 dedicados ao violino. Compôs dezenas de sonatas para violino e “basso”, ou baixo-contínuo - uma forma primitiva e simplificada de acompanhamento - entre elas a Sonata em ré maior RV10, da qual serão apresentados os dois primeiros movimentos. Por volta de 1910, o violinista e compositor bolonhês Ottorino Respighi (1879-1936), realizou o acompanhamento de piano a partir do baixo deixado por Vivaldi. Respighi, que esteve no Brasil na década de 20 e até compôs música inspirada nas cobras do Instituto Butantã, deixa transparecer em sua adaptação a obediência aos padrões melódicos e harmônicos do barroco tardio, porém não se abstém das sonoridades orquestrais do piano moderno e da música de seu tempo. Ele, por exemplo, substituiu o esquema “allegro-adagio-presto” original do primeiro movimento pela indicação “moderato (a fantasia)”. O resultado é uma obra musical ambivalente, e caberá aos intérpretes dosar o lirismo e a expressividade do arranjo. A fama de Franz Schubert (1797-1828) limitou-se por muito tempo à de um autor de canções, uma vez que sua imensa produção instrumental não havia sido publicada, nem sequer executada, até o final do século 19. Além de extremamente tímido e modesto, ele sentia-se profundamente intimidado por Beethoven e afastava-se dos editores: “quem pode fazer qualquer coisa depois de Beethoven?”, dizia. Em 1817, Schubert viveu um período difícil, no qual fora obrigado pelo pai a aceitar o cargo de professor de crianças e adolescentes num vilarejo perto de Viena. A sua única sonata para violino e piano, também conhecida como “Grand Duo”, foi composta em agosto daquele ano fastidioso. Porém, é uma obra iluminada e bela, alheia aos contragostos de seu cotidiano. Publicada postumamente, a Sonata Grand Duo foi escrita um ano após as três Sonatinas opus 137, através das quais Schubert se aprimorara no gênero. Além de notável pianista, ele foi um violinista e violista competente e suas obras para violino fazem jus à habilidade dos intérpretes. Autêntico representante do romantismo alemão, Robert Schumann (1810-1856), em seus últimos anos, foi atormentado por constantes crises de loucura que o levaram à tentativa de suicídio e posterior internação em um asilo psiquiátrico, em 1854. Já em 1849, ele se reportava ao amigo Ferdinad Hiller: “Minha cabeça me fez sofrer tanto nestes últimos tempos, que me foi impossível não só trabalhar, mas até pensar”. Apesar disso, reconhecera: “Compus muito este ano... é preciso criar enquanto é dia”. E para ele o dia significava lucidez. No fecundo ano de 1851, Schumann compôs obras orquestrais e de câmara, entre elas, o Trio nº3, as Duas Sonatas para violino e os quatro Märchenbilder (imagens sobre contos de fadas), dedicados ao violinista e maestro alemão Wilhelm von Wasielewski. Schumann, nos anos que passara na livraria-editora do pai, formara o gosto literário e todo um universo poético, cuja fantasia o guiaria às criações musicais. Nos contos de fadas coletados pelos Irmãos Grimm, Rapunzel e Rumpelstilzchen, ele encontrou, respectivamente, inspiração para a primeira e terceira peça do belo ciclo Märchenbilder. O compositor toscano Ferrucio Busoni (1866-1924) obteve fama por realizar transcrições das obras de J. S. Bach para piano, assim como fizera outrora o próprio Bach, ao transpor para o teclado os concertos para violino de Vivaldi. Busoni se dedicou a executar, revisar, analisar e editar a música de Bach, continuando o trabalho iniciado por Mendelssohn e Liszt, pioneiros na divulgação de uma obra até aquele momento desconhecida. Então, é a vez de Busoni ser examinado como compositor. Em sua vasta produção, que ultrapassa trezentas obras e incluiu uma ópera, ele destila a essência da música do passado para trazer algo novo. Sua escrita alterna momentos neoclássicos, pós-românticos e quase-atonais, e privilegia o legado dos autores da Alemanha e Áustria, países nos quais viveu. Sua música tem pouco de italiano, com exceção de raros exemplos, como o terceiro movimento - uma típica tarantela, de sua Sonata para violino op. 36a. Esta obra, iniciada em 1898 e completada em 1900, surgiu após o Concerto para violino op. 35a, de 1897. O quarto movimento da Sonata é um tema com variações sobre uma melodiacoral de Bach sobre o verso: “Quão és bom para mim, ó Amigo das almas, quando descanso em Vosso amor!” A obra é cíclica e interligada: a primeira variação se relaciona a tarantela, enquanto a segunda variação acelera o ritmo pontuado do terceiro movimento, Andante, criando uma marcha. A terceira variação é um moto perpetuo. A partir da quarta variação a inspiração contrapontística bachiana é evidenciada até o final, elevado e luminoso: tranquilamente apoteótico e quase sacro, conforme indica o autor. Marcelo Corrêa


TRIO SCHUMANN

Programa Música de Câmara Brasileira Henrique Oswald (1852-1931) Sonatina em fá sustenido menor para violino, violoncelo e piano (1908) I. Allegro Alberto Nepomuceno (1864-1920) Tarantella para violoncelo e piano (1899) I. Vivo Luciano Gallet (1893-1931) Elegia para violoncelo e piano (1918) I. Lento Francisco Mignone (1897-1986) Canção Sertaneja para violino, violoncelo e piano (1932) M. Camargo Guarnieri (1907-1993) Canção Sertaneja para violino e piano (1928) Dolentemente

Katharina Uhde, violino, nasceu em Freiburg. Estudou na Universidade de Música de Karlsruhe com Josef Rissin e, depois, com Ulf Hoelscher, recebendo os diplomas de artista e de professora, com distinção. Para prosseguir os estudos, recebeu bolsa Fulbright para os Estados Unidos, onde concluiu o doutorado em Artes Musicais na Universidade de Michigan sob a orientação de Stephen Shipps. Atualmente, está terminando sua tese de pós-doutorado em musicologia sobre Joseph Joachim na Universidade Duke, Carolina do Norte. Participou de master-classes com Rainer Kussmaul, Sergej Kravtschenko e Ruggiero Ricci. Participando de extensas atividades como camerista junto ao Quarteto Viktor Ullmann, ganhou competições internacionais, como o “Concertino Praga”, além de recitais de música de câmara com Martha Argerich e Ivri Gitlis. Em 2011, foi professora visitante na Universidade da Carolina do Norte, em Chapel Hill. Como solista, se apresentou com diversas orquestras na Europa e nos Estados Unidos, como a Filarmônica de Baden-Baden e a Orquestra da Universidade de Michigan, e, em 2012, com a Orquestra da Universidade de Música de Belgrado e a Sinfonietta Lemberg. Tatjana Uhde, violoncelo, nasceu em Freiburg e recebeu de sua mãe, Sanja Uhde, suas primeiras aulas de violoncelo. Estudou com Martin Ostertag na Universidade de Música de Karlsruhe, e com Philippe Muller no Conservatório Nacional Superior de Música e de Dança de Paris, onde se graduou e obteve o diploma de artista, com distinção. Concluiu seus estudos com Antonio Meneses, na Universidade de Música de Berna. Tatjana participou do Festival Internacional de Música em Manchester, assim como de master-classes com Antonio Meneses, Ralph Kirshbaum, Wolfgang Böttcher e Miklós Perényi. Recebeu o primeiro prêmio no Concurso Internacional de Música de Câmara “Concertino Praga” e o segundo prêmio no prestigioso Concurso Internacional de Violoncelo-Solo “Witold Lutoslawski”, em Varsóvia. Em março de 2013, o Quarteto de Cordas Capriccio, do qual ela faz parte, recebeu o primeiro prêmio no “Concurso Internacional de Música de Câmera”, em Illzach. Tatjana já se apresentou como solista em diversas orquestras de todo o mundo. Atualmente é violoncelista solista na Ópera Nacional de Paris. Michael Uhde, piano, nasceu em uma família musical, recebendo as primeiras aulas de piano de seu pai, Jürgen Uhde, pianista e autor de vários livros importantes sobre a literatura pianística. Estudou na Universidade de Música de Freiburg, com Carl Seemann e, como bolsista do Studienstiftung des Deutschen Volkes, com Bruno Canino, em Milão. Apresentou-se por diversos países em inúmeras formações de câmara, a citar, entre elas, os duos com o violoncelista Antonio Meneses e com o violinista Antonio Pellegrini. Michael Uhde é professor de Piano e Música de Câmara e vice-reitor da Universidade de Música de Karlsruhe. Vem se dedicando ativamente, há muitos anos, à pesquisas sobre a música de câmara brasileira.

Henrique Oswald (1852-1931) Trio para piano em ré maior op.28 (1897) I. Allegro moderato II. Scherzo. (Presto) – Piú moderato III. Adagio IV. Presto Katharina Uhde, violino Tatjana Uhde, violoncelo Michael Uhde, piano

Henrique Oswald (1852-1931)

O compositor Henrique Oswald é, ainda hoje, pouco conhecido do grande público, embora seja uma das personalidades artísticas mais importantes do Brasil nos primórdios do século XX. Suas composições refletem a preocupação com as tradições europeias devido, em parte, aos longos anos vividos entre a Itália e a França. Na segunda metade de sua vida, entretanto, retornou definitivamente à sua terra natal, o que se refletiu em suas composições. Sua influência sobre o desenvolvimento musical do Brasil foi considerável, não só como compositor, mas também como pianista-virtuose bem como um respeitado pedagogo. Oswald nasceu no Rio de Janeiro em 1852, filho de pai de ascendência suíça e mãe italiana. Na companhia da mãe, foi, aos 17 anos, estudar em Florença, então foco político e cultural pluralista e ponto de encontro de artistas famosos, como Richard Wagner, Franz Liszt e Hans von Bülow. Um dos professores de Oswald foi Giuseppe Buonamici, por sua vez, discípulo de von Bülow. Também integrante do seu círculo de amizades, Jessie Laussot-Hillebrand, amiga de Liszt e Wagner, fora homenageada por Oswald com a dedicatória de seu Quinteto para Piano. Em 1896, Oswald regressou ao Brasil e realizou diversas tournées interpretando composições próprias com calorosa receptividade. Em 1903, foi nomeado diretor do Instituto Nacional de Música do Rio de Janeiro, a mais prestigiosa escola de música do país. Posteriormente, entregou o cargo ao compositor Alberto Nepomuceno a fim de se dedicar exclusivamente ao ensino de piano. Em 1911, passou a viver no Rio na companhia de sua família. A atuação de Oswald como professor fora importante para a formação de diversos compositores e pianistas brasileiros do século XX. Seus últimos anos foram devotados à composição de obras sacras. Morreu em 1931, pouco antes de completar seus 80 anos. Oswald foi um pianista brilhante e dedicou várias obras ao instrumento, entre as quais pequenas peças, ao gosto da época, que foram particularmente bem sucedidas. No entanto, o lado mais notável de sua produção consiste em obras de câmara de grande porte, em sua maioria, estruturadas em quatro movimentos: além de sonatas para violino e violoncelo, compôs quatro trios para piano, dois quartetos para piano, quatro quartetos de cordas e um quinteto de piano. A procedência dessa obra camerística monumental, em qualidade e estilo, não encontra ecos na naturalidade brasileira do compositor nem nos longos anos que viveu na Itália, todavia reflete os moldes deixados por Saint-Saëns, Fauré e Brahms. A maior parte das composições de câmara de Henrique Oswald ainda é inédita e praticamente desconhecida.

Alberto Nepomuceno (1864-1920)

Alberto Nepomuceno recebeu suas primeiras aulas de piano e solfejo de seu pai, que era maestro, violinista e organista em Fortaleza. Aos oito anos, sua família mudou-se para Recife, onde o pai veio a falecer precocemente, deixando ao jovem Alberto a responsabilidade pelo sustento da mãe e da irmã. Após o indeferimento de seu pedido de bolsa de estudos na Europa, devido a seu engajamento no movimento abolicionista, transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde deu aulas de piano, bem como concertos em salas menores. Em 1885, passou a estudar e a lecionar piano na escola de música do Clube Beethoven, onde se apresentou para um seleto grupo de amantes da música. Suas primeiras composições, escritas em 1887, foram estreadas em sua cidade natal e em outras cidades cearenses ao lado do violoncelista Frederico Nascimento, professor do Instituto Nacional de Música do Rio de Janeiro. Em 1888, Nepomuceno teve a oportunidade de estudar na Europa. Seu primeiro destino foi a Accademia Di Santa Cecilia, em Roma, onde estudou com Giovanni Sgambati e Eugenio Terziani. No ano seguinte, participou do concurso para a composição do Hino Nacional da recém-proclamada República do Brasil e recebeu o terceiro prêmio. A assistência financeira se manteve e Nepomuceno prosseguiu os estudos na Escola Superior de Música de Berlim, na classe de Heinrich von Herzogenberg, amigo e aluno de Johannes Brahms. Ao concluir os estudos, regeu a Orquestra Filarmônica de Berlim executando duas de suas obras. Em 1890, durante uma viagem a Viena, ele conheceu a pianista norueguesa Walborg Rendtler Bang, aluna de Edvard Grieg, com a qual se casou, em 1893, estabelecendo-se temporariamente na casa de Grieg, na Noruega. De volta ao Rio, apresentou-se frequentemente como intérprete de suas composições para piano. Defendeu a criação de uma linguagem musical brasileira e foi pioneiro ao compor canções eruditas em português, dedicando-se proficuamente ao gênero no qual prevalecia, até então, o idioma italiano. Seu espírito nacionalista, afirmado após 1893, se estendeu também no âmbito das criações sinfônicas. A Tarantella para violoncelo e piano, escrita em 1899, foi dedicada ao violoncelista austríaco Maximilian Benno Niederberger. Nascido em 1860, Niederberger foi aluno de David Popper, participou do Clube Beethoven e, posteriormente, tornou-se professor de violoncelo no Instituto Nacional de Música no Rio de Janeiro. Após a morte de Leopoldo Miguez, em 1902, Nepomuceno foi, por um curto período, diretor do Instituto Nacional de Música, cargo que assumiu novamente após a renúncia de Henrique Oswald, ocorrida em 1906. Durante os dez anos de sua segunda gestão, Nepomuceno exerceu grande influência sobre a vida musical carioca e brasileira. Em 1916, ele iniciou a tradução do Tratado de Harmonia de Arnold Schoenberg. Alberto Nepomuceno morreu em 1920, aos 56 anos. Ao contrário de Henrique Oswald, Alberto Nepomuceno foi visto pelos compositores mais jovens do seu tempo como um dos pioneiros da música brasileira de concerto, enriquecida com a inserção de caracteres nacionais, lançando a base para novos conceitos composicionais, compartilhados por Luciano Gallet, Heitor Villa-Lobos e Lorenzo Fernândez. (Fonte: Wikipedia)

Luciano Gallet (1893-1931)

Compositor e pianista de ascendência francesa, Luciano Gallet, nasceu em 1893, no Rio de Janeiro. Estudou no Instituto Nacional de Música no Rio de Janeiro, onde teve como professores Henrique Oswald, Agnelo França e Glauco Velasquez. O compositor francês Darius Milhaud foi-lhe uma grande influência: durante a estada deste no Rio, em 1917, ministrou-lhe um curso de harmonia moderna. Em 1930, Gallet assumiu a direção do Instituto Nacional de Música, mas exerceu a atividade por um curto período, devido à sua morte prematura, em 1931. Seu trabalho composicional é fortemente influenciado pelo folclore, como observado em seu primeiro ciclo de Canções Populares Brasileiras, que publicou em 1924. Neste mesmo ano, ele fundou um coral e executou a Paixão Segundo São Mateus, de J. S. Bach. Seu catálogo de obras não é extenso, mas de grande qualidade. Sobre ele, o pianista brasileiro Arnaldo Estrella disse: “Luciano Gallet explorou o folclore de seu país natal ‘dos aborígenes à aristocracia’ com o espírito de um guerreiro que mergulha num confronto sem medir as consequências. A expressão [de sua música] é direta, barbárica. A técnica [de sua música] procura libertar-se da escravidão de suas próprias amarras...”.

Francisco Mignone (1897-1986)

Filho de imigrantes italianos, Francisco Mignone nasceu em 1897 na cidade de São Paulo. O pai, que emigrara no ano anterior, era flautista e violinista profissional. Na época, São Paulo era uma pequena cidade de 200 mil habitantes, não possuía uma orquestra municipal e sua escola superior de música, o Conservatório Dramático e Musical, onde Mignone iria trabalhar como professor, foi fundado apenas em 1906. O famoso escritor e filósofo musical Mário de Andrade frequentara o curso de piano do Conservatório antes de embarcar nas carreiras literária e etnomusicológica. Como advogado do desenvolvimento de uma linguagem musical nacional, exerceu influência considerável no cenário musical brasileiro e comentou inúmeras composições em suas publicações. Andrade foi, durante anos, crítico e amigo de Mignone. Em 1920, Mignone recebeu uma bolsa para estudar em Milão com Vincenzo Ferroni. Mais tarde, estabeleceu-se na Espanha. Em 1923, um grande sucesso foi a performance da sua obra Congada no Rio de Janeiro, pela Filarmônica de Viena, sob a direção de Richard Strauss, durante a temporada de concertos pela América do Sul. Em 1929, Mignone retornou ao Brasil, ocasião quando foi nomeado professor no Conservatório Dramático e Musical de São Paulo. Muitas composições deste período utilizam referências folclóricas. Em 1934, se tornou professor de Regência no Instituto Nacional do Rio de Janeiro e, em 1951, foi nomeado diretor do Theatro Municipal daquela cidade. Em seus últimos anos, esforçou-se em conciliar os recursos musicais nacionais com o atonalismo, pretendendo novas formas de discurso musical.

M. Camargo Guarnieri (1907-1993)

Camargo Guarnieri, que costumeiramente abreviava seu prenome - Mozart, nasceu em 1907, em Tietê, São Paulo. Compositor, pianista e maestro, iniciou os estudos em 1923 com Ernani Braga, Antônio de Sá Pereira e Lamberto Baldi, respectivamente. Em 1928, enquanto via crescer sua reputação como compositor, conheceu Mário de Andrade, que lhe indicara o caminho nacionalista que seria trilhado por muitas de suas composições. Em 1938, Guarnieri viajou à Europa para estudar em Paris com Charles Koechlin e Franz Rühlmann. Porém, devido ao início da Segunda Guerra, em 1939, teve que interromper os estudos e retornar ao Brasil. Guarnieri é um dos compositores brasileiros mais importantes do século XX. Sua extensa produção inclui seis sinfonias, cinco concertos para piano, obras sacras e uma rica obra de câmara. Também desenvolveu ampla atividade como maestro, frente à Orquestra Sinfônica de São Paulo e a outros grupos estrangeiros, como a Orquestra Sinfônica de Boston. Exerceu atividade pedagógica regular em universidades de São Paulo, Santos e Goiânia.

Marcelo Corrêa


TRIO GUARNERI DE PRAGA

Programa Josef Suk (1874-1935)

Elegia para violino, violoncelo e piano op. 23

Bedrich Smetana (1824-1884) Trio em sol menor op. 15 I. Moderato assai II. Allegro, ma non agitato

III. Finale: Presto

Antonín Dvorák (1841-1904) O Trio Guarneri de Praga foi formado em 1986 por três músicos checos, que comungam interesse pelo rico repertório escrito para trios com piano, violino e violoncelo. Integrado por Čeněk Pavlík, violino, Marek Jerie, violoncelo e Iván Klanský, piano, o Trio Guarneri de Praga mantém ao longo de todo esse tempo a mesma formação original – o que certamente revela a alta qualidade humana de seus músicos e a forte amizade que os mantém juntos. O nome do grupo é homenagem à família de luthiers italianos dos séculos XVII e XVIII, especialmente o célebre Guarneri del Gesù – cujos violinos são reverenciados pela resistência e beleza sonora e chegam a ser considerados superiores aos legendários Stradivarius. Os músicos de cordas do grupo usam instrumentos originais Guarneri: Čeněk Pavlík toca um violino Guarneri del Gesù de 1735 e Marek Jerie um violoncelo Andréa Guarneri de 1684. Desde o início de suas atividades o Trio Guarneri logo chamou a atenção da imprensa e do público, rapidamente construindo sólida reputação internacional por suas performances sempre excepcionais, marcadas por interação perfeita, excelência técnica, qualidade tonal única e sensível visão interpretativa. O conjunto tem em seu currículo apresentações nas mais prestigiadas salas de concerto de toda a Europa, turnês por países da América do Norte, América do Sul, Ásia e Austrália e é presença frequente nos mais importantes festivais internacionais de música. Sua extensa discografia inclui, entre inúmeras outras gravações, as integrais dos piano trios de Beethoven, Mendelssohn, Shostakovich, Schubert, Mozart, Brahms e Dvorák. Por esses discos tem recebido prêmios importantes como Choc du Monde de la Musique e Diapason d’Or. Com domínio completo de todas as obras clássicas para a formação, ao longo dos últimos anos o trio vem ampliando seu repertório, acrescentando a ele peças contemporâneas (de compositores como o tcheco Luboš Fišer e o suíço Thüring Bräm) bem como obras de compositores boêmios do século XVIII, fase áurea da música clássica vienense (como Jan Václav Voříšek e Antonín Rejcha).

Trio em mi menor nº 4 op. 90 “Dumky Trio” I. Lento maestoso II. Poco adagio III. Andante IV. Andante moderato (Quasi tempo di Marcia) V. Allegro VI. Lento maestoso Čeněk Pavlík violino Marek Jerie violoncelo Iván Klanský piano

O nacionalismo musical é um fenômeno complexo e possui diversas significações. Um hino pátrio é, certamente, um símbolo nacional, porém, não é música nacionalista. Raramente ocorre na música cívica a incorporação do folclore musical ou de elementos musicais típicos de uma nação. A música do operista Giuseppe Verdi é claramente italiana, foi insígnia da unidade nacional e, ainda assim, não é música nacionalista: o patriotismo e a expressão da nacionalidade não foram as questões fundamentais de sua música. Por sua vez, obras musicais baseadas em elementos folclóricos ou melodias populares já se faziam comuns desde o século XVI. O exemplo mais notável deste período é o madrigal renascentista que, como indica o termo - derivativo de madre - se relaciona ao canto popular materno, referente a país ou pátriamãe. A música mater, folclórica, enriquecida pelo orgulho da língua e da literatura, teve papel importante para delinear fronteiras e unificar países e regiões. De Mozart a Wagner, de Monteverdi a Verdi, a música ocidental assistiu às diversas formas de nacionalismo musical. Portanto, nada do que fora visto seria comparado ao movimento nacionalista que surgiu em meados do século XIX e se espalhou pela Europa e Américas no século XX como fruto do impacto político causado pela ascensão da nova sociedade burguesa. De todas as escolas nacionalistas, a Tcheca é a única que realmente merece ostentar o emblema da “arte nacional” devido à sua enorme luta pelo idioma pátrio e pela identidade cultural de seu povo, outrora sufocados por séculos de dominação austríaca. Em 1777, a língua tcheca foi proibida de ser ensinada nas escolas do país por determinação da Imperatriz Maria-Teresa, chefe da Casa de Habsburgo. O Conselho de Estado austro-húngaro avaliou que sem o idioma tcheco não haveria mais nação e o mesmo foi abandonado por um longo tempo. A defesa do idioma vernáculo se tornou um desafio para as principais personalidades da vida cultural e social da região Boêmia participantes do despertar nacional tcheco nos primeiros anos do século XIX. A Revolução de 1848 se espalhou pela Europa, enfraqueceu os Habsburgos e os obrigou a ceder em pontos importantes, inclusive tolerar teatro e óperas em tcheco. O compositor Bedrich Smetana (1824-1884), aclamado como o criador da música nacional tcheca, estivera à frente do movimento nacionalista com suas óperas, todas com libreto em tcheco. Escreveu apenas cinco obras de câmara, entretanto, cada uma possuindo um profundo significado pessoal: o Trio em Sol menor, composto em 1855, surgiu após a morte de sua filha, Bedriska. Em 1863, Smetana assumiu o cargo de regente da Orquestra do Teatro de Praga em substituição ao alemão Richard Wagner. Um dos integrantes dessa orquestra, um exímio violista, influenciado pela música de Smetana, se tornaria o principal compositor nacionalista tcheco: Antonín Dvorák (1841-1904). Em sua fase nacionalista, Dvorák utilizou o rico manancial da música popular representados pelas danças tchecas dumka (lenta) e furiant (rápida). O termo dumka cativou Dvorák por sua semelhança com dumat, que significa mergulhar em reflexões nostálgicas e sonhadoras. Daí a natureza de seu último e mais famoso trio, o nº4 Opus 90, completado em 1891 e estruturado em seis movimentos, cada qual uma dumka, repletas de devaneios entrecortados por furiants dançantes. Entre os alunos de Dvorák, destacou-se um talentoso violinista ao qual o compositor entregou a mão de sua filha, Otília, seu nome é Josef Suk (1874-1935). Primeiramente guiado pelo sogro, Suk evoluiu para uma linguagem musical relativamente moderna. Sua música foi influenciada por eventos trágicos em sua vida e suas melhores obras são pontuadas de morbidez. A Elegia, de 1902, original para violoncelo solista, quinteto de cordas, harmônio e harpa, foi dedicada ao aniversário de morte do escritor tcheco Julius Zeyer, cujo poema épico Vysehrad, baseado na magia e mistério das lendas tchecas que envolvem o antigo Forte de Vysehrad e seu sombrio cemitério gótico, inspirou a obra. Sua mais famosa composição é a Sinfonia nº2, de 1906, intitulada Azrael, uma das personificações do temido “arcanjo da morte” que, por volta de 1905, levou-lhe não só o mestre, Dvorák, como também a esposa, Otília. Restaram a Josef Suk trinta anos de resignação confessada em música até que Azrael lhe concedesse o merecido descanso final. Marcelo Corrêa


Cármelo de los Santos e Ney Fialkow O violinista brasileiro Cármelo de los Santos desfruta de uma movimentada carreira como solista, camerista e pedagogo. Desde sua extensa experiência como concertista às recentes apresentações dos 24 Caprichos de Paganini, seu virtuosismo e compromisso musical tem cativado o público internacionalmente. Ganhou projeção nacional aos 16 anos quando foi o mais jovem vencedor do mais importante concurso musical brasileiro, o “VII Prêmio Eldorado de Música”, em São Paulo. Desde então vem se apresentando como solista convidado de mais de 40 orquestras, incluindo a New World Symphony, Santa Fe Pro-Musica, as sinfônicas de Southern Mississippi, Santa Fe, e New Mexico, a Filarmônica de Montevidéu, Orquestra Musica d’Oltreoceano (Roma), e as principais sinfônicas brasileiras como a do Estado de São Paulo, Brasileira e Petrobrás Pró-Música. Cármelo tem colaborado com renomados regentes como Michael Tilson Thomas, Alejandro Posada, Jean-Jaques Werner, Guillermo Figueroa, Eric Shumsky, Rodolfo Saglimbeni, Yeruham Scharovsky, Jorge Pérez-Gómez, Roberto Tibiriçá e Jean Reis, entre outros. Cármelo fez a sua estréia em Nova Iorque em 2002 como solista e regente no prestigioso Weill Recital Hall do Carnegie Hall junto à Orquestra de Câmara ARCO. Cármelo foi premiado em diversos concursos internacionais entre eles o primeiro prêmio no IV Concurso Internacional de Instrumentos de Corda “Júlio Cardona” (Portugal), o primeiro prêmio no concurso promovido pela Associação Nacional de Professores de Música (Estados Unidos) e o segundo prêmio no Concurso Internacional de Jovens Artistas (Argentina). Com a pianista Carla McElhaney e o violoncelista Joel Becktell formou o grupo REVEL, uma “banda clássica” baseada em Austin. O grupo acredita que o poder transformador da música é melhor compartido num ambiente informal e íntimo. Eles apresentam eventos chamados revels (“folias”) nos quais a platéia desfruta a música “em primeira mão”. O grupo toca obras-primas para duos e trio com piano, também arranjando obras modernas e populares em um estilo singular que tem se tornado o alicerce de seu repertório. Em 2012 lançaram o CD Magic Hour com obras de Beethoven, Piazzolla e Kenji Bunch. O seu comprometimento com jovens músicos o traz a festivais de música e master classes por todo o mundo. No Brasil, Cármelo tem especial satisfação em trabalhar com alunos de programas socias semelhantes ao famoso El Sistema venezuelano: Instituto Baccarelli, Projeto Guri e Fundação Amazônica de Música. Obteve o diploma de Bacharelado na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Mestrado na Manhattan School of Music, Nova Iorque, e Doutorado na University of Georgia, Geórgia, EUA. Seus professores foram Fredi Gerling, Marcello Guerchfeld, Sylvia Rosenberg e Levon Ambartsumian. Tocou para importantes nomes do violino mundial como Isaac Stern, Boris Belkin, Eugene Fodor e Shlomo Mintz, entre outros. Lançou em 2009, com o pianista Ney Fialkow, o CD “Sonatas Brasileiras” com obras de Villa-Lobos, Guarnieri e Santoro (Selo UFRGS) pelo qual recebeu o Prêmio Açorianos 2009 de Melhor CD Erudito e Melhor Intérprete Erudito. Dois CDs serão lançados em 2013: “Peças Brasileiras” – peças curtas para violino e piano por compositores brasileiros, Ney Fialkow ao piano; e “Compositores Franceses”, gravado ao vivo no Festival de Música de Câmara Bonneville (EUA) com obras de Debussy e Chausson, junto ao pianista Guigla Katsarava. Destaques da temporada de 2013 serão a gravação em CD dos 24 Caprichos de Paganini e um convite para julgar o Primeiro Concurso Internacional de Violino “Centro Tóquio de Artes” em Kobe, Japão. Cármelo é professor titular na Universidade do Novo México, Albuquerque, EUA, onde ele vive com a sua esposa Eugenia e o seu filho Arthur. Cármelo toca num violino Carl Becker, 1929.

Premiado em diversos concursos, destacando-se o cobiçado título de melhor pianista do VII Prêmio Eldorado de Música, em São Paulo, os primeiros prêmios em diversos concursos nacionais e no exterior, o pianista Ney Fialkow é hoje um dos destacados músicos do cenário nacional. Tem conciliado movimentada carreira de solista e camerista com a atividade de professor do Instituto de Artes UFRGS, em Porto Alegre. Suas aparições como solista e camerista tem cativado plateias de diversas salas de concerto no Brasil e no exterior e suas masterclasses tem sido apreciadas por jovens pianistas de diversos países. Sob os auspícios do governo brasileiro, realizou formação em pós-graduação nos EUA, obtendo o título de Doutor em Música no Peabody Conservatory da Johns Hopkins University, Baltimore, onde foi assistente da célebre pianista Ann Schein, obtendo o prêmio Francis Turner por destaque em performance. Realizou também com distinção o Mestrado em Música no New England Conservatory, Boston, com Patrícia Zander. Em parceria com o aclamado violinista Carmelo de los Santos, lançou o CD “Sonatas Brasileiras” gravado ao vivo, tendo sido acolhido pelo público e crítica especializada como “um dos melhores registros que o Brasil produziu de sua música de câmera”, recebendo o prêmio de Melhor CD erudito do Prêmio Açorianos 2009. Em 2006 realizou concerto com o Trio Porto Alegre (Cármelo de los Santos e Hugo Pilger) no projeto “Copa da Cultura”, promovido pelo Ministério da Cultura do Brasil em Berlim, na Alemanha, com repertório dedicado à música de câmera brasileira. Em 2008, ao lado de Maria Alice Brandão, executou a obra integral de Beethoven para violoncelo e piano na Capela Santa Maria em Curitiba. Em 2010 participou como solista da estréia da obra “Mahavidyas” de Vagner Cunha e do CD da versão integral da obra lançado em 2010, obtendo o Prêmio Açorianos junto com a pianista Cristina Capparelli como melhores intérpretes. Neste mesmo ano a agenda incluiu apresentações no Festival de Musica de Ushuaia, concertos com a contralto Kismara Pessatti, um recital solo em Buenos Aires, e concertos na temporada oficial do Teatro Paulinia de SP e concerto de abertura do festival Villa-Lobos no Rio de Janeiro. Tem colaborado com importantes musicistas brasileiros e do exterior e atuado como solista de orquestras do Brasil. Suas gravações incluem também o Diálogo para Piano e Orquestra de Bruno Kiefer com a Orquestra Sinfônica de Porto Alegre, além de obras de Armando Albuquerque, Edino Krieger, Camargo Guarnieri, Flávio Oliveira e Luciano Zanatta. Em 2012 sua agenda incluiu entre diversos compromissos a realização de concerto na Sala São Paulo com o violinista Moisés Bonella. “...sonoridade perfeita, fraseado harmonioso, dedilhado preciso e suave, marca registrada dos grandes pianistas” - O Estado de São Paulo, SP “...fervilhando brasilidade nos Ponteios de Guarnieri” – L’Alsace, França

Programa Manuel de Falla (1876-1946) Suite Popular Espanhola I. El Paño Moruno II. Nana III. Canción IV. Polo V. Asturiana VI. Jota Johannes Brahms (1833-1897) Sonata nº3 para violino e piano em ré menor, op. 108 I. Allegro II. Adagio III. Un poco presto e con sentimento IV. Finale: Presto agitato George Gershwin (1898-1937)/ Igor Frolov (1937) Fantasia de Concerto sobre temas de Porgy and Bess, op. 19

Cármelo de los Santos,violino Ney Fialkow , piano

Compositores das mais variadas épocas, países e estilos sucumbiram aos encantos da rica cultura musical folclórica da Espanha. A força do cante jondo, a alegria das castanholas, a sedução da dança flamenca e a riqueza dos contos ciganos serviram a diversas obras musicais, porém, por muitas vezes, esta arte marcante viu sua riqueza múltipla e sincrética se reduzir a jargões e a alguns rasgueados. Manuel de Falla fugiu do “folclorismo de cartão-postal” e, por isso, é figura à parte da romantizada Escola Nacional Espanhola. A fineza de sua escrita está presente na série de arranjos para canto e piano intitulado Siete Canciones Populares Españolas, de 1914, na qual percorre diversas províncias - Andaluzia (El Paño Moruno, Nana), Múrcia (Seguidilla Murciana), Aragão (Jota), Astúrias (Asturiana) - e a tradição cigano-flamenca (Polo). Estreadas em 1915 na voz de Luisa Vela com o compositor ao piano, as canções foram posteriormente orquestradas por Ernesto Halffer e também por Luciano Berio. A adaptação para violoncelo e piano por Maurice Maréchal é famosa e segue a versão para violino e piano de Paul Kochanski, na qual as peças são reorganizadas sem a Seguidilla Murciana e a obra é rebatizada de Suite Popular Espanhola. A devoção de Johannes Brahms por Robert e Clara Schumann foi longa e duradoura. Os quarenta e cinco anos de amizade, iniciada quando Brahms tinha 18 anos, resultaram em uma das mais famosas colaborações entre músicos da história. De início, os Schumann depositaram toda a confiança no talentoso e desconhecido adolescente de Hamburgo: Robert pediu ao editor Härtel, em Leipzig, que publicasse os cinco primeiros opus de Brahms. Após a morte de Robert, em 1856, Brahms sentiuse responsável por cuidar do legado do amigo e auxiliar a numerosa família que havia ele deixado. Brahms, sob a supervisão de Clara, organizou a edição completa das obras de Robert, também publicadas por Härtel. Clara Schumann, em 1888, fizera sessenta anos de carreira e recebera dois presentes de Brahms: 15 mil táleres e sua 3ª Sonata para piano e violino. A obra foi iniciada após a 2ª Sonata op. 100, no período de férias em Thun, no verão de 1886, e concluída dois anos depois, em seu retorno a Thun. A 3ª Sonata foi estreada em 1888, em Budapeste, tendo ao violino Jenö Hubay e ao piano, o compositor. Clara estudou a obra em pequenas passagens, devido às recentes dores reumáticas e escreveu a Brahms: “pensei de novo no Céu com reconhecimento por ter mandado ao mundo uma personalidade tão robusta e tão sadia”, e, em outra carta, confessou a ele: “Robert e você foram a mais bela aventura da minha vida. Vocês representam a mais preciosa riqueza e a substância mais nobre”. Filho de imigrantes judeus da Ucrânia, George Gershwin foi essencialmente um compositor de canções. Ele contribuiu enormemente na síntese entre o jazz e as tradições clássicas, porém seu autodidatismo e o caráter popular de sua produção mantiveram-no por muito tempo longe do reconhecimento por parte dos músicos eruditos: “Não creio que tenha havido, desde Tchaikovsky, um melodista mais inspirado do que Gershwin... mas, se estamos falando de compositor, já é outra conversa”, escreveu Leonard Bernstein, num artigo da década de 50. Rico e afamado pelas dezenas de trilhas, musicais e vaudevilles que criou, Gershwin lutou por seu reconhecimento no rol dos compositores eruditos, o que o levou à criação de obras orquestrais e de uma “ópera folclórica americana”. Porgy and Bess é caracterizada por possuir em seu elenco somente cantores líricos negros. Escrita e estreada em 1935, até 1976 não havia sido aceita como uma ópera legítima em seu país. O belo par amoroso, figura comum a toda ópera, é substituído por um mendigo deficiente físico e uma prostituta viciada, cujo romance está inevitavelmente fadado ao fracasso. O tema é triste e, infelizmente, cada vez mais atual. No entanto, todas as melodias, a partir da primeira ária-canção Summertime, uma doce berceuse, são arrebatadoras, contagiantes e inesquecíveis. O violinista russo Igor Frolov compôs a Fantasia sobre Porgy and Bess em 1991 relembrando os anos de estudante no Conservatório de Moscou, nos quais o jazz era proibido e era praticamente impossível se obter gravações. Ele assistia a filmes estrangeiros e, depois, em casa, tentava recriar suas melodias favoritas. Porgy and Bess é, segundo ele, “um poema sobre o amor que conta a história de duas pessoas muito diferentes, que se apaixonam, contra todas as probabilidades”. Marcelo Corrêa


GILBERTO TINETTI

Programa Ludwig van Beethoven

(1770-1827)

Rondó op.51 nº1 em dó maior Sonata op.28 em ré maior “Pastoral” I. Allegro II. Andante III. Scherzo: Allegro vivace IV. Rondó: Allegro ma non troppo

Johannes Brahms

O nome de GILBERTO TINETTI ocupa lugar de especial destaque no panorama musical brasileiro: pianista de grande personalidade e reconhecidos méritos, sua carreira multifacetada vem se desenvolvendo através de mais de quatro décadas de trabalho intenso e continuado. Nasceu em 1932, em São Paulo, onde iniciou seus estudos com a professora Josephina De Felice, passando a seguir a ser aluno do Prof.Hans Bruch. Graduou-se pela Faculdade de Direito da USP em 1955. Mais tarde, já em Paris, estudou com Magdalena Tagliaferro e na Alemanha, com Friedrich Wührer. Frequentou os cursos de interpretação de Alfred Cortot. Em 1959, venceu o Concurso da Academia Internacional de Verão do Mozarteum de Salzburgo, Áustria. Desde então, tem se apresentado em vários países da Europa, América Latina e Estados Unidos. Realizou a primeira audição em Paris, do Concerto no.4 para piano e orquestra de Villa-Lobos (1970) e foi convidado para júri do Concurso de Música do Canadá (1977 e 1987).

(1833-1897)

Rapsódia op.79 nº2 em sol menor Intermezzo op.118 nº6 em mi bemol menor Intermezzo op.119 nº3 em dó maior

Claude Debussy

(1862-1918)

Pour le piano I. Prélude II. Sarabande III. Toccata Gilberto Tinetti piano

No Brasil, apresenta-se regularmente como solista das principais orquestras, como recitalista e em concertos de música de câmara, tendo sido considerado pela crítica como um dos melhores cameristas brasileiros. Com o Trio Brasileiro, formado em 1975 por Tinetti, Lehninger e Clis, gravou 5 LPs e 1 CD para os selos Philips e Eldorado. O CD que gravou com o cellista brasileiro Antonio Meneses foi considerado o melhor lançamento clássico de 1985. Em 2004, foi lançado mais um CD do Trio Brasileiro, desta vez para o selo Lami, dedicado ao repertório brasileiro contemporâneo. Em 1995 e 1996, tocou com êxito nos Estados Unidos e na Itália. Em 1997, recebeu da Secretaria Estadual de Cultura de São Paulo, o Prêmio Carlos Gomes, na categoria “melhor solista instrumental”. Em 1998, foi-lhe conferido pelo Rotary Clube de São Paulo, o título de “personalidade do ano” em Música. Em 1999 voltou a receber o Prêmio Carlos Gomes, desta vez como pianista do Trio Brasileiro, considerado o “melhor grupo de câmara”. Em 2000, atuou na França com o Trio Brasileiro. Em 2005, o Prêmio Carlos Gomes voltou a ser conferido ao Trio Brasileiro, pelos 30 anos de atividades artísticas ininterruptas. Em 2012 comemorou seu 80º aniversário, recebendo diversas homenagens e dando prosseguimento a sua carreira multi-facetada.

“O mais bonito de tudo foi ver Gilberto Tinetti acolhido na melhor sala, pela melhor orquestra e pela melhor platéia da cidade...Tinetti é um dos músicos de São Paulo que dão vida longa e lúcida a esta terra perpetuamente em transe. No ano do seu septuagésimo aniversário, ele continua tocando como sempre, com elegância, clareza, fineza de espírito...Gilberto Tinetti recebeu na Sala São Paulo uma aclamação mais do que justa por tantos anos de entrega à cidade e à música.” Arthur Nestrovski, Folha de São Paulo, 31/8/02.

Aos dezessete anos de idade, Ludwig van Beethoven visitou Viena, então o grande centro musical da Europa, e, cinco anos mais tarde mudou-se para lá, definitivamente. Antes disso, ele já desenvolvera uma sólida base de conhecimentos, estudando e tocando constantemente obras de J. S. Bach para instrumentos de teclado, principalmente O Cravo Bem Temperado. Não foi somente com as obras de Bach que ele causou profunda impressão como pianista: sua habilidade em improvisar e fazer variações despertava admiração e tornou o seu nome rapidamente conhecido. Fazem parte dos primeiros tempos de Viena os três rondós para piano, além do rondó para piano com violino obbligato e o rondó para piano e orquestra. O Rondó op. 51 nº1 em dó maior foi escrito entre 1796 e 1797, quando Beethoven ainda não havia perdido a audição, e publicado juntamente com o Rondó em sol maior, em 1802. A forma-rondó deriva da canção medieval francesa rondeau, na qual o tema principal reaparece algumas vezes após ser respondido por mais de um contra-tema. Se compararmos o Rondó op. 51 nº1 ao anterior Rondó em dó maior WoO 48, de 1783, notaremos não só o surgimento da “voz” do compositor, como também uma audaciosa interferência na forma-rondó a ponto de transforma-la numa espécie de forma-canção expandida, com refrão e coda. Beethoven se distanciava dos padrões estilísticos de Haydn e Mozart assim como distanciava sua criação de seu próprio gênero. A Grande Sonata para Piano op. 28 foi também publicada em 1802, porém fora composta no mesmo ano da Sonata ao Luar, em 1801. Beethoven reservava o título de “grande” às sonatas que publicava isoladamente, intencionando talvez, dar-lhes maior importância. A obra é usualmente conhecida como Sonata Pastoral, nome dado pelo editor Kranz - o mesmo que batizaria a Sonata op. 53 de Appassionata. Todavia, a história não censura Kranz por haver acrescentado um nome à sua edição: “pastoral” é mais do que adequado à música serena e harmoniosamente fluente desta obra. O título do editor é comprovado no último movimento, um rondó, no qual o acompanhamento semelhante a uma gaita-de-fole e seu ritmo dançante parecem descrever uma cena rural escocesa. Esta “expressão de sentimentos” prenuncia a atmosfera pretendida por Beethoven em sua 6ª Sinfonia, uma obra orquestral precursora da música programática, que tivera por propósito descrever a sensação experimentada nos ambientes campestres. As peças para piano compostas por Johannes Brahms nos seus anos de juventude são marcadas por suas grandes dimensões, se observarmos as sonatas, e por seu extremo virtuosismo, presente nas séries de variações. Já as duas Rapsódias op.79, compostas quando ele tinha 46 anos, revelam uma disciplinada economia de meios. Aproximando-se de seu sexagésimo aniversário, ele se dedicara a criar peças para piano provindas de fontes mais íntimas do coração do que tudo o que ele escrevera antes para este instrumento: uma coleção de confidências poéticas em forma de som. Em algumas, ainda ecoam as reminiscências de seu passado, como o vigor demandado na execução e o uso de canções populares como fonte de inspiração. Consideradas seu testamento pianístico, elas foram agrupadas em número de opus - 116, 117, 118 e 119 - e apropriadamente chamadas por Hanslick de “monólogos”. As coleções Opus 118 e Opus 119 foram as últimas composições para piano solo de Brahms. O Opus 118, dedicado a sua admirada amiga Clara Schumann, septuagenária e enferma, significou mais que um presente: foi um meio de dar-lhe vida. A respeito da densidade e das multíplices emocionais que compõem as peças para piano do Opus 118, ela comentou: “É maravilhoso como ele combina paixão e ternura nos menores espaços... estas coisas novas me absorvem completamente”. A peça que encerra o ciclo, o Intermezzo nº6 em mi bemol menor é uma obra elegíaca, um poema pensativo sobre a morte. A sombria melodia inicial inclui uma citação do Dies Irae, sequencia do réquiem gregoriano. Bem diferente é o Intermezzo op.119 nº3, cujo espírito leve e brincalhão é confirmado pela indicação em italiano - grazioso e giocoso - fornecida por Brahms. Claude Debussy iniciara os estudos de piano aos sete anos, e tivera como professora a sogra de Paul Verlaine, Madame Mauté de Fleurville, que dizia a todos ter sido aluna de Chopin. O nome dela figura em uma lista, redigida pelo próprio Debussy, dos mestres que influenciaram seu estilo composicional e pianístico. Dentre eles, encontram-se o compositor italiano renascentista Palestrina, com a “plasticidade modal” de sua música, e os grandes cravistas do barroco - Rameau, Couperin e Scarlatti - apontados pela “clareza dos padrões e a consciência da forma”. Debussy rejeitou os princípios formais alemães e austríacos para recuperar as antigas danças das suítes francesas como o menuet e o passepied. Na Suite Bergamasque e na suíte Pour le Piano, obras contemporâneas da primeira fase, ele utilizou a estrutura da suíte barroca, introduzida por um prelúdio seguido de danças lentas e rápidas. Em suas obras futuras, as influências barrocas se tornarão menos objetivas e mais alusivas. Pour le Piano, de 1901, é, conforme Émille Vuillermoz, uma obra dedicada “não aos instrumentistas, mas ao próprio instrumento”. A suíte se encerra com uma tocata, que é um gênero de grande destreza exclusivo dos instrumentos de teclado. Nela, Debussy escreve, pela primeira vez em uma obra pianística, a indicação en dehors, “para fora”, que atenta para as notas a serem enfatizadas em um trecho musical. Tal expressão aparecerá com frequência em futuras obras, assim como o rico colorido dos blocos sonoros: uma sequencia de acordes tocados, geralmente, em movimento paralelo. Em Pour le Piano eles aparecem com vigor e entremeados de glissandos no Prelúdio e lentos e suaves na Sarabanda. Segundo a pianista francesa Marguerite Long, Debussy executava os blocos sonoros de sua Sarabanda como ninguém: “as sucessões de acordes maravilhosos se sustentavam com uma expressão e legato intensos”. A Sarabanda foi escrita seis anos antes do Prelúdio e da Tocata e pertencia, originariamente, à série de Imagens Oubliées. Posteriormente, foi orquestrada por Maurice Ravel. Marcelo Corrêa


Antônio Del Claro Ricardo Ballestero

Programa Henrique Oswald (1852-1931) Elegia Sonata-Fantasia op.44 Mozart Camargo Guarnieri (1907-1993) Cantilena nº1 Sonata nº1 I. Tristonho II. Apaixonadamente III. Selvagem

“Del Claro é um dos instrumentistas mais brilhantes de sua geração e um dos mais sinceros intérpretes da literatura musical do violoncelo”. Assim se referia Pierre Fournier, o grande violoncelista e professor de Del Claro. Considerado um dos instrumentistas mais completos do Brasil, que com seu virtuosismo se destaca por igual no terreno da música de câmara e no concerto como solista de orquestra. A crítica especializada brasileira e do exterior reconhece sua capacidade de captar toda a substância musical das obras, através de sua postura austera, técnica aprofundada e convicção interpretativa. Sua arcada é ampla, sua sonoridade vibrante e seu temperamento é expancivo. Essas características fazem de Del Claro um autêntico representante da sublimidade da arte musical. Tem atuado frente às mais representativas orquestras do país, nos mais importantes centros culturais. Atuando também na França, Itália, Suiça, América Latina e Estados Unidos. Gravou discos de compositores tais como: Camargo Guarnieri, Henrique Oswald, Villa Lobos e Radamés Gnatali. Desenvolve atualmente atividades como diretor musical de algumas orquestras de cordas, tendo atuado frente a Orquestra de Câmera de Curitiba, Musicoop de Belo Horizonte, Sinfonica de Santo André. Além de ser regente da Orquestra de Cordas da Fundação Carlos Gomes do Para. Recentemente assumiu o cargo de Diretor Artístico do Festival de Música de Ourinhos – SP. Nascido em São Paulo, Ricardo Ballestero dedica-se à arte da colaboração ao piano, tendo estudado com dois dos mais renomados especialistas da atualidade, Martin Katz e Dalton Baldwin. Apresentou-se em recitais com cantores solistas do Metropolitan Opera, New York City Opera, Houston Grand Opera, Teatro Mariinsky e La Scala, dentre os quais Luis Lima, Nikolay Didenko, Alicia Nafé, Graciela Alperyn e Fernando Portari. Igualmente requisitado para colaborar em recitais com instrumentistas, já se apresentou ao lado de Hansjörg Schellenberg, Alex Klein, Ray Chen e Erling Blöndal-Bengtsson. Ballestero colabora regularmente com Adélia Issa, Antônio Lauro Del Claro, e Cristiano Alves. É docente do Departamento de Música da Universidade de São Paulo, onde leciona na graduação e na pós-graduação. Atuou como professor na Universidade do Colorado-Boulder e realizou recitais, palestras e cursos sobre o repertório vocal de câmara nos EUA, na Itália, Alemanha, Espanha, Argentina, em Portugal e no Brasil. Ballestero completou o seu Doutorado em Colaboração Pianística e Música de Câmara na Universidade de Michigan. Teve a oportunidade de acompanhar aulas de figuras como Shirley Verrett, George Shirley e Rudolf Piernay e as master-classes de Grace Bumbry, Kiri Te Kanawa e János Starker. Foi integrante do Studio da Houston Grand Opera. Trabalhou como pianista preparador (coach) e ensaiador na Houston Grand Opera, Festival Amazonas de Ópera e Festival Internacional de Campos do Jordão.

Camille Saint-Saëns (1835-1921) Sonata nº1 op.32 I. Allegro II. Andante tranquillo sostenuto III. Allegro moderato op. 19 Antônio Lauro Del Claro, cello Ricardo Ballestero, piano

Henrique Oswald viveu em Florença, Itália, dos 15 aos 51 anos. Lá, estudou com Buonamici, conheceu Liszt e Brahms, casou-se e teve quatro filhos. Realizou frequentes viagens ao Brasil e, em São Paulo, conheceu Camille Saint-Saëns, com quem participou de concertos a dois pianos. Saint-Saëns, juntamente com Gabriel Fauré, formou júri do concurso promovido pelo jornal parisiense Le Figaro, que classificou a peça para piano Il Neige de Oswald em primeiro lugar entre 600 concorrentes. A maior parte da obra de Oswald, escrita na Itália e de espírito francês, surgiu alheia ao nosso folclore, de tal modo que ele se surpreendeu ao ver sua trajetória narrada em um livro de história da música brasileira. A parte mais significativa de sua produção é dedicada à música de câmara, na qual se incluem obras dedicadas ao violoncelo: a Elegia em fá sustenido menor, escrita na Itália em 1898 juntamente com a Sonata op.21 e a Sonata-Fantasia op. 44, esta composta no Brasil em 1916. Em um artigo do Jornal do Comércio, a Sonata-Fantasia foi mencionada como o primeiro movimento de uma obra ainda incompleta: “Ouvindo tocar Pablo Casals, o grande poeta do violoncelo, Oswald prometeu que escreveria para ele uma sonata digna de tal artista. Tentou algumas vezes desobrigar-se do compromisso, mas, por demais exigente consigo mesmo, rasgou todas as tentativas, até que, este ano, escreveu esse Tempo de Sonata, que será o primeiro movimento da prometida sonata.” A Sonata-Fantasia é um exemplo da considerável diferença entre as obras compostas na Itália e as obras compostas após seu retorno definitivo ao Brasil, ocorrido em 1903. Nela, observa-se um maior vanguardismo da música de Oswald - expansão da tonalidade, ampliação das relações harmônicas e valorização dos elementos timbrísticos - talvez, como uma resposta às questões estético-musicais discutidas em sua época.

Nascido em Tietê, São Paulo, Camargo Guarnieri recebeu dos pais, descendentes de imigrantes italianos, o prenome Mozart, assim como o irmão mais velho fora batizado Rossini. O nome recebido em homenagem ao prodígio de Salzburg, além de prenunciar um dos mais importantes compositores brasileiros do século XX, iluminou-o com uma extraordinária naturalidade em manipular os elementos musicais e torná-los obras artísticas advindas do mais íntimo da alma. O brasileirismo de suas obras vai além do folclore e do nacionalismo, é narrado em sensações impalpáveis de Brasil. Uma característica de Camargo Guarnieri é a substituição dos termos italianos e alemães, comuns às obras musicais eruditas, por expressões em português. A primeira de suas duas cantilenas para violoncelo e piano possui a indicação “calmo e triste” e a primeira de suas três sonatas para a mesma formação tem os movimentos “Tristonho”, “Apaixonadamente” e “Selvagem”. A Cantilena nº1 foi composta em 1974 e estreada em São Paulo, em 1976, por Antônio Lauro Del Claro e Maria de Lourdes Imenes. A Sonata nº1, dedicada à Iberê Gomes Grosso, foi composta em 1931 e estreada em 1935 no primeiro concerto de obras de Camargo Guarnieri, patrocinado pela Sala de Arte de São Paulo, e teve Calixto Corazza ao violoncelo e o compositor ao piano. No mês anterior, Mário de Andrade, incentivador de Camargo Guarnieri, havia publicado no Diário Nacional uma análise da Sonata nº1, à qual atribuiu grande importância: “se trata de uma obra fortíssima, extremamente bem arquitetada, severa, mesmo na sua construção. Temas de invenção feliz, e desenvolvimentos todos lógicos, admiravelmente bem inventados, provando que no Brasil há pelo menos um compositor que sabe desenvolver (...). O segundo tempo, então, com a sua grande beleza, a sua nobre e dolorosa força expressiva, é uma das páginas mais elevadas do compositor paulista, um dos cantos mais impressionantes da música contemporânea”. O compositor francês Camille Saint-Saëns dedicou o ano de 1872 à criação de duas importantes obras para violoncelo: a Sonata nº1 em dó menor op.32 e o Concerto nº1 em lá menor op.33. Estas criações negam a reputação de Saint-Saëns como um artista inconsistente, frequentemente incompreendido por usar seu vasto conhecimento e enorme talento musical para compor melodias simples e de gosto popular. Na verdade, Saint-Saëns enfrentara nos primeiros anos da década de 1870 seus mais tristes momentos. Em 1870, ele tornou-se soldado da Garde Nationale de la Seine para lutar na Guerra Franco-Prussiana, cujo desfecho, após a vitória dos alemães sobre os franceses na Batalha de Sedan, foi o cerco e capitulação de Paris. A vida artística parisiense foi incapaz de resistir à ocupação das tropas alemãs, que só abandonaram a França após quase três anos de ocupação. Saint-Saëns, além disso, ficara abalado pela dolorosa perda de sua tia Charlotte, que lhe dera as primeiras lições musicais, assim como pelo fracasso de sua primeira ópera: A Princesa Amarela. No entanto, em 1873 o Concerto para violoncelo nº1 alcançou sucesso de público e, em 1874, a estreia da Dança Macabra, para orquestra, deu-lhe fama mundial. As semelhanças entre o Concerto Op.33 e a Sonata op.32, além da instrumentação e de uma certa gravidade oferecida pela tonalidade menor, dão a entender que o compositor as compôs simultaneamente. Em ambas, nota-se o comprometimento de Saint-Saëns em compor uma música para encantar, como o fizera nas obras mais conhecidas, como o Carnaval dos Animais. Ele compensa a falta de vontade de explorar ou aceitar novos estilos com uma extraordinária habilidade em assuntos técnicos de composição, como a escrita idiomática e virtuosística, e compõe duas obras brilhantes, robustas e eletrizantes. Marcelo Corrêa


GLORIA CAMPANER

Programa Franz Schubert (1797-1828)

Improviso op.142 n°3, em si bemol maior

Claude Debussy (1862-1918)

Suíte Bergamasque I. Prélude II. Menuet III. Clair de lune IV. Passepied L’Isle Joyeuse

Franz Liszt (1811-1886) Nascida em Veneza em 1986, Gloria Campaner é considerada pelo público e crítica entre os mais talentosos pianistas italianos da nova geração. Começou a estudar piano aos quatro anos, aos cinco deu seu primeiro recital e debutou aos doze anos com Orquestra Venetian Symphonia. Em seus primeiros anos de estudos obteve primeiro prêmio em mais de vinte concursos nacionais e internacionais para jovens músicos. Sua carreira desenvolveu-se rapidamente como solista e camerista, levando-a a apresentarse na Itália e exterior (Japão, Israel, Turquia, Casaquistão, Inglaterra, Irlanda, Alemanha, Suíça, Grécia, França, Rússia e América do Sul), sempre com calorosa aclamação da crítica por sua “musicalidade extremamente profunda(...)alcançada com sonoridade naturalmente refinada e uma extraordinária inteligência em seu fraseado musical”. Gloria Campaner foi Medalha de Prata do Concurso Internacional de Piano Paderewski de Los Angeles em 2010, onde também conquistou os prêmios de Melhor Interpretação “Paderewski” e “Chopin”, outorgados pela Fundação Frédéric Chopin de Paris. Obteve também o 1º prêmio e o Prêmio Especial Prokofiev no “Grande Prêmio Ibla 2009”, após o que realizou sua primeira tournée nos Estados Unidos e seu debut no Carnegie Hall em Nova Iorque em 2010. Foi laureada ainda em muitos outros concursos, entre os quais o Concurso Internacional Cantù (Como, 2009), Concurso Europeu de Piano (Le Havre-France, 2009), Concurso Internacional T.I.M. (Verona, 2008), Concurso Internacional Rospigliosi – Prêmio Schumann (Pistoia-Itália, 2008), Concurso Internacional Casablanca – Prêmio Franz Liszt (2011). Foi bolsista da Fundação Brahms de Baden-Baden e da Societá Umanitaria de Milão. Após graduar-se aos 18 anos, cursou o Mestrado na Academia Musical de Pescara, sob orientação de Bruno Mezzena. Paralelamente foi selecionada para participar de inúmeros master classes na Europa, a citar: Ticino-Musica (Lugano- Suíça), Accademia Incontri col Maestro (Imola - Itália), Mozarteum (Salzburg), Mannes College of Music (Nova Iorque), em contato direto com renomados músicos como J. Swann, J. Rose, S. Perticaroli, B. Lupo, A. Jasinskij, P. Gililov, D.Bashkirov e B. Petrushansky. Atualmente prossegue seus estudos com K. Bogino na Itália e também conclui o “Konzertexamen” na Escola Superior de Música de Karlsruhe com Fany Solter. Alguns de seus concertos tem sido transmitidos com freqüência para redes internacionais de rádio e televisão, tais como RAI, Radio Ljubljana, SKY Classica, RTSI e CNN. Gloria Campaner gravou para o selo italiano Audionova, para Meister Musica Bern e Farsight Records. Para a Radio Svizzera de Lugano gravou obras de Schumann e Rachmaninoff, a serem brevemente lançadas em CD pela EMI Classics. Mantem-se ativa como camerista, especialmente na formação piano e violino, tendo trabalhado com prestigiados músicos como Ana Chumachenco, J. Rissin, I. Gitlis, S. Accardo e membros do Trio Tchaikovsky. Como professora, Gloria Campaner vem sendo convidada a ministrar master classes em importantes instituições, entre elas o Conservatório Estatal Mimar Sinan de Istanbul, a Academia Internacional Kaznam Music de Astana e várias Academias italianas. Em outubro de 2009 foi designada Embaixatriz Cultural Européia 2010-2011 como parte parte do programa denominado “Piano, Reflet de la Culture Europèenne”. Em 2011 debutou em Milão (Sala Verdi) e em Varsóvia (Philarmonic Hall), tendo seguido logo após para uma tournée de sucesso na China e Estados Unidos. Gloria é artista oficial da Steinway&Sons.

Morte de amor de Isolda, da ópera Tristão e Isolda, de Richard Wagner Paráfrase de Concerto sobre Rigoletto, de Giuseppe Verdi

Sergei Rachmaninov (1873-1943)

Quatro Momentos musicais op.16 I. Andantino, em si bemol menor II. Allegretto, em mi bemol menor III. Andante cantábile, em si menor IV. Presto, em mi menor

Glória Campaner piano

Em 1827, ano da morte de Beethoven, Franz Schubert escreveu oito inspiradas peças para piano, as quais simplesmente ordenou por número. As quatro primeiras foram publicadas em vida do compositor e as quatro últimas, postumamente. O editor foi o responsável por nomeá-las “improvisos” e editá-las em dois grupos. Cada Improviso de Schubert é individual, completo em si mesmo, entretanto a execução sequencial em grupos de quatro peças nos permite uma audição mais enriquecedora. Schumann chegou a afirmar que o conjunto de Improvisos 5 a 8, publicados como opus 142, poderia ser, potencialmente, uma sonata em quatro movimentos. O Improviso op.142 nº3, tema e variações, é um exemplo da primazia da expressão individual sobre o formalismo clássico, característica da primeira fase do romantismo musical, representada por Schubert. O tema, que serve as cinco variações, fora utilizado anteriormente no terceiro Entreato do ballet Rosamunde e em seu Quarteto em lá menor op.29, conhecido como “Quarteto Rosamunde”. Trabalhando o tema numa narrativa lógica e expressiva, Schubert transcende a maneira habitual de variação baseada em meras elaborações musicais e faz do tema um “personagem sonoro” e de cada variação uma nova expressão musical dos devaneios de seu percurso.

Em algumas obras pianísticas de sua primeira fase, Claude Debussy rejeitou os princípios formais alemães para recuperar as antigas danças das suítes francesas como o menuet e o passepied. Na Suite Bergamasque, assim como em Pour le Piano, ele utilizou a estrutura da suíte barroca, introduzida por um prelúdio seguido de danças lentas e rápidas. Publicada em 1905, a Suite Bergamasque, ao que tudo indica, foi escrita em 1890 e possuía, originalmente, a seguinte construção: Prélude, Menuet, Promenade Sentimentale (depois Clair de lune) e Pavane (transformada em Passepied). Trata-se da primeira importante composição de Debussy para piano e a primeira na qual o compositor capta elementos pictóricos e literários. A obra é também uma homenagem aos cravistas dos séculos XVII e XVIII, representados nas figuras de Rameau, Couperin e Scarlatti, cuja música Debussy admirava pela “clareza dos padrões e a consciência da forma”. O título da Suite evoca a bergamasque, uma antiga dança italiana originária de Bérgamo. Em julho de 1904, após separar-se definitivamente de Lily Texier, Debussy embarcou com sua futura esposa Emma Bardac - que ainda era casada com outro - para a ilha de Jersey, na costa britânica. Desse envolvimento cujo duplo divórcio fora escandalizado em toda Paris, nasceu L’isle joyeuse (“A ilha alegre”), obra em que o compositor francês emprega o maior número de indicações de dinâmica e que é, possivelmente, sua mais passional composição pianística. Foi inspirada no quadro L’embarquement pour Cythère, de Watteau, que décadas depois inspiraria a obra homônima para piano a quatro mãos de Francis Poulenc. Sobre L’isle joyeuse Debussy escreveu: “eu trabalho com toda a liberdade, o que não me acontece há muito tempo” (...) “esta peça me parece reunir todas as maneiras de se atacar um piano, pois ela reúne a força e a garra... se eu ouso falar assim”. Dentre 368 obras de 80 diferentes compositores que Franz Liszt transcreveu para piano, sobressaem mais de 50 óperas. Segundo J. Brahms, as transcrições e fantasias operísticas de Liszt “representam o classicismo da técnica pianística”. Dentre as mais célebres, destacam-se a Morte de amor de Isolda, trecho final da ópera Tristão e Isolda, de Richard Wagner e Rigoletto, uma Paráfrase de Concerto sobre a ópera de Giuseppe Verdi. Ambos compositores escolhidos por Liszt, comemoram este ano o bicentenário de seu nascimento e ambas as obras - Tristão e Isolda e Rigoletto - estão marcadas pelo amor, pela traição e pela morte. Rigoletto, o bobo da corte do Duque de Mântua, contrata um assassino para matar seu patrão, e, no entanto, é a filha de Rigoletto quem é assassinada no lugar do Duque, por quem ela se apaixonara. No último ato, antes de Rigoletto se curvar sobre o corpo sem vida de sua filha e após a famosa ária La donna è mobile, tem lugar o quarteto vocal Bella figlia dell’amore, a partir do qual Liszt realizou a sua paráfrase musical. Em Tristão e Isolda, a cena final é semelhante: Isolda sobre o corpo inanimado de Tristão, literalmente “morre de amor”. Tristão fora o assassino de seu noivo e o homem pelo qual ela se apaixonou após ser traiçoeiramente envenenada com uma poção mágica do amor. A morte de Isolda é ideal, sem dores e em êxtase infinito, na qual o sopro da vida se esvai “doce e levemente” indo “afogar-se, inconsciente, na suprema felicidade!”. Seguindo a tradição dos Seis momentos musicais Op. 94 escritos por Franz Schubert entre 1823 e 1828, o compositor russo Sergei Rachmaninov compôs, entre outubro e dezembro de 1896, Seis momentos musicais op.16 - dos quais serão apresentados, neste recital os quatro primeiros. Eles são frutos da fase inicial de Rachmaninov e de um período no qual ele precisava ganhar dinheiro, enquanto compunha sua primeira sinfonia: “essa perpétua pressão financeira é, por um lado, muito benéfica (...) até o dia vinte deste mês tenho que escrever seis peças para piano”, confessou a Alexander Zataievich, a quem dedicou a obra. Os Seis momentos musicais op.16 de Rachmaninov prenunciam outros conjuntos de obras para piano solo escritos no século XX, como os dois livros de Preludes e Études-tableaux. No Opus 16, as características de Rachmaninov, como o virtuosismo e a melancolia, estão presentes assim como a riqueza do fraseado e a mestria na arte do cantabile pianístico, herança da convivência com cantores durante o trabalho como maestro assistente da Companhia Russa de Ópera de Mamontov, em Moscou. Foi o baixo russo Feodor Chaliapin quem alertou a Rachmaninov sobre a importância do clímax de uma melodia e instruiu-o a construir suas obras e interpretações em torno de um ponto culminante. Se o artista não soubesse enfocá-lo com precisão, toda a construção poderia ruir e a obra tornar-se incoerente. Rachmaninov colocou essa abordagem em prática, sobretudo após se tornar pianista-compositor em tempo integral, notabilizando-se pela expressividade de suas melodias, que nos prendem pela intensidade e perfeição de sua estrutura. Marcelo Corrêa


ETERI GAVAZAVA, soprano SAULE TATUBAEVA, piano KOLJA MEYER, clarineta Eteri Gvazava nasceu na Rússia, onde iniciou seus estudos musicais no Conservatório de Novosibirsk, prosseguindo-os posteriormente na Alemanha na Bach-Akademie de Stuttgart. Na Escola Superior de Música de Karlsruhe concluiu estudos de pós-graduação orientada pela soprano Maria Venuti. Em 1997 recebeu o primeiro prêmio no Concurso Internacional “Novas Vozes” na Alemanha. Sua estréia deu-se Teatro Nuovo Piccolo de Mailand em 1998 no papel de Fiordiligi de Cosi fan tutte de Mozart, na última direção cênica do italiano Giorgio Strehler. Entre os meses de janeiro a março daquele ano foram realizadas 43 apresentações na Itália, França, Alemanha, Espanha, Japão, Rússia, China e Egito. Durante dois anos contratada pela Ópera de Bielefeld, debutou nos papéis de Tatjana na ópera Eugen Onegin de Tchaikowsky, Liu em Turandot de Puccini, Micaela em Carmem de Bizet, Dona Elvira em Don Giovanni, assim como Rusalka em Don Giovanni de Dvorak. No papel de Violetta, Eteri Gvazava foi convidada por Zubin Mehta para o filme “Traviata em Paris”, ao lado de José Cura e Rolando Panerai, produção transmitida mundialmente em 2000. Sob a regência de Claudio Abbado apresentou-se com a 2ª Sinfonia de Mahler no Festival de Lucerna de 2003 e em 2004 no papel de Fiordiligi em Modena. Sempre nos principais papéis vem se apresentando nos teatros de Florença, Turim, Palermo, Bolonha, Verona, Graz, Cagliari, Veneza, Genova, Tóquio, Mannheim e Basiléia. Em recitais com os pianistas Peter Nelson e Charlse Spenser apresentou-se em Pisa, Monfalcone, Udine, Turim, Ivrea e Veneza. Além de Zubin Metha e Claudio Abbado, Eteri Gvazava já atuou sob a regência dos maestros Jeffrey Tate, Daniele Gatti, Marco Armigliato, Kirill Petrenko, Chrisian Arming, Dan Ettinger, Eliahu Inbal, Gustav Kuhn, Donato Renzetti e Günter Neuhold. É frequentemente convidada para júris de concursos e como professora para ministrar master-classes de canto. Recentemente lançou CD com obras de Rachmaninoff em duo com a pianista Saule Tatubaeva, fortemente aclamado na Alemanha e Suécia. Saule Tatubaeva nasceu em Alma-Atá no Casaquistão, onde recebeu suas primeiras aulas de piano. Aos 13 anos foi selecionada para estudar na Escola de Música Central em Moscou, dedicada ao trabalho com destacados talentos musicais. Nessa instituição foi orientada por Tamara Syrteva, aluna de Emil Gilels. De 1982 a 1987 esteve na classe do renomado pianista Samuel Alumian, no Conservatório Tchaikovsky de Moscou, onde graduou-se e concluiu o doutorado em 1992. Sua carreira como recitalista e solista de orquestra teve início na antiga União Soviética, tendo se apresentado por quase todas as principais cidades da Rússia, Casaquistão e Ucrânia. Detentora de prêmios em importantes concursos, Saule Tatubaeva apresentou-se em vários paises da Europa, Ásia e América. No Brasil tocou recitais solo e concertos com orquestra em algumas capitais como Rio de Janeiro, Belém, Goiânia, Belo Horizonte dentre outras. Desde 1995 é professora de piano e música de câmera na Staatliche Hochschule für Musik Karlsruhe na Alemanha, onde tornou-se professora catedrática em 2003. Com alunos premiados em inúmeros importantes concursos internacionais, Saule Tatubaeva dedica-se intensamente a angariar recursos destinados a apoiar a carreira de jovens músicos, seus próprios alunos e outros de reconhecido mérito de diversas nacionalidades. Paralelamente às suas atividades como pianista e professora, fundou a Associação de Apoio à Arte, Mídia e Ciência, que conta atualmente com mais de trezentos colaboradores e também com o apoio do Sparda Bank para diversas promoções. É idealizadora e diretora artística do Concurso Internacional de Música de Câmara – Karlsruhe, que desde 2005 vem sendo realizado em cooperação com o Instituto Max Reger, a Prefeitura de Karlsruhe e patrocinadores privados. Em setembro último foi realizada a quinta edição do certame. Em parceria com o Centro de Pesquisa Karlsruhe, criou a série “Jovens Talentos – Ciência e Música”, da qual é a diretora artística desde 2002.

Programa Franz Schubert (1797-1828)

“Romance de Helena” da ópera Os conspiradores, para soprano, clarineta e piano

Gaetano Donizetti (1797-1848)

“Dirti Addio” para soprano, clarineta e piano

Franz Liszt (1811-1886)

Sonho de Amor nº3, para piano

Giacomo Puccini (1858-1924)

“O mio babbino caro” da ópera Gianni Schicchi “Racconto di Mimi” da ópera La Bohème Ária de Liu da ópera Turandot (3º ato)

Charles Gounod (1818-1893)

“Ária das joias” da ópera Fausto Intervalo

Antonin Dvorak (1841-1904)

“Canção à lua” da ópera Rusalka

Sergei Rachmaninov (1873-1943)

Wie schmerzt es mir op.21 nº12 Frühlingsgewässer op.14, nº11 Vocalise para soprano, clarineta e piano Étude-tableaux op.39, nº5 para piano

Giacomo Puccini (1858-1924)

Ária de Mimi “Donde lieta” da ópera La Bohème Valsa da Musetta da ópera La Bohème Monólogo de Cio-Cio-San da ópera Madame Butterfly

Eteri Gavazava, soprano Saule Tatubaeva, piano Kolja Meyer, clarineta

Kolja Meyer nasceu em 1998 na Alemanha, tendo recebido suas primeiras aulas de clarinete aos onze anos com seu pai, o clarinetista Wolfgang Meyer. Já aos treze anos recebeu o 2º prêmio no “XXI Concurso Internacional para jovens Músicos Cidade de Barletta”, na Itália. No mesmo ano obteve o 1º lugar no “XIII Concurso Internacional de Música Euterpe de Corato”, Itália. Em 2012 foi premiado no Concurso “Jugend musiziert” de Karlsruhe (1º lugar) e Stuttgart (3º lugar). Nesse mesmo ano foi admitido no curso preparatório da Escola Superior de Música de Karlsruhe. Em 2013 conquistou o 3º prêmio na categoria de câmera do “XXIII Concurso Internacional para Jovens Músicos da Cidade de Barletta”. Ainda em 2013 foi selecionado como bolsista do “Yehudi Menuhin Live Music Now”, através do qual vem se apresentando frequentemente na formação de trios e duos. Sempre elogiado por sua bela sonoridade, Kolja obteve, recentemente, grande êxito em sua performance de um solo na obra Carnaval dos Animais de Saint-Saëns, por ocasião da abertura do Centro Sparda em Stuttgart. No momento, prepara-se para vários recitais e concursos em 2014.

A ópera teve a sua origem e o seu apogeu na Itália. Os seus mais famosos criadores, da renascença italiana até o romantismo, são italianos, e suas mais belas vozes também. É na língua italiana - a língua universal da música - que o canto lírico é melhor entoado. A linha de canto, ou seja, o caminho da melodia é dado na voz pelas vogais e pela ressonância das consoantes. No italiano, a integração som-palavra encontrou o mais compreensível e generoso idioma. A hegemonia italiana sobre a ópera atingiu o auge no século 19 com o bel canto. Bellini, Donizetti e Rossini foram os representantes desta tradição vocal, técnica e interpretativa, ora sentimental, ora virtuosística, que comovia e eletrizava o público. A ária Dirti addio (“diga adeus”), composta em 1842 com o título L’amore funesto, não faz parte de nenhuma ópera de Gaetano Donizetti, todavia resume em si a arte do bel canto italiano e a essência máxima do romantismo: o amor trágico. Por muitos anos dominou nos palcos a estrutura da ópera de números: uma variedade de árias, duetos, conjuntos, coros, balés, aberturas e interlúdios instrumentais. Nas óperas italianas, em geral, as árias são interligadas por um recitativo cantado, no qual se desenrola a trama. As tentativas alemãs e francesas de nacionalizar a ópera encontraram no diálogo falado uma melhor solução para comunicar o enredo. Assim sendo, o gênero operístico alemão singspiel (“peça cantada”) e a opéra comique francesa, utilizaram durante os séculos 18 e 19, diálogos em substituição aos recitativos - assim como ocorreria nos musicais americanos do século 20. Franz Schubert escreveu dezesseis óperas, das quais metade são singspiele com diálogos falados. Sua última incursão no gênero, Die Verschworene (“Os conspiradores”), baseada na Lisístrata de Aristófanes, inclui a romanza entoada por Helena, na qual ela manifesta a falta do esposo Astolf, um combatente das Cruzadas. A presença da clarineta como instrumento obbligato prenuncia outra peça de Schubert para soprano, clarineta e piano - Der Hirt auf dem Felsen (“A donzela na rocha”) - escrita cinco anos depois. Como a presença de textos falados na ópera era insuportável para os ouvidos italianos, surgiu em Paris, na primeira metade do século 19, a grand opéra, com diálogos completamente musicados. Estruturada em cinco atos, a “grande ópera” possui um número de dança obrigatório e oportunamente situado no segundo ato para satisfazer o aristocrático público masculino, que chegava tarde dos clubes. Um belo exemplo de grand opéra é a ópera Fausto, de Charles Gounod, na qual figura a célebre “Ária das joias”. O movimento nacionalista, difundido na Europa na segunda metade do século 19, influenciou enormemente os compositores de óperas, que se debruçaram a pesquisar a história e o folclore de seus países para criar uma arte nacional em idioma pátrio. Antonin Dvorak, seguindo os passos de Bedrich Smetana, o “pai da ópera tcheca”, se tornou o principal compositor nacionalista de seu país. Sua qualidade de melodista transparece na bela ária “Canção à lua”, na qual a ninfa das águas Rusalka indaga à lua por seu amado, um príncipe em forma humana. Giacomo Puccini merece um capítulo à parte pela fama alcançada por suas dez óperas - um legado, no entanto, reduzido se comparado a outros autores, como Rossini (39 óperas) e Donizetti (75 óperas). Considerado sucessor de Giuseppe Verdi, o maior operista de todos os tempos, Puccini soube destacar em suas obras a intensidade melodramática e os efeitos cênicos verdianos e combiná-los a uma sofisticada caracterização psicológica de seus personagens, estes mergulhados em enredos realistas e atuais que distinguiam um novo estilo de ópera: o verismo. Madame Butterfly, assim como suas duas últimas óperas - Gianni Schicchi e Turandot - são apresentadas com frequência. No entanto, nada comparado ao sucesso da encantadora e comovente La Bohème. Aos 14 anos, o húngaro Franz Liszt iniciou e encerrou a carreira de compositor de ópera com uma única peça: Don Sanche. O russo Sergei Rachmaninov deixou três grandes óperas completas e duas incompletas. Ambos se dedicaram quase que exclusivamente ao piano, embora tenham escrito uma considerável obra vocal. Uma das canções mais conhecidas de Liszt, O Lieb (“oh amor”) fora transcrita para piano-solo pelo próprio compositor em 1850 e publicada juntamente com a transcrição de outras duas canções sob o título de Três Noturnos ou Sonhos de Amor. Das 90 canções de Rachmaninov, Wie schmerzt es mir (“Como me faz sofrer”), Frühlingsgewässer (“águas da nascente”) e Vocalise são os mais famosos exemplos. Os “estudos de concerto” Opus 33 e Opus 39 de Rachmaninov foram escritos na década de 1910 e designados Étude-tableaux (“estudos-quadro”), os quais se supõem evocarem ou serem originados de imagens. Mas o compositor não revelou o que inspirou cada peça: “Eu não acredito no artista que revela muito de suas imagens. Deixe que os intérpretes e os ouvintes pintem por si mesmos o que mais lhes sugere.” Marcelo Corrêa


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