O homem

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O HOMEM

MUITO TEMPO DEPOIS UMA HISTÓRIA, MUITAS IDEIAS MUITAS MÃOS, UM PROFESSOR UMA TURMA (C), MUITOS AMIGOS



E

le era um homem. Mas bem diferente dos outros. Talvez excepcional. Gordo, é verdade, mas isto não o impedia de ser “um homem”. Seu hobby: a gozação. Levava a fofoca em tal conta, que chegava ao ponto de mudar sua vida, mas conservando, sempre, a crítica e a mexericagem. Várias pessoas foram prejudicadas por ele, no entanto, nada o parava. Sempre em frente com suas brincadeiras, fazia mesmo gente chorar. Apesar disso, era ótima pessoa. Haviam, aliás, duas que, simplesmente, o adoravam. Tinha o dom de desarmar a todos que discutiam com ele. Mas, ninguém o trocava por outro. Inspirava simpatia e confiança por todos os lados. Entretanto, nem todos os homens devem ser como ele. E depois de ouvir inúmeras reclamações brincalhonas, ele resolveu atendê-las e mudar sua maneira de pensar de agir e de viver. Sem lembrar-se dos riscos que corria, ele se modificou. Mas, como nenhum ser humano consegue mudar de uma hora para a outra, de vez em quando vinha uma gozação que era, gostosamente, comentada por todos os seus amigos. Aquilo trazia muita alegria a todos, e ele gostava de ser transmissor de felicidade. Agora, é o que se pode chamar de “moderado”. Mas, aquela rotinha foi-lhe ficando monótona e ele entristeceu-se. Vestia-se de roupas escuras, blusas de mangas compridas, fechadas até o último botão e, além de tudo, sem os costumeiros quadrinhos ou trançados, que tanto lhe enfeitavam a fisionomia. Já não era um homem, e sim uma fera; fera medrosa, que se escondia das pessoas e fugia dos “bate-papos” e dos joguinhos de “medir-aforça”. Seus amigos não se conformaram com tão brusca mudança. Foram falar-lhe e pedir-lhe que voltasse a ser o que era antes. Mas, ele calou-se. Não respondeu ao chamado, ao pedido de socorro que, afinal de contas era para ele mesmo.


Como voltar, se aquilo trazia alegria a todos menos para ele mesmo? Lhe sobrava uma solução: desaparecer, ninguém mais o veria, seria como uma sombra na memória dos que havia gozado, dos que havia conhecido. E sumiu. O acaso o levara a bairros longínquos e cooperava com sua fuga. Mas, o mesmo acaso ajudou outras pessoas, como aquelas duas que o admiravam no passado. Pois que, um dia, as duas viram uma figura estranha, talvez um homem, talvez um muro, uma porta, sei lá! Nem elas o sabiam. Tentaram desviar seus olhos do chão escuro onde pisavam, mas em vão. Elas se preocuparam. Aquele ser lhes daria trabalho, mas não desistiriam. Continuaram andando e procurando sempre esconder a sua instintiva desconfiança. Agora sim. Sabiam que aquele ser estranho era um homem. Tentaram evitá-lo. Mas o homem acenou-lhes a mão. O que, ao invés de melhorar, piorou a situação. O temor tomouas e elas correram. Sobraram um quarteirão e fugiram com toda a força de suas pernas. Em vão. Os olhos desesperados de homem, seguiam-lhes o passo, de longe ou de perto. E, como num impulso elas pararam. Talvez começassem a distinguir a figura em suas memórias. Também o homem não lhes fizera nada. Pararam e esperaram. Observaram-no bastante. Os olhos tristes, um corpo que aparentava ter sido forte. A fisionomia demonstrava fracasso. Sua vida deveria ter sido completamente fracassada. Os cabelos, já grisalhos, denotavam frieza. A estatura era baixa.


Sim, aquele corpo, aqueles olhos, aquele sorriso monótono. Aquele homem não lhes era estranho. Elas o conheciam. Mas, de onde? Sorriram. Seria verdade? Mas era. Era o seu professor. Aquele que elas tanto gozaram e por quem tanto foram gozadas, mas era ele. Nos semblantes das meninas desprendeu-se um ar de curiosidade. Ele tentou falar-lhes e não conseguiu. Elas não o compreenderam e queriam saber o que ele lhes comunicaria. Afinal, falou algo compreensível. — Queiram me acompanhar, por favor. Logo depois, saiu andando seguido pelas alunas. Pararam e ele fê-las entrar. — Este é o meu esconderijo, disse. Acomodados, ele começou a falar-lhes sobre si, sua vida, sua vida, sua fuga, suas atitudes, o porquê de todos os fatos. E elas, afinal, pronunciaram: — Quer uma solução? O homem sorriu. Sim, queria uma solução. Queria sair dquele estado animalesco. Não queria uma solução, precisava dela. As meninas, vendo a vitória sorrir-lhes, quase a dar gargalhadas, disseram, em tom de consolo: — Porque o senhor não tenta voltar àquela vida, voltar a lecionar, em outro colégio até, mas volte. Talvez, se souber ser moderado, um homem calado, mas feliz. Tente, ficaremos muito contentes e o senhor, realizado.


O homem agora sorria. E sorria muito mais, mesmo guardando uma mágoa. Ele, Godofredo, ser dirigido por duas ex-alunas! Vejam só! Mas isto não importava. Voltou, pediu emprego, fez um teste, muito cheio de erros, mas passou. Começou a dar aulas. Era professor calado, cabisbaixo, nervoso, sem fala. Antes de acabar o ano, já dera bomba para alguns alunos. Não podia continuar assim, mas não procuraria ninguém para solucionar seus problemas. E fugiu, novamente. Num lugar chamado quarto, no fundo de uma pensão, ele relembrava sua vida e procurava uma solução. E conseguiu. Sim, o seu problema era solidão. Precisava de um companheiro, um amigo, ou talvez uma mulher. Uma mulher que o compreendesse, que soubesse amá-lo e com quem se casaria, que lhe daria um filho. Saiu, novamente Godofredo, em busca desta mulher. O tempo passou como uma eternidade para Godofredo, mas ele não desistiu. Não foi muito longe e, por ali mesmo, encontrou uma mulher que o compreendeu. Por coincidência ou destino, não sei bem, a mulher era uma daquelas ex-alunas, que dera solução. O fato ocorreu sem que nenhum dos dois percebesse. Godofredo e Geralda se casaram e se armavam muito, com afeto e compreensão. Viviam bem até que um dia, Gabriela, a amiga de























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