Redenção

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10 . rolF Á’d ug a0 2 . M e s t r e M u n do03. Esperança04. OCantador - 05 . N o M e io da Rua - 06. CirandadeRoda com Rosa0 7 . R e d e n ç ã o.80 adahnimaC.90 ecidnerC -.01iedavaLra.11ortnocnE -.21arepmêT 1974 Dia 30 de setembro. Sexta, às 21h Teatro Sesc Belenzinho REDENÇÃO BANDA DE PAU E CORDA ÁL BUM

Projeto Álbum

Se o avanço tecnológico trouxe novas e importantes possibilidades para a música, afora nostalgias e romantismos – o vinil praticamente definiu um formato de fruição musical, consolidando grande parte do arquivo sonoro feito no país com o manuseio da agulha entre uma faixa e outra para mudar de música, a capa em formato grande, o conceito de um trabalho expresso na sequência das faixas e o lado A e o lado B.

O projeto Álbum remonta períodos da música brasileira por meio de registros fonográficos que ajudaram a construir sua história. São discos considerados clássicos por apresentarem em seu conteúdo inovações estéticas que influenciaram gerações, trazendo à tona o contexto político e a estética de uma época.

Resgatar títulos expressivos da discografia da música brasileira e apresentá-los para o público em formato de show, abre uma possibilidade sem precedentes para a revitalização da memória cultural do país, bem como para a difusão de uma cultura que deve, necessariamente, ser dinâmica e transformadora.

Lançar um olhar para o passado compreendendo-o como um ponto norteador para o entendimento do presente, propiciando assim um campo fértil para construção do que está por vir, é uma das ações constantes do Sesc. A tradição e a inovação mantêm diálogo no dia a dia da instituição, ambas entendidas de maneira que o estreitamento e a permeabilidade do relacionamento entre gerações contribuam e incentivem o surgimento de novos paradigmas para a arte e para a cultura.

Belenzinho

Sesc
foto: Divulgação

REDENÇÃO

“Banda de Pau e Corda, cheiro de gente pulando ao som dos frevos de bloco. Verde teimoso de aveloz, aprofundando raízes na terra seca. Raízes. Redescoberta do sentido mágico da terra. Terra do Nordeste. Realidade que afaga e agride, mas que nos envolve. Este é o sentido do nosso trabalho. Nosso grupo é constituído de jovens que pensam aqui, agora. Nosso canto é vibrante, sintonizado na vida que teima e vence a morte, fala de epopeias grandiosas e santas cruzadas. Fala da chuva que engorda os riachos, do sol que bebe a lama dos barreiros, e da lua que acende o lirismo na cena áspera do cacto. E fala do homem que viveu dessa chuva, sofreu desse sol, e cantou essa lua.

Banda de Pau e Corda. Aveloz teimoso e, só por isso, verde. Raízes fincadas na terra que se tem e de que se gosta”

O texto acima (do poeta Jairo Lima) introduziu o show de estreia da Banda de Pau e Corda, numa sexta-feira, 22 de dezembro de 1972, início de uma temporada no bar Olho Nu, na Conde da Boa Vista, avenida que corta o Centro da capital pernambucana. O local onde aconteceriam as apresentações apontava para uma ligação do grupo com o Quinteto Violado, então a nova sensação

da música brasileira, cujo LP de estreia fora lançado meses antes, naquele mesmo ano.

O Olho Nu pertencia ao Quinteto Violado, e foi o contrabaixista dessa banda, Toinho Alves, quem batizou a Banda de Pau e Corda, formada pelos irmãos Sérgio (percussão), Roberto (bateria), Waltinho (violão), mais José Henrique (viola), Paulinho (contrabaixo) e Generino (flauta). Este último integrou o Quinteto Violado em seu show de estreia, no teatro ao ar livre Nova Jerusalém, em Brejo da Madre de Deus, no agreste pernambucano, onde é encenado o espetáculo de A PAIXÃO DE CRISTO, celebrado, conforme o usual ufanismo do pernambucano, como “maior teatro ao ar livre do mundo” As idades dos músicos iam de 17 a 27 anos. A cidade do Recife tivera uma movimentada indústria cultural até os anos 60, fora a terceira cidade do país, perdia terreno rapidamente. No início dos anos 70, até seu carnaval que era um dos dois maiores do país, com o do Rio de Janeiro, perdeu terreno para o de Salvador. Não havia nenhuma estrela da MPB saída de Pernambuco. Eis que surgiu o Quinteto Violado como a novidade da música brasileira, badalado, tocado no rádio e vendendo muito disco. Aquilo incensou a autoestima dos conterrâneos, e influenciou jovens a formarem bandas no mesmo estilo. A que se deu melhor foi a Banda de Pau e Corda, graças à generosidade dos

músicos do Quinteto Violado que a acolheu. Na temporada no Olho

Nu se decantou o repertório do álbum de estreia, testado ao vivo durante quase um ano, quando assinaram com a RCA e lançaram, em 1973, VIVÊNCIA, o aclamado disco de estreia. Com direito a capa do consagrado pintor Lula Cardoso Ayres, e texto de contracapa do sociólogo Gilberto Freyre.

Curiosamente, a Banda de Pau & Corda fez um pocket show de VIVÊNCIA, em 21 de maio de 1973, na mesma noite em que a RCA promoveu um coquetel para lançar O LP VOU RIFAR MEU CORAÇÃO, de Lindomar Castilho, estilos mais díspares impossível. Um disco bem recebido pela crítica do Sudeste, que garantiu a gravação do segundo álbum.

Os rapazes iriam encarar o teste do segundo disco, pra demarcar seu terreno na música popular brasileira. Waltinho, Paulo Cirandeiro, Paulo Rezende, Mathias (que entrou em lugar do flautista Generino), Roberto, e Sérgio adentraram o estúdio da RCA, na Rua Dona Veridiana, em Santa Cecília, São Paulo, em 1º de outubro de 1974 com o produtor Zé Milton, cearense que, como cantor, pertenceu ao elenco da TV Jornal do Commercio, nos anos 60. Zé conheceu a Banda de Pau e Corda através de Toinho Alves do Quinteto Violado. Coincidentemente, VIVÊNCIA promoveu a estreia fonográfica do grupo, e a de Zé Milton como produtor.

48 anos depois, o produtor comenta que o grupo adquiriu muita experiência com os shows do primeiro álbum, e que chegou mais maduro ao disco seguinte: “A banda entrou naquele histórico estúdio, com a mesma formação e alto nível musical. REDENÇÃO teve em “Flor D’água” um grande sucesso popular, não só por sua beleza como também por ser um dos principais temas de uma novela de grande popularidade. A novela a que ele se refere foi MARIA, MARIA, de 1978.

Zé Milton comenta a produção de REDENÇÃO: “Mexi um pouco na sonoridade, mas com muita discrição. Eles estouraram em Minas que talvez seja, junto com São Paulo, o maior público do grupo que, penso, fica no Recife. Adoro eles. Eu sou o sétimo Pau e Corda”, diz Zé Milton. Ele produziu sete álbuns da banda na RCA, mais o MISSÃO DE CANTADOR (2021), e neste 2022, irá produzir o álbum em que o grupo celebrará o cinquentenário.

No repertório de REDENÇÃO, com 12 faixas, praxe na era do LP, apenas uma delas não era assinada por integrantes da banda, “Mestre Mundo”, de Julinho do Acordeom e Luiz Bandeira (autor de frevos clássicos, e de “Na Cadência do Samba” que, com letra de Luiz Antonio, foi tema do Canal 100, e tornou-se o hino não oficial do futebol brasileiro).

Embora alinhada com a roupagem do Quinteto Violado para a música nordestina, sobretudo a pernambucana, a Banda de Pau e Corda, em VIVÊNCIA imprimia sua sonoridade à música que tocava. “A grande diferença da gente para o Quinteto, é que eles fizeram pesquisa de campo sobre folclore, enquanto nós éramos muito intuitivos, de não se ater à tradição, por isto nossa música era mais pop”, compara Sérgio Andrade.

Em REDENÇÃO a Banda de Pau e Corda valoriza a viola, porém acrescentando mais percussão e instrumentos feito o marimbau, uma estilização do berimbau, com mais contornos harmônicos, invenção do luthier pernambucano João Batista de Lima, com sugestões de músicos do Quinteto Armorial e do escritor Ariano Suassuna. Ressaltando que a Banda de Pau e Corda praticava uma música centrada na região Nordeste, porém mais radiofônica, longe da rigidez na obediência à tradição da música armorial, mais de câmera do que popular. A música da Banda de Pau e Corda estava mais próxima da MPB, sobretudo nas harmonias vocais.

Além da citada “Flor d’Água”, outro sucesso do álbum foi a toada “Esperança” que, provavelmente, pelo titulo, tornou-se a música mais tocada da Banda de Pau e Corda nas plataformas de streaming durante os dois anos de pandemia.

Sérgio Andrade destaca mais uma faixa de REDENÇÃO: “ “Caminhada” é uma música que vem sendo redescoberta mais recentemente, no Sudeste, a partir das escolas de forró que vêm popularizando a música nas aulas. Também é uma das que causam mais impacto nos shows, tanto pelo tema bem politizado, quanto pelo arranjo que valoriza a força do seu texto”. Um trecho da letra: “E se houver gente pra duvidar/Mostre o peito marcado de dor/Mostre o rosto suado sem cor/Desta vida que vida não há”, que se encaixa na melodia e no ritmo de um baião de beat acelerado. A temática nordestina na MPB vem de meados dos anos 60, influência de DEUS E O DIABO NA TERRA DO SOL, cuja música, de Sérgio Ricardo e Glauber Rocha, traz o cantador e a viola para a música engajada da época, também do CPC da UNE (por sinal, surgido do Movimento de Cultura Popular, MCP, criado quando Miguel Arraes era prefeito do Recife), e está em canções como “A Estrada e o Violeiro” (Sidney Miller), “Viola Enluarada” (Marcos e Paulo Sérgio Valle). REDENÇÃO traz o pontilhar da viola dialogando com a flauta na faixa “O Cantador”.

Mas a Banda de Pau e Corda sendo pernambucana não poderia fazer disco sem frevo ou ciranda.

O primeiro está em “No Meio da Rua”, um frevo canção, com acompanhamento

inusitado para o gênero.

Onde já se viu frevo sem orquestra? Perguntavam-se os tradicionalistas? Tanto o frevo aceitou a inovação, que no ano de REDENÇÃO a Banda de Pau Corda animou o carnaval recifense, tocando num palco armado na avenida beira-mar na praia de Boa Viagem (o que acontecia ao longo da década de 70).

“Ciranda de Roda com Rosa” também é novidade para a época. Embora exista há séculos, herança dos colonizadores portugueses, a ciranda só recebeu a primeira gravação em 1967, por Teca Calazans, na Rozenblit, curiosamente, no mesmo ano em que Edu Lobo e Capinam fizeram “Cirandeiro”, gravada por Edu e Maria Bethânia, que usa um refrão atribuído a Baracho o mais célebre mestre de ciranda (“Ô cirandeiro/ô cirandeiro ó/a pedra do teu anel/brilha mais do que o sol”). No início dos anos 70, a ciranda virou a dança da moda em Pernambuco, surgida na zona da mata, espraiou-se para o litoral, e tornou famosa a cirandeira Lia de Itamaracá.

A religiosidade nordestina está na faixa título, uma toada que tem refrão influenciado pela poesia oral da região: “Morre o velho, fica o moço/Digo isso toda hora/O que é verde amadurece.

E o que é velho se renova”. E também em “Crendice” e “Têmpera”, que incursionam por esta seara, cantando o milagreiro, ou benzedor, na segunda, o vaqueiro e sua fé.

Mais à frente, “Lavadeira” também recorre à fé, no refrão: “Se Deus quiser, se Deus me ouvir/Se Deus mandar quando eu pedir/Se Deus me ouvir se Deus mandar/ Quando eu pedir se Deus quiser”. “Encontro” é a faixa instrumental do álbum (mas com um coro de laralaialaralaiá).

Sérgio Andrade, o líder da banda, é o único da formação original, diz que na apresentação, no projeto Album, o grupo vai tocar com os mesmos arranjos criados para o álbum 48 anos atrás.

Jornalista, escritor e pesquisador de música popular

José Teles foto: Sidarta

REDENÇÃO (1974)*

01. Flor d’Água (Waltinho/Roberto Andrade

02. Mestre Mundo (Julinho do Acordeom/Luiz Bandeira)

03. Esperança (Waltinho/Sérgio Andrade)

04. O Cantador (Waltinho/Paulo Fernando)

05. No Meio da Rua (Waltinho/Sérgio Andrade)

06. Ciranda de Roda com Rosa (Paulo Fernando)

07. Redenção (Waltinho)

08. Caminhada (Paulo Fernando/Sergio Andrade)

09. Crendice (Waltinho/Roberto Andrade)

10. Lavadeira (Waltinho/Sergio Andrade)

11. Encontro (José Matias)

12. Têmpera (Waltinho Sergio Andrade)

* A apresentação das músicas não será necessariamente nessa ordem

Sérgio Andrade - Voz e percussão Júlio Rangel - Viola e voz Zé Freire - Violão e voz Yko Brasil - Flauta e pífano Sérgio Eduardo - Contrabaixo Alexandre Baros - Bateria, percussão e voz

foto: Reprodução
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