maio a julho
2018
papos de versos . .a poesia, onde hรก poesia
papos de versos . .a poesia, onde há poesia.. Como é que a gente alcança a Poesia? Eu sempre pensei nisto. E depois, quando me assumi poeta, passei a pensar também: E como a Poesia alcança a gente? O papos de versos teria nascido assim na utopia – caso eu acreditasse nessas coisas – de desimpedir a Poesia em nós. De devolver a Poesia ao seu lugar de origem e de potência: qualquer lugar. Todos os lugares, todas as pessoas. Certa vez me acusaram comunista. E quando perguntado sobre o que é Comunismo, respondi: Poesia. A próxima pergunta então foi: e como se explica isto? Bem, disse, nada disso se explica. Convive-se. É um projeto poético literário sim. Mas que enxerga a Poesia além. E enxerga o Brasil inteiro em sua relação com a Literatura. O tanto que ainda falta. E falta muito. Não se pode negar a história, as raízes, a oralidade, a cultura popular, o analfabetismo secular, o preço do livro, da obra; o valor da mão. Como amar Literatura sem senti-la? Como amar sem mudar o mundo? Pois bem, o papos de versos seria utópico, enfim, por querer esse amor e essas mudanças. Neste ano, em curadoria conjunta com o Sesc Belenzinho, ficamos muito felizes por fazermos ponte com o Samba. E olharmos para a zona leste de São Paulo, certos de que, ao percebê-la, olhamos ao mundo.
Reconhecer esse espaço na cidade. Reconhecer essa força cultural brasileira. Lembrar quem veio antes. Saber de quem vem junto, hoje. E avançar, como quem desfila – apesar de todo esforço. É nessa intenção elegante mas simples, que a gente se encontra, em roda, às terças. Todas e todos de casa. Pisando devagarinho, como quem tem a fé que vai longe. E salve, Daniel Marques! E salve, Dona Ivone Lara! E salve, Dona Raquel Trindade, Kambinda! Vocês três que estariam conosco, estarão ainda.
Rafa Carvalho – co-curador e mediador dos “papos”
Rafa Carvalho é poeta apesar de tudo. Também porque, no poeta que é, cabe o que houver. Em 15 anos de carreira, como educador e artista, tem passagens por mais de 20 países, fazendo de tudo: pois, tudo, é o que a poesia pode ser. Já foi monge, missionário, acrobata de circo. E atuações como garçom, servente de pedreiro, na lavoura cafeeira peruana e na demolição civil dinamarquesa como imigrante parcialmente legal. Natural de Mauá, passou seu primeiro ano na zona leste de São Paulo, de onde mudou com a família à zona leste de Campinas, na periferia da cidade, onde vive até hoje. Lá, é idealizador e organizador dos projetos Samba no Maneco e Sarau da Dalva, de samba e poesia. Tem um livro lançado, lança outro em 2018. E, provavelmente, nunca irá se aposentar.
abertura: “a bênça!” bate-papo com Nelson Sargento
29 de maio (terça)| 20h às 21h30 Comedoria. Livre. Grátis A bênça, Nelson Sargento! Abrindo os trabalhos dos papos do ano, a presença de um mestre. Sambista, poeta e velho, no melhor dos sentidos. Uma conversa de compreender caminhos e abrir novos, sobre a poesia irmã do samba na cultura e na história brasileiras. Um papo sobre o nosso povo, a arte e a poética de nossa gente.
Nelson Sargento é compositor, cantor, pesquisador da música popular brasileira, artista plástico, ator e escritor. Sua trajetória na música, na literatura e nas artes são suficientes para vários carnavais. O compositor mangueirense possui, aproximadamente, quatrocentas músicas em seu repertório, e milita pelo samba desde os anos 1950, quando o gênero era marginalizado.
“oi, queridas!” bate-papo com Ana Maria Gonçalves, Ericah Azeviche, Jô Freitas e Luiza Romão
5 de junho (terça)| 20h às 21h30 Comedoria. Livre. Grátis
Sobre a reivindicação de espaços, legítima e de direito, sob olhares críticos necessários e uma constante intenção de cura, Ana Maria Gonçalves recebe jovens poetas e sambistas, numa conversa sobre a imprecisão do “tchau” e a demanda, cada vez mais, das boas-vindas. Ana Maria Gonçalves, é escritora. Premiada por seu romance Um defeito de cor, de 2006. Escreve também para o Teatro, tendo lançado em 2016 o texto Tchau, Querida!. Ericah Azeviche é cantora, pesquisadora, performer, Mãe e Ekedi de Obá. Jô Freitas é poeta, atriz, idealizadora do Sarau Pretas Peri e poeta residente no Sarau das Pretas. Luiza Romão é poeta, atriz e diretora de teatro. Neste ano, desenvolveu o projeto multi-artístico Sangria (vídeo, performance fotografia), com a participação de mais de 50 mulheres.
“conexão são mateus-mauá: as lonjuras daqui” bate-papo com Rodrigo Campos, Samba no Asfalto e Emerson Alcalde
12 de junho (terça)| 20h às 21h30 Comedoria. Livre. Grátis
“São Mateus não é um lugar assim tão longe”. E Mauá? Partindo da geografia da zona leste da grande São Paulo, dos referenciais dos artistas, suas histórias de vida, comunidades de origem, as inspirações aos poemas, letras e canções, chegamos até esse papo, sobre periferias, acessos, democracia. Tudo que nos une e conecta, assim como as reais distâncias dos nossos dias. Rodrigo Campos é compositor e instrumentista. Começou tocando nas rodas de samba de São Mateus, lugar onde cresceu. Seu disco, São Mateus não é um lugar assim tão longe é emblemático no retrato de um cotidiano muito comum à toda zona leste de São Paulo. Samba no Asfalto é um projeto que organiza rodas de samba mensais, resistindo cultura na comunidade de Ermelino Matarazzo. Mantém viva ali a história do samba, considerado Patrimônio Cultural do Brasil. Emerson Alcalde é ator, arte-educador, poeta e slammer. Idealizador do Slam da Guilhermina, que acontece há seis anos ao lado do metrô Guilhermina-Esperança, como um dos primeiros do Brasil.
“mora na filosofia: samba e poesia, irmãos?” bate-papo com Ricardo Aleixo, Tiaraju Pablo e Claudinei Calixto
19 de junho (terça)| 20h às 21h30 Comedoria. Livre. Grátis
Seriam o samba e a poesia irmãos na cultura popular brasileira? Seriam os sambistas os primeiros grandes poetas populares do Brasil? O samba, a conquista poética de um povo, num país de desigualdades? A poesia cativa de elites? Sobre essas e outras, filósofos, poetas e sambistas, levam um papo. Ricardo Aleixo é poeta, músico, produtor cultural, artista plástico e editor. Autodidata, atua em diversas áreas, sobretudo nas poéticas experimentais com a voz. Sempre com uma visão crítica da realidade e uma abordagem social em sua arte. Tiaraju Pablo é sambista, sociólogo, compositor, pesquisador e professor universitário na zona leste de São Paulo, com forte atuação cultural pelas periferias e movimentos sociais. Claudinei Calixto é filósofo, sambista e educador. Nascido na zona leste de São Paulo, vive atualmente em Campinas, onde desenvolve projetos de samba e educação popular.
“viver de samba e poesia” bate-papo com Dona Edite, Sinhá Rosária e Dona Rita da Barquinha
26 de junho (terça)| 20h às 21h30 Comedoria. Livre. Grátis
Partilha sobre as dores e delícias de se atravessar os anos da vida sendo mulher no Brasil. E ainda com todos os acréscimos – em barreira e acalanto – de se escolher a arte como via. Um papo sobre tradição e trajetória, sina e vontade, festa e luta, com pessoas das quais a própria vida, em resistência, é já obra poética. Dona Edite é poeta no modo mais profundo de se ver poesia. Declamadora exímia, é residente no Sarau da Cooperifa e primeira abençoadora do papos de versos. Sinhá Rosária é cantora e compositora. Atuante no movimento negro da cidade de Campinas desde a sua juventude. É uma das fundadoras e ativa participante do grupo Urucungos, Puítas e Quijengues. Dona Rita nasceu em Bom Jesus dos Pobres, na Bahia do samba de roda do recôncavo, e cresceu assistindo aos movimentos tradicionais da cidade. Guardiã das tradições da Barquinha na região, é grande representante da viva Cultura Popular Brasileira.
“poesia dá samba?” bate-papo com Renato Gama, Sérgio Vaz e Paulo Rafael
3 de julho (terça)| 20h às 21h30 Comedoria. Livre. Grátis
Conversa sobre a composição do samba, em busca por um panorama atual: quem faz samba hoje em dia? Quanto de poesia se pensa hoje no samba? Diálogos com a literatura, parcerias, pesquisas, temáticas das letras. Que coisas escolhemos cantar, que coisas não e por quê? Como é que o samba e a poesia vêm, ou não, para a boca do povo?
Renato Gama é arte-educador, mediador cultural, produtor e diretor musical. Oriundo e residente da zona leste de São Paulo, tem diversos trabalhos nas áreas de música, teatro e literatura. Sérgio Vaz, poeta da periferia, é agitador cultural nas periferias do Brasil. Criador da Cooperifa (Cooperativa Cultural da Periferia) e um dos criadores do Sarau da Cooperifa. Paulo Rafael é poeta, historiador e educador. Memória e presença viva da zona leste e do movimento negro na cidade de São Paulo.
“salve geral! sobre samba, poesia e resistência” bate-papo e roda de samba e posia com Paulo Lins, Xênia França, Toinho Melodia, Victor Mendes, Gero Camilo e Ronaldo Gama
17 de julho (terça)| 20h às 21h30 Comedoria. Livre. Grátis
Um salve geral, no encerramento dos papos deste ano, para lembrar da nossa história, aprender com o passado, saudar os que se foram, refletir sobre os caminhos da cultura, da arte, da poesia, do samba e do povo brasileiros, se preparando ao presente e rumando, com a poética força dos tambores de marcação, ao futuro nosso. Que poesia e que samba faremos disso? Rafa, convidadas e público se reúnem em uma “roda de samba sarau”, com samba, ideia, partido alto e poesia, juntando e misturando tudo, todos e todas. Num canto de todas as vozes, unindo-as, ao mesmo tempo em que saudamos a nossa diversidade cultural brasileira e fechamos, em círculo, com chaves e rosas de ouro, o papos de versos em 2018.
Paulo Lins é escritor, autor de Cidade de Deus e foi morador da comunidade por muitos anos. No Rio de Janeiro, desde jovem mostrava interesse pela poesia e pela música, especialmente o samba. Ele que começou corrigindo letras de samba-enredo para os sambistas, acabou fazendo os próprios sambas, e procurou resgatar momentos da formação cultural brasileira através do samba e da umbanda. Xênia França, baiana radicada em São Paulo, é cantora e iniciou sua carreira cantando sambas na noite paulistana. Em um trabalho artístico consistente, alia sua obra o compromisso do resgate e a propagação da cultura Afro-Brasileira, do empoderamento e da justiça social no país. Toinho Melodia é sambista, compositor e cantor. “Paulibucano”, nasceu em Pernambuco mas vive em São Paulo há mais de 50 anos, onde caiu no samba, partindo das batucadas na várzea, chegando à Escola de Samba Unidos de Vila Maria, seguindo por muitas experiências e sendo hoje um ícone vivo do samba paulista. Victor Mendes é ator, com trabalhos para Teatro, Cinema e TV. Sua história com o samba vem da infância e reflete hoje em parte importante de seu trabalho e pesquisa. Gero Camilo é um poeta, ator, diretor, cantor, compositor e dramaturgo. Assina com Victor Mendes, o texto e a direção de Razão Social peça teatral que se passa nas dependências do Zicartola, na madrugada de 1o de Abril de 64, quando o Golpe Militar se instituía no Rio de Janeiro e em todo o Brasil. Ronaldo Gama é sambista, produtor musical e educador. Oriundo e residente da zona leste de São Paulo, tem forte atuação cultural na região, mas cidadão do mundo pelo samba, em trabalhos como com o grupo Raça Negra.
Sesc Belenzinho
R. Padre Adelino, 1000 TEL.: +55 11 2076 9700
sescsp.org.br