p e rfo r m รก ti co s_ i n q u i e to s_ rad i ca i s 12 a 21 de julho / 2013
Tempo: agora Nessa terceira edição do projeto, duas diferentes ações, cada qual no território de uma linguagem específica - a dança e o teatro – mas em comum, um só tempo para a realização do performer em cena: o agora. Em DPI – Experimento Espetacular, dois tipos de performance simultâneas e conjuntas: um bailarino a dança a partir de um roteiro e a escrita de um roteirista que descreve a dança do primeiro. Ambos agem livremente inspirados na ação alheia e sob o impacto do momento. O momento é o terceiro elemento da cena, a exigir decisões emergentes, impulsos e respostas criativas rápidas, que alimentem a simbiose entre as partes. O que garante o caráter de obra conjunta, e numa certa medida colaborativa, é a necessidade da associação mútua, e noutra medida a disponibilidade de um artista em relação à proposição do outro, com quem joga em cena. Um Carvalho traz a mesma urgência para a cena: é o agora quem rege as ações. É no calor das situações colocadas por cada personagem que se engendra o jogo. Sempre é a primeira vez que ambos se encontram – tanto no que se refere aos personagens dessa ficção, quanto no que diz respeito ao procedimento exigido pelo texto: não há ensaio ou encontro preliminar entre o Hipnotizador e o ator convidado a fazer o Pai naquela noite. O frescor da cena é garantido por essas condições prévias para o espetáculo-performance. Nas duas ações dessa edição, cada artista convidado entra em cena com autonomia para criar e performar com o desconhecido; por outro lado, está sozinho diante de uma ficção que tem sua autonomia. Joga-se no escuro que é a autoria do outro.
Sesc Belenzinho
Igual (e diferente) a tudo na vida Há quase um século, desde as primeiras experiências das vanguardas no ocidente, artistas tem compartilhado com suas criações uma espécie de perfil trêmulo que hesita entre a dicotomia autor-obra e a diluição cada vez mais radical das categorias tradicionais. No caso das ações construídas ao vivo foi, muitas vezes, a presença do público que invalidou a privacidade entre autor e obra, desafiando a imobilidade do sujeito em relação aos ambientes e seus respectivos observadores. Coube também ao público (convidado ou não) escancarar um novo caminho para nublar definitivamente os limites entre criação e observação. Surgiram perguntas inevitáveis que reincidem até hoje. Afinal, quem é publico de quem, se nem sempre há separações evidentes entre aquele que faz e quem assiste, quem cria e quem recebe, quem performa e quem roteiriza? Nesse turbilhão de subjetividades, indaga-se também quem seria o criador, uma vez que o controle sobre as obras foi ficando cada vez mais rarefeito, os acontecimentos se desdobraram por todos os envolvidos e parece ser da própria materialidade das experiências que emerge uma pluralidade de possibilidades anônimas. Na vertigem do aqui e agora, tudo que existia a priori passou a ser testado a cada instante, deixando muito pouco espaço para assegurar classificações engavetadas. Palavra é corpo. Escrita é gesto. Fala é ponte. O outro está dentro. O que termina está apenas começando. Tudo é estado presente e uma cartografia infinita de imagens.
Nesses territórios instáveis e imprevisíveis transitam o projeto DPI EE Experimento Espetacular, proposto por Clarice Lima para sete coreógrafos/bailarinos e sete roteiristas; e a versão brasileira de An Oak Tree (Um Carvalho) de Tim Crouch que reúne seis atores bastante familiarizados com esse complexo “campo de encenação”, no qual são seguidas indicações propostas por Crouch, mas a construção da experiência se dá em fluxo, a partir das ações dos próprios performers e do público. É provável que as duas apresentações sejam muitos distintas entre si. No entanto, não se pode concluir que aquilo que as diferencia é simplesmente a eleição de uma linguagem específica ou a trajetória profissional de cada artista encapsulada em um gênero determinado. Talvez seja mais instigante perceber como as experiências serão a cada dia singulares porque, cada qual a seu modo, assumiu o risco de se expor às zonas limítrofes onde nada é, mas tudo está.
Christine Greiner
#ações
DPI – Experimento Espetacular 12, 13 e 14/07. Sexta, às 21h30, sábado, às 20h e domingo, às 18h30. Sala de Espetáculos I. Duração: 1h. Recomendação etária: 14 anos. _ Concepção: Clarice Lima. Participantes: Alexandre Magno, Alex Ratton, Aline Bonamin, Ana Dupas, Daniel Fagundes, Eduardo Fukushima, Eros Valério, Jerônimo Bittencourt, Jorge Garcia, Leandro Berton, Letícia Sekito, Morena Nascimento, Patrícia Bergantin, Tarina Quelho, Thelma Bonavita. Roteiristas: Adriana Macul, Ana Dupas, Bruno Freire, Bruno Levorin, Daniel Fagundes, Fernanda Raquel, Júlia Rocha, Lúcia Yanes, Marina Guzzo, Rodrigo Bolzan.
foto: Magda Bizarro
O espetáculo parte de um solo previamente ensaiado, que dispara a criação de roteiros e performances para outros solos subsequentes. A escrita dos roteiros e o ‘espetáculo’ acontecem simultaneamente, e em tempo real, a cada apresentação. Cada etapa do processo é revelada para a plateia presente. O experimento problematiza a tradução da linguagem do corpo pra escrita, da escrita para o corpo, e assim sucessivamente. E traz perguntas como: até onde conseguimos permanecer fiéis ao objeto inicial? Até onde a natureza de linguagens distintas cria novos objetos? Para as apresentações, são convidados artistas de diferentes segmentos da cena. O encontro desses artistas promove um segundo acontecimento: encontro para troca e diálogo entre criadores de diferentes áreas da dança.
#ações
Um Car valho Um hipnotizador durante seu show recebe André, O Pai, que perdeu a filha mais velha há exatamente um ano. A filha foi atropelada pelo hipnotizador. André está ali porque quer remexer essa lembrança para, de algum modo, apagá-la. A simplicidade do enredo abre espaço para a complexidade da forma, tendo em vista os recursos que o autor usa para a construção da dramaturgia. Talvez o mais radical deles seja o fato do autor propor que o ator (ou atriz) que interprete O Pai não deve saber nada sobre o conteúdo do texto antes de sua participação. Um ator/atriz diferente é convidado para cada apresentação, de modo a gerar uma obra de arte única, inédita a cada noite, sem repetição da experiência teatral. Mas não se trata de improvisação livre. O ator convidado tem um roteiro e deve segui-lo obedecendo às ordens dadas pelo hipnotizador, que vai manipular e delinear a natureza de suas ações em cena até o limite.
18 a 21/07. Quinta e sábado, às 20h; sexta, às 21h30; domingo, às 18h30. Sala de Espetáculos I. Duração: 1h. Recomendação etária: 14 anos. _ De Tim Crouch. Direção: Rodrigo Batista. Com: Bruno Caetano (ator fixo – O Hipnotizador). Atores convidados: dia 18 - Maíra Gerstner dia 19 - Isabel Teixeira dia 20 - Paulo Barcellos dia 21 - Miriam Rinaldi
#bate-papo
#perfor mance Bate-papo a partir das ações apresentadas (DPI – Experimento Espetacular e Um Carvalho) - com participação dos artistas Clarice Lima e Rodrigo Batista, provocado e mediado por Christine Greiner. O encontro propõe discutir tanto as proposições e escolhas dos criadores, como também impressões e desdobramentos produzidos por essas ações em relação ao público, e aos locais onde foram apresentadas. Christine Greiner é professora do Departamento de Linguagens do Corpo (PUC-SP). Coordena o Centro de Estudos Orientais e dirige a coleção Leituras do Corpo (editora Annablume). É autora do livro O Corpo em Crise (2010). Colaborou em diversas instituições, como a Universidade Paris 8, a Universidade Rikkyo (Tóquio) e a Tisch University of Arts (Nova York.)
20/07. Sábado, às 15h. Sala de Espetáculos I. Duração: 2h.
Não recomendado para menores de 14 anos. Grátis.
Sesc Belenzinho Rua Padre Adelino, 1.000 BelĂŠm CEP 03303-000 | TEL.: (11) 2076 9700 email@belenzinho.sescsp.org.br sescsp.org.br