VITRINE
DE 20.05.16 A 31.07.16
Andar com fé eu vou, Santuário da Penha, RJ, 2013
elisângela leite(1962) Elisângela Leite é fotógrafa formada pela Escola de Fotógrafos Populares (2007), concluiu o Curso de Formação de Educadores em Fotografia Popular no Observatório de Favelas (2010) e ministrou a Oficina de Fotografia para Pessoas com Síndrome de Down (2013). Atua como fotógrafa no jornal comunitário Maré de Notícias e cursa Pedagogia na Uerj. Foi repórter fotográfica e editora de fotografia do jornal O Estado de S. Paulo, participou de importantes reportagens nacionais e internacionais, entre elas sobre as Paraolimpíadas de Atlanta, em 1994, e a Copa do Mundo de Paris, em 1998. Recebeu, entre outros, o III Prêmio Embratel de Fotografia e o XXIII Prêmio Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos em 2001. É autora da Violência e arte, Praça Saens Peña, RJ, 2014
série “Viva la Diferencia!”, exposta do Museu de la Ciencia de Barcelona, em 2007. Fotos suas foram publicadas em diversos livros e catálogos, entre eles As Donas da Bola, publicado em 2014, após a exposição no Centro Cultural São Paulo. Integra o acervo de fotografia do Museu de Arte Moderna de São Paulo e o acervo de fotografia do Museu do Futebol de São Paulo.
CONVIVENDO COM A VIOLÊNCIA ELISÂNGELA LEITE ão consigo me ver longe da fotografia e também não consigo mais separar o próprio mundo de uma imagem fotográfica. Muita gente diz que a imagem é o resultado do olhar através da objetiva, mas acho que vai além. Entendo a imagem como o resultado de um olhar humanizado, que procura interagir com o território fotografado, seus habitantes e, ao mesmo tempo, tenta crescer a partir dessa relação compartilhada com o mundo e com os outros. De certo modo, minhas fotos são o resultado de um olhar cúmplice, que pretende entender o olhar do outro, respeitar seu ambiente e não transformar o fotografado apenas em alguém que ficou congelado no tempo, frio e sem emoção. É preciso que a luz de cada fotografado se manifeste através da luz que torna possível a própria fotografia. Em resumo, acredito que, para fotografar melhor, tenho que me empenhar permanentemente em ser uma pessoa melhor. A violência é da natureza humana, está em todos os lugares e se manifesta de muitas formas. Aqui do meu ponto de vista, a violência que salta aos olhos e mais me incomoda é a violência exercida sobre as favelas, com
seus tiroteios, balas perdidas e a recorrente omissão do Estado. E, não raro, o que sai publicado nos veículos de comunicação é uma violência ainda maior, porque mostra uma favela associada ao tráfico, geralmente retratada por um olhar de fora, amparado por interesses editoriais que não são os nossos. De modo recorrente, a grande mídia esquece que mais de 90% da população dessas comunidades é constituída por gente honesta, trabalhadora, que ganha pouco e mora ali para poder atender ao mercado de trabalho gerenciado pelos que ganham muito. Hoje a gente vê isso direto aqui no Rio de Janeiro, ainda mais em períodos eleitorais, quando se promete tudo e não se cumpre quase nada. Ano após ano, eleição após eleição, as perguntas permanecem as mesmas: onde está o saneamento básico? E as habitações de qualidade? E as escolas que ensinem de verdade? E o posto médico, de preferência com médicos? Essa é a maior violência, consequência de governos ausentes. Uma violência que atinge o coração e fere mais do que o projétil. Saber que somos esquecidos sistematicamente e que só somos lembrados em ano de eleição é uma violência que me faz chorar. Quando estou fotografando, luto contra qualquer tipo de violência. A minha câmera tenta dar voz àqueles que, na maior parte do tempo, não são ouvidos. Sei que não vou demolir este mundo e construir um mundo novo, mas procuro agir como um beija-flor que leva água no bico para tentar apagar um incêndio na floresta. Faço pouco, mas faço a minha parte. E com o meu trabalho tento sensibilizar mais beija-flores a lutarem pela mudança. Acredito em direitos e deveres. Estudei fotografia no Observatório de Favelas, com direito a diploma da Universidade Federal Fluminense, e depois fui estudar Pedagogia na Uerj. Sou casada com o Adriano, que também é fotógrafo, e, juntos, pagamos nossas contas, compramos nossas câmeras e tentamos contribuir de alguma forma para as mudanças sociais que se impõem. O difícil é que, apesar de cumprirmos com nossos deveres de cidadãos, os direitos da cidadania não estão vindo tão facilmente. Quero acreditar que mais pessoas possam vir a enxergar essa disparidade e que reajam a essas violações e briguem por seus direitos. No fundo, espero que sejamos respeitados, que a gente não perca a fé na humanidade e que respeitemos o próximo como a nós mesmos.
Apenas mais uma ocupação militar, Favela da Rocinha, RJ, 2013
O medo das sombras, Praça Saens Peña, RJ, 2014
Canal do Cunha, Favela Salsa e Merengue, RJ, 2010
Somos todos favela, Favela Nova Holanda, RJ, 2013
Caminhos, Praça Saens Peùa, RJ, 2014
Palhacinho de reis, Favela Santa Marta, RJ, 2014
Pelos Becos da Rocinha, Favela da Rocinha, RJ, 2013
João Bolinha, Favela Nova Holanda, RJ, 2008
Dona Maria Rosa e seus lençóis de rosas, Favela da Rocinha, RJ, 2013
Bonde da Rua E, Favela Nova Holanda, RJ, 2013
Pedido de paz, Favela Nova Holanda, RJ, 2013
Vista da Rocinha, Favela da Rocinha, RJ, 2013
Sou Rio, Morro dos Prazeres, RJ, 2013
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