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BONECO JANEIRO

Mestre Miro (Ermírio José da Silva) | PE

Para mais informações do autor, ver pp. 167 e 193.

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Pernambuco, sem dúvida nenhuma, é a capital dos mamulengos no Brasil. Essa forte tradição é cultivada em terreno fértil, de geração em geração, pelas mãos de sábios mestres brincantes e de um público que aceita o convite à brincadeira, ao mundo animado dos bonecos. O divertimento popular de interagir com os mamulengos, seja do ponto de vista do artista que os cria e os manipula, seja do ponto de vista da plateia que assiste às suas representações dramáticas em palcos improvisados, é um convite sensível ao mundo simbólico, de fantasia e imaginação.

São infinitos os personagens criados com mamulengos, que podem ser de três tipos: os de vara, manipulados por hastes, os que são movimentados por cordas (marionetes) e os mamulengos de luva, em que a mão do artista serve de corpo para o fantoche.

Miro dos Bonecos, como é conhecido Ermírio José, faz irreverentes mamulengos dos três tipos. Desde criança quis aprender essa arte, e não esperou muito para começar. Fez seus primeiros bonecos quando tinha sete anos, usando cabo de vassoura, mangueiras, meias velhas e sua faquinha inseparável de descascar laranja; mas sobretudo com muita imaginação, enriquecida pela observação dos mestres bonequeiros com quem tinha contato. O menino cresceu, mas a vontade de fazer bonecos e brincar com eles continuou. Passou a fazê-los sempre dividindo a profissão de artesão de bonecos com outros trabalhos que precisava fazer para completar a renda e hoje vive somente de sua arte e apresentações em muitos lugares. Faz cerca de 100 bonecos por semana, de madeira de mulungu e chita, com a ajuda de esposa, filhos e genro. Já esteve até representando o país no ano Brasil-França. Lá levou vários dos seus bonecos e uma personagem ilustre, da qual nunca se separa: a boneca Maria Grande, do tamanho dele e com a qual bailava, dando vida à dançarina mamulenga presa a seu corpo.

Só de pegarmos um de seus brinquedos podemos sentir o quanto Miro se diverte em seu ofício de artesão. São plenos de humor, como o boneco Janeiro, que tem um pescoço retrátil que estica, aumentando cerca de 60 cm. Diz Miro que o nome vem do mês de chuva que é janeiro, e o boneco é um procurador de água – usa o pescoço para buscar esse precioso líquido.

Possibilidades lúdicas e educativas

Na escola, é muito interessante as crianças terem acesso a esses tipos de brinquedos, experimentar gestos e trejeitos divertidos dos mamulengos, criar histórias, aprender a confeccioná-los. Por estarem numa instituição que tem compromisso com a ampliação do universo cultural, podem pesquisar mais sobre a cultura dos bonecos em vários países, sempre tendo a pesquisa como instrumento com o intuito de ampliar o universo da brincadeira. Assim, seguem algumas dicas por onde partir para a busca da família de bonecos pelo mundo: Guignol (França), Fantoccini (Itália), Petrushka (Rússia), Vidouchaka (Índia), Karagós (Turquia), Bunraku (Japão), Múa Rô’i Nu’ó’c: Teatro Aquático de Fantoches (Vietnã) e Mamulengo (Brasil).

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