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CAVALO PANTANEIRO
Micheli Sierra | MT
O cavalo de pau é um brinquedo que exerce fascínio no mundo infantil desde a época em que esse animal era o principal meio de transporte e de tração. Não é porque hoje o automóvel tomou as cidades, e mesmo o campo, que o cavalo de pau deixou de ter importância no imaginário das crianças; basta tê-lo para experimentarem a liberdade de correr soltas por diferentes paradas.
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Ainda há adultos atentos à infância que confeccionam esses brinquedos. Micheli Sierra, natural do Centro-oeste brasileiro (Mato Grosso), é uma dessas brincantes que se dedica a pesquisar e fazer brinquedos artesanais desde 2002, levando brincadeiras por onde passa. Gosta daquelas antigas para estimular ainda mais o campo criativo das crianças.
Sua infância em Alta Floresta, com quintal de quase 1 hectare de pés de frutas variadas e uma floresta exuberante ao lado de casa, a despertou para a natureza. Atribui a essa experiência o fato de gostar de fazer brinquedos com elementos naturais, como madeira, algodão e sisal, usados para confeccionar o cavalo pantaneiro. Considera importante o contato com esse tipo de matéria-prima:
Por serem nossos primeiros objetos de contato, os brinquedos deveriam ser feitos de material natural, para oferecer uma troca orgânica de qualidade com a pele. É só lembrar por que a roupa do bebê é de algodão: há troca, podemos sentir os carinhos que faz no corpo; é mais fácil de entender um objeto que tem troca orgânica. Para se ter uma relação inteligente com os objetos, é preciso que haja trocas orgânicas, naturais. Nossa pele é natural, e a troca é mais sincera quando é de natural para natural. Quando o brinquedo é orgânico, a troca e o aprendizado são inteligentes.
Possibilidades lúdicas e educativas
É interessante considerar as observações de Micheli para se pensar que tipos de brincadeiras possibilitam essas trocas mais orgânicas: brincar com areia e terra; fazer massinha de farinha de trigo; usar retalhos de madeira para brincadeiras de construção e confeccionar brinquedos com tecido e jornal.
Além da qualidade e riqueza natural do brinquedo, é igualmente importante atentarmos na escola para a sua riqueza cultural. Crianças próximas ou distantes das cavalgadas de adultos podem compartilhar da mesma brincadeira de seus antepassados. Pode ser que seja inspirado pela cultura regional, mas o faz de conta não se baseia somente nas cenas do dia a dia local e no seu tempo. É também inspirado por um imaginário mais longínquo ou ficcional, como no caso dos mitos e lendas.
Montados em seus cavalos de pau, os pequenos cavalgantes podem estar caminhando como tropeiros, cangaceiros, desbravadores, corredores, cavaleiros medievais, heróis e guerreiros em tempos que não o seu, e tudo o mais que a imaginação permitir. Na brincadeira, o cavalo feito pelo adulto como pantaneiro pode até virar Pegasus (o cavalo de asas) e sair para corridas aladas. Assim, um singelo cabo de vassoura, com pano e enchimento costurado em forma de cabeça de cavalo, torna-se um brinquedo poderoso para estimular amplamente o imaginário infantil.