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CAVALINHO DE CAULE DE PÉ DE MILHO
Divino Jesus Moreira de Pinho | GO
Para mais informações do autor, ver p.118.
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O Sr. Divino Jesus é um homem abençoado como o próprio nome o define, vive a alegria e a harmonia no seu dia a dia. Em suas sábias palavras diz: “A gente nasceu para brincar.” De fato, quando esquecemos nossa natureza primeira que é a brincadeira, a vida fica um bocado chata. Quem não brinca com o conhecimento, com a profissão, com a vida, tem menos a criação e a alegria presentes em seu cotidiano.
Por isso, o espaço da escola é um espaço privilegiado, onde a brincadeira é lembrada a todo momento pelos iniciantes na vida que têm a sabedoria bem avivada. Vamos aprender com as crianças e com este mestre de brinquedos que nos convida a olhar para brincar como proposta de vida.
Façamos uma viagem no tempo quando o menino Divino foi iniciado nas artes da brincadeira por seus avós:
Na roça sempre teve a hora do trabalho e a hora da invenção. Meu avô sabia mostrar o lado do viver para a sustentação e o lado cidadão, o lado de compartilhar e de criar. A criatividade era nossa tecnologia da época. Na roça eu ajudava a plantar milho e a colher. Brincava de cavalo de caule de milho pelo milharal como se fosse cavaleiro correndo pelo pasto. Aos 9 anos, aprendi a aperfeiçoar meu cavalo com uma invenção, uma tecnologia de fazer brinquedo: dobrava o caule, cortando em chanfrado por baixo para fazer as orelhas do cavalo. Quando a orelha ficava maior, virava burro; quando ficava menor, virava cavalo pangaré. Cheguei a estragar muitos caules de milho, mas consegui chegar num jeito de fazer o cavalo que chamava a atenção dos meus amigos. O gostoso de fazer o brinquedo é ver que os colegas se interessavam, então eu ajudava eles a aperfeiçoar os cavalos com a tecnologia da época: a criatividade.
O menino inventor virou homem crescido e aprimorou os jeitos de brincar:
Hoje faço brinquedos, ensino os outros a fazerem brinquedos em oficinas, sou também palhaço profissional, brinco em festa, trabalho com teatro. Tô brincando na vida! Fazer brinquedos e brincar é uma terapia e tanto!
Possibilidades lúdicas e educativas
O Sr. Divino se lembra muito dos avós em suas brincadeiras, que são para ele fonte de imensa sabedoria e afeto. O saber e o sabor da brincadeira criam laços fortes para a constituição humana e para o nosso maior patrimônio que é nossa sensibilidade. Pensando assim, por que não estimular na escola o vínculo entre avós e netos, pais e filhos, unindo as gerações para brincar e compartilhar? Dessa proposta certamente sairão brincadeiras inéditas ou jeitos de fazer brinquedos inusitados que surpreendam crianças, professores e adultos, usando, por exemplo, palha de milho como ferramenta para amarrações. Sim! Era este um dos truques aprendidos que o menino Divino Jesus usava para dar forma a seus burricos e pangarés.
Foi com a avó que aprendeu a usar trança de palha de milho molhada para fazer as amarrações de seu cavalo quando não tinha cordão. O processo de fazer a trança, ensinado por ela, é o mesmo que se faz com fumo em corda e com corda de sisal. Seus avós baianos sempre davam muitas dicas e se orgulhavam do neto. O artesão lembra com carinho da forma como seu avô costumava comentar sua vivacidade de garoto da roça: “Ó Maria, este menino ladino cheio de estripulias, cheio de invenções!”.
Pudera! As invenções sempre foram fruto da educação desses sábios avós que souberam como ninguém rechear e valorizar ao máximo a curiosidade e o desejo do neto em conhecer e brincar. Devemos lembrar que brincar é, por definição, estabelecer vínculos com os outros e com o conhecimento, é a base de todo processo criativo e da socialização. Façamos uso da brincadeira como ferramenta para ricas trocas afetivas e culturais!