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CORRUPIO

Divino Jesus Moreira de Pinho | GO

Grafado como corrupio, currupio e corropio, é um brinquedo extremamente simples de confeccionar, porém desafiador para fazê-lo funcionar. Basta ter um fio firme e uma peça central com dois furos (botão, papelão, tampinha de metal ou plástico, ou qualquer objeto arredondado com furos no meio). Passa-se o fio fino e resistente pelos furos da peça, amarram-se as pontas… E está pronto!

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O corrupio requer ritmo dos dedos polegares, que devem segurar as extremidades do fio para reger a peça central em contínuo movimento de rotação, proporcionando um som inconfundível: um zumbido que vai aumentando conforme o fio é tensionado e relaxado com maior frequência. Para dar início à partida, no entanto, é preciso segurar as pontas do fio e fazer a peça central girar num mesmo sentido, como se estivesse dando corda para o brinquedo funcionar com a posterior regência das mãos que se aproximam e se afastam.

Quando tinha 6 anos, o Sr. Divino aprendeu com seu avô a fazer esse brinquedo secular, confeccionado com um pedaço de cabaça. Aproveitava o barbante que vinha no saco de juta do café para usá-lo no brinquedo e assim o confeccionava com materiais que encontrava por perto.

Passou-se o tempo, mas a vontade de brincar e o prazer de partilhar o brinquedo com outros permanecem na vida do Sr. Divino. Vejamos o que diz a respeito:

Minha vivência de 6, 7, 65 anos brincando com este brinquedo é a mesma; o que foi mudando foi o jeito de confeccionar. Hoje, por exemplo, ensino meus alunos nas aulas de marcenaria a fazer o corrupio; gosto de ensiná-los a criar, inventar, estilizar, criando seu próprio modelo. Para tanto, usamos como base um pedaço de compensado ou Duratex com dois furos centrais, como os de um botão por onde se passa o fio. Faço alguns furos a mais para o brinquedo assobiar mais alto: vrum, vrum, vrum. Eta som bom. Hoje gosto de fazer o corrupio para alegrar meu neto.

Possibilidades lúdicas e educativas

Como o corrupio deve ser um brinquedo de conhecimento de muitos pais das crianças, vale uma pesquisa entre eles para descobrir diferentes materiais com os quais podem ser confeccionados e mesmo convidá-los para essa criação conjunta na escola.

Além dos informantes da cultura lúdica que estejam por perto, pais e comunidade educativa podem também pesquisar em livros que contam a história dos brinquedos. No livro Jogos e brincadeiras do povo Kalapalo, de Marina Herrero, edições Sesc SP, podemos ver que no Alto Xingu o corrupio, conhecido lá como “holá”, também é feito com um pedaço de cabaça furado no meio e com bordas dentadas, só que o fio é feito com corda de buriti. Podemos apreciar no DVD que acompanha o livro como os kalapalos brincam com o holá. Várias outras etnias indígenas brasileiras também fazem esse brinquedo. Os índios Ticuna também o conhecem pelo nome de Tchera i mucü, confeccionado com elementos da natureza e fio de tucum. Recentemente, têm usado lata recortada com fios dentados para cortar folhas ou frutas moles e ainda caçar pequenos insetos.

Podemos descobrir com as crianças outros jeitos de brincar, não só individualmente, mas em duplas, o que requer coordenação do movimento para fazer o corrupio girar. E por que não conhecer outros brincantes que recriam esse brinquedo, como é o caso de Chico dos Bonecos (Francisco Marques), que criou uma versão gigante do corrupio feito com papelão e fio de mais de metro de comprimento presos por um cabo no qual cada participante segura com as duas mãos? E ainda uma versão do corrupio no qual se prende uma parte do fio no pé e a outra é segura pela mão, permitindo brincar ao mesmo tempo em que se anda? Imagens da criação desse brinquedo estão em seu livro Muitos dedos, enredos, da editora Peirópolis.

Outro livro com boas histórias e sensível registro fotográfico desse brinquedo, confeccionado com escamas, ossos e conchas, é o Giramundo e outros brinquedos e brincadeiras dos meninos do Brasil, de Renata Meirelles (editora Terceiro Nome).

Se procurarmos, vamos descobrindo sempre novas formas de fazer o brinquedo, como na obra Barangandão Arco-íris e outros 36 brinquedos inventados por meninos de Adelsin, editora Peirópolis. E o melhor de tudo é se inspirar no conhecimento ancestral do corrupio para inventar um modo próprio de recriá-lo nos dias de hoje.

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