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MANÉ-GOSTOSO E CATA-VENTO BONECOS NO PILÃO
Mestre Zezinho (José Cícero da Silva) | AL
José Cícero da Silva (Mestre Zezinho), 47 anos de idade, faz brinquedos desde menino, mas somente há 17 anos descobriu-se na profissão de artesão de brinquedos e hoje não imagina a vida sem fazê-los.
Em 2009, Zezinho recebeu o prêmio de melhor artesão do ano de Alagoas e o título de mestre pelo Museu Théo Brandão de Antropologia e Folclore, em Maceió.
Para fazer seus brinquedos, Mestre Zezinho procura imaginar do que a criança gosta. “Eu penso assim: criança gosta de movimento – numa peça parada ela se distrai; já o movimento a deixa abismada, quer voltar a encontrar o brinquedo.” Assim, naturalmente seus brinquedos envolvem movimento. Tem feito vários cata-ventos que movimentam brinquedos como rodas-gigantes com bichos, jogadores de futebol, socadores de milho, cavalinhos correndo, casal dançando etc. A hélice do cata-vento é que sempre dá movimento às suas peças. Atualmente, tem até um cata-vento que movimenta uma bicicleta, ou seja, movimenta as pernas do boneco que a pedala. Fez tal brinquedo inspirado no desejo de infância de fazer uma bicicleta para si mesmo, de madeira, já que não podia comprá-la.
Todos os seus brinquedos são feitos à mão, com a ajuda de ferramentas simples: faca amolada, serrinha, foice, escopo, esquadro. Só usa máquinas, como serra tico-tico, para fazer peças curvas, mas o acabamento de seu trabalho é todo manual. Assim, orgulha-se dizendo: “Estou para descobrir uma máquina que faça um bicho destes que uso em minha roda-gigante ou estes bonecos que vou esculpindo na madeira!”
Possibilidades lúdicas e educativas
Ter brinquedos-engenhocas cata-ventos como os de Mestre Zezinho pelo pátio da escola é uma maneira prazerosa de apreciar a brincadeira dos ventos, senti-la ao seu menor indício. Agora, confeccioná-los parece um tanto difícil, já que requerem certa habilidade com a madeira. Mas se atentarmos à psicogênese da criação desses cata-ventos de Zezinho, veremos que podemos experimentar com as crianças a confecção de outros tipos de cata-ventos, sejam eles feitos com papel ou com outros materiais sugeridos pelas lembranças de infância desse artesão alagoano.
Quando era criança, Zezinho fazia seus cata-ventos de folha de manga. Pegava a folha do pé da mangueira, tirava o talo maior, cortava um pedaço da folha de um lado e de outro e no meio espetava um cabinho: “Era só arribar a mão no vento para girar as hélices do cata-vento-folha.” Esta lembrança é tão boa que até hoje, quando está debaixo de um pé de mangueira, brinca com a folha da planta. Em diversas partes do Brasil, meninos e meninas ainda brincam com esse cata-vento rudimentar feito com diferentes tipos de folha.
Outra modalidade que sabia fazer quando menino era o cata-vento de lata. Usava lata de óleo quadrada. Sentava-se num cantinho, cortando sossegadamente a lata com uma faquinha afiada. Uma das etapas bem delicadas deste processo era empenar a lata dos dois lados para fazê-la girar bem. O cuidado em fazer as hélices simétricas era essencial para que o brinquedo não ficasse mais pesado de um lado que do outro. Mas a precisão não ficava só nisso. Era preciso que continuasse vigente, para que o conjunto de pás fosse preso por um ponto central a um eixo. Sendo assim, para fazer o buraco no centro do cata-vento, era preciso medir muito bem antes de bater um prego com a ajuda de um toquinho de madeira que tinha a função de martelo. Depois, só faltava passar arame e prender o brinquedo a um cabo de madeira.
Esses segredos de engenharia, verdadeiros tratados de precisão que requerem o máximo de habilidade, o menino Zezinho aprendeu cedo, na prática da brincadeira de confeccionar o brinquedo. E o acompanham até hoje!