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sonetos e cançoes com VANESSA BUMAGNY e a banda dos BOBOS NA MONTANHA convidam PROF. JOHN MILTON 24 de abril/2022 domingo, 18h TEATRO SESC IPIRANGA
foto_ALBERTO S. CERRI
O início e o meio Um show que quer ser uma peça de teatro, uma ópera rock, uma aula, um mistério, uma viagem sensorial e um mergulho na sonoridade das palavras. O som e o sentido misturados. Quando peguei o livro dos sonetos do Shakespeare na estante de casa, durante a pandemia, não sabia que eles tinham sido escritos também em tempos de isolamento. Mas isso me conectou ainda mais a eles. O fato é que, ao começar a leitura, senti que cantavam pra mim, com melodias que lembravam Bob Dylan, Joni Mitchell, os Beatles, os Rolling Stones. Pensei em voltar a atuar, comecei a estudar as peças de teatro em busca de textos que conversassem com os sonetos, busquei estudiosos no assunto, livros, palestras e aulas. E pensei que o público poderia participar desse processo junto comigo e com os artistas que foram chegando. Para somar-se a parte musical, trouxemos um professor, profundo conhecedor de Shakespeare, que clareia e aprofunda os significados dos sonetos. Um escritor e dramaturgo para interpretar o Bobo da Corte, figura chave em algumas das peças de Shakespeare. No show, o Bobo é um narrador, observador, hora crítico, hora poético, brincando livremente com as emoções despertadas pelos sonetos. Bobos e bobas na Montanha, com seus múltiplos talentos, abrem caleidoscopicamente o leque de possibilidades de expressão do nosso agora um pouco mais íntimo William Shakespeare, tão longe no tempo e no espaço e tão perto dos nossos corações selvagens. VANESSA BUMAGNY Elogiada pela crítica brasileira, latina e europeia, a cantora, compositora e atriz Vanessa Bumagny lançou em 2022 seu quarto álbum, “Cinema Apocalipse”, que conta com a participação de Luiz Tatit, Chico César e Fernanda Takai entre os parceiros. Seu trabalho anterior, “O Segundo Sexo” (2014), é uma referência ao livro de mesmo nome da filósofa feminista Simone de Beauvoir. Em 2009, gravou o disco “Pétala por Pétala”, com produção de Zeca Baleiro. Em 2003, lançou seu primeiro álbum De Papel, que saiu na Europa pelo selo francês Lusáfrica. Como Vanessa Bu, apresenta repertório voltado para o público infantojuvenil.
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O Tempo Passando Velozmente. Amor e Morte Um Shakespeare punk-dadá? Elétrica Idade Média? Saudades dos Beatles? Uma banda de bobos na montanha conduzindo o som e a fúria de um espetáculo que nada significa? Somos todos idiotas? Sim! Somos! Num lapso de razão, um bando de bobos chega a milhão neste tragicômico Século XXI, surfando nos Sonetos de Shakespeare em direção ao que vem após tudo, o passado medieval que se revela no presente fim do mundo. O ménage à trois poético travado entre o poeta, seu belo amante e sua obscura amada é usado como pretexto para pensarmos naquilo que existe nas profundezas da alma humana – o tempo que passa velozmente, o amor, a morte. Tudo é amor e morte. São milhões de bobos tagarelando estridentes no cérebro iluminado de William Shakespeare, trancado em um castelo assombrado para se isolar da Peste Negra, escrevendo sem parar, naquela angústia, inventando tudo aquilo que sentimos agora, sem saber que todo sentimento não passa de invenção. Amor e morte! As relações de poder, família, política, paz e guerra, criadas por Shakespeare no Século XVI, e que determinaram a grande maioria da literatura e dramaturgia universais desde então, ganham, no palco, um caráter épico/didático: épico na dimensão trágica da música; didático nas palavras do Prof. John Milton e na psicanálise cômica realizada por um Bobo, nem sempre alegre, sobre o inconsciente coletivo shakespeariano, que move a cultura ocidental há quinhentos anos. Amor e morte! Na montanha, os Bobos vão finalmente fazer justiça com as próprias vozes e instrumentos, puros pela violência punk, racionais pela irracionalidade da música, pelo que há de puro na poesia. No palco, entre o Céu e a Terra, músicos/ atores, atores/músicos, serão fantasmas, assombrando, com toda a liberdade, corações e mentes, com máximo respeito aos dogmas da irresponsabilidade. ANDRÉ SANT’ANNA André Sant’Anna é músico, escritor, dramaturgo, roteirista de cinema, e televisão. Tem sete livros publicados, entre eles: “Amor”, “Sexo”, “O Paraíso É Bem Bacana”, “Inverdades” e “Discurso sobre a Metástase”. Seu conto “O Importado Vermelho de Noé” foi incluído na antologia “Os Cem Melhores Contos Brasileiros do Século XX”, Ed.Objetiva (2000), e a crônica “Pro Beleléu” incluída na antologia “As Cem Melhores Crônicas Brasileiras”, Ed.Objetiva (2007). É autor e roteirista do longa-metragem “A Lei” – Dirigido por Amadeo Canônico.
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William Shakespeare (1564-1616), possivelmente o maior autor de todos os tempos, é especialmente conhecido como o autor das grandes tragédias Hamlet, Rei Lear, Macbeth, e Otelo, e personagens inesquecíveis como o bufão Sir John Falstaff, o rei malvado Richard III, e os bobos espirituosos como o Bobo de Lear e Feste em Noite de Reis. Mas também escreveu 154 sonetos entre 1590 e 1605, que foram publicados em 1609. Os sonetos formam uma história em sim. Muitos elogiam a beleza de um jovem rapaz, possivelmente um patrono de Shakespeare, Henry Wriothesley. A segunda personagem é a Dark Lady, a Dama Morena, a amada do poeta, que também torna-se amante do belo jovem. Os poemas mostram a variedade de emoções do poeta: elogios ao jovem, devoção completa a ele, desprezo pela dama, ciúmes, e a consciência pela passagem do tempo e as possibilidades de derrotar o tempo e conservar a beleza. Além de apresentar a grande versatilidade de Shakespeare, com imagens de áreas tão díspares como a guerra, as finanças, e a jardinagem, o Bardo aproveita os múltiplos sentidos das palavras, vários com insinuações sexuais. JOHN MILTON
John Milton é Professor Titular da USP em Estudos da Tradução. Ajudou a estabelecer o Programa de Pós-Graduação em Estudos da Tradução, e foi Coordenador do Programa (2012-2016). Seu principal interesse é a teoria, história, sociologia e política da tradução. Entre suas publicações estão “O Poder da Tradução” (1993) e “Um País se Faz com Tradutores e Traduções: a Importância da Tradução e da Adaptação na Obra de Monteiro Lobato” (2019).
Sonetos de Shakespeare traduções de ALMIRO PISETTA
Sonnet V Those hours, that with gentle work did frame The lovely gaze where every eye doth dwell, Will play the tyrants to the very same And that unfair which fairly doth excel; For never-resting time leads summer on To hideous winter, and confounds him there; Sap checked with frost, and lusty leaves quite gone, Beauty o’er-snowed and bareness every where: Then were not summer’s distillation left, A liquid prisoner pent in walls of glass, Beauty’s effect with beauty were bereft, Nor it, nor no remembrance what it was: But flowers distilled, though they with winter meet, Leese but their show; their substance still lives sweet
O tempo delicado que manobra O belo objeto que deleita o olhar Será o tirano de sua própria obra, E o belo enfeiará com seu passar. O tempo sem parar leva o verão Para o odioso inverno que o desfaz: A seiva é congelada, as folhas vão, Encoberta a beleza estéril jaz. Se a essência do verão não ficar presa Em paredes de vidro destilada, Perde-se o enfeite e o efeito da beleza, Tudo é esquecido, já não sobra nada. Mas destilada a flor, mesmo no inverno, Só a imagem morre, a essência é dom eterno.
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Sonnet VI Then let not winter’s ragged hand deface, In thee thy summer, ere thou be distilled: Make sweet some vial; treasure thou some place With beauty’s treasure ere it be self-killed. That use is not forbidden usury, Which happies those that pay the willing loan; That’s for thy self to breed another thee, Or ten times happier, be it ten for one; Ten times thy self were happier than thou art, If ten of thine ten times refigured thee: Then what could death do if thou shouldst depart, Leaving thee living in posterity? Be not self-willed, for thou art much too fair To be death’s conquest and make worms thine heir. Então que a mão do inverno não te apague Em ti o verão sem seres destilado: Alegra um novo frasco que resguarde O dom da tua beleza, preservado. Não há proibida usura no contrato Que alegra quem aceita pagar juro; Se tu gerares outro eu de fato, Mais feliz serás, já terás lucro. Dez vezes mais feliz que és serias, Em dez de ti dez vezes refletido: Então na morte nada sofrerias, Deixando-te viver depois de ido. Não teimes só: alguém tão bem-dotado Não pode só aos vermes ser legado
Sonnet XL Take all my loves, my love, yea take them all; What hast thou then more than thou hadst before? No love, my love, that thou mayst true love call; All mine was thine, before thou hadst this more. Then, if for my love, thou my love receivest, I cannot blame thee, for my love thou usest; But yet be blam’d, if thou thy self deceivest By wilful taste of what thyself refusest. I do forgive thy robbery, gentle thief, Although thou steal thee all my poverty: And yet, love knows it is a greater grief To bear love’s wrong, than hate’s known injury. Lascivious grace, in whom all ill well shows, Kill me with spites yet we must not be foes. Leva, amor, meus amores, leva tudo. Que tens agora que antes já não tinhas? Amor, nenhum sincero amor profundo: Tuas já eram as coisas que eram minhas. Se por me amares minha amada afanas, Entendo, amor, e o meu amor terás; Mas te censuro se a ti mesmo enganas, Provando o que tu mesmo nunca dás. Perdoo-te o furto, ladrão carinhoso, Embora leves tudo o que me resta. Mas sabe o amor que bem mais doloroso, Mais que o ódio, é o amor quando molesta. Tu que o mal tornas bom, belo lascivo, Trucida-me, mas sem ser inimigo.
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Sonnet LXXVI Why is my verse so barren of new pride, So far from variation or quick change? Why with the time do I not glance aside To new-found methods, and to compounds strange? Why write I still all one, ever the same, And keep invention in a noted weed, That every word doth almost tell my name, Showing their birth, and where they did proceed? O! know sweet love I always write of you, And you and love are still my argument; So all my best is dressing old words new, Spending again what is already spent: For as the sun is daily new and old, So is my love still telling what is told. Por que meu verso é tão fora de moda, Não inventa nem faz malabarismos? Por que não sigo o tempo e a minha roda, Seus métodos estranhos e modismos? Por que eu falar do eu que sou, sempre eu, Vestindo o tema em roupa conhecida? Meu nome está em cada verso meu Que diz sua origem à primeira lida. Bem vês, amor, que escrevo sobre ti: O amor por ti é sempre o meu tratado; No meu melhor, escrevo o que escrevi, Do novo gasto o que tenho gastado. A cada dia o velho sol é novo, E o que já disse diz o amor de novo.
Sonnet CXIII Since I left you, mine eye is in my mind; And that which governs me to go about Doth part his function and is partly blind, Seems seeing, but effectually is out; For it no form delivers to the heart Of bird, of flower, or shape which it doth latch: Of his quick objects hath the mind no part, Nor his own vision holds what it doth catch; For if it see the rud’st or gentlest sight, The most sweet favour or deformed’st creature, The mountain or the sea, the day or night, The crow, or dove, it shapes them to your feature. Incapable of more, replete with you, My most true mind thus maketh mine eye untrue. De ti longe, eu só vejo no que penso: O olhar que me orienta pela estrada É dividido, em parte está suspenso, Parece ver, mas quase não vê nada. Ao coração imagens não envia Do ave, o flor, ou forma a que se prende. Como seu objeto a mente não sacia, Tampouco fixa a imagem que pretende; Pois se o mais rude enxerga ou delicado, O rosto mais hediondo ou mais radiante, A noite, o dia, o monte, o mar irado, O corvo, a pomba – tudo é o teu semblante. Atada a ti, na entrega mais total, leal, a mente o olhar faz desleal.
Sonnet CXLIV Two loves I have of comfort and despair, Which like two spirits do suggest me still: The better angel is a man right fair, The worser spirit a woman coloured ill. To win me soon to hell, my female evil, Tempteth my better angel from my side, And would corrupt my saint to be a devil, Wooing his purity with her foul pride. And whether that my angel be turned fiend, Suspect I may, yet not directly tell; But being both from me, both to each friend, I guess one angel in another’s hell: Yet this shall I ne’er know, but live in doubt, Till my bad angel fire my good one out.
Dois amores, conforto e desespero, Dois espíritos sempre me tentando: Um anjo bom, um louro todo esmero, Uma negra, um anjo que é nefando. Querendo-me no inferno o que é mulher, De mim o anjo bom quer ver distante; Dum santo faz demônio quando o quer, Entregando-se para tê-lo amante. Suspeito, sem saber se é verdade Que o anjo que era bom é um diabo alterno; Ou dois longe de mim, na intimidade, Um deve ter o outro em seu inferno. Mas disso vou viver no duvidar, Enquanto o anjo bom não se infectar.
FICHA TÉCNICA
SHAKESPEARE, SONETOS E CANÇÕES BOBOS NA MONTANHA CONVIDAM PROF. JOHN MILTON textos e bobo da corte_ ANDRÉ SANT’ANNA voz e composição_ VANESSA BUMAGNY guitarra, voz e composição_ ZECA LOUREIRO piano, teclados e voz_ CAMILA LORDY bateria, vibrafone, voz e música cênica_ NATH CALAN baixo_ FERNANDA HORVATH convidado especial_ PROF. JOHN MILTON idealização e concepção_ VANESSA BUMAGNY desenho de luz_ MARCOS FRANJA operação de luz_ RAFAEL PEREIRA adereços_ CHRISTIANE GALVÁN técnico de som p.a._ RODOLFO YADOYA técnico de som monitor_ LILLA STIPP projeto gráfico_ ÉLCIO MIAZAKI produção_ FERNANDO ALVES
foto_ALBERTO S. CERRI
foto_HIGOR WOOD
24 de abril de 2022 domingo - 18h Teatro do Sesc Ipiranga ingressos credencial plena R$20 meia entrada R$20 inteira R$40 classificação indicativa 14 anos
Sesc Ipiranga Rua Bom Pastor, 822 Tel.: +55 11 3340.2000 /sescipiranga /sescipiranga sescsp.org.br/ipiranga