outubro e novembro | 2018
TRUNCADO ITINERÁRIO
Uma obra de arte dialoga com o contexto no qual foi produzida. A alegada atemporalidade de certas expressões artísticas oculta dinâmicas mais complexas: novas gerações descobrindo camadas de significação naquilo que fora criado em outros tempos e espaços. Isso ocorre com especial potência no caso de Um bonde chamado Desejo, escrito por Tennessee Williams. Ambientada no sul dos Estados Unidos, cenário fortemente marcado pelo conservadorismo, a peça expõe os jogos de poder e dissimulação que se desenham a partir da chegada de Blanche DuBois à casa onde vivem sua irmã e cunhado. Trabalhando a dualidade entre dimensões que se interpelam – o refinamento e a fragilidade de um lado, a rudeza e a brutalidade de outro – o texto de Williams recebeu o Prêmio Pulitzer em 1948 e ensejou uma bem-sucedida versão cinematográfica dirigida por Elia Kazan três anos mais tarde.
Ao propor uma abordagem contemporânea dessa peça, a dramaturgia de Alexandre Dal Farra e Ruy Cortez intensifica aspectos oriundos da tensão com dilemas exacerbados pelo presente. Nesse registro, ganham destaque linhas de força como a cultura patriarcal, o neoliberalismo e as camadas de opressão e violência implicadas na misoginia e no racismo, sublinhando continuidades e rupturas ao longo das décadas que nos separam do panorama de surgimento da peça. O manejo das linguagens do teatro e do cinema busca borrar as fronteiras entre ambos e propor uma obra aberta, permeável a leituras múltiplas. Confrontar o itinerário histórico de um trabalho de arte, jogando luz sobre as questões que nele se acumularam, significa reconhecer na criação estética sua amplitude de intervenção cultural. Daí a importância de acolher Réquiem para o Desejo numa instituição que busca evidenciar as conexões entre arte e sociedade, atenuando as barreiras que, por vezes, afastam públicos e artistas. DANILO SANTOS DE MIRANDA Diretor do Sesc São Paulo
SINOPSE
A peça gira em torno das quatro personagens principais do clássico. Um bonde chamado desejo de Tennessee Williams. Em um cenário de terra arrasada, Stella, Blanche, Stanley e Mitch buscam maneiras de estruturar suas relações, que quase sempre resultam em explosões, choques irracionais e sem explicação. CIA DA MEMÓRIA
Fundada em 2007, tem direção artística de Ruy Cortez, Ondina Clais e Marina Nogaeva Tenório. Em suas três obras iniciais a Companhia dedicou-se ao estudo da linhagem patrilinear explorada em Rosa de Vidro, Nome do Pai e nos três espetáculos que compunham Karamázov. Em 2016 Ondina Clais e Ruy Cortez concebem a Pentalogia do feminino, um conjunto de cinco obras que desdobram temas autônomos, vistos sob a perspectiva do feminino. A partir desse ano, a Cia. se debruça sobre a linhagem matrilinear.
DRAMATURGIA
Réquiem para o desejo parte de uma espécie de olhar em negativo para as figuras e para a situação criada por Tennessee Williams, no sentido de investigar onde e como exatamente se instauram as diversas relações de poder, controle e repressão em uma estrutura social. O texto de Dal Farra desenvolve as posições das quatro personagens em jogo e escancara as suas contradições. A partir das pistas do próprio Tennessee Williams, ele abre novas camadas no olhar de cada uma delas. É nesse sentido que Blanche, Mitch, Stanley e Stella, sem deixarem de ser figuras profundamente entranhadas na realidade norte-americana da primeira metade do século XX, falam também de nós.
ENCENAÇÃO “Um clima semelhante é evocado pela música que os artistas negros tocam num bar ali perto. Nessa região de Nova Orleans, quase sempre se está nas proximidades ou a algumas casas rua abaixo de um piano estridente tocado com a arrebatada fluência dos dedos negros. Esse blue piano manifesta o espírito da vida que aí se leva.” (Tennessee Williams)
Williams constrói Um bonde chamado desejo a partir de uma sobreposição de tempos-espaços narrativos: a casa branca — seja ela aristocrática, burguesa ou até latino-americana — e a casa negra da vizinha sem nome e dos cabarés onde ecoa o piano blues. Por baixo da trama, revelam-se os efeitos que esta condição exerce tanto sobre os habitantes da casa branca, como sobre todos aqueles que estão à margem: negros, mulheres, homossexuais, artistas, prostitutas, imigrantes. A presente encenação de Réquiem para o desejo mantém esta estrutura, estabelecendo uma conversa entre dois planos: o ficcional, dos brancos, constituído a partir do texto de Dal Farra, e o não-ficcional, composto por cenas performativas onde ecoam a palavra e a voz de artistas negras, erigindo assim a imagem de um enorme edifício onde retumbam diferentes cantos de opressão, dominação, desejo, amor, morte e libertação.
DENISE ASSUNÇÃO
Atriz, cantora e diretora. Estreou como atriz em 68 em Arena Conta Tiradentes, com direção de Nitis Jacon. Entre 70 e 71, participou de festivais de música em Londrina com seus irmãos Narciso Assumpção e Itamar Assumpção. Fez parte de diversas produções no Teatro Guaíra em Curitiba. Atuou na montagem de Macunaíma, dirigida por Antunes Filho, e nos filmes Mazza-Jeca e seu Filho Preto e A Banda das Velhas Virgens, de Mazzaropi. Já em São Paulo, fez performances na Banda Isca de Polícia e atuou no Teatro Oficina, onde fez, entre outros, As Bacantes. Em 2017, foi convidada para interpretar a Madame em As Criadas de Jean Genet, direção de Radoslaw Rychcik. Gravou o LP A Maior Bandeira Brasileira e o CD Estátua da Paciência, com músicas de Noel Rosa.
GILDA NOMACCE
Atriz premiada no Festival de Brasília, homenageada em quatro festivais por sua extensiva contribuição ao cinema de curta-metragem. No teatro, formou-se no Centro de Pesquisa Teatral (CPT), coordenado por Antunes Filho. Com atores integrantes do CPT, fundou a Companhia da Mentira, cujos trabalhos incluem O que Você foi Quando era Criança?, de Lourenço Mutarelli, direção de Donizeti Mazonas e Gabriela Flores; e Soslaio, escrita por Priscila Gontijo. Atuou na montagem de Rosa de Vidro, escrita por João Fábio Cabral, sob direção de Ruy Cortez. Foi indicada ao Prêmio Shell de Teatro por suas atuações em Music-Hall, de Jean-Luc Lagarce sob direção de Luiz Päetow, e Gotas d’Águas Sobre Pedras Escaldantes, escrita por R.W. Fassbinder sob direção de Rafael Gomes.
JORGE EMIL
Atuou em mais de 30 espetáculos, entre eles Sonho de uma noite de verão e Ricardo III, de William Shakespeare (Prêmio Sesc/ Sated de Melhor Ator, em 2000); Gota d’água, de Chico Buarque e Paulo Pontes; Calígula, de Albert Camus; Educação sentimental do vampiro, de Dalton Trevisan; Avenida Dropsie, de Will Eisner; Temporada de gripe, de Will Eno; Equus, de Peter Shaffer; O beijo no asfalto e Vestido de noiva, de Nelson Rodrigues; Ludwig e suas irmãs, de Thomas Bernhard; Mantenha fora do alcance do bebê, Marte, você está aí? e Abra a janela antes de começar, de Silvia Gomez; e Uma espécie de Alasca, de Harold Pinter. Trabalhou nos filmes Batismo de sangue, de Helvécio Ratton, e Insolação, de Felipe Hirsch e Daniela Thomas. Publicou quatro livros de poesia.
MARCOS SUCHARA
Trabalhou com o diretor Ron Daniels no Repertório Shakespeare: Macbeth, Medida por Medida e Hamlet. Com Ulysses Cruz atuou em Macbeth, Péricles, Rei Lear e Hamlet de Shakespeare e Através de um Espelho de Ingmar Bergman. Com a diretora Mika Lins fez Dueto para Um e A Tartaruga de Darwin. Atuou em A Princesinha Medrosa com direção de Kiko Marques. Com o coreógrafo Sandro Borelli trabalhou nos espetáculos de dança Jardim de Tântalo, A Metamorfose, Kasulo, O Processo e Gárgulas. Com a diretora Renata Melo atuou em Passatempo. Estudou teatro com Myriam Muniz e Antunes Filho. É também professor de teatro no INDAC - Escola de Atores nas disciplinas de Expressão Corporal e Montagem Teatral.
ONDINA CLAIS
Atriz e diretora. Começou sua carreira como bailarina clássica na década de 80 e em 1990 ingressou no Grupo Macunaíma, dirigido por Antunes Filho, onde começou sua carreira de atriz. Dentre muitas montagens do grupo foi a protagonista de Toda Nudez Será Castigada no papel de Geni em 2012. Foi uma das protagonistas da montagem brasileira de A dama do mar dirigida por Bob Wilson. No Cinema fez Meu amigo Hindu de Hector Babenco, O filme da minha vida de Selton Mello, João, o maestro de Mauro Lima, entre outros ainda inéditos. Participou de séries na HBO, Netflix e GNT entre elas: O hipnotizador e Sessão de Terapia. Atuou no monólogo “K. I” que teve codireção de Marina Tenório e direção de Ruy Cortez com quem dividiu a direção de Punk Rock, último trabalho da Cia da Memória.
ROBERTA ESTRELA D’ALVA
É atriz-MC, diretora, pesquisadora e slammer. Membro fundadora do Núcleo Bartolomeu de Depoimentos que há 18 anos pesquisa a junção do teatro épico com a cultura hip-hop, e do coletivo Frente 3 de Fevereiro onde desenvolveu ações simbólicas, produção de livros, documentários e investigações colaborativas acerca do racismo na sociedade brasileira. Formada em artes cênicas pela ECA-USP, mestre e doutoranda em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP. Foi comtemplada com o Prêmio Shell de melhor atriz por sua atuação em Orfeu Mestiço, uma hiphópera brasileira. É idealizadora do ZAP! Zona autônoma da Palavra, primeiro “poetry slam” (campeonato de poesia falada) do Brasil, e curadora do Rio Poetry Slam primeiro slam internacional da América Latina. Juntamente com Tatiana Lohmman dirigiu o premiado documentário SLAM: Voz de Levante. Publicou o seu primeiro livro Teatro HipHop, a performance poética do ator-MC, pela editora Perspectiva. É apresentadora do programa Manos e Minas da TV Cultura.
FICHA TÉCNICA Dramaturgia | ALEXANDRE DAL FARRA Concepção, dramaturgismo e encenação | RUY CORTEZ Elenco | GILDA NOMACCE (BLANCHE), JORGE EMIL (STANLEY), MARCOS SUCHARA (MITCH) E ONDINA CLAIS (STELLA) Participação especial | DENISE ASSUNÇÃO Intervenção Poética em vídeo (Dramaturgia de samples) | ROBERTA ESTRELA D’ALVA Poema “Eu tão Blues” | CLAUDIA SCHAPIRA Preparação de atores | MARINA NOGAEVA TENÓRIO Direção de produção | DANIELLE CABRAL Produção executiva | JESSICA RODRIGUES E VICTÓRIA MARTINEZ Assistente de pré-produção | FELIPE SAMURANO Cenografia | ANDRÉ CORTEZ E CAROL BUCEK Figurino | FABIO NAMATAME Iluminação | FÁBIO RETTI Trilha original, piano e música incidental | TOMAZ VITAL Sonoplastia | ALINE MEYER Vídeo | ALINE BELFORT E HAROLDO SABOIA Mapping | MARY GATIS Fotografia | EDSON KUMASAKA Assessoria de imprensa | ADRIANA BALSANELLI Redes Sociais | RENATO FERNANDES Obra projetada | RENATA DE BONIS, OBRA PÚBLICA PERMANENTE ELEVA-SE | DISTANTE DO SOLO — JARDIM VERTICAL, MOVIMENTO 90, MINHOCÃO, SÃO PAULO, SP (2016)
Assistente de projeto | JOÃO VASCONCELLOS Assistente de produção | LARISSA MATHEUS Operador de vídeo | LAURA DO LAGO Operador de luz | PATI MORIM Operador de som | ANDERSON FRANCO Contrarregra | FELIPE SAMURANO Cenotécnicos | ZÉ VALDIR E MARCELO ANDRADE Idealização | COMPANHIA DA MEMÓRIA Produção geral | DCARTE Produção de operações | CONTORNO PRODUÇÕES Administração e Contratos | EXEDRA ASSESSORIA AGRADECIMENTOS Jonas Rama, João Gustavo Rama Cabral, Maria Valentina Rama Cabral, Ailthon Takishima, Antunes Filho, Marisa Bentivegna, Marcos Pedroso, Izabel Cortez, Rafael Stenhauser, Érica Teodoro, Germano Melo, Sandra Cruz, Marat Descartes, Guilherme Marques, Michelli Valente, João Vasconcellos, Leticia Gonzalez, Lucienne Guedes, Giane Antonio Garetti, Pascoal Ferreira da Conceição, Tata Fernandes, Mônica Tarantino, Ricardo Muniz, Luiz Chagas, Patrício Lima, Joana Bill, Marc Andrade, Lili Diniz, Nivaldo e Otília Cabral, i9 hair & Spa, PRESIDENTA, LA PEJU e CASA PALCO.
DE 5 DE OUTUBRO A 4 DE NOVEMBRO DE 2018 Sextas e sábados, 21h. Domingos, 18h. Não haverá espetáculo no dia 7.10. Haverá sessão no dia 1.11, 21h. Duração: 90 min. Classificação: 16 anos
Sesc Ipiranga Rua Bom Pastor, 822 CEP: 04203-000 | São Paulo/SP Tel.: +55 11 3340.2000 /sescipiranga sescsp.org.br/ipiranga