julho e agosto/2018
espetáculos PRÓLOGO CANINO-OPERÍSTICO e DANAÇÃO
TEATRO MÍNIMO A proximidade entre artistas e público é a marca do projeto Teatro Mínimo, que parte de montagens de pequeno porte com foco em dramaturgia e interpretação.
PROGRAMAÇÃO ESPETÁCULO — PRÓLOGO CANINO-OPERÍSTICO
Prólogo Canino-operístico é uma experiência, um rito de passagem. Um ator experimenta a poesia em seu corpo para evidenciar o corpomundo. Neste longo poema, um cão enclausurado em um teatro é forçado a encenar algo sob os olhares da plateia e sem saber o que dizer, hesita entre o som e o sentido.
De 26/7 a 24/8. Quintas e sextas, às 21h30. Auditório. R$ 20,00 | R$ 10,00 (meia entrada) | R$ 6,00 (credencial plena). Não recomendado para menores de 16 anos.
ESPETÁCULO — DANAÇÃO
Um homem diante de uma plateia narra memórias do tempo em que viveu dentro do coração de uma mulher. Chegou despencando e lá conviveu com uma menina, que se escondia da morte. No entanto, nada parece estar evidenciado na memória do homem, empenhado no exercício de se lembrar. Por isso, ele se arrisca em inúmeras formas de contar.
De 28/7 a 25/8. Sábados, às 19h30. Domingos, às 18h30. Auditório. R$ 20,00 | R$ 10,00 (meia entrada) | R$ 6,00 (credencial plena). Não recomendado para menores de 16 anos.
OFICINA — POESIA: ESCRITAS DA VOZ
Com Carlito Azevedo, premiado poeta e editor. A oficina pretende estudar e explorar elementos do poema-emvozes, polifônico ou em monólogo, que fazem fronteira com o que no teatro sempre esteve mais próximo do lírico e do épico do que do drama: prólogos, monólogos e coros.
Dias 11 e 12/8, sábado e domingo, das 14h às 18h. Sala 5. Grátis. Não recomendado para menores de 14 anos. Inscrição prévia na Central de Atendimento.
Há muito sentido em apresentar esses trabalhos conjuntamente no projeto Teatro Mínimo. Eles são afirmações de um teatro independente, feito sem nenhum recurso, que ganha vida a partir de muito esforço coletivo. Aprendi com essas obras a acessar as origens do teatro a partir de muito pouco: um ator, imaginação e poesia. O desejo é alcançar a magia sem buscar o truque. Marcelo Castro
PRÓLOGO CANINO-OPERÍSTICO Em um cubo quântico, paradoxal, um cão narra, relata, dá testemunho. Por estar em um cubo quântico, não é limitado por unidade de tempo, ação ou lugar. Pode estar na Rússia revolucionária de 1917, ao lado da poeta russa Marina Tsvetaeva, e, sete pragas depois, em um subúrbio brasileiro qualquer de 2013, presenciando uma chacina. E o que ele late de dentro do corpo do ator-enquanto-jovem-cão é todo esse rol de palavras anti-respiratórias de que se enchem a boca e os pulmões, a cabeça e o coração, quando em situação de perigo, de inviabilidade, de recusa. Nosso duro presente. E o que ele late é o prólogo da ópera não-escrita, pois em um tempo impossível de ópera. Os prólogos, os monólogos, os coros, são tradicionalmente as lâminas nas quais o teatro relativiza o absoluto do drama, a ação-rio alavancada pelo diálogo, para flertar com o lírico, esse longo desenvolvimento de uma interjeição (Paul Valéry) e com o épico (esse ás na manga de Brecht). No seu prólogo, o cão flerta com o buraco. O buraco da origem, já que o “autor” não está lá, e o buraco do destino, que deixou de ser um conjunto de possibilidades infinitas abertas para ser uma ameaça cada vez mais próxima. E no entanto ele fala, fala, fala. Como quem resiste. Mas também como quem deseja criar outros buracos além daqueles dois, de origem e destino: criar buracos para a fuga. O macaco de Kafka, falando para uma Academia, dizia que não procurava mais a liberdade, apenas uma saída. E a saída foi virar homem. A imitação do homem foi esse buraco. No Prólogo Canino-Operístico, o primeiro buraco aberto foi o que permitiu a fuga do cubo de papel da página do livro para o cubo real do palco, fascinante metamorfose, investindo de muitos bichos e ritmos o corpo do ator, que com unhas, garras, olhos, focinho e dentes rasga tudo o que deve ser rasgado para chegar à saída fora de si. Ou, como escreveu mais sinteticamente Federico Garcia Lorca, o poeta espanhol assassinado por uma ditadura que queria, como todas, manter as coisas presas ao que são, sem ir além: Que esforço do cavalo para ser cão! Que esforço do cão para ser andorinha! Que esforço da abelha para ser cavalo! Carlito Azevedo
DANAÇÃO Danação é para mim um descortinar de inúmeros encontros. Antes de mais nada, com a dramaturgia do Raysner de Paula, que me convidou para fazer duas leituras públicas do texto no projeto Janela de Dramaturgia. A força poética das cenas e das palavras do Raysner me transportaram para um novo lugar de atuação, em que a solidão de um monólogo representou e continua a representar um grande desafio e risco. Uma estória entrecortada de lembranças, imaginações e delírios, com idas e vindas de alta carga poética que são construídas na intimidade com o público, se atualiza em cada nova apresentação em que o aqui e o agora do teatro me desafiam e me renovam. Construir junto ao público esta história em que amor e morte se entrelaçam de forma indissociável é, a cada dia, uma espécie de convocação, de enlace da magia do teatro com as pessoas. Outro encontro vivo e renovador aconteceu e acontece com Marcelo Castro e Mariana Maioline, artistas de uma geração mais nova, que vem fazendo um teatro extremamente vivo e que está sempre rompendo com a acomodação e as fórmulas. Uma geração que revitalizou a pesquisa e o teatro de grupo em Minas e no Brasil, cujo maior expoente foi o grupo Espanca!, do qual Marcelo é fundador e um dos alicerces, e Mariana participou de boa parte da sua história. Eduardo Moreira Os fluxos das palavras e dos desejos, atravessados pelas reverberações que as imagens criadas por Guimarães Rosa, Manoel de Barros, José Saramago e Valter Hugo Mãe deixaram em mim, deram forma a essa narrativa habitada por figuras ordinárias, entrelaçadas pela vida, pelo amor e pela morte. Em um tempo em que o empobrecimento da linguagem, do pensamento e das experiências é orquestrado explicitamente pelos podres poderes, espero que essas palavras todas que ganham corpo em torno de Danação sejam um contraponto a essa barbárie, uma chama, um gole de ar ou de coragem, dose de impossível, uma fresta cravada nessa parede opaca do embrutecimento, por onde jorre vida e alimente quem dessa nossa invenção experimentar. Raysner de Paula
FICHAS TÉCNICAS PRÓLOGO CANINO-OPERÍSTICO
Texto: Carlito Azevedo Colaboração Artística: Grace Passô Concepção e Atuação: Marcelo Castro Iluminação: Edimar Pinto Assessoria vocal: Ana Hadad DANAÇÃO
Elenco: Eduardo Moreira Direção: Marcelo Castro e Mariana Maioline Texto: Raysner de Paula Iluminação: Rodrigo Marçal
Sesc Ipiranga
Rua Bom Pastor, 822 CEP 04203-000 - São Paulo/SP Tel.: +55 11 3340 2000 /sescipiranga
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