setembro e outubro/2018
espetรกculo MEGERA DOMADA
TEATRO MÍNIMO A proximidade entre artistas e público é a marca do projeto Teatro Mínimo, que parte de montagens de pequeno porte com foco em dramaturgia e interpretação.
PROGRAMAÇÃO MEGERA DOMADA
Dois atores se revezam em todas as personagens – inclusive Catarina e Petruchio. Para além dos efeitos cômicos que esse carrossel de personagens produz, constrói-se um discurso paralelo ao de Shakespeare ao explicitar uma leitura que questiona o machismo e mesmo a misoginia da obra original, fruto de seu tempo. No corpo do ator e sua capacidade de mimese e comentário é que se encontram os fundamentos do espetáculo. Recursos visuais e sonoros apenas apoiam o jogo, sem se sobrepor a ele.
De 14/9 a 14/10*. Sextas, às 21h30**. Sábados, às 19h30. Domingos, às 18h30. Auditório. Livre. R$ 20,00 (inteira) R$ 10,00 (meia entrada) R$ 6,00 (credencial plena) * Exceto dias 30/9 e 7/10
** Sessão extra 5/10, às 14h30
PRÓLOGO Shakespeare escreveu 38 peças – e só um prólogo. E foi exatamente na Megera Domada. Ainda que pudesse preceder praticamente qualquer uma de suas comédias, o fato de pertencer a esta deve significar algo. As duas cenas se passam numa taberna e na casa de um Lorde. Christopher Sly, identificado pelo autor como funileiro na lista de personagens, está bêbado numa taverna, recusa-se a pagar, briga com a dona do estabelecimento e dorme ali mesmo. Um Lorde (sem nome) chega ao local, conversa sobre seus cães, a quem tanto ama, e ao se deparar com o bêbado desacordado, prepara uma brincadeira. Manda que o levem a sua casa, vistam-no com suas roupas, façam um menino se passar por sua mulher (como se dava no teatro da época, em que mulheres não podiam atuar) e que, ao acordar, convençam-no de que é um nobre e que vai assistir a uma peça de teatro. Assim se dá. Tal peça é A Megera.
Fotos: Alexandre Nunis
O que significa tal apêndice? Algo que também está em Hamlet, A Tempestade, Sonho de uma Noite de Verão e praticamente em todos seus textos: que a vida é uma representação. E só tendo consciência disso é possível crescer. Ou ao menos, sobreviver. Ontem, como hoje.
MEGERA DOMADA Megera Domada é tido como um dos textos mais machistas e misóginos do cânone. Sem deixar de ser uma obra prima. Trabalhá-lo, nos beligerantes dias que correm, é algo que exige muita responsabilidade. As lutas identitárias ganharam lugar central na sociedade e na política atuais. Não são mais apenas “reivindicações de minorias”, mas sim a demanda organizada da maior parte da população – mulheres, negros, índios, as comunidades LGBTQIs e outros segmentos – que assumiu a necessidade de trabalhar simultaneamente as demandas específicas de seus grupos e as questões mais gerais, ligadas às classes, à política tradicional e projetos econômicos. Na prática, isso significa reconhecer o caráter estrutural de tais demandas, no contexto de um país que precisa enfrentar sua própria mentalidade se pretende evoluir em qualquer sentido. Catarina e Petruccio são personagens de comédia, feitos para criticar o comportamento humano a partir do riso. Não sabemos se o público elisabetano ria das mesmas coisas que nos fazem rir hoje. Mas sabemos que as mesmas questões que os movem ainda subsistem entre nós. Afinal, amar e ser amado ainda é um objetivo comum a todos. E as tensões entre as relações públicas e as privadas nunca estiveram tão exacerbadas. Revisitar esse texto nos permite repensar, em cena, o feminismo, o machismo e tudo aquilo que numa relação a dois permanece para sempre inclassificável. Megera Domada é uma leitura possível do original shakespeariano. Os dois se amam e apenas fingem a relação de dominação quando diante dos outros. Seguimos a interpretação de autores como Harold Bloom, que em Shakespeare, a Invenção do Humano, afirma “Sua realidade final e compartilhada é uma espécie de conspiração contra o resto de nós: a Petruchio é permitido permanecer arrogante, e Kate vai mandar nele e na casa, para sempre a interpretar seu papel de megera domada. (...) A perpétua popularidade (da peça) não deriva do sadismo masculino, mas da excitação sexual que provoca em homens e mulheres.” Excitemo-nos e reflitamos todos – pensar e amar ainda são as melhores armas. Aimar Labaki
Fotos: Alexandre Nunis
FICHA TÉCNICA Direção, Tradução, Dramaturgia e Trilha Sonora Aimar Labaki é dramaturgo, diretor, tradutor, roteirista e ensaísta. Dirigiu, traduziu e fez a dramaturgia de espetáculos como Prego na Testa de Eric Bogosian, com Hugo Possolo; A Graça da Vida de Trish Vrademburg, com Natália Thimberg, Graziela Moretto e Clara Carvalho e Zibaldoni de Giacomo Leopardi, com Adriana Londoño e Clovys Torres. Elenco Agnes Zuliani transita com igual desenvoltura pela comédia, pelo drama e pelo teatro contemporâneo. Já trabalhou com Maria Alice Vergueiro, Ary França (indicada ao prêmio Shell de melhor atriz), Elias Andreatto, William Pereira, Eric Lenate e muitos outros. No humor tornou-se conhecida no elenco da Terça Insana, vivendo tipos que criou como a Mal Amada, Carlota Joaquina e a Senadora Biônica. Rogério Brito, ator formado pela EAD – Escola de Arte Dramática da USP -, indicado ao Prêmio Shell de Teatro e premiado no cinema, o ator acumula diversos trabalhos com os mais renomados profissionais de teatro, cinema e TV. Seu último trabalho é a peça 1984, direção de Zé Henrique de Paula, no teatro Anchieta, Sesc Consolação.
Fotos: Beto Amorim
Produção e assistência de direção: Mariana Leme Direção de movimento, preparação corporal e fotos: Beto Amorim Cenário e figurino: Anne Cerutti Assistência de cenário e figurino: Adriana Barreto Iluminação: Carlos Baldim Visagismo: Eliseu Cabral Operação de som: Paulo Akio Operação de luz: Stella Politti Estágio de produção: Isabel Nigri Realização: Thara Theatro Agradecimentos: Cibele Álvares Gardin, Alexandre Brasil, Valdir Rivaben, Oficina Cultural Oswald de Andrade, POIESIS, Maria Elisa Pessoa Labaki, Vivien Buckup, Marichilene Artisevskis, Duda Arruk e Murillo Carraro.
Fotos: Alexandre Nunis
Sesc Ipiranga
Rua Bom Pastor, 822 CEP 04203-000 - São Paulo/SP Tel.: +55 11 3340 2000 /sescipiranga
sescsp.org.br/ipiranga