Revista E | junho/2021

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Arriscar é preciso CANTORA E COMPOSITORA CELEBRA QUATRO DÉCADAS DEDICADAS À AVENTURA DE VIVER A MÚSICA

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aratonista nas horas vagas, a cantora e compositora Zélia Duncan não perde o fôlego diante dos obstáculos do isolamento social. A artista festeja 40 anos de carreira e ainda lança um novo álbum, Pelespírito (2021), fruto de um encontro musical com o poeta e produtor pernambucano Juliano Holanda, com quem compôs todas as faixas durante a pandemia. “Gravei eu mesma 15 vozes de 15 músicas novas nesse período. Então, para mim está sendo produtivo, mas ao mesmo tempo superangustiante”, desabafa. Inquieta e curiosa, Zélia não ficou presa à imagem de “cantora pop” ou de quaisquer outros gêneros musicais. Pelo contrário. Ela mergulha com a mesma intimidade na poesia de Itamar Assumpção, de Luiz Tatit, de grandes compositores do samba e até mesmo nas ondas do rock psicodélico dos Mutantes. Ativa nas redes sociais, seja em bate-papos que ela realiza no próprio perfil, seja nas lives na qual apresenta repertórios afetivos, como em sua participação no #SescAoVivo no canal do YouTube do Sesc São Paulo, Zélia concluiu na pandemia um curso de teatro na Casa das Artes das Laranjeiras. Ninguém consegue parar Zélia, que demonstra aos 56 anos: o segredo da longevidade é ser uma eterna aprendiz.

AOS MESTRES

Itamar Assumpção é um dos meus maiores ídolos. Eu tive a honra de me aproximar e ficar amiga dele. Ao todo eu já gravei 25 músicas do Itamar. Até um álbum emblemático meu, Eu Me Transformo em Outras, onde canto choros, sambas, homenagem a outras cantoras, esse álbum eu abro com uma música do Itamar. Então, ele está sempre na minha vida. Aí uma hora eu parei e me dediquei a fazer um álbum inteiro para ele (Itamar Assumpção – Tudo Esclarecido, 2012), isso foi muito natural para mim. Havia músicas inéditas, porque tenho acesso a Anelis, a Alice Ruiz, que me deram músicas inéditas. Eu queria trazer o Itamar para

ZÉLIA DUNCAN esteve presente na reunião virtual do Conselho Editorial da Revista E no dia 20 de abril de 2021.

uma coisa mais popular, porque o Itamar tem, injustamente, essa fama de “maldito”, e a música dele não merece isso. Imagina o que Itamar não enfrentou neste país racista, neste país onde existe toda uma elite cultural, e ele era um artista, além de popular, extremamente genial. Depois veio o Luiz Tatit, veio o Totatiando (2014), e os dois foram lançados no Sesc São Paulo. O Totatiando foi bem teatral, quando eu quis voltar a fazer coisas teatrais, até porque no comecinho eu fiz escola de teatro. E o Milton (Nascimento) foi bem diferente, participei de um projeto idealizado pelo André Midani, chamado Inusitado, para fazer coisas que você nunca tinha feito – mas eu vivo fazendo coisas que eu nunca fiz. Resolvi homenagear um autor, só que sem instrumento de harmonia; então, eu escolhi o Milton, que está muito na minha formação de garota, e convidei Jaques Morelenbaum. Então, Invento + (2017) era um show de cello e voz e mais nada, cantando Milton. Essa formação era tão inusitada e

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