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Limites transponíveis
Demarcar fronteiras pode ter diferentes impactos e motivações. Servindo a fins diversos, as delimitações podem auxiliar na observação e conhecimento de certa realidade, permitindo deter-se em aspectos confluentes para uma constituição territorial. Tal proximidade instiga olhares mais detalhados, cuja imersão propicia entendimentos de como algumas relações se estabelecem, tanto dentro de uma mesma localidade quanto dela com seu entorno.
Conhecer as peculiaridades de um território pode facilitar uma conexão com ele e com seus habitantes. Saberes que uma vez divulgados corroboram para o pensamento acerca de comunidades distintas, embora próximas geograficamente, permitindo a um número maior de pessoas um contato mesmo que indireto.
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Nessa perspectiva insere-se o projeto Cartografias de Ação e Desenvolvimento Social. A partir de um olhar regional, pesquisadores, educadores, coletivos e lideranças debatem questões socioculturais, com o intuito de pensar realidades e fenômenos em sua complexidade e dinâmicas específicas.
Em parceria com pesquisadores da Universidade Federal do ABC, a primeira edição do projeto aborda a temática indígena, com questões como o fortalecimento das culturas originárias, o direito à terra e à educação. O recorte espacial foi a comunidade de Guyrapaju, terra indígena Tenondé Porã, localizada em São Bernardo do Campo e habitada por membros da etnia Guarani.
Desta forma, ao propor atividades que estimulem maior conhecimento das diversidades presentes em sociedade, o Sesc mantém seu compromisso com a difusão de saberes, colaborando para a formação de indivíduos cientes de fronteiras que podem ser transponíveis.
Sesc São Paulo
Diversidade cultural — povos indígenas
Considerar a diversidade cultural que caracteriza o Brasil é já colocar em primeiro plano a importância do reconhecimento dessa diversidade como primordial para o viver junto. Reconhecimento, aqui, em sentido estrito, significa a aceitação da legitimidade da diferença, que repousa, também ela, em uma afirmação de identidade(s), a qual não é rígida, estanque ou homogênea, como se pensa ou se afirma usualmente. Trata-se ainda da garantia de uma esfera pública em que cada sujeito possa se expressar, tendo a palavra e marcando a participação política nos termos do regime democrático, de um lado, e da afirmação de cidadania, de outro. De igual modo, o respeito é a chave para o viver junto, o respeito à cultura que cada grupo humano carrega em si.
Reconhecimento e respeito, lado a lado, formam as vias de comprometimento com a diversidade e, ao mesmo tempo, deixa consciente o direito e a liberdade fundamentais de cada indivíduo, povo ou grupo à construção de sua identidade cultural, livre de formas de dominação econômica, ideológica ou quaisquer que sejam e que o excluem de uma vida digna. Reconhecimento e respeito, enfim, como valores humanos. Participa-se, desta forma, de um processo de reconstrução simbólica do Brasil como comunidade multicultural e plural, reconhecendo e respeitando as diferenças.
Como parte do Programa Diversidade Cultural do Sesc SP, encontra-se o trabalho junto aos Povos Indígenas, que tem por objetivo valorizar e difundir a diversidade cultural desses povos no Brasil, especialmente por meio de atividades que suscitem espaços de protagonismo para os indígenas — provenientes tanto de aldeias, comunidades e Terras Indígenas, quanto de contextos urbanos —, bem como pela produção de conteúdos (livros, filmes e materiais gráficos) com finalidades educativas.
Debruçar-se sobre os modos indígenas de fazer política e lutar por seus direitos possibilita não somente que o público tenha contato
com a alteridade e a diversidade relativas a diversos povos, mas principalmente que perceba os indígenas como ativos cidadãos brasileiros, potentes defensores de direitos que visam à construção de uma sociedade mais equitativa e democrática. Assim, as unidades do regional desenvolvem atividades que compreendem basicamente três modos de aproximação e sensibilização do público com as questões indígenas: apresentações — manifestações culturais, rituais, filmes, apresentações artísticas (teatro, dança, performances, exposições etc.), atividades formativas (bate-papos, palestras, rodas de conversa, cursos, seminários etc.), vivências, oficinas, sensibilizações, aulas abertas e momentos de convivência entre sujeitos diversos.
Além das ações programáticas, o Sesc São Paulo produziu uma tecnologia social chamada “Documento de Identidade Cultural”. A metodologia tem como foco etnias indígenas, povos e comunidades tradicionais. Propõe revitalizar traços importantes da cultura desses povos, instrumentalizando-os para um posicionamento como demadantes da luta por direitos coletivos e fortalecendo sua noção de pertencimento. Desenvolvida como uma construção coletiva, fundamenta-se no relacionamento, na escuta, no protagonismo da comunidade, no diagnóstico participativo e na definição conjunta da principal demanda local. O objetivo é promover a ressignificação simbólica e documentar variadas formas de manifestação cultural, rituais, culinária, jogos, tradições, crenças e costumes.
Por meio de uma fecunda parceria com a Universidade Federal do ABC, Cartografias de Ação e Desenvolvimento Social é mais uma das ações do Programa Diversidade Cultural do Sesc SP, na medida em que destaca a resistência cultural dos Guarani Mbya da aldeia de Guyrapaju, localizada na região pós-balsa de São Bernardo do Campo (SP), à margem da represa Billings, na Terra Indígena Tenondé Porã.
Marina Herrero Assistente Técnica da Gerência de Estudos e Programas Sociais