www.sfeditora.com.br - Ano III - Edição 4
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A força vital para as suas máquinas.
Deixe-nos lhe mostrar que produtividade, eficiência econômica e estabilidade do processo são fatores que dependem, criticamente, da escolha e da qualidade do seu fluido de usinagem. Nossos especialistas em usinagem ajudam você a capitalizar totalmente o potencial de suas máquinas e ferramentas e transformar seu fluido de usinagem em um fator chave de sucesso – uma Ferramenta Líquida.
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11
16
CONTEÚDO
33
ABRIL 2021 - NÚMERO 04
COLUNAS
06
Editorial
Entre Passado e Futuro não há Choque, há Conhecimento
Ligação com chapas tangenciais
Talvez nunca na história moderna o profissional de engrenagens
CAPA
e transmissões tenha sido tão questionado quanto ao seu futuro. A mobilidade elétrica e a indústria 4.0 reestruturam a lógica de desenvolvimento do produto e de manufatura do nosso setor.
EVENTO
07
The Brazilian Gear Conference ITA-WZL 2021 (BGC21) A próxima edição do evento “The Brazilian Gear Conference ITA-WZL” (BGC21) foi recentemente anunciada para os dias 9 e 10 de novembro de 2021.
INFORMATIVO TÉCNICO
08
EQUIPE DE EDIÇÃO SF Editora é uma marca da Aprenda Eventos Técnicos Eireli (19) 3288-0437 Rua Ipauçu, 178 - Vila
O que é importante para o tratamento térmico do seu setor?
Marieta, Campinas (SP)
O tratamento térmico é um processo amplamente aplicado em
www.aquecimentoindustrial.com.br
muitos setores da indústria. Um deles é o setor automotivo que utiliza tratamento térmico para fabricar engrenagens, rolamentos, eixos, anéis ou luvas.
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Udo Fiorini Publisher udo@sfeditora.com.br • (19) 99205-5789 Mariana Rodrigues Redação Diagramação marianar205@gmail.com • (19) 3288-0437 André Júnior Vendas andre@grupoaprenda.com.br • (19) 3288-0437
As opiniões expressadas em artigos, colunas ou pelos entrevistados são de responsabilidade dos autores e não refletem necessariamente a opinião dos editores.
4 ABRIL/2021
Revista Engrenagens
CONTEÚDO
ABRIL 2021 - NÚMERO 04
ARTIGOS
11 16 33 37
Economia de Tempo, Qualidade Aprimorada, Maior Disponibilidade do Sistema por meio de Cadeias Produtivas Integradas Martin Witzsch - Kapp Niles; Coburgo, Alemanha A produção de alto volume exige qualidade superior com tempos de processamento cada vez mais curtos. As máquinas já são tecnicamente muito avançadas. Engrenagens de Anel (Girth Gears) e seus desafios (PARTE 1) João Ignacio Ibañez O presente trabalho é focado em apreciações sobre transmissões por Engrenagens de Anel e seus respectivos pinhões. Serão enfatizadas possibilidades de seu dimensionamento o que inclui, apreciações sobre materiais , sua qualificação metalúrgica e tratamentos térmicos. Engrenagens 4.0: As Super-engrenagens na Indústria Automotiva do Futuro Lucas Robatto - ITA; São Paulo, Brasil O contexto atual reúne uma tendência aceita, embora não efetivamente compreendida, de Indústria 4.0, e uma ampla incógnita ao redor da concepção do “novo normal”. Frente às mudanças, a capacidade de se adaptar é fundamental não só para as espécies, mas também para as organizações. Mobilidade Elétrica e as Altas Reduções de Velocidade: Spiroid® e Helicon® Antonio Gallinucci - Engrecon. A primeira vez que li sobre Spiroid foi em 1981, no curso de engenharia. Estudando o “Gear Handbook” do famoso Darle W. Dudley, deparei-me com essa preciosidade.
ÍNDICE DE ANUNCIANTES Página
Empresa
Contato
2ª capa
Blaser
www.blaser.com
4ª capa
Kapp Niles
www.kapp-niles.com
3ª capa
Metalurgia
www.metalurgia.com.br
página 7
The Brazilian Gear Conference ITA-WZL 2021
www.bgc21.ita.br
página 8
Seco Warwick
www.secowarwick.com
Portal Aquecimento Industrial
www.aquecimentoindustrial.com.br
2ª capa, 6, 36, 39
Revista Engrenagens
ABRIL/2021 5
EDITORIAL
ENTRE PASSADO E FUTURO NÃO HÁ CHOQUE, HÁ CONHECIMENTO
O
nobre convite do Udo Fiorini para a elaboração
integradas. O olhar nos anos 80 e 90 para os resultados
deste editorial carrega a essência deste texto.
da filosofia CIM (Computer Integrated Manufacturing) já
Profissional de carreira sólida e reconhecida,
nos mostrou que manufatura avançada deve ir além de
Udo sempre mostrou incansável obstinação em
soluções de tecnologia. É preciso uma mudança cultural
disseminar conhecimento. A mim, cujo futuro ainda
e baseada na descentralização de decisões, para a qual
se desenha como uma longa estrada norteada por
apenas o conhecimento dos efeitos dentro de uma cadeia
inspirações como a da carreira dele, a aceitação era óbvia.
integrada é possível.
Principalmente após ter acesso ao conteúdo dessa edição.
Nessa edição, o leitor irá desfrutar do melhor do
Talvez nunca na história moderna o profissional de
encontro entre desafios e lições aprendidas. Afinal, entre
engrenagens e transmissões tenha sido tão questionado
passado e futuro não há choque, há conhecimento.
quanto ao seu futuro. A mobilidade elétrica e a indústria
Tenha uma boa leitura!
4.0 reestruturam a lógica de desenvolvimento do produto e de manufatura do nosso setor. Estariam essas
Ronnie Rego atualmente é pesquisador do Centro de
tendências disruptivas realmente bombardeando nossas
Competência em Manufatura (CCM-ITA), onde lidera a criação
carreiras, ou seriam elas um impulso sem precedentes?
do Grupo de Inovação em Engrenagens (GIE) e a aliança de
O artigo de meu colega Lucas Robatto convida à
pesquisas Engrena ITA
reflexão. A mobilidade do futuro vai além da propulsão elétrica. Ela é compartilhada, servitizada e, quem sabe, autônoma. Engana-se aqui, como mostra o texto, aquele que conclui que engrenagens não terão papel relevante nesses veículos. Certamente, a disrupção causa incerteza. Mas a etimologia da incerteza nos leva à incapacidade de decisão
Anuncie sua empresa no
e, portanto, a um desafio! Sair das soluções triviais e buscar as mais diversas alternativas, entre as quais, deixar o passado inspirar o futuro. Antonio Gallinucci, em seu artigo, vai de forma brilhante a 1954 resgatar o conceito das engrenagens Spiroid e Helicon. No texto de
aquecimentoindustrial.com.br
João Ignácio Ibañez, o leitor é remetido ao século XVII para o início de uma análise detalhada sobre engrenagens de anel. Ambas soluções convergem justamente em um dos maiores desafios desses veículos do futuro: a elevada densidade de potência. Ao leitor já ávido para interromper esse editorial e mergulhar nos artigos, há ainda mais! A edição o trará para apreciação do futuro da manufatura de engrenagens. O texto de Martin Witzsch vai no cerne da concepção de Indústria 4.0 ao abordar cadeias produtivas 6 ABRIL/2021
Revista Engrenagens
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Novidades
EVENTO
THE BRAZILIAN GEAR CONFERENCE ITA-WZL 2021 (BGC21) A próxima edição do evento “The Brazilian Gear Confe-
confirmação da realização do evento no maior audi-
rence ITA-WZL” (BGC21) foi recentemente anunciada
tório do Parque Tecnológico de São José dos Campos.
para os dias 9 e 10 de novembro de 2021. O BGC21 é
Com capacidade para quase 1000 pessoas, o seu layout
uma das iniciativas de cooperação entre o ITA (Insti-
de assentos já foi cuidadosamente planejado para
tuto Tecnológico de Aeronáutica) e o WZL (Werkzeug-
respeitar as condições do Plano São Paulo. A área de
maschinenlabor – laboratório da Universidade RWTH
exposição tecnológica continuará como uma das gran-
Aachen, Alemanha).
des atrações do evento, agora organizada em ambiente
Ao longo de dois dias, o evento é planejado como
externo e ventilado, ainda assim coberto.
um espaço para o encontro e discussão ativa entre as
No mês de maio, a organização lançará o website
comunidades acadêmica e industrial atuantes no seg-
do evento (www.bgc21.ita.br), com informações mais
mento tecnológico de engrenagens. O público abrange
detalhadas sobre o evento, como inscrições e agenda
profissionais dos setores automotivo, aeronáutico,
de apresentações. A participação será disponibilizada
metalmecânico, eólico, de energia, entre outros. O
nos modos Ouvinte e Expositor. No caso de dúvidas,
objetivo do evento é o compartilhamento, entre meios
os interessados podem entrar em contato diretamen-
acadêmico e industrial, do conhecimento considerado
te com a organização, escrevendo para o endereço
como estado-da-arte em projeto, fabricação e testes
eletrônico bgc21@ccm-ita.org.br. As divulgações e
de engrenagens e sistemas de transmissão de potência.
atualizações, bem como uma prévia dos conteúdos
Nessa edição, especial atenção está sendo direciona-
que serão abordados podem ser acompanhados na
da às precauções necessárias para que o evento possa
página do Centro de Competência em Manufatura
ocorrer de forma presencial, mas segura. Destaca-se a
(CCM-ITA) no Linkedin.
Revista Engrenagens
ABRIL/2021 7
Novidades
INFORMATIVO TÉCNICO
Figura 1. Forno Seco Warwick CaseMaster Evolution
O QUE É IMPORTANTE PARA O TRATAMENTO TÉRMICO DO SEU SETOR?
O tratamento térmico é um processo amplamente
para endurecimento direto. A seleção desses fornos é
aplicado em muitos setores da indústria. Um deles é o
uma alternativa para fornos de têmpera com vedação
setor automotivo que utiliza tratamento térmico para
atmosférica, linhas contínuas e sistemas de múltiplas
fabricar engrenagens, rolamentos, eixos, anéis ou
câmaras. O tratamento térmico a vácuo totalmen-
luvas.
te automatizado atende aos requisitos da indústria
O mais importante para este setor é a confiabili-
automotiva moderna. O importante é o endurecimento
dade das soluções, sua eficiência e repetibilidade dos
uniforme e a redução da distorção, graças à regulagem
processos. Por isso, as soluções direcionadas a este
contínua do sistema de circulação de óleo, e a porta
segmento de mercado devem levar em consideração a
interna hermética garantem alta pureza do processo
necessidade de reduzir distorções, diminuir os custos
e dos elementos, enquanto baixas perdas de calor são
do processo, encurtar o tempo do processo, utilizar
obtidas graças ao isolamento térmico de amplo escopo.
uma cementação eficiente e eficaz e diminuir a emis-
Atenção especial deve ser dada a:
são de CO2. As principais soluções para este setor da indústria
CaseMaster Evolution – T (CMe-T), produto de 2020. Um forno a vácuo de três câmaras - garante o endure-
são os fornos a vácuo fabricados pelo líder em trata-
cimento econômico da camada externa com o uso da
mento térmico, SECO / WARWICK, fornos a vácuo da
tecnologia de cementação de baixa pressão e têmpera
linha CMe®, Pit-LPC® pit furnace e 4D® Quench® – um
com nitrogênio de alta pressão. O forno CMe-T pode
sistema inovador de tratamento térmico a vácuo pro-
substituir as linhas e geradores existentes usados para
jetado para têmpera de nitrogênio individual de peça
tratamento térmico em massa sob atmosfera protetora
única.
e têmpera a óleo, garantindo maior precisão e repeti-
CMe – é uma família de fornos a vácuo dedicada
bilidade do processo. A característica mais marcante
ao endurecimento semicontínuo por cementação
desta solução é a melhoria considerável da qualidade
a baixa pressão e têmpera a óleo ou gás, bem como
do processo, redução de custos graças à duplicação do
8 ABRIL/2021
Revista Engrenagens
Novidades
INFORMATIVO TÉCNICO
Figura 2. Forno Seco Warwick Pit-LPC
desempenho e maior flexibilidade de produção. Além
balho com a eliminação do uso de atmosfera inflamá-
disso, a exploração segura do forno CMe-T e o baixo
vel e explosiva. Além disso, obtemos alta uniformidade
impacto ambiental tornam-se cada vez mais importan-
do processo, resultando em melhor qualidade de cada
tes para os líderes do setor. Esta é uma das principais
detalhe da peça processada. Pit-LPC é uma solução ide-
razões pelas quais os fabricantes do setor automoti-
al para empresas que desejam aumentar sua capacida-
vo estão cada vez mais interessados no CMe-T como
de de produção sem a necessidade de adquirir equipa-
a solução preferida de tratamento térmico. No ano
mentos adicionais (um Pit-LPC garante a capacidade
passado, essa solução foi escolhida por um dos maiores
de até 3 fornos de atmosfera), ou economizar espaço
fabricantes de coolers.
de produção substituindo três máquinas por uma. En-
Pit-LPC (Forno Poço de Cementação a Baixa Pres-
quanto a tecnologia LPC em si é aplicada onde quer que
são) é um forno a vácuo para cementação em grandes
a cementação seja usada como um processo que melho-
profundidades de peças maciças ou longitudinais. Esta
ra as propriedades mecânicas de elementos e peças de
é uma alternativa à cementação a gás, que já atingiu o
máquinas, bem como sistemas de transmissão de força
máximo de suas possibilidades.
e movimento. Em suma, onde quer que os impulsiona-
O equipamento Pit-LPC garante a tríade de van-
dores incluam: redução de custos, eficiência, aumento
tagens, que atualmente é a mais importante para o
da qualidade e confiabilidade, flexibilidade de explora-
funcionamento das empresas manufatureiras: primei-
ção e ambientalismo. Esta tecnologia é especialmente
ro - redução de custos, segundo - aumento da produção
popular entre os fabricantes de elementos maciços ou
e por último zelo pela segurança e meio ambiente. E
longitudinais cementados como: engrenagens, rola-
tudo isso só é possível graças à execução do processo
mentos e outros elementos que requerem camadas de
no vácuo e em altas temperaturas. A solução de última
cementação espessas.
geração atende aos mais rigorosos padrões ecológicos, ao mesmo tempo em que aumenta a segurança do tra-
4DQ – resolve os problemas do dia a dia com o tratamento térmico presente no setor automotivo. Ele Revista Engrenagens
ABRIL/2021 9
Novidades
INFORMATIVO TÉCNICO
Figura 3. 4D Quench
melhora significativamente a precisão e a repetibili-
preparar a atmosfera do processo
dade dos resultados do tratamento térmico, ao mes-
- Segurança = sem atmosfera inflamável e explosiva
mo tempo que reduz os custos de produção. Assim, o
- Baixa emissão de calor e nenhuma poluição (CO e
sistema constitui uma alternativa moderna e atraente
CO2)
ao endurecimento por prensagem, eliminando todas
- Processo rápido de alta temperatura no vácuo
as falhas desse processo. 4D Quench é uma solução de
- Controle e redução da distorção de endurecimento
sistema de tratamento térmico a vácuo projetado para
- Automação total, integração com a linha de pro-
têmpera individual com nitrogênio de elementos de
dução
uma única peça de caixas de engrenagens mecânicas,
- Eliminação de acessórios para tratamento térmico
como engrenagens, eixos, anéis, luvas, etc. com cama-
e logística de materiais
da padrão e personalizada e através de aços endure-
- Eliminação de lavadoras e produtos químicos
cidos. Ele melhora significativamente a precisão e a repetibilidade dos resultados do tratamento térmico,
Com as soluções de vácuo SECO / WARWICK, todo
ao mesmo tempo que reduz os custos de produção. Ele
o setor automotivo está em condições de economizar
fornece aquecimento a vácuo seguido de têmpera de
bilhões de Euros anualmente. De acordo com análise
nitrogênio poderosa e uniforme, resultando em con-
efetuada sobre este assunto pelo Bremen Institut für
trole de distorção e redução com alta repetibilidade do
Werkstofftechnik, já em 1995, os custos dos ajusta-
resultado final.
mentos ascenderam a ca. 850 milhões de Euros anuais
A escolha das tecnologias mencionadas acima traz uma série de vantagens: - Sem efeito de oxidação intergranular (IGO – inter-
apenas na indústria automotiva e de transmissões e bilhões de Euros anuais no setor de rolamentos na Alemanha.
granular oxidation) - Redução da mídia necessária ao mínimo = economia
Revisão da tradução gentilmente efetuada por Combustol
- Economia de tempo, pois não há necessidade de 10 ABRIL/2021
Revista Engrenagens
Fornos, parceiro local da Seco Warwick no Brasil.
CONTEÚDO TÉCNICO
ECONOMIA DE TEMPO, QUALIDADE APRIMORADA, MAIOR DISPONIBILIDADE DO SISTEMA POR MEIO DE CADEIAS PRODUTIVAS INTEGRADAS
Por Martin Witzsch
A produção de alto volume exige qualidade superior com tempos de processamento cada vez mais curtos. As máquinas já são tecnicamente muito avançadas. Grandes potenciais de economia não são mais encontrados entre as técnicas de processamento, mas sim nos estágios precedentes e posteriores do processo, como set-up, medição e comunicação entre a máquina e o equipamento de medição. Portanto, Kapp Niles desenvolveu uma plataforma para unir e automatizar esses processos. Graças a padrões abertos como umati (interface universal de máquina-ferramenta) e GDE (Gear Data Exchange), ele funciona até mesmo em uma base de vários fornecedores.
E
xistem diferentes abordagens para aumentar
imaginar cadeias de produção integradas com o
ainda mais a eficiência dos processos de
mínimo de manuseio manual entre os elos da cadeia
produção, por exemplo, integrando o maior
quanto possível”, avalia Konstantin Schäfer, Chefe de
número possível de etapas do processo em uma
Gerenciamento de Produto. “Continuamos a evoluir de
máquina. No entanto, do ponto de vista técnico, isso é
um fabricante de máquinas puro para um fornecedor
muito complexo e inflexível e, portanto, não confiável.
de soluções.” Isso se torna evidente no crescente setor
É por isso que Kapp Niles opta por um caminho
de tecnologia de medição, Kapp Niles Metrology. Além
diferente: “Em vez de máquinas integradas, preferimos
disso, o portfólio existente está sendo otimizado para Revista Engrenagens
ABRIL/2021 11
CONTEÚDO TÉCNICO
Imagem 1. O processo de configuração virtual facilita a criação de um novo projeto
sistemas de produção que se comunicam entre si. Em
de processamento dentro de um projeto (Imagem
particular, através da nova plataforma de assistência
2). Essas sequências geradas podem ser usadas
KN, apoiando o usuário com o software do sistema de
para processamento automatizado, bem como para
controle, KN grind, desde a fase de planejamento do
sequências de configuração.
projeto até a produção.
A necessidade de teclas de função é substituída por um painel de controle com tela de toque. Todas as novas
KN grind, um Sistema de Controle Prático
gerações de máquinas apresentam este sistema de
Como parte da configuração relacionada ao projeto,
controle.
todas as opções de processamento necessárias são combinadas em um projeto de peça de trabalho. Com
Sem Compromissos de Segurança de Dados
a interface de usuário intuitiva passo a passo, dados
Em comparação com centros de produção altamente
concretos do projeto são coletados. Em um processo
automatizados, parece uma relíquia dos primórdios da
de configuração virtual, o usuário seleciona o tipo
industrialização se o pessoal de operação tem que andar
de engrenagem e as ferramentas adequadas de um
da sala de medição para a máquina para transportar
conjunto de componentes. Cada etapa é exibida em
relatórios de medição a fim de digitar manualmente
uma máquina convencionalizada (Imagem 1). A pedido,
os valores corrigidos. O fato de isso ainda ser praticado
a KN grind também oferece sugestões tecnológicas.
em um ambiente de alta tecnologia se deve aos padrões
Volker Zenker, gerente de desenvolvimento de software,
de segurança extremamente elevados de usuários,
explica: “Ao contrário das versões anteriores, os valores
como o ramo automotivo, que até agora contornaram
críticos ou incorretos são exibidos para o usuário. Um
a integração simples de dados. Além disso, o uso de
controle sequencial permite uma compilação direta
dispositivos USB é estritamente proibido. Outro fator
de fluxos de trabalho por meio de arrastar e soltar.
tem sido a falta de padrões de transmissão de dados
Isso é muito útil para processamento complexo, por
consistentes para permitir a integração segura de
exemplo, de peças de trabalho com várias posições
dados. É por isso que Kapp Niles desenvolveu soluções
12 ABRIL/2021
Revista Engrenagens
CONTEÚDO TÉCNICO que não requerem mais a instalação de software
máquina com muito pouco esforço. Como uma visão
invasivo e, portanto, permitem que os usuários
geral do conjunto geral do sistema, o KN assist usa o
mantenham o controle sobre seus dados o tempo todo.
formato de troca de dados aberto, como GDE (Gear Data
Konstantin Schäfer: “Este conceito não inclui nenhum
Exchange) e umati (interface universal de máquina-
serviço em nuvem.” Os aplicativos que vão além do
ferramenta), desenvolvido pela VDW em cooperação
controle direto da máquina são programados em
com parceiros do projeto. Isso permite a troca de
HTML5. Isso permite que o usuário os aplique tanto em
dados básicos de engrenagens / dentes, modificações,
computadores clássicos quanto em dispositivos móveis.
avaliações, etc. entre os fabricantes. Além disso, são exibidos os estados operacionais de todas as máquinas
KN assist: A foto maior – que também
da planta. Isso dá a cada usuário de cada local uma
se aplica a todos os fabricantes
visão geral da produção.
O resultado das considerações acima é a plataforma
Uma aplicação ainda mais complexa é o
de assistência KN. Graças à programação HTML5
gerenciamento de dados de todas as peças específicas
mencionada acima, o KN assist funciona sem
dos componentes, como ferramentas de fixação,
quaisquer requisitos de software adicionais em um
dressagem e retificação. Até agora, os dados dos
PC e dispositivos móveis finais semelhantes. Basta
componentes de configuração tinham que ser inseridos
o usuário acessar um único endereço na Intranet e,
manualmente na máquina para evitar a possibilidade
assim, ter acesso ao sistema por meio de seu navegador
de portadores de dados do fornecedor acessarem as
ou aplicativo.
áreas de produção. No futuro, códigos RFID ou 2D
A troca de dados ocorre por meio da interface padrão
serão anexados a rolos de dressagem, sem-fins ou
OPC UA (Open Platform Communications Unified
ferramentas de fixação que podem ser lidos pelas
Architecture), facilitando a comunicação máquina a
máquinas. Isso reduz consideravelmente o tempo de
Imagem 2. O controle sequencial permite uma compilação direta de fluxos de trabalho. Revista Engrenagens
ABRIL/2021 13
CONTEÚDO TÉCNICO configuração e permite que os componentes sejam claramente identificados. Locais de armazenamento, vida útil, ciclos de fixação ou atribuições a um projeto no planejamento podem ser convenientemente documentados dessa forma. Ao fazer isso, o tempo de resposta às solicitações de serviço e processos internos é reduzido. Tempos de Resposta Mais Rápidos para Solicitações de Serviço O cliente espera atendimento imediato em caso de solicitação de serviço ou mau funcionamento do sistema. No entanto, a cadeia clássica de mensagens é comparativamente lenta. Os operadores da máquina detectam um erro, notificam o Departamento de Serviço e descrevem o problema. O Departamento de Serviço então contata o fabricante; o último consulta dados adicionais - melhor cenário - por meio de um modem a ser ativado, no entanto, mais provavelmente por telefone. Ao fazer isso, as informações podem se
Imagem 3. Dispositivo de medição Kapp Niles KNM 2X para aplicações relacionadas à produção
perder ou as telas podem ser lidas incorretamente.
com um tempo de resposta de duas a quatro horas.
É assim que a primeira hora é gasta: convertida em
Isso pode ser feito, pois todas as informações, como
tempo ocioso, isso cria uma situação custosa. Além
números de comissão, padrões de erro, relatórios de
disso, o fabricante da máquina terá que primeiro
medição, etc., já são fornecidas junto com a solicitação
coletar, atualizar e analisar os dados. Uma transmissão
de serviço.”
convencional de dados via internet seria viável, porém, não é considerada segura pela maioria dos usuários.
Turbo para a Tecnologia de Medição
Kapp Niles tomou medidas corretivas para este
Conforme indicado anteriormente, o portfólio agora
processo: o cliente agora pode iniciar o contato no KN
também inclui máquinas para medições relacionadas
grind. Christian Füger, Gerente de Serviço de Vendas,
à produção, uma vez que uma economia significativa
descreve a opção: “A solicitação de serviço pode ser
de tempo também pode ser alcançada para o trabalho
iniciada por meio de um botão no visor da máquina ou
de acompanhamento dos processos de retificação.
por meio da interface web de qualquer dispositivo móvel
Durante o processo clássico, amostras aleatórias de
final. Isso permite que o gerente de serviço, operador
peças de trabalho teriam que ser retiradas da produção
ou planejador responda sem demora.” A solicitação de
para serem transportadas para a máquina de medição
serviço é enviada à Kapp Niles diretamente por meio
normalmente localizada em um salão diferente.
de uma conexão VPN certificada pela TÜV-IT. Dados
Dependendo da carga de trabalho, os resultados
de diagnóstico, arquivos de log, etc. da máquina em
geralmente estariam disponíveis cerca de 15-20
questão serão fornecidos ao cliente mediante liberação
minutos depois. Posteriormente, o relatório de medição
explícita, sem perda de royalties sobre o processo e os
teria que ser levado de volta à máquina para digitação
dados.
manual das correções. Para reduzir esses tempos,
Atualmente, o tempo de resposta gira em torno de
Kapp Niles recorre a vários fatores. As máquinas
12 horas. Em outros fusos horários sem representação
de medição também são projetadas para aplicações
local, 24 horas na pior das hipóteses. Christian Füger:
relacionadas ao produto. Eles podem prescindir de uma
“Nós nos esforçamos para um serviço de ponta a ponta
câmara climática (Imagem 3). Os eixos individuais
14 ABRIL/2021
Revista Engrenagens
CONTEÚDO TÉCNICO
Imagem 4. Medições em processo via “malha fechada”. Com a área verde escura, os valores de setpoint de deriva podem ser detectados e corrigidos, mesmo durante processos em andamento.
e a peça de trabalho são monitorados por meio de
de aumento de temperatura ou desgaste da ferramenta.
sensores para fins de compensação de temperatura.
Em comparação com a entrada manual, esses dados
As molas pneumáticas absorvem as vibrações. Ao
podem ser importados e analisados muito mais rápido e
fazer isso, a precisão da medição atende aos mais altos
com menos erros via OPC UA na retífica KN. Se um novo
padrões, mesmo em grandes volumes de produção.
resultado de medição for fornecido, o operador será
Gerhard Mohr, diretor administrativo da Kapp Niles
notificado e receberá sugestões de correção. Christian
Metrology, expõe os benefícios: “As máquinas podem
Graf, da Software Development, explica: “O que
ser acessadas livremente pelo operador por três lados
acontece aqui não é uma comparação pura entre ALVO
e, portanto, também são adequadas para carregamento
/ REAL. Pelo contrário, o operador recebe os valores
automatizado. Contra-suportes posicionáveis flexíveis
medidos preparados, o que lhe permite - com base na
são fornecidos para a medição de peças em forma de
sua experiência - decidir se e como irá intervir. Com
onda. Além disso, as máquinas podem ser convertidas
base no projeto, o rastreamento automatizado é outra
para uma nova peça em segundos com um sistema de
opção” (Imagem 4).
fixação de troca rápida.
No geral, as medidas descritas irão acelerar e
A automação também contribui pelo menos da
simplificar significativamente o fluxo de trabalho. O
mesma forma para a economia de tempo. A conexão
usuário obtém uma visão geral melhor do processo de
direta entre as máquinas de retificação e medição é
produção enquanto aproveita os vários benefícios da
conhecida como “circuito fechado” dentro do setor.
nova plataforma de software, mesmo em uma base de
A máquina de medição fornece dados não apenas na
vários fornecedores.
forma de relatórios, mas também como conjunto de dados GDE. Na primeira versão, essas são as variáveis de correção típicas (fHα, fHß, correção de comprimento
Por Martin Witzsch, jornalista, KAPP NILES,
de tangente / correção de passo) que mudam em caso
info@kapp-niles.com Revista Engrenagens
ABRIL/2021 15
CONTEÚDO TÉCNICO
ENGRENAGENS DE ANEL (GIRTH GEARS) E SEUS DESAFIOS (PARTE 1) Por João Ignacio Ibañez
1. Obejtivo: O presente trabalho é focado em apreciações sobre transmissões por Engrenagens de Anel e seus respectivos pinhões. Serão enfatizadas possibilidades de seu dimensionamento o que inclui, apreciações sobre materiais , sua qualificação metalúrgica e tratamentos térmicos. Como apoio ao tema capacidade de carga serão feitas considerações relativas à lubrificação destas engrenagens, ver Parte 2 na próxima edição.
2. Introdução/Generalidades
P
ossivelmente as atuais Engrenagens de Anel (EA)s tenham tido sua origem nas Rodas d’água medievais e nos Moinhos de trigo, típicos do
século XVII, usuais na Europa Central. A Figura 1, documenta uma dessas lembranças. Os séculos passaram, as engrenagens de madeira e respectivos dentes insertados foram substituídos por engrenagens metálicas e, os moinhos de trigo de então, substituídos por indústrias produtoras de cimento, mineradoras e tantas outras. Como exemplo a Figura 2 é o detalhe do acionamento de digestor de uma antiga instalação da indústria açucareira, na França. O movimento de rotação destes processadores é obtido por meio de dois tipos de transmissões. A primeira delas, inclui a denominada transmissão de comando central na qual, eixo de saida, de baixa velocidade, é conectado ao eixo do processador. A Figura 3 mostra o acionamento de um forno rotativo por meio de redutores planetários. Esta solução é geralmente usada em sistemas com mais de 6.000 kw de potência instalada. A segunda modalidade é a conhecida transmissão lateral, pois o eixo pinhão acionante é paralelo ao eixo do processador. Ou seja, é ainda a velha solução dos
Figura 1. Engrenagem de Anel em moinho do século XVII
moinhos de trigo da Europa Central. Na dependência das potências envolvidas utilizam-se transmissõs por
Como comentado anteriormente, o objetivo deste
corrente ou de contato, desde que a potência instalalada
trabalho é aprofundar o tema Engrenagens de Anel
não ultrapasse a 55kw. A Figura 4 esquematiza três
(AE), e respectivos Pinhões (P). O tema , transmissões
sistemas de transmissão.
terá coniderações em item específico
16 ABRIL/2021
Revista Engrenagens
CONTEÚDO TÉCNICO
Figura 2. Girth Gear istalada num difusor da indústria açucareira
As Figuras 1 e 2 tornam, evidente duas caraterísticas básicas destas (EA), mantidas apesar do decorrer
geradora de dentes deste tipo de engrenagem. Por outro lado, por serem do tipo aberto, não são
dos séculos. A primeira, são engrenagens de grandes
confinadas no interior de uma estrutura fechada que as
dimensões , a segunda, são engrenagens do tipo
protege de um ambiente mais agressivo; o que não deixa
abertas . Além, talvez, do interesse histórico, a Figura
deser um inconveniente no tocante a sua lubrificação e
2 demonstra uma grande engrenagem exposta e,
pricipalmente sua instalação.
por ser um projeto, possivelmente, dos anos 1960, a toda sorte de acidentes por falta de dispositivos de proteção; naquelas épocas segurança do do trabalho
3. Desenho Estrutural/Montagens
ainda era algo difuso e não rigidamnte regulamentado
Geralmente por seu tamanho avantajado, (EA) são
e fiscalizado. Na atualidade, as (EA ) são confinadas
estruturas compostas de dois ou mais segmentos;
no interior de carenagens que a protegem em relação ambiente, além proporcionarem segurnça em relação a acidentes. É interessante comparar as Figuras 2 e
Redutor planetário
3 no tocante aos graus de proteção, tanto do sistema
Redutor planetário
mecânico como, e, principalmente, em relação aos trabalhos executados nas proximidades. Quanto ao tamanho, ele é relativo, pois para o
Motor elétrico
fabricante de relógios , as engrenagens automotivas são
Forno rotativo
grandes. O tamanho é mais propriamento relacionado com as dificuldades que se apresentam durante sua usinagem, tratamentos térmicos, transporte, instalação e espaços necessários para sua fabricação. No caso de (EA)s, elas exigem instalções indústriais amplas e, acima de tudo, uma expertise única no seu desenvolvimento. A Figura 5 mostra o tamanho de uma
Figura 3. Acionamento central de forno rotativo Revista Engrenagens
ABRIL/2021 17
CONTEÚDO TÉCNICO
Figura 4. Sistemas de transmissão
tamanhos entre 12 e 14, ou mesmo, 16m de diâmetro
carregamento. Estimativas das deformações, ver Figura
não são raridades; poucas são as constituídas de uma
22 exigem análises mais sofisticadas, como processos
única peça , fundida ou forjada. Em realidade, (EA)s
de MFA.
segmentadas somente existem na sua forma integral
O tipo de montagem mais largamente empregado
em duas situações, a primeira durante sua usinagem,
corresponde ao acoplamento da (EA) a um flange
em especial, durante seu dentamento e a segunda, após
solidamente solidarizado ao moinho. Esta ligação por
sua montagem ou acoplamento na estrutura tubular do
flange é normalmente empregados em moinhos de
moinho ou forno.
operação sem aquecimento , como os semi autógenos ou
Tipicamente engrenagens com até 7m de diâmetro
de bolas. A Figura 8, salienta o detalhe da conexão com
são compostas por dois segmentos. Acima deste
flange.
limite, na dependência das instalações fabris dos seus
Em certos projetos, não raros, como nos
fornecedores, são usados de até 6 segmentos Alguns
acionamentos de fornos e secadores é necessário
outros fabricantes empregam até 16 segmentos. A
prever um isolamento térmico entre a ( EA) e a
Figura 6 é exemplo do transporte dos segmentos
estrutura tubular. Nestes casos são usadas chapas
constituintes de uma destas engrenagens.
tangenciais à superfície externa do forno e articuladas
Tradicionalmente, (EA) são desenhadas segundo,
na estrutura da engrenagem. Com esta técnica de
duas seções transversais: Seção Y e seção T. A Figura 7
acoplamento gera-se um espaço entre o forno e a
compara estas duas possibilidades. Segundo a ANSI/
engrenagem. A Figura 9 mostra o detalhe da ligação
AGMA 6114_B15, deformações estruturais ocorrentes
das chapas tangenciais e a Figura 10 documenta
nas seções transversais das engrenagens não são
o transporte de um segmento dotado com chapas
consideradas na determinação das suas capacidades de
tangenciais.
Figura 5. Geradora de dentes 18 ABRIL/2021
Revista Engrenagens
CONTEÚDO TÉCNICO 4. Tolerâncias Geométricas
desalinhamentos. No entanto, estes dispositivos têm
Como alertado anteriormente, (EA) segmentadas, se
capacidade limitada e não são pensados para atuar
tornam estruturas rígidas, somente quando ancoradas
como corretores de usinagens defeituosas ou incorretas.
firmemente nos processadores por elas acionadas.
Resumidamente, no projeto e fabricação de
Um dos desafios propostos por estas (EA)s está no
(EA)s identificam-se três sistemas de tolerâncias
fato desta infraestrutura não estar presente, na sua
geométricas. O primeiro deles aplica-se aos vários
integralidade, durante a fabricação da engrenagem;
processos de fabricação que definem a precisão e
assim, efeitos da gravidade ( as engrenagens são
as relações, entre as superfícies de referência e as
fabricadas na horizontal , mas a montagem final é
superfícies de montagem, bem como, a precisão
na vertical ) e forças desenvolvidas durante o seu
resultante no cilindro de referência da engrenagem. A
set-up em máquinas operatrizes, podem produzir
Figura 11 mostra o controle de centragem de uma (EA)
deformações elásticas apreciáveis capazes de
em função de superfície de centragem.
prejudicar, no mínimo, a facilidade de montagem e,
O segundo sistema de tolerâncias, de igual
no máximo, produzir batimentos radiais ou axiais,
importância, é o que especifica a precisão de instalação
não admissíveis. Tal desafio, evoca a necessidade de
da engrenagem quanto a excentricidades em relação ao
técnicas de fabricação e montagem regidos por sistemas
eixo da estrutura tubular.
específicos de tolerâncias geométricas. Seu objetivo
Exemplificando, os sistemas de tolerâncias acima
final é proporcionar uma precisão de montagem
comentados devem possibilitar que a engrenagem
capaz de justificar os fatores de serviço adotados no
segmentada seja ajustada e centrada em relação à
dimensionamento e projeto da transmissão. Uma
estrutura tubular de forma que seu eixo de rotação
decorrência desta última assertiva é a exigência das
coincida com eixo de rotação do equipamento.
superfícies de montagem das (EA)s serem fabricadas
Estes conjuntos de tolerâncias , são os normalmente
dentro de precisões maiores que as admitidas pelas
especificados pelos projetistas, uma vez que, ambos têm
tolerâncias tipicamente observadas, ou obtidas, durante
efeito direto sobre os fatores de serviço empregados,
a instalação. Em decorrência dos desvios observados
expectativas de vida e confiabilidade.
durante a montagem são previstos dispositivos
O terceiro sistema de tolerâncias é mais implícito
auxiliares de modo a compensar excentricidades e
e, por consequência, menos conhecido, no entanto, é o
Figura 6. Transporte de um segmento Revista Engrenagens
ABRIL/2021 19
CONTEÚDO TÉCNICO que viabiliza a utilização e emprego dos dois primeiros.
e as respectivas superfícies de junção , após sua
As tolerâncias afetas a este terceiro conjunto é o que
usinagem.
se poderia definir como o de rotina de fabricação ou
Após a ajustagem das diversas superfícies de junção,
tolerâncias internas. Elas são as relativas a precisão
os diversos segmentos são montados, constituindo-se
das máquinas operatrizes, set-up de máquinas e
assim, uma engrenagem que será, a seguir , usinada
ferramentas, controles intermediários e rotinas de
para a definição de superfícies de referência e
fabricação. Estas tolerâncias, quando formalmente
dentamento. A Figura 14 mostra o detalhe da ligação
definidas, passam a fazer parte de documentação, a
entre dois segmentos.
partir da qual se estabelece a rastreabilidade qualitativa do processo fabril . Infelizmente, mesmo dentro dos atuais sistemas de estandardização, frequentemente,
6. Materiais
estas informação acabam ficando na cabeça de alguns
6.1 Generalidades
poucos.
No tocante aos materiais empregados, (EA)s se enquadram em dois grandes grupos: fundidas em aço e/ou ferro fundido, (EAF), e em construções soldadas,
5. Ligação entre Segmentos/Juntas
empregando-se como matéria prima, aços forjados
A região mais solicitada da estrutura das (EA)s é
e/ ou laminados, ligados entre si por processos de
localizada nas imediações dos locais onde ocorre a
soldagem (EAS). Naturalmente, cada um destes grupos,
conexão entre os diversos segmentos. Ver Figura 12.
apresentam suas vantagens e desvantagens; pinhões
O desenho da junta deve proporcionar alinhamento
para o acionamento das (EA)s, majoritariamente, são
preciso e repetível entre os diversos segmentos,
fabricados em forjados.
especialmente, quanto o sequencial de dentes na região
Comparativamente aos grupos, anteriormente
da junta e garantia de não afrouxamento da ligação
referidos, não são raros os comentários sobre a
durante o processo.
menor confiabilidade ou resistência das engrenagens
Como elementos de ligação empregam-se, hastes
fundidas, em relação às forjadas. Tecnicamente,
roscadas em ambas as extremidades , pinos de
trata-se de um comentário com algum preconceito,
centragem e posicionamento, porcas e arruelas de
talvez discriminatório, mas muito conveniente,
pressão. A Figura 13 mostra segmentos da engrenagem
comercialmente, a quem se dedica à fabricação
Y
T Figura 7. Caraterísticas de seções Y e T 20 ABRIL/2021
Revista Engrenagens
Predominantemente empregada em engrenagens fundidas em aço ou ferro fundido. Proporciona grande rigidez torciona aos segmentos constituintes da engrenagem, bem como, excelente rigidez ao longo da largura do dente e bom apoio à região dentada. Extensivamente usada no acionamento de fornos rotativos
A seção T, menos rígida nas extremidades e mais resiliente em relação a desalinhamentos dos pinhões de acionamento; normalmente são adicionados reforços laterais ( mão francesa ) de modo a compensar deformações nas extremidades é dotada de reforços laterais para compensar as deformações nas extremidades. • Seção muito adaptável a construções soldadas
CONTEÚDO TÉCNICO de engrenagens forjadas. Engrenagens fundidas,
• As construções soldadas excluem a necessidade de
quando bem dimensionadas, desenhadas, fundidas,
modelos e permitem projetos mais customizados.
tratadas termicamente e usinadas com esmero, são
No entanto, o processo que envolve a qualificação de
tão resistentes e confiáveis como as demais forjadas.
ligações soldadas, quando se busca sua excelência,
O que pode variar é o tamanho e peso, em decorrência
é algo bastante demorado e dispendioso. Alguns
dos materiais e tratamentos térmicos empregados. Esta
fabricantes admitem que sua engrenagens soldadas
última decorrência não seria causa de preocupação
sejam mais caras que as correspondentes fundidas.
dado o tamanho avantajado caraterístico das (EA)s.
• A presença de inclusões não metálicas é um fato
Quanto a vantagens e desvantagens de um dos
sobejamente conhecido tanto em componentes
grupos em relação ao outro, apenas, pontuam-se fatos,
fundidos como em forjados. O fato é que estas inclusões,
possivelmente, úteis numa tomada de decisão.
quando do trabalho a quente do produto, se alinham
• Forjados e laminados, praticamente, não apresentam
segundo a direção em que o processo é executado o que
macro defeitos superficiais como bolhas fissuras a
confere aos materiais forjados e laminados um certo
quente, rechupes e inclusões de areia, mas podem
grau de anisotropia. A prática tem demonstrado que a
apresentar falhas internas somente dectetadas por
resistência de um aço é maior no sentido da laminação
ensaios com partículas magnéticas ou ultrasom .
que no sentido normal ao de laminação.
Adicionalmente, forjados têm estrutura metalúrgica
• Os fundidores preconizam que o processo de
de granulação mais fina o que lhes confere melhores
fundição é mais vantajoso em peças de geometria mais
propriedades mecânicas e maior resistência ao impacto.
complexa. Neste particular, o processo de fundição se
Guarda fixa de proteção
Engrenagem de anel
Flange de Ligação com Moinho
Figura 8. Montagem por flange Revista Engrenagens
ABRIL/2021 21
CONTEÚDO TÉCNICO 6.2 Engrenagens Fundidas Desde longa data, o ferro fundido, nas suas diversas especificações e, dadas, suas excelentes propriedades de fundição, foi empregado, com sucesso, na fabricação das (EAF)s. Modernamente ,ferros fundidos com grafita lamelar, são preteridos em favor dos ferros fundidos com grafita nodular. Mais recentemente são empregados os ferros fundidos nodulares austemperados ; os denominados ADI. Como aços fundidos buscam-se materiais de alta
Figura 9. Ligação com chapas tangenciais
confiabilidade na resistência à fadiga , capacidade de desenvolver estruturas metalúrgicas homogêneas durante os tratamentos térmicos, seguintes a desmoldagem, boa resistência ao desgaste, usinabilidade garantida e carbono equivalente suficientemente baixo para viabilizar eventuais soldagens de caráter corretivo. Ou seja, procura-se obter um verdadeiro aço para engrenagens que , para a aplicação específica, está bastante distante dos aços fundidos preferidos pelos fundidores. A Tabela 1 relaciona alguns aços fundidos ligados de emprego usual. Quanto aos ferros fundidos, são de emprego
Figura 10. Transporte de segmento e placas tangenciais
frequente os nodulares GGG70 ou GGG80 (especificação DIN), tratados para durezas superficiais, nos flancos tradicionalizou em engrenagens de seção Y. A Figura 15,
dos dentes, de até 320 BHN. Mais recentemente são
exemplifica uma comparação entre soluções fundidas e
especificados os denominados ADI (Ausferritic Dúctil
conformadas através ligações soldadas
Iron) ,ou Nodular austenetizado.
• Na prática, o que realmente importa é a existência fornecedores especialista na construção fundida
6.3 Construções soldadas
e outros nas construções soldadas, e ambos, de
Conformadas a partir de anéis forjados ou placas de aço
experiência e renomada reputação internacional.
laminado e conformado por calandragem. Usualmente
Tabela 1. Aços fundidos baixa liga
ESPECIFICAÇÕES
PROPRIEDADES MECÂNICASS
G34CrNiMo6 G34CrNiMo4 GS35CrMo4 GS34CrMo4 SC 4140 ASTM A915/A 915M-13 SC 4340 ASTM A915/A 915M-13 22 ABRIL/2021
Revista Engrenagens
Valores mínimos de Resistência à Tração e Dureza, ver item relativo a qualificação metalúrgicana
CONTEÚDO TÉCNICO são empregados como placas de baixo carbono as de especificação europeia S235 JR (St 37-2 ou 10037 segundo DIN , AFNOR E24-2). Como aço ligado 42CrMo4. 6.4 Pinhões Normalmente em aço forjado com tratamentos térmicos de, beneficiamento ( têmpera e revenimento), têmpera superficial por indução ou cementação com têmpera e revenimento. Na dependência da microestrutura a Tabela 2 sugere valores de dureza esperada par alguns materiais de emprego usual. 6.5 Qualificação Metalúrgica A publicação ANSI/AGMA 6114-B15, no item 13,
Figura 11. Emprego de superfície de referência para centragem da (EA)
define valores de tensões admissíveis dependentes de requisitos específicos no concernente a estrutura metalúrgica. Estes, abrangem itens como: Tipo de
A publicação acima especificada, qualifica dois graus
matéria prima , Tamanho de grão austenítico,
de resistência, M1 e M2 e os níveis de resistência são
Temperabilidade, Limitações ao percentual de
definidos em função da dureza, conforme como segue:
elementos de transformação superior, Limitações
• Aços normalizados e/ou beneficiados: 160 a 375 HB.
quanto a inclusões não metálicas; nos Ferros Fundidos,
• Ferro fundido nodular: 150 a 340 HB
nodularidade, percentual de nódulos e, para todos
• Ferro fundido ADI: 280 a 350 HB
materiais ensaios de dureza. No tocante a ensaios não
A qualificação metalúrgica passa principalmente
destrutivos são especificados: ensaios com partículas
pela apreciação e especificação da microestrutura de
magnéticas, ultrassom e líquido penetrante.
aços e ferros fundidos. Neste particular são importantes
Os requisitos metalúrgicos elencados nesta
as seguintes considerações.
publicação presumem composição homogênea; porém
• Nos aços normalizados a microestrutura é constituída
na prática, sempre existe a possibilidade de algum tipo
por ferrita e perlita finamente distribuída e granulação
de micro segregação na estrutura do aço, que poderá
refinada. O tratamento térmico, não tem efeito
provocar alterações na microestrutura final.
marcante no endurecimento e, seu emprego, é limitado
Tabela 2. Aços para Pinhões
AÇÕES
TRATAMENTO TÉRMICOS PROPRIEDADES MECÂNICAS
SAE 4340 / 34CrNiMo6 Beneficiamento (Têmpera e revenimento)
Valores mínimos de Resistência à Tração e Dureza , ver item relativo a qualificação metalúrgicana
EN 26 EN30B
Têmpera por Indução
52 HRc
18CrNiMo7
Cementação/têmpera e revenimento
58 a 62 HRc
40NiMocr10 EN 30B SAE 4340 / 34CrNiMo6 /EN 24
Revista Engrenagens
ABRIL/2021 23
CONTEÚDO TÉCNICO aos aços não ligados ou fracamente ligados de baixa
apresenta estrutura metalográfica constituída por
temperabilidade. Destas condições resultam, resistência
nódulos de carbono numa matriz de ferrita , ferrita
à tração entre 600 a 850 N/mm² (140 a 240 HB). Ao
perlita ou puramente perlítica.
mesmo tempo, Devido a estrutura relativamente
• Os ADIs são ferros fundidos nodulares tratados por
heterogênea são caraterísticas a baixa ductilidade e
austêmpera do que resulta uma estrutura
tenacidade em relação a resistência a tração.
de austenita estabilizada e ferrita. A matriz austenítica
• Beneficiados, são aços temperados e revenidos em
sofre transformações por tensões
toda seção transversal. Nestes, a resistência à tração
produzindo endurecimento e aumento de resistência.
desejada após o tratamento térmico, determina a
Além da qualificação metalúrgica de micro
mínima dureza a ser obtida na têmpera , de forma
estruturas são importantes a especificação de controles
assegurar boa tenacidade em relação à resistência a
por LP, ultrassom e partículas magnéticas.
tração, após o revenimento. Quanto maior à resistência
As Tabelas 5, 6, 7, 8 e 9 da ANSI/AGMA 6114_B15
atração necessária mais completa a formação de
detalham os diversos controles. Tecnicamente,todas
martensita e maior a dureza resultante.
as condições deveriam ser satisfeitas para qualificar um
• Pinhões temperados superficialmente por indução ou,
determinado grau de resistência da
cementados temperados e revenidos, requerem que a
engrenagem. A não ser que, especificamente definido, o
espessura de camada endurecida seja suficientemente
controle apropriado do processo produtivo
dimensionada de modo a resistir as tensões de
da engrenagem, com verificações periódicas é um
cisalhamento subsuperficiais, quer no flanco dos
método adequado para satisfazer os critérios
dentes quer nos filetes de concordância. Em pinhões
estabelecidos nesta qualificação.
cementados a espessura efetiva de camada é definida como aquela correspondente a dureza de 50HRc. Nos pinhões com têmpera superficial, a espessura efetiva
7. Transmissões
corresponde aquela onde a dureza diminui de 10 HRc
O objetivo deste item é ampliar o tema, suscintamente
em relação a superfície. A tabela a seguir define valores
abordado na introdução deste trabalho, dando ênfase
de espessura de camada endurecida.
às transmissões paralelas e, mais particularmente
Tratamento Térmico
as que empregam as (EA)s, A Figura 16
(He)min Espessura mínima efetiva no flanco do dente
Cementação Têmpera superficial
0,1583 · mN
0,86105
0,2303 · mN 0,86105
esquematiza estas possibilidades.
hemax
Elas são as mais difundidas, sobretudo,
Menor valor de 0,4 · mN ou 0,56 · San
Nestas equações: mN é módulo normal da engrenagem e San é a espessura normal na crista do dente
aquelas de duplo acionamento, por questões de custo e retorno de capital. A Figura 16 define limites aproximados de aplicação em função de potência instalada . Possivelmente
o inconveniente, não intransponível, desta modalidade, especialmente no duplo acionamento, é a dificuldade
É importante assegurar-se que a espessura de camada seja suficiente no filete de concordância e na raiz do dente e que, a crista do dente não seja super aquecida e fragilizada. • Neste tipo de aplicação é admitido apenas o processo de têmpera por indução dente a dente, ou espaço a espaço, como mostra a figura ao lado que é um esquema do processo. Ela ilustra que a forma do indutor se adapta ao vão entre dentes. • O ferro fundido nodular, dependendo do processo, 24 ABRIL/2021
Revista Engrenagens
em distribuir equitativamente as potências entre os dois Flanco Flanco previamente previamentetemperado temperado Bloco de resfriamento
Indutor Indutor
CONTEÚDO TÉCNICO
Figura 12
ramos do acionamento duplo. A Figura 17 detalha uma
•
solução paro o acionamento de um moinho suportado por mancais e a construção de uma carenagem de proteção a (EA). 7.1 Transmissão Compacta ou Combinada Nas transmissões anteriormente comentadas, Figuras 16 e 17, são explicitas em demonstrar a existência de um motor principal mais um redutor, de tipo convencional, por sua vez, acoplado ao pinhão motor da (EA). O redutor principal tem o eixo de alta velocidade com dupla extensão, a segunda, acoplada a uma transmissão auxiliar. Na transmissão combinada a carcaça do
Figura 13. Superfícies de junção
redutor principal é desenhada de modo permitir a instalação de suas engrenagens, rolamentos, vedações, bem como, a do pinhão motor da (EA). A Figura 18 resume o sistema. Nas dotadas de múltiplos pinhões são incorporados sistemas de distribuição de torque, como também, dispositivos de auto alinhamento dos pinhões, ver detalhe da Figura 19. Estes tipos de transmissões necessitam considerações especiais quanto a carcaça do redutor e a carenagem da (EA); na realidade, a carenagem é uma extensão da carcaça do redutor. Os itens seguintes são particularmente importantes. • Movimentos dos componentes devido variações de
Figura 14. Detalhe da conexão entre segmentos
temperatura Revista Engrenagens
ABRIL/2021 25
CONTEÚDO TÉCNICO
Figura 15. Segmentos, fundido e conformados em preparação para futuras usinagens
Possibilidades de confirmar o alinhamento inicial da Acionamento Principal Redutor & Motor
carcaça do redutor com demais componentes. • Prevenção de entrada de água e poeiras abrasivas na transmissão combinada
Pinhões de Acionamento
Engrenagem de anel
2.000 kW
• Prevenção de vazamentos da transmissão no ambiente
Duplo Acionamento Principal
Geralmente nas transmissões combinadas, o mesmo óleo lubrifica engrenagens e mancais de rolamento do redutor de alta velocidade e pinhões de acionamento da
4.000 kW Figura 16
(EA). A Figura 19 ilustra um sistema baste integrado. Outras construções usam dois sistema independente; um para o redutor, zona de alta velocidade e, um segundo, para os pinhões e (EA). A Figura 19, também ilustra esta versão. 7.2 Pinhão e Coroa São de construção robusta, naturalmente devido aos
Mancal de apoio do moinho
tamanhos de pinhões e coroas que, por sua vez, são decorrência do tamanho dos equipamentos que por eles são acionados. A Figura 20 ilustra a montagem
Redutor principal do acionamento do pinhão
de um pinhão na estrutura de suporte. Pinhões desta natureza têm um sistema de compensação de alinhamento como detalhado na mesma figura. Acionamento auxiliar
Estas transmissões se caracterizam por: • Altos torques na engrenagem. São usuais valores compreendidos entre 800 e 5.000 kNm • Velocidades de rotação da engrenagem compreendidas entre 0,5 a 20rpm. • Por suas dimensões avantajadas resultam grandes
Figura 17. Detalhe de um acionamento paralelo e da respectiva carenagem 26 ABRIL/2021
Revista Engrenagens
distâncias entre centros, as vezes ,variáveis.
CONTEÚDO TÉCNICO
Detalhe da Instalação
Figura 18. Acionamento de moinho tubular por transmissão compacta e respectivo detalhe de instalação
• Normalmento são empregados dentamento reto ou helicoidal. Engrenagens bi-helicoidais são de rara
K = Fator de carregamento por contato
mm2
aplicação, dado o custo. São conhecidas engrenagens bi helicoidais com até 5m de diâmetro. • Engrenagens de módulos entre 18 a 36 em moinhos e 25 a 60 em acionamentos de fornos rotativos. • Largura das engrenagens de até 1200mm
8. Dimensionamento Os critérios de dimensionamento propostos pela ISO e pela AGMA são de difícil aplicação, uma vez que, são mais destinados a um trabalho de análise do que de
Ft = Força tangencial ao cilindro de operação do pinhão [N] dw1 = Diâmetro de operação do pinhão [mm] b = Largura do dente da (EA) [mm] Cg = Fator dependente da relação de engrenamento da transmissão = Z2/(Z1 + Z2) Considerando as relações que existem entre torque e força tangencial, definindo como δ a relação entre largura da engrenagem e distância entre centros, e após algumas transformações algébricas, chega-se a:
síntese. Ambos tomam como referência, na definição da deterioração da engrenagem, à Resistência à Fadiga Superficial (Pitting Resistence) e Resistência a Flexão
[ ] N
——
dw13 =
4000 · T · Z1 δ · K · Z2
{em que T é expresso em [Nm]} (02)
do Dente ( Bending Strength). Derivados destes critérios existem procedimentos de natureza mais prática, que
A equação (02) é muito conveniente no
proporcionam melhores possibilidades de ante projetos.
estabelecimento de uma primeira aproximação desde
Para tanto são usados dois fatores.
que, naturalmente, possam ser definidos valores para δ
Fator K, um índice de carregamento do dente sob o
e K. δ é uma simples relação geométrica compreendida
ponto de vista da resistência a fadiga superficial sendo
entre 0,150 até 0,230. Dentro dos critérios de cálculo
definido pela seguinte relação:
adotado pela AGMA nas suas publicações, K exprime
Ft K = —————— (01) dw1 · b · Cg
uma condição de resistência. Aprofundando esta análise o fator K é uma decorrência do parâmetro Kaz, que, por sua vez, é calculado pelas seguintes relações Revista Engrenagens
ABRIL/2021 27
CONTEÚDO TÉCNICO
Circuito para redutor de velocidade Sistema para pinhões e (EA) Sistema de lubrificação fechado
Sistema de lubrificação aberto
Sistema duplo de lubrificação Sistema único de lubrificação Figura 19. Sistemas de lubrificação em transmissões combinadas
Nestas equações os fatores estão agrupados em dois conjuntos: Grupo de fatores relativos à resistência dos materiais empregados e à vida prevista, antes da ocorrência do fenômeno da fadiga superficial. σHP1 e σHP2 são resistências à fadiga superficial de pinhão e coroa considerando-se 107 ciclos de carregamento, Zn1 e Zn2 são fatores de ciclos que corrigem os valores de σHP1 e σHP2 para outros números de ciclos de carregamento, Ze o denominado fator de elasticidade que depende do par de matérias de pinhão e engrenagem e Zw fator de relação de durezas. Grupo de fatores relativos a geometria das engrenagens em que, Zi é fator geométrico que expressa a influência da geometria das engrenagens
Figura 20
sobre sua resistência a fadiga superficial, Kh um fator
que leva em conta a desuniformidade na distribuição
de carregamento segundo a largura do dente, Kv
Kaz1 =
Zi Kv · Kh · Cg
·
(
σ HP1 · Zn1 Ze
denominado fator dinâmico e Cg foi previamente
)
2
definido. (03)
Semelhantemente, no tocante a resistência à fadiga de flexão no pé do dente, define-se um fator de carga unitário pela seguinte relação
(
)
2
σHP2 · Zn2 · Zw Zi (04) Kaz2 = · Ze Kv · Kh · Cg
Ua =
Ft b · mN
[
N mm
]
(05)
Nesta equação , com exceção de mM, módulo normal do dentamento, os demais fatores foram previamente 28 ABRIL/2021
Revista Engrenagens
CONTEÚDO TÉCNICO
Contato por falta de paralelismo
Contato por discordância de planos
Plano paralelo Contato Correto
Figura 21. Zonas de contato entre flancos
definidos. Fazendo-se considerações semelhantes,
as resistências á fadiga dos materiais empregados,
deduz-se
para 107 ciclos de carregamento e Yn os fatores de
ciclo para a solicitação de flexão. Quanto ao grupo de
dw13 =
fatores geométricos , Yj1 e Yj2 definem a influencia
4000 · T · Z12
da geometria das engrenagens em relação a sua
δ · Ua · (Z1 + Z2) · cosβ
{em que T é expresso em [Nm]}
resistência à flexão, β é o ângulo de inclinação de (06)
hélice e Kb o fator de espessura de aro. O fator Kb exige uma consideração adicional; ele leva em conta a fragilidade da estrutura que suporta
Por sua vez, Ul exprime uma condição de resistência à
os dentes da (EA). Se a relação mb=tr/ht em que, tr é a
flexão do dente. Aprofundando esta análise o fator Ua
espessura do aro abaixo dos dentes e ht, a altura total
é uma decorrência dos parâmetros Ul1 e Ul2, calculado
do dente, for menor que 1, calcula-se Kb = − 1,788 · mb
pelas seguintes relações:
+ 2,7636, caso contrário, mb>1, Kb=1. (EA)s têm particularidades típicas dificilmente
Uay1 =
Yj1 cosβ · Kv · Kh
traduzíveis em parâmetros usualmente empregados · σFP1 · Yn1
(07)
nos processos tradicionais de dimensionamento. Por esta razão prefere-se, num pré dimensionamento, adotar critérios como os acima comentados . Para proporcionar algo mais quantitativo, foi executado
Uay2 =
Yj2 cosβ · Kv · Kh · Kb
· σFP2 · Yn2
(08)
um cálculo inverso nos quatro exemplos contidos na publicação ANSI/AGMA 6114-B15 Os resultados estão resumidos na Tabela 3. É importante salientar que a ANSI/AGMA 6114-B15
O grupo de fatores relativos a resistência dos
não considera nas suas análises o tipo de aplicação.
materiais compreende σFP1 e σFP2 da correspondentes
Esta ambiguidade é contornada pela utilização dos Revista Engrenagens
ABRIL/2021 29
CONTEÚDO TÉCNICO Região de máxima deformação
Região de máxima deformação
Figura 22. Deformações típicas nas seções transversais
Fatores de Serviço ( FS ) de tradicional emprego, desde
• Quanto a resistência à flexão , os valores de Uay2 são
longa data. A Tabela 4, da mesma publicação sugere
mais dispersos, razão pela qual, é mais seguro adotar
valores de CSF , considerando a fadiga superficial e
valores Uay2 com base na dureza do mateial da (EA) e
KSF para flexão do dente.
dai, dividi-lo (FS) adequado a processo.
Por sua vez, Dudley sugere para : grandes acionamentos de fornos e moinhos os valores contidos na Tabela 5.
9. Motores de acionamento
Função deste estudo são pertinentes as seguintes
O tipo de motor principal de todo sistema pode
orientações
impactar severamente o valor do fator de serviço
• Os valores de Kaz1, Kaz2, Uay1 e Uay2
selecionado , bem como, todo desempenho do sistema
correspondentes a condição de 29.000 horas de
de transmissão. Cargas resultantes na partida e
trabalho, não serão considerados no que segue,
conexões, entre os diversos componentes do sistema
justamente devido a diferença marcante no número de
de transmissão, devem ser revistos adequadamente.
horas de trabalho.
Motores com alto torque de partida (>250% do nominal
• Quanto maior os valores de K e U selecionados
)e aplicações que, envolvam partidas e paradas
menores as dimensões resultante das engrenagens e
frequentes, podem exigir um dimensionamento
também maior o risco de deterioração superficial dos
específico para estas condições extremas. O emprego
flancos e fadiga de flexão na raiz do dente.
de transmissões paralelas de duplo acionamento,
• Considerando-se as solicitações nos flancos dos
podem ser a causa de sobrecargas quando não bem
dentes, o fator mandatório é a resistência à fadiga
balanceadas em termos de repartição de torques.
superficial dos flancos dos dentes da (EA). Uma análise os valores de Kaz sugere que se possa adotar um valor médio de Kaz2=1,6 que, dividido pelo (FS), fornece o
10. Fatores adicionais
valor de K de projeto.
Apesar de serem disponíveis orientações, bem
30 ABRIL/2021
Revista Engrenagens
CONTEÚDO TÉCNICO Tabela 3. Valores de Kaz1, Kaz2 , Ul1 e Ul2
K[N/mm2] Lh [horas]
219.000
29.000
Relação de durezas
[rpm] pinhão
55HRc/245HB
UI[N/mm2]
Kaz1
Kaz2
Uay1
Uay2
200
4,66
2,22
90,65
79,66
55HRc/325HB
180
2,74
1,78
37,36
36,62
55HRc/265 HB
126,5
2,61
1,19
49,63
40,63
350HB/285HB
153,6
1,78
1,52
34,80
29,80
300HB/180HB
15,2
1,59
1,11
68,57
55,30
350HB/335HB
11,9
3,95
5,09
56,60
78,54
Tabela 4. Fatores de serviço Aplicação
Aplicação
CSF ( Fadiga Superficial)
1,75 ξ 1), ξ 3)
Fornos 1,00 ξ 1), ξ 2)
1,50 ξ 1), ξ 3)
1,5 ou 1,75 ξ 4)
2,50
1,65 ou 1,75 ξ 4)
2,65
Resfriadores Secadores Moinhos de bolas Moinhos Autógenos Moinho de barras
KSF (Flexão do dente)
Notas: ξ 1) Quando a velocidade da engrenagem for maior ou igual a 1,5 rpm, multiplicar este fator de ser serviço por (0,07 · n2+0,090) onde n2 é avelocidade da engrenagem em rpm ξ 2) Máximo valor é 1,40 ξ 3) Máximo valor é 2,25 ξ 4) Em aplicações de alta potência >3.000 kW, ou processos de um único ciclo usar CSF=1,75
fundamentadas, quanto ao dimensionamentos e
• A prática tem demonstrado que mesmo dentro da
análise dos resultados , elas podem ser de pequeno
melhor técnica, dificilmente obtém-se uma área de
significado, caso não se atente, cuidadosamente, a
contato entre flancos maior que 50 a 60%. Contato
fatores como os que a seguir são nominados.
maior, somente após ajustagem e alinhamento do
• O tamanho avantajado da (EA)s promove
pinhão na montagem final. O fator Kh sugerido pela
inconsistências nos tratamentos térmicos com
AGMA nem sempre é suficiente para absorver estas
consequentes alterações na estrutura metalúrgica
variações . Em outras palavras a confiabilidade do
inicialmente prevista. Menor confiabilidade nos
dimensionamento vai depender da expertise da
valores de tensões admissíveis.
montagem. A Figura 21 é uma demonstração de
• Inconsistência em durezas superficiais com reflexos
situações possíveis.
na usinagem e na textura superficial .
• Deformações estruturais na seção transversal das Revista Engrenagens
ABRIL/2021 31
CONTEÚDO TÉCNICO Tabela 5. Valores de K e Ul segundo Dudley
Durezas Pinhão
Engrenagens
225 HB
210 HB
335 HB
300 HB
58 HRc
58 HRc
Ciclos de carregamento do pinhão
K[N/mm2]
UI[N/mm2]
0,83
24
1,24
31
3,45
41
108
(EA)s, como as indicadas na Figura 22, são causas de
Referências
sobrecarga em regiões dos dentes.
[1] ANSI/AGMA 6114-B15- Gear Power Rating for
• O subdimensionamento da espessura do aro suporte
Cylindrical Shell and Trunion Suported Equipment.
dos dentes pode transferir a solicitação crítica de
[2] W. T. Chester – “The Design and Metallurgy of Heavy
flexão do pé do dente para a estrutura da engrenagem,
Gears” . Source Book on Gear design, Technology and
dai a importância do fator Kb.
Performance. ASM Engineering Bookshef.
• Pinhões e coroas não são instalados numa estrutura
[3] Steve Lovell-“ Girth Gears- More than just Metal
única. Fato que pode exigir realinhamentos
and Teeth” . Gear Technology/ May 2017.
frequêntes. O controle de folgas de engrenamento são
[4] Darle W. Dudley – Handbook of Practical Gear
de fundamental importância.
Design . Technomic Publishing Co. Inc.
• A precisão da montagem pode dar origem a
[5] George Henriot – Engrnages , Conception
batimentos radiais e flutuações de carregamento.
·Fabrication ·Mise en Oeuvre . Dunod
• A Publicação AGMA acima referida não considera
[6] Tim Zwirlein- “ A Comparison of Steel Castings
como condições de resistência fenômenos de
vs Forging for Large Structural Components . Falk
micropitting desgaste e scuffing bastante comuns
Corporation.
nestas aplicações. Na grande maioria dos casos
[7] FLSmidth/ Maag Gears -Girth Gears, Theory and
estas danificações são limitadas por processos de
technology.
lubrificação de rígido controle.
[8] David Brown – Mill and Kiln Gears- Installation and Maintenance Manual [9] Die Kugellager-Zeitschrift 159 – Kontinuierliche
11. Conclusões
Diffusiosanlagern in Französischen Zuckerfabriken.
Foram comentadas, sem esgotar o tema , às
[10] MAAG GEAR - LGDX Lateral Gear Unit / designed
caraterísticas básicas das Engrenagens
for longevity
de Anel , Girth Gears. Também foram comentados as
[11] DMG2 Flender Gear Units
dificuldades na utilização de critérios de cálculo,
[12] Feeco- Indirect Rotary Coolers
propostos por ISSO e AGMA, para o dimensionamento de pinhões e engrenagens de anel. Foi
Por João Ignacio Ibañez, graduado em Engenharia em 1959
enfatizado a utilização de índices de carregamento, K
pela Escola de Engenharia da UFRGS. Professor Fundador da
e Ul , bem como, propostos valores capazes de permitir
Cadeira de Elementos de Máquinas da Escola de Engenharia
pré dimensionamentos básicos. Foram comentados
da UFSC. Vice Presidente Técnico da Copé Cia Ltda,
aspectos que dificultam análises formais relativas as
Equipamentos para a indústria de composto de borracha e
capacidades de carga destas engrenagens
termo plásticos até 2020. Atualmente, Consultoria Técnica , na área de Acionamentos Mecânicos.
32 ABRIL/2021
Revista Engrenagens
CONTEÚDO TÉCNICO
ENGRENAGENS 4.0: AS SUPER-ENGRENAGENS NA INDÚSTRIA AUTOMOTIVA DO FUTURO
O
Por Lucas Robatto e Ronnie Rego
contexto atual reúne uma tendência aceita,
Noruega, o marketshare de veículos elétricos hoje já
embora não efetivamente compreendida,
ultrapassa 50%[5].
de Indústria 4.0, e uma ampla incógnita
O comportamento do consumidor também aponta
ao redor da concepção do “novo normal”. Frente às
para a mudança, e 10% dos veículos vendidos em 2030
mudanças, a capacidade de se adaptar é fundamental
poderão ser um veículo compartilhado[1]. A propriedade
não só para as espécies, mas também para as
de veículos deve dar lugar a transporte baseado em
organizações. Nas indústrias e nos negócios, respostas
serviço, um conceito que tem sido conhecido como
rápidas às transformações no ecossistema irão
“Mobility-as-a-Service”. De modo a manter a sua fatia
demandar disrupção tecnológica e principalmente
do mercado automotivo, a proposição de valor de
um comportamento organizacional ágil e quebra
montadoras de veículos pode evoluir de fornecimento
de resistências a mudanças. Quanto à Indústria de
de hardware para fornecimento de serviços de
Engrenagens, grandes transformações caminham de
mobilidade[1].
mãos dadas com a Indústria Automotiva.
Embora sejam apenas previsões, elas explicitam
Mobilidade elétrica, veículos compartilhados,
um caminho irreversível na indústria, e as suas
autônomos, conectados e sustentáveis são as tendências
consequências devem impactar todo o ecossistema,
que estão se concretizando. Previsões indicam que,
incluindo a Indústria de Engrenagens. A Figura 1
até 2030, em torno de 30% dos novos veículos serão
ilustra o veículo nesse cenário da indústria automotiva
elétricos
[1, 2, 3]
e que em 2050 os veículos elétricos devem
corresponder de 80% a 90% de toda a frota global[4]. Na
futura. Como ficam as engrenagens nesse novo contexto? O mercado e pesquisas técnicocientíficas indicam que o mito de que veículos elétricos não irão precisar de transmissões e engrenagens foi quebrado. Do contrário, as exigências e evoluções dos requisitos de desempenho apontam para a necessidade de SuperEngrenagens.
O motor elétrico é capaz de
operar em uma faixa muito mais ampla de velocidades enquanto fornece torque apropriado à máxima potência, em comparação Figura 1. Previsão para a Indústria Automotiva em 2030[1, 3]
com motores à combustão, como Revista Engrenagens
ABRIL/2021 33
CONTEÚDO TÉCNICO
Figura 2. Características de desempenho de motores a combustão interna e motores elétricos[6, 7]
mostrado na Figura 2. O efeito dessa característica
elétricos através de elevadas velocidades de operação
é que uma transmissão de uma única velocidade
entre 30.000 e 50.000 rpm, permitindo a redução de
pode ser suficiente para o veículo elétrico atender a
massa de motores em torno de 30%[11, 12].
requisitos de desempenho dinâmico. Transmissões de
Como veículos elétricos têm menos engrenagens
uma velocidade ou de engrenamento fixo atualmente
e operam com velocidades consideravelmente mais
dominam o mercado elétrico. Sistemas de propulsão
elevadas, as engrenagens devem então resistir a ciclos
elétricos de motor duplo nas rodas têm sido utilizados
de vida muito mais severos quando comparados com
em pequena escala ou em demonstrações .
aqueles de transmissões automotivas tradicionais. A
Em conflito com esse cenário paira outra tendência
combinação de veículos elétricos com a mobilidade
amplamente disseminada, a necessidade por sistemas
compartilhada e autônoma faria esse cenário ainda
de propulsão de alta eficiência energética[9, 10]. Nessa
mais rigoroso, já que que os veículos teriam uma maior
direção, um sistema de transmissão de duas ou mais
taxa de utilização. Alta resistência à fadiga seria então
velocidades permite a exploração da região de maior
um requisito ainda mais crítico para as engrenagens.
eficiência de um motor elétrico. Como resultado,
A taxa de manutenção e de reposição de engrenagens
menores motores e baterias são viabilizados enquanto
pode, dessa forma, talvez contrabalancear uma menor
operam com a mesma potência e com elevada
demanda inicial do componente por transmissão.
eficiência.
Cabe ressaltar que a elevada faixa de velocidades de
Uma transmissão de duas velocidades para veículos
motores elétricos deverá implicar em um aumento da
elétricos pode fornecer os benefícios de redução do
geração de calor na transmissão, devido às elevadas
máximo torque fornecido pelo motor e aumento da
frequências de forças friccionais e também demandar
velocidade máxima, o que permite downsizing do
diferentes requisitos de adesão de lubrificantes[13].
sistema elétrico e ampliação da faixa operacional.
Os requisitos de ruído, vibração e aspereza (NVH
Transmissões de três ou mais velocidades podem
– noise, vibration and harshness) serão também
permitir benefícios adicionais de eficiência para esses
determinantes para as engrenagens no contexto da
veículos, mas o aumento de custos e a complexidade
eletromobilidade, por duas razões. Primeiramente, o
de manufatura e controle tende a torná-las menos
motor à combustão, o mais crítico sistema aos requisitos
atrativas que a opção de duas velocidades.
de NVH, será substituído pelo motor elétrico, que é
Enquanto a velocidade operacional máxima de
consideravelmente mais silencioso[14]. A ausência de
motores a combustão normalmente encontra-se na
ruídos mascarantes dos motores à combustão deverá
faixa de 6.000 a 8.000 rpm, veículos elétricos modernos
então tornar os ruídos e vibrações das transmissões
alcançam valores próximos a 16.000 rpm. Pesquisas
sensivelmente mais evidentes, ao provável ponto de
recentes têm ainda mostrado o potencial de aumentar
alavancar o sistema ao topo das preocupações com esse
a densidade de potência e a eficiência de motores
requisito.
[8]
34 ABRIL/2021
Revista Engrenagens
CONTEÚDO TÉCNICO
Figura 3. Engrenagens 4.0
Como segunda razão, as velocidades mais elevadas
naturalmente o desenvolvimento de materiais
de motores elétricos irão alterar definitivamente
avançados e um integrado arranjo de controle entre
o comportamento excitacional das engrenagens e
os processos de fabricação da cadeia produtiva de
componentes de interface, particularmente ruídos de
engrenagens.
Whine de alta frequência, causados pela frequência
Não somente do âmbito técnico, questões no sentido
de engrenamento e suas harmônicas. Esses ruídos são
da produção e do aftermarket surgirão também.
concentrados em um estreito espectro de frequência
Em um cenário de veículos elétricos, autônomos,
por conta da periodicidade do engrenamento e são
compartilhados e conectados, uma infinidade de
percebidos como ruídos tonais, que podem causar
dados poderá estar disponível, demandando soluções
mais desconforto do que ruídos espalhados sobre uma
de Big Data. De posse de dados da frota, a manutenção
ampla faixa de frequências
[14]
.
das engrenagens poderá ocorrer just-in-time e dados
Na esteira da discussão do ruído de Whine,
de transmissões de veículos de diferentes localidades
a principal fonte de ruído de engrenagem é o
e que passam por diferentes trajetos permitirão então
erro de transmissão, que consiste no desvio do
customizar as engrenagens conforme o seu histórico
posicionamento angular entre os eixos de entrada
de carregamentos.
e saída do par de engrenagem, causado por
Esse cenário futurístico pode parecer ficção, mas
erros geométricos, sejam a partir de deflexões
é o sentido para o qual as tendências têm apontado.
ou desvio e modificações da microgeometria do
Mudanças radicais de requisitos irão demandar
dentado
[15]
. A excitação do erro de transmissão
soluções inovadoras, disruptivas e Engrenagens
leva a ruídos transmitidos pela estrutura, que são
4.0 (Figura 3). Não se pode esperar que os métodos
transferidos através do corpo da engrenagem e
tradicionais continuarão sendo a solução. Novos
outros componentes estruturais até terminar em
materiais, novos processos de fabricação e soluções
ruído transmitido pelo ar. Portanto, uma elevada
antes não viáveis ou imagináveis serão necessários.
qualidade dimensional e propriedades de isolamento
As próximas décadas mostrarão os próximos
e amortecimento de ruído devem ser demandas para
capítulos dessa história. E cabe a nossa Indústria se
essas Super-Engrenagens. Tal objetivo engendra
adaptar e ajudar a escrevê-la. Revista Engrenagens
ABRIL/2021 35
CONTEÚDO TÉCNICO Referências [1] MCKINSEY & COMPANY. Automotive revolution perspective towards 2030, p. 20. 2016. [2] PWC. Five trends transforming the Automotive Industry, p. 48. 2017. [3] BCG. Who will drive electric cars to the tipping point, p. 23. 2020. [4] KAH, M. Electric vehicle penetration and its impact on global oil demand: a survey of 2019 forecast trends. Center of Global Energy Policy, Columbia University. New York, p. 29. 2019. [5] BLOOMBERGNEF. Electric Vehicle Outlook 2019. 2019. [6] RIND, S. J. et al. Configurations and control of traction motors for electric vehicles: a review. Chinese Journal of Electric Engineering, v. 3, p. 1-17, December 2017. [7] EHSANI, M. et al. Modern Electric, Hybrid Electric, and Fuel Cell Vehicles. 3rd Edition. ed. Boca Raton: Taylor & Francis Group, LCC, 2018. [8] PARK, G. et al. Integrated modeling and analysis of dynamics for electric vehicle powertrains. Expert Systems with Applications, v. 41, p. 2595-2607, 2014. [9] SCHULHOUSER, R. Drive technology – gears. Capital Mind - Sector Report, 2016. [10] GOLDSTEIN M. State of the gear industry. J Gear Technol 35-1, 2018. [11] REICHERT, U. et al. High speed electric drive with a threespeed gear box. CTI Mag: The automotive TM, HEV and EV drives magazine by CTI, p. 25-27. 2016. [12] NITSCH, C.; HÖHN, B.-R.; STAHL, K. Prospects of Compound-Gears for e-Mobility Applications. Conference on Future Automotive Technology: Focus Electromobility. Munich: Lienkamp, M. 2013. [13] BRAUER, S. High Speed Electric Vehicle Transmission. Master Thesis, Karlstad University. Södertälje, p. 72. 2017. [14] KÜPPERS, T. Results of a structured development process for electric vehicle target sounds. Aachener Akustik Kolloquium, p 63-71. 2012. [15] ÅKERBLOM, M. Gear Noise and Vibration: A literature survey. KTW - Royal Institute of Technology. Stockholm. 2001.
Por Lucas Robatto e Ronnie Rego; Instituto Tecnológico de Aeronáutica – ITA, Centro de Competência em Manufatura – CCM robatto@ita.br, ronnie@ita.br. 36 ABRIL/2021
Revista Engrenagens
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CONTEÚDO TÉCNICO
MOBILIDADE ELÉTRICA E AS ALTAS REDUÇÕES DE VELOCIDADE: SPIROID® E HELICON® Resgatando um tremendo potencial Por Antonio Gallinucci
A
primeira vez que li sobre
tais como telescópios, veículos
da concepção desses conceitos,
Spiroid foi em 1981, no
bélicos, divisores mecânicos, etc. O
vamos começar pela Spiroid, já
curso de engenharia.
considerável grau de recobrimento
que a Helicon é um caso particular
Estudando o “Gear Handbook” do
(contact ratio) associa-se à precisão,
quando o ângulo do cone primitivo
famoso Darle W. Dudley, deparei-
distribuindo a carga e os erros em
é zero. Imagine uma hélice
me com essa preciosidade.
vários dentes.
desenvolvida sobre uma superfície
Bem, isso ficou marcado naquele
Essas duas formas, Spiroid e
cônica, tal qual uma rosca cônica
cantinho da memória, coisa de
Helicon, foram patenteadas pela
mencionada acima. Uma linha que
engenheiro, brotando de vez em
Illininois Tool Works, em Chicago.
circula sobre a superfície de um
quando para aguçar a curiosidade
O inventor foi Oliver E. Saari, e
cone cujo ângulo da reta tangente a
Encontrei, junto com a Spiroid,
você pode consultar a patente aqui:
essa hélice seja, em algum ponto de
a Helicon. Dentre aquelas infinitas
1499089765883506368-02696125
referência escolhido, o mesmo para
fórmulas das engrenagens cônicas
(storage.googleapis.com).
ambos os membros (Figuras 2 e 3).
hipoidais, apareciam essas duas
Diferentes das hipoidais
Deve-se decidir por uma das duas
outras geometrias, com mais
desenhadas pelo sistema Gleason
opções de modelo matemático:
fórmulas e outro conceito. Chamou-
ou Örlikon, cujo número de dentes
a) pressupor um ângulo de hélice
me a atenção o grande offset do
do pinhão não é menor do que 6
constante,
pinhão em ambos os casos (Figura
(pelo menos nunca vi menos que
ou, exclusivamente,
1), responsável por permitir
isso), as Spiroids permitem projetos
b) conceber uma hélice com passo
transmissões com altas reduções e,
com pinhões de um dente apenas,
constante
consequentemente, altos torques.
caracterizando uma rosca cônica de
A opção assumida pela Illinois
As aplicações são as mais
uma entrada. Ora, com um número
Tool Works foi a de um passo
diversas. Via de regra, são utilizadas
reduzido de dentes no pinhão
constante. Isso significa que o
para movimentos de precisão
cresce muito a possibilidade de
ângulo de espiral muda conforme os
aumentar a relação de transmissão,
dentes vão avançando do começo ao
o que torna essa concepção ótima
fim do engrenamento.
para aplicações em elevações
A princípio, pode parecer um
significativas de torque com a
tanto estranho, mas a vantagem
correspondente densidade de
esconde-se atrás de um conceito
potência. Essa propriedade é
singelo: a praticidade do método de
extremamente atraente para
manufatura. Eu explico.
veículos elétricos. Entretanto, caso
Nos artigos anteriores dessa
a redução seja muito grande, pode
revista eu expliquei o princípio de
ser que surja a auto frenagem na
geração através da cremalheira
inversão do torque.
de referência, seja plana como no
Para dar uma ideia bem simples
caso das engrenagens geradas, seja
Figura 1. Motion Control Tips (by Lisa Eitel)
Revista Engrenagens
ABRIL/2021 37
CONTEÚDO TÉCNICO cinemática de corte da coroa. O pinhão é torneado como uma rosca cônica e retificado como um semfim.Isto pode ser visto em What is Spiroid? - Advanced Gear Solution - Bing video (time 1’31”). A Figura 4, infelizmente de qualidade reduzida, Figura 2. Gear Handbook (4-47)
dá uma ideia do posicionamento em uma fresadora por caracol.
Figura 4. Corte de dentes da coroa Spiroid
Como consequência do offset
Figura 3. Gear Handbook (4-47)
do pinhão, ocorre o desequilíbrio
o crowning de perfil e o crowning
do ângulo de pressão entre os
de hélice. Nas Spiroids ou Helicons
flancos de tração ou de marcha-à-
originalmente desenvolvidas não
ré, fruto do plano de trabalho do
há crowning de perfil. O contato
par. A ITW padronizou os designs
é, portanto, caracterizado por
para 10° no drive e 30° no coast,
uma linha reta do fundo ao topo
ou 15° e 35° respectivamente (fig.
do dente de contato. Essa linha
5), dependendo da relação de
vai progredindo de heel para toe
transmissão.
na coroa conforme o pinhão vai
Em complementação, podemos
girando. Já o crowning de hélice
cônica no caso das engrenagens
dizer que estas não são as únicas
pode ser gerado com avanço e
tipo “formate”. Pois bem, aqui
formas de altas reduções com
retração no eixo da ferramenta
nas Spiroids temos a referência
grande offset do pinhão. Por
durante o corte da coroa, e/ou
de geração partindo do pinhão
exemplo, é possível realizar
movimento similar do pinhão
cônico. Ele é a base da geração
cálculos no sistema Gleason
durante o processo de acabamento,
da coroa conjugada. Imagine-
para Superhypoids. Em uma
que pode ser lapidação também,
se, portanto, uma rosca cônica
experimentação que realizei com
como no caso das hipoidais.
com passo constante – é como se
um pinhão de 6 dentes e uma coroa
Um modelo com crowning de
fosse um caracol com uma ligeira
de 60 dentes, pude notar uma forte
perfil e de hélice foi desenvolvido
conicidade cuja geratriz tivesse a
sensibilidade na relação (diâmetro
por (De Donno & Litvin, 1999).
rosca cônica com o perfil da rosca
da coroa)/(diâmetro do cortador)/
Nesse formidável trabalho do
constante deslocando-se sobre
(offset do pinhão).
professor Litvin, o contato dos
essa geratriz. Nas engrenagens
Não se deve esquecer que
dentes pode ser posicionado sem
cilíndricas normais, o cortador
transmissões com grande
tanta sensibilidade às variações
caracol avança radialmente de
escorregamento entre flancos
e desalinhamentos decorrentes
encontro à peça a ser cortada e vai
dos dentes são propícias a uma
da usinagem dos componentes.
gerando os dentes conforme avança
considerável dissipação de calor,
Da mesma maneira, uma função
axialmente na lateral do blank.
de maneira que o acabamento
parabólica pré-definida para os
Pois bem, aqui a coisa é diferente:
superficial dos dentes, a precisão
erros de transmissão permite
o cortador desce em cima da face
da microgeometria, o lubrificante,
agregar suavidade ao movimento
da coroa e avança na profundidade
a área de dissipação da carcaça
com a deformação proposital
final do dente. Todavia, fica difícil
dentre outras características
do flanco dos dentes. Além do
explicar apenas escrevendo. No site
merecem uma atenção especial.
modelo, nesse mesmo trabalho
This is ITW Heartland - YouTube
Por falar em microgeometrias,
são estudadas as condições de
(time 1’56”) o leitor poderá ver a
duas delas provocam curiosidade:
interferência (undercut) e o controle
38 ABRIL/2021
Revista Engrenagens
CONTEÚDO TÉCNICO
PORTAL AQUECIMENTO INDUSTRIAL Confira as mais recentes notícias do Portal Aquecimento Industrial e tenha informações sobre a indústria metalmecânica no brasil e do mundo. Figura 5. Desequilíbrio do ângulo de pressão
da largura de topo dos dentes. Nesta última, a correlação entre o ângulo de pressão e a largura do topo do dente da coroa é desenvolvida, de maneira a impedir que o projeto deixe o dente “pontudo”, ou com espessura “zero” na cabeça. As referências bibliográficas aqui mencionadas são de grande utilidade para quem desejar se aprofundar um pouco mais nessas transmissões. São artigos e livros de valor prático e teórico. Não
%5$6,/
The International Journal Of Thermal Processing
Benefícios da Sinterização a Vácuo
principais bibliografias.
ESTAMPAGEM &
42
CONFORMAÇÃO
BRASIL
Stamping & Forming Magazine Brazil
Como Cortar Custos com Datalogger 34 Tratamento Criogênico Profundo 38 Oxidação Intergranular: Castigo ou Vantagem?
mencionei o Gear Handbook por ser já muito conhecido, mas é uma das
Jan a Mar 2019
16
Revista de Corte, Estampagem e Conformação de Chapas, Arames e Tubos
46
17 Vendido o Maior Forno a Vácuo da América do Sul Seminário de Processos de TT em Abril na Delphi, em Piracicaba (SP) 16 Seminário de Manutenção e Segurança de Fornos em Junho na Combustol Fornos, em Jundiaí (SP)
REVISTAS TÉCNICAS
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EXPOMAFE 2019 - Destaque Expositores Estampagem & Conformação
Referências DE DONNO, M., & LITVIN, F. L. (1999). Computerized design, generation and simulation of Meshing of a spiroid worm-gear drive with a ground double- crowned worm. Journal of Mechanical Design, Transactions of the ASME, 121(2), 264–273. https://doi. org/10.1115/1.2829453
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Por Antonio Gallinucci; da Engrecon S.A., é engenheiro mecânico pela Mauá, com pós-graduações pela USP e Unicamp, e está completando o
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