SG MAG #06
SUMÁRIO SG MAG Edição nº 6
Dezembro 2018
EDITORIAL ........................................................................................................ CRÓNICA: Carta ao Papai Noel – por Maurício Cavalheiro ........................... CONTO: À luz de velas – por Fernanda Caleffi Barbetta ................................. LANÇAMENTO: Luz de Natal ...................................................................... APRESENTAÇÃO: Luz de Natal – por Isidro Sousa ..................................... POESIA: O berço da esperança – por Gabriel Felipe Lago Vieira .................. CRÓNICA: Tempo de solidariedade e gratidão – por Diamantino Bártolo .. ANTOLOGIA LUZ DE NATAL: 63 autores (notas biográficas) ............ ANTOLOGIAS: Quatro antologias de Natal desde 2015 ........................... LIVROS: Tempo de Magia ............................................................................... CRÓNICA: A Terra na magia do Natal – por Aldir Donizeti Vieira ............ CRÓNICA: Natal é emocionante porque muda... – por Lira Vargas .......... LIVROS: Graças a Deus! ................................................................................... CONTO: Ouro, incenso e mirra – por Paula Homem ..................................... CRÓNICA: Se eu gosto do Natal? – por Sérgio Sola ....................................... LIVROS: Boas Festas ......................................................................................... CONTO: Terror em alto mar – por Estêvão de Sousa ...................................... CRÓNICA: Natal??? – por Lucinda Maria ........................................................ CONTO: Trezentos dias de vida – por Joyce Lima .......................................... CRÓNICA: As infinitas percepções sobre o Natal – por Samanta Obadia . CRÓNICA: A eternidade das águas – por Rita Queiroz ................................. ENTREVISTA: Rosa Marques – por Ricardo Solano ...................................... POESIA: Quatro poemas de Rosa Marques .................................................. CRÓNICA: No meu tempo de criança – por Rosa Marques .......................... CRÓNICA: Cartas para um Deus – por Ariel Fonseca Pulsz .......................... OPINIÃO: Será mesmo Natal? – por Lucinda Maria ..................................... CONTO: Os mistérios do jardim – por Alice Maulaz .................................... CRÓNICA: Quanto vale ser grato? – por Lenilson Silva ................................ POESIA: 23 poemas de (vários) autores lusófonos ....................................... CONTO: Um fio de esperança – por Raquel Machado .................................... CARTAS: A carta – por Fátima d’Oliveira ......................................................... REPORTAGEM: Lançamento de “Manual dos Ofícios” ........................... CONTO: A redoma de Natal – por Sara Timóteo ............................................ CARTAS: Para Lili – por Natália Vale .............................................................. CONTO: Murmúrios proibidos – por Tiago Sousa ......................................... CARTAS: Carta que escrevo esperando por ti – por Marisa Luciana Alves . REPORTAGEM: Lançamento de “O Que Zeus Mostrou aos Homens” APRESENTAÇÃO: O Que Zeus Mostrou aos Homens, pela autora ...... RESENHA: O Que Zeus Mostrou aos Homens – por Maria José Mestre ... CRÓNICA: A quadra por excelência – por Estêvão de Sousa ......................... LANÇAMENTO: Pânico no Subúrbio, de Estêvão de Sousa .................... EXCERTOS DO LIVRO: Pânico no Subúrbio – por Estêvão de Sousa ...... OPINIÃO: Requiem de um autor – por Estêvão de Sousa .............................. CONTO: Para um bem maior – por Manuel Amaro Mendonça ...................... LANÇAMENTO: Um Ano... 365 Poemas, de Lucinda Maria ................... CONTO: E os sinos choram... – por Nicol Peceli ............................................ ÓBITO: Maria Teresa Queiroz ........................................................................ NOVAS EDIÇÕES: Sinfonia de Amor ......................................................... REGULAMENTO: Sol de Inverno ................................................................ 3
005 007 009 014 017 020 023 029 050 053 055 064 067 069 078 081 085 096 099 102 105 107 124 129 139 140 143 148 149 179 182 184 197 206 209 216 219 223 228 232 235 236 240 243 253 259 265 270 275
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Isidro Sousa Editor da SG Mag
sg.magazin@gmail.com https://issuu.com/sg.mag
EDITORIAL Apresentamos o sexto número deste Magazine Literário, uma publicação Sui Generis ao dispor de toda a lusofonia. A presente edição, uma Edição Especial de Natal, foca-se no evento natalino e em toda a magia que envolve a quadra natalícia. Apresenta diversos textos (maioritariamente contos e crónicas) e poemas sobre o Natal e destaca todas as obras colectivas dedicadas a esta quadra que organizei desde 2015. Publicamos também uma longa entrevista com a autora Rosa Marques, cujo ponto de partida é o lançamento do seu segundo livro de poesia, Prisioneiros do Progresso, e destacamos igualmente alguns outros lançamentos que decorreram nos últimos meses: o livro infanto-juvenil O Que Zeus Mostrou aos Homens da autora Marisa Luciana Alves, a nova obra de Estêvão de Sousa intitulada Pânico no Subúrbio e ainda Um Ano... 365 Poemas, uma verdadeira “Bíblia Poética” de Lucinda Maria cujos poemas que a compõem foram escritos (um por dia) durante os 365 dias do ano 2017. Agradecemos todas as contribuições que tornaram possível esta edição... e marcamos encontro na próxima edição. Boas leituras, Boas Festas e desejos de um excelente 2019 para todos vós!
SG MAG – Magazine Literário Ano 2 – Edição Nº 6 – Dezembro 2018 Editor e Director: Isidro Sousa Periodicidade: Trimestral ISSN: 2183-9573 Redacção e Publicidade: sg.magazin@gmail.com Endereço na Internet: https://issuu.com/sg.mag Colaboração nesta Edição: Aldir Donizeti Vieira, Alexandra Patrocínio, Alice Maulaz, Amélia M. Henriques, Ana Carolina Machado, Andréa Santos, Anita Santana, Ariel Fonseca Pulsz, Balthasar Sete-Sóis, Daniel Vicente, Diamantino Bártolo, Elisa Pereira, Estêvão de Sousa, Fátima D’Oliveira, Fernanda Caleffi Barbetta, Gabriel Felipe Lago Vieira, Isabel Martins, Isidro Sousa, Jorge Pincoruja, Joyce Lima, Lenilson Silva, Lira Vargas, Lucinda Maria, Lurdes Bernardo, Madalena Cordeiro, Manuel Amaro Mendonça, Maria José Mestre, Marisa Luciana Alves, Marizeth Maria Pereira, Mary Rosas, Maurício Cavalheiro, Nardélio F. Luz, Nicol Peceli, Paula Homem, Rafa Goudard, Raquel Machado, Ricardo Solano, Rita Queiroz, Natália Vale, Rosa Domingos, Rosa Marques, Samanta Obadia, Sandra Boveto, Sara Timóteo, Sérgio Sola, Sonia R. Andrade Carvalho, Tiago Sousa. Os textos publicados 5 são da exclusiva responsabilidade dos autores que os assinam; os conceitos emitidos pelos autores não traduzem necessariamente a opinião da revista.
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CRÓNICA
CARTA AO
N
PAPAI NOEL
o refeitório, após a última garfada, resolveu abrir o enPOR MAURÍCIO CAVALHEIRO velope. – Bilhetinho da namorada? Meneando a cabeça, explicou ao chefe de produção que todos os anos vazio que rasga o meu peito. Tenho um filho lindo, ia ao Correio e escolhia, aleatoriamente, uma das inteligente, órfão de pai desde a tenra idade. Quainúmeras cartinhas que crianças carentes escrevise morreu devido a seríssimo problema renal. am para pedir presentes ao Papai Noel. O escolhiGraças a Deus eu era doadora compatível.» do, ou a escolhida, teria o pedido realizado. O chefe suspendeu uma sobrancelha. – Nunca ouvi falar nisso. – Prossiga! – Não duvido. Você só pensa em dinheiro. Seu «Papai Noel, o doutor disse que o câncer não coração é de pedra. me dará mais que duas semanas de vida. Antes de – Quer manter o emprego? Morda a língua e morrer, preciso matar a saudade que sinto de leia em voz alta. meu filho, e pedir a ele que tome conta da minha «Querido Papai Noel, como está o clima no PoFortuna.» lo Norte? Aqui, o frio perdura há anos, infelizmen– Pare, por favor! Pare! Qual o nome dela? Alte.» zirinha? – Cartinha de criança carente? Com esse vocaO colega escorregou os olhos para o final da bulário? Sei. carta. «Antes de tudo quero agradecê-lo pelos pre– Isso. Alzirinha de... Mas, como você sabe o sentes que ganhei: a boneca de louça, o cavalinho nome dela? azul, a coleção de livros de Monteiro Lobato... Faz O chefe abriu as comportas lacrimais. tempo que nada peço; todavia, este ano, resolvi – Ela é minha... minha mãe. Fortuna? Coitadiescrever-lhe, pois não consigo mais controlar o nha. Preciso tirá-la de lá. Fortuna? Não posso perdesespero. Choro todos os dias. Não consigo dormitir que sofra mais. Não posso deixar que a nosmir. Papai Noel, o senhor é a minha última espesa fortuna caia em mãos erradas. Você vem comirança.» go. Agora! O chefe bocejava, entediado. – Antes, chefe, deixe-me ler os dois últimos pa– Quer que eu pare a leitura? rágrafos: – Não! Prossiga! «Fortuna é a tartaruguinha que o doutor me «Perdi a noção de tudo, mas sei que faz uma deu para ludibriar a saudade. Papai Noel, tragaeternidade que me trouxeram a esse asilo. Fiz me meu filho como presente.» muitas amizades aqui, mas nenhuma preenche o 7
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CONTO
À LUZ DE VELAS FERNANDA CALEFFI BARBETTA É jornalista, formada pela Universidade Metodista de São Paulo e pósgraduada em Comunicação Social, pela Faculdade Cásper Líbero. Com duas décadas de actuação em Comunicação Corporativa para médias e grandes empresas, entrou recentemente no espaço literário como escritora independente, ao lançar uma duologia. Em 2017, publicou o seu primeiro romance, «Futuros Roubados», seguido por «Passados Revelados», lançado no ano seguinte. Mantém um blogue, intitulado Aos Leitores, com Carinho, onde publica poesias, crónicas e, actualmente, capítulos do seu primeiro romance. É co-autora da antologia «Luz de Natal», da Colecção Sui Generis. Perfil no Facebook: https://www.facebook.com/fernanda.c aleffibarbetta
“Assim que chegaram, os convidados encontraram a porta aberta e um bilhete, escrito à mão, colado à campainha inoperante: estamos sem luz, pode entrar. Ao entrarem, encontraram a sala toda iluminada por velas, que iam desde as brancas específicas para os dias de temporal, passando pelas velas de aniversário já usadas, pelas perfumadas, por algumas que boiavam em vidros até chegarem às velas de sete dias. Com certeza teria iluminação até o final da festa.” POR FERNANDA CALEFFI BARBETTA
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O papai noel apareceu carregando um saco de embrulhos em uma mão e uma enorme
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altava apenas uma hora para os convidados chegarem, quando acabou a luz na casa dos Cardoso. Caminhando de um lado para o outro na cozinha, lamentando a má sorte de ficar sem luz na véspera de Natal, dona Lourdes foi surpreendida pelo marido, o senhor Rubens, que surgiu com a caixa de fósforos em mãos. A salvação para a escuridão e para o cozimento do peru, que estava prestes a ir para o forno. Naquele momento, dona Lourdes se questionava se seu maior problema era terminar de cozinhar à luz de velas, receber os convidados na penumbra ou o banho de água fria que ela estava prestes a tomar. Já o senhor Rubens tinha certeza de que seu maior desafio era manter as cervejas e o champanhe gelados durante toda a noite, problema que resolveu rapidamente com uma ida até o mercado no final da rua.
lanterna na outra. As crianças se questionaram se alguém havia conseguido avisá-lo sobre a falta de luz naquela casa ou se o papai noel
realmente era capaz de saber de tudo o que acontecia na véspera de Natal. A pouca luz foi até bastante providencial já que a caracterização do bom velhinho havia ficado um pouco a desejar.
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Assim que chegaram, os convidados encontraram a porta aberta e um bilhete, escrito à mão, colado à campainha inoperante: estamos sem luz, pode entrar. Ao entrarem, encontraram a sala toda iluminada por velas, que iam desde as brancas específicas para os dias de temporal, passando pelas velas de aniversário já usadas, pelas perfumadas, por algumas que boiavam em vidros até chegarem às velas de sete dias. Com certeza teria iluminação até o final da festa. As crianças foram as que mais gostaram da novidade. O mais velho dos netos, chegado à pirotecnia, viu naquela fatalidade a chance de ter o melhor Natal da sua vida. Após dois guardanapos incendiados e mechas de cabelo derretidas, ele foi advertido a parar de brincar com fogo. Quando as discussões sobre o perigo de se manter a porta aberta num bairro perigoso como aquele, sobre a probabilidade da casa ser incendiada até à meia-noite e sobre o cheiro das velas
De repente, a energia voltou na casa dos Cardoso. E as únicas
luzes que se acenderam foram os pisca-piscas que circundavam todo o pinheiro, cuidadosamente enfeitado com bolas coloridas e laços vermelhos.
perfumadas estar causando náuseas e dores de cabeça, todos sentaram-se à mesa para o jantar natalino. Graças aos fósforos do senhor Rubens, o peru, as batatas e o arroz com passas estavam soltando fumaça. Saladas e tortas completaram a ceia, que ganhou até um ar mais requintado, com os castiçais improvisados. Após o jantar, todos voltaram para a sala para
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a tão aguardada troca de presentes. O papai noel apareceu carregando um saco de embrulhos em uma mão e uma enorme lanterna na outra. As crianças se questionaram se alguém havia conseguido avisá-lo sobre a falta de luz naquela casa ou se o papai noel realmente era capaz de saber de tudo o que acontecia na véspera de Natal. A pouca luz foi até bastante providencial já que a caracterização do bom velhinho havia ficado um pouco a desejar. Ansiosas e animadas, as crianças se sentaram perto da árvore de Natal para desembrulharem seus presentes e os exibirem aos demais convidados, que aguardavam espalhados pelos sofás e cadeiras. Alguns dos expectadores estavam realmente interessados nos conteúdos dos embrulhos brilhantes, outros estavam apenas cumprindo o ritual familiar.
De repente, a energia voltou na casa dos Cardoso. E as únicas luzes que se acenderam foram os pisca-piscas que circundavam todo o pinheiro, cuidadosamente enfeitado com bolas coloridas e laços vermelhos. As crianças bateram palmas, imaginando que aquilo fosse alguma mágica do papai noel. Surpreendidos, os adultos se levantaram e começaram a se abraçar. Eram as luzes de Natal. Texto de Fernanda Caleffi Barbetta incluído no livro Luz de Natal, uma Antologia Lusófona publicada na Colecção Sui Generis em Dezembro de 2018
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LANÇAMENTO
LUZ DE NATAL Uma antologia lusófona que reúne contos, crónicas, cartas e poesias de 63 autores portugueses e brasileiros. Organizada por Isidro Sousa para a Colecção Sui Generis.
Luz de Natal é uma obra colectiva organizada e coordenada por Isidro Sousa para a Colecção Sui Generis e editada em Dezembro de 2018 pela edi-
tora Euedito. Reúne ao longo de 240 páginas contos, crónicas, cartas e poesias de 63 autores lusófonos contemporâneos, de Portugal e do Brasil. 14
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Eis os seus nomes por ordem alfabética: Alexandra Patrocínio, Amélia M. Henriques, Ana Lúcia Magela, Andréa Santos, Angelina Violante, Anita Santana, António Alves Vieira, António Santiago, Armindo Gonçalves, Carmem Aparecida Gomes, Chico Luz, David Sousa, Diamantino Bártolo, Dorivaldo Ferreira de Oliveira, Érica Azevedo, Estêvão de Sousa, Evandro Valentim de Melo, Fátima D’Oliveira, Felipe Noites, Fernanda Caleffi Barbetta, Fortunata Fialho, Gabriel Felipe Lago Vieira, Gilton Carlos, Ilza Carla Reis, Jorge Gaspar, Josy Santos, Joyce Lima, Karenn Sanches, Lira Vargas, Lucinda Maria, Lurdes Bernardo, Márcio Castilho, Maria Alcina Adriano, Maria Angélica, Maria de Fátima Soares, Maria Odete da Silva, Maria Sofia Jerónimo, Marilin Manrique, Marta Maria Niemeyer, Mary Rosas, Michele Valle, Miguel Leitão, Nina Maria, Olga Pereira, Olímpia Gravouil, Paula
Jorge, Paulo Otávio Barreiros Gravina, Pedro Paulo Câmara, RAADomingos, Raquel Lopes, Rita de Cássia, Rita Queiroz, Rosa Marques, Rosa Vital, Rose Chalfoun, Samanta Obadia, Sara Timóteo, Sonia R. Andrade e Carvalho, Suzete Fraga, Thiago Guimarães, Vieirinha Vieira, Wagner Azevedo Pereira, Zezé Libardi. Esta obra, publicada em memória de António Alves Vieira, jovem poeta da cidade do Porto desaparecido recentemente, no passado mês de Agosto, e contando com uma participação especial do professor Miguel Leitão, encontra-se à venda na livraria online Euedito, na Libros.cc, na Amazon e noutras plataformas de distribuição digital. Luz de Natal – Antologia Lusófona. Vários Autores. Organização Isidro Sousa. Colecção Sui Generis, Euedito. ISBN 978-989-8896-69-8. 1ª Edição: Dezembro 2018. Depósito Legal: 449783/18.
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APRESENTAÇÃO
LUZ DE NATAL ISIDRO SOUSA Nasceu em 1973, numa aldeia remota das Terras do Demo, concelho de Moimenta da Beira, e reside no Porto. Jornalista e editor de publicações periódicas desde 1996, fundou, dirigiu e editou revistas, jornais e guias turísticos, publicou a primeira antologia em Fevereiro de 2001, colaborou com três editoras, participou em várias dezenas de obras colectivas, foi distinguido num concurso literário e é o responsável pelos projectos da Sui Generis, que criou em Dezembro de 2015. Publicou três livros de contos e novelas: «Amargo Amargar», «O Pranto do Cisne» e «De Lírios». Blogue do Autor: http://isidelirios.blogspot.pt Página no Facebook: www.facebook.com/isidro.sousa.2
“Desde o momento em que os pastores maravilhados se movimentaram para ver-Te, na hora da alva, começaste, por misericórdia Tua, a receber testemunhos de afeição dos filhos da Terra. Todavia, muito antes que Te homenageassem com ouro, incenso e mirra, expressando a admiração e a reverência do Mundo, o Teu ceptro invisível dignou-se acolher, em primeiro lugar, as pequeninas dádivas das pessoas mais humildes... gente do povo daquelas cercanias.” POR ISIDRO SOUSA
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ambém José, deixando a cidade de turas e paz na Terra aos homens do Seu agrado» e Nazaré, na Galileia, subiu até à Julembramo-nos do tópico inesquecível da narrativa deia, à cidade de David, chamada de São Lucas, transcrita no início deste preâmbuBelém, por ser da casa e linhagem de David, a fim lo. de recensear-se com Maria, sua mulher, que se encontrava grávida. E quando eles ali se enconDesde o momento em que os pastores maravitravam, completaram-se os lhados se movimentaram dias de ela dar à luz e teve o para ver-Te, na hora da alseu filho primogénito, que va, começaste, por miserienvolveu em panos e recoscórdia Tua, a receber testeRecebe, Senhor! tou numa manjedoira, por munhos de afeição dos fiRecebe estes contos, não haver para eles lugar lhos da Terra. Todavia, muiestas crónicas, estas estórias, na hospedaria. Na mesma to antes que Te homenageregião, encontravam-se uns assem com ouro, incenso e estes poemas, estes pensapastores, que pernoitavam mirra, expressando a admimentos, estas cartas, estas nos campos, guardando os ração e a reverência do frases, o conjunto de todos seus rebanhos durante a Mundo, o Teu ceptro invisínoite. O anjo do Senhor vel dignou-se acolher, em os textos inseridos nesta apareceu-lhes e a glória do primeiro lugar, as pequeniantologia... Recebe-os com Senhor refulgiu em volta denas dádivas das pessoas a benevolência com que les, e tiveram muito medo. mais humildes... gente do Disse-lhes o anjo: “Não tepovo daquelas cercanias. acolheste as primeiras mais, pois vos anuncio uma palavras e respeito e os grande alegria, que o será Só Tu sabes, Senhor, os primeiros gestos de carinho para todo o povo: Hoje, na nomes daqueles que algucidade de David, nasceu-vos ma coisa, por mais pequena com que as criaturas rudes um Salvador, que é o Mesou aparentemente insignifie anónimas Te afagaram na sias, Senhor. Isto vos servirá cante que fosse, Te oferegloriosa descida à Terra!... de sinal para o identificarceram, em nome do amor des: Encontrareis um Menipuro, nos instantes da esE que nós, espíritos milenares no envolto em panos e deitrebaria: a primeira frase de fatigados do erro, mas renovatado numa manjedoira”.» bênção... a luz da candeia, dos na esperança, possamos (Evangelho de São Lucas 2, ou da vela, que principiou a 4-12) brilhar quando se apagaram rever-Te a figura sublime, as irradiações do firmamennos recessos do coração. to... os panos que Te livraram do frio... a manta modesta que Te garantiu o leito improvisado... os primeiSenhor! Enquanto as melodias do Natal nos ros braços que Te enlaçaram ao colo para que Joenternecem, recordamos também, ante o céu ilusé e Maria repousassem... o auxílio aos pais canminado, a estrela divina que Te assinalou o berço sados... os utensílios de empréstimo para que Te na palha singela!... Alcançam-nos novamente os não faltasse assistência... a bondade que manteve ouvidos as vozes angélicas «Glória a Deus nas ala ordem ao redor da manjedoura, preservando-a 18
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de possíveis assaltos ou de quaisquer outros incidentes... o feno para o animal que devia transportar-Te... e mais, muito mais.
Recebe, Senhor! Recebe estes contos, estas crónicas, estas estórias, estes poemas, estes pensamentos, estas cartas, estas frases, o conjunto de todos os textos inseridos nesta antologia... Recebe-os com a benevolência com que acolheste as primeiras palavras e respeito e os primeiros gestos de carinho com que as criaturas rudes e anónimas Te afagaram na gloriosa descida à Terra!... E que nós, espíritos milenares fatigados do erro, mas renovados na esperança, possamos rever-Te a figura sublime, nos recessos do coração.
Hoje, Senhor, dois milénios transcorridos sobre o Teu nascimento em Belém, nós, humildes pecadores, seis dezenas de autores lusófonos, portugueses e brasileiros, ínfimos obreiros deste Mundo, pedimos vénia para algo, ainda que simbólico, Te ofertar... ou dedicar. Nada possuindo de nós, trazemos-Te as páginas despretensiosas deste livro, uma obra colectiva intitulada Luz de Natal que Tu mesmo nos inspiraste, os pensamentos de gratidão e de amor que nos saíram do coração, em forma de letras, em louvor de Tua infinita bondade! Porque Tu és a Luz de Natal... a luz do (nosso) Natal.
Prefácio de Isidro Sousa incluído no livro Luz de Natal, uma Antologia Lusófona publicada na Colecção Sui Generis em Dezembro de 2018
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POESIA
GABRIEL FELIPE LAGO VIEIRA GABRIEL FELIPE LAGO VIEIRA Nascido em 1994, na cidade de Londrina, no Brasil, é apaixonado por fantasia, nutrindo grande inspiração por J. R. R. Tolkien e C. S. Lewis. Gosta de tecer reflexões sobre o eterno e o passageiro, o duradouro e o fugaz, de maneira a levar o leitor a ansiar por valores etéreos. O constante embate entre forças antagónicas é visível em seus trabalhos. Participou na antologia «Luz de Natal» da Colecção Sui Generis.
O BERÇO DA ESPERANÇA Bendita manjedoura! Em ti se deitou a luz da humanidade. Bendita manjedoura! Em ti se achou o filho da piedade. Dos confins do mundo exclamaram os lábios, ouvindo notícias da criança mais bela. Dos confins do mundo vieram os sábios, ansiando saber que boa-nova era aquela. Tropeçaram em fria noite, padeceram em quente dia, tão desejosos estavam da pequena e humilde estrebaria. Mas nem todos deram crédito e a muitos sobreveio sincero espanto. Ora, decerto era algo demasiado inédito conceberem um rei em grosseiro canto.
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Absurda história! Descabido rumor! Será que pobre nascera o nosso Senhor? Absurda história! Descabido rumor! Viera o Ungido sem qualquer esplendor? Cidadãos e plebeus espalharam o boato, imperadores e soberanos escutaram a falação: o enviado dos céus nasceu em lugar ingrato, colocado onde o boi e o cavalo comem ração! Mas não sabia aquela gente que sua marca era a simplicidade e que, por viver como todos, sobre todos teria autoridade. Bendita manjedoura! Em ti se deitou a esperança das nações. Bendita manjedoura! Em ti se achou o dono dos corações. Ali repousou homem fadado ao sofrimento; cordeiro mudo, silente por seu algoz. Ali descansou do inferno o lamento; herói do mundo, espada imponente, leão feroz. Encarnara o amor feito menino! Seu choro, ecoado outrora em Belém. A salvação teve rosto inocente, franzino, mas trono lhe deram em Jerusalém. Bendita, de fato, a manjedoura que um dia envolveu o esperado Messias. Tão simples, tão bruta, tão acolhedora, fez-se conforto e alento à luz de nossos dias.
Poema de Gabriel Felipe Lago Vieira incluído no livro Luz de Natal, uma Antologia Lusófona publicada na Colecção Sui Generis em Dezembro de 2018
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CRÓNICA
DIAMANTINO BÁRTOLO Natural de Venade (Caminha), Doutorado (Curso Livre) em Filosofia Social e Política. Obra literária: 13 antologias próprias, 30 antologias em co-edição em Portugal e no Brasil. Correspondente Internacional para vários jornais. Vencedor do Troféu 2017 com o melhor Livro Educacional ZL Editora, Brasil. Académico Correspondente-Internacional da Academia Lavrense de Letras e do Grémio Literário de Barra Mansa, Brasil. Presidente do Núcleo Académico de Letras e Artes de Portugal. Sócio Honorário da Associação de Jornalistas e Escritoras do Brasil. Co-autor das antologias «Graças a Deus!», «Saloios & Caipiras», «Fúria de Viver», «A Primavera dos Sorrisos», «Tempo de Magia», «Devassos no Paraíso», «Os Vigaristas», «Luz de Natal» e «Sinfonia de Amor» da Colecção Sui Generis. Perfil no Facebook: https://www.facebook.com/diamantin o.bartolo.1
TEMPO DE SOLIDARIEDADE E GRATIDÃO “Não se podem ignorar os valores da Solidariedade, da Humildade e da Gratidão que, nesta época do ano, para muitas pessoas, se transformam em autênticos atos de benevolência para com familiares, amigos e colegas; pelo menos durante alguns dias, o mundo conflituoso parece ficar afastado dos pensamentos, e das ações de grande parte da humanidade.”
POR DIAMANTINO BÁRTOLO
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possível afirmar-se, sem grande margem de erro, que durante o ano inteiro todos os dias recordam uma qualquer efeméride: seja um acontecimento mundial, de cariz social, cultural, científico, bélico, histórico, religioso, hagiográfico; seja, ainda, no âmbito das diversas profissões, biografias de grandes figuras mundiais, descobertas tecnológicas, comemorações de eventos que de alguma forma se tornaram referências universais. O calendário anual dos dias ecuménicos, mas, também, nacionais, e dos temas a eles associados, realmente é muito rico, e extenso, de resto, verifica-se ao longo do ano que, por vezes, para um só dia se revivem diversos acontecimentos e ainda que, de ano para ano, a lista vem aumentando e, em alguns casos, há alteração da data para o mesmo evento. O Natal é um desses dias universais que, praticamente, em todo o mundo cristão, se celebra com intensa emoção e profunda devoção, esta no que respeita aos rituais religiosos, aos quais, e paralelamente, se desenrola a festa profana, no contexto familiar, num misto de: amor, saudade, gratidão e alegria, na maior parte dos lares portugueses. Há princípios, valores e sentimentos que, nesta época do ano, se destacam com mais veemência: uns, obviamente, são verdadeiros, vividos e manifestados com grande sinceridade e afetuosidade; outros, com intenções diversas e objetivos bem definidos, não sendo de escamotear o recurso à hipocrisia, à bajulação e à obtenção de benefícios que, de outra forma, tais pessoas não conseguiriam. A quadra natalícia também é propícia à exuberância financeira, e/ou à ostentação de um qualquer poder: através da exibição de ofertas luxuosas às pessoas a quem se quer bem, ou impressionar, ou ainda cativar para um apoio, eventualmente, inconfessável. O Natal serve para tudo isto, e muito mais. Mas abordemos este período do ano tão sublime quanto respeitável, para destacarmos os sen-
timentos da saudade, para aquelas pessoas, amigas, familiares e de quem gostamos, para com elas convivermos e recordarmos bons momentos
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O Natal é um desses dias universais que, praticamente, em todo o mundo cristão, se celebra com intensa emoção e profunda devoção, esta no que respeita aos rituais religiosos, aos quais, e paralelamente, se desenrola a festa profana, no contexto familiar, num misto de: amor, saudade, gratidão e alegria, na maior parte dos lares portugueses.
Há princípios, valores e sentimentos que, nesta época do ano, se destacam com mais veemência: uns, obviamente, são verdadeiros, vividos e manifestados com grande sinceridade e afetuosidade; outros, com intenções diversas e objetivos bem definidos, não sendo de escamotear o recurso à hipocrisia, à bajulação e à obtenção de benefícios que, de outra forma, tais pessoas não conseguiriam.
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de convívio, seja no âmbito académico, social, profissional e de lazer que ao longo dos anos ocorreram. De igual forma, não se podem ignorar os valores da Solidariedade, da Humildade e da Gratidão que, nesta época do ano, para muitas pessoas, se transformam em autênticos atos de benevolência para com familiares, amigos e colegas; pelo menos durante alguns dias, o mundo conflituoso parece ficar afastado dos pensamentos, e das ações de grande parte da humanidade. O Natal presta-se muito bem para comportamentos solidários, verificando-se que muitas pessoas doam a outras alguns dos seus bens, e uma situação interessante é que uma faixa significativa de uma população mais pobre não olha a esforços, nem a despesas, para ajudar quem mais precisa, justamente através dos peditórioos promovidos por diversas entidades, habitualmente, privadas. Com efeito, tais intervenções, promovidas por grandes instituições, como Cruz Vermelha, Misericórdias, Banco Alimentar, diversas Organizações Não Governamentais e Instituições Particulares de Solidariedade Social, com todo um corpo de voluntariado, angariam bens de primeira necessidade para serem entregues às pessoas em dificuldades. Este espírito solidário, tão característico do povo Português, faz-se notar ao longo do ano, no entanto, é em situações de catástrofe ou em períodos mais simbólicos, como o Natal, que a dádiva é, praticamente, instintiva, porque este valor de
que tanto nos orgulhamos ultrapassa fronteiras, como é sabido. Importa destacar que a solidariedade não é um conceito vazio, nem tão-pouco negociável, porque ela implica autenticidade, bondade e humildade. O Natal que, um pouco por todo o mundo, ainda se comemora com a dignidade que se impõe, propicia às famílias, aos amigos e até aos conhecidos mais chegados, momentos de intensa confraternização, onde a saudade dos que estiveram ausentes vem, emocionalmente, à “flor da pele”, para, por entre abraços, beijos e lágrimas, 25
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estas de alegria e felicidade, as pessoas “matalogo, é necessária a nossa compreensão, benevorem” as saudades, tantas vezes quantas as neceslência, generosidade e humildade para que possárias, até que os corações se acalmem. samos retomar o que, possivelmente, há décadas Como seria magnífico que terá sido interrompido, quantodos os dias do ano se festetas vezes sem se saber as rajasse o Natal, numa perspeczões de tais comportamentiva de amor, de paz e de fetos. O contexto natalício importa licidade. Infelizmente, tais coO Natal é união da família, que seja experienciado sem mo muitos outros dias festicertamente, mas essa cirmágoas, sem aversões e, vos, que se celebram ao loncunstância constitui, apenas, go do ano, assim não aconteuma parte da grandeza que acima de tudo, que os ce o que: se por um lado não devemos dar ao dia do nassentimentos negativos constituiu um mal maior, por cimento de Jesus Cristo, obsejam substituídos por outro lado também permite viamente, na perspectiva dos viver este período da família devotos católicos, porque ouafetos positivos, no mínimo, com mais veemência. tras manifestações, realizaque a partir destes se inicie Este período de tempo das por crentes noutras dium processo de reconciliatambém poderá ser aproveimensões religiosas, seguratado para uma revisão da mente que devem ser respeição para com as pessoas perceção relativamente ao tadas, sem censuras, nem que, ao longo do ano, ou que fizemos durante os rescondenações, até porque podos anos, estiveram de tantes 364 dias, porque em derá alguém afirmar com toboa verdade, ao longo do tal certeza quem é que neste costas voltadas para nós ano, ou dos anos ou até de mundo está certo ou errado, e, provavelmente, também décadas, muitos erros foram no que respeita a uma possínós não teremos agido cometidos: uns, involuntariavel vida espiritual para além mente; outros, propositadada morte física? da melhor forma, logo, mente, por isso, é chegado o No âmbito das nossas traé necessária a nossa momento de acertamos as dições natalícias: sejam de compreensão, benevolência, contas com o “tribunal da natureza religiosa cristã; senossa consciência”. jam no âmbito dos festejos generosidade e humildade O contexto natalício improfanos; sejam, ainda, ao nípara que possamos retomar porta que seja experienciado vel da solidariedade para o que, possivelmente, há sem mágoas, sem aversões e, com os mais necessitados, a acima de tudo, que os sentiverdade é que deveremos codécadas terá sido interrommentos negativos sejam sublocar de lado todas e quaispido, quantas vezes sem stituídos por afetos positivos, quer divergências que nos tese saber as razões de tais no mínimo, que a partir desnham separado no passado, tes se inicie um processo de e retomemos agora uma vida comportamentos. reconciliação para com as de harmonização, de amor, pessoas que, ao longo do de paz e de felicidade. Que a ano, ou dos anos, estiveram Luz do Natal nos ilumine e de costas voltadas para nós e, provavelmente, encaminhe para o Bem. também nós não teremos agido da melhor forma, Neste Natal de 2018, e no que a Portugal res26
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peita, haverá melhores condições materiais para que: as pessoas, as famílias, os trabalhadores, os empresários e todo o tecido económico-social possam “respirar” um pouco de uma carga fiscal brutal que, durante alguns anos, lhes foi imposta, de fora para dentro, desnecessariamente, conforme se tem vindo a comprovar. Portugal e os Portugueses, em geral, têm razões para: festejar este Natal com redobrada esperança num futuro melhor; com perspetivas de um nível de vida superior a que, legal e legitimamente, têm direito; portanto, haverá motivos que justificam acreditar que o pior terá passado, que soubemos vencer os obstáculos que nos foram colocados, razões mais que suficientes para encararmos este Natal com otimismo, com alento e alegria. Desperdiçar esta quadra tão importante na vi-
da das pessoas, das famílias, das organizações, pode significar mais uma oportunidade perdida, no caminho do Bem Comum, do Amor, da Paz e da Felicidade. Não querer aderir, com entusiasmo, às seculares e salutares tradições religiosas e profanas portuguesas, é colocar-se à margem de uma comunidade civilizada, culta e humanista, como é a Portuguesa, em particular, e a sociedade Lusófona em geral. Independentemente da crítica, já muito banal, que muitas pessoas fazem, quando afirmam que “Natal deveria ser todos os dias”, com a qual até se concorda, a verdade é que se, pelo menos uma vez por ano, houver um esforço de boa vontade, de afeto sincero e de alegria, então vale a pena esperar um ano para se vivenciar este dia, com a dignidade que tanto nos caracteriza. Texto incluído no livro Luz de Natal, Dezembro 2018
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ANTOLOGIA «LUZ DE NATAL»
63 AUTORES
LUSÓFONOS BREVE NOTA BIOGRÁFICA DE TODOS OS AUTORES
ALEXANDRA PATROCÍNIO – É professora de Literatura da rede pública de ensino da Bahia, no Brasil. Graduada em Letras e Especialista em Educação pela UEFS. Mestra em Estudos de Linguagem pela Universidade do Estado da Bahia. Autora do livro «Girassóis em Noites Escuras» (Penalux). Tem poemas publicados em várias antologias poéticas. Faz parte da Confraria Poética Feminina e do Movimento Mulherio das Letras – Brasil, Bahia e Europa.
de Viver», «A Primavera dos Sorrisos», «Tempo de Magia», «Devassos no Paraíso» e «Sinfonia de Amor» da Colecção Sui Generis. Formada também em línguas, fala quatro idiomas. Gosta de viajar, pratica natação e não vive sem a música; é fã de jazz. ANA LÚCIA MAGELA – Natural de Belo Horizonte, MG, Brasil. Reside em Amparo, SP. Mestre e Doutora em Educação, na área de Sociologia e Antropologia, pela FEUSP e Paris V. Pesquisadora da obra de J. Guimarães Rosa. Professora aposentada da UFMG, da Universidade do Contestado e da Universidade do Sul de Santa Catarina, e pesquisadora do CNPq. Tem doze livros publicados.
AMÉLIA M. HENRIQUES – Nasceu em 1963, em Espinho, onde reside. Os seus gostos e hobbies são, na maioria, de inclinação artística. É artista plástica; participa em várias exposições individuais e colectivas, em Portugal e no estrangeiro, destacando-se a última exposição colectiva, em Outubro de 2015, no Carrossel do Louvre, em Paris. É também artesã e faz parte do projecto-loja comunitária Artyspinho, destacando-se como ceramista e em joalharia com peças únicas; em 2013, foi seleccionada por oito designers de Nova Iorque. Editou um livro de poesia: «Manta de Retalhos» (Artelogy, 2015). Participou nas antologias «O Beijo do Vampiro», «Vendaval de Emoções», «Graças a Deus!», «Torrente de Paixões», «Fúria
ANDRÉA SANTOS – Brasileira, é uma amante de música, teatro, literatura. Graduada em Letras Vernáculas (UESB), fez mestrado em Estudos Literários (UEFS). É Professora Substituta da UNEB, Barreiras. Participou em oficinas de criação literária, publicou poemas no livro «Prosa & Verso» (Edições MAC/Feira, 2017, 2018), na colectânea «Gotas Poéticas» (Darda Editora, 2018) e na revista eisFluências (2017). Integra a Confraria Poética Feminina.
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ANGELINA VIOLANTE – Nascida em 1977, Angelina Rosa Nogueira Santos Violante é doméstica e mãe de um menino. Escrever sempre foi um sonho e tem por hobbies (além de ler e escrever) bordar, montar puzzles e pintar; também é fã de passatempos (palavras cruzadas, sopas de letras, sudoku, etc). Tem trabalhos publicados em diversas obras colectivas de várias editoras. Da Colecção Sui Generis, participou em «A Bíblia dos Pecadores», «O Beijo do Vampiro», «Vendaval de Emoções», «Graças a Deus!», «Ninguém Leva a Mal», «Torrente de Paixões», «Saloios & Caipiras», «Sexta-Feira 13», «Crimes Sem Rosto», «Fúria de Viver», «A Primavera dos Sorrisos», «Tempo de Magia», «Os Vigaristas» e «Sinfonia de Amor».
ções que já não cabem mais em si. Nascida e residente em Euclides da Cunha, no Estado da Bahia, Brasil. Fez mestrado em Estudos Literários pela Universidade Estadual de Feira de Santana – UEFS (2017), graduada em Licenciatura em Letras Vernáculas pela Universidade do Estado da Bahia – UNEB (2008). Professora concursada, actuando em turmas do Ensino Médio no Colégio Estadual Educandário Oliveira Brito e como supervisora do Programa de Iniciação à Docência (PIBID). Coordenadora do Ensino Fundamental II na disciplina de Língua Portuguesa das escolas municipais de Euclides da Cunha. ANTÓNIO ALVES VIEIRA – Nasceu em 1987, em Marco de Canaveses, e morreu aos 31 anos no Porto, em Agosto de 2018. Foi actor de profissão, produtor, formador de teatro, de interpretação e
ANITA SANTANA – A poesia é uma forma de sentir as coisas ao seu redor, e é transbordar emo-
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de movimento, poeta, activista destacado do movimento LGBTI e militante do Bloco de Esquerda. Participou em vários filmes, séries e telenovelas (como «Rosa Fogo», entre outras). Deixou um livro de poesia publicado e poemas inseridos em obras colectivas.
poesia. Aos 50 anos escreveu os livros «Sentimentos com Poesia», «Coisas & Afetos» e «Este é o Mundo», além de ter participado em várias obras colectivas. Actualmente, é responsável pelo grupo de música tradicional Sons do Marco. CARMEM APARECIDA GOMES – Ipameri, Goiás, Brasil. Formada em Pedagogia, Especialista em Ensino Universitário, Bacharel em Direito e Mestre. Obras publicadas no Brasil e Exterior: «A Menina e o Tesouro», «A Preguiça do Cumpade Zé Cochôxi», «A Menina dos Olhos Alaranjados», «O Colecionador de Tatuagens», «Os Sonhos Mágicos de Eloan», «O Seu Coisa», «Amo Eternamente Uma Única Vez» – romance concorrendo ao prémio literário Machado de Assis/Biblioteca Nacional, 2018 – e «Entre o Sacro e o Profano», poema de 25 páginas concorrendo ao grande prémio literá-
ANTÓNIO SANTIAGO – Pseudónimo de José Duarte Mateus Beatriz, adoptado em 1997. Nasceu no ano de 1975 em Lisboa. Estreia no campo literário em 2015/2016, nas antologias «A Bíblia dos Pecadores» e «Vendaval de Emoções» da Colecção Sui Generis. ARMINDO GONÇALVES – Nasceu em 1965, é casado, tem uma filha e reside em Paredes de Viadores. Tirou o curso de instrutor de condução automóvel e foi no liceu onde descobriu o gosto pela
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rio de Minas Gerais-Brasil 2018. Tem participações em obras colectivas no Brasil e Exterior, incluindo «Tempo de Magia».
Português, História, Francês e Filosofia. Ocupou, por convite, lugares políticos autárquicos. Publicou vários livros (ebooks) em prosa e verso na Buboc e «O Canto do Cisne» (papel) na Sinapsis. Participou nas antologias «Graças a Deus!», «Torrente de Paixões» e «Sinfonia de Amor» da Colecção Sui Generis.
CHICO LUZ – Pseudónimo de José Francisco Ferraz Luz, brasileiro, casado, advogado, jornalista, membro da Ordem Nacional de Escritores e Associação Portuguesa de Escritores, participa em diversas antologias, entre elas Casa do Poeta de São Paulo, Associação Portuguesa de Poetas, Movimento Poético Nacional, Academia Utanhaense de Letras e da Academia Paulistana Maçônica de Letras Grau 33 do Supremo Conclave do Rito Brasileiro.
DIAMANTINO BÁRTOLO – Natural de Venade (Caminha), Doutorado (Curso Livre) em Filosofia Social e Política. Obra literária: 13 antologias próprias, 30 antologias em co-edição em Portugal e no Brasil. Correspondente Internacional para vários jornais. Vencedor do Troféu 2017 com o melhor Livro Educacional ZL Editora, Brasil. Académico Correspondente-Internacional da Academia Lavrense de Letras e do Grémio Literário de Barra Mansa, Brasil. Presidente do Núcleo Académico de Letras e
DAVID SOUSA – Nasceu em Fânzeres, Gondomar, em 1929, estudou no Seminário Maior de Évora, tirou o curso de Humanidades e Filosofia em Salamanca e enveredou pela docência. Leccionou
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Artes de Portugal. Sócio Honorário da Associação de Jornalistas e Escritoras do Brasil. Co-autor das antologias «Graças a Deus!», «Saloios & Caipiras», «Fúria de Viver», «A Primavera dos Sorrisos», «Tempo de Magia», «Devassos no Paraíso», «Os Vigaristas» e «Sinfonia de Amor» da Colecção Sui Generis.
vo: 21 Poetas Baianos do Século XXI» (Escrituras, 2011), «2º Concurso Literário do Servidor Público» (SAEB, 2015), «Confraria Poética Feminina» (Penalux, 2016), «O Sarau: Doze Poetas Viscerais Recitando na Boca da Noite» (Mondrongo, 2017) e «Oxe: Literatura Baiana Contemporânea (IFBA – Campus Santo Amaro, 2017).
DORIVALDO FERREIRA DE OLIVEIRA – Professor de geografia e escritor. Obra publicada: «A Pedra de Mármore». Casado, pai de dois filhos, morador na cidade de Chavantes, SP, Brasil.
ESTÊVÃO DE SOUSA – Nasceu em Lisboa, em 1937. Viveu em Angola dos 15 aos 36 anos, onde completou o curso geral de Comércio. Já em Portugal, fez um curso de Gestão e Administração de Empresas, exercendo funções de Director Administrativo. Hoje, aposentado, escreve. É autor literário das seguintes obras: «Nesta Terra Abençoada», «Tráfico no Rio Geba», «Irina – A Guerrilheira», «Rapto em Londres», «Romance em São Tomé», «Pedaços de Mim», «Contos, Estórias &
ÉRICA AZEVEDO – É natural de Santo Estevão, BA, Brasil, e autora de «Vida em Poesias» (Edições MAC/Feira de Santana, 2002), «Outros Eus» (Kalango, 2013) e «A Chuva e o Labirinto» (Mondrongo, 2017). Participou nas colectâneas «Sangue No-
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Companhia», «A Profanação do Túmulo» e «Pânico no Subúrbio». Tem trabalhos publicados em diversas antologias. Da Colecção Sui Generis, participou em «A Bíblia dos Pecadores», «O Beijo do Vampiro», «Saloios & Caipiras», «Fúria de Viver», «Crimes Sem Rosto», «A Primavera dos Sorrisos», «Devassos no Paraíso», «Os Vigaristas» e «Sinfonia de Amor».
FÁTIMA D’OLIVEIRA – Tem 48 anos e é natural da freguesia do Vale de Santarém. Quando lhe é possível, gosta de colaborar com a APAHE – Associação Portuguesa de Ataxias Hereditárias. Possui ainda uma página no Facebook, www.facebook. com/autora.fatimadoliveira, que desde já vos convida a conhecer, gostar e comentar. Da Sui Generis, é co-autora de «Sinfonia de Amor».
EVANDRO VALENTIM DE MELO – Nascido em 1963, em Brasília (Brasil), onde reside. Publicou «Guardiões do Cerrado» (Assis, 2018), «Aventura no Cerrado» (Assis, 2017), «Aventura na Floresta: Bichos e Lendas Daqui e Dacolá» (Assis, 2016), «Cliques Narrativos: um Romance em Crónicas» (Assis, 2014) e «”Causos” de RH: o Livro» (Livre Expressão, 2011). Tem premiações em concursos literários e participações em diversas antologias.
FELIPE NOITES – Nasceu em 1999. Sonha em ser escritor desde os 14 anos e, além de poesias, contos e crónicas, está a escrever, actualmente, o seu primeiro livro. FERNANDA CALEFFI BARBETTA – É jornalista, formada pela Universidade Metodista de São Paulo e pós-graduada em Comunicação Social, pela Faculdade Cásper Líbero. Com duas décadas de actua-
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ção em Comunicação Corporativa para médias e grandes empresas, entrou recentemente no espaço literário como escritora independente, ao lançar uma duologia. Em 2017, publicou o seu primeiro romance, «Futuros Roubados», seguido por «Passados Revelados», lançado no ano seguinte. Mantém um blogue, intitulado Aos Leitores, com Carinho, onde publica poesias, crónicas e, actualmente, capítulos do seu primeiro romance.
GABRIEL FELIPE LAGO VIEIRA – Nascido em 1994, na cidade de Londrina, no Brasil, é apaixonado por fantasia, nutrindo grande inspiração por J. R. R. Tolkien e C. S. Lewis. Gosta de tecer reflexões sobre o eterno e o passageiro, o duradouro e o fugaz, de maneira a levar o leitor a ansiar por valores etéreos. O constante embate entre forças antagónicas é visível em seus trabalhos. GILTON CARLOS – É engenheiro mecânico, ciclista, leitor e estudante do Evangelho, apaixonado por Jesus. Do encanto com a leitura nasceu o sonho da escrita. É antes de a Lua se despedir que cultiva a escrita, no prazer do encontro consigo mesmo. Nascido em 1984, reside em Tucuruí, estado do Pará (Brasil), cidade onde nasceu. Co-autor da antologia «Sinfonia de Amor», da Colecção Sui Generis.
FORTUNATA FIALHO – Nascida em Aldeias de Montoito, viveu quase toda a sua vida em Évora, onde estudou e casou. Licenciada em Matemática via Ensino pela Universidade de Évora, professora, de Matemática, em exercício em Reguengos de Monsaraz. Viciada em livros e que adora escrever, com dois livros publicados e participações em diversas obras, em conjunto com outros escritores.
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ILZA CARLA REIS – Escritora e professora da Universidade do Estado da Bahia (UNEB), Brasil. Integra a Confraria Poética Feminina, pela qual participa em diversos projectos e colectâneas: «Confraria Poética Feminina» – Vol. I e II, «Agenda Poética», «Confraria Poética Feminina – Além da Estampa», «Tulipas Negras», «Saudade & Poesia», «Meus Poeminhas Infantis». Em 2018, publicou o seu primeiro livro de poesias, «Poemeadura», pela Mondrongo.
de cultural. Co-autor da antologia «Sinfonia de Amor», da Colecção Sui Generis. JOSY SANTOS – Nasceu em Santo Estêvão, Brasil, em 1978. Graduada em Letras pela UEFS, Mestre em Literatura e Diversidade Cultural (UEFS). Professora e poeta. Participou nas antologias «Confraria Poética Feminina» (2016/2018), «Agenda Poética» (2017), «Confraria Poética – Além da Estampa» (2017) e «O Sarau (Doze Poetas Viscerais Recitando na Boca da Noite)» (2018).
JORGE GASPAR – Natural de Lisboa, apaixonado pela cultura, radialista. Na paixão da Rádio, cultivando os sons das ideias nas palavras, com entusiasmo exigente, libertando o encanto da Rádio. Em https://ntradio.pt, gerindo a página Cultos e realizando As Cores dos Autores, emissão semanal de duas horas para divulgação de toda a activida-
JOYCE LIMA – Baiana, reside em Itagibá, BA, Brasil. Escrever e viajar são hobbies favoritos. Autora de «A Arte de Costurar Palavras» (2016), «Modos de Identificação de Professor(a): Tramas Discursivas» (2017), «Formação Continuada: dos Desafios aos Impactos na Atuação Docente» (2016). Parti-
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cipou em várias antologias poéticas, no Brasil e em Portugal. É coordenadora e organizadora de antologias – projecto «Janelinhas Encantadas».
Dois títulos na Biblioteca de Dambory NY e dois em Miami FL. É co-autora da antologia «Sinfonia de Amor» da Colecção Sui Generis.
KARENN SANCHES – Nascida em 1992, no município de Cachoeiro de Itapemirim, Brasil. Graduada em pedagogia, autora do livro infantil «Daniel», antologista do «Bailando por Pensamento e Emoções», tendo participações nas antologias «Livro do Amor», «Pérolas Capixabas», «Maravilhosas Mulheres em Versos e Prosas» e «Poesia Mistério de Amor e Magia» (volume 1).
LUCINDA MARIA – Lucinda Maria Cardoso de Brito nasceu em Oliveira do Hospital, em 1952. Fez um percurso académico muito bom e tirou o curso do Magistério Primário, começando a leccionar em 1972. Encontra-se aposentada, mas continua a ensinar, agora artes decorativas, na Universidade Sénior de Rotary de Oliveira do Hospital. Tem seis livros publicados – «Palavras Sentidas» (2013), «Alma» (2014), «Divagando...» (2015), «Terra do Meu Coração» (2016), «Sonho?... Logo, Existo!» (Sui Generis, 2017) e «Um Ano... 365 Poemas» (2018) – e participações em variadíssimas obras colectivas. Da Colecção Sui Generis: «A Bíblia dos Pecadores», «Vendaval de Emoções», «Graças a
LIRA VARGAS – Tem 16 obras publicadas entre editoras e independentes e participações em movimentos literários no Brasil e Miami e em Feiras de Livros, televisões e rádios. Com certificados. Classificações em festivais de poesias e contos.
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Deus!», «Torrente de Paixões», «Fúria de Viver», «A Primavera dos Sorrisos», «Tempo de Magia» e «Sinfonia de Amor». Como autora, gosta de identificar-se apenas por Lucinda Maria; não escreve segundo o Acordo Ortográfico de 1990.
MÁRCIO CASTILHO – Poeta brasileiro, nascido em Duque de Caxias, em 1974. Em 1988 mudou-se para Volta Redonda, onde reside actualmente. Participou em várias colectâneas: «XIII Coletânea de Contos e Poesias», do Grêmio Literário de Autores Novos, «Trovas da Latinidade», «Minha Cidade», «Corolário da Alma», «Influência do Sentir», entre outras.
LURDES BERNARDO – Maria de Lurdes Sequeira Pereira da Costa Bernardo é natural de Fornelos, Santa Marta de Penaguião, Vila Real. Não tem muitas habilitações literárias, mas as suficientes para não se lamentar da vida. Nem sempre consegue estar inspirada, mas se a inspiração surge é com imensa facilidade que faz um poema. Participou em 10 antologias, com 100 poemas numa colectânea, e alguns mais entre colectâneas e revistas. Adora cantar, poesia e fado. Assina os seus poemas como Lurdes Bernardo.
MARIA ALCINA ADRIANO – Tem publicados os seguintes livros: «Flores Verdes em Tempo de Guerra» (2011), «O Meu Corpo é Como Um Rio» (2012), «As Searas São Vermelhas» (2013), «A Magia da Vida» (2014), «A Primavera dos Meus Sonhos» (2015), «As Ondas dos Seus Olhos» (2016), «A Ribeira da Minha Terra» (2017) e «Passeios da Memória» (2018). Participou em diversas antologias de várias editoras. Da Colecção Sui Generis:
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«Vendaval de Emoções», «Graças a Deus!», «Fúria de Viver», «A Primavera dos Sorrisos», «Tempo de Magia» e «Sinfonia de Amor».
novos desafios. Colaborou com a Literarte e a Divulga Escritor e com alguns jornais, onde a sua poesia e contos foram publicados. É membro da Academia de Letras e Artes de Fortaleza, da Academia de Cabo Frio e do Círculo de Escritores de Espanha. Foi convidada para fazer parte da União Brasileira de Trovadores. Durante breve tempo, presidiu o Núcleo Académico de Artes de Lisboa. Recebeu vários prémios de poesia ao longo do seu trajecto literário. Da Sui Generis, participou em «A Bíblia dos Pecadores» e «Tempo de Magia».
MARIA ANGÉLICA – Maria Angélica Rocha Fernandes, natural de Caculé (Bahia, Brasil), é Doutoranda em Educação – UFRJ, Professora de Literatura da UNEB, Brumado, BA, e em Caculé, BA, e Mestre e Especialista em Literaturas. Publicou dois livros, artigos, capítulos em periódicos, contos e poesias em obras colectivas. É membro da Confraria Poética Feminina.
MARIA ODETE DA SILVA – Professora do 1º ciclo licenciada em Expressões Artísticas Integradas em Educação a trabalhar na Escola Básica de Comporta, na Comporta, Alcácer do Sal. Gosta de ler, escrever poesia, contos infantis e outros.
MARIA DE FÁTIMA SOARES – Nasceu em Lisboa, em 1956. Publicou vários livros, de poesia, romance, ficção e infantil. Participou em tertúlias de poesia, vários projectos para que foi convidada, escreve diariamente nos seus blogues e integra
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MARIA SOFIA JERÓNIMO – É natural da freguesia de Carção, concelho de Vimioso. Estudou no Porto, depois da 4ª classe. Tirou o Curso do Ensino Básico na Escola do Magistério Primário de Bragança. Licenciou-se em História na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, Ramo Educacional. Tem três livros editados: «Histórias, Lendas, Costumes e Tradições», «Carção, um Pedacinho do Reino Maravioso» e «Melodias D’Outrora». Foi colaboradora do Jornal de Matosinhos, e da Revista Almocreve Carção e Suas Gentes. Participa em várias antologias. Além da docência, desempenhou outros cargos como: Direcção e Organização Escolar, Coordenadora Pedagógica, e orientou o curso de formação subordinado ao tema “Língua e Cultura Portuguesa”, promovido pelo Centro de Formação Abel Salazar, em Matosinhos. Vive em Matosinhos.
MARILIN MANRIQUE – Nasceu em S. Luís de Montes Belos, estado de Goiás, Brasil. Publicou os livros «A Busca Pela Felicidade e Outros Contos» (Editora Becalete, 2016), «Momentos Poéticos» (Editora Becalete, 2017) e «O Presente» (Futurama Editora, 2017). Participou em antologias da Futurama, Scortecci, Becalete e Bookess Editora. Nas antologias Sui Generis participou em «A Bíblia dos Pecadores», «Vendaval de Emoções», «Graças a Deus!», «Fúria de Viver» e «Tempo de Magia». Colaborou na organização das colectâneas «Janelinhas Encantadas» e «Cartinhas na Janela» (2017). Lançará o seu novo livro, «Encontro Marcado», em 2019. MARTA MARIA NIEMEYER – É natural de Senador Firmino, Minas Gerais, e reside no Rio de Janeiro, Brasil. A sua obra consiste em dois livros infanto-
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juvenis, «Borboleta Biruta» e «As Mordidas do Tio Pastor Alemão». É colunista na página Divulga Escritor e co-autora da antologia «Sinfonia de Amor», da Colecção Sui Generis.
MIGUEL LEITÃO – É licenciado em Filosofia e é professor e co-autor de manuais de Filosofia e Psicologia. No campo das artes visuais, é detentor de dois primeiros prémios nas áreas do Desenho e da Pintura (Categoria Universitários). Escreve poesia, tendo publicado três livros: «Em Nome das Palavras», «O Tempo e as Coisas» e «Vento na Alma». É leitor e divulgador de Literatura Portuguesa, tendo participado em leituras no Clube Literário do Porto, na Galeria Vieira Portuense, no Laboratório de Iniciação e Aperfeiçoamento de Leitura Poética do Teatro Campo Alegre e em outros eventos ocorridos em várias instituições culturais.
MARY ROSAS – Venezuelana, reside em Portugal desde a sua infância. Não se considera escritora, mas gosta de escrever e frequenta sessões de poesia. Da Colecção Sui Generis, é co-autora das antologias «Tempo de Magia» e «Sinfonia de Amor». MICHELE VALLE – Nasceu em 1986 e cresceu em Juiz de Fora (MG), Brasil. Trabalha como fisioterapeuta há quatro anos no Hospital Santa Casa da Misericórdia da mesma cidade. O seu amor pela leitura foi o maior incentivo para o início da vida como escritora.
NINA MARIA – Nasceu em 2000. Reside no Brasil, em Santo Estevão, interior da Bahia. Escreve desde a sua pré-adolescência, como forma de enxergar um novo mundo. É apaixonada por girassóis,
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literatura e música popular brasileira.
PAULA JORGE – Nasceu na cidade da Beira, Moçambique. Licenciou-se em Antropologia Social pelo ISCTE. Exerce actividade docente desde 1995. Lançou o seu livro «Paula», da Chiado Editora, em Março de 2018, nas Termas de São Pedro do Sul, local onde vive. Irá integrar a «Antologia de Poesia Portuguesa Contemporânea, Vol. X», da Chiado Editora. Os seus prazeres são a família, a escrita, o mar, o ensino e as relações humanas verdadeiras.
OLGA PEREIRA – É natural de Pelotas, RS, Brasil. Foi eleita em 2018 para ocupar a Cadeira 18 da Academia Pelotense de Letras. Doutora em Letras-Linguística (UCPel – Linha: Análise do Discurso); Mestre em Política Social (UCPel); Pós-Graduação em Educação Tecnológica (IFSUL). OLÍMPIA GRAVOUIL – Nasceu em 1947, no Porto. Emigrante em França desde 1967, exerceu Educação Especializada, em Paris, durante mais de trinta anos. De regresso a Portugal após a sua reforma, em 2012, escolheu viver na Póvoa de Lanhoso, pela sua qualidade de vida. Tem agora todo o tempo para se dedicar à sua paixão: ler e escrever. É coautora das antologias «Tempo de Magia» e «Sinfonia de Amor» da Colecção Sui Generis.
PAULO OTÁVIO BARREIROS GRAVINA – Graduouse em Economia e concluiu o mestrado em Literatura na PUC-Rio. É autor, tradutor, revisor, organizador e editor na área literária; também já fez parte de projectos incentivando a leitura. Tem um blogue em que traduz poesias e letras de música e actua como director e professor no Centro Dom Vital (Rio de Janeiro).
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PEDRO PAULO CÂMARA – Nasceu em 1980, na ilha de São Miguel. É professor, licenciado em Português-Inglês, pela Universidade dos Açores, onde tiraria o Curso de Especialização em Dinâmicas Interculturais – Estudos Insulares. É autor das obras «Perfumes» (poesia, 2011), «Saliências» (poesia, 2013), «Cinzas de Sabrina» (romance histórico, 2014) e «Na Casa do Homem Sem Voz» (poesia, 2016). É membro da Academia Brasileira de Poetas Aldravianistas e da ALA – Academia de Letras e Artes de Portugal.
ler e escrever poemas simples, que falem das coisas do dia-a-dia. Participou recentemente na colectânea «Cascata de Emoções». RAQUEL LOPES – Mora em Recife, Pernambuco, Brasil. Iniciante na escrita, começou a escrever poemas e contos no começo de 2018. Tem várias participações em antologias e eventos literários. É pianista e estudante de Filosofia. Amante das artes. Tem 30 anos. RITA DE CÁSSIA – Rita de Cássia Brito Alves Silva nasceu em Catolés (sertão da Bahia, Brasil/Nordeste), é casada, mãe de dois filhos, professora de Inglês da Educação Básica. É amante da Literatura, tendo como seus escritores preferidos Machado de Assis e Vinícius de Moraes (Brasil) e Fernando Pessoa (Portugal).
RAADOMINGOS – Chama-se Rosa Alexandrina Almeida Domingos. Nasceu na freguesia de Figueiros, concelho do Cadaval, distrito de Lisboa. Reside em Caldas da Rainha e trabalha como assistente operacional na central telefónica de uma instituição de saúde, no mesmo local. Gosta muito de
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RITA QUEIROZ – Natural de Salvador, Bahia, Brasil. Professora universitária, filóloga, poeta, escritora. Autora dos livros «O Canto da Borboleta», «Confraria Poética Feminina – Vol. 2», «Canibalismos», «Confraria Poética Feminina» (Penalux, 2018, 2017, 2016) e «Colheitas» (Darda, 2018). Ama a poesia, fazendo da escrita alimento diário. Faz parte dos grupos “Confraria Poética Feminina”, “Mulherio das Letras” e “O Sarau”.
quando, aventura-se a escrever o que lhe vai na alma... sobre recordações de infância e sobre a Natureza, a quem declara um amor incondicional; alguns textos em prosa também. Participou em diversas obras colectivas de várias editoras, em Portugal e no Brasil. Da Colecção Sui Generis: «A Bíblia dos Pecadores», «O Beijo do Vampiro», «Vendaval de Emoções», «Graças a Deus!», «Ninguém Leva a Mal», «Torrente de Paixões», «Saloios & Caipiras», «Sexta-Feira 13», «Fúria de Viver», «A Primavera dos Sorrisos», «Tempo de Magia», «Devassos no Paraíso», «Os Vigaristas» e «Sinfonia de Amor». Publicou dois livros pela Sui Generis: «Mar em Mim» (2016, reeditado em 2018) e «Prisioneiros do Progresso» (2017).
ROSA MARQUES – Nascida na Madeira, em 1959, Rosa Maria Correia Marques reside em Porto Santo. Preocupa-a a situação precária em que o Mundo se encontra, a condição humana (especialmente as crianças) e todos os que vivem em situações desumanas, principalmente nos países subdesenvolvidos. Gosta de ler e de tudo o que está ligado à arte e à cultura. Adora poesia e, de vez em
ROSA VITAL – Nasceu em 1967 no Alentejo, Rosmaninhal, concelho de Ponte de Sor e distrito de
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Portalegre. Tirou o curso BAD (Biblioteca, Arquivo e Documentação) e licenciou-se em Animação Sociocultural. Tem como hobbies a leitura, a escrita, o exercício físico e viajar. É autora do livro de poesia para crianças «Princesa Maria Poesia – Caderno de Viagens» e está representada na obra colectiva «Coletânea Poética 2014 – Espontâneos de Natal».
(Universidade Federal de Lavras). Publicações de artigos: Clarice Lispector: Uma Aprendizagem ou o Livro dos Prazeres à luz da Filosofia Clínica; A obra machadiana à luz da Filosofia Clínica; Personagens machadianas no divã do Filósofo Clínico. Livros: «Entretons», «Entretons II», «Ao Intento do Vento», antologia da Academia Lavrense de Letras. SAMANTA OBADIA – Brasileira, nascida em 1967, natural do Rio de Janeiro, com dupla nacionalidade portuguesa. Escritora, psicanalista, actriz, filósofa e palestrante. Tem quatro livros publicados. Faz crossfit e dança tango. Ama animais e é devota de Nossa Senhora das Graças.
ROSE CHALFOUN – Rosemary Chalfoun Bertolucci, brasileira, lavrense. Graduada em Letras, com Especialização em Língua Portuguesa pela PUC/MG, Especialista em Filosofia Clínica pelo Instituto Packter/RS, IMFIC, MG. Mestre em Educação, Membro da Academia Lavrense de Letras e da Confraria dos Poetas de BH, Professora Universitária de Língua Portuguesa e Literatura Brasileira (UNILAVRAS e UNIPAC), Tutora (EAD) e Revisora
SARA TIMÓTEO – Publicou os seguintes livros: «Deixai-me Cantar a Floresta» e «Chama Fria ou Lucidez» (Papiro Editora, 2011); «Refúgio Misteri-
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oso» (2012), «Os Passos de Sólon» (2014), «Elixir Vitae» (2014) e «Os Quatro Ventos da Alma» (2014) pela Lua de Marfim Editora; «O Telejornal» (Cadernos de Santa Maria, 2015); «O Corolário das Palavras» (Rui M. Publishing, 2016); «Refracções Zero» (Orquídea Edições, 2016); «Compassos» e «Diário Alimentar» (Costelas Felinas, 2017); «Manual dos Ofícios» (Edições Vieira da Silva, 2018). Participou em diversas antologias da Colecção Sui Generis: «A Bíblia dos Pecadores», «O Beijo do Vampiro», «Vendaval de Emoções», «Graças a Deus!», «Ninguém Leva a Mal», «Torrente de Paixões», «Saloios & Caipiras», «Sexta-Feira 13», «Crimes Sem Rosto», «Fúria de Viver», «A Primavera dos Sorrisos», «Tempo de Magia», «Devassos no Paraíso», «Os Vigaristas» e «Sinfonia de Amor».
SONIA R. ANDRADE E CARVALHO – Sonia Regina de Andrade e Carvalho nasceu na cidade de São Paulo, Brasil, onde sempre morou e estudou. Cursou até o terceiro ano de Psicologia. Sempre gostou da leitura de grandes estórias da vida e tem prazer em escrever. Participou em duas obras colectivas em 2017: «As Antologias Mel Poesias» e «Poesias Entrelaçadas». Amou sempre três vezes. Casou-se três vezes. Teve três filhos. Hoje é aposentada e viúva. Dedica a sua obra, nesta publicação, a Jair de Carvalho (In memoriam), último companheiro de estrada. Uma definição de Paixão: escrever versos, natureza e liberdade. SUZETE FRAGA – A geada de Janeiro tatuou-lhe o espírito do guerreiro afonsino na alma. Porém, quis o destino que se instalasse na outra margem do Ave, à sombra de tílias perfumadas. Sem dotes
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vocais para cantar, nem habilidade para filigranar, é no escorrer da tinta da caneta que encontra uma satisfação insana. Transformou recentemente o sonho numa realidade há muito desejada: «Almas Feridas» (Sui Generis, 2016) é o seu primeiro livro. Da Colecção Sui Generis, participou nas seguintes antologias: «A Bíblia dos Pecadores», «O Beijo do Vampiro», «Vendaval de Emoções», «Graças a Deus!», «Ninguém Leva a Mal», «Torrente de Paixões», «Saloios & Caipiras», «Sexta-Feira 13», «Crimes Sem Rosto», «Fúria de Viver», «Devassos no Paraíso» e «Os Vigaristas».
em «Conexões Atlânticas II», projecto divulgado em Portugal, da In-Finita, e foi seleccionado para «Aquarela de Emoções» pela Darda Editora. VIEIRINHA VIEIRA – Nasceu em Vila Nova de Gaia e usa os heterónimos Lo Escrita e Maria de Mais, o seu nome mais conhecido é o pseudónimo Vieirinha Vieira. Frequentou o Curso Profissional/Tecnológico de Contabilidade e Gestão, foi membro do Clube Juvenil Verbo na década de 90 e representou o jornal escolar Nascente em 1994. Colaborou em revistas, rádios, antologias e e-books, tendo mais de trinta participações em obras colectivas. É mentora do projecto de leitura Ginástica ao Cérebro, frequentou cursos de teatro e marcou presença em feiras do livro (Braga, Lisboa). Actualmente, faz teatro no Teatro Experimental do Orfeão da Feira. Lançou dois livros: «A Menina
THIAGO GUIMARÃES – Poeta e escritor brasileiro. Cursou Letras pela Universidade Metodista em 2008. Publicou dois livros de poesia: «Poeta Alternativo» (Versejar, 2018) e «Roseiral de Amor» (Clube de Autores, 2018). Estreou em antologias
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Que Fui» (Pastelaria Studios, 2016) e «Vestigium d’Arbor» (Chiado Editora, 2017). Participou na antologia «Sinfonia de Amor» da Colecção Sui Generis.
ração e levanta os seus voos como uma águia. Natural de Cachoeiro de Itapemirim, ES, Brasil, nasceu em 1948 e vive há 49 anos no Rio de Janeiro. Nos anos 60 escrevia crónicas para jornais e nos anos 80 escreveu uma peça de teatro que ficou em cartaz nos teatros amadores do SESI durante um ano. Ainda não editou um livro.
WAGNER AZEVEDO PEREIRA – Nasceu em 1975 em Nova Iguaçu, RJ, Brasil. Formou-se em Letras, pós-graduação (lato sensu) em Língua Portuguesa e actualmente cursa Direito, pela UERJ. É dicionarista, pesquisador, escritor, poeta, músico e professor de língua portuguesa, língua italiana e música (violão e piano). Publicou três dicionários inéditos em todas as línguas do mundo. ZEZÉ LIBARDI – Maria José Libardi Rodrigues é uma eterna sonhadora. Ama poesias, livros (devora-os), música, e cantar faz-lhe um bem infinito. Hoje, deixa o sentimento tomar conta do seu co-
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sidro Sousa, o editor responsável por todos os projectos individuais e colectivos integrados na Colecção Sui Generis, organizou quatro obras colectivas dedicadas ao Natal desde que, em Agosto de 2015, iniciou a actividade de antologista. A primeira antologia intitulada «Boas Festas», para a Silkskin Editora, reuniu contos e poemas de 50 autores portugueses e brasileiros e foi lançada em Dezembro de 2015, na mesma época em que o organizador fundava a Sui Generis. Os projectos subsequentes que Isidro Sousa viria a organizar destinaram-se todos, sem excepção, à recémcriada Colecção Sui Generis. Ano seguinte apresentou «Graças a Deus!» (2016), uma Acção de
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ANTOLOGIAS DE NATAL Graças ofertada ao Senhor nessa quadra natalícia; seguiu-se «Tempo de Magia» (2017), que mesclou contos, crónicas, lendas e poemas de autores contemporâneos com textos de autores clássicos portugueses. Este ano organizou «Luz de Natal» (2018), a antologia mais participada de sempre.
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LIVROS
TEMPO DE MAGIA
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s circunstâncias que envolvem o nascimento de Jesus de Nazaré, proclamado Messias e Senhor, rodeiam-se de misticismo e magia. Se as representações no presépio, tal como chegaram ao nosso conhecimento, terão acontecido verdadeiramente ou se são fruto de lendas não se sabe ao certo. Mas sabe-se, e muitos factos o atestam, que Jesus existiu – tendo sido um ser humano fascinante que revolucionou a época em que viveu e a sua mensagem, uma mensagem essencialmente de amor, perdura ao longo dos tempos. No Século III, a Igreja Católica oficializa o Natal, passando a comemorar-se, no dia 25 de Dezembro, o nascimento de Jesus. É em torno da celebração do nascimento de Jesus Cristo que se debruçam os textos incluídos neste livro, escritos por 44 autores lusófonos contemporâneos e intercalados com poemas e contos de 18 autores clássicos portugueses, tais como Abel Botelho, Eça de Queirós, Mário de Sá-Carneiro, Ramalho Ortigão, entre outros, que tanto oscilam para o lado festivo do Natal como para a sua vertente melancólica, estando presente, nalguns deles, a visão do Natal tradicional das aldeias portuguesas. Incluíram-se também, nesta antologia, lendas portuguesas relativas a esta quadra. O
Em 1223, São Francisco de Assis produz o primeiro presépio do Mundo, com a presença de uma manjedoura, um boi e um burro, para melhor explicar o Natal. Este costume espalha-se pelas catedrais, igrejas e mosteiros da Europa durante a Idade Média. No Renascimento, o presépio passa a ser montado, também, nas casas de Reis e Nobres e, no século XVIII, este hábito dissemina-se pelas casas comuns. Em paralelo, criam-se inúmeras lendas e tradições que contribuem para tornar ainda mais mágico o evento natalino.
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conjunto de todos os textos resulta numa obra literária muito rica... plena de magia natalícia.
TEMPO DE MAGIA Antologia de Natal
Organização e Coordenação: Isidro Sousa. Autores: Abel Botelho, Afonso Duarte, Aldir Donizeti Vieira, Amélia M. Henriques, Ana Campos, Ana Isabel Bertão, Ana Maria Dias, Anderson Furtado, Angelina Violante, António Feijó, Ary dos Santos, Bocage, Brito Camacho, Cadu Lima, Carla Santos Ramada, Carlos Malheiro Dias, Carmem Aparecida Gomes, Célia Sousa, César Alves, D. João da Câmara, Daniel Vicente, DCM O Poeta Maldito, Diamantino Bártolo, Eça de Queirós, Everton Medeiros, Fernando Pessoa, Fialho de Almeida, Gomes Leal, Guadalupe Navarro, Isa Patrício, Isidro Sousa, Ivan de Oliveira Melo, Joaquim Matias, José Maria de Andrade Ferreira, Júlio Brandão, Leandro Dupré, Litas Ricardo, Lobo Alves, Lucinda Maria, Madalena Cordeiro, Manuel Timóteo de Matos, Maria Albertina Santos, Maria Alcina Adriano, Maria de Fátima Soares, Maria dos Santos, Maria Rosa Cunha Pinto, Marilin Manrique, Mário de Sá-Carneiro, Mary Rosas, Marizeth Maria Pereira, Olímpia Gravouil, Paulo Galheto Miguel, Pina de Morais, Ramalho Ortigão, Raul Brandão, Rosa Marques, Sandra Boveto, Sara Timóteo, Simone Marck, Sténio Cláudio Afénix, Tânia Tonelli, Teresa Morais.
Organização: Isidro Sousa Autores: 62 Autores Colecção Sui Generis Editora: Euedito Nº de Páginas: 300 páginas 1ª Edição: Novembro 2017 ISBN: 978-989-8896-01-8 Depósito Legal: 434802/17 Encomendas: letras.suigeneris@gmail.com https://www.euedito.com/suigeneris
Na foto: a autora Litas Ricardo
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CRÓNICA
A TERRA NA MAGIA DO NATAL ALDIR DONIZETI VIEIRA Brasileiro, natural de Goiânia Goiás, graduado e licenciado em Filosofia pela UFG, Bel. em Direito pela UniAnhanguera, especializado em Direito Penal pela PUC e mestrado em Educação. É professor, advogado, escritor e poeta, membro da Academia Virtual dos Poetas da Língua Portuguesa. Autor das obras seleccionadas em concurso: «Consciência», «O Universo da Razão», «Asas ao Infinito» e «Mensagens Poéticas». Participou em inúmeras obras colectivas com outros autores lusófonos. Da Colecção Sui Generis é co-autor das antologias «Saloios & Caipiras», «Fúria de Viver», «Tempo de Magia» e «Sinfonia de Amor». Perfil no Facebook: facebook.com/aldirdonizetivieira
“A magia do Natal se faz presente nos quatro cantos da Terra, em diferentes culturas e civilizações, comemorando o nascimento de Jesus, o Príncipe da paz, Aquele que desceu de seu esplendor sideral, nascendo como uma criança pobre, vindo a este mundo com muita simplicidade, embora Ele fosse o Rei dos reis, aquele que mudaria toda história da humanidade, através de sua sublime lição de amor, nos ensinando a amar e a perdoar uns aos outros, para ser possível vivermos em harmonia.” POR ALDIR DONIZETI VIEIRA
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atal! Natal! Natal do menino Jesus. É uma data que marca o nascimento daquele Ser que na Terra veio trazer a sua esplêndida luz, onde a esperança renasce com seu exemplo de sabedoria e amor ao próximo, condições estas de equilíbrio para o homem ser feliz, e que possa haver uma sociedade com fraternidade. A magia do Natal se faz presente nos quatro cantos da Terra, em diferentes culturas e civilizações, comemorando o nascimento de Jesus, o Príncipe da paz, Aquele que desceu de seu esplendor sideral, nascendo como uma criança pobre, vindo a este mundo com muita simplicidade, embora Ele fosse o Rei dos reis, aquele que mudaria toda história da humanidade, através de sua sublime lição de amor, nos ensinando a amar e a perdoar uns aos outros, para ser possível vivermos em harmonia. No fim do ano, vemos as luzes do Natal se acenderem em volta de nossa Terra, um planeta, entre vários, que orbita em volta de nosso Sol, uma estrela de quinta grandeza, que faz parte da
Via Láctea, nome dado pelos antigos gregos, que significa leite derramado no espaço entre os sóis deste gigantesco sistema solar, com mais de quatrocentos bilhões de sóis aproximadamente, que integram com muitos outros, quase inexplicável, milhares de sistemas solares, numa magnífica grandeza cósmica do Criador. A luz do Natal chega todos os anos, a cada um, em várias cidades, desde as principais Metrópoles até às pequenas aldeias e vilarejos, em formas de diferentes comemorações natalinas, presépios retratando as cenas do nascimento de Jesus, com peças teatrais, músicas, decorações, luzes com muitas cores e árvores de Natal, das pequenas às gigantescas, erguidas ou ornamentadas nos jardins e nas praças públicas, por várias cidades e Países, para nos mostrar a importância daquela data representando um marco de fraternidade para nós. No final de cada ano, o clima natalino nos invade, numa comemoração fantástica de alegria, para recordar a maravilhosa chegada do menino
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esplêndido! Embora viesse a este Mundo numa simples manjedoura e num corpinho pobre e pequenino, estava ali o Rei dos reis, um Deus. Para os olhos da sociedade, ele era apenas o filho de um carpinteiro humilde e da simples Maria, sua bem-aventurada mãe, longe de um paço e de um palácio, destituído de aposentos luxuosos. Mas estava ali em volta da manjedoura um coral de Anjos que o aclamava, “Glória a Deus nas alturas e paz na Terra aos homens de boa vontade!”. Também estava ali a mais bela família escolhida por Deus, para a chegada de Seu filho, para ser um exemplo de amor para todos, agregando os valores da união, da simplicidade, da fidelidade, da lealdade, do trabalho, da responsabilidade, da dedicação e da bondade. A família que Jesus veio a este mundo não era uma família de nobres patrícios, detentores do ouro e do poder, mas era uma família que se formou dentro dos valores exigidos pelo Criador, dentro da organização de uma Pátria e de uma sociedade.
Jesus, em que todos nós nos postamos admirados, esperando esta magnífica data, ansiosos dos acontecimentos monumentais, que enchem nossas vidas de alegria, de magia, de cores, de sonhos alados, em que transbordamos de felicidade, num plano que parece irreal e metafísico, em que até imaginamos estarmos num mundo encantado com as mais belas fantasias, numa sociedade fraterna, em que cada um doa de si ao outro, o seu presente, o que tem de mais belo, de mais precioso, com o próximo, com a família, com os amigos, com os necessitados, formando por todos os lados uma corrente fraterna, retratando o amor daquele Ser que nos deixou a sua paz, numa plena dimensão do amor! É Natal! É o nascimento do nosso menino Jesus. Tão puro, tão lindo, tão 57
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As maiores cidades do Mundo reverenciam esruas principais; Praga capital da Tcheco, o Natal é ta importante data natalina. comemorado com muitas luzes num clima especiA fantástica cidade de Nova York, considerada al de comemoração, tornando Praga uma cidade capital do mundo, todos os anos resplandece o cliencantada; em Viena capital da Áustria, o Natal é ma natalino. Encontramos decorações típicas do notabilizado pela beleza das decorações, das coNatal por todos os lados, parres e das luzes, havendo conques, lojas e edifícios, com lucertos e músicas de comemozes e pinheiros enfeitados. rações natalinas; Moscou na É Natal! É o nascimento Mesmo apesar do frio e das Rússia, destaca-se por possuir do nosso menino Jesus. possíveis nevascas, esta cidaa mais bela árvore de Natal do de torna-se encantada. O pimundo, e assim vemos a maTão puro, tão lindo, tão nheiro enfeitado de vinte megia do Natal presente com esplêndido! Embora viesse tros na tradicional árvore de suas luzes, suas cores, suas coa este Mundo numa simples Natal do Rockefeller Center é memorações em cada lugar, uma paisagem natalina fenonum clima de alegria, na reumanjedoura e num corpinho menal. Todos os anos acontenião familiar, na doação de pobre e pequenino, estava ce uma cerimônia de iluminapresentes, de afetos, em que ali o Rei dos reis, um Deus. ção no final de novembro e despertam o amor que se eninício de dezembro, sendo escontra guardado no coração Para os olhos da sociedade, ta cerimônia transmitida ao vide cada um, dos pais em relaele era apenas o filho vo para todo o País, com espeção aos filhos, dos amigos aos de um carpinteiro humilde táculo de músicas e danças, amigos, dos apaixonados, amostrando a todos o belo clicorda em muitos o desejo de e da simples Maria, sua ma de Natal que é apreciado ajudar o próximo, oportunibem-aventurada mãe, por uma multidão, seguindo dade que possibilita o estreilonge de um paço e de uma bela iluminação pela maitamento dos relacionamentos, or cidade da América, indicansurgindo muitos sonhos, ideaum palácio, destituído do que o clima é de Natal e de lismos construtivos e perdões. de aposentos luxuosos. alegria. Ainda existe uma pista O Natal em Paris é maraviMas estava ali em volta de patinação no gelo em frenlhoso. Paris é linda sempre e o te a esta bela árvore natalina. Natal todos os anos é comeda manjedoura um coral Também é possível patinar em morado de uma forma exclude Anjos que o aclamava, outros locais como no Bryant siva que marca esta passa“Glória a Deus nas alturas Park e no Central Park com gem. As vitrines das lojas são pistas enormes. Sem falar dos um verdadeiro espetáculo, e paz na Terra aos homens belos mercados de Natal espadestacando-se as da Avenida de boa vontade!”. lhados pela cidade exibindo as Champs-Elysées. As feiras de mais belas decorações num Natal são deslumbrantes, tentotal clima de festa. do comidas típicas e deliciosas Na Europa milenar, como e ainda existe um número inem Berlim na Alemanha, o Natal é uma festa alecontável de lojas para comprar lembranças. Lá gre, iluminada e fantástica, com a cidade toda resexistem muitas opções. Você pode assistir a um plandecente de luz, com surpreendentes decoraconcerto, ouvir corais, visitando várias Igrejas trações multicoloridas nas vitrines, praças, Igrejas e dicionais como a de Sainte-Chapelle e monumen58
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outra, de um ambiente simples em surpreendentes enfeites coloridos e decorados de Natal. Ficava muito feliz todos os finais de ano, quando surgiam as propagandas de Natal na Rádio e na Televisão, de Papai Noel. E o Presépio do menino Jesus, sua família, José e Maria, os animaizinhos em volta da manjedoura, os três Reis Magos e o anjo que anunciou aos Magos o nascimento de Jesus, que minha mãe, todos os anos, cuidadosamente construía em nossa casa. Quando menino, mesmo sendo uma criança pobre que eu era, me recordo dos sonhos, das noites encantadas de Natal. Papai Noel, o bom velhinho, chegando num Trenó, conduzido por várias Renas, trazendo um presente, vindo do céu. Eu deixava meu par de sapatinhos pequenos bem expostos, para ele não se esquecer de mim. E dormia ansioso e feliz, esperando acordar com o presente trazido pelo bom velhinho de barbas brancas. Sabemos que isso é uma ilusão infantil, mas é, além de tudo, uma doce fantasia, que alegra e já alegrou o coração de muitas crianças sonhadoras como eu fui, numa verdadeira magia que transforma por alguns dias nossas trevas em luz e contos de fadas, no nosso ambiente terrestre, em que a Terra se transforma num clima de festas, enaltecendo a cordialidade e a fraternidade entre todos os seus habitantes, pela paz da Magia do Natal!
tos históricos que marcaram a nossa história. O Natal lá transcorre num clima muito frio, mas nada impede as alegres noites comemorativas do Natal que vivenciam numa magia total, com as galerias enfeitadas com uma incomparável decoração como nunca encontrada noutro lugar. Todos os anos, Paris exibe uma gigantesca árvore de Natal, surpreendendo com um tema completamente diferente, numa decoração majestosa. No Boulevard Haussmann, do terraço do Printemps, temos uma vista linda de Paris, toda iluminada, inclusive da Torre Eiffel, toda multicolorida, onde à sua frente jovens com pleno vigor e adultos desportistas patinam no gelo, alegres, envolvidos no clima das festas comemorativas desta data tão especial. Natal! Natal da criança feliz! Nunca me esqueço dos meus Natais felizes e sonhadores em que vivi. Eu vivia intensamente o Natal desde a sua véspera, as lojas, praças e avenidas da cidade, enfeitadas para a festa Natalina, que iria acontecer. Toda a cidade se transformava de uma hora para
Texto de Aldir Donizeti Vieira incluído no livro Tempo de Magia, uma Antologia Lusófona publicada na Colecção Sui Generis em Novembro de 2017
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LIRA VARGAS Nascida em 1952, reside em Niterói, RJ, Brasil. Formada em Letras, publicou 16 livros. Tem diversas participações em Feiras de Livros, TVs e Rádios, em obras colectivas e em movimentos literários no Brasil e em Miami, EUA, e classificações em vários festivais de literatura. Participou nas antologias «Luz de Natal» e «Sinfonia de Amor» da Colecção Sui Generis. Perfil no Facebook: www.facebook.com/clira.lira.7
NATAL É EMOCIONANTE PORQUE MUDA DE LUGAR Se eu contasse quantas mensagens de Natal recebi em toda minha vida estaria contando estrelas! E todos os anos parece que é a primeira vez. Fico emocionada com minha família e meus amigos. Uma sensação de ser a primeira vez. Mas pensando bem as tardes são sempre iguais, e a noite também. Parece que o dia é mais longo, e sempre esqueço alguma coisa, seja uma mensagem de alguém que não retribuí, seja um presente que ficou no fundo da gaveta. Todos os anos reservo uma gaveta para guardar os presentes. Aliás, começo a comprar em outubro no meio da primavera. Ainda frio e muitas flores. Em novembro já estão embrulhados, é com tanta emoção que dá vontade de adiantar os dias. Mas resisto. Penso com tristeza nas pessoas que saem da minha lista, que foram embora para outra vida. Esse ano lembrei com saudade de meu irmão Hélio, não lembro de ter dado um presente a ele, porque ele sempre foi um presente em minha vida. De Kátia, ah! Essa lembro com saudade e de um fato engraçado. Uma vez ela presenteou-me com um nécessaire em meu aniversário. E quando chegou o Natal dei um nécessaire idêntico a ela. Pura coincidência. Quando ela abriu deu uma risada e disse: «Obrigada, eu tinha gostado muito desse nécessaire.» Lembrei que era igual ao que ela tinha me presenteado. Rimos muito, pois percebi que ela pensou que era o mesmo. Provei outro dia que não era. É assim todos os anos, Natal só muda de lugar, fatos engraçados ou tristes, de gente que chega e que vai, de gente que vai crescendo e virando Papai Noel ou Mamãe Noel. Meus filhos, netos, nora e genro, até o marido que de tantos anos virou avô também, sogras dos filhos viraram parente, parece até de sangue de verdade, amigos que estão sempre juntos viraram família também. E vai e vem de abraços, risadarias e trocas de presentes. É emocionante. Até que chega a hora de despedida. No próximo Natal desejo estar no mesmo lugar sem diminuir minha lista de presentes. Presente de emoção, de lembranças, de saúde e de paz. Aliás, emocionante porque muda de lugar.
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GRAÇAS A DEUS!
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livro Graças a Deus! reúne textos em diversos géneros literários de 51 autores lusófonos: contos, crónicas, cartas, reflexões, desabafos, poesia, etc. Embora fosse concebida para o Natal, muitos textos que esta antologia inclui não se focam no evento natalino; apresentam outros enredos, todavia, reflectindo sempre a fé no Senhor, ou mesmo gratidão – sejam sentimentos pessoais ou através de personagens fictícias. São estórias e poemas cuja variedade de estilos e graus culturais é sublime, recheados das mais variadas sensibilidades, que, não obedecendo a um tema específico, privilegiam, de algum modo, a crença em Deus. O leque de textos é soberbo! Textos que abordam uma emoção, uma tristeza, um amor, um desejo, uma mágoa, um reconhecimento, uma lembrança, uma felicidade, uma revolta, uma nostalgia, uma esperança... Todos os autores expressam, cada um com a sua particularidade, o que lhes vai na alma. Cada um transmite o que Deus significa para si. Mesmo aqueles que são agnósticos desvendam, de igual modo, a sua percepção. Ou os seus sentimentos.
Sentimentos que se eternizam nas 214 páginas desta obra colectiva, cujos conteúdos se encontram ilustrados com belíssimas declarações de Sua Santidade, o Papa Francisco, e Cânticos e Salmos da Bíblia Sagrada. Uma verdadeira Acção de Graças que todos os autores ofereceram ao Senhor na quadra natalícia de 2016. E que trará leituras emocionantes ao longo dos próximos tempos. 67
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Porque este livro deve ser lido em qualquer altura do ano.
GRAÇAS A DEUS! Antologia de Natal Uma Acção de Graças
Organização e Coordenação: Isidro Sousa. Autores: Álvaro Moreyra, Amélia M. Henriques, Ana Maria Dias, Angelina Violante, Antônio de Pádua, Cadu Lima Santos, Carlos Arinto, Carlos Pompeu, Carmen Jara, Cauline Sousa, David Sousa, Diamantino Bártolo, Eduardo Ferreira, Elicio Santos, Everton Medeiros, Fernanda Kruz, Guadalupe Navarro, Isa Patrício, Isaac Soares de Souza, Isabel Martins, Isidro Sousa, Jeracina Gonçalves, João Pedro Baptista, Joaquim Matias, Jonnata Henrique, Júlio Gomes, Lia Molina, Lucinda Maria, Madalena Cordeiro, Marcella Reis, Maria Alcina Adriano, Maria Isabel Góis, Marizeth Maria Pereira, Mônica Gomes, Natália Vale, Neca Machado, Nicol Peceli, Paula Homem, Paulo Galheto Miguel, Ricardo Solano, Rogério Dias Dezidério, Rosa Maria, Rosa Marques, Sandra Boveto, Sara Timóteo, Scarleth Menezes, Sérgio Sola, Sténio Cláudio, Suzete Fraga, Tânia Tonelli, Teresa Morais.
Organização: Isidro Sousa Autores: 51 Autores Colecção Sui Generis Editora: Euedito Nº de Páginas: 214 páginas 1ª Edição: Dezembro 2016 2ª Edição: Novembro 2017 ISBN: 978-989-8856-04-3 Depósito Legal: 434489/17 Encomendas: letras.suigeneris@gmail.com https://www.euedito.com/suigeneris
Na foto: a autora Marilin Manrique, que nesta antologia assinou com o pseudónimo Lia Molina 68
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OURO, INCENSO E MIRRA PAULA HOMEM Nascida em 1959, licenciada na área do turismo. Escreve por paixão e é através da escrita que «eu... me torno mais EU. Vogando pela poesia, desaguando na prosa, “brinco” com as letras.» Está presente em obras colectivas de ambos os géneros: «Memórias Esquecidas do Tempo», «A Lagoa de Óbidos, o Mar e Eu» e «Sonho em Poesia» (poesia). «Quando o Amor é Cego» e «Amar (S)Em Desespero» (prosa). Da Colecção Sui Generis, participou em quatro antologias: «A Bíblia dos Pecadores», «Graças a Deus!», «Sexta-Feira 13» e «Sinfonia de Amor». Perfil no Facebook: www.facebook.com/paula.homem.3
“Pelos muros os musgos já estavam verdes e ressumavam água que as chuvas – quase ininterruptas – haviam trazido. O Natal estava à porta, era isso que queria dizer tanto verdete pelas pedras; o Natal vinha aí. Os saltos dos sapatos, bem estafados por sinal, marcavam o ritmo num som cadenciado e cansado, mas nem por isso menos decidido. A cabeça, essa, ia em mil pensamentos perdida. Em mil conjeturas atarefada: como ia ser esse Natal? O que ia fazer com os pequenos, sem lhes destruir os sonhos pequeninos? Sem lhes matar o imaginário que, ela própria, lhes lançara nas almas. Alguma coisa surgiria, tinha a certeza e a confiança na Divina Providência que jamais a abandonara.” POR PAULA HOMEM
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s passos ressoavam na vereda escura de confiança na Divina Providência que jamais a desencanto que era, de momento, a vida abandonara. De momento apenas uma coisa imde Sofia. A sua grande e única paixão haportava: ir buscar os seus tesouros e aconchegarvia, sem explicação nem aviso, abandonado o nilhes os estômagos. nho onde as três pequenas sementes desse amor O caminho entre muros estava a chegar ao fim, floresciam e cresciam. Os seus: Ouro, Incenso e o que significava que já faltava pouco para entrar Mirra, como lhes chamava na vila e, consequentemente, tantas vezes; Joana, a mais para entrar pela porta da Dovelhinha, irradiava a alegria e na Beatriz, a sua madrinha de inocência das suas cinco pribaptismo, e receber nos braÉ um quadro de enganadora maveras. Carlos e Pedro, os ços as carinhas risonhas e pequenos gémeos de quase despreocupadas dos filhos. felicidade, mas que Sofia dois anitos, eram os encanUm breve sorriso abriu-se no empurra para bem fundo tos e preocupações, diga-se, rosto da mulher. A mais pedo seu coração. Pega nos da jovem mãe que agora sequena lembrança dos filhos a guia, cabeça em intenso ladeixava mais terna; mais pequenos, um de cada lado, bor, pelo caminho encolhido meiga; mais feliz. e caminha em direcção e tímido, entre os muros das Lá estava a casinha branà figura austera e digna quintas. Olhou para o pulso ca com as portadas azuis, o para controlar o tempo e esjardinzinho bem cuidado e o que está sentada ao fundo tugar, ou não, o passo. Tinha portão que rangia sempre da sala; Dona Beatriz é cerca de 45 minutos antes que se abria ou fechava. Criuma mulher magra, seca que a sua madrinha comeou alma nova, estugou o pasçasse a “rezar-lhe pela pele”: so – e entrou. À porta ouvia e de feições duras, pouco antes de chegar mesmo atraas gargalhadas cristalinas da sorridente, mas com um sada. filha e o balbuciar dos gémecoração enorme de bondade. Pelos muros os musgos já os. De fundo, a voz mais graestavam verdes e ressumave da madrinha que, condesConfinada, em grande parte, vam água que as chuvas – cendente, ia “ralhando” com à sua cadeira, tem nas mãos quase ininterruptas – haviam as crianças. Sofia riu-se e, a responsabilidade de ficar trazido. O Natal estava à pormetendo a chave à porta, enta, era isso que queria dizer trou com o seu característicom os filhos de Sofia, tanto verdete pelas pedras; o co: “Cucu... Cheguei!”. Seis enquanto esta trabalha Natal vinha aí. Os saltos dos pezinhos apressados correpara o sustento de todos. sapatos, bem estafados por ram na sua direcção. Joana – sinal, marcavam o ritmo num mais rápida – lançou-se-lhe som cadenciado e cansado, ao pescoço, apertando, com mas nem por isso menos detodas as suas forças de mecidido. A cabeça, essa, ia em mil pensamentos nina, o corpo cansado da mãe. Os meninos vieperdida. Em mil conjeturas atarefada: como ia ser ram, atrapalhados nos passos, tropeçando e rinesse Natal? O que ia fazer com os pequenos, sem do, agarrar-se às pernas, impedindo-a de se melhes destruir os sonhos pequeninos? Sem lhes maxer ou dar um passo que seja. tar o imaginário que, ela própria, lhes lançara nas É um quadro de enganadora felicidade, mas almas. Alguma coisa surgiria, tinha a certeza e a que Sofia empurra para bem fundo do seu cora70
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amor da sua vida deixara, dedicara-se, desde cedo, a ficar com os rebentos das suas amigas; das amigas das suas amigas; das conhecidas. Em breve, na pequena localidade, a “tia Beatriz”, como sempre se intitulou para a pequenada, era a ama reconhecida e amada de todos. Os anos tinham passado: hoje não havia adulto que, em criança, não tivesse passado pela casinha branca de portadas azuis. Nem havia dia que não houvesse visitas, beijos e abraços, mimos e presentinhos para a velha senhora. Mas o sorriso perdera-se, nas garras da morte, muitos anos antes. Apenas quando os três pequenos lhe haviam chegado às mãos se lhe abriu um novo sorriso, triste e tímido, no rosto já cansado, já esmaecido da vida dura e sofrida. Acompanhara Sofia desde pequena. Vira-a crescer e tornar-se uma mulher forte e decidida. Vira-a casar-se com o primeiro (e único) amor da sua vida: Sofia acreditara na eternidade, na intemporalidade, acreditara na ilusão. Hoje, casamento desfeito, tristeza instalada e vida de labuta – três filhos no colo; por isso, Dona Beatriz dava Graças a Deus pelo amor da afilhada. Dava Graças a Deus por estarem juntas a criar e fazer crescer aquelas almas pequeninas que amavam incondicionalmente. No seu coração – que a vida tornara áspero e agreste – havia agora, pelas mãozinhas traquinas, uma semente de amor, de ternura e cuidado, que julgara perdida, morta e enterrada. A idosa “tia Beatriz” voltava à vida.
ção. Pega nos pequenos, um de cada lado, e caminha em direcção à figura austera e digna que está sentada ao fundo da sala; Dona Beatriz é uma mulher magra, seca e de feições duras, pouco sorridente, mas com um coração enorme de bondade. Confinada, em grande parte, à sua cadeira, tem nas mãos a responsabilidade de ficar com os filhos de Sofia, enquanto esta trabalha para o sustento de todos. A rapariga, com os três filhos pendurados em si, deposita um beijo meigo nas faces da senhora, que corresponde com aparente desprendimento. Quem vir este quadro achará, por certo, dura a postura da velha dama; ninguém sabe o que lhe vai no coração, nem a afilhada tem a total noção do que o inunda. Dona Beatriz ficara viúva muito jovem: 30 anos em flor, sem descendência, que a vida não se apressara e o tempo passara – e perdera-se. Para ultrapassar o vazio, que o maior 71
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Sofia, por seu turno, amava a madrinha como se da sua própria mãe se tratasse. Confiava nela inteiramente. Conhecia-lhe os modos bruscos mas, acima de tudo, conhecia-lhe o coração sem tamanho e o amor que via despontar, crescer e avolumar-se: transbordar e inundar a vida de todos os habitantes daquelas quatro paredes. Sentia que os seus filhos tinham trazido vida e sentido a esta alma. Adorava essa sensação, essa certeza. Largando os pequenos, foi para a cozinha tratar do jantar. Ouvia as gargalhadas e as corridinhas dos pés, ainda trôpegos, dos meninos, e ia picando as cebolas e os alhos. Depois de tudo ao lume, sentou-se um pouco no banco alto a olhar pela janela entreaberta. Lá fora, a noite caíra com o seu encanto misterioso, o seu negrume, como negros estavam muitos corações na aldeia. Negros de fome; negros de medo; negros de desencanto. Mesmo assim, o seu estava calmo, repleto de amor e gratidão.
Elevando os olhos para um céu carregado de estrelas, distantes, brilhantes e silenciosas, sobem-lhe aos lábios as palavras de uma prece – acção de graças murmurada: «Meu Deus, Pai de infinita bondade e misericórdia, que o Teu nome seja louvado a cada hora do meu dia. E que as Tuas Graças se derramem, como bênçãos, sobre os filhos que me deste. Sobre a madrinha que nunca afastaste de mim. Graças Te dou, meu Pai, hoje e sempre. Ámen.» E, falando para dentro da salinha, disse: «O jantar está pronto! Vamos lavar as mãos para virem para a mesa.» «Graças a Deus», disse Dona Beatriz ao levantar-se penosamente da sua cadeira. «Graças a Deus por mais este dia.» Texto de Paula Homem incluído no livro Graças a Deus!, uma Antologia Lusófona publicada na Colecção Sui Generis em Dezembro de 2016 e reeditada em Novembro de 2017
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SÉRGIO SOLA Formador profissional na área de informática, com um pequeno devaneio: escrever. Nasceu em Olhão, em 1963. Em Julho de 2015, venceu o 5º Concurso Literário da Papel D’Arroz Editora, tendo abdicado, mais tarde, do prémio que lhe foi atribuído. Participações em obras colectivas: «Quando o Amor é Cego», «Amar (S)Em Desespero», «O Poder do Vício» e «Caprichos & Virtudes» na Papel D’Arroz; «Boas Festas» na Silkskin Editora. Da Colecção Sui Generis: «A Bíblia dos Pecadores», «O Beijo do Vampiro», «Ninguém Leva a Mal» e «Graças a Deus!». Página do Autor: Facebook: Sérgio Sola
SE EU GOSTO DO NATAL? Se eu gosto do Natal? ... Gosto dos amigos, gosto das pessoas, gosto dos animais, gosto de viajar, gosto de lugares, lugares novos, lugares antigos, gosto de brincar, brincar ainda, conversar, conversar na frente do lume, com um vinho, cheio de espírito de Natal, mas aberto durante todos os meses do ano, na frente do lume, no inverno, ou na frente de uma mesa cheia de família, amigos, no verão, com frio, com calor, mas aberto todos os meses... vinho engarrafado com espírito de Natal e cheio de amizade, amor, em mesas repletas de paz, saúde, bem-estar, pão... ao longo do ano... Acho que o Natal está contido nisso tudo... tal como a amizade e o amor... Se eu gosto do Natal? Sim, desde sempre e sempre... todos os dias... que saibamos fazer Natal todos os dias!
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LIVROS
BOAS FESTAS
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Boas festas no Natal, boas festas no Ano Novo, boas festas nos Reis ou onde você desejar. Venha festejar connosco! Festeje na Prosa, festeje na Poesia, festeje como preferir... Mas vamos celebrar (todos juntos) o próximo Natal», eis as palavras que se leram nas redes sociais, entre Setembro e Novembro de 2015, convidando à participação neste projecto: uma antologia de textos literários que visava reunir histórias de Boas Festas, ou festas felizes, repletas de amor, emoção, sedução, paixão e sensualidade, com erotismo incluído, enquanto forma de arte devidamente enquadrada no contexto, ou sem erotismo. Histórias que, não obedecendo a um tema específico, deveriam ser ambientadas na época natalícia e privilegiar a emoção e a sensualidade como ingredientes preferenciais, ficando o desenvolvimento das mesmas ao critério de cada autor. Foi este o repto e o resultado é o livro que tendes nas mãos! Durante todo o processo, recebemos uma imensidão de trechos inéditos, escritos na Língua Portuguesa pelos mais variados autores dos dois lados do Atlântico, independentemente das suas raças, crenças, orientações sexuais e identidades de género, que os redigiram nos seus géneros lite-
rários favoritos: conto, crónica ou poema. Da selecção efectuada, destacaram-se oito dezenas de textos de cinquenta autores lusófonos: vinte e nove em prosa, inspirados na quadra natalícia, e cinquenta e um poemas natalinos. Da singela crónica de costumes ao thriller pontuado de humor negro, do drama angustiante à divina comédia, do ro-
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mantismo genuíno às evidentes sensações eróticas, da mera aventura ao complexo serial killer, sem olvidar os poemas marcadamente sentimentais, a variedade de temas e estilos é sublime! Embora títulos como Natal e a Dança do Ventre, Terror em Alto Mar, Natal em Família, O Arrepio de Micaela ou Jantar de Reis sugiram os seus conteúdos, há outros mais discretos com enredos ou reviravoltas surpreendentes. Seria fastidioso enumerá-los todos... reservo as surpresas para as vossas leituras! No entanto, devo frisar que... das tramas familiares e outras tremendamente calientes à odisseia do bom ladrão, dos diálogos sobre pornografia ao assassino que deseja somente a atenção da prostituta, das aventuras entre pessoas do mesmo sexo às emoções de trazer a lágrima ao canto do olho, das malandrices do Pai Natal às vivências da longínqua infância ou adolescência... Boas Festas apresenta um soberbo leque de histó-
rias. Histórias que falam, cada uma a seu modo, sobre um amor, uma emoção, uma tristeza, um desejo, uma mágoa, a lembrança de um Natal anterior ou mesmo uma revolta, uma felicidade, uma saudade, uma nostalgia, uma esperança... Todos os autores expressam o que lhes vai na alma. Cada um transmite o que o Natal ou qualquer outro evento ocorrido na quadra natalícia significa para si – mesmo aqueles que não apreciam esta época desvendam, de igual modo, esse sentimento. Porque o Natal, infelizmente, não tem apenas coisas boas... Sentimentos que se eternizam nas páginas desta antologia. Uma obra que proporcionará boas leituras numa época tão especial. Verdadeiro presente de Natal que todos nós (incluo-me também enquanto autor) oferecemos a nós próprios. E que, certamente, converteremos em maravilhosas prendas de Natal. Prendas inesquecíveis! Que tra-
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rão leituras prazenteiras ao longo dos doze meses do próximo ano. Porque este livro deve lido em qualquer altura do ano. Boas Festas!
Organização e Coordenação: Isidro Sousa. Autores: Akira Sam, Albertina Vaz, Amélia Ferreira, Ana Maria Dias, Ana Paula Barbosa, Ângela Cerqueira, Angelina Violante, António B. Fonseca, Antônio Guedes Alcoforado, Arnaldo Teixeira Santos, Carla de Sá Morais, Carla Santos Ramada, Carlos Arinto, Chico Mulungu, David Sousa, Diniz de Sousa, Eduardo Ferreira, Eduardo Oliveira, Estêvão de Sousa, Fernanda Kruz, Filipe Vieira Branco, Guadalupe Navarro, Isidro Sousa, J. V. Forte, Joaquim Bispo, Joaquim Calado Mendes, Jorge Manuel Ramos, José Teixeira, Lia Molina, Lucinda Maria, Manuel de Albergaria, Manuel Amaro Mendonça, Manuel Timóteo de Matos, Marcella Reis, Margarida Piloto Garcia, Maria Côrrea, Maria João Pacheco, MtM Teresa Manuel, Ondina Duarte, Paula Laranjo, Pedro Miguel Ferreira, Rafa Goudard, Ricardo de Lohem, Ronair Gama, Rosa Branquinho, Sara Timóteo, Sávio Christi, Sérgio Sola, Suzete Fraga, Vítor Duarte.
Prefácio de Isidro Sousa incluído no livro Boas Festas, uma Antologia de Natal publicada pela Silkskin Editora em Dezembro de 2015
BOAS FESTAS Antologia de Natal Organização: Isidro Sousa Autores: 50 Autores Editora: Silkskin Editora Nº de Páginas: 260 páginas 1ª Edição: Dezembro 2015 ISBN: 978-989-8796-66-0 Depósito Legal: 402328/15 Encomendas: silkskineditora@gmail.com
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TERROR EM ALTO MAR ESTÊVÃO DE SOUSA Nasceu em Lisboa, em 1937. Já aposentado, dedicou-se à escrita. É autor literário das seguintes obras: «Nesta Terra Abençoada» (2014), «Tráfico no Rio Geba» (2014), «Irina – A Guerrilheira» (2015), «Rapto em Londres» (2017), «Romance em São Tomé» (2017), «Pedaços de Mim» (2017), «Contos, Estórias & Companhia» (2018), «A Profanação do Túmulo» (2018) e «Pânico no Subúrbio» (2018). Tem trabalhos publicados em diversas obras colectivas. Da Colecção Sui Generis, participou nas antologias «A Bíblia dos Pecadores», «O Beijo do Vampiro», «Saloios & Caipiras», «Fúria de Viver», «Crimes Sem Rosto», «A Primavera dos Sorrisos», «Devassos no Paraíso», «Os Vigaristas», «Sinfonia de Amor» e «Luz de Natal». Perfil no Facebook: www.facebook.com/francisco.estevao desousa
“Estávamos então em Dezembro, aproximava-se o fim do ano. Era suposto o réveillon a bordo ser algo de monumental, dados os preparativos a que o pessoal procedia com afinco. A pouco e pouco o paquete ia ficando todo engalanado, antevendo-se uma “festa de arromba”, com o glamour que tão distintos passageiros exigiam; afinal, tratava-se de um cruzeiro de milionários. Entretanto, os dias que antecediam a tão almejada festa iam decorrendo num ambiente digno de um conto de fadas, para o que as condições de excelência, oferecidas pelas instalações do paquete, muito contribuíam.” POR ESTÊVÃO DE SOUSA
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A
bordo do paquete “Géminus of Seas”, Isabel Villanova viajava feliz num cruzeiro transcontinental. Jovem, bela, rica e inteligente – herdeira de uma grande fortuna – podia dar-se ao luxo de usufruir de tudo o que de bom a vida proporciona aos bafejados pela deusa da fortuna. Muitíssimo cosmopolita – havendo viajado pelos cinco continentes – viajando, preenchia a vida um pouco monótona que, apesar dos meios ao seu dispor, levava. Alta, loura, detentora de uns olhos verdes que inebriavam quem neles navegasse, era, além do mais, possuidora de um corpo escultural que deslumbrava qualquer elemento do
não conhecesse. Hoje, com trinta anos, ao engajar-se neste luxuoso cruzeiro, não pretendia mais que um novo género de diversão. Apreciadora do luxo e conforto, não podia ter escolhido melhor que o magnífico paquete, o qual desfrutava conjuntamente com mais cinco mil passageiros. Nesta luxuosa cidade flutuante existia tudo o que se pode desejar num local de relaxe, luxúria e prazer. O imponente transatlântico, saindo do porto de Vera Cruz, navegava a todo o vapor, com destino às Baamas, após ter feito escala na Florida, onde esteve ancorado dois dias. Das Baamas, depois de uma estadia de dia e meio, seguiu direito à costa de África, com destino ao Funchal. Estávamos então em Dezembro, aproximava-se o fim do ano. Era suposto o réveillon a bordo ser algo de monumental, dados os preparativos a que o pessoal procedia com afinco. A pouco e pouco o paquete ia ficando todo engalanado, antevendo-se uma “festa de arromba”, com o glamour que tão distintos passageiros exigiam; afinal, tratavase de um cruzeiro de milionários. Entretanto, os dias que antecediam a tão almejada festa iam decorrendo num ambiente digno de um conto de fadas, para o que as condições de excelência, oferecidas pelas instalações do paquete, muito contribuíam. Neste ambiente de glamour e fantasia, Isabel sentia-se completamente à vontade. De tal modo que já havia feito um rol de amizades, das quais fazia parte um rapaz, seu compatriota – que se dizia perdidamente apaixonado – a quem ela encarava como amigo e companheiro de folguedos. Com o compatriota Gonzales e outros foliões, passava Isabel os dias, e parte das noites, em agradável “rambóia”, ora frequentando os restau-
sexo oposto. Não obstante todos estes atributos, não se lhe conhecia qualquer compromisso sentimental. Filha de um magnata mexicano, falecido havia cinco anos, quando, acompanhado pela esposa, pilotava um jato particular que se despenhou sobrevoando os Andes – não deixando sobreviventes – viu-se de repente sozinha e herdeira de um grande império. Bafejada pela abastança, rapidamente começou a correr mundo, havendo poucas cidades e estâncias turísticas, nos cinco continentes, que
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rantes do paquete, e o casino, ora tomando banho na piscina, usufruindo também do solário, ou ainda dançando animadamente – nos vários locais a isso destinados – resplandecendo de beleza ao brilho feérico da iluminação multicolor. Assim ia decorrendo o cruzeiro, em ambiente de festa, muito ócio e alguma libertinagem. Por altura do último dia do ano – noite de réveillon – o Géminus sulcava calmamente as águas do Atlântico, defronte da costa da Serra Leoa. A bordo a alegria era esfuziante, com toda a gente procurando, por entre milhares de confetis e serpentinas, viver o réveillon de maneira inesquecível, dançando, rindo e desejando Boas Festas – quando da escuridão do oceano saíram repentinamente dois barcos que, cheios de piratas vindos do corno d’África, na costa oriental, atacavam o pesado transatlântico, atracando, um a bombordo, e o outro a estibordo; armados de toda a casta de armas, intimidavam os passageiros – que se encontravam no convés sorvendo a agradável brisa marinha, desfrutável naquelas paragens – ao mesmo tempo que os iam despojando de todos os pertences.
O Géminus sulcava calmamente as águas do Atlântico, defronte da costa da Serra Leoa. A bordo
a alegria era esfuziante, com toda a gente procurando, por entre milhares de confetis e serpentinas, viver o réveillon de maneira inesquecível, dançando, rindo e desejando Boas Festas – quando da escuridão do oceano saíram repentinamente dois barcos que, cheios de piratas vindos do corno
d’África, na costa oriental, atacavam o pesado transatlântico.
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Dado o alarme gerou-se um pânico indescritível entre os passageiros que, sem saber o que fazer, corriam pelos corredores procurando esconder-se nos quartos, bares, restaurantes, quartos de banho e até nos salva-vidas, o que era preciso era fugir daqueles bandidos que, sem complacência, roubavam, agrediam e matavam quem encontravam pela frente. O comandante, confrontado com a situação, deu instruções ao restante pessoal de bordo para não oferecer resistência, procurando assim preservar ao máximo a segurança dos passageiros, enquanto ordenava ao radio-telegrafista para mandar um S.O.S., pedindo socorro. Quando a abordagem se deu, Isabel Villanova encontrava-se a dançar com o seu amigo Gonzales que, pela quinquagésima vez, lhe dizia, cheio de arrebatamento, que a amava. Ao ter conhecimento do que estava a acontecer, correu a esconderse no quarto, fechando a porta por dentro e metendo-se debaixo da cama, aí se deixou ficar, na esperança de não ser descoberta. Enquanto isto se passava, no convés e restantes áreas públicas
reinava a desordem e a confusão, com a intimidação, pelos assaltantes, a ser feita em altos berros. Ao mesmo tempo que – os Somalis – de armas em punho aterrorizavam quem lhes resistia, matando e roubando, o comandante e os oficiais entregavam-se, sem resistência, sendo encarcerados na torre de comando. Isabel Villanova não soube dizer quanto tempo esteve naquela “agonia” fechada no quarto até que o comissário de bordo lhe foi bater à porta, dizendo-lhe que já podia sair, porque o perigo havia passado. Saiu a medo, não tinha a certeza que o pesadelo havia terminado, só acreditou quando, saindo do elevador que dava acesso à área de lazer, constatou que, embora muito devagar, a situação ia voltando à normalidade. Terrivelmente tensa e apavorada, começou a deambular pelo navio, ficando impressionada com o que ia vendo. Aqui e ali os médicos e enfermeiros de bordo prestavam assistência aos feridos, já tendo sido retirados os corpos dos que haviam perecido. A atividade existente surpreendeu-a; toda a gente corria meio desorientada, até que uma voz se fez
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ouvir, nos altifalantes de bordo: – Atenção senhores passageiros: o capitão de fragata Afonso Albuquerque, comandante da fragata Gil Eanes, ao serviço da coligação internacional de combate à pirataria, nas águas da costa ocidental de África, apela a todos que se mantenham calmos, visto já não haver motivo para alarme. Três piratas foram abatidos e vinte e cinco foram detidos e irão responder pelos crimes perpetrados, tendo os seus barcos sido aprisionados. Assim, resta-nos lamentar o acontecido e desejar que tenham um excelente resto de cruzeiro. Vemo-nos em Lisboa! Isabel ia a iniciar a procura dos amigos quando dos altifalantes se voltou a ouvir uma voz: – Senhores passageiros: fala-vos o comandante do Géminus para, em nome do proprietário do navio, em meu nome e de toda a tripulação, lamentar o sucedido e desejar-vos a continuação de um bom cruzeiro, dizendo-vos que, tanto eu como a restante tripulação, temos o maior prazer em estar incondicionalmente ao vosso dispor. Façam por esquecer o acontecido e... divirtam-se, usufru-
indo das excecionais condições que o paquete vos oferece. Acabando de ouvir esta última comunicação, foi altura de Isabel, extremamente ansiosa, partir à procura dos amigos, para saber se estes se encontravam bem. Percorridos alguns passos no solário, avistou Gonzales, que também aparentava procurar alguém e que, quando a viu, correu ao seu encontro, abraçando-a comovido, para lhe dizer: – Oh, minha querida, que bom ver-te depois desta confusão, e saber que estás bem! – Abraçados, com frenesim, beijaram-se apaixonada e vorazmente, descarregando naquele beijo todas as emoções acumuladas ao longo dos últimos acontecimentos. Acabado o beijo, ela, pegando-lhe na mão, arrastou-o, dizendo-lhe: – Vem, vamos para o meu quarto, afinal estamos vivos! Chegados dentro do quarto, amaram-se com arrebatamento: ela, entregando-se-lhe com volúpia, arrancou ela própria a blusa, pondo a nu os 89
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opulentos seios, que ele acariciava enquanto lhe ia tirando as cuequinhas e cheio de lascívia a atirou para cima da cama, onde rapidamente se possuíram. Atingido um orgasmo simultâneo, deixaram-se ficar abraçados algum tempo, até que na ânsia desmedida de se libertarem completamente de toda a adrenalina acumulada aquando da invasão, voltaram a possuir-se, desta vez menos exuberantemente, mas com tanto enlevo que acabaram completamente em êxtase!
Naquele dia, o luxuoso navio chegou ao Funchal, onde ancorou pelas 11,00 horas. Dali, seguiria no dia seguinte para Lisboa e daí para Barcelona, continuando o cruzeiro para Itália e Grécia, conforme havia sido programado. Já nada era como dantes! As pessoas tinham perdido a alegria esfuziante que havia imperado até ao ataque dos Somalis. O cruzeiro continuaria conforme a programação inicial, visto a empresa ter assumido responsabilidades – ao receber o pagamento das viagens – com as quais tinha de cumprir. No entanto, alguns passageiros desgostosos por haverem perdido familiares e amigos, resolveram desembarcar em Lisboa, seguindo de avião para os seus países. Neste grupo se enquadrava Isabel que, embora não tivesse perdido ninguém muito próximo, sentia que o cruzeiro já não tinha razão de ser, pese embora a felicidade presente, pelo amor que estava a viver. Assim, num belo dia, deitados junto a uma das piscinas, disse para Gonzales, que se encontrava abraçado a ela: – Querido, tenho andado a pensar que embora estejamos numa autêntica lua-de-mel, desde os acontecimentos por que passámos, sinto que fiquei traumatizada com o acontecido. Sinto-me receosa de que algo nos possa acontecer novamente. O que achas se desembarcarmos em Lisboa e re90
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gressarmos a Guadalajara de avião? – Sabes que estarei sempre contigo, meu amor, e que os teus desejos para mim são ordens – disse-lhe Gonzales, beijando-a com amor. – Meu querido! Este réveillon ficará eternamente na minha memória por dois motivos indeléveis: Primeiro, pelo grande susto que passámos durante o mesmo, em que todos julgámos que perderíamos a vida. Segundo, porque foi graças a este réveillon que te conheci, que nos amámos e que somos tão felizes! Ele, aconchegando-a mais a si, disse-lhe: – Olha, minha querida, daqui podemos tirar uma lição: Foi preciso ter sido transformado um
grande momento de alegria, em horror e medo, para alcançar a felicidade. Não restam dúvidas que “Deus escreve direito por linhas tortas”! Texto de Estêvão de Sousa incluído no livro Boas Festas, uma Antologia de Natal publicada pela Silkskin Editora em Dezembro de 2015
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LUCINDA MARIA Lucinda Maria Cardoso de Brito nasceu em Oliveira do Hospital, em 1952. Fez um percurso académico muito bom e tirou o curso do Magistério Primário, começando a leccionar em 1972. Encontra-se aposentada, mas continua a ensinar, agora artes decorativas, na Universidade Sénior de Rotary de Oliveira do Hospital. Tem seis livros publicados – «Palavras Sentidas» (2013), «Alma» (2014), «Divagando...» (2015), «Terra do Meu Coração» (2016), «Sonho?... Logo, Existo!» (Sui Generis, 2017) e «Um Ano... 365 Poemas» (2018) – e participações em variadíssimas obras colectivas. Da Colecção Sui Generis: «A Bíblia dos Pecadores», «Vendaval de Emoções», «Graças a Deus!», «Torrente de Paixões», «Fúria de Viver», «A Primavera dos Sorrisos», «Tempo de Magia», «Sinfonia de Amor» e «Luz de Natal». Como autora, gosta de identificar-se apenas por Lucinda Maria; não escreve segundo o Acordo Ortográfico de 1990. Perfil no Facebook: facebook.com/lucindamaria.brito
NATAL??? A passos largos, galopantes... aproxima-se a quadra natalícia. Começa o consumismo... o faz-de-conta... a caridadezinha... as máscaras de bondade... a ostentação... Pergunto: será isto o Natal? Decididamente, não. Citando o Papa Francisco, «tudo soa a falso». Cada vez se esquece mais o sentido, o verdadeiro significado do Natal. Celebra-se a 25 de Dezembro, como podia comemorarse em outro dia qualquer. Na Bíblia, nada nos diz a data em que Jesus nasceu, e mesmo quanto ao lugar e às circunstâncias é muito omissa. Sabemos que terá nascido em Belém. Foi um revolucionário, uma pessoa excepcional, muito à frente do seu tempo, mas que baseou toda a sua doutrina num sentimento, no maior e mais maravilhoso de todos os sentimentos: AMOR. Num mundo cada vez mais louco e conspurcado, cada vez mais imerso em guerras e ódio, é possível o Natal? Num mundo em que as desigualdades se acentuam, a fome prolifera, as necessidades mais básicas são negligenciadas, é possível o Natal? Num mundo em que há ricos cada vez mais ricos, a esbanjar, a ostentar, esquecendo quem, mesmo ao seu lado, passa as mais negras privações, é possível o Natal? A resposta a estas questões só pode ser uma: NÃO. Ary dos Santos escreveu num poema: «Natal é quando um 96
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homem quiser». Eu diria: Natal devia ser todos os dias do ano, excepto no dia 25 de Dezembro. Não seria preferível? Para quê fingir que temos pena, que somos solidários, que nos amamos, que estamos com os outros, que estamos e fazemos os outros felizes UM dia no ano? Para quê pôr uma máscara de bondade, quando, na maioria dos casos, só olhamos para o nosso umbigo e não ligamos a mais nada?
O que significa Natal ou Natividade? Significa “nascimento”. Por determinação da Igreja Católica, celebramos o nascimento de Jesus Cristo, o fundador do Cristianismo, a prática do bem, da solidariedade, da bondade, da amizade, da paz, da união, do bem-querer, da não discriminação, da inclusão, da dignidade humana, do respeito pelas pessoas, pela moral, pelos valores... E pergunto: alguém se lembra d’Ele? Alguém pensa n’Ele? Alguém procura com sinceridade seguir os Seus ensinamentos? Pois. É assim que eu penso. Gostei do Natal pobre da minha infância, vivido com inocência, verdade, simplicidade. Agora, cada vez gosto menos, cada vez me diz menos, cada vez significa menos. Mais: detesto estes tempos, em que só falta as pessoas trazerem escrita na testa a palavra HIPOCRISIA, quando se nos dirigem com aqueles lugares-comuns que, no fundo, não são nada: Boas Festas, Feliz Natal, Boa Consoada... E o Pai Natal? E as renas? E o trenó? E a Mãe Natal? E as luzes? E os brilhos? E os enfeites? Mais importações... mais consumismo... que só servem para desviar as atenções do verdadeiro sentido natalício. Pois, é verdade, sou um pouco diferente da maioria... sempre detestei “carneirismos”... O mundo precisa mudar? É consensual: precisa! Então, sejamos nós essa mudança. Não cruzemos os braços. Deitemos fora as máscaras. Pois. É assim que eu penso. Não sou nada... não sou ninguém. Sou EU. E, sinceramente, penso: O NATAL não será nada, enquanto o AMOR não for TUDO! 97
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CONTO
TREZENTOS DIAS DE VIDA JOYCE LIMA Doutora e Mestra em Educação, Especialista em Educação Ambiental. Bióloga pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia. Professora da rede pública de Ensino. Baiana, residente em Itagibá, BA. Seus pais são os seus maiores incentivadores, assim como toda a família. Autora do livro poético «A Arte de Costurar Palavras» (2016) e de livros técnicos na área de Educação: «Modos de Identificação de Professor(a): Tramas Discursivas» (2017) e «Formação Continuada: dos Desafios aos Impactos na Atuação Docente» (2016). Participou em várias antologias poéticas, no Brasil e em Portugal. Co-autora da antologia «Luz de Natal», da Colecção Sui Generis. Coordenadora e organizadora do projecto Janelinhas Encantadas, tendo organizado duas antologias de textos infantis, «Janelinhas Encantadas» e «Cartinhas na Janela», e uma para adolescentes, «Adolescências: Emoções Poéticas». Perfil no Facebook: facebook.com/joyce.lima.1069020
“Mona e Cris se conheceram ao nascer e tornaram-se amigas, prometendo uma cuidar da outra e protegerem-se dos perigos da floresta. Decidiram estar sempre juntas quando fossem fazer a grande viagem de um país para o outro, juntamente com milhares de outras borboletas. O mágico da floresta havia determinado que viveriam por trezentos dias, mas teriam que lutar para atingir esse tempo. Elas adoravam o calor e a luz do sol, a água, as flores, a vida... Quando faltavam esses elementos no bosque, as borboletas iam para outras terras.” POR JOYCE LIMA
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Bosque Colorido era um lugar de muitas cores e cheio de vida. Ali havia muitas árvores e plantas diferentes. A música ecoava por todo o bosque durante o dia e à noite. Ouvia-se um verdadeiro concerto. Zumbir, sibilar, gorjear, rugir, gavear, trinar, chiar, piar eram algumas das notas musicais dos seres encantados que ali viviam. Todos os dias havia festa. Nesse mundo mágico duas criaturinhas lindas se encontraram e resolveram aproveitar cada momento dos seus dias de vida. Mona e Cris se uniram para fazer cumprir o legado das borboletas. Mona e Cris se conheceram ao nascer e tornaram-se amigas, prometendo uma cuidar da outra e protegerem-se dos perigos da floresta. Decidiram estar sempre juntas quando fossem fazer a grande viagem de um país para o outro, juntamente com milhares de outras borboletas.
O mágico da floresta havia determinado que viveriam por trezentos dias, mas teriam que lutar para atingir esse tempo. Elas adoravam o calor e a luz do sol, a água, as flores, a vida... Quando faltavam esses elementos no bosque, as borboletas iam para outras terras. Bastava chover ou surgir qualquer perigo, as duas se escondiam entre as folhas da sua árvore preferida. Elas, muitas vezes, presenciaram a morte de outras borboletas monarca. Mas queriam viver o tempo que lhes pertencia. Unidas, venceriam. Durante a grande viagem Mona conheceu Pepe, uma borboleta macho, e viu nele a oportunidade de fazer nascer muitas borboletinhas. Assim que o viu, lançou seu perfume no ar para atraí-lo. Pepe se juntou à dupla e seguiram viagem, sempre em união. Foram dias felizes para o trio de 100
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borboletas, embora muitas outras tivessem um triste fim. Carinhos, fartura de alimentos, muitos ovos para esconder nas folhas e o nascer de muitas borboletas monarca. Difícil viagem de retorno, mas chegaram sãos e salvos dos perigos que enfrentaram. Muitas borboletinhas se juntaram ao grupo, formando uma nuvem colorida por onde passavam. Ao chegarem, agradecidas e alegres, saltitantes entre a nuvem de borboletas, o mágico, com sua voz forte, chamou-as para perto de si e falou: – Lembrem-se que precisam estar atentas... Vocês duas estão com 285 dias de vida! Amor e respeito é o que recomendo, Mona e Cris. Dito isto, o mágico entrou na gruta e sumiu... As duas borboletinhas, pensativas, se misturaram
às outras borboletas no bosque. Viveram unidas pelo amor e pelo respeito os dias que a Natureza lhes permitira viver, fechando o ciclo da vida.
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SAMANTA OBADIA Brasileira, 15/12/1967, com dupla nacionalidade portuguesa. Escritora, psicanalista, actriz, filósofa e palestrante. Tem quatro livros publicados pela Letra Capital Editora: «Pessoas, Palavras e Valores: Elos em Construção» (2009), «Eu me Livro: da Prisão das Drogas até o Fim» (2011), «Mengele me Condenou a Viver: A Vivência e as Sequelas de Aleksander Henryk Laks Após o Holocausto» (2012) e «Café com Chantilly, Contos de Motel» (2015). Participou na antologia «Luz de Natal» da Colecção Sui Generis.
AS INFINITAS PERCEPÇÕES SOBRE O NATAL
Perfil no Facebook: www.facebook.com/samantaobadia Página da Autora: www.samantaobadia.com.br Instagram e Linkedin: Samanta Obadia
Cada desejo ou dor traz a sua forma de perceber o mundo e interpretar o dar e o receber dessa festa
Os dias parecem iguais, mas as datas comemorativas carregam uma afetividade construída, independente de nossa vontade pessoal. Será que a razão kantiana ou o existencialismo sartreano seriam capazes de responder a isso? Sinto que não. Tantas histórias me são confidenciadas em consultório nessa época natalina. Algumas lembranças alegres, outras doloridas. Mas invariavelmente vividas. Cada desejo ou dor traz a sua forma de perceber o mundo e interpretar o dar e o receber dessa festa, infantil em sua natureza, e simbólica em sua fé. Trânsito livre entre Papai Noel e Jesus Cristo. Fantasia e realidade. Mito e fé. 102
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De verde e vermelho, a festa é anunciada e preparada. Cartas são escritas, presentes esperados. Rituais são feitos, orações pronunciadas. De um lado e de outro, mãos são enlaçadas em nome da paz. Tentamos resgatar a vida e a alegria na troca amorosa presente na anunciação daquele que chega. Seja o bom velhinho com sua sacola cheia de presentes, seja o menino iluminado que vem para propagar o verdadeiro amor. De ambos os lados, o Bem virá.
A expectativa enche os corações de alegria, como festa esperada. – Mamãe! Mamãe! – grita minha filha soluçando em seu quarto. Assustada, vou ao seu encontro e a vejo chorando em sua cama. – O que houve, minha menina? – Não pode ser verdade. Eu não vou acreditar nisso! – Chorava copiosamente aos cinco anos de idade. – Filha, o que houve? Conta para mamãe. – Meu amigo me disse que Papai Noel não existe. Isso não pode ser verdade. Eu estou muito triste com isso. A abracei carinhosamente e acolhi seu choro em silêncio. Naquele instante não havia palavras. Havia um vazio triste que não poderia ser preenchido. Não se tira a fé de uma criança!
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RITA QUEIROZ Natural de Salvador, BA, Brasil. Professora universitária, filóloga, poeta, escritora. Autora dos livros «O Canto da Borboleta», «Confraria Poética Feminina – vol.2», «Canibalismos», «Confraria Poética Feminina» (Penalux, 2018, 2017, 2016), «Colheitas» (Darda, 2018); organizadora dos livros «Bahia, Terra de Luz e Amor» (Darda, 2018 – dividindo a organização com Palmira Heine), «Nas Teias de Eros 2» e «Nas Teias de Eros» (Darda, 2018, 2017). Integra também diversas antologias e revistas literárias, tanto no suporte papel quanto no suporte virtual. Faz parte dos grupos “Confraria Poética Feminina”, “Mulherio das Letras” e “O Sarau”. Participou na antologia «Luz de Natal», da Colecção Sui Generis. Perfil no Facebook: www.facebook.com/rita.queiroz.334
A ETERNIDADE DAS ÁGUAS Éramos crianças e brincávamos. Eu acreditava na eternidade dos sonhos e não sabia que havia o fim, que um dia os sorrisos se apagam. Ele se foi e eu não entendia o porquê. Ríamos tanto, éramos luz! As águas. As águas são fortes. As águas que nos banham, matam nossa sede, alimentam a vida. Eu era apenas uma criança que queria saber onde ele estava e só recebia como resposta lágrimas. E todos me faziam entender que não podia perguntar por ele. E eu só queria o seu sorriso brincando com o meu. Em um domingo de sol, dia lindo, toda a família foi à praia. Ao final da tarde, aquele menino que conhecia não voltou. As águas o tinham levado. Eu continuava criança e não entendia porque isso acontecia. Porque havia crianças que não cresciam. Cresci, vivi tantas coisas, perdi... Os sonhos continuavam e ainda acreditava na eternidade, que sempre se distanciava de mim. Um dia recebi uma notícia que me fez a mulher mais feliz do mundo. Um ser dentro de mim, nadando em meu ventre. As águas levaram todos de mim, para um oceano profundo onde ainda há o desdobrar das flores, onde relâmpagos e trovões não apagaram meu sorriso, onde as verdades da retina são apenas efemeridades e as asas dos sonhos não são cortadas. Ainda continuo sem entender porque os sorrisos se apagam!
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ENTREVISTA
ROSA MARQUES Rosa Marques nasceu na ilha da Madeira, freguesia da Camacha, onde viveu até aos dezoito anos. Após o seu casamento mudouse para Porto Santo, onde reside e trabalha. Preocupa-a a grande instabilidade em que o mundo se encontra e a situação precária em que muitas pessoas vivem. Gosta de ler e de tudo o que está ligado à cultura. Por vezes escreve um pouco do que lhe vai na alma; sobre recordações da infância e sobre a Natureza, a quem declara um amor incondicional. Colabora com duas revistas literárias e tem participações em mais de vinte obras colectivas, em Portugal e no Brasil. Em 2016, editou o livro «Mar em Mim» com o selo Sui Generis e lançou, recentemente, «Prisioneiros do Progresso», a sua segunda obra poética. POR RICARDO SOLANO 107
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Sendo uma autora ecléctica, que tanto navega nas ondas da poesia como mergulha no universo da prosa, fazendo também incursões no reino infantil, porque preferiu editar novamente um livro de poesia? O que a fascina na poesia? E para quando um livro de prosa? Desde sempre a expressão poética me fascinou, mas não se tratou de preferência e sim da forma como as coisas aconteceram. A edição de um livro em prosa é uma questão de tempo... já entreguei os textos à Sui Generis, embora não haja ainda uma data definida para a sua edição, porque conto publicar em breve um livro para crianças e que já está também a ser preparado pela mesma editora. Estava previsto ser publicado no final deste ano, mas neste momento [data da entrevista] aguardamos ainda que as ilustrações fiquem prontas. SG MAG – Desde a sua última entrevista à SG MAG, reeditou o livro «Mar em Mim» no início deste ano e publicou recentemente a sua segunda obra poética...
De que modo é que a poesia poderá influir na vida das pessoas?
ROSA MARQUES – Apesar de eu ter pensado publicar um livro em prosa (de contos) a seguir ao livro «Mar em Mim», decidi publicar primeiro «Prisioneiros do Progresso» por ser um livro que fala do que está a acontecer no mundo... situação que infelizmente tem vindo a agravar-se de dia para dia. Foi uma decisão quase imediata, após falar com o meu amigo e editor Isidro Sousa sobre a intenção de publicar estes textos de cariz social. Inicialmente tencionava incluí-los num livro de poesia mais abrangente, que seria dividido em duas partes, porém, ao reuni-los verificámos que havia textos em número suficiente para compor um livro e foi isso que fizemos.
Cada pessoa sente e vive a poesia de uma forma diferente... a influência que esta vai ter em quem lê... o despertar de emoções tem muito a ver com o estado de espírito em que a pessoa se encontra no momento... o tipo de mensagem também, que pode ser alegre ou triste, por vezes até dolorosa... Desde o início dos tempos, mesmo antes da escrita, a poesia teve um papel fundamental na vida quotidiana; a arte rupestre pode ser considerada poesia. A beleza... a sequência das imagens gravadas ou pintadas na pedra sugeria e transmitia algo de muito belo... sobrevivendo até aos nossos dias... e nasceu do sentimento, dessa necessidade que o ser humano sempre teve de enaltecer o belo, a criação da Natureza, de fazer
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um registo não só para que outros pudessem interpretar e apreciar essa beleza mas também para que permanecesse no tempo e não fosse esquecido. Significa também que desde sempre o homem teve a percepção da efemeridade das coisas que o rodeavam... da mudança que se operava em tudo o que existia à sua volta, daí a preocupação de fazer um registo. Mais tarde, depois da invenção da escrita, o vocabulário usado para compor a poesia permitia que esta fosse facilmente decorada e transmitida oralmente de geração para geração. O texto poético não carece de tantas palavras para passar a mensagem, para dizer o que pensamos e sentimos... sendo geralmente um texto mais curto, torna mais fácil a sua memorização. Há na poesia toda uma subtileza e liberdade para exprimir o que se pretende... o que sentimos... não importa qual seja o tema.
Desde o início dos tempos, mesmo antes da escrita, a poesia teve um papel fundamental na vida quotidiana; a arte rupestre pode ser considerada poesia. A beleza... a sequência das imagens gravadas ou pintadas na pedra sugeria e transmitia algo de muito belo... sobrevivendo até aos nossos dias... e nasceu do sentimento, dessa necessidade que o ser humano sempre teve
Em que é que o seu segundo livro difere do primeiro?
de enaltecer o belo, a criação O primeiro livro, «Mar em Mim», enaltece a beleza das duas ilhas, Madeira e Porto Santo, onde nasci e sempre vivi... fala do belo! «Prisioneiros do Progresso» fala do mundo em geral, de uma dolorosa realidade que todos
da Natureza, de fazer um registo não só para que outros pudessem
interpretar e apreciar essa beleza mas também para que permanecesse no tempo e não fosse esquecido.
nós temos conhecimento que existe. Contudo, o tema da desigualdade e das injustiças sociais havia sido já abordado em «Mar em Mim»... nos poemas «Abandono», «Escola Pobre», «Ao Acaso», «Um Mundo Melhor», «Um Novo Amanhecer», «Carta ao Pai Natal», etc. Porque esta sempre foi uma preocupação minha e será sempre!
Quais foram os principais desafios para lançar um livro de poesia com temas de âmbito social? São textos que abordam o que se passa actualmente no mundo... uma realidade que provoca dor e revol-
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Contudo, não tem de ser assim... ainda é possível mudar... tornar o mundo um lugar mais aprazível, basta que os governantes de todo o mundo tomem medidas nesse sentido... para acabar com as guerras. No livro «Prisioneiros do Progresso» encontramos também mensagens de esperança e de gratidão em alguns textos como: «Vida Breve», «A Todas as Crianças do Mundo», «Que Nunca Nos Falte a Fé», «BemHaja Quem Ajuda», «Se o Dia Amanhecer Nublado», «Um Homem Novo», «Basta», etc.
Até que ponto os temas abordados a preocupam? O que a aflige no andamento das sociedades actuais? Tudo o que está a acontecer no mundo actual é fruto de uma sede de poder e de conquista, de uma ganância sem limites... por parte do homem. As guerras, os atentados, a desigualdade e todas as injustiças que daí advêm. A destruição do Planeta devido a um progresso sem controlo e o perigo das tecnologias conduzindo os seres ao isolamento, à solidão, criando dependência nos nossos jovens, distraindo-os do mais importante da vida, impedindo-os de pensar e enxergar com clareza a realidade que os cerca. Estes temas foram abordados no livro e são preocupantes, uma vez que todos eles atingem o ser humano na sua dignidade, nos seus direitos e no que ele tem de mais precioso, que é a vida. No texto «Desprezo Pela Vida Humana» podemos ler: «O mundo tornou-se um lugar perigoso / Armas e mais armas... explosivos (...) / São criados com rigor e precisão / Senhor, de onde veio tamanho ódio?» e «Que seres são esses? / Que atitudes tão desajustadas» no texto «Que Crença é Essa?» ou «É hora de unir esforços / Para mudar o que está mal... / Basta de tanta indiferença / Tanta desumanidade» no texto «Basta!»; no texto «Humanidade em Crise»: «Escravo das suas próprias invenções / O homem tornou-se um ser egoísta»; e no texto «Indiferença»: «Porque há tanta
ta... impotência... por ser algo que nos ultrapassa, que não conseguimos evitar que aconteça... Factos que atentam contra a vida e dignidade humana, e essa dificuldade em gerir as emoções angustiantes que surgem dessa dura realidade por vezes leva-nos a evitá-los... para nos protegermos do sofrimento. Por outro lado, não podemos ignorar eternamente o estado em que o mundo se encontra ou fingir que não nos afecta. Ignorar não muda nada e só piora a situação, é preciso alertar, falar sobre o que não está bem e melhorar o que estiver ao nosso alcance. Apenas com a participação de todos será possível combater o mal e mudar o mundo para melhor, tanto para nós como para as gerações vindouras. Os textos que compõem «Prisioneiros do Progresso» são um grito de revolta e foram escritos com mágoa, não foi fácil revê-los para os enviar ao editor, porque tudo o que eles evocam veio ao de cima... a frustração por nada poder fazer para travar essa onda de violência e de injustiça que existe no mundo e que provoca tanto sofrimento... Crianças e pessoas inocentes, sem hipótese de escolha, vêem-se envolvidas em guerras e conflitos... vidas marcadas apenas por dor e privação.
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indiferença? / Tanta falta de humanidade / Entre os seres, os povos das Nações?». No texto «Prisioneiros do Progresso», que dá início ao livro, podemos ler: «O homem não “sabe”, não quer mais parar... / Egocêntrico, cada vez mais sedento de explorar... de modificar... / (...) / Mesmo perante as evidências... e sofrendo as consequências... / (...) / O homem extrai do Planeta... mais... sempre e cada vez mais...»; e em «Refém da Tecnologia»: «O homem tornou-se um ser materialista e tecnológico / Perdeu a capacidade de observar o belo... a Natureza» ou «Mentes vagas, vazias / vagas de compreensão / Vazias de construtivo pensamento» no poema «Mentes Vazias». Porém, o homem não é feliz e vive insatisfeito, apesar do muito que já conquistou… e no texto «Náufragos de Si Mesmos» podemos ler: «Mundo carente de afectos... / Mundo caótico onde até a esperança vacila...», «Um crescente vazio / Neste século XXI / (...) nunca os humanos estiveram tão sós / Nunca foi tão grande a solidão...»
Não podemos ignorar eternamente o estado em que o mundo se encontra ou fingir que não nos afecta. Ignorar não muda nada e só piora a situação, é preciso alertar, falar sobre o que não está bem e melhorar o que estiver ao nosso alcance. Apenas com a participação de todos será possível combater o mal e mudar o mundo para melhor, tanto para nós como para as gerações vindouras.
Há uma cegueira... uma recusa, por parte de quem detém o poder, em tomar as atitudes que poderiam tornar o mundo um lugar melhor. O Homem vive em constante luta... e isso causa insensibilidade, indiferença, egoísmo, gera violências, ódios e vinganças... O constante clima de conflito afasta-o da espiritualidade, do amor ao próximo... do amor-próprio... leva os homens a agirem com insensatez, conduz ao desprezo pela vida humana. O homem actual não olha a meios para atingir os fins... não hesita em destruir o Planeta para satisfazer essa sede de poder. É preocupante ver que no progresso da ciência a maioria dos conhecimentos adquiridos não estão a ser utilizados em benefício da humanidade, mas sim num propósito contrário. O constante incentivo ao consumismo na comunicação social, formatando as mentalidades, moldando as crianças desde a mais tenra idade... para uma vida superficial e de aparências... onde
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o materialismo é colocado em primeiro lugar, dificultando a evolução que possibilitaria uma mudança... anulando mesmo essa mudança...
está absorvida de uma forma total / Orientada para o consumismo...», e outro com o nome «Prisioneiros do Progresso», no plural, que inicia o livro e diz: «É urgente reverter a situação...» e «Progresso SIM... Com equilíbrio (...) / Progresso NÃO... Quando os danos são maiores que os benefícios». A expressão «Prisioneiros do Progresso» é também referida num outro texto na página 68, onde se pode ler: «Refém das Tecnologias / Dominado por elas e por uma sede / Incontrolável de poder...», «O homem tornou-se / Um ser materialista e tecnológico...», «O homem perdeu a capacidade / De observar o belo... a NATUREZA» e «Prisioneiro do progresso... inconsciente». Depois de analisarmos as diversas alternativas, concluiu-se que não havia necessidade de procurar fora do livro um título mais apelativo e abrangente. A expressão «Prisioneiros do Progresso» caracterizava (e reflecte!) todos os conteúdos da obra. Assim sendo, ficou para título... e até agora tem sido bem acolhido.
Porquê «Prisioneiros do Progresso»? O que pesou na escolha deste título? Que pretende transmitir? Houve a preocupação de se escolher um título que abrangesse toda a temática do livro, e até chegarmos a «Prisioneiros do Progresso» foram pensadas outras hipóteses, mas pareciam sempre incompletas... ou inadequadas. Há um texto na página 72 que se chama «Prisioneiro do Progresso», no singular, onde podemos ler: «Prisioneiro do progresso, o homem / Já não vê para além do palpável, do que é material / Sua mente
O ser humano tornou-se um escravo, um prisioneiro do progresso... ao ponto de ver que está a destruir o Planeta, a colocar em risco a própria existência, e mesmo assim continua de uma forma insensível e egoísta, sem se importar com o amanhã... como se pode ler no texto que abre o livro. «O homem não “sabe”, não quer mais parar...».
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Em que medida poderá ter, este livro, um papel interventivo ou mesmo uma função pedagógica – como remata o prefácio – nas sociedades actuais? Como poderá contribuir para beneficiá-las?
futuras. É preciso sensibilizar os jovens para o sofrimento causado pelas guerras, pela fome, pela violência, e principalmente alertar para a desigualdade que hoje existe no mundo... e que ela é a fonte de todas as injustiças. Explicar-lhes que onde há injustiça e desigualdade há ódios que geram violência e criminalidade, e que essa desigualdade deve ser combatida com uma melhor distribuição dos bens e riquezas que existem no mundo... criando melhores condições, permitindo que todos tenham acesso à educação, à formação... e ao trabalho. Que é de suma importância que todos tenham pelo menos o essencial para viver com dignidade. Em «Prisioneiros do Progresso», esses temas são abordados e podem ser explorados e discutidos por professores e alunos.
«Prisioneiros do Progresso» pode ser lido nas escolas, e os temas discutidos e comparados com textos de outros autores que no passado tiveram preocupações idênticas, mas principalmente servir como um alerta. Os mais jovens não têm consciência do que realmente se passa, porque nasceram e sempre viveram nesta época... dominada pelas tecnologias. Não sabem o quanto podem ser nocivas certas atitudes como o desperdício de géneros, o passar tanto tempo no computador ou no telemóvel... o não estudar... o não se importar com o sofrimento dos outros. É preciso despertar os jovens para a real situação, para o que está a acontecer na Terra. Explicar-lhes que é preciso respeitar e preservar o meio ambiente, que tudo talvez possa ainda melhorar, se houver uma mudança... e que essa mudança é urgente para que possam viver em harmonia uns com os outros, para que possam continuar a usufruir de boas condições de vida, assim como deixar o Planeta melhor para as gerações
Acredita mesmo que o ser humano está cada vez menos humano e mais mecânico, anulando-se a si mesmo? Que a humanidade caminha a largos passos para o abismo da destruição, acabando, ela própria, por autodestruir-se? Estaremos a chegar ao fim dos tempos?
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A violência, a injustiça e a desigualdade que actualmente existe no mundo mostram bem o quanto de desumano há nos seres que o habitam. Se estamos ou não a chegar ao fim dos tempos, ninguém o poderá afirmar com certeza, o que podemos constatar é que as condições de vida pioram de dia para dia. O Planeta modifica-se em espaços de tempo cada vez mais curtos e para pior. O aquecimento global é o inimigo número um, o mais destrutivo... capaz de fazer desaparecer todas as espécies vivas existentes. Poderá, ou não, ser um processo lento e demorar milhares de anos, mas que tornará penosa a vida das espécies que consigam sobreviver... O aumento da temperatura dará origem a terríveis secas devido à falta de água em determinadas zonas e o alagamento de outras, com o derreter dos gelos... Instabilidade que tornará
insuportável a vida na Terra, e esta inevitavelmente acabará por se extinguir. Perante tudo o que já está a acontecer, acredito que se não houver uma mudança de atitude, um plano para reverter e reparar pelo menos os danos mais graves já existentes no Planeta e travar o aquecimento global... se continuarmos a mutilar o Planeta, a extorquir dele as substâncias que o sustentam e mantêm estável, infelizmente a humanidade caminha a passos lagos para o abismo da destruição... para um implacável e desastroso retrocesso na história da humanidade.
Apresentou «Prisioneiros do Progresso» na Biblioteca Municipal de Porto Santo. Como decorreu o evento? E porque lançou este livro na véspera de São João? O evento correu muito bem, graças a Deus, e aproveito para agradecer mais uma vez a todas as pessoas que estiveram presentes, por todo o carinho e apoio. À professora Luz Freire e à Dra. Lucília Sousa, pela excelente apresentação. Ao Sr. Presidente da Câmara, Idalino Vasconcelos, pela sua presença, pela cedência do espaço, e a todas as pessoas que ajudaram, tornando possível o evento. A apresentação foi integrada nas comemorações dos seiscentos anos da descoberta da ilha, e escolhemos as festividades do São João por haver, nesses dias, uma maior afluência de pessoas à ilha.
Como são vividas as festas de São João em Porto Santo? As festas de São João, também denominadas por «Festas do Concelho», são já uma longa tradição e têm grande importância para o povo e para a economia da ilha. É um acontecimento que dura vários dias, geralmente de 20 a 25 de Junho, e que atrai sempre muitos visitantes. Durante esses dias acontece uma diversidade de eventos culturais e desportivos que incluem todas as faixas etárias da população que queiram par-
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ticipar, desde as crianças aos seniores. O ponto mais alto desta célebre comemoração dá-se na noite de 23 para 24 de Junho, com o desfile das marchas populares, muito apreciado por visitantes e residentes. As marchas populares toda a gente gosta de ver... apreciar a beleza dos trajes, alguns ricamente trabalhados consoante a época e o extracto social que evocam. Todos os anos é feito um programa de festas onde é apresentado um tema, depois tudo é trabalhado e organizado de acordo com esse tema; geralmente são recriados factos que fizeram ou fazem parte dos usos e costumes do povo da ilha. Neste ano de 2018, na sequência da comemoração dos seiscentos anos da descoberta da ilha do Porto Santo, o tema escolhido foram os Descobrimentos. É uma festa alegre... além das marchas há espectáculos de dança e música, onde actuam artistas da ilha e também outros que vêm de fora. Há barracas de comes e bebes com petiscos tradicionais, as ruas são enfeitadas... há sempre muita luz e cor. No Largo do Município é erigido um altar em homenagem ao São João, padroeiro da ilha, e perto do Padrão dos Descobrimentos é costume, na noite de 23 para 24, acender uma fogueira que permanece acesa pela noite dentro. Pela cidade há todo um
ambiente agradável e acolhedor, uma certa magia e misticismo que sempre esteve associada à noite de São João, um santo tão popular... e a que ninguém fica indiferente.
Dedicou este livro a uma criança de três anos de idade, o seu neto Rodrigo, por alguma razão especial? Porque o fez? Porque acredito ainda numa mudança, e penso que essa mudança virá das gerações mais novas. É imperioso que haja uma mudança... um despertar consciente... uma vontade colectiva de transformar o mundo num lugar melhor, com mais paz, mais justiça e menos sofrimento... Porque temo justamente pelos mais pequeninos, os que estão chegando agora ao mundo, pelas lamentáveis condições e dificuldades que vão encontrar... é como se traíssemos a inocência e a alegria das nossas crianças, colocando-as num mundo em crise e tão violento, legando-lhes um Planeta esgotado dos seus recursos naturais, que pouco terá para lhes oferecer... além de uma árdua luta pela sobrevivência. A vida pode ser mais bela!
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No período que mediou os lançamentos dos seus dois livros participou em diversos e variados eventos culturais, desde feiras do livro a intervenções nas escolas. Que impacte têm estas actividades no seu percurso literário? Todas as experiências são valiosas, um contributo para o aprendizado e de onde sempre colhemos algo positivo. Falar com os jovens, ouvir palestras sobre a escrita, sobre a história da ilha... participar na leitura de contos, na declamação de poesia ou simplesmente estar presente, são eventos muito gratificantes e enriquecedores. Estas iniciativas são de louvar, assim como tudo o que se refere à cultura, à educação e à arte. Tudo o que contribua para divulgar a cultura e para a formação é bem-vindo.
trabalho... Ver um texto meu publicado numa revista, assim como ler um trabalho de outro autor, é para mim um prazer, uma satisfação enorme. Além disso, aproxima-nos uns dos outros na medida em que há uma partilha de sentimentos... e de conhecimentos. Este intercâmbio cultural entre pessoas e países é fascinante, porque há muita coisa em comum... pouco a pouco quebram-se os tabus.
Além disso, passou a colaborar regularmente em revistas literárias, editadas aquém e alémfronteiras. Que importância têm para si estas colaborações?
Nota-se que é uma autora preocupada (também) com a divulgação da sua obra. Após publicar os livros, não “dorme à sombra da bananeira”, esperando que o milagre das vendas aconteça. Está consciente de que o sucesso da obra depende, em grande parte, do empenho do próprio autor. O que a fez chegar a essa conclusão?
As revistas literárias tanto nacionais como Internacionais são um veículo de informação, um meio difusor da cultura de grande importância. Agradeço e destaco a «Divulga Escritor» e a «SG MAG» que além de divulgarem os trabalhos dos autores apresentam também uma variedade de textos elucidativos, escritos por profissionais que abordam temas diversos e que são uma mais-valia para todos nós. São ainda uma excelente oportunidade para os autores divulgarem o seu
A divulgação das obras é realmente uma preocupação e nos dias actuais não encontramos apoios nesse sentido, por isso tudo decorre muito devagar. Não é fácil promover um livro sem ajudas... e num meio pequeno mais difícil ainda. O pouco que se consegue é apenas
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pela teimosia do autor... que ao escrever e editar um livro não pode pensar em gratificação monetária. Cada vez mais as pessoas procuram as tecnologias e não os livros como forma de preencher os tempos de lazer. Falar... ajudar a promover um livro de um novo autor é um aspecto pouco valorizado no nosso país.
enriquecedora da qual gostei bastante. Sou fã da escrita brasileira... Na adolescência li Érico Veríssimo, é o primeiro autor brasileiro que me lembro de ter lido, depois Jorge Amado e Machado de Assis... e ainda os leio. Este ano participei na «II Colectânea de Poesia Lusófona em Paris» e noutras antologias portuguesas: «Poem’Arte» e «5 Sentidos II» das Edições Declamador e «Sinfonia de Amor» e «Luz de Natal» da Sui Generis. A falta de tempo para escrever tem sido, para mim, um factor condicionante...
Mantém, igualmente, participações regulares em obras colectivas, dentro e fora de Portugal. Até que ponto considera importante (continuar a) participar nestes projectos? Porque o faz?
Que diferenças verifica entre as obras colectivas organizadas pela Sui Generis, nas quais participa habitualmente, e as obras de outras entidades em que também participa? E que aspectos mais relevantes destaca numas e noutras?
Fora do nosso país, tenho participado em algumas obras colectivas, mas não tanto como gostaria, o custo para o envio dos livros é elevado. Do Brasil por exemplo, e quem já participou sabe que o transporte chega a ser quase tão caro como os livros. O mesmo se passa para os autores brasileiros que participam nas antologias portuguesas... A última obra do Brasil em que participei foi em 2017, na colectânea infantil «Cartinhas à Janela» da editora Becalete; foi uma experiência
Cada editora tem a sua forma de trabalhar, mas o resultado final de uma antologia ou livro individual depende de muitos factores. Para além dos textos, depende do investimento que cada editor está
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disposto a fazer de forma a apresentar um bom trabalho. Da qualidade do papel, da imagem que se escolhe para a capa, da ilustração se houver, e muito... muito... do critério e grau de conhecimentos, do perfeccionismo e exigência de quem tem a seu cargo a organização da obra. No entanto há diferenças... mas penso que faz parte do mundo literário, e por vezes também é bom ver e lidar com essas diferenças. Conhecer o trabalho de outras editoras, portuguesas ou estrangeiras, mais ou menos perfeccionistas, com mais ou menos aptidão, pode servir também para aprender e aperfeiçoar algo que se considere menos bem... para mudar algo para melhor.
Qual foi a obra colectiva que mais a fascinou? Em que antologia, ou colectânea, gostou mais de participar? Porquê? Todas as antologias onde participei foram e são importantes para mim, por isso é muito difícil referir apenas uma. No entanto houve temas que me deram mais prazer escrever... ou porque tinham a ver com experiências pessoais, ou por ter mais facilidade para falar de um determinado assunto... Recordo «A Bíblia dos Pecadores» da Sui Generis, a primeira antologia em que participei com o texto «Jesus Decide Voltar à Terra» porque aborda a situação de instabilidade do mundo e do Planeta, o mesmo tema do meu livro «Prisioneiros do Progresso». «Saloios & Caipiras» foi um tema do qual gostei bastante, assim como «A Primavera dos Sorrisos», «Tempo de Magia», «Graças a Deus!», «Vendaval de Emoções», «Fúria de Viver», «Torrente de Paixões», «Ninguém Leva a Mal» e «O Beijo do Vampiro»... estas antologias são da Sui Generis. Mas também de outras editoras: «Boas Festas», «Fusão de Sentires» e «Perdidamente» da Silkskin Editora; e «5 Sentidos» I e II, «Poem’Arte» e «Flor de Natal» das Edições Declamador.
Confiou a edição do segundo livro novamente à Sui Generis. Que razões poderão justificar esta fidelidade editorial? Estou bastante satisfeita com o trabalho da Sui Generis, representada pelo Isidro Sousa (na revisão, organização e edição) que é um excelente profissional, um perfeccionista, e pelo Paulo Lobo (na parte gráfica), que também faz questão de apresentar um bom trabalho. Foi na Sui Generis que pela primeira vez participei numa antologia... também por esse motivo, a Sui Generis será
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o prefácio. Neste momento não posso precisar qual destes será o próximo livro... dependerá da celeridade dos trabalhos que faltam. Mas será um dos dois, certamente.
Deseja acrescentar algo que não tenha sido abordado ao longo da entrevista? Quero agradecer à Sui Generis, pela oportunidade de publicar esta entrevista, pelo empenho e excelente trabalho de divulgação da literatura e obras individuais, sem qualquer custo monetário para o autor. Aproveito para desejar ao meu amigo Isidro Sousa um futuro próspero, não só como organizador e editor mas também na escrita... que tenha muito sucesso com os livros da sua autoria já editados... e que a Sui Generis cresça e alcance cada vez mais sucesso.
sempre para mim uma editora de eleição. Criaram-se ao longo do tempo laços de confiança e de amizade saudáveis que são uma mais-valia. Já enviei à Sui Generis mais alguns trabalhos meus... para serem editados em livro.
Sabemos que tem em preparação uma nova obra. Em que consistirá o próximo livro de Rosa Marques? A próxima obra da minha autoria seria um livro para crianças, que era para ter sido editado antes do «Mar em Mim». No entanto optei pelos poemas, mas agora, como o meu neto está mais crescido, já está com três aninhos e gosta de ouvir histórias, decidi publicar essas histórias infantis em livro... Já enviei os textos à Sui Generis, mas faltam ainda as ilustrações, que estão bastante atrasadas por razões de força maior; enquanto não ficarem prontas a edição do livro não avança. Por isso, talvez dê prioridade a outro livro, de contos, cujos textos também já enviei à Sui Generis... só falta
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POEMAS DE ROSA MARQUES Do livro Prisioneiros do Progresso
SE O DIA AMANHECER NUBLADO Se o dia amanhecer nublado Nada fazendo sentido... Não desistas... Não te dês por vencido Lembra-te que o dom da vida É o maior bem Que todo o ser humano tem... Olha bem tudo o que te rodeia As belas flores no jardim A relva ainda orvalhada As verdes árvores em flor À beira da estrada... Presta atenção e agradece a Deus Que tudo criou com carinho E novamente... O Sol brilhará na tua vida Iluminando o teu espírito O teu caminho!
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PRISIONEIROS DO PROGRESSO Deslumbrado com o grau de desenvolvimento que já conseguiu atingir O homem não “sabe”, não quer mais parar... Egocêntrico, cada vez mais sedento de explorar... de modificar... Numa sede crescente de progredir... mesmo consciente de que está a destruir... Um desenvolvimento exagerado... está a deixar o Planeta esgotado De seus recursos naturais... Mesmo perante as evidências... e sofrendo as consequências... O homem extrai do Planeta... mais... sempre e cada vez mais... O mercado está superlotado de produtos supérfluos... Que são fruto de um crescimento sem controlo, Prejudicial a todos nós... a toda a Humanidade... Produtos químicos poluem e envenenam as águas... Dos rios e das nascentes... dos mares... contaminam o solo... As árvores mutiladas estão tristes, sacrificadas ao progresso... E, devido à enorme poluição, muitas já em extinção! As flores exageradamente modificadas... Os frutos adulterados pelos químicos perderam o sabor... Para o homem actual, o importante é rentabilizar... ganhar... Ganhar sempre mais dinheiro... louca ambição... Que nem por isso o faz mais feliz... Cercado de produtos que não usa nem precisa... sufocado pela poluição O tempo passa... e o homem do século XXI finge que não vê... Ignora a trágica situação... Que herança deixará aos seus filhos... às novas gerações? Um Planeta doente... danificado... efeito estufa... lamentáveis condições... É urgente parar esta forma errada de pensar e de agir... Sensibilizar o homem para a importância... para o valor da NATUREZA Para que dignifique e valorize a sua parte espiritual... Tão descurada nos últimos anos... e por isso a causa de tanto mal... É urgente tomar medidas para reverter a situação... reparar os danos... Progresso SIM... Com equilíbrio, “conta, peso e medida” Progresso NÃO... Quando os danos são maiores que os benefícios Quando o preço a pagar é a própria vida... e do Planeta a destruição.
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QUE MUNDO É ESTE? Que mundo é este? Onde a injustiça cresce A desigualdade, o egoísmo Prevalece. Onde o bem é ignorado, O mal idolatrado... e A indiferença, a intolerância Floresce!... Que mundo é este Onde muitos têm falta de pão? Que insensíveis seres são estes? Que insensatos e estranhos são! E para onde caminharão?
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DESPREZO PELA VIDA HUMANA Sem amor O mundo tornou-se um lugar instável, perigoso Onde reina o desprezo pela vida humana A violência... a vingança... a mentira corre ligeira O medo oprime, amordaça... Armas e mais armas... explosivos Artefactos de destruição em massa São criados com rigor e precisão SENHOR De onde veio tamanho ódio? Quanta aversão Que os homens sentem uns pelos outros? PORQUÊ? Por terem crenças e por viverem Em espaços diferentes? Por serem de outra cor? Porquê tanto ódio e rivalidade, Senhor? Que tipo de neblina lhes obscureceu a alma? Que tipo de cegueira lhes adulterou a vista e a mente Para que sintam pela vida tanto desamor Um desprezo tão profundo? Que aconteceu, Senhor? Para que os seres tenham uma visão Tão pobre e disforme... Tão alienada e distanciada do que Deveria ser a realidade no mundo?
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CRÓNICA
ROSA MARQUES Nasceu na Madeira, onde viveu até aos dezoito anos. Após casar, mudou-se para Porto Santo, onde reside e trabalha como administrativa até à data. Preocupa-a a situação precária em que o mundo se encontra, a condição humana (principalmente as crianças) e todos os que vivem em condições desumanas, nos países subdesenvolvidos e nos países em guerra. Gosta de ler e de tudo o que está ligado à literatura e à arte. Participou em diversas obras colectivas, em Portugal e no Brasil, e publicou dois livros de poesia com o selo Sui Generis: «Mar em Mim» (reeditado em 2018) e «Prisioneiros do Progresso». Página da Autora: Facebook: Maria Correia
NO MEU TEMPO DE CRIANÇA “Todas as crianças guardavam no seu íntimo a esperança de ganhar um brinquedo, qualquer coisa nova que por vezes era mais imaginária do que real. No entanto, sempre havia algo novo por muito modesto que fosse: uma peça de roupa, uns sapatos, uns lápis de cor ou uma pequena boneca. Um simples balão colorido oferecido pelo senhor da mercearia naqueles dias próximos ao Natal era suficiente para proporcionar alegria e felicidade aos mais pequenos. Tudo era motivo de contentamento por ser novidade, e apesar de serem coisas singelas representavam muito para nós.” POR ROSA MARQUES
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o meu tempo de criança, o Natal era esA promessa de ir ver o circo, que se deslocava à perado e vivido com alegria, entusiasmo ilha pela altura do Natal e se instalava no antigo e também com alguma impaciência... à Campo do Almirante Reis, gerava euforia e tammedida que a data se aproximava e começavam bém ansiedade... pelo tanto que o tempo custava alguns preparativos. Todas as crianças guardavam a passar até chegar ao dia. Na última noite do no seu íntimo a esperança de ano, o tradicional espectácuganhar um brinquedo, quallo de fogo-de-artifício já enquer coisa nova que por vetão assinalava o momento de zes era mais imaginária do transição... do ano “velho” Na última noite do ano, que real. No entanto, sempre para o ano “novo”. Visto do o tradicional espectáculo havia algo novo por muito alto e à distância, era e conde fogo-de-artifício já então modesto que fosse: uma petinua a ser magnífico. Mas ça de roupa, uns sapatos, uns quem o quisesse ver teria de assinalava o momento de lápis de cor ou uma pequena ser forte para aguentar até à transição... do ano “velho” boneca. Um simples balão meia-noite sem dormir... dipara o ano “novo”. Visto colorido oferecido pelo sezia-nos o meu pai... caso connhor da mercearia naqueles trário ficava em casa. Porque do alto e à distância, era e dias próximos ao Natal era naquela idade o tempo cuscontinua a ser magnífico. suficiente para proporcionar tava muito a passar, lutávaMas quem o quisesse ver alegria e felicidade aos mais mos contra o sono para não pequenos. Tudo era motivo perder a oportunidade de ver teria de ser forte para de contentamento por ser aquela beleza... e o convívio, aguentar até à meia-noite novidade, e apesar de serem a alegria das muitas pessoas sem dormir... dizia-nos o meu coisas singelas representaque se juntavam no Mirador vam muito para nós. para ver... Depois de termipai... caso contrário ficava Numa época em que ainnado o fogo-de-artifício, o aem casa. Porque naquela da não havia televisão nem pressado regresso a casa... idade o tempo custava muito luz eléctrica, era dessas pepelo menos trinta minutos a queninas coisas que nos valíandar a pé, e já no ano novo. a passar, lutávamos contra amos para ocupar os tempos Chegávamos sem sono e o o sono para não perder a livres; nelas concentrávamos meu pai preparava uma cháoportunidade de ver aquela a nossa atenção... delas exvena de cacau quente e pão traíamos o incentivo necescom queijo para todos e só beleza... e o convívio, a alesário para viver o dia-a-dia. depois de comermos íamos gria das muitas pessoas que Improvisando brincadeiras dormir. Na ilha é tradição anse juntavam no Mirador para do nada... partilhando os partiga tomar cacau feito com cos brinquedos... procurando leite e açúcar na época de ver... Depois de terminado o pequenos retalhos de tecidos Natal... aliás, era um priviléfogo-de-artifício, o apressado coloridos para fazer roupa gio apenas dessa época... acregresso a casa... pelo mepara as bonecas... lendo e tualmente, com a melhoria tentando desenhar figuras das condições de vida, já ponos trinta minutos a andar iguais às que víamos nos lide ser apreciado em quala pé, e já no ano novo. vros de histórias requisitados quer altura do ano, principalna Biblioteca da Gulbenkian. mente no Inverno, por ser 130
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muito agradável. Nos dias a seguir à “festa” éramos confrontados com a inevitável pergunta das vizinhas: – O que foi que o Menino Jesus te trouxe? Aproveitávamos aquela oportunidade para mostrar e falar animadamente sobre o que havíamos recebido... e ninguém tinha muito, nem coisas ricas... porque as famílias eram numerosas e os tempos magros em dinheiro. Vigorava ainda a ditadura Salazarista, eram raras as mulheres que trabalhavam fora de casa e para fazer face às despesas havia apenas o ordenado do pai. Ajudavanos e muito a fazenda que, trabalhada com esmero e sabedoria, dava de “tudo”, graças a Deus! A terra cultivada palmo a palmo... as árvores de fruto cuidadas para que os frutos fossem sãos e suculentos... e eram. Quanto ao pouco dinheiro que havia, era necessário saber geri-lo... para comprar o essencial, de forma a que o Natal fosse agradável em todos os sentidos; providenciar um brinquedo ou uma peça de roupa para cada um dos filhos, caiar a casa e compor algumas faltas, assim
como melhorar a alimentação nesses dias... O presépio era a atracção principal do Natal... a sua preparação começava com alguma antecedência e envolvia todos. Quando ficava pronto iluminava toda a casa, emprestando-lhe um brilho novo, que para nós, crianças, tinha naquela época um sentido autêntico e verdadeiro. Desenhar as casinhas na cartolina, pintar, recortar e colar... era um trabalho que requeria alguma mestria e paciência, supervisionado pelos irmãos mais velhos, que outorgavam a si próprios autoridade para fazê-lo. Era necessário solidez para que depois nenhuma casinha se desmanchasse ou ficasse a destoar das outras... Por fim, compensava vê-las nos seus diversos tamanhos e cores subindo as íngremes encostas do presépio, dispersas umas, outras agrupadas imitando as aldeias reais. Pequenas obras de arte ricas nos pormenores e muito elogiadas pelos tios e por quem as via. Cores vistosas, portas e janelas simples ou mais complexas, com e sem tapa-sóis, conforme a criatividade do artista. As searas verdes, também designadas por “se131
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protectora, aqueciam e vigiavam de perto o sono do Menino, que sereno dormia... Rescendiam as apetitosas frutas maduras... guardadas do Verão ou compradas no mercado do Funchal, propositadamente para enfeitar a mesa onde um Menino Jesus maior permanecia durante o ano inteiro. Vestido com uma túnica branca ornamentada com rendas ou então bordada pelas mãos hábeis da minha mãe, no característico Bordado Madeira, e um cordão também branco a ajustar na cintura. A toalha branca espalhava suavidade e pureza, contrastava com as belas cores das laranjas, das tangerinas, das maçãs vermelhas e de outras frutas da época, e com o verde magnífico das searas. Ao dispor a fruta sobre a mesa, de uma forma decorativa, minha mãe ia avisando: – A fruta que está na mesa do Menino Jesus não é para mexer... Ou, então, uns dias depois do Natal, ao notar alguns espaços vazios entre elas:
arinhas do Menino Jesus”, eram semeadas em cântaros pequeninos e carinhosamente cuidadas para que permanecessem verdes e bonitas durante toda a época natalícia; regularmente regadas e colocadas em local onde pudessem apanhar um pouco de Sol... e à medida que cresciam demais, eram aparadas cuidadosamente com uma tesoura, para que não tombassem para o lado. Embelezavam o presépio em harmonia com as ovelhas e seus pastores... com os músicos... com as casinhas e muitas outras figuras que faziam parte do quotidiano. Os três Reis Magos; o velho Melchior, Baltasar e o jovem Gaspar... que após vários dias andando por caminhos incertos finalmente tinham chegado... montados nos seus camelos, cada um com a sua devoção, transportando ouro, incenso e mirra, preciosas oferendas para o Menino recém-nascido. Tinham vindo de muito longe, seguindo sempre a ditosa estrela... descido a encosta, e encontravam-se agora à entrada da gruta onde Nossa Senhora e São José contemplavam embevecidos o Menino Jesus, deitado nas palhinhas. Também o burrinho e a vaquinha, numa atitude benta e 132
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– Já tiraram fruta da mesa do Menino Jesus... Vou saber quem foi! Mas não ia além disto... dizia e continuava calmamente a bordar... não averiguava nem questionava sobre o culpado ou culpados. Ouvíamos calados e entre os irmãos ninguém falava... ou acusava... e nesta cumplicidade silenciosa sabíamos que à medida que os dias passavam nenhum de nós resistia a surripiar uma tangerina ou uma bela maçã vermelha da mesa do Menino Jesus... E Ele, criança como nós, não se importava, dizia-nos a sua expressão sorridente e feliz... de tal forma que em nós não sobrava nem a sombra do remorso. Todos os anos acontecia a mesma coisa... a fruta da mesa do Menino Jesus ia misteriosamente desaparecendo no decorrer dos dias entre o Natal e o primeiro do ano... O misticismo da lamparina de azeite mantida acesa dia e noite dava um ar de mistério, transfigurando todas as coisas à volta... colocando sombras tranquilas nas paredes do quarto. Não era de
bom-tom deixar a luz divina apagar-se, ditava a crença... e repetia a minha mãe... pois com ela extinguir-se-ia também a fé das pessoas que moravam na casa. Ainda que parecesse débil, a magia daquele fulgor sagrado enchia toda a habitação, anulando o escuro da noite... afastando os medos e os fantasmas que povoavam o imaginário das crianças... De repente tudo ganhava um simbolismo diferente, que ia muito para além das imagens do presépio... era algo belo que nos ligava ao transcendente, ao desconhecido... Iluminava-nos os sonhos e guiava-nos por esses lugares remotos da Palestina... onde o Menino Jesus nascera... por esses árduos caminhos cheios de tropeços e dificuldades trilhados por Nossa Senhora e São José, mas ainda assim belos e atractivos para nós, que os vislumbrávamos apenas com a imaginação. Podíamos, então, ver claramente o burrinho chegando a Belém... já cansado, sob um céu resplandecente de estrelas... calcorreando penosamente a vereda estreita, esforçando-se por chegar até à 133
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porta do estábulo com Nossa Senhora e São José em cima. A visão dos animais, surpreendidos pela intromissão àquela hora tão tardia, levantando a cabeça e olhando ensonados... no entanto, pacíficos e acolhedores... protegendo o Menino.
laranjas maduras... Retribuir as visitas aos tios e ver o presépio das vizinhas, o sabor das comidas próprias da época, dos bolos e broas de mel, dos licores diversos que ocasionalmente nos deixavam provar... tudo tinha um sabor especial, de novidade, por serem feitos apenas na época natalícia. Apesar de não haver a fartura e a variedade de géneros que há hoje em dia... foi um tempo que deixou saudades... porque tínhamos a segurança, o carinho da família unida... e essa união e entreajuda tornava-nos fortes para a vida. Um tempo marcado pela aproximação entre as famílias... saudoso pela amizade dos que moravam perto e pelo valor, pela beleza que encontrávamos até nas coisas mais simples...
*** Além de simbolizar o nascimento do Menino Jesus, o Natal significava a passagem de mais um ano, o surgimento de um novo ciclo, e até mesmo quando os dias eram de chuva, as noites escuras desprovidas de estrelas ou luar, com vento a uivar lá fora, havia na época de Natal um brilho especial. As visitas dos tios e dos primos que, por vezes, se prolongavam até Janeiro... Os almoços de domingo em família, as histórias contadas pelos adultos, as brincadeiras e correrias a ver se já havia
Texto de Rosa Marques incluído no livro Luz de Natal, uma Antologia Lusófona publicada pela Sui Generis em Dezembro de 2018
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ARIEL FONSECA PULSZ Nasceu em Julho de 1995. Gaúcho e ambientalista graduado em Gestão Ambiental no ano de 2015. Visa frentes ambientalistas e filosóficas da educação. Em 2015 foi seleccionado no IV Abraço Literário com o texto «O Mundo do Senhor Menu», em 2016 participou na antologia «Coexistência» da editora Porto de Lenha e em 2017 lançou a primeira edição do livro «As Crônicas de Sathira”, que também foi publicado no continente Europeu em 2018, pela Chiado Editora. Página do Autor: Facebook: Ariel Pulsz
As Crônicas de Sathira
CARTAS PARA UM DEUS Querido Senhor, um dia pretendo encontrá-lo. Irei lhe convidar para sentar-se na lua, e de lá veremos o mar. Talvez o Senhor já tenha traçado uma linha finita, um destino para cada espécie e já saiba o final de todas as histórias, ou talvez não. Acredito sim no Senhor, e acredito em um destino traçado, porém cabe a nós escolhermos o nosso próprio caminho. Somos nós quem decidimos seguir ou não o nosso destino. Passei a entender que sou o rei da minha própria existência, não apenas por fazer parte dela, mas sim por fazê-la existir. Talvez a felicidade seja o verdadeiro destino, um verdadeiro sonho, pois do que valeria o destino se não fosse para nos guiar até nossos sonhos. Cada sonho que vivemos são realidades construídas em nossas vidas para nossas felicidades. Se o paraíso for feito de momentos, quero eu poder desfrutar de todos os meus sonhos para poder vivê-los eternamente. Cada ser humano é único e irá criar sua própria existência, e viverá eternamente essa criação. Deixei essa última parte para me apresentar: Eu me chamo enigmático. Talvez não esteja me reconhecendo pois possuo vários nomes, como música, livros, filosofia, arte, ciência, matemática, buda, maomé, messias, zeus, júpiter, jasão, vênus, lua, sol, ramsés, tutancâmon e entre outros o mais conhecido: Deus. Não existe nenhuma outra pessoa que possa viver a sua vida por você a não ser você mesmo, então independente de qual for o nome que tenha me dado, não se esqueça que existe uma única coisa para fazer na vida: vivê-la e não apenas existir.
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LUCINDA MARIA Lucinda Maria Cardoso de Brito nasceu em Oliveira do Hospital, em 1952. Fez um percurso académico muito bom e tirou o curso do Magistério Primário, começando a leccionar em 1972. Encontra-se aposentada, mas continua a ensinar, agora artes decorativas, na Universidade Sénior de Rotary de Oliveira do Hospital. Tem seis livros publicados – «Palavras Sentidas» (2013), «Alma» (2014), «Divagando...» (2015), «Terra do Meu Coração» (2016), «Sonho?... Logo, Existo!» (Sui Generis, 2017) e «Um Ano... 365 Poemas» (2018) – e participações em variadíssimas obras colectivas. Da Colecção Sui Generis: «A Bíblia dos Pecadores», «Vendaval de Emoções», «Graças a Deus!», «Torrente de Paixões», «Fúria de Viver», «A Primavera dos Sorrisos», «Tempo de Magia», «Sinfonia de Amor» e «Luz de Natal». Como autora, gosta de identificar-se apenas por Lucinda Maria; não escreve segundo o Acordo Ortográfico de 1990. Perfil no Facebook: facebook.com/lucindamaria.brito
SERÁ MESMO NATAL? Natal! Natal! Natal! – Há mais de um mês que se usa e abusa desta palavra. Para mim, surgem cada vez mais dúvidas, cada vez mais interrogações. Eu não sinto o Natal. Pelo menos, como o concebo e penso e acredito que deva ser. A Igreja Católica comemora a 25 de Dezembro o nascimento de Jesus. No entanto, apenas se convencionou que assim seria. Não há certezas nenhumas quanto à data, nem quanto às circunstâncias em que essa figura histórica veio ao mundo. Ao longo dos tempos, se têm adaptado tradições, costumes e, também ao longo dos tempos, se têm alterado ou mesmo deteriorado. Foram-se acrescentando personagens, retirando outras e feito inúmeras confusões. Creia-se ou não em Jesus, a Sua mensagem é clara e traduz-se numa simples palavra: AMOR. Daí nascem todas as outras que costumam associar-se à época natalícia: SOLIDARIEDADE, GRATIDÃO, CARINHO, PERDÃO, INDISCRIMINAÇÃO, BONDADE, ENTREAJUDA, VERDADE... Todas lindas e plenas de significado, sem dúvida. O mal está na falsidade com que são pronunciadas. O mal está em que, mesmo quem as pronuncia, não as põe em prática. Pelo contrário.
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– Feliz Natal! – ouve-se agora, a torto e a direito. E dizse como uma frase feita, sem qualquer sentimento. Diz-se como quem diz: “está frio” ou “é bonito”... diz-se simplesmente porque sim, é costume.
Sempre detestei frases banais, detesto dizer e ouvir este desejo, quantas vezes não desejado, quantas vezes oco e sem sentir! Pergunto-me e pergunto: o que será um feliz Natal? Vamos sentir-nos felizes só porque dizem que é Natal? É Natal apenas quando estamos felizes? Parece-me pouco... só pensar nestes valores uma vez por ano! Pior, parece-me pouco, sobretudo porque a maioria das vezes até soa a falso. Quantas pessoas vivem mergulhadas numa redoma de rancor! Quantas pessoas deixam o ressentimento falar mais alto do que o perdão! Quantas pessoas são incapazes de uma palavra de carinho, mesmo sendo tão fácil! Quantas pessoas se deixam dominar por sentimentos de desprezo e indiferença! Não se darão conta de como magoam os outros? É por isso que estou cada vez mais desiludida e repito: não sinto o Natal! Pelo contrário, parafraseio Ary dos Santos: «O Natal é quando um homem quiser!» Então, que seja verdadeiro e todos os dias!
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CONTO
OS MISTÉRIOS DO JARDIM ALICE MAULAZ Wanderlust de coração. Apaixonada por idiomas e por séries, especialmente «Game of Thrones». Faz da arte de escrever o seu mais íntimo divã. Co-autora de três antologias: «Habitados Pela Poesia», «Inspiração em Verso IV» e «Cicatrizes da Alma». Redes Sociais: Instagram e Facebook: @alicemaulazautora
“O meu jardim não era um jardim qualquer... Era uma corrente de sentimentos bons. O cheiro das flores, de grama molhada, o banquinho de madeira, um abraço gelado em uma noite ainda mais fria, tudo ou nada além de uma paisagem bonita. Não tinha profundidade. Não tinha história. O mais gostoso de estar ali era aguçar os sentidos sem ter certeza do que esperar e acabei me perdendo entre minhas próprias fantasias libertárias. Se tem uma coisa que tinha absoluta convicção é que os girassóis que ali estavam nunca foram meus preferidos. Para mim, eu não precisava daquela corrente, eu era maior que tudo aquilo, eu poderia muito bem viver sem o jardim porque a maior rosa e a mais bela estaria sempre comigo.” POR ALICE MAULAZ
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Wonderland, 21 de Outubro de 2016
final das contas, não era meu interesse colorir a tela com tinta lavável porque precisava esperar oje eu fiz o mesmo caminho de ônibus pela tinta-óleo. Precisava de algo marcante que que sempre fiz. Passei a observar de mapudesse marcar a tela e mantê-la colorida permaneira pertinente pela janela os lugares nentemente e o cuidado para não confundir a tincom um vazio e indifeta que eu queria com as rença porque sempre tintas que estavam nas soube que tinha feito a prateleiras da vida naescolha errada. Olho paquele momento era É um tanto curioso como muitas ra o banco e imagino as constante. vidas passam a se alimentar interfeições que poderiam Mas o meu jardim estar me observando nanão era um jardim qualnamente somente para sobreviver quele momento e o que quer... Era uma corrente todos os dias ao invés de viverem me diriam diante desta de sentimentos bons. O seus dias como se fossem os tempestade de cinzas. cheiro das flores, de graCinzas de raiva. Cinzas ma molhada, o banquiúltimos. Não estou falando para de amor. Cinzas de ronho de madeira, um não valorizar a rotina ou para não sas. Cinzas de emoção abraço gelado em uma medir a consequência de seus ou talvez sem emoção noite ainda mais fria, alguma. Afinal, minha tudo ou nada além de atos, isso seria leviano até para frieza sempre assustou uma paisagem bonita. quem estava com um jardim inas pessoas e acabo masNão tinha profundidade. cendiado. Vi morrer ou se afastar carando um coração puNão tinha história. O ro e livre. Uma rosa mais gostoso de estar ali lírio por lírio. Lírios do colégio, branca, bela e cheia de era aguçar os sentidos lírios da faculdade. Lírios da espinhos, livre para fazer sem ter certeza do que infância. Até os girassóis a que o que é certo e o que esperar e acabei me pernão é. dendo entre minhas prónão dava valor morreram na minha Passando pelas imaprias fantasias libertárifrente e eu prometi para muitos que gens humildes de um as. Se tem uma coisa estaria bem independentemente do bairro vizinho que ficarique tinha absoluta conam melhores em preto e vicção é que os girassóis que acontecesse dali para frente, branco, respiro. Sei que que ali estavam nunca eu tinha certeza que a maior e mais não valorizei as flores foram meus preferidos. bela rosa ainda estaria viva comigo mais bonitas que um dia Para mim, eu não precijá tentaram colorir meu sava daquela corrente, e não dividiria a rosa branca com jardim até então. Tantos eu era maior que tudo mais ninguém. Foi neste momento enredos iguais. Tantos aquilo, eu poderia muito que me dei conta que a rosa branca «Oi, tudo bem?». Tantas bem viver sem o jardim marcas feitas de tintaporque a maior rosa e a que se afaga por si só entre abraguache. Eu podia apagar mais bela estaria sempre ços gelados e pontapés estava quando quisesse e recocomigo de qualquer forisolada em um mar de cinzas. meçar a pintar a mesma ma. tela mais de uma vez. No
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Os dias viraram noites. A brisa não tinha força para esparramar nada além das lágrimas de uma jovem que não está dando conta de tudo sozinha. A seca desidratou a grama. A madeira do banquinho estava russa. Rostos confusos na madrugada de uma noite um tanto agoniante sopraram bolas de fogo que foi dilacerando tudo que estava naquele ambiente que lutava para sobreviver ao invés de simplesmente viver. Aliás, é um tanto curioso como muitas vidas passam a se alimentar internamente somente para sobreviver todos os dias ao invés de viverem seus dias como se fossem os últimos. Não estou falando para não valorizar a rotina ou para não medir a consequência de seus atos, isso seria leviano até para quem estava com um jardim incendiado. Vi morrer ou se afastar lírio por lírio. Lírios do colégio, lírios da faculdade. Lírios da infância. Até os girassóis a que não dava valor morreram na minha frente e eu prometi para muitos que estaria bem independentemente do que acontecesse
Os dias viraram noites. A brisa não tinha força para esparramar nada além das lágrimas de uma jovem que não está dando conta de tudo sozinha. A seca desidratou a grama. A madeira do ban-
quinho estava russa. Rostos confusos na madrugada de uma noite um tanto agoniante sopraram bolas de fogo que foi dilacerando tudo que estava naquele ambiente que lutava para sobreviver ao invés de simplesmente viver. 145
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eu decidi mudar. Eu decidi limpar a casa, colher a flor eu mesma e guardá-la a sete chaves em um baú dourado ao som de Charlie Brown. Os rostos que cuspiram o fogo deixaram o jardim em paz porque eles seguiram o rumo certo. O rumo destes rostos é solidão demais para o jardim. O jardim queria tanto se reestabelecer que não tinha mais espaço nem para girassóis, muito menos para rostos perdidos, confusos e sem face... Somente para um sorriso e era este sorriso que salvaria o jardim.
dali para frente, eu tinha certeza que a maior e mais bela rosa ainda estaria viva comigo e não dividiria a rosa branca com mais ninguém. Foi neste momento que me dei conta que a rosa branca que se afaga por si só entre abraços gelados e pontapés estava isolada em um mar de cinzas. O cheiro insuportável me sufocava e não tinha forças para pensar em como consertar. Não tinha apoio nem da lua e nem das estrelas que permaneciam ali iluminando de noite. Elas estavam cumprindo seu papel em iluminar de maneira distante, como eu pedi que acontecesse. O incêndio era no fundo necessário e a sabedoria do universo já estava ciente disso. Só faltava eu saber. Em minha defesa, não fui responsável pelo incêndio, muito menos não me autodestruí. Porém não fiz nada para evitar que ele acontecesse e isso sim é culpa minha. Eu tornei tudo favorável. Eu não reguei as flores. Eu não aparei a grama. Eu não repintei o banquinho. Eu não criei profundidade quando tive oportunidade e não era possível ninguém colher a rosa branca entre as ruínas tridimensionais de um lugar tranquilo. Nossa... Mas como essa rosa tem espinhos! Era difícil aceitar que estava tudo bem porque simplesmente não estava. É claro que eu estava eufemizando os fatos para me proteger. Eu jamais admitiria que a rosa ainda não era de ninguém que já tinha passado pela minha vida antes. Então, depois de dias remoendo o que houve,
Eu decidi limpar a casa, colher a flor eu mesma e guardá-la a sete chaves em um baú dourado ao som de Charlie Brown. Os rostos que
cuspiram o fogo deixaram o jardim em paz porque eles seguiram o rumo certo. O rumo destes rostos é solidão demais para o jardim. O jardim queria tanto se reestabelecer que não tinha mais espaço nem para girassóis, muito menos para rostos perdidos, confusos e sem face... Somente para um sorriso e era este sorriso que salvaria o jardim.
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SG MAG #06
É nesta parte bonita que o sorriso entra na história. Não tem fogo. Não quer o baú nem a rosa... Apenas se sentar no banco ainda russo das tempestades e do incêndio que aconteceu. Ele não se senta e espera o jardim se arrumar. Ele simplesmente arruma o jardim sem pedir licença. A lua avisou para o jardim que era hora de confiar e assim ele obedeceu. O jardim se inundou de confiança, de carinho e se deixou florir. As cinzas voaram naturalmente e a brisa retorna com uma sensação diferente porque desta vez a brisa é valorizada e esperada como nunca havia sido esperada antes. Desta vez eu quero que a brisa fique porque o sorriso faz o jardim querer ser sempre cada dia mais bonito. Em dias, não havia nem rastros de tudo que aquele jardim enfrentou para manter a vida ali, e em semanas o baú foi aberto da maneira
mais gentil que poderia ser feita. A rosa agora era do sorriso. O jardim era do sorriso e o sorriso passou a morar no jardim todos os dias, para a alegria da lua, das estrelas e minha. Fui correndo comprar tudo que precisava: pincéis; uma tela nova e tinta-óleo de todas as cores. A tinta-óleo azul foi primeiro porque é a cor favorita do jardim e do sorriso. Pintei. Pintei o jardim florido e incluí os lírios que decidiram reflorescer. Pintei a lua com o mesmo carinho que ela me ilumina. Pintei as estrelas sem esquecer de nenhuma. Me pintei. Pintei o sorriso. E admirei o quão bonito é esperar pela pintura certa para mim. Obrigada, Rosa. 147
SG MAG #04 | OUT 2017
LENILSON SILVA É professor de Língua Portuguesa na escola Getúlio Guedes, município de Pedras de Fogo, PB, Brasil. Graduado em Letras, especialista em Linguagem e Ensino e Mestrando em Ciências da Educação. As suas actividades de pesquisa envolvem a análise de letramento e género textual, produções de textos em língua materna. Académico número 15 da Federação Brasileira dos Acadêmicos das Ciências, Letras e Artes. Co-autor da antologia «Sinfonia de Amor» da Colecção Sui Generis.
QUANTO VALE SER GRATO?
Perfil no Facebook: www.facebook.com/LenylsonSylva
Tem dias que sinto vergonha alheia, seja quando subimos em um ônibus, seja quando chegamos num ambiente de trabalho, enfim, seja em qualquer lugar que vamos e dizemos «Obrigado» ou «Bom dia», muitos não respondem, outros fingem não ouvir e aquele que pratica essas palavras mágicas também vai deixando de praticar, porque pensa que está errado, conheço pessoas assim, sou uma delas, mas nunca deixarei de praticar mesmo que muitos não respondam... Mas lembrese que você não está errado, você é o que pode mudar muitos ambientes.
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SG MAG #06
POESIA
JORGE PINCORUJA JORGE PINCORUJA Residente em Londres, escreve sempre em Português. Embora a sua escrita seja maioritariamente em verso ou prosa poética, de vez em quando escreve contos. Nascido na Beira Alta, tem por meta escrever de forma original e muito sua. Umas vezes melódica, outras vezes ríspida, mas sempre com verdade. Já com algumas obras editadas, pretende deixar um cunho próprio na escrita que se faz actualmente. Participou nas antologias «A Bíblia dos Pecadores», «Vendaval de Emoções», «Devassos no Paraíso» e «Sinfonia de Amor» da Colecção Sui Generis. Perfil no Facebook: www.facebook.com/jorge.pincoruja
PEDINTES Passamos a vida a pedir... Neste egoísmo centrado Pedintes desenvergonhados que não sabemos sentir... Que o próximo... ali ao lado Nada tem para repartir. Então eu sugeria [não me levem a mal] Nesta quadra de alegria [a que chamamos Natal] Que pedíssemos para quem não tem... Haverá virtude maior? De pedir a Deus que o nosso bem Possa ser compartilhado? Pelo próximo abandonado Que não tem amor de ninguém?! Porque só pedimos para nós? Porque somos sempre tão egoístas? Deus, neste Natal quero de vós Atitudes mais realistas... Chega de pedir aos céus neste egoísmo centrado. Olhai vosso irmão 365 dias necessitado Do qual fazemos grossas vistas E pretendemos neste grosso modo fingir Que está bem... quem nem sequer tem Mais forças para pedir Uma migalha que seja da gente, nós descarados egoístas.
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SG MAG #06
POESIA
JOYCE LIMA JOYCE LIMA Baiana, Doutora em Educação, Professora, é autora de livros académicos e de poesias e organizadora de antologias poéticas. Actua em projectos de consultoria de textos, na Editora Becalete. Participou numa antologia Sui Generis: «Luz de Natal». Perfil no Facebook: facebook.com/joyce.lima.1069020
ETERNAMENTE NATAL Não é apenas uma data Do último mês de um ano a contar. Nas diversas culturas Com crenças e celebrações ao Natal Desde o início a data serviu Para renovar, iluminar e festejar. Zagmuk, Yule, Mitra e Saturnália Histórias de muitos sóis Mas a história mais importante E que todos os cristãos comemoram É festejar o nascimento de JESUS Que veio ao mundo e fez história... Qualquer que seja a crença Dezembro é um mês de luz Tem família reunida, comilança Festa e confraternização Onde os cristãos comemoram O nascimento de Jesus. Luz, estrela, reis magos, crença, fé em Jesus Histórias que não se devem renegar Mas confesso que tem faltado entre os povos 150
SG MAG #06
O mandamento primordial O grande ensinamento do Mestre É AMAR, AMAR e AMAR. Dezembro é mês de luz Canção natalina que soa Luz que brilha, reluz e seduz. A espalhar a luz do amor Da união e da esperança De idosos, jovens, adultos e crianças. É Natal, tempo de luz É tempo de amar o próximo Respeitar o seu irmão E viver em comunhão. Não deixe que essa luz Se apague no meio da multidão. A luz do espírito natalino não pode se apagar Iluminar corações e o bem semear É o que se pode fazer para o Mestre agradar Alimentar o espírito e jamais se esquecer Que a magia do Natal Todos os dias deve permanecer. 151
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POESIA
ROSA DOMINGOS ROSA DOMINGOS Rosa Alexandrina Almeida Domingos nasceu na freguesia de Figueiros, concelho do Cadaval, distrito de Lisboa. Reside em Caldas da Rainha e trabalha como assistente operacional na central telefónica de uma instituição de saúde. Gosta muito de ler e escrever poemas simples, que falem das coisas do dia-a-dia. Publicou um conto na antologia «Luz de Natal». Perfil no Facebook: facebook.com/rosa.domingos.9028
NATAL Manto azul, tanta luz. Tantas dores! Louvores, meu Jesus. Frio, do Oriente. Ciente, ergo as mãos, faço o sinal da cruz E agradeço. Também peço! Da desunião da humanidade, o perdão. Ajudai, quem pertubai. A quem judia, alumia! Fazei do Natal O amor nos corações; Do mal, valentes Nações. E eu, Jesus, uma crente serva do Senhor, Dai-me clareza para fazer maior A minha humilde caminhada. Que não seja só nesta quadra, Mas em todo o momento, E que o tempo não me ausente Daquilo que me pertence; Fazer de mim uma pessoa melhor.
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SG MAG #06
POESIA
AMÉLIA M. HENRIQUES E O MILAGRE ACONTECEU AMÉLIA M. HENRIQUES Nasceu em 1963, em Espinho, onde reside. Os seus gostos e hobbies são, na maioria, de inclinação artística. É artista plástica; participa em várias exposições individuais e colectivas, em Portugal e no estrangeiro, destacando-se a última exposição colectiva, em Outubro de 2015, no Carrossel do Louvre, em Paris. É também artesã e faz parte do projecto-loja comunitária Artyspinho, destacando-se como ceramista e em joalharia com peças únicas; em 2013, foi seleccionada por oito designers de Nova Iorque. Editou um livro de poesia: «Manta de Retalhos» (Artelogy, 2015). Da Colecção Sui Generis, participou nas antologias «O Beijo do Vampiro», «Vendaval de Emoções», «Graças a Deus!», «Torrente de Paixões», «Fúria de Viver», «A Primavera dos Sorrisos», «Tempo de Magia», «Devassos no Paraíso», «Sinfonia de Amor» e «Luz de Natal». Formada também em línguas, fala quatro idiomas. Gosta de viajar, pratica natação e não vive sem a música; é fã de jazz. Perfil no Facebook: facebook.com/amelia.henriques178
Afinal, estavas aí... Ouvindo os meus lamentos. Toquei-Te na ferida... Num passo de magia... Deste-me o presente no sapatinho! Um terramoto em simultâneo, Fez com que o meu sonho se realizasse! Finalmente, o meu espaço artístico surgiu! De repelão, vi-me atirada no projecto... abismal! Sem medos e muito auxílio conjunto...! Nem percebi bem, mas a minha vida girou 360 graus! Parece que levei uma marretada na cabeça...! Acordaste-me, meu Deus...! A adrenalina cobriu-me os poros da pele... Toda eu peguei fogo e sede com ganas De agarrar a oportunidade que me puseste diante dos olhos... Afinal... não me abandonaste... sou ovelha do Teu rebanho... Neste Natal, a magia vai ser fluorescente... Os sinos vão tocar a rebate, dlim... dlão... dlim! Vou ajoelhar-me, aos Teus pés, com devoção... Sofri demais, na montanha-russa da vida... Desesperei, bati-Te no peito, esconjurei-Te! Desacreditada, com muita raiva e incrédula Contigo! Eu... que sempre fui pura e mal não fiz nunca intencional... Finalmente, olhaste... para esta Tua filha... Obrigada, Deus, desculpa-me, beijo.
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SG MAG #06
POESIA
ELISA PEREIRA ELISA PEREIRA Foi colunista na «Inspiring Life», participou no 1º Concurso de Speed Writing e foi classificada em 3º lugar no concurso «Cartas de Amor». Participou em obras colectivas da Pastelaria Studios, Papel D’Arroz, Edições Hórus, Orquídea Edições, Rádio Voz de Alenquer, Letras da Lagoa de Óbidos, Chiado Editora, MP Edições e no Encontro de Poetas 2015/2016 (Torres Vedras). Tem um livro infantil publicado: «Tomás Vai ao Canil» (Chiado Editora). Páginas da Autora: facebook.com/umpoemademimparati facebook.com/OSonhoDoTomas
É NOS DIAS MAIS CINZENTOS É nos dias mais cinzentos... Que dou por mim a mais uma batalha travar, Tantos pensamentos maus que tento afastar, Fora os lamentos que eu não quero soltar, Para depois ficar nostálgica a recordar, Momentos bons que não vão mais voltar. É nos dias mais cinzentos... Que eu preciso ser ainda mais forte Mas falta-me aquele abraço que me conforte. Queria tanto na vida encontrar o meu norte E conseguir dar valor à minha imensa sorte. Para assim tentar fintar a invencível morte. É nos dias mais cinzentos... Que eu penso mais em desistir Pois é tanto difícil continuar a persistir Cansada de insistir, omitir e consentir. Onde a verdadeira essência deste meu existir Quer só descansar em paz e daqui partir.
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É nos dias mais cinzentos... Que devo a simplicidade de tudo ver, Sempre com gratidão devo viver, Aprender, desprender e deixar acontecer... O Amanhã... esse não vou mais antever Pois o fim... esse ninguém consegue prever! É nos dias mais cinzentos... Que só me apetece parar e chorar... Por tudo o que não consegui perdoar Pelas memórias que não vão perdurar Pelo tanto que eu queria encontrar Pelo fim que este poema vai sussurrar.
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POESIA
ANDRÉA SANTOS ANDRÉA SANTOS Andréa Silva Santos é amante das artes: música, teatro, literatura, o que influenciou a sua trajectória profissional. É graduada em Letras Vernáculas (UESB), com especializações na área de Estudos Linguísticos e Literários, Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa e das Literaturas (UNEB). Fez mestrado em Estudos Literários (UEFS). É professora Substituta da UNEB, Campus IX, Barreiras, actuando na área de Literatura e Leitura e Produção Textual. Participou em oficinas de criação literária, nos livros «Prosa & Verso» (Edições MAC/Feira, 2017), «Gotas Poéticas» (Darda, 2018) e «Luz de Natal» (Sui Generis, 2018) e na revista eisFluências (2017). Faz parte da Confraria Poética Feminina.
NATAIS (IN)VISÍVEIS Lá longe, onde não reluzem as coloridas luzes natalinas Há casas sem risos: a fome não posta selfies. Nos cantos sombrios, a realidade disfarça a quietude de olhos e estômagos ansiosos.
Perfil no Facebook: https://www.facebook.com/andrea.san tos.16568
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SG MAG #06
POESIA
ROSA MARQUES ROSA MARQUES Nasceu na Madeira, onde viveu até aos dezoito anos. Após casar, mudou-se para Porto Santo, onde reside e trabalha como administrativa até à data. Preocupa-a a situação precária em que o mundo se encontra, a condição humana (principalmente as crianças) e todos os que vivem em condições desumanas, nos países subdesenvolvidos e nos países em guerra. Gosta de ler e de tudo o que está ligado à literatura e à arte. Participou em diversas obras colectivas, em Portugal e no Brasil, e publicou dois livros de poesia com o selo Sui Generis: «Mar em Mim» (reeditado em 2018) e «Prisioneiros do Progresso». Página da Autora: Facebook: Maria Correia
CONTO DE NATAL Era véspera de Natal E lá longe numa cidade distante As crianças daquele lugar ouviram falar Que o Pai Natal estava doente E por isso nesse Natal não haveria presente. Então, todas as crianças se juntaram E com fé e esperança Uma oração rezaram E todas em coro cantaram Pedindo a Jesus para o Pai Natal melhorar E pudesse as prendas entregar... O Pai Natal que estava lá na sua morada Doente, acamado... De repente, Ganhou forças e jovialidade... Encheu de brinquedos o seu trenó E com ele foi de cidade em cidade Levando a alegria e também a esperança Feliz por saber que iria levar um pouco de magia E felicidade a cada criança. Percorreu inúmeros caminhos Becos e sendas Entrou em tendas, casas pobres Em casas ricas e nobres... Em todas as casas entrou E a todas as crianças do mundo Uma prenda deixou! 157
SG MAG #06
POESIA
MARIZETH MARIA PEREIRA MARIZETH MARIA PEREIRA Baiana, 49 anos, residente na cidade de Osasco, Brasil. Autora dos livros «Segredos de uma Vida» e «Reflexos da Vida» e co-autora de várias antologias lusófonas da Colecção Sui Generis: «Vendaval de Emoções», «Graças a Deus!», «Ninguém Leva a Mal», «Torrente de Paixões», «Sexta-Feira 13», «Fúria de Viver», «A Primavera dos Sorrisos», «Tempo de Magia», «Os Vigaristas» e «Sinfonia de Amor». É co-autora de outras antologias contemporâneas brasileiras. Foi bibliografada no livro «Quem é Quem» (2017) da cidade de Osasco, por sua ocupação cultural, onde leva ao palco actuações contra o feminicídio e violência. Com o tema “Mulheres” sempre exaltado, foi eleita Conselheira em 2017 na Coordenadoria dos Direitos da Mulher. Ama ser actriz, poetisa, militante, mãe e mulher grata à luz divina que a conduz. Perfil no Facebook: www.facebook.com/marizeth.mariape reiraii
O SOM DA FLAUTA O som da flauta... Era doce como os lábios da cabocla que a tocava... Ele nela pensava... Enquanto iludia-se ouvindo... Às vezes chorando... Às vezes sorrindo... A verdade é que a flauta estava muda... calada... Em um canto da casa jogada... Pobre caboclo, ainda sonhava... Com a volta de sua amada... Que fugiu com outro, em um pau-de-arara... Sem flauta e sem nada... Seus olhos pousavam noites e noites na estrada... Oh, tristes noites caladas! Mas o Natal chegou... Uma estrela maior no CÉU brilhou... O silêncio da noite se quebrou... A flauta abandonada tocou... O caboclo não acreditou... – A cabocla voltou!
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SG MAG #06
Ela descobriu o amor... Quando longe ficou... Atracou-se no porto seguro dos braços do seu amor, que a recebeu sem rancor... A perdoou... a amou... O gozo do amor à meia-noite explodiu com o sino que distante tocou... O caboclo era um homem de fé... Ficou de pé, e agradeceu... Pela felicidade que voltou... A cabocla deitada... nua... cansada... saciada, sussurrou: – Estar presa a ti, homem, é ter toda liberdade que preciso... descobri que... é aqui o meu paraíso!
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POESIA
BALTHASAR SETE-SÓIS BALTHASAR SETE-SÓIS Pseudónimo de Raul Tomé. Nascido em Sintra em 1980, licenciado em Sociologia (ISCTE), Mestre em Ciências do Trabalho e Relações Laborais (ISCTE) e Pós-Graduado em Políticas de Igualdade e Inclusão (UAB). Ex-cronista do Jornal Negócios, colabora actualmente nas revistas Bird Magazine (com crónicas quinzenais) e Mundo Magazine (com crónicas mensais). No momento mantém ainda uma colaboração com a Chiado Editora, através da qual elabora resenhas literárias. É criador da página Ipsis Verbis, cujo objectivo é a divulgação de citações de relevo, quer de autores nacionais quer internacionais, independentemente da sua dimensão no mundo literário. Participou no 38° Campeonato de Escrita Criativa, desenvolvido por Pedro Chagas Freitas, alcançando um honroso 4° lugar, e em diversas colectâneas de contos e poesia. É co-autor da antologia «Sinfonia de Amor», da Colecção Sui Generis. Perfil no Facebook: https://www.facebook.com/baltasarset esois2017
RESTA-NOS Resta-nos acreditar que a bondade da nossa humanidade ainda não acabou Que continuamos a ser mais do que marionetas que um qualquer deus criou E que para além do ódio perverso que a quase todos corrói Há em nós um amor quente e terno que nunca se destrói Na esperança dos dias que correm frenéticos e sem voz Transborda a eterna nascente que no caminho faz a foz E o rancor não pode ganhar espaço nem criar raiz Porque cordas atadas aos pés não fazem ninguém feliz Cinjamo-nos à liberdade que nos coube à nascença Que de ninguém somos património ou pertença E o livre-arbítrio não é apenas conceito universal que a todos fica bem Mas a possibilidade de dar o sumo do coração e sem olhar a quem Façamos, assim, dos olhos inundados de reconhecida gratidão O passaporte para embarcar num mundo melhor e pleno de união Porque, quando a fé nos abandonar, pouco mais nos resta Do que persistir de pé como árvore morta na floresta
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POESIA
LUCINDA MARIA LUCINDA MARIA Lucinda Maria Cardoso de Brito nasceu em Oliveira do Hospital, em 1952. Fez um percurso académico muito bom e tirou o curso do Magistério Primário, começando a leccionar em 1972. Encontra-se aposentada, mas continua a ensinar, agora artes decorativas, na Universidade Sénior de Rotary de Oliveira do Hospital. Tem seis livros publicados – «Palavras Sentidas» (2013), «Alma» (2014), «Divagando...» (2015), «Terra do Meu Coração» (2016), «Sonho?... Logo, Existo!» (Sui Generis, 2017) e «Um Ano... 365 Poemas» (2018) – e participações em variadíssimas obras colectivas. Da Colecção Sui Generis, participou em «A Bíblia dos Pecadores», «Vendaval de Emoções», «Graças a Deus!», «Torrente de Paixões», «Fúria de Viver», «A Primavera dos Sorrisos», «Tempo de Magia», «Sinfonia de Amor» e «Luz de Natal». Como autora, gosta de identificar-se apenas por Lucinda Maria e não escreve segundo o Acordo Ortográfico de 1990. Perfil no Facebook: facebook.com/lucindamaria.brito
NESTE NATAL... Desta vez, faça-se tudo diferente: Não peçam presentes nem riqueza... Que haja comida sobre cada mesa, Sobretudo, dê-se amor a toda a gente... Não se mandem cartas ao Pai Natal... Ele é um produto novo e importado, O Menino Jesus está em todo o lado... Viva-se a simplicidade e o tradicional! Que o carinho reine e a solidariedade, Não só agora, mas sempre de verdade, Todos os dias do ano se transmita amor... Nos corações cheios de doce ternura, Viva-se a vida... semeie-se a ventura, Por entre todos os que não têm calor!
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POESIA
ANITA SANTANA ANITA SANTANA A poesia é uma forma de sentir as coisas ao seu redor, e é transbordar emoções que já não cabem mais em si. Por isso escreve. Nasceu e reside em Euclides da Cunha, no Estado da Bahia, Brasil. Fez o mestrado em Estudos Literários pela Universidade Estadual de Feira de Santana – UEFS (2017), graduada em Licenciatura em Letras Vernáculas pela Universidade do Estado da Bahia – UNEB (2008). Professora concursada, actuando em turmas do Ensino Médio no Colégio Estadual Educandário Oliveira Brito e como supervisora do Programa de Iniciação à Docência (PIBID). Coordenadora do Ensino Fundamental II na disciplina de Língua Portuguesa das escolas municipais de Euclides da Cunha. Co-autora da antologia «Luz de Natal», da Colecção Sui Generis. Perfil no Facebook: www.facebook.com/anita.santana.773
NATAL DE NOSSOS DIAS Pressinto a chegada De luzes multicores Dos momentos mágicos Ante tempos nostálgicos E sombrios rumores Os sentimentos se antecipam E há uma fragrância no ar Uma esperança a se anunciar Mas os pensamentos calam Entorpecidos pelo desânimo A data se anuncia Nas lojas as vitrines colorem Mercadorias expostas na TV E o sentido real nem se vê Desejos de crianças destroem Sonhos viram rebeldia As lojas apresentam Bolas natalinas de todas as cores E cartões pelo tempo amarelados Agora pertencem ao passado
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SG MAG #06
Trocados por breves dizeres Escritos nas redes sociais Mas é o Natal do presente Que luzes não parem de brilhar Que não se perca o sentido De se amar verdadeiramente E de viver inteiramente A magia de se encantar Com a chegada do Menino Jesus Em nossos corações! É Natal! É Natal! É Natal!
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SG MAG #06
POESIA
RAFA GOUDARD É O NATAL Quando se percebe O ano está acabando, O final chegando. Reúnem-se parentes e amigos, Para comemorar O nascimento de Jesus. A cidade ganha cores, luzes, enfeites, Árvores e o papai Noel. Época mais esperada por todos: – É o natal!
Administrador, músico, pianista, escritor, poeta, cronista e compositor. O seu hobby é ler livros; também adora tocar piano nas horas vagas, escrever poesias de madrugada, andar a cavalo quando sobra um tempo e escutar e estudar vários estilos de músicas. Tem poesias publicadas, desde 2015, em várias editoras. Em 2016, participou em três concursos e obteve um prémio literário. Em Portugal, participou em cinco antologias organizadas por Isidro Sousa: «Boas Festas», «Vendaval de Emoções», «Saloios & Caipiras», «Torrente de Paixões» e «Fúria de Viver». Página no Facebook: www.facebook.com/rafa.goudard
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POESIA
ISABEL MARTINS ISABEL MARTINS Leitora atenta que acompanha diversos e variados eventos literários. Escreve pontualmente poemas e divulga-os na sua página do Facebook. Participou em cinco antologias organizadas pela Sui Generis: «Graças a Deus!», «Torrente de Paixões», «Fúria de Viver», «A Primavera dos Sorrisos» e «Sinfonia de Amor». Reside em Palmela. Perfil no Facebook: facebook.com/isabel.martins.395669
GRAÇAS A DEUS QUE NÃO HÁ CRIANÇAS SEM PÃO Graças a Deus que não há crianças sem pão E que sempre alguém lhes estendeu a mão, Que o mundo em que vivemos é uma bênção, Que nenhum ser sofre atrocidades de guerra, Que é pertença de todos, por igual, esta Terra E não há corpos mutilados deixados pelo chão, Que as lágrimas derramadas não são em vão, Que o Sol deixa em todos um brilho no olhar, Que no Natal todos têm mesa onde se sentar, Que os brinquedos são estrelas caídas do céu, Que tudo aquilo que é meu será também teu! Que a partilha e o afecto reinam nos corações, Que todos somos livres voando, sem prisões, Onde o amor se dá e se multiplica sem grilhões, Que a Paz que tantos apregoam é verdadeira, Vivida e comungada pela Humanidade inteira! Graças a Deus que há poetas e há escritores, Inspiradores de todas as raças, todas as cores, Que há cantores e que cantam hinos de alegria Que fazem que a noite não nos pareça tão fria! Porque o Natal deveria ser cada dia e em amor, E que apenas quem o não cumprisse sentiria dor!
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POESIA
MARISA LUCIANA ALVES Nasceu em Vinhais, em 1976. Professora desde 1999, vê a escrita como uma libertação. O amor é o tema mais utilizado nos seus contos e poemas, com os quais participou em dezanove obras colectivas. Tem cinco livros publicados: «Contando Memórias...» (2011), «De Suplicar Por Mais...» (2013), «O Sono da Primavera» (2014), «A Tua Receita, Meu Amor!» (2015) e «O Que Zeus Mostrou aos Homens» (2018). Foi a vencedora do 3º Concurso Literário da Papel D’Arroz Editora (2014). Participou na antologia «Sinfonia de Amor» da Colecção Sui Generis. Perfil no Facebook: www.facebook.com/escritoramarisalu cianaalves
MARISA LUCIANA ALVES NATAL É... Natal é amor, junto da família; é o reencontrar de quem há muito não se via. Natal é estar presente sem presente, estar ali só por estar ao pé da lareira quente. Natal é convívio, é gargalhada que sai... é também Mãe e Pai. Natal é tios, irmãos e netos, é o abraço sentido e todos os afetos. Natal é o aconchego do lar e os beijos que a avó dá sem parar. 166
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Natal é a alegria dos entes queridos, o sorriso dos pequenos, a felicidade dos crescidos. Natal é os que já partiram e os que ainda estão, é a mesa e a celebração. Natal é o presépio em construção, é adorar o Menino em perfeita comunhão. Natal é o renascer, é acreditar que só por ser Natal já vale a pena viver. Natal és tu, Natal sou eu e toda a família que Deus nos deu...
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SG MAG #06
POESIA
ANA CAROLINA MACHADO ANA CAROLINA MACHADO Nasceu em Belém do Pará, Brasil, no ano de 1997. Actualmente estuda biomedicina na UFPA. Sempre gostou de escrever e participou em algumas antologias como: «Meus Poeminhas Infantis» Vol. 2, «Estelar», «Cultive o Polen da Vida 2», «Cicatrizes da Alma» Vol. 2 e «Mãe». Os seus textos foram também publicados em revistas literárias: «Avessa» (edições 18 e 19) e «LiteraLivre» (edições 8 e 9). Em 2018 ficou em segundo lugar no Prêmio Vip de Literatura. Mora em Belém do Pará com a sua família e os seus bichinhos de estimação. Perfil no Facebook: https://www.facebook.com/ana.macha do.90410834
DURMA, DOCE CRIANÇA Durma, doce criança Durma para amanhã ter mais forças para lutar Durma para que seu frágil corpo possa descansar Durma para sonhar com os anjos a cantar Durma, doce criança Durma para ter tranquilidade Durma para sonhar com a igualdade Durma para fugir de tanta falsidade Durma, doce criança Durma para rever bons momentos do passado Durma para sonhar com um mundo onde o ser humano é amado Durma para ver um mundo mais honrado Durma, doce criança Durma para esquecer um pouco a violência Durma para sonhar com um mundo com decência Durma em sua doce inocência Durma, doce criança Durma para ver um mundo onde igualdade não é apenas um conceito Durma para fugir de tanto preconceito Durma e tenha sonhos com um mundo perfeito Durma, doce criança Durma lembrando que Deus sempre cuida dos seus Durma mantendo a esperança de que tudo está nas mãos de Deus 168
SG MAG #06
POESIA
TIAGO SOUSA TIAGO SOUSA O destino fez de Tiago Sousa, um estudante universitário de 19 anos, amante do excêntrico e do macabro. Deixou que a inspiração lhe escrevesse já diversos contos de terror e tragédia, inspirados pela escrita de autores como Poe e Lovecraft. Ultimamente, tem dado asas à sua poesia, produzindo inúmeros poemas numa base diária, em métrica regular ou verso livre. A sua arte sempre estará marcada por uma estranha sensação de alienação e uma certa melancolia derivada do profundo pensamento. Participou na antologia «Sinfonia de Amor» da Colecção Sui Generis. Perfil no Facebook: https://www.facebook.com/tiago.sous a.10comoseomundonaofosseloucoosu ficiente
PASSANDO O RIO, DE UM LADO AO OUTRO o ano está a passar e ficam as memórias que não foram feitas o globo avança e a terra estridente como névoa do inferno ardente continua permanece exceto as memórias do que está por vir que ficam presas na malha do destino em espera de um bem maior a morte a todos espera e o barqueiro é ganancioso 169
SG MAG #06
POESIA
NARDÉLIO F. LUZ NARDÉLIO F. LUZ Mineiro de Araxá radicado em Uberlândia, Brasil, autodidacta, é apaixonado por literatura desde a infância, mas só começou a escrever aos 31 anos, para combater o ócio após um acidente que o deixou tetraplégico. Participou em várias antologias de contos e poesias e em 2007 publicou a sua autobiografia, intitulada «Vida Após a Vida». E acaba de publicar o livro de contos «A Clausura de Kematian e Outros Contos Insólitos». Da Colecção Sui Generis, participou nas antologias «Fúria de Viver» e «A Primavera dos Sorrisos».
MELANCOLIA Hoje a vejo assim, destelhada, Por intrusos fantasmas habitada; Nem de longe lembra a morada Daqueles idos tempos felizes. Morreu até o velho cipreste, Que ela pintou da janela oeste, Sob os sussurros da brisa leste, Numa explosão de matizes.
Perfil no Facebook: www.facebook.com/nardelio.luz
Depois que a vida foi embora, Surripiando os risos de outrora, Já não fulgura qualquer aurora Nas águas mortas do pântano. O tom onipresente da podridão Aumenta o vazio no meu coração, Restando apenas uma breve noção Dos áureos tempos de encanto.
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SG MAG #06
POESIA
LURDES BERNARDO LURDES BERNARDO Maria de Lurdes Sequeira Pereira da Costa Bernardo é natural de Fornelos, Santa Marta de Penaguião, Vila Real. Não tem muitas habilitações literárias, mas as suficientes para não se lamentar da vida. Nem sempre consegue estar inspirada, mas se a inspiração surge é com imensa facilidade que faz um poema. Participou em dez antologias, com cem poemas numa colectânea, e alguns mais entre colectâneas e revistas. Adora cantar, poesia e fado. Assina os seus poemas como Lurdes Bernardo. É co-autora da antologia «Luz de Natal» (Sui Generis). Perfil no Facebook: www.facebook.com/lurdes.bernardo.3
VÉSPERA DE NATAL Os preparativos para a noite de consoada Para muitos uma quadra genial Para outros de significado banal Mas para a maioria é de graça e alegria Festeja-se o aniversário do mais extraordinário ser Que humildemente nasceu pobre e numa manjedoura Nasceu o Rei dos reis, se fez homem por nós Para nos salvar viveu e morreu crucificado Pelos nossos pecados, padeceu e foi sepultado Mas seu fim não era esse Não se nasce Rei sem ser majestosamente soberano Seu reinado será eterno e seu trono jamais terá fim Até Ele iremos chegar se em sua graça caminharmos É este o lindo poder do Natal e sua mensagem Não é o consumismo, os presentes, os enfeites É sim o verdadeiro sentido da vida Onde o Rei mais poderoso se faz homem Vive no meio dos homens e triunfante Ressuscita para a eternidade e sobe ao céu Para junto de seu pai A todos nós há-de julgar, tal como ele foi julgado E só dando o melhor de nós iremos para o seu lado.
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POESIA
SANDRA BOVETO SANDRA BOVETO Nascida em 1969, reside na cidade de Maringá, PR, Brasil. Possui graduações académicas em Letras e Direito. É autora do livro «O Mundo Exclamante», uma obra infanto-juvenil publicada em Agosto de 2016, tem participações (poemas e contos) em várias obras colectivas, no Brasil e em Portugal, e trabalhos publicados na plataforma Wattpad. Participou nas antologias «Graças a Deus!», «Torrente de Paixões», «Sexta-Feira 13», «Fúria de Viver», «Tempo de Magia» e «Os Vigaristas» da Colecção Sui Generis. Perfil no Facebook: www.facebook.com/sandra.bovetodas ilveira
SOU MULHER Sou fêmea de uma espécie singular. Não, não sou “do lar”. Sou multilugar. Sou do mar, do luar, talvez um Avatar. Às vezes pairo no ar. Invento horas, amo e odeio o tempo. Estico-me aos mil espaços que invento. Gosto de Ciência, maquiagem e Filosofia, Neurociência, dança do ventre e Astronomia, Literatura, adrenalina e carros, qualquer shot, livros e sapatos, tinto seco, beijo na boca e pimenta, Galileu, Vogue, mas Tititi não me entra. Sou vaidosa, feminina e corro de salto. As minhas unhas eu mesma esmalto. Amo ouvir e ler GENTE inteliGENTE. Homens sábios seduzem-me facilmente. Preconceitos e fofocas me dão aflição. Não gosto de falar palavrão, porque não. Não cresci pensando em casar e ter filhos. Estudei, batalhei e ainda encaro empecilhos. Sou independente, e carente só de conhecimento. Gosto de flores plantadas e de jantares à luz do vento. Sou a parceira e não a “mulher” de alguém. Sou mãe apaixonada e, do amor, dócil refém. 172
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POESIA
MADALENA CORDEIRO MADALENA CORDEIRO Nasceu em 1956 e reside em Vitória, ES, Brasil. Gosta de todo o tipo de literatura, e cultura em geral. Obras literárias de sua autoria: «O Sol e a Lua» (2013, poesias), «Amigo da Onça» (2014, contos) e «A Ovelha Perdida Foi Encontrada» (Edições Hórus, 2015). Participou na 1ª e 2ª Antologia Vários Autores Poesia Fã Clube (2013 e 2014), nas antologias «100 Trovas Sobre Futebol» e «100 Trovas Sobre Cachaça», de António Cabral Filho, e em «Fragmentos Duetos», do poeta João Murty. Da Colecção Sui Generis, é co-autora de «Graças a Deus!», «Torrente de Paixões», «Fúria de Viver», «Tempo de Magia» e «Os Vigaristas».
NATAL Natal, um dia especial, Dia de reflexão... Dia de pedir perdão; ou fazer reconciliação. Durante o ano, muito trabalho... Cansaço e enfado; Quando chega o Natal, sentimos aliviados. Natal vem presente, Uma expectativa anual... Por isso um Feliz Natal! Fica com Jesus, que é a Nossa Luz!
Perfil no Facebook: https://www.facebook.com/m adalena.cordeiro.102
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POESIA
DANIEL VICENTE DANIEL VICENTE Tem 57 anos, é guia turístico e escreve com uma necessidade louca de parir. Sem epidural, ferros ou ventosas. Segundo as suas palavras, «O que de mim nasce, arrasta consigo as entranhas do que sou». Participou nas antologias «A Bíblia dos Pecadores», «Vendaval de Emoções», «Fúria de Viver» e «Tempo de Magia», da Colecção Sui Generis. Perfil no Facebook: https://www.facebook.com/coracao.se mmuros
NATAL Família, carinho, calor. E eu fechado em mim... Saí. Saí do aconchego e enfrentei o frio, por mais que o sol brilhe. ... Trouxe comigo a esferográfica e a folha em branco. Procurando o eu que sente e solta. O engenheiro que das pedras/muros faz pontes. O eu que acredita. Acredita que a partilha é tudo e o outro é tão frágil como eu! ... Esta coisa que nos une e separa, seja telemóvel ou net, chamou-me. Disse: – Presente! E... Carregaram em mim pesos que não são meus. Por mais frágil que esteja, lutei e não fui arrastado na corrente. Meti-me à estrada. Entre becos e vielas encontrei outros. Num mundo até aí desconhecido. Pedi um copo de vinho e sentei-me. E vi sorrisos e dor. E indiferença... Vi no chão a dor de outro que não eu.
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E onde outros sofriam, outros cumpriam a missão de estar ali... E levantei-me! Usando o eu que viu e sentiu, o eu que construiu, levantei-me. E orientei GNRs e INEMs a fazer a ponte com quem pelo chão rastejava. E encontrei-me. Sei que serei abraçado quando voltar. ... Voltei a sentar-me. As palavras revolvem-se dentro de mim. E solto aqui nesta janela, como já soltei no mundo que me rodeia. Solto o Eu que sou. Não faço juízos sobre os outros. Faço pontes e escadas. Sim, o outro é tão frágil como eu. E... a maior dor será sempre a de não viver. Estou vivo! Vou!!!
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POESIA
SONIA R. ANDRADE CARVALHO Sonia Regina de Andrade e Carvalho nasceu em São Paulo, Brasil, onde sempre morou e estudou. Cursou até o terceiro ano de Psicologia. Sempre gostou da leitura de grandes estórias da vida e tem prazer em escrever. Participou em duas obras colectivas em 2017: «As Antologias Mel Poesias» e «Poesias Entrelaçadas». Amou sempre três vezes. Casou-se três vezes. Teve três filhos. Hoje é aposentada e viúva. Uma definição de Paixão: escrever versos, natureza e liberdade. Participou na antologia «Luz de Natal», da Sui Generis. Perfil no Facebook: facebook.com/soniaregina.andrade.54
SONIA R. ANDRADE CARVALHO VENHA 2019 Que venha mais um ano novo 2019 pode vir Cheinho de coisinhas boas Dessas que fazem a vida da gente muito bem fluir Venha 2019 Te esperamos com muita emoção E como sempre apesar de tudo Estamos cheios de esperança no coração Venha 2019 Com grandiosos momentos Mas aqueles pequenos TAMBÉM que fazem de nossas vidas Ser de muito contentamento Venha 2019 Uma coisinha boa aqui e outra acolá pode trazer consigo E eu aqui cheia de esperança, te espero com alegria e a certeza Que Deus estará com cada amigo, cada familiar e comigo 176
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E caso nos apresente algum desafio porque faz parte 2019 pode vir Como sempre a gente Superar vai conseguir Venha 2019 Te esperamos de braços abertos Com a proteção de anjos, do Criador Todos os dias serão abençoados e tão certos Pode vir 2019 Vem com a beleza da tua poesia Que nada mais é que harmonia, saúde e paz que queremos Que tragas a cada um de nós uma suave e benéfica energia Pode vir 2019 Com alegria e muitos carinhos Traga sim coisinhas boas Todos os dias a nos fazer feliz os nossos caminhos
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POESIA
ALEXANDRA PATROCÍNIO ALEXANDRA PATROCÍNIO É professora de Literatura da rede pública de ensino da Bahia. Graduada em Letras e Especialista em Educação pela UEFS. Mestra em Estudos de Linguagem pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB). É autora do livro «Girassóis em Noites Escuras» pela Penalux. Tem poemas publicados em várias antologias poéticas. Faz parte da Confraria Poética Feminina e do Movimento Mulherio das Letras – Brasil, Bahia e Europa. Co-autora da antologia «Luz de Natal» da Colecção Sui Generis. Perfil no Facebook: https://www.facebook.com/alexandra. alves.1650332
SOLIDÃO Olho para o infinito a linha do céu nos separa: solidão e saudade são teus nomes. Caminho em direção ao oeste busco formas de fortalecer meus pés trôpegos. Recrio tua imagem na rosa dos ventos. O som da tua voz é canto à capela no teatro do sol poente. Teu cheiro é tão real quanto o perfume da lua.
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CONTO
UM FIO DE ESPERANÇA RAQUEL MACHADO É formada em Ciência da Computação e mora em Caxias do Sul (RS), Brasil, junto com o seu marido. Leitora compulsiva, ministra o blogue Leitura Kriativa desde 2010. Em 2015, publicou o seu primeiro livro «Vingança Mortal» de forma independente. Em 2017, participou no livro «A Escolha Perfeita». Em 2018, está a participar em diversas antologias: «De Volta a Salem», «Zodíaco», «Romances de Época», «O Universo Conspira Amor», «Sonhos e Fantasias» e «Relacionamentos Virtuais». Páginas da Autora: https://www.facebook.com/escritorara quelmachado https://raquelmachado2018.wixsite.co m/escritoraquel Blogue da Autora: http://leiturakriativa.blogspot.com Instagram: @autora.raquel.machado
“Vou até o banheiro e vejo meu reflexo no espelho. Eu ainda sou a garota mais bonita do mundo. Começo a escovar meus cabelos, percebo que eles estão caindo em grandes tufos, uma praga da doença que me aflige. Ligo a torneira e, ao lavar minhas mãos, percebo algo estranho. Pedaços de pele começam a se desprender. Minha linda pele clara não existe mais, em seu lugar vejo somente os músculos do ser imperfeito que eu sou. Grito desesperada. As luzes se apagam e um silêncio preenche o ambiente. Tento aguçar meus ouvidos, e escuto meu próprio grito, que parece ecoar pela casa.” POR RAQUEL MACHADO
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A
cordo com as batidas incessantes na porta. É noite ou dia? Não que isso tenha relevância. Levanto de mau grado e arrasto-me até à entrada da pequena casa. Abro a porta pronta para xingar quem quer que seja, porém nada consigo ver. Uma rajada de vento me atinge, o que me faz sentir um calafrio repentino. A chuva se aproxima. Procuro alguma coisa para comer. Entro em casa e abro os armários, porém eles estão vazios. Tão vazios como minha alma. Ao fundo avisto um pacote de bolacha, que vai servir. Sento na mesa e vejo um inseto correndo sobre ela. Não é exatamente uma barata nem tampouco um besouro, parece algo dos dois. Bicho nojento. Mato-o sem dó.
Sento na mesa e vejo um inseto correndo sobre ela. Não é exatamente uma barata nem tampouco um besouro, parece algo dos dois. Bicho
nojento. Mato-o sem dó. Abro o pacote de bolacha e vou mordê-la, quando vejo o mesmo bicho. Este parece encarar-me nos olhos. Fico hipnotizada por aquele pequeno ser de oito patas. Engulo a bolacha junto com o bicho que me atormenta. A náusea me atinge.
Abro o pacote de bolacha e vou mordê-la, quando vejo o mesmo bicho. Este parece encarar-me nos olhos. Fico hipnotizada por aquele pequeno ser de oito patas. Engulo a bolacha junto com o bicho que me atormenta. A náusea me atinge. Vou até o banheiro e vejo meu reflexo no espelho. Eu ainda sou a garota mais bonita do mundo. Começo a escovar meus cabelos, percebo que eles estão caindo em grandes tufos, uma praga da doença que me aflige. Ligo a torneira e, ao lavar minhas mãos, percebo algo estranho. Pedaços de pele começam a se desprender. Minha linda pele clara não existe mais, em seu lugar vejo somente os músculos do ser imperfeito que eu sou.
Grito desesperada. As luzes se apagam e um silêncio preenche o ambiente. Tento aguçar meus ouvidos, e escuto meu próprio grito, que parece ecoar pela casa. Corro para a sala tentando me esconder. Sinto meus pés pesados. O tapete da sala parece areia movediça. Arrasto-me com dificuldade até um canto e sento. As histórias com doenças terminais que escutei, elas costumavam ver e ouvir coisas, então talvez seja tudo parte de minha imaginação. Acordo dos meus pensamentos ao sentir pingos de chuva caírem sobre minha cabeça. Maldita casa, terrível, urbana. Sinto que a água não é límpida, mas sim vermelha, e sua consistência é diferente, parece sangue. O sangue de todos que maltratei. 180
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Corro para a porta, mas não consigo encontrá-la. Estou trancada à mercê dos mortos que vêm me buscar, cobrando por meus pecados. O sangue sobe pelos meus pés, ao mesmo tempo que escuto o choro das almas sofredoras. É o meu fim. Me afogo, o ar sai dos meus pulmões. Coberta por aquela corrente sanguínea, abro os olhos e vejo uma criança. Instintivamente a reconheço, aqueles olhos da época em que minha inocência era pura. Ela estende sua mão e tento com muito esforço pegá-la, mas já não tenho forças. Nos entreolhamos e, por um instante, sinto que ainda existe esperança. Sem pestanejar sucumbo. Acordo sobressaltada com um barulho incessante na porta. A chuva cai do lado de fora. Olho para o criado-mudo onde estão os vários remédios que fazem parte de minha vida. Maldito sonho.
Sinto que a água não é límpida, mas sim vermelha, e sua consistência é diferente, parece sangue. O sangue de todos que maltratei. Corro para a porta, mas não consigo encontrá-la. Estou trancada à mercê dos mortos que vêm me buscar, cobrando
por meus pecados. O sangue sobe pelos meus pés, ao mesmo tempo que escuto o choro das almas sofredoras.
Caminho até à porta de mau grado. Abro e não vejo ninguém, escuto apenas o barulho do vento que sussurra: – Ainda há tempo. 181
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FÁTIMA D’OLIVEIRA Nasceu em 1970 e reside no Vale de Santarém, uma vila no concelho e distrito de Santarém. Em 1998 foi-lhe diagnosticada uma ataxia de Friedreich, uma doença rara, incurável, progressiva, altamente incapacitante e por vezes fatal. Está aposentada por invalidez desde 2009 e tem participado, sempre que lhe é possível, na divulgação das ataxias hereditárias, bem como no alerta da sociedade civil para a dura realidade das mesmas. Teve ainda o supremo orgulho de presidir à Direcção da APAHE – Associação Portuguesa das Ataxias Hereditárias, entre Março de 2011 e Março de 2014. Não tendo a presunção de se considerar uma escritora, mas sim uma autora que já teve a felicidade de ver algum do seu trabalho publicado, possui uma página no Facebook, que desde já vos convida a conhecer e a gostar, e onde fica a aguardar os vossos prezados comentários. Participou em duas antologias Sui Generis: «Luz de Natal» e «Sinfonia de Amor. Perfil no Facebook: http://www.facebook.com/autora.fati madoliveira
A CARTA Caro Pai Natal, Hoje, apetece-me escrever-te. Não te sei dizer porquê. Olha, hoje deu-me para aqui, o que é que se há de fazer?... Também podia ser pior. BEM pior... E, mal por mal, olha, antes assim. Como eu estava a dizer, hoje estou com vontade de te escrever uma carta. Não que eu seja uma criança – antes pelo contrário. Até já sou bem crescidinha. E, verdade seja dita, nem sequer sei mesmo se alguma vez acreditei em ti... Estás a ver, enquanto crescia, na minha casa sempre se falou mais no Menino Jesus – ainda me lembro de, na noite de Natal, ir à Missa do Galo e beijar a imagem do Menino Jesus. E sei que há muito boa gente que considera que tu não passas duma criação duma certa marca de refrigerantes, com o teu fato vermelho. Ainda por cima, nem sequer é Natal. E como já aqui tive o cuidado de frisar, nem sequer te sei dizer o porquê desta missiva. Quer-se dizer, saber, até sei. Então, é assim: quando te escrevem, é sempre para pedir alguma coisa, seja para si próprio, seja para quem quer que seja. Só ouves e lês pedidos. Todos parecem querer alguma coisa. Desde os mais egoístas até aos mais altruístas. E penso... E tu?... A ti, nunca ninguém parece oferecer nada. Não, pois não?... Estou enganada?... Não estou, não é assim?... Pois, bem me parecia... 182
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Mas agora, neste mesmo preciso momento, as coisas vão ser diferentes. Pois eu não estou aqui para te pedir o que quer que seja. Ou melhor, estar, até estou. A diferença é que não é para mim: é para ti: descanso, muito descanso. Assim a modos que umas férias. Num qualquer lugar paradisíaco à tua escolha. Tu és quem mais conta, com as tuas escolhas a serem o mais importante. Faz de conta que és tu a escrever uma carta a... ti. Afinal, se tu estás sempre a dar, agora chegou a tua vez de receber. E de descansar. Tu, mais que ninguém, mereces. Atentamente Eu
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REPORTAGEM
LANÇAMENTO DO LIVRO “MANUAL DOS OFÍCIOS” A autora Sara Timóteo apresentou o seu último
bisavós, avós, irmãos, irmãs, professores, alunos,
livro, Manual dos Ofícios – Um conto longo sobre
tias, esposas, primas, pais e mães. As malhas
a anuência do mal, no passado mês de Outubro,
de um império moribundo alicerçam alianças
cuja sessão de lançamento decorreu na Biblioteca
improváveis entre seres humanos oriundos de
Municipal da Póvoa de Santa Iria.
países distintos; contudo, a diferença reside,
De acordo com a sinopse da obra, integrada
principalmente, no mundo que cada pessoa
na Coleção Istórias da Edições Vieira da Silva,
transporta dentro de si.»
«o protagonista de Manual dos Ofícios é cabo-
Recordamos que Sara Timóteo participa com
verdiano. Encontra-se de regresso a Portugal
muita frequência em antologias organizadas
após uma missão de manutenção de paz no
pela Sui Generis (e também em projectos de
antigo território da Bósnia-Herzegovina.
outras editoras) e tem já uma vasta obra
O período de 24 horas até à concretização
publicada: Deixai-me Cantar a Floresta (2011),
da licença serve de pretexto para uma reflexão
Chama Fria ou Lucidez (2011), Refúgio Misterioso
acerca de como só destruímos verdadeiramente
(2012), Os Passos de Sólon (2014), Elixir Vitae
aqueles que amamos. Talvez exista, no entanto,
(2014), Os Quatro Ventos da Alma (2014),
a possibilidade de transcendermos este destino
O Telejornal (2015), O Corolário das Palavras
a que nenhum ser humano escapa por via do
(2016), Refracções Zero (2016), Compassos
conhecimento dos outros.»
(2017) e Diário Alimentar (2017).
E acrescenta: «São inúmeras as personagens
Nas próximas páginas divulgamos algumas
detentoras de relevo nesta história: militares,
imagens da sessão de lançamento de Manual
desertores, médicos, rececionistas, proprietários,
dos Ofícios. Parabéns, Sara Timóteo! 184
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CONTO
A REDOMA DE NATAL SARA TIMÓTEO Publicou vários livros: «Deixai-me Cantar a Floresta» e «Chama Fria ou Lucidez» (Papiro Editora, 2011); «Refúgio Misterioso» (2012), «Os Passos de Sólon» (2014), «Elixir Vitae» (2014) e «Os Quatro Ventos da Alma» (2014) pela Lua de Marfim Editora; «O Telejornal» (Cadernos de Santa Maria, 2015); «O Corolário das Palavras» (Rui M. Publishing, 2016); «Refracções Zero» (Orquídea Edições, 2016); «Compassos» e «Diário Alimentar» (Costelas Felinas, 2017); «Manual dos Ofícios» (Edições Vieira da Silva, 2018). Participou em diversas antologias da Colecção Sui Generis: «A Bíblia dos Pecadores», «O Beijo do Vampiro», «Vendaval de Emoções», «Graças a Deus!», «Ninguém Leva a Mal», «Torrente de Paixões», «Saloios & Caipiras», «Sexta-Feira 13», «Crimes Sem Rosto», «Fúria de Viver», «Tempo de Magia», «A Primavera dos Sorrisos», «Devassos no Paraíso», «Sinfonia de Amor», «Os Vigaristas» e «Luz de Natal». Perfil no Facebook: https://www.facebook.com/wind.sidh
“A Paula dirigiu-se ao interior da casa aquecida e entabulou um breve diálogo com os pais e com a irmã. Vieram despedir-se à porta e desejaram-me Boas Festas. Eu retribuí os votos da forma mais educada que me foi possível. O Rodrigo, sobrinho de Paula, desatou num berreiro assim que se apercebeu de que ela ia deixá-lo com a mãe e com os avós. A Paula, resignada, acedeu a trazê-lo com ela.” POR SARA TIMÓTEO
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– Já viste este gajo? Quem é que quer estar nestes propósitos no dia de Natal? Se fosse na véspera ou no dia 26, tudo bem, mas no próprio dia? Ouviste o que lhe disse? Olha, amiga, só vou porque numa hora ganho trezentos euros e quero oferecer uma prenda boa à minha irmã. Vou lá dentro dizer aos meus pais que tens de voltar para a tua casa e depois digo-lhes que os teus Olá, Faustino. Então, que me quepais, entretanto, chegaram e insistiram para que res tu? Ah... sim, está tudo bem. Eseu entrasse e estivemos algum tempo à conversa. tou aqui com a minha família. Então Estás de acordo, amiga? Faz de conta que passei e tu? Estás com os teus fieste tempo com vocês. Não lhos? Ó Faustino, precisas de te importas? estar comigo hoje? Estou aqui – Está bem – retorqui, não com o miúdo, com a minha permitindo que o mínimo Nunca gostei de andar irmã, os meus pais, a minha vestígio de desalento assode automóvel àquela amiga Sara – tem mesmo de masse ao meu rosto. ser? Olha que te vai sair caro. A Paula dirigiu-se ao intevelocidade. Senti-me mal Prepara-te para desembolsar rior da casa aquecida e entae tive de sair para espairecer pelo menos trezentos euros. bulou um breve diálogo com numa área de serviço ao pé Cem euros e duzentos euros os pais e com a irmã. Vieram extra para a prenda do Natal despedir-se à porta e desejada minha casa. Quando e do Ano Novo. ram-me Boas Festas. Eu reregressei da casa de banho, A Paula conseguiu, por tribuí os votos da forma mais o Lone Star com origem fim, desligar o telefone móeducada que me foi possível. vel. O Rodrigo, sobrinho de Paula, em França e com destino Olhou para o chão pejado desatou num berreiro assim ao Algarve havia esmagado de dejectos de cão (encontráque se apercebeu de que ela o Opel Tigra da minha amiga vamo-nos num bairro social ia deixá-lo com a mãe e com mal-afamado na zona de Odios avós. A Paula, resignada, Paula por completo. velas) e confidenciou-me o acedeu a trazê-lo com ela. seguinte:
–
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– Ficas um bocadinho com ele em casa dos teus pais, que já o conhecem, e depois eu vou lá buscá-lo. Não devo demorar mais de uma hora. Nunca gostei de andar de automóvel àquela velocidade. Senti-me mal e tive de sair para espairecer numa área de serviço ao pé da minha casa. Quando regressei da casa de banho, o Lone Star com origem em França e com destino ao Algarve havia esmagado o Opel Tigra da minha amiga Paula por completo. Nos primeiros momentos que se seguiram ao ruído que me arrancara aos meus devaneios após um episódio de regurgitação, o meu cérebro parecia estar imerso num imenso silêncio. As bombas de gasolina haviam sido arrasadas pelo embate do camião. Ocorrera uma pequena explosão e o local, numa questão de minutos, ficara pejado de veículos pertencentes às corpora-
ções de bombeiros e de ambulâncias. Alguém – não sei quem – teve a gentileza de me resgatar do local do sinistro. Não emiti um som nem verti uma lágrima, contaram-me mais tarde. O mutismo obscureceu o meu discurso durante meses a fio. Hoje, assumo sempre os turnos dos dias de Natal e de Ano Novo e, quando as canções festivas se fazem ouvir nas redondezas do escritório onde trabalho, gosto de imaginar que a Paula e o Rodrigo estão a brincar na redoma de Natal cuja manifestação visível, a luz das estrelas, incide sobre cada um de nós durante todos os dias do ano. Texto de Sara Timóteo incluído no livro Boas Festas, uma Antologia de Natal publicada pela Silkskin Editora em Dezembro de 2015
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NATÁLIA VALE Nasceu em Vila Robert Williams, Caála, Angola, em 1949. É licenciada em História, pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Tem vários trabalhos premiados, quer nacional, quer internacionalmente. Tem trabalhos publicados em diversas antologias, nacionais e internacionais. Em 2009 editou os seus primeiros (dois) livros pela editora Mosaico de Palavras: «Emoções Inacabadas» (poesia) e «A Minha Tempestade e Outros Contos» (contos). Participou em três antologias da Colecção Sui Generis: «Graças a Deus!», «Torrente de Paixões» e «A Primavera dos Sorrisos». Perfil no Facebook: www.facebook.com/natalia.vale.39
PARA LILI Lili, Como gostaria de te abraçar de novo. Gosto tanto de ti! Nunca te tinha dito isto, pois não? Quando somos jovens não nos preocupamos muito com isso. Hoje penso que é uma das coisas mais importantes que devemos dizer aos amigos, e não só. Naquele dia não te disse as palavras que querias ouvir? Sei que sou muito rezingona e que não tenho “papas na língua”. O meu coração está sempre ao pé da boca e, por vezes, digo coisas que não sinto de verdade. Esqueço que as minhas palavras podem ferir a sensibilidade dos amigos. Mas porquê mantermo-nos afastadas durante tanto tempo, apenas por uma palermice que não teve a menor importância? Zangaste-te. Fechaste-te no teu quarto (ainda de bonecas). Em breve vais perceber como elas foram importantes para ti, tal como os amigos. São elas que te vão fazer perceber a imensidão da minha amizade. Já pensaste no que fazes, quando as coisas não te correm como desejas? Claro que não paraste para pensar sobre isso. São elas que sofrem os teus amuos. Reclamas com elas. Não é justo, não achas? Tu sabes que, naquele dia já longínquo, a nossa professora não merecia ser tratada como tu o fizeste. Para ela todos os alunos eram como se fossem seus filhos e procurava fazer-nos crescer cultos e sábios, preparando-nos para a vida difícil que nos espera. Por vezes, penso como seria a nossa vida sem os doutos ensinamentos que ela, tão pacientemente, nos dava. Dói-me muito pensar que não sejas feliz, a ponto de manteres o ódio e a raiva, por tudo quanto te disse quando éramos jovens. 206
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Não sabes perdoar? Não podes dar o primeiro passo? O teu orgulho é maior do que tu? Apesar desta desavença que nos afastou, tivemos momentos muito bons juntas. Lembras-te quando partiste o braço da tua boneca de louça? O que nós fizemos para tentar colá-lo, para que a tua mãe não se apercebesse. Até a tapavas toda, como se ela estivesse num sono extremamente profundo, para disfarçar. A cumplicidade era permanente entre nós. Quando já éramos mocinhas, a despontar para a vida, tornámo-nos ainda mais chegadas, confidenciando os nossos sonhos, os nossos amores, as nossas alegrias e até as nossas angústias. Recordas-te do Ricardo? Tinha sido o meu primeiro namorado. Naquela época era o galã mais desejado das rapariguinhas. Até tu tinhas um fraquinho por ele! Tantas recordações boas que afloram a minha mente quando me lembro de ti. Foram tão bons os momentos que passámos juntas. Tenho saudade desses momentos e, especialmente, de ti.
Desejo-te uma enorme felicidade, como só quem ama (amizade também é uma forma de amor) pode desejar. Que a tua vida seja uma pauta coberta de rosas, perfumadas e sem espinhos, onde navegues numa perfeita simbiose contigo própria e com os que, agora, te rodeiam. Será que um dia voltarei a fazer parte desse círculo? Deixo-te esta questão e pondera se sou, ou não, digna de voltar a ter a tua amizade, completa e total, tal como quando éramos jovens. Hoje, já quase uma “velhinha” de cabelos brancos, continuo a ser a rezingona que sempre fui, mas que adoraria poder agradecer-te com um grande abraço, pelo tempo, por todas as alegrias e tristezas que partilhámos juntas, e que jamais esquecerei. Com um sorriso, apenas te quero dizer: amo-te.
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CONTO
MURMÚRIOS PROIBIDOS TIAGO SOUSA O destino fez de Tiago Sousa, um estudante universitário de 19 anos, amante do excêntrico e do macabro. Deixou que a inspiração lhe escrevesse já diversos contos de terror e tragédia, inspirados pela escrita de autores como Poe e Lovecraft. Ultimamente, tem dado asas à sua poesia, produzindo inúmeros poemas numa base diária, em métrica regular ou verso livre. A sua arte sempre estará marcada por uma estranha sensação de alienação e uma certa melancolia derivada do profundo pensamento. Participou na antologia «Sinfonia de Amor» da Colecção Sui Generis. Perfil no Facebook: https://www.facebook.com/tiago.sous a.10comoseomundonaofosseloucoosu ficiente
“Alguns clérigos temiam que a ciência causasse problemas graves à igreja no que consta aos domínios da devoção e da credibilidade, mas Adbury não conseguia entender tal coisa. Se Deus criou o mundo, se Deus criou a ciência, como pode esta ser para ele um mal? Era um padre inovador dotado de uma mente aberta, isso sem dúvida. Durante o dia, perdiase muitas vezes em pensamentos, divagando sobre tudo e mais alguma coisa. De noite, perdia-se em sonhos onde mundos tecnologicamente avançados se erguiam nos céus, sobre as nuvens, com holofotes tão potentes que só por existirem substituíam as estrelas. Sua visão alongava-se a futuros longínquos e o seu espírito voava até aos limites mais elevados.” POR TIAGO SOUSA
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A
sombra percorria o todo do ciclópico edidos. Na sua mais sincera modéstia, considerava-se fício, erigido em tempos imemoriais por um nobre erudito, um estudioso dos mais sagrauma qualquer força política de enorme dos escritos da antiguidade. Contemplava o munpoder, ameaçando levá-lo a qualquer momento do de uma forma diferente dos demais. Onde os para os hipotéticos anais do submundo. O padre outros viam o perigo, este via a esperança. Onde Adbury movia-se a passo os outros viam o sacrifílento, com franca leveza. cio, este via a coragem e Curvou-se perante o altar todo o potencial do corada majestosa igreja e deu ção humano. A fé pode mover montanhas, lesto início às suas oraEscusado será dizer mas a verdadeira vontade há de ções. que não se considerava A fé pode mover monum homem como os dedomar os astros que nos regem tanhas, mas a verdadeira mais. Declarava isto abero céu. Pois o Homem é mais forte vontade há de domar os tamente, em público e em do que aparenta. Suas capacidaastros que nos regem o privado, quando se excéu. Pois o Homem é mais pressava através da santa des ultrapassam qualquer outro forte do que aparenta. homilia. Não se deixava animal terrestre, qualquer outro Suas capacidades ultrasubmeter aos vícios e praser vivo conhecido nas proximipassam qualquer outro zeres dos comuns moranimal terrestre, qualquer tais. Não. Adbury estava dades. É seu dever e responsabioutro ser vivo conhecido muito acima deles. Deus lidade o controlo, a dominância. nas proximidades. É seu abençoara-o com um coOs fortes subjugando os fracos dever e responsabilidade ração puro. O padre não o controlo, a dominância. temia a mudança e a renuma eterna luta a que os antiOs fortes subjugando os volução como os homens gos naturalistas deram o simpáfracos numa eterna luta a dos números e das letras, tico nome de “seleção natural”. que os antigos naturalisuns por quererem comtas deram o simpático nopreender tudo antes de Mas há muito que o ser humano me de “seleção natural”. agir e outros por nem ainda não sabe. O desconhecido Mas há muito que o ser tentarem agir de todo. assusta-o, assusta-nos a todos. humano ainda não sabe. Adbury era um homem O desconhecido assustadistinto. Adbury era um Isto porque o desconhecido é o, assusta-nos a todos. Ishomem bom, criado à dimais poderoso. O incógnito é to porque o desconhecido vina imagem do Senhor, mais forte do que aquilo que alé mais poderoso. O incópor Ele e para Ele. gnito é mais forte do que Nas suas missas, o paguma vez possamos imaginar. aquilo que alguma vez dre celebrava a inovação possamos imaginar. E, pae o empreendimento de ra além disso, já está mais longas pesquisas e investipróximo do que pensagações que pudessem aumos. mentar o nosso conhecimento do mundo. Alguns Contudo, Adbury não pensava em tudo isto. clérigos temiam que a ciência causasse problemas Sua mentecapta razão não usufruía da lógica racigraves à igreja no que consta aos domínios da deonal a que os sábios e os cientistas estão habituavoção e da credibilidade, mas Adbury não conse210
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guia entender tal coisa. Se Deus criou o mundo, se Deus criou a ciência, como pode esta ser para ele um mal? Era um padre inovador dotado de uma mente aberta, isso sem dúvida. Durante o dia, perdia-se muitas vezes em pensamentos, divagando sobre tudo e mais alguma coisa. De noite, perdia-se em sonhos onde mundos tecnologicamente avançados se erguiam nos céus, sobre as nuvens, com holofotes tão potentes que só por existirem substituíam as estrelas. Sua visão alongava-se a futuros longínquos e o seu espírito voava até aos limites mais elevados. Adbury era um visionário, um religioso sonhador. – Bom dia, senhor padre. Uma senhora entrara na igreja sem o padre se dar conta. Era proprietária de uma ligeira corcunda. Os cabelos, brancos como a neve, eram curtos
e utilizava uns óculos redondos na ponta do nariz aquilino. Chamava-se Emídia e era uma visitante habitual das missas de domingo. O religioso saudou-a. – Um bom dia para si, minha amiga! Que Deus ilumine tanto o seu dia como até agora tem iluminado todos os meus! A idosa sorriu perante tamanha demonstração de energia e positivismo. Adbury sempre fora um homem honrado, digno de respeito. Era um bom amigo, fosse para quem fosse. Fazia os possíveis para ajudar todos os necessitados da localidade. Para ser mais específico, utilizava o dinheiro dos peditórios quase exclusivamente para alimentar as bocas dos pobres não apenas com a palavra de Deus. – É sempre bom vê-lo tão alegre, senhor padre. Ainda para mais neste dia... 211
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– Não se preocupe. Sei que ele está num lugar melhor. Só pode estar. Afinal de contas, Deus sabe cuidar dos Seus. Tenho esperanças nisso. Sei que a alma do Nigel está muito bem ao lado do Seu trono. E um dia poderei encontrar-me com ele novamente. Estaremos juntos nessa vida eterna que Cristo tanto nos prometeu.
– O que tem este dia, senhora Emídia? Emídia sentiu-se deveras envergonhada ao trazer o assunto à tona. – Você sabe... refiro-me ao acidente de há dois anos. Adbury estacou. O acidente. Ela referia-se à morte de Nigel. Era ainda muito jovem quando sofreu o trágico acontecimento, tinha pouco mais de um metro de altura. Brincava num jardim em frente à sua casa quando a bola que lhe servia de brinquedo saltitou das suas mãos até ao centro da estrada principal. Obviamente, o pior ocorreu quando ele a foi buscar. Curvou-se para apanhar a bola precisamente quando um carro ia a passar. O seu corpo ficou ali, horrivelmente deformado, no meio do asfalto. A coluna vertebral havia sido completamente dobrada ao meio e vários ossos fraturaram. Parte da cara foi igualmente espalmada pela roda em movimento, deixando-o horrorosamente desfigurado. O condutor escapou, nem quis saber o nome da sua vítima. O seu nome era Nigel Adbury e era à sua alma que o pobre clérigo dedicava todas as suas preces. – O meu filho... – Peço desculpa, senhor padre. Eu não queria... Fora esse o dramático acontecimento que levou aquele pai solteiro a tornar-se no mais adorado padre da região.
Foi nesse momento que o sol se afogou no horizonte. As trevas tomaram por completo o carcomido edifício de pedra talhada. O estilo gótico das arcadas e a imponência do altar já não incen-
tivavam ao culto. Eram agora representações macabras de uma realidade incompreensível. O corpo de Cristo já não representava um nobre sacrifício pela humanidade, mas sim um método de tortura cruelmente concebido para aniquilar lenta e dolorosamente o “rei dos judeus”. Tudo passou a simbolizar algo mais negro e inconcebível.
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– Tenho a certeza que sim, senhor padre. Tenho a certeza. Dito isto, fez o sinal da cruz e saiu. Adbury ficou novamente sozinho, preparando o livro de salmos para a próxima missa. Foi nesse momento que o sol se afogou no horizonte. As trevas tomaram por completo o carcomido edifício de pedra talhada. O estilo gótico das arcadas e a imponência do altar já não incentivavam ao culto. Eram agora representações macabras de uma realidade incompreensível. O corpo de Cristo já não representava um nobre sacrifício pela humanidade, mas sim um método de tortura cruelmente concebido para aniquilar lenta e dolorosamente o “rei dos judeus”. Tudo passou a simbolizar algo mais negro e inconcebível.
Estava só. Finalmente só. E era o aniversário da morte dele. Cuidadosamente, extraiu de baixo do altar uma grande caixa de madeira retangular com meio metro de altura, um pouco mais de meio metro de largura e aproximadamente um metro de comprimento. «Morte». Abriu-a. E lá estava ele. Não envelhecera bem estes dois anos. Estava extremamente magro e fragilizado. A maior parte dos cabelos haviam caído e perfaziam o fundo da caixa que lhe servia de prisão. Um dos seus olhos parecia inexistente, tendo-se um enorme pedaço de carne a ele sobreposto. A boca era torta e os dentes estavam todos partidos sem misericórdia. Não eram lava-
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dos há muito tempo, estavam completamente podres. Alguns vermes, minúsculas larvas, talvez de mosca, alojavam-se nas fissuras do seu esmalte. Deu-lhe um pouco de água e uma hóstia, única fonte de alimento que lhe era permitida. O padre ficou furioso quando este a rejeitou no início, mas sorriu quando, à força bruta, a conseguiu fazer escorregar pela garganta abaixo. Afinal, não havia nada que ele pudesse fazer para contrariar os seus desejos egoístas. Não se conseguia mover. Estava naquela caixa, muito bem fechado, pois Nigel não podia ser visto. Se fosse encontrado, seria assassinado pelos populares. Isto porque já é sabido que o povo não lida bem com deficientes, os pobres ingénuos julgá-lo-iam um demónio ou aberração semelhante. Só ali estaria seguro. Qualquer outro ambiente o poderia corromper e provocar a sua morte prematura. Isso nunca poderia acontecer. Não, adoecer e morrer não. Era melhor nem sequer correr riscos e mantê-lo ali, trancado, naquele ambiente isolado ao máximo. Aquele olhar desolado pedia que o matassem, mas esse desejo não seria concedido. Adbury mantê-lo-ia vivo o mais que pudesse. Nunca deixaria o seu filho morrer. Nunca. Acreditava em Deus e tudo isso, mas tinha toda a certeza de que a morte era o fim. Não havia qualquer “vida eterna”, isso eram apenas mentiras para satisfazer os mais pobres, aqueles que nunca conseguiriam aproveitar a vida terrena mesmo que quisessem. Sim, a morte era o fim. E, se dependesse do velho padre, Nigel não teria fim. Seria sempre o seu menino. Para sempre, para todo o sempre. Para toda a eternidade. Ámen.
Deu-lhe um pouco de água e uma hóstia, única fonte de alimento que lhe era permitida. O padre ficou furioso quando este a rejeitou no início, mas sorriu quando, à força bruta, a conseguiu fazer escorregar
pela garganta abaixo. Afinal, não havia nada que ele pudesse fazer para contrariar os seus desejos egoístas. Não se conseguia mover. Estava naquela caixa, muito bem fechado, pois Nigel não podia ser visto. Se fosse encontrado, seria assassinado pelos populares. Isto porque já é sabido que o povo
não lida bem com deficientes, os pobres ingénuos julgá-lo-iam um demónio ou aberração semelhante. Só ali estaria seguro. 214
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MARISA LUCIANA ALVES Nasceu em Vinhais, em 1976, e é professora de Português-Inglês desde 1999. Apresentou e defende a tese sobre a construção da figura do ditador na literatura portuguesa, que lhe conferiu o grau de Mestre em Literatura Portuguesa. Tem cinco livros publicados: «Contando Memórias...» (2011), «De Suplicar Por Mais...» (2013), «O Sono da Primavera» (2014), «A Tua Receita, Meu Amor!» (2015) e «O Que Zeus Mostrou aos Homens» (2018). Foi a vencedora do 3º concurso literário da Papel D’Arroz Editora (2014). Participou em diversas obras colectivas. É co-autora da antologia «Sinfonia de Amor» da Colecção Sui Generis. Perfil no Facebook: www.facebook.com/marisa.luciana.31
CARTA QUE ESCREVO ESPERANDO POR TI Meu amor... Continuarás sempre a ser o amor da minha vida, apesar de não te ter mais junto a mim, desde que partiste por aquela porta. «Tens de fazer o luto», dizem-me... mas como fazer o luto de quem está vivo? Como posso esquecer de quem me deu tanto, de quem me fez sentir enorme, de quem me ensinou, de quem aprendi? Como viver o luto em vida? Quero tanto virar a página, terminar o capítulo da nossa história de amor, fechar o livro de uma vez por todas! Mas não consigo... Como fazer o luto de um amor único como foi o nosso? Sei que nunca te vou esquecer, de tão entranhado que estás em mim. Sei que vou lembrar-me de ti a cada hora do meu dia e que não vão chegar as lágrimas de reserva para chorar a tua ausência... Mas também sei que há que saber respeitar a vontade. O espaço. O silêncio de cada um. Quantas vezes quis que deixasses o silêncio e me dissesses o que se passava contigo e te angustiava? Quantas vezes desejei que me contasses com palavras o que os olhares e as expressões não me diziam? Mas só recebi o teu silêncio. Com ele, a tua vontade de ficar na solidão, como se assim todos os males que te afligiam se desva-
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necessem. Assim é o teu silêncio. Assim o respeito e o entendo. Sou consciente de que o tempo tudo resolve e organiza. Entretanto, espero que o teu silêncio, qual prisão redentora, te liberte um dia desses temores e angústias. Então se ouvirá a Voz. A tua. A minha. A que sai da boca e a da consciência. Sei que os olhares são portas escancaradas da alma (seria tão mais fácil se tu me olhasses agora! Verias quão grande é a vontade de te mostrar o que não consigo dizer-te...). Mas não vi no teu olhar essa alma... Quiçá um dia te possa entender... e, hoje, aqui, esperando-
te, percebo que ainda não chegou a hora de te ver por dentro, com a voz silenciosa e um olhar que fala. Mas, enquanto espero, choro. E, desta vez, quero chorar o meu stock de lágrimas. Chorá-las todas de uma vez, lenta e rapidamente, como se não houvesse amanhã mais tempo e mais lágrimas para chorar. O tempo, esse, há de ajudar-me a aceitar que um dia regressarás a mim... e a almofada será testemunha das minhas horas de desespero, há de limpar-me essas lágrimas derramadas como a melhor amiga, cúmplice e companheira nos momentos difíceis. Sei que voltarás para junto de mim... mas se não o fizeres, continuarei a lembrar-me de ti e do sorriso que sabias tão bem pôr nos meus lábios... do teu toque, do teu abraço, do teu cheiro, do teu beijo, do teu sabor... e no dia em que me vires novamente, ainda que não mo digas, sentirás que a nossa foi a melhor história de amor que alguma vez viveste... Mas, hoje, onde quer que estejas, sinto que estou em ti como tu em mim e sei que sentes isso... Sei que sim... Até um dia. Um beijo deste teu enorme Amor, Ana
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APRESENTAÇÃO DO LIVRO
Mostrou aos Homens», pela editora Edições Toth, de Braga. O prélançamento de «O Que Zeus Mostrou aos Homens» foi no dia 22 de Setembro, no Palácio de Cristal, por altura da Feira do Livro do Porto, onde a autora pôde falar com os leitores sobre o livro, como surgiu e o que a motivou a escrever para crianças. O lançamento oficial ocorreu no dia 27 de Outubro, no Conservatório de Música e Dança de Bragança. Estiveram a cargo da apresentação do evento (por ordem da foto, da esquerda para a direita) a Dra. Maria José
O QUE ZEUS MOSTROU
AOS HOMENS
A
autora Marisa Luciana Alves, transmontana e natural de Vinhais, acaba de publicar o seu quinto livro, intitulado «O Que Zeus 219
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Mestre, professora e autora de livro infantil; a Dra. Fernanda Silva, Vereadora da Educação e Cultura da Câmara Municipal de Bragança; a autora e o Sr. Rui Oliveira, o editor. Após a apresentação por todos os participantes na mesa, seguiu-se a sessão de autógrafos. «O Que Zeus Mostrou aos Homens» é um livro infanto-juvenil que tem como alvo os jovens leitores a quem é apresentada a mitologia grega, nomeadamente os Deuses, assim como os seus parentescos, feições, virtudes e defeitos. Em simultâneo com essa apresentação, surge neste conto o tema da protecção do ambiente. Efeito de estufa, poluição e reciclagem são alguns dos conceitos que surgem neste livro e que permitem ao leitor tomar contacto com a defesa do Ambiente, levada a cabo pela determi-
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nação dos deuses. Incapazes de verem o mal que têm estado a fazer à Terra, os homens foram abordados pelos Deuses. No seu percurso de escrita, a autora tem participado em vinte e uma colectâneas, com os seus contos e poemas, e conta já com cinco livros publicados: «O Que Zeus Mostrou aos Homens» (2018), «A Tua Receita, Meu Amor!» (2015), «O Sono da Primavera» (2014), «De Suplicar Por Mais...» (2013) e «Contando Memórias...» (2011). O seu conto “Ao Sabor da Memória” foi o premiado, em 2015, no 3º Concurso Literário da editora Papel D’Arroz. A atribuição desse prémio resultou na publicação da novela «A Tua Receita, Meu Amor!».
FICHA TÉCNICA Título: O Que Zeus Mostrou aos Homens Autor: Marisa Luciana Alves Ilustrações: Cátia Silva Revisão: Zita Urbano Editora: Edições Toth Impressão: Gráfica Diária do Minho 1ª Edição: Setembro 2018 ISBN: 978-989-54152-0-5 Depósito Legal: 444616/18
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APRESENTAÇÃO
O QUE ZEUS MOSTROU AOS HOMENS MARISA LUCIANA ALVES Nasceu em Vinhais, em 1976, e é professora de Português-Inglês desde 1999. Apresentou e defende a tese sobre a construção da figura do ditador na literatura portuguesa, que lhe conferiu o grau de Mestre em Literatura Portuguesa. Tem cinco livros publicados: «Contando Memórias...» (2011), «De Suplicar Por Mais...» (2013), «O Sono da Primavera» (2014), «A Tua Receita, Meu Amor!» (2015) e «O Que Zeus Mostrou aos Homens» (2018). Foi a vencedora do 3º concurso literário da Papel D’Arroz Editora (2014). Participou em diversas obras colectivas. É co-autora da antologia «Sinfonia de Amor» da Colecção Sui Generis. Perfil no Facebook: www.facebook.com/marisa.luciana.31
“Quando comecei a escrever contos infantis tinha noção de que escrever para crianças e jovens não era tarefa fácil. Tanto que ainda, durante algum tempo, fui resistente. Os contos permitem enriquecer o imaginário infantil e é neles que muitas vezes as crianças encaram dificuldades, enfrentam perigos, aprendem a distinguir o Bem do Mal. Aprendem que na vida as coisas nem sempre são fáceis, mas que, no fim, com ajuda, tudo se resolve. O Que Zeus Mostrou aos Homens é um livro infantojuvenil onde também essa dicotomia entre o Bem e o Mal, o certo e o errado aparece.” POR MARISA LUCIANA ALVES
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osé Saramago dizia, antes ainda de ser Nobel a inspiração pode surgir na hora menos pensada. da Literatura, que «Somos todos escritores, Gosto de escrever à mão, de fazer rascunhos, só que alguns escrevem e outros não». Essa é de reescrever. Adoro ser leitora de mim mesma e uma grande verdade. Todos temos dentro de nós crítica dos meus textos. Gosto de sentir o papel a capacidade de escrever, paque recebe as minhas palara si e para os outros. vras. Sou uma escritora “à moDe há alguns anos a esta da antiga”, ando sempre com Gosto de escrever à mão, parte, estamos a assistir a um bloco de notas e uma cauma mudança na forma de esneta, para poder registar as de fazer rascunhos, de crever, positiva, a meu ver. Isideias que me vão surgindo. reescrever. Adoro ser so talvez esteja a fazer os liMuitas vezes tenho a sensaleitora de mim mesma e vros e os autores portugueses ção de que na minha cabeça serem melhor aceites. Cada andam frases soltas, como se crítica dos meus textos. vez mais há uma escrita ao fossem legendas de um filme Gosto de sentir o papel que correr da pena. Estilo. De isso ou notas de rodapé. Naquele recebe as minhas palavras. se trata. Da forma individual momento podem não fazer que cada escritor tem de trasentido, mas depois, algum Sou uma escritora “à moda tar a linguagem literária. Do dia, poderão vir a fazer parte antiga”, ando sempre com modo que cada escritor tem de um poema, um conto... um bloco de notas e uma de colocar no papel aquilo Quando comecei a escrecom que se identifica. É o esver contos infantis tinha nocaneta, para poder registar tilo que faz a pontuação ter ção de que escrever para crias ideias que me vão um sentido menos obrigatório anças e jovens não era tarefa surgindo. Muitas vezes na escrita, que faz os poemas fácil. Tanto que ainda, durante de Sophia Andresen serem tão algum tempo, fui resistente. tenho a sensação de que magníficos, a escrita de SaraOs contos permitem enriquena minha cabeça andam mago ser única... cer o imaginário infantil e é Também eu tenho o meu neles que muitas vezes as crifrases soltas, como se estilo, com mais ou menos anças encaram dificuldades, fossem legendas de um descrições, com narrativas enfrentam perigos, aprendem filme ou notas de rodapé. mais elaboradas ou não, cona distinguir o Bem do Mal. forme se adeqúe ao texto que Aprendem que na vida as coiNaquele momento podem escrevo. Enquanto escritora, sas nem sempre são fáceis, não fazer sentido, mas sou um pouco atípica. Posso mas que, no fim, com ajuda, depois, algum dia, poderão passar dias sem escrever e tudo se resolve. O Que Zeus posso escrever um conto com Mostrou aos Homens é um livir a fazer parte de um seis ou sete páginas num dia. vro infantojuvenil onde tampoema, um conto... Escrevo apenas quando tenho bém essa dicotomia entre o ideias ou desafios. Não tenho Bem e o Mal, o certo e o errapor hábito sentar-me e dizer do aparece. «agora vou escrever». Em priEste conto, talvez como meiro lugar, não seria capaz de escrever algo por outros que escrevi, é reflexo da minha experiênobrigação. Preciso de sentir borboletas no estôcia, das minhas vivências. Por que motivo decidi mago, a inquietude da alma para poder escrever e colocar os Deuses como personagens deste con224
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para casa e incentivam os pais a serem mais protectores da Natureza, a terem cuidado como o lixo e a separar o lixo. No entanto, e apesar de ser um tema muito trabalhado, parece que continuamos a produzir muito lixo. Somos, ainda que inadvertidamente, cada vez mais consumistas exagerados. Conservar o ambiente saudável hoje é fazê-lo também para o futuro das gerações vindouras. Mas, para que isso aconteça, é preciso que toda a família, a escola e a sociedade sejam treinadas e educadas. Neste livro que agora se publica, O Que Zeus Mostrou aos Homens, a protecção ambiental está presente, através das atitudes dos Homens, que, após terem sido questionados e enfrentados pelos Deuses do Olimpo, mudam a sua forma de atuar face à Terra. Aqui ficamos a conhecer os deuses da mitologia grega, a relação entre eles, os seus defeitos e as suas virtudes. Paralelamente a essa descrição vai surgindo a apresentação do estado da Natureza e do meio ambiente na Terra, que os Homens têm vindo a menosprezar. Efeito de estufa, poluição e reciclagem são alguns dos conceitos que surgem neste livro e que permitem ao leitor tomar contacto com a defesa do Ambiente, levada a cabo pela vontade dos deuses. A magnitude de um Deus superior, a bondade de uma deusa e as considerações de outros deuses permitem levar a bom porto esta história.
to? Sempre gostei do fantástico, do maravilhoso e da mitologia greco-latina, enquanto leitora. Como professora é normal analisar a obra Os Lusíadas, onde a presença mitologia é evidente. Já como professora de Inglês, lecciono muitas vezes o tema do ambiente e há sempre algo que me chama a atenção: o conhecimento que os alunos têm da educação ambiental e as poucas atitudes que tomam para proteger/melhorar o ambiente. É importante que as pessoas tenham consciência dos males da destruição da Natureza e criar hábitos que ajudem na preservação do meio ambiente. Os jovens de hoje são embriões do futuro, serão os cidadãos de amanhã. Muitas vezes são eles que levam o conceito de protecção ambiental
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À guisa de conclusão, gostaria de referir que O Que Zeus Mostrou aos Homens é um livro infantojuvenil que pode e deve ser lido também por adultos. Sinceramente, não escrevo tendo em conta uma faixa etária específica. Aliás, nem isso é algo que me preocupe, até porque considero que estar a rotular um livro para determinada faixa etária pode fazer com que se perca o sentido verdadeiro da leitura, que considero serem: as vivências, as memórias da infância, as aprendizagens, o deleite. Para Peter Hunt, crítico literário e professor de Literatura Infantil na Universidade Cardiff, no Reino Unido, um bom livro infantil é «um livro que faz todos, adultos e crianças, pensarem.». Baseando-me um pouco nas suas palavras, cabe-me apenas neste ponto de consideração sobre o livro que agora publico recomendar que o leiam, apenas pelo prazer que deve ser a leitura, sejam um público jovem ou menos jovem.
Neste livro que agora se publica, O Que Zeus Mostrou aos Homens, a protecção ambiental está presente,
através das atitudes dos Homens, que, após terem sido questionados e enfrentados pelos Deuses do Olimpo, mudam a sua forma de atuar face à Terra. Aqui ficamos a conhecer os deuses da mitologia grega, a relação entre eles, os seus defeitos e as suas virtudes. Paralelamente a essa descrição vai surgindo a apresentação do estado da Natureza e do meio ambiente na Terra, que os Homens têm vindo a menosprezar.
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MARIA JOSÉ MESTRE Licenciada em Línguas e Literaturas Modernas. Mestre em Literatura Comparada Portuguesa e Francesa (séc. XIX e XX). Investigadora do IELT (FCSH da Universidade Nova de Lisboa).
O QUE ZEUS MOSTROU AOS HOMENS Habituei-me a ler em primeira mão alguns dos escritos da Marisa Luciana Alves e a sensação que vou tendo ao longo do tempo é que estou perante uma escritora sensível aos seus leitores, à vida que a rodeia, de uma capacidade real e acima do mediano de transmitir ideias através de histórias bem contadas, bem organizadas e de fácil apreensão. Escrever para crianças e adolescentes é tarefa bem mais difícil do que se supõe. Cada palavra, cada frase, cada período e afinal aquele todo que é um livro tem de ser medido e pesado com minúcia. Cada um de nós tem sempre uma história na cabeça que gostaria de contar. Mas contá-la bem sobre o papel branco é só para alguns. Essa é uma função que Marisa desempenha com inteligência e integridade. Senhora da força da sua razão e de um profundo sentimento de missão, que são os fundamentos da dignidade e da felicidade humanas, Marisa Luciana Alves junta a estas características a capacidade de, com uma forma simples (não simplista! – todos 228
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lembramos a “escrita simples”, mas afinal tão pensada de Almeida Garrett, quando se propôs “educar o povo” através da escrita mais ou menos histórica, mais ou menos romanceada), portanto, repito “escrita simples”, não simplista, abordando temas actuais como a cidadania, o ambiente, a abertura à diferença, à educação das crianças e jovens, afinal hoje tão deixada à mercê da televisão, dos telemóveis e da Internet. Neste livro temos, para além da qualidade literária a que Marisa Luciana Alves já nos habituou, a introdução da Cultura Clássica aos mais jovens, revelando pequenos itens da mitologia greco-latina através de acontecimentos reais, explicados, à maneira clássica, pela vontade dos deuses intervenientes.
Os deuses da Antiguidade Clássica, que nunca foram outra coisa que o alter ego dos homens, com as suas virtudes e defeitos, aparecem-nos aqui numa agradável atmosfera de conciliábulo onde se vão decidindo castigos pelas maldades dos homens e perdões para os que, habitantes da Terra, quase sempre menosprezada, vão reconhecendo a necessidade de cuidar da grande casa de todos nós, que é este planeta. Pena é que Zeus não apareça mesmo em sonhos a todos os homens, sobretudo aos do Poder, para que possam, ao acordar, tomar as disposições para salvar a Terra das catástrofes, a cujo aumento assistimos, cada vez com mais frequência, no nosso dia-a-dia e que semeiam a morte e o caos. Recomendo pois, a leitura deste livro pelos pais e pelos filhos, de forma que a ideia passe e crie raízes nas gerações dos homens de amanhã. Esses serão os obreiros do futuro, mas sempre com o indispensável apoio dos homens
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de hoje, educadores, pais e mães (com menos tempo em casa), mas que podem e devem tornar os pequenos momentos de que dispõem em momentos verdadeiramente educativos e de aproximação cultural e familiar. Mais do que o Ambiente a que se refere, O que Zeus Mostrou aos Homens é um conto que tem um ambiente alargado muito mais que a protecção do ar, da água e da terra. É a protecção das pessoas enquanto seres humanos nas suas relações e comportamentos. E, como um conto tem de ter uma moralidade e uma função, neste vamos encontrar também a benevolência de uma deusa que pede a Zeus que dê mais uma oportunidade aos homens e que depois de os castigar pela sua incapacidade de cuidarem de si mesmos, lhes permita emendarem-se e retrocederem na sua caminhada para a destruição da Terra.
O que Zeus Mostrou aos Homens é um conto bem arquitetado e bem escrito. É um conto de esperança para os jovens a que se destina.
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ESTÊVÃO DE SOUSA Nasceu em Lisboa, em 1937. Já aposentado, dedicou-se à escrita. É autor literário das seguintes obras: «Nesta Terra Abençoada» (2014), «Tráfico no Rio Geba» (2014), «Irina – A Guerrilheira» (2015), «Rapto em Londres» (2017), «Romance em São Tomé» (2017), «Pedaços de Mim» (2017), «Contos, Estórias & Companhia» (2018), «A Profanação do Túmulo» (2018) e «Pânico no Subúrbio» (2018). Tem trabalhos publicados em diversas obras colectivas. Da Colecção Sui Generis, participou nas antologias «A Bíblia dos Pecadores», «O Beijo do Vampiro», «Saloios & Caipiras», «Fúria de Viver», «Crimes Sem Rosto», «Devassos no Paraíso», «A Primavera dos Sorrisos», «Os Vigaristas», «Sinfonia de Amor» e «Luz de Natal». Perfil no Facebook: www.facebook.com/francisco.estevao desousa
A QUADRA POR EXCELÊNCIA Quando, há dias em conversa com um amigo também ligado às escritas, lhe manifestava a dificuldade que tinha em escrever sobre o Natal, dizia-me aquele amigo, em tom de brincadeira, que o que eu não queria era escrever. Enganas-te, amigo! Se há algo na vida que me dá prazer, esse algo é precisamente escrever! Mas... sobre o Natal?! Que Natal? O Natal dos espoliados? O Natal dos migrantes escorraçados? Dos sem-abrigo que pululam pelas ruas das nossas cidades? Dos dependentes da droga que, com as vidas arruinadas, transformados em autênticos farrapos humanos, são o produto da nossa sociedade hipócrita e egoísta? Daqueles que são vítimas de xenofobia? Ou ainda de tantos milhões de famintos que, pelo mundo fora, vão vivendo a sua vida de miséria marginalizados e ignorados pelos detentores do poder e da fortuna? Será deste Natal que devo escrever?
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Ou do outro? Daquele em que se esbanjam quantias chorudas em prendas desnecessárias, de utilidade muitas vezes duvidosa, alimentando o nosso ego e um comércio ávido de dias especiais de “isto e daquilo” para, com isso, fazer caixas volumosas, ao mesmo tempo que comemos “à fartazana” em nome não se sabe do quê, enquanto assistimos no remanso do nosso bemestar, através da televisão, à caridadezinha que nesta altura sempre é praticada com o intuito muitas vezes de se tirarem dividendos da visibilidade auferida. Que me perdoem os que desinteressadamente o fazem com o genuíno sentido de sacerdócio, que também os há! Será com este Natal que comemoramos (pois é em seu nome que o praticamos) o nascimento do Deus Menino, há dois mil anos? Vês agora, amigo, porque me é difícil escrever sobre o Natal? Feliz Natal para todos!
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LANÇAMENTO
PÂNICO
NO SUBÚRBIO Novo livro de Estêvão de Sousa disponível na Amazon
Segundo a síntese da obra, aquela seita dedicava-se ao tráfico de órgãos humanos! As suas ramificações estendiam-se praticamente pelos cinco continentes. A célula de Portugal, sendo uma das mais activas, acabou por ser desmantelada pela acção exímia e abnegada de um dos inspectores da Polícia Judiciária, com a prestimosa colaboração de um vizinho que, sem ocupação, se dedicou a desvendar o mistério dos cadáveres aparecidos no eucaliptal. Será que a actividade destes criminosos é descoberta, sendo por isso exemplarmente castigados? Ou terão imunidade que impeça o castigo? Só lendo conseguirá saber o que acontece a tais biltres mas, para já, o autor adverte: se for muito impressionável, não leia! Deixamos, nas próximas páginas, alguns excertos deste livro, que está à venda na Amazon.
O
autor Estêvão de Sousa lançou o seu último livro, intitulado Pânico no Subúrbio, na Amazon, no passado mês de Agosto. Esta nova obra relata, ao longo de 106 páginas, a actividade de uma poderosa igreja oriunda de um país africano em que alguns dos elementos da sua cúpula se servem da organização para, a coberto da mesma, praticarem crimes horrendos.
Pânico no Subúrbio, Estêvão de Sousa, Agosto 2018 Encomendas pelo email estevaodesousa@hotmail.com ou directamente no site da Amazon: www.amazon.com
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EXCERTOS DO LIVRO
PÂNICO NO
SUBÚRBIO POR ESTÊVÃO DE SOUSA
EXCERTO 1
repentinamente a noite, à minha frente, se transformou em dia, pela ação de um relâmpago que tudo iluminou, mostrando, quais fantasmas altaneiros, as centenas de eucaliptos ali existentes! Pareciam diabos, saídos da noite negra, para me agarrarem! Imediatamente, sem que tivesse tempo de fechar a boca, aberta de espanto, seguiu-se o ribombar de um potente trovão que, fazendo estremecer tudo o que se encontrava junto a mim, fez também com que deixasse cair a chávena do café, acabado de tomar, que conservava na mão. No meio de muita estupefação e alguma atrapalhação, pretendia apanhar os cacos da chávena, quando me pareceu ouvir um grito estridente, proferido por voz feminina, vindo do eucaliptal existente do outro lado da estrada, defronte da casa onde moro. Fiquei meio apavorado! A sensação de surpresa tida com o raio, o susto provocado pelo trovão, e agora aquele grito!... Era um pouco demais para a minha provecta idade! Até porque sempre aquela mole de eucaliptos – que à luz do relâmpago se me apresentavam com contornos fantasmagóricos – me havia causado algum pavor e
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aquele Agosto vivia-se um verão atípico. Tão depressa estava um calor tórrido, com o termómetro atingindo os trinta e cinco graus celsius, como no dia seguinte já tínhamos temperaturas da ordem dos vinte e dois graus. Os mais antigos diziam nunca terem visto uma coisa assim! Havia até aqueles mais pessimistas que iam dizendo estar próximo o fim do mundo. A estes, respondia eu, rindo: – O mundo vai acabando, todos os dias, para aqueles que da lei da morte se vão libertando, como diria o poeta! Naquela sexta-feira, treze, estava sentado num banco, no meu jardim, meditando sobre as alterações climatéricas e as suas origens, quando o relógio, da torre da igreja da Vila, bateu as doze badaladas da meia-noite. Desperto das minhas lucubrações, monologuei: – Eia pá! Já tão tarde? Nem dei pelo tempo passar! Levantava-me disposto a entrar em casa, quando 236
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muita curiosidade. «O que será que se encontra bem no interior do espaço onde existe o eucaliptal?», perguntava-me eu, bastas vezes, sem encontrar resposta. «Não há dúvida que aquele arvoredo tão fechado, quase impenetrável, é algo que me causa desconforto! Aqui tão perto, mas ao mesmo tempo tão misterioso!» Voltava eu a meditar! Ao pensar nisto, vinha-me novamente à ideia o grito ouvido!... «Mas, seria que tinha ouvido mesmo um grito? Ou tudo não passou de uma grande confusão provocada por todas as emoções por que passei naqueles momentos?» Matutava, desconfiado! Nisto, ouvi a voz da minha mulher, vinda lá de dentro, perguntando-me se não me ia deitar.
EXCERTO 2
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esse dia ao fim da tarde, quanto o Inspetor Teixeira chegou a casa, fui todo afadigado dar-lhe a notícia do que havia ocorrido. Qual não foi o meu espanto quando ele me disse: – Estou completamente ao corrente, o caso até já me foi entregue! – O quê? – Perguntei, incrédulo. – Isso é o que se chama trabalhar rápido! Ah, pois! E até já fui ao local, com dois colegas, onde fotografámos e inspecionámos tudo!
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– E então, o que pensam? Foi crime? E quem o cometeu? – Oh! Oh! Vamos devagar! As investigações ainda agora começaram. Daqui até haver uma ideia formada, ainda vai passar muita água debaixo da ponte! – Quê! Qual ponte? Estás a gozar comigo? – Perguntei, sem me aperceber que aquilo era uma frase usada para dizer que ainda faltaria muito tempo. O Teixeira, rindo-se, disse-me: – Tenha calma, que a coisa está complicada. Não vai ser fácil descobrir quem matou aquela mulher no meio do eucaliptal. Se é que ela foi morta ali! Também podem ter trazido o corpo, já morto, de outro lado. – Olha! Tens razão! Não tinha pensado nisso! Mas... pensando melhor! Não pode ser! Então, o grito que eu ouvi?
– Pode não ter ouvido grito nenhum! Então não diz que foi no meio do trovão? Pode ter sido uma ilusão! E já pensou: quem será aquela mulher? Temos de aguardar, porque até pode ser que apareça alguém a comunicar um desaparecimento!... – Dizia, meditando. – Olhe, sabe que mais? Vou jantar, que venho cheio de fome! Assim acabou a minha conversa com o inspetor, que me deixou ainda com mais dúvidas. Pelo que sabia, as investigações iam decorrendo. Até já tinha, por duas vezes, visto carros da PJ estacionados junto ao eucaliptal. Era sinal que andavam a tentar reunir as pontas do véu. O Inspetor Teixeira... Esse não me dizia nada! Havia o sigilo profissional! E eu, embora cheio de curiosidade, – não é que seja cusco. Não, nada disso!... – ia, pacientemente, aguardando que me dissesse algo.
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Decorrido cerca de um mês, numa ida à farmácia da Vila, local onde, por mal dos meus pecados, sou cliente habitual, ouvi as pessoas comentarem que se continuava sem saber quem era o corpo encontrado. Que era uma pouca-vergonha! Se se tratasse de algum familiar do Presidente da Câmara, ou até do Presidente da Junta, já se saberia há muito tempo. Mas, porque se tratava de uma pobre desconhecida, as autoridades não queriam saber, etc, etc. Revoltado com a conversa e pensando «É sempre a mesma coisa! Critica-se por tudo e por nada!», resolvi dizer ao Inspetor Teixeira, assim que o visse, o que fiz nesse dia à noite: – Ó Teixeira! Olha que, na Vila, já se diz que vocês não estão a fazer nada para descobrirem o que aconteceu nos eucaliptos!
– Ora, não se preocupe! Temos a consciência tranquila e estamos a fazer o nosso trabalho! – E mais não me disse! Que grande espiga! Não conseguia arrancar-lhe nada! Passadas três semanas, estava no meu jardim, observando a minha mulher a tratar das plantas, – que é uma obsessão que ela tem, – quando comecei a ouvir, dentro dos eucaliptos, aquelas vozes que, pela entoação da lengalenga, me faziam lembrar um ritual satânico, um exorcismo diabólico ou um outro culto qualquer ao rei das trevas; assemelhando-se às já ouvidas noutras vezes, antes do aparecimento do corpo. Ali estavam eles (?!). Falavam alto e em surdina, parecendo uma reza, incompreensível! Aquilo mexia com os nervos, arrepiava!
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ESTÊVÃO DE SOUSA Nasceu em Lisboa, em 1937. Já aposentado, dedicou-se à escrita. É autor literário das seguintes obras: «Nesta Terra Abençoada» (2014), «Tráfico no Rio Geba» (2014), «Irina – A Guerrilheira» (2015), «Rapto em Londres» (2017), «Romance em São Tomé» (2017), «Pedaços de Mim» (2017), «Contos, Estórias & Companhia» (2018), «A Profanação do Túmulo» (2018) e «Pânico no Subúrbio» (2018). Tem trabalhos publicados em diversas obras colectivas. Da Colecção Sui Generis, participou nas antologias «A Bíblia dos Pecadores», «O Beijo do Vampiro», «Saloios & Caipiras», «Fúria de Viver», «Crimes Sem Rosto», «Devassos no Paraíso», «A Primavera dos Sorrisos», «Os Vigaristas», «Sinfonia de Amor» e «Luz de Natal». Perfil no Facebook: www.facebook.com/francisco.estevao desousa
REQUIEM DE UM AUTOR Há uns meses, lendo uma outra revista da lusofonia, depareime com uma entrevista ao autor José A. Azevedo, também, como eu, de provecta idade. Dizia aquele nosso companheiro de lides literárias que, apesar de a memória já ir faltando, o ouvido ficando duro e os olhos cansados, mantinha, ainda assim, os neurónios bem alinhados, pelo que continuava a fazer da escrita o seu hobby predileto, o qual continuava a fazer com muito amor e carinho. Pois, meu amigo, como eu o compreendo! É o tempo na sua inexorável marcha! Sem me considerar um escritor, mas tão-somente um modesto autor, visto achar que um escritor é aquele que, fazendo da escrita a sua profissão, necessariamente se encontra muitos furos acima daquilo que sou capaz. Ainda assim, não me tenho privado do prazer que sinto quando crio algo de novo. Considero que a escrita, ao possibilitar dar largas à imaginação, permitindo que o autor crie, por vezes, fantásticas estórias, contos e sátiras, dando vida a bizarros, ou não, personagens, é para o ficcionista algo de belo e indiscritível.
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Pode a obra acabada não ser um best-seller mas nada, ao seu criador, dará mais prazer que, após a sua conclusão, ver bem expresso o fruto da sua imaginação. A satisfação indescritível experimentada pelo autor, ao ver no papel todo o enredo por si imaginado, é algo que só
Pode a obra acabada não ser um best-seller mas nada, ao seu criador, dará mais prazer que, após a sua conclusão, ver bem expresso o fruto da sua imaginação. A satisfação indescritível experimentada pelo autor, ao ver no papel todo o enredo por si imaginado, é algo que só o mesmo pode descrever! Encontrando-me no ocaso da vida, já com pouco para dar à nobre arte da escrita, não posso deixar de me regozijar com tantos e tão bons autores que vão surgindo, o que, só por si, é sinónimo de que a arte de Camões, A. Dumas, Jorge Amado, Almeida Garrett e tantos outros, continuará sempre prestigiada e insigne. Se com as minhas modestas palavras puder servir de incentivo a todos quantos nos dão o prazer dos seus escritos, para que nunca desanimem e com o seu contributo continuem a valorizar esta nobre causa cada vez com maior empenho, elas aqui ficam: FORÇA, E QUE AS MÃOS VOS NÃO DOAM!
o mesmo pode descrever!
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SG MAG #01 | JAN 2017
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CONTO
PARA UM BEM MAIOR MANUEL AMARO MENDONÇA Nasceu em São Mamede de Infesta, reside no concelho de Matosinhos e é licenciado em Engenharia de Sistemas Multimédia. Tem três livros publicados pela CreateSpace e distribuídos pela Amazon: «Terras de Xisto e Outras Histórias» (2015), «Lágrimas no Rio» (2016) e «Daqueles Além Marão» (2017). Tem contos de sua autoria incluídos em mais de uma dezena de obras colectivas de várias editoras. Participou em quatro antologias Sui Generis: «A Bíblia dos Pecadores», «Saloios & Caipiras», «Sexta-Feira 13» e «Crimes Sem Rosto». Foi distinguido com o 3º Prémio no 6º Concurso Literário da Papel D’Arroz Editora e com o 1º Prémio no 7º Concurso Literário da mesma editora. Mantém um blogue, onde se apresenta publicamente e publica alguns dos seus trabalhos. Blogue do Autor: http://manuelamaro.wixsite.com/autor
“A capela do São Salvador, no alto da pequena colina sobranceira à aldeia, tinha sempre uma boa maquia na caixa de esmolas. Ainda por cima, com a festa do Santo na próxima semana. Já se viam muitos crentes a levar as velas e as moeditas que podiam dispensar, para pedir uma bênção, ou ajudar os pobres... quem mais pobre do que ele? Ficavam os cobres melhor para si do que com o “papa-hóstias” do padre Figueira, que só sabia beber tinto e “larpar” os salpicões a que deitasse a mão. De resto, quem é que alguma vez tinha
Perfil no Facebook: www.facebook.com/manuel.amarome ndonca
recebido algum tostão dos que lá se punham para os pobres? Ele é que não! Pelo menos até hoje...”
POR MANUEL AMARO MENDONÇA
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astião estava desesperado. A vida não lhe corria nada bem e o pouco que ganhara, de “carrejão” durante a vindima, fora-se em cartas e copos na taberna do Barnabé. Não queria “ouvir” a Maria a “chagar-lhe” a paciência por causa do dinheiro uma vez mais. Olhou para as calças remendadas e puídas, que terminavam quatro dedos acima dos socos de madeira. Precisava de comprar umas calças, ou muito em breve ficaria com as ceroulas à mostra. Já há muito que congeminava um plano, para dar a volta à sua situação financeira, mas não se atrevia a executá-lo: a capela do São Salvador, no alto da pequena colina sobranceira à aldeia, tinha sempre uma boa maquia na caixa de esmolas. Ainda por cima, com a festa do Santo na próxima semana. Já se viam muitos crentes a levar as velas e as moeditas que podiam dispensar, para pedir uma bênção, ou ajudar os pobres... quem mais pobre do que ele? Ficavam os cobres melhor para si do que com o “papa-hóstias” do padre Figueira, que só sabia beber tinto e “larpar” os salpicões a
que deitasse a mão. De resto, quem é que alguma vez tinha recebido algum tostão dos que lá se punham para os pobres? Ele é que não! Pelo menos até hoje... Sorriu de si para si enquanto deitava nova olhada pela rua de terra batida que atravessava a aldeia, onde não se via vivalma. Era noite e as nuvens de trovoada acumulavam-se sobre o vale desde o fim da tarde, o ribombar distante anunciava a possibilidade de uma forte chuvada para breve e todos na povoação se recolheram cedo para a ceia e para dormir, que amanhã seria um novo dia de duro trabalho. Disfarçadamente, caminhou pela rua escura, sem acender candeia ou luminária, não fosse verem-no por lá. Fracos fios de luz escoavam-se pelas generosas frestas das portas das casas e aqui ou ali ouviam-se as vozes dos adultos que se não haviam ainda deitado. Passou em frente à pequena igreja e benzeu-se rapidamente, feliz por perceber que nem o “Manel maluquinho”, que andava sempre pela praça, 244
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estava à vista naquele dia. Não apareceria de repente com a sua voz distorcida e gutural a pedir «Dá-me uma moedinha pelas almas!». Apressou o passo e lançou-se no caminho processional que subia ao santuário, oculto pela sombra das árvores, esperando não sujar os socos nalgum “presente” deixado por cavalo ou vaca. Chegado ao alto do monte, a visão era ainda mais impressionante: os céus refulgiam com o luar que brilhava em volta das nuvens negras que pairavam sobre o vale. A espaços, vibravam clarões, brevemente respondidos por um retumbar longínquo. A pequena capela estava obviamente fechada e Bastião abanou a porta com força, fazendo-a estremecer, mas não ceder. Resmungou baixinho... não tinha pensado bem naquilo, devia ter trazido um ferro...
O exíguo espaço, que pouco mais daria do que para umas dez pessoas em pé, estava iluminado por uns quantos cotos de velas, ardendo nos suportes dedicados às promessas. A luz tremia ainda, perturbada pelo rompante da invasão, dando ao local um aspeto ainda mais fantasmagórico.
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Deu a volta ao edifício, espreitando pelos buracos de introdução das esmolas; a luz bruxuleante das velas, no interior, prometia-lhe um pouco de luz sem levantar suspeitas... pelo menos assim que entrasse. Tornou à entrada e avaliou a enorme fechadura de ferro, comida pelos anos... Ergueu o pé e desfechou uma “patada” bem no meio da porta, sendo recompensado com a sua abertura de par em par, sem mais resistência. Felicíssimo, saltou para o interior e fechou-se rapidamente. O exíguo espaço, que pouco mais daria do que para umas dez pessoas em pé, estava iluminado por uns quantos cotos de velas, ardendo nos suportes dedicados às promessas. A luz tremia ainda, perturbada pelo rompante da invasão, dando ao local um aspeto ainda mais fantasmagórico. Na parede fundeira, uma espécie de altar e a cruz com o Crucificado em agonia, que era usada com muita devoção nas procissões, ocupavam quase todo o espaço. Dos lados, prateleiras com imagens de santos de vários tamanhos velavam. Entre elas, uma imagem de São Pedro olhava-o
acusadoramente, empunhando a chave com uma mão e apontando o céu com a outra. Ajoelhou-se frente ao altar e pediu perdão por aquilo que estava prestes a fazer: «Senhor Jesus perdoe-me pelos meus pecados e pelos maus tratos que dou à minha mulher, que é uma santa... às vezes... outras vezes, torna-se o diabo em forma de gente e eu tenho que lhe “arriar” para a “pôr nos eixos”. Prometo que não volto a beber tanto... e que só vou jogar... uma vez por semana... ou duas.» Usou os seus melhores argumentos para justificar que o facto de se ir apoderar das esmolas mais não era do que encaminhá-las para quem realmente precisa e para um bem maior, que não o engrandecimento da já enorme “pança” do padre Figueira, «Que o Senhor Jesus bem sabia como ele era». Assim que achou suficiente, agradeceu diversas vezes, benzeu-se e beijou os pés da sacra imagem, após o que dedicou a atenção ao aloquete da caixa das esmolas. As letras ingenuamente escritas «Esmola para as Almas» tremeluziam como 246
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que recordando o sacrilégio que ia cometer. Estacou com um ruído que lhe pareceu ouvir... gotas de chuva começavam a cantar no telhado. Recomeçou a avaliação e tentou abrir o fecho com a faca cheia de bocas, sem sucesso. Agarrou nas imagens dos santos e pousou-as cuidadosamente no chão, em seguida apoderouse da prateleira onde elas estavam e bateu com ela sobre o aloquete. À segunda pancada partiu-se a tábua, mas o fecho também cedeu e uma torrente de moedas negras, algumas muito maltratadas, choveu aos pés do salteador. Rapidamente iniciou a recolha para o saco de lona que trouxera. Eram basicamente moedas de dez e vinte réis, mas demorou-se uns segundos a mirar uma ou outra de cinquenta réis e os olhos brilharam quando achou dois tostões, duas de cem réis e mais três meias patacas, de cento e sessenta réis cada.
Agarrou nas imagens dos santos e pousou-as cuidadosamente no chão, em seguida apoderou-se da
prateleira onde elas estavam e bateu com ela sobre o aloquete. À segunda pancada partiu-se a tábua, mas o fecho também cedeu e uma torrente de moedas negras, algumas muito maltratadas, choveu aos pés do salteador.
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Encolheu-se. Pareceu-lhe ouvir alguém lá fora e ficou em silêncio. Uma moeda retardatária tilintou em cima das outras. Empunhou a faca e espreitou para a escuridão no exterior... a chuva caía copiosa, o vento soprava e relâmpagos longínquos rasgavam o céu. Não se era possível ver a mais de dez metros. Regressou e apressou-se a recolher o saque. Deitou um último olhar aos santos; São Pedro continuava a olhá-lo acusadoramente, ameaçando-o com a justiça divina. Voltou a imagem para a parede e pôs o saco às costas. Benzeu-se para o enorme crucifixo. Uma forte rabanada de vento escancarou as portas e todas as velas se apagaram. O rosto de Cristo parecia refulgir com a luz dos relâmpagos.
«Perdão, meu Deus», gemeu estarrecido, antes de sair para a intempérie. Mal deu dez passos, quando deparou com uma aparição, coberta da cabeça aos pés, que lhe barrava o caminho e estendia as mãos. Soltou um grito estrangulado e caiu para trás, petrificado, tilintando centenas de moedas pelo chão empedrado. O seu rosto numa máscara de terror focou o céu iluminado pela trovoada, enquanto a assombração se debruçava sobre ele. Com os olhos esbugalhados, inspirou atabalhoadamente três vezes, e depois parou para sempre... A sinistra e andrajosa aparição, coberta com uma grosseira lona, inclinou-se para o corpo sem vida e exclamou: «Tostãozinho pelas Almas!»
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LANÇAMENTO
UM ANO...
365 POEMAS Durante o ano 2017, Lucinda Maria decidiu escrever todos os dias um poema, que partilhou sempre na sua página do Facebook. Esses poemas foram agora compilados naquele que é o 6º livro da autora, uma autêntica “Bíblia de Poesia” publicada com a chancela da Pastelaria Studios Editora.
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al iniciou o ano 2017, a autora Lucinda Maria propôs a si mesma o desafio de escrever um poema por dia e publicá-lo na sua página do Facebook. Um desafio que cumpriu à risca e que resulta numa belíssima obra poética, com todos os poemas escritos em 2017 incluídos ao longo das suas 422 páginas, intitulada «Um Ano... 365 Poemas» e editada pela Pastelaria Studios Editora, com o lançamento agendado para o dia 15 de Dezembro de 2018, na Biblioteca Municipal de Oliveira do Hospital. Diz a autora na contracapa do livro: «SONHO?... LOGO, EXISTO! É o título do meu último livro [Sui Generis, 2017]. É uma constante da minha existência. Penso mesmo que, sem sonhos, a minha vida já teria colapsado. Apesar de todos os pesares, apesar dos escolhos com que me tenho deparado no caminho, ainda não desisti de viver. Vivo, porque sonho. Sonho, porque vivo. 253
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Em qualquer princípio de ano, fazemos planos, auguramos concretizações, pensamos em mudanças... Assim aconteceu no princípio de 2017. Propus a mim própria um desafio: escrever um poema por dia. Fui cumprindo sempre! Mal sabia eu o quão nefasto seria este ano... as perdas irreparáveis que iríamos sofrer... as mágoas que se inculcariam nas almas de todos nós... numa palavra: sofrimento! Os dias sucediam-se... os meses foram passando vertiginosamente. Fiz mesmo 365 poemas! Várias formas poéticas, mas preferencialmente sonetos. No fundo, constituem um documento. A par de experiências pessoais, sensações negativas ou positivas que fui experimentando, reportam vários acontecimentos que disseram/dizem respeito a todos nós. Vivemos horas dramáticas que, em muitos deles, são documentadas. No fim, a esperança e mais um sonho: a publicação em livro, o maior de todos. Agora, a concretização... ele aí está para ser lido, degustado e espero que gostado! Mais uma vez, é um pedaço de mim, mas posso dizer que, neste caso particular, é um pedaço de cada um de nós, oliveirenses. É bom sonhar, mas é melhor ainda conseguirmos concretizar os nossos sonhos!» E finaliza com este (pequeno) poema:
Numa catarse íntima de emoções... Poemas de mel exalando seu cheiro, Testemunho de tristezas e alegrias, Mas plenos de sonhos e aspirações Segundo Maria da Graça Silva, Vereadora da Cultura de Oliveira do Hospital e prefaciadora do livro, «UM ANO... 365 POEMAS é mais uma obra onde Lucinda Maria se desafia: escrever um poema por dia! É, sem dúvida, uma clara evidência da grande paixão pela escrita e pelo seu concelho, onde se confundem estes dois amores e se manifesta a sua permanente necessidade de viver no mundo das palavras para extravasar sentimentos, acontecimentos e estados de alma...» E remata: «Não posso deixar de salientar que este livro é o “Maior” de todos, não só pelo número de páginas, mas por ter sido escrito num ano extremamente difícil para todos os oliveirenses, num momento de que não há memória no nosso concelho: o incêndio de 15 de Outubro de 2017. Neste livro, a nossa autora deixa transparecer o seu sofrimento, a dor da perda. Pincelando com palavras de esperança, deixa registado o renascer de Oliveira do Hospital.»
UM ANO... 365 POEMAS Autora: Lucinda Maria Editora: Pastelaria Studios Nº de Páginas: 422 páginas 1ª Edição: Dezembro 2018 ISBN: 979-989-54258-0-8 Depósito Legal: 449825/18 Encomendas através da página da autora: https://www.facebook.com/lucindamaria.brito
A poesia percorreu um ano inteiro, Espalhando-se e preenchendo dias,
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CONTO
E OS SINOS CHORAM... NICOL PECELI Nascida na Roménia, em 1981, cedo despertou curiosidade pela escrita, tendo elaborado o primeiro poema aos 6 anos, que foi escrito pelas mãos da avó. Em 2007, partiu da sua Roménia natal, rumo a Portugal. Em 2014, editou o seu primeiro livro: «No Fogo das Palavras». Participou nas antologias «Vendaval de Emoções», «Graças a Deus!» e «Fúria de Viver», da Colecção Sui Generis. Apaixonada pela poesia e pela divulgação da sua escrita, criou uma página com o título do seu livro. Ainda a ampliar o seu leque linguístico, continua a aprender e o prazer pela escrita alimenta-lhe o coração com um novo livro: «O Segredo de Uma Só Palavra... Mulher!» Perfil no Facebook: www.facebook.com/nicol.peceli
“O velho relógio, no seu grande esplendor, mais uma vez marcava meio-dia e meia hora. Estremecendo o silêncio, os sinos choram o fim da missa. E choram, choram bem alto, por mim, por ti, choram neste dia santo trazendo-nos pedaços de memórias que apontam para a triste realidade. E choram bem alto... por mim, por ti. De repente, as portas abrem-se e um rapazinho, que andaria pelos quatro aninhos, precipitou-se na saída cantarolando, em voz alta, uma canção de Natal. Ao ver a pequenina, tentou impressionála saltando com velocidade os três degraus da igreja, mas acabou por tropeçar no último. Pela primeira vez um sorriso iluminou o rosto da menina.” POR NICOL PECELI
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Encostada a uma das paredes da igreja uma pobre menina, que não passava dos cinco anos, segurava numa das suas pequenas mãos um pacotinho de bolachas. O vento ardia-lhe os lábios já secos e os olhos de um azul inocente carregavam uma tristeza assombrada. O cabelo sujo, cor castanho-claro, desfazia-se em várias ondas como se tentasse proteger-lhe o rosto, redondo e pálido, daquele frio que se escondia por trás dos raios de Sol. A camisa suja, com a imagem estampada de um helicóptero, talvez dois números abaixo da sua medida, definia bem aquele corpinho frágil. Umas calças cor de laranja, rotas e miseráveis, cobriam-lhe as pernas até um pouco mais abaixo dos joelhos, enquanto um par de ténis vermelhos, já podres, revestiam-lhe os minúsculos pezinhos. Conseguia sentir-lhe a dor por trás daqueles trapos que lhe cobriam o corpo, por trás daqueles olhinhos que transpareciam as vivências da alma. Instintivamente, os olhos inclinaram-se para aquele pacotinho que segurava nas mãos. Tentava abstrair-se daquela revolta dorida, sentindo o estômago a desfazer-se de tanta fome. Um pensamento silencioso entristecia-lhe o olhar. Tudo à volta se desmoronava, numa sensação de vazio. O velho relógio, no seu grande esplendor, mais uma vez marcava meio-dia e meia hora. Estremecendo o silêncio, os sinos choram o fim da missa. E choram, choram bem alto, por mim, por ti, choram neste dia santo trazendo-nos pedaços de memórias que apontam para a triste realidade. E choram bem alto... por mim, por ti.
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ouco faltava para a missa acabar, neste dia de segunda-feira. Não era uma segundafeira qualquer, mas sim a segunda-feira que antecedia o Natal. Talvez, para muitos de nós, aquela segunda oportunidade... 260
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Conseguia sentir-lhe a dor por trás daqueles trapos que lhe cobriam
De repente, as portas abrem-se e um rapazinho, que andaria pelos quatro aninhos, precipitou-se na saída cantarolando, em voz alta, uma canção de Natal. Ao ver a pequenina, tentou impressioná-la saltando com velocidade os três degraus da igreja, mas acabou por tropeçar no último. Pela primeira vez um sorriso iluminou o rosto da menina, mas ao ver o miúdo estendido no chão abeirou-se dele para o ajudar. «Estou bem», balbuciou o rapaz, tentando sacudir as calças, já rotas devido à queda. «Ainda bem...», sussurrou a pequena, «pensei que te tinhas aleijado», disse com uma voz aguda, virando as costas, procurando voltar para o seu lugar. «Espera, espera!», pediu o rapazinho, «Toma!». Com a inocência que só uma criança pode ter, tirou o seu casaco e colocou-o por cima dos ombros da menina. Era pequeno de mais, na verdade, mas o gesto do miúdo
o corpo, por trás daqueles olhinhos que transpareciam as vivências da alma. Instintivamente, os olhos inclinaram-se para aquele pacotinho que segurava nas mãos. Tentava abstrair-se daquela revolta dorida, sentindo o estômago a desfazer-se
de tanta fome. Um pensamento silencioso entristecia-lhe o olhar. Tudo à volta se desmoronava, numa sensação de vazio.
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levou a que a rapariga lhe fosse dar um abraço. Pareceu que todas as forças da menina se reuniram naquele abraço forte. A avó do menino, saindo da igreja acompanhada das suas vizinhas, ficou aterrorizada ao ver a imagem que tinha pela frente. «Miguel, Miguel, larga essa criatura! Está suja de mais. E o teu casaco? Meu Deus... Coitado, ela tirou-te o casaco!» Assustada e com os seus olhinhos em lágrimas, a miúda devolveu o casaco ao rapazote. A avó, furiosa, com passos rápidos, aproximou-se deles. A miúda, cheia de medo e de tão assustada que estava, não se mexia, mais parecendo uma estátua. Apercebendo-se de que a avó não ia permitir que ele ficasse sem casaco, tirou rapidamente do bolso um pequeno embrulho. «Toma! É para tu comeres! É a minha sande!» O tom de voz já não era o de uma criança, mas sim de um ser humano,
que não precisava da idade para sentir. Num gesto instintivo a miúda escondeu a sande no bolso, o que não passou despercebido à avó que agora estava mesmo ao lado deles. «Devolve já o que roubaste, miserável que és! A tua mãe sabe por onde andas e o que fazes? Meu Deus, rapariga, há quanto tempo não tomas banho? E essas roupas?» O olhar da menina não se desprendia do chão – sem força para encarar a senhora que a inquiria e acusava – até ao momento em que ouviu falar o nome da sua mãe. O rosto endureceu-se-lhe e os olhos, já tristes, ganharam uma dor desumana. Reunindo toda a coragem, num grito de alma, do mais fundo do seu sentir, disse: «Minha senhora, nós não temos em casa nem água nem luz. A minha mãe adoeceu há meses, e teve que deixar de trabalhar. Ontem à
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ja que visto, e hoje vou lavá-la quando chegar a casa. Fiquei por aqui na esperança de conseguir obter uma pequena prenda para levar à minha mãezinha. Tenho aqui esta sande do seu neto e um pacote de bolachas. Ela vai ficar feliz, eu sei, pois ela não come desde ontem. Por favor senhora, por favor, tenha dó!» Os olhos da menina estavam cobertos de lágrimas. Emocionado, o rapaz pegou na mão da avó e, olhando-a nos olhos, disse: «O senhor padre disse para amarmos o próximo. Avó, hoje podes amar a minha amiga, por favor?» ... E os sinos choram. Choram por nos chamar... E choram, choram bem alto, por mim, por ti. Choram neste dia santo trazendo-nos pedaços de memórias que nos apontam para a triste realidade. E choram bem alto, por mim, por ti.
noite ela quis dar-me banho, mas estava sem forças e foi descansar, mas eu limpei-me sozinha, eu consegui. O cheiro que está a sentir é da roupa su-
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ÓBITO
TERESA QUEIROZ TEXTO DE ISIDRO SOUSA PUBLICADO NO FACEBOOK 6 DE OUTUBRO DE 2018 _________________________ os choques, as desilusões, os desentendimentos e o forte e inesperado conflito que daí surgiria. Foi na sequência desse conflito, já em finais de 2015, que eu, defendendo sempre o meu projecto, «A Bíblia dos Pecadores», viria a arregaçar as mangas para criar a Sui Generis. Se não fosse esse conflito, que me injectou as forças necessárias, fazendome remar sem hesitar contra ventos e marés, não sei se algum dia teria instituído a Sui Generis... Houve coisas boas, muito boas, entre mim e Maria Teresa Queiroz... e houve coisas más, muito más, que não gostaria de relembrar. Na sequência das coisas más, houve um corte total de relações, um afastamento radical, definitivo, e surgiram-me coisas melhores. Com o passar do tempo, o terreno das mágoas e da desilusão foi ganhando insignificância. Quase três anos volvidos... olhando para trás recordo mais, muito mais, as «coisas boas» do que as «coisas menos boas». Apesar de tudo, nutria uma certa admiração por esta mulher. Descanse em paz, Maria Teresa Queiroz.»
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á notícias que me deixam perplexo... sem palavras... e esta é uma delas. Acabei de saber que Maria Teresa Queiroz faleceu. Foi através dela que descobri este «nosso pequeno/grande universo literário», participando pela primeira vez numa obra colectiva («Seduzme», 2014) da Pastelaria Studios, a principal editora do Grupo Múltiplas Histórias (GMH). Seguiram-se mais participações em colectâneas desta e das outras três editoras que compunham o Grupo. Seguiu-se uma honrosa distinção (classificado em 2º Lugar), em Julho de 2015, num dos concursos literários da Papel D'Arroz. Seguiu-se o convite para ser Agente Literário do GMH e, principalmente, para dinamizar a Silkskin Editora, coordenando projectos literários... funções que desempenhei com gosto até Novembro de 2015. E seguiram-se
Maria Teresa Queiroz era CEO do Grupo Múltiplas Histórias, que congregava quatro editoras: Pastelaria Studios Editora, Papel D’Arroz Editora, Orquídea Edições e Silkskin Editora
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POESIA
MARY ROSAS MARY ROSAS Venezuelana, reside em Portugal desde a sua infância. Não se considera escritora, mas gosta de escrever e frequenta sessões de poesia. Da Colecção Sui Generis, é co-autora das antologias «Tempo de Magia», «Sinfonia de Amor» e «Luz de Natal». Perfil no Facebook: www.facebook.com/mary.rosas.984
CELEBRAÇÃO Natal não é só celebração Festa e alegria. São, essencialmente, actos de bondade Com sinceridade e amor no coração. Tempo frio, Roupa quentinha, muitos agasalhos. A lareira acesa Aquece-nos a casa e a alma. Dias calorosos Muita emoção Encontros e reencontros Convívios e jantares Reunião de amigos e familiares. Natal Festa da família, dos amigos Dos sorrisos E confraternização. Que todos tenham um excelente Natal É uma das coisas boas da nossa vida, afinal.
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NOVAS EDIÇÕES
SINFONIA DE AMOR Uma antologia Sui Generis dedicada ao amor. Reúne, ao longo de 300 páginas, contos, crónicas, cartas e poesias de 75 autores sobre todas as formas de amor.
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infonia de Amor é uma obra colectiva, organizada e coordenada por Isidro Sousa para a Colecção Sui Generis e editada com a chancela Euedito, que reúne textos em prosa e poesia de 75 autores lusófonos sobre o amor.
O amor é uma emoção ou um sentimento de carinho e demonstração de afecto que se desenvolve entre seres que possuem a capacidade de o demonstrar. Provoca entusiasmo por algo e interesse em fazer o bem, motiva a necessidade de
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protecção e manifesta-se de diferentes formas: amor materno ou paterno, amor fraterno, amor físico, amor platónico, amor à vida, amor pela Natureza, amor pelos animais, amor altruísta, amor incondicional, amor-próprio, etc. O termo deriva do latim “amore”, palavra que tinha o mesmo significado que actualmente tem: sentimento de afeição, paixão e grande desejo. Mas definir o que é o amor não é tarefa fácil, pois pode representar algo distinto para cada pessoa. Há, de facto, diversas definições e tipos de amor, que diferem de caso para caso, dependendo das pessoas e circunstâncias. O amor físico, por exemplo, representa o amor entre casais, sentimento que envolve uma forte relação afectiva e, em geral, de natureza sexual. O amor a Deus demonstra uma ligação de carácter religioso, um sentimento de devoção e adoração. Já o amor proibido acontece quando o relacionamento entre duas pessoas não é permitido. Muitas pessoas expressam os seus sentimentos mais profundos através de mensagens de amor, declarações de amor ou poemas de amor, que compartilham com pessoas especiais. E não podemos olvidar que o amor tem também um papel social, alimentando outras acções e sentimentos como a solidariedade, sendo igualmente um dos temas mais importantes de várias formas de arte. Esta obra colectiva procurou abranger todos os tipos de amor, em diferentes géneros literários. E embora o amor físico predomine na maioria dos textos, resultou numa belíssima antologia que inclui contos, cartas, crónicas e poemas sobre o amor, diversas formas de amor, uma autêntica Sinfonia de Amor construída por 66 autores lusófonos contemporâneos, cujos textos se mesclam com (outros) textos de 9 autores clássicos, tais como Florbela Espanca, Machado de Assis, Fernando Pessoa, Mário Quintana, Olavo Bilac, entre outros. Este livro já se encontra disponível na livraria online Euedito, na Amazon, na Libros.cc e noutras plataformas de distribuição digital. Se preferir, pode solicitá-lo à Sui Generis por e-mail ou pelo Facebook. Organização: Isidro Sousa. Autores: Alberto Caeiro, Aldir Donizeti Vieira, Alsoupe, Amélia M. Henriques, Anderson Furtado, André Magalhães, Angelina Violante, Anna Civolani, Auridea Moraes, Balthasar Sete-Sóis, Bhetty Brazil, Bocage, Caesar Charone, Caio Fernando Abreu, CAren DiLima, Carlos Viegas, Catarina Pedrosa, Cinthia Gonçalez, Clécio Azevedo, Cristina Sequeira, David Sousa, Diamantino Bártolo, Douglas Lobo, Eduardo Ferreira, Estêvão de Sousa, Fátima d’Oliveira, Fátima Soares, Florbela Espanca, Francisco José Pinheiro de Souza, Gilton Carlos, Irene Serrão, Isabel Martins, Isidro Sousa, Isolina Carvalho, Jeferson Sabran, Joaquim Matias, Jonnata Henrique, Jorge Gaspar, Jorge Pincoruja, Juliana Castro, Lenilson de Pontes Silva, Lira Vargas, Luciana Bessa, Lucinda Maria, Luís Cardoso, Luís Fernandes, Luís Vaz de Camões, Luiz A. G. Rodas, Machado de Assis, Maria Alcina Adriano, Maria Isabel Góis, Maria Lascasas, Mário Quintana, Marisa Luciana Alves, Marizeth Maria Pereira, Marli Voigt, Marta Maria Niemeyer, Mary Rosas, Olavo Bilac, Olímpia Gravouil, Paula Homem, Rodrigo Ortiz Vinholo, Rosa Marques, Sandra Ramos, Sara Timóteo, Simone Lima, Sónia Fernandes, Sónia Maio, Tayná Messi, Teófilo Braga, Tiago Sousa, Tito Lívio, Vidânia Macossa, Vieirinha Vieira, Wellington L. Barbosa Jr.
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REGULAMENTO
SOL DE INVERNO Uma Antologia Sui Generis dedicada ao Inverno. Submissão de textos, em Prosa e Poesia, até 10 de Março de 2019.
«Sol de Inverno» é um projecto literário que visa seleccionar textos dedicados ao Inverno, em Prosa e Poesia, de Autores Lusófonos, para publicá-los sob a forma de um livro, integrado na Colecção Sui Generis. Será considerado, no processo de selecção, qualquer género literário – conto, crónica, carta ou poesia – desde que os textos sejam dedi-
cados ao Inverno, ambientados no Inverno ou abordem, de algum modo, a mais fria estação do ano que (embora possa não ser do agrado de todos) traz também algum Sol... alguma luz às nossas vidas. Podem apresentar estórias fictícias ou textos reais: drama, romance, aventura, sátira, tragédia, comédia, carta, fábula, peça de teatro, 275
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Porque não existe obrigatoriedade de compra e contamos ter a obra finalizada até ao final desta estação (que agora decorre no Hemisfério Norte), o envio de textos para este projecto deverá ser feito no prazo de quarenta dias. Data limite: 10 de Março de 2019.
Contamos, então, com a sua participação em «Sol de Inverno». Leia o Regulamento e não hesite em contactar o Coordenador para dissipar qualquer dúvida que porventura possa existir. E bom trabalho!
REGULAMENTO | CONDIÇÕES DE PARTICIPAÇÃO
1. «Sol de Inverno» é um projecto literário integrado na Colecção Sui Generis, organizado e coordenado por Isidro Sousa, que visa seleccionar textos em Prosa e Poesia, escritos na Língua Portuguesa, de Autores Lusófonos que residam em qualquer parte do Mundo, independentemente das suas raças, crenças, filosofias de vida, orientações sexuais e identidades de género, para serem publicados num livro que deverá ter entre 100 e 300 páginas (mínimo e máximo). Só se aceitam participações que obedeçam a este Regulamento. Não é obrigatório que os textos sejam inéditos e a utilização do actual Acordo Ortográfico é facultativa.
lenda, biografia, policial ou ficção científica. Em poesia, podem apresentar poemas tradicionais, com ou sem rimas, ou prosa poética. É nosso objectivo organizar uma Antologia de Inverno, ou dedicada ao Inverno, com textos de todos os Autores Sui Generis – Autores que participaram (ou submeteram participações) em, pelo menos, uma Antologia Sui Generis, desde 2015. Neste projecto não existe a obrigação de os Autores Sui Generis adquirirem a obra finalizada, embora o possam fazer (se e quando desejarem). Novos Autores que enviem, pela primeira vez, participações para uma obra Sui Generis são bem-vindos – devendo estes adquirir, obrigatoriamente, um exemplar do livro finalizado.
2. O tema dos textos é o INVERNO, que agora decorre no Hemisfério Norte, ou a ambiência desta (a mais fria) estação do ano, podendo ser estórias fictícias ou textos reais, e o género literário fica ao critério dos Autores: conto, crónica, carta, fábula, lenda, poesia, prosa poética, drama, comédia, sátira, teatro, etc.
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3. Cada Autor pode apresentar 1 (um) texto – em Prosa ou em Poesia – com o mínimo de 1 (uma) e o máximo de 2 (duas) páginas A4. Se participar com Poesia, pode apresentar 1 (um) Poema que ocupe até 2 (duas) páginas A4 ou 2 (dois) Poemas com o máximo de 1 (uma) página A4 cada um – se participar com sonetos, pode apresentar 4 (quatro) sonetos. Pode ser considerada a participação de um Autor nas duas modalidades – Prosa e Poesia – e a aceitação de um texto em prosa (conto) que ultrapasse 2 páginas A4, mediante comunicação do Autor e acordo prévio. Os textos, já revisados pelos Autores, estão sempre sujeitos a uma revisão final efectuada pela Sui Generis. Forma de envio: exclusivamente por email, em ficheiro Word anexado ao email, com letra Times New Roman, ou Arial, tamanho 12, espaçamento simples entre linhas e parágrafos. Rejeitam-se formatos de apresentação que sejam diferentes do Word.
sunto, até ao dia 10 de Março de 2019. Os Autores podem assinar os textos com Nome ou Pseudónimo, devem declarar no corpo do email que aceitam as condições do Regulamento (caso contrário, as participações serão desconsideradas) e enviar uma nota biográfica, até 5 linhas, uma fotografia para efeitos de divulgação e contacto telefónico. Na nota biográfica deve ser mencionado, obrigatoriamente, o ano de nascimento e a localidade ou cidade onde reside. O Organizador reformulará as notas biográficas que ultrapassem o limite de 5 linhas e ignorará qualquer informação pessoal que as mesmas possam conter; privilegiará somente, para efeitos de publicação, descrições, gostos ou hobbies do Autor, ano e local de nascimento, localidade onde reside e respectivas obras publicadas, individuais ou colectivas. 5. Cada Autor receberá uma breve comunicação acusando a recepção da sua participação, e a selecção dos textos será efectuada pelo Organizador, sendo o resultado global da selecção divulgado no prazo de duas semanas, após a data limite para recepção dos trabalhos. Não
4. Os textos devem ter títulos próprios (diferentes do nome da Antologia) e ser enviados para o email letras.suigeneris@gmail.com com a referência «SOL DE INVERNO» na linha de as-
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poderá haver mudanças ou correcções após a divulgação dos Autores seleccionados, assim como acréscimo ou remoção de conteúdo, salvo indicação contrária do Organizador. Todos os textos submetidos serão lidos e avaliados dentro do prazo determinado pela Sui Generis e todos os passos efectuados na produção desta obra colectiva (ou eventuais alterações ao Regulamento) serão sempre comunicados aos Autores. 6. Não é solicitado qualquer pagamento como taxa de inscrição para participar nesta Antologia, nem serão ofertados exemplares da mesma, e o Autor participante está ciente de que não receberá valores monetários referentes a direitos de autor – em contrapartida, tem o direito de comprar livros à Sui Generis por preços especiais, em determinados períodos definidos pela Sui Generis, sempre com desconto de 10% sobre o PVP. 7. A selecção de um texto ou poemas de novos Autores (que participam pela primeira vez numa Antologia Sui Generis) para integrar este projecto literário implica a aquisição de um exemplar da obra finalizada, com o referido desconto sobre o PVP indicado no Ponto 6. Excepção: Autores que participaram nalgum projecto Sui Generis anterior e adquiriram o respectivo livro não têm obrigatoriedade de comprar a obra finalizada. 9. O PVP (preço de venda ao público) da Antologia será definido após a paginação do livro, tendo em conta o número de páginas da obra a ser editada. Normalmente, as Antologias Sui Generis têm entre 200 e 300 páginas e os respectivos valores, com desconto incluído no PVP, situam-se entre 15,00 e 16,00 euros; no entanto, se uma próxima (esta ou outra) Antologia tiver menos de 200 páginas, o respectivo valor poderá ser inferior.
8. O pagamento do livro só será solicitado quando a sua produção estiver na fase final, mas antes de ser impresso, e deve ser feito até à data especificada pela Sui Generis. Se não recebermos qualquer notificação de um Autor seleccionado em tempo útil, ultrapassada a referida data entenderemos que esse mesmo Autor não teve interesse na sua participação – salvo se esse Autor se enquadrar na “excepção” salvaguardada no Ponto 7. 278
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10. Autores participantes em «Sol de Inverno» podem adquirir quantos exemplares pretenderem, sempre com desconto de 10% sobre o PVP, desde que os mesmos sejam adquiridos directamente à Sui Generis, e nos períodos definidos pela Sui Generis.
especificado no Ponto 10. 13. «Sol de Inverno» é uma Antologia Sui Generis, integrada na Colecção Sui Generis (fundada e dirigida por Isidro Sousa), e será publicada com a chancela Euedito. As Antologias Sui Generis, representadas pelo Organizador, e a editora Euedito não reservam a exclusividade ou os direitos dos trabalhos editados. Após a edição do livro, cada Autor pode utilizar livremente os seus textos noutras publicações que considere importantes.
11. O livro estará à venda na livraria online Euedito e será enviado para várias plataformas de distribuição digital (Amazon, Ingram, Kalaiki, Fnac, Libros.cc e Arnoia), através das quais poderá também ser adquirido, após a aprovação das mesmas. Exemplares adquiridos na livraria Euedito e noutras plataformas digitais não usufruem do desconto de 10% sobre o PVP nem de qualquer outra promoção feita pela Sui Generis.
14. Se porventura se verificar algum tipo de infracção na originalidade, autenticidade e autoria de um texto apresentado, será da exclusiva responsabilidade do respectivo Autor, ficando o Organizador e a Editora isentos de qualquer responsabilidade legal sobre a infracção cometida – nesse caso, o Autor em questão responderá perante a Lei por plágio, cópia indevida ou outro crime relacionado com direitos de autor.
12. O envio de qualquer texto para o email indicado no Ponto 4 implica (automaticamente) a aceitação de todas as normas deste Regulamento e a autorização dos direitos de publicação na antologia «Sol de Inverno», sem qualquer outra contrapartida além do desconto de 10% nos exemplares desta obra colectiva que os Autores possam querer adquirir, conforme
15. Recomenda-se que os Autores se mantenham atentos ao grupo «Antologias SG» no Face-
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book; através deste grupo, o Organizador estará em contacto permanente com os Autores participantes. Podem também seguir a Página e o Blogue abaixo indicados. Para esclarecimento de dúvidas ou informações adicionais, devem contactar por email. SOL DE INVERNO Antologia Lusófona Contos, Crónicas, Cartas & Poesias Organização Isidro Sousa Colecção Sui Generis
Desde já, estão todos convidados a participar nesta Antologia dedicada ao Inverno. Esperamos os vossos textos... em Prosa e/ou em Poesia...
Edições Sui Generis
Sejam bem-vindos... e bom trabalho!
Email – letras.suigeneris@gmail.com Blogue – https://letras-suigeneris.blogspot.com Livraria – https://www.euedito.com/suigeneris Página – https://www.issuu.com/sui.generis
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