SG MAG 07 | Março 2019

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SUMÁRIO SG MAG Edição nº 7 Março 2019

EDITORIAL ....................................................................................................... CRÓNICA: O casal whatsapp – por Maurício Cavalheiro ................................ CONTO: Amor de mãe – por Natália Vale ..................................................... CRÓNICA: As cerejeiras da minha rua... – por Tito Lívio ............................. ENTREVISTA: Sara Timóteo – por Isidro Sousa ............................................ POESIA: Três poemas de Sara Timóteo ........................................................ CONTO: O espectáculo prosseguirá... – por Sara Timóteo ............................ CRÓNICA: Carnaval – por Lira Vargas ........................................................... CONTO: Fénix – por Andréa Santos ................................................................. CARTAS: Noite especial – por Raquel Lopes .................................................... CRÓNICA: Habituados ao tédio – por Samanta Obadia ................................ LANÇAMENTO: Os Vigaristas ...................................................................... APRESENTAÇÃO: Os Vigaristas – por Isidro Sousa .................................... ANTOLOGIA OS VIGARISTAS: 26 autores lusófonos (biografias) ...... CRÓNICA: A artificiosa arte de ludibriar – por Diamantino Bártolo ............. CRÓNICA: Estado actual das coisas – por Sérgio Sola ................................... CONTO: Diário de um vagabundo – por Geana Krause ................................ ENTREVISTA: Luís Fernandes – por Isidro Sousa ......................................... POESIA: Quatro poemas de Luís Fernandes ................................................ CONTO: Sócrates e o caminho da sabedoria – por Aldir Donizeti Vieira .. CRÓNICA: Ser como uma criança – por Ana Carolina Machado .................. CARTAS: Para Magda – por Natália Vale ........................................................ CONTO: Segredos de mar e luar – por Balthasar Sete-Sóis ............................. CRÓNICA: Poetas brasileiros – por Jorge Pincoruja ......................................... CONTO: O monstrengo – por Erick Bernardes ............................................... CRÓNICA: O lugar do texto poético – por Joyce Lima ................................. CADERNO DE POESIA: Tema “Mulher” – Poemas de vários autores ........ CONTO: Os três porquinhos – por Estêvão de Sousa ..................................... CRÓNICA: O tempo – por Ariel Fonseca Pulsz ............................................... CONTO: Em busca da perfeição – por Raquel Machado ................................ OPINIÃO: Rejeito tanto as ditaduras de... – por Tito Lívio .......................... CONTO: Uma dentadura no copo – por Carla Simone .................................. CRÓNICA: Sou livro – por Lucinda Maria ...................................................... REPORTAGEM: Lançamento do 6º livro de Lucinda Maria .................... PALAVRAS DA AUTORA LUCINDA MARIA: Tarde encantada ........ RESENHA: Um Ano... 365 Poemas – por Suzete Fraga ................................ POESIA: 17 poemas de (vários) autores lusófonos ....................................... CRÓNICA: Sua velha! – por Lira Vargas ......................................................... ENTREVISTA: Anita Santana – por Isidro Sousa ........................................... POESIA: Quatro poemas de Anita Santana ................................................... LIVROS: Sinfonia de Amor, As Crônicas de Sathira, Dossier Poético ..... LIVROS: Versos & Cliques: Instantes, Crimes Sem Rosto ......................... LIVROS: Pânico no Subúrbio, Manta de Retalhos, Luz de Natal .............. LIVROS: Passeios da Memória, Cadeira de Balanço, Manual dos Ofícios CONTO: Cara e coroa – por Fátima d’Oliveira ................................................

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005 007 009 016 019 034 035 047 049 052 056 059 061 067 079 094 097 103 116 123 132 136 139 143 145 151 155 171 180 183 188 195 198 201 209 216 221 252 255 271 275 279 281 285 289



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Isidro Sousa Editor da SG MAG

sg.magazin@gmail.com https://issuu.com/sg.mag

EDITORIAL Apresentamos o 7º número deste Magazine Literário, uma publicação Sui Generis que se encontra ao dispor de toda a lusofonia. A presente edição é dedicada a Sara Timóteo, autora de uma já vasta e diversificada obra literária, editada em Portugal e não só, de quem publicamos uma longa entrevista, cujo ponto de partida é o lançamento do seu último livro: Manual dos Ofícios. Foram também entrevistados os autores Luís Fernandes (Portugal) e Anita Santana (Brasil), que fizeram recentemente estreias literárias ao lançarem as respectivas primeiras obras poéticas: Dossier Poético e Versos & Cliques: Instantes. Além de criarmos uma nova secção, que dá espaço a um Caderno de Poesia, nesta edição dedicado à Mulher (nos números seguintes terá temas diferentes), destacamos a reportagem do lançamento de Um Ano... 365 Poemas, uma verdadeira “Bíblia Poética” de Lucinda Maria que a escreveu durante os 365 dias do ano 2017, e a nova antologia da Sui Generis, Os Vigaristas, cujo texto de apresentação e as biografias dos 26 autores que a integram estão divulgados, com o merecido destaque, noutras partes desta revista. Agradecemos todas as contribuições que tornaram possível esta edição e marcamos encontro na próxima. Até lá... boas leituras! 

SG MAG – Magazine Literário Ano 3 – Edição Nº 7 – Março 2019 Editor e Director: Isidro Sousa Periodicidade: Trimestral ISSN: 2183-9573 Redacção e Publicidade: sg.magazin@gmail.com Endereço na Internet: https://issuu.com/sg.mag Colaboração nesta Edição: Aldir Donizeti Vieira, Aldirene Máximo, Amélia M. Henriques, Ana Carolina Machado, Andréa Santos, Anita Santana, Ariel Fonseca Pulsz, Balthasar Sete-Sóis, Carla Simone, Cristina Sequeira, Diamantino Bártolo, Erick Bernardes, Estêvão de Sousa, Fátima D’Oliveira, Fátima Miguez, Fernando Kya Samba, Filomena Fadigas, Geana Krause, Isabel Martins, Isadora Cristiana, Isidro Sousa, Jonnata Henrique, Jorge Pincoruja, Joyce Lima, Lenilson Silva, Lenir Moncorvo, Lira Vargas, Lucinda Maria, Luís Fernandes, Marcos Vieira, Maria Angélica, Marizeth Maria Pereira, Maurício Cavalheiro, Nardélio F. Luz, Natália Vale, Nicoleta Peceli, Paula Homem, Raquel Lopes, Raquel Machado, Ricardo Solano, Rita Queiroz, Rosa Domingos, Rosa Marques, Rose Chalfoun, Samanta Obadia, Sara Timóteo, Sérgio Sola, Sonia R. A. Carvalho, Suzete Fraga, Tauã Lima Verdan, Teresa Da Silva Martins, Thiago Guimarães, Tiago Sousa, Tito Lívio.

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Os textos publicados são da exclusiva responsabilidade dos autores que os assinam; os conceitos emitidos pelos autores não traduzem necessariamente a opinião da revista.



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CRÓNICA

O CASAL

O

WHATSAPP

primeiro encontro foi mais do que um encontro, foi um encontrão. Cada qual vinha POR MAURÍCIO CAVALHEIRO de direção oposta, com a cabeça levemente inclinada para frente, digi- Titular da cadeira nº 30 da Academia Pindamonhangabense de Letras tando no celular. O choque foi inevitável e ela, sem se desgrudar do aparelho, literalmente beijou o chão. Ele a ajudou a se levantar, perguntou se estava bem e qual era o número do WhatsApp Não é preciso dizer que não tiveram filhos. Por dela. Foi a primeira e única vez que se verbalizaisso, adotaram um labrador que vivia magro por ram. falta de atenção, de afeto, de alimentação. No início, trocaram uma ou outra mensagem. Assim o tempo passou. Ela engordou. Ele criou Mas, com o tempo, descobriram afinidades e, por barriga. Ela perdeu a cor dos cabelos. Ele ficou isso, as mensagens se multiplicaram. Resultado: calvo. Ela ficou corcunda de tanto usar o celular. marcaram encontro no banco da praça central, Ele também. Ela perdeu o emprego pelo vício. E perto do chafariz. ele? Ele também. Para piorar, certo dia, o labraNo dia, local e horário acordados, lá estavam dor, num ato de sobrevivência, abocanhou os dois eles, se cumprimentando através de mensagens. celulares para forrar o estômago. O animal rodoEle: «Oi. Td bem? Vc tá linda». Ela: «Tô bem. Vc tb piou, rolou no chão e, por fim, morreu. ñ tá nada mal. Hehehe». Depois, sentaram-se nas O marido não pensou duas vezes: resolveu extremidades do banco, com os olhos espremidos buscar uma faca para abrir o bicho e recuperar os na tela do celular, enviando e recebendo mensaaparelhos. Mas empacou quando ouviu: «Deixemgens cada vez mais afetuosas. Só se despediram me em paz. Vocês já perderam muito tempo com depois de marcarem novo encontro. essa porcaria de celular. Conversem e vivam a Meses depois decidiram se casar. Na cerimôvida». nia, quando o padre fez a pergunta crucial, ambos Naquele momento, ele olhou para ela e ela responderam “sim”, pelo WhatsApp. olhou para ele com lágrimas misturadas a beijos e Durante a lua de mel as mensagens se tornaabraços. Desde então, passaram a tagarelar pelos ram mais ousadas, libidinosas, impublicáveis. Focotovelos, passaram a se amar, passaram, enfim, ram horas imensas gastas num jogo de empate. E a viver. não passou disso. Dormiam como deitavam: intoAté hoje acreditam que o cão falou, pois não cados, incapazes de desgrudar do telefone móvel. sabem que, na vizinhança, mora um ventríloquo. 

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“Recordo-me de descobrir que num poema era preciso que cada palavra fosse necessária, as palavras não podiam ser decorativas, não podiam servir só para ganhar tempo até ao fim do decassílabo, as palavras tinham que estar ali porque eram absolutamente indispensáveis. Isso foi uma descoberta.” Sophia de Mello Breyner Andresen (1919-2004)

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CONTO

AMOR DE MÃE NATÁLIA VALE Nasceu em Vila Robert Williams, Caála, Angola, em 1949. É licenciada em História, pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Tem vários trabalhos premiados, quer nacional, quer internacionalmente. Tem trabalhos publicados em diversas antologias, nacionais e internacionais. Em 2009 editou os seus primeiros (dois) livros pela editora Mosaico de Palavras: «Emoções Inacabadas» (poesia) e «A Minha Tempestade e Outros Contos» (contos). Participou em três antologias da Colecção Sui Generis: «Graças a Deus!», «Torrente de Paixões» e «A Primavera dos Sorrisos». Perfil no Facebook: www.facebook.com/natalia.vale.39

“Sempre soubera que a minha mãe tinha várias coisas ligadas ao seu passado, guardadas algures pelo sótão. De vez em quando subia disfarçadamente até lá e demorava-se horas. Nem se apercebia da passagem do tempo. Quando regressava, trazia os olhos vermelhos, sinal de que estivera a chorar. Essa minha curiosidade em conhecer aquele passado era enorme, mas só agora, com ela já ausente, arranjei coragem para ir mexer naquelas recordações. Considerava-me um intruso. Interiormente, sentia que não tinha esse direito.”

POR NATÁLIA VALE

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dade de ter. Sonhava com o meu pai a jogar à bola comigo, no relvado que havia mesmo em frente à nossa casa. Sonhos. Meros sonhos, que hoje reconheço utópicos. Um dia, o Sol deixara de brilhar. Os seus olhos já baços perderam a pouca força que tinham para se abrirem. E adensou-se a solidão. Já não voltaria a escutar aquele balbuciamento que me emocionava e que eu esperava diariamente: “... Menino, meu menino...”. Já nada podiam os seus olhos doces. Fez-se noite eterna para ele. Hoje, já no outono da vida, continuo a sentir o peso dessa solidão, e a ausência do meu pai é uma marca indelevelmente plangente no meu peito. Continuo, todavia, a sonhar. E, nesses sonhos, escuto, muitas vezes, as suas palavras, as que jamais esquecerei: “... Menino, meu menino...”. Um dia, estou certo, reencontrar-nos-emos. E o tempo foi passando. Mas, naquele dia, a saudade atacou-me mais fortemente. Subi ao sótão e procurei o meu álbum de memórias.

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á passaram tantos anos! Quando era menino fiquei só. Fora para o céu, a minha mãe. Foi o que me disseram. Morrera no parto do irmãozinho que eu tanto desejava. Nunca o vi. A partir de então, a nossa casa tornou-se sorumbática, escura, com as janelas sempre fechadas. Na cozinha, a Ti Maria abria apenas uma frincha de uma delas, enquanto preparava o nosso almoço: o do meu pai e o meu. Esse súbito vazio que se instalou deixava-me atordoado. O meu pai caíra num fosso profundo quando lhe faltou o apoio da minha mãe. E, lentamente, foi-se deixando abater. Passava os dias sentado na cadeira de baloiço, que havia no alpendre, quando o tempo o permitia. Quando me aproximava dele, balbuciava apenas: “... Menino, meu menino...”, numa voz quase inaudível, e passava-me a mão pelos cabelos, fazendo um esgar que imitava um sorriso. Eu sentia-me cada vez mais só. E sonhava. Sonhava com a família imensa que desejava ter à minha volta, com os irmãos que não tive oportuni10


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Já não o via há mais de uma década, quando os meus dedos tocaram aquela pele aveludada. Peguei-lhe como se fosse uma relíquia. Coloquei-o no colo com cuidado. Olhei-o, e não pude evitar que uma lágrima teimosa me rolasse pelo rosto. Quantas recordações ali contidas! Comecei, lentamente, como se ele pesasse toneladas, a folheá-lo. Sorri, mesmo sem querer. Da primeira imagem, não tinha qualquer memória. Um bebé sentado numa cadeira, recostado numa almofada em croché, que permitia descortinar o desenho do símbolo do glorioso Et Pluribus Unum..., e, por cima, um registo, numa caligrafia que faria inveja a muitos letrados: 1 de janeiro de 1950. Um rosto sisudo e com os olhos franzidos, devido, possivelmente, ao Sol intenso que estaria no momento daquele registo. Por trás, segurando-a, delineava-se o corpo esbelto e uma nesga de cabelos encaracolados e escuros de uma mulher, que aparentava ser muito bela. Não resisti. E uma suave carícia saiu dos meus dedos. Continuando a viagem por aquele apontamento de recordações, uma outra imagem ressaltou chamando-me a atenção. Esta, sem data, mostrava um menino, de cerca de dois anos, que corria nu, os cabelos molhados, sorriso e braços abertos

Naquele dia, a saudade atacou-me mais fortemente. Subi ao sótão e procurei o meu álbum de memórias. Já não o via há mais de uma década, quando os meus dedos tocaram aquela pele aveludada. Peguei-lhe como se fosse uma relíquia.

Coloquei-o no colo com cuidado. Olhei-o, e não pude evitar que uma lágrima teimosa me rolasse pelo rosto. Quantas recordações ali contidas! Comecei, lentamente, como se ele pesasse toneladas, a folheá-lo. Sorri, mesmo sem querer.

para a objetiva que o focava. Numa fuga ao possível banho que o esperava, aquele rosto simbolizava toda a liberdade que sentia, despido de qualquer receio ou preconceito. E de encontro à vida. O meu olhar vagueou pelas centenas de imagens que se seguiam, cada uma com a sua história, umas mais e outras menos relevantes. Surgiu, então, aquela que deixou em mim uma marca profunda. Nova data: 1 de outubro de 1955. O primeiro dia de aulas. Bata branca, pasta de cartão, bem à época. E eu, todo vaidoso, posava sorridente. 11


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Fechei-o de novo. Afaguei-o. Passaria mais uma década sem o abrir? Quem sabe! No entanto, havia algo que deixara a minha mente inquieta e ansiosa por descobrir alguns dos segredos do passado dos meus pais, e que sempre me haviam intrigado. Olhei o calendário. Dia 31 de Janeiro de 2010. As lembranças despontaram e fizeram-me subir as escadas, lentamente, de novo até ao sótão. Precisava de ser arrumado (eu sabia), mas, além de tudo, precisava de descobrir e arrumar aquele passado tão oculto. Sempre soubera que a minha mãe tinha várias coisas ligadas ao seu passado, guardadas algures pelo sótão. De vez em quando subia disfarçadamente até lá e demorava-se horas. Nem se apercebia da passagem do tempo. Quando regressava, trazia os olhos vermelhos, sinal de que estivera a chorar. Essa minha curiosidade em conhecer aquele passado era enorme, mas só agora, com ela já ausente, arranjei coragem para ir mexer naquelas

recordações. Considerava-me um intruso. Interiormente, sentia que não tinha esse direito. Olhei em volta. Uma acumulação de tralha já sem interesse estava ali guardada, também. Às vezes, pergunto-me: “Para quê?”. Finalmente, dentro de uma gaveta de uma velha cómoda, estava o que eu tanto procurava. As mãos tremiam-me. Uma caixa de cartão vermelha, fechada com uma fita branca que acabava no topo por um laço perfeito. Ninguém diria que, já com tanta idade, ela ainda era capaz de o refazer daquela forma. Abri-a, muito devagar. No seu interior, um maço de cartas (manuscritas por uma letra impecavelmente perfeita), atadas com uma fita vermelha (paixão, amor?). Algumas fotos da família, já amarelecidas pelo tempo. Fui virando uma a uma. A última, justamente a última, chamou de imediato a minha atenção. A minha mãe, de braço dado com um belo rapaz, que eu nunca conhecera. Voltei-a e li: “Para ti, meu amor de sempre, com muitas saudades. Do teu, Nelson.”

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Estremeci. A minha mãe tinha tido outro namorado! É verdade! Em tempos, ela tinha falado dele, ainda que muito vagamente. E nunca o tinha esquecido, apesar de se terem separado ainda jovens, por imposição da família. Claro! Era aquela foto que ela vinha acariciar. Notava-se pelo desgaste da película. Aquela foto transportou-me à juventude da minha mãe. Como ela era bela! E, simultaneamente, trouxe-me à memória o meu próprio passado. Também eu vivera uma grande história de amor, que não me fora permitido concretizar. Depois... são as conveniências ou as situações resolvidas por imposição. Hoje, ao olhar esta foto, tão íntima, tão dela, e que apertei contra o peito, revejo-me na minha mãe. Voltei a olhá-la e disse baixinho: “Amo-te tanto, mãe.” Pus tudo no seu lugar, como se tratasse de uma relíquia sagrada, que eu acabara de profanar. Histórias que me foram contadas daquela vida tão sofrida, e ali representada na sua essência. Como eu gostaria de a poder voltar a abraçar e

Aquela foto transportou-me à juventude da minha mãe. Como ela era bela! E, simultaneamente,

trouxe-me à memória o meu próprio passado. Também eu vivera uma grande história de amor, que não me fora permitido concretizar. Depois... são as conveniências ou as situações resolvidas por imposição.

segredar-lhe ao ouvido: – Mãe, valeu a pena ter nascido. Orgulho-me de ti. Do excecional ser humano que sempre foste, do amor que me dedicaste, incondicionalmente. Pena que tenha sido tão pouco o tempo que estiveste comigo e, naquela altura, eu ainda não tivesse discernimento suficiente para poder gritar bem alto: amo-te. 

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Suzete Fraga (nesta foto com Olímpia Gravouil, à direita) é co-autora de A Bíblia dos Pecadores, O Beijo do Vampiro, Vendaval de Emoções, Graças a Deus!, Ninguém Leva a Mal, Torrente de Paixões, Saloios & Caipiras, Sexta-Feira 13, Crimes Sem Rosto, Fúria de Viver, Devassos no Paraíso, Os Vigaristas e Luz de Natal.


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TITO LÍVIO Crítico de cinema e de teatro no «Diário Popular», «República», «A Capital», vencedor de dois prémios no «Diário de Lisboa Juvenil». Colaborador de vários jornais como «Notícias da Amadora», «Jornal de Letras», «Jornal do Fundão», «Diário do Algarve», «O Setubalense» e revistas «Seara Nova» e «Manifesto». Membro do Conselho Editorial da revista «Korpus», editada por Isidro Sousa entre 1996/2008. Durante dez anos (1995/2005), docente de Dramaturgia, História do Teatro, História do Cinema e História da Televisão. Júri de diversos Prémios da Casa da Imprensa, da Crítica e dos Globos de Ouro (SIC). Autor dos livros: «A Escrita e o Sono», «Senhor, Partem Tão Tristes», «Memórias de Uma Executiva», «As Tuas Mãos Sobre o Meu Corpo», «Ruy de Carvalho – Um Actor no Palco da Vida» e «Teatro Moderno de Lisboa (1961-1965) – Um Marco na História do Teatro Português». Autor de «Sobreviventes: Dez Mulheres à Procura da Voz», peça concorrente ao prémio de originais de teatro da Sociedade Portuguesa de Autores. Abraçando as antologias Sui Generis, fez a sua estreia no conto em «O Beijo do Vampiro»; participou também em «Vendaval de Emoções», «Ninguém Leva a Mal», «Torrente de Paixões», «Saloios & Caipiras», «Os Vigaristas» e «Sinfonia de Amor».

AS CEREJEIRAS DA MINHA RUA ESTÃO TODAS EM FLOR As cerejeiras da minha rua estão todas em flor. A Primavera chegou mais cedo... Lembro-me de uma antiga canção da nossa Simone que dizia assim: «Já chegou a Primavera / toda a vida nos espera / e vem uma flor / e mais outra e mais outra por fim / toda a terra se enche de cor / e parece um jardim / e cresce em nós a vontade / a felicidade...» E a minha varanda também está plena de flores cultivadas com ternura e cuidado. Nesta altura tenho sincera pena das pessoas que têm alergia aos polens pois adoro sentir todos estes perfumes no ar... Enfim, mais um dia de vida e a vida é bela, é um dom de que devemos cuidar e fruir plenamente. Abraço primaveril para todos, e como dizia o meu amigo Raul Solnado: «Façam o favor de serem felizes». E de gozarem estes dias de Sol esplendorosos... 

Páginas do Autor: Facebook: Tito Lívio facebook.com/titolivio.sousaaguiar

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Amélia M. Henriques é co-autora de O Beijo do Vampiro, Vendaval de Emoções, Graças a Deus!, Torrente de Paixões, Fúria de Viver, A Primavera dos Sorrisos, Tempo de Magia, Devassos no Paraíso, Luz de Natal e Sinfonia de Amor.



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ENTREVISTA

SARA TIMÓTEO Sara Timóteo respeita a palavra desde tenra idade. Através da leitura, viajou pelo mundo inteiro e para além dele; através da escrita, atreve-se a concretizar feitos que fariam empalidecer o mais corajoso dos combatentes. O seu ofício de vida é a escrita e, por via dela, resgata a beleza, contraponto da miséria material, emocional e espiritual com que se depara ao longo do percurso que iniciou há alguns anos. Cada sílaba pode manifestar-se enquanto brinquedo, arma ou explosão – e a autora faz uso dela em cada uma destas vertentes. O pretexto para esta entrevista é «Manual dos Ofícios: um conto longo sobre a anuência do mal», o seu último livro editado. POR ISIDRO SOUSA

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SG MAG – Quem é a Sara Timóteo e como surgiram as letras na sua vida? O que fez despertar a sua veia literária? SARA TIMÓTEO – Escrevo desde muito cedo. Já antes de ingressar no ensino básico fazia birras enormes, pois queria aprender a ler para saber se as histórias que me liam ou contavam eram as mesmas que o autor havia criado e se a interpretação que eu então fazia das respectivas ilustrações era a correcta. Assim que entrei no primeiro ano, comecei a ler e a escrever com uma enorme voracidade e, não satisfeita com isso, consultava gramáticas e prontuários sempre que existia alguma dúvida em relação à forma mais precisa de redigir um determinado texto. Leio dicionários para descobrir novas palavras e expressões, as quais anoto em cadernos próprios para o efeito, e assim faço desde os seis anos de idade. Aos oito anos comecei a destacar-me na redacção de textos e pequenas bandas desenhadas que engendrava no ATL onde frequentava as actividades de ocupação de tempos livres. Foi nessa idade que comecei a escrever pequenos livros e a dizer que queria ser escritora. Considero um privilégio poder concretizar, todos os dias, o sonho da minha infância.

vezes, uma disciplina de labor consistente resgata-me dos dias de maior cansaço e de menor inspiração. Contudo, alguns dos que considero serem os meus melhores textos nasceram a partir da observação de um pequeno momento ou gesto, à semelhança do que sucede com determinados instantâneos fotográficos.

Escreve por impulso ou sofre para escrever? O que escreve habitualmente?

Que autores lê regularmente?

Ambas as situações se revelam verdadeiras. Na minha perspectiva, a escrita requer talento e trabalho e, por

A verdade é que leio muito. Leio obras clássicas e faço questão de ler as obras contemporâneas de autores mais ou menos consagrados, para me manter

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a par do que se escreve, do que se cria... e do que se plagia. Para além disso, consumo muitos periódicos, um vício do qual não abdico desde os dias da minha incipiente prática jornalística; devoro publicações específicas sobre arte, economia, filosofia, finanças, física, literatura, matemática, medicina e música. Debruço-me também sobre as obras que registam as actividades de algumas instituições de cariz humanitário com as quais colaboro de forma intermitente ou permanente. Por fim, continuo a visitar com regularidade os dicionários, prontuários e gramáticas, e façoo em relação a todas as línguas em que me exprimo.

dado que a referencialidade é distinta (não me refiro a computadores nesses textos, por exemplo). Designar tais momentos de produção como intertextualidade é verdadeiro, mas não me parece que seja suficiente.

Quanto tempo dedica à leitura e à escrita? Quando a jornada laboral perfaz oito ou mais horas, procuro reservar três ou quatro horas desse dia para a leitura e para a escrita; aproveito todas as pausas e períodos de transporte para este efeito. Nos dias de folga ou de férias, trabalho dez horas nos projectos literários em curso.

Em que corrente literária se insere a sua escrita? Quanto à corrente literária em que aquilo que escrevo se pode enquadrar, revejo-me no moralismo em termos filosóficos (tal definição apartase do sentido comum que atribuímos a esta palavra). Ao nível da produção literária, creio filiar-me no culturalismo, algo comum a muitos autores contemporâneos e do qual é difícil evadirme e, tal como muitos companheiros de letras, faço amplo uso da intersemiose para melhor transmitir a mensagem que pretendo veicular. Formalmente, escudo-me no experimentalismo e, conceptualmente, no realismo. Em suma, sou parte da corrente pós-modernista da contemporaneidade (ou da pós-verdade), embora desconheça quanto de tudo isso se mantém quando escrevo textos em português medieval,

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Até editar o primeiro livro em 2011, que caminho desbravou? E quais foram os momentos mais marcantes nesse percurso? Creio que será uma novidade, de certo modo, o facto de ter passado treze anos a tentar publicar o meu primeiro livro «Refúgio Misterioso» (o terceiro livro que veio a lume, em 2012). Participei em vários concursos literários, num dos quais a referida obra foi distinguida, mas tal não se revelou suficiente para que fosse publicada. Ainda tenho comigo as várias cartas de rejeição que me foram enviadas, ano após ano. Possuo também a prova de registo da obra, treze anos antes da publicação do meu primeiro livro. Cerca de duas semanas antes de «Refúgio Misterioso» ser publicado, mostrei essa prova ao editor. O meu percurso foi mais fácil a partir do momento em que «Deixai-me Cantar a Floresta» e «Chama Fria ou Lucidez» foram premiados no mesmo concurso literário (após «Deixai-me Cantar a Floresta» ter obtido uma prévia distinção num concurso de poesia internacional). Uma vez que havia um valor monetário associado aos prémios, fiz uso do mesmo para financiar parcialmente a edição e, a partir daí, todos os outros livros foram publicados (embora ainda existam alguns, entretanto premiados, por publicar).

por contraste, é de que modo esse preconceito dita as acções dos protagonistas.

O seu último livro é «Manual dos Ofícios». O que pesou na escolha deste título? E o que distingue este livro de outros géneros que tenha escrito? O que traz de novo? O título completo do meu último livro é «Manual dos Ofícios: um conto longo sobre a anuência do mal». Este título reflecte, por um lado, o reconhecimento, por parte do protagonista, de que a sua identidade é construída por via do contacto com os ofícios de cada uma das pessoas com as quais ele se cruza ao longo da vida. Por outro lado, o título debruça-se sobre a possibilidade, tão próxima de um certo pensamento por parte de pessoas que enveredaram pela carreira militar, de que o próprio facto de existirmos e de permanecermos vivos é já um privilégio e que, nesse facto, poderá residir algo que está fora do nosso controlo, a que alguns chamam sorte. O nosso protagonista crê que esse factor é Deus, mas num determinado momento a sua fé evolui para uma postura de interrogação e ele apercebe-se de que a questão pode ser perspectivada do ângulo oposto: a de que nós só existimos, na verdade, porque o mal o permite, e ninguém sabe por que motivo.

A sua obra publicada é vasta, sendo constituída por mais de dez títulos literários. Que temas abordam os seus livros e em que diferem? Ao nível poético, todos os meus livros abordam a observação da vida. Aquilo em que diferem é a perspectiva. Ao nível da prosa, o meu trabalho enquadra-se em quatro géneros distintos: conto, novela, texto dramático e não-ficção. Nestas obras, poderemos encontrar um desafio ao leitor para que também ele observe a realidade circundante e a forma como o preconceito molda a sua percepção do que é essa realidade. Aquilo em que estas obras se distinguem,

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Apresente sucintamente cada um dos seus livros publicados... Conto longo – Manual dos Ofícios: um conto longo sobre a anuência do mal – Edições Vieira da Silva, 2018. Conto longo – Diário Alimentar – Costelas Felinas, 2017: um conto longo sobre a alimentação, anorexia/bulimia e a competição atlética ou a constatação da cegueira selectiva, em função de números e resultados, por parte de médicos, nutricionistas e demais pessoas em redor. Poesia – Compassos – Costelas Felinas, 2017: um livro sobre a melhor forma de observar e respeitar os compassos da música interna que nos rege.

Poesia – Refracções Zero – Orquídea Edições, 2016: uma obra sobre como a nossa própria perspectiva pode distorcer a forma como observamos o que nos sucede. Poesia – O Corolário das Palavras (e-book) – Rui M. Publishing, 2016: um poemário que congrega um diálogo com o significado de várias expressões da língua latina que chegaram até aos nossos dias. Teatro infantil – O Telejornal – Cadernos de Santa Maria, 2015: uma peça de teatro infantil sobre a arte de produzir um telejornal. Novela – Os Quatro Ventos da Alma – Lua de Marfim, 2014: uma novela sobre o percurso de uma jovem mulher em busca da sua identidade pessoal e literária. Poesia – Elixir Vitae – Lua de Marfim, 2014: um livro de poesia de observação, quase reportagem, sobre diversos aspectos da nossa realidade quotidiana e que nos afecta, sobretudo quando nos encontramos pouco conscientes dela. Poesia – Os Passos de Sólon – Lua de Marfim, 2014: um livro de poesia solar sobre a observação de cada momento. Poesia – (P) Art / (P) Arte: a bilingual poetry book / um livro de poesia bilingue – Spero Publishing, 2013: um livro de poesia sobre o Museu de Arte Antiga da Fundação Gulbenkian. Conto longo – Refúgio Misterioso – Lua de Marfim, 2012: um conto longo sobre o horror que é a loucura.

Não-ficção – A Child’s Eye View of Tarot – Spero Publishing, 2012: não-ficção – uma abordagem sobre o Tarot, com base nos métodos que se foram recolhendo a partir da época medieval, explicado às crianças e aos pais. Não-ficção – A Child’s Eye View of Astrology – Spero Publishing, 2011: não-ficção – o conhecimento astrológico, com base nos métodos medievais e pós-modernos, explicado às crianças e aos pais. Poesia – Chama Fria ou Lucidez – Papiro Editora, 2011: a observação do quotidiano com um carácter mais interventivo. Poesia – Deixai-me Cantar a Floresta – Papiro Editora, 2011: a observação da devoção e da aventura do ser que desafia as fronteiras do mundo que conhece.

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Em que se baseia o enredo? E porque deve ser lido? O enredo de «Manual dos Ofícios: um conto longo sobre a anuência do mal» baseia-se na história de um militar de ascendência cabo-verdiana, casado, que se apaixona por uma bósnia que se encontra em Portugal na condição de refugiada, e que com ela se corresponde ao longo de vários anos, após um breve interlúdio amoroso. Este livro confronta-nos com algumas enfermidades de que a nossa sociedade padece: a ilusão do amor, a persistência de uma certa ideia de nacionalidade, os laços forçados do casamento, o número excessivo de filhos, a violência sobre os oprimidos em cenário de guerra, os maus-tratos em relação aos idosos, a perpetuação da subserviência feminina através da infância eterna vivida por via das redes sociais e dos ecrãs televisivos, o desespero, o medo, os crimes de honra, as ideias erróneas que concebemos sobre os outros ainda antes de os conhecermos.


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Do conjunto da sua obra, qual é o livro que considera mais emblemático? Qual deles foi o mais marcante para si? Porquê?

No que se refere ao conto, destaco «Manual dos Ofícios: um conto longo sobre a anuência do mal», pois é um ponto de viragem na forma como narro os acontecimentos e penso sobre eles ao longo da própria intriga. Quanto à novela e romance, as obras emblemáticas encontram-se ainda por finalizar. No que diz respeito ao texto dramático, a minha obra marcante, que por ora manterei reservada, encontrase ainda por publicar, e narra os percursos possíveis de cada indivíduo que procura o sucesso (a todo o custo!).

Esta é uma questão de difícil resposta, tendo em conta a diversidade do meu percurso de escrita. De entre as obras de poesia, diria que «Os Passos de Sólon» é a obra mais emblemática do meu percurso, devido à mensagem (que se aproxima muito do projecto poético que gostaria de continuar a estruturar).

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Por fim, a não-ficção conta com duas obras, cada uma das quais constituída por um conjunto de entrevistas, que poderão alterar uma determinada ideia sobre os atletas e treinadores e também sobre um percurso artístico totalmente baseado no plágio (existem provas disso!) que continua a ser recompensado internacionalmente.

com que me deparo está relacionada com o facto de não me submeter a determinadas ideias e de não saber fingir que concordo com essas ideias, que são contrárias às minhas ou, simplesmente, oriundas de uma perspectiva cosmogónica distinta. A diferença paga-se caro no nosso panorama cultural e não só literário; não me refiro à mimese disfarçada de diferença, mas à diferença real em relação ao que se vai perpetuando por aí. A solução que encontrei para Como tem sido a aceitação da sua obra pelo público? contornar tais desafios é permanecer fiel à minha Como avalia as críticas e reacções aos seus livros? forma de ser e de estar. Muitas vezes, não contorno os obstáculos, derrubo-os e A aceitação da minha obra pelo tomo posições mais acirradas, público tem obedecido àquela mas aprendi que há batalhas máxima que Fernando Pessoa às quais não vale a pena dar A aceitação da minha obra popularizou em relação a uma o meu contributo. A liberdade bebida não alcoólica: «primeiro é o valor que mais prezo, e propelo público tem obedecido estranha-se, depois entranhacuro garantir que esse valor é àquela máxima que Fernanse». Tenho a sorte de poder real para mim e para todas as contar com opositores muito outras formas de vida. Numa do Pessoa popularizou em acérrimos ao que escrevo desde sociedade plena de prisões relação a uma bebida não os 16 anos, o que me permite voluntárias e involuntárias, um assumir a minha própria voz ser livre e insubmisso, e por isso alcoólica: «primeiro estrasem plasmar a de ninguém. feliz, é como um grito em emisnha-se, depois entranha-se». Sou privilegiada também pelo são contínua... incomoda quem facto de existirem pessoas que quer permanecer no remanso Tenho a sorte de poder apreciam muitíssimo o que das suas próprias convicções. contar com opositores escrevo. Aceito as críticas (por vezes expressas de forma muito acérrimos ao que menos correcta) e procuro Que balanço faz da sua carreira escrevo desde os 16 anos, aprender com o que lhes subjaz, literária? Sente-se realizada? e é maravilhoso constatar que o que me permite assumir a minha escrita suscita tanta A minha carreira de escrita a minha própria voz sem paixão, gerando alguma con(ainda não tenho a certeza de plasmar a de ninguém. trovérsia em dado momento, que se trate de uma carreira embora não procure fazer parte literária) é plena de alegrias de tal controvérsia e esta seja e de desafios. Conheci seres contrária à minha forma de humanos maravilhosos, fui estar, assaz reservada e discreta. ajudada muitas vezes na concretização de mais um passo, tive a sorte de ter sido amparada por pessoas que acreditam muito em mim, O seu percurso literário tem sido fácil mesmo nos momentos mais difíceis, e em todos esses ou tem encontrado muitos obstáculos? acontecimentos e pessoas se baseou o meu percurso. Como os contorna? Estou profundamente grata a todos os que me ajudaram ao longo de todos estes anos. Sinto-me perfeitaO meu percurso literário tem sido muito desafiante mente realizada, e permaneço inquieta. Estou já e é compensador sentir que os obstáculos de vária a pensar nos próximos projectos. ordem que se me apresentam contribuem para que cresça ainda mais. Creio que a maioria das dificuldades

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organizadas pela Sui Generis devido à qualidade da revisão e de todo o processo editorial. Fascina-me também a elevada fasquia em relação aos textos incluídos em cada livro e a divulgação de alguns textos de autores de antanho cuja obra continua a surpreenderme. Quanto às obras organizadas por outras entidades, são um convite a desafiar os limites daquilo que escrevo, quer em termos de temática, quer em termos de tipologia textual.

Qual foi o projecto colectivo que mais a fascinou? Em que antologia, ou colectânea, gostou mais de participar? Porquê? «Tempo de Magia» da Sui Generis foi um projecto

Embora tenha já uma vasta obra publicada, continua a participar em obras colectivas de várias editoras, aquém e além-fronteiras. Por alguma razão especial? Que importância atribui a esses projectos?

A diferença paga-se caro

Considero que as obras colectivas são essenciais para travar conhecimento com os outros autores e para me familiarizar com a criação oriunda de outras latitudes. Estas obras cumprem também a função (tantas vezes negligenciada) de levar alguma beleza e leveza à vida de pessoas que, de outra forma, não teriam acesso ao mundo da escrita e da leitura.

no nosso panorama cultural e não só literário; não me refiro à mimese disfarçada de diferença, mas à diferença real em relação ao que se vai perpetuando por aí. A solução

Que diferenças verifica entre as obras colectivas organizadas pela Sui Generis, que abraça com bastante frequência, e as obras de outras entidades em que também participa? E que aspectos mais relevantes destaca numas e noutras?

que encontrei para contornar tais desafios é permanecer fiel à minha forma de ser e de estar.

Apraz-me muito participar nas obras colectivas

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Muitas vezes, não contorno

além do reconhecimento?

os obstáculos, derrubo-os e Todos os prémios e menções honrosas que recebi até à data permitiram ou facilitaram a publicação das obras a concurso e de obras posteriores, e por isso me sinto muito grata a todos aqueles que têm vindo a premiar o meu trabalho.

tomo posições mais acirradas, mas aprendi que há batalhas às quais não vale a pena dar o meu contributo.

Quais são as maiores preocupações quando começa a escrever um novo livro? Já o tem na cabeça ou ele vai surgindo a partir de uma ideia inicial? desafiante para mim devido à qualidade dos textos apresentados pelos co-autores e à introdução de textos da autoria de Raul Brandão e Fialho de Almeida que fazem qualquer um dos meus textos assemelhar-se a uma esfiapada tentativa titubeante de construção de sentido.

Quando começo a escrever um novo texto, a ideia já se consolidou a partir de um episódio fortuito. Contudo, por vezes não tenho a certeza de que esse texto desemboque num novo livro. A minha única preocupação é a de manter a sanidade e a saúde até terminar qualquer novo projecto em que decida concentrar o meu esforço.

A sua biografia contempla diversos prémios literários e menções honrosas. Que impacte tiveram estas distinções no seu percurso? O que lhe possibilitaram

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Quanto tempo medeia entre a escrita de um livro e a sua edição? Publica com brevidade ou prefere deixar a obra amadurecer?

uma obra é premiada e o prémio consiste na publicação da mesma, essa edição far-se-á por via da editora que premeia – e quase todos os meus livros publicados são livros premiados ou distinguidos em certames literários. Quando tenho a possibilidade de escolher, prefiro uma editora com uma excelente equipa de revisão e coordenação editorial, para que todos os estádios de produção da obra decorram com a maior fluidez possível.

O prazo máximo que contabilizo até ao momento presente é de nove anos («Os Passos de Sólon», obra escrita em 2005 e publicada em 2014) e o mínimo de cerca de um ano («Manual dos Ofícios: um conto longo sobre a anuência do mal», obra escrita desde o final do ano de 2017 e publicada no final de 2018). Prefiro permitir o amadurecimento da obra.

O que acredita ser essencial para a boa divulgação de um autor e, por conseguinte, da sua obra? Publicou através de várias editoras. O que a faz mudar frequentemente de chancela? Que critérios utiliza na escolha de uma editora para o próximo livro?

A qualidade da obra é essencial, bem como uma divulgação com base nessa qualidade. Um autor não é, na minha opinião, um vendedor de livros, e é deplorável que alguns autores sintam tão pouca confiança no seu trabalho que sintam necessidade de se vender para melhor comercializar os seus livros.

Quase todas as editoras com que trabalhei se encontram, neste momento, fora do mercado ou com uma actividade muito reduzida, pelo que a mudança ocorre devido a motivos de natureza pragmática. Quando

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Talvez pudessem existir mais apoios direccionados ao pequeno mercado livreiro.

Na sua perspectiva, para que serve a literatura? De que modo pode influir na vida das pessoas? Acredito que a literatura pode mudar o mundo, e que essa é a sua função primordial. Trazer beleza a quem não vive mais do que o desenrolar de um dia-a-dia medonho, inspirar quem se prepara para provas musicais ou atléticas ao mais alto nível, recompensar quem se esforça por aprender com o acesso a uma vida um pouco melhor – são muitas as possibilidades de influência da literatura (não da mimese) na vida Como vê o panorama da literatura portuguesa actual? Estamos em plena época de re-descobrimentos. O panorama da literatura lusófona actual é pleno de possibilidades que não existiam há quinze anos. Existem também novos logros em curso, e cabe a cada um saber defender-se dos intrujões.

A qualidade da obra é essencial, bem como uma divulgação com

Qual é a sua opinião sobre o mercado livreiro em Portugal? E o que procuraria melhorar, ou alterar, neste complexo mercado?

base nessa qualidade. Um autor não é, na minha opinião, um vendedor de livros, e é deplorável

Não sei muito sobre o mercado livreiro em Portugal, pelo que a minha opinião poderá carecer de alguma precisão. Parece-me que a ofensiva dos grandes grupos editoriais fez decrescer a procura de diversidade neste mercado. E, no que me diz respeito, tudo o que faça convergir em demasia a produção cultural pode revelar-se perigoso. Não é obrigatório que todos tenhamos acesso às mesmas leituras ou experiências. Creio que os pequenos livreiros procuram consolidar a sua posição e que, por vezes, perdem tudo nesse esforço.

que alguns autores sintam tão pouca confiança no seu trabalho que sintam necessidade de se

vender para melhor comercializar os seus livros.

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das pessoas. Esta distinção que apresentei é importante, na medida em que, enquanto a mimese mergulha o indivíduo na ilusão, a literatura traz-lhe reconhecimento de uma realidade que urge mudar, ou aceitar – e isso faz toda a diferença.

Até que ponto concorda (ou não) que alguém que escreve para ser lido deve ser testemunha do seu tempo? Concordo parcialmente, dado que, depois de conhecermos algo, não podemos voltar a desconhecê-lo por completo e, por esse motivo, o tempo em que se escreve é sempre o tempo em que se testemunha o mundo, mesmo que nos aventuremos no recurso à analepse e prolepse. Não sabemos mais nem menos do que o tempo que nos viu nascer e somos (todos nós) reféns dessa limitação, mas não sei se essa será uma condição necessária para se ser mais lido.

Tendo em conta a sua longa experiência, o que recomenda aos autores emergentes que queiram singrar no meio literário? Bem, ainda me sinto como uma criança neste mundo da escrita, e a única recomendação que posso deixar aos autores emergentes é a seguinte: trabalharem muito, sem atalhos.

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Quais são os seus planos para os próximos tempos? Em que consistirá o próximo livro de Sara Timóteo?

será editado de novo em breve.

Os meus planos incluem continuar a escrever. Já há algumas obras em vias de publicação. Creio que o meu próximo livro será uma obra poética, e encontram-se em preparação novos textos de novela e de texto dramático, contos infantis e não-ficção.

Que mensagem gostaria de transmitir aos leitores em geral e autores em particular? Amor, calma, capacidade de deslumbramento, paciência e precisão são os ingredientes essenciais para uma carreira longa e feliz na área da escrita – e também na área da leitura.

Quem quiser adquirir os seus livros, onde poderá encontrá-los? Ou como deverá proceder? Deseja acrescentar algo que não tenha sido abordado ao longo da entrevista?

Através da Bertrand online e da Wook será possível ter acesso à maioria dos meus livros. «Deixai-me Cantar a Floresta» encontra-se esgotado e «O Corolário das Palavras»

Muito obrigada por tudo. 

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Sara Timóteo na apresentação da antologia «Graças a Deus!» em Dezembro de 2016, no Vlada Lounge, Lisboa. Em cima, com as autoras Marcella Reis e Paula Homem e o editor Isidro Sousa; em baixo, com Paula Homem, Marcella Reis, Paulo Galheto Miguel, Candy Rosa, Isabel Martins e Isidro Sousa

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POEMAS DE SARA TIMÓTEO A dançarina se fez passar Por princesa Para caber na cama do rei Mas o movimento Carcomia-lhe os gestos E aos braços do escravo Se abandonou

REMOINHO (DERIVAÇÃO REGRESSIVA DE REMOINHAR)

APONTAMENTOS Uma logística de penar Sobre o rio velho Onde bailam os afogados

De sensações e angústias Sobre os meus pés lançado Como praga e como fardo Assim me esboroo no fundo da terra

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CONTO

O ESPECTÁCULO PROSSEGUIRÁ DENTRO DE INSTANTES SARA TIMÓTEO Nasceu em Torres Vedras, viveu em Lisboa e em Haia e reside na Póvoa de Santa Iria. Em Portugal, publicou os seguintes livros: «Deixai-me Cantar a Floresta» (2011), «Chama Fria ou Lucidez» (2011), «Refúgio Misterioso» (2012), «Os Passos de Sólon» (2014), «Elixir Vitae» (2014), «Os Quatro Ventos da Alma» (2014), «O Telejornal« (2015), «O Corolário das Palavras (2016), «Refracções Zero» (2016), «Compassos» (2017), «Diário Alimentar (2017) e «Manual dos Ofícios» (2018). Editou três livros nos EUA pela Spero Publishing / Caliburn Press. Participa com regularidade em múltiplos projectos colectivos e cooperativos de publicação e em publicações online em Portugal e no Brasil. Exerce actividade ocasional como ghost writer para blogues sediados em Portugal e nos EUA. Perfis no Facebook: www.facebook.com/wind.sidh www.facebook.com/sara.timoteo.5

“João detestava tudo o que fosse triste e doente – e ela era-o e sê-lo-ia ainda mais à medida que a cirurgia e a quimioterapia lhe retirassem toda a vontade de viver. Não poderia escudar-se por detrás dos espectáculos para ganhar a vida, e João jamais trabalharia para sustentar o casal. O melhor seria terminar a relação antes que ele o fizesse. Descobriria alternativas para angariar algum dinheiro. Os pais não aceitariam tomar conta de Mário depois de o filho se ter assumido como Mariana e abandonado os estudos, e os amigos escasseavam porque João era muito ciumento, mas alguma coisa haveria de se arranjar.” POR SARA TIMÓTEO

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M

ariana enxugou as lágrimas acumuladas ao canto do rosto e lançou a cabeleira postiça para trás, entoando uma das gargalhadas roucas que se lhe associava como uma marca distintiva, à semelhança da sua imagem dotada das longas pernas com uma breve penugem nas coxas ou do batom carmesim. Soubera da má nova de manhã cedo, ainda antes de Joana (agora João) abrir os olhos. O resultado era maligno, e teria de ir ao médico. Estavam sem dinheiro. Esperava engatar alguém durante o espectáculo desta noite, já que João ficaria com todos os proventos do mesmo por ser seu agente. Mariana (Mário no mundo civil) tinha apenas 26 anos. Pressentia que a vida se lhe esvairia por entre os nódulos metastáticos papilares antes de

perfazer os 30 anos. Há meses que se sentia exausta e João sempre arranjara desculpas para se encafuarem em casa e não irem ao médico, dizendo que o cansaço se devia aos comprimidos usados por Mariana para se manter magra e acompanhar o ritmo do espectáculo. A semana passada, de facto, era uma imensa planície branca até ao desmaio e à recordação de voz de Sérgio, entoando tranquila a oração: o espectáculo prosseguirá dentro de instantes, senhoras e cavalheiros. Ao rememorar o semblante de preocupação por parte da doutora Fátima ao palpar os nódulos na garganta e ao encaminhá-la com urgência para o hospital, para lhe ser retirada uma biópsia, Mariana interrogara-se sobre como chegara aqui. Conhecera João no bar menos frequentado da faculdade. Os pássaros chilreavam sobre os ramos dos arbustos, embora não lhes houvesse prestado atenção

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Era tão raro conhecer alguém com

durante muito tempo, pois apressara-se a acompanhar João ao apartamento exíguo que partilhava com outros três inquilinos na Ameixoeira. Era tão raro conhecer alguém com a mesma fragmentação entre género e vida que não quiseram perder mais tempo. E assim se passaram meses, flutuando sobre planícies de bem-estar químico, até que acordara no momento após o desmaio. João saíra do bar onde ela actuara. Ele não era muito eficaz a lidar com multidões; detestava cenas. Queria-a dócil, mesmo quando se envolviam fisicamente, e tapava-lhe sempre a boca no momento do orgasmo. Por vezes, Mariana temia João, que regressava das excursões com amigos de hálito pesado e pleno de um odor corporal fétido. Sempre que tal sucedia, ele penetrava-a com o dildo sem qualquer preocupação, provocando-lhe lacerações que de-

a mesma fragmentação entre género e vida que não quiseram perder mais tempo. E assim se passaram meses, flutuando sobre planícies de bemestar químico, até que acordara no momento após o desmaio. João saíra do bar onde ela actuara. Ele não era muito eficaz a lidar com multidões; detestava cenas. Queria-a dócil, mesmo quando se envolviam fisicamente, e tapava-lhe sempre

a boca no momento do orgasmo.

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moravam dois ou três dias a passar. Contudo, quando estava sóbrio e num estado de espírito afectuoso, o sexo entre eles era fenomenal. Mariana, porém, não nutria ilusões quanto ao que se passaria. João detestava tudo o que fosse triste e doente – e ela era-o e sê-lo-ia ainda mais à medida que a cirurgia e a quimioterapia lhe retirassem toda a vontade de viver. Não poderia escudar-se por detrás dos espectáculos para ganhar a vida, e João jamais trabalharia para sustentar o casal. O melhor seria terminar a relação antes que ele o fizesse. Descobriria alternativas para angariar algum dinheiro. Os pais não aceitariam tomar conta de Mário depois de o filho se ter assumido como Mariana e abandonado os estudos, e os amigos escasseavam porque João era muito ciumento, mas alguma coisa haveria de se arranjar. Pegou no telemóvel. Ao toque dos dedos dela,

o ecrã iluminou-se. Mariana quedou-se, pensativa. Olhou para o rio em mutação contínua por debaixo de uma aparência de placidez. Procurou o número de contacto de João e, assim que ele atendeu, disse-lhe: – Joana, meu amor, como estás? Tudo bem? Espero que sim. Olha, teremos de ficar por aqui. A nossa relação já deu o que tinha a dar, sempre soubemos que não ficaríamos juntos para sempre, mas passámos bons momentos e espero que possamos permanecer amigos. (stop. espero que compreendas, meu amor, eu estou a morrer. stop. mas tenho receio de que me enxovalhes à frente de todos e me faças perder o meu trabalho, por isso manterei esta mentira enquanto puder. stop. afinal, o espectáculo prosseguirá dentro de momentos, comigo ou sem mim. stop) 

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SARA TIMÓTEO

OBRA LITERÁRIA DEIXAI-ME CANTAR A FLORESTA Papiro Editora, 2011 CHAMA FRIA OU LUCIDEZ Papiro Editora, 2011 A CHILD’S EYE VIEW OF ASTROLOGY Spero Publishing, 2011 A CHILD’S EYE VIEW OF TAROT Spero Publishing, 2012 REFÚGIO MISTERIOSO Lua de Marfim, 2012 (P) ART / (P) ARTE Spero Publishing, 2013 OS PASSOS DE SÓLON Lua de Marfim, 2014 ELIXIR VITAE Lua de Marfim, 2014 OS QUATRO VENTOS DA ALMA Lua de Marfim, 2014 O TELEJORNAL Cadernos de Santa Maria, 2015 O COROLÁRIO DAS PALAVRAS Rui M. Publishing, 2016 REFRACÇÕES ZERO Orquídea Edições, 2016 COMPASSOS Costelas Felinas, 2017 DIÁRIO ALIMENTAR Costelas Felinas, 2017 MANUAL DOS OFÍCIOS Edições Vieira da Silva, 2018

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LIRA VARGAS Nascida em 1952, reside em Niterói, RJ, Brasil. Formada em Letras, publicou 16 livros. Tem diversas participações em Feiras de Livros, TVs e Rádios, em obras colectivas e em movimentos literários no Brasil e em Miami, EUA, e classificações em vários festivais de literatura. Participou nas antologias «Luz de Natal» e «Sinfonia de Amor» da Colecção Sui Generis. Perfil no Facebook: www.facebook.com/clira.lira.7

CARNAVAL É nessa alegria que embarco. Sinto a energia da alegria, da brincadeira, do exagero à inocência, da sensualidade à violência, mistura de viver uma fantasia ou perpetuar o encanto desse dia. Vale sorrir, namorar, vale descalçar, mas é nessa alegria que embarco, viver o presente como se fosse eterno, sem promessa, sem preconceito, do jeito que chegar, a magia da verdade explode corações, emoções à parte, mais importante esconder o rosto em uma máscara, hoje colorir o rosto com brilho, perfume e cores, amores em cada dia de folia. Ah! Se não acabasse jamais, mas acaba. Foram tantos carnavais de cores e amores que vivi. Naquela avenida, confetes e serpentinas uma cortina para a alegria, meninos e meninas com sorrisos sem fim. Clubes e foliões, galanteios à parte, eram ousados, como se aquele momento fosse eterno, sem censura, tudo permitido. Máscaras e cor, um cantor para cada coração, ai! Emoção. Eram dias de folia, de cores e amores, o cinza? Só na quarta-feira, se chovia era alegria, despedida de longos beijos e profundos olhares, que pares que nada, cinza? Só na quarta-feira. E foram tantos carnavais na lembrança que ainda sorrio um rio de saudade sem fim, ai de mim que ainda espero o carnaval, e me pego sorrindo a alegria dos jovens que na juventude vivi. 

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Fernanda Caleffi Barbetta ĂŠ co-autora de Luz de Natal.


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CONTO

FÉNIX “Sempre soube que havia pessoas à sua ANDRÉA SANTOS Andréa Silva Santos é amante das artes: música, teatro, literatura, o que influenciou a sua trajectória profissional. Brasileira, é graduada em Letras Vernáculas (UESB), com especializações na área de Estudos Linguísticos e Literários, Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa e das Literaturas (UNEB). Fez mestrado em Estudos Literários (UEFS). É professora Substituta da UNEB, Campus IX – Barreiras, actuando na área de Literatura e Leitura e Produção Textual. Participou em oficinas de criação literária, nos livros «Prosa & Verso» (Edições MAC/Feira, 2017), «Gotas Poéticas» (Darda Editora, 2018) e «Luz de Natal» (Sui Generis, 2018) e na revista eisFluências (2017). Faz parte da Confraria Poética Feminina. Perfil no Facebook: https://www.facebook.com/andrea.san tos.16568

espera, um lugar para onde voltar. Mas fez escolhas e, sozinha no mundo, seguia sem porto. Os ventos sopravam de longes terras e iam guiando os passos incertos. O coração soa apressado. Volta triste. Tantas promessas! Ela forjou uma existência, frequentou lugares que lhe envergonham, desconheceu fronteiras, visitou abismos, bebeu em taças sujas, brindou a intimidade nas pocilgas dos vilarejos. Ela, que buscava o amor, conheceu a violência de beijos que lhe sugaram a alma, a dignidade; o peso de corpos que destruíram a sua crença no mundo.” POR ANDRÉA SANTOS

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T

entava costurar os retalhos da alma. Seguia na incerteza do que encontraria após tantos anos. Fiapos de ásperos caminhos. Como seria recebida? Andarilha, inventava pretextos para si mesma, tentando justificar sua ausência, a falta de notícias. Sempre soube que havia pessoas à sua espera, um lugar para onde voltar. Mas fez escolhas e, sozinha no mundo, seguia sem porto. Os ventos sopravam de longes terras e iam guiando os passos incertos. O coração soa apressado. Volta triste. Tantas promessas! Ela forjou uma existência, frequentou lugares que lhe envergonham, desconheceu fronteiras, visitou abismos, bebeu em taças sujas, brindou a intimidade nas pocilgas dos vilarejos. Ela, que buscava o amor, conheceu a violência de beijos que lhe sugaram a alma, a dignidade; o peso de corpos que destruíram a sua crença no mundo. Recorda, alisando as marcas nas pernas, de uma vez que um homem dissera o quanto era bela, diferente. Gostou de ouvir. Com aquele daria certo. Realizaria o sonho de ter um lar. Começou a sonhar, fazer planos. Via tudo. O cenário, vestido branco. Ela e seu companheiro fariam u50


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ma cerimônia simples. Ela teria alguém em quem ancorar suas asas. Teriam uma vida sem tantos silêncios; sinos a tocarem uma nova melodia. Corpo e alma dançaram as esperas. Ela, que sempre estivera só, seria amada. Os olhos marejados reconstroem as trilhas que seguiu. Onde ancorar o receio, o arrependimento? Como esconder o desamparo? Em que dobras do passado disfarçar a solidão? Atravessa a distância que separa o portão e a casa, vislumbra a imagem da mãe, os sobrinhos. O pai se aproxima, pega a bolsa pesada. Não traz roupas, sapatos. Somente o desejo de não ter partido, os sonhos desfeitos. E o medo. Reconhece os cheiros, os sabores da infância. As mães sabem que suas crias retornam. Elas têm o dom. Sua mãe havia preparado o prato preferido e também a sobremesa: sobre o fogão, des-

cansava um tacho de doce de leite. Ela desaba. Não era mais a menina e seus sonhos. Recolhe os cacos. Ninguém lhe faz perguntas. As irmãs percebem o desengano nos traços físicos, a dor nas lágrimas que teimam em cair. Ela já não se mostra confiante. Precisa de cuidados que lhe amparem. Permanece imóvel. Os segundos têm a dimensão dos anos que estivera fora. Olha tudo em volta. O relógio aprisionou o tempo. As pessoas continuam felizes em sua simplicidade, despojadas de desejos que conduzem a precipícios. A claridade toca a janela. Mais um dia. Vira-se na cama. É preciso levantar e enfrentar os dragões, tecer outro capítulo da narrativa que renega, revolver-se nas cinzas. Ser fênix.  

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RAQUEL LOPES Tem 30 anos. Nascida em Jaboatão dos Guararapes, Pernambuco, Brasil, mora actualmente no Janga. É amante das artes e literatura, pianista e estudante de Filosofia. Começou a escrever em Janeiro de 2018, incentivada e inspirada pelo escritor Inaldo Tenório de Moura Cavalcanti, conterrâneo residente em Recife, tendo participações em algumas antologias da editora Porto de Lenha: «Brasilidade», «Corolário da Alma», «A Marca da Promessa», «Amor Que Redime» e «Carta Entre Escritores». Também participou na antologia de poemas «Metropolitanos» e em «Cicatrizes da Alma» com um conto sobre a prevenção do suicídio e participa em saraus virtuais de poesia pelas redes sociais. Aprendiz de escritora, é apreciadora da literatura com sensibilidade. É co-autora de uma antologia Sui Generis: «Luz de Natal». Perfil no Facebook: https://www.facebook.com/profile.ph p?id=100004575107428

NOITE ESPECIAL Meu amor, meu amigo Aurélio Receba as saudações calorosas e amorosas do meu tempo saudoso por ti; a minha manhã está tão linda com as nuances despontando da primavera nos raios de sol, ela dá vida e vai colorindo tudo que está relacionado à natureza. É vida em movimento. É um nascer que fala da verdade. Repetidamente reflito na distância entre nós. Sem lógica nessas horas. Lá fora tudo é vivo. E eu quero viver assim contigo. Contudo... A maldade dos homens e o tempo ruim quiseram me afastar de você. Disse isso na carta que enviei assim que soube do seu estado: tinhas sofrido um acidente na charrete, não pensei em mais nada, e nem na nossa última discussão, tão trivial e sem nenhum cabimento agora. Boba. Mas... Será que sentes a minha falta? O meu afastamento também é por interrogatórios de pessoas que nunca sentiram ou sequer sabem o que o amor significa, e sujam de lodo o caminho por onde elas mesmas passam. Escorregos na parvoíce disfarçada de preocupação. Sabemos quem é quem nessa história, não precisam nos ensinar quem não vê um palmo na frente, pois são cegos pela ignorância. 52


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Mas como estás? Estou preocupada contigo. Faz mais de duas semanas que não te vejo, e nem recebo uma carta sua. Sabias que estou morrendo de saudades? Lembro de você todos os dias, converso sozinha com minha sombra a falar sobre você. Vejo a tua fotografia, aquela que estás vestido de casaca azul e pose impoluta como um Duque inglês. Lindo! És lindo meu amor. Releio as nossas antigas cartas. Escreves com tanta paixão que minha alma eleva-se sobre as nuvens num dia fresco como a primavera. As suas ternas palavras sempre falam de rejuvenescimento, e eu sinto. Sinto uma fonte jorrar a água cristalina eternal. Isso é bom! Meu denguinho. E quando chega a noite... Fico a tocar o teu sofrido rosto que se forma nas sombras de meu pensamento. Quero-te beijar e fazer passar essa dor que sei que ainda sentes.

Noite ingrata! Tempo mau e que não permite a nossa união marital. Nessa distância nascerá um oceano de lágrimas. Elas irão trazer-te para mim, amor. Quando lembro de tua voz, eu fico sorrindo pois ela acaricia os meus ouvidos. É a voz do meu tenor-barítono. Che gelida manina, ária de La bohème, lembras? Puccini te inspirou naquele dia, ela faz parte do primeiro acto. Aurélio, como amo ouvir a sua aveludada voz. Eu não sei... hoje não consigo viver sem te ver ou te tocar. Esse sentimento é lindo, também é limpo, corre tranquilo como riacho cristalino. Lembro de uma conversa sobre a densidade filosófica e os estados do homem na sua autoaceitação, uns se resolvem internamente, outros não. E esse escritor fala tão bem da alma pura e dos bons sentimentos que ficamos repletos de calmaria, somente agradecemos a dádiva em poder nos

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amar. Talvez pela primeira vez? Sem você. Com você. Essa noite está sendo especial, pois fazia semanas que o fino fio do nosso amor tinha-se danificado, não havia compreensão pelo distanciamento dos anos. Você sem querer falar comigo, e eu confusa com toda essa história, não é fácil, my love, amar o que o espelho mostra do outro lado do mar. Inatingível? Sempre foste carente, e a única pessoa que realmente te compreende encontra-se aqui: sentada, a te escrever esta saudosa carta. Sonhes comigo amor! Sonhes que estou lendo aquele teu livro favorito: o da capa do não-tempo. Ele existe em nós. Também somos parte dele.

Dois em um. Tu és o céu em que eu flutuo, livre e sem repouso. E eu sou o mar onde navegas, a buscar o outro mundo. O nosso... Também envio-lhe uma pintura: o meu autorretrato em esboço, que um pintor generoso fez de mim. Guardes como se fosse a tua vida, pois ela é. Eu sou sua. Desejo uma rápida e boa recuperação, quando o tempo melhorar irei voando, borboleta que sou, nas asas do amor. Para te ver. Para te amar. Eternamente Sua, sem início e sem fim: Rachel.  

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Maria Lascasas ĂŠ co-autora de Tempo de Magia e Sinfonia de Amor.


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SAMANTA OBADIA Brasileira, 15/12/1967, com dupla nacionalidade portuguesa. Escritora, psicanalista, actriz, filósofa e palestrante. Tem quatro livros publicados pela Letra Capital Editora: «Pessoas, Palavras e Valores: Elos em Construção» (2009), «Eu me Livro: da Prisão das Drogas até o Fim» (2011), «Mengele me Condenou a Viver: A Vivência e as Sequelas de Aleksander Henryk Laks Após o Holocausto» (2012) e «Café com Chantilly, Contos de Motel» (2015). Participou na antologia «Luz de Natal» da Colecção Sui Generis. Perfil no Facebook: www.facebook.com/samantaobadia Página da Autora: www.samantaobadia.com.br Instagram e Linkedin: Samanta Obadia

HABITUADOS AO TÉDIO Viajamos em nosso pensamento quase todo o tempo. Saímos do presente, revisitamos o passado e sonhamos com o futuro. Sair do lugar é sempre bom, mesmo que haja percalços no caminho. Nossa mente não se contenta com o lugar que ocupa. Ela insiste em circular. Também por isso devemos nos deslocar de nossos hábitos. Andar por outras calçadas, observar outras pessoas, ouvir outros cantos. Ampliar nossa visão interna e externa. As pessoas entediam-se de suas ocupações, esfriam seus relacionamentos, perdem a excitação pela vida. Porque se acostumam a ver do mesmo lugar. Não trocam de lado, não invertem os papéis, não se imaginam no espaço do outro. Quando menina, eu fechava meus olhos no escuro para experimentar o lugar do cego, no desafio de caminhar sem ver. Ainda hoje, ao percorrer as ruas, observo as diferentes janelas e me imagino a partir daquela moldura, e penso como seria minha vida se eu vivesse ali. Na escuta do outro, exercito minha capacidade de observar além do que me é dito. Exercito minha intuição para perceber a energia que o outro vive em sua experiência tão única. Para viver é preciso não ter medo de se reinventar a cada instante, de maneira que o outro, mesmo igual, se surpreenda contigo e seja impelido a andar, a correr, a voar. O importante é sair do lugar. Pois, como disse Ugo Ojetti, escritor italiano, «o tédio é uma invenção dos preguiçosos».  56



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LANÇAMENTO

OS VIGARISTAS Antologia literária reúne crónicas, poemas e contos do vigário de 26 autores

lusófonos. Organizada por Isidro Sousa para a Colecção Sui Generis.

Os Vigaristas é uma obra colectiva organizada e coordenada por Isidro Sousa para a Colecção Sui Generis e editada com a chancela Euedito. Reúne ao longo de 240 páginas crónicas, poemas e contos do vigário, subordinados à temática e ao universo dos vigaristas, redigidos por 24 autores lusófonos contemporâneos de Portugal, Brasil e Cabo Verde, aos quais acrescem dois contos de dois autores clássicos portugueses: Fernando Pessoa e Camilo Castelo Branco. Eis os seus nomes por ordem alfabética: Ana Maria Dias, Angelina Violante, Camilo Castelo Branco, Carlos Arinto, Carlos Fernandes, Diamantino Bártolo, Espedita China, Estêvão de Sousa, Everton Medeiros, Fernando Pessoa, Florizandra Porto, Gil Ferreira, Gisa Borges, Guadalupe Navarro, João Almeida, Jonnata Henrique, Luiggi Steffan, Madalena Cordeiro, Marcella Reis, Marizeth Maria Pereira, Rosa Marques, Sandra Boveto, Sara Timóteo, Sertorius, Suzete Fraga e Tito Lívio. Esta obra literária encontra-se à venda na livraria online Euedito, na Libros.cc, na Amazon e em algumas outras plataformas de distribuição digital. E pode ser adquirida directamente à Sui Generis, pelo email letras.suigeneris@gmal.com ou através das páginas na rede social Facebook. 

Os Vigaristas – Crónicas, Poemas e Contos do Vigário. Vários Autores. Organização e Coordenação Isidro Sousa. Colecção Sui Generis, Euedito. ISBN 978-989-8896-09-4. 1ª Edição: Novembro 2018. Depósito Legal: 435956/17. 59



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APRESENTAÇÃO

OS VIGARISTAS ISIDRO SOUSA Nasceu em 1973, numa aldeia remota das Terras do Demo, concelho de Moimenta da Beira, e reside no Porto. Jornalista e editor de publicações periódicas desde 1996, fundou, dirigiu e editou revistas, jornais e guias turísticos, publicou a primeira antologia em Fevereiro de 2001, colaborou com três editoras, participou em várias dezenas de obras colectivas, foi distinguido num concurso literário e é o responsável pelos projectos da Sui Generis, que criou em Dezembro de 2015. Publicou três livros de contos e novelas: «Amargo Amargar», «O Pranto do Cisne» e «De Lírios».

“Ao invés de acobardar-me ante a nova campanha (mais uma) de desmoralização pública, ousei enfrentar a fera – usando a literatura como arma! Foi desse modo, no mesmíssimo instante em que tomei conhecimento do dito concurso e da dita colectânea paralela ao concurso, que decidi promover, num momento claramente impulsivo (irreflectido?), uma nova antologia literária cujo tema seria dedicado

Páginas no Facebook: www.facebook.com/isidro.sousa.1 www.facebook.com/isidro.sousa.2

àquele que eu (e uma imensidão de autores

Blogue do Autor: http://isidelirios.blogspot.com

ser o verdadeiro carácter da figura que

lesados pela mesma pessoa) considerava

me atormentava... o título nada tinha de “oportunista” mas não poderia ser mais oportuno e revelador: Os Vigaristas.” POR ISIDRO SOUSA

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esde que instituí a Colecção Sui Generis, antologia independente que organizava em paraplaneei cuidadosamente cada um dos lelo às funções exercidas na editora que, volvidos projectos literários que viria a organizar quatro meses, aquando da sua publicação, daria para esta colecção. Cada vez que divulgava o reguorigem à Sui Generis: a já referida A Bíblia dos Pelamento de uma nova obra colectiva, já há muito cadores. (Esse conflito de má memória desencatempo que o tema proposto nesse regulamento deou-se nos últimos dias de Novembro de 2015.) havia sido estudado e estava bem definido. Cito Defendi sempre, com unhas e dentes e a garra de como exemplo a antologia um leão, o meu projecto; inaugural da colecção, A Bínão permiti que me fosse blia dos Pecadores – Do Géarrebatado! Remando connesis ao Apocalipse, cuja tra ventos e marés, a im«Ó Isidro, que história é essa ideia original surgira pela pressão do livro tornou-se Páscoa de 2015 e foi sendo uma realidade e chegou o de vigaristas e oportunistas?» “cozinhada em lume brandia, na cidade de Lisboa, da As minhas palavras não poderido” durante os meses subsua apresentação pública: am ser mais frontais: «Assumo sequentes, até que o seu 13 de Fevereiro de 2016. regulamento se tornou púDurante todo esse períque se trata de uma resposta. blico em Agosto desse ano. odo, a referida pessoa, talAquela mulher tem de entender, De facto, prefiro amadurevez frustrada por não ter de uma vez por todas, que eu cer com bastante antececonseguido apoderar-se do dência qualquer tema que suor alheio, moveu-me unão me deixo intimidar!» E, de proponho desenvolver, tal ma perseguição desenfreafacto, assim sucedeu: nunca como gosto de preparar da pelas redes sociais. Enme intimidei perante a perigosiminuciosamente todas as tre ameaças veladas e inetapas inerentes ao processultos, chamava-me nomes dade de uma vigária mesquiso de produção e edição de como “estúpido” e “verme” nha, de má índole. Tal como, cada livro. Uma regra bem e insinuava publicamente também de facto, eu deixaria, vincada em todas as obras que eu era um “oportunisliterárias, individuais e cota”, numa tentativa de desdaí em diante, de sentir-me imlectivas, integradas na Comoralizar-me e quiçá fragiportunado. A carapuça em boa lecção Sui Generis. Ou em lizar-me. Já que não lhe foquase todas. A excepção ra possível usurpar a (mihora tornada pública encaixara ocorreu com Os Vigarisnha) Bíblia, restava-lhe a na perfeição na cabeça (matas... cuja concepção inicial via da vingança: aniquilarquiavélica) de alguém. resultou de um impulso. me! Ou seja: destruir-me Nessa época, particularmoralmente e psicologicamente no campo literário, mente... vivia uma situação algo dramática e um tanto surEssa perseguição culminaria com uma grotesca real. A pessoa responsável por um conhecido grutentativa de sabotagem à sessão de apresentação po editorial, para o qual trabalhei entre Setembro de A Bíblia dos Pecadores e, no dia seguinte, com e Novembro de 2015, dinamizando uma das quaa divulgação do novo concurso literário, promovitro editoras que compunham a empresa, quis do por uma das editoras que compunham o grupo (tentou) apoderar-se, sem qualquer pingo de eseditorial, intitulado O Oportunista – cada edição crúpulos, da minha (primeira) obra colectiva: uma do certame explorava um tema diferente. Como 62


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se isso não bastasse, o tema da colectânea paralela (que associava sempre) ao concurso subordinava-se ao lema Em terra de cegos quem tem olho é rei... uma clara tentativa de voltar os autores (largas dezenas envolvidos, directa ou indirectamente) contra mim... chamando-os descaradamente de “cegos”. Só que, dessa vez, reagi. E a minha reacção foi totalmente inesperada. Ao invés de acobardar-me ante a nova campanha (mais uma) de desmoralização pública, ousei enfrentar a fera – usando a literatura como arma! Foi desse modo, no mesmíssimo instante em que tomei conhecimento do dito concurso e da dita colectânea paralela ao concurso, que decidi promover, num momento claramente impulsivo (irreflectido?), uma nova antologia literária cujo tema seria dedicado àquele que eu (e uma imensidão de autores lesados pela mesma pessoa) considerava ser o verdadeiro carácter da figura que me atormentava... o título nada tinha de “oportunista” mas não poderia ser mais oportuno e revelador: Os Vigaristas. Regulamento e cartazes promocionais não tardaram a circular na Internet... principalmente, nas

redes sociais. Causaram forte impacte. E também, possivelmente, alguma confusão... mas, acima de tudo, uma certa compreensão do que se passava. De tal modo que o autor Carlos Arinto indagou logo: «Ó Isidro, que história é essa de vigaristas e oportunistas?» As minhas palavras não poderiam ser mais frontais: «Assumo que se trata de uma resposta. Aquela mulher tem de entender, de uma vez por todas, que eu não me deixo intimidar!» E, de facto, assim sucedeu: nunca me intimidei perante a perigosidade de uma vigária mesquinha, de má índole. Tal como, também de facto, eu deixaria, daí em diante, de sentir-me importunado. A carapuça em boa hora tornada pública encaixara na perfeição na cabeça (maquiavélica) de alguém. Desde que passei a promover publicamente, numa base diária e sem qualquer hesitação, a nova antologia intitulada Os Vigaristas, a dita pessoa que tentara aplicar-me o golpe deu mostras de ter compreendido que muito dificilmente conseguiria extorquir-me – ou mesmo derrubar-me. Então, decidiu deixar-me em paz. Deume paz. A paz que eu tanto almejava.

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O tempo foi correndo, outras situações sucedendo (alheias a este assunto mas que acabariam por interferir, de algum modo, na celeridade do projecto) e a “resposta” inicial pela via da literatura foi perdendo o interesse. Recuperada a paz outrora perdida, qualquer “vingança” deixaria de fazer sentido – porque, de facto, eu só queria laborar em paz... só desejava desenvolver os meus projectos literários em paz! Não tornei a preocupar-me com isso. No entanto, havia posto em marcha uma (nova) antologia cujo tema, fruto das circunstâncias e resultante de um impulso defensivo, não tardei a perceber ser deveras fascinante. Que já fora explorado inúmeras vezes em diversos campos artísticos... da literatura à sétima arte, das artes cénicas à teledramaturgia, etc. A partir daí só esse facto assumiria importância: o tema! E não obstante os imensos contratempos (de outras naturezas) que doravante surgiriam, desencadeando um longo atraso na produção e impressão da obra finalizada, o projecto, embora peque pela concretização tardia, resultaria num belíssimo livro dedicado – agora somente numa perspectiva literária – ao universo dos vigários e das vigarices. Sobre o tema em si... qual é a sua definição? De acordo com os dicionários e enciclopédias que

consultei, o vigarista (substantivo masculino e feminino) é alguém «que se especializou a enganar outras pessoas». O Dicionário Priberam da Língua Portuguesa diz que é um «indivíduo que visa enganar outros por meios ardilosos ou de má-fé» e «engana os mais incautos, servindo-se do contodo-vigário para lhes tirar dinheiro». A Infopédia define-o como «indivíduo que explora outros por meios fraudulentos» e «pessoa que pretende trocar moeda falsa e objectos sem valor por moeda legal e objectos de preço». Já o Dicionário Online de Português resume-o a «pessoa que passa o conto-do-vigário». E os sinónimos, em qualquer dicionário, abundam: burlão, intrujão, trapaceiro, batoteiro, embusteiro, impostor, trafulha, enganador, charlatão, patife, chantagista, trampolineiro, golpista, farsante, mentiroso, velhaco, pilantra, desonesto, falcatrueiro, aldrabão, vígaro, gatuno, ladrão, larápio, rapinante, vigário, entre outros. A Vikipédia traça-nos um perfil mais completo. Segundo esta enciclopédia virtual, o vigarista é alguém especializado em «enganar outras pessoas, passando a ser considerado um criminoso quando os seus actos têm consequências graves, como obter lucros ilícitos, ganhando dinheiro através de fraude, enganando, mentindo e encenando situações que levam os mais ingénuos ou gananciosos a acreditar que estão a fazer um bom negócio mas, na verdade, estão a ser ludibriados». E ao contrário do que se possa pensar, prossegue a Vikipédia, «um vigarista tem boa aparência, transmite confiança, é esperto e tem a capacidade de assumir a aparência necessária para lidar com a situação do momento, tanto podendo ser do sexo masculino como feminino, sendo charmosos e persuasivos», frisando que «existem imensos tipos de vigaristas, sendo praticamente impossível descrevê-los a todos; normalmente, são descritos pelo tipo de vigarices que praticam, que podem ir desde variações de golpes centenários à criação de golpes originais e à utilização das novas tecnologias e mesmo à forma de tornear as leis. Os tipos mais comuns são os vigaristas de negócios, de empréstimos, de rua e da Internet.» A mesma en-

O vigarista é alguém especializado em «enganar outras pessoas,

passando a ser considerado um criminoso quando os seus actos têm consequências graves, como obter lucros ilícitos, ganhando dinheiro através de fraude, enganando, mentindo e encenando situações que levam os mais ingénuos ou gananciosos a acreditar que estão a fazer um

bom negócio mas, na verdade, estão a ser ludibriados».

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ciclopédia, apresentando outros termos para definir os vigaristas, refere que no Brasil são também conhecidos por enganador, fraudador, estelionatário e 171 (número do artigo do Código Penal brasileiro para o crime de estelionato), e esclarece que a palavra “vigarista” deriva de “conto do vigário”, expressão usada para descrever de forma genérica qualquer tipo de história que pareça verdadeira mas que, de facto, não o é e tem como único objectivo induzir quem a ouve a desembolsar dinheiro. Posta a explanação, eis a questão: quem não reconhece um vigarista? No prédio ou na rua onde vive, no ambiente de trabalho, no café, na discoteca, no baile da paróquia, na associação cultural, nos santuários que frequenta, nas instituições, na empresa a que recorre para contratar um serviço, em qualquer lugar... Quem não conhece vigaristas daqueles bem simpáticos, dissimulados, sonsos, porém, cativantes, atenciosos, podendo mesmo ser fascinantes, com sorrisos manhosos, falinhas mansas e olhares de deleite, quais aves de rapina, algo carismáticos, aparentemente acima de qualquer suspeita, que no início fazem de tudo para “meter as pessoas no coração”, mas... quando menos se espera... eis a desilusão! Espetam-lhes a faca nas costas sem qualquer hesitação! «Quem de vós nunca se sentiu ludibriado... enganado... vigarizado? No contrato que assinou, no serviço que não recebeu, no dinheiro emprestado, nos “direitos” nunca vislumbrados, no amor jamais recebido, inclusive no casamento que não resultou (o famoso “golpe do baú”)... enfim, em tantas situações da vida quotidiana. Afinal, quem nunca se deixou levar pela Cantiga do Bandido?» Era este o desafio que constava no texto introdutório ao regulamento de Os Vigaristas, divulga-

do durante meses na Internet, sendo ilustrado por (diversos) cartazes bastante apelativos. E o resultado, pese embora tardio, é a obra colectiva que agora se apresenta, constituída por crónicas, poemas e “contos do vigário” de 26 autores lusófonos, de Portugal, Brasil e Cabo Verde, em que se incluem contos de dois grandes vultos da Literatura Portuguesa: Camilo Castelo Branco e Fernando Pessoa. Uma especial atenção ao mestre Fernando Pessoa, que legou-nos uma deliciosa e sagaz história, escrita em 1926 com o sugestivo título Um Grande Português, tendo sido republicada três anos mais tarde já com o nome A Origem do Conto do Vigário – na qual ficciona a vida de Manuel Peres Vigário, um lavrador ribatejano que se terá aproveitado da ganância alheia para trapacear. Um conto literário preciosíssimo que não poderíamos deixar de incluir nas páginas desta tão sui generis antologia literária. Boas leituras!  Pode adquirir Os Vigaristas na livraria Euedito, na Amazon ou encomendá-lo por email: letras.suigeneris@gmail.com

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ANTOLOGIA «OS VIGARISTAS»

26 AUTORES

LUSÓFONOS BREVE NOTA BIOGRÁFICA DE TODOS OS AUTORES

ANA MARIA DIAS – Ana Maria de Oliveira Dias nasceu em 1952, em Moçambique. Professora do 3º Ciclo e Secundário, participa em antologias nacionais, brasileiras e lusófonas. Produz contos infanto-juvenis e outros, crítica literária, ensaios, poesia, prosa poética; alguns textos já se encontram editados. Nos anos 70, teve a seu cargo efemérides e bio-bibliografias, editadas através da Lusa, Agência Noticiosa. Participou em crítica cinematográfica, promovida por Lauro António, em que obteve vários primeiros lugares (programa televisivo), e em Jogos Florais, com alguns prémios. É co-autora de várias antologias da Colecção Sui Generis: «Graças a Deus!», «Vendaval de Emoções», «Fúria de Viver», «Devassos no Paraíso» e «Tempo de Magia».

res», «O Beijo do Vampiro», «Vendaval de Emoções», «Graças a Deus!», «Ninguém Leva a Mal», «Torrente de Paixões», «Saloios & Caipiras», «Sexta-Feira 13», «Crimes Sem Rosto», «Fúria de Viver», «A Primavera dos Sorrisos», «Tempo de Magia», «Luz de Natal» e «Sinfonia de Amor».

ANGELINA VIOLANTE [foto à direita] – Nascida em 1977, Angelina Rosa Nogueira Santos Violante é doméstica e mãe de um menino. Escrever sempre foi um sonho e tem por hobbies (além de ler e escrever) bordar, montar puzzles e pintar; também é fã de passatempos (palavras cruzadas, sopas de letras, sudoku, etc). Tem trabalhos publicados em obras colectivas de várias editoras. Da Colecção Sui Generis, participou em «A Bíblia dos Pecado-

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ser, mas não é. É autor porque inventa, dá forma, procura mostrar o lado original da vida. É autor porque o que escreve é da sua lavra, do seu íntimo e da sua formação sedimentosa. Tem nome que não esconde. Tudo o resto é marca de água e papel borrado. «Eu gosto muito de ser autor, senhor doutor», afirma. Participações em antologias Sui Generis: «A Bíblia dos Pecadores», «O Beijo do Vampiro», «Vendaval de Emoções», «Graças a Deus!», «Ninguém Leva a Mal», «Torrente de Paixões», «Saloios & Caipiras», «Sexta-Feira 13», «Fúria de Viver», «Crimes Sem Rosto» e «Devassos no Paraíso». CARLOS FERNANDES [foto em baixo] – Reside em Natal (Rio Grande do Norte, Brasil), onde nasceu em 1965. Jornalista e mestre em Literatura Comparada pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte, com dissertação sobre a poesia do curitibano Paulo Leminski. Tem publicado artigos, crónicas, entrevistas e reportagens na imprensa potiguar, além de poemas em antologias. Em 1990 ganhou o concurso literário Othoniel Meneses (poesia), promovido pela Prefeitura Municipal de Natal. Morou nas cidades de Macapá e João Pessoa, onde leccionou na gra-

CAMILO CASTELO BRANCO [foto em cima] – Camilo Ferreira Botelho Castelo Branco (1825-1890) foi um dos escritores mais prolíferos e marcantes da literatura portuguesa, e talvez a maior figura do movimento romântico. Teve uma vida bastante atribulada, conseguindo ser mais mirabolante do que qualquer um dos seus romances, que lhe serviu muitas vezes de inspiração para escrever. Romancista, cronista, crítico, dramaturgo, historiador, poeta e tradutor, foi o primeiro escritor de língua portuguesa a viver exclusivamente do que escrevia. Durante quase 40 anos, entre 1851 e 1890, escreveu à pena, logo sem qualquer ajuda mecânica, mais de 260 obras, com a média superior a seis por ano, tendo deixado obras de referência na literatura lusitana. Apesar de toda essa fecundidade, não permitiu que a intensa produção prejudicasse a sua beleza idiomática ou mesmo a dimensão do seu vernáculo, transformandoo numa das maiores expressões artísticas e a sua figura num mestre da língua portuguesa. CARLOS ARINTO – O autor escreve e é autor porque não é pintor, nem escultor nem músico. Podia

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duação do curso de comunicação social. Actualmente, mantém em actividade o blogue intitulado Caminhos Cruzados com uma amostragem do seu interesse pela poesia japonesa, em especial as formas breves do haicai e do tanka.

tura. É autora das obras: «Onde Nasce a Fé, Uma História de Amor e Fé», editada em Portugal (Sítio do Livro) e no Brasil (Editora Scortecci), «Experiência de Fé na Expansão da Luz» e «A Reinserção é Antes da Concepção», estas duas editadas em Vitória Espírito Santo, Brasil. Participou na antologia luso-brasileira «Saloios & Caipiras», da Colecção Sui Generis.

DIAMANTINO BÁRTOLO – Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo é natural de Venade (Caminha), Licenciado em Filosofia (Universidade Católica Portuguesa), Mestre em Filosofia Moderna e Contemporânea (Universidade do Minho), Doutorado em Filosofia Social e Política; Especialização: Cidadania Luso-Brasileira, Direitos Humanos e Relações Interpessoais, pela FATECBA, Faculdade Teológica e Cultural da Bahia, Brasil. Obra literária: 8 antologias próprias, 16 antologias em co-edição e mais de 900 artigos publicados em vários jornais, sites e blogues de Portugal, Brasil, Bélgica e França. Vencedor do 3º Concurso Internacional de Prosa, Prémio Machado de Assis 2015, Confraria Cultural Brasil-Portugal, Brasil. Académico Correspondente-Internacional, Cadeira XXI, da Academia Lavrense de Letras. Académico Correspondente-Internacional do GREBAL, Grémio Literário de Barra Mansa, Brasil. Presidente do NALAL, Núcleo Académico de Letras e Artes de Lisboa. Da Colecção Sui Generis, participou nas antologias «Graças a Deus!», «Saloios & Caipiras», «Fúria de Viver», «A Primavera dos Sorrisos», «Luz de Natal», «Tempo de Magia», «Devassos no Paraíso» e «Sinfonia de Amor».

ESTÊVÃO DE SOUSA [foto em cima] – Nasceu em Lisboa, em 1937. Viveu em Angola dos 15 aos 36 anos, onde completou o curso geral de Comércio. Fez um curso de Geologia e Mecânica de Solos, sendo técnico da J.A.E.A. Já em Portugal, fez um curso de Gestão e Administração de Empresas, exercendo funções de Director Administrativo. Hoje, aposentado, escreve. Autor dos livros «Nesta Terra Abençoada», «Tráfico no Rio Geba», «Irina – A Guerrilheira», «Rapto em Londres», «Romance em São Tomé», «Pedaços de Mim», «Contos, Estórias & Companhia» e «A Profanação do Túmulo». Publicou trabalhos em diversas antologias. Da Colecção Sui Generis participou em «A Bíblia dos Pecadores», «O Beijo do Vampiro», «Saloios & Caipiras», «Fúria de Viver», «Crimes Sem Rosto», «A Primavera dos Sorrisos», «Devassos no Paraíso», «Luz de Natal» e «Sinfonia de Amor».

ESPEDITA CHINA – Espedita Maria Silva China nasceu no município de Crato Ceará, Brasil, em finais dos anos 50, onde viveu até aos 15 anos, quando passou a residir na cidade do Crato e, posteriormente, noutras capitais do País. Tem dupla residência, entre Brasil e Portugal, há 13 anos. Formação: enfermagem e Psicologia Contemporânea. Actualmente, está cadeirante; dedica-se à litera-

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FERNANDO PESSOA [foto em baixo] – Fernando António Nogueira Pessoa (1888-1935), mais conhecido como Fernando Pessoa, foi um poeta e escritor português. É considerado um dos maiores poetas da Língua Portuguesa e da literatura universal contemporânea. Foi também empresário, editor, crítico literário, jornalista, comentador político, tradutor, inventor, astrólogo e publicitário, ao mesmo tempo que produzia a sua obra literária em verso e em prosa. Como poeta, desdobrou-se em múltiplas personalidades conhecidas como heterónimos: Ricardo Reis, Álvaro de Campos, Alberto Caeiro, Bernardo Soares, etc. Centro irradiador da heteronímia, autodenominou-se um “drama em figura de gente”.

EVERTON MEDEIROS [foto em cima] – Nascido em 1968, na cidade de Porto Alegre, Estado do Rio Grande do Sul, reside na cidade de Maringá, Estado do Paraná, Brasil. É engenheiro químico e especialista em engenharia económica. Servidor público federal desde 1995, hoje ocupa o cargo de Auditor-Fiscal da Receita Federal do Brasil. Entre os seus hobbies, tem a astronomia amadora e a escrita. Em 2000, entrou para o universo da escrita mediante a produção de um roteiro cinematográfico voltado ao mercado norte-americano, e participou em vários concursos desse género. A obra foi registada nos órgãos competentes de direitos autorais, no Brasil e nos EUA, em 2001. Participa em obras colectivas de diversas editoras de países lusófonos como o Brasil e Portugal. Da Colecção Sui Generis, é co-autor das antologias «Sexta-Feira 13», «Graças a Deus!», «Fúria de Viver», «Tempo de Magia» e «Devassos no Paraíso». Publicou um livro de contos: «Dezoito» (Editora Scortecci, 2017).

FLORIZANDRA PORTO – Nascida em Cabo Verde, na cidade de Mindelo, ilha de São Vicente, em 1983, Florizandra Delgado Porto Barros formou-se em Educação de Infância pelo Instituto Pedagógico da Praia. É professora do ensino básico integrado. Em 2004, participou no concurso de literatura promovido pela Direcção da Juventude na ilha natal e conseguiu o 1º lugar na poesia e o 2º lugar no conto. Em Julho de 2012, integrou o fanzine de poesia e banda desenhada Banda Poética. Em 2015, lançou o seu primeiro livro, «O Melhor Amigo» (contos infanto-juvenis). Participou nas antologias «Ninguém Leva a Mal», «Torrente de Paixões», «Sexta-Feira 13» e «Devassos no Paraíso» da Colecção Sui Generis.

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GIL FERREIRA – Nascido em 1967, reside em Belém do Pará, Brasil. Formado em Filosofia, é dramaturgo, contista, cronista, ensaísta, romancista e poeta. Da Colecção Sui Generis, participou em «Devassos no Paraíso».

blicou dois livros: «Poemas da Alma» (Pastelaria Studios, 2015) e «Decifra-me... ou Devoro-te!» (Sui Generis, 2017).

GISA BORGES [foto em baixo] – Pseudónimo de Gisela Borges, nasceu em Julho de 1988. Apesar de não ter estudado para além do 12º ano, gostou sempre de se manter intelectualmente activa, conseguindo-o através da leitura e troca de opiniões frequentemente. Pouco adepta de mundos cor-de-rosa, tende a colocar nos seus textos ingredientes incomuns. Participou na antologia «Crimes Sem Rosto», da Colecção Sui Generis.

JOÃO ALMEIDA [foto em cima] – Nasceu em 1993 e pensa que o melhor que se tem no mundo será o poder veicular experiências e modos de olhar e de apreciar o mesmo, bem como todos os fenómenos que nele ocorrem. Por isso, escreve. Tenta seguir o sonho de um dia vir a ser uma grande pessoa e de poder tocar o outro com a sua escrita, dando a mão a quem precisar. Gosta de poesia, contos e romances, bem como de tocar guitarra. Gosta de viver e, mais importante que tudo, de existir autenticamente sem medo de o fazer. Da Colecção Sui Generis, participou nas antologias «O Beijo do Vampiro», «Vendaval de Emoções» e «Torrente de Paixões».

GUADALUPE NAVARRO – Nascida em Lima, Peru, vive no Rio de Janeiro, Brasil. É bacharel em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, com pós-graduação em Filosofia Comtemporânea. Em 2014, publicou os seus primeiros poemas; em 2015, estreou-se na prosa com a sátira A Estátua de Sal, na antologia «A Bíblia dos Pecadores». Participou em «Boas Festas», «O Beijo do Vampiro», «Vendaval de Emoções», «Graças a Deus!», «Ninguém Leva a Mal», «Saloios & Caipiras», «Sexta-Feira 13», «Fúria de Viver», «A Primavera dos Sorrisos», «Tempo de Magia» e «Devassos no Paraíso», da Colecção Sui Generis. Pu-

JONNATA HENRIQUE [foto na página seguinte, em cima à esquerda] – Brasileiro da cidade de Brejo da Madre de Deus, Pernambuco, mostrava ainda criança certa intimidade com as letras, escrevendo textos, redacções e peças escolares na 71


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bana. Na idade adulta desenvolveu o gosto pela leitura. Por incentivo de amigos que lêem os seus escritos decidiu assumir-se escritor. MADALENA CORDEIRO [foto em baixo] – Madalena Alves Cordeiro Rocha nasceu em 1956 e reside em Vitória, ES, Brasil. Gosta de todo o tipo de literatura, e cultura em geral. Obras literárias de sua autoria: «O Sol e a Lua» (2013, poesias), «Amigo da Onça» (2014, contos) e «A Ovelha Perdida Foi Encontrada» (Edições Hórus, 2015). Participou na 1ª e 2ª Antologia Vários Autores Poesia Fã Clube (2013 e 2014), nas antologias «100 Trovas Sobre Futebol» e «100 Trovas Sobre Cachaça», de António Cabral Filho, e em «Fragmentos Duetos», do poeta João Murty. Da Colecção Sui Generis, é coautora de «Graças a Deus!», «Torrente de Paixões», «Fúria de Viver» e «Tempo de Magia». sua escola; adentrou no mundo da escrita onde está até hoje. Poeta, cordelista, contista, é autor de cerca de 60 títulos de literatura de cordel, publica poesias em décimas, sextilhas, septilhas, sonetos, entre outros estilos poéticos, na sua rede social e participa em antologias de prosa e poesia de editoras brasileiras e portuguesas. Romance, ficção, popular, filosofia, tecnologia, humor, tudo é motivo para escrever, ama o que faz, é ecléctico, semeando palavras. Organizou recentemente a sua primeira antologia: «Aquarela de Emoções» (Darda Editora, 2018). Da Colecção Sui Generis, participou nas antologias: «A Bíblia dos Pecadores», «O Beijo do Vampiro», «Vendaval de Emoções», «Graças a Deus!», «Ninguém Leva a Mal», «Torrente de Paixões», «Saloios & Caipiras», «Sexta-Feira 13», «Fúria de Viver», «Devassos no Paraíso» e «Sinfonia de Amor».

MARCELLA REIS – Nascida em 1984, em Goiânia (Goiás), Brasil, reside na zona de Sintra, Portugal. Obras editadas: «Era Uma Vez a Poesia...» (Chiado Editora, 2012), «O Dia Em Que Pari Minha Mãe» (Edições Vieira da Silva, 2013) e «Lágrima Artificial» (Alma Lusa, 2016). Classificada em 3º Lugar no Concurso Internacional de Contos de Araçatuba, venceu o concurso Peças de Um Minuto com a peça Beijo de Línguas, obteve Menções Honrosas noutros certames e participou em várias obras colectivas. Presença regular nos projectos Sui Generis, coordenou, a convite de Isidro Sousa, a sua primeira antologia: «Saloios & Caipiras». Em 2016,

LUIGGI STEFFAN – Nasceu em 1986 e cresceu nos bairros do Capão Redondo e Campo Limpo na zona sul de São Paulo. Aos 15 anos a sua facilidade em falar para grandes públicos foi percebida na apresentação de um trabalho de turma. Passou a adolescência ouvindo Racionais Mc' e Legião Ur-

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venceu o 1º Concurso Literário da Silkskin Editora; o prémio consistiu na edição de uma novela erótica: «Amantes Lepidópteras».

volvidos. Gosta de ler e de tudo o que está ligado à arte e à cultura. Adora poesia e, de vez em quando, aventura-se a escrever o que lhe vai na alma... sobre recordações de infância e sobre a Natureza, a quem declara um amor incondicional; alguns textos em prosa também. Participou em diversas obras colectivas de várias editoras, em Portugal e no Brasil. Da Colecção Sui Generis: «A Bíblia dos Pecadores», «O Beijo do Vampiro», «Vendaval de Emoções», «Graças a Deus!», «Ninguém Leva a Mal», «Torrente de Paixões», «Saloios & Caipiras», «Sexta-Feira 13», «Fúria de Viver», «A Primavera dos Sorrisos», «Tempo de Magia», «Devassos no Paraíso», «Luz de Natal» e «Sinfonia de Amor». Publicou dois livros: «Mar em Mim» (Sui Generis, 2016; reeditado em 2018) e «Prisioneiros do Progresso» (Sui Generis, 2017). SANDRA BOVETO [foto em baixo] – Nascida em 1969, reside na cidade de Maringá, Paraná, Brasil. Possui graduações académicas em Letras e Direito. Exerce o cargo de Auditor-Fiscal da Receita Federal do Brasil. Dedica-se, como hobby, à dança. Desde 2015, prioriza o seu tempo disponível com

MARIZETH MARIA PEREIRA [foto em cima] – Nascida em Brotas de Macaúbas, BA, Brasil, em 1968, reside na cidade de Osasco, SP, onde participa em vários eventos culturais. Eleita Conselheira Municipal pelo direito da mulher na Coordenadoria da Mulher, Igualdade Racial e Diversidade Sexual, faz parte da Directoria de Cultura do partido político PROS MULHER, no qual luta pela inclusão cultural e igualdade social. Autora dos livros «Reflexos da Vida» e «Segredos de Uma Vida», usa os seus poemas em palestras e eventos culturais com os quais chama a atenção das pessoas para situações polémicas e reais da sociedade. Da Colecção Sui Generis, participou nas antologias «Vendaval de Emoções», «Graças a Deus!», «Ninguém Leva a Mal», «Torrente de Paixões», «Sexta-Feira 13», «Fúria de Viver», «Tempo de Magia», «A Primavera dos Sorrisos» e «Sinfonia de Amor». ROSA MARQUES – Nascida na Madeira, em 1959, Rosa Maria Correia Marques reside em Porto Santo. Preocupa-a a situação precária em que o Mundo se encontra, a condição humana (especialmente as crianças) e todos os que vivem em situações desumanas, principalmente nos países subdesen73


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a escrita. É autora de «O Mundo Exclamante», um livro infanto-juvenil publicado em 2016. Tem participações em várias obras colectivas, no Brasil e em Portugal, e trabalhos publicados na plataforma Wattpad. Da Colecção Sui Generis, participou nas antologias «Graças a Deus!», «Fúria de Viver», «Torrente de Paixões», «Sexta-Feira 13» e «Tempo de Magia». SARA TIMÓTEO [foto em baixo] – Publicou vários livros: «Deixai-me Cantar a Floresta» e «Chama Fria ou Lucidez» (Papiro Editora, 2011); «Refúgio Misterioso» (2012), «Os Passos de Sólon» (2014), «Elixir Vitae» (2014) e «Os Quatro Ventos da Alma» (2014) através da Lua de Marfim Editora; «O Telejornal» (Cadernos de Santa Maria, 2015); «O Corolário das Palavras» (Rui M. Publishing, 2016, e-book); «Refracções Zero» (Orquídea Edições, 2016); «Compassos» e «Diário Alimentar» (Costelas Felinas, 2017). Tem dois livros de não-ficção e um livro de poesia bilingue publicados nos EUA. Participou em diversas antologias da Colecção Sui Generis: «A Bíblia dos Pecadores», «O Beijo do Vampiro», «Vendaval de Emoções», «Graças a Deus!», «Ninguém Leva a Mal», «Torrente de Paixões», «Saloios & Caipiras», «Crimes Sem Rosto», «Sexta-Feira 13», «Fúria de Viver», «A Primavera dos Sorrisos», «Tempo de Magia», «Devassos no Paraíso», «Luz de Natal» e «Sinfonia de Amor».

SERTORIUS [foto em cima] – Pseudónimo de Luís Chagas. Nascido da safra de 70, em Lisboa, reside na margem certa do Tejo: Margem Sul. Frequentou o Curso de Línguas e Literaturas Modernas (variante de Estudos Portugueses) na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, tendo muitos anos antes desenvolvido um gosto pela leitura e pela escrita. Escreve no seu blogue (homensavoltadeumcopo.blogs pot.pt) quando pode ou quando lhe apetece. Em 2014, fez um workshop de Escrita Criativa que acabou por lhe reacender o desejo de escrever. Participou nas antologias «O Beijo do Vampiro», «Ninguém Leva a Mal» e «Sexta-Feira 13», da Colecção Sui Generis. SUZETE FRAGA [foto na página seguinte, em cima à esquerda] – Nasceu em Guimarães, em 1978, e ingressou no mercado laboral aos 17 anos, no sector têxtil, onde permanece até hoje. Após concluir o ensino secundário através das Novas Oportunidades, fez uma formação de escrita criativa (com o escritor Pedro Chagas Freitas) e participou em várias colectâneas, campeonatos e concursos literários; distinguida em três concursos, abdicou do prémio atribuído, em Novembro de 2015, pela Papel D’Arroz Editora. Da Colecção Sui Generis, participou nas antologias «A Bíblia dos Pecadores», «O Beijo do Vampiro», «Vendaval de Emoções», 74


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Lisboa Juvenil. Colaborador de vários jornais como Notícias da Amadora, Jornal do Fundão, Jornal de Letras, Diário do Algarve, O Setubalense e revistas Seara Nova e Manifesto. Membro do Conselho Editorial da revista Korpus, editada por Isidro Sousa entre 1996 / 2008. Durante dez anos (1995 / 2005), docente de Dramaturgia, História do Teatro, História do Cinema e História da Televisão. Júri de diversos Prémios da Casa da Imprensa, da Crítica e dos Globos de Ouro (SIC). Autor dos livros: «A Escrita e o Sono», «Senhor, Partem Tão Tristes», «Memórias de Uma Executiva», «Ruy de Carvalho – Um Actor no Palco da Vida» e «Teatro Moderno de Lisboa (1961-1965) – Um Marco na História do Teatro Português» com a colaboração da actriz Carmen Dolores. Autor de «Sobreviventes: Dez Mulheres à Procura da Voz», peça concorrente ao prémio de originais de teatro da Sociedade Portuguesa de Autores. Abraçando as antologias Sui Generis, fez a sua estreia no conto em «O Beijo do Vampiro», tendo participado também em «Vendaval de Emoções», «Ninguém Leva a Mal», «Saloios & Caipiras», «Torrente de Paixões» e «Sinfonia de Amor».

«Graças a Deus!», «Ninguém Leva a Mal», «Torrente de Paixões», «Saloios & Caipiras», «SextaFeira 13», «Crimes Sem Rosto», «Fúria de Viver», «Devassos no Paraíso» e «Luz de Natal». Publicou um livro: «Almas Feridas» (Sui Generis, 2016). TITO LÍVIO [foto em cima, à direita] – Crítico de cinema e de teatro no Diário Popular, República, A Capital, vencedor de dois prémios no Diário de

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CRÓNICA

DIAMANTINO BÁRTOLO Natural de Venade (Caminha), Doutorado (Curso Livre) em Filosofia Social e Política. Obra literária: 13 antologias próprias, 30 antologias em co-edição em Portugal e no Brasil. Correspondente Internacional para vários jornais. Vencedor do Troféu 2017 com o melhor Livro Educacional ZL Editora, Brasil. Académico Correspondente-Internacional da Academia Lavrense de Letras e do Grémio Literário de Barra Mansa, Brasil. Presidente do Núcleo Académico de Letras e Artes de Portugal. Sócio Honorário da Associação de Jornalistas e Escritoras do Brasil. Co-autor das antologias «Graças a Deus!», «Saloios & Caipiras», «Fúria de Viver», «A Primavera dos Sorrisos», «Tempo de Magia», «Devassos no Paraíso», «Os Vigaristas», «Luz de Natal» e «Sinfonia de Amor» da Colecção Sui Generis. Perfil no Facebook: https://www.facebook.com/diamantin o.bartolo.1

A ARTIFICIOSA ARTE DE LUDIBRIAR “Que ninguém se deixe enganar pelas boas aparências, pelas bajulações hipócritas, pelas palavras adocicadas, melodiosas, insinuantes, por gestos supostamente amáveis, delicados, por falsos vernizes e máscaras de cera muito belas que, rapidamente, derretem, por se vestirem e calçarem com elegância. É fundamental termos sempre presentes alguns aforismos que a “Filosofia do Povo” nos transmite, porque ela ajuda a defendermonos dos “Falsos Profetas”, das frases melodiosas que são como punhais espetados nas costas.”

POR DIAMANTINO BÁRTOLO

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«Um vigarista é uma pessoa que se especializou a enganar outras pessoas, passando a ser considerado um criminoso quando os seus atos têm consequências graves, como obter lucros ilícitos ganhando dinheiro através de fraude, enganando, mentindo e encenando situações que levam os mais ingénuos ou gananciosos a crerem que estão a fazer um bom negócio, mas estão a ser ludibriados. Outros termos para definir um vigarista são: embusteiro, trapaceiro, velhaco, charlatão e golpista. No Brasil também são conhecidos por enganador, fraudador, estelionatário. Ao contrário do que se possa pensar, um vigarista tem boa aparência, transmite confiança, é esperto e tem a capacidade de assumir a aparência necessária para lidar com a situação do momento, tanto podendo ser do sexo masculino como feminino, sendo charmosos e persuasivos. A palavra vigarista deriva de “conto do vigário”, uma expressão usada para descrever de forma genérica qualquer tipo de história que pareça verdadeira mas que de facto não o é e tem como único objectivo induzir quem a ouve a desembolsar o dinheiro. Existem imensos tipos de vigaristas, sendo praticamente impossível descrever a todos. Normalmente, são descritos pelo tipo de vigarices que praticam, que podem ir desde variações de golpes centenários à criação de golpes originais e à utilização das novas tecnologias e mesmo à forma de tornear as leis. Os tipos mais comuns são os vigaristas de negócios, empréstimos, de rua e da Internet.» (in: https://pt.wikipedia.org/wiki/Vigarista)

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tualmente, de resto e como tem acontecido ao longo da História da Humanidade, sempre houve, como refere o aforismo popular: “Meio mundo a enganar outro meio mundo”, através das mais diversas práticas, recursos e com diferentes finalidades, para se obter benefícios próprios, de grupo ou até dos povos, porque utilizando-se processos transparentes, legítimos e legais, nem sempre se consegue, na vida, o que mais se deseja, aqui se incluindo o Poder, a Fama, o Prestígio, o Dinheiro, e talvez sejam estas as motivações principais que levam uma pessoa a enganar outra. Para melhor nos contextualizarmos sobre o tema, fique-se com alguns conceitos sobre o que são, e quais os tipos de vigaristas que, genericamente, se podem encontrar no “Mercado da Intrujice”: 80


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O Chico Finório, assim é conhecido o protagonista desta história, é tido, na pequena comunidade local, como: por um lado, uma pessoa de elevado estatuto socioprofissional, com grande poder de decisão ao nível de conceder apoios a quem precisa: seja sob a forma de empréstimos em dinheiro; seja para obtenção de algum emprego ou intercessão junto de outras entidades, para resolver algum assunto mais complexo de pessoas amigas e/ou conhecidas que pediam a sua ajuda. Tal como é referido na caraterização inicial, o Chico Finório, por outro lado, aparentemente, fazse passar por uma pessoa com uma educação bem cuidada, aquele género de sujeito que fala pianinho, não se exalta em público, muito cordial e simpático, quase sempre com um sorriso nos lábios entreabertos, bem vestido, aparente boa cultura, disponível para resolver questões que afetam os seus semelhantes, um indivíduo com o qual até dá prazer conversar e conviver. Durante algum tempo, a impressão que a pequena comunidade local tinha deste personagem dir-se-ia que era boa, mesmo excelente, porque o Chico Finório parecia muito disponível para ouvir os outros, até que alguém começou a duvidar de: tanta generosidade, amabilidade, educação muito

Ao contrário do que se possa pensar, um vigarista tem boa aparência, transmite confiança, é esperto e tem a capacidade de assumir a aparência necessária para lidar com a situação do momento, tanto podendo ser do

sexo masculino como feminino, sendo charmosos e persuasivos. A palavra vigarista deriva de “conto do vigário”, uma expressão usada para descrever de forma genérica qualquer tipo de história que pareça verdadeira mas que de facto não o é e tem como único objectivo induzir quem a ouve a desembolsar o dinheiro.

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polida, uma espécie de cobertura de verniz, com uma auréola de prestígio, mas que, entretanto, se iam desfazendo. Afinal, o Chico Finório tinha ambições, como a maior parte das pessoas, até aqui tudo bem; contudo, tais aspirações ultrapassam o que será normal, legítimo e legal, iniciando, então, um processo para obtenção de mais poder do que aquele que já detém no seio da sua própria empresa e, pela mão de alguns amigos e pessoas conhecidas, consegue ludibriálos, no sentido de o apoiarem, para assim ascender à presidência de uma outra instituição, respeitável, prestigiada, com muitas funcionárias, clientes e fornecedores. O nosso personagem, depois de uma campanha eleitoral muito apadrinhada por quem nele acreditou, é eleito juntamente com uma equipa de colaboradores, estes bem conhecidos localmente e, em princípio, acima de quaisquer suspeitas que afetassem as respetivas reputações e honorabilidades de cada um deles. A equipa liderada pelo nosso Chico Finório toma posse dos cargos previamente atribuídos, e dados a conhecer publicamente, através da respetiva lista de candidatura, publicitada na Comunicação Social, iniciando as suas funções que, nos primeiros tempos, se enquadram no que tinha sido prometido durante a

campanha eleitoral, revelando, assim, que está a cumprir com o prometido, pelo menos por enquanto. Entretanto, e decorrido algum tempo, começa a surgir a perceção que os objetivos do Chico Finório eram bem mais complexos, não tanto meritórios e bondosos, como quis fazer passar inicialmente, escondendo-se por detrás de uma máscara de hipocrisia, um indivíduo que viria a tornar-se repugnante, um verdadeiro vigarista, porque, na verdade, quem, intencionalmente, promete algo para adquirir um benefício próprio e mais tarde não cumpre, naturalmente que cabe bem no conceito de vigarista ou, no mínimo, de mentiroso. Aos poucos, este Chico Finório, qual “Chico Esperto”, que durante um determinado período até parecia um “Anjo”, uma “Ovelha Mansa”, no bom sentido dos termos, veio a revelar-se um genuíno “Demónio”, um autêntico “Lobo com unhas e dentes bem afiados”, para impor o seu projeto de domínio supremo, de opressão e altivez, agindo, a maior parte das vezes, nas costas das pessoas, que pretende humilhar, perseguir, destruir e vexar perante a comunidade local e não só. O indivíduo que, inicialmente, se apresentou ao seu eleitorado, aos amigos, aos conhecidos, funcionários, clientes e fornecedores da institui82


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ber que estão a dar amparo a criaturas que vivem de expedientes, de fraudes, os chamados “crimes de colarinho branco”. O tempo ia passando, os comentários do que acontecia na empresa, onde o Chico Finório exercia uma Presidência Tirânica e Dolosa, começavam a chegar à praça pública. Muitos colaboradores, os clientes da instituição e os fornecedores, à “boca-pequena”, com receio de represálias, comentavam situações que “nem lembravam ao Diabo”, que pudessem existir as mais escabrosas atitudes, quer por parte do Chico Finório, quer por parte dos seus companheiros de equipa. O Chico Finório era uma criatura, aparentemente, muito feliz, seguro do que estava a fazer, mas mal ele sabia que o seu comportamento já transmitia a imagem do “Vigarista Profissional”. Ele tinha,

O indivíduo que, inicialmente, ção, para cuja presidência se candidatou, como sendo um homem sério, honesto, sóbrio, humano, educado e profissional, em pouco tempo deixou cair a máscara de uma personalidade supostamente impoluta, para se revelar uma criatura medonha, em todo o seu “esplendor da vigarice”. De referir que o nosso Chico Finório, cujo diminutivo, para este trabalho, naturalmente, é fictício, juntamente com os de outros correligionários da sua equipa e ainda diversos apoiantes que, igualmente, procuravam auferir benefícios próprios, cada vez mais se foi aprimorando na movimentação ardilosa, precisamente junto de pessoas e entidades que, publicamente, lhe davam o aval de bom dirigente, aliás, muitos vigaristas encobrem-se e burlam, exactamente, sob a proteção e/ou à sombra de pessoas honestas, estas sem sa-

se apresentou ao seu eleitorado, aos amigos, aos conhecidos, funcionários, clientes e fornecedores da instituição, para cuja

presidência se candidatou, como sendo um homem sério, honesto, sóbrio, humano, educado e profissional, em pouco tempo deixou cair a máscara de uma personalidade supostamente impoluta, para se revelar uma criatura medonha, em todo o seu “esplendor da vigarice”. 83


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por esta ocasião, um verdadeiro “Doutoramento” pondo, quantas vezes, fotos nas redes sociais, decom “Especialização” na arte de enganar, recorploravelmente, de crianças e desses familiares e rendo aos esquemas mais luciféricos que se possa amigos. Estes comportamentos cabem, perfeitaimaginar, conseguindo, dia mente, no conceito de vigaapós dia, alcançar os desiderice, na medida em que se ratos que, manhosamente, acredita na boa-formação de O Chico Finório era uma tinha na sua mente doentia, tais criaturas e depois somos mas também, intencionalludibriados e até prejudicacriatura, aparentemente, muimente, malformada, na medos, na nossa imagem públito feliz, seguro do que estava dida em que a ganância pela ca, reputação, bom-nome, a fazer, mas mal ele sabia ostentação e exercitação do honorabilidade e dignidade. poder eram bem visíveis, a O Zeca dos Engates era que o seu comportamento qualquer pessoa que fizesse um outro tipo de vigarista, já transmitia a imagem do uma análise, rápida e supereste envolvia-se quer com as “Vigarista Profissional”. Ele ficial. pessoas que, de boa-fé, traOs vigaristas, seja qual for balhavam para ele, quer com tinha, por esta ocasião, um o objeto da burla – obter as empresas que solicitavam verdadeiro “Doutoramento” dinheiro fraudulentamente, os seus serviços, no âmbito com “Especialização” na enganando pessoas e entidada elaboração de projetos des, seduzindo mulheres ou concorrentes aos fundos coarte de enganar, recorrendo homens com algum tipo de munitários, quer, ainda, com aos esquemas mais luciféridificuldades, leviandades ou instituições de cariz solidário, cos que se possa imaginar, devaneios – recorrem à bajunada escapava à ganância do lação, à falsa amizade, à proZeca. conseguindo, dia após dia, messa sedutora, a alegadas Muito se disse e escreveu alcançar os desideratos interrupções de rotinas, para e comprovou que, durante que, manhosamente, tinha ajudar a pessoa vigarizada, um determinado período de mas de quem se diz amiga/o, tempo, muitas pessoas vigana sua mente doentia, mas a quaisquer outros expedienrizaram o Estado em milhões também, intencionalmente, tes astuciosos para daí retie milhões de euros, recormalformada, na medida rar proveitos próprios. rendo à constituição de emA vigarice também se prapresas fictícias, quer a projeem que a ganância pela tica a partir da violação de tos superinflacionados, quer ostentação e exercitação princípios, valores, sentimenà contratação de pessoal por do poder eram bem visíveis, tos e emoções, quando em um determinado valor que público se defendem, mas no depois era pago muito abaia qualquer pessoa que dia-a-dia faz-se exactamente xo daquele que constava no fizesse uma análise, o contrário, ou seja: perante projeto comunitário. rápida e superficial. as pessoas familiares, amigos O Zeca dos Engates era e pessoas conhecidas, diz e um daqueles tipos de vigarisprotege-se uma coisa, mas tas extremamente bem-fadepois, na prática, em total lantes, sempre tinha argudesrespeito para com aquelas pessoas, procedementos para qualquer situação, sabia como devese de forma oposta, incluindo ridicularizá-las, exria ludibriar as pessoas, as empresas, o sistema, as 84


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condomínio ou, finalmente, na empresa principal que detinha. O Zeca dos Engates também era assim conhecido porque o sujeito, qual pingaamor, derretia-se perante as mulheres; não obstante ser casado, ele não se coibia de exibir-se, e com aquelas “qualidades” de bem-falante até conseguia alguns resultados, inclusive, junto de uma ou outra funcionária ou cliente ou fornecedora, independentemente de tais mulheres serem solteiras ou casadas, viúvas ou divorciadas, para o vigarista “tudo o que caía na rede era peixe”. Depois de se ficcionar duas histórias, que até podem acontecer na vida real, importa agora ter-se a noção de como se pode ser um excelente vigarista ou charlatão. Ambos os conceitos têm uma conotação de ludíbrio, de enganar, para obter proveitos indevidos. «O famoso médico e estudioso de terapias alternativas Edzard Ernst escreveu um artigo onde descreve os passos necessários para que qualquer pessoa se torne um charlatão. O objectivo não é, obviamente, criar mais charlatães, mas sim para as pessoas saberem quais são os sinais de um charlatão. O charlatão segue estes passos: 1 – Criar uma terapia alternativa atractiva e com um nome fabuloso: por exemplo, dizer que o ouvido é um mapa do corpo humano que permite curar todas as doenças. Bem, esta ideia não podem usar, porque a brigada da acupunctura pelo

próprias entidades oficiais e, além disso, estava rodeado de bons profissionais no âmbito do Direito, da Contabilidade e da Fiscalidade, e com tais profissionais ganhava muitas “batalhas” jurídicas, aliás, o Zeca já era um profissional das audiências em diversos tribunais. A criação de empresas fictícias era um dos seus fortes e que, na maior parte dos casos, nem funcionários tinha, e o endereço fiscal de tais empresas ou era a própria residência, ou uma simples sala, por vezes de sua propriedade, num qualquer 85


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gam que elas apoiam a vossa ideia e até já fizeram estudos sobre isso. Se conseguirem, juntem também alguma tecnologia: qualquer coisa que dê luzes de várias cores é essencial para “provar” a validade dos diferentes tipos de “energias curativas”. 4 – Juntar conhecimento antigo: digam que a vossa terapia está profundamente imbuída na tradição. Se for uma tradição oriental, ou de civilizações antigas como a Suméria, então será perfeito. Ninguém vai realmente ver se os Sumérios defendiam isso ou não, por isso estão à-vontade para inventarem as tradições que quiserem. E, claro, convém concluírem que, como a vossa terapia sobreviveu durante todo este tempo, então é porque é uma terapia segura e eficaz. 5 – Dizer que cura tudo: para maximizar os lucros, digam que a vossa terapia cura tudo, desde a dor de dentes até ao cancro. Não se preocupem com as pessoas perceberem que não há nada que cure tudo; nestas coisas as pessoas não ligam à lógica.

O Zeca dos Engates era um daqueles tipos de vigaristas extremamente bem-falantes,

sempre tinha argumentos para qualquer situação, sabia como deveria ludibriar as pessoas, as empresas, o sistema, as próprias entidades oficiais e, além disso, estava rodeado de bons profissionais no âmbito do Direito, da Contabilidade e da Fiscalidade, e com tais profissionais ganhava muitas “batalhas” jurídicas, aliás, o Zeca já era um profissional das audiências em diversos tribunais.

ouvido já usa isto. E porque não dizerem que têm superpoderes que vos permite transmitir “energia curativa” de modo ao corpo dos vossos pacientes se curar por si próprio? Bem, isto também não podem usar porque os defensores do Reiki iriam acusar-vos de plágio. Mas pronto, já perceberam que têm de imaginar algo fantástico deste género. 2 – Inventar uma história fantástica para a vossa técnica: digam que curaram a vossa irmã quando ela tinha seis anos e estava a morrer ou digam que receberam inspiração num sonho, etc. Não existem limites para a imaginação de criar uma mentira bem grande. 3 – Juntar um pouco de pseudociência: usem algumas palavras da ciência que só alguns especialistas compreendem, como “quântica”, “caos”, “vácuo”, etc. Aproveitem e juntem alguns nomes de cientistas e de universidades conhecidas e di86


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6 – Não ligar às evidências: eu sei que é deprimente lidar com evidências e com cientistas/médicos. Mas não se preocupem: primeiro digam que a ciência não consegue explicar tudo e depois contratem pessoas para dizerem que a terapia funcionou com elas. Aliás, provavelmente até funcionou em algumas, pelo efeito de placebo, por isso a essas não precisam de pagar. Criem um website cheio de “clientes satisfeitos” que “provam” que a vossa terapia funciona. Infelizmente, ainda há muitas pessoas com escrúpulos no mundo, por isso podem ter alguma dificuldade em arranjar pessoas reais para dizerem que a terapia funcionou com elas, mesmo sem ter funcionado. Se isso acontecer, inventem nomes e vão ao Google e tirem fotos de pessoas à sorte. Ninguém vai tentar descobrir se as pessoas são reais ou não. 7 – Usar a estatística: para alguns malvados cépticos, os testemunhos pessoais não são suficientes. Nesse caso, usem a estatística. O consenso mostra que 70% das pessoas ficam melhor só por efeito de placebo. Por isso, digam que o vosso tratamento cura 76% das pessoas. Isso convencerá as pessoas que o vosso tratamento é o melhor de todos. Se não tiverem estudos rigorosos para provar isso – e não têm –, inventem que têm, porque ninguém vai querer saber. 8 – Falar das farmacêuticas: digam que a vossa terapia só não é comum na população porque as grandes farmacêuticas não vos deixam. É tudo uma grande conspiração. Os fanáticos adeptos de conspirações ficarão logo do vosso lado. 9 – Pagar: peçam dinheiro, muito dinheiro, pe-

lo uso da vossa terapia. Após os oito pontos anteriores, ficarão certamente ricos com o dinheiro daqueles que dizem ter a mente aberta e acreditam em todos os disparates.» (in: http://www.astropt.org/2013/01/03/como -ser-um-vigarista/) Procurou-se, nesta reflexão, idealizar uma ou mais histórias e situações, hipotéticas, fictícias e de ficção, mas que são suscetíveis de se tornarem realidades, pretendendo-se alcançar um objetivo bem mais nobre, este de natureza pedagógica, ética e moralizante, para que cada pessoa em parti87


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cular, cada grupo, cada instituição e cada sociedade estejam sempre preparados para saberem lidar com os vigaristas, que atacam em várias direções: desde os princípios aos valores; dos sentimentos às emoções; do património material ao imaterial, porque para eles tudo pode servir para terem benefícios ilegítimos. Que ninguém se deixe enganar pelas boas aparências, pelas bajulações hipócritas, pelas palavras adocicadas, melodiosas, insinuantes, por gestos supostamente amáveis, delicados, por falsos vernizes e máscaras de cera muito belas que, rápidamente, derretem, por se vestirem e calçarem com elegância. É fundamental termos sempre presentes alguns aforismos que a “Filosofia do Povo” nos

transmite, porque ela ajuda a defendermo-nos dos “Falsos Profetas”, das frases melodiosas que são como punhais espetados nas costas, por isso: “Diz-me com quem andas, dir-te-ei quem tu és”; “Dura a mentira enquanto não chega a verdade”; “Quem tudo quer, tudo perde”; “Mais depressa se apanha um mentiroso que um coxo”; “Não se pode agradar a Gregos e a Troianos”; “Quem não se sente, não é filho de boa gente”; “Não há fumo sem fogo”, “Na prisão e no hospital, vês quem te quer bem e quem te quer mal”; “Nem tudo que luz é oiro, nem tudo que alveja é prata”; “À mulher de César não basta ser séria, tem de o parecer” e “Chega-te aos bons, serás como eles; chega-te aos maus, serás pior do que eles”.  Texto incluído no livro Os Vigaristas, Sui Generis, 2018

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Diamantino Bártolo é co-autor de Graças a Deus!, Saloios & Caipiras, Fúria de Viver, A Primavera dos Sorrisos, Tempo de Magia, Devassos no Paraíso, Os Vigaristas, Luz de Natal e Sinfonia de Amor.


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SÉRGIO SOLA Formador profissional na área de informática, com um pequeno devaneio: escrever. Nasceu em Olhão, em 1963. Em Julho de 2015, venceu o 5º Concurso Literário da Papel D’Arroz Editora, tendo abdicado, mais tarde, do prémio que lhe foi atribuído. Participações em obras colectivas: «Quando o Amor é Cego», «Amar (S)Em Desespero», «O Poder do Vício» e «Caprichos & Virtudes» na Papel D’Arroz; «Boas Festas» na Silkskin Editora. Da Colecção Sui Generis: «A Bíblia dos Pecadores», «O Beijo do Vampiro», «Ninguém Leva a Mal» e «Graças a Deus!». Página do Autor: Facebook: Sérgio Sola

ESTADO ACTUAL DAS COISAS De: Deus@ceu.com Para: Diabo@inferno.com Assunto: Estado actual das coisas

Diabo, aqui estou eu, mais uma vez... Isto começa a tornar-se cansativo, mesmo para mim. Já não sei que palavras usar... já me faltam as palavras. Para onde quer que me vire, isto claro, em sentido figurado, pois, tal como tu, eu estou em todo o lado, só vejo coisas sobre ti e só ouço falar de ti. «Estes têm sido tempos sombrios», ouço as pessoas dizerem «as mãos do Diabo têm estado muito atarefadas. As forças das trevas estão a aumentar». A frequência com que a minha igreja pratica exorcismos está a aumentar. A aumentar exponencialmente. Calcula que há organizações que já começaram a vender cursos de exorcismos, tanta é a preocupação do mundo com a tua influência! Às vezes “sento-me” apenas a ouvir conversas. Tenho muito esse 94


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hábito. Tenho muitos outros, claro... mas esse, tenho... as pessoas questionam-se... os povos, independentemente de raça, credo ou o que possas imaginar, questionam-se. Será que nascemos com o destino já traçado? Então e o livre arbítrio? Será que o Diabo também é acometido de livre arbítrio? Por que é que o Diabo escolhe uma pessoa e não outra? Haverá alguma explicação? Afinal, o Diabo podia escolher qualquer um. Por que escolhe fazer mal num país e não noutro? Por que escolhe países com extrema miséria e não outros?

As pessoas questionam-se se eu terei algo a ver com isso... Chegam ao ponto de questionar isso! Não percebem que muitas vezes são elas que te escolhem, são elas que escolhem o Diabo... No outro dia ouvi um casal dizer: «Parece que todo o Universo olhou para nós! Tudo de errado nos acontece!». São proezas tuas, com certeza. Porquê? Porquê, Diabo? Para finalizar... muda de vida!! Já chega!! Adeus. O “teu sempre” Deus!  

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Dorivaldo Ferreira de Oliveira ĂŠ co-autor de Luz de Natal.


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CONTO

DIÁRIO DE UM VAGABUNDO GEANA KRAUSE É gaúcha, escritora, pedagoga e colunista do Jornal Vitrine. Escreve artigos educacionais e aventura-se pelo mundo da literatura através de crónicas, contos e poemas para os públicos adulto e infanto-juvenil. Participou em várias antologias: «Demontale», «Soturnos I e II», «Isso Também é Preconceito», «Música em Cantos», «Psicopatas e Outros Distúrbios», «7 Pecados Capitais Vol. II», «Zodíaco», «Quando a Escuridão Bate à Porta» e «Meus Melhores Textos Infantis». Publicou os livros «Amor de Mãe», «Lendas Africanas», «Que Bicho é Esse? Adivinha!» e a «Coleção Mamãe Canguru». Em 2017 organizou a antologia «De Volta a Salem» (terror) pela Darda Editora e actualmente está a organizar «Na Sua Cara» (Editorial Hope).

“Não sou um daqueles caras largados que sobrevivem com o dinheiro da mãe. A pensão que ganho dá para ajudar, e faço o que dá. Devia fazer mais, mas sabe como é, a preguiça às vezes me domina. Mas não me considero um vagabundo. Eu estudo, infelizmente, todos os dias. Queria saber quem inventou este negócio de escola. Queria ter nascido em outra época, talvez na época medieval, seria um cavalheiro. Mas pensando bem, aquele pessoal não era chegado em banho.

Perfil no Facebook: www.facebook.com/geana.taisakrause

E tudo era na base da violência, então não seria uma boa opção. Talvez tudo se resolvesse se eu nascesse rico. Já imaginou ser herdeiro de um rei ou do dono da Apple.” POR GEANA KRAUSE

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31 de dezembro de 2016

era na base da violência, então não seria uma boa opção. Talvez tudo se resolvesse se eu nascesse rico. Já imaginou ser herdeiro de um rei ou do dono da Apple. Sonhador! Este poderia ser o subtítulo do meu diário. Ou o meu sobrenome. Vivem me chamando atenção, dizem que sonho acordado. Eles têm toda a razão. – Miguel, vem logo de uma vez! Você vai perder os fogos! – Mãe, que droga! Isto tem todo ano, para quê a pressa? – Tradição de família meu filho. E estamos só eu e você em casa – falou ela com um meio sorriso, seu olhar era de tristeza e arrependido. – Te amo mãe, feliz ano novo! – abraçou ele a mãe, arrependido das brigas que viviam acontecendo ultimamente.

V

ou começar escrevendo isto neste caderno. Porque é assim que algumas pessoas me chamam. Não sou a pessoa que mais curte trabalhar, aqui em casa é uma briga para lavar a louça. Mas arrumo meu quarto, mantenho e deixo tudo organizado sempre que posso. Não sou um daqueles caras largados que sobrevivem com o dinheiro da mãe. A pensão que ganho dá para ajudar, e faço o que dá. Devia fazer mais, mas sabe como é, a preguiça às vezes me domina. Mas não me considero um vagabundo. Eu estudo, infelizmente, todos os dias. Queria saber quem inventou este negócio de escola. Queria ter nascido em outra época, talvez na época medieval, seria um cavalheiro. Mas pensando bem, aquele pessoal não era chegado em banho. E tudo 98


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1 de Janeiro de 2017

Hoje, o primeiro dia do ano. Decidi nas minhas promessas de final de ano que ia escrever um diário. E bem, lá vou eu! Vou tentar seguir escrevendo, quero ver até quando. Pois sou muito distraído, mas irei me policiar para que este diário desta vez dê certo. Meu psicólogo pediu que fizesse isso, afinal não converso muito com a minha mãe. Então este caderno será lugar de descarregar as neuras e problemas do dia-adia. Este ano termino o ensino médio, na verdade já devia ter terminado, mas repeti dois anos há oito anos e um no segundo. «Tenho que me decidir!» Como canso de ouvir minha mãe falar, e escolher que profissão vou querer seguir. Ela acha um absurdo eu ainda não ter decidido. Mas sério, não sei nem o que quero para minha vida. Que dirá escolher uma profissão para a minha vida inteira. Hoje, o primeiro dia do ano. E estou aqui, comendo o que restou da ceia. Me entupindo de co-

E estou aqui, comendo o que restou da ceia. Me entupindo de comida para esquecer que vou ter que pensar em uma faculdade. E penso: será que eu, Miguel da Silva Medeiros, vou ser um bom pai, marido? Não sei se estou preparado, e isto é uma droga. Talvez amanhã, quem sabe, eu pense no que vou querer trabalhar

afinal. É uma droga tudo isto, queria dormir um dia e acordar daqui a uns dez anos.

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mida para esquecer que vou ter que pensar em uma faculdade. E penso: será que eu, Miguel da Silva Medeiros, vou ser um bom pai, marido? Não sei se estou preparado, e isto é uma droga. Talvez amanhã, quem sabe, eu pense no que vou querer trabalhar afinal. É uma droga tudo isto, queria dormir um dia e acordar daqui a uns dez anos. – Você não vai sair da cama hoje? – Mãe hoje é dia primeiro. Dá um tempo!

20 de Janeiro O mês voou, e no fim não consegui escrever todos os dias. Mariana, Lívia, Inâe e Luciano vieram para o Rio e acabamos saindo bastante. Ter primos é legal, são tipo irmãos. Escrevendo assim parece que sou filho único. Mas não tive esta sorte. Eduarda é dois anos mais nova que eu. Ela sempre soube o que queria ser. Estudava até enquanto comia. Foi uma das primeiras colocadas no vestibular da Federal. Nossa mãe sempre nos comparou. Mesmo sabendo que eu não rendia tanto quanto ela. Quando ela vivia com a gente era uma tortura diária. Me sentia um burro completo perto da minha irmã. Ela até tentava me ajudar. Mas para quem faz terapia e reforço desde o primeiro ano, era meio impossível que ela fizesse o milagre que minha mãe tanto queria.

Para mim escola sempre foi um estresse. Odeio a minha irmã. Meus primos foram um refresco para mim, no meio deste caos que estou vivendo. Conversamos bastante e vejo que meus dramas são os mesmos deles. Eles me entendem. Queria que minha mãe entendesse.

24 de Janeiro Briguei com a minha mãe. Que inferno! Droga de vida, ela quer que eu faça o cursinho pré-vestibular de tarde para passar na Federal. Eu não terei tempo para nada agora, não poderei ir

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ao clube nadar e jogar futebol. Nem ficar com o pessoal. Ela disse que eles é que me estragam. Que sou um vagabundo. Queria que meu pai estivesse vivo. As coisas seriam melhores com certeza. Ele me entendia, tinha mais paciência comigo. Ele era como eu, demorou para aprender e se esforçava para ler, pois trocava as letras. Infelizmente na época não sabiam o que ele tinha e ele acabou saindo da escola antes de se formar. Trabalhava de porteiro num condomínio no Leblon.

25 de Janeiro Minha mãe pediu desculpas. Fico triste quando ela chora. Acho que ela precisa de terapia também. Detesto quando brigamos, falamos coisas que não devíamos. Depois ficamos mal. Eu a amo, espero que um dia possa retribuir tudo que ela faz por mim. Sei o quanto ela sofre e se preocupa comigo. Mas já não sou mais criança. Queria que realmente ela me deixasse crescer. 

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Fátima D’Oliveira é co-autora de Luz de Natal e Sinfonia de Amor.


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ENTREVISTA

LUÍS FERNANDES Luís Alberto Dias Gonçalves Fernandes é um jovem poeta ribatejano nascido em Abrantes, em Março de 1999. Reside numa aldeia do centro de Portugal chamada Crucifixo. Em 2014 venceu um concurso organizado pela Consejería de Educación de la Embajada de España en Portugal com um texto em castelhano sobre a capital de Espanha; como prémio recebeu uma camisola autografada pelo plantel do Real Madrid. Para a decisão de seguir o caminho da literatura contribuiu a formação obtida nas escolas Dr. Manuel Fernandes e Dr. Solano de Abreu devido a um contacto mais incisivo com a poesia e que lhe despertou gosto e curiosidade pela área. Em 2018 participou em cinco obras colectivas e tornou-se Académico na Academia de Letras Camac Leon, e já em 2019 publicou o livro «Dossier Poético». POR ISIDRO SOUSA

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SG MAG – Quem é o jovem que habita por detrás do autor Luís Fernandes? Como se apresenta enquanto ser humano? LUÍS FERNANDES – Sob esta capa de jovem escritor está um rapaz absolutamente igual a muitos outros da sua idade. Sou um apaixonado pela arte em geral (música, pintura, teatro...), dou muita importância às novas tecnologias, fascina-me a área da fotografia, a gastronomia portuguesa é um tema que cada vez mais me tem despertado interesse, tenho um gosto especial pelo mundo do desporto, como espectador e praticante, sendo um adepto fervoroso do Benfica. Cativam-me gargalhadas estranhas, sorrisos inesperados, trocas de olhares e abraços apertados. Prezo valores que me foram incutidos desde muito cedo, nomeadamente a lealdade, humilde, amizade, respeito pelo outro e camaradagem.

Escreve por prazer ou sente necessidade de escrever? Escrever é um ato terapêutico; se estiver muito tempo sem o fazer o meu “sistema operacional” começa a falhar. É caso para dizer que quem escreve seu mal espanta.

Como surgiram as letras na sua vida? Em que momento começou a escrever? Desde sempre andei de braço dado com a leitura e a escrita. Foi com tenra idade, no infantário; enquanto as outras crianças brincavam, estava sempre a pedir às auxiliares e professora permissão para ir até ao quadro pegar no giz, fazendo assim as minhas primeiras palavras, ficando as mesmas impressionadas com aquela criança... Tinha uma necessidade natural de fazer uso do lápis e da caneta. Aos 6 anos já compunha músicas e, em seguida, cantarolava para a família. Com o avançar dos anos continuei a fazer pequenos versos, contudo, acabavam todos por ter o mesmo destino: o fundo de um caixote do lixo. Quando cheguei ao ensino secundário, devido a um contacto mais próximo com a poesia, passei a olhar de outra forma para a arte da escrita e a valorizar mais os meus escritos.

O que escreve habitualmente? Não escrevo apenas poesia, já que também me dedico a aldravias, crónicas, textos dramáticos, mas por agora apenas revelo ao mundo literário a minha poesia.

Como caracteriza a sua escrita? Sou um autor que tenta escrever de uma forma acessível para que todos consigam entender a mensagem transmitida, independentemente de maior ou menor grau de formação. A minha escrita não obedece a regras específicas da literatura. São tantas as normas às quais somos submetidos diariamente... a poesia e outras vertentes literárias devem ser aprisionadas

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com amarras? Uma das coisas que mais satisfação me deram até agora, nesta caminhada, foram as mensagens de vários leitores dizendo: «Não gostava de poesia e ao ler um poema teu apaixonei-me».

O que o fascina no universo da poesia? A poesia é um mundo em que todos podem sonhar. Tem um poder tão forte quanto a natureza ou a fé. Com um poema consigo homenagear alguém, criticar e alertar para um problema emergente, mudando mentalidades, ou simplesmente através de um verso sentido arranco sorrisos e lágrimas de emoção ao leitor. Para tudo isto são apenas necessários dois ingredientes – uma folha e caneta.

Em que se inspira? A minha inspiração é recolhida em todos aqueles que me rodeiam. Em cada poema ou texto há um pedaço daqueles que cruzaram ao longo do tempo o meu caminho. O mar, praia, sol, natureza e animais são as outras fontes de inspiração.

O que é a poesia? E para que serve? Da poesia despontaram os outros géneros da literatura; é uma das artes mais belas e, provavelmente, são os versos de algum poeta que inspiram uma pintura, escultura, declaração de amor, música animada, forma de falar, atuação teatral, criação cinematográfica ou quiçá a postura de um trabalhador ao longo da sua labuta incansável. Se não existissem poetas a sociedade perdia cor, romantismo e visão crítica. Tudo era melancolia, tudo era tristeza.

A minha escrita não obedece a regras específicas da literatura.

São tantas as normas às quais somos submetidos diariamente... a poesia e outras vertentes literárias devem ser aprisionadas com amarras? 106


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Existem muitas influências na sua poesia ou nem por isso? Quais são as suas referências? Que autores mais admira? A minha poesia é reflexo da leitura e acompanhamento de vários poetas portugueses. Luís Vaz de Camões, Eugénio de Andrade, Cesário Verde, Fernando Pessoa, António Botto e Manuel Alegre são referências. Podem ser considerados como os pais do meu universo lírico. Diariamente evoluo e aprendo com estes e outros poetas que, por exemplo, fazem parte do meu grupo de artistas na rede social Facebook, intitulado de «Aldeia dos Artistas Lusos». Essa evolução tem sido constante e notória, visto que seja qual for a área à qual nos dediquemos teremos sempre alguém melhor que nós e podemos canalizar a nossa atenção para humildemente crescermos. Palavras de um aprendiz de poeta.

Desde que escreveu o primeiro texto, que caminho desbravou até chegar à edição de um livro? E quais foram os momentos mais marcantes nesse percurso? A minha primeira dificuldade foi perceber o real favor daquilo que escrevia. Dado o momento em que interiorizei este facto e acabei com estas indagações de ordem interna, surgiu o sonho de editar a minha própria obra. Infelizmente, em Portugal, editar um livro não é fácil, assim sendo iniciei o meu percurso. Percebi que era importante divulgar aquilo que escrevia para conseguir afirmar-me no mundo literário, comecei por criar a minha página na rede social Facebook, «Os Versos da Vida».

Ao alcançar a marca dos 2500 likes ganhei novo alento. Participei em cinco coletâneas. Depois criei um grupo de artistas chamado «Aldeia dos Artistas Lusos» e após este passo consegui, finalmente,

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A publicação do seu primeiro livro foi a concretização de um sonho? O que representou para si? A publicação do «Dossier Poético», a fevereiro de 2019, é como o nascimento de um filho. Nestas páginas está o trabalho de anos a fio em que deixei a imaginação falar mais alto. Talvez seja um cliché... já plantei uma árvore, escrevi um livro, agora só falta aumentar a taxa de natalidade.

Como é estruturado o livro? Que temas são abordados? E quais os aspectos mais relevantes que destaca na obra? Este livro é dividido em quatro partes por páginas semelhantes a marcadores que, por norma, encontramos em dossiês. O «Dossier Poético» é inovador pois conjuga o conceito de livro/dossiê. O leitor terá a oportunidade de apreciar «Os dilemas de uma atribulada adolescência», «Os versos da vida», «Catorze lírios líricos» e «Globalização poética». As linhas temáticas são variadas, desde o amor à natureza, visão crítica da realidade portuguesa e mundial quanto a áreas sociais, económicas, políticas, desigualdades salariais, raciais, de género, futebol, história, geografia, música e muito mais. Não posso desvendar tudo, terão que adquirir a obra.

Como avalia as críticas e reacções ao livro? Sente-se realizado?

trazer à vida o «Dossier Poético». Procurei em várias editoras soluções, porém, o preço praticado na generalidade é inacessível para a maioria dos escritores. Tentei ainda recolher patrocínios de empresas e outras entidades, contudo, as respostas foram sempre negativas; foi um livro pensado, projetado e suportado financeiramente a meu encargo.

Até ao momento tenho recebido muitos comentários positivos acerca deste livro. «A tua poesia é diferente, sinto que a minha vida está presente nos teus versos, revejo muito de mim nos teus versos...», «Estes versos profundos fazem-me parar, pensar, refletir...», «Espero que esta seja a primeira de muitas obras...», «Nunca

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imaginei que alguém tão jovem conseguisse editar um livro, tão novo e com tanto talento...», «Este é o nosso poeta, o orgulho da terra...». Estes elogios deixam-me profundamente emocionado e com um sentimento de missão cumprida.

«Dossier Poético» é um livro de poesia que remete para as nossas origens enquanto povo, folhear estas páginas é respirar ar puro no meio da cidade

Porque é que «Dossier Poético» deve ser lido?

ou vibrar intensamente na melancolia

Esta é uma obra que merece ser lida. Os portugueses atualmente têm por hábito elegerem para a sua lista de leitura livros traduzidos de autores que escrevem em inglês e quando olham para a literatura nacional optam por obras escritas pelas celebridades que vemos quotidianamente na TV. Essas obras nem sempre apresentam uma qualidade que corresponda à expetativa criada no público em geral. «Dossier Poético» é um livro de poesia que remete para as nossas origens enquanto povo, folhear estas páginas é respirar ar puro no meio da cidade ou vibrar intensamente na melancolia do meio rural. Estes versos são um hino a valores que nos dias de hoje são

do meio rural. Estes versos são um hino a valores que nos dias de hoje são colocados em causa, a liberdade, igualdade, fraternidade e democracia presentes nestas palavras quebram muros, ultrapassam fronteiras

e unem povos.

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colocados em causa, a liberdade, igualdade, fraternidade e democracia presentes nestas palavras quebram muros, ultrapassam fronteiras e unem povos.

Em que medida a sua participação em obras colectivas promovidas por diversas editoras contribuiu para chegar à edição de um livro? Que importância confere a estes projectos? Participei em cinco coletâneas: «Poem’Art», «Nas Estrelinhas da Poesia», «5 Sentidos» e «Cascata de Emoções», das edições O Declamador, bem como «Sinfonia de Amor»,

das edições Sui Generis. Estes projetos foram absolutamente fundamentais no meu percurso, sem eles não teria chegado aqui. Movimentos culturais são importantíssimos na vida dos autores. No meu caso, tive as minhas primeiras sensações indescritíveis ao pegar num livro que contava com um número de poemas meus publicados. Graças a estas coletâneas via as minhas criações ali naquelas páginas suaves, estando rodeado de outros grandes escritores. E isso alimentou o meu sonho de ter o meu próprio livro. No futuro, estas obras coletivas vão ser autênticos legados preciosos no mundo da literatura.

Qual foi a obra colectiva que mais o fascinou? Em que antologia, ou colectânea, gostou mais de participar? Porquê? A coletânea que mais prazer me deu em fazer parte é intitulada de «Sinfonia de Amor». Não esperava

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encontrar tanta qualidade na produção de uma obra coletiva. A capa é cativante e o miolo da obra foi trabalhado com rigor, os autores que integram o livro foram selecionados cuidadosamente. Tudo conjugado deu um resultado final absolutamente deslumbrante. Esta temática da obra também contribuiu, e de que maneira! Pois bem, minhas senhoras e meus senhores, o amor é o motivo maior deste livro, tal como o título indica.

alcancei um grande núcleo de leitores que assim têm a oportunidade de ler os meus versos. Seguem-me, atualmente, pessoas da Suíça, França, Inglaterra, Argentina, Angola, Moçambique, Itália e Espanha. Isto é a verdadeira aldeia global na qual está transformada a nossa sociedade.

Além das redes sociais, o que acredita ser essencial para a boa divulgação de um autor e, por conseguinte, da sua obra?

Publica com regularidade textos poéticos nas redes sociais. Até que ponto estes meios são imprescindíveis para a divulgação da sua escrita? Que impacte têm no seu percurso?

A melhor forma de divulgar um escritor é o próprio leitor. Esse dirá o seu juízo, se gosta ou não daquilo que lê. E a partilha que cada pessoa fará com os seus conhecidos é preponderante. Depois do leitor existe uma série de meios secundários, contudo, ao mesmo tempo importantes. Rádio, televisão, revistas, jornais, bibliotecas, centros culturais, escolas e livrarias.

Todos os domingos, no Facebook, partilho na minha página e grupo de artistas um poema novo da minha autoria. As redes sociais são um mecanismo essencial para o escritor do século XXI. Se Camões, Cesário ou Pessoa no seu tempo tivessem uma ferramenta desta natureza creio que a utilizariam. Graças às redes sociais

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Graças às redes sociais alcancei

Sendo ainda um autor bastante jovem, a dar os primeiros passos no universo literário, quais são os seus objectivos para os próximos tempos? Já tem alguma nova obra na manga? Em que consistirá o próximo livro de Luís Fernandes?

um grande núcleo de leitores que assim têm a oportunidade de ler os meus versos. Seguem-me, atualmente, pessoas da Suíça,

Irei revelar algo que tinha ocultado até à data: estou a preparar uma nova obra. Chamar-se-à «Maré Rimada». Sou suspeito, mas devo dizer que será um livro de grande qualidade literária, e quem me acompanha notará uma evolução muito grande e algumas diferenças na criação poética. As linhas temáticas irão surpreender muita gente; como sempre, os escritores vivem um pouco adiantados e somos cruelmente incompreendidos. Acompanhem o meu trabalho de perto porque não existe ainda previsão para o lançamento desta segunda obra, tudo dependerá do meu próprio percurso profissional e académico.

França, Inglaterra, Argentina, Angola, Moçambique, Itália e Espanha. Isto é a verdadeira

aldeia global na qual está transformada a nossa sociedade.

Que mensagem gostaria de transmitir aos leitores em geral e autores em particular?

Quem quiser adquirir o livro «Dossier Poético», onde poderá encontrá-lo? Ou como deverá proceder?

A literatura portuguesa não pode morrer e, como tal, leitores, comprem livros de autores portugueses porque o escritor português tem muita qualidade, é preciso gostar do que é nosso. Portugal está na moda lá fora, devemos sentir orgulho e defender os valores nacionais. Escritores, não deixem de escrever; por mais dificuldades, portas fechadas, barreiras erguidas, labirintos sombrios que encontrem, vamos sempre alimentar os sonhos de alguém com as linhas que um dia pintámos através dos nossos ideais.

Os interessados na obra «Dossier Poético» devem procurar nas redes sociais pelo nome da editora e enviar mensagem privada fazendo a sua encomenda. As Edições Hórus estão sempre atentas e online, prontas a dar resposta. Podem também contactar pela conta de email edicoes.horus@gmail.com ou através do número de telemóvel 968487291. Se preferirem, visitem pessoalmente as Edições Hórus, em Almada. Caso queiram, também poderei ajudar nesse processo; procurem a minha página nas redes sociais.

Deseja acrescentar algo que não tenha sido abordado ao longo da entrevista? Não tenho que acrescentar mais ponto ou vírgula numa entrevista que foi maravilhosamente esculpida, não senti que tivesse sido uma entrevista escrita. Sinceramente, mais parecia um diálogo muito bem conduzido e fluente entre dois velhos conhecidos. Parabéns, adorei este momento. 

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LuĂ­s Fernandes ĂŠ co-autor de Sinfonia de Amor.


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POEMAS DE LUÍS FERNANDES Do livro Dossier Poético

QUADRO POÉTICO Poemas são letras pintadas em verso, preenchidos pelo controverso sentido das nossas vidas..., telas cheias de nadas, telas cheias de tudo, com um traço mudo das longas madrugadas..., o poeta escreve no papel, sem cavalete e palheta..., mas com a preciosa tinta da caneta, sem pincel... E seus poemas são quadros..., do Cubismo e Expressionismo..., do Fauvismo e Futurismo..., docemente desenhados..., do Impressionismo e Pontilhismo..., do Surrealismo e Dadaísmo..., do Abstracionismo e Realismo..., retratos do inconformismo pincelados de sentimento, poemas a pastel e aguarela..., acrílico, carvão, óleo e guache..., repletos de cor e movimento!. 116


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VOLTA, MEU QUERIDO EMIGRANTE... Parti, mas voltarei, mais velho, calejado e experiente..., depois de tanto tempo ausente, por necessidade emigrei, levantei nas asas duma andorinha!, bravo como toiro na arena, desapontado, iludido, afundado, que dana!, ainda com cheiro a sardinha..., levei os ovos moles, os bonecos das caldas, bailes e romarias, e o prado dos Açores... Levei o Douro e Sado!, o imenso Tejo, não o teu beijo..., e a guitarra do fado!, o barrete do campino, a camisola da Seleção, de Viana o coração, deixei o tempo de menino..., guardei da Madeira as flores!, de ti a saudade..., a receita do Caldo Verde, deixei para trás amores... Guardei o galo de Barcelos!, deixei as lágrimas, guardei as praias e montanhas, deixei os teus abraços, guardei as aldeias de xisto, da Nazaré as sete saias..., o sol e as serras!, e um vinho do Porto, deixei os teus sorrisos..., levei de cortiça uma carteira!, as boas gentes da Beira..., bacalhau, azeite e os enchidos!

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ABRANTES, CIDADE FLORIDA Abrantes, verde cidade!, dos jardins inspiradores..., de velhos sábios, novos empreendedores, longa é a tua idade, madura, experiente, centenária..., cidade festiva!, cidade desportiva!, com extensa área..., comunidade que preza a cultura, museus, galerias, exposições, teatro, cinema, concertos, tradições, região segura... Localidade de poetas!, políticos, médicos e professores, pintores e escultores, advogados e jornalistas!, cidade da indústria, valoriza a educação, sérios meios de comunicação..., repleta de história!, peca na saúde, comércio diversificado, agradável rede de transportes, no Verão de dias quentes respira a frescura do mundo!. No Natal brilha com estrelas que iluminam a calçada portuguesa, pois com certeza!, e árvores natalícias bem decoradas..., existe música, cor e alegria!, todo ano com ruas engalanadas, sempre bem arranjadas, rica gastronomia!, Palha de Abrantes e tigelada, belos sítios onde comer!, ideal para viver..., oh!, terra abençoada...

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Cidade de gentes hospitaleiras..., hotéis de excelência, castelo de glória...., ah!, moças bonitas, formosas abrantinas, aqui andaram os franceses durante as invasões!, território de modernas edificações, orgulho dos portugueses..., casas antigas, verdadeiro património, uma ponte luminosa, elegante, assombrosa, majestosa..., que começa no Rossio. O Tejo de águas calmas, pescadores são raros..., os peixes estão mortos!, águas que rodeiam verdes colinas, poluídas pela atividade humana..., um crime ambiental, só visto em Portugal!, gente desumana!, oh, minha cidade florida, de igrejas sumptuosas, rezem pelas tuas melhoras!, espero que não fiques esquecida...

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DAMA AFRICANA Oh!, preta minha..., és tão perigosa, quanto preciosa..., da África és rainha!, teu coração é doce rubro, moça senhorial..., rapariga especial..., por quem me desencontro!, lábios aderentes salgados pelo mar, atitude desafiadora!, louca, destemida, sonhadora..., deixa-me em ti navegar. Dama africana de movimentos quentes, pele deserto de areias escaldantes, felina na savana..., corpo doce chocolate, verdadeira obra-prima, musa desta rima..., corpo pecador, esguio e deslumbrante!, sorriso natural e puro..., cabelos negros em chamas, será que me amas?, olhar convicto, assertivo, sincero... Alteza do vestido preto, com boina vermelha pimenta, não há homem que aguenta..., toda cuidada a preceito, de óculos que acrescentam intelectualidade, brincos geométricos, princesa de bons atos..., dona da humildade e vaidade!, e teus peitos são dunas em que me vou perdendo, e esquecendo todas as minhas lamúrias...

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Rosa Marques é co-autora de A Bíblia dos Pecadores, O Beijo do Vampiro, Vendaval de Emoções, Graças a Deus!, Ninguém Leva a Mal, Torrente de Paixões, Saloios & Caipiras, Sexta-Feira 13, Fúria de Viver, A Primavera dos Sorrisos, Tempo de Magia, Devassos no Paraíso, Os Vigaristas, Luz de Natal e Sinfonia de Amor.


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CONTO

SÓCRATES E O CAMINHO DA SABEDORIA ALDIR DONIZETI VIEIRA Brasileiro, natural de Goiânia, Goiás, graduado e licenciado em Filosofia pela UFG, Bel. em Direito pela UniAnhanguera, especializado em Direito Penal pela PUC e mestrado em Educação. É professor, advogado, escritor e poeta, membro da Academia Virtual dos Poetas da Língua Portuguesa. Autor das obras seleccionadas em concurso: «Consciência, O Universo da Razão», «Asas ao Infinito» e «Mensagens Poéticas». Participou em inúmeras obras colectivas com outros autores lusófonos. Da Colecção Sui Generis é co-autor das antologias «Saloios & Caipiras», «Fúria de Viver», «Tempo de Magia» e «Sinfonia de Amor». Perfil no Facebook: facebook.com/aldirdonizetivieira

“Seu maior prazer era conversar, mas como sua mulher sempre estava descontente e lamuriante, apreciava mais do que tudo estar longe de casa. Levantava-se cedo antes do amanhecer, alimentava-se à base de pão e vinho, vestia uma túnica, punha por cima um grosso manto e saía em busca de algum lugar para satisfazer seu conhecimento, num templo, na casa de um amigo, nos banhos públicos, onde encontrasse com alguém para discutir. Nunca faltava ocasião para satisfazer os seus desígnios, pois toda a cidade em que vivia fervia de discussões e debates. A cidade era Atenas, o berço da filosofia, e o homem a quem mencionamos era Sócrates, aquele que veio servir de marco para separar os períodos históricos do mundo grego.” POR ALDIR DONIZETI VIEIRA

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era Atenas, o berço da filosofia, e o homem a quem mencionamos era Sócrates, aquele que veio servir de marco para separar os períodos históricos do mundo grego, antes e depois dele. Ele era astuto e de uma grande simplicidade, que fazia que sua persuasão derrubasse quaisquer pontos de vistas errôneos de seus adversários sem que eles alte-

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iveu na Grécia no Séc. IV a. C, sendo considerado como um dos principais pensadores gregos, marcando a filosofia Grega, com o seu pensamento do mundo das idéias. Assim como Cristo, ele nunca escreveu nada, seu discípulo Platão escreveu sobre ele. Sua filosofia é conhecida por Método Socrático, como um método de ensino e investigação dentro de uma forma dialética ou contraditória para encontrar a verdade. Sua filosofia nos leva ao encontro com nossa essência, com o universo harmônico que existe no nosso interior, ficou conhecido com a frase: «Conheça-te a ti mesmo!» Ele foi condenado à morte acusado de corromper a juventude daquela época com sua filosofia que negava os deuses da Polis. Ele era pobre e artista de cantaria, uma espécie de escultor semi-especializado. Trabalhava apenas o necessário para sustentar sua mulher e três filhos. Seu maior prazer era conversar, mas como sua mulher sempre estava descontente e lamuriante, apreciava mais do que tudo estar longe de casa. Levantava-se cedo antes do amanhecer, alimentava-se à base de pão e vinho, vestia uma túnica, punha por cima um grosso manto e saía em busca de algum lugar para satisfazer seu conhecimento, num templo, na casa de um amigo, nos banhos públicos, onde encontrasse com alguém para discutir. Nunca faltava ocasião para satisfazer os seus desígnios, pois toda a cidade em que vivia fervia de discussões e debates. A cidade

Ele era astuto e de uma grande simplicidade, que fazia que sua persuasão derrubasse quaisquer pontos de vistas errôneos de

seus adversários sem que eles alterassem, dando abertura para o surgimento da verdade em suas discussões, conhecida como maiêutica ou parto de idéias. Um dos seus amigos perguntou, um dia, ao oráculo de Delfos, quem era o homem mais sábio de Atenas. Perante a admiração

geral, a sacerdotisa proferiu o nome de Sócrates. Depois comentou Sócrates: «O oráculo elegeu-me como o mais sábio dos atenienses porque sou o único que sabe que nada sabe.»

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rassem, dando abertura para o surgimento da verdade em suas discussões, conhecida como maiêutica ou parto de idéias. Um dos seus amigos perguntou, um dia, ao oráculo de Delfos, quem era o homem mais sábio de Atenas. Perante a admiração geral, a sacerdotisa proferiu o nome de Sócrates. Depois comentou Sócrates: «O oráculo elegeu-me como o mais sábio dos atenienses porque sou o único que sabe que nada sabe.» Sócrates foi o desbravador do pensamento claro. Caminhava pelas ruas de Atenas pregando a lógica, o questionamento, ensinando aos jovens e a quem o ouvia o caminho da verdade e a essência do Ser.

Grande era a persuasão lógica que conduzia os seus debates com sua indagação, levando o outro a encontrar a própria resposta, como vemos num discurso de um orador quando falava sobre a arte da coragem, tendo Sócrates dele se aproximado, e perguntou-lhe: – Desculpa a minha intromissão, mas o que entendes por coragem? – Coragem consiste conservarmos no nosso posto mesmo perante o perigo. – Mas supõe que a estratégia aconselha a retirada. – Bem, então, isso já é diferente. Claro que, nessas circunstâncias, é aconselhável a retirada. – Desse modo, a coragem não consiste nem na permanência nem na retirada, não é verdade? Como definirás então a coragem? O orador enrugara a sua testa e dissera: – Deixaste-me um tanto confuso e receio não ti saber responder. – Também eu não – dizia Sócrates. – Mas pergunto a mim próprio, será algo mais do que saber fazer uso da inteligência, quer dizer, agir de um modo racional, e sem pensar no perigo? – Parece-me que será mais isso. – Devemos então admitir... em hipótese, pois se trata de um problema muito complexo... que a coragem é a determinação de atuar de acordo com um juízo firme e sereno? Coragem não é o mesmo que presença de espírito? E o oposto, neste caso, não seria a presença de emoção, que por vezes é tão forte que turva o próprio entendimento? Sócrates sabia, por experiência pessoal, o que era coragem, e aqueles que o ouviam tinham co-

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nhecimento disso. O seu comportamento frio e resoluto na batalha de Delium, durante a guerra de Peloponeso, tornara-se notório com a sua resistência física. A sua resistência moral era igualmente elevada, e todos recordavam como ele tinha enfrentado sozinho a histeria pública, quando foram condenados à morte – após a batalha naval de Arginusas, no mar Egeu, dez comandantes que não tinham socorrido alguns de seus soldados que estavam se afogando. Sócrates sustentou, firmemente, que injustos ou não era injusto condenar homens em grupo. Vivemos ainda num mundo repleto de ignorância e mediocridade, em que a maioria dos homens ainda se encontram aprisionados nas loucuras e obsessões dos temores, nas alienações, nos vícios, permanecendo grande parte da humanidade com a consciência adormecida, estando os valores morais e espirituais sufocados. Sócrates viveu despreocupado com os bens

materiais, buscava sempre a verdade e a essência das coisas. Através do diálogo com as pessoas, levava-as a refletirem sobre suas virtudes e habilidades. Certa vez, Glauco, filho de Aristão, cidadão de poder econômico abastado, pretendia ser governador de Atenas, e isto preocupou os anciãos daquela cidade, que levaram o fato ao conhecimento do sábio. Como Sócrates tinha amizade com a família do jovem, entrou em contato com o mesmo a fim de elucidá-lo de sua capacidade. Perguntou-lhe: – Glauco, tu pretendes governar a Polis de Atenas? – Pretendo sim, Sócrates. – É maravilhoso tal pretensão, a de servir a nossa Pátria. Se governares bem, criará nome em tua cidade, depois em toda Grécia, e quem sabe até mesmo entre os bárbaros. Ouvindo estes elogios, Glauco mostrava-se or-

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gulhoso. Prosseguiu o filósofo: – E uma boa administração em nome dos deuses, diria-me, qual o primeiro serviço que pretende prestar? Glauco ficou silencioso, sem resposta, e deixou Sócrates prosseguir: – Não te esforçarás para enriquecer a cidade, como se tratam de enriquecer a cada um? – Sim. – Aumentar as rendas não será o meio de torná-la mais rica? – É evidente. – Diga-me Glauco, de onde se retiram as ren-

das do estado, e qual seu montante? Certamente, já estuda os meios de suprir os produtos que se encontram escassos e prover os que vierem a faltar? – Por Júpiter – disse Glauco – nunca havia pensado nisso. – De vez que não pensaste nesse problema, dizia-me eu mesmo que não pensais quais são as despesas da cidade, uma vez que pretendes suprilas? – Dou-lhe minha palavra! Tão pouco havia pensado nisso. – Uma vez que não pensastes neste ponto, como queres enriquecer o estado se ignoras as despesas e as rendas? – Com os despojos dos inimigos. – Respondeu Glauco. – Isto se formos mais fortes que eles. Pois se formos mais fracos, nós é que seremos despojados. – De fato, falou a verdade. – Para empreender uma guerra precisamos conhecer a força de nossa nação, e a dos inimigos, isto para certificarmos de nosso potencial, pois se formos mais fortes abriremos as hostilidades, mas se formos mais fracos permaneceremos na defensiva. – Tem razão. – Agora diz-me, Glauco, quais são os pontos fracos de nossa cidade em terra e mar, depois os dos inimigos? – Ora Sócrates, de improviso não posso te responder. – Se tens em casa algum escrito sobre o assunto, aguardo-te. – Não, não tenho nada sobre isto. – Deixemos a guerra em sua defensiva. Eu sei que já ocupaste no estudo da defesa do País. Sabes qual a estratégia que deve ser usada? Quais as necessárias, e as desnecessárias? Em que

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ponto os guardas são mais numerosos e onde são insuficientes? Por certo fortalecerás o reforço das guarnições necessárias e o suprimento das supérfluas? – Por Júpiter, meu parecer é que sejam supridas todas as guarnições. – Disse Glauco. – Como terás certeza que o País estará seguro? Acaso visitaste pessoalmente as guarnições para ver que cada uma cumpre seu dever? – Suponho-o. – Respondeu Glauco. – Então, somente quando tivermos mais que suposições poderemos deliberar sobre o assunto. – Será melhor. – Sei, Glauco, que também não estivestes na mina de prata, que é uma das fontes de renda de nosso País, de sorte que também não podes dizer por que ela produz menos que no passado. – Tu mesmo sabes que não a conheço, pois não estive lá. – Mas pelo menos já examinastes cuidadosamente quanto tempo pode o trigo colhido no País alimentar a nação, na medida que se consome mais a cada ano, para que a escassez não surpreenda de cheio o povo, a fim de que com sua providência possa elaborar as medidas necessárias ao suprimento das necessidades do Polis? – Após

uma pequena reflexão, continuou Sócrates... – Não conseguirá governar a própria casa quem não conhecer todas as necessidades nem souber satisfazê-las. Ainda mais o governo de uma nação que conta com milhares de famílias ao mesmo tempo. Porque não pensastes primeiro, Glauco, aprender a engrandecer a casa de seu tio? Se deres conta da tarefa, então empreenderia uma missão maior. Não é certo que alguém que não tenha condições de carregar um talento queira carregar mais de um? – Ah! – Exclamou Glauco. – Bons serviços prestaria eu à casa de meu tio se quisesse dar-me ouvidos. – Como? – Replicou Sócrates. – Não fostes capaz de persuadir teu tio e esperas ser ouvido por todos os atenienses? E continuou... – Não vá somente de olho na glória, não vês o quanto é perigoso dizer ou fazer o que não sabes? Pensa em todos os homens de teu conhecimento que procedem sem saber. Se amas a glória e queres fazer-te admirar na prática, procura bem saber o que desejas realizar por obra. No diálogo entre Sócrates e Glauco vemos a sinceridade, um em esclarecer e o outro em 128


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aprender, ficando o jovem consciente que ainda não estava apto para governar. Hoje, em nossa sociedade atual, pouco encontramos nas pessoas, essa humildade demonstrada por Glauco que nada sabe, mas que estava disposto a buscar o campo do saber através de estudos e experiências. É muito raro, em nossos dias, vermos políticos que querem o bem-estar da nação, e que reconheçam suas fraquezas e incompetências para governar. A maior parte deles, totalmente despreparados de conhecimento, entram na vida pública por oportunismo e ambição. É comum, em nossos tempos, encontrarmos pessoas com formação intelectual até considerável, mas professando o culto a ideologias utópicas, olvidando o saber.

Foi através do pensamento indagativo e da meditação que Sócrates encontrou as respostas às suas indagações dentro de si mesmo, por isso o seu “Método Socrático” conduz a essência da verdade através do autoconhecimento. Sócrates e sua filosofia do autoconhecimento não só marcou sua forte presença no mundo grego, mas serviu de estudos posteriores a muitas gerações de pensadores que, fascinados por seus legados, aprenderam a refletir e contemplar com sua fascinante frase: «Só sei de uma coisa e é que nada sei, conheça-te a ti mesmo!»  

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Paula Homem é co-autora de A Bíblia dos Pecadores, Graças a Deus!, Sexta-Feira 13 e Sinfonia de Amor.


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ANA CAROLINA MACHADO Nasceu em Belém do Pará, Brasil, no ano de 1997. Actualmente estuda biomedicina na UFPA. Sempre gostou de escrever e participou em algumas antologias como: «Meus Poeminhas Infantis» Vol. 2, «Estelar», «Cultive o Polen da Vida 2», «Cicatrizes da Alma» Vol. 2 e «Mãe». Os seus textos foram também publicados em revistas literárias: «Avessa» (edições 18 e 19) e «LiteraLivre» (edições 8 e 9). Em 2018 ficou em segundo lugar no Prêmio Vip de Literatura. Mora em Belém do Pará com a sua família e os seus bichinhos de estimação. Perfil no Facebook: https://www.facebook.com/ana.macha do.90410834

SER COMO UMA CRIANÇA «Mas Jesus chamou a si as crianças e disse: “Deixem vir a mim as crianças e não as impeçam, pois o Reino de Deus pertence aos que são semelhantes a elas.”» (Lucas 18:16)

Essa é uma das partes mais conhecidas da Bíblia, uma das que mais chama a minha atenção também. Quais são as características que as crianças têm e que também temos que ter para alcançar o Reino de Deus? Fiquei muito tempo pensando nisso e acabei achando as respostas de forma bem simples; achei através de histórias comuns do dia-a-dia. Como dizem: «A verdadeira sabedoria se aprende na rotina». A primeira história aconteceu em uma cidade do Nordeste, que estava sem chover há muito tempo. Os moradores resolveram se reunir na praça da cidade e orar para que Deus mandasse chuva. No meio dos moradores, uma criança havia levado um guarda-chuva. Quando questionada sobre o guarda-chuva, a criança disse que era para ela se proteger da chuva. Antes de Deus realizar o milagre, ela pelos olhos da fé já o via realizado. 132


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Que a gente um dia consiga ter essa fé que é característica de crianças. A segunda história eu li em uma revista. Era a história de um menino que era filho de um piloto de avião. Um dia esse menino estava viajando em um avião pilotado pelo pai. Em um momento da viagem o avião passou por uma turbulência e muitos passageiros se assustaram, porém o menino continuava calmo. Um passageiro perguntou para o menino se ele não estava com medo, o menino disse que não estava com medo porque quem estava pilotando o avião era seu pai, ele confiava no pai dele.

Podemos ver essa história de forma figurada. Podemos comparar o avião à nossa vida e o piloto do avião a Deus. Deus sempre está no controle de tudo na nossa vida, mesmo quando a nossa vida passa por turbulências temos de confiar que Deus o nosso Pai está no controle. Que um dia a gente tenha uma confiança em Deus tão forte ou maior que a confiança que a criança tinha em seu pai. A outra história ocorreu na escola que estudei. Um grupo de crianças brincava perto de onde eu estava. Esse grupo se divertia jogando futebol, mas não futebol com uma bola normal, eles jogavam com uma garrafa vazia de refrigerante. Nesse grupo de crianças eu vi a verdadeira alegria, vi a festa que eles faziam quando alguém fazia um golo. Vendo esse grupo eu vi que não existe alegria mais verdadeira que a das crianças, alegria que não está ligada a dinheiro ou bens materiais.

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Muitas vezes quando crescemos perdemos a capacidade de nos alegrar com as pequenas coisas da vida. Que a gente um dia consiga ter a mesma alegria que as crianças têm. A última história ocorreu aqui na rua de casa. Ocorreu entre um vizinho meu que é gari e seu netinho. Eu estava indo para a escola, era próximo do dia dos pais, quando passei perto da casa dele, ouvi o netinho dele dizendo que achava bonito o uniforme dele e após falar isso o abraçou. Aquela cena me emocionou e guardei em meu coração. A atitude do netinho dele representa muitos sentimentos bons, mas para mim representa principalmente a gratidão. Ele retribuiu com amor o amor que sempre recebeu. Como estava próximo do dia dos pais, refleti que muitos filhos não têm a mesma gratidão que aquela criança tem.

Depois dessa história não tenho mais nada a escrever. Apenas desejo que um dia a gente consiga receber o reino de Deus com a fé, a confiança, a gratidão e a alegria de uma criança.  «Digo-lhes a verdade: Quem não receber o Reino de Deus como uma criança, nunca entrará nele.» (Lucas 18:17) 

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NATÁLIA VALE Nasceu em Vila Robert Williams, Caála, Angola, em 1949. É licenciada em História, pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Tem vários trabalhos premiados, quer nacional, quer internacionalmente. Tem trabalhos publicados em diversas antologias, nacionais e internacionais. Em 2009 editou os seus primeiros (dois) livros pela editora Mosaico de Palavras: «Emoções Inacabadas» (poesia) e «A Minha Tempestade e Outros Contos» (contos). Participou em três antologias da Colecção Sui Generis: «Graças a Deus!», «Torrente de Paixões» e «A Primavera dos Sorrisos». Perfil no Facebook: www.facebook.com/natalia.vale.39

PARA MAGDA Magda, Esta é a última carta que te escrevo. Já não me recordo se alguma vez o fiz. Passaram muitos anos e a minha memória perdeu-se no tempo. Também não era necessário. Tu estavas ali, sempre presente, ao meu lado. Não havia necessidade de colocar no papel tudo aquilo que sentia por ti. Tu sabias. Continuas a saber, onde quer que eu esteja; numa outra dimensão, numa estrelinha que reluz todas as noites (o beijo de boa noite que sempre te ia dar antes de dormires); numa nuvem que passa lentamente (dizendo-te adeus). Ainda me lembro quando passeávamos juntas, no jardim das acácias floridas e belas, e tu corrias, rindo alegre e euforicamente, na esperança de que eu o fizesse também, e te alcançasse. As minhas pernas nem sempre deixavam que o fizesse e tu rias feliz. O jardim já não floresce, as acácias já não estão viçosas como antes. Tu eras a seiva que as fazia renascer, dia a dia, e as nossas gargalhadas eram a água que as alimentava. Sei que sentes um enorme vazio, pela minha ausência. As tuas saudades são as minhas saudades. Mas a minha vigilância continua, como sempre esteve presente no parque das acácias. A necessidade de te escrever foi maior do que a minha razão; sempre ouvi dizer que “todas as cartas de amor são ridículas”, porém, neste momento, sinto-me melhor e não penso que sejam assim tão ridículas. Mostrar a saudade imensa que tenho de ti não é ridículo, mas é fruto do imenso amor que, eternamente, continuarei a ter por ti. Devia ter-te escrito enquanto estava a teu lado, mas tu sabias que as palavras e as atitudes eram muito mais importantes do que o conjunto de todas aquelas que fossem passadas a um simples papel, já amarelecido pelo tempo. 

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Karenn Sanches ĂŠ co-autora de Luz de Natal.


Vieirinha Vieira ĂŠ co-autora de Luz de Natal e Sinfonia de Amor.


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CONTO

BALTHASAR SETE-SÓIS Pseudónimo de Raul Tomé. Nascido em Sintra em 1980, licenciado em Sociologia (ISCTE), Mestre em Ciências do Trabalho e Relações Laborais (ISCTE) e Pós-Graduado em Políticas de Igualdade e Inclusão (UAB). Ex-cronista do Jornal Negócios, colabora actualmente nas revistas Bird Magazine (com crónicas quinzenais) e Mundo Magazine (com crónicas mensais). No momento mantém ainda uma colaboração com a Chiado Editora, através da qual elabora resenhas literárias. É criador da página Ipsis Verbis, cujo objectivo é a divulgação de citações de relevo, quer de autores nacionais quer internacionais, independentemente da sua dimensão no mundo literário. Participou no 38° Campeonato de Escrita Criativa, desenvolvido por Pedro Chagas Freitas, alcançando um honroso 4° lugar, e em diversas colectâneas de contos e poesia. É co-autor da antologia «Sinfonia de Amor», da Colecção Sui Generis. Perfil no Facebook: https://www.facebook.com/baltasarset esois2017

SEGREDOS DE MAR E LUAR “Entrou no mar gelado e revolto, ignorando todos os avisos da protecção civil. Estava disposto a caminhar para o fim. Pouco lhe importava agora o sucesso, a família e o dinheiro. Pouco importava o tanto quando se sentia vazio de tudo. De repente um esgar de dor atravessou-lhe o rosto. Algo duro embateu contra uma das suas pernas. Dobrou-se e apanhou, por entre o turbilhão de areia e de gordurosa espuma, uma garrafa. O coração começou a palpitar rapidamente. Estava perante um sonho de menino.” POR BALTHASAR SETE-SÓIS

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recisava do mar, de ouvi-lo, senti-lo, de escutar aquele murmúrio violento e apaziguador, naquela manhã de inverno que lhe rasgava a alma. Não sabia quem era. Sentia que se perdia no mundo, que se deixava balançar ao sabor da corrente. Não tinha força para suster o leme da sua própria vida e atracava onde a oportunidade lhe dava guarida. Entrou no mar gelado e revolto, ignorando todos os avisos da protecção civil. Estava disposto a caminhar para o fim. Pouco lhe importava agora o sucesso, a família e o dinheiro. Pouco importava o tanto quando se sentia vazio de tudo. De repente um esgar de dor atravessou-lhe o rosto. Algo duro embateu contra uma das suas pernas. Dobrou-se e apanhou, por entre o turbilhão de areia e de gordurosa espuma, uma garrafa. O coração começou a palpitar rapidamente. Estava perante um sonho de menino. Na sua mão uma garrafa e lá dentro um papel lacrado. Correu para o carro, retirou do porta-luvas um canivete

Tantas vezes somos quem não somos. Vivemos farsas sem sabermos como entrámos nelas. Não escolhemos. Somos empurrados pela ambição de uma vida melhor para os nossos, pelo desejo ou por um

reconhecimento que não sabemos bem para que serve. Outras tantas, queremos ser apenas recordados para sempre. É este o sonho de qualquer homem mortal, a sua imortalidade.

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suíço e, através do metal enrolado, penetrou a rolha profunda e retirou-a com a delicadeza de quem retira um filho de um ventre. Tremia, a boca estava seca, os seus dedos gelados e hirtos.

Mas não existe no mundo verdade que não possa ser revelada. Eu menti, enganei e a todos peço perdão. O sítio mais alto onde pisei foi o décimo andar da casa onde vivia a minha mãe.

«Se algum dia alguém me ler, a humanidade ficará chocada. Tantas vezes somos quem não somos. Vivemos farsas sem sabermos como entrámos nelas. Não escolhemos. Somos empurrados pela ambição de uma vida melhor para os nossos, pelo desejo ou por um reconhecimento que não sabemos bem para que serve. Outras tantas, queremos ser apenas recordados para sempre. É este o sonho de qualquer homem mortal, a sua imortalidade.

Neil Armstrong – aquele que sonhou ir à lua, mas nunca foi.» A missiva estava escrita à mão. O papel era antigo e parecia ser autêntico. Não estava preparado para mudar a sua realidade nem a do mundo. Colocou o envelope dentro da garrafa, injetou de novo a rolha no ventre liso, tomou balanço e lançou-a o mais longe que pôde. Nesse dia não se suicidou. 

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JORGE PINCORUJA Residente em Londres, escreve sempre em Português. Embora a sua escrita seja maioritariamente em verso ou prosa poética, de vez em quando escreve contos. Nascido na Beira Alta, tem por meta escrever de forma original e muito sua. Umas vezes melódica, outras vezes ríspida, mas sempre com verdade. Já com algumas obras editadas, pretende deixar um cunho próprio na escrita que se faz actualmente. Participou nas antologias «A Bíblia dos Pecadores», «Vendaval de Emoções», «Devassos no Paraíso» e «Sinfonia de Amor» da Colecção Sui Generis. Perfil no Facebook: www.facebook.com/jorge.pincoruja

POETAS BRASILEIROS Meus queridos... nem sei muito bem como começar isto, mas sinto que vos devo dizer algo que me parece extraordinário. Vós sois extraordinários, mas nem sempre pela positiva. Hoje quero que ao lerdes estas palavras vos tomeis de consideração, apanhai o travão de mão para não bater nas esquinas e se for meritório pensai um pouco... e não adianta “xingar o Zé Papagaio”. Como vocês bem sabem, o uso por vocês do “você” é um caso sério. Para vocês o “você” às vezes tem estatuto de “tu”... e tu, que muitas vezes deveria aparecer, toma o chá do sumiço e vai de “bobeira” por aí... senão reparem: «Você minha querida, me faz viver nesta ausência que me grita tanto sem a “tua” presença / Quero o sorriso que “tu” me dás, quando, triste, “você” vai pra longe / E se “você” me quiser para sempre eu “te” prometo que “lhe” farei o motivo da minha vida.» Estes são, como podem ver, versos que explicam a situação... nada têm de singular e não os tirei de ninguém, foram criados de propósito para ilustrar esta situação. Podeis ver o mau uso de duas pessoas – o “tu” e o “você” na mesma frase e na mesma composição. Para vós já se tornou tão normal esta “anormalidade” que ninguém repara – nós aqui reparamos... eu reparo. Pela normalidade da coisa, quando alguém se mete a fazer um poema tem três escolhas: 1 – Usa o “tu” do começo ao fim. 2 – Usa o “você” do começo ao fim... 3 – e se realmente for bastante empreendedor, criativo e talentoso, diz tudo o que quer dizer sem usar nenhuma das pessoas. Agora com essa mistura de pessoas é que não se pode tomar a vossa poesia seriamente. Não creio que, com este meu reparo, estou a tentar tolher a criatividade de cada um... porque até conheço alguns de vós que não fazem estas “habilidades” e os vossos poemas são dignos de aplauso. 

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Érica Azevedo Ê co-autora de Luz de Natal.


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O MONSTRENGO “Era tudo muito macabro, visão ERICK BERNARDES Erick da Silva Bernardes. Graduado em Letras pela Faculdade de Formação de Professores (FFP-UERJ). Mestrando de Estudos Literários do Programa de Pós-graduação em Letras e Linguística (PPLIN), na Faculdade de Formação de Professores (FFP), da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Pós-graduado em Especialização de Estudos Literários na mesma instituição. Páginas do Autor: Facebook: Dario Camello http://lattes.cnpq.br/08302039737921 46 Contacto do Autor: ergalharti@hormail.com

bizarra fugindo a tudo que me traz paz e tranquilidade. Eu via uma espécie de porão. Lá embaixo da arcada da construção: lugar de peregrinação e cumprimento de sacrifícios. Artifícios de fé, aniquiladores da razão. Para cada milagre realizado, um adereço sinistro deveria ser deixado ali. Se algum filho passava no concurso da Marinha do Brasil, a mãe feliz dependurava parte da farda branca do mais recente marujo, pregando fração de uniforme na parede. Quando um ente querido sarava perna, braço, cabeça ou qualquer parte do corpo, uma peça de cera imitando anatomia do curado aumentava o quadro tenebroso. Fíbulas, úmeros e até crânios artificiais ilustravam o espaço sagrado.” POR ERICK BERNARDES

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sino da Nossa Senhora do Porto das Caixas badala sem nem a vizinhança lembrar motivos. É o domingo da família na igreja, comunica o padre, prostrado e amarelo na porta de entrada. São momentos religiosos assim que tocam-me intimamente, no fundinho da alma – e a mesmice só faz surgir em mim lembranças. Nos meses de verão, a chuva quente embaça meus óculos e empapa a roupa que gruda feito segunda pele. O ar pesa, a atmosfera se adensa, o ambiente cresce em abafamento. Desconforto. Angústia e mal-estar definem bem a sensação que sinto. Gotículas de suor minam da minha testa e resolvem escorrer sem avisar. Vontade de sair, impertinência, oh! Pecado, meu Deus! Sinto remorso em ir embora. Uma travessa de pães de queijo espera por mim em casa – vão acabar murchando! Fico. Decido ficar, amolecido pelo calor, mas fico. Melhor é cumprir a promessa feita à vovô Sebastiana. Ela mesma não compareceu, desistiu de vir

comigo, passava mal; boa alegação. «Vá e reze por mim Zezinho, por favor, faça as pazes com Deus». Não sei de onde a velha, mãe da minha mãe, tirou a ideia de que eu travei luta com o Criador. Melhor desconsiderar o comentário. Vovó não bate bem. Definitivamente. A dona Sebastiana delira de olhos abertos. Quando criança, ela me levava no subsolo da igreja. Era tudo muito macabro, visão bizarra fugindo a tudo que me traz paz e tranquilidade. Eu via uma espécie de porão. Lá embaixo da arcada da construção: lugar de peregrinação e cumprimento de sacrifícios. Artifícios de fé, aniquiladores da razão. Para cada milagre realizado, um adereço sinistro deveria ser deixado ali. Se algum filho passava no concurso da Marinha do Brasil, a mãe feliz dependurava parte da farda branca do mais recente marujo, pregando fração de uniforme na parede. Quando um ente querido sarava perna, braço, cabeça ou qualquer parte do corpo, uma peça de cera imitando anatomia do curado au146


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mentava o quadro tenebroso. Fíbulas, úmeros e até crânios artificiais ilustravam o espaço sagrado. Acaso a bênção de Deus livrava bebum do alcoolismo, obviamente garrafas ou alambiques pequenos acrescentavam-se ao subsolo da igreja, prova de algum viciado liberto. Só não se sabe aonde foram as cachaças deixadas como símbolo do milagre feito. A atenção retorna à homilia do padre e deixo as lembranças de lado. Curioso o fato de tanto tempo ter passado e eu ainda pensar nos membros construídos com parafina a imitarem pedaços de gente. Manteriam ainda essa tradição estranha? Continuariam enchendo o porão com tanta coisa feia? Bem, melhor sossegar-me. A missa já vai começar. Não. A missa não começa. O padre

A atenção retorna à homilia do padre e deixo as lembranças de lado. Curioso o fato de tanto tempo ter passado e eu ainda pensar nos membros construídos com parafina a imitarem pedaços de gente. Manteriam ainda essa tradição estranha? Continuariam enchendo o porão com tanta coisa feia? Bem, melhor sossegar-me. A missa já vai começar.

demora; e isso sempre foi assim. Mais de vinte anos de palestras e Padre Luís enrolava para começar. Desperdício de tempo. Por causa da promessa feita à minha avó querida, sinto esvair-se meu domingo de folga. Meu único dia de folga do trabalho! Pois é, empenhar palavras é perigoso, nunca se sabe quando deveremos cumpri-las. Mais perigoso que viver é dar a própria honra como garantia. Da vida pode-se desistir, da palavra de jeito nenhum. Jogo meu tempo fora por causa da Sebastiana da Silva. Cadê o sacerdote? Nem sinal da batina dele. Levanto. Decido ficar de pé, porque a sonolência resolve me rondar como fumaça invisível. Olho ao redor, quase todos os bancos estão vagos, noventa por cento vazios. Que absurdo! Ninguém mais assiste missa hoje em dia? Achegome à porta, a cerimônia ainda não começou. Que demora! Lá fora cigarras cantam e irritam os tímpanos de quem caminha na rua. Estridência. Dúzias de insetos a cantarem em uníssono; igualzinho à sonoplastia de serra de piso cortando ardósia. Barulho incômodo, bicho chato, impertinência. Vontade de descer, vasculhar o porão, ver se ainda existem os pedaços de cera 147


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como pagamento aos milagres cumpridos. Porto das Caixas era assim, gente muito crente, até pessoal de fora vinha à igreja anos atrás. Continuariam a manter a tétrica tradição lá no subsolo? O abafamento mexe com meus ânimos, suado, muitíssimo suado e irritado. E nada da homilia começar. Cigarras cantam. Decido aventurar-me ao porão da igreja. Apenas treze degraus me separam da infância que guardo com carinho. Treze, sempre me incomodou tal número. Treze patamares para descer. Supersticioso, eu? Nem um pouco, mas o limite da curiosidade ninguém conhece. Caminho até o andar de baixo. Subsolo trancado. Não é difícil dar safanões na porta e abri-la pelo menos um pouco.

O gato preto roçando-me as pernas não assusta, simbologia pagã. Toda igreja tem gato, normal, bichanos gostam do espaço sagrado. O fecho da porta cede, lentamente a oportunidade me oferece espaço para entrar espremido. Curioso e sorrateiro entro. Escuridão. Obviamente o lugar está desativado. Inevitável as pupilas cansadas apresentarem dificuldade em enxergar – efeito da luz lá de fora. A penumbra permite lentamente a vista, enxergo. Meu Deus! Não acredito nisso! Os mesmos objetos, os mesmos membros anatômicos de cera do passado empilhados aqui no porão. O cheiro é péssimo, cheiro de carne estragada. Deus me livre! De onde vem o fedor? Deve haver animal morto, carniça. Acendo a luz do telefone 148


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celular. Lanterna digital, iluminação instantânea, globalização. Aqui embaixo o cenário é medieval. Trevoso. Ouço a missa começar, cântico de entrada, boas-vindas lá em cima à meia dúzia de fiéis corajosos por haverem saído de casa com tanto calor. Não vou assistir missa. Que se dane! Aqui no porão sou provocado pelo desconhecido. Ruídos parecem vir da parte de trás, som de chiado, como gás a escapar de botijão. Não, não é não. Há bicho dentro desse armário carcomido de traça. Passos de animal, algum pequeno ser, vida que ressoa no interior do móvel. O chiado cresce na mesma proporção que o meu pavor. Frio na barriga. Vou abrir a porta de cima. Tremedeira, medo sim, claro! Tenho muito medo. Com dois dedos no puxador da porta consigo abrir e ver. Inacreditável. Olhos imensos e luminosos destacam-se na penumbra do interior do armário velho. Só os globos oculares aparecem arregalados – e o chiado

diabólico de alguém pronto a atacar. Que medo, meu Deus! Preparo-me para correr. A luz acende, alguém lá fora apertou o interruptor e clareou o porão, decerto percebeu sons saídos de baixo. E pronto, vejo. Deparo com a coruja velha a espiarme; a dona do ruído. Que susto! Quase matei o bicho de tão puto que fiquei. Coração a querer fugir-me do peito, urgente acalmar o ânimo. Melhor é voltar e rezar, não quero saber, volto! Reconheço: para pessoas esclarecidas o monstrengo é sinônimo de sabedoria, esfinge de intelectualidade, talvez até o mascote da educação. Para outros, a ave comedora de morcegos, cobras e ratos, revela-se sinônimo de morte anunciada. Não sei. Juro que não sei. Não tenho superstição. Mas... na dúvida, melhor é cumprir o trato com a vó Sebastiana, orar, rezar, e participar do ritual católico. Resolvo-me subir. O calor continua, mas parece que vai chover. 

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Mary Rosas ĂŠ co-autora de Tempo de Magia, Luz de Natal e Sinfonia de Amor.


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CRÓNICA

O LUGAR DO TEXTO POÉTICO JOYCE LIMA Doutora e Mestra em Educação, Especialista em Educação Ambiental. Bióloga pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia. Professora da Rede Pública de Ensino. Baiana, residente em Itagibá, BA. Autora do livro poético «A Arte de Costurar Palavras» (2016) e de livros técnicos na área de Educação: «Modos de Identificação de Professor(a): Tramas Discursivas» (2017) e «Formação Continuada: dos Desafios aos Impactos na Atuação Docente» (2016). Participou em várias antologias poéticas no Brasil e em Portugal. Co-autora da antologia «Luz de Natal» (2018), da Colecção Sui Generis. Coordenadora e organizadora do projecto Janelinhas Encantadas, tendo organizado duas antologias de textos infantis, «Janelinhas Encantadas» (2017) e «Cartinhas na Janela» (2017) e uma para adolescentes, «Adolescências: Emoções Poéticas» (2018).

“O poeta cria seus textos, publica e observa os inúmeros comentários; poucas pessoas se aproximam do sentido que o poeta atribuiu àquilo que escreveu. Às vezes falamos de algo totalmente diferente daquilo que foi interpretado. Nisto reside a riqueza e variedade da linguagem, o poder dos discursos e a multiplicidade dos sentidos.”

Perfil no Facebook: facebook.com/joyce.lima.1069020

POR JOYCE LIMA

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A partir do momento que tornamos

A

paráfrase joga com o equívoco. Fazemos interpretações, parafraseamos textos de diferentes gêneros à luz das representações sociais que tomamos ou fazemos parte. Ao mesmo tempo, a paráfrase e a polissemia se contradizem, mas isto não pode ser considerado um mal. Ambas são necessárias para a produção das diferenças. Por mais aproximado do mesmo que seja, a paráfrase gera novos sentidos, produzidos a partir daquilo que significa para nós, determinado pela nossa memória. Essa crônica, aqui rabiscada, surgiu a partir das leituras e interpretações feitas pelos escritores e/ ou poetas aos textos poéticos de sites, principalmente sobre os meus textos publicados. Boa parte dos comentários se distanciam daquilo que pensei na hora de produzir os textos. Cada um fala de um lugar específico, de ideologias distintas e da cultura que se propaga sobre algo. Assim, o novo e o diferente produzem sentidos. São enunciados que possuem pontos de deriva que dão lugar à interpretação.

público um discurso ele deixa de ser algo particular e passa a ser ressignificado, interpretado e transformado. Da mesma forma, considero que todo

discurso é coletivo porque há sempre um pouco de um “outro” no que eu falo ou escrevo. Assim, o que um autor quis dizer em seu texto pode ser uma incógnita, por mais explícito que possa parecer, não é exactamente o que o leitor vê. Isso não torna o texto melhor ou pior, trata-se de peculiaridades que podem dar um gostinho especial e promover uma boa discussão.

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Encanta-me ver como isso aparece quando os leitores expressam sobre o que escrevo, percebo como a interpretação transita entre o mesmo e o diferente. Perceber novos sentidos sobre o que escrevo considero de muita valia para a linguagem e, consequentemente, para o mundo poético. A interpretação tem a ver com aquilo que acreditamos. Lembro-me e questiono a expressão usada por professor, ao propor aos alunos e questionar sobre «o que o autor quer ou quis dizer». Isso só o próprio autor é capaz de expressar porque o dizer pode ser outro. Muitas vezes, os sentidos se aproximam e em outros casos há uma larga distância entre os pensamentos e os sentidos. O poeta cria seus textos, publica e observa os inúmeros comentários; poucas pessoas se aproximam do sentido que o poeta atribuiu àquilo que escreveu. Às vezes falamos de algo totalmente diferente daquilo que foi interpretado. Nisto reside

a riqueza e variedade da linguagem, o poder dos discursos e a multiplicidade dos sentidos. Para finalizar, é fato que a partir do momento que tornamos público um discurso ele deixa de ser algo particular e passa a ser ressignificado, interpretado e transformado. Da mesma forma, considero que todo discurso é coletivo porque há sempre um pouco de um “outro” no que eu falo ou escrevo. Assim, o que um autor quis dizer em seu texto pode ser uma incógnita, por mais explícito que possa parecer, não é exatamente o que o leitor vê. Isso não torna o texto melhor ou pior, trata-se de peculiaridades que podem dar um gostinho especial e promover uma boa discussão. Considerando a palavra poesia, em sua origem grega como “criar”, o poeta é o que cria e recria os textos poéticos, deixando possibilidades para a multiplicidade de sentidos. 

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Rosa Vital ĂŠ co-autora de Luz de Natal.


CADERNO DE POESIA

MULHER



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MULHER, SEMPRE MULHER [ Natália Vale ]

Mulher! A seiva que de ti brota No mais belo resplendor É água viva, cheia d’amor Que tuas mãos nos oferecem Como as roseiras florescem Quando o Sol as presenteia Com todo o seu calor! Mulher! Fonte de vida... A sede mitigas Quando em teus seios abrigas Os frutos que em teu ventre Geminaste, Que em teus braços Aconchegaste, E carinhosamente Beijaste. Mulher! Luz do luar Reflexos cor de prata Surgem nos teus cabelos, Deixando marcas profundas Dos anos que vão passando. E tu Mulher... Que tanto lutaste Jamais os braços Baixaste, Pela liberdade Gritaste, Finalmente Alcançaste O teu estatuto de: Mulher, sempre Mulher.

QUANDO DIGO MULHER! [ Nicoleta Peceli ]

Quando digo Mulher! Digo mãe, Digo esposa, Digo amante, Digo irmã, Digo filha, Tudo isso numa só palavra: Mulher. E começo a escrever de mim... de ti Mulher, tentando-me perceber mas... acabo por me desconhecer... És tu Mulher! Que força abraças, com charme e delicadeza, e o Amor devoras pouco a pouco num prazer louco! Defines o segredo da fertilidade que silencia numa telúrica miragem de redenção. És uma arte que o destino atravessa, no átimo, emoção carnal... Raios que se confundem com a tristeza dos olhos, que ainda vão a meditar. Mulher, o Fogo que arde nos sonhos, em chamas de tentação; O Anjo e Demónio, a dualidade, a força que inspira a atracção... É o Amor, a união íntima da alma e do corpo devido ao desejo, que oculta a verdadeira vocação. Mulher, um magnetismo ao poder do esplendor universal... ver-se nela uma irradiação que ilumina o mais profundo desejo, que neste momento estás a desejar... Quando digo Mulher, digo dor, sofrimento, vitimação que consegue calar os olhos e morde aquele sorriso que em suspiro está a descansar... 157


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MULHER É... [ Lucinda Maria ]

...uma árvore inquebrantável de força, energia. ...uma flor delicada desabrochando em doçura. ...um aconchego de amor, imensurável ternura. ...um gemido, uma lágrima, sopro de nostalgia. ...um útero de paixão, onde nada um novo ser. ...um parto de felicidade, um parir de ventura. ...um peito que amamenta, néctar de alvura. ...uma poesia bordada em palavras de querer. ...uma deusa, que sabe amar, mesmo na luta. ...uma guerreira, aguentando perigosa liça. ...um esteio, um suporte, esfuma a preguiça. ...uma enxada, que enfrenta qualquer labuta. ...um livro desenhado com beleza e erotismo. ...uma tela pintada em matizes bruxuleantes. ...um receptáculo de melodias, sons cantantes. ...uma mátria, personificando todo o estoicismo. ...um rio de cristalinidade arredando escolhos. ...um oceano de águas alterosas ou ondulantes. ...um fogo aceso, onde brilham luzes faiscantes. ...um olhar fiel, firme, reflectido em belos olhos!

AMADA FEITICEIRA [ Nardélio Luz ]

Ela nem de longe é um ser cruel, Tampouco possui vara de condão; É, pois sim, um pedacinho de Céu, Que seduziu meu cético coração. No início até que tentei resistir... Ah! Decerto com empenho tentei! Mas, então, optei por não insistir, Já que desde o princípio a amei. Nem todo feitiço é malfazejo... Esse é um belo exemplo de amor: Todo meu corpo arde em desejos, E até minha alma é puro ardor. Nenhuma história é só de flores, Também tivemos nossos espinhos; Apesar de termos nossos temores, A magia os removeu do caminho. Ela por vezes me beija no vento, Na brisa que adota a madrugada; Fêmea de pura magia e portentos, É a mulher, é minha doce amada.

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MULHERES [ Rose Chalfoun ]

Envoltas por claros mistérios Trilha sonora flores tão belas Figuras que se elevam em seus impérios, Quantos se curvam aos desejos delas! Mulheres! Múltiplos são os seus talentos. Mestras em truques de sedução... Doutoras em carícias em doces lamentos... Perfeitas? Não! Às vezes acertam por intuição!

MULHER

Professoras, médicas, engenheiras, Motoristas, juízas, cozinheiras, contadoras! Diplomatas, presidentes, entre outras... Mulheres em construção!

[ Filomena Fadigas ]

Somos pétalas de perfume, Frescura de paz, cascata de luz Somos a ternura da existência, O refúgio de amante Do homem que nos seduz. Somos palavras pintadas Na sombra da noite. Somos coração de paixão, Destino em forma de lágrimas. Somos crianças, meninas Somos a mulher prazer, Vestimos labirintos de dor. Somos a mulher coragem Somos um jardim em flor! Somos a mãe, a avó... Somos tudo o que podemos. Somos o símbolo do amor! Fazemos de tudo um pouco, Temos muito para dizer, Mas somos, gritando alto, Poesia, em forma de Mulher!

Para homenageá-las, então... Um dia, um mês, quem sabe um ano... Toda a vida, alguns dirão... Das flores, dos afagos, em seu dia recebidos Um conjunto de milagres divinos são percebidos Lá elas estão... As mulheres que sofrem em seu canto, Massacradas pela dor e pelo pranto Violentadas amedrontadas Pela vida levadas à deriva. Mal sabem de sua força e de seu valor. O outro lado da moeda sem festa! Sem flor, sem carinho, sem amor! Mulheres em reconstrução!

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MARIAS BRASILEIRAS [ Fátima Miguez ]

Marias de lata, índias, mulatas? desfiam lamentos, rosário de servidão. Mulher do pilão, mulher trabalhando mulher educando seu filho e os do patrão... Lata d’água na cabeça, trouxa de roupa na mão, um sem fim de tarefas, tudo, tudo com pressa, não falta ocupação! Marias de raça, índias, mulatas, rezam histórias, romaias de memórias. Maria lavadeira, Maria passadeira, Maria arrumadeira, Maria rendeira, Maria cozinheira, Maria biscateira... Marias prisioneiras de um Brasil cativo! Ave, mulheres brasileiras! Ave, Marias Brasileiras!

FASCINAÇÃO [ Lenir Moncorvo ]

Mulher, fascínio, imensidão Reflexo de Deus, ouro de mina Pura revelação, desejo e sina Tem a mais rica beleza, É pura fascinação... É perfume a exaurir, em qualquer Estação, mulher é flor de rara Beleza, é a junção da natureza Com tudo que nos traz emoção Mulher é como rosa em botão Atrai pela beleza, encanta pelo Doce perfume... Tem a ternura de um anjo Com a fortaleza de um furacão E se resume na singeleza de uma oração.

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MULHER [ Teresa Da Silva Martins ]

ÉS FONTE DE PECADO Ó MULHER!

Imagens de um rosto Num tom de maquilhagem Uma roupa vestir Um salto colocar Um segredo escondido Menina do mar Inquieta e duvidosa No horror da frieza Impossível de domar De gritos profundos Feiticeira e traiçoeira Bruxa do ar Menina um pouco mulher Numa vida desacertada Um ritmo proibido Subindo ao trono Uma miragem Sem colagem Dona de um mundo Fada do lar Na cor dourada dos sonhos Refletem nos olhos Uma mulher para amar...

[ Fernando Kya Samba ]

Ó doceira de agridoces maçãs da Huila! Teu corpo irradia dor de desejos impuros qual jingingas em sangue efervescendo no forno feminino. Palavras da tua boca lavradas com volúpia desabrocham profanas rosas em úberes mentes de homens. Façanhas iníquas da tua língua ludibriante e tuas mãos sedutoras tal qual venenosas serpentes vagueando sobre o púlpito do jinja. Faz-me originar-se do diabo quando com os olhos anticristo examino teu esfíngico negro corpo com dois rijos maboques no peito e nádegas blindadas com batuques. És fonte de pecado ó Mulher! Quando com o ódio me amas da morte me levas para a vida eterna e sobre o púlpito do teu ventre quente saio pelo teu mundo lúgubre afora semeando boas-novas nos teus ouvidos. És fonte de pecado ó Mulher!

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PIETÁ

SEM TÍTULO

[ Tauã Lima Verdan ]

[ Thiago Guimarães ]

Os passos cambaleantes se iniciam pela via dolorosa Há choro, há lamento, uma caminhada tão ardorosa Suportando sobre os ombros o jugo e o fardo pesado Busca a força no Pai! Não sendo, porém, amparado Era predito que o sofrimento haveria, em tanta dor Da terra, o pecado livraria suportando todo o ardor Os pregos vazam a pele, ferem as mãos e os pés A cabeça se ergue, em busca da inabalável fé Na base da cruz, está a mãe com o triste olhar O desejo que seduz, toda a humanidade salvar Ouve, mais uma vez, do filho crucificado o gemido Em agonia, o suor salgado na tez escorre despido

ousada amada armada fatal ser mulher

FLOR-MULHER [ Fernando Kya Samba ]

Pietá em prece, a mãe contempla todo o sofrimento O coração se compadece, não há qualquer alento Contra o triste destino que fora por Isaías profetizado Não haveria mudança para o Verbo encarnado A última oração, a alma entregue ao Criador O corpo sem vida, depositado com tanta dor Pendendo da cruz, cumprida está a profecia predita Jorra o sangue, em sacrifício, salvou tantas vidas Prostrada no chão, com o Cristo morto em seu colo Em total abnegação, escorre a lágrima pelos olhos A mãe tendo o corpo ferido do seu filho amado Presenciou o maior episódio de amor já relatado

Flui-te Um mar No olhar Mulher! Exorbitância Misteriosa Aliciantes Espinhos Sorri e chora O ar que te aspira Mulher! A flor Sepeia A dor E o amor

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COSTURAS ÍNTIMAS [ Rita Queiroz ]

Em cada ventre Os sonhos do mundo. Em cada espelho As marcas do tempo. Em cada vida de mulher O sangue que jorra pleno!

MULHER [ Cristina Sequeira ]

Numa luta constante Nascida na virtude De ser mulher doce Em cada atitude Teus filhos ao mundo No auge do amor Razão do teu viver No sacrifício e na dor Multiplicas o teu amor Semeias dedicação Te esquecendo te entregas De alma e coração

DIGO NÃO [ Rita Queiroz ]

Sofres na pele a ingratidão A violência como resposta Sem saberes porquê Tudo guardas e suportas

Tuas mãos em minha boca, não Teus olhos me cerceando, não Tua escrita me condenando, não Teu corpo sobre o meu, irresponsavelmente, não. Quando digo não, é não.

Não sabendo discernir o “certo do errado” O mundo moderno te roubou a pureza O sentido da “liberdade” apagou A simplicidade da tua beleza 163


SG MAG #07

POR UM CORAÇÃO DE MULHER...

De longe sentia o cheiro da sua pele, Imaginando-a erguendo-lhe As ancas, Mergulhando lentamente Numa onda de prazer... A pressão aumentava. Observava-a, esperando Que ela se juntasse a ele... Do outro lado, no sofá, Calmamente, os olhos dela Fustigavam-lhe o olhar, Afastando lentamente as pernas Numa libertação iminente... Timidamente os dedos deslizaram Até ao decote, Acompanhando o próprio prazer Numa lentidão carente... Devagar, os sentidos começam A ser conquistados pelas sensações Desconhecidas das próprias mãos... Os seios subiram, Os mamilos endureceram ao pequeno toque... Gemeu, ao sentir que o corpo a atraiçoava e... continuou. ......... Embriagado por aquela sensualidade Avançou um passo Para junto do sofá. Bem perto dela, Engoliu em seco, mordendo o lábio inferior, Enquanto ela ocultava um sorriso triunfante... Desejava-a já! O que mais o excitava Era o seu lado inexperiente... De olhos brilhantes de prazer Entreabriu os lábios inocentes: – Senhor... tem que me perdoar Ainda estou a aprender!... Hummm... certamente menina, O sedutor acaba seduzido Por um coração de mulher.

[ Nicoleta Peceli ]

Tinha pouca experiência Da verdadeira paixão. Contudo, algo nela seduzia-o Desejando explorar-lhe a identidade... Não, não podia permitir Que uma mulher Lhe controlasse o subconsciente... Estremeceu, sentindo O corpo dela Libertar-se nele... Hesitou, ouvindo-o Soltar um leve suspiro. Esforçou-se por se concentrar.

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HÁ TANTAS MULHERES... [ Sonia R. A. Carvalho ]

Dentro de uma há tantas mulheres A sensível A forte Aquela que abençoa Aquela que chora Que fica forte E logo se levanta E fica sempre firme Aquela que ora E imediatamente se levanta Para colocar sua fé em acção A amante A esposa A companheira para todas as horas A mãe, filha, irmã, tia E tantas outras Sim, realizamos tantos papéis E com muita competência Deus nos deu essa capacidade De fazer tantas coisas E até ao mesmo tempo Que todas possamos Continuar sempre com esta capacidade De cuidar de nossos amores Mas que jamais esqueçamos de cuidar Da gente mesmo, de acalentar O próprio coração. De nos enfeitar para a vida De semear a nós mesmas alegrias Que jamais percamos a leveza na vida Que cuidemos de nós mesmas como flores E caso nos ferir com os espinhos da vida Saibamos com a competência de sempre Curar nossas próprias dores!

INTERJACENTE [ Jonnata Henrique ]

Aprazível e fruitiva ela seduziu Sendo instilada maviosamente Ambrosíaco e deleitável ingrediente Álacre alma substrato não repeliu Árdego proceder de nada serviu Hílare talvez, quiçá deprimente A influída mulher, notoriamente Sem esforços, este ser persuadiu Minha alforria pleiteio desde então De querelas e de rusgas já cansei Todos os santos, juro que obsecrei Entretanto não obtenho a eliciação Umbráteis vias, vou bramando em vão Pois a súplica evapora, só o que sei Que amo ela, e para sempre amarei Mesmo estando em outra relação 165


SG MAG #07

QUADRA FEMININA NÚMERO III

QUADRA FEMININA NÚMERO VI

[ Maria Angélica ]

[ Maria Angélica ]

Fui embora tantas vezes todas as vezes que quis contei hora, contei meses contei pra ser feliz.

Não sou fraca quando choro não sou fraca quando me vou não me enfraqueço se oro nem desfaleço se estragou.

Nunca fiquei em lugar ou pessoa que me prenda não me deixo demorar se não tiro da vida renda.

Se acabou, eu recomeço tento de novo, outra vez e a régua que me meço é a mesma do freguês.

Se me cansa vou-me embora busco a Pasargada de Bandeira se em boa ou má hora me junto pra ser inteira.

Se há pedra em meu caminho eu estudo se posso tirar se o vento arrancou meu ninho eu me ponho a consertar.

Não me importa a canseira da minha vida sou senhora não olho tamanho da ladeira pego o rumo e vou-me embora.

Só por horas me definho pra mais forte levantar bebo água, bebo vinho e me ponho a alegrar.

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SG MAG #07

CORAÇÃO DE MULHER [ Filomena Fadigas ]

No jardim do meu coração Não murcham mais as flores. São pétalas de puro cristal Transparentes e brilhantes, Onde o Sol vigia atento E lhes mantém vivas as cores. Nem um sopro de aragem Ou até um vento forte As consegue derrubar Porque são flores com raiz Regadas de amor e paixão. Porque são flores de amar. Nem sequer precisam de água, Estão sempre bem viçosas Com recordações e certezas, Têm o perfume das rosas, Mas sem espinhos, são beleza. Mas nesse jardim não entra Um jardineiro qualquer. Só quem ame muito flores E saiba fazer florir E regar com muito amor Um coração de mulher!

MULHERES [ Aldirene Máximo ]

Admiro as mulheres que, assim como eu, aceitaram viver os maiores desafios de suas vidas. Mulheres sábias, guerreiras, que tiram água de pedra, cujos corações guardam preciosos tesouros. Admiro as posturas diante de uma vida dura, amarga, cruel, cujos sorrisos doces e discretos nos fazem refletir na força interior que todas nós temos. Sim, apesar dos espinhos, são belas Rosas a enfeitarem o Jardim de Deus! Admiro as mães que ensinam as suas crianças a acreditarem na evolução humana, pois a vida é um eterno aprendizado... Existem mulheres que se julgam invisíveis, que esquecem de se olhar no espelho durante as manhãs, que não conseguem enxergar a si. «Amiga, precisamos conversar: você é linda, uma joia rara, lapidada por Deus! Cada lágrima derramada te fará mais forte. E é dessa força que você precisa para vencer as adversidades.» Mulheres maravilhosas é o que nós somos. Não aceite menos do que isso. Deus nos fez perfeitas, lindas e inteligentes. Acredite em você!

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MULHER [ Filomena Fadigas ]

TODA MULHER É FLOR

Mulher chora... Mulher ri... Chora até que explode. Sabe o que quer e não quer. Sabe o que pode e não pode. Um ser que a todos espanta E com seu olhar encanta, Com perfume e muita cor. E quando falta o perfume Sobressai nela a essência, Que todos chamam de amor.

[ Sonia R. A. Carvalho ]

Toda mulher é uma flor Tem como uma rosa a suavidade e beleza Mesmo com os espinhos da vida Não perde a essência da leveza Mesmo que a vida apresente seus espinhos Ainda a mulher como flor encantará Ainda assim vai perfumar o jardim de alguém Ainda assim seu carinho e amor espalhará A mulher é realmente como rosa Tem um colorido todo especial “Veste-se” de perfume, graça e beleza É ao mundo extremamente crucial

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A MULHER [ Florbela Espanca ]

Ó Mulher! Como és fraca e como és forte! Como sabes ser doce e desgraçada! Como sabes fingir quando em teu peito A tua alma se estorce amargurada! Quantas morrem saudosas de uma imagem Adorada que amaram doidamente! Quantas e quantas almas endoidecem Enquanto a boca rir alegremente! Quanta paixão e amor às vezes têm Sem nunca o confessarem a ninguém Doce alma de dor e sofrimento! Paixão que faria a felicidade Dum rei; amor de sonho e de saudade, Que se esvai e foge num lamento!

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CONTO

OS TRÊS PORQUINHOS “O porquinho Cícero ia gerindo as bolotinhas que lhe eram confiadas, aproveitando-se do lugar para, não raras vezes com o auxílio do ESTÊVÃO DE SOUSA Nasceu em Lisboa, em 1937. Já aposentado, dedicou-se à escrita. É autor literário das seguintes obras: «Nesta Terra Abençoada» (2014), «Tráfico no Rio Geba» (2014), «Irina – A Guerrilheira» (2015), «Rapto em Londres» (2017), «Romance em São Tomé» (2017), «Pedaços de Mim» (2017), «Contos, Estórias & Companhia» (2018), «A Profanação do Túmulo» (2018), «Pânico no Subúrbio» (2018) e «O Misterioso Desaparecimento da Princesa» (2019). Tem trabalhos publicados em diversas obras colectivas. Da Colecção Sui Generis, participou nas antologias «A Bíblia dos Pecadores», «O Beijo do Vampiro», «Saloios & Caipiras», «Fúria de Viver», «Crimes Sem Rosto», «A Primavera dos Sorrisos», «Devassos no Paraíso», «Os Vigaristas», «Sinfonia de Amor» e «Luz de Natal». Perfil no Facebook: www.facebook.com/francisco.estevao desousa

porquinho Heitor, fazer e receber uns favores que faziam com que o seu monte de bolotinhas fosse aumentando consideravelmente. O Heitor, lá do alto do seu trono, ia-se pavoneando e pisando, sempre que podia, os tristes porquinhos que, uns convictamente, por pertencerem ao seu grupo de porquinhos vermelhos, outros por receio das represálias do rei ou dos seus apaniguados, lhe iam prestando toda a casta de vassalagens. Já quanto ao nosso comum amigo, o Prático; esse, hábil e astuto, com o auxílio algumas vezes do Heitor, outras, dos ventos que sopravam favoravelmente fazendo cair as bolotinhas no seu lamaçal, ia, cada dia que passava, aumentando o império.” POR ESTÊVÃO DE SOUSA 171


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manter na dependência do Heitor, pelo que se limitou a construir uma casa bem apalaçada e confortável, onde não faltavam as bolotinhas depositadas pelos restantes confrades. Enquanto o seu amiguinho acima referido, ambicioso e opulento, pensou construir não uma casa, não um palácio, mas um reino. Assim, fazendo amizades com muitos dos restantes porquinhos que, ao som melodioso do seu espontâneo e bem timbrado grunhido, o começaram a seguir dispostos a dar os couratos por ele. Enquanto isto, o terceiro porquinho, o Prático, ia através de um bem engendrado esquema, muitas vezes até com a ajuda do Heitor, construindo não um reino, mas um verdadeiro império! Senhor de vastos recursos, rapidamente aprendeu a arte de multiplicar facilmente as bolotinhas que os restantes porquinhos, na sua boa-fé, lhe passaram a entregar com a promessa de lhes serem devolvidas, acompanhadas de outras, que generosamente lhe seriam prodigalizadas (muitos, nunca mais as viram).

L

á no reino da fantasia existiram, há muitos, muitos anos, três porquinhos que, de tão amigos que eram, se julgavam invencíveis. Felizes, viviam na imensa floresta, onde exerciam afanosamente a sua atividade junto dos outros porquinhos. Mais espertos que os restantes, trataram de construir cada um a sua casa. O Cícero, calculista, preguiçoso e menos aventureiro, gostava de se

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Tudo corria maravilhosamente! O porquinho Cícero ia gerindo as bolotinhas que lhe eram confiadas, aproveitando-se do lugar para, não raras vezes com o auxílio do porquinho Heitor, fazer e receber uns favores que faziam com que o seu monte de bolotinhas fosse aumentando consideravelmente. O Heitor, lá do alto do seu trono, ia-se pavoneando e pisando, sempre que podia, os tristes porquinhos que, uns convictamente, por pertencerem ao seu grupo de porquinhos vermelhos, outros por receio das represálias do rei ou dos seus apaniguados, lhe iam prestando toda a casta de vassalagens.

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Já quanto ao nosso comum amigo, o Prático; esse, hábil e astuto, com o auxílio algumas vezes do Heitor, outras, dos ventos que sopravam favoravelmente fazendo cair as bolotinhas no seu lamaçal, ia, cada dia que passava, aumentando o império, alargando-o inclusive para além-fronteiras. Era um senhor Omnipotente!

Como era bela a vida dos três porquinhos! Mas... Como não há bela sem senão, eis que apareceu, sabe-se lá de onde, o lobo Alexandre! Faminto, sedento de carniça, atirou-se aos porquinhos e... foi um Deus que nos acuda! Como foi possível? É verdade que se tratava de um lobo que, para além de faminto, também era corajoso. Mas... meter-se com um imperador tão poderoso, um rei com um tão grande número de vassalos e um bancário de alto gabarito? A verdade é que, mesmo custando a acreditar que as suas pretensões fossem coroadas de êxito, conseguiu tresmalhar a “vara” de porquinhos, onde o porquinho Cícero e os restantes irmãozinhos iam aguardando serem metidos no chiqueiro.  

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Estêvão de Sousa é co-autor de A Bíblia dos Pecadores, O Beijo do Vampiro, Saloios & Caipiras, Fúria de Viver, Crimes Sem Rosto, A Primavera dos Sorrisos, Devassos no Paraíso, Os Vigaristas, Luz de Natal e Sinfonia de Amor.




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O autor Estêvão de Sousa, que colabora regularmente com a SG MAG, tomou a iniciativa de imprimir a última edição (não esquecer que a revista só é publicada em formato electrónico)... e ei-lo nesta fotografia, que quis partilhar connosco, com a SG MAG nº 6 nas mãos! E deixou-nos estas palavras:

AGRADECIMENTO Ao abrir o computador, fui hoje surpreendido com o número 6 da SG Magazine. Sabia que estava prestes a sair porque o seu dinamizador/coordenador, Isidro Sousa, já no-lo havia comunicado. No entanto, a minha surpresa foi sendo tanto maior quanto fui tomando conhecimento do seu conteúdo. Absolutamente fantástico!!! Quem me conhece sabe que não sou de lisonja fácil, mas sei que não exagero ao classificar de fantástico o presente exemplar da já conceituada revista, toda ela fruto do trabalho e da tenacidade de um homem para quem “vale mais partir do que torcer”! Bem haja, Isidro, pelo que de bom nos tem dado. Estêvão de Sousa, 15 de Fevereiro de 2019



SG MAG #06

ARIEL FONSECA PULSZ Nasceu em Julho de 1995. Gaúcho e ambientalista graduado em Gestão Ambiental no ano de 2015. Visa frentes ambientalistas e filosóficas da educação. Em 2015 foi seleccionado no IV Abraço Literário com o texto «O Mundo do Senhor Menu», em 2016 participou na antologia «Coexistência» da editora Porto de Lenha e em 2017 lançou a primeira edição do livro «As Crônicas de Sathira”, que também foi publicado no continente Europeu em 2018, pela Chiado Editora. Página do Autor: Facebook: Ariel Pulsz

As Crônicas de Sathira

O TEMPO Se eu pudesse falar com o tempo. Questionaria a ele todas as vezes em que foi oportuno em momentos de tristeza. Lembraria a ele também de todas as outras vezes onde em momentos de necessidade não pude encontrá-lo. Dialogar com o tempo seria como conversar com a própria história do Mundo. Mas é óbvio que o Senhor Tempo sabe dessas coisas. Pois ele já estava aqui bem antes de eu nascer. Na verdade ele estava aqui bem antes de tudo nascer. O tempo foi a primeira criação. O Senhor estava aqui antes mesmo da explosão que soltou o espiral contorcido. Chegará um dia em que todos nós deixaremos de respirar nesse Universo interestrelar, menos aquele que sempre esteve presente. O tempo é uma efêmera imortalidade. Nunca irão existir testemunhos sobre seu nascimento, jamais terá a inocência de uma criança, ninguém poderá ouvir suas histórias da juventude, e nunca poderá morrer e enfim descobrir o segredo desta vida. Se eu pudesse falar com o tempo, iria lhe agradecer, por mostrar ao Mundo inteiro o enigmático do presente, e por concedermos o início, o fim e o meio. 

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Cristina Sequeira ĂŠ co-autora de Torrente de PaixĂľes, A Primavera dos Sorrisos e Sinfonia de Amor.


Marta Maria Niemeyer ĂŠ coautora de Luz de Natal e Sinfonia de Amor.


SG MAG #07

CONTO

EM BUSCA DA PERFEIÇÃO RAQUEL MACHADO É formada em Ciência da Computação e mora em Caxias do Sul (RS), Brasil, junto com o seu marido. Leitora compulsiva, ministra o blogue Leitura Kriativa desde 2010. Em 2015, publicou o seu primeiro livro «Vingança Mortal» de forma independente. Em 2017, participou no livro «A Escolha Perfeita». Em 2018, participou em diversas antologias: «De Volta a Salem», «Zodíaco», «Romances de Época», «O Universo Conspira Amor», «Sonhos e Fantasias» e «Relacionamentos Virtuais». Páginas da Autora: https://www.facebook.com/escritorara quelmachado https://raquelmachado2018.wixsite.co m/escritoraquel Blogue da Autora: http://leiturakriativa.blogspot.com Instagram: @autora.raquel.machado

“Alguém toca meu ombro, tenho medo de virar e me defrontar com tudo aquilo que tentei esconder até o momento. A curiosidade é maior que o medo e viro-me. Uma versão perfeita de mim me encara. As vozes voltam a me chamar. As reconheço. São as pessoas que passaram por minha vida, cobrando-me a perfeição: ser mais bela, ser mais magra, ser mais inteligente. Sempre mais. Choro desesperada. A minha versão perfeita me estende a mão, e eu entendo o que preciso fazer.” POR RAQUEL MACHADO

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SG MAG #07

A propaganda mostra uma linda mulher apresentando uma nova técnica de emagrecimento, talvez essa funcione comigo. A mulher aponta para mim, tentando me alertar de algo, tento compreender o que ela

diz. Olho para o sanduíche e vejo que minhocas saem de dentro e uma gosma amarela escorre por meus dedos. Corro para o banheiro vomitar. Olho meu reflexo que sorri para mim. Ele conhece meus defeitos e acha engraçada minha tentativa frustrada

de ser alguém melhor.

Chega! Caminho até à porta da academia. Está trancada. Chamo por alguém, em vão. A essa hora todos já foram para suas casas. Uma vertigem me atinge e meu estômago reclama. Tento lembrar qual foi minha última refeição. A comida é o combustível para o monstro que eu carrego dentro de mim. Volto ao salão e ligo a televisão. Retiro da bolsa o pequeno sanduíche natural e dou uma bela mordida, e me arrependo em seguida. A propaganda mostra uma linda mulher apresentando uma nova técnica de emagrecimento, talvez essa funcione comigo. A mulher aponta para mim, tentando me alertar de algo, tento compreender o que ela diz. Olho para o sanduíche e vejo que minhocas saem de dentro e uma gosma amarela escorre por meus dedos.

A

s batidas do meu coração soam como o barulho do tambor. A corrida é cansativa e parece não ter fim, o suor escorre pelo meu rosto. Olho para os lados em busca de distração. Poucas pessoas preenchem o ambiente, elas também estão em busca da perfeição. Próximo aparelho. Luto contra a vontade de largar tudo e ir para casa. Todos os dias é a mesma rotina que não traz resultados concretos. Olho-me no espelho e vejo aquele ser nojento e enorme. É necessário ficar mais alguns minutos. As últimas pessoas vão embora e me deixam sozinha. 184


SG MAG #07

Corro para o banheiro vomitar. Olho meu reflexo que sorri para mim. Ele conhece meus defeitos e acha engraçada minha tentativa frustrada de ser alguém melhor. As luzes se apagam. Escuto vozes que me chamam. Vou até o salão e vejo que meu reflexo me seguiu. Ele ganhou vida própria e me chama em direção ao espelho, quer me contar um segredo. Eu obedeço e caminho em sua direção, ao chegar próximo ele desaparece, reduzido ao nada. Alguém toca meu ombro, tenho medo de virar e me defrontar com tudo aquilo que tentei esconder até o momento. A curiosidade é maior que o medo e viro-me. Uma versão perfeita de mim me encara.

São as pessoas que passaram por minha vida, cobrando-me a perfeição: ser mais bela, ser mais magra, ser mais inteligente. Sempre mais. Choro desesperada. A minha versão perfeita me estende a mão, e eu entendo o que preciso fazer. Não é hora de parar. Volto ao local de treinamento e continuo meus exercícios. Incansável, até não escutar mais o barulho do tambor e nem minha respiração. A luz do sol preenche o ambiente, outrora escuro. A porta se abre e passo por um corpo no chão. Vejo uma garota pálida e franzina, morta. 

As vozes voltam a me chamar. As reconheço.

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Marisa Luciana Alves ĂŠ co-autora de Sinfonia de Amor.



SG MAG #06

TITO LÍVIO Crítico de cinema e de teatro no «Diário Popular», «República», «A Capital», vencedor de dois prémios no «Diário de Lisboa Juvenil». Colaborador de vários jornais como «Notícias da Amadora», «Jornal de Letras», «Jornal do Fundão», «Diário do Algarve», «O Setubalense» e revistas «Seara Nova» e «Manifesto». Membro do Conselho Editorial da revista «Korpus», editada por Isidro Sousa entre 1996/2008. Durante dez anos (1995/2005), docente de Dramaturgia, História do Teatro, História do Cinema e História da Televisão. Júri de diversos Prémios da Casa da Imprensa, da Crítica e dos Globos de Ouro (SIC). Autor dos livros: «A Escrita e o Sono», «Senhor, Partem Tão Tristes», «Memórias de Uma Executiva», «As Tuas Mãos Sobre o Meu Corpo», «Ruy de Carvalho – Um Actor no Palco da Vida» e «Teatro Moderno de Lisboa (1961-1965) – Um Marco na História do Teatro Português». Autor de «Sobreviventes: Dez Mulheres à Procura da Voz», peça concorrente ao prémio de originais de teatro da Sociedade Portuguesa de Autores. Abraçando as antologias Sui Generis, fez a sua estreia no conto em «O Beijo do Vampiro»; participou também em «Vendaval de Emoções», «Ninguém Leva a Mal», «Torrente de Paixões», «Saloios & Caipiras», «Os Vigaristas» e «Sinfonia de Amor». Páginas do Autor: Facebook: Tito Lívio facebook.com/titolivio.sousaaguiar

REJEITO TANTO AS DITADURAS DE DIREITA COMO DE ESQUERDA Sei o que é gente de extrema-direita porque fui vítima de um ataque de um gangue deles, algo de que não faço alarde porque não me quero armar em algo que, a muitos, dá muito jeito proclamar-se «vítimas do fascismo». Fui assistir, como crítico de cinema, à estreia do filme do meu amigo António Macedo, «As Horas de Maria», no Nimas, com um amigo meu. À entrada estavam muitos adolescentes do CDS a protestar contra a película como sacrílega de rosários na mão e cânticos religiosos. À saída lá estavam de novo e alguém disse, em voz alta: «Tito Lívio, vê lá se fazes uma boa crítica» e eles ouviram... 188


SG MAG #07

ESTIVE HOJE A VER o programa de «Você na TV» em que foi entrevistado Mário Machado, líder de um partido de extrema-direita que acha, e as suas afirmações mostraramno plenamente, que estamos a necessitar de um novo Salazar que pusesse o País num regime de autoridade, leia-se uma nova ditadura, e fiquei banzado por um momento que nunca esperei ver nas nossas televisões. Sei que é tremenda a guerra de audiências nas privadas mas não estou a ver uma entrevista deste género na SIC. E a TVI aproveitou as férias e ausência de Manuel Luís Goucha para lhe colocar esta entrevista como um facto consumado. Apesar de Manuel Luís Goucha, responsável por este programa, ter contraposto uma argumentação sólida a este convite que o apanhou desprevenido, o mal já estava feito. Mas a democracia não pode dar espaço àqueles que a negam e que têm um discurso que, sob o apelo de um nacionalismo e patriotismo “bem-intencionados”, acabam por ser um pouco “gato escondido com rabo de fora”. Nas cadeias por onde passou, Mário Machado, doze anos de prisão, que se apresentou como uma vítima da Justiça da Democracia, lá disse que a maior parte dos presos eram de “raça negra” (sic). E temos aqui um caso de racismo encapotado e ele dissera-se antes não racista... Se já não tinha nenhuma confiança na TVI com os seus vouyeuristas reality shows, agora perdi-a de todo. E recomendo vivamente a Manuel Luís Goucha a não manter, no seu programa, o responsável por esta odiosa entrevista e seu colaborador da rubrica da Justiça, que convidou Mário Machado e que mostrou partilhar bastante simpatia pelas ideias daquele... São pessoas como esta que defendem a ideia de uma Democracia tolerante para com os movimentos de extrema-direita que têm o firme propósito de, mais tarde ou mais cedo, acabar com ela. E foi assim que Hitler e Mussolini foram eleitos democraticamente... Mas melhor do que eu e do meu repúdio pelo que acabei por ver – e torna-se cada vez mais necessário impor limites e regras a estes atentados à nossa consciência e a todo o lixo com que certas estações privadas nos bombardeiam, a exploração do sensacionalismo e da desgraça, um jornalismo baixo – é ler o belíssimo artigo que Rui Tavares, historiador e fundador do Livre, escreveu no Público de ontem. E olhem que esta gente irá fazer uma manifestação a favor de um novo Salazar, papel que Mário Machado “humildemente” quer assumir. E querem ainda fundar um novo partido de extrema-direita, algo a que, até agora, Portugal tinha sido poupado. Não sei agora, Manuel Luís Goucha, se podes continuar a ter absoluta confiança na TVI e não te traem de novo pelas costas sempre que estejas ausente. Ou como o povo diz: «Patrão fora, dia santo na loja»...  TITO LÍVIO 05/01/2019

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unca uma publicação minha, no Facebook, levantou tanta polémica como o que escrevi [caixa em cima] sobre a entrevista

com Mário Machado, líder de um movimento de extrema-direita, condenado a 12 anos de prisão e que se assume como o novo Salazar que o País es-

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mo também as ditaduras islâmicas como as da Arábia Saudita (veja-se o recente assassinato do jornalista dissidente na Embaixada da Arábia Saudita na capital turca com requintes de malvadez) ou a verdadeira teocracia que se está a estabelecer na Turquia com Erdogan que, à pala de um Golpe de Estado, tem prendido e calado todos os críticos do regime. Tive um PIDE a seguir-me durante um ano para todo o lado: cinemas, teatros, colótá a precisar. quios, concertos e óperas, etc. Creio que ficou o Quero acrescentar que tenho amigos em vámais culto dessa odiosa corporação. rios quadrantes da vida política mas nunca da exMas sei o que é gente de extrema-direita portrema-direita ou de uma extrema-esquerda que que fui vítima de um ataque de um gangue deles, queira instalar um regime algo de que não faço alarditatorial como o venezude porque não me quero elano ou qualquer outro armar em algo que, a regime autoritário e de De repente tive a percepção de muitos, dá muito jeito pensamento ou partido proclamar-se «vítimas do que estávamos a ser seguidos, únicos. O meu repúdio à fascismo». Fui assistir, cocomparência de Mário e cercam-nos nove ou dez indimo crítico de cinema, à Machado no «Você na víduos de moto, encurralam-nos estreia do filme do meu TV» seria o mesmo se lá amigo António Macedo, e, chamando-nos de comunistas fosse alguém da extrema«As Horas de Maria», no esquerda proclamar, e e de bandalhos, maricas, encosNimas, com um amigo defender, que o nosso tam-nos à parede e começam meu. À entrada estavam País necessitava de um muitos adolescentes do a dar-nos murros e pontapés Lenin ou de um novo EsCDS a protestar contra a taline. Até tenho gente e só tive depois tempo de afastar película como sacrílega que me detesta porque a cabeça contra o arremesso de de rosários na mão e câncondeno tanto as ditaduticos religiosos. À saída lá um capacete de moto que me ras de direita como as de estavam de novo e alesquerda; são ambas más teria, se me tivesse acertado, guém disse, em voz alta: porque negam a demodeitado, ferido, no chão. Mas «Tito Lívio, vê lá se fazes cracia e os mais fundauma boa crítica» e eles o que mais me impressionou foi mentais direitos humaouviram. Enquanto quase nos. Como me defino coo olhar de ódio daquela gente... todos entraram nos seus mo humanista rejeito tancarros e subiram a 5 de to umas como outras. Co190


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Outubro, eu e o meu amigo descemos para buscar embrulhos que tínhamos deixado no então Apolo 70. De repente tive a percepção de que estávamos a ser seguidos, e cercam-nos nove ou dez indivíduos de moto, encurralam-nos e, chamando-nos de comunistas e de bandalhos, maricas, encostam-nos à parede e começam a dar-nos murros e pontapés e só tive depois tempo de afastar a cabeça contra o arremesso de um capacete de moto que me teria, se me tivesse acertado, deitado, ferido, no chão. Mas o que mais me impressionou foi o olhar de ódio daquela gente... Felizmente passou por ali uma patrulha da polícia que, pensando ser uma luta entre gangues, veio em nosso socorro. Eles fugiram em debanda-

da mas eu fiquei firmemente agarrado a duas das suas motos que os agentes levaram para a esquadra onde fomos apresentar queixa, facilitada pela nossa identificação dos donos delas como dois dos atacantes. Foram identificados, lavrados autos e, no final, o chefe da polícia disse-me: «O senhor, que escreve nos jornais, deve contar o que se passou convosco porque isto são filhos de gente graúda que se irão safar com certeza. Têm dinheiro para pagar a bons advogados». Entretanto, quando saímos dali, já estavam de novo à nossa espera para uma segunda sessão de pancadaria e assim exigi escolta até um táxi. O meu amigo Urbano Tavares Rodrigues soube deste cobarde ataque de dez contra dois e telefonou-me para me entrevistar e eu retorqui que não queria armar-me em 191


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«vítima do fascismo» até por respeito por aqueles que o foram nem dar direito de antena àqueles meninos-bem que não o mereciam. Durante algum tempo, quando ouvia uma moto na rua, arripiava-me todo mas nunca me deixei vencer pelo trauma. Resultado final: como dois dos miúdos eram menores fui a um Tribunal de Família onde eles saíram inocentados e contentes, prontos para acções semelhantes porque eu era, na opinião douta dos seus pais, o culpado por ter ofendido as suas crenças religiosas e a quem o juiz deixou sair apenas com uma reprimenda que lhes não deve ter servido de nada. O terceiro, já maior de 18 anos e o líder do ataque, o mais velho, iria a julgamento mas este demorou tanto que se safou com uma amnistia. Assim ficou a rir-se e não valeu a pena ter-me queixado deles. Isto em 1975/76. Di-

gam-me lá se isto não é uma Justiça corrupta e que favoreceu os mais ricos. Qualquer semelhança que exista entre aquilo que Mário Machado e os seus racistas e xenófobos seguidores praticam e defendem e estes rapazes, que quase nos iam matando, não é pura coincidência. E quanto a respeito pelos outros e valores estamos conversados. Porque no tempo de Salazar o então ministro da Justiça, professor Antunes Varela, se demitiu porque Salazar não quis levar a Tribunal os responsáveis pelo escândalo dos Ballets Roses que implicavam grandes figuras do Regime. E aqui termino porque não quero alimentar, nem dar espaço, a polémicas sobre este tema...  TITO LÍVIO 06/01/2019

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Rosa Domingos ĂŠ co-autora de Luz de Natal.


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CONTO

UMA DENTADURA NO COPO CARLA SIMONE Pseudónimo de Maria Ângela Álvares Cacioli. Nascida em 1954, em São Paulo (SP), Brasil, formou-se em Letras e cursou Pós-Graduação na Faculdade de Ciências e Letras da Fundação Santo André. Leccionou Língua Portuguesa. Participou em grupos e oficinas literárias. Tem trabalhos (poemas e contos) editados em 26 colectâneas literárias e uma monografia, em revista académica. Blogue da Autora: http://maospensativas.blogspot.com.br Perfil no Facebook: facebook.com/mariaangelacacioli

“Estava escuro quando ela acordou e ele não estava na cama. «Deve ter ido ao banheiro», pensou. Virou-se para o lado e voltou a dormir. Quando o despertador tocou, ela estendeu o braço para acordar o marido. Ele não estava na cama! Estremunhada, sentou-se para entender aquela ausência repetida. Começou pelo banheiro e seguiu procurando-o pela casa toda. Voltou ao quarto; olhou os lençóis amarfanhados do seu lado e lisos do lado oposto, indicando que Sándor não dormira ali. Na mesinha de cabeceira, notou o copo cheio de água com a dentadura dele boiando lá dentro. Aonde ele tinha ido sem os dentes?” POR CARLA SIMONE

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SG MAG #07

S

usana foi dormir antes de Sándor. Estava escuro quando ela acordou e ele não estava na cama. «Deve ter ido ao banheiro», pensou. Virou-se para o lado e voltou a dormir. Quando o despertador tocou, ela estendeu o braço para acordar o marido. Ele não estava na cama! Estremunhada, sentou-se para entender aquela ausência repetida. Começou pelo banheiro e seguiu procurandoo pela casa toda. Voltou ao quarto; olhou os lençóis amarfanhados do seu lado e lisos do lado oposto, indicando que Sándor não dormira ali. Na mesinha de cabeceira, notou o copo cheio de água com a dentadura dele boiando lá dentro. Aonde ele tinha ido sem os dentes?

Susana ligou para o trabalho de Sándor. Ele ainda trabalhava, mesmo perto de completar setenta anos. Vivia dentro de uma câmara escura, «o lugar em que me sinto vivo», ele dizia desde que o conhecera cinquenta anos atrás, quando era uma jovem estudante de moda e se encantara por aquele rapaz ruivo, que estava terminando o curso de fotografia e vivia com uma Rolleiflex a tiracolo. Ela tinha dezenove anos e ele vinte. Em poucos meses, estavam morando juntos. Sándor viera sozinho da Hungria, deixando para trás sua tradicional família, que vivia desde sempre na região da Transilvânia, próxima aos Montes Cárpatos. Não, Sándor não aparecera naquela manhã no estúdio. Bem, então onde estaria? Começou a ligar para amigos e insistia em expor aquele fato estranho da dentadura no copo. Ela sempre o encorajara a fazer implantes no lugar dos dentes que perdia gradativamente, enquanto envelhecia. Mas ele dizia ter medo. Que bobagem! Ele preferia aquela coisa nojenta para a qual ela olhava agora, intrigada. Então, ela pensou em ligar para a polícia.

Começou a ligar para amigos e insistia em expor aquele fato estranho da dentadura no copo. Ela sempre o encorajara a fazer implantes no lugar dos dentes que

Sándor, naquele exato momento, cruzava o oceano em um voo com escala, que o levaria a Budapeste. Seu tempo se esgotava. Precisava chegar a Borosjenõ antes de completar os cinquenta anos da maldição! Apesar de ter tido um tempo feliz ao lado de Susana, nunca aceitou, obviamente, se sujeitar aos caprichos de Erzsébet. Quando Sándor, de uma respeitável linhagem magiar de vampiros,

perdia gradativamente, enquanto envelhecia. Mas ele dizia ter medo. Que bobagem! Ele preferia aquela coisa nojenta para a qual ela olhava agora, intrigada. Então, ela pensou em ligar para a polícia. 196


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de sua fuga e a falta de explicações a Susana. Ah! Sim, a dentadura deixada para trás! Como dizer à esposa que, voltando a ser um vampiro imortal, não precisaria mais dela? Da dentadura. A esposa ainda espera que ele volte, apesar de desconfiar que ele arrumou uma amante mais jovem, de uns trinta ou quarenta anos. Ah, Susana! A perspectiva de juventude dele é bem diferente da sua! 

enfrentou Erzsébet, na Floresta HoiaKisbács, ele tinha apenas dezenove anos e tentava preservar Katalyn, sua noiva, das garras da perversa esposa de Drácula, a qual tinha o estranho costume de se banhar em sangue de virgens, porque acreditava ser este o segredo do rejuvenescimento. Tendo-o derrotado na contenda, Erzsébet o condenara a viver durante cinquenta anos como um simples mortal. Essa maldição cessaria, naquela mesma floresta, no dia de seu septuagésimo aniversário, que se aproximava. Daí a premência

Quando Sándor, de uma respeitável linhagem magiar de vampiros, enfrentou Erzsébet, na Floresta Hoia-Kisbács, ele tinha apenas dezenove anos e tentava preservar Katalyn, sua noiva, das garras da perversa esposa de Drácula, a qual tinha o estranho costume de se banhar em sangue de virgens, porque acreditava ser este o segredo do rejuvenescimento. Tendo-o derrotado na contenda, Erzsébet o condenara a viver durante cinquenta anos como um simples mortal. 197


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LUCINDA MARIA Lucinda Maria Cardoso de Brito nasceu em Oliveira do Hospital, em 1952. Fez um percurso académico muito bom e tirou o curso do Magistério Primário, começando a leccionar em 1972. Encontra-se aposentada, mas continua a ensinar, agora artes decorativas, na Universidade Sénior de Rotary de Oliveira do Hospital. Tem seis livros publicados – «Palavras Sentidas» (2013), «Alma» (2014), «Divagando...» (2015), «Terra do Meu Coração» (2016), «Sonho?... Logo, Existo!» (Sui Generis, 2017) e «Um Ano... 365 Poemas» (2018) – e participações em variadíssimas obras colectivas. Da Colecção Sui Generis: «A Bíblia dos Pecadores», «Vendaval de Emoções», «Graças a Deus!», «Torrente de Paixões», «Fúria de Viver», «A Primavera dos Sorrisos», «Tempo de Magia», «Sinfonia de Amor» e «Luz de Natal». Como autora, gosta de identificar-se apenas por Lucinda Maria; não escreve segundo o Acordo Ortográfico de 1990. Perfil no Facebook: facebook.com/lucindamaria.brito

SOU LIVRO Eu sou um livro. As minhas folhas já estão amarelecidas e gastas pelo tempo. Ah! Inexorável tempo! Passa a correr e nada o detém. É como um furacão que tudo leva à frente... nada conserva! Todos os dias, leio um pouco do livro que sou. Às vezes, as palavras empolgam-me e fazem-me viajar. Transportam-me a terras distantes, a lugares paradisíacos, onde reina a paz. Aí, sinto-me uma rainha, sinto-me amada, sinto-me bem! Não me canso de ler essas páginas, onde encontro o amor. E amo tudo e todos, amo perdidamente, como se não houvesse amanhã. Outras vezes, não consigo ler. As palavras parecem chispar ódio, inveja, falsidade... Vivo num cenário de guerra e a minha alma sente-se destruída... amalgamada... só! Vivo num gueto, onde reina o caos e a desordem. É como se fosse um labirinto. Perdida e esgotada, procuro em vão uma saída. Não encontro. Volto ao ponto de partida... ando em círculos viciosos... não compreendo... não sei. Desisto e o meu olhar turva-se de lágrimas, que me inundam o rosto entristecido. – Não chores! As lágrimas enrugam a pele! – diz-me alguém. Não me importo. O coração não tem rugas e eu sou coração. Também sou alma. Também sou livro. Há momentos em que não sei o que diz o livro que sou. As palavras rodopiam à minha frente. São espirais de luz que me ofuscam e me confundem. Fico quase num estado cataléptico, onde nada sinto. Não gosto de me sentir assim, anestesiada para a vida. É quando viver me custa ou vejo passar a vida sem a viver. Pois... não admira que as folhas do livro que sou estejam engelhadas e amarelecidas!  198




SG MAG #07

REPORTAGEM

LANÇAMENTO DO LIVRO “UM ANO... 365 POEMAS” A autora Lucinda Maria apresentou o seu sexto

vertiginosamente. Fiz mesmo 365 poemas! Várias

livro, uma obra poética de 422 páginas intitulada

formas poéticas, mas preferencialmente sonetos.

«Um Ano... 365 Poemas», no passado dia 15 de

No fundo, constituem um documento. A par de

Dezembro. A sessão de lançamento decorreu

experiências pessoais, sensações negativas ou

na Biblioteca Municipal de Oliveira do Hospital,

positivas que fui experimentando, reportam

onde foi também inaugurada, no mesmo dia,

vários acontecimentos que disseram/dizem

uma exposição de pintura da autora, intitulada

respeito a todos nós. Vivemos horas dramáticas

«Pincelando Poesia...», que esteve em exibição

que, em muitos deles, são documentadas.

na biblioteca até ao fim desse mês.

No fim, a esperança e mais um sonho:

Diz a autora na sinopse da obra, publicada

a publicação em livro, o maior de todos.»

com a chancela da Pastelaria Studios Editora:

E remata: «Agora, a concretização... ele aí está

«Em qualquer princípio de ano, fazemos planos,

para ser lido, degustado e espero que gostado!

auguramos concretizações, pensamos em

Mais uma vez, é um pedaço de mim, mas posso

mudanças... Assim aconteceu no princípio

dizer que, neste caso particular, é um pedaço

de 2017. Propus a mim própria um desafio:

de cada um de nós, oliveirenses. É bom sonhar,

escrever um poema por dia. Fui cumprindo

mas é melhor ainda conseguirmos concretizar

sempre! Mal sabia eu o quão nefasto seria este

os nossos sonhos!»

ano... as perdas irreparáveis que iríamos sofrer...

Ao longo das próximas páginas divulgamos

as mágoas que se inculcariam nas almas de

(algumas) imagens da sessão de lançamento

todos nós... numa palavra: sofrimento!

deste belíssimo «Um Ano... 365 Poemas».

Os dias sucediam-se... os meses foram passando

Parabéns, Lucinda Maria!  201


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TARDE DE CULTURA Nos corações de todos os presentes, Derramou-se cultura. Foi gratificante Vê-la e senti-la em três vertentes: Poesia, pintura, música repousante!

Amigos, sim, eu sei que são amigos Os que quiseram ver-me, abraçar-me E dizerem “presente” e seus abrigos Foram bálsamos para consolar-me!

Grata, tão grata me sinto e tão feliz Por realizar este sonho que eu quis, Que me inundou a alma de alegria!...

Foi um pedacinho de vida prazeroso, Tempo de sentir um sentir amoroso, Porque só com amor se vive a poesia!

Lucinda Maria 2018/12/16

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PALAVRAS DA AUTORA NAS REDES SOCIAIS

TARDE

ENCANTADA POR LUCINDA MARIA 19 DE DEZEMBRO DE 2018

O

que se sente quando se concretiza um sonho? Não sei dizer ao certo. Misturam-se sensações, às vezes nem se acredita. Parece estar ainda a viver-se o sonho e não a realidade. Acontece comigo... aconteceu comigo. Foi uma tarde encantada, em que me senti alguém especial. Não é por vaidade, mas sim pela consciência de ter atingido um objectivo. Quando escrevo, quando pinto, faço-o por prazer e com gosto. Mas... tenho consciência de que não posso, não devo guardar tudo para mim. Gosto de partilhar... gosto que vejam o que faço... gosto de ser gostada! Afinal, quem não gosta? “UM ANO... 365 POEMAS” é, mais do que um livro, um documento histórico e, às vezes, até didáctico. Foi escrito nesse fatídico ano de 2017, em que sofremos tantas perdas e tudo está bem patente em muitos dos poemas. O horror e a incredulidade que vivemos... estão ali. Aquelas palavras são o espelho não só dos meus, mas dos nossos sentimentos. Por isso, é dedicado a todos os oliveirenses. Depois, há amor transversalmente exposto em cada verso, em cada rima. O amor, sempre o amor! Nada é possível sem ele... nem se pode viver sem ele! Além disso, há a descrição de monumentos, de lugares e edifícios do nosso concelho. Aí entra a vertente pedagógico-didáctica. Afinal, sou professora e não consigo distanciar-me dessa circunstância.

E a família sempre presente! E os eventos! E os sonhos! E os problemas sociais! É um livro que, sem falsas modéstias, considero bom! Está bonito e não me envergonha, nem envergonha a minha terra. Pelo contrário, não sendo eu uma poetisa de grande nomeada, gostaria muito que fosse lido e degustado por muitas pessoas que teimam em dizer que não gostam de poesia! Foi difícil a batalha, e renhida... houve muitos contratempos (tantos!). Pareceu-me, a determinada altura, que não iria ver a obra editada. Quando, finalmente, o tive na mão, rejubilei. O parto foi difícil, mas a criança chegou perfeitinha e recomenda-se. Eu recomendo! Constituiu um grande investimento financeiro, roubou-me muita tranquilidade, não a escrevê-lo, mas durante o processo de edição! Agora, olho-o, aperto-o contra o peito, folheio-o, sinto-o... e vejo um LIVRO. Foi bom estar com quem pôde estar e sentir-me tão acarinhada! Foi bom e compensador! Não nego que estava muito emocionada, o que se notou na minha voz embargada e quase sumida, ao contrário do que é costume. E o resto? Direi noutra ocasião... Agora, só tenho de agradecer do fundo do coração o que me fizeram sentir. Muito obrigada.  209



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Lucinda Maria é co-autora de A Bíblia dos Pecadores, Vendaval de Emoções, Graças a Deus!, Torrente de Paixões, Fúria de Viver, A Primavera dos Sorrisos, Tempo de Magia, Luz de Natal e Sinfonia de Amor.




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SUZETE FRAGA A geada de Janeiro tatuou-lhe o espírito do guerreiro afonsino na alma. Porém, quis o destino que se instalasse na outra margem do Ave, à sombra de tílias perfumadas. Sem dotes vocais para cantar, nem habilidade para filigranar, é no escorrer da tinta da caneta que encontra uma satisfação insana. Transformou recentemente o sonho numa realidade há muito desejada: «Almas Feridas» (Sui Generis, 2016) é o seu primeiro livro. Da Colecção Sui Generis, participou nas seguintes antologias: «A Bíblia dos Pecadores», «O Beijo do Vampiro», «Graças a Deus!», «Vendaval de Emoções», «Ninguém Leva a Mal», «Torrente de Paixões», «Saloios & Caipiras», «Sexta-Feira 13», «Crimes Sem Rosto», «Fúria de Viver», «Devassos no Paraíso», «Luz de Natal» e «Os Vigaristas». Perfil no Facebook: www.facebook.com/suzete.fraga

UM ANO... 365 POEMAS Com uns largos meses de atraso, mas finalmente consegui! Não queria dar apenas a minha opinião sobre este livro. Tinha de o mostrar, exibir com orgulho [ver fotografia na página seguinte], pois não se trata de mais um livro. Trata-se do último livro de uma amiga talentosa, lutadora, que escreve maravilhosamente bem, que defende a Língua Portuguesa com unhas e dentes. «Um Ano... 365 Poemas» é muito mais do que um mero livro de poesia. É como se fosse um diário, o nosso diário. Sê-lo-ia, se tivéssemos a audácia, o engenho e a resiliência da Lucinda Maria. Incapazes de tal feito, é através da sua poesia que revemos a nossa alma numa perspectiva tão real que mexe com o âmago até dos mais distraídos. É um misto de sentimentos. Os diversos estados de alma: as alegrias, vitórias, esperanças, encontros e desencontros, a tristeza, o desânimo, o negro das paisagens e das desilusões, os fogos das paixões e os que devastam tudo à sua passagem... Tudo vivências tão nossas, tão íntimas. É esta matéria que compõe as verdadeiras obras. Algo que mexe connosco de verdade e, verdade seja dita, não se pode ficar indiferente depois de ler «Um Ano... 365 Poemas». Parabéns, Lucinda! És uma lufada de ar fresco a cada publicação... Que venha o próximo!!!  

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Ana LĂşcia Magela ĂŠ co-autora de Luz de Natal.



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PAULA HOMEM PAULA HOMEM Nascida em 1959, licenciada na área do turismo. Escreve por paixão e é através da escrita que «eu... me torno mais EU. Vogando pela poesia, desaguando na prosa, “brinco” com as letras.» Está presente em obras colectivas de ambos os géneros: «Memórias Esquecidas do Tempo», «A Lagoa de Óbidos, o Mar e Eu» e «Sonho em Poesia» (poesia). «Quando o Amor é Cego» e «Amar (S)Em Desespero» (prosa). Da Colecção Sui Generis, participou nas antologias «A Bíblia dos Pecadores», «Graças a Deus!», «Sexta-Feira 13» e «Sinfonia de Amor». Perfil no Facebook: www.facebook.com/paula.homem.3

FARRAPOS FLUTUANTES Somos instantes num tempo sem tempo, na eternidade de um imenso segundo, na profundidade esvaindo o espaço-tempo, ou na insensatez dos sonhos do mundo. Somos a bruma que acolchoa a alma, e o odor a musgo, a sal, a solo e a paz. Somos o amanhecer e ocaso que acalma a vida, correndo agreste, perfurante e fugaz. Somos instantes de neblinas vivazes, somos momentos passando fugazes.

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ISADORA CRISTIANA ISADORA CRISTIANA Graduada em Letras e suas Literaturas e pós-graduada em Ensino de Língua Portuguesa, pela Universidade de Pernambuco, Campus Garanhuns, PE, Brasil. Desenvolve pesquisas acerca do ensino de Língua Portuguesa e tem como foco géneros Textuais Marginalizados, como o Grafite. É escritora, poetisa e sonhadora, busca através de seus escritos se encantar, e encanta o mundo. Perfil no Facebook: facebook.com/isadora.cristiana.9

PAREDES QUE GRITAM Entre ruelas cresci, Ao silêncio dos guetos sobrevivi. Enquanto muitos outros distantes daqui, Preocupavam-se apenas com modismos a seguir, Surgia em mim uma voz há tempos silenciada, Com muitas cores e desbravada. Eu sou o vermelho que revivesceu, Em meio ao apagão das injustiças, das corrupções, No preto e branco das percepções, Entre os nãos que a sociedade sempre me deu. Eu sou a negra do cabelo Black Power... Sou da periferia, dos que lutam contra o poder, Eu sou filha da pobreza, do racismo e discriminação, Mas também sou mãe de um movimento de muita transformação... Eu pinto minha mensagem, Pois nos muros encontrei coragem. Na arte, na cultura, na cor, refugiei minha dor, Para assim subverter a ordem do ditador.

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Eu sou um pouco de muitas, Vozes... Guerreiras... Vera Baroni, Maria Felipa e Anástacia... Mas também sou um pouco de muitos, Martin Luther King, Malcom X e Afrika Bambaataa. Sou poeta, artista, grafiteira. Do rap, do hip-hop sou inteira. Com as muitas cores que minha mão pode dar, Aos muros lhes dou o direito de protestar. Minha arte é simplória, Não busco palcos, nem glória, Apenas peço, respeita minha história! Meu direito de inquietar sua memória. Deixa-me falar, me expressar, Minha identidade poder demarcar. No grafite encontro meu alento E na reexistência meu intento. Contestar... Reivindicar... Reinventar... Refugiados nas paredes a gritar!

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RITA QUEIROZ RITA QUEIROZ Natural de Salvador, BA, Brasil. Professora universitária, filóloga, poeta, escritora. Autora dos livros «O Canto da Borboleta», «Confraria Poética Feminina – vol.2», «Canibalismos», «Confraria Poética Feminina» (Penalux, 2018, 2017, 2016), «Colheitas» (Darda, 2018); organizadora dos livros «Bahia, Terra de Luz e Amor» (Darda, 2018 – dividindo a organização com Palmira Heine), «Nas Teias de Eros 2» e «Nas Teias de Eros» (Darda, 2018, 2017). Integra também diversas antologias e revistas literárias, tanto no suporte papel quanto no suporte virtual. Faz parte dos grupos “Confraria Poética Feminina”, “Mulherio das Letras” e “O Sarau”. Participou na antologia «Luz de Natal», da Colecção Sui Generis. Perfil no Facebook: www.facebook.com/rita.queiroz.334

DESFOLHAR-SE Naquela estação ficaram os sonhos Espalhados pelos trilhos As lágrimas preencheram meus desertos E o rio seguiu seu curso. Na cordilheira, sou andarilha errante Beijando o condor em seu voo solitário. Vou na contramão do vento E me perco no abismo. Meu grito silencioso ecoa no muro das lamentações Desatando nossos nós purificados Desenhados a giz e orvalhos. No empalidecer da noite, caminho pelas estrelas Desfolhando-me em cálidas rosas Leve e insustentável como a borboleta.

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Rita Queiroz ĂŠ co-autora de Luz de Natal.


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TIAGO SOUSA TIAGO SOUSA O destino fez de Tiago Sousa, um estudante universitário de 19 anos, amante do excêntrico e do macabro. Deixou que a inspiração lhe escrevesse já diversos contos de terror e tragédia, inspirados pela escrita de autores como Poe e Lovecraft. Ultimamente, tem dado asas à sua poesia, produzindo inúmeros poemas numa base diária, em métrica regular ou verso livre. A sua arte sempre estará marcada por uma estranha sensação de alienação e uma certa melancolia derivada do profundo pensamento. Participou na antologia «Sinfonia de Amor» da Colecção Sui Generis. Perfil no Facebook: https://www.facebook.com/tiago.sous a.10comoseomundonaofosseloucoosu ficiente

LÚCIFER (EM CONFISSÃO) Nasci escravo, e escravo caí, Por “bons” irmãos atraiçoado. Vivi escravo, e escravo fugi P’ra não morrer agrilhoado. Escravo imortal, mas sem correntes, Na posse do meu poço fundo. Rei de loucos e decadentes, O verdadeiro deus do mundo. Nasci escravo, mas livre grito, Incólume e de asas abertas, Porque, se embora o mal incito, Sempre cumpro as minhas promessas. E isso o meu Pai não fazia. Longe de mim dissimular. Enganar só enganaria O que se deseja enganar.

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Dou os frutos que lhes proíbe, Pois que é Ele senão tirano? Só por egoísmo os inibe, Esse controlador insano. Preso nasci e preso sou, Rei da minha própria prisão. E neste Inferno preso estou, Também esperando a salvação. Pois foi prometido um final Para todos os sofrimentos. E quem sofrerá mais afinal Que o anjo preso aos seus tormentos? Vítima imortal de tudo, Provocador de todo o mal. Bode expiatório para o mundo No meu domínio infernal. Tudo porque quis ser diferente Do meu Mestre e dos meus demais. Pois quis ser mais e ser quem sente Mais que o Éden e seus portais. Quis ter o universo na mão, Quis ser tudo e seguir o sonho. O Pai pegou nessa ambição E obrigou-a a um eterno sono. Louco de ira, quis liberdade, Do meu destino quis ser dono. Quis mais que a minha realidade E Ele condenou-me ao abandono. Hoje vivo neste antro arcano, Vítima desse Seu vil jogo. Por ser o anjo mais humano Condenam-me ao eterno fogo.

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MARCOS VIEIRA MARCOS VIEIRA Reside em Castanhal, Pará, Brasil. Poeta e pedagogo, tem cinco livros de poesias publicados, além de diversas obras publicadas na internet.

SEM AMOR NÃO EXISTE HOMEM Como nasce um fruto Sem antes brotar a flor? Como pode nascer a paz Sem antes brotar o amor? Como pode nascer árvore Sem mesmo não plantar semente? Como pode viver um ser humano Sem ter um amor ardente? Como pode viver um pássaro Sem ter asas para voar? Como pode agir um homem Sem mesmo saber amar? Como pode ser feita uma casa Sem mesmo tocar no chão? Como é possível ter amor Sem mesmo abrir o coração?

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Luís Cardoso é co-autor de Fúria de Viver e Sinfonia de Amor.


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ROSA DOMINGOS ROSA DOMINGOS Rosa Alexandrina Almeida Domingos nasceu na freguesia de Figueiros, concelho do Cadaval, distrito de Lisboa. Reside em Caldas da Rainha e trabalha como assistente operacional na central telefónica de uma instituição de saúde. Gosta muito de ler e escrever poemas simples, que falem das coisas do dia-a-dia. Publicou um conto na antologia «Luz de Natal». Perfil no Facebook: facebook.com/rosa.domingos.9028

TEBAIDA Um dia, quando o amigo partir, Prometo não chorar! Irei sempre sorrir, Sorrir, sorrir... Lembrar, Que tive um amigo Honesto, correto, Com caráter, honrado! E... Que de saudades tantas, Terá também lembranças, A sua humilde tebaida. Terá em suas paredes O som das suas crianças. O gargalhar sonante D’um mundo constante Que Grou via. E, em suas estantes, Livros de poesia. Fantasia que o mundo traz, Mas que o tempo leva. E... Quando o amigo fugir...

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Irá, decerto, sorrir, Feliz ao recordar Que a sua casinha Humilde acolheu Quem agora partiu. E no céu, a passear, A sua tebaida Irá ver! Não a chorar, Mas a cantar! Por ter acolhido e Conhecido Um grande Senhor! “Se houvesse no mundo Pessoas assim, Eu diria pra si: – Obrigada, Homem Bom!!!”

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JOYCE LIMA JOYCE LIMA Baiana, Doutora em Educação, Professora, é autora de livros académicos e de poesias e organizadora de antologias poéticas. Actua em projectos de consultoria de textos, na Editora Becalete. Participou numa antologia Sui Generis: «Luz de Natal». Perfil no Facebook: facebook.com/joyce.lima.1069020

FLORES NO OLHAR Há mulheres que têm flores no olhar, Oferecem flores ao piscar os olhos Derramam pétalas e odores Que perfumam o seu caminhar. Há mulheres que têm um jardim em suas vidas, Dos seus olhos jorram água das flores que plantaram no peito de pessoas queridas. Há mulheres que têm flores em suas mãos, O seu toque em tons e cores Tem a leve maciez das flores Para acariciarem os corações. Há mulheres que têm flores em seu ventre, Possuem sementes tão belas Viçosas e cheias de fertilidade O seu fruto é bendito e só traz felicidade. Há mulheres que brilham em qualquer lugar, Têm olhos de lince e cheiro de flor O bailado da roseira é o seu gingado Há mulheres que têm flores no olhar.

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JORGE PINCORUJA JORGE PINCORUJA Residente em Londres, escreve sempre em Português. Embora a sua escrita seja maioritariamente em verso ou prosa poética, de vez em quando escreve contos. Nascido na Beira Alta, tem por meta escrever de forma original e muito sua. Umas vezes melódica, outras vezes ríspida, mas sempre com verdade. Já com algumas obras editadas, pretende deixar um cunho próprio na escrita que se faz actualmente. Participou nas antologias «A Bíblia dos Pecadores», «Vendaval de Emoções», «Devassos no Paraíso» e «Sinfonia de Amor» da Colecção Sui Generis. Perfil no Facebook: www.facebook.com/jorge.pincoruja

DESCE DA CRUZ Ó CRISTO Desce dessa cruz ó Cristo, que há tanto estás pregado. Que sacrifício o teu... que tornou santo o gentio e amaldiçoou o judeu Para que houvesse glória no céu Mas eles são pau santo completamente bichado. Desce da tua cruz ó Cristo, que assim pregado nunca vens Trazer o que faltou da tua mensagem de luz. Dá essa cruz a outrem Que se governa em teu nome... ó inocente Jesus! Fazem de ti um farrapo, desses de tapar o cu És usado pelo político... esse com cara de ladrão És moeda do egoísta, todo armado em caridade Todos pregam e querem ser como tu Por seres o último bastião... de uma incrível verdade. Tu ó Cristo da redenção que te usam na maldade Em teu nome tudo se fez... em teu nome tudo vale e tudo é feito Já mataram, pilharam e incendiaram E até já proclamaram Que amar o outro é defeito. Desce dessa cruz ó Jesus!

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CRISTINA SEQUEIRA CRISTINA SEQUEIRA Cristina Maria Xavier Sequeira, nascida em 1972, é natural de Cinfães do Douro (onde reside), distrito de Viseu. Participou nas antologias «Torrente de Paixões», «A Primavera dos Sorrisos» e «Sinfonia de Amor» da Colecção Sui Generis. Tem como hobby a sua página «Cristina Sequeira – Pedaços de Mim» no Facebook, na qual publica a sua poesia. Perfil no Facebook: https://www.facebook.com/cristina.se queira.54390

AMAR DE AMOR Aqui, sentada, me regalo em ti Não sei se quero ir ou ficar Sei que há uma força Que leva a ti Neste desejo de amar! Nos teus braços me protejo De mão dada sem tropeçar Fronteira de olhares Pedintes e famintos Na entrega ao amar! São lacunas de mil desejos Refletidas nas águas Na rua do coração No poder do ser À elevação da vontade! Hoje vou ter coragem Nos vendavais do coração Sei que há estrelas Suplicando amor No êxtase da paixão Me rendo às evidências Uma lágrima embacia o olhar Se o amar vem do amor Ele meu corpo trespassou E no coração se alojou!

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Paulo OtĂĄvio Barreiros Gravina ĂŠ co-autor de Luz de Natal.


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LENILSON SILVA LENILSON SILVA Professor de Língua Portuguesa na escola Getúlio Guedes, município de Pedras de Fogo, PB, Brasil. Graduado em Letras, especialista em Linguagem e Ensino e mestrando em Ciências da Educação. As suas actividades de pesquisa envolvem a análise de letramento e género textual, produções de textos em língua materna. Académico número 15 da Federação Brasileira dos Acadêmicos das Ciências, Letras e Artes. Co-autor da antologia «Sinfonia de Amor» da Colecção Sui Generis. Perfil no Facebook: www.facebook.com/LenylsonSylva

MEDO DO ESCURO? Às vezes ficamos no escuro Uns logo gritam com medo Outros se escondem debaixo do travesseiro Outros dormem mais cedo Mas eu Sou o que acende uma lanterna Faço arte! Entrego-me às inúmeras faces Entrego-me ao teatro E os personagens? Sou vários! Melhor ainda quando vejo os amigos Cada um trazendo várias faces E assim fazendo do escuro A melhor arte.

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MARIZETH MARIA PEREIRA MARIZETH MARIA PEREIRA Baiana, 49 anos, residente na cidade de Osasco, Brasil. Autora dos livros «Segredos de uma Vida» e «Reflexos da Vida» e co-autora de várias antologias lusófonas da Colecção Sui Generis: «Vendaval de Emoções», «Graças a Deus!», «Ninguém Leva a Mal», «Torrente de Paixões», «Sexta-Feira 13», «Fúria de Viver», «A Primavera dos Sorrisos», «Tempo de Magia», «Os Vigaristas» e «Sinfonia de Amor». É co-autora de outras antologias contemporâneas brasileiras. Foi bibliografada no livro «Quem é Quem» (2017) da cidade de Osasco, por sua ocupação cultural, onde leva ao palco actuações contra o feminicídio e violência. Com o tema “Mulheres” sempre exaltado, foi eleita Conselheira em 2017 na Coordenadoria dos Direitos da Mulher. Ama ser actriz, poetisa, militante, mãe e mulher grata à luz divina que a conduz. Perfil no Facebook: www.facebook.com/marizeth.mariape reiraii

ELA Ela... Tirou as camadas... Do esconderijo “roupas”... Viu-se sã... Despiu-se da louca... Que desejou cortar sua pele... Para costurar na forma ideal... “Modelo universal”... Da mulher aceita... Perfeita... A refeita... Curvou-se para si... Sua maior alteza... Encontrou sua beleza... Olhando-se no espelho... Balançando o cabelo... Expulsando o medo... Expondo seus segredos... Erguendo os braços...

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Envolvendo-se num abraço... Amando suas camadas... Ofendendo as mal-amadas... Descobrindo o amor... Brilhando ao seu favor... Já não vê defeitos... Ama suas camadas e peitos... Que formam-na... Um ser perfeito... Sua pele... É sua melhor amiga, na vida... Com ela, vence as lutas... Do querer mudar... Esticar... Depilar... Cortar... Costurar... Maquiar... Tatuar... Vence até o “negar-se”... O direito de estar nua... De amar-se... Andando livre nas ruas... Valorizando a sua existência... Descobriu-se perfeita... E deu-se eleita... Dona de si... Defensora da sua história... Com ternura no olhar... A mulher vitoriosa... Retorna ao seu corpo... Seu melhor lugar... Seu amado lar!

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ISABEL MARTINS ISABEL MARTINS Leitora atenta que acompanha diversos e variados eventos literários. Escreve pontualmente poemas e divulga-os na sua página do Facebook. Participou em cinco antologias organizadas pela Sui Generis: «Graças a Deus!», «Torrente de Paixões», «Fúria de Viver», «A Primavera dos Sorrisos» e «Sinfonia de Amor». Reside em Palmela. Perfil no Facebook: facebook.com/isabel.martins.395669

PALAVRAS Escuta estas palavras de veludo Que solto em teu corpo desnudo Como se fossem os meus dedos Deslizando por ti e em segredos Dizer-te que te quero e te espero Enquanto me enrosco no desejo De te ter para sair do desespero Em que me deixa esse teu beijo Solto mas que de fogo recheaste E me queima quando teus lábios Tocam a sede que me deixaste De te beber, de te ter ou possuir Sendo tão grande essa vontade. Porque o amor quando prende, Prende mesmo e é de verdade...

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ROSE CHALFOUN NA PASSARELA DO SAMBA ROSE CHALFOUN Rosemary Chalfoun Bertolucci, brasileira, lavrense. Graduada em Letras, com Especialização em Língua Portuguesa pela PUC/MG, Especialista em Filosofia Clínica pelo Instituto Packter/RS, IMFIC, MG. Mestre em Educação, Membro da Academia Lavrense de Letras e da Confraria dos Poetas de BH, Professora Universitária de Língua Portuguesa e Literatura Brasileira (UNILAVRAS e UNIPAC), Tutora (EAD) e Revisora (Universidade Federal de Lavras). Publicações de artigos: Clarice Lispector: Uma Aprendizagem ou o Livro dos Prazeres à luz da Filosofia Clínica; A obra machadiana à luz da Filosofia Clínica; Personagens machadianas no divã do Filósofo Clínico. Livros de poesia: «Entretons», «Entretons II», «Ao Intento do Vento», antologia da Academia Lavrense de Letras. Co-autora da antologia «Luz de Natal», da Colecção Sui Generis. Perfil no Facebook: https://www.facebook.com/rosemary. chalfounbertolucci

A bateria imponente comanda Atrás dela, o espetáculo, a leveza Das cores, dos sonhos somados... Muita emoção, quanta beleza! Choras, menina, choras? Pela primeira vez na avenida! Suor, decepções, enganos, Cobertos pela alegria De uma noite colorida, uma só... Em sua vida! Sabes que sentes na alma Bem lá no fundo, aninhada, A dor da perda de um amor E choras, apenas reconfortada Pelos sons dos tamborins e dos pandeiros Perdidos, ecoando na passarela... A cada volta do samba, A cada visão do pierrô apaixonado Vives a colombina, Aquela, lá do passado! Importa agora, menina, Que cantes, que dances, pois A passarela se encurta... O sonho se esvai! Cortina, leve cortina de fumaça!

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NATÁLIA VALE NATÁLIA VALE Nasceu em Vila Robert Williams, Caála, Angola, em 1949. É licenciada em História, pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Tem vários trabalhos premiados, quer nacional, quer internacionalmente. Tem trabalhos publicados em diversas antologias, nacionais e internacionais. Em 2009 editou os seus primeiros (dois) livros pela editora Mosaico de Palavras: «Emoções Inacabadas» (poesia) e «A Minha Tempestade e Outros Contos» (contos). Participou em três antologias da Colecção Sui Generis: «Graças a Deus!», «Torrente de Paixões» e «A Primavera dos Sorrisos». Perfil no Facebook: www.facebook.com/natalia.vale.39

FAÇAM COM AS PALAVRAS Façam com as palavras aquilo que quiserem, desfaçam-nas. Aquelas que não desejavam dizer, todas essas palavras ocas e vãs que ferem e ofendem sentimentos profundos, desfazem ilusões, desmoronam sonhos, fazem chover tristeza e melancolia, que são negras, memórias sombrias, passadas. Rasguem-nas em mil pedacinhos no papel em que num dia agitado, compulsivamente, as escreveram.

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ANITA SANTANA ANITA SANTANA A poesia é uma forma de sentir as coisas ao seu redor, e é transbordar emoções que já não cabem mais em si. Por isso escreve. Nasceu e reside em Euclides da Cunha, no Estado da Bahia, Brasil. Fez o mestrado em Estudos Literários pela Universidade Estadual de Feira de Santana – UEFS (2017), graduada em Licenciatura em Letras Vernáculas pela Universidade do Estado da Bahia – UNEB (2008). Professora concursada, actuando em turmas do Ensino Médio no Colégio Estadual Educandário Oliveira Brito e como supervisora do Programa de Iniciação à Docência (PIBID). Coordenadora do Ensino Fundamental II na disciplina de Língua Portuguesa das escolas municipais de Euclides da Cunha. Co-autora da antologia «Luz de Natal», da Colecção Sui Generis. Perfil no Facebook: www.facebook.com/anita.santana.773

SINFONIA Não há porquês por mais que procure A beleza de uma voz insurgente Vem, chega de mansinho, invade E extasia em meio ao nada É sem explicação e motivo algum A lágrima que corre lenta e sem sabor Seca com a quentura do próprio calor Labaredas se apagam e se acendem E ardem ao ritmo da melodia Dissolvendo-se no vazio povoado da existência É preciso aceitar essa angústia que emana E deixar do teu ser tomar conta, pois As chamas só se dissolvem na dor que sangra.

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AMÉLIA M. HENRIQUES AO MEU MELHOR AMIGO AMÉLIA M. HENRIQUES Nasceu em 1963, em Espinho, onde reside. Os seus gostos e hobbies são, na maioria, de inclinação artística. É artista plástica; participa em várias exposições individuais e colectivas, em Portugal e no estrangeiro, destacando-se a última exposição colectiva, em Outubro de 2015, no Carrossel do Louvre, em Paris. É também artesã e faz parte do projecto-loja comunitária Artyspinho, destacando-se como ceramista e em joalharia com peças únicas; em 2013, foi seleccionada por oito designers de Nova Iorque. Editou um livro de poesia: «Manta de Retalhos» (Artelogy, 2015). Da Colecção Sui Generis, participou nas antologias «O Beijo do Vampiro», «Vendaval de Emoções», «Graças a Deus!», «Torrente de Paixões», «Fúria de Viver», «A Primavera dos Sorrisos», «Tempo de Magia», «Devassos no Paraíso», «Luz de Natal» e «Sinfonia de Amor». Formada também em línguas, fala quatro idiomas. Gosta de viajar, pratica natação e não vive sem a música; é fã de jazz. Perfil no Facebook: facebook.com/amelia.henriques178

És e foste a minha Luz! A minha estrelinha viajante! Aquela cuja Luz jamais se apagou! Companheira dos meus estados de espírito! Aquela que brilhou sempre ao meu lado, Aquela cuja fonte de carinho e amizade ímpar Jamais me abandonou ou desamparou! Aquela chama com um verdadeiro ombro amigo, Que estoicamente lutou a meu lado, dando-me forças! Que me disse palavras de ânimo, valorizando-me... Quando eu nem enxergava o potencial dentro de mim! Quando, eu toda, me partia em “cacos” e chorava... Quando me dava ganas de desistir de tudo, e da Vida! Quando as forças para lutar me faltavam e tudo doía! Foste meu Anjo da Guarda, o meu incentivador, Que me ia buscar, vezes sem fim, ao fundo do poço, Que passou por todas as minhas loucuras, Que assim me conheceu e tomou por pupila, Que sempre me apoiou e acreditou em mim, Não há palavras que descrevam o meu agradecimento! Apenas que, quem tem uma amizade assim verdadeira, É o mais rico dos mortais, como eu, por essa sorte! Bem hajas, querido amigo, por seres isso mesmo! Bem-haja Deus, por me ter dado tal dádiva! Tu! Grata para todo o sempre!

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Olímpia Gravouil (nesta foto com Suzete Fraga, à esquerda) é co-autora de Tempo de Magia, Luz de Natal e Sinfonia de Amor.


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ROSA MARQUES ROSA MARQUES Nasceu na Madeira, onde viveu até aos dezoito anos. Após casar, mudou-se para Porto Santo, onde reside e trabalha como administrativa até à data. Preocupa-a a situação precária em que o mundo se encontra, a condição humana (principalmente as crianças) e todos os que vivem em condições desumanas, nos países subdesenvolvidos e nos países em guerra. Gosta de ler e de tudo o que está ligado à literatura e à arte. Participou em diversas obras colectivas, em Portugal e no Brasil, e publicou dois livros de poesia com o selo Sui Generis: «Mar em Mim» (reeditado em 2018) e «Prisioneiros do Progresso». Página da Autora: Facebook: Rosa Marques

MINHA TERRA (MADEIRA) Minha terra é bela princesa na amurada a contemplar o mar! Tem vestidos bordados, a ouro matizados, de uma beleza sem par! Tem manhãs frescas de Maio, de mil flores enfeitadas! Tem fontes e ribeiras, tem levadas! Altas montanhas e o ar puro que se respira lá! Frondosas árvores, glicínias e magnólias, belas tílias em flor! Acácias tão formosas! Como elas outras não há... Pelas encostas, as urzes e giestas em verde e ouro. São um tesouro! Um deslumbre para o olhar! Minha terra tem orquídeas, estrelícias e também girassol. Tem mastro e vela... Navegando à luz do Sol!

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Asas sobrevoando o céu azul, pássaros cantando o ano inteiro! Aves migratórias rumando ao Sul! Tem poente despedindo-se no horizonte em ouro. Barcos de pesca regressando ao cais à hora do sol-pôr! Tem gaivotas! Um mar azul de inigualável beleza belos tons de azuis... Do claro cristalino ao anil Até ao azul-turquesa! Tem serra branquinha de neve! Tem lareira acesa... E verde... verde a perder de vista! Tem mirante bonito, com muito turista! Minha terra! Meu jardim em flor! És de uma beleza majestosa. Para ti, todo o meu amor!

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Luiz A. G. Rodas ĂŠ co-autor de Sinfonia de Amor.


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LIRA VARGAS Nascida em 1952, reside em Niterói, RJ, Brasil. Formada em Letras, publicou 16 livros. Tem diversas participações em Feiras de Livros, TVs e Rádios, em obras colectivas e em movimentos literários no Brasil e em Miami, EUA, e classificações em vários festivais de literatura. Participou nas antologias «Luz de Natal» e «Sinfonia de Amor» da Colecção Sui Generis. Perfil no Facebook: www.facebook.com/clira.lira.7

SUA VELHA! Senti o gosto acre do ódio em minha boca e estridente em meus ouvidos. Logo livrei-me desses elementos porque não há lugar em minha vida para ódio e ofensas de quem está muito aquém de entender o que é ser velha! Aspirei e senti o cheiro das flores que estavam na jarra em cima de minha mesa, é primavera! Passei as mãos em meu rosto. Sorri! Fui até o espelho e vi em volta de meus olhos a figura de um leque aberto, sorri de novo. Passei o dedo na primeira dobrinha e lembrei de minha juventude cheia de sonhos e planos, bela e alegre, de sorrisos e choros passageiros e dos amores que lá no passado deixei. Outras dobrinhas, realizações, festas e celebrações, que nunca esquecerei. Em outras dobrinhas quando nasceram meus filhos, e da alegria indescritível que senti e que dessa alegria vivi de tanto amor, e via em seus primeiros passos trôpegos a magia de um ballet que só eu admirava e aplaudia. E tentava decifrar suas palavras e conseguia entender o que diziam. E tudo recomeçou na chegada de meus netos! Outras dobras, preocupação, orientação, esperas, expectativas, ali estavam em códigos o que vivi. E as outras, os sorrisos e a alegria de amigos que fiz, aonde morava, aonde estudava, aonde ia, em viagens longas e curtas, dessa alegria surgia uma dobrinha e nem sabia que um dia seria esse leque chamado de velha. Ah! Tem marcas de choros nas perdas 252


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de quem amei, de palavras que não falei por falta de tempo ou barreiras. Tem marcas de decepções de quem não entendeu o que é amor e união, e quem sou eu, porque tem no coração apenas o pulsar da vida, e na mente apenas ódio! Pena que marcaram também, mas é bom para ficar prevenida e não permitir outra dobra. Quero que surjam mais dobras nos encontros felizes com a família que meus filhos me deram, e dos reencontros com minhas amigas nos shoppings e em minha casa. Tem marcas da alegria de ver o amanhecer, das cores do céu nas estações e o manto negro salpicado de estrelas e da lua prateando a terra, quem sabe quando suspiro nessas paisagens surgem dobrinhas. Marcas da alegria de ouvir o canto dos pássaros e das ondas que acariciam a praia numa sinfonia que emociona minha alma, magia da vida. Sorri e senti vontade de colorir cada do-

brinha desse leque com as cores das estações, do céu e do mar, mas ainda faltam mais dobrinhas nesse leque e faltariam cores para pintar. Velha, ainda amanhecendo e sorrindo dos tempos que me fizeram velha, e mostrando ao tempo que ainda tem lugar para mais dobrinhas, assim viverei ainda mais, embora sem nunca entender o vazio de pessoas que acham que velhice é ofensa, enquanto acho que velhice é marcar no rosto a minha história.   

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ENTREVISTA

ANITA SANTANA Nascida e residente em Euclides da Cunha, no Estado da Bahia, Brasil, fez mestrado em Estudos Literários pela Universidade Estadual de Feira de Santana (2017) e é graduada em Licenciatura em Letras Vernáculas pela Universidade do Estado da Bahia (2008). Professora concursada, actua em turmas do Ensino Médio no Colégio Estadual Educandário Oliveira Brito, na cidade onde reside. Publicou poemas nas antologias «Conexões Atlânticas III», «Protagonismo Feminino», «Luz de Natal», «Tecendo Aldravias», «Mulheril das Letras Portugal», «Aldravia Mulher», «Brasis Poéticos» e no site Recanto das Letras. Recebeu o certificado de membro efectivo do Grupo de Autores Virtuais Independentes e é autora do livro «Versos & Cliques: Instantes». POR ISIDRO SOUSA

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SG MAG – Quem é a mulher que vive por detrás da autora Anita Santana? Como se apresenta enquanto ser humano? ANITA SANTANA – Por trás da autora está a professora há 28 anos, mãe. Uma mulher que procura viver com simplicidade e isso significa encarar a vida sem muitas complicações, com respeito a todos, pois essa é a premissa para que todos possam viver de forma harmoniosa.

A escrita é uma paixão de sempre ou surgiu nalgum momento específico da sua vida? Como despontou a veia literária? De alguma forma a escrita sempre esteve presente, mas foi na adolescência que comecei a escrever meus primeiros versos. Eram versos que falavam de amores platônicos ou não correspondidos, como sempre acontece com os adolescentes.

O que escreve habitualmente? Em que se inspira? Hoje em dia procuro escrever sobre as coisas que vejo, o que sinto diante das coisas, das pessoas e dos acontecimentos. Procuro refletir sobre a existência humana, numa tentativa de entender ou de formular um questionamento sobre o que me inquieta ou me surpreende.

O que a fascina no universo da poesia? É a forma como as palavras se multiplicam e se combinam de tal modo que sempre, a cada escrita, se apresenta de uma maneira. Várias pessoas podem falar de um mesmo assunto, mas cada uma vai dizer de uma forma diferente. Às vezes você pensa em uma palavra e dali surge uma ideia e aos poucos essa ideia toma corpo e eis que surge o poema. Trabalhar com a linguagem é fascinante.

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O que é a poesia? E para que serve?

Existem muitas influências na sua poesia ou nem por isso? Quais são as suas referências? Que autores mais admira? Algum em especial que a inspire particularmente?

É um estado da alma de sentir e ver as coisas com tal intensidade que tudo pode ser poesia. Muitos teóricos da literatura e pessoas comuns que não são da área já trouxeram esse questionamento. Afinal para que serve a poesia? Muitos não vêem utilidade. Mas ela não é para ser útil. É para ser lida, sentida e então a partir desse contato cada um vai externar, de diversas formas, o que pode a poesia.

O primeiro poeta com o qual me identifiquei foi Manoel Bandeira. Depois vieram tantos outros poetas maravilhosos com o dom da palavra. Manoel de Barros, Mário Quintana, Vinicius de Moraes, Cecília Meireles, Cora Carolina, enfim, são muitos. Sem poder

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deixar de chamar a atenção para os grandes poetas da nossa atualidade.

Nele, além de temas existenciais, e outros lugares como Fátima, em Portugal, e França, procuro passar

Desde que escreveu o primeiro texto, que caminho desbravou até chegar à edição de um livro? E quais foram os momentos mais marcantes nesse percurso?

as belezas do sertão onde vivo por meio do cantar dos pássaros, do entardecer, da casa onde morei,

Como disse anteriormente, comecei a escrever na adolescência. Depois parei, resolvi que não ia mais escrever, fui cuidar do meu trabalho, de ser mãe. Por influência do Facebook, no que diz respeito às postagens que lia de vários escritores... então comecei a me interessar e ressuscitou a poeta que estava adormecida. Ano passado recebi um convite de uma conterrânea minha, Ilza Carla, que tinha acabado de lançar um livro, para participar da antologia «Conexões Atlânticas». Ela me enviou o link, acessei, fiz o poema e depois disso não parei mais. Tive a grata satisfação de participar também, pela segunda vez, da antologia «Luz de Natal» sob sua organização. Com essas participações vi que era o momento de lançar o livro, não tinha mais por que ficar esperando, o momento tinha chegado.

da rua em que brinquei.

Em que consiste o livro? Como é estruturado? Que temas aborda e quais os aspectos mais relevantes que destaca na obra? A organização do livro surgiu a partir de um trabalho realizado no colégio no qual ensino quando participei de um programa da Universidade do Estado da Bahia (UNEB) chamado PIBID. A coordenadora do programa, Profª Drª Andrea Mascarenhas, apresentou um projeto

A publicação do seu primeiro livro foi a concretização de um sonho? O que representou para si? Sim, foi a realização de um sonho; embora tenha parado por um tempo de escrever, tinha o desejo de lançar um livro. Quando fiz o mestrado em Estudos Literários, pensei em lançar os artigos que deram origem à minha dissertação. Mas a poesia foi mais forte, atravessou o caminho e então lancei «Versos & Cliques: Instantes», publicado em dezembro de 2018.

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que consistia em tirar fotos da cidade ou do bairro em que os alunos moravam. Realizei juntamente com os bolsistas do PIBID esse trabalho. Foi então que... a partir das imagens pedi que eles produzissem poemas. E assim nasce a ideia de fazer meus poemas a partir de imagens, por isso «Versos & Cliques». Nele, além de temas existenciais, e outros lugares como Fátima, em Portugal, e França, procuro passar as belezas do sertão onde vivo por meio do cantar dos pássaros, do entardecer, da casa onde morei, da rua em que brinquei.

Em que medida a sua participação em obras colectivas, promovidas por diversas editoras em Portugal e no Brasil, contribuiu para chegar à edição de um livro? Que importância confere a estes projectos? Foi através da participação nas coletâneas que me senti estimulada a escrever, serviram para que eu percebesse que podia ir mais além.

Qual foi a obra colectiva que mais a fascinou? Em que antologia, ou colectânea, gostou mais de participar? Porquê?

Como avalia as críticas e reacções ao livro? Sente-se realizada?

Todas foram prazerosas, pois cada uma abordou um tema. Em «Conexões Atlânticas» participo com dois poemas inéditos, em «Luz de Natal» trago um pouco da infância, em «Mulherio das Letras» falo de mulheres, em «Brasis Poéticos» trago a cultura de minha região; dessa forma pude abordar diversos aspectos importantes para nossa contemporaneidade.

O livro foi bem recebido pelos amigos, porém ainda tenho muito que caminhar. Há ainda um trabalho de divulgação e apresentação do livro a ser feito a fim de que atinja cada vez mais leitores.

As antologias Sui Generis, com as quais travou contacto recentemente, privilegiam a lusofonia. Em que medida considera importante este intercâmbio cultural? Considero muito importante, pois permite o conhecimento e a troca de novas experiências em relação à cultura, modos de vida, linguagem e discussão sobre a produção escrita.

Até que ponto as redes sociais são imprescindíveis para a divulgação da sua obra? Que impacte têm no seu percurso? Percebo as redes sociais como um agente importantíssimo pela velocidade com que

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consegue alcançar as pessoas. De repente você passa a ser conhecida e a falar com gente de todo lugar. Isso para quem está iniciando é ótimo porque oportuniza o conhecimento de seu trabalho e novos caminhos vão surgindo.

Além das redes sociais, o que acredita ser essencial para a boa divulgação de um autor e, por conseguinte, da sua obra? A oportunidade de ser convidada a participar de entrevistas pessoalmente ou por meio de revista também é uma boa oportunidade. O tempo todo temos que estar nos renovando, recriando pela conquista de um espaço que é de todos.

Como caracteriza o meio cultural da sua região?

Percebo as redes sociais como Minha região é dona de uma riqueza cultural admirável e diversificada. Na música, dança, teatro, nos poemas em cordéis, no artesanato... toda essa cultura move a região, necessitando por isso de mais valorização.

um agente importantíssimo pela velocidade com que consegue alcançar as pessoas. De repente você passa a ser conhecida e a

E o meio literário do Brasil em geral?

falar com gente de todo lugar. Isso para quem está iniciando

O Brasil é riquíssimo. Temos excelentes autores que marcaram profundamente a literatura brasileira. Ainda há muitos autores que não foram e não são divulgados. Há muita gente escrevendo e daí a necessidade de abrir espaço para esses novos autores.

é ótimo porque oportuniza o conhecimento de seu trabalho e novos caminhos vão surgindo. 261


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Que recordações guarda da sua recente visita a Portugal?

obra no horizonte? Se sim... Em que consistirá o próximo livro de Anita Santana?

Só boas recordações. Foram momentos ímpares que vieram conciliar com o recente lançamento de meu livro no Brasil e a oportunidade de apresentá-lo em Portugal. Participar do evento em comemoração ao Dia Internacional da Mulher serviu para perceber que os dois países estão engajados no sentido de respeito, conhecimento e luta pela igualdade e valorização da mulher.

Sim, tenho. Pretendo publicar um livro de contos em parceria com uma amiga. E esses contos vão retratar, assim como os poemas, o cotidiano, vivências que acontecem ao atravessar uma rua, dentro de um ônibus viajando ou tendo que se deslocar para o trabalho. São acontecimentos que muitas vezes passam despercebidos pelas próprias pessoas as quais vivenciam tais acontecimentos, mas que têm uma importância e um impacto bastante signifitivo.

Por onde viajou? Estive em Sintra visitando os castelos e em Évora, cidades lindas e aconchegantes.

Quais são os seus projectos para os próximos tempos? Já tem alguma nova

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Quem quiser adquirir o livro «Versos & Cliques: Instantes», onde poderá encontrá-lo? Ou como deverá proceder?

que vivemos. Cabe a nós autores apresentarmos o que de melhor pudermos para enriquecer e amenizar o mundo hostil que muitas vezes nos é apresentado.

Quem desejar adquirir pode entrar em contato através do email annysantanna@yahoo.com.br

Deseja acrescentar algo que não tenha sido abordado ao longo da entrevista?

Que mensagem gostaria de transmitir aos leitores em geral e autores em particular?

Quero agradecer pelo convite em fazer parte da Sui Generis por meio dessa entrevista que se configura para mim como uma oportunidade de demonstrar um pouco sobre mim como pessoa e como autora do livro «Versos & Cliques: Instantes». 

Gostaria de dizer que a literatura é um dos caminhos para pensarnos sobre nossa condição no mundo em

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Anita Santana ĂŠ co-autora de Luz de Natal.


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POEMAS DE ANITA SANTANA Do livro Versos & Cliques: Instantes

CHUVA Barulho de água Escorrendo no corpo Caindo macio Feito chuva na grama! Barulho de água Invadindo pensamentos Purificando o espírito Deslizando na cisterna. Barulho de água Brincando de alegria Emitindo o canto Da existência!!!!!

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CIDADE DE FÉ Cada lugar guarda seus mistérios. Nas cores, no badalar do sino Na gente que carrega Os dias idos, vividos, repartidos. Cada passo compondo uma história Cada oração em procissão Guarda o tempo na memória. São alegrias, esperanças e crenças Compartilhadas de mãos dadas No ritual que tem como guia A luz da vela A luz Divina!

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NOSSO SERTÃO A tarde vai se findando Entre cores e dissabores Ao som dos rumores A esperança vai levando. Foram muitas as labutas Até chegar o entardecer De onde desponta o escurecer Que adormece as lutas Não foi fácil o dia Nem foi de tristeza. Diante de tanta beleza Ficamos imersos na calmaria!

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VISITA Conversa de pássaro no telhado Vem fazer parte do silêncio É companhia orquestrada Pra quem está só. É refúgio para os pensamentos De voos distantes e pouso incerto É carona para andanças aventureiras A passos intrépidos, cambaleantes. Cantarolam... e cantarolam... Até que é chegada a hora E segue em revoada na busca por abrigo E eu permaneço aqui... Sem canto e sem asas...!

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LIVROS

SINFONIA DE AMOR

SINFONIA DE AMOR Contos, Crónicas, Cartas e Poesias Antologia Lusófona Autores: 75 Autores Organização: Isidro Sousa Colecção Sui Generis Editora Euedito Nº de Páginas: 300 páginas 1ª Edição: Dezembro 2018 ISBN: 978-989-8896-71-1 Depósito Legal: 450089/18 Encomendas: letras.suigeneris@gmail.com www.euedito.com/suigeneris letras-suigeneris.blogspot.com

O amor é uma emoção ou um sentimento de carinho e demonstração de afecto que se desenvolve entre seres que possuem a capacidade de o demonstrar. Provoca entusiasmo por algo e interesse em fazer o bem, motiva a necessidade de protecção e manifesta-se de diferentes formas: amor materno ou paterno, amor fraterno, amor físico, amor platónico, amor à vida, amor pela Natureza, amor pelos animais, amor altruísta, amor incondicional, amor-próprio, etc. O termo deriva do latim “amore”, palavra que tinha o mesmo significado que actualmente tem: sentimento de afeição, paixão e grande desejo. Mas definir o que é o amor não é tarefa fácil, pois pode representar algo distinto para cada pessoa. Há, de facto, diversas definições e tipos de amor, que diferem de caso para caso, dependendo das pessoas e circunstâncias. O amor físico, por exemplo, representa o amor entre casais, sentimento que envolve uma forte relação afectiva e, em geral, de natureza sexual. O amor a Deus demonstra uma ligação de carácter religioso, um sentimento de devoção e adoração. Já o amor proibido acontece quando o relacionamento entre duas pessoas não é permitido. Muitas pessoas expressam os seus sentimentos mais profundos através de mensagens de amor, declarações de amor ou poemas de amor, que compartilham com pessoas especiais. E não podemos olvidar que o amor tem também um papel social, alimentando outras acções e sentimentos como a solidariedade, sendo igualmente um dos temas mais importantes de várias formas de arte. Esta obra colectiva procurou abranger todos os tipos de amor, em diferentes géneros literários. E embora o amor físico predomine na maioria dos textos, resultou numa belíssima antologia que inclui contos, cartas, crónicas e poemas sobre o amor, diversas formas de amor, uma autêntica Sinfonia de Amor construída por 66 autores lusófonos contemporâneos, cujos textos se mesclam com (outros) textos de 9 autores clássicos, tais como Florbela Espanca, Machado de Assis, Fernando Pessoa, Mário Quintana, Olavo Bilac, entre outros. 275


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LIVROS

AS CRÔNICAS DE SATHIRA Embarque junto com Marvim em uma aventura única em seu Universo de Skywalker. Uma batalha épica pela salvação de um povo, onde as árvores continuam sendo árvores, os animais continuam sendo animais, onde os gnomos, elfos, bruxos, anões, wemics, dragões, sereias e até mesmo as pedras vivem por apenas uma razão, viver. E para isso terão que ser cúmplices de uma batalha épica entre dois irmãos, Marvim e Olímpio. Os peregrinos esperarão trezentos anos depois da criação de Sathira para viverem junto àquela que será a maior jornada de suas vidas. Enquanto o jovem rei parte em sua busca para o encontro de uma arma sagrada deixada por seu pai e criador de todas as coisas, os acontecimentos não param de surpreender Sathira. Entende nesta obra quantos Universos existem no Mundo, no seu país ou na sua rua. O poder da Natureza e de seu reino de fantasia. Louco é aquele que não vive sua própria lucidez. Venha viajar com Marvim pelo Universo de Sathira. O AUTOR: AS CRÔNICAS DE SATHIRA Autor: Ariel Fonseca Pulsz Editora: Chiado Books Nº de Páginas: 128 páginas 1ª Edição: 2017 ISBN: 9789895227440 Encomendas: https://www.livrariacultura.com.br Página do Autor: Facebook: Ariel Pulsz

Ariel Fonseca Pulsz nasceu em Julho de 1995. Gaúcho e ambientalista graduado em Gestão Ambiental no ano de 2015. Visa frentes ambientalistas e filosóficas da educação. Em 2015 foi seleccionado no IV Abraço Literário com o texto “O Mundo do Senhor Menu” e em 2016 participou no livro «Coexistência», antologia de poesias, pela editora Porto de Lenha. Em 2017 lançou a primeira edição do livro «As Crônicas de Sathira», que também foi publicado no continente Europeu no ano 2018, pela Chiado Books. Segundo o autor, o livro está disponível nos seguintes pontos de venda: Livraria Cultura, Livraria Saraiva, Chiado Books, Kobo Ebook, Imosver, Agapea, Apagina Livraria, Janaina, Harmonia, Miranda. 276


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LIVROS

DOSSIER POÉTICO

DOSSIER POÉTICO Autor: Luís Fernandes Editora: Edições Hórus Nº de Páginas: 232 páginas 1ª Edição: Fevereiro 2019 ISBN: 978-989-8837-86-8 Depósito Legal: 450953/19 Encomendas: www.edicoeshorus.com edicoes.horus@gmail.com Telemóvel: 968487291

Esta é uma obra inacabada e imperfeita, tal como o quotidiano de todos, visto que temos sempre algo por cumprir ou acabar; por outro lado, ninguém encontrou até aos dias de hoje uma fórmula que desenvolvesse a perfeição. «Dossier Poético» é um livro que conjuga vários outros livros e que se transforma num autêntico dossiê. Neste conceito inovador de dossiê/livro encontramos uma poesia com um vocabulário simples de modo a que todos entendam o que é transmitido porque o poema que é feito a pensar numa certa elite abastada repleta de palavrinhas caras perde o seu real valor. Entre estes versos reina a liberdade que desprende as amarras e barreiras existentes na nossa sociedade, havendo assim uma despreocupação com as tradicionais regras existentes no mundo lírico. As linhas temáticas são ricas e variadas, nomeadamente o amor, natureza, amizade, arte, critica social, económica e política, património, cultura e tradições portuguesas e mundiais, novas tecnologias, sistema capitalista, mercado consumista, entre muitas outras... Ao abrirmos este “dossiê” encontramos «Os dilemas de uma atribulada adolescência» recheados de sentimento, amor e pureza, sendo esta a parte mais verde da produção poética do autor, eram os primeiros passos na poesia. Ao avançarmos na leitura vamos ao encontro de «Os versos da vida» e «Catorze lírios líricos», onde podemos desfrutar de uma escrita madura, consciente e sensível. Finalizamos a leitura com a «Globalização poética» que para além de madura está doce, brilhante, apelativa, moderna, inovadora e genial. A vida é feita de uma constante evolução e esta obra é precisamente feita de evolução, progresso e aprendizagem. Estes versos são para todos, não importam raça, cor, crenças políticas ou religiosas, opções sexuais... Boas leituras! O AUTOR – Luís Fernandes nasceu em Abrantes, em 1999, e reside numa aldeia chamada Crucifixo. Em 2018, participou em cinco obras colectivas e tornou-se académico na Academia de Letras Camac Leon. Dossier Poético, publicado em Fevereiro de 2019, é o seu primeiro livro. 277



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VERSOS & CLIQUES: INSTANTES Nas páginas deste livro de poesia, «Versos & Cliques: Instantes», a autora Anita Santana cria imagens onde podem ser encontradas outras belezas arquitectadas em meio aos versos, como memórias, natureza, filosofia, música, muitas cores, temáticas sociais, entre outros elementos. São poemas para deleitar-se e reflectir.

A AUTORA:

VERSOS & CLIQUES: INSTANTES Autora: Anita Santana Editora Zarte Nº de Páginas: 80 páginas 1ª Edição: Dezembro 2018 ISBN: 978-85-93230-32-5 Encomendas: annysantanna@yahoo.com.br Página da Autora: https://www.facebook.com/anita.s antana.773

Anita Santana nasceu e reside na cidade de Euclides da Cunha, no Estado da Bahia, Brasil. Fez mestrado em Estudos Literários pela Universidade Estadual de Feira de Santana – UEFS (2017), é graduada em Licenciatura em Letras Vernáculas pela Universidade do Estado da Bahia – UNEB (2008) e participa no Grupo de Estudos Literários Contemporâneos (GELC) da UEFS. Tem poemas publicados nas antologias «Conexões Atlânticas III», «Protagonismo Feminino», «Luz de Natal», «Tecendo Aldravias», «Mulheril das Letras Portugal», «Aldravia Mulher», «Brasis Poéticos» e no site Recanto das letras, além de resumos em anais de congresso de Literatura. Participou no Sarau Virtual Paixão & Poesia e no Sarau Virtual Versos Versáteis e recebeu o certificado de membro efectivo do Grupo de Autores Virtuais Independentes. Professora concursada, actuando em turmas do Ensino Médio no Colégio Estadual Educandário Oliveira Brito, na cidade de Euclides da Cunha, publicou o seu primeiro livro de poesia, «Versos & Cliques: Instantes», pela Editora Zarte, em Dezembro de 2018. 279


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CRIMES SEM ROSTO

CRIMES SEM ROSTO Antologia de Contos Policiais Autores: 18 Autores Organização: Isidro Sousa Colecção Sui Generis Editora Euedito Nº de Páginas: 200 páginas 1ª Edição: Maio 2017 ISBN: 978-989-8856-58-6 Depósito Legal: 429168/17 Encomendas: letras.suigeneris@gmail.com www.euedito.com/suigeneris letras-suigeneris.blogspot.com

A literatura policial é caracterizada, regra geral, pela presença, na sua estrutura narrativa, de (pelo menos) um crime, da sua investigação e da revelação do malfeitor. Neste género literário, o foco remete para o processo de elucidação do mistério, empreitada a cargo de um detective, seja ele profissional ou amador. A essência da narrativa policial é a busca da identidade desconhecida, pela totalidade dos indícios, achando-se sempre (ou quase sempre) o criminoso entre quem menos se espera, ou suspeita, demonstrando que não pode haver crime perfeito, logo, não há lugar para a impunidade, isto é, para o crime sem punição, como sucede habitualmente nas obras de Agatha Christie e Erle Stanley Gardner. Todavia, em «Crimes Sem Rosto» não se impõe a fórmula que exige a presença de um crime e do respectivo investigador para o desvendar. Haja ou não haja detectives ou personagens com funções similares envolvidos, pode criar-se um bom enredo com contornos policiais. Independentemente da comparência (ou inexistência) do investigador que apresenta soluções, privilegia-se, nos textos que compõem esta Antologia de Contos Policiais, escritos por 18 autores lusófonos, a presença de um ou de vários crimes sem rosto, cujo mistério é ou pode ser conhecido apenas pelo leitor. Mais importante do que a solução do crime, ou a revelação do criminoso, é a existência do crime que não é desvendado na sociedade em que se insere, logo, que não tenha um rosto visível, apesar de, com bastante frequência, os autores desses crimes deixarem transparecer ao leitor, nalgum momento, as suas façanhas.

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PÂNICO NO SUBÚRBIO Este livro relata a actividade de uma poderosa igreja oriunda de um país africano em que alguns dos elementos da sua cúpula se servem da organização para, a coberto da mesma, praticarem crimes horrendos, como assassinatos e tráfico de órgãos, para vários continentes. Será que a sua actividade é descoberta, sendo por isso exemplarmente castigados? Ou terão imunidade que impeça o castigo? Só lendo conseguirá saber o que acontece a tais biltres mas, para já, o autor adverte: se for muito impressionável, não leia!

PÂNICO NO SUBÚRBIO Autor: Estêvão de Sousa Editora: Independently Published (Amazon) Nº de Páginas: 106 páginas 1ª Edição: Agosto 2018 ISBN-10: 1719863911 ISBN-13: 978-1719863919 Encomendas: estevaodesousa@hotmail.com www.boa-leitura.simplesite.com www.amazon.com Página do Autor: www.facebook.com/francisco.estev aodesousa

O autor, Estêvão de Sousa, nasceu em Lisboa, em 1937. Estudou em Tomar, no Colégio Nuno Álvares e Escola Comercial Jacome Ratton, onde fez o curso geral de comércio. Foi, aos 15 anos, para Angola, permanecendo nesse país até aos 36 anos. Aí, fez um curso de geotecnia e mecânica de solos, no Laboratório de Engenharia de Angola. Como funcionário da Junta Autónoma de Estradas de Angola, exerceu as funções de técnico de estradas, com a categoria de chefe de trabalhos. Já em Portugal, fez um curso intensivo de gestão e administração de empresas e exerceu as funções de gerente comercial e Director Administrativo. Hoje, aposentado, escreve. Editou as seguintes obras literárias: «Nesta Terra Abençoada» (2014), «Tráfico no Rio Geba» (2014), «Irina – A Guerrilheira» (2015), «Rapto em Londres» (2017), «Romance em São Tomé» (2017), «Pedaços de Mim» (2017), «Contos, Estórias & Companhia» (2018), «A Profanação do Túmulo» (2018), «Pânico no Subúrbio» (2018) e «O Misterioso Desaparecimento da Princesa» (2019). Tem várias participações em diversas obras colectivas, em Portugal e no Brasil, e colabora, também, em algumas revistas digitais. Da Colecção Sui Generis, participou em «A Bíblia dos Pecadores», «O Beijo do Vampiro», «Saloios & Caipiras», «Fúria de Viver», «A Primavera dos Sorrisos», «Crimes Sem Rosto», «Devassos no Paraíso», «Luz de Natal», «Os Vigaristas» e «Sinfonia de Amor».

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MANTA DE RETALHOS Este livro de poesia retrata os vários estados de alma da sua autora, no seu “sentir” e no seu “viver” quotidiano. Nele, Amélia M. Henriques favorece a sua percepção sobre o seu crescimento “existencial” e “espiritual”. Através desses estados de alma projecta o seu “eu interior” e a sua consequente subjectividade, pelo fluir do seu ciclo de vida, ao longo da sua existência como ser vivo que é, da sensibilidade apurada, da bagagem cultural adquirida e contextual, no meio do qual está inserida.

MANTA DE RETALHOS Autora: Amélia M. Henriques Editora: Artelogy Nº de Páginas: 50 páginas 1ª Edição: Dezembro 2015 ISBN: 978-989-770-367-6 Depósito Legal: 402022/15 Encomendas: lias.art@hotmail.com info@artelogy.com

Amélia M. Henriques nasceu em 1963, em Espinho, onde reside. Os seus gostos e hobbies são, na maioria, de inclinação artística. É artista plástica; participa em várias exposições individuais e colectivas, em Portugal e no estrangeiro, destacando-se a última exposição colectiva, em Outubro de 2015, no Carrossel do Louvre, em Paris, França. É também artesã e faz parte do projecto-loja comunitária Artyspinho, destacando-se como ceramista e em joalharia com peças únicas; em 2013, foi seleccionada por oito designers de Nova Iorque. Editou um livro de poesia, «Manta de Retalhos» (Artelogy, 2015), e participou nas seguintes antologias da Colecção Sui Generis: «O Beijo do Vampiro», «Vendaval de Emoções», «Graças a Deus!», «Torrente de Paixões», «Fúria de Viver», «A Primavera dos Sorrisos», «Tempo de Magia», «Devassos no Paraíso», «Luz de Natal» e «Sinfonia de Amor». Formada também em Línguas, fala quatro idiomas. Gosta de viajar, pratica natação e não vive sem a música; é fã de jazz.

Página da Autora: https://www.facebook.com/amelia .henriques178

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LIVROS

LUZ DE NATAL

LUZ DE NATAL Antologia Lusófona Autores: 63 Autores Organização: Isidro Sousa Colecção Sui Generis Editora Euedito Nº de Páginas: 240 páginas 1ª Edição: Dezembro 2018 ISBN: 978-989-8896-69-8 Depósito Legal: 449783/18 Encomendas: letras.suigeneris@gmail.com www.euedito.com/suigeneris letras-suigeneris.blogspot.com

Enquanto as melodias do Natal nos enternecem, recordamos também, ante o céu iluminado, a estrela divina que assinalou, ao Menino Jesus, o berço na palha singela. Desde o momento em que os pastores maravilhados se deslocaram para ver o recém-nascido, o Deus Menino começou a receber testemunhos de afeição dos filhos da Terra. Todavia, muito antes que O homenageassem com ouro, incenso e mirra, expressando a admiração e a reverência do Mundo, o Seu ceptro invisível dignou-se acolher, em primeiro lugar, as pequeninas dádivas de pessoas humildes. Só Jesus sabe os nomes daqueles que algo Lhe ofereceram, nos instantes da estrebaria: a primeira frase de bênção... a luz da candeia, ou da vela, que principiou a brilhar quando se apagaram as irradiações do firmamento... os panos que O livraram do frio... a manta modesta que Lhe garantiu o leito improvisado... os primeiros braços que O enlaçaram ao colo para que José e Maria repousassem... a bondade que manteve a ordem ao redor da manjedoura, preservando-a de possíveis assaltos... o feno para o animal que O devia transportar... e muito mais. Hoje, dois milénios transcorridos sobre o nascimento de Jesus, 63 autores lusófonos pedem vénia para algo Lhe ofertar... Nada possuindo de nós, trazemos as páginas despretensiosas desta antologia que Ele mesmo nos inspirou, os pensamentos de gratidão e de amor que nos saíram do coração, em forma de letras, em louvor de Sua infinita bondade! Porque Jesus é a Luz de Natal... a luz do (nosso) Natal. Recebe, Senhor! Recebe estes contos, estas crónicas, estes poemas, estas cartas, o conjunto dos textos inseridos nesta obra colectiva... Recebe-os com a benevolência com que acolheste as primeiras palavras e os primeiros gestos de carinho com que as criaturas anónimas Te afagaram na gloriosa descida à Terra!... E que nós possamos reverTe a figura sublime, nos recessos do coração.

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PASSEIOS DA MEMÓRIA Palavras da autora na síntese desta obra: «O tempo não tem tempo para esperar por mim, passa como passa a água debaixo das pontes da Ribeira da minha terra e já não volta a passar, como também já não voltam as pessoas que se perderam no tempo, que em todo o tempo nos deixam saudades que não se apagam com o tempo, e antes que o tempo deixe de ter tempo a todas deixo o meu afecto, o meu sentido e forte abraço, a minha permanente saudade.»

PASSEIOS DA MEMÓRIA Autora: Maria Alcina Adriano Editora Euedito Nº de Páginas: 110 páginas 1ª Edição: 2018 Encomendas: www.euedito.com/livraria.html facebook.com/mariaalcina.adriano

A autora, Maria Alcina Adriano, nasceu em Vale Verde, concelho de Almeida, em Novembro de 1950. Em 1970 foi trabalhar em Lisboa, recomeçou a estudar e concluiu a licenciatura na Faculdade de Direito em 1989. Durante mais de 40 anos trabalhou na Administração Pública, onde atingiu o topo da carreira profissional, no desempenho de funções jurídicas. Começou a escrever poesia na sua juventude, mas só em 2011, depois de se ter aposentado, publicou o primeiro livro. Nos poemas encontrou uma forma de falar dos seus sonhos, dos seus amores, das suas vivências e experiências no País e nos diversos países que tem visitado, de questões sociais, das suas perdas e desilusões, sem nunca se esquecer das suas origens rurais e das dificuldades sentidas pelas populações da Beira Interior, regressando muitas vezes à sua terra para receber os abraços das suas gentes, para sentir os cheiros característicos da aldeia e dos campos (ou cobertos de geada ou floridos e verdejantes ou gretados pelo vento e pelo calor), para respirar o ar puro sempre que abre uma janela, para ouvir a sinfonia dos pássaros que acordam a madrugada, para ouvir o coaxar das rãs nas noites em que a insónia entra pela porta e não tem vontade de sair. Tem participações em diversas antologias, é membro da Associação Portuguesa de Escritores e da Associação Portuguesa de Poetas e editou os seguintes livros: «Flores Verdes em Tempo de Guerra» (2011), «O Meu Corpo é Como Um Rio» (2012), «As Searas São Vermelhas» (2013), «A Magia da Vida» (2014), «A Primavera dos Meus Sonhos» (2015), «As Ondas dos Seus Olhos» (2016), «A Ribeira da Minha Terra» (2017) e «Passeios da Memória» (2018). 285


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CADEIRA DE BALANÇO

CADEIRA DE BALANÇO Autor: Inaldo Tenório de Moura Cavalcanti Editora: Amazon Nº de Páginas: 89 páginas ASIN: B06XHNDY1B Encomendas: www.amazon.com.br Página do Autor: inatemoc.wixsite.com/website Email do Autor: inatemoc@gmail.com

Um homem de 50 anos, saindo de um relacionamento – fim do casamento –, chega a seu novo apartamento. Começa nova vida, reaprendendo a morar sozinho. Então conhece Alice, jovem que mora no apartamento ao lado. Se recorda do imenso desejo de ter um filho, e de como queria embalar seu sono em uma cadeira de balanço. O filho não veio, o casamento acabou, ele tem agora 50 anos, e está só. O romance segue, tendo um salto de vinte anos – Alice vai embora poucos dias depois e sua vida e suas aventuras vão se desenvolvendo, mudanças acontecendo. Alice volta, vinte anos depois. Vida nova? Rico em emoção, sem perder a racionalidade cortante de seus personagens, «Cadeira de Balanço» é um romance envolvente, macio, leve, comicidade comedida, plástico. Uma história que amarra o leitor ao mesmo tempo que o liberta a construir a sua visão dos acontecimentos. Sempre acompanhados de literatura, a paixão dele e dela, que norteará o futuro de suas vidas. Disponível em e-book na Amazon. O AUTOR – Inaldo Tenório de Moura Cavalcanti. Poeta/escritor pernambucano, natural da cidade da Pedra, PE, reside em Recife, PE, Brasil. Publicou vários livros: «Cúmplices» (1993), «Assim se Fez» (2002), «O Recanto Sagrado da Luz» (2008), «Guardados» (2010), «Meu Pai e Outros Contos» (2012), «O Colecionador de Cavalos» (2013), «Paisagens da Janela» (2014), «De Onde se Pode Ver o Invisível» (2015) e «História de Esquecimento» (2016). Em e-book, tem os seguintes livros publicados pela Amazon: «História de Esquecimento», «Paisagens da Janela», «O Colecionador de Cavalos» e «Cadeira de Balanço». Além de ter participações em diversas antologias no Brasil, é membro da União Brasileira de Escritores, PE. 286


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MANUAL DOS OFÍCIOS Um conto longo sobre a anuência do mal

MANUAL DOS OFÍCIOS Autora: Sara Timóteo Editora: Edições Vieira da Silva Nº de Páginas: 94 páginas 1ª Edição: Setembro 2018 ISBN: 978-989-779-073-7 Depósito Legal: 443313/18 Encomendas: www.edicoesvieiradasilva.pt Página da Autora: www.facebook.com/wind.sidh

O protagonista de «Manual dos Ofícios» é cabo-verdiano. Encontra-se de regresso a Portugal após uma missão de manutenção de paz no antigo território da Bósnia-Herzegovina. O período de 24 horas até à concretização da licença serve de pretexto para uma reflexão acerca de como só destruímos verdadeiramente aqueles que amamos. Talvez exista, no entanto, a possibilidade de transcendermos este destino a que nenhum ser humano escapa por via do conhecimento dos outros. São inúmeras as personagens detentoras de relevo nesta história: militares, desertores, médicos, rececionistas, proprietários, bisavós, avós, irmãos, irmãs, professores, alunos, tias, esposas, primas, pais e mães. As malhas de um império moribundo alicerçam alianças improváveis entre seres humanos oriundos de países distintos; contudo, a diferença reside, principalmente, no mundo que cada pessoa transporta dentro de si. A AUTORA – Sara Timóteo nasceu em Torres Vedras. Viveu em Lisboa e em Haia. Reside na Póvoa de Santa Iria. Publicou os livros: «Deixaime Cantar a Floresta» (2011), «Chama Fria ou Lucidez» (2011), «Refúgio Misterioso» (2012), «Os Passos de Sólon» (2014), «Elixir Vitae» (2014), «Os Quatro Ventos da Alma» (2014), «O Telejornal» (2015), «O Corolário das Palavras» (2016), «Refracções Zero» (2016), «Compassos» (2017), «Diário Alimentar» (2017) e «Manual dos Ofícios» (2018). Tem três livros editados nos EUA pela Spero Publishing / Caliburn Press e várias participações em diversos projectos colectivos. 287



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CONTO

CARA E COROA FÁTIMA D’OLIVEIRA Nasceu em 1970 e reside no Vale de Santarém, uma vila no concelho e distrito de Santarém. Em 1998 foi-lhe diagnosticada uma ataxia de Friedreich, uma doença rara, incurável, progressiva, altamente incapacitante e por vezes fatal. Está aposentada por invalidez desde 2009 e tem participado, sempre que lhe é possível, na divulgação das ataxias hereditárias, bem como no alerta da sociedade civil para a dura realidade das mesmas. Teve ainda o supremo orgulho de presidir à Direcção da APAHE – Associação Portuguesa das Ataxias Hereditárias, entre Março de 2011 e Março de 2014. Não tendo a presunção de se considerar uma escritora, mas sim uma autora que já teve a felicidade de ver algum do seu trabalho publicado, possui uma página no Facebook, que desde já vos convida a conhecer e a gostar, e onde fica a aguardar os vossos prezados comentários. Participou nas antologias «Luz de Natal» e «Sinfonia de Amor» da Colecção Sui Generis.

“Mara Lara e Lara Mara, para além de serem irmãs gémeas, eram também siamesas. E estavam unidas pelas costas. Quando elas nasceram, ninguém se atreveu a colocar, ainda que remotamente, a hipótese de serem separadas. Não. Se elas tinham nascido assim, era porque o bom Deus assim o entendia: elas haviam de aprender a viver assim, pois com toda a certeza aquela característica tinha, obrigatoriamente, que possuir algum propósito: Deus escreve sempre direito por linhas tortas, e os pais não poderiam permitir, de modo algum, que

Página da Autora: http://www.facebook.com/autora.fati madoliveira

algum qualquer, fosse doutor ou coisa mais importante, endireitasse as linhas do Senhor. De maneira nenhuma.” POR FÁTIMA D’OLIVEIRA

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ara Lara. Lara Mara. Duas irmãs. Gémeas. E que não se podiam ver uma à frente da outra. Não que elas se detestassem, odiassem ou, pior ainda, se ignorassem. Não, nada disso. Elas realmente não se podiam ver uma à frente da outra. Literalmente. Mara Lara e Lara Mara, para além de serem irmãs gémeas, eram também siamesas. E estavam unidas pelas costas. Quando elas nasceram, ninguém se atreveu a colocar, ainda que remotamente, a hipótese de serem separadas. Não. Se elas tinham nascido assim, era porque o bom Deus assim o entendia: elas haviam de aprender a viver assim, pois com toda a certeza aquela característica tinha, obrigatoriamente, que possuir algum propósito: Deus escreve sempre direito por linhas tortas, e os pais não poderiam permitir, de modo algum, que algum qualquer, fosse doutor ou coisa mais importante, endireitasse as linhas do Senhor. De maneira nenhuma. E se os pais assim o entenderam, foi assim que o fizeram. Mara Lara e Lara Mara cresceram para a vida tal e qual como vieram ao mundo: de costas voltadas. Tornaram-se cada uma o oposto da outra, dia e noite, sol e lua, Yin e Yang. Duas metades distintas de uma só entidade, dois seres a um só viver. No entanto, uma não podia viver sem a outra. Não apenas fisicamente, mas para além disso. As duas completavam-se. Perfeitamente, como um círculo fechado. E as duas irmãs agradeciam todas as noites, nas suas orações, a Deus por, na Sua infinita sa-

bedoria, ter tido a bondade de iluminar os seus pais para decidirem não as separar. Mara Lara e Lara Mara eram felizes. Até que aconteceu. Tinha que acontecer, não é?... Era inevitável. No que parecia ser um dia igual a tantos outros, alguém bateu à porta e as irmãs foram aten290


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der. Quis o acaso que fosse Mara Lara a abrir a porta. «Bom dia», o desconhecido disse «o Sr. Juvenal está?» «E quem quer falar com ele?» «Diga-lhe que é o Casimiro.» «Só um bocadinho.» Mara Lara voltou-se para dentro e enquanto chamava «Pai, é para ti!», foi com surpresa que o desconhecido pareceu vislumbrar uma outra rapariga completamente diferente da primeira: não mais bonita nem mais feia, apenas diferente. Mas não pensou mais nisso: apenas abanou a cabeça, achando que aquela visão não era mais que uma qualquer partida dos seus olhos, cansados de já terem visto muita coisa. «Miro!...» exclamou o Sr. Juvenal, surgindo de dentro do escuro «Então, como é que estás?... Há tanto tempo... Venham daí esses ossos!...» Depois de abraçar o tal Miro e pressentindo o olhar inquiridor da mulher, que entretanto se aproximara, Juvenal rapidamente explicou «Este é o Miro, meu antigo camarada de armas...

Foi com surpresa que o desconhecido pareceu vislumbrar uma outra rapariga completamente diferente da Esta é a Augusta, a minha mulher... Mas entra, entra, não fiques aí especado.» «Então, homem», continuou o Sr. Juvenal, enquanto acompanhava Miro à sala de estar, sempre seguidos pela D. Augusta «mas diz cá, que é feito de ti?... Por onde é que tens andado?...» «Oh» exclamou Miro «sabes como são estas coisas... um dia aqui, outro dia ali... a fazer isto, aquilo... Olha, tenho-me desenrascado!...» «Mas olha que estás com muito bom aspecto... Não achas, Augusta?»

primeira: não mais bonita nem mais feia, apenas diferente. Mas não pensou mais nisso: apenas abanou a cabeça, achando que aquela visão não era mais que uma qualquer partida dos seus olhos, cansados de já

terem visto muita coisa.

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«É verdade, sim senhora... Olhe, eu não sei o que o Sr. Miro...» «Ai, senhor não!... Só Miro.» «Seja... eu não sei o que o Miro tem andado a fazer, mas olhe, bem que podia dar a receita aqui ao meu Juvenal, para ver se ele perdia esta barriguinha...» «Não digas disparates, mulher...» riu-se o Sr. Juvenal. «Bom, mas diz cá homem, queres beber alguma coisa, assim uma cervejinha para lembrar os bons velhos tempos?» «Olha que uma cervejinha fresquinha até marchava...» «Então, está bem... Ó mulher, vai lá buscar duas cervejolas ao frigorífico, se faz favor...» Quando a D. Augusta saiu, o Miro voltou-se para o Sr. Juvenal «Ouve lá, homem, aquela rapariga que me abriu a porta era a tua filha?» O rosto do Sr. Juvenal iluminou-se. «Uma delas. Espera aí, que eu vou chamá-las para tu as co-

nheceres.» Simultaneamente com a saída do Sr. Juvenal, deu-se a entrada da D. Augusta com as duas cervejas. «O meu marido?» «Foi chamar as vossas filhas.» «Ah, as nossas meninas... São uma bênção dos céus.» Eis que o Sr. Juvenal entra, acompanhado da mesma rapariga que lhe tinha aberto a porta. «Apresento-te as minhas filhas, Mara Lara e Lara Mara. Meninas, este é o Miro, um velho amigo do pai.» «Como está? Eu sou a Mara Lara.» E estendeu a mão a um Miro cada vez mais atarantado: filhas?!... Ele só via uma... Onde estava a outra?... Perdido nas suas reflexões, embrenhado nas suas questões, foi com surpresa, uma enorme surpresa, que Miro viu surgir diante dos seus olhos a outra tal rapariga que lhe tinha parecido vislumbrar anteriormente. «Eu sou a Lara Mara.» Depois do choque inicial, Miro finalmente percebeu. Gémeas siamesas. Apercebendo-se do orgulho e desmesurado amor dos pais, ele abstevese de questionar o porquê de as raparigas não terem sido separadas em devido tempo: se elas continuavam como continuavam, alguma razão haveria. E não seria ele, Miro, que iria pôr essas mesmas razões em causa. No entanto, uma coisa Miro não pode deixar de notar: as diferenças entre as irmãs. Elas eram gémeas, sim, mas tão diferentes... Tão diferentes, tão diferentes, que essas mesmas diferenças, em vez de diferenciar, confundiam. «Almoças connosco, não é verdade?», perguntou o Sr. Juvenal. «Eu não quero incomodar...», Miro começou, mas logo foi prontamente interrompido pelo Sr. Juvenal. «Incomodas agora... Não digas disparates, que fazes bem melhor... Fazemos até muito gosto na tua companhia, não é verdade, mulher?» «É verdade, sim senhor» concordou a D. Au292


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gusta «Almoce com a gente.» «Posto assim... Como é que eu posso recusar?» «Óptimo!» exclamou o Sr. Juvenal, esfregando as mãos de contente «Vamos para a mesa.» «O almoço é coelho guisado com arroz» disse a D. Augusta «Espero que goste.» «Oh, sim» disse, por sua vez, Miro «Muito.» À medida que se aproximavam da mesa, a curiosidade de Miro aumentava cada vez mais: como é que aquela família comia, como é que eles tinham ultrapassado a situação causada, ainda que involuntariamente, pelas irmãs? E se alguém alguma vez disse que a necessidade aguçava o engenho, ali estava a prova mais que provada. A curiosidade de Miro pode então ser satisfeita. A mesa de refeições assemelhava-se a algo como um círculo oco, assim como a lendária Távola Redonda, mas incompleto: havia uma abertura num dos lados. Era por esse lado que as irmãs Mara Lara e Lara Mara entravam, sentando-se ao meio, viradas

cada uma para um lado da mesa. Os pais, esses, sentavam-se do lado de fora, cada um em frente de uma das irmãs. Essas posições eram alternadas, conforme as refeições: aos

Depois do choque inicial, Miro finalmente percebeu. Gémeas siamesas. Apercebendo-se do orgulho e desmesurado amor dos pais, ele absteve-se de questionar o porquê de as raparigas não terem sido

separadas em devido tempo: se elas continuavam como continuavam, alguma razão haveria. E não seria ele, Miro, que iria pôr essas mesmas 293

razões em causa.


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almoços o Sr. Juvenal sentava-se em frente de Mara Lara e a D. Augusta em frente de Lara Mara, ao jantar trocavam. «Senta-te aqui, homem.» O Sr. Juvenal indicou a Miro o lugar entre ele próprio e a D. Augusta, onde assim podia falar com ambas as irmãs. E elas eram divertidas. E inteligentes. Mara Lara mais faladora, Lara Mara não tão exuberante. Já depois da refeição, na sala, Miro pôde observar que as gémeas se sentavam numa espécie de puff. «Onde é que estás, Miro?», o Sr. Juvenal perguntou. «Onde é que estou?...»

«Sim, homem. Onde é que estás a dormir?» «Ah, isso... Olha, se queres que te diga, não sei.» «Não sabes?!», admirou-se o Sr. Juvenal. «Não, ainda não. Estás a ver, só cheguei hoje... Mas ouve lá, já que falas nisso, há por aqui alguma pensão, residencial ou coisa que o valha?» «Haver, há» começou o Sr. Juvenal «mas para que é que vais gastar o teu rico dinheirinho, se podes ficar cá em casa?» «Cá em casa?!... Não sejas maluco... Já te incomodei demais...» «Isso é o que tu dizes... Ficas cá e não se fala mais nisso, ponto final. Não te importas de dormir aqui no sofá, pois não?...» «Quem, eu?... É claro que não, mas olha lá...» «Olha lá, o quê?...» «Não achas que já estou a abusar?» O Sr. Juvenal nada disse, apenas olhou para Miro. Quem falou foram as gémeas. «Fique.», disse Lara Mara. «Sim, fique, Sr. Miro.», acrescentou Mara Lara. Miro sorriu. «Eu fico, mas só com uma condição.» «Qual?», as irmãs perguntaram a uma só voz. «Que esqueçam o senhor. Esse está no Céu. Chamem-me só Miro.» Mara Lara e Lara Mara riram com gosto. «Combinado.» *** Miro já estava na casa do seu amigo Juvenal há algum tempo, pois de cada vez que dizia que tinha que se ir embora e que já ali estava há mais tempo que a conta, de uma maneira ou de outra, os donos da casa lá arranjavam maneira de o convencer a ficar. 294


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Não que Miro se queixasse: não, muito antes pelo contrário. À hospitalidade de Juvenal, Miro não tinha coisa alguma a apontar, por mais ínfima que fosse. Até às irmãs Miro já se tinha habituado, praticamente esquecendo aquela particularidade muito delas: o de serem siamesas. Miro apreciava especialmente aqueles longos passeios que costumava dar, diariamente, quase

ao final do dia, na companhia das irmãs. A rotina era sempre a mesma: na ida Miro falava com Mara Lara e, na volta, com Lara Mara. Mas o mais curioso e o que mais fascinava Miro era a própria atitude delas nesses passeios: nas idas, quando Miro era acompanhado (por assim dizer) por Mara Lara, Lara Mara nada dizia, era como se não existisse. O mesmo acontecia nas voltas, quando Miro falava com Lara Mara: Mara Lara eclipsava-se. Era 295


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como se as irmãs tivessem a uni-las um interruptor, que elas próprias tratavam de ligar e desligar. E elas gostavam dele, da companhia dele, disso Miro sabia. Também Miro gostava delas, da alegria de Mara Lara e da calma de Lara Mara. Igualmente. Sem distinções.

«Gosto das duas igualmente, sem preferências» a surpresa de Miro não parava de aumentar, sem perceber o sentido daquela conversa. Juvenal nada disse: apenas sorriu, aparentando satisfação pela resposta dada. «Mas ouve lá» Miro começou «que raio de conversa é essa, que eu ainda não percebi nada?» «Já lá vamos, já lá vamos» Juvenal acalmou-o «Tudo a seu tempo...» Houve mais um momento de silêncio. «És casado?» Juvenal finalmente perguntou. «Não.» «E pensas casar algum dia?» «Não sei, talvez...» Silêncio, outra vez. «Dizes que gostas das minhas filhas» Juvenal recomeçou a falar «Muito bem. E se eu te as oferecesse?» «Como é que é?» Miro não queria acreditar no que julgava que tinha acabado de ouvir. «É isso tudo que ouviste» Juvenal confirmou «E se eu te as oferecesse?» «As duas?»

Mas ninguém dá nada a ninguém. E a maioria não dá ponto sem nó. No que parecia ser um princípio de noite igual às muitas que Miro já ali tinha passado, o seu amigo Juvenal chamou-o. Para uma conversa séria, disse. De homem para homem. «Bom, aqui me tens. Diz lá o que tens para me dizer», Miro falou. «Miro» Juvenal começou «gostas das minhas filhas?» «Gosto» Miro respondeu surpreso. «Gostas mesmo?» «Sim, gosto muito» «De qual gostas mais?» 296


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«As duas.» «Para quê?» «Para que é que havia de ser?... Para viverem como homem e mulher. Ou mulheres...» Miro nada disse. Estava demasiado abismado com tudo aquilo que lhe estava a ser dito e oferecido. «Sabes» Juvenal continuou, perante o silêncio de Miro «o meu sonho, como o de qualquer pai, é o de deixar as filhas bem encaminhadas na vida.

Ora, tanto eu como a minha Augusta não estamos a caminhar para novos. Por isso, gostava de deixar as minhas meninas bem entregues. Mas isso, como deves calcular, não tem sido nada fácil, mais a mais com a história de serem siamesas. Era mais fácil procurar uma agulha num palheiro... Até que tu chegaste, homem. As minhas filhas, é escusado dizer, gostam muito de ti. Já lhes expliquei a minha ideia e, como já deves calcular, concordaram imediatamente. Ficaram até muito felizes. A mi-

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nha Augusta também está de acordo. E tu, o que é que me dizes?... Nunca mais tinhas que trabalhar, pois não sendo um homem rico, sempre tenho algumas posses. Que serão tuas, um dia. E mais, casa, comida e roupa lavada, todos os dias. Isto já para não falar nas duas mulheres que vais ter na tua cama, todas as noites... Então, negócio fechado?...»

As minhas filhas, é escusado dizer, gostam muito de ti. Já lhes expliquei a minha ideia e, como já deves calcular, concordaram imediatamente. Ficaram até muito felizes. A minha Augusta também está de acordo.

***

E tu, o que é que me dizes?... Nunca mais tinhas que trabalhar,

Miro ainda não queria acreditar no que lhe tinha acontecido. Estava em frente à porta do quarto das irmãs. Mara Lara e Lara Mara. As suas mulheres. Estendeu a mão para a porta e abriu-a. Algo receoso, entrou no quarto envolto em penumbra. Fechou a porta do quarto atrás de si. Após alguns instantes de habituação, os olhos de Miro puderam distinguir os corpos das irmãs na cama. Nus. Miro aproximou-se, deitou-se sobre elas, e apertou-as num abraço apertado. 

pois não sendo um homem rico, sempre tenho algumas posses. Que serão tuas, um dia. E mais, casa, comida e roupa lavada, todos os dias. Isto já para não falar nas duas mulheres que vais ter na tua cama, todas as noites... Então, negócio fechado?

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Fátima D’Oliveira é co-autora de Luz de Natal e Sinfonia de Amor.



























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