SG MAG #08
SG MAG Edição nº 8
SUMÁRIO
Junho 2019
EDITORIAL ....................................................................................................... CRÓNICA: Flores para flores – por Maurício Cavalheiro ................................ CONTO: Chantilly – por Samanta Obadia ........................................................ CRÓNICA: “Dia da Mãe” especial – por Lucinda Maria ............................... CONTO: O capítulo final – por Tiago Sousa .................................................... BIOGRAFIA: Eu, Camões, me confesso – por Amélia Pinto Pais ............... HISTÓRIA: A história do Hino Nacional – por Isidro Sousa ........................ CONTO: A menina e a cadela vira-lata – por Inaldo Tenório M. Cavalcanti .. CRÓNICA: Quem não sabe, inventa – por Jorge Pincoruja ............................ LANÇAMENTO: Sinfonia de Amor .............................................................. APRESENTAÇÃO: Sinfonia de Amor – por Isidro Sousa ............................ LIVRO «SINFONIA DE AMOR»: 75 autores lusófonos (biografias) ..... CONTO: E se fosse proibido abraçar? – por Natália Vale ........................... CRÓNICA: Sob o céu de Paris – por Rita Queiroz ......................................... CARTAS: Vera – por Lira Vargas ..................................................................... NOTRE-DAME: O incêndio que ressoou... – por Diogo Vaz Pinto ............ OPINIÃO: O monumento mais visitado da Europa – por Lucinda Maria . CRÓNICA: És tu o meu melhor texto – por Sérgio Sola ............................... ENTREVISTA: Estêvão de Sousa – por Isidro Sousa ..................................... LIVROS: Obra literária de Estêvão de Sousa ................................................ FICÇÃO: Excertos dos últimos livros – por Estêvão de Sousa ....................... CRÓNICA: Tempo – por Estêvão de Sousa ....................................................... CADERNO DE POESIA: Tema “São João” – Poemas de vários autores ..... CONTO: A clausura de Kematian – por Nardélio F. Luz .............................. CRÓNICA: Deixei ir – por Lira Vargas ........................................................... PERFIL: Impressões digitais – por Fátima d’Oliveira ...................................... PRIMEIRA FILA: Porque teatro é vida e espectáculo – por Tito Lívio ...... CONTO: O amor roubado – por Tito Lívio .................................................... OPINIÃO: Brasil, brasileiro – por Jorge Pincoruja ............................................ CRÓNICA: O afeto afeta! – por Samanta Obadia ........................................... REPORTAGEM: Lançamento do livro “Shadows of Life” ....................... CARTAS: Para o meu amor – por Natália Vale .............................................. RESENHA: Memorial de São Gens de Calvos – por Suzete Fraga .............. CRÓNICA: Será isso poesia? – por Inaldo Tenório de Moura Cavalcanti ......... PROSA POÉTICA: Adágio de Maio – por Luís Rôxo ................................... POESIA: Vinte poemas de (vários) autores lusófonos.................................. CONTO: A noite do lobisomem – por Thiago Guimarães .............................. RESENHA: Ler e Escrever – por Maria Angela Alvares Cacioli ..................... LIVROS: Escrevo Como Respiro, de Maria de Fátima Soares ................... LIVROS: A Fábula do Príncipe Narseu, de Paulo Gravina ......................... LIVROS: Devassos no Paraíso, da Colecção Sui Generis ........................... LIVROS: Confissões de Afrodite, de Rita Queiroz ...................................... LIVROS: O Misterioso Desaparecimento da Princesa, de E. de Sousa .... LIVROS: A Pedra de Mármore, de Dorivaldo Ferreira de Oliveira ............ LIVROS: Os Vigaristas, da Colecção Sui Generis ........................................ LIVROS: A Clausura de Kematian, de Nardélio F. Luz .............................. LIVROS: O que Zeus Mostrou aos Homens, de Marisa Luciana Alves ... CRÓNICA: Sensações de culpa – por Vieirinha Vieira .................................. 3
005 007 009 018 025 033 045 055 060 063 065 071 099 105 109 113 130 136 143 153 157 174 175 189 195 198 206 223 230 235 239 251 254 257 258 261 293 304 308 309 310 312 313 314 316 317 318 322
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Isidro Sousa
Editor da SG MAG
sg.magazin@gmail.com https://issuu.com/sg.mag
EDITORIAL Apresentamos o 8º número deste Magazine Literário, uma publicação Sui Generis que se encontra ao dispor de toda a Lusofonia. A presente edição é dedicada a uma das maiores figuras da Literatura Lusófona e um dos grandes vultos literários da tradição ocidental: o poeta lusitano Luís Vaz de Camões. Renovador da Língua Portuguesa e um dos mais fortes símbolos de identidade da sua Pátria, Camões é uma referência para toda a Comunidade Lusófona internacional e o dia da sua morte, 10 de Junho, é assinalado como o Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas. Destacamos também, nesta edição, o autor Estêvão de Sousa, de quem publicamos uma entrevista sobre os cinco livros que lançou já em 2019, o vasto “dossier/portfólio” sobre a catedral Notre-Dame em Paris, na sequência do incêndio que sofreu, e o segundo Caderno de Poesia, desta vez dedicado ao São João. Sem olvidar a reportagem do lançamento de Shadows of Life, o primeiro livro de Paula Homem, e a antologia Sui Generis Sinfonia de Amor, cujo texto de apresentação e as biografias dos 75 autores que a integram estão divulgados, com o merecido destaque, noutras partes da revista. Agradecemos todas as contribuições que tornaram possível esta edição e marcamos encontro na próxima. Até lá... boas leituras!
SG MAG – Magazine Literário Ano 3 – Edição Nº 8 – Junho 2019 Editor e Director: Isidro Sousa Periodicidade: Trimestral ISSN: 2183-9573 Redacção e Publicidade: sg.magazin@gmail.com Endereço na Internet: https://issuu.com/sg.mag Colaboração nesta Edição: Amélia Pinto Pais, Andréa Santos, Anita Santana, Armindo Gonçalves, Carmen Lúcia de Queiroz Pires, Cristina Sequeira, Diogo Alves, Diogo Vaz Pinto, Estêvão de Sousa, Fátima D’Oliveira, Inaldo Tenório de Moura Cavalcanti, Isabel Martins, Isidro Sousa, Janice Reis Morais, Jonnata Henrique, Jorge Pincoruja, Joyce Lima, Lira Vargas, Lucinda Maria, Luís Rôxo, Maria Angela Alvares Cacioli, Maria João Abreu, Mary Rosas, Maurício Cavalheiro, Michele Valle, Mikael Mansur Martinelli, Nardélio F. Luz, Natália Vale, Odete Antão, Paula Homem, Paulo Roberto Silva, Raquel Lopes, Ricardo Solano, Rita Queiroz, Rosa Marques, Rose Chalfoun, Roselena de Fátima Nunes Fagundes, Samanta Obadia, Sérgio Sola, Sonia R. A. Carvalho, Suzete Fraga, Tauã Lima Verdan Rangel, Thiago Guimarães, Tiago Sousa, Tito Lívio, Vieirinha Vieira.
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Os textos publicados são da exclusiva responsabilidade dos autores que os assinam; os conceitos emitidos pelos autores não traduzem necessariamente a opinião da revista.
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CRÓNICA
FLORES
PARA
S
FLORES
egundo domingo de maio. Estava de saída quando o Perna Seca chegou. Reuníamo-nos todos os domingos no campinho do bairro onde, depois do futebol, fraternizávamos churrasqueando. Assim que me viu sem o POR MAURÍCIO CAVALHEIRO traje futebolístico, inquiriu: – Ôxente! Vai na pelada, não? Titular da cadeira nº 30 da Academia Pindamonhangabense de Letras Meneei a cabeça e retruquei: – Hoje é dia das mães, esqueceu? Não – Este é o Perna Seca. Jogador, sim. Faz pouco temvai passar o dia com a sua? po que se mudou lá pro bairro e já é o craque do time. – Maínha mora nas bimbocas, lá no Maranhão. Te– Perna Seca? Apelido horrível! Qual o seu nome de lefonei agorinha pra ela. Está indo ver a sua? batismo? – Estou. Quer vir comigo? Ele abaixou a cabeça e declarou, envergonhado: – E o futebol? – Minhocácio do Rego Penteado... Filho. – Hoje não tem futebol, Perna Seca. Decidimos isso Ela gargalhou segurando a dentadura frouxa. Eu no último domingo. Esqueceu? Você vem comigo ou também, mas não tenho dentadura. A zanga dele só se não? diluiu quando ela mudou de assunto, desfilando a mePensou um pouco e aceitou sob a condição de tromória pelos tempos de menina. car de roupa. Ele também nos contou sobre a infância sofrida em – Não precisa. Você está bem com essa camisa do Belágua, município maranhense. Sampaio Corrêa. O tempo aligeirou-se. Despedimo-nos prometendo Fomos. No trajeto comprei dois ramalhetes de roretornar em breve. Assim que saímos, Perna Seca me sas vermelhas. Em pouco tempo chegamos ao destino. bombardeou: – Vixe! Sua maínha mora aqui? – Astolfinho? Esse não é o seu nome. Ou é? Por que Sorri, peguei um dos ramalhetes, abri o portão e colocou sua maínha num asilo? Por que comprou dois entramos. No fim da viela das margaridas lá estava ela: punhadinhos de flor? franzina, diabética, hipertensa, na cadeira de rodas. As– Astolfinho é o nome do filho dela. Eu a adotei no sim que me viu, seus olhos se acachoeiraram. dia que vim conhecer o asilo. Soube que chorava todos – Filho, você demorou. Pensei que tivesse me esos dias esperando que o filho viesse visitá-la. Fiquei quecido. condoído. Por isso, assumi o papel do filho. – Jamais a esquecerei. Trouxe flores. Feliz dia das – E o outro punhadinho de flor, para quem é? mães. – Para a mulher mais importante da minha vida: miBeijei-a sucessivas vezes durante trocas de abraços. nha mãe. Perna Seca tentou inibir o marejar dos olhos. – Arre égua! Ela mora noutro asilo? – Quem é o seu amigo, Astolfinho? Algum jogador – Quem dera. Ela descansa na mansão dos mortos. famoso?
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“O objectivo de uma armadilha de peixes é pegar peixes; quando eles caem na armadilha, ela é esquecida. O objectivo de uma armadilha para coelhos é pegar coelhos; quando estes são agarrados, esquece-se a armadilha. O objectivo das palavras é transmitir as ideias. Quando estas são apreendidas, as palavras são esquecidas. Onde poderei encontrar alguém que se esqueceu das palavras? É com ele que gostaria de conversar.” Chuang Tzu (369 a.C.-286 a.C.) Filósofo chinês do século IV a.C.
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CONTO
CHANTILLY “Eu adoro o sábado, é um dia que tem cheiro de sol, de praia, de feira, de supermercado cheio de gente feliz comprando cerveja. E aí nós fazemos SAMANTA OBADIA Brasileira, 15/12/1967, com dupla nacionalidade portuguesa. Escritora, psicanalista, actriz, filósofa e palestrante. Tem quatro livros publicados pela Letra Capital Editora: «Pessoas, Palavras e Valores: Elos em Construção» (2009), «Eu me Livro: da Prisão das Drogas até o Fim» (2011), «Mengele me Condenou a Viver: A Vivência e as Sequelas de Aleksander Henryk Laks Após o Holocausto» (2012) e «Café com Chantilly, Contos de Motel» (2015). Participou na antologia «Luz de Natal» da Colecção Sui Generis. Perfil no Facebook: www.facebook.com/samantaobadia
tudo isso durante a manhã, e vamos ao final da tarde para o motel. Meus filhos já sabem que sábado é o nosso dia. Que não temos hora para voltar. Mas ele está demorando hoje! Nem sempre a gente vem separados; depende da vontade. Hoje ele queria fingir um encontro marcado, daí não teria graça chegar no mesmo carro. Então eu vim na frente e ele ficou
Página da Autora: www.samantaobadia.com.br
de chegar meia hora depois.”
Instagram e Linkedin: Samanta Obadia
POR SAMANTA OBADIA
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ro quartos diferentes, decorações diferentes... parece que estamos viajando, que somos aventureiros, que somos personagens de filmes de cinema. Eu adoro motéis, eu acho tão romântico escolher locais diferentes para fazer amor. Não para transar! Sei lá, acho que essa palavra tem a ver com drogas: transar cocaína, maconha, etc. Trepar é ridículo, não combina com casais decentes. A não ser quando, em nossas fantasias, atuamos como marginais. Sim, porque eu venho ao motel toda semana, mas eu venho com o meu marido e nós somos um casal decente. É um ritual: durante a semana, eu passeio com a minha mãe pelas ruas e estradas da cidade. Nós pegamos o carro e saímos rodando por aí, olhamos por
Outono, e eu não gosto desta estação. Até porque nunca vi as folhas caírem no Rio de Janeiro, as árvores peladas. Aqui está sempre calor, muito calor. E este clima me faz ficar ridícula, suando durante todo o ano. Não lembro de frio nesta cidade. Tanto faz! Bom mesmo é estar aqui, esquecer do tempo lá fora, das pessoas meladas como porcos indo para o matadouro. Ah! Acho que a melhor invenção do ser humano foi o ar condicionado. Tudo fica fresquinho! A pele, as roupas, os lençóis... Eu adoro os lençóis limpinhos daqui... parece que saíram agora da lavanderia, daquelas enormes máquinas de lavar roupa com água quente. Mas ele está demorando muito a chegar! Já faz mais de meia hora que eu cheguei. Ah, mas eu sempre chego antes; acho que já é mania de conferir pra ver se tudo está de acordo com o que eu gosto. As flores ─ ele sempre traz flores ─ será que ele vai trazê-las hoje? Eu gosto de camélias, mas ele diz que não são fáceis de achar. Elas não perfumam, apenas enfeitam. Será que ele vai achá-las hoje? Sempre que ele consegue trazê-las é melhor, parece que o quarto fica mais bonito. É a segunda vez que venho neste motel, ele não se incomoda de repetir. Mas eu prefi-
É
Eu adoro motéis, eu acho
tão romântico escolher locais diferentes para fazer amor. Não para transar! Sei lá, acho que essa palavra tem a ver com drogas: transar cocaína, maconha, etc. Trepar é ridículo, não combina com casais decentes. A não ser quando, em nossas fantasias, atuamos como marginais. Sim, porque eu venho ao motel toda semana, mas eu venho com o meu marido e nós somos um casal decente. 10
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Mamãe nunca foi ao motel com meu pai, mas depois que ele
supermercado cheio de gente feliz comprando cerveja. E aí nós fazemos tudo isso durante a manhã, e vamos ao final da tarde para o motel. Meus filhos já sabem que sábado é o nosso dia. Que não temos hora para voltar. Mas ele está demorando hoje! Nem sempre a gente vem separados; depende da vontade. Hoje ele queria fingir um encontro marcado, daí não teria graça chegar no mesmo carro. Então eu vim na frente e ele ficou de chegar meia hora depois. Gosto dessa televisão prive, é tanta chupação, tenho vontade de rir quando vejo as cenas de sexo, mulher com mulher é tão excitante. Mas também dá um pouco de nojo. Homem com homem não passa no motel. Acho que eles pensam que ninguém gosta de ver. Uma
morreu sempre me acompanha em minhas escolhas. Uma vez, fiz questão de levá-la numa suíte.
Foi tão engraçado. O recepcionista nos olhou de uma maneira estranha, mas discreta. Mamãe nem percebeu. Estava tão excitada com a situação, conhecer o quarto de um motel.
fora. Não entramos, mas pela portaria já temos uma ideia de como deve ser por dentro. Às vezes, eu pergunto o preço das suítes. Mamãe gosta de dar opinião e, como ela é muito organizada, fez até um caderninho onde damos as notas depois. Jorge nem imagina que fazemos isso. Ficaria constrangido se soubesse. Bobagens de homens. Mamãe nunca foi ao motel com meu pai, mas depois que ele morreu sempre me acompanha em minhas escolhas. Uma vez, fiz questão de levá-la numa suíte. Foi tão engraçado. O recepcionista nos olhou de uma maneira estranha, mas discreta. Mamãe nem percebeu. Estava tão excitada com a situação, conhecer o quarto de um motel. Entramos, ela examinou tudo, deitou na cama, ligou a TV, o rádio, tomou banho na banheira de hidromassagem, fez sauna, comemos um almoço executivo, rimos muito quando saímos felizes e percebemos que aquela era uma cena grotesca. É um segredo nosso, mas agora escolheremos melhor o motel dos sábados seguintes, porque mamãe ficou mais crítica. Eu adoro o sábado, é um dia que tem cheiro de sol, de praia, de feira, de 11
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imprevisível, normal. Rio de Janeiro, cidade maravilhosa! Idiotas os que compuseram essa música, muito chata. Eu gosto de frio, de ar condicionado, de sol da janela para fora, sabe aquela coisa de pintura, só para enfeitar? Sol gelado, coisa chique, de modelo, de gente bonita, fina. Ah, veja só, a essa hora não tem nada bom na televisão, eu acho até que vou desligar. Vou ouvir um pouco de rádio, tomara que toque o Roberto. Tem poucas estações nesse motel, só quatro. Droga! Só tem música chata. Bom, melhor ficar nessa, está tocando Maria Bethânia, daqui
vez meu marido pegou uma dessas fitas em locadoras e tinha homens que trepavam com outros homens... era tão esquisito. É, acho que a palavra trepar encaixa melhor para falar de homossexuais masculinos: parecem uma trepadeira, um montando no outro. Naquele dia meu marido ficou nervoso, ele ficou incomodado com as cenas de sexo entre homens, não sei por quê. Mas eu também não insisti em saber. Alguém está batendo, deve ser ele. O cabelo está bom, a camisola, o quarto, tudo ok! Vou abrir. «O quê? Ah, sim. Fui eu quem pediu um coquetel. Obrigada.» Coquetel de frutas. Se eu pudesse, beberia um todos os dias, na hora em que eu chegasse a casa, no final da tarde, depois do trabalho. Ora, mas eu nem trabalho. E a minha empregada é tão burra que mal sabe fazer um suco de laranja. O coquetel daqui é um dos melhores, as refeições dos motéis são boas, muitas vezes melhores do que as de restaurantes. Quarenta minutos de atraso é demais! Será que ele ainda está procurando as flores? Mas ele pode trazer qualquer uma. Está chovendo! Mas na hora em que eu cheguei o sol estava tão forte que eu jurava que não choveria neste final de semana. Clima
Tenho vontade de rir quando vejo as cenas de sexo, mulher com mulher é tão excitante. Mas também dá um pouco de nojo. Homem com homem não passa no motel. Acho que eles pensam
que ninguém gosta de ver. Uma vez meu marido pegou uma dessas fitas em locadoras e tinha homens que trepavam com outros homens... era tão esquisito. É, acho que a palavra trepar encaixa melhor para falar de homossexuais masculinos: parecem uma trepadeira, um
montando no outro. Naquele dia meu marido ficou nervoso, ele ficou incomodado com as cenas de sexo entre homens, 12
não sei por quê.
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a pouco eles colocam Roberto Carlos, tenho certeza. «Oh! Abelha rainha, faz de mim...» Gente, já tá escuro lá fora. Eu dormi. Que horas são? Sete e meia. Meu Deus! Será que ele esteve aqui e eu não ouvi a porta? Vou ligar para a recepção. «É, minha filha, eu quero saber se alguém me procurou... é, meu marido. Ninguém? Tem certeza?» Alguma coisa não está certa. Isso nunca aconteceu antes. Vou ligar para casa. Não! As crianças ficariam preocupadas. Nós saímos de casa juntos. Eu vim para cá, e ele foi procurar as flores. Mas já são três horas de atraso. Será que aconteceu alguma coisa? Assalto! Ai, meu Deus! Ele deve ter sido assaltado. O carro, será que levaram ele dentro do carro? Ele sempre anda de janela aberta, e eu vivo avisando para ele fechar o vidro. Ele diz que isso é coisa de mulher, por isso que os ladrões assaltam as mulheres, «Vocês deixam claro que estão com medo». Ai, meu Deus! E agora? Vou ligar para a polícia. Mas do motel? Não. Ia ficar esquisito. Bom, então vou voltar para casa, falo com as crianças, e de lá ligo para a polícia. Vou colocar minha roupa. Droga! Olha o meu cabelo, está todo amassado. Pareço uma suburbana. Também dormi com o laquê. Estava tão lindo quando eu cheguei. O Tom caprichou hoje! Ele não sabia pra onde eu vinha, mas acho que ele desconfiou de alguma coisa, pois ficou dando indiretas. Sabe como é cabeleireiro, adora se meter na vida da gente. Finge que é nosso amigo, a gente acaba falando
do casamento, do marido, dos filhos, e quando a gente menos percebe já tá contando intimidades. Marcinha perdeu o marido assim. Ai, foi horrível! De tanto ela falar da vida para o cabeleireiro, contar detalhes, verdadeiras confissões. Eu avisei: «Marcinha, não fala coisas tão íntimas!» Mas ela dizia que ele era um amigão, que podia saber tudo, que mal isso poderia fazer? Sei lá, eu não achava legal ficar falando tudo, falava do salário do marido, do que ele gostava na cama, etc. Um belo dia eles se conheceram, o marido e o cabeleireiro, se deram tão bem e agora estão juntos. Jorge, quando eu contei, não acreditou, disse que isso era papo da Marcinha para difamar o marido.
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boquiaberta, Jorge quase morreu. Saímos da fila. Nunca mais voltamos ao Lamole. E nem falamos mais nisso. Vou pedir a conta. Oito horas. Estou tão preocupada. Pra onde será que levaram o Jorge? Minha Santa Rita, protege o Jorge, não deixa que eles tratem mal meu marido, não deixa que ele morra. Ai, meu Deus! Meu Santo Antônio, protege o meu amorzinho. Mas ele é tão nervoso, espero que ele não tenha reagido, nem tenha sido malcriado. Eu falo sempre: «Jô, se você for assaltado, fica manso, dá tudo, volta pra casa pelado, mas não reage.» A campainha. Deve ser o rapaz da cobrança. «Sim, eu pedi a conta. Aqui está o cartão.» «Ok! Eu aguardo aqui.» «Açúcar, por favor.» Detesto café com adoçante. Não que eu possa beber com açúcar, mas não gosto de adoçante. Me dá náuseas. Certa vez quase vomitei ao beber um refrigerante diet. É péssimo! Não sei como tantas pessoas bebem isso. É por isso que eu não consigo fazer dieta, eu adoro açúcar e não suporto adoçante. Eles não gostam muito que paguemos com
Hoje não trouxeram creme de chantilly. Eu adoro, não só no café, mas de qualquer jeito.
Hum! Isso me fez lembrar uma vez que Jorge pediu uma porção enorme e colocou no seu corpo pra mim. Foi demais... acho que foi a única vez em que eu me senti enjoada de tanto comer creme de chantilly.
«Vai ver», ele disse, «ele arrumou uma mulher menos chata que ela.» Até que um dia a gente estava almoçando no Lamole, e quem encontramos na fila de espera? O marido da Marcinha de braço dado com o cabeleireiro. De braço dado! Eu fiquei
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cartão de crédito, por isso demoram a trazê-lo de volta. Mas, se pensar bem, é um dinheiro mais certo que cheque. Eu acho. Hoje não trouxeram creme de chantilly. Eu adoro, não só no café, mas de qualquer jeito. Hum! Isso me fez lembrar uma vez que Jorge pediu uma porção enorme e colocou no seu corpo pra mim. Foi demais... acho que foi a única vez em que eu me senti enjoada de tanto comer creme de chantilly. Mas foi muito gostoso! Cadê o rapaz do cartão? Oito e quarenta, meu Deus! ─ Finalmente, como você demorou! ─ Desculpe, senhora, é que tivemos um pequeno contratempo com dois clientes. ─ Tudo bem, mas veja se isso não se repete, certo? ─ A senhora quer outro café? ─ Não, obrigada. Nunca saí sozinha de um motel. Que coisa esquisita. Bom, eles vão pensar que vim tirar um cochilo. Ou então que meu acompanhante entrou depois e saiu antes. Como vão saber que ninguém entrou no quarto, enquanto estive aqui? É melhor assim. Não. Podem achar que marquei com um desses garotos de programa que encontram a gente em um motel. Que desagradável. Bom, eu vou perceber pelo olhar deles quando passar pela saída. Não, eu não vou olhá-los, coloco os óculos escuros e tudo fica melhor. Ninguém verá a minha expressão. Ignoro-os. Afinal, eles não têm nada a ver com isso. Entreguei o papel. Eles estão disfarçando. Fingem que não sabem de nada. Abrem o portão. Assim que eu passar pelo portão, começarão a co-
mentar sobre a gorda do Tempra preto que entrou e saiu sozinha do motel. Essa rua está movimentada, ruim de sair daqui a essa hora. Passam muitos carros. E ainda tem esse imbecil atrás de mim buzinando. Se eu não estivesse na porta do motel, eu te xingava. Ih! São dois homens. E estavam no mesmo motel que eu. Está vendo? E eu preocupada com o que os funcionários iam pensar de mim. Dois homens... E um deles está saindo. Caramba! Está vindo na minha direção. Na certa pensa que eu não sei dirigir e vem tirar satisfações. Desviou, está entrando em outro carro. Vieram separados. Ah! Agora eu entendi. Cada um vem no seu carro, depois entram num só. Pelo menos, são discretos. Espera aí. Ele entrou num Gol branco, placa LAE 4537... Jorge. Jorge? Jorge?!
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A estrada está cheia. Como tem carro sábado à noite na rua. Jovens, velhos, crianças, casais. Lágrimas. Luzes. Chuva. O trânsito está sempre ruim nesse trecho. Lágrimas. Sábado é um dia confuso, todos parecem sair para as ruas. Uma blitz, eu não sei o que esses guardas têm na cabeça para prejudicar o trânsito a essa hora. Nove e vinte, ainda dá tempo de ver o Telecine. Qual era mesmo o filme de hoje? Era um drama. Lágrimas. Alguma coisa sobre um filho, uma mãe. Acho que era uma história verídica. Lágrimas. Será que essa chuva não vai parar? Toda vez que eu coloco o carro para lavar é assim. Chove! Abre logo a garagem, porteiro mole. Ainda fica olhando para mim como se eu fosse uma assombração. Eu, hein? O espelho no elevador é bom pra gente olhar a nossa cara. Olha só, ainda estou de óculos escuros. Deve ser por isso que aquele bobalhão ficou
olhando para a minha cara. Rímel borrado. Papel Kiss, é imprescindível tê-lo na bolsa. Olhos limpos. Vontade de lágrimas. Chave. Latidos. Sala de estar. Filhos. Marido. «Onde você estava? Eu me atrasei. Encontrei o Glauco. Perdi a hora. Achei que você ia ligar. Deixei recado com as crianças para você voltar para casa.» Ele fala tão rápido. «Mulher fala rápido, tudo ao mesmo tempo», ele costumava me dizer isso. Entrei no quarto, pus a bolsa na cama. «Vocês já jantaram?» «Vamos pedir uma pizza!». O ex-marido da Marcinha. Pobre Marcinha! Pobre cabeleireiro! Esta semana não vou sair com mamãe.
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LUCINDA MARIA Lucinda Maria Cardoso de Brito nasceu em Oliveira do Hospital, em 1952. Fez um percurso académico muito bom e tirou o curso do Magistério Primário, começando a leccionar em 1972. Encontra-se aposentada, mas continua a ensinar, agora artes decorativas, na Universidade Sénior de Rotary de Oliveira do Hospital. Tem seis livros publicados – «Palavras Sentidas» (2013), «Alma» (2014), «Divagando...» (2015), «Terra do Meu Coração» (2016), «Sonho?... Logo, Existo!» (Sui Generis, 2017) e «Um Ano... 365 Poemas» (2018) – e participações em variadíssimas obras colectivas. Da Colecção Sui Generis: «A Bíblia dos Pecadores», «Vendaval de Emoções», «Graças a Deus!», «Torrente de Paixões», «Fúria de Viver», «A Primavera dos Sorrisos», «Tempo de Magia», «Sinfonia de Amor» e «Luz de Natal». Como autora, gosta de identificar-se apenas por Lucinda Maria; não escreve segundo o Acordo Ortográfico de 1990. Perfil no Facebook: facebook.com/lucindamaria.brito
“DIA DA MÃE” ESPECIAL
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ia 8 de Dezembro é um feriado consagrado à Imaculada Conceição de Maria. Trata-se de um dogma da Igreja Católica, isto é, uma doutrina proclamada, como verdade de fé, por um Concílio Ecuménico ou pelo Papa. Segundo esta doutrina, Nossa Senhora foi concebida sem mácula ou pecado, daí o termo Imaculada, e Conceição virá de concepção, ou seja, nasceu sem o pecado original, para poder ela própria vir a gerar Jesus, o filho de Deus, por obra do Espírito Santo e sem que tenha havido relação sexual. Este dogma foi iniciado em 1476, pelo Papa Sisto IV, mas só foi solenemente definido pelo Papa Pio IX, a 8 de Dezembro de 1854. No que diz respeito a Portugal, D. João IV proclamou Nossa Senhora como Rainha e Padroeira de Portugal, numa procissão solene realizada no dia 25 de Março de 1646, em Vila Viçosa. Aí depôs a sua própria coroa real, que, desde então, mais nenhum monarca português usou na cabeça. Durante muitos anos, 8 de Dezembro foi também considerado o “Dia da Mãe”, e assim era no meu tempo de criança. Ora, quando comecei a frequentar a escola, fazia sempre questão de oferecer algo à minha mãe. Para tal, tinha de pedir dinheiro “em18
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prestado” ao meu pai. Lembro-me bem do primeiro presente que lhe ofereci: era um prato de louça regional de Alcobaça, que tinha inscrita a seguinte quadra:
Aproximava-se 8 de Dezembro, o Dia da Mãe de 1964. Então, muito secretamente, comigo a chefiar e no papel de porta-voz,
Com três letrinhas apenas Se escreve a palavra mãe. É das palavras pequenas, A maior que o mundo tem.
dirigimo-nos as três ao meu pai, que até estava bem-disposto, e eu pedi se nos “emprestava” di-
Só muito mais tarde vim a saber, e convém referir, porque muitas pessoas não sabem que esta quadra é da autoria de uma poetisa minha conterrânea: D. Heloísa Costa Cid. Nascida em Oliveira do Hospital, na primeira década do Século passado, escreveu vários livros e ganhou o primeiro prémio de quadras do Diário de Notícias, precisamente com a que citei e que todo o País conhece e estremece. Os anos foram passando… fomos oferecendo outras coisas, algumas de que me não lembro, até acontecer o que vou contar seguida-
nheiro para irmos comprar uma
prenda para dar à nossa mãe.
mente. Éramos já três filhas, de 12, 10 e 5 anos, sendo eu a mais velha. Os meus pais eram ainda muito novos, tendo a minha mãe apenas 31 anos, uma vez que casaram cedo. Aproximavase 8 de Dezembro, o Dia da Mãe de 1964. Então, muito secretamente, comigo a chefiar e no papel de porta-voz, dirigimo-nos as três ao meu
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pai, que até estava bem-disposto, e eu pedi se nos “emprestava” dinheiro para irmos comprar uma prenda para dar à nossa mãe. Ele sorriu e perguntou: – Então e já sabem o que lhe vão comprar? Respondi que não, mas que alguma coisa seria, dependendo do que nos desse. Rindo cada vez mais, disse-nos: – Olhem, sabem o que hão-de dar-lhe? O enxoval para o bebé que vem aí... Ficámos estupefactas e cada uma reagiu e respondeu à sua maneira. Eu, refilona, comentei: – Só pode ser uma brincadeira de mau gosto!!! A do meio disse, calmamente: – Ah! Que bom! Deus queira que seja um menino! E a mais novita, que ainda falava muito mal, toda espevitada, exclamou: – Então, quer dizer que a mãe está “rávida”? Foi a maneira que o meu pai arranjou de nos
dar, a todas, a notícia, que era já conhecida dos restantes membros da família. Como se poderá constatar, a minha reacção não foi das melhores. No entanto, o bebé lá chegou, passados meses, outra menina perfeita e rechonchuda. Passámos a ser quatro, mas o meu pai, sempre com aquele sentido de humor, de que muita gente ainda se lembra, dizia: – Antes quero ser pai de quatro filhas, do que filho de quatro pais. Assim foi. Já não me lembro do que demos à minha mãe, nesse ano. No entanto, ela ofereceu-nos um tesouro magnífico: a minha irmã mais nova, hoje casada, mãe exemplar de três filhos, que eu amo do fundo do coração. É, mais do que irmã, uma AMIGA, com quem sempre pude contar e liga-nos um afecto tão grande, um amor tão incondicional, que não há palavras que consigam descrevê-lo. Ela é uma PESSOA muito especial. Por isso, só posso dizer: Obrigada pela brincadeira de mau gosto!!! (Publicado no livro «TERRA DO MEU CORAÇÃO»)
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Lucinda Maria é co-autora de A Bíblia dos Pecadores, Vendaval de Emoções, Graças a Deus!, Torrente de Paixões, Fúria de Viver, A Primavera dos Sorrisos, Tempo de Magia, Luz de Natal e Sinfonia de Amor.
Karenn Sanches ĂŠ coautora de Luz de Natal.
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CONTO
O CAPÍTULO FINAL TIAGO SOUSA O destino fez de Tiago Sousa, um estudante universitário de 19 anos, amante do excêntrico e do macabro. Deixou que a inspiração lhe escrevesse já diversos contos de terror e tragédia, inspirados pela escrita de autores como Poe e Lovecraft. Ultimamente, tem dado asas à sua poesia, produzindo inúmeros poemas numa base diária, em métrica regular ou verso livre. A sua arte sempre estará marcada por uma estranha sensação de alienação e uma certa melancolia derivada do profundo pensamento. Participou na antologia «Sinfonia de Amor» da Colecção Sui Generis. Perfil no Facebook: https://www.facebook.com/tiago.sous a.10comoseomundonaofosseloucoosu ficiente
“Desde a adolescência que escrevo, inspirado por grandes mestres da literatura macabra como King, Lovecraft, Poe e o grande Lázaro de Nezca. Fui vítima de determinados abusos enquanto criança que, admito, me tornaram num ser algo soturno e meditabundo. A minha mãe era uma esbelta vadia que se oferecia sem remorsos aos mais influentes. O meu pai, esse ingénuo, deixara-me por uma vida de eterna embriaguez. Todavia, não culpo a minha atribulada educação pelas minhas mórbidas escrituras. Claro que não. Culpo a minha maravilhosa e inigualável imaginação.” POR TIAGO SOUSA
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«The oldest and strongest emotion of mankind is fear, and the oldest and strongest kind of fear is fear of the unknown.»
que uma rigorosa descrição da crueldade humana e não existe romance mais poderoso que o contacto doce entre uma lâmina e carne virgem. H. P. Lovecraft Desde a adolescência que escrevo, inspirado Supernatural Horror in Literature por grandes mestres da literatura macabra como King, Lovecraft, Poe e o grande Lázaro de Nezca. Fui vítima de determinados abusos enquanto criança que, admito, me tornaram num ser algo soedo – todos já sentimos a sua influênturno e meditabundo. A minha mãe era uma escia no rumo das nossas vidas. Todas as belta vadia que se oferecia sem remorsos aos nossas decisões mais influentes. O meu pai, são delineadas pelos seus esse ingénuo, deixara-me por metafísicos preceitos. É algo uma vida de eterna embriade inconsciente, mas que não guez. Todavia, não culpo a É possível que já tenham se torna menos verdadeiro minha atribulada educação ouvido falar de mim. Todos por causa disso. Tanto o nospelas minhas mórbidas escrios fãs de terror Bedlamso raciocínio como a tomada turas. Claro que não. Culpo a de consciência não passam minha maravilhosa e iniguanenses já ouviram falar de reações de caráter eletrolável imaginação. do grande Jon Rickman, químico num especializado Lembro-me dos tempos e todos os amantes do órgão a que chamamos cérede rapaz, quando escrever bro. É isso que somos: impulnão passava de um mero pasgénero slasher também. sos eletroquímicos. Não exissatempo. Podia passar dias, Não há poesia maior que te uma alma, não existe um noites, vidas inteiras a fazê-lo uma rigorosa descrição significado superior para a sem descanso! Tudo tão pernossa existência. É isso que feito e silencioso, na solitária da crueldade humana e nos distingue dos outros animoradia que herdei dos meus não existe romance mais mais: impulsos biológicos esquecíveis progenitores. Remetodicamente executados. poderoso que o contacto cordo a grande janela onde Isso e nada mais. desperdiçava longas horas doce entre uma lâmina Detestável esse sentimenvislumbrando o claro brilho e carne virgem. to, não? É compreensível esdo luar. Oh que belos temsa aversão. Fomos desenhapos! dos para fugir do perigo, não Mas com a fama e o supara nos lançarmos a ele. cesso vieram a instabilidade e Mas é claro que existem as pessoas que adoram o a decadência. Fui assombrado por aquilo a que os perigo e a súbita descarga de adrenalina no sanadeptos da literatura chamam “bloqueio de escrigue. É a essas pessoas que sirvo, pois eu, meus tor”. Multidões de leitores ansiando pelo meu amigos, vejo o tal medo como fonte de rendimenpróximo volume, aquele que prometi ser o meu tos. melhor, senão o mais impactante tomo de horror É possível que já tenham ouvido falar de mim. alguma vez escrito! Meu Deus, meu querido Todos os fãs de terror Bedlamnenses já ouviram Deus... falar do grande Jon Rickman, e todos os amantes Nada poderia eu fazer a não ser chorar o desdo género slasher também. Não há poesia maior falecer de toda a criatividade que possuí enquan-
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to jovem. Mesmo considerando-me ateu, rezava na esperança de que uma qualquer divindade me ouvisse. Só queria regressar aos meus tempos áureos, à época onde, para mim, a distinção entre escrita e brincadeira era muito mais ténue. Só isso Lhe pedi e só isso Ele me concedeu. De madrugada, comecei a sonhar com o universo mais alienígena alguma vez edificado. Não havia muralhas de castelo ou ciclópicas ruínas como nas antigas pinturas, não havia montanhas escarpadas como nos trabalhos artísticos de Roerich. Não, nada disso. Mas havia cores, muitas cores balançando da esquerda para a direita, para cima e para baixo – se é que essas definições eram possíveis de associar àquela bizarra dimensão. O espaço que servia de cenário a toda a cena em que me via envolvido parecia mais líquido do que outra coisa. De que outra forma poderia eu classificar uma realidade tão alheia à compreensão humana como aquela? Manifestações de pura eletricidade estática circulavam em ondas sobre o fluido colorido que me banhava, cintilando de tempos a tempos num brilho intermitente. Estava à deriva, completamente à deriva e duvidando da minha estranha capacidade para respirar naquele local. Porém, era capaz de o fazer. Nenhuma das minhas funções vitais parecia afetada pelas características únicas daquela região, excluindo uma invulgar sensação de náusea. Um universo completamente sobrenatural, podendo conter em si diversos mundos e nenhum deles ter semelhanças com o nosso.
A minha incontrolável locomoção terminou no que parecia ser uma casa, ou melhor, um enorme mineral policromático esculpido com forma de habitação. Tomando finalmente controlo sobre os meus movimentos, decidi investigar o interior. Qual não foi o meu espanto quando verifiquei que se assemelhava em muito ao interior da minha humana residência. Lá estava ela: uma cópia exata da secretária onde sempre escrevi, mesmo em frente à minha querida janela. Sobre ela, estava um conjunto de folhas cuidadosamente encadernadas que nunca antes vi. Senti uma breve aragem na parte de trás do pescoço, que estava descoberta. Fiquei arrepiado, porque até agora não havia sentido qualquer manifestação de fenómenos atmosféricos naquele universo. Só que não era o vento que eu havia sentido, apenas o toque gélido da criatura que havia respondido às minhas orações. 27
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Não sei se a poderia classificar como humana ou sequer antropomórfica. Parecia oculta por um extenso manto negro e a sua movimentação errática assemelhava-a mais a um gás que a um sólido. A sua superfície amorfa borbulhava sob a forma de pequenas intumescências que cresciam para rapidamente retomarem a posição original. Ajoelhei-me perante a presença extraterrestre, prestando-lhe culto em troca de inspiração. Não lhe pediria mais nada, apenas isso. E a presença ouviu-me. Reagiu com uma lenta alteração da sua conformação física, mutação essa que me permitiu contemplar os segredos que se escondiam sob aquele manto preto. Vi algo de muito sinistro lá em baixo, dificilmente descritível por termos comuns. Era como se me tivesse sido dada a vislumbrar uma imagem do Inferno cristão. Uma terrível e asquerosa imagem que depressa me levou ao vómito. Vi corpos
Ajoelhei-me perante a presença extraterrestre, prestando-lhe culto em troca de inspiração. Não lhe pediria mais nada, apenas isso. E a presença ouviu-me. Reagiu com uma lenta alteração da sua conformação física, mutação essa que me permitiu contemplar os
segredos que se escondiam sob aquele manto preto.
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contorcidos e retorcidos por sinistras máquinas de tortura, vi sangue fresco pavimentando o solo ardente e fumegante. Vi as estrelas chovendo sobre inocentes crianças, queimando-lhes os olhos, o nariz e a boca, e vi o Diabo em pessoa. Não, seria heresia chamar àquilo “pessoa”. Parecia uma confusão enorme de seios e membros humanos, de olhos e bocas e tentáculos reunidos num único indivíduo. Gritei, vomitei e voltei a gritar. Era um pesadelo inescapável, o domínio mais horripilante que a nossa mente frágil consegue processar sem se desfazer aos bocados. Depois de me mostrar tal miragem, deu-me permissão para, nos papéis em cima da secretária, escrever sobre o que havia visto. Claro, era difícil conter toda a minha excitação. Seria a melhor história de terror já alguma vez escrita, sobre o mundo de trevas mais difícil de imaginar! Mas um pensamento entristeceu-me: era só um sonho. Quando acordasse, perderia toda a memória das paisagens surreais que havia observado. Felizmente enganei-me. Quando acordei, lá estava o manuscrito sobre a minha secretária, com a mesma prosa que havia redigido em sonhos. Não me dei muito ao trabalho de questionar a veracidade dos acontecimentos de que me lembrava. Era possível que não passasse tudo de um abençoado surto de sonambulismo. Fosse o que fosse, estava muito agradecido à força da natureza que era o ser gasoso do manto negro. Porém, o livro em que comecei a trabalhar no universo onírico ainda não estava terminado. Fui apenas capaz de redigir um seleto número de capítulos até o raiar do sol me acordar. Amaldiçoei pela primeira vez na minha vida o
inevitável amanhecer. Era preciso adormecer novamente. Era preciso voltar ao mundo dos sonhos. Não havia outra opção. Aquela obra de arte precisava de ser terminada, a obra que finalmente me elevaria sobre todas as grandes mentes da ficção escrita. Adormeci ansioso nessa noite, e acordei igualmente ansioso na versão copiada da minha casa, naquele frio universo de cores incontroláveis que ainda não era capaz de entender. Mais uma vez, a figura de negro permitiu-me um vislumbre das cruéis torturas que se praticavam no Inferno. Não vos ousarei descrever, queridos leitores, os sádicos usos que o Diabo dava a simples instrumentos como palitos ou colheres. Sombrias fumarolas de
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natureza geológica, saídas do solo quente que carbonizava os pés dos condenados, eram também utilizadas para castigos ainda mais bizarros. Desta vez, consegui escrever muitos mais capítulos do que seria a minha obra-prima, minha magnum opus. Achava o meu tétrico benfeitor extremamente benevolente. Dava-me tempo suficiente para observar e descrever todas as informações que considerava relevantes, bem como para estudar e assimilar os segredos dessa outra dimensão que visitava durante o sono. Rapidamente descobri que podia controlar o meu retorno à realidade: bastava um forte fechar de olhos, fechando firmemente as pálpebras. Voluntariamente, comecei a passar menos tempo no mundo real e mais naquele mundo de irrealidades e organismos inimagináveis. Mas um dia o feitiço virar-se-ia contra o feiticeiro. Longos períodos passava eu a redigir o meu amado manuscrito naquele outro universo. Isto até chegar ao capítulo final. O clímax, a derradeira apoteose. Tudo terminaria ali. Depois, o livro seria
publicado e o meu nome, Jon Rickman, ficaria gravado nos anais da História como a denominação do homem que viu o Inferno e voltou para contar a história! Chegara o dia, ou melhor, a noite prometida. Adormeci. E acordei, como esperado, na réplica disforme da minha habitação. Oh meu bendito tugúrio esculpido que me trouxera de volta as alegrias da juventude! Lá estava a fabulosa criatura do manto escuro a que, nos meus escritos, chamava Moros. Novamente me mostrara ele as temíveis paisagens do reino que eu, nos meus textos, descrevera como «Tártaro, o Reino do Caos». Só que, desta vez, ele demonstrou-se mais ousado, fazendo gestos representativos de quem deseja que nos aproximemos. Confiante, assim o fiz. Aproximei-me. E, num gélido abraço, ele ofereceu-me a maior prenda que já alguma vez me poderiam ter oferecido. Quando me largou, desaparecera. Evaporou-se subitamente. Eu, em contrapartida, ainda estava na cópia hedionda da minha casa, mas essa mes-
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Ainda estava na cópia hedionda
minha musa, pela incrível oportunidade que me havia proporcionado, e que eu com tanto gosto aproveitara. Gritei que já não precisava dos seus serviços, que garantidamente acabaria reconhecido para toda a eternidade. Eu testemunhara o Inferno e agora escaparia. Fechei firmemente os olhos. Mas nada aconteceu. O que significa isto? Quer dizer que... Não...
da minha casa, mas essa mesma casa já não estava localizada no mesmo local. Olhei pela janela e confirmei: estávamos no Tártaro. Era este o último presente do grande Moros: a possibilidade de testemunhar ao vivo e em tempo
real os desconfortáveis calores do submundo. Não parei de escrever
Este foi um excerto integral das últimas palavras escritas por Jon Rickman no seu «Livro Sem Nome». Essa bíblia de sadismo e manual de pérfidos atos, capaz de evocar universos de terror puro e descomunal, capaz de revelar verdades para além do alcance humano, ainda hoje reside na secretária daquela casa, só, à espera de ser lido por uma mente mais aventureira... finis
nessa noite. As minhas mãos moviam-se à velocidade da luz, inspiradas pelas chamas ríspidas que por pouco me não consumiam.
ma casa já não estava localizada no mesmo local. Olhei pela janela e confirmei: estávamos no Tártaro. Era este o último presente do grande Moros: a possibilidade de testemunhar ao vivo e em tempo real os desconfortáveis calores do submundo. Não parei de escrever nessa noite. As minhas mãos moviam-se à velocidade da luz, inspiradas pelas chamas ríspidas que por pouco me não consumiam. Finalmente terminado: o capítulo final de uma obra sem título. Com o meu trabalho finalizado, olhei para os céus enevoados pelas cinzas de constantes combustões. De joelhos, agradeci a Moros, 31
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(AUTO)BIOGRAFIA ROMANCEADA
EU, CAMÕES, ME CONFESSO
Segunda-feira, 10 de Junho de 2019. Porque hoje é o meu dia, o dia de Portugal e das Comunidades Portuguesas, apresento-me: o meu nome é Luís Vaz de Camões e vivi em Portugal no século XVI...
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meu nome é Luís Vaz de Camões e vivi em Portugal no século XVI. Aqueles que mais tarde viriam a ocupar-se da minha vida (os meus biógrafos) viram-se em sérios embaraços para sabê-lo, visto que não conseguiram obter documentos seguros a meu respeito. Muitas histórias se inventaram sobre mim, mas, como diria mais tarde, no século XX, um famoso cineasta de origem irlandesa e de nome John Ford, «quando a lenda ultrapassa a realidade, publique-se a lenda...». De qualquer modo, vou, para que a minha apresentação seja mais completa, dizer-vos que nasci em Portugal, em Lisboa, por volta de 1524. A minha família era pobre e pobre vivi sempre. No entanto, e porque, mesmo pobre, a minha família pertencia à nobreza, pude ser educado no contacto com os clássicos gregos e latinos e conhecer toda a literatura e civilização desses dois povos. Li, nomeadamente, os livros que considero os mais importantes do Mundo: os poemas de Homero sobre a Guerra de Tróia – A Ilíada – e sobre as aventuras do sábio Ulisses – A Odisseia – e o poema de Virgílio, narrando as navegações de Eneias – A Eneida. Aprendi também muitas lendas ligadas aos Gregos e Romanos, como a lenda dos Argonautas, navegadores que procuravam encontrar o velo de ouro. E fiquei a saber a mitologia dos Gregos e Romanos e, portanto, as histórias dos seus deuses e deusas. Gostei também de ler coisas relacionadas com o Rei Artur e os Cavaleiros da Távola Redonda, bem como sobre Carlos Magno e os Doze Pares de França. Pude conhecer igualmente outros livros e autores estrangeiros muito admirados e lidos no meu tempo, como Ariosto e Petrarca, e gostei particularmente dos sonetos deste último.
Para além da leitura, ocupava eu o meu tempo em distracções próprias de jovens, como namorar as cachopas bem lindas do meu tempo, em Coimbra, segundo dizem, e mais tarde em Lisboa. Os meus biógrafos haveriam de inventar-me muitas namoradas, nomeadamente entre as donzelas e damas da Corte e mesmo amores por princesas. Não sou eu quem vos dirá se é verdade ou mentira tudo quanto pensaram descobrir porque, aqui para nós, até fico vaidoso de saber de tantos namoros... A verdade é que nem sempre fui muito bem comportado e vi-me envolvido em brigas. É que eu era bom espadachim e ai de quem se metesse comigo! Estive preso por diversas ocasiões, 35
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nomeadamente em Constância, dizem os habitantes dessa linda terra junto ao Tejo. Mas também sobre isso não há certezas e eu, mesmo que me lembrasse, não iria desapontá-los. Frequentei também os serões da Corte e fiz
muitos versos às damas; mais tarde seriam publicados com o título de Lírica. Ganhei fama, adeptos (sobretudo entre as damas) e inimigos, gente invejosa do meu êxito e do meu talento de poeta lírico. 36
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A determinada altura fui para soldado, profissão própria de nobres, e fui combater os Mouros para o Norte de África, zona em que o meu Rei queria obter territórios. A vida na tropa não foi nada boa, porque mesmo quando a guerra é justa – e eu até achava as guerras contra os Mouros justas e santas, pois acreditava serem boas para o meu Rei e para poder levar-se a verdadeira religião a África e ao Oriente – o perigo é grande de morrer jovem ou de ser ferido. E foi isso mesmo que sucedeu: fui ferido em combate e perdi para sempre um dos meus olhos. Eu até era um rapaz jeitoso e com sorte junto das moças, mas algumas, por maldade ou simplesmente porque eram tontas, troçavam de mim por ser cego de um dos olhos, chamando-me “cara sem olhos”. Vingava-me, fazendo versos e até fazendo humor sobre a minha infelicidade... Como estes:
costa africana, o Oceano Atlântico e também o Índico e de ir prestar serviço para Goa, capital do Império Português do Oriente. Claro que eram viagens difíceis, mas gostei muito de poder conhecer novos céus, novos climas, novos usos e costumes tão diferentes dos nossos, novas formas de arte, outras religiões e mulheres lindíssimas como a Bárbara e a Dinamene, de beleza tão diferente das mulheres europeias, duas cativas que de mim fizeram para sempre um cativo seu. Sobre a primeira escrevi eu:
Sem olhos vi o mal claro que dos olhos se seguiu: pois cara sem olhos viu olhos que lhe custam caro. De olhos não faço menção, pois quereis que olhos não sejam; vendo-vos, olhos sobejam, não vos vendo, olhos não são.
Tempos depois, fui enviado para a Índia, dizem alguns que como castigo por mau comportamento, outros que por vingança de algum rival por mim vencido nos amores ou nas brigas. Não me ralei. A verdade é que senti um enorme prazer em poder repetir a viagem que tantos Portugueses já tinham feito antes e que Vasco da Gama, para mim o mais importante herói de Portugal, fizera pela primeira vez em 1498. Gostei de conhecer a
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Aquela cativa Que me tem cativo Porque nela vivo Já não quer que viva
cau escrevi os meus Lusíadas numa gruta adequada ao trabalho de fazer poesia... Acusaram-me de fraudes. Estava inocente, mas tive de regressar a Goa, em cuja prisão passei dias amargos. Por sinal, da minha estadia na prisão existe um retrato. No Oriente fui igualmente vítima de um naufrágio em que quase perdi a vida e no qual salvei a custo Os Lusíadas. Esse naufrágio no rio Mecom deixaria em mim uma enorme tristeza e um grande desalento. É que nele morreu a minha Dinamene, que recordaria sempre com saudade e mágoa.
Tal como tinha acontecido em Lisboa, também por estas bandas me não faltaram inimigos... e a certa altura fui enviado para Macau, com um cargo oficial. Gostei de estar nesse território chinês ocupado por Portugueses. Diz a lenda que em Ma-
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nuador do génio de Homero e Virgílio. Não era fácil publicar um livro em Portugal. Os Portugueses não ligavam muito à arte e à poesia, o que é pena. Pedi audiência ao Rei, um jovem simpático que prometia ser valente – Dom Sebastião – e pedi que me permitisse ler-lhe o meu poema – que aliás lhe dedicava. Se ele aceitasse ouvir-me, haveria de ver que era muito mais importante ser Rei dos Portugueses do que ser Rei do Mundo.
À sua recordação dediquei poemas muito sentidos. É que nunca mais me foi tão doce a vida, após a perda da minha amiga, tão jovem, tão bela, a quem eu tanto amava e que me amava tanto a mim. Sonho muitas vezes com ela, vejoa, chamo-a pelo nome. Dina!... e antes que diga mene acordo e vejo que nem um breve engano posso ter. Regressei algum tempo depois a Portugal e à minha Lisboa. Ao contrário de tantos que na Índia fizeram fortuna rápida, regressei mais pobre do que quando tinha saído. Tanto, que só tive dinheiro para pagar a viagem até à Ilha de Moçambique. Por lá fiquei, até que amigos que vinham da Índia me pagaram o resto da viagem. Em Lisboa aguardava-me, ansiosa, a minha querida mãe, uma das muitas que tinham visto partir os filhos com amargura e medo de os não voltar a ver, como conto no meu livro Os Lusíadas. Vinha fraco, pobre e doente. Tive, felizmente, o apoio de um escravo que veio comigo. Melhor direi, de um grande amigo, o António, mais conhecido por Jau, por ser natural da Ilha de Java. Muito lhe devo pela amizade e até porque muitas vezes pedia esmola para eu poder sobreviver. Tratei de conseguir a publicação do meu livro, em que procurei ser um digno conti40
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O Rei aceitou ouvir-me longamente e os seus olhos brilhavam de entusiasmo ao ouvir a história do povo lusíada, ou português, bem mais importante que as muitas histórias dos antigos, já cantadas por Homero e Virgílio. Após a leitura, agradeceu e prometeu pagarme uma pensão razoável até ao fim dos meus dias. Nem sempre a pensão chegou, porque os Reis são bem mais rápidos a prometer do que a cumprir algumas das suas promessas... Também é certo que o jovem Rei estava envolvido na preparação de uma expedição militar a Marrocos (mal ele sabia que aí haveria de perder a vida...), e essas coisas de guerras exigem muito dinheiro... Seja como for, e isso é que importa, o meu livro foi publicado em 1572, e com tanto êxito que logo nesse ano houve uma segunda edição. É bom que eu diga aos meus jovens leitores do século XXI que, nessa altura, pouca gente sabia ler. De mim ficaram os meus versos, as composições líricas (em que trato de assuntos sentimentais, emotivos), algumas peças de teatro – EIrei Seleuco, Anfitriões, Filodemo... Mas a minha melhor e mais conhecida obra é, de facto, Os Lusíadas.
e daquilo que há de melhor no povo português. Tanto que, mais tarde, transferiram o que restava do meu corpo para o Mosteiro dos Jerónimos, para um túmulo junto ao de Vasco da Gama, onde hoje sou visitado por muitos Portugueses e estrangeiros, que me põem umas flores de vez em quando. Muitos desses visitantes, se calhar, nunca me leram, mas ouvem falar de mim como um dos grandes poetas da humanidade e como símbolo da nossa Pátria. Por isso, a data da minha morte, 10 de Junho, é assinalada como dia Feriado: o Dia de Portugal.
Já chega de tanto falar de mim. Afinal, se hoje sou conhecido em todo o Mundo, tal se deve aos meus poemas e não à minha vida como pessoa. E se a vida me não correu muito bem, depois da minha morte tornaram-me o símbolo da nossa Pátria
AMÉLIA PINTO PAIS
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Com que voz chorarei meu triste fado, que em tão dura paixão me sepultou. Que mor não seja a dor que me deixou o tempo, de meu bem desenganado. Mas chorar não se estima neste estado aonde suspirar nunca aproveitou. Triste quero viver, pois se mudou em tristeza a alegria do passado. Assim a vida passo descontente, ao som nesta prisão do grilhão duro que lastima ao pé que a sofre e sente. De tanto mal, a causa é amor puro, devido a quem de mim tenho ausente, por quem a vida e bens dele aventuro. Luís Vaz de Camões (1524-1580)
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HINO DE PORTUGAL
A HISTÓRIA DO HINO NACIONAL O Hino Nacional, também conhecido pela “Portuguesa”, foi composto em 1890 como uma canção de protesto na sequência do Ultimato Inglês. Adoptada pelos Republicanos, veio a transformar-se, em 1911, no Hino de Portugal. A letra de «A Portuguesa» foi escrita por Henrique Lopes de Mendonça e a música composta por Alfredo Keil. POR ISIDRO SOUSA
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Hino Nacional de Portugal, também conhecido como «A Portuguesa», é – tal como a Bandeira de Portugal – um dos símbolos nacionais da nação lusitana. Com versos bem escritos, as palavras que o compõem são fortes e contam resumidamente a história do (nosso) País. Aliás, como se consegue perceber ao ler a letra do Hino, a canção tem um carácter patriótico e é, de certo modo, instigante. Mas isso não acontece por acaso, pois a história da criação do Hino remonta às conquistas e domínios de Portugal em África... A História mostra que, no final do século XIX, quando Angola e Moçambique eram ainda colónias portuguesas, os Portugueses tinham a intenção de dominar os territórios desses dois países africanos, num projecto denominado “mapa corde-rosa”. Entretanto, a Inglaterra não gostou do “mapa cor-de-rosa” e intrometeu-se, dando um ultimato aos Portugueses que exigia a sua retirada dos territórios africanos. A imposição foi considerada uma afronta ao País, todavia, a Coroa Portuguesa, apesar dos protestos, pouco pôde fazer para reverter a situação. No entanto, a reacção popular contra os Ingleses e contra o Governo português, que permitiu esse género de humilhação, não tardou a manifestar-se... Exaltando o seu nacionalismo, os Portugueses criaram, imediatamente, uma canção de protesto intitulada «A Portuguesa», que seria usada, desde então, como símbolo patriótico, não obstante o Rei de Portugal ter proibido a execução desse novo Hino para Portugal. Composta (ainda) no período monárquico, em 1890, com letra de Henrique Lopes de Mendonça e música de Alfredo Keil, «A Portuguesa» nasceu,
desse modo, como uma canção de cariz patriótico em resposta ao Ultimato Inglês. A ideia de Henrique Lopes de Mendonça, o seu compositor, era que a música servisse de inspiração para que as tropas portuguesas não abandonassem as suas posições nos países africanos. Aliás, a ideia foi rapidamente adoptada pelos revolucionários republicanos, que cantaram «A Portuguesa» no ano seguinte... quando, no dia 31 de Janeiro de 1891, tentaram, no Porto, um primeiro golpe de Estado (falhado) que pretendia derrubar a Coroa e implantar a República em Portugal.
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De facto, esta canção, que fora proibida pelo regime monárquico, já aparecia como a opção dos Republicanos para se transformar em Hino Nacional... e isso viria a concretizar-se, efectivamente, volvidas duas décadas. Após a instauração da República Portuguesa, a 5 de Outubro de 1910, a canção voltou a ouvir-se nas ruas e, por sugestão dos Republicanos, a Assembleia Nacional Constituinte consagrou-a, no dia 19 de Junho de 1911, como Hino Nacional de Portugal. De igual modo, «A Portuguesa» foi designada, na Constituição de 1976, como um dos símbolos nacionais de Portugal, constando no Artigo 11°, nº 2, da Constituição da República Portuguesa (Símbolos Nacionais e Língua Oficial): «O Hino Nacional é A Portuguesa.» Contudo, é importante frisar que o Hino Nacional nem sempre foi como hoje é conhecido, pois passou por mudanças significativas ao longo dos tempos. Em 1956, por exemplo, existiam várias versões do Hino português, não só na linha melódica mas também nas instrumentações, especial-
mente para banda, pelo que o Governo nomeou uma comissão encarregada de estudar uma versão oficial de «A Portuguesa». Essa comissão elaborou uma proposta que seria aprovada em Conselho de Ministros a 16 de Julho de 1957 – mantendo-se o Hino inalterado deste então. Até hoje. A versão completa de «A Portuguesa», que originalmente tinha uma letra um tanto ou quanto diferente e em cuja música (que também foi sofrendo algumas alterações) se nota uma influência clara do Hino Nacional francês, «La Marseillaise», também ele um símbolo revolucionário, afirmava a independência e apelava ao patriotismo contra
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os “bretões”; os Ingleses eram chamados pelos Portugueses pejorativamente de “bretões”, sendo este termo substituído, na versão actual, pela palavra “canhões”. Onde hoje se diz «contra os canhões marchar, marchar!» dizia-se «contra os bretões marchar, marchar!», ou seja, contra os Britânicos marchar, marchar! Porém, por uma questão diplomática, os “bretões” foram substituídos por “canhões” e a alusão foi menos directa, embora de acordo com o historiador Rui Ramos a versão original tenha sido sempre a primeira, sendo que a segunda surgiu de patriotas pós-1890 – e veio substituir o Hino que estava então em vigor, desde 1834, denominado de Hino Monárquico Português... ou «Hymno da Carta», na grafia antiga. O Hino Monárquico havia sido escrito pelo Rei Dom Pedro IV [imagem ao lado, nesta página] em homenagem à Carta Constitucional que o próprio outorgou aos Portugueses em 1826 e foi o Hino Nacional de Portugal que esteve vigente entre Maio de 1834 e Outubro de 1910. Esse Hino generalizou-se com a denominação de «Hymno da Carta», tendo sido considerado oficialmente Hymno Nacional e por isso obrigatório em todas as solenidades públicas, a partir de Maio de 1834. A sua letra, igualmente bonita, era esta:
(Coro) Viva, viva, viva ó Rei Viva a Santa Religião Vivam Lusos valorosos A feliz Constituição A feliz Constituição II Ó com quanto desafogo Na comum agitação Dá vigor às almas todas Divinal Constituição
I Ó Pátria, Ó Rei, Ó Povo, Ama a tua Religião Observa e guarda sempre Divinal Constituição
(Coro) Viva, viva, viva ó Rei
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Viva a Santa Religião Vivam Lusos valorosos A feliz Constituição A feliz Constituição III Venturosos nós seremos Em perfeita união Tendo sempre em vista todos Divinal Constituição (Coro) Viva, viva, viva ó Rei Viva a Santa Religião Vivam Lusos valorosos A feliz Constituição A feliz Constituição IV A verdade não se ofusca O Rei não se engana, não, Proclamemos, Portugueses Divinal Constituição (Coro) Viva, viva, viva ó Rei Viva a Santa Religião Vivam Lusos valorosos A feliz Constituição A feliz Constituição
Com a música do «Hymno da Carta» compuseram-se variadas obras de natureza popular (modas) ou dedicadas a acontecimentos e personalidades de relevo, identificando-se em pleno com a vida política e social dos últimos 70 anos da Monarquia em Portugal. Depois da implantação da República, em 5 de Outubro de 1910, o «Hymno da Carta» foi substituído pela canção «A Portuguesa», que havia sido escrita em 1890 (em-
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bora noutro contexto), sendo esta consagrada, desde então e até hoje, como Hino Nacional português. O poema original do Hino actual é composto por três partes, e cada uma das partes tem duas quadras (estrofes de quatro versos) seguidas do refrão, uma sextilha (estrofe de seis versos). É de salientar que, das três partes do poema, apenas a primeira foi oficializada como o Hino Nacional que é usado em cerimónias oficiais, sendo as outras duas partes praticamente desconhecidas já que não constam na versão oficial do Hino Nacional. Normalmente, ouvimos o Hino de Portugal na versão abreviada, de pouco mais de um minuto, em jogos de futebol ou em eventos comemorativos, cuja letra é esta:
Heróis do mar, nobre povo, Nação valente, imortal, Levantai hoje de novo O esplendor de Portugal! Entre as brumas da memória, Ó Pátria, sente-se a voz Dos teus egrégios avós, Que há-de guiar-te à vitória! Às armas, às armas! Sobre a terra, sobre o mar, Às armas, às armas! Pela Pátria lutar! Contra os canhões Marchar, marchar!
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No entanto, a versão completa de «A Portuguesa» chega a durar cinco minutos. Eis a sua letra (definitiva), após as alterações de 1957:
O sinal de ressurgir. Raios dessa aurora forte São como beijos de mãe, Que nos guardam, nos sustêm, Contra as injúrias da sorte.
I Heróis do mar, nobre povo, Nação valente, imortal, Levantai hoje de novo O esplendor de Portugal! Entre as brumas da memória, Ó Pátria sente-se a voz Dos teus egrégios avós, Que há-de guiar-te à vitória!
Às armas, às armas! Sobre a terra e sobre o mar, Às armas, às armas! Pela Pátria lutar! Contra os canhões marchar, marchar!
Sendo «A Portuguesa» a canção que representa a nação portuguesa, desde 1911 até à actualidade, ela deve ser executada, oficialmente, em cerimónias nacionais, civis e militares, quando é prestada uma homenagem à Pátria, à Bandeira Nacional ou ao Presidente da República. De igual modo, também se executa em cerimónias oficiais no território português como, por exemplo, quando um chefe de Estado estrangeiro é recebido em Portugal e precisa ser saudado – nestes casos, a sua execução é obrigatória depois de se ouvir o Hino do país representado. Embora o (nosso) Hino seja também cantado, obviamente, noutras ocasiões especiais... como em partidas da Selecção Portuguesa em jogos oficiais e amistosos.
Às armas, às armas! Sobre a terra, sobre o mar, Às armas, às armas! Pela Pátria lutar! Contra os canhões marchar, marchar! II Desfralda a invicta bandeira À luz viva do teu céu! Brade a Europa à terra inteira: Portugal não pereceu Beija o solo teu jucundo O oceano, a rugir d’amor, E o teu braço vencedor Deu novos mundos ao Mundo! Às armas, às armas! Sobre a terra e sobre o mar, Às armas, às armas! Pela Pátria lutar! Contra os canhões marchar, marchar! III Saudai o Sol que desponta Sobre um ridente porvir; Seja o eco de uma afronta
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CONTO
A MENINA E A CADELA VIRA-LATA INALDO TENÓRIO DE MOURA CAVALCANTI Poeta/escritor pernambucano, natural da cidade da Pedra, PE, reside em Recife, PE, Brasil. Publicou vários livros: «Cúmplices» (1993), «Assim se Fez» (2002), «O Recanto Sagrado da Luz» (2008), «Guardados» (2010), «Meu Pai e Outros Contos» (2012), «O Colecionador de Cavalos» (2013), «Paisagens da Janela» (2014), «De Onde se Pode Ver o Invisível» (2015) e «História de Esquecimento» (2016). Em e-book, tem os seguintes livros publicados pela Amazon: «História de Esquecimento», «Paisagens da Janela», «O Colecionador de Cavalos» e «Cadeira de Balanço». Além de ter participações em diversas antologias no Brasil, é membro da União Brasileira de Escritores, PE. Perfil no Facebook: www.facebook.com/odl.ani.1
“A menina estirou as pernas. A cachorra não se mexeu. Sentiu que a cachorrinha estava ao seu lado, quase faz um gesto de alegria; em outra situação teria corrido, jogado alguma coisa para ela pegar, brincado com ela. Não teve nem forças para sorrir. Alisou sua barriga, muito vagamente, mão trêmula; sua mão foi lambida com alegria, o rabo balançando, batendo em suas pernas. A cachorra despertou de vez. A menina não abriu os olhos. Limpou sua boca, já limpa pelas lambidas da cadela, sim, se conheciam, menina e vira-lata. Ela a encontrou. Esticou as pernas mais uma vez, como se atleta aquecendo-se, ou bailarina. Esse era seu sonho: ser bailarina para ajudar a família.” POR INALDO TENÓRIO DE MOURA CAVALCANTI
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que ela não conhecia, talvez de sua mãe, quando ainda em sua barriga, talvez de um poder divino: que ela não tinha lembrança se existia. O vômito saiu forte, «Eita que a cachaça foi grande!», gritou um gaiato, sem prender o olhar na menina. Alguns riram. Quem se aproximou dela foi uma cadela viralata, talvez a conhecesse, lambeu sua boca, como se a reconhecendo, e comeu o vômito.
Desse tamanho, não deve ter nem dez anos, e já bêbada, a essa hora da manhã», disse uma senhora muito bem vestida, sapato alto, que passava naquele lugar, sob as marquises de um prédio na Avenida Guararapes; e quase cospe nela, tão enojada estava, e revoltada também com a situação, «É uma delinquente que vive roubando, malandrinha!», e passa, virando o rosto para o outro lado. Perto dela estava um homem, bem mais humilde nos trajes e na fala, mas baixando a cabeça em sinal de concordância, «Deve ser mesmo», e também se vai, indiferente ao que deixa para trás. Muitos nem olhavam para ela, movimento grande naquela hora. Os passageiros dos ônibus olhavam, também com total desprezo, e teciam seus comentários sem olhar direito para quem estava ao seu lado. Que também concordava sem nem ter entendido o que fora dito pelo outro. A vida na cidade ia seguindo seu rumo e a menina seguindo seu calvário, seu sofrimento. Gemia e se espremia, se enrolava em seu próprio corpo, como a se proteger; ou se entregar a um poder
A cachorrinha se recostou a ela, que estava estirada, e ficou a lamber seu rosto. Grunhia, como se chorando;
chorava, como se grunhisse, buscando acordá-la.
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A menina parou. A dor cedera, dera um tempo. Ou a derrubara, acabando com suas forças. A cachorrinha se recostou a ela, que estava estirada, e ficou a lamber seu rosto. Grunhia, como se chorando; chorava, como se grunhisse, buscando acordá-la. Dorme sobre o corpo da garota, quase junto à sua barriga. Dormiram. Quase meio-dia. O sol ainda não chegara lá. Os passantes nem olhavam mais para ela. A cena era tranquila, linda, não fora a dor, a sujeira, a fraqueza, o lugar, a criança na rua, a fome, a indiferença. A cena era linda. A menina estirou as pernas. A cachorra não se mexeu. Sentiu que a cachorrinha estava ao seu lado, quase faz um gesto de alegria; em outra situação teria corrido, jogado alguma coisa para ela pegar, brincado com ela. Não teve nem forças para sorrir. Alisou sua barriga, muito vagamente, mão trêmula; sua mão foi lambida com alegria, o rabo balançando, batendo em suas pernas. A cachorra despertou de vez. A menina não abriu os olhos. Limpou sua boca, já limpa pelas lambidas da cadela, sim, se conheciam, menina e vira-lata. Ela a encontrou. Esticou as pernas mais uma vez, como se atleta aquecendo-se, ou bailarina. Esse era seu sonho: ser bailarina para ajudar a família. Nove anos. Jeito de sete. Tamanho de sete. Dor de adulta. Sofrimento de gente grande. Enquanto sofria, sabendo ser observada e desprezada por muitos que a pensavam bêbada, era uma descul-
Enquanto sofria, sabendo ser observada e desprezada por muitos que a pensavam bêbada, era uma desculpa, pensava em suas três irmãs mais jovens, como se adulta, pensando como ajudá-las.
pa, pensava em suas três irmãs mais jovens, como se adulta, pensando como ajudá-las. Mãe não tem. A mãe sumiu há alguns anos, as
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que não eram suas, «Vou cuidar de minhas irmãs», dizia ela do alto de sua inocência para a tia. E ouvia mil palavras, nenhuma de delicadeza. «Como estão minhas irmãs?» se perguntou em pensamento, enquanto sofria com uma forte dor abdominal, talvez uma comida estragada. O vômito expulsou o mal. Deve ter expulsado. Ao seu lado, uma sacola com alguns objetos. Ela abriu os olhos, estava mais corada, sorria timidamente para a cachorra, que a observava com cuidado, alisou sua cabeça, a beijou. «Vai passar a manhã toda aí?», chega o guarda, vigilante do banco ao lado, Banco do Brasil, tanto dinheiro e as irmãs dela passando fome em casa. A cachorra latia e fugia, vira-lata que era, mas sem deixar a menina para trás. Ela olha para o guarda mas não responde; não diz nenhum dos tantos palavrões que já aprendeu antes mesmo de começar a viver, ele merecia todos, levantou, pegou sua sacola e saiu, chamando a cadela, que a seguiu alegremente; estava fraca, olhar distante, talvez sentindo fome. Olhou dentro da sacola, pão, mortadela, um pacote de bis-
A mãe sumiu há alguns anos, as crianças ficaram com uma tia que não tinha jeito de mãe, nem paciência de mãe, nem calor de mãe. Nem espaço, nem comida para tanta cria que não eram suas, «Vou cuidar de minhas
irmãs», dizia ela do alto de sua inocência para a tia. E ouvia mil palavras, nenhuma de delicadeza.
crianças ficaram com uma tia que não tinha jeito de mãe, nem paciência de mãe, nem calor de mãe. Nem espaço, nem comida para tanta cria
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coito recheado, um refrigerante de um litro. Quase sorriu. Não estivesse fraca, teria sorrido; e saía pulando de alegria, doida para chegar ao barraco e ver as irmãs felizes a comer tudo. Atravessou a Avenida Guararapes, pegou a Ponte Duarte Coelho, desceu à esquerda, na Rua da Aurora. Iria para os Coelhos, onde fica o barraco de sua tia. Na frente do Cinema São Luiz, na beira do rio, sentou novamente: a fraqueza, a febre. Deitou, a cachorra deitou a seu lado, parecia sofrer com ela, em um grunhido de dor. Dormiu. Apagou.
A cachorra latia com quem tentava se aproximar. Se aproximaram, vira-lata que era, fugiu, mas ficou a olhar, a olhar a menina como se cuidando dela. Sem se mexer. Sem sinal. Nenhum sinal de fôlego na irmã das crianças, como adulta pensava ela, cuidar da família. Como se mãe. Recolheram a menina com sua sacola e levaram na ambulância, barulho grande de sirene na Avenida Conde da Boa Vista, em direção ao Hospital da Restauração, para restaurar a vida da irmã das crianças, amiga da cachorra que ia correndo atrás, quase sendo atropelada.
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JORGE PINCORUJA Residente em Londres, escreve sempre em Português. Embora a sua escrita seja maioritariamente em verso ou prosa poética, de vez em quando escreve contos. Nascido na Beira Alta, tem por meta escrever de forma original e muito sua. Umas vezes melódica, outras vezes ríspida, mas sempre com verdade. Já com algumas obras editadas, pretende deixar um cunho próprio na escrita que se faz actualmente. Participou nas antologias «A Bíblia dos Pecadores», «Vendaval de Emoções», «Devassos no Paraíso» e «Sinfonia de Amor» da Colecção Sui Generis. Perfil no Facebook: www.facebook.com/jorge.pincoruja
QUEM NÃO SABE, INVENTA Saber escrever não é o mesmo que escrever bem. Nem os poemas são redações, ainda que haja redações cheias de poesia. Quem diz que a poesia não tem regras é um terrorista!... Não é a palavra que tem beleza... mas a beleza mostra-se na palavra. Saber usar as palavras com beleza é um segredo que só a inspiração do poeta possui. Há poemas que são afrontas, mas são afrontas belas, e não digam que a poesia não tem regras – a poesia não é uma anarquia de versos. A única regra que a poesia tem chama-se: talento! Um dia entenderão que a poesia pode-se vestir de muitos andrajos, mas o poeta sempre a vê nua de corpo e alma. Que pode importar um belo pensamento se ao colocar-se no papel tem a aparência de um gato bravo? Que importa fazer piar a gaivota no alto dos céus se depois a matam com trovões? De que adianta enfeitar poemas com rosas, quando as rosas já são poemas? Que importa falar de um sentimento quando já se esqueceu o sentir? Porquê falar de amor se é incapaz de se amar a si mesmo? Porquê escrever sobre mágoa se não sabe sentir a tristeza do outro? Que efeito terá escrever poemas à Lua quando esta vive num eclipse total? Escrever bem não quer dizer que se seja um bom poeta... porque há poetas que nem sequer escrevem, porque há poetas que recusam tal título – só sentem! O sentir ninguém sabe nem pode plagiar! 60
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LANÇAMENTO
SINFONIA
DE AMOR Antologia literária reúne contos, crónicas, cartas e poesias de 75 autores lusófonos. Organizada por Isidro Sousa para a Colecção Sui Generis.
Luciana Bessa, Lucinda Maria, Luís Cardoso, Luís Fernandes, Luís Vaz de Camões, Luiz A. G. Rodas, Machado de Assis, Maria Alcina Adriano, Maria Isabel Góis, Maria Lascasas, Mário Quintana, Marisa Luciana Alves, Marizeth Maria Pereira, Marli Voigt, Marta Maria Niemeyer, Mary Rosas, Olavo Bilac, Olímpia Gravouil, Paula Homem, Rodrigo Ortiz Vinholo, Rosa Marques, Sandra Ramos, Sara Timóteo, Simone Lima, Sónia Fernandes, Sónia Maio, Tayná Messi, Teófilo Braga, Tiago Sousa, Tito Lívio, Vidânia Macossa, Vieirinha Vieira e Wellington L. Barbosa Jr. Esta obra literária encontra-se à venda na livraria online Euedito, na Libros.cc, na Amazon, na loja online do El Corte Inglés e em algumas outras plataformas de distribuição digital. E pode ser adquirida directamente à Sui Generis, pelo email letras.suigeneris@gmail.com ou através das páginas na rede social Facebook.
Sinfonia de Amor é uma obra colectiva organizada e coordenada por Isidro Sousa para a Colecção Sui Generis e editada com a chancela Euedito. Reúne ao longo de 300 páginas contos, crónicas, cartas e poesias sobre todas as formas de amor, redigidos por 66 autores lusófonos contemporâneos, cujos textos se mesclam com (outros) textos de 9 autores clássicos tais como Florbela Espanca, Machado de Assis, Fernando Pessoa, Mário Quintana, Olavo Bilac, entre outros. Eis os seus nomes por ordem alfabética: Alberto Caeiro, Aldir Donizeti Vieira, Alsoupe, Amélia M. Henriques, Anderson Furtado, André Magalhães, Angelina Violante, Anna Civolani, Auridea Moraes, Balthasar Sete-Sóis, Bhetty Brazil, Bocage, Caesar Charone, Caio Fernando Abreu, CAren DiLima, Carlos Viegas, Catarina Pedrosa, Cinthia Gonçalez, Clécio Azevedo, Cristina Sequeira, David Sousa, Diamantino Bártolo, Douglas Lobo, Eduardo Ferreira, Estêvão de Sousa, Fátima d’Oliveira, Fátima Soares, Florbela Espanca, Francisco José Pinheiro de Souza, Gilton Carlos, Irene Serrão, Isabel Martins, Isidro Sousa, Isolina Carvalho, Jeferson Sabran, Joaquim Matias, Jonnata Henrique, Jorge Gaspar, Jorge Pincoruja, Juliana Castro, Lenilson de Pontes Silva, Lira Vargas,
Sinfonia de Amor – Contos, Crónicas, Cartas e Poesias. Vários Autores. Organização e Coordenação Isidro Sousa. Colecção Sui Generis, Euedito. ISBN 978-989-8896-71-1. 1ª Edição: Dezembro 2018. Depósito Legal: 450089/18.
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APRESENTAÇÃO
SINFONIA DE AMOR ISIDRO SOUSA Nasceu em 1973, numa aldeia remota das Terras do Demo, concelho de Moimenta da Beira, e reside no Porto. Jornalista e editor de publicações periódicas desde 1996, fundou, dirigiu e editou revistas, jornais e guias turísticos, publicou a primeira antologia em Fevereiro de 2001, colaborou com três editoras, participou em várias dezenas de obras colectivas, foi distinguido num concurso literário e é o responsável pelos projectos da Sui Generis, que criou em Dezembro de 2015. Publicou três livros de contos e novelas: «Amargo Amargar», «O Pranto do Cisne» e «De Lírios».
“Muitas pessoas expressam os seus sentimentos mais profundos através de mensagens de amor, declarações de amor ou poemas de amor, que compartilham com pessoas especiais, e a literatura é fértil nessa área. Além disso, não se pode olvidar que o amor tem também um papel social, alimentando outras acções e sentimentos como a solidariedade, sendo igualmente
Páginas no Facebook: www.facebook.com/isidro.sousa.1 www.facebook.com/isidro.sousa.2 Blogue do Autor: http://isidelirios.blogspot.com
um dos temas mais importantes de várias formas de arte. Esta obra colectiva procurou abranger todos os tipos de amor, em diferentes géneros literários...” POR ISIDRO SOUSA
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amor é uma emoção ou um sentimento ao problema da existência humana”. de carinho e demonstração de afecto que Há, de facto, diversas definições e tipos de se desenvolve entre seres que possuem a amor, que diferem de caso para caso, dependencapacidade de o demonstrar. Provoca entusiasmo do das pessoas e circunstâncias. O amor físico, por por algo e interesse em fazer o bem (a outra pesexemplo, representa o amor entre casais, sentisoa ou a uma coisa), motiva a necessidade de promento que envolve uma forte relação afectiva e, tecção e manifesta-se de diferentes formas: amor em geral, de natureza sexual. O amor a Deus dematerno ou paterno, amor monstra uma ligação de carácfraterno, amor físico, amor ter religioso, um sentimento platónico, amor à vida, amor de devoção e adoração, único Voltaire afirma que o amor pela Natureza, amor pelos anie impossível de ser descrito é um presente da Natureza, mais, amor altruísta, amor incom exactidão. Já o amor proicondicional, amor-próprio, etc. bido acontece quando o relaalgo que podemos embeleO termo deriva do latim cionamento entre duas pessozar usando a nossa mente. amore, palavra que tinha jusas não é permitido, e por vePara Aristóteles o verdadeitamente o mesmo significado zes os amores proibidos são que actualmente tem: sentios mais almejados. ro amor significa que duas mento de afeição, paixão e Muitas pessoas expressam pessoas têm uma conexão grande desejo. Mas definir o os seus sentimentos mais proúnica, como se fossem uma que é o amor não é tarefa fáfundos através de mensagens cil, pois pode representar algo de amor, declarações de amor só. E Sófocles defende distinto para cada pessoa. ou poemas de amor, que comque o amor tem um poder Menciono alguns exemplos... partilham com pessoas espede libertação inigualável, O filósofo francês Voltaire ciais, e a literatura é fértil nesafirma que o amor é um presa área. Além disso, não se poremove a dor e faz-nos sente da Natureza, algo que de olvidar que o amor tem voar. Segundo Platão, podemos embelezar usando a também um papel social, alio amor transforma-nos, nossa mente. Para Aristóteles mentando outras acções e o verdadeiro amor significa sentimentos como a solidariedá-nos novas forças; quem que duas pessoas têm uma dade, sendo igualmente um ama vê tudo mais bonito, e conexão única, como se fosdos temas mais importantes tem vontade de expressar sem uma só. E Sófocles defende várias formas de arte. de que o amor tem um poder o amor com a eloquência de libertação inigualável, ree o fogo de um poeta. move a dor e faz-nos voar. Segundo Platão, o amor transforma-nos, dá-nos novas forças; quem ama vê tudo mais bonito, e tem vontade de expressar o amor com a eloquência e o fogo de um poeta. Por fim, o psicólogo Erich Fromm diz que existimos para amar, nascemos com o desejo de amar e de sermos amados; amar dá sentido e propósito às nossas vidas e o amor é “a única resposta sã e satisfatória 66
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Esta obra colectiva procurou abranger todos os tipos de amor, em diferentes géneros literários. E embora o amor físico predomine na maioria dos textos – razão pela qual se optou por uma capa de livro romântica – resultou numa belíssima antologia que inclui contos, cartas, crónicas e poemas sobre o amor, diversas formas de amor, uma autêntica Sinfonia de Amor construída por 66 autores lusófonos contemporâneos, cujos textos se mesclam com (outros) textos de 9 autores clássicos já desaparecidos: Florbela Espanca, Machado de Assis, Fernando Pessoa, Caio Fernando Abreu, Camões, Mário Quintana, Bocage, Olavo Bilac e Teófilo Braga.
Amar, para mim, está intimamente ligado a viver. É mais do que sentir, pois também os animais sentem quando chega a altura de um determinado comportamento, é mais do que querer, é mais que a aproximação em tempos de carência afectiva, é mais do que o desejar e suspirar e voar e sonhar... Porque o amor é o que resta quando o desejo se esvai e geme quando o suspiro sofre e dá alento quando se aterra de um voo que não correu bem e alimenta a alma quando é preciso acordar de um sonho lindo para a realidade e querer quando o outro quer mas não quer e sorrir um riso chorado no alento que o outro demanda
e dar e viver e receber e morrer e olhar e nascer... 67
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rida que dói e não se sente, / É um contentamento descontente...» Também tu, você... é digno de amar. De ser amado. E merece viver o que daí se retira; de bom, menos bom, e do outro e de si e de ambos para os dois rumo àquilo que quer conquistar. Porque a idade é de amar, interiorizar e sentir e gritar: «E é amar-te assim, perdidamente, / E é seres alma e sangue e vida em mim / E dizê-lo cantando a toda a gente...» Friso novamente: dignidade para o amor precisa-se. Não sejamos estéreis às sementes que surgem. E boas leituras!
Antes de terminar, devo referir que amar, para mim, está intimamente ligado a viver. É mais do que sentir, pois também os animais sentem quando chega a altura de um determinado comportamento, é mais do que querer, é mais que a aproximação em tempos de carência afectiva, é mais do que o desejar e suspirar e voar e sonhar... Porque o amor é o que resta quando o desejo se esvai e geme quando o suspiro sofre e dá alento quando se aterra de um voo que não correu bem e alimenta a alma quando é preciso acordar de um sonho lindo para a realidade e querer quando o outro quer mas não quer e sorrir um riso chorado no alento que o outro demanda e dar e viver e receber e morrer e olhar e nascer... Acima de tudo, há uma dignidade no amor que cabe, a todos nós, preservar. A pessoa vale pela capacidade de amar e de sentir o que Camões anuncia: «Amor é fogo que arde sem se ver, / É fe-
Pode adquirir o livro Sinfonia de Amor na livraria Euedito, na Amazon, na Libros.cc e na loja online El Corte Inglés. Se preferir, pode solicitá-lo directamente à Sui Generis (temos exemplares disponíveis para envio imediato, com desconto de 10% no PVP e oferta dos portes de envio para moradas portuguesas). Encomendas à Sui Generis devem ser feitas através do Messenger, na rede social Facebook, ou pelo email: letras.suigeneris@gmail.com
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ANTOLOGIA «SINFONIA DE AMOR»
75 AUTORES
LUSÓFONOS BREVE NOTA BIOGRÁFICA DE TODOS OS AUTORES
ALBERTO CAEIRO – Heterónimo de Fernando Pessoa (1888-1935), um dos mais importantes escritores da Língua Portuguesa e figura central do Modernismo português. Poeta lírico e nacionalista, cultivou uma poesia voltada aos temas tradicionais de Portugal e ao seu lirismo saudosista, que expressa reflexões sobre o seu eu profundo, as suas inquietações, a sua solidão e o seu tédio. Sendo vários poetas ao mesmo tempo, criou heterónimos – poetas com personalidades próprias, que escreveram a sua poesia. Tendo sido plural, construiu personalidades próprias para os vários poetas que conviveram nele. Cada um tem a sua biografia e traços diferentes de personalidade. Os poetas não são pseudónimos e sim heterónimos, isto é, indivíduos diferentes, cada qual com o seu mundo próprio, representando o que angustiava ou encantava o seu autor. Sobre Alberto Caeiro, Fernando Pessoa definiu: «Nasceu em Lisboa, em 16 de Abril de 1889. Órfão de pai e mãe, só teve instrução primária e viveu quase toda a vida no campo, sob a protecção de uma tia. Poeta de contacto com a Natureza, extraindo dela os valores ingénuos com os quais alimenta a alma. Para Caeiro, tudo é como é, tudo é assim como é assim, o poeta reduz tudo à objectividade, sem a mediação
do pensamento. O poema “O Guardador de Rebanhos” mostra a forma simples e natural de sentir e dizer desse poeta. Alberto Caeiro morreu tuberculoso, em 1915.» 71
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ALDIR DONIZETI VIEIRA [foto em cima] – Brasileiro, natural de Goiânia, GO, graduado e licenciado em Filosofia pela UFG, Bel. em Direito pela UniAnhanguera, especializado em Direito Penal pela PUC, e mestrado em Educação. É professor, advogado, escritor e poeta, membro da Academia Virtual dos Poetas da Língua Portuguesa. Autor das obras seleccionadas em concurso: «Consciência», «O Universo da Razão», «Asas ao Infinito» e «Mensagens Poéticas». Participou nas antologias «Saloios & Caipiras», «Fúria de Viver» e «Tempo de Magia», da Colecção Sui Generis.
ção artística. É artista plástica; participa em várias exposições individuais e colectivas, em Portugal e no estrangeiro, destacando-se a última exposição colectiva, em Outubro de 2015, no Carrossel do Louvre, em Paris. É também artesã e faz parte do projecto-loja comunitária Artyspinho, destacandose como ceramista e em joalharia com peças únicas; em 2013, foi seleccionada por oito designers de Nova Iorque. Editou um livro de poesia: «Manta de Retalhos» (Artelogy, 2015). Participou nas antologias «O Beijo do Vampiro», «Vendaval de Emoções», «Graças a Deus!», «Torrente de Paixões», «Fúria de Viver», «A Primavera dos Sorrisos», «Tempo de Magia», «Devassos no Paraíso» e «Luz de Natal» da Colecção Sui Generis. Formada também em Línguas, fala quatro idiomas. Gosta de viajar, pratica natação e não vive sem a música; é fã de jazz.
ALSOUPE – Alfredo de Sousa Pereira (ALSOUPE) nasceu em 1940 em Riachos (Torres Novas), onde vive. De 1961 a 1975 residiu em Moçambique. Em 2012 editou um livro de poesias intitulado «Os Caminhos do Poeta». Desde então já participou em mais de quarenta obras colectivas em Portugal e no Brasil. Em 2015 foi “Poeta do Ano” pela Literarte.
ANDERSON FURTADO – Nasceu no Verão do Hemisfério Sul no ano de 1987, em Maringá, PR, Brasil, onde reside até hoje. Graduado em Artes Visuais, lecciona nessa área. Tem como paixões desenhar, fotografar, cinema, compor músicas, tocar guitarra, ler e escrever. Participou na colectânea
AMÉLIA M. HENRIQUES [foto em cima à direita] – Nasceu em 1963, em Espinho, onde reside. Os seus gostos e hobbies são, na maioria, de inclina72
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«Contos Macabros – Demônios Internos, Mortes Demoníacas» da editora brasileira PenDragon e nas antologias «O Beijo do Vampiro», «Vendaval de Emoções», «Torrente de Paixões», «Fúria de Viver» e «Tempo de Magia» da Colecção Sui Generis. Mantém um blogue, onde publica um pouco da sua arte, e tem uma página de humor e crítica no Facebook, com personagens de sua autoria. Diz que não domina a arte, é a arte que o domina, pois está sempre a imaginar e a criar coisas.
to para as editoras PenDragon e A. R. Publisher. ANGELINA VIOLANTE – Nascida em 1977, Angelina Rosa Nogueira Santos Violante é doméstica e mãe de um menino. Escrever sempre foi um sonho e tem por hobbies (além de ler e escrever) bordar, montar puzzles e pintar; também é fã de passatempos (palavras cruzadas, sopas de letras, sudoku, etc). Tem trabalhos publicados em diversas obras colectivas de várias editoras. Da Colecção Sui Generis, participou nas seguintes antologias: «A Bíblia dos Pecadores», «O Beijo do Vampiro», «Vendaval de Emoções», «Graças a Deus!», «Ninguém Leva a Mal», «Torrente de Paixões», «Saloios & Caipiras», «Sexta-Feira 13», «Crimes Sem Rosto», «Fúria de Viver», «A Primavera dos Sorrisos», «Tempo de Magia», «Os Vigaristas» e «Luz de Natal».
ANDRÉ MAGALHÃES – André Luís Rodrigues de Magalhães nasceu em Nova Iguaçu, Rio de Janeiro, Brasil, em 1994. É académico com formação no curso de Letras e publicou dois contos nas antologias «Círculo do Medo», da Editora Andross, e «Com Outros Olhos», da Editora Estalo. Resenhista da Geekstart, já trabalhou como revisor de tex-
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rabá, Pará. Publicou o primeiro poema na antologia «Mandala» (2016) e tornou-se membro da AES SP (Associação dos Escritores do Sul e Sudeste do Pará). Publicou dois livros: «Amor em/in Versos» (Fevereiro 2017) e «Um Novo Olhar» (Setembro 2017). É membro da ALERPRE (Academia de Letras de Rondon do Pará e Região), fundada em 2017, na qual ocupa a cadeira número 6 como membro fundador.
BALTHASAR SETE-SÓIS [foto em baixo] – Pseudónimo de Raul Tomé. Nascido em 1980, é licenciaANNA CIVOLANI [foto em cima] – A autora Anna Civolani tem dois amores: literatura e ciência. Na literatura, actua como copidesque e tradutora, e é autora do conto Ada (colectânea «Vampiro», Ed. Empíreo, 2017) e de três poemas que fazem parte da antologia «Soturnos III» (2018). Na ciência, publicou artigos nas revistas Toxicon (Elsevier), Protein and Peptide Letters (Bentham Science) e The Protein Journal (Springer). Nascida em Brasília (Brasil), reside actualmente em Brescia (Itália).
AURIDEA MORAES [foto em baixo] – Nascida em Castanhal, Estado do Pará, Brasil, reside em Mado em Sociologia, mestre em Ciências do Trabalho e Relações Laborais e pós-graduado em Políticas de Igualdade e Inclusão. Ex-cronista do Jornal Negócios, colabora actualmente na Bird Magazine. Criador da página Ipsis Verbis, mantém, através desta, colaboração com a Chiado Editora, elaborando resenhas literárias. Participou no 38° Campeonato Nacional de Escrita Criativa e nas Olimpíadas de Escrita Criativa, desenvolvidos por Pedro Chagas Freitas, alcançando em ambas as competições um honroso 4° lugar. Participou na iniciativa «Um Livro Num Dia» (Chiado Editora) e em diversas colectâneas de poesia.
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apesar disso, não só o melhor poeta da sua geração mas também o poeta português mais completo do século XVIII. A sua obra é constituída por todos os géneros poéticos em curso no seu tempo, mas foi no soneto que deixou o melhor de si mesmo; a solidão, o sofrimento, a morte, o amorciúme, o belo-horrível, o humor, o sexo e o deboche são alguns dos temas que trata, de acordo com o próprio infortúnio da sua vida.
BHETTY BRAZIL [foto em cima] – Elizabeth Santos Cruz nasceu em 1987, no Estado do Rio de Janeiro, Brasil. Estudante de Letras, participou em vários projectos nos Estados de São Paulo, Paraíba e Pernambuco. Os mais recentes foram divulgados na Universidade Paulista, 6ª edição do Sarau Casa Callunga, e apresentou-se em diversas performances e interpretações. Está previsto, para este ano, o lançamento do seu livro «A Poesia e o Tempo em Movimento» (Editora Desconcertos) e aguarda a publicação da antologia «O Jardim» (Editora Porto de Lenha e Cavalo Café).
CAESAR CHARONE [foto em cima] – Psicólogo clínico e jurídico, escritor, perfumista, artista plástico, acupunturista, aprendiz profissional, amante do agora e sacerdote da Vida. Vem fazendo histórias há pouco mais de um ano, em várias antologias espalhadas pelo Brasil, seu país. A sua prosa é contundente, impremeditável e algo transgressiva. A sua poesia é uma dança dúbia entre cérebro e coração.
BOCAGE [foto em baixo] – Manuel Maria Barbosa du Bocage (1765-1805), conhecido simplesmente por Bocage, foi um poeta português e o maior representante do movimento neoclássico, ou arcadismo, lusitano. Poeta controverso e homem dado ao escândalo social, chegando a ser preso, foi,
CAIO FERNANDO ABREU [foto na página seguinte] – Escritor, jornalista e dramaturgo brasileiro, considerado um legítimo representante da geração que marcou a cena cultural do Brasil nos anos 80 do século XX. Nasceu em 1948, em Santiago do Boqueirão, Rio Grande do Sul, e faleceu em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, em 1996. Obra literária: «Limite Branco» (1971), «O Ovo Apunhalado» 75
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seu esposo e filha. É escritora por vocação, blogueira há 10 anos, filha de livreiros, vendedora de livros há 26 anos e romancista por extrema paixão. Este ano assinou contrato com a Drago Editorial para publicar o primeiro livro da trilogia «Ekklesía». A edição está em andamento enquanto outras tramas estão sendo escritas com a finalidade de futuras publicações.
(1975), «Pedras de Calcutá» (1977), «Morangos Mofados» (1982), «O Triângulo das Águas» (1983), «As Frangas» (1988), «Mel e Girassóis» (1988), «Os Dragões Não Conhecem o Paraíso» (1988), «A Maldição do Vale Negro» (1988), «Onde Andará Dulce Veiga?» (1990), «Ovelhas Negras» (1995) e «Estranhos Estrangeiros» (1996).
CARLOS VIEGAS – Nascido em 1951, em Minas Gerais, no Brasil, e radicado em Brasília. É médico, professor universitário e escritor de haicai clássico. Tem três livros publicados: «Caminho do Olhar», «Ouvir o Silêncio» e «Catadores de Paina».
CAREN DILIMA – Nasceu em 1981 em Canoas, Rio Grande do Sul, Brasil, onde cresceu e reside com o
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CINTHIA GONÇALEZ – A autora Cinthia Gonçalez (31) implode as contradições do mundo em forma de poesias ainda não publicadas. Brasileira, bacharel em História e mestranda em Estudos da Paz, vive, actualmente, sem endereço, entre a Palestina, o Reino Unido e a Etiópia, onde troca a pólvora da profissão policial pela pesquisa académica e por histórias de amor. Dedica os poemas inseridos nesta antologia a um clã de dois amigos e a uma poetisa persa. CATARINA PEDROSA [foto em cima] – Sílvia Catarina Ferreira Pedrosa nasceu em 1976 em Bajouca Leiria, tem dois filhos e trabalha numa empresa de transformação de madeiras. Começou a escrever em 2010 como terapia, gosto que ficou até hoje, sobretudo com a poesia. Participou na 2ª «Coletânea de Poesia Lusófona em Paris», que foi lançada em Junho de 2018.
CLÉCIO AZEVEDO – Brasileiro, nascido em 1954 em Ponta Grossa, Paraná, com residência fixa em Curitiba, Paraná. Escreve poesias sobre a sua vida há muitos anos, porém, nunca as publicou, nem tem editora. Começou a divulgá-las recentemente, incentivado pelos amigos.
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CRISTINA SEQUEIRA [foto em cima] – Natural de Cinfães, nasceu em 1972. Participações em obras colectivas: «Poesia com Reticências» e «Perdidamente III» (Pastelaria Studios); «Eclética II» (Edições Colibri). Da Colecção Sui Generis: «Torrente de Paixões» e «A Primavera dos Sorrisos».
considerado um livro que “possui um valioso recurso para o acesso à cultura e ao desenvolvimento da Educação”. Co-autor das antologias «Graças a Deus!», «Saloios & Caipiras», «Fúria de Viver», «A Primavera dos Sorrisos», «Tempo de Magia», «Devassos no Paraíso», «Os Vigaristas» e «Luz de Natal» da Colecção Sui Generis.
DAVID SOUSA – Nasceu em Fânzeres, Gondomar, em 1929, estudou no Seminário Maior de Évora, tirou o curso de Humanidades e Filosofia em Salamanca e enveredou pela docência. Leccionou Português, História, Francês e Filosofia. Ocupou, por convite, lugares políticos autárquicos. Publicou vários livros (ebooks) em prosa e verso na Buboc e «O Canto do Cisne» (papel) na Sinapsis. Participou em três antologias Sui Generis: «Graças a Deus!», «Torrente de Paixões» e «Luz de Natal».
DOUGLAS LOBO [foto em baixo] – Escritor e jornalista brasileiro. Sonha em morar nos Estados Unidos. Enquanto isso não acontece, escreve roman-
DIAMANTINO BÁRTOLO [foto em cima à direita] – Natural de Venade (Caminha), Doutorado (Curso Livre) em Filosofia Social e Política. Obra literária: 13 antologias próprias e 30 antologias em co-edição em Portugal e no Brasil. Correspondente Internacional para vários jornais. Vencedor do III Concurso Internacional de Prosa Prémio Machado de Assis 2015. Vencedor do Troféu Literatura 2017 promovido pela ZL Editora, Rio de Janeiro, Brasil; modalidade Melhor Livro Educacional, de Língua Portuguesa, atribuído ao livro «Universidade da Vida: Licenciatura para o Sucesso», por ter sido 78
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ces, contos, ensaios e o que mais lhe vier à cabeça. Vive em frente à praia, mas prefere ler livros e assistir a filmes na Netflix do que pisar na areia. É autor dos romances «Terra Amaldiçoada» (2015) e «O Último Natal de um Homem Rico» (2018).
participações e premiações em certames literários. Em Portugal, participou em três antologias organizadas por Isidro Sousa: «Boas Festas», «A Bíblia dos Pecadores» e «Graças a Deus!».
ESTÊVÃO DE SOUSA – Nasceu em Lisboa, em 1937. Viveu em Angola dos 15 aos 36 anos, onde completou o curso geral de Comércio. Já em Portugal, fez um curso de Gestão e Administração de Empresas, exercendo funções de Director Administrativo. Hoje, aposentado, escreve. É autor literário das seguintes obras: «Nesta Terra Abençoada» (2014), «Tráfico no Rio Geba» (2014), «Irina – A Guerrilheira» (2015), «Rapto em Londres» (2017), «Romance em São Tomé» (2017), «Pedaços de Mim» (2017), «Contos, Estórias & Companhia» (2018), «A Profanação do Túmulo» (2018) e «Pânico no Subúrbio» (2018), entre outras. Tem
EDUARDO FERREIRA [foto em cima] – Professor universitário em São Paulo, Brasil, com diversas 79
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trabalhos publicados em diversas antologias. Da Colecção Sui Generis, participou em «A Bíblia dos Pecadores», «O Beijo do Vampiro», «Saloios & Caipiras», «Fúria de Viver», «Crimes Sem Rosto», «A Primavera dos Sorrisos», «Devassos no Paraíso», «Os Vigaristas» e «Luz de Natal».
rios romances e colaborou ao longo da sua vida em revistas e jornais de diversa índole. É à sua poesia, quase sempre em forma de soneto, que ela deve a fama e o reconhecimento. Neles, reflectese uma vida plena, embora tumultuosa, inquieta e cheia de sofrimentos íntimos que a autora soube transformar em poesia da mais alta qualidade, carregada de erotização, feminilidade e panteísmo. Nasceu em 1894, em Vila Viçosa, e faleceu em 1930, em Matosinhos, onde há uma biblioteca com o seu nome.
FÁTIMA D’OLIVEIRA [foto em cima] – Tem 48 anos e é natural da freguesia do Vale de Santarém. Quando lhe é possível, gosta de colaborar com a APAHE – Associação Portuguesa de Ataxias Hereditárias. Possui ainda uma página no Facebook, www.facebook.com/autora.fatimadoliveira, que desde já vos convida a conhecer, gostar e comentar. É co-autora da antologia «Luz de Natal», da Colecção Sui Generis.
FRANCISCO JOSÉ PINHEIRO DE SOUZA – Tem 22 anos e reside em Fortaleza, CE, Brasil. É Bacharel em Humanidades e em Psicologia, especialista em Políticas Públicas e Sociais e autor dos livros «Como Estrelas no Mar» e «Eu Quero Vestir Rosa». Tem participações em antologias locais e nacionais.
FÁTIMA SOARES – Nasceu em 1954 em Recife (Brasil), cidade onde vive. Lê, escreve e trabalha desde a infância. É professora arte-educadora e poeta. Trabalhou em escolas públicas desde 1978. Recém-aposentada, vive o compromisso e encantamento com a educação e cultura do povo trabalhador. Publicou «Memorial da Professora Fátima Soares – Quando Fala uma Operária da Educação» (2010) e «Retalhos de Vida» (2016).
GILTON CARLOS – Ao lado do Sol, é engenheiro mecânico, ciclista, leitor e estudante do Evangelho, apaixonado por Jesus. Mas é na companhia da Lua que cultiva a escrita, no prazer do encontro consigo mesmo. Nascido em 1984, reside em Tucuruí, Estado do Pará (Brasil), cidade onde nasceu. É co-autor da antologia «Luz de Natal», da Colecção Sui Generis.
FLORBELA ESPANCA [foto em cima à direita] – Poetisa portuguesa e autora polifacetada: escreveu poesia, contos, um diário e epístolas; traduziu vá80
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IRENE SERRÃO – Maria Irene Serrão nasceu na freguesia da Luz, concelho de Lagos, em 1952, e reside em Lagos. Colaborou com diversos poemas na iniciativa «Lagos Cidade Poesia» e participou no 10º volume do livro «5 Poetas de Lagos» (do Grupo de Amigos de Lagos). Publicou um livro-objecto: «Eu sinto» (Artelogy, 2016). Escreveu crónicas e artigos de opinião no jornal Correio de Lagos (de 2010 a 2013) e é autora dos textos “Europa, a Nossa Casa”, no boletim informativo Páginas Soltas da Biblioteca Municipal de Lagos (Junho 2008), “Ser Mulher”, no Canallagos (Março 2003), e “A Minha Terra é Farelos”, no Viva Voz – Jornal de Apoio à Educação Básica de Adultos (Abril 1998). O seu poema “Aprender a Ser”, publicado no Jornal de Monchique (Fevereiro 1998), obteve o 3º prémio no concurso “O Dia do Professor”.
ISABEL MARTINS – Leitora atenta que acompanha diversos e variados eventos literários. Escreve pontualmente poemas e divulga-os na sua página do Facebook. Participou em quatro antologias organizadas pela Sui Generis: «Graças a Deus!», «Torrente de Paixões», «Fúria de Viver» e «A Primavera dos Sorrisos». Reside em Palmela. ISIDRO SOUSA [foto na página seguinte, em cima à esquerda] – Nasceu em 1973, numa aldeia remota das Terras do Demo, concelho de Moimenta da Beira, viveu em Lisboa durante 19 anos e regressou, em Abril de 2017, à cidade do Porto, onde já residira nos anos 90, de 1994 a 1998. Jornalista e editor de publicações periódicas desde 1996, fundou, dirigiu e editou revistas, jornais e guias turísticos impressos em offset, publicou a primeira antologia em Fevereiro de 2001, colabo-
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JEFERSON SABRAN [foto em cima] – Habitante nativo do município de Londrina, estado do Paraná, Brasil. É professor de História, músico, ciclista, poeta, fã de rock brasileiro, futebol, cinema e um amante apaixonado pela vida.
JOAQUIM MATIAS [foto em baixo] – Joaquim Matias da Silva, 63 anos, nasceu na freguesia de Negreiros, Barcelos, em 1955, e reside na freguesia de Brufe, Vila Nova de Famalicão. Licenciado em Línguas e Literaturas Modernas (Português e Francês), pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto, exerceu, até Outubro de 2013, a função de docente. Participou nas antologias «Venda-
rou com três editoras, participou em variadíssimas obras colectivas (Portugal e Brasil), foi distinguido num concurso literário e é o responsável pelos projectos da Sui Generis, que instituiu em Dezembro de 2015. Presentemente, dirige a revista literária SG MAG, fundada em Janeiro de 2017. Tem duas dezenas de antologias organizadas e três livros publicados: «Amargo Amargar», «O Pranto do Cisne» e «De Lírios».
ISOLINA CARVALHO – Maria Isolina de Abreu Gomes Carvalho, natural de Goães, Vila Verde, reside em Gondomar. Licenciada em Filosofia pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto e pósgraduada em Gestão e Administração Pública pela Universidade do Minho. Ocupa actualmente o cargo de Secretária do Conselho de Fundadores da Fundação Júlio Resende. Tem cinco livros publicados (poesia e prosa).
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val de Emoções», «Graças a Deus!», «Fúria de Viver» e «Tempo de Magia», da Colecção Sui Generis.
raus na internet e actividades do meio literário. Organizou recentemente a sua primeira antologia: «Aquarela de Emoções» (Darda Editora, 2018). Tem um amor incontestável pelas letras, compõe
JONNATA HENRIQUE [foto à direita] – Génesis poética remete a púberes matizes, quando em processo de escolarização demonstrava identificação com as palavras, dedicando boa parte do seu tempo aos livros. Foi neste ambiente que a semente foi irrigada e brotou, quando escreveu o seu primeiro poema após um trabalho sobre o Simbolismo, ao conhecer os escritos de Alphonsus de Guimaraens. Há mais de uma década escrevendo, estreou no mundo das antologias em 2015, no projecto «A Bíblia dos Pecadores» (Sui Generis). Publicou contos e poemas em mais de oitenta obras colectivas. Posta em sites, blogues, tem uma página no Facebook e participa activamente em sa-
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diariamente, adora o que faz. Da Sui Generis, participou também em «O Beijo do Vampiro», «Vendaval de Emoções», «Graças a Deus!», «Ninguém Leva a Mal», «Torrente de Paixões», «Saloios & Caipiras», «Sexta-Feira 13», «Fúria de Viver», «Devassos no Paraíso» e «Os Vigaristas».
da escrita, mas tudo tem um tempo para acontecer. Vai acontecendo sem pressas e sem stress, sem forçar nada, velejando nos ventos da inspiração. Nascido em Portugal, cedo se “exilou” no Reino Unido, onde reside há trinta anos. Escreve sempre em Português, porque já há muito quem escreva em Inglês. Tem alguns livros publicados e vai publicando em obras colectivas (já são várias). Participou nas antologias «A Bíblia dos Pecadores», «Vendaval de Emoções» e «Devassos no Paraíso» da Colecção Sui Generis.
JORGE GASPAR – Jorge Manuel Ferreira Gaspar é natural de Lisboa. Apaixonado pela cultura e suas formas de transmissão. Radialista. Na paixão da Rádio, cultivando os sons das ideias nas palavras, com uma paixão exigente, libertando o encanto da Rádio. Em https://ntradio.pt, gerindo a página Cultos e realizando As Cores dos Autores, emissão semanal de duas horas para divulgação de toda a actividade cultural. Co-autor da antologia «Luz de Natal», da Colecção Sui Generis.
JULIANA CASTRO [foto em cima] – Nasceu em 1993 em Araruama, Estado do Rio de Janeiro, Brasil. Escrever é a sua forma de expressar sentimentos não revelados. Tem como inspiração o amor intenso, o romantismo e a fase da depressão que vivenciou. Descobriu o mundo da poesia na adolescência e hoje busca divulgar a sua escrita em plataformas virtuais como a Wattpad. Até conseguir publicar o seu (primeiro) livro solo.
JORGE PINCORUJA [foto em cima] – Este não é um nome caseiro, tão-pouco de trazer por casa. Poderia ser o nome de um designer ou de uma marca internacional, mas também não é. É simplesmente o nome de alguém que usa e abusa das palavras num contexto criativo. Não chama a si títulos de poeta ou de escritor; prefere que seja considerado como um autor. Se de outras denominações for sujeito hão-de ser-lhe atribuídas por quem o lê. Enveredou tardiamente pela aventura 84
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literários no Brasil e Miami e em Feiras de Livros, televisões e rádios. Com certificados. Classificações em festivais de poesias e contos. Dois títulos na Biblioteca de Dambory NY e dois em Miami FL. É co-autora da antologia «Luz de Natal» da Colecção Sui Generis. LUCIANA BESSA – Nasceu em Fortaleza, CE, Brasil, em 1976, e reside na cidade do Crato, CE. Doutoranda em Letras pela Universidade Federal do Ceará. Integra a Ala Feminina da Casa Juvenal Galeno (ocupando a cadeira nº 1), cuja patrona é a escritora Francisca Júlia da Silva Munster. Faz parte do 5º volume do livro «Mulheres do Brasil».
LENILSON DE PONTES SILVA [foto em cima] – É escritor, editor de antologias, professor de língua Portuguesa, Inglesa e Espanhola na Escola Edgar Guedes, município de Pedras de Fogo, PB, Brasil. Graduado em Letras, especialista em Linguagem e Ensino e mestrando em Ciências da Educação. As suas actividades de pesquisa envolvem a análise de letramento, géneros textuais e produções de textos em língua materna. LIRA VARGAS [foto em baixo] – Brasileira. Tem 16 obras publicadas e participações em movimentos LUCINDA MARIA [foto em cima] – Lucinda Maria Cardoso de Brito nasceu em Oliveira do Hospital, em 1952. Fez um percurso académico muito bom e tirou o curso do Magistério Primário, começando a leccionar em 1972. Encontra-se aposentada, mas continua a ensinar, agora artes decorativas, na Universidade Sénior de Rotary de Oliveira do Hospital. Tem seis livros publicados – «Palavras Sentidas» (2013), «Alma» (2014), «Divagando...» (2015), «Terra do Meu Coração» (2016), «Sonho?... Logo, Existo!» (Sui Generis, 2017) e «Um Ano... 365 Poemas» (2018) – e participações em variadíssimas obras colectivas. Da Colecção Sui Generis: «A Bíblia dos Pecadores», «Vendaval de Emoções», «Graças a Deus!», «Torrente de Pai85
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xões», «Fúria de Viver», «A Primavera dos Sorrisos», «Tempo de Magia» e «Luz de Natal». Como autora, gosta de identificar-se apenas por Lucinda Maria; não escreve segundo o Acordo Ortográfico de 1990.
LUÍS VAZ DE CAMÕES [imagem em cima] – Poeta de Portugal (1524-1580), uma das maiores figuras da Literatura Lusófona e um dos grandes poetas da tradição ocidental. Pouco se sabe sobre a sua vida. Aparentemente nasceu em Lisboa, de uma família da pequena nobreza. Sobre a sua infância tudo é conjectura mas, ainda jovem, terá recebido uma sólida educação nos moldes clássicos, dominando o Latim e conhecendo a Literatura e a História Antiga e Moderna. Frequentou a Corte de D. João III, iniciou a sua carreira como poeta lírico e envolveu-se em amores com damas da nobreza, além de levar uma vida boémia e turbulenta. Dizse que, por conta de um amor frustrado, auto-exilou-se em África, alistado como militar, onde perdeu um olho em batalha. Regressando a Portugal, feriu um servo do Paço e foi preso. Perdoado, partiu para o Oriente. Passando lá vários anos, enfrentou uma série de adversidades, foi preso várias vezes, combateu ao lado das forças portuguesas e escreveu a sua obra mais conhecida, a epopeia nacionalista «Os Lusíadas». De volta à Pátria, publicou «Os Lusíadas» e recebeu uma pequena pensão do rei D. Sebastião pelos serviços prestados à Coroa, mas nos anos finais enfrentou dificuldades para se manter. Logo após a sua morte a sua obra lírica foi reunida na colectânea «Rimas»,
LUÍS CARDOSO [foto em cima] – É natural de Arcozelo do Cabo, concelho de Moimenta da Beira. Participou numa antologia Sui Generis: «Fúria de Viver».
LUÍS FERNANDES [foto em baixo] – Luís Alberto Dias Gonçalves Fernandes é um poeta ribatejano nascido na cidade de Abrantes, em 1999. Reside numa aldeia do Centro de Portugal chamada Crucifixo. Desde sempre andou de braço dado com a leitura e a escrita. Participou em cinco colectâneas e na rede social Facebook é dono de uma página chamada Os Versos da Vida, onde partilha a sua poesia com mais de cinco mil leitores.
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tendo deixado também três obras de teatro cómico. Enquanto viveu queixou-se diversas vezes de alegadas injustiças que sofrera, e da escassa atenção que a sua obra recebia, mas pouco depois de falecer a sua poesia começou a ser reconhecida como valiosa e de alto padrão estético por vários nomes importantes da literatura europeia, ganhando prestígio sempre crescente entre o público e os conhecedores e influenciando gerações de poetas em vários países. Camões foi um renovador da Língua Portuguesa e fixou-lhe um duradouro cânone; tornou-se um dos mais fortes símbolos de identidade da sua Pátria e é uma referência para toda a comunidade lusófona internacional. Hoje, a sua fama está solidamente estabelecida e é considerado um dos grandes vultos literários da tradição ocidental, sendo traduzido para várias línguas e tornando-se objecto de uma vasta quantidade de estudos críticos.
MACHADO DE ASSIS [foto em cima] – Nascido no seio de uma família pobre no morro do Livramento no Rio de Janeiro, o romancista Joaquim Maria Machado de Assis (1839-1908) teve pouco acesso à educação formal e ainda assim tornou-se um dos nomes mais importantes da Literatura no Brasil. Foi um autor completo: escreveu romances, contos, poesias, peças de teatro, inúmeras críticas, crónicas e correspondências. A primeira fase da sua escrita é considerada romântica, e depois o autor enveredou para o realismo. Aos 16 anos de idade teve o seu primeiro poema publicado numa revista. Frequentando livrarias, tornou-se amigo de outros escritores e logo descobriu o seu ofício do coração: escrever. Foi publicado por diversos jornais e revistas no início da sua carreira, quando beirava os 25 anos de idade. Da sua vastíssima obra, são considerados romances românticos: «Ressurreição» (1872), «A Mão e a Luva» (1874), «Helena» (1876) e «Iaiá Garcia» (1878). Além de escrever, exerceu também cargos públicos, como oficial da Secretaria da Agricultura, e fundou a Academia Brasileira de Letras, tendo sido o seu primeiro presidente. Após a morte de sua esposa, em 1904, os seus problemas de saúde (como a epilepsia) agravaram-se. Debilitado e abatido pela morte da sua companheira, enfermeira e revisora, morreu em 1908, aos 69 anos, no mesmo lugar onde nasceu e viveu toda a sua vida: Rio de Janeiro.
LUIZ A. G. RODAS [foto em baixo] – Luiz Antônio Gomes Rodas, nascido em 1958, na cidade de Teixeira (Paraíba, Brasil), é bancário e pai de três filhas. Nas horas vagas gosta de ler e escrever. Participou na colectânea «Poematize-se» da Editora Futurama e nas antologias «Palavra é Arte» (2017) e «20 Anos do Poetrix» (antologia comemorativa, em elaboração).
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MARIA ALCINA ADRIANO – Tem publicados os seguintes livros: «Flores Verdes em Tempo de Guerra» (2011), «O Meu Corpo é Como Um Rio» (2012), «As Searas São Vermelhas» (2013), «A Magia da Vida» (2014), «A Primavera dos Meus Sonhos» (2015), «As Ondas dos Seus Olhos» (2016), «A Ribeira da Minha Terra» (2017) e «Passeios da Memória» (2018). Participou em diversas antologias de várias editoras. Da Colecção Sui Generis, é co-autora de «Vendaval de Emoções», «Graças a Deus!», «Fúria de Viver», «A Primavera dos Sorrisos», «Tempo de Magia» e «Luz de Natal». MARIA ISABEL GÓIS [foto à direita] – Nasceu em 1962, na freguesia de Campanário, Ribeira Brava, e reside em São Vicente, na ilha da Madeira. Educadora de infância, sempre gostou de escrever e escreve... e deixa ficar na caixinha das recordações. Desde que aprendeu a ler, descobriu um 88
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mundo que nunca mais deixou de amar. Lema: ler e escrever! Da Sui Generis, participou nas antologias «Vendaval de Emoções», «Graças a Deus!», «Ninguém Leva a Mal» e «Torrente de Paixões». MARIA LASCASAS [foto em baixo] – Pseudónimo de Maria Beatriz Ferreira. Nascida em São Pedro da Cova, Gondomar, em 1950. Licenciada em História pela Universidade do Porto (1983), obteve o grau de Mestre pela Universidade do Minho (1998). Praticante de actividades de ar livre (montanha), sócia nº 156 da Federação Campismo e Montanhismo de Portugal. Editou vários livros. De poesia: «Reflexos» (1975), «Despertar» (1976), «Trinta Anos de Silêncio» (2015), «Vesti as Palavras» (2016) e «Um Braçado de Estrofes» (2018). Em co-autoria: «Seis Ruas de Inspiração» (2016), «Dois Sentires» (2016) e «Entre Murmúrios» (2017). Em prosa: «Os Meus Sobrinhos e Eu» (2018), «Qualquer Vida Poderá Dar Um Filme» (a sair) e «Insónias Produtivas» (em elaboração). Colaborou em 37 obras colectivas desde 2014. Da Colecção Sui Generis, participou na antologia «Tempo de Magia» (2017).
MÁRIO QUINTANA [foto em cima] – Poeta, tradutor e jornalista brasileiro, considerado um dos maiores poetas do século XX. Mestre da palavra, do humor e da síntese poética, em 1940 é indicado para a Academia Brasileira de Letras (nesse ano publicou o livro de poemas «A Rua dos Cataventos», que passa a ser usado como livro escolar), em 1980 recebeu o Prêmio Machado de Assis da ABL, pelo conjunto da sua obra, e em 1981 foi agraciado com o Prêmio Jabuti, de Personalidade Literária do Ano. Nasceu na cidade de Alegrete, no Rio Grande do Sul, em 1906. Não se casou nem teve filhos. Viveu de 1968 até 1980 no Hotel Majestic, no centro histórico de Porto Alegre. Desempregado, sem dinheiro, foi despejado e alojado no Hotel Royal, no quarto de propriedade do ex-jogador Paulo Roberto Falcão. A poesia, embora considerada por ele “um vício triste”, foi a sua maior companheira. Faleceu em Porto Alegre, em 1994.
MARISA LUCIANA ALVES – Nasceu em Vinhais, em 1976. Professora desde 1999, vê a escrita como uma libertação. O amor é o tema mais utilizado nos seus contos e poemas, com os quais participou em dezanove obras colectivas. Tem cinco livros publicados: «Contando Memórias...» (2011), «De Suplicar Por Mais...» (2013), «O Sono da Primavera» (2014), «A Tua Receita, Meu Amor!» (2015) e «O Que Zeus Mostrou aos Homens» (2018). Foi a vencedora do 3º Concurso Literário da Papel D’Arroz Editora (2014).
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MARTA MARIA NIEMEYER [foto em cima] – Nascida em Senador Firmino, Minas Gerais, actualmente reside no Rio de Janeiro, Brasil. Contadora de histórias há 13 anos, tem dois livros publicados: «Borboleta Biruta» e «As Mordidas do Tio Pastor Alemão». Divulga a sua obra na revista Divulga Escritor. Participou na antologia «Luz de Natal», da Colecção Sui Generis.
MARIZETH MARIA PEREIRA [foto em cima] – Nascida em Brotas de Macaúbas, BA, Brasil, em 1968, reside na cidade de Osasco, SP, onde participa em vários eventos culturais. Eleita Conselheira Municipal pelo direito da mulher na Coordenadoria da Mulher, Igualdade Racial e Diversidade Sexual, faz parte da Directoria de Cultura do partido PROS MULHER, no qual luta pela inclusão cultural e igualdade social. Autora dos livros «Reflexos da Vida» e «Segredos de Uma Vida», usa os seus poemas em palestras e eventos culturais, com os quais chama a atenção das pessoas para situações polémicas e reais da sociedade. Da Colecção Sui Generis, participou nas antologias «Vendaval de Emoções», «Graças a Deus!», «Ninguém Leva a Mal», «Torrente de Paixões», «Sexta-Feira 13», «Fúria de Viver», «A Primavera dos Sorrisos», «Os Vigaristas» e «Tempo de Magia».
MARY ROSAS [foto em cima] – Venezuelana, reside em Portugal desde a sua infância. Mencionando Paços de Brandão, diz-nos em forma de poesia: «Vim para cá quando pequenina / Vim parar a Paços de Brandão / E aqui fiquei / Cresci, amadureci / E me tornei mulher. / É o meu lugar de eleição / Esta terra, Paços de Brandão / Cheia de cultura e tradição / Tem coisas bonitas e outras não / Mas é onde vivo, pois então. / A minha família é grande e alargada / Em Portugal e na Venezuela.» Participou nas antologias «Tempo de Magia» e «Luz de Natal», da Colecção Sui Generis.
MARLI VOIGT – Natural de Marcílio Dias, distrito de Canoinhas, Santa Catarina, Brasil. Reside em Curitiba, PR, desde 1988. Técnica de Enfermagem, Artesã, Orientadora Educacional Teológica Infantil. “Autora que busca ser rosa nas palavras, renovando sua aquarela interior.”
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OLAVO BILAC [foto à direita] – Poeta, contista, cronista e jornalista brasileiro, Olavo Brás Martins dos Guimarães Bilac (1865-1918) é o autor da letra do Hino à Bandeira e membro fundador da Academia Brasileira de Letras. Foi um dos principais representantes do Movimento Parnasiano, que valorizou o cuidado formal do poema, em busca de palavras raras, rimas ricas e rigidez das regras da composição poética. Nasceu e morreu no Rio de Janeiro, Brasil. Obra literária: «Poesias» (1888), «Via Láctea» (1888), «Sarças de Fogo» (1888), «Crônicas e Novelas» (1894), «O Caçador de Esmeraldas» (1902), «As Viagens» (1902), «Alma Inquieta» (1902), «Poesias Infantis» (1904), «Crítica e Fantasia» (1904), «Tratado de Versificação» (1905), «Conferências Literárias» (1906), «Ironia e Piedade» (1916), «A Defesa Nacional» (1917) e «Tarde» (1919, publicação póstuma).
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OLÍMPIA GRAVOUIL – Nasceu em 1947, na cidade do Porto. Emigrante em França desde 1967, exerceu Educação Especializada em Paris, durante mais de 30 anos. De regresso a Portugal após a sua reforma, em 2012, escolheu viver na Póvoa de Lanhoso, pela sua qualidade de vida. Tem agora todo o tempo para se dedicar à sua paixão: ler e escrever. Co-autora das antologias «Tempo de Magia» e «Luz de Natal» (Sui Generis).
po», «A Lagoa de Óbidos, o Mar e Eu» e «Sonho em Poesia» (poesia). «Quando o Amor é Cego» e «Amar (S)Em Desespero» (prosa). Da Colecção Sui Generis, participou nas antologias «A Bíblia dos Pecadores», «Graças a Deus!» e «Sexta-Feira 13».
PAULA HOMEM [foto à direita] – Nascida em 1959, licenciada na área do turismo. Escreve por paixão e é através da escrita que «eu... me torno mais EU. Vogando pela poesia, desaguando na prosa, “brinco” com as letras.» Está presente em obras colectivas de ambos os géneros: «Memórias Esquecidas do Tem-
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RODRIGO ORTIZ VINHOLO – Publicitário, jornalista e escritor, reside em São Paulo (SP), Brasil. Autor de «Você Está Em Seu Quarto» (2014), «A 17ª Visita» (2016), «Dito Pelo Não Dito» (2017) e «O Corpo» (2017, Lendari). Colecciona participações em obras colectivas em mais de trinta editoras e compartilha semanalmente todo o tipo de textos no Facebook e em blogues pessoais. Co-organizador das antologias «Espaço Restrito» (Veleiro) e «Simulacro & Simulação» (Lendari), a sua próxima publicação será «Os Dias em que Rúbia Viveu no Futuro» (Lendari).
versas obras colectivas em Portugal e no Brasil. Da Colecção Sui Generis: «A Bíblia dos Pecadores», «O Beijo do Vampiro», «Vendaval de Emoções», «Graças a Deus!», «Ninguém Leva a Mal», «Torrente de Paixões», «Saloios & Caipiras», «SextaFeira 13», «Fúria de Viver», «A Primavera dos Sorrisos», «Tempo de Magia», «Devassos no Paraíso», «Os Vigaristas» e «Luz de Natal». Publicou dois livros pela Sui Generis: «Mar em Mim» (2016, reeditado em 2018) e «Prisioneiros do Progresso» (2017).
SANDRA RAMOS [foto em baixo] – Nascida em Lisboa, em 1975. Licenciada em Organização e
ROSA MARQUES [foto em baixo] – Nascida na Madeira, em 1959, reside na ilha de Porto Santo. Preocupa-a a situação precária em que o Mundo se encontra, a condição humana (especialmente as crianças) e todos os que vivem em situações desumanas, principalmente nos países subdesenvolvidos. Gosta de ler e de tudo o que está ligado à arte e à cultura. Adora poesia e, de vez em quando, aventura-se a escrever o que lhe vai na alma... sobre recordações de infância e sobre a Natureza, a quem declara um amor incondicional; alguns textos em prosa também. Participou em di-
Gestão de Empresas (ISCTE). Pós-graduada em Gestão do Transporte Marítimo e Gestão Portuária (ISEG). Bloguer em Escrevinhar Sandra Ramos (www.escrevinharsandraramos.wordpress.com) e cronista na BIRD Magazine (revista on-line). Menção Honrosa num Concurso de Autores 2017, Editora Cordel D’Prata, «Somos Mais do que Histórias».
SARA TIMÓTEO [foto na página seguinte, em cima à esquerda] – Publicou os livros: «Deixai-me Cantar a Floresta» e «Chama Fria ou Lucidez» (Papiro Editora, 2011); «Refúgio Misterioso» (2012), «Os Passos de Sólon» (2014), «Elixir Vitae» (2014) e 93
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SÓNIA FERNANDES [foto em cima] – Sónia Alexandra Monteiro Fernandes nasceu em 1975, na Beira (Moçambique), mas vive e trabalha em Braga (Portugal). Escreve há muitos anos, mas nunca tinha tido coragem para publicar os seus textos, apesar de ser um sonho já há muito desejado. Entre os seus interesses e preferências encontramse a leitura, o cinema, a música e a Natureza. Gosta da vida em família, de ir à praia ou passear na cidade para descontrair. Publicou um livro: «Para Ti» (Poesia Fã Clube). Participou na antologia «A Primavera dos Sorrisos», da Colecção Sui Generis.
«Os Quatro Ventos da Alma» (2014) pela Lua de Marfim Editora; «O Telejornal» (Cadernos de Santa Maria, 2015); «O Corolário das Palavras» (Rui M. Publishing, 2016); «Refracções Zero» (Orquídea Edições, 2016); «Compassos» e «Diário Alimentar» (Costelas Felinas, 2017); «Manual dos Ofícios» (Edições Vieira da Silva, 2018). Participou em diversas antologias da Colecção Sui Generis: «A Bíblia dos Pecadores», «O Beijo do Vampiro», «Vendaval de Emoções», «Graças a Deus!», «Ninguém Leva a Mal», «Torrente de Paixões», «Saloios & Caipiras», «Sexta-Feira 13», «Crimes Sem Rosto», «Fúria de Viver», «A Primavera dos Sorrisos», «Tempo de Magia», «Devassos no Paraíso», «Os Vigaristas» e «Luz de Natal».
SÓNIA MAIO – Nascida em Lisboa, em 1978. Desde sempre que a leitura e a escrita a encantam, dedicando-lhes muito do seu tempo livre. Não crê que haja melhor forma de existir!
TAYNÁ MESSI – Brasileira, amante da arte e dançarina há três anos, iniciou os seus escritos no início de 2017, quando, timidamente, decidiu compartilhar os seus versos com o mundo numa rica antologia, «Fúria de Viver», organizada em Portugal para a Sui Generis; desde então, escreve poemas destacando o amor e a espiritualidade como temas principais.
SIMONE LIMA – Advogada e Procuradora Pública do município de Taboão da Serra, no Estado de São Paulo, Brasil.
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TEÓFILO BRAGA [foto em cima] – Natural dos Açores, porque nascido na cidade de Ponta Delgada, Joaquim Teófilo Fernandes Braga (1843-1924) foi um poeta, sociólogo, político, filósofo e ensaísta português. Fundador do Partido Republicano, foi nomeado Presidente da República Portuguesa por via constitucional em 1915, cargo que exerceu durante apenas dois meses e poucos dias. É conhecido pela grande variedade de actividades e pela riqueza prolífica da sua obra, que constitui uma abordagem pioneira na História da Literatura portuguesa. Da sua carreira literária contam-se obras de História literária, etnografia (com especial destaque para as suas recolhas de contos e canções tradicionais), poesia, ficção e filosofia, tendo sido ele o introdutor do Positivismo em Portugal.
TITO LÍVIO [foto em cima] – Crítico de cinema e de teatro no Diário Popular, República, A Capital, vencedor de dois prémios no Diário de Lisboa Juvenil. Colaborador de vários jornais como Notícias da Amadora, Jornal do Fundão, Jornal de Letras, Diário do Algarve, O Setubalense e revistas Seara Nova e Manifesto. Membro do Conselho Editorial da revista Korpus, editada por Isidro Sousa entre 1996/2008. Durante dez anos (1995/2005), docente de Dramaturgia, História do Teatro, História do Cinema e História da Televisão. Júri de diversos Prémios da Casa da Imprensa, da Crítica e dos Globos de Ouro (SIC). Autor dos livros «A Escrita e o Sono», «Senhor, Partem Tão Tristes», «Memórias de Uma Executiva», «As Tuas Mãos Sobre o Meu Corpo», «Ruy de Carvalho – Um Actor no Palco da Vida» e «Teatro Moderno de Lisboa (1961-1965) – Um Marco na História do Teatro Português» com a colaboração da actriz Carmen Dolores. Autor de «Sobreviventes: Dez Mulheres à Procura da Voz», peça concorrente ao prémio de originais de teatro da Sociedade Portuguesa de Autores. Abraçando as antologias Sui Generis, participou em «O Beijo do Vampiro», «Vendaval de Emoções», «Ninguém Leva a Mal», «Torrente de Paixões», «Saloios & Caipiras» e «Os Vigaristas».
TIAGO SOUSA – O destino fez de Tiago Sousa um estudante universitário de 19 anos, amante do excêntrico e do macabro. Deixou que a inspiração lhe escrevesse já diversos contos de terror, mas ainda nenhuma prosa sua foi publicada. Ultimamente, tem dado asas à sua poesia, produzindo inúmeros poemas numa base diária, em métrica regular ou verso livre. A sua arte estará sempre marcada por uma estranha sensação de alienação e uma certa melancolia derivada do profundo pensamento.
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VIDÂNIA MACOSSA [foto em cima] – Africana de nascença, angolana de raiz, escreve ficção, romances, sagas e contos em diversos géneros. Apaixonou-se pelos livros aos 4 anos; aos 14 anos já narrava estórias num programa infantil e aos 18 anos assinou o seu primeiro contrato como repórter de um jornal; desde então, o seu amor pela escrita tornou-se a sua prioridade. Ama a leitura, aprecia a escrita e gosta de inventar estórias no seu diário. No primeiro semestre de 2018, ganhou dois concursos de micro-contos na plataforma Sweek Brasil. Atenta às redes sociais, procura manter-se informada sobre tudo o que acontece online.
projecto de leitura Ginástica ao Cérebro, frequentou cursos de teatro e marcou presença em feiras do livro (Braga, Lisboa). Actualmente, faz teatro no Teatro Experimental do Orfeão da Feira. Lançou dois livros: «A Menina Que Fui» (Pastelaria Studios Editora, 2016) e «Vestigium d’Arbor» (Chiado Editora, 2017). Participou na antologia «Luz de Natal» da Colecção Sui Generis.
VIEIRINHA VIEIRA [foto em cima à direita] – Nasceu em Vila Nova de Gaia e usa os heterónimos Lo Escrita e Maria de Mais; o seu nome mais conhecido é o pseudónimo Vieirinha Vieira. Frequentou o Curso Profissional/Tecnológico de Contabilidade e Gestão, foi membro do Clube Juvenil Verbo na década de 90 e representou o jornal escolar Nascente em 1994. Colaborou em revistas, rádios, antologias e e-books, tendo registado mais de 30 participações em obras colectivas. É mentora do
WELLINGTON L. BARBOSA JR. – Graduado em Psicologia, especialista em Psicanálise e Psicologia Junguiana, é pesquisador e terapeuta em Fortaleza, CE, Brasil. Tem formação no curso Sobre Contos de Fadas e está, actualmente, a especializar-se em Mitologia Greco-Romana. A sua inspiração para a escrita veio através da leitura sobre Mitos e Psicologia, tendo também grande influência através de filmes e livros literários.
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CONTO
NATÁLIA VALE Nasceu em Vila Robert Williams, Caála, Angola, em 1949. É licenciada em História, pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Tem vários trabalhos premiados, quer nacional, quer internacionalmente. Tem trabalhos publicados em diversas antologias, nacionais e internacionais. Em 2009 editou os seus primeiros (dois) livros pela editora Mosaico de Palavras: «Emoções Inacabadas» (poesia) e «A Minha Tempestade e Outros Contos» (contos). Participou em três antologias da Colecção Sui Generis: «Graças a Deus!», «Torrente de Paixões» e «A Primavera dos Sorrisos».
E SE FOSSE PROIBIDO ABRAÇAR? “E se fosse proibido abraçar? Seria inimaginável para ela não sentir o aconchego daqueles braços, e dos abraços ternos e repletos de amor que lhe proporcionavam um imenso bem-estar. Sentiu-se transportada para a mesma, por uma força invisível que, ainda hoje,
Perfil no Facebook: www.facebook.com/natalia.vale.39
não sabia explicar. Naquele momento, viu o véu da noite que desceu naquele dia, sobre eles. Sentiu o ombro forte do meu pai, que a amparou e a aconchegou, quando a mãe os deixara. Tenho saudades.”
POR NATÁLIA VALE
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uando Maria entrou no Museu de Kelvin– Estou aqui, minha querida. grove, em Glasgow, um vazio enorme a inMas ele também começava a sentir que perdevadiu. Olhou aquela estátua e reviu-se nera o pilar das nossas vidas. O seu semblante triste la, meia centena de anos atrás. dizia-lhe que a sua dor é tão grande como a dela. Viu o título da mesma: “Motherless”. «Mas as dores não são quantificáveis, nem se poSim. Tudo tinha a ver condem medir pois não, mãe? Por sigo e aquela menina ali refavor, fala comigo. Porque não presentada, a ser confortada dizes nada se te revejo naquenos braços do pai, era ela. le raio de luar que se reflete A monotonia revela-se nos E se fosse proibido abrasobre o mar?» rostos das pessoas que a çar? Seria inimaginável para Saiu do museu, devagar. O ela não sentir o aconchego dapassado já não volta. O abrapercorrem, alheias a tudo queles braços, e dos abraços ço, agora proibido, também o que as rodeia. O stress, ternos e repletos de amor que não. a pressa de chegar aos lhe proporcionavam um imenEnsombrada pelo passado, so bem-estar. diária e sistematicamente, seus destinos, levam-nas Sentiu-se transportada padescia aquela rua íngreme e a virar (e nelas se incluía) ra a mesma, por uma força indesnivelada onde os buracos o rosto para o lado, apenas visível que, ainda hoje, não sasobressaem na negrura dos bia explicar. paralelos que a cobrem. para não verem aquilo Naquele momento, viu o A monotonia revela-se nos que não lhes convém ou, véu da noite que desceu narostos das pessoas que a persimplesmente, não desejam quele dia sobre eles. Sentiu o correm, alheias a tudo o que ombro forte do meu pai, que as rodeia. O stress, a pressa ver. Uma cegueira forçada. a amparou e a aconchegou, de chegar aos seus destinos, Olhos que se fecham à quando a mãe os deixara. Televam-nas a virar (e nelas se realidade envolvente do nho saudades. incluía) o rosto para o lado, Conseguia vê-la. O crepúsapenas para não verem aquilo dia-a-dia, cansados da culo invadiu o horizonte e, lá que não lhes convém ou, simmiséria e das mãos que longe, os seus sinais translúciplesmente, não desejam ver. se estendem, dos cães dos permitiram que percebesUma cegueira forçada. Ose o quanto queria poder de lhos que se fecham à realidaabandonados em bancos novo abraçá-la. Os seus olhos de envolvente do dia-a-dia, de jardim, no silêncio fixavam aquela imagem, pálicansados da miséria e das daquela madrugada da e inerte. mãos que se estendem, dos As mãos rudes do pai aconcães abandonados em bancos emergente. chegavam-na, mas ela sentiade jardim, no silêncio daquela se só e desprotegida. madrugada emergente. Carente, inseria-se ainda Quem não se revê nestas mais naquela estátua que era ela, à sua espera. A manhãs, nos silêncios de palavras que calam? esperança não se perde, mas o coração vazio vai O que revela a nossa força não é sermos imbamirrando, como um pequeno oásis num deserto, tíveis, incansáveis, invulneráveis, mas sim a nossa e acabamos por sobreviver à dor. coragem de avançar, ainda que a medo; é a vonOuviu a voz do pai sussurrar-lhe: tade de viver, mesmo que já tenhamos morrido 100
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um pouco, pelo caminho, pela força da nossa cegueira. Os gestos de gentileza e ternura que somente os fortes conseguem ter, e que a mão estendida pressente mais do que sente, no seio da solidão da gaiola fechada e negra que habita, são a maior grandeza do ser humano, pequenas essências divinamente concebidas por Deus. Na sua solidão, estas memórias massacravam, invariavelmente, a sua existência. A ingratidão, a indiferença dos factos e da miséria que nos rodeiam, sem que façamos nada para minimizar o sofrimento alheio, tolhia-lhe o pensamento e as ideias tornam-se turvas, enevoadas pela tristeza, pela sua própria angústia. Sentia-se uma inadaptada na sociedade em que vivia, morta para a vida (negra) que a rodeava. A sua relação com o mundo é nula. O egoísmo tomou conta dela. A cegueira apoderou-se da humanidade. Será que resulta olharmos só para o nosso umbigo? A mão continua estendida, vazia de tudo.
Aquele inverno estava a ser excessivamente frio. Maria sentia-o atravessando-lhe o corpo e a alma de uma forma tão intensa que achava não poderia suportá-lo. A lareira era insuficiente para a aquecer, por mais achas que lhe deitasse. O frio que a tolhia nunca poderia ser suprido pelo calor da lareira. Ele provinha do seu íntimo e doía. Oh! Se doía. Isolada, e agora completamente só, sentia-se perdida. O marido saíra de casa, depois de uma violenta discussão, quando ela descobrira o seu envolvimento com outra mulher, mais jovem do que a própria filha de ambos. Contudo, mais do que a partida de Raul, fora a reação da filha o que a mais magoara. Não fora ela que os mandara embora. O amor, quando é amor verdadeiro, é sempre bom, caso contrário não é amor. Enrolava os polegares, desenrolava e voltava a enrolar, mas nem isso lhe permitia avaliar a quantidade de amor que mandou pela meia janela que deixara entreaberta. Será que o amor é avaliável 101
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do de vez. Porém, o seu bom senso dizia-lhe que não era a melhor atitude a tomar. Cristina acabaria por precisar dela e voltaria. Ela estava certa disso. Quando Raul se cansasse de a ter sempre a controlá-lo, iria expulsá-la da sua vida, como fizera com ela. E depois? Que seria da sua querida filha se ela não estivesse ali para a abraçar, limpar as suas lágrimas causadas por um pai ignóbil, insensato e sem dignidade. Maria abraçava-se a si própria, como se estivesse a abraçar em simultâneo a sua querida filha. O frio vinha e a chama que ela sentia naquele auto-abraço rapidamente se apagava. Um arrepio correu-lhe pela espinha e estremeceu. De repente, a porta abriu-se de rompante e uma rajada de vento invadiu a sala, tornando-a ainda mais gélida. Uma sombra desenhou-se no seu umbral. Aterrorizada, Maria nem se mexeu. Os pensamentos corriam-lhe velozes. Quem seria? Um assaltante? Mas naquele ermo onde ficava a casa nunca passava ninguém! A sua autoconfiança regressou. Lentamente levantou-se; virou-se para a porta num repente, disposta a encarar tudo. A sua força interior voltara. Quase desfalecia! A imagem que estava à sua frente, tremendo de frio, enrolada numa manta suja e rota, era a da sua filha, aquela que ainda há instantes, mentalmente, ela aconchegara ao seu peito, como a sua mãe fazia quando ela era pequenina e hábito que transpusera para a sua filha, quando se magoava ou para a adormecer.
ou quantificável? Ela sentia-se incapaz de o fazer. Tinha amado Raul de uma forma indescritível, dando-se mais do que aquilo que ela própria pensava, alguma vez, ser capaz. A filha era a sua própria continuação e o amor de uma mãe é, absolutamente, imensurável. Cristina fora sempre muito chegada ao pai e, de uma forma imprevista, achava que a mãe era a culpada de toda a situação e abandonara-a também. Não sabia se tinha ido com o pai, por onde andava ou o que fazia. Não lhe atendia as chamadas telefónicas. Ignorava-a simplesmente. O seu desespero levava-a a pensar o pior. Suicidar-se? Seria a solução? Pelo menos assim acabava-se tu-
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De repente, a porta abriu-se
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de rompante e uma rajada de vento invadiu a sala, tornando-a ainda mais gélida. Uma sombra
como um autómato, abriu os braços. Cristina, hesitante, correu a refugiar-se neles. Lágrimas salgadas corriam-lhe pelas faces e apenas conseguia balbuciar: – Perdoa-me mãezinha. Perdoa-me. Fui uma ingrata e tu tinhas razão. O papá não nos merece. Perdoa-me! – Está tudo bem, minha querida. Entrelaçando os dedos no cabelo da filha, Maria Helena voltou a sorrir e o frio que veio trouxe uma chama que não se apagou, muito pelo contrário, reacendeu-se de uma forma tão intensa que ela apenas temia que tudo não passasse de uma miragem. Mais uma vez o amor venceu. Naquele momento, reviu-se de novo na “Motherless” que, tanto tempo atrás, conhecera.
desenhou-se no seu umbral. Aterrorizada, Maria nem se
mexeu. Os pensamentos corriam-lhe velozes. Quem seria? Um assaltante? Mas naquele ermo onde ficava a casa nunca passava ninguém!
A chama do amor maternal reacendeu, o frio desapareceu. Num gesto habitual nela, mas quase
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CRÓNICA
SOB O CÉU DE PARIS RITA QUEIROZ Natural de Salvador, Bahia, Brasil. Professora universitária, filóloga (pesquisadora do manuscrito), poeta. Autora dos livros «Confissões de Afrodite», «O Canto da Borboleta», «Canibalismos» (Penalux 2019, 2018, 2017), «Ciranda, Cirandinha: Vamos Brincar com Poesia?», «Colheitas» (Darda 2019, 2018). Organizadora de colectâneas. Colunista na Revista Cultural Evidenciarte. Integrante de diversas antologias, no Brasil e no exterior, e dos colectivos «Confraria Poética Feminina» e «Mulherio das Letras». Participou na antologia «Luz de Natal», da Colecção Sui Generis. Perfil no Facebook: www.facebook.com/rita.queiroz.334 Perfil no Instagram: @ritaquei e @ritaqueiroz.poeta
“Chegamos a Paris, a cidade luz, que nos encantou com seus bistrôs, seu metrô, seus Champs Elysees, sua Torre Eiffel, seus jardins de Versalhes. Sacre Coeur, Molin Rouge, Louvre, e ela, linda e imponente, Notre Dame. «La vie en rose» se fez nítida para nós. Ficamos em hotéis diferentes, mas um em frente ao outro. Naquela noite mágica, fomos ao teatro e depois à balada. Dançamos muito, estávamos felizes, nos apaixonamos. Ao voltarmos, “sous le ciel de Paris”, selamos nosso primeiro beijo e a viagem se tornou ainda mais emocionante. Sobre o Sena, deslizamos pelo Bateau Mouche e seguimos juntos, embalados por sonhos e desejos.” POR RITA QUEIROZ
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oje, ao fechar os olhos, lembrei de nós. nente, Notre Dame. «La vie en rose» se fez nítida Recordei, como fiz durante muito tempo, para nós. nosso encontro, voltando nitidamente Ficamos em hotéis diferentes, mas um em em minhas telas mentais. frente ao outro. Naquela noite mágica, fomos ao Nos conhecemos na Espateatro e depois à balada. Dannha, naquela viagem que fizeçamos muito, estávamos felimos há alguns anos. Você, tozes, nos apaixonamos. Ao volEm Veneza, os gondoleiros do sorrisos, se aproximou de tarmos, “sous le ciel de Paris”, mim e começamos a converselamos nosso primeiro beijo do amor nos conduziram sar. Desde então, não nos see a viagem se tornou ainda sobre os canais dessa bela paramos e seguimos juntos mais emocionante. Sobre o cidade. Não éramos Otelo aquela jornada no inverno euSena, deslizamos pelo Bateau ropeu. Mouche e seguimos juntos, e Desdêmona, mas já havia Saímos da Espanha rumo à embalados por sonhos e deseum traidor entre nós, cujos França. Chegamos a Paris, a cijos. ciúmes e inveja não foram dade luz, que nos encantou De Paris partimos para com seus bistrôs, seu metrô, Frankfurt, Zurich, Insbruck, oncontrolados e ele tentou seus Champs Elysees, sua Torde fizemos a nossa mais bela envenenar nosso amor. re Eiffel, seus jardins de Versafoto sob os pingos de neve lhes. Sacre Coeur, Molin Rouque nos prateou o corpo e a ge, Louvre, e ela, linda e impoalma. 106
A viagem já estava com os dias SG MAG #08
contados para terminar e meu coração ficava cada vez mais Chegamos à Itália, país pelo qual sempre fui apaixonada desde a infância. Em Verona, fomos Romeu e Julieta, sem escorpião, sem veneno, sem desengano. Em Veneza, os gondoleiros do amor nos conduziram sobre os canais dessa bela cidade. Não éramos Otelo e Desdêmona, mas já havia um traidor entre nós, cujos ciúmes e inveja não foram controlados e ele tentou envenenar nosso amor. No parque de diversões, perto da Piazza San Marco, você acertou no tiro ao alvo e recebeu de brinde um cachorrinho de pelúcia, ofertado a mim com todo carinho. Dei-lhe o nome de “Quindici”, numeral 15 em italiano. Seguimos mais unidos do que nunca. Em Roma, anagrama de amor, rodopiamos pelo Coliseu, Praça de Espanha, Fontana di Trevi. Nápoles, Capri, Pompéia, uma Itália encantada a nos descortinar os olhos e as emoções. A viagem já estava com os dias contados para terminar e meu coração ficava cada vez mais apertado, pois sabia que iríamos nos separar. Mas seguimos pela Côte d’Azur, voltando pelo território francês: Nice e Mônaco foram paradas obriga-
apertado, pois sabia que iríamos nos separar. Mas seguimos pela Côte d’Azur, voltando pelo território francês: Nice e Mônaco foram paradas obrigatórias.
tórias. Passamos para o território espanhol, chegando a Barcelona. La Rambla e suas flores, Montjuic, Sagrada Família, Parque Guell, seguíamos para o final. Chegamos a Madrid, fim da viagem. Despedida de um sonho de amor. Você voltou para Israel, eu para o Brasil, para os nossos destinos já traçados. Nunca te esqueci e espero que, em algum devaneio, lembre-se de mim. Ainda entoo os versos de Jobim e Vinícius: «Eu sei que vou sofrer a eterna desventura de viver / A espera de viver ao lado teu / Por toda a minha vida». Fechei os olhos e dormi!
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Rita Queiroz ĂŠ co-autora de Luz de Natal.
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LIRA VARGAS Nascida em 1952, reside em Niterói, RJ, Brasil. Formada em Letras, publicou 16 livros. Tem diversas participações em Feiras de Livros, TVs e Rádios, em obras colectivas e em movimentos literários no Brasil e em Miami, EUA, e classificações em vários festivais de literatura. Participou nas antologias «Luz de Natal» e «Sinfonia de Amor» da Colecção Sui Generis. Perfil no Facebook: www.facebook.com/clira.lira.7
VERA Sabe, já pensei várias vezes telefonar para você. Mas os problemas de família nos afastaram, e muitas vezes brigamos por futilidades. Às vezes me pego olhando pro céu, as estrelas estão lá, mas não são elas que estão vendo. Vejo o passado, em nossa infância brincando no pequenino quintal, correndo por entre os varais, onde os lençóis e roupas que nossa mãe lavava pareciam brincar também, ou o vento que soprava perfumado de sabão português que chegava a ser bom. Lembro das bacias reluzentes ao sol e a voz de nossa mãe cantando músicas que falavam de amor. As folhas caíam no chão e ela vigiava para não manchar as roupas que ela esfregava no velho tanque de cimento. As dificuldades daquela época, a pobreza que fazia parte de nossas vidas, não era nada, pois a gente se amava. Lembro que nossa mãe nos levava a casa de suas freguesas para entregar as roupas lavadas, e da espera daquela maçã que ela ganhava, mas que era dividida entre nós todos. E as bolsas confeccionadas dos bancos velhos dos ônibus que nosso pai era motorista. Que saudade daquela infância perdida que os tempos levaram para tão longe, e hoje a gente nem se fala, parecemos duas estranhas nessa vida que um dia foi uma só. No quarto apertado onde o sono nos levava para sonhos em castelos. E a voz de nossa mãe que se perdeu no céu, quem sabe ela canta para os anjos, pois os pássaros que acompanhavam suas músicas ainda cantam nas árvores, isso se chama saudade. É minha irmã, que saudade de você, que saudade de nós, saudade até de quando mamãe dormia no chão da cozinha exausta de trabalho, exausta pela bebida que ela se iludia para ter forças no tanque velho do pequeno quintal. Quem sabe, você está ouvindo essa carta, quem sabe o telefone toca e a gente marca um encontro no shopping para um café, mas queria que fosse ao quintal de nossa casa!
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Amélia M. Henriques é co-autora de O Beijo do Vampiro, Vendaval de Emoções, Graças a Deus!, Torrente de Paixões, Fúria de Viver, A Primavera dos Sorrisos, Tempo de Magia, Devassos no Paraíso, Luz de Natal e Sinfonia de Amor.
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de meteorológica na região da Alsácia. Assombrado pela memória terrífica da Primeira Guerra, e antecipando a destruição do que viria a ficar conhecido como a Segunda, Sartre anotou no seu caderno que o mundo contemporâneo «se permitia fazer coisas terríveis pois sabia que iria morrer». O prodigioso autor que veio a ser sinónimo do prestígio da cultura francesa no mundo admitiu que estava a absorver aquele sentimento de fragilidade com a maior das intensidades. «Eu sabia, todos nós sabíamos, que ele haveria de desaparecer. Agarrei-me a ele com todas as minhas forças». Terá sido essa sensação que começou a trepar às costas do choque com que muitos, no dia 15 de Abril deste ano, viram as imagens da catedral a sucumbir às chamas. Os franceses terão tentado agarrar-se àquele monumento que assinala a resistência entre nós de um mundo ancestral, ver as partes da majestosa catedral a desfazerem-se terá sido uma imagem do fim de um mundo.
Por aí fora... Por toda a França, em cada cidade, há catedrais que se erguem como esta, monumentos triunfais do passado. Um livro escrito em pedra», diz o Rei Luís XI, apontando para a catedral de Notre-Dame. Isto na adaptação cinematográfica de 1939 do clássico de Victor Hugo, O Corcunda de Notre-Dame (originalmente, Notre-Dame de Paris). Nesse filme do realizador alemão William Dieterle, que estreou numa altura em que a II Guerra Mundial marcava já o passo da devastação no Velho Continente, face a tudo o que se via ameaçado de perda, as palavras do rei francês assumiam um peso maior ao dizer-nos que as catedrais são os monumentos em que fica gravada «a caligrafia do passado». Hoje, depois de termos visto esse velho símbolo do orgulho da França ser consumido pelas chamas, somos lembrados do que escreveu Jean-Paul Sartre, também no final de 1939, numa altura em que integrava o contingente destacado para uma unida115
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recusou a aceitar as ordens, e conspirou nas costas do Fürher sabendo que a História podia até perdoar ao seu país as vidas de milhões de homens, mas nunca perdoaria um crime que roubasse ao futuro esta forma de conviver com a grandiosidade do passado. Não é a primeira vez que o monumento sofre sérios danos. A Revolução Francesa deixou as suas marcas. E este incêndio adquire também um significado simbólico, e deverá ter um efeito devastador na psicologia dos franceses, numa altura em que o país busca nas suas entranhas um ânimo que lhe permita voltar a inspirar a Europa de forma a que haja um futuro para um modo de vida que promove cada vez mais a alienação. Foi ali, naquela catedral católico-romana, que a Terceira Cruzada foi anunciada por Heráclio, o arcebispo de Cesaréia, foi ali que Henrique VI foi coroado rei da França, e Napoleão imperador. Foi nesta catedral que Joana d’Arc foi beatificada, e após a libertação de Paris este foi o monumento para o qual se voltou Charles de Gaulle, ao dirigir os seus ho-
DA TERCEIRA CRUZADA A CHARLES DE GAULLE A pedra não arde, mas sujeita a altas temperaturas estala, e é possível que a negligência das obras de restauro venha a significar um golpe num edifício que a História se encarregou de ligar ao próprio destino da França. Era, de resto, assim que começava o trágico romance de Hugo, em 1931: a palavra esculpida na parede significa “destino”. Tendo escapado à ameaça de demolição que pesava sobre ela no período da ocupação nazi, toda a gente conhece esse episódio milagroso em que Paris e os seus monumentos foram poupados devido ao grau de eloquência da sua beleza, que sem pronunciar uma palavra soube formular a mais tocante súplica quando, em agosto de 1944, Hitler ordenou a destruição da cidade das luzes. Foi o próprio governador militar alemão quem se 117
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mens numa procissão pelos Campos Elísios. Há um sem fim de mitos menores e maiores que, como a pedra, estão entretecidos nesta construção situada na pequena ilha Île de la Cité em Paris, rodeada pelas águas do Sena.
dem tão longamente a sua sombra no nosso imaginário, havendo uma série de rumores que garantem que um dos espinhos da coroa com que Jesus foi crucificado, bem como um dos pregos e um fragmento da cruz, estão ali escondidos. Para lá dos segredos que a catedral guarda, também a sumptuosa arquitetura a distingue, tratando-se de um monumento que nos é legado como o culminar do estilo gótico. E em 2012, quando começaram as cerimónias que assinalaram os 850 anos da catedral, o reitor e arcipreste da igreja, Patrick Jacquin, exaltava-o como «um símbolo de beleza, verdade e bondade». E se o nosso imaginário não pode deixar de ser tocado pela imponência da catedral, o que dizer da forma como a nossa infância tem ali um lugar de recreio junto das suas gárgulas e das personagens que, antes e depois de Hugo, dotaram o seu assombro de um encanto tão particular. E vale a pena lembrar as palavras do gigante das letras
O MAIS BELO SINAL DA PRESENÇA DE DEUS A ilha era habitada no final da Idade do Ferro pela tribo gaulesa Parissi, que deu à cidade o seu nome. A catedral assenta, assim, literalmente sobre o ponto zero da pátria francesa. Todas as distâncias são calculadas a partir da praça que fica de frente para as torres ocidentais da igreja. Reza a lenda que a primeira pedra foi colocada em 1163 com o Papa Alexandre III a presidir à cerimónia em que começou a elevar-se este monumento dedicado à mãe de Jesus. E poucos edifícios esten119
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francês que, naquele romance, nos disse que «um homem com um olho só é muito mais incompleto do que um cego, pois sabe exatamente aquilo que lhe falta». Uma frase que ressoou mais nesta hora, quando a vista magoada pelo que o incêndio destruiu torna mais dolorosa a noção do que ficou a faltar-nos. Num texto que reúne uma série de anotações de viagem de Henri Cole, quando visitou Paris, e que foi publicado na The New Yorker, o poeta norte-americano diz-nos que a forma como a luz penetrava os vitrais daquela catedral foi considerada em tempos o mais belo sinal da presença de Deus entre nós. E Cole cita então Quasimodo, o corcunda abandonado em criança nos degraus da Notre-Dame. «Nunca me dei conta do quão feio sou pois só agora percebo quanto alguém pode ser belo», disse ele a Esmeralda,
que nesse momento o consolou dando-lhe um gole de água a beber. Hoje, somos mais feios ao enfrentar a memória e as imagens da beleza que se perderam no dia 15 de Abril de 2019, num incêndio que pode servir pelo menos para nos lembrar de que o nosso mundo está a desaparecer, e devemos agarrar-nos a ele com toda a força que nos dá essa sensação de fragilidade.
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“Não partilho uma imagem de hoje. Mas partilho uma memória. Quando fui a Paris, por mero acaso e sem nunca ter planeado lá ir, lembro-me perfeitamente de chegar em frente à Notre Dame e, vou ser absolutamente sincero, de ter ficado desiludido com a fachada. As fotos que já tinha visto pareciam mostrar algo muito mais épico. Depois sentei-me por ali e fiquei a contemplar os detalhes. Dei a volta. Passei por baixo das gárgulas. Caminhei até ao outro lado. Vi as traseiras e foi aí junto ao rio Sena que me apercebi da magnificência, do esplendor, dos arrepios e da construção arrebatadora que tinha diante de mim. Foi aí que me apaixonei por Paris e tirei e publiquei esta foto. “Completamente apaixonado”, escrevi na altura. A música diz “não me arrependo de nada”. Mas eu arrependo, sim. De não ter entrado. De ter deixado para mais tarde porque nesse dia não havia tempo. Achei que estaria ali eternamente para me receber assim. E hoje, de repente, já não está.” Filipe Branco 15 de Abril de 2019 122
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LUCINDA MARIA Lucinda Maria Cardoso de Brito nasceu em Oliveira do Hospital, em 1952. Fez um percurso académico muito bom e tirou o curso do Magistério Primário, começando a leccionar em 1972. Encontra-se aposentada, mas continua a ensinar, agora artes decorativas, na Universidade Sénior de Rotary de Oliveira do Hospital. Tem seis livros publicados – «Palavras Sentidas» (2013), «Alma» (2014), «Divagando...» (2015), «Terra do Meu Coração» (2016), «Sonho?... Logo, Existo!» (Sui Generis, 2017) e «Um Ano... 365 Poemas» (2018) – e participações em variadíssimas obras colectivas. Da Colecção Sui Generis: «A Bíblia dos Pecadores», «Vendaval de Emoções», «Graças a Deus!», «Torrente de Paixões», «Fúria de Viver», «A Primavera dos Sorrisos», «Tempo de Magia», «Sinfonia de Amor» e «Luz de Natal». Como autora, gosta de identificar-se apenas por Lucinda Maria; não escreve segundo o Acordo Ortográfico de 1990. Perfil no Facebook: facebook.com/lucindamaria.brito
O MONUMENTO MAIS VISITADO DA EUROPA
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ociedade orfã de valores esta em que vivemos! Aliás, não se dá valor ao essencial, que é invisível. Como dizia SaintExupéry, através da raposa: «Só se vê bem com os olhos do coração!» Pois, orfã de valores, vazia de sentimentos, oca de moral e de bons costumes... esta sociedade em que vivemos! Vale tudo para se ter... o ser não importa, é negligenciado! Os bens materiais tudo comandam e reinam a hipocrisia, as máscaras, a mentira! Vale tudo e cada vez se vale menos! Até as recordações... para quê recordar? É inútil voltar ao passado, nem se quer saber... não dá dividendos! «Porque os outros são hábeis, mas tu não!» – assim versejava Sophia no seu poema “PORQUE” (um dos meus preferidos). Acabo de ler que o Senhor Presidente da República foi ao velório da cantora Dina. Não é que vários jovens o abordaram para tirarem “selfies” com ele? Sinceramente, que falta de respeito, que falta de tudo o que é (ou devia ser) essencial! A vida vai-nos dando lições da sua efemeridade. Pois vai! Mas... passam-nos ao lado, nem nos damos conta!
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Hoje [15 de Abril de 2019] – e estamos na Semana Santa – deflagrou um incêndio na Catedral de Notre-Dame, em Paris. Sim, aquela do Corcunda que falava com as gárgulas, suas únicas companheiras, que vivia escondido por causa da sua fealdade física. Ninguém queria saber que o seu coração era de ouro! Era feio, defeituoso, corcunda, um monstro! Tinha vergonha de que o vissem e escondia-se. Uma obra de ficção da autoria do escritor francês Victor Hugo de 1831, mas contendo ensinamentos que bem se podiam aplicar à sociedade actual.
Essa bela Catedral, situada na Île de La Cité no Rio Sena, que começou a ser construída em 1163, no mais maravilhoso estilo gótico, é somente o monumento mais visitado da Europa! Hoje incendiou-se e o mundo pasmou... e veio à tona a tristeza da perda de algo que nos era caro, até mesmo quem não conhecia! Talvez uma lição, quem sabe? O que somos nós quando estas coisas acontecem? Como nos sentimos? O que pensamos? Mudamos o nosso comportamento? A sensação é de impotência... na realidade, não somos nem podemos nada! Mas o pior é que não mudamos, nem vemos o quanto a nossa arroganciazinha é inútil, os nossos rancorezinhos são contraproducentes, o nosso umbigozinho é minúsculo perante a grandeza do inevitável!
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Cristina Sequeira ĂŠ co-autora de Torrente de PaixĂľes, A Primavera dos Sorrisos e Sinfonia de Amor.
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SÉRGIO SOLA Formador profissional na área de informática, com um pequeno devaneio: escrever. Nasceu em Olhão, em 1963. Em Julho de 2015, venceu o 5º Concurso Literário da Papel D’Arroz Editora, tendo abdicado, mais tarde, do prémio que lhe foi atribuído. Participações em obras colectivas: «Quando o Amor é Cego», «Amar (S)Em Desespero», «O Poder do Vício» e «Caprichos & Virtudes» na Papel D’Arroz; «Boas Festas» na Silkskin Editora. Da Colecção Sui Generis: «A Bíblia dos Pecadores», «O Beijo do Vampiro», «Ninguém Leva a Mal» e «Graças a Deus!». Página do Autor: Facebook: Sérgio Sola
ÉS TU O MEU MELHOR TEXTO
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ssas rugas que agora vejo com mais atenção... têm tanto que contar... Cada uma delas descreve-me a mim, cada uma delas dedicou-se a mim... sou feito delas, das tuas rugas. Cada socalco no teu rosto, por mais fino que seja, conta uma passagem da minha vida... não quero esquecê-lo, não quero esquecer-me do teu rosto... Será que haverá um dia, depois de partires, que não conseguirei lembrar-me dele? Não quero... não posso, não quero... Esse cabelo, antigo do tempo, prateado com os anos... Olho para ele e recordo-me de tempos, de momentos... tempos são momentos, não são? Tempos em que as rugas não existiam, o cabelo não era assim, os meus olhos não eram assim... mas agora queria olhá-la com os olhos antigos, queria vê-la em todos os momentos, derramando o seu amor por mim... queria vê-la... vêla até mais não poder... O presente é uma dádiva? Pode, sim, pode ser... mas o passado, ah o passado... que ternura nos traz... Um novo dia? É um dia a mais na tua idade, um dia a mais no agora que se transforma em futuro, um futuro anunciado, aquele futuro que eu não queria viver, aquela contagem decrescente que não queria fazer... 136
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Quero recordar-me sempre do teu rosto, do teu olhar, do teu carinho embevecido, do teu orgulho dissimulado, quando me olhas... quero recordar-me sempre. Quero decorá-lo, quero decorar o teu rosto... decorar as tuas expressões, lembrar-me das tuas expressões naquele futuro desolador, naquele futuro sem ti. Necessito encontrar um sentido para a tua ausência... lidarei melhor com ela? Talvez... Olha bem para ela, penso... Olha de perto, olha até te conseguires ver nos olhos dela. Os olhos, os olhares, denunciam a melhor parte do que somos. É pelos olhos que mostramos o quão felizes ou tristes estamos. É pelos olhos que choramos... é pelos olhos que, também, sorrimos. Mostra-lhe... diz a vozinha na minha cabeça... Mostra-lhe o teu sorriso de amor, mostralhe o teu amor... mostra-lhe tudo o que os teus olhos lhe querem dizer... tudo o que o teu sorriso embargado quer transmitir... o sorriso dos olhos pode ter mais valor do que o sorriso da boca... Como irei sentir falta de mais um olhar, de apenas mais um olhar... um último olhar...
Esse cabelo, antigo do tempo, prateado com os anos... Olho para ele e recordo-me de tempos, de momentos... tempos são momentos, não são? Tempos em que as rugas não existiam, o cabelo não era assim, os meus olhos não eram assim... mas agora queria olhá-la com os olhos
antigos, queria vê-la em todos os momentos, derramando o seu amor por mim... queria vê-la... vê-la até mais não poder... O presente é uma dádiva? Pode, sim, pode ser... mas o passado, ah o passado... que ternura nos traz...
Se esta folha fosse um quadro, devia terminar com uma assinatura... esta lágrima, enrugando a folha e borrando as últimas palavras... não vejo melhor assinatura...
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ENTREVISTA
ESTÊVÃO DE SOUSA Francisco Estêvão de Sousa, nascido a 17 de Julho de 1937, foi cedo para Angola, de onde regressou em 1974. Em Portugal, após uma vida dedicada ao sector administrativo e comercial em que desempenhou várias funções, aposentou-se, enveredando, desde então, pela escrita. Nessa sua nova fase, participou em cerca de duas dezenas de obras colectivas e colaborou com várias revistas literárias portuguesas e brasileiras. Tem neste momento editadas catorze obras literárias de sua autoria. A razão para esta entrevista são os últimos livros que publicou durante este ano pela Amazon: «Forças Ancestrais», «A Paixão do Templário» e a trilogia «A Escócia na Idade Média». POR ISIDRO SOUSA
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SG MAG – Desde a sua última entrevista à SG MAG, publicada em Agosto de 2018 (edição nº 5), apresentou diversos títulos na Amazon. Mais concretamente: lançou cinco novos livros entre Fevereiro e Junho deste ano. Encontra-se numa fase literária bastante produtiva... ESTÊVÃO DE SOUSA – De facto, editei durante estes últimos cinco meses cinco novas obras, o que dá uma média de uma obra por mês, sendo quatro destes livros romances de aventura e um que poderei considerar romance histórico.
A abundância da sua produção recente é notória. Escrever ajuda a iludir a passagem do tempo? E tendo em conta a sua já vasta obra (14 livros publicados) e esse ritmo veloz, diria que hoje a escrita flui com maior facilidade?
O que acicatou a escrita da trilogia «A Escócia na Idade Média»? O que o fascina neste período da História?
É absolutamente verdade que, com a continuação da escrita, esta flui com maior facilidade. E também não deixa de ser verdade que, ao escrever, sinto que estou a usufruir de, pelo menos, duas benesses: não dar pelo tempo passar e ter a mente ocupada (o que considero uma ótima terapia). Mas, acima de tudo, acho que devo contribuir com a minha modesta valia para transmitir aos outros algo de pouco que lhes possa ser útil.
A Idade Média sempre me seduziu pelas transformações operadas durante o seu período que, como sabemos, abrange desde a queda do Império Romano do Ocidente à transição para a Idade Moderna. Mas o que me levou a escrever esta trilogia foi fazer jus (passe a imodéstia) à luta do povo escocês pela sua independência, dando algum relevo aos heróis medievos que, com o seu denodo, conseguiram libertar-se do jugo inglês.
Estes cinco novos livros, publicados no primeiro semestre de 2019, foram escritos recentemente ou já estavam na gaveta e só agora os pôde publicar?
Quais foram os principais desafios para criar uma trilogia ambientada na época medieval? Pesquisa! Alguma pesquisa.
Todos os volumes, recém-publicados, foram escritos recentemente. Ou melhor, logo após a sua conclusão, procedi à sua autoedição.
E o que o fez situar as três obras que integram a trilogia justamente nos tempos conturbados
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Existem personagens mencionadas na trilogia que são pura ficção. No entanto, toda a história, narrada nos três volumes, gira à volta de factos reais ocorridos na Escócia nos séculos XI a XIII, em que algumas das principais personagens existiram realmente e tiveram papéis preponderantes na verdadeira história dos seus países.
Que aspectos mais relevantes destaca nesta trilogia em geral e em cada um dos três livros em particular? da Guerra da Independência da Escócia? Procurei inserir, nesta trilogia, os acontecimentos mais relevantes ocorridos na época em que a história narrada se desenrola. Desde as lutas pela independência, travadas pela Escócia com a Inglaterra, até à guerra dos cem anos entre a Inglaterra e a França, passando pelo feudalismo, nada ficou esquecido. Tentei abordar tais acontecimentos de um modo aligeirado e por vezes até hilariante, visto não ser, de modo algum, minha pretensão escrever um romance histórico, como aliás digo em cada um dos livros, na nota de autor.
A admiração por alguns dos seus heróis, como William Wallace e outros.
Apresente-nos, de um modo sucinto, cada um dos três livros que compõem a trilogia... A trilogia «A Escócia na Idade Média» é composta pelos seguintes volumes: «O Misterioso Desaparecimento da Princesa», «A Filha de William Wallace» e «A Viscondessa de Moray», exatamente pela ordem que aqui indico. No primeiro, um inocente engano dá origem ao surgimento, algum tempo depois, do personagem que vem a ser o primeiro rei da Escócia. No segundo é relatada a vida aventurosa da condessa de Moray, filha de William Wallace; e no terceiro a história desenrola-se à volta da viscondessa de Moray, filha da condessa atrás referida, a qual, após passar variadíssimas peripécias, vem a ser rainha de França.
Desde as lutas pela independência, travadas pela Escócia com a Inglaterra, até à guerra dos cem anos entre a Inglaterra e a França, passando pelo feudalismo, nada ficou esquecido.
Os títulos destas obras sugerem sempre protagonistas femininas: uma princesa, uma viscondessa e a filha de um fidalgo. Estas personagens terão realmente existido? Haverá traços biográficos com factos históricos nestes livros ou todas as histórias são fictícias?
Tentei abordar tais acontecimentos de um modo aligeirado e por vezes até hilariante, visto não ser, de modo algum, minha pretensão escrever 146
um romance histórico.
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Continuando no período medieval, eis a presença dos Cavaleiros Templários no quarto livro, publicado em Maio deste ano. O que o fascina no universo dos Templários? O que o fez escrever sobre este tema?
chamar a sua atenção para o livro. A prova de que estava certo é a pergunta que me faz. Tem toda a pertinência, quando sabemos que o templário ao entrar para a Ordem, além de outros votos, fazia também os de castidade e devoção. Assim, a sua grande e única paixão era Cristo.
Por ter estudado durante alguns anos no extinto colégio Nuno Álvares, em Tomar, cidade onde residi, que, como se sabe, é uma cidade templária, o tema templários é para mim bastante caro. Além de que existe uma certa conexão entre a trilogia «A Escócia na Idade Média» e os templários, dado que ambos se passam na mesma época e, pelo menos, um dos heróis da trilogia, segundo alguns, era templário; refiro-me a William Wallace.
Os lendários Cavaleiros existiram durante os séculos XII e XIII, enquanto ordem simultaneamente militar e monástica, activa e contemplativa, tendo como missão original levar a Terra Santa ao controlo dos cristãos. Instalaram-se em vários países e protegeram o Reino de Jerusalém durante 189 anos, entre 1118 e 1307, até que o rei Filipe IV de França, com a conivência do Papa Clemente V, declarou ilegal a Ordem dos Templários, confiscou-lhes todos os bens, perseguiu e executou alguns dos seus principais membros, que conheceram, desse modo, um fim sangrento. Qual é o período exacto da existência deles em que
Qual é o enredo de «A Paixão do Templário»? Em que se baseia a trama? E que paixão é essa que o título sugere? Escrever sobre um tema que tão escalpelizado tem sido, não é fácil! Até porque é muito difícil dizer-se algo que ainda não tenha sido dito. No entanto, por se tratar de um tema que me é tão querido, resolvi meter mãos à obra e julgo que consegui o meu objetivo, que foi: enumerar todos os feitos dos templários com a máxima exatidão e pela sua ordem cronológica sem, com isso, saturar o leitor menos dado ao estudo de acontecimentos históricos, proporcionando-lhe uma leitura descomplexada e divertida. Quanto ao título da obra, também aqui julgo que consegui os meus intentos, que eram: despertar a curiosidade do leitor e com o título
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situa a acção da sua obra? E porquê nesse período específico? Não procurei abordar um período específico mas sim toda a existência da Ordem, seus feitos, princípio e fim; e a grande importância que a mesma teve na construção de Portugal, bem assim como a sua sucedânea, Ordem de Cristo, nos descobrimentos portugueses.
A Ordem dos Templários chegou ao Condado Portucalense em 1126, ainda na época da infanta D. Teresa de Leão, Condessa de Portugal, e já depois da fundação do Reino de Portugal (em 1139) viria a estabelecer a sua sede no nosso país, a partir de 1160, em Tomar, onde permaneceu até à sua extinção. Até que ponto o seu livro situa (ou não) a presença dos nobres Cavaleiros no nosso país?
A injustiça cometida pelo rei de França com a extinção da Ordem, a morte bárbara do seu Grão-Mestre e alguns companheiros e a confiscação de todos (?) os seus bens.
Efetivamente procurei, no meu livro, abranger toda a permanência da Ordem dos Cavaleiros Templários em Portugal e, mais do que isso, a sua influência decisiva na construção do mesmo, tal qual hoje existe.
Há quem defenda que, devido ao grande número de membros da Ordem e tendo apenas uma parte sido executada (a maioria franceses), os Templários sobreviveram ao longo dos tempos. Cavaleiros de outras nacionalidades não foram aprisionados e isso possibilitou-lhes refugiarem-se em (outros) países como Escócia, Suíça ou Portugal. São imensas as lendas que se criaram e existe, inclusive, uma versão que faz ligação entre os Templários e uma das mais influentes e famosas sociedades secretas dos tempos actuais, a Maçonaria. Na sua perspectiva, eles ainda existem ou acredita que tenham sido realmente extintos? Qual é a sua visão sobre este assunto?
Factos e/ou personagens históricos têm relevo neste livro? Ou preferiu somente ambientar uma trama fictícia no universo templário? Tem elevado relevo neste livro o fundador da Ordem, Hugo de Payens, o seu último Grão-Mestre, Jacques de Molay, o Grão-Mestre em Portugal, Gualdim Pais, o monarca francês, Filipe IV, que esteve na origem da sua extinção, e o Papa Clemente que publicou a bula a extingui-la.
A minha visão sobre o fim, ou não, da Ordem dos Cavaleiros do Templo é de que os seus inimigos a não conseguiram extinguir, pelo menos na dimensão pretendida, e que a mesma perdura até hoje e conti-
Quais são os aspectos mais relevantes que destaca nesta obra?
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Ao proceder à visita ao Museu, o grupo de Erasmus, do 3º ano de Arqueologia da Universidade de Coimbra, vê-se repentinamente sem dois dos seus elementos, sem que para isso encontre qualquer explicação. O facto ocorrido dentro do Criptopórtico deixa os componentes do grupo completamente perplexos e incrédulos, sem qualquer explicação plausível.
O que pesou na escolha do título? Porquê «Forças Ancestrais»? Que forças são essas? Na trama apresentada no livro, as Forças Ancestrais são personalizadas por uma fação da monarquia japonesa que reivindica nuará a perdurar, existindo inclusive um ramo da mesma em Portugal, não tendo nada a ver com a Maçonaria.
A minha visão sobre o fim, ou
O último dos cinco livros editados em 2019, «Forças Ancestrais», regressa aos tempos actuais. Apresenta uma estudante de Arqueologia a iniciar o programa Erasmus em Coimbra... e, de acordo com a sinopse, ela irá envolver-se em aventuras inesperadas. Que aventuras? O que pode desvendar, desde já, sobre a trajectória desta protagonista?
não, da Ordem dos Cavaleiros do Templo é de que os seus inimigos a não conseguiram extinguir, pelo menos na dimensão pretendida, e que
Os protagonistas desta obra, os dois estudantes, Eric e Nastazia, ele Austríaco e ela Bielorrussa, colegas de Erasmus e namorados, lamentam a hora em que foram, com os restantes colegas, visitar o Criptopórtico de Aeminium.
a mesma perdura até hoje e continuará a perdurar, existindo inclusive um ramo da mesma em Portugal.
Em que se baseia o enredo? E quais os principais temas que esta obra aborda?
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para si o direito de colocar no trono imperial Nastazia, que considera a legítima imperatriz, não olhando a meios para atingir os fins a que se propõe.
e as pontas dos dedos e o ritmo alucinante dos últimos livros publicados, certamente já estará a preparar uma nova obra. Em que consistirá o próximo livro de Estêvão de Sousa?
Do conjunto destes cinco novos livros, qual deles considera ser o mais emblemático? Qual foi o mais marcante para si?
Neste momento ainda não tenho qualquer projeto em mente. Estou, verdadeiramente, num período sabático.
Destes cinco livros, o que considero ser o mais importante é «A Paixão do Templário», muito embora não seja o que se encontra mais virado para o grande público.
Deseja acrescentar algo que não tenha sido abordado ao longo da entrevista? Julgo que foram aflorados todos os assuntos que acho de interesse do público, pelo que só me resta agradecer a oportunidade que, mais uma vez, me foi dada para dar a conhecer algo da minha atividade literária. Bem haja.
Porque é que estes livros devem ser lidos? Por ter posto todo o empenho na sua execução, o que não quer dizer que sejam best-sellers; mas que são de agradável leitura, isso posso garantir.
Saiba mais sobre o autor Estêvão de Sousa na edição Nº 5 da SG MAG (Agosto 2018). Leia a primeira (longa) entrevista que ele concedeu a esta revista, na qual fala sobre o seu trajecto de vida, o percurso literário e as (nove) obras literárias anteriormente publicadas.
Tem ilusões quanto à posteridade do que publica? Tudo quanto publico é feito com muito amor e empenho, pelo que tenho ilusões quanto à sua posteridade, sabendo até de antemão que no seu conjunto existem boas e agradáveis leituras.
Estes livros vendem-se somente na Amazon ou existe alguma outra possibilidade de serem adquiridos? Quem os quiser comprar, como deverá proceder? Quem estiver interessado em ler livros de minha autoria poderá fazê-lo adquirindo-os na Amazon, na Wook ou ainda solicitando-os por email: estevaodesousa@hot mail.com
Tendo em conta tanto frenesim literário a dominar a sua mente
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ESTÊVÃO DE SOUSA
OBRA LITERÁRIA NESTA TERRA ABENÇOADA Edições Ecopy, 2014 TRÁFICO NO RIO GEBA Edições Vieira da Silva, 2014 IRINA – A GUERRILHEIRA 1ª Edição: Pastelaria Studios, 2015 2ª Edição: Amazon, Abril 2018 RAPTO EM LONDRES Edições Hórus, 2017 ROMANCE EM SÃO TOMÉ Amazon, Dezembro 2017 PEDAÇOS DE MIM Amazon, Dezembro 2017 CONTOS, ESTÓRIAS & COMPANHIA Amazon, Janeiro 2018 A PROFANAÇÃO DO TÚMULO Amazon, Março 2018 PÂNICO NO SUBÚRBIO Amazon, Agosto 2018 O MISTERIOSO DESAPARECIMENTO DA PRINCESA Amazon, Fevereiro 2019
A FILHA DE WILLIAM WALLACE Amazon, Março 2019 A VISCONDESSA DE MORAY Amazon, Abril 2019 A PAIXÃO DO TEMPLÁRIO Amazon, Maio 2019 FORÇAS ANCESTRAIS Amazon, Junho 2019
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Estêvão de Sousa é co-autor de A Bíblia dos Pecadores, O Beijo do Vampiro, Saloios & Caipiras, Fúria de Viver, Crimes Sem Rosto, A Primavera dos Sorrisos, Devassos no Paraíso, Os Vigaristas, Luz de Natal e Sinfonia de Amor.
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FICÇÃO
EXCERTOS DOS ÚLTIMOS LIVROS ESTÊVÃO DE SOUSA Nasceu em Lisboa, em 1937. Já aposentado, dedicou-se à escrita. É autor literário das seguintes obras: «Nesta Terra Abençoada» (2014), «Tráfico no Rio Geba» (2014), «Irina – A Guerrilheira» (2015), «Rapto em Londres» (2017), «Romance em São Tomé» (2017), «Pedaços de Mim» (2017), «Contos, Estórias & Companhia» (2018), «A Profanação do Túmulo» (2018), «Pânico no Subúrbio» (2018) e «O Misterioso Desaparecimento da Princesa» (2019). Tem trabalhos publicados em diversas obras colectivas. Da Colecção Sui Generis, participou nas antologias «A Bíblia dos Pecadores», «O Beijo do Vampiro», «Saloios & Caipiras», «Fúria de Viver», «Crimes Sem Rosto», «A Primavera dos Sorrisos», «Devassos no Paraíso», «Os Vigaristas», «Sinfonia de Amor» e «Luz de Natal».
“Ninguém havia visto a princesa, nem sequer era conhecida a existência, no castelo, de tal personagem real! Todos boquiabertos, olhando espantados uns para os outros, iam pensando que aquilo não passava de um sonho, e que ainda se encontravam a dormir nos respetivos aposentos, pelo que alguns se chegaram a beliscar pretendendo saber se estavam, ou não, acordados, o que deu azo a algumas escaramuças, especialmente por parte de alguns maridos nada satisfeitos, por verem
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os mais atrevidos, aproveitando-se, apalparem-lhes as respectivas mulheres.” POR ESTÊVÃO DE SOUSA
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Uns diziam que o castelo estava assombrado, maldizendo o terem de ali permanecer, servindo o senhor feudal. Outros, mais afoitos, mas não menos ignorantes, alvitravam tratar-se da aparição O estridente grito feminino ecoou fando fundador do castelo, o qual, ainda que já faletasmagoricamente no silêncio noturno cido, tinha vindo para amedrontar todos quantos, do castelo repercutindo-se pelos quatro à sua custa, ali iam fazendo cantos da fortificação fazengrandes festins. do com que todos os habiNinguém se entendia, e tantes se levantassem estretoda a gente estava por demunhados e, a medo, metesmais amedrontada para poO escudeiro do senhor feudal sem as cabeças fora das porder raciocinar com clareza. tas dos respectivos aposencomeçou por apelar ao silênFaltava essencialmente altos, ainda que de barretes na cio, informando de seguida guém capaz de pôr ordem cabeça e camisas de dormir naquela confusão! envergadas. que o grito ouvido durante Em dada altura, ouviu-se O castelo – dos primeiros a noite havia sido dado pela uma voz forte e bem timbraa serem construídos em peaia da princesa, a qual, ao da apelando ao silêncio e dra – erguido sobre um altaconvocando toda a gente paneiro monte, de onde se desdescobrir o leito da mesma ra uma reunião no salão nofrutava toda uma planície até vazio e após ter chamado e bre. ao mar, tinha perto de si um procurado pelos aposentos Todos reunidos; o escufrondoso bosque, em que dedeiro do senhor feudal comeambulavam sossegadamente mais próximos, sem obter çou por apelar ao silêncio, ingamos, veados, coelhos e qualquer resposta, entrou em formando de seguida que o perdizes, que desfrutavam histeria desatando a gritar. grito ouvido durante a noite deste a seu bel-prazer. havia sido dado pela aia da Contrariamente à calma Assim, ele, escudeiro, fazia princesa, a qual, ao descobrir evidenciada no exterior, nasaber que a princesa havia o leito da mesma vazio e quela noite, dentro da edifidesaparecido e, após esta após ter chamado e procuracação, todos os habitantes do pelos aposentos mais próestavam terrivelmente exciinformação nada agradável, ximos, sem obter qualquer tados, sem saberem a que indagava se algum dos resposta, entrou em histeria atribuir aquele horroroso gripresentes sabia algo sobre desatando a gritar. Assim, to de socorro acabado de ouele, escudeiro, fazia saber vir. o desaparecimento. que a princesa havia desapaApreensivos, interrogarecido e, após esta informavam-se, a medo, sobre quem ção nada agradável, indagava teria emitido grito tão estrise algum dos presentes sabia algo sobre o desapadente, e porque o havia feito. recimento, informando ainda que, desde logo, era Passado pouco tempo, e após se dar a descomestabelecido um magnânimo prémio para quem a pressão causada pelo pasmo inicial, gerou-se uma encontrasse, ou conhecesse o seu paradeiro. completa desordem com toda a gente correndo
EXCERTO DO LIVRO «O MISTERIOSO DESAPARECIMENTO DA PRINCESA»
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pelas várias dependências, interrogando-se e aventando as mais estranhas conjeturas. 158
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Ninguém havia visto a princesa, nem sequer era conhecida a existência, no castelo, de tal personagem real! Todos boquiabertos, olhando espantados uns para os outros, iam pensando que aquilo não passava de um sonho, e que ainda se encontravam a dormir nos respetivos aposentos,
pelo que alguns se chegaram a beliscar pretendendo saber se estavam, ou não, acordados, o que deu azo a algumas escaramuças, especialmente por parte de alguns maridos nada satisfeitos, por verem os mais atrevidos, aproveitandose, apalparem-lhes as respetivas mulheres. Dado o grotesco da situação, a partir daqui alguns começaram a desenvolver a teoria da assombração do castelo. Só podia ser! Visto que, sem haver assombração, não seria possível a existência, ali, de uma princesa, e esta desaparecer do seu leito, pela calada da noite, sem que ninguém se apercebesse!» 159
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Demonstrando possuir cultura e bom trato, com todos convive com afabilidade, deliciando até alguns – quase todos – com as suas histórias. De tal maneira a sua explanação dos assuntos é apreciada que muitas vão sendo as vezes em que lhe é solicitado um esclarecimento, ou a dissertação sobre algo que a alguém interessa. Mostrando-se sempre disponível para esclarecer, ou simplesmente satisfazer a curiosidade daqueles que a ele se socorrem – procurando de algum modo enriquecer o conhecimento – imediatamente se disponibiliza, quando a isso é solicitado. Porque tal prática já se tornou um hábito, é frequente, especialmente nas noites frias de inverno, com todos reunidos à volta da lareira que a Mariquinhas se esforça por manter bem acesa, ouvir-se um dos presentes dizer: – Então professor, hoje não nos conta uma das suas histórias? O jovem professor normalmente acomoda-se melhor na cadeira, sorve um pouco do café que, quentinho, o espera na chávena, e sem mais delongas responde ao que o interpelou: – E o que vais tu querer saber? – Começando, após o interessado lhe ter explicitado a pretensão, a satisfazer-lhe o desejo, o que faz com que todos os presentes deixem as conversas em que se encontravam envolvidos para, com mil ouvidos, se aprontarem a não perder pitada! Naquela noite, em que lá fora se ouvia a chuva a bater nos vidros das embaciadas janelas, impelida pelo forte vento que se fazia sentir, foi o nosso professor abordado por um dos presentes: – Ó professor! Ouvi ontem, na televisão, estarem a falar nuns templários, ou lá o que eles eram, que fiquei sem perceber nada. Parece que os homens iam daqui ao cabo do mundo para darem bordoada nos mouros. Isso é verdade?
EXCERTO DO LIVRO «A PAIXÃO DO TEMPLÁRIO» «Esta Mariquinhas, rapariga vistosa, de cabelos bem pretos, olhos negros e formas arredondadas, de onde sobressai um apetecível busto, traz “presos pelo beicinho” uma meia dúzia de rapazes das redondezas, sem falarmos no professor que há pouco tempo foi colocado na vila e que – julgamos nós – por causa dela, todos os dias à noite ali vai passar o serão. Este professor, jovem, bemparecido e extremamente simpático, rapidamente cativou os habituais frequentadores do café da Mariquinhas, como todos lhe chamam. 160
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– Olha, meu caro Zé Cebola: existiu de facto uma ordem militar de cavaleiros que se propunha combater os sarracenos. – Ó professor! Desculpe, mas eu não estou a perceber nada do que está para aí a dizer. – Lamentou-se um dos ouvintes. – Eu sei lá o que são sarracenos? – Bem, meu caro Joaquim, sendo assim, acho que vou ter de contar uma longa história para que todos fiquem a saber quem eram os sarracenos, os templários e tantos outros em que iremos falar. Estão dispostos a passar uns valentes serões a escutar-me? De imediato se ouviu em uníssono: – Sim!!! – Pois então, aqui vai... Tudo começou quando na região francesa de Champanhe nove cavaleiros se juntaram e constituíram um grupo que se propunha defender os cristãos na primeira cruzada à Terra Santa. Após as batalhas contra os mouros, seguidores da religião Islã, os cavaleiros cruzados regressaram às suas terras, enquanto Hugo de Payens, com os restantes oito companheiros, oferecia os seus serviços ao rei cristão Balduíno II, para ficarem em Jerusalém, protegendo os cristãos que visitavam a
Após as batalhas contra os mouros, seguidores da religião Islã, os cavaleiros cruzados regressaram às suas terras, enquanto Hugo de Payens, com os restantes oito companheiros, oferecia os seus serviços ao rei cristão Balduíno II, para ficarem em Jerusalém, protegendo os cristãos que visitavam a Cidade Santa, transitando desprotegidos pelas estradas, desde o porto de Acre a Jerusalém.
Cidade Santa, transitando desprotegidos pelas estradas, desde o porto de Acre a Jerusalém. Com a anuência do rei, que os financiou, Hugo de Payens fundou em 1118 a primeira ordem militar monástica com o nome de Pobres Cavaleiros de Cristo, a qual veio a ser reconhecida pelo Papa em 1120. Instalada a sua sede no local onde havia existido um antigo templo de Salomão, ficou por isso conhecida por Ordem dos Cavaleiros do Templo, ou dos Templários. – Mas... O professor dá-me licença? – Diz lá, Zé do Chibo! – O que é uma cruzada?»
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dos estamos convictos de que escolhemos o programa certo para o que pretendíamos: fazer escavações arqueológicas! A existência, aqui tão perto, das ruínas romanas de Conimbriga tem-nos proporcionado uma prática constante do exercício – para nós tão importante – da escavação. Com todos os meus colegas, fiz ao longo deste tempo uma sã e agradável amizade. No entanto, devo dizer que, com a Nastazia, o sentimento que nos une vai bastante para além da simples amizade. Nutro por ela um misto de amor, desejo e proteção, difícil de descrever. A Nastazia é uma Bielorussa natural de Minsk. Linda de morrer! Alta, loura, olhos azuis, com um rosto de anjo e um corpo de sereia. Se a isto aliarmos um riso fácil e esfuziante e uma permanente boa disposição, temos a foto exata da minha namorada. No entanto, tem um aspeto de tanta fragilidade e é tão impressionável que me chega a causar preocupação por tal fragilidade não ser normal numa rapariga dos nossos dias, levando-me algumas vezes a pensar se ela teria escolhido, com acerto, o curso de arqueóloga. Não é que os arqueólogos tenham de andar, a todo o momento, a deparar com coisas esquisitas, como esqueletos, ossadas e quejandos, mas que às vezes os encontram, lá isso encontram!
EXCERTO 1 DO LIVRO «FORÇAS ANCESTRAIS» «E… Tudo começou assim!... Ávidos por conhecerem que mistérios encerra o criptopórtico da extinta cidade Aeminium, o grupo de estudantes de Arqueologia que, através do programa Erasmus, se encontra na Universidade de Coimbra, dirigiu-se ao Museu Machado de Castro, sob o qual o mesmo se situa. Deste grupo, de um total de dezoito alunos, de ambos os sexos e de diversas nacionalidades, faço parte eu. Sou Austríaco e, na Universidade de Viena, frequento o terceiro ano do curso de Arqueologia. Tenho vinte e dois anos e o meu nome é Eric. Inscrevi-me no Erasmus e cá estou há cerca de três meses, fazendo parte deste maravilhoso grupo que respira juventude e em que todos, embora das mais díspares origens, funcionamos como se fôssemos um só. To-
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Naquele dia, o nosso grupo, conjuntamente com mais dez colegas portugueses que connosco costumam fazer escavações em Conimbriga, entrou no Museu com o objetivo principal de visitar o criptopórtico romano, datado de meados do século I, o qual se destinava a suportar o Fórum, na altura a sede da vida política, administrativa e religiosa de Aeminium, a Coimbra romana. Este criptopórtico, com a sua vasta rede de galerias e espaAssim aconteceu com a Nastazia e o Yoko, um ços comunicantes, é um dos principais atrativos japonês também a fazer Erasmus, que deixaram do Museu. Segundo a explicação que nos ia sendo de ser vistos a partir da altura em que o grupo dada pelo nosso professor, a cidade Aeminium tesaiu da nave principal, do criptopórtico, desapareve o seu maior incremento com a deslocação dos cendo então da nossa vista. habitantes de Conimbriga, os quais, perseguidos e A visita foi decorrendo, com todos ouvindo as saqueados pelos Suevos, nos séculos V e VI, aqui explicações do mestre, de tal modo inebriados se vieram refugiar. Esta fixapelos conhecimentos, ção provocou um tão grande por ele transmitidos, desenvolvimento que a peque nos alheámos do quena Aeminium atingiu que se passava à nossa A visita foi decorrendo, com contornos de grande urbe, volta. Até eu, que nortodos ouvindo as explicações passando a chamar-se Coimmalmente ando abrabra. do mestre, de tal modo inebriaçado à Nastazia, me esEnquanto o responsável queci, por momentos, dos pelos conhecimentos, pela cadeira de Arqueologia, da sua existência. por ele transmitidos, que nos da Universidade de Coimbra, Quando chegou a nos ia dando estes ensinaalheámos do que se passava hora de nos retirarmentos, nós íamos vascumos, por o Museu ir feà nossa volta. Até eu, que lhando tudo, com o olhar, à char, é que reparei na normalmente ando abraçado nossa volta. Alguns, ao vefalta da minha namorarem uma passagem, das váda. Procurando minuà Nastazia, me esqueci, por rias que existem nas pareciosamente e interromomentos, da sua existência. des, despertava-lhes a curiogando os restantes Quando chegou a hora de nos sidade e, bastas vezes, sem membros do grupo, que os restantes se apercechegámos à conclusão retirarmos, por o Museu ir bessem, partiam numa tenque faltavam dois elefechar, é que reparei na falta tativa de exploração da mesmentos: a Nastazia e o da minha namorada. ma, regressando ao grupo alYoko.» gum tempo depois.
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A Nastazia, embora desejosa de começar às gargalhadas, dado o caricato da situação, para ela, completamente fora de contexto, manteve-se no entanto séria, fazendo contudo algum esforço para o efeito. Mas, olhando para a pobre rapariga, disse-lhe: – Minha linda: levantate e esclarece-me o que eu, por mais que me esforce, não consigo perceber. “– O que é isso de me chamares Alteza Imperial? E de dizeres que vou receber a visita de um parente chamado Takeda não sei quê? Eu não sou nada do EXCERTO 2 DO LIVRO que dizes, a menos que seja uma figura de poli«FORÇAS ANCESTRAIS» chinelo! Ou eu estou a ficar doida, ou são vocês que apanharam calor excessivo na cabeça! «Enquanto, pela boca do Yoko, tomávamos co“– Embora agradecida pela hospedagem e penhecimento de todas estas coisas que nos arrepilas mordomias que me têm avam, em Haha-Jima a Nassido dispensadas, o que eu tazia era posta perante a requero é voltar para o meu alidade. Naquele dia, estancurso de Erasmus, em CoimApareceu na sala um indivído a ler uma revista para bra. Para o meu namorado e duo de que ela se lembrava, passar o tempo, que cada para os meus pais. Será asvez era mais difícil de passar, muito vagamente, ter viajado sim tão difícil de entender isfoi abordada pela única cato? na sua companhia, de Lisboa mareira que falava um pouEnquanto ela falava, a co de inglês, a qual, numa para Tóquio. Mas a ideia que sua interlocutora mantinhapronúncia arrastada e algo tinha era muito difusa em se naquela postura servil, difícil de compreender, lhe sem responder uma palavra. virtude de, em toda a viagem, disse: Já irritada, disse-lhe: – Perdão Alteza Imperial! ter vindo dopada. O homem – Ó menina! Saia daí, e Preciso avisar Vossa Majesque agora estava na sua que venha lá então o não sei tade que vai receber dentro quê falar comigo! presença era um indivíduo de uma hora a visita de TaA ama fez uma vénia e, keda-Kun, nosso senhor e japonês, dos seus trinta e andando às arrecuas, saiu da vosso parente. – Dizia isto poucos anos, bem constituído sala. numa posição de servil obe«Mas isto é que está aqui e de modos desenvoltos. diência, a uma considerável uma vida!» Pensava a Nastadistância, curvada e sem lezia, já farta daquilo tudo. vantar os olhos do chão. 164
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Passado de facto algum tempo, apareceu na sala um indivíduo de que ela se lembrava, muito vagamente, ter viajado na sua companhia, de Lisboa para Tóquio. Mas a ideia que tinha era muito difusa em virtude de, em toda a viagem, ter vindo dopada. O homem que agora estava na sua presença era um indivíduo japonês, dos seus trinta e poucos anos, bem constituído e de modos desenvoltos. Assim que chegou junto dela, estendendo a mão, disse em bom inglês: – Olá priminha! Tens estado confortável? Se te faltar alguma coisa é só tocares a campainha ou pedir de viva voz. – E, antes que ela dissesse algo, já ele estava a dizer: – Bem, mas o que me trouxe aqui não foi saber se te falta alguma coisa, que isso sei que não falta. Foi, sim, dizer-te que te prepares porque o grande dia está a chegar. O dia em que o Japão acordará para o mundo e será, enfim, governado por quem de direito: tu, priminha!
– Olhe, eu não sei se é meu primo ou não! Mas o que sei é que não sou nenhuma imperatriz, ou lá o que vocês querem! Eu só quero ir-me embora, e vocês que fiquem por cá muito felizes, com as vossas trapalhadas! Isto parece-me que está é tudo doido! – Calma, priminha. A tua reação é normal. Foste apanhada de surpresa! Mas a realidade é esta: tu és a legítima imperatriz do país do sol nascente! – Ora, vai à fava mais o teu Império, que a mim não diz nada! Já disse e volto a repetir: o que quero é ir-me embora! Fixa isto bem na tua cabeça! – Pois, mas isso não é assim tão simples. O Conselho Imperial já tomou a decisão, e esta é absolutamente irrevogável! “– Os Takeda têm, por direito próprio, a obrigação de governar o Japão, e esse direito, que já vem desde gerações ancestrais a ser usurpado, não pode continuar a sê-lo, sob pena de haver uma chacina no país.»
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O autor Estêvão de Sousa, que colabora regularmente com a SG MAG, tomou a iniciativa de imprimir a penúltima edição (não esquecer que a revista só é publicada em formato electrónico)... e ei-lo nesta fotografia, que quis partilhar connosco, com a SG MAG nº 6 nas mãos! E deixou-nos estas palavras:
AGRADECIMENTO Ao abrir o computador, fui hoje surpreendido com o número 6 da SG Magazine. Sabia que estava prestes a sair porque o seu dinamizador/coordenador, Isidro Sousa, já no-lo havia comunicado. No entanto, a minha surpresa foi sendo tanto maior quanto fui tomando conhecimento do seu conteúdo. Absolutamente fantástico!!! Quem me conhece sabe que não sou de lisonja fácil, mas sei que não exagero ao classificar de fantástico o presente exemplar da já conceituada revista, toda ela fruto do trabalho e da tenacidade de um homem para quem “vale mais partir do que torcer”! Bem haja, Isidro, pelo que de bom nos tem dado. Estêvão de Sousa, 15 de Fevereiro de 2019
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O autor Estêvão de Sousa, que colabora regularmente com a SG MAG, imprimiu novamente a nossa revista, desta vez a última edição... e ei-lo na fotografia, que quis partilhar connosco, com a SG MAG nº 7 nas mãos! Enviou-no-la por email junto com estas palavras:
Amigo Isidro: Fazendo jus à superior qualidade da revista SG Magazine, venho reiterar tudo o que disse em relação ao número anterior e, aplicando-o ao actual, continuo a mostrar toda a minha admiração pelo trabalho que tem sido desenvolvido pelo Isidro e por quem o acompanha nesta profícua tarefa. Parabéns! Um forte abraço Estêvão de Sousa, 14 de Julho de 2019
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ESTÊVÃO DE SOUSA Nasceu em Lisboa, em 1937. Já aposentado, dedicou-se à escrita. É autor literário de catorze obras: «Nesta Terra Abençoada» (2014), «Tráfico no Rio Geba» (2014), «Irina – A Guerrilheira» (2015), «Rapto em Londres» (2017), «Romance em São Tomé» (2017), «Pedaços de Mim» (2017), «Contos, Estórias & Companhia» (2018), «A Profanação do Túmulo» (2018), «Pânico no Subúrbio» (2018), «O Misterioso Desaparecimento da Princesa» (2019), «A Filha de William Wallace» (2019), «A Viscondessa de Moray» (2019), «A Paixão do Templário» (2019) e «Forças Ancestrais» (2019). Tem trabalhos publicados em diversas obras colectivas. Da Colecção Sui Generis, participou nas seguintes antologias: «A Bíblia dos Pecadores», «O Beijo do Vampiro», «Saloios & Caipiras», «Fúria de Viver», «Crimes Sem Rosto», «A Primavera dos Sorrisos», «Devassos no Paraíso», «Os Vigaristas», «Luz de Natal» e «Sinfonia de Amor». Perfil no Facebook: www.facebook.com/francisco.estevao desousa
TEMPO
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oje sinto-me triste. Acabei de fazer oitenta e dois anos! Mas isso é motivo para estar contente, dirão alguns! Fazer anos é sempre motivo para regozijo. Pois... experimentem fazer oitenta e dois! Sintam a frustração de pensar que, à vossa frente, a vida colocou uma barreira que vos impede de fazer projetos a médio e longo prazo. Que, ao pensarem naquela viagem que gostariam de fazer, ou naquele outro projeto que ainda gostariam de realizar, chegam à conclusão de que já não vai ser possível. Já não há tempo! O tempo com as suas limitações! Mas... porque tem de ser assim? Porque temos de ser escravos do tempo? Porque passamos a vida inteira a correr contra o tempo e quando pensamos que “enfim, agora tenho tempo” somos novamente vítimas da sua imposição! Ele, com a sua inexorável marcha, cilindra tudo! Aos mais novos, àqueles a quem este pequeno desabafo possa parecer desajustado, direi: Aproveitem bem a vida! Tirem o máximo partido dela; porque, mesmo que não vos seja curta, verão que passa demasiado depressa! Ao tempo direi: A ti, apesar de teres sido pródigo para comigo, sinto que passaste muito a correr!
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INDRISO JUNINO 1 [ Tauã Lima Verdan ]
Ó SÃO JOÃO [ Diogo Alves ]
Ó São João quero brincar Arranja-me uma namorada Já tenho o martelo pronto Para lhe dar a martelada! Ó São João já está calor E o calor estraga o vinho Bebe agora essa caneca Leva outra para o caminho!
Ergue-se a fogueira alaranjada flamejante No ar, o cheiro delicioso e tão contrastante Das guloseimas juninas, o sabor inebriante Canta contente a quadrilha em ritmo pegado Baila a mulher, dança o homem tão animado Ouve-se, ao longe, o som da sanfona ritmado Festa junina ardente na noite fria de inverno O corpo quente se move ao bailado junino
Ó São João faz um favor Endireita minha vida Encontra o meu amor E que venha já despida! São João apaga o lume Que esta noite já vai alta E vai lá buscar as moças Para darem alegria à malta! Esta noite é uma alegria Pró martelo e pró alho E quando já for de manhã Vai-se a festa pró “maneta”! O São João é um gajo fixe Que sabe saltar à fogueira Por cada copo que bebe Apanha uma bebedeira! O São João é um gajo Santo Que tem muitos afazeres Ele passa o dia no altar E à noite é só mulheres! 176
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Santo António acabou, São João vai acabar, O São Pedro é que fechou, Com a chave que ficou, A festa não vai parar.
SÃO JOÃO [ Armindo Gonçalves ]
Vamos comer e beber, É noite de diversão, Mas saber o que fazer, Para não se arrepender, Beber com moderação.
“Uma sardinha no pão, e um copo de vinho bom.” Ó meu rico São João, Tua festa é de folia, Estás no nosso coração, Com amor e com paixão, Até ao raiar do dia.
Ó meu São João do Porto, De tão formosa cidade, Chego à noite todo torto, Quase que me sinto morto, No coração a saudade.
Vamos saltar a fogueira, E largarmos o balão, Alegria a noite inteira, O frio não é barreira, É noite de São João.
Ó São João meu pastor, Cuida bem do cordeirinho, Na vida não falte amor, Vamos pedir um favor, Bom ano de pão e vinho.
A sardinha vai pingar, Numa fatia de pão, E depois para regar, Para o calor acalmar, Um copo de vinho bom. É noite de bailarico, Mas que grande animação, Eu em casa é que não fico, Alho-porro e manjerico, Ó meu rico São João. 177
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VIVA SÃO JOÃO [ Janice Reis Morais ]
Olha a Igreja de São João cheia e iluminada Padre reza a missa com devoção depois tem quermesse animada Apesar do frio e vento tem calor no coração para aumentar o contento um bom copo de quentão Fogueira esquenta e clareia sem balão, por gentileza se brincar, ele incendeia a nossa mãe natureza
SÃO JOÃO DOS CARNEIRINHOS
Deliciosas comidas juninas canjica, pinhão, vinho quente e pipoca o que mais agrada as meninas é pé de moleque, maçã do amor e paçoca
[ Carmen Lúcia de Queiroz Pires ]
Hora de dançar a quadrilha cada um escolhe seu par festança boa, maravilha alegria e paz que está a reinar
São João dos carneirinhos Da alegria e da fartura Da sanfona, do triângulo Da zabumba e do ganzá
Abençoe esse povo festeiro nosso querido São João e cantaremos o ano inteiro Sua capelinha de melão!
Das pamonhas, das canjicas Milho verde, manguzá Das fogueiras tão acesas No meio do “arraiá”
Capelinha de melão é de São João!!!
Meu coração em pujança Vem de forma mais humilde Pedir a sua bênção Nessa noite de luar!
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VISITA DE SÃO JOÃO [ Anita Santana ]
Desde menina Espero São João A preparação, as conversas Adiavam a vontade de vivê-lo. O céu colorido por bandeirolas Povoava sonhos infantis E trazia sentimentos de magia!!! Desde menina Acompanho São João No calor da fogueira Esquentando corpo e alma Nas brincadeiras alegres Em volta da lenha queimando Desmanchando-se em cinzas.
É SÃO JOÃO [ Paulo Roberto Silva ]
Vamos dançar ao som da sanfona É festa É cultura É São João.
Desde menina Passeio com São João Pelas barracas repletas de fogos Chuvinha, traque, estrelinha... Pelo vendedor de pipocas Salgando minha boca Alimentando minha vontade!!!
Pular fogueira Soltar rojão Rezar para São João E tomar muito quentão.
Desde menina Escuto com São João Dominguinhos, Trio Nordestino, Gonzagão E tantos outros com suas sanfonas encantadas. Seguia com passos tímidos, desengonçados Enquanto o coração rodopiava de contente Acalmando-se com a chegada do sono.
Fogueiras e balões Fogos e bandeirolas Quadrilhas e pipocas Milho, curau e quentão. E viva São João Celebrar a renovação Boas novas virão Natureza renascer no chão.
Desde menina Sigo São João Ainda com os mesmos passos Mas com o coração com o ritmo mais lento Muitas das brincadeiras e passeios Ficaram nas memórias guardadas da infância E por isso, todos os anos, São João vem me visitar.
Paz presente Amor de vida nova É São João Pura renovação. 179
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SIMPATIA
INDRISO JUNINO 2
[ Paulo Roberto Silva ]
Hoje faço um pedido Pedido para São João E quem sabe ser atendido E um amor encontrar. Acender fogueira vou Passear descalço nas brasas Faca virgem na mão E depois na bananeira cravar. Acordar de manhãzinha E a faca retirar Na nódoa da bananeira A letra do seu nome encontrar.
[ Tauã Lima Verdan ]
A bandeirola colorida se movimenta com o vento Uma feliz memória marcada, um saudoso alento Comilança gostosa, sem dúvida, o melhor intento A broa de milho exala o odor convidativo e perfumado Invade o grande arraial em meio ao frenético bailado Todos sentem o cheiro da comilança tão aproximado Festa junina de cantos, músicas típicas e encantos Em que a formosa mulher dança em meio a tantos
Você será meu amor Assim disse São João E na próxima festa do Santo O casamento celebrar. São João meu Santo fiel A simpatia já fiz Traz então o meu amor Inteirinho para mim.
INDRISO JUNINO 3 [ Tauã Lima Verdan ]
O vento frio corre largo em açoite a noite junina Dança de um lado o jovem, do outro a menina Eleva-se o cheiro gostoso, sensação que alucina Baila a quadrilha em meio ao forró e ao xaxado Ao som da música de tantos versos, belo rimado De uma noitada aquecida ao toque do enamorado Festa junina colorida e com a fogueira ardente Incendeia o arraial, o verso cantado e tanta gente 180
SG MAG #08
É NOITE DE SÃO JOÃO [ Maria João Abreu ]
Oh meu rico São João Para ti tenho uma oração Dai-me saúde, paz e alegria Amor e boa disposição!
Pelas ruas comes e bebes Bailes e marchas populares Junto à foz está tudo louco Nesta cidade do Porto.
Neste dia de São João Vamos dançar e cantar Brindar com alegria Também à poesia!
Nesta noite de São João Vou para a rua festejar Comer sardinha no pão Vou brincar e dançar.
Um manjerico vou comprar Isso não pode faltar... E faço questão da quadra escrevinhar Para te a dedicar!
Vou levar o martelinho na mão E com ele vou-te martelar E também o alho-porro Para te dar a cheirar!
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FESTAS JUNINAS [ Sonia R. A. Carvalho ]
E a festança vai continuar Vai ter comida à vontade Pipoca, pé de moleque e quentão Vai ser só felicidade
VIVA A SÃO JOÃO! [ Rita Queiroz ]
É festa junina Que amo de paixão Traz alegria no arrasta pé Alegra demais o coração
Chegou o São João Festa no Nordeste brasileiro Vamos bailar Dançar quadrilha E fogueira pular!
O coração vai bater forte Os casais saem alegremente Dançando quadrilha, forró Todo mundo contente
Fogos estourar Tem chuvinha Tem bomba E traque para pipocar!
Não se deve faltar nessa Tão linda festança Levar o coração, alma E, claro, o corpo para essa dança
Chegou o São João Comidas gostosas não vão faltar Milho assado, amendoim cozido E todo tipo de licor para esquentar!
Não perco por nada essa animação Vou me acabar nessa festança No dia seguinte é que vou descansar De tanta alegria e comilança
Também tem bolo de aipim Bolo de puba, lelê, canjica há Laranja, tangerina Muitas gostosuras para degustar!
Eita! Festa boa que é essa dos Santos São Pedro, Santo Antônio e São João Tanta alegria que faz tão bem Para o corpo, alma e coração! 182
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BANDEIRINHAS COLORIDAS [ Raquel Lopes ]
O dia surge na minha rua com o céu todo enfeitado Da janela vejo coloridas bandeirinhas e balões balançando-se em folia com o vento É lindo ver a alegria saltar no amontoado da fogueira a brilhar na noite Folguedos para comemorar o São João Das comidas típicas Tudo é gostosura Tudo é tradição que perdura. Das bandeirinhas coloridas Que sabem alegrar o dia lá na rua do São João O feriado anuncia muita festa e animação.
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VIVA SÃO JOÃO [ Roselena de Fátima Nunes Fagundes ]
FOGUEIRA DE SÃO JOÃO
São João do meu coração, ilumina na luz da folia, fortalece na força da tradição, incendeia no fogo da fogueira!
[ Mikael Mansur Martinelli ]
Viva a alegria de São João, viva o junho com harmonia, viva o povo que ama São João, viva a belezura da sinfonia!
Depois de todo calor da fogueira Sobram brasas em meio às cinzas Feito estrelinhas no céu.
São João do meu povo, proteja a nossa devoção, aqueça a nossa fé de novo, atenda sempre nossa oração!
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Vieirinha Vieira ĂŠ co-autora de Luz de Natal e Sinfonia de Amor.
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CONTO
A CLAUSURA DE KEMATIAN NARDÉLIO F. LUZ Mineiro de Araxá radicado em Uberlândia, Brasil, autodidacta, é apaixonado por literatura desde a infância, mas só começou a escrever aos 31 anos, para combater o ócio após ter sofrido um acidente que o deixou tetraplégico. Participou em várias antologias de contos e poesias e em 2007 publicou o seu primeiro livro solo, uma autobiografia intitulada «Vida Após a Vida», com 384 páginas, pela Editora Viena. Em 2017, publicou o segundo livro, «A Clausura de Kematian e Outros Contos Insólitos», pela Editora Becalete. Da Colecção Sui Generis, participou nas antologias «Fúria de Viver» e «A Primavera dos Sorrisos». Perfil no Facebook: www.facebook.com/nardelio.luz Páginas do Autor: www.facebook.com/nardelio.luz escrivaninhafantasma.blogspot.com www.youtube.com/user/narfeluz Instagran: @nardelio.luz
“A fome é avassaladora, parece hoje mais que ontem, como o fora mais que anteontem! O feitiço deve estar enfraquecendo. Mesmo daqui posso sentir o líquido correndo espesso nas veias deles, nutrindo a carne como veios d’água nutrem a terra. Como magma quente espremido nas entranhas capilares do planeta. Eu poderia subir numa noite dessas, experimentar novamente a carne fresca. As trevas são minhas amigas, minhas protetoras, e creio que até façam votos para que eu quebre sua rotina perpétua com alguns jorros escarlates. Mas então o feitiço seria quebrado como fora o selo.” POR NARDÉLIO F. LUZ
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u poderia deixá-la partir. Eu deveria “lavar protetoras, e creio que até façam votos para que as mãos” e deixá-la partir! Afinal foram eles eu quebre sua rotina perpétua com alguns jorros que quebraram o selo que nos enclausuraescarlates. Mas então o feitiço seria quebrado cova, não é mais minha responsabilidade. Mas de mo fora o selo. que adianta me enganar? O medo da solidão que Ademais, é grande o risco de sermos descoberse seguirá à partida dela é tos. E então o que seria de maior que qualquer coisa Kematian? O que seria deles que já tenha experimentado com ela à solta na noite? O em todos esses séculos. Até que seria de mim? De que laCom o rompimento do selo, mesmo maior que o medo do eu ficaria? Não suporto do horror que ela causará a imaginar tal escolha, mas tedescobriram os símbolos eles! mo que logo seja forçado a partidos e homens da ciência Ou do que poderiam fadescobrir e não é equivocaforam convocados para zer a ela! Sim, pois segundo do imaginar que os lá de cios pensamentos que capto ma estarão em desvantaestudá-los. A curiosidade eles evoluíram e aprendegem. Durante muitos séculos humana é um excelente ram a se defender. Não coneste santuário foi seguro. Tiagente motivador e tais seres tra nós, pois não fazem ideia nha que ser, pois é único. Já da nossa existência, da nossa procurei em cada junção das foram impetuosos perante fome, do nosso poder, mas rochas nas paredes, atrás de os mistérios da língua nunca são dotados de grande capacada quadro e livro mofado vista, de modo que deu tanto cidade de adaptação e há nas estantes e não há passamuito trocaram a magia pela gem para outro lugar, exceto trabalho para dissuadi-los ciência. Entre os milhares de a proibida escada de acesso quanto para manter o feitiço tomos que compõem a biao exterior. de camuflagem. As fundações blioteca do santuário não há Quando lá era cemitério, um que elucide essa tal tecaqui era seguro. Havia pouhabitacionais, as batidas nologia que tanto capto nas cos visitantes, pouco peso, constantes das ferraduras palavras e pensamentos apouco movimento e nenhum e o atrito do aço das rodas lheios. Eu sei por ter lido torisco de desabamento. Mesdo o acervo, alguns tomos mo nas fundações profundas nas pedras do calçamento várias vezes. das novas construções não estão conseguindo nos últiA fome é avassaladora, tive motivos para me preomos anos o que a natureza parece hoje mais que ontem, cupar, até que uma delas como o fora mais que antedespedaçou o selo de protenão foi capaz nos milênios ontem! O feitiço deve estar ção. No início experimentei a protegidos pela magia. enfraquecendo. Mesmo dainebriante sensação de liberqui posso sentir o líquido dade, pois com o lacre quecorrendo espesso nas veias brado poderia sair e me esdeles, nutrindo a carne como veios d’água nutrem baldar na noite. Mas logo tal sensação foi substia terra. Como magma quente espremido nas entuída pelo peso massacrante da dupla responsabitranhas capilares do planeta. Eu poderia subir nulidade: se saísse não só quebraria os votos de absma noite dessas, experimentar novamente a cartinência e o feitiço que a matinha, como também ne fresca. As trevas são minhas amigas, minhas libertaria Kematian no mundo. 190
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Ainda que não consiga extingui-la, ao longo dos séculos estudando esses grimórios e pergaminhos, encontrei feitiços que me possibilitam reduzir e controlar a fome, alimentando-me apenas dos insetos que dividem o santuário comigo e a adormecida. Mas nada funcionou com Kematian; talvez por ser mais antiga que a própria escrita, pela cólera torná-la imune ou simplesmente por ela não querer. Eu não sei. Sei, não obstante, dos leves lampejos da consciência que capto cada vez mais amiúde, do ódio insano pelo gado da superfície que teve a petulância de enclausurá-la. Com o rompimento do selo, descobriram os símbolos partidos e homens da ciência foram convocados para estudá-los. A curiosidade humana é um excelente agente motivador e tais seres foram impetuosos perante os mistérios da língua nunca
vista, de modo que deu tanto trabalho para dissuadi-los quanto para manter o feitiço de camuflagem. As fundações habitacionais, as batidas constantes das ferraduras e o atrito do aço das rodas nas pedras do calçamento estão conseguindo nos últimos anos o que a natureza não foi capaz nos milênios protegidos pela magia. Os tremores estão mais amiúdes e intensos. A terra brota das fendas entre as pedras do teto. Sem dúvida o santuário fora projetado para suportar peso, mas o lacre mágico se fora. E com o esforço para manter os feitiços, receio que as larvas, ratos e baratas já não conseguem nutrir meu corpo. Sinto minha energia se esvaindo junto com a força de vontade. Já não consigo manter suas sedas limpas, não com essa poeira abundante bailando no ar. Já não sou mais capaz de muitas coisas...
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certamente também me lançaria de volta à perdição. É agradável quando sinto minha amada remetendo seus pensamentos libidinosos acima da contenção física, porém sua fúria é superior ao desejo e a fome abissal acaba por fazer a necessidade de refeição sobrepujar qualquer desejo de afeição. Mais tremores. Mais terra caindo do teto e mais poeira tornando o ar insalubre. Eu devia dar graças a alguma coisa por não precisarmos respirar. Aqui embaixo o tempo é irrelevante, mas com a aceleração dos tremores já faz algum que comecei a me preparar. Removi a mortalha negra da minha protegida, deixando apenas a leve seda outrora branca a salientar o corpo curvilíneo. A mim, que há muito perdi a vaidade, qualquer veste é boa suficiente para morrer. Penalizo-me pela extensa biblioteca que ficará destruída sob as toneladas de rochas que acimam tal câmara do santuário, mas antes isso do que seu conteúdo arcano cair nas mãos de seres inexperientes e ambiciosos como os humanos. Isso, obviamente, contando com a escassa possibilidade de alguns deles sobreviverem a Kematian. Não lembro como ou por que contra minha própria natureza adquiri esse esboço de simpatia pela carne fresca da superfície, mas não poucas vezes me peguei rogando que seja dia quando tudo vier abaixo e o misericordioso sol possa fazer por eles o que o tempo não conseguiu. E talvez por nós, já que não posso deixar Kematian partir e, por outro lado, estou exausto e entediado demais para continuar com essa eterna vigília. Mas se for noite... Ah!... se for noite, cairá por terra a minha secular abstinência.
Outra noite um casal fez amor a poucos metros acima. O macho tinha vinte dos seus anos humanos a menos que a fêmea, um adultério. Foi interessante a peleja do vigor versus experiência. A segunda venceria, obviamente. Pude ler seus pensamentos, pude ouvi-los. Pude observar a urgência dos gestos, os corações acelerados e quase me senti vivo novamente. A sensação das carnes femininas prensadas contra a madeira dura e fria do assento foi tão vívida que tive uma ereção, e aquilo doeu como se traísse a bela Kematian. Um misto paradoxal de temor e desejo arrebatou minhas exaustas faculdades, já que emoções tão fortes e tão próximas poderiam despertá-la da clausura. Eu seria uma vez mais seu escravo sexual e aquilo me agradava sobremaneira, mas já tinha acontecido outrora e centenas haviam pagado o preço. Quando o casal se foi, o macho satisfeito e a fêmea frustrada, tive dúvidas se o que senti fora desejo pelas carnes quentes – diferentes da carne morta de Kematian – ou a fome colossal. A ereção depositou seu voto no desejo, mas a fome... A carne... o sangue fresco... esses recuperariam minha energia física e a força psíquica, mas 192
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LIRA VARGAS Nascida em 1952, reside em Niterói, RJ, Brasil. Formada em Letras, publicou 16 livros. Tem diversas participações em Feiras de Livros, TVs e Rádios, em obras colectivas e em movimentos literários no Brasil e em Miami, EUA, e classificações em vários festivais de literatura. Participou nas antologias «Luz de Natal» e «Sinfonia de Amor» da Colecção Sui Generis. Perfil no Facebook: www.facebook.com/clira.lira.7
DEIXEI IR Quando o abraço ficou frio, o beijo sem gosto e o corpo inerte... Deixei ir quando a conversa perdeu sentido e as mãos não tinham calor. E as manhãs sem cor e o canto dos pássaros sem ritmo e o orvalho sem brilho. Como o olhar se perdia na distância se tão perto estava? O gesto antes tão envolvente se tornou agressivo, e a voz que acalentava a alma ficou ameaçadora. Ai! Minha alma se desprendia em sinal de alerta, o amor se perdia a cada instante se transformando em medo da solidão. Deixei ir, porque as lembranças se faziam presentes e o presente se perdia no passado. Cada palavra... eram súplicas e transformavam em correntes, eram amarras de ilusão acreditando que tudo iria mudar! Amarga solidão. O amor se perdeu, o ódio e o ciúme se misturando em lágrimas de insegurança confundiam em esperança. Arrumar a mesa, toalha de linho e luz do abajur, vinho frio sem aroma e sem cor, dor maior que a razão. E o jantar não tinha gosto, era silêncio e medo da despedida. Na cama a maciez e o perfume se perderam, a música que falava de amor se tornou suspeita. Cada gesto era vigiado, cada sorriso era uma acusação. Porta trancada, janelas abertas, espreita de invasão. Deixei ir quando o amanhecer já não brilhava, a brisa já não trazia perfume nem melodia e as folhas caíam sem mensagem. Cada passo vigiado, cada roupa vasculhada era ódio na distância do amor que acabou. Quando a porta se abriu, não supliquei; atrás dos passos que se afastaram, veio o silêncio. Deixei ir para encontrar a minha paz. 195
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FÁTIMA D’OLIVEIRA Nasceu em 1970 e reside no Vale de Santarém, uma vila no concelho e distrito de Santarém. Em 1998 foi-lhe diagnosticada uma ataxia de Friedreich, uma doença rara, incurável, progressiva, altamente incapacitante e por vezes fatal. Está aposentada por invalidez desde 2009 e tem participado, sempre que lhe é possível, na divulgação das ataxias hereditárias, bem como no alerta da sociedade civil para a dura realidade das mesmas. Teve ainda o supremo orgulho de presidir à Direcção da APAHE – Associação Portuguesa das Ataxias Hereditárias, entre Março de 2011 e Março de 2014. Não tendo a presunção de se considerar uma escritora, mas sim uma autora que já teve a felicidade de ver algum do seu trabalho publicado, possui uma página no Facebook, que desde já vos convida a conhecer e a gostar, e onde fica a aguardar os vossos prezados comentários. Participou nas antologias «Luz de Natal» e «Sinfonia de Amor» da Colecção Sui Generis. Perfil no Facebook: https://www.facebook.com/fatima.dol iveira.7 Página da Autora: http://www.facebook.com/autora.fati madoliveira
IMPRESSÕES DIGITAIS Devido à minha doença, estou numa cadeira de rodas. E apesar de não me considerar definida pela cadeira de rodas – condicionada, sim, mas definida, nunca! –, essa é a primeira coisa que os outros vêem – sempre. Para logo a seguir virem os “coitadinha” e “pobrezinha” do costume. Mais ou menos disfarçadamente. Esta, não tenhamos ilusões, é a regra e, como tal, há exceções – poucas, mas honrosas.
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ara quem não me conhece, o meu nome é Fátima d’Oliveira, nasci em 1970 e resido no Vale de Santarém, uma vila no concelho e distrito de Santarém. Para quem crê em Astrologia, digo-vos que sou do signo Carneiro, com ascendente em Escorpião. Gosto especialmente de duas frases: «Vergonha é roubar e ser apanhado» e «O medo é a única coisa que se multiplica mais depressa que um casal de coelhos». Esta última é da autoria de Hal Boyle, jornalista norte-americano falecido em 1974. Em 1998, após aproximadamente dez anos de perguntas, meias respostas, incertezas e muitas dúvidas, foi-me finalmente diagnosticado o que tanto me apoquentava: uma doença rara, ataxia de Friedreich (AF): um tipo de ataxia hereditária, uma doença genética e neurodegenerativa. Devido a isso, estou aposentada por invalidez desde 2008. Devido à minha doença, estou numa cadeira de rodas. E apesar de não me considerar definida pela cadeira de rodas – condicionada, sim, mas definida, nunca!1 –, essa é a primeira coisa que os outros vêem – sempre. Para logo a seguir virem os “coitadinha” e “pobrezinha” do costume. Mais ou menos disfarçadamente. Esta, não tenhamos ilusões, é a regra e, como tal, há exceções – poucas, mas honrosas.
Sempre gostei muito de escrever e já publiquei três livros em nome próprio: SE TU VISSES O QUE EU VI Autoria: Fátima d’Oliveira Editora: MG Editores Tipo: Contos (11) Nº de páginas: 179 1ª Edição: Outubro de 2000 ISBN: 972-8471-23-8
Sobre a obra... Onze maneiras diferentes de ser, ver, estar e pensar. Onze formas de sentir o bater de coração ao som da canção que cada um vai escrevendo. Onze estórias que vão fazendo a história de cada um dos personagens. Este livro já se encontra fora de circulação.
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Tenho perfeita consciência de que esta mais parece uma qualquer frase feita de propaganda, saída de uma campanha eleitoralista, quase um cliché. Mas não vale a pena estar com rodeios nem tapar o sol com a peneira: a minha vida é condicionada pela cadeira de rodas, sim. Sempre que tenho que ir a algum lado, não me basta simplesmente ir: primeiro, tenho que saber se posso, quais as acessibilidades.
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QUANDO UM BURRO FALA, O OUTRO BAIXA AS ORELHAS Autoria: Fátima d’Oliveira Editora: Chiado Editora Tipo: Espécie de autobiografia Nº de páginas: 86 1ª Edição: Fevereiro de 2010 ISBN: 978-989-8389-16-9
Sobre a obra... Imaginem uma infância e adolescência normais, perfeitamente normais. Imaginem crescer com sonhos de futuro. Imaginem um início de vida adulta recheado de promessas. E imaginem alguém que lhes deixa cair uma bomba em cima: tens uma doença. Incurável. Rara. E degenerativa. Aconteceu comigo. Foi-me diagnosticada uma ataxia de Friedreich – nem sequer imaginava que tal pudesse existir. Mas existe. E desde esse momento, do meu diagnóstico, temos vindo a aprender a conviver neste mesmo espaço que teimamos em ocupar: eu e a ataxia. 200
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Neste livro, a MINHA verdade, falo da doença, da minha relação com a mesma – dos prés e dos pós, dos antes e dos depois – e da forma como eu a encaro. Como a APAHE – Associação Portuguesa de Ataxias Hereditárias tem alguns exemplares para venda, podem-na contactar directamente. Os fundos angariados com a venda deste livro pela APAHE revertem, inteira e exclusivamente, a favor da mesma. Também podem contactar a editora, a Chiado Books. Ou ainda a mim, através da minha página no Facebook (via mensagem privada). CONTACTOS Página da Autora no Facebook: https://www.facebook.com/autor a.fatimadoliveira Página da APAHE no Facebook: https://www.facebook.com/associacaoportuguesadeataxi ashereditarias/ Email da APAHE: apaheportugal@gmail.com Página da Chiado Books: http://www.chiadobooks.com
Sobre a obra... Com «’Tás com a mosca ou cheira-te a palha?», Fátima d’Oliveira atinge a maturação de um estilo literário e contista que os seus percursos literário e de vida vêm moldando, gradualmente, nas últimas duas décadas. Contos intensos, mesmo se breves, nos quais se movimentam personagens diferentes, frequentemente incompreendidas ou frustradas, quantas vezes mal-amadas. (in Prefácio) São 21 convites para saltar a pés juntos e mergulhar de cabeça, sem rede de segurança, na intimidade dos protagonistas. São 21 ofertas de partilha de momentos de ser e estar. São 21 contos que nos fazem experimentar uma miríade de emoções: rir, chorar, amar, odiar, sonhar, apaixonar, gritar...
‘TÁS COM A MOSCA OU CHEIRA-TE A PALHA? (Pela desmistificação, sensibilização e consciencialização das ataxias hereditárias) Autoria: Fátima d’Oliveira Editora: Chiado Editora Tipo: Contos (21) Nº de páginas: 233 1ª edição: Julho de 2017 ISBN: 978-989-52-0113-6
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Livro na Bertrand: https://www.bertrand.pt/livro/-tascom-a-mosca-ou-cheira-te-a-palha--fatima-doliveira/19677306 Livro na FNAC: https://www.fnac.pt/Tas-com-a-Moscaou-Cheira-te-a-Palha-Fatima-d-Oliveira/a1263861 Livro na WOOK: https://www.wook.pt/livro/-tas-com-amosca-ou-cheira-te-a-palha--fatima-d-oliveira/19677306 Livraria Cultura: https://www.livrariacultura.com.br
À venda em Portugal e no Brasil com o PVP (preço de venda ao público) de, para Portugal, EUR: 14,00 € (catorze euros) e de, para o Brasil, BRL: 56,00 R$ (cinquenta e seis reais). Para o adquirir, em Portugal, podem contactar diretamente a APAHE – Associação Portuguesa de Ataxias Hereditárias (os fundos angariados com a venda deste livro pela APAHE revertem, inteira e exclusivamente, a favor da mesma), dirigir-se a uma livraria ou online da Chiado Books, Bertrand, FNAC ou WOOK. Se estiverem no Brasil, podem dirigir-se a uma livraria, adquiri-lo online através da Livraria Cultura ou contactar diretamente a editora, Chiado Books – Brasil (no canto superior direito do ecrã pode escolher a moeda: Euros ou Reais). CONTACTOS Página da Autora no Facebook: https://www.facebook.com/autora.fatimadoliveira Página da APAHE no Facebook: https://www.facebook.com/associacaoportuguesadeataxi ashereditarias/ Email da APAHE: apaheportugal@gmail.com Livro na Chiado Books: https://www.chiadobooks.com/liv raria/tas-com-a-mosca-ou-cheira-te-a-palha
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Participei ainda, na qualidade de coautora, num projeto literário internacional coordenado pela BabelFAmily (associação que luta contra a ataxia de Friedreich). O projeto resultou num livro, «O legado de Marie Schlau», já publicado em espanhol – «El legado de Marie Schlau» – e em inglês – «The legacy of Marie Schlau». Participei – e continuo a participar – também em diversas antologias (quer de contos, quer de poesia). Tenho participado, sempre que me é possível, na divulgação das ataxias hereditárias, bem como no alerta da sociedade civil para a dura, pérfida e cruel realidade das mesmas. Tive ainda o supremo orgulho de presidir à Direção da APAHE – Associação Portuguesa das Ataxias Hereditárias (http://www.apahe.pt.vu), entre Março de 2011 e Março de 2014. Esta é uma associação que existe desde 2006 e que se dedica ao apoio e à defesa dos interesses das pessoas que padecem de ataxias hereditárias, assim como à divulgação das mesmas.
A título de curiosidade, acrescento que o Dia Internacional das Ataxias se assinala, anualmente, a 25 de Setembro. Sempre gostei muito de escrever e apesar de não me considerar uma escritora pois tal seria demasiada presunção – antes uma autora que já teve a felicidade de ver algum do seu trabalho publicado –, é com palavras que construo os meus sonhos e desenho os meus pesadelos. A página http s://www.facebook.com/autora.fatimadoliveira foi criada com o intuito de divulgar e dar a conhecer o meu trabalho na área da escrita e criação literária. Para ter uma melhor perspectiva do mesmo, p.f. consultar, no lado direito do monitor, o texto sobre Fátima d’Oliveira – Autora, com a minha bibliografia; ou então as «Notas» (menu do lado esquerdo), com textos da minha autoria. De qualquer maneira, convido todos a descobrir, clicar “gosto/like” e partilhar esta página. Também fico a aguardar os comentários.
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TITO LÍVIO Crítico de cinema e de teatro no «Diário Popular», «República», «A Capital», vencedor de dois prémios no «Diário de Lisboa Juvenil». Colaborador de vários jornais como «Notícias da Amadora», «Jornal de Letras», «Jornal do Fundão», «Diário do Algarve», «O Setubalense» e revistas «Seara Nova» e «Manifesto». Membro do Conselho Editorial da revista «Korpus», editada por Isidro Sousa entre 1996/2008. Durante dez anos (1995/2005), docente de Dramaturgia, História do Teatro, História do Cinema e História da Televisão. Júri de diversos Prémios da Casa da Imprensa, da Crítica e dos Globos de Ouro (SIC). Autor dos livros: «A Escrita e o Sono», «Senhor, Partem Tão Tristes», «Memórias de Uma Executiva», «As Tuas Mãos Sobre o Meu Corpo», «Ruy de Carvalho – Um Actor no Palco da Vida» e «Teatro Moderno de Lisboa (1961-1965) – Um Marco na História do Teatro Português». Autor de «Sobreviventes: Dez Mulheres à Procura da Voz», peça concorrente ao prémio de originais de teatro da Sociedade Portuguesa de Autores. Abraçando as antologias Sui Generis, fez a sua estreia no conto em «O Beijo do Vampiro»; participou também em «Vendaval de Emoções», «Ninguém Leva a Mal», «Torrente de Paixões», «Saloios & Caipiras», «Os Vigaristas» e «Sinfonia de Amor».
PORQUE TEATRO É VIDA E ESPECTÁCULO Depois das experiências e vivências como crítico de Teatro, assistente de encenação e dramaturgista, a escrita teatral (há três anos que escrevo, aprendo a escrever revista, para um bom grupo de Teatro Amador), agora uma escrita diferente, este erguer, reescrevendo uma peça em equipa, é verdadeiramente emocionante, como assistir ao crescimento de um filho muito amado.
Páginas do Autor: Facebook: Tito Lívio facebook.com/titolivio.sousaaguiar
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[10/05/2019] Segundo dia de ensaio, de fixação de texto ainda da minha peça «Sobreviventes». Quando Carlos Avilez aceitou ser o seu encenador disse-lhe: «Tenho toda a confiança em si. Deposito os meus textos totalmente nas suas mãos.» Porque sabia que uma coisa era o texto escrito, literário, e outra o texto encenado. Porque também infelizmente a realidade do flagelo da violência doméstica ultrapassa, em muito, a ficção que sobre ele se debruça. Porque Teatro é Vida e Espectáculo, tem de tocar os espectadores, desarrumá-los, comovê-los, colocá-los perante problemas instantes e universais como este. Mais a mais num espaço confinado, fechado, claustrofóbico como o que iremos ter, personagens frente a frente, lado a lado, tão perto dos actores, daqueles seres de carne e osso que nos expõem os seus casos/limite. Com a força das palavras e da música, música das palavras – ora dura ora irónica, ora absurda – música das canções também. Estou também a aprender a escrever Teatro, a fazer pesquisa, a debruçarmo-nos sobre a realidade feia, violenta, cruel e dura. E temos um encenador que fervilha de ideias, que se entrega, aliás como sempre, com paixão a cada texto que encena, que aceita a criatividade e colaboração dos actores, para que se sintam confortáveis neles, para que deles se possam apropriar e dar-lhes vida, cores, tons, intenções e força. De 29 de Maio a 9 de Junho, 10 representações, com colóquios e encontros pelo meio. E com a intensa participação da APAV [Associação Portuguesa de Apoio à Vítima] com quem colaboro há algum tempo já.
Depois das experiências e vivências como crítico de Teatro, assistente de encenação e dramaturgista, a escrita teatral (há três anos que escrevo, aprendo a escrever revista, para um bom grupo de Teatro Amador), agora uma escrita diferente, este erguer, reescrevendo uma peça em equipa, é verdadeiramente emocionante, como assistir ao crescimento de um filho muito amado. Desde já agradeço a toda a equipa o empenho que está a pôr nesta tarefa fascinante. Todos eles fazem com que saia de cada ensaio cada noite mais feliz.
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[20/05/2019] É fascinante estar a assistir ao nascimento de um texto teatral segundo a visão do seu encenador. E quando se fala de Carlos Avilez, um autêntico vulcão de ideias, e o texto é uma peça minha, melhor ainda. Tenho visto «Sobreviventes», uma peça sobre a violência doméstica, num autêntico trabalho de "work in progresso", transformar-se, acrescentar-se com textos que tenho de fazer para o tema se tornar mais abrangente, dando-se a liberdade aos actores – e que bons que eles são – para lhes introduzir pequenas modificações, para que se sintam mais cómodos neles, para que deles melhor se apropriem. E a peça vai nascendo gradualmente, desenhando, ganhando novos contornos em cada dia. E depois há as músicas, as canções, as marcações num cenário adequado, cru nas suas paredes despidas (a antiga Esquadra da Polícia de Cascais), claustrofóbico e onde as coisas se tornam mais reais e absorventes. O Carlos Avilez
está, estamos todos, absorvidos por um tema: a violência doméstica – em que a ficção é claramente ultrapassada pela realidade diária. E tenho um muito bom elenco: Maria José Pascoal, Teresa Corte-Real, Paula Sá – estas três, com o Fernando Alvarez, cenógrafo do TEC, meus exalunos com muito orgulho, e ainda a Soraia Chaves, jovem bela e talentosa, o João Gaspar que descobri, maravilhado, no «Boudoir» do Martim Pedroso e o espantoso Bose de «O Beijo de Judas» no TEC, e uma estreia, em Teatro, o Domingos Pinto Coelho. A estreia será a 29 de Maio e termina a 9 de Junho, apenas dez dias, e apressem-se a reservar, pois cada sessão leva apenas vinte pessoas. Haverão três colóquios: dois com psicólogos da APAV, com quem costumo colaborar, e um terceiro com encenador, autor e actores e ainda algumas surpresas pelo meio. Parte da receita deste espectáculo irá para a APAV que está connosco nesta aventura, e temos ainda o apoio da
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Câmara de Cascais que irá debater este tema, na Casa Paula Rego, nos próximos dias 22 e 23 deste mês. Texto que serve também de pretexto para um debate/reflexão sobre autênticos crimes de ódio, problema transversal a todas as classes sociais e géneros. Apanhei o gosto pela escrita teatral e, em breve, terão mais notícias minhas. Um salto no meu percurso teatral e, no início da próxima temporada, teremos outra etapa que, a seu tempo, saberão. Mistério e suspense... Abraço a todos e conto convosco para lá estarem a assistir e creio que não sairão desiludidos.
peças do TEC e com o Carlos Avilez, tem aprendido muito. Eu também. Desta feita o meu nervosismo é diferente; das outras, quando digo poesia e ela é a essência de um espectáculo como nos meus «Lorcas», os dez minutos antes de entrar em cena são terríficos mas, depois, quando vou para cena, entro noutra dimensão e tudo passa. Aqui, como autor, tenho de esperar pelo fim da peça, pela reacção final do público em cada noite. Porque não há público, há públicos. E lá estarei cada noite, excepto dias 7 e 8 em que tenho de estar no Altice Arena como jurado das Marchas de Lisboa. E no último dia, 9 de Junho, irei a correr da matiné para o Altice Arena, mas quem corre por gosto não cansa. Gostaria de ter o máximo de amigos a apoiar-me, a dar a sua importante opinião, e irão ver que não se hão-de arrepender. A peça irá de 29 de Maio a 9 de Junho, de Quartas a Sábados, às 21H30, e Domingos, às 16H00, na antiga Esquadra da Polícia de Cascais, Rua Afonso Sanches, entre a Câmara de Cascais e o Hotel Bahia, e tem apenas 1H15. E dias 29 de Maio e 1 e
[28/05/2019] Estreia da minha peça, «Sobreviventes», na próxima quarta-feira, dia 29 de Maio. Ontem foi o primeiro ensaio total com figurinos, luzes, música, tudo seguido e ainda alguma perturbação para tirar fotos. E temos um excelente fotógrafo de cena que me disse que, ao longo dos sete anos que tem trabalhado nas
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9 de Junho haverá, no final, colóquios sobre o seu premente tema: a violência doméstica. Só vos confesso que o nascimento deste meu muito amado "filho" está a ser maravilhoso pois toda a equipa/família o adoptou desde o primeiro dia e o tem tratado com muita paixão e cumplicidade.
tinha tentado prosseguir a sua vida, não se vergando ao trauma e ao medo, com um novo companheiro, dono de uma pastelaria – entrou na loja deste e matou friamente aquele e deixou gravemente ferida a ex-mulher e dois filhos menores da vítima órfãos. Naquele mito do casamento para toda a vida e do preconceito machista de que a mulher continua a ser propriedade do marido e seu couto privado, mesmo quando se separam, prima neles esta ideia: «Se não és minha, também não podes ser de mais ninguém». E vem-me à memória uma frase de Marguerite Duras: «Todo o homem mata a mulher que ama» e, neste caso, o termo morte vai desde a eliminação física até à humilhação, ao férreo domínio, às homicidas relações de poder entre mulher e marido de dominante e dominado, um elo sadomasoquista destruidor e cruel. Ainda bem que pude dar voz impactante, eu
[29/05/2019] Dei hoje uma longa entrevista para a Agência Lusa de Imprensa. Gravada ao telefone. Correu bem mas é sempre difícil falar de mim com palavras que me descubram, desvendam, sobretudo num assunto como a violência doméstica, com que tenho convivido de perto ao longo da minha vida. Ainda hoje sou testemunha de defesa de uma das minhas maiores amigas vítima desse autêntico flagelo do nosso tempo. Ainda hoje foi cometido mais um crime. O ex-marido de uma mulher – que entretanto 211
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e a minha equipa de Teatro, encenador, actores e restantes intervenientes, a estes homens e mulheres magoados, amarfanhados, traumatizados, assassinados, nunca os fazendo ver como coitadinhos/as mas, mesmo nos casos extremos, nunca lhes retirando a sua intrínseca dignidade humana. Para eles/elas todos a minha total solidariedade. Estou convosco em cada palavra vossa no palco do Teatro e da Vida. Ontem, fizemos ensaio geral com público, alguma gente da casa, alunas da Escola de Teatro de Cascais, jovens actores também, mas o melhor comentário foi o da assessora jurídica do TEC, advogada que me veio cumprimentar e que nos declarou que o que viu tinha excedido todas as suas expectativas. E lá atrás o desabafo de um jovem, sincero: «Porra, isto é mesmo bom!». E tivemos menos de um mês de ensaios e muita dedicação, muito trabalho, muita cumplicidade. Estou assim orgulhoso de tudo e de todos.
[31/05/2019] A estreia correu muito bem e com o público de pé a aplaudir. Refiro-me à minha peça, «Sobreviventes», encenada por Carlos Avilez dentro da programação do Teatro Experimental de Cascais. No final houve um encontro/diálogo com os chefes da Secção da PSP de Cascais, cuja chefe de unidade de crimes de violência doméstica é uma subchefe, que nos deram óptimos esclarecimentos sobre o que se passa naquela unidade com queixas de agressões sobre mulheres e homens. Lembro que esta minha peça só tem dez espectáculos, de Quartas a Sábados, às 21H30, e aos Domingos, às 16H00, terminando no próximo dia 9. Na Antiga Esquadra da Polícia de Cascais, Rua Afonso Sanches, junto ao Largo da Câmara e do Hotel Baía. (...) Os dias 1 e 9 têm conversa e encontro, no final, com dois psicólogos da APAV, Associação de Apoio para a Violência Doméstica. Lá vos esperamos...
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[01/06/2019] Terceiro dia da minha peça, os trinta lugares à cunha. Uma assistência de peso: muitos alunos da Escola Profissional de Teatro de Cascais ondei dei aulas de Dramaturgia durante dez anos e o meu amigo, o grande actor Ruy de Carvalho, que me chama – depois de dois anos de íntimo convívio quando andava a escrever a sua Biografia – de "filho adoptivo" e cuja amizade e opinião muito prezo e todos, o Ruy e os jovens, nos elencos, são quatro, 98 actores ao todo, de «O Sonho» de Strindberg,
prova final do seu curso. Gente de Teatro, futuros comediantes, alguns jovens actores saídos da Escola também. E que aplaudiram bastante e gritaram bravos no final. Encontrei algumas pessoas, meus amigos e seguidores no Facebook, que me felicitaram no final e alguns bons amigos que fazem questão de estar comigo nos bons e maus momentos a apoiar-me. Porque não há público, há públicos, sempre diferentes na atenção e nas reacções, diferentes de dia para dia. E o mesmo maravilhamento meu, presente em cada dia, destes excelentes actores cuja maioria escolhi e que vivem intensamente as suas personagens. E os meus parabéns ao meu querido Carlos Avilez e a toda uma equipa generosa, laboriosa e muito cúmplice. Estreei-me, como autor de Teatro dito declamado, da melhor forma. E devo-o a todos eles por me terem ajudado diariamente neste processo criativo de uma escrita que se transformava e completava em cada dia. ADOREI. E cada noite, cada dia, me conseguem sempre deslumbrar. Porque alguns textos podem ter finais diferentes em cada sessão; os actores têm essa importante liberdade.
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difícil. Como nos ligamos logo ao autor. Os quadros são baseados em vidas reais e nem precisava de o dizer, pois quem está atento a estes fenómenos reconheceu a autenticidade e a verdade daqueles textos. A dicção é primorosa e a beleza dos quadros é envolvente e magistral. E estava ali o homem corajoso que falou da violência que ninguém historicamente elucida... É a tia que foi eternamente noiva para se dar à vida dos outros; é a mulher que aparentemente todos os outros julgam feliz e afinal era massacrada e abusada dentro de quatro paredes; é a rapariguinha que em tudo acreditou e foi desflorada e abusada várias vezes e o medo e a incapacidade de reagir se lhe tornaram uma constante. O quadro final foi lindo. Grandes duetos com vozes de uma força interior impressionante. Encenação ao estilo do Avilez, a beleza mora dentro dele. Não vamos falar mais. VÃO VER uma peça que deveria ir às escolas, com debate, não para fazer que sim, mas para realizarmos caminhos em conjunto. Basta de capelinhas, a hora é de todos nos sentarmos para se construir um país a sério. Mérito também para o representante da APAV, que muito nos informou do que se passa nesta área. SOLIDÃO, HIPOCRISIA e outras palavras resumo ditas repetidamente coroaram o final. Parabéns, Tito Lívio e Carlos Avilez e maravilhoso elenco. A vossa força não pode ficar naquela prisão, tem de percorrer outras prisões da vida.
QUERIDO TITO LÍVIO,
E
sta pseudocrítica é como uma carta de amigo/amor. O que sabemos nós para fazer as tuas críticas inteligentes? Nada, mas quem vai falar é a sensibilidade à flor da pele e do coração. Arrepiamo-nos logo com o começo, estavas ali representado naquele “menino” com um olhar tão lúcido e persistente. O olhar é o primeiro passo para compreendermos e entrarmos no outro. Foi a sensibilidade que salvou aquele personagem tão sofredor pela incompreensão de um viver diferente, que num seio familiar conservador é muito complicado. Tudo foi diferente naquela esquadra... A música de introspeção interior logo no início. Toda aquela caminhada nos passos de uma prisão foram magistrais. Ali também tudo foi diferente. Que textos tão sensíveis e tão abrangentes! Alguém disse que eram suaves. Sinceramente, sentimos que não. Não é preciso gritar para se dizer o que se sente e se passa na nossa sociedade, já basta de espetáculo nos meios audiovisuais da “desgraça” de um povo que sofre e em especial a violência entre casais e, por consequência, pessoas. Talvez que o desconhecido do sítio por onde nos íamos instalar nos caminhos da prisão deu-nos o tormento do desconhecido da vida daquelas pessoas sofredoras. O preâmbulo deu-nos a dimensão de um homem que não se entregou às circunstâncias de um país retrógrado. Percorrer estes caminhos deve ser muito
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[03/06/2019] Cinco dias de representação da minha peça «Sobreviventes» com, excepção do segundo dia, casas cheias, públicos entusiastas e a aplaudir, de pé e entusiasticamente, no final, surpreendidas com um espectáculo que as toca tanto e comove. E hoje considero, e não abrando a minha exigência porque tenha lá textos meus, que foi o melhor espectáculo de todos, no seu todo, até agora: intenso, arrebatador, vivido na própria pele dos seus intérpretes maravilhosos. E as pausas, os silêncios que dizem mais que palavras, as canções interpretadas com garra e que se colam às personagens, o percurso dos públicos, autêntica via sacra de um crime infame: o da violência doméstica. Depois não esteve lá ainda um único crítico nem houve reportagens nem entrevistas, não a mim mas a Carlos Avilez, o obreiro máximo deste arrebatador espectáculo, nem aos seus actores espantosos, filmagens de pequenos excer-
tos como costuma fazer-se nas TVs ou mesmo divulgadas pelas Rádios. A única crítica, de amigos bem sei, que esses não têm faltado, foi de um casal bem teatreiro por sinal: singela mas atenta a algo que o impressionou. Agradecido, valeu muito pela vossa sinceridade. Tive uma entrevista antes da estreia: eu até a teria remetido antes para o meu amigo Carlos Avilez; não me quero promover como pessoa nem o necessito, não busco nem busquei nunca glórias pessoais. Mas a jornalista da Agência Portuguesa de Imprensa Lusa insistiu e foi feita comigo um pouco colhido de surpresa. Não se perdoa um crítico de Teatro, professor ainda vá que não vá, escrever peças de Teatro e ainda levadas à cena no TEC e encenada por Carlos Avilez... Onde já se viu isto? Depois, temos pena, não pertenço a lobbies políticos nem intelectuais e tal paga-se caro. Agora é que nos vamos vingar de críticas de que não gostámos... Exerço assim o meu di-
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vale a pena. Viemos ver e estamos totalmente de acordo.» Gratificantes palavras ditas no momento e o saber que tenho uma antiga aluna que, passados tantos anos, tão bem me considera e se lembra de mim, encheram-me o coração. Palavras mais para quê...
[10/06/2019] Acabou o estar em cena da minha peça «Sobreviventes» e em glória, casa a abarrotar, além da habitual lotação de trinta pessoas devido à peculiaridade do espaço, a antiga Esquadra da Polícia de Cascais, um espaço que Carlos Avilez e os actores transformaram num percurso mágico e fascinante em que chegávamos ao fim com um nó na garganta devido a um final impactante. Quero agradecer a todos os que nele participaram o seu empenho, cumplicidade e total dedicação desde os técnicos e músico, ao elenco lindo de actores com que tive o privilégio de contar, ao cenógrafo – Fernando Alvarez – que povoou aquele desnudo cenário natural com pequenos apontamentos significativos e sobretudo ao
reito legítimo à indignação. Tenho lá tido muitos dos meus melhores amigos, jovens estudantes e futuros actores de Teatro que ainda não adquiriram fatais pré-conceitos, casas cheias embora a lotação, pelo espaço escolhido, aliás magistralmente habitado por Carlos Avilez, o músico, o cenógrafo e actores, comporte apenas trinta pessoas que, no final, aplaudem de pé e com entusiasmo. E tive lá ainda o grande Ruy de Carvalho que me chama de seu "filho adoptivo" depois de dois anos de intenso convívio na escrita da sua Biografia. A melhor crítica, meus amigos, fez-ma um casal já maduro que quis esperar por mim à saída e que me disse: «Viemos porque a nossa filha foi sua aluna de Dramaturgia na Escola Profissional de Cascais e nos disse: se é um texto do professor Tito Lívio vão ver porque... com certeza
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meu amigo e excelente encenador Carlos Avilez que se empenhou totalmente nesta peça e sem os quais os meus textos, só por si, pouco valeriam. E ainda à APAV que colaborou connosco nos colóquios e à PSP de Cascais que nos cedeu um espaço seu e cuja Divisão de Crimes de Violência Doméstica esteve presente num esclarecedor colóquio no dia da estreia. E ao meu querido João Vasco que sugeriu aquele espaço. Mais uma vez se provou que o Teatro, mais a mais num Work in Progress, é uma arte do colectivo e eu tive, e contei, com uma equipa de excelência que, apenas com vinte dias de ensaios, deu tudo por tudo. Um grande e sentido abraço de agradecimento para todos.
Não tive um único crítico presente nem grande divulgação nos meios de Comunicação Social, algo que já estava à espera. Mas eles, os críticos de hoje, nunca me amaram porque digo, e escrevo, o que sinto e não pertenço a lobbies culturais, artísticos ou políticos... Convidados os líderes dos vários partidos políticos presentes na Assembleia da República, é justo que se diga que esteve lá apenas um representante do PCP, em nome de Jerónimo de Sousa, que, no final, me deu os cumprimentos e que adorou a peça. Os outros ignoraram pura e simplesmente. E digo que não me espanta a ausência dos meus colegas, críticos de Teatro, porque fui praticamente excluído da Associação Portuguesa de Críticos de Teatro de que fui um dos fundadores. Totalmente ignorado e nunca mais participando das suas reuniões e decisões. Bonito, bonito, não é? E digo-o em voz alta aqui.
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[16/06/2019] Balanço final da carreira da minha peça, «Sobreviventes», na antiga Esquadra da Polícia de Cascais, cujo tema era a violência doméstica nas suas várias formas sobre mulheres e homens, um assunto infelizmente bem actual, um crime de ódio certamente. A peça original é de 2002 quando ainda este crime não estava na ordem do dia e com a visibilidade que tem hoje. Foi a dois concursos de peças originais e não ganhou nenhum. Tudo bem. Quem não arrisca, não petisca... Dei-a a ler ao Carlos Avilez, há dois anos, gostou do texto e disse-me que iria fazê-la e apresentou-a dentro do repertório para quatro anos exigido pelos subsídios quadrianuais. Depois ficaria sem subsídio, um enorme escândalo, faísca que despoletou a forte con-
testação e a vasta solidariedade dos seus colegas. Foi-lhe atribuído, mais tarde, um subsídio. E a minha peça teve de esperar até este ano. Carlos Avilez apaixonou-se pelo tema, estudou-o a fundo e decidimos que abrangeria também situações de violência sobre homens – que as há embora em menor número – e casais ho-
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No primeiro ensaio, reafirmando a total confiança no seu trabalho, disse-lhe: «Faça destes textos o melhor que lhe aprouver». E desencadeou-se um Work in Progress, uma reescrita com a colaboração dos actores que escolheram os textos de que mais gostaram, puderam fazer alterações e até sugerir finais diferentes. Por exemplo a cena da adolescente violada teve assim dois finais que a Soraia Chaves alternava. As canções introduzidas foram escolhidas pelas próprias três actrizes que as cantam, perfeitamente integradas nas respectivas personagens. As notícias que vão sendo dadas, saídas na Comunicação Social, sobre estes crimes fui buscá-las aos comunicados da APAV, com quem colaboro, e foram também um trabalho de re-
mossexuais. Escrita de três novos textos contemplando essas situações, tendo sido dois aproveitados. O Carlos Avilez – e foi a sétima vez que com ele colaborei, as restantes como dramaturgista – não gosta que os autores assistam aos ensaios. Fui, com a Natália Correia, a única excepção.
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colha do jovem actor Domingos Pinto Coelho que se estreou nesta peça. A ideia daquele espaço mágico foi do meu querido amigo João Vasco, actor e um dos fundadores do TEC, e tive o grato privilégio de poder escolher os actores, excepto a estupenda Soraia Chaves. Quatro dos elementos desta fabulosa equipa tinham sido meus alunos: Maria José Pascoal, Teresa Corte-Real e Fernando Alvarez (cenógrafo e figurinista) na Escola Superior de Teatro e Cinema e Paula Sá na Escola Profissional de Teatro de Cascais. Aquele final de cortar à faca e que fazia com que diariamente o público se levantasse a aplaudir foi achado três dias antes da estreia numa colaboração entre actores, encenador e do músico Hugo Neves Reis. Desde logo ficou combinado que haveria três colóquios, um com a Brigada de crimes de vio-
lência da PSP de Cascais e os outros dois com psicólogos da APAV, todos com muito interesse e participação. Acompanhei diariamente este espectáculo excepto nos últimos três dias em que fui Júri das Marchas de Lisboa. E constatei que, em cada nova sessão, estava sempre a crescer. As pessoas, no final, actores inclusive, vinham dar os parabéns, emocionadas, a mim e ao Carlos Avilez.
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Como já estávamos à espera, eu e Carlos Avilez... Não tivemos críticos presentes nem entrevistas; a única foi a da Agência Lusa, que me foi feita via telefone, e nem grande divulgação teve. Mas tive lá muitos dos meus amigos, alunas minhas de Teatro, actores, entre eles o querido Ruy de Carvalho, alunos de Teatro e até representantes de um partido político. Tive a melhor equipa desde produção, técnicos e actores, músico, numa encenação prodigiosa do grande encenador e amigo Carlos Avilez e o elogio de muita gente do público que me dizia no final: «É pena ser tão curta... tão pouco tempo». Agradecer também à PSP de Cascais e à APAV a sua boa vontade e colaboração. Todos
foram meus cúmplices num trabalho em que todos foram também autores já que uma coisa é o texto escrito inicial e outra o texto teatral ou encenado. O mérito é muito vosso. Ou como diria a Winnie de «Dias Felizes» de Beckett: «Grandes mercês»... Um muito obrigado a todos por este presente lindo que me deram.
Fotografias gentilmente cedidas pelo TEC – Teatro Experimental de Cascais
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CONTO
O AMOR ROUBADO TITO LÍVIO Crítico de cinema e de teatro no «Diário Popular», «República», «A Capital», vencedor de dois prémios no «Diário de Lisboa Juvenil». Colaborador de vários jornais como «Notícias da Amadora», «Jornal de Letras», «Jornal do Fundão», «Diário do Algarve», «O Setubalense» e revistas «Seara Nova» e «Manifesto». Membro do Conselho Editorial da revista «Korpus», editada por Isidro Sousa entre 1996/2008. Durante dez anos (1995/2005), docente de Dramaturgia, História do Teatro, História do Cinema e História da Televisão. Júri de diversos Prémios da Casa da Imprensa, da Crítica e dos Globos de Ouro (SIC). Autor dos livros: «A Escrita e o Sono», «Senhor, Partem Tão Tristes», «Memórias de Uma Executiva», «As Tuas Mãos Sobre o Meu Corpo», «Ruy de Carvalho – Um Actor no Palco da Vida» e «Teatro Moderno de Lisboa (1961-1965) – Um Marco na História do Teatro Português». Autor de «Sobreviventes: Dez Mulheres à Procura da Voz», peça concorrente ao prémio de originais de teatro da Sociedade Portuguesa de Autores. Abraçando as antologias Sui Generis, fez a sua estreia no conto em «O Beijo do Vampiro»; participou também em «Vendaval de Emoções», «Ninguém Leva a Mal», «Torrente de Paixões», «Saloios & Caipiras», «Os Vigaristas» e «Sinfonia de Amor».
“Sabia pouco do amor e da violência oculta por detrás das belas palavras e dos gestos de ternura. E ainda menos dos homens e do seu desejo de destruir quem dizem amar. Assim me entreguei, sem defesas, ao sentimento doce e belo que me habitava. E confiei, confiei inteiramente, nas suas palavras, nos seus gestos. Quando, num passeio pelo bosque, tomado de uma fúria súbita, ele passou dos beijos aos gestos bruscos e ofegantes, a uma violência que lhe desconhecia, tive medo e tentei fugir para bem longe. Mas os seus braços e pernas possantes puderam mais do que a minha resistência e um súbito terror que me deixava sem forças.” POR TITO LÍVIO
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artira para aquele amor com a esperança habitava. E confiei, confiei inteiramente, nas suas de ter encontrado o que sempre buscara palavras, nos seus gestos. na vida. Diferente das colegas do liceu, que Quando, num passeio pelo bosque, tomado de passeavam desde muito cedo os namorados pela uma fúria súbita, ele passou dos beijos aos gestos mão, contando estranhas bruscos e ofegantes, a uma histórias de beijos escaldanviolência que lhe desconhetes e de carícias ousadas em cia, tive medo e tentei fugir Pensei apresentar queixa na sítios escusos, sonhava com para bem longe. Mas os seus polícia, mas sentia-me “suja”. algo diferente, um homem braços e pernas possantes que me compreendesse e puderam mais do que a miE a vergonha por que teria soubesse amar, gentil, terno nha resistência e um súbito de passar num mundo onde e delicado. Pensei tê-lo enterror que me deixava sem contrado quando, um dia, à forças. E assim, de uma fortudo se desculpa aos homens saída da escola, me disseste: ma brutal, me possuiu sobre ou se lhes encontra sempre «Gosto de ti. Posso acompaa erva molhada. atenuantes, depressa me fez nhar-te a casa?» Acordei, invadida pelo esSabia pouco do amor e panto, a dor imensa de ter desistir. Não ousava pensar da violência oculta por desido violentada, humilhada que os meus pais, as minhas trás das belas palavras e dos pela inutilidade de qualquer amigas e colegas, de tal gestos de ternura. E ainda defesa, pois as mãos, fortes, menos dos homens e do seu agredindo a cara, e as perse apercebessem. Preferiria desejo de destruir quem dinas esmagando o corpo, immatar-me, se é que não zem amar. Assim me entrepossibilitaram qualquer reestava já morta... guei, sem defesas, ao sentisistência. Não reconhecia amento doce e belo que me quele homem cuja violência
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e crueldade me deixaram no chão prostrada, com uma vergonha enorme pelo que acontecera. E ali fiquei, o sangue escorrendo pelas pernas, confusa, sem saber o que fazer quando se abotoou e se foi embora, não sem antes me perguntar se havia gozado. A garganta foi incapaz de pronunciar qualquer som; a voz também me doía como todo o corpo. Pensei apresentar queixa na polícia, mas sentia-me “suja”. E a vergonha por que teria de passar num mundo onde tudo se desculpa aos homens ou se lhes encontra sempre atenuantes, depressa me fez desistir. Não ousava pensar que os meus pais, as minhas amigas e colegas, de tal se apercebessem. Preferiria matar-me, se é que não estava já morta...
Encerrei-me num pesadelo que não ousava sequer recordar. De noite, acordava, encharcada em suor e angustiada, revivendo o que a memória teimava em não apagar! Até que, cansada da sensação estranha de uma culpa que não me pertencia, encontrei uma médica que me reconciliou comigo e com a vida. Sei que tenho de acreditar de novo no amor, num homem que tenha a coragem de partilhar este segredo, capaz de sarar as minhas feridas e em cuja ternura possa repousar. Não o fazer, seria dar-lhe a vitória, algo que nunca heide consentir. Texto original da peça Sobreviventes: Dez Mulheres à Procura da Voz adaptado, pelo autor, para um conto publicado na antologia Os Vigaristas. A peça Sobreviventes esteve recentemente em cena, no Teatro Experimental de Cascais.
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JORGE PINCORUJA Residente em Londres, escreve sempre em Português. Embora a sua escrita seja maioritariamente em verso ou prosa poética, de vez em quando escreve contos. Nascido na Beira Alta, tem por meta escrever de forma original e muito sua. Umas vezes melódica, outras vezes ríspida, mas sempre com verdade. Já com algumas obras editadas, pretende deixar um cunho próprio na escrita que se faz actualmente. Participou nas antologias «A Bíblia dos Pecadores», «Vendaval de Emoções», «Devassos no Paraíso» e «Sinfonia de Amor» da Colecção Sui Generis.
BRASIL, BRASILEIRO Você actualmente vive num país de egoístas. Você é ultra-egoísta. Vejo muitos de vocês, aqui neste país (UK), tentando comer o rabo um ao outro. Ve-
Perfil no Facebook: www.facebook.com/jorge.pincoruja
jo aqui o “jogo de cintura” para passar a perna no outro. Nem aqui sabem ser solidários uns com os outros. Vejo isso diariamente e continuarei a ver. A coisa não muda. Você cresceu com essa ideologia de merda na cabeça. A coisa não vai melhorar nunca enquanto você pensar que o negro é um vagabundo e que não quer trabalhar... porque você mesmo lhe nega todas as possibilidades de deixar de ser negro, vagabundo e ladrão para poder ser um cidadão igual a si... com os mesmos direitos e obrigações.
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coisa verdadeiramente não é nem de esquerda nem é de direita. A coisa de facto é da desigualdade. Enquanto houver muros altos e três refeições na mesa para uns e para outros nem muros haver, nem uma rapadura no fundo da panela, a coisa não tem conserto. Nem é de quem rouba mais, nem é de quem rouba menos, porque quem rouba menos também está mortinho para roubar o que puder. Nem é de quem está preso por roubar, nem de quem anda à solta a roubar igual. A coisa não é complicada, mas é complicado fazer a igualdade, fazer com que o que nada tem consiga por si mesmo ter o que precisa. Enquanto houver essa “superioridade” e esse “olhar por cima” e o famoso “sabe com quem está falando?” a coisa continua podre. A coisa, essa tal coisa que tantos querem mudar mas que não querem que a mudança aconteça... vão ser os que serão assaltados, violentados e “vítimas” do seu próprio egoísmo. Porque num país cujos cidadãos só se preocupam com o seu rabo... vão por conseguinte ficar sem ele.
A coisa não é complicada, mas é complicado fazer a igualdade, fazer com que o que nada tem consiga por si mesmo ter o que precisa. Enquanto houver essa “superioridade” e esse “olhar por cima” e o famoso “sabe com quem está falando?” a coisa continua podre.
Você actualmente vive num país de egoístas. Você é ultra-egoísta. Vejo muitos de vocês, aqui neste país (UK), tentando comer o rabo um ao outro. Vejo aqui o “jogo de cintura” para passar a perna no outro. Nem aqui sabem ser solidários uns com os outros. Vejo isso diariamente e continuarei a ver. A coisa não muda. Você cresceu com essa ideologia de merda na cabeça. A coisa não vai melhorar nunca enquanto você pensar que o negro é um vagabundo e que não quer trabalhar... porque você mesmo lhe nega todas as possibilidades de deixar de ser negro, vagabundo e ladrão para poder ser um cidadão igual a si... com os mesmos direitos e obrigações. A coisa não vai mudar nunca porque você tem esse medo de que a igualdade entre cidadãos vá deixar você menos cidadão. Enquanto você pensar que negro não anda de carro, nem pode ter carro, para não falar de casa própria com piscina... Pare231
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ce complicado e sem solução mas não é nem uma coisa nem outra. Quer viver bem? Preocupe-se com o seu vizinho, veja se ele tem uma educação e um trabalho. Não tem? Faça com que tenha. Você tem poder mas só o usa para depilar os pêlos do seu rabo! Veja se ele tem como conseguir a comida igual à que você come. Veja se ele tem as mesmas oportunidades com que você nasceu, já tendo. E se ele não tem lute para que tenha, porque afinal você, lutando pelo outro, está lutando por si mesmo. Nunca pensou nisso? Pois pense. Deixe de ser um mau carácter egoísta e pare de rotular o resto do mundo como “vagabundos e ladrões”. Porque ladrões sempre existiram e sempre existirão... mas não deixe o seu país se tornar na caverna do Aladino e os seus quarenta ladrões. O seu país tornou-se nisso. Uma caverna com milhões de ladrões e a culpa é sua. A direita não presta, a esquerda também não. Veja se o mundo ao seu redor tem a justiça que
Quer viver bem? Preocupe-se
com o seu vizinho, veja se ele tem uma educação e um trabalho. Não tem? Faça com que tenha. Você tem poder mas só o usa para depilar os pêlos do seu rabo! Veja se ele tem como conseguir a comida igual à que você come. Veja se ele tem as mesmas oportunidades com que você nasceu, já tendo.
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Você precisa saber que para
você anseia para si. Pare de pensar que determinado candidato é que vai resolver os problemas de uma nação egoísta e sem igualdade. Saiba de uma vez por todas que o que causa atrito é a falta de IGUALDADE. Pare de pensar que só você é o bom nessa história nacional. Porque você precisa saber que para colher o arroz é preciso ceifá-lo rente à terra. Não se pode apanhar o arroz pela espiga... porque assim perdem-se os grãos todos, menos aqueles que lhe ficaram na mão – há anos que você colhe a espiga e os grãos ficam todos perdidos. Há inúmeros anos que você pensa que os outros devem comer só palha. Há imensos anos que você, na sua ignorância, produz toneladas de ladrões sem arroz para comer. Por isso, se você quer fazer a diferença, comece por a fazer você mesmo... não creia em candidatos que querem
colher o arroz é preciso ceifá-lo rente à terra. Não se pode apanhar o arroz pela espiga... porque assim perdem-se os grãos todos, menos aqueles que lhe ficaram na mão – há anos que você colhe a espiga e os grãos ficam todos perdidos.
encher o cu com mais arroz do seu arroz, e do arroz do seu vizinho. Falo aqui de arroz mas também podia falar de feijão. E se o seu vizinho não tem arroz nem feijão a sua feijoada vai ser sempre muito negra. Morou?
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SAMANTA OBADIA Brasileira, 15/12/1967, com dupla nacionalidade portuguesa. Escritora, psicanalista, actriz, filósofa e palestrante. Tem quatro livros publicados pela Letra Capital Editora: «Pessoas, Palavras e Valores: Elos em Construção» (2009), «Eu me Livro: da Prisão das Drogas até o Fim» (2011), «Mengele me Condenou a Viver: A Vivência e as Sequelas de Aleksander Henryk Laks Após o Holocausto» (2012) e «Café com Chantilly, Contos de Motel» (2015). Participou na antologia «Luz de Natal» da Colecção Sui Generis. Perfil no Facebook: www.facebook.com/samantaobadia Página da Autora: www.samantaobadia.com.br Instagram e Linkedin: Samanta Obadia
O AFETO AFETA! O afeto é pontual. Ele, manso, entra e sai sem pedir licença. Ele afeta porque se intromete no centro do outro. Ele invade e faz vibrar, pulsando. Tum, tum, tum! O afeto nos afeta, nos torna brincalhões, nos arranca o medo de sentir o toque e nos faz sorrir retribuindo o sorriso de quem passa. O afeto afeta, sem apertar. O afeto faz o feto crescer sadio e o cérebro ter bem estar. Ahhh! Como eu gosto de ser afetada e de afetar. Provocar lágrimas e gargalhadas sufocantes no meio da multidão, que exala esse cheiro bom de gente, que faz barulho de tanto rir, de tanto acarinhar os sentidos até chegar ao céu da boca, que transmite tantos sentimentos enquanto rima palavras soltas. Ah! As palavras não valem mais que os olhares, nem pesam mais que os sorrisos. Mas elas voam belamente da voz ao ouvido, de um coração ao outro, massageando carinhosamente nosso interior. Afete-me! Ajude-me a enfeitar essa Terra com dentes, com olhos, com lágrimas e com batimentos cardíacos descompassados. Tum, tum, tum! Afete sem medo de tocar o outro, liberte-se e estenda a sua mão, deixando que alguém lhe toque. Troque tudo de lugar. Saia de si. Entre no outro. Saia do outro. Entre em si. E volte, volte sempre para qualquer coração, porque a chave há de estar ali, no centro do afeto do feto que ainda é você! 235
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REPORTAGEM
LANÇAMENTO DO LIVRO “SHADOWS OF LIFE” A autora Paula Homem apresentou o seu primeiro
e bom gosto (para além de saborosíssimo!)
livro de poesia, «Shadows of Life», em co-autoria
ímpares». De acordo com a autora, esta obra
com o fotógrafo Alexandre Carvalho: uma obra
«é o resultado de um “golpe de sol” e as suas
poética cujos poemas da autora são ilustrados
consequências no olhar de um fotógrafo. A dis-
com fotografias de Alexandre Carvalho ao longo
torção na visão levou a que a tentasse passar à
de 100 páginas, tendo sido publicada pela Alma
fotografia. Manipulando, exageradamente, cada
Lusa em parceria com a Máquina de Comunicar.
um dos negativos de forma a aproximar a imagem
A sessão de lançamento decorreu no dia 29
da sensação sentida. Guardadas, ciosamente, du-
de Junho, em Lisboa, e, segundo Paula Homem,
rante anos, vêem agora a luz do dia, acompanha-
«foi um momento intimista e bem-disposto».
das da respectiva explicação, para que se mante-
Os autores estiveram rodeados dos amigos,
nha a íntegra da sua essência e não sejam inter-
a quem foi possível a deslocação até ao estúdio
pretadas como um mero abstraccionismo... que o
de Alexandre Carvalho, em Benfica, na cidade
não é – de todo. As imagens suscitaram sensações
de Lisboa, e o convívio fez-se entre a exibição
e abalaram sensibilidades; daí nasceram as
de dois vídeos sobre a obra em questão e o
palavras que as acompanham e as colocam sob
trabalho do fotógrafo, a declamação de poemas
um outro olhar. Quase lhes vestem roupas novas,
e as fotos que registaram tais momentos. Uma
ou emprestam um enfeite diferente: o grafismo
especial menção ao catering da Doce Alentejo,
das frases e a cadência melódica de um poema.»
diz Paula Homem, que brindou os autores «com
Nas próximas páginas divulgamos (algumas) ima-
a excelência já habitual e nos surpreendeu com
gens da sessão de lançamento deste belíssimo
o bolo comemorativo de uma sensibilidade
«Shadows of Life». E parabéns aos autores! 239
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NATÁLIA VALE Nasceu em Vila Robert Williams, Caála, Angola, em 1949. É licenciada em História, pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Tem vários trabalhos premiados, quer nacional, quer internacionalmente. Tem trabalhos publicados em diversas antologias, nacionais e internacionais. Em 2009 editou os seus primeiros (dois) livros pela editora Mosaico de Palavras: «Emoções Inacabadas» (poesia) e «A Minha Tempestade e Outros Contos» (contos). Participou em três antologias da Colecção Sui Generis: «Graças a Deus!», «Torrente de Paixões» e «A Primavera dos Sorrisos». Perfil no Facebook: www.facebook.com/natalia.vale.39
PARA O MEU AMOR Meu amor, Não tenho palavras para te poder dizer o que senti quando te reencontrei, quando os teus olhos pousaram de novo nos meus. Foi uma magia que não findou. Um torpor apoderou-se de mim e enrubesci. Tu, malandro, sorriste. Imaginei, mil vezes, o momento de te mostrar como tudo era tão irreal, depois do afastamento a que nos obrigámos, porque as nossas vidas eram paralelas, mas intocáveis. Naquele momento a tua voz travou e regressaste a um passado sonhado, mas não realizado. Vi-te tombar, sem conseguires balbuciar uma única palavra. O meu coração parou, momentaneamente, com o teu. Agora olhas para mim, dessa cama a que te lançaram como se fosses um fardo de palha, e sorris. Onde está a tua força? Aquela que me davas, quando desabafava contigo a desgraça em que a minha vida se tornara? Quero voltar a abraçar-te. Quero que vivas, por mim, pelo nosso amor. A tua luta é a minha luta. Sei que vais voltar à realidade, à nossa realidade, porque nos amamos. Lembras-te daqueles belos pôr-do-sol que vimos, sempre que passeávamos pelo passadiço? As nossas mãos, carentes e quentes, colavam-se como se fossem uma só. Desejo reviver esses momentos contigo e, agora que os nossos impedimentos terminaram, não te vais deixar abater. Estou e estarei sempre a teu lado. Tudo isto deveria dizer-te ao ouvido, que gosto de mordiscar nos momentos da nossa maior intimidade. No entanto, é mais fácil escrever-te porque, neste momento, é menos constrangedor. A tua vida está presa por um fio e sabes disso, mas só tu podes fazer com que esse fio não quebre. Ergue-te! Alguém (não eu) te irá ler esta carta. Estou a ver-te sorrir e as máquinas, a que te encontras ligado, dispararam velozmente. Sei que és um vencedor. Sempre o foste.
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SUZETE FRAGA A geada de Janeiro tatuou-lhe o espírito do guerreiro afonsino na alma. Porém, quis o destino que se instalasse na outra margem do Ave, à sombra de tílias perfumadas. Sem dotes vocais para cantar, nem habilidade para filigranar, é no escorrer da tinta da caneta que encontra uma satisfação insana. Transformou recentemente o sonho numa realidade há muito desejada: «Almas Feridas» (Sui Generis, 2016) é o seu primeiro livro. Da Colecção Sui Generis, participou nas seguintes antologias: «A Bíblia dos Pecadores», «O Beijo do Vampiro», «Graças a Deus!», «Vendaval de Emoções», «Ninguém Leva a Mal», «Torrente de Paixões», «Saloios & Caipiras», «Sexta-Feira 13», «Crimes Sem Rosto», «Fúria de Viver», «Devassos no Paraíso», «Luz de Natal» e «Os Vigaristas». Perfil no Facebook: www.facebook.com/suzete.fraga
MEMORIAL DE SÃO GENS DE CALVOS
H
á livros cujo valor excede (e muito) o seu peso em ouro. «Memorial de São Gens de Calvos... Como Um Romance» é um desses livros. Rendo-me em mil vénias perante o seu autor: José Bento Silva; figura humilde, de fácil trato e afável. Sem qualquer vestígio de notoriedade ou grandeza que reclame para si, é vê-lo onde quer que se respire cultura, a saciar a sede de saber – apenas as suas cãs, repletas de sabedoria, denunciam a sua presença. Sobre a obra, do pouco que li foi o suficiente para ficar apaixonada por este santo, cujos “adereços” tanto me dizem: a palma do martírio ou, para mim, a pena de escrever, na mão direita. E um livro aberto, na esquerda. Para quem não se revê nestes traços icónicos sugiro, logo nas primeiras páginas, o próprio São Gens em discurso direto. É a prova de que a brincar tudo se pode (e deve) dizer, até a verdade. Fabuloso! Encontro-me ainda nas “Caminhadas” onde é possível palmilhar cada pedacinho de chão junto com o autor, como se lá estivéssemos. Neste capítulo sobre arqueologia, pedras e antiguidade percebe-se o quão cegos somos. Quanta riqueza diante dos 254
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nossos olhos é ignorada, desprezada e maltratada? Contudo, gostava que as mãos calejadas da enxada acariciassem esta obra como acariciam a terra. Pois esta obra é um hino de amor ao chão que pisam. Gostava que os olhos sedentos de “likes” lhe pusessem a vista em cima e percebessem o vazio e a pobreza das nossas mentes. O peso deste livro não deve intimidar, e muito menos o número de páginas. Intimidatório é chegar aos calcanhares do autor, pela coragem, determinação, capacidade de trabalho e superação de obstáculos. Não se trata apenas de um livro. É um pedaço da vida do autor que, ele mesmo, abdicou,
para que muitas outras vidas não caíssem no esquecimento; para que possamos aprender e compreender, respeitar e amar o património que nos foi deixado. Quantas horas aqui estão investidas? A ler, a pesquisar, a escrever, a rever, a viajar? Impossível calcular. Por isso é motivo de enorme orgulho possuí-lo devidamente autografado. Obrigada, Professor Bento! Como referi, ainda tenho muitas páginas pela frente para me deliciar, refletir e, sobretudo, para aprender. Como tal, esta pequena apreciação está longe de ser uma crítica literária. É apenas um apelo à boa leitura, livros com conteúdo. Não sairão defraudados.
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INALDO TENÓRIO DE MOURA CAVALCANTI Poeta/escritor pernambucano, natural da cidade da Pedra, PE, reside em Recife, PE, Brasil. Publicou vários livros: «Cúmplices» (1993), «Assim se Fez» (2002), «O Recanto Sagrado da Luz» (2008), «Guardados» (2010), «Meu Pai e Outros Contos» (2012), «O Colecionador de Cavalos» (2013), «Paisagens da Janela» (2014), «De Onde se Pode Ver o Invisível» (2015) e «História de Esquecimento» (2016). Em e-book, tem os seguintes livros publicados pela Amazon: «História de Esquecimento», «Paisagens da Janela», «O Colecionador de Cavalos» e «Cadeira de Balanço». Além de ter participações em diversas antologias no Brasil, é membro da União Brasileira de Escritores, PE.
SERÁ ISSO POESIA? Não sei como sou poeta se tudo que faço é olhar o rio com meu olhar que não vê, esqueço-o ali, real, meio morto, fétido... e sinto até as areias escorregarem de meus pés desnudos. Eu pura e simplesmente. Eu que não sou eu porque poeta não existe, ilude-se até. Mente para o espelho até. Será isso poesia? Não sei mentir: por isso sou esse poeta incapaz de ser poesia. Que esconde-se de si mesmo e vive como se não tivesse morada, fosse capaz de habitar nas palavras, de se enclausurar nelas, de viver assim: despido.
Perfil no Facebook: www.facebook.com/odl.ani.1
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LUÍS RÕXO Nasceu em Coimbra, Portugal, e desde muito cedo revelou ter um talento para a escrita, pintura e música. Considera que a arte é a sua forma de estar e respirar, evocando que todos somos pequenas partículas com alma, que pertence ao corpo do Criador, por isso busca a trilogia da alma e da criação, através da palavra que nasceu antes do Universo, da paisagem pictórica e do som, notas uma a uma que compõem a sinfonia da vida. Aqui ficam fragmentos por onde Luís Rôxo pisa suavemente em silêncio o espaço, o tempo e o interminável infinito do universo e da alma. É autor do livro «O Silêncio dos Pássaros» (2019). Actualmente, vive e trabalha na cidade de Porto Alegre, Brasil. Página do Autor: https://www.luisroxo-escritor.com Perfil no Facebook: https://www.facebook.com/luis.roxo.5
ADÁGIO DE MAIO Havia um anjo caído com asas negras que sugava as palavras dos homens desnudos. Havia no centro da Terra um forno que queimava os cérebros dos homens vivos. Havia ao longe o cheiro da morte da Guerra Civil Espanhola e o anúncio da Segunda Guerra Mundial. Havia no mundo crianças enforcadas em árvores de cinzas com nome de fome. Havia uma guitarra clássica em forma de mulher despida que semeava flores nas florestas ardentes. Havia em Maio as primeiras árvores que se vestiam de ipês roxos, e acordavam nos lençóis da terra negra as primeiras flores que enchiam as nuvens de gérberas, hortências, margaridinhas, begónias e jasmins brancos. E foi em Maio... E foi em Maio que te escrevi um poema nos lábios. E foi em Maio que te escrevi folhas verdes de árvores antigas nos teus olhos que sangravam lágrimas de pétalas; e foi em Maio que te escrevi um diário de palavras em silêncio; e foi em Maio que te escrevi barcos navegando nos teus seios em noites de sorrisos escondidos; e foi em Maio que te escrevi
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as minhas sombras em clepsidras partidas; e foi em Maio que te escrevi as minhas reencarnações por dentro das raízes das flores. Havia sempre um primeiro silêncio quando te via. Havia sempre um segundo silêncio quando te olhava. Havia sempre um terceiro silêncio quando te abraçava. Sempre ouvi dizer que as flores são a alma do mundo. Como podereis conhecer a flor do amor se só conheceis a flor do ódio? Como podereis conhecer a flor da vida se só conheceis a flor da guerra? Como podereis conhecer a flor da felicidade se só conheceis a flor da miséria? E foi em Maio que te escrevi jardins nas mãos. E foi em Maio que te escrevi borboletas nas costas; e foi em Maio que te escrevi casas sem janelas para voares pelo mundo; e foi em Maio que te escrevi a minha solidão; e foi em Maio que te escrevi o mar nos pés e o som de oboés em búzios; e foi em Maio que te escrevi lagos gélidos de cisnes brancos; e foi em Maio que te escrevi e guardei-te no diário do meu peito desfeito. Havia um anjo caído com asas negras que semeava cólera no útero da Terra. Havia cabeças de serpentes espetadas em paus no vale dos desejos. Havia mães que gritavam ao pé dos caixões dos seus filhos. Havia milhares de soldados com seus corpos apodrecidos nas planícies. Havia em Maio as primeiras sementes de dálias vermelhas, que procuravam sucintos raios de sol no meio das asas dos anjos. E foi em Maio. E foi em Maio que te escrevi mar no teu corpo. E foi em Maio que te escrevi ondas de sal no ventre; e foi em Maio que te escrevi silêncios de areia; e foi em Maio que te escrevi a minha última gota de sangue; e foi em Maio que te escrevi o arco-íris nos olhos. O mais parecido com as pétalas das flores são as tuas pestanas. Sempre soube que eras mais do que um silêncio, mais do que uma palavra, mais do que um poema. Eras a flor da alma do mundo. Eras a flor da vida. E foi em Maio. in livro “Adágio das Flores”. Se quiser um exemplar autografado contacte-me. Este texto foi escrito a ouvir “Concierto de Aranjuez” (1939) – Joaquín Rodrigo.
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PAULA HOMEM PAULA HOMEM Nascida em 1959, licenciada na área do turismo. Escreve por paixão e é através da escrita que «eu... me torno mais EU. Vogando pela poesia, desaguando na prosa, “brinco” com as letras.» Está presente em obras colectivas de ambos os géneros: «Memórias Esquecidas do Tempo», «A Lagoa de Óbidos, o Mar e Eu» e «Sonho em Poesia» (poesia). «Quando o Amor é Cego» e «Amar (S)Em Desespero» (prosa). Da Colecção Sui Generis, participou nas antologias «A Bíblia dos Pecadores», «Graças a Deus!», «Sexta-Feira 13» e «Sinfonia de Amor». Perfil no Facebook: www.facebook.com/paula.homem.3
BRINCANDO COM O VENTO Hoje quero brincar com o vento, seguir-lhe o rasto, ser haste em movimento. Hoje quero olhar com outros olhos, ver o que não é visível nem palpável, dar cor a garras perdidas, em escolhos, onde se prendem farrapos de céu arável. Hoje quero brincar com o vento, seguir-lhe o sopro e a força do momento. Hoje quero nada ser, pedaço de plúmbeo sereno, gaivota perdida da terra, onda de alva espuma invade os sonhos, como braço de longo aceno. Quero evadir-me da nua ventania que se avoluma. Hoje quero brincar com o vento, seguir-lhe a fúria, vergastadas de tormento. Hoje sou como despido tronco sem voz, tangido pela mão do vento norte, vergando, contra vontade, pela força atroz da ventania em desalinho, como a sorte de quem navega em mar de salgado amargor. Hoje quero brincar com o vento, seguir-lhe o rasto, ser haste em movimento.
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ROSE CHALFOUN CORTINA DE FUMAÇA ROSE CHALFOUN Rosemary Chalfoun Bertolucci, brasileira, lavrense. Graduada em Letras, com Especialização em Língua Portuguesa pela PUC/MG, Especialista em Filosofia Clínica pelo Instituto Packter/RS, IMFIC, MG. Mestre em Educação, Membro da Academia Lavrense de Letras e da Confraria dos Poetas de BH, Professora Universitária de Língua Portuguesa e Literatura Brasileira (UNILAVRAS e UNIPAC), Tutora (EAD) e Revisora (Universidade Federal de Lavras). Publicações de artigos: Clarice Lispector: Uma Aprendizagem ou o Livro dos Prazeres à luz da Filosofia Clínica; A obra machadiana à luz da Filosofia Clínica; Personagens machadianas no divã do Filósofo Clínico. Livros de poesia: «Entretons», «Entretons II», «Ao Intento do Vento», antologia da Academia Lavrense de Letras. Co-autora da antologia «Luz de Natal», da Colecção Sui Generis. Perfil no Facebook: https://www.facebook.com/rosemary. chalfounbertolucci
Somos avessos à tristeza Esperamos a cada dia o recomeço Conquistando as nuances, as belezas Que avidamente na vida buscamos! E por que não à cortina de fumaça? Enfeita a vida que nos chama E esconde tudo aquilo que nos ameaça! Tudo vem e tudo passa... Ilusões, desilusões, amores e desamores. E por que não à cortina de fumaça? Vem o Carnaval e passa... Uma bela cortina de fumaça! Cores, melodias, alegorias... Ilusão, sonho, utopia... Uma fuga no espaço de seis dias. Do outro lado da cortina, A ruína de irmãos engessados, massacrados. Nada muda, mas de lá se alegram tristes Em dias de autêntica folia! Som, fantasias, porta-bandeiras e alegria. Alienados, não! Alegres, sim... Por três, cinco ou seis dias! Tudo passa! O Carnaval passou! E deixou nas retinas as cores, a beleza Nos ouvidos a melodia, a leveza A música na voz, o brilho no olhar! E por que não à cortina de fumaça? 262
Marisa Luciana Alves ĂŠ co-autora de Sinfonia de Amor.
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POESIA
TIAGO SOUSA TIAGO SOUSA O destino fez de Tiago Sousa, um estudante universitário de 19 anos, amante do excêntrico e do macabro. Deixou que a inspiração lhe escrevesse já diversos contos de terror e tragédia, inspirados pela escrita de autores como Poe e Lovecraft. Ultimamente, tem dado asas à sua poesia, produzindo inúmeros poemas numa base diária, em métrica regular ou verso livre. A sua arte sempre estará marcada por uma estranha sensação de alienação e uma certa melancolia derivada do profundo pensamento. Participou na antologia «Sinfonia de Amor» da Colecção Sui Generis. Perfil no Facebook: https://www.facebook.com/tiago.sous a.10comoseomundonaofosseloucoosu ficiente
À JANELA Janelas de vidro pintado Que me sentem o coração, Contemplem-me este olhar cansado, Enfadado p’la sensação. Façam de mim vossa paisagem: O mundo fitando-me fraco Nesta minha imóvel viagem P’los terrenos sombrios do facto. Que a erva me olhe com vaidade E o cimento com preconceito, E o céu, portador da verdade, Que me defina contrafeito. Nasci parte deste meu mundo, Deste meu mundo faço parte; Trocando o seu real e o tudo Para dar voz à minha arte.
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POESIA
JONNATA HENRIQUE JONNATA HENRIQUE Génesis poética remete a púberes matizes, quando em processo de escolarização demonstrava identificação com as palavras, dedicando boa parte do seu tempo aos livros. Foi neste ambiente que a semente foi irrigada e brotou, quando escreveu o seu primeiro poema após um trabalho sobre o Simbolismo, ao conhecer os escri-
tos de Alphonsus de Guimaraens. Poeta, cordelista, contista, antologista, brasileiro da cidade de Brejo da Madre de Deus, Pernambuco, há mais de uma década escrevendo, estreou no mundo das antologias em 2015 no projecto «A Bíblia dos Pecadores» (Sui Generis). Publicou contos e poemas em mais de 80 obras colectivas. Posta em sites, blogues, tem uma página no Facebook e participa activamente em saraus na internet e actividades do meio literário. Organizou recentemente a sua primeira antologia: «Aquarela de Emoções» (Darda Editora, 2018). Da Colecção Sui Generis, participou também em «O Beijo do Vampiro», «Vendaval de Emoções», «Graças a Deus!», «Ninguém Leva a Mal», «Torrente de Paixões», «Saloios & Caipiras», «Sexta-Feira 13», «Fúria de Viver», «Devassos no Paraíso», «Sinfonia de Amor» e «Os Vigaristas».
A EDITORA DO CÃO Na bendita e duvidosa editora do Cão Não se respeita infernal contrato Pois o mesmo sendo pai da mentira Vai para o beleléu qualquer trato E masoquista relação se configura Com o Diabo fazendo sua diabrura De enxofre o escritor verá retrato Capa dos livros um satânico prato Que mistura nada e coisa nenhuma E se o “Val” dá o aval, usam a intuição Original não tem avaliação alguma Eles assassinam a “Mãe” ortografia Com alfabeto e Beta, fazendo orgia Revisor fantasma, letra, não olham uma Cego em tiroteio, pessoa que toma uma Similar Dante nos círculos infernais Esta seita que não manda os rastreios Encomenda volta, novas despesas postais Pra lascar o resto, seu nome está errado No certificado e no projeto então editado Demônios que são, não admitem jamais 265
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POESIA
CRISTINA SEQUEIRA CRISTINA SEQUEIRA Cristina Maria Xavier Sequeira, nascida em 1972, é natural de Cinfães do Douro (onde reside), distrito de Viseu. Participou em três antologias da Colecção Sui Generis: «Torrente de Paixões», «A Primavera dos Sorrisos» e «Sinfonia de Amor». Tem como hobby a sua página «Cristina Sequeira – Pedaços de Mim» no Facebook, na qual publica a sua poesia. Perfil no Facebook: https://www.facebook.com/cristina.se queira.54390
ESPERO-TE! Pôr-do-sol que me aqueces Me invades o coração Na imensidão do que sinto Maresia do mar que alcanço Neste aconchego abraçado à eternidade... Por um momento Deixo beijos desmedidos E apesar da distância Nunca será tarde para amar Na longitude do meu ser E embora o tempo passe Não te direi adeus... Eu permaneço aqui Guardando o esplendor da vida Das palavras doces a cada mirada Na soma do feitiço Do desejo que me adentra... Espero-te!
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Mary Rosas ĂŠ co-autora de Tempo de Magia, Luz de Natal e Sinfonia de Amor.
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POESIA
MICHELE VALLE MICHELE VALLE Nasceu em 1986, em Juiz de Fora (MG), Brasil. Pesquisadora, taurina, apaixonada pela Natureza e pela vida, formou-se em Fisioterapia com especialização em Terapia Intensiva e Cardiorrespiratória. É membro da LEIAJF – Liga de Escritores, Ilustradores e Autores de sua cidade e da Associação Brasileira de Escritores de romance, suspense e terror (ABERST). Tem diversos contos publicados em antologias no Brasil e na Europa. O seu amor pela leitura foi o maior incentivo para o início de sua jornada como escritora. Participou na antologia «Luz de Natal» da Colecção Sui Generis. Perfil no Facebook: https://www.facebook.com/michele.e vangelistavalle
SAUDADES... Sentir saudades, Ao mesmo tempo que é torturador também pode ser libertador. Sentir saudades, Pode ser sinal de que você se afastou de algo ou simplesmente deixou que algo se afastasse de você. Sentir saudades, É olhar para aquilo ou aquele e perceber que ainda sente algum impacto, mas que isso não te impede de seguir em frente. Sentir saudades, É lembrar do passado, sorrir no presente, mas não permitir que nada interfira no futuro. Sentir saudades, É sentir o cheiro de novo, é ter o coração em alerta, é deixar a adrenalina comandar. Sem perder a noção de que o que ficou passou.
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Sentir saudades, É perceber que apesar dos pesares algo ou alguém foi importante, e por este simples fato Sentir saudades é reconfortante. Por isso... Apenas, sinta! Sentir traz na alma e no coração sinais de vivência que o passado deixou ou apenas momentos que o tempo eternizou.
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JORGE PINCORUJA JORGE PINCORUJA Residente em Londres, escreve sempre em Português. Embora a sua escrita seja maioritariamente em verso ou prosa poética, de vez em quando escreve contos. Nascido na Beira Alta, tem por meta escrever de forma original e muito sua. Umas vezes melódica, outras vezes ríspida, mas sempre com verdade. Já com algumas obras editadas, pretende deixar um cunho próprio na escrita que se faz actualmente. Participou nas antologias «A Bíblia dos Pecadores», «Vendaval de Emoções», «Devassos no Paraíso» e «Sinfonia de Amor» da Colecção Sui Generis. Perfil no Facebook: www.facebook.com/jorge.pincoruja
NOTRE DAME Não é a catedral. Nem sequer a Notre Dame. É outra coisa mais visceral, que encerra tanto mal Por ser coisa tão infame. Não, não se trata da catedral, nem por ser pedra antiga esculpida de história. É toda esta hipocrisia, de morrer em cada dia Mortos de fome nas guerras sem vitória Não é a catedral, nem é o bem ou o mal É somente areia nos olhos. É um descalabro de escolhos... em lágrimas de inundação É esta falta pretensa... de uma sociedade imensa. Toda míngua de compaixão Não, nem sequer é a catedral... O ponto mais fulcral desta maldita equação É somente a hipocrisia, que se transveste e se vicia Numa longa pastosa homilia De horror sem salvação. Não é a catedral, nem são os seiscentos milhões É toda esta tristeza, de tanta fome e pobreza Engendrada sem emoções.
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JOYCE LIMA JOYCE LIMA Baiana, Doutora em Educação, Professora, é autora de livros académicos e de poesias e organizadora de antologias poéticas. Actua em projectos de consultoria de textos, na Editora Becalete. Participou numa antologia Sui Generis: «Luz de Natal». Perfil no Facebook: facebook.com/joyce.lima.1069020
SONETO DAS FLORES Quero flores de todas as cores, em qualquer ocasião, mesmo sem razão. Razão sempre existirá para quem não tem medo de amar. Quero flores em todas as estações, de janeiro a janeiro, em qualquer lugar. Flores sempre florescerão no coração de quem sabe amar. Quero flores todas as manhãs para que o passado não ofusque a cena de uma noite que valeu a pena. Quero flores todas as noites para brindar o dia vivido ao lado de alguém querido.
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Diamantino Bártolo é co-autor de Graças a Deus!, Saloios & Caipiras, Fúria de Viver, A Primavera dos Sorrisos, Tempo de Magia, Devassos no Paraíso, Os Vigaristas, Luz de Natal e Sinfonia de Amor.
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RAQUEL LOPES RAQUEL LOPES Nasceu em Jaboatão dos Guararapes, Pernambuco, Brasil. Participou em alguns concursos nacionais e em antologias brasileiras e portuguesas como «Luz de Natal» pela Sui Generis e «Conexões Atlânticas IV» pela In-Finita. É membro nº 233 da Academia de Ciências, Artes e Letras do Brasil e participa em vários grupos e academias virtuais. . Perfil no Facebook: https://www.facebook.com/profile.ph p?id=100004575107428
DISCIPLINANDO Conheces a estrutura do ser que não tem alma Que vive dia a dia perambulando O vício virtual já domou sua fala O enredo é escrito a permanecer vagueando No canto da flauta mágica há espectáculo Eles vencem o relógio do cotidiano Eles brincam de viver com algum plano E caem na rotina divagando do mundo o divulgado É sina estar como quem não sabe Seguir um fluxo revelado E cair no poço sem ser desesperado Mídias sociais, facebook’s e tudo o mais... Onde todos seguem na fila alfabetizados São muitos os tais discípulos usuários.
(do livro «Poesia Real»)
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ANITA SANTANA ANITA SANTANA A poesia é uma forma de sentir as coisas ao seu redor, e é transbordar emoções que já não cabem mais em si. Por isso escreve. Nasceu e reside em Euclides da Cunha, no Estado da Bahia, Brasil. Fez o mestrado em Estudos Literários pela Universidade Estadual de Feira de Santana – UEFS (2017), graduada em Licenciatura em Letras Vernáculas pela Universidade do Estado da Bahia – UNEB (2008). Professora concursada, actuando em turmas do Ensino Médio no Colégio Estadual Educandário Oliveira Brito e como supervisora do Programa de Iniciação à Docência (PIBID). Coordenadora do Ensino Fundamental II na disciplina de Língua Portuguesa das escolas municipais de Euclides da Cunha. Co-autora da antologia «Luz de Natal», da Colecção Sui Generis.
EU Andando pelas calçadas Pontilhadas por passantes Ando e vivo a esmo Sem identidade Ao longe uma canção De perto uma fragrância E essa incompletude...!!! Assim vou passando...
Perfil no Facebook: www.facebook.com/anita.santana.773
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POESIA
LUCINDA MARIA LUCINDA MARIA Lucinda Maria Cardoso de Brito nasceu em Oliveira do Hospital, em 1952. Fez um percurso académico muito bom e tirou o curso do Magistério Primário, começando a leccionar em 1972. Encontra-se aposentada, mas continua a ensinar, agora artes decorativas, na Universidade Sénior de Rotary de Oliveira do Hospital. Tem seis livros publicados – «Palavras Sentidas» (2013), «Alma» (2014), «Divagando...» (2015), «Terra do Meu Coração» (2016), «Sonho?... Logo, Existo!» (Sui Generis, 2017) e «Um Ano... 365 Poemas» (2018) – e participações em variadíssimas obras colectivas. Da Colecção Sui Generis, participou em «A Bíblia dos Pecadores», «Vendaval de Emoções», «Graças a Deus!», «Torrente de Paixões», «Fúria de Viver», «A Primavera dos Sorrisos», «Tempo de Magia», «Luz de Natal» e «Sinfonia de Amor». Como autora, gosta de identificar-se apenas por Lucinda Maria e não escreve segundo o Acordo Ortográfico de 1990. Perfil no Facebook: facebook.com/lucindamaria.brito
NÃO FAÇAM CHORAR!!! Não façam chorar a candura doce dos meninos! Chega de guerra... de mortes... de desesperança! Para quê? Todo este ódio a matar tanta criança, A roubar-lhes a alegria... de serem pequeninos! A sede de poder cega esta gente que nem é gente... O vil metal sobrepõe-se a tudo... não pode ser! Invade-nos o coração... a tristeza de não poder, De não conseguir sarar um mundo assim doente! Quanta melancolia naqueles rostos estarrecidos, De medo... Não, eles não podem ser esquecidos! O sofrimento entranha-se em nós... é uma ferida. Lembrem-se que, em todos, a morte é uma certeza... Esqueçam o material... Velem pela maior riqueza: A inocência das crianças a brilhar na alma florida!
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Juliana Castro ĂŠ co-autora de Sinfonia de Amor.
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POESIA
NATÁLIA VALE NATÁLIA VALE Nasceu em Vila Robert Williams, Caála, Angola, em 1949. É licenciada em História, pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Tem vários trabalhos premiados, quer nacional, quer internacionalmente. Tem trabalhos publicados em diversas antologias, nacionais e internacionais. Em 2009 editou os seus primeiros (dois) livros pela editora Mosaico de Palavras: «Emoções Inacabadas» (poesia) e «A Minha Tempestade e Outros Contos» (contos). Participou em três antologias da Colecção Sui Generis: «Graças a Deus!», «Torrente de Paixões» e «A Primavera dos Sorrisos». Perfil no Facebook: www.facebook.com/natalia.vale.39
FICA POUCO DO QUE NUNCA EXISTIU No meu pensamento, delineado pelo vento, que me toca e arrepia, viaja o teu rosto e o teu corpo desnudado, escultural e cobiçado, que as minhas mãos, já enrugadas, ainda acariciam, passando por relevos anteriormente iluminados, irradiando toda a sensualidade que me dominava e fazia percorrer em mim um eterno calafrio. Estremeço, com recordações daquela que traiu as boas sensações, as que já não sinto, e fica pouco do que nunca existiu.
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SG MAG #08
POESIA
TAUÃ LIMA VERDAN RANGEL TAUÃ LIMA VERDAN RANGEL Doutor (2015-2018) e Mestre (20132015) em Ciências Jurídicas e Sociais pela Universidade Federal Fluminense. Especialista Lato Sensu em Gestão Educacional e Práticas Pedagógicas pela Faculdade Metropolitana São Carlos (FAMESC) (2017-2018). Especialista Lato Sensu em Direito Administrativo pela Faculdade de Venda Nova do Imigrante (FAVENI) / Instituto Alfa (2016-2018). Especialista Lato Sensu em Direito Ambiental pela Faculdade de Venda Nova do Imigrante (FAVENI) / Instituto Alfa (2016-2018). Especialista Lato Sensu em Direito de Família pela Faculdade de Venda Nova do Imigrante (FAVENI) / Instituto Alfa (2016-2018). Especialista Lato Sensu em Práticas Processuais Civil, Penal e Trabalhista pelo Centro Universitário São Camilo-ES (2014-2015). Professor Universitário dos Cursos de Direito e Medicina da Faculdade Metropolitana São Carlos, campus de Bom Jesus do Itabapoana-RJ e do Curso de Direito do Instituto de Ensino Superior do Espírito Santo (Multivix) – Unidade de Cachoeiro de Itapemirim-ES. Perfil no Facebook: www.facebook.com/taua.limaverdan Email: taua_verdan2@hotmail.com
NAMASTÊ O bailar do Universo me impulsiona Há uma convergência de forças astrais Há uma vontade maior do que as nossas É a sabedoria do tempo agindo em nosso favor Namastê Curvo-me perante ti Como um gesto de respeito Saúdo-te de forma digna e humana Com o corpo levemente inclinado Com as mãos unidas em prece A minha humanidade se manifesta Em respeito e honra à sua existência A paz de espírito que há em mim, Na sedenta necessidade de compreensão, Na constante busca de abrigo, Saúda a paz de espírito que há em ti...
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A felicidade extrema que percorre o meu corpo Não fica contida, reprimida ou limitada aos meus desejos; Ela transcende, ultrapassa meus poros, minha pele E minhas vontades, flertando com sua alma O melhor de mim é vivo, É indomável, incontrolável, pulsante É sedento de companhia, de desejos E busca a vivacidade do melhor que há em ti Como lufadas leves de brisa no final da tarde, Como o afago dos raios de sol sobre a pele O que minha alma anseia é encontrar, No reflexo da sua, o melhor da humanidade... Boas energias atraem boas energias, Sorrisos sinceros atraem sorrisos sinceros; A felicidade de um, caprichosamente, Atrai a felicidade do outro... Sem bagagens desnecessárias, Sem pesos mortificadores, Sem cobranças impagáveis, Sem dúvidas existenciais Apenas carrego o melhor E mais leve de todos os fardos: Está aberto ao melhor que a vida pode oferecer, Ao que o coração pode atrair e Ao que o olhar pode admirar Namastê!
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POESIA
ANDRÉA SANTOS ANDRÉA SANTOS Andréa Silva Santos é amante das artes: música, teatro, literatura, o que influenciou a sua trajectória profissional. Brasileira, é graduada em Letras Vernáculas (UESB), com especializações na área de Estudos Linguísticos e Literários, Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa e das Literaturas (UNEB). Fez mestrado em Estudos Literários (UEFS). É professora Substituta da UNEB, Campus IX – Barreiras, actuando na área de Literatura e Leitura e Produção Textual. Participou em oficinas de criação literária, nos livros «Prosa & Verso» (Edições MAC/Feira, 2017), «Gotas Poéticas» (Darda Editora, 2018) e «Luz de Natal» (Sui Generis, 2018) e na revista eisFluências (2017). Faz parte da Confraria Poética Feminina. Perfil no Facebook: https://www.facebook.com/andrea.san tos.16568
SOLIDÃO Carrego nas vértebras Rumores de séculos. Antigas inscrições. No corpo, silêncio de sinos. Nos cantos do Tempo, prantos empoeirados. Páginas de uma vida que não foi Um livro amparado nas arestas da solidão Corredores abafando as alegrias de outrora, Palavras indizíveis. Quando eu vagava no casarão, Escondiam-se os risos? Não ouço a criança que fui. Não vejo as tias, A mãe contando histórias, O pai chegando ao fim do dia, Nem passos há nos ladrilhos. As imagens, hirtas, fugiram do espelho. Risos petrificados na soleira da porta. Esperanças deslizam ribanceiras Na cama, espasmos de gozos esquecidos. So Li DÃO.
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LuĂs Fernandes ĂŠ co-autor de Sinfonia de Amor.
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POESIA
MIKAEL MANSUR MARTINELLI MIKAEL MANSUR MARTINELLI Capixaba, biólogo, professor e táxidermista. Publica as suas pesquisas em revistas científicas do Brasil e do exterior. Organizou a antologia «Letras e Vida» com outros detentos no período em que passou preso. «O Pé de Jambo e a Fábrica de Refrigerante» é o seu primeiro livro e já escreve os próximos, «Entre Cacos e Ciscos» e «Famigerada Culpa», também de poesias. Perfil no Facebook: https://www.facebook.com/mikael.ma nsurmartinelli Contato: mansurmartinelli@gmail.com
QUANDO TUDO DEIXAR Quando tudo eu deixar, Invadirei o salão das lembranças, Dos sonhos esquecidos, Dos amores não vividos. Admirarei os troféus da saudade, Polirei mais uma vez Aqueles que me doem mais E os que mais me orgulham, Sem me esquecer Daqueles que me castigam por demais. Mas antes que um novo dia comece, Já não serei mais eu. Já não serei mais aquele eu. Te mostrarei, agora, Quem eu realmente me tornei.
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POESIA
ISABEL MARTINS ISABEL MARTINS Leitora atenta que acompanha diversos e variados eventos literários. Escreve pontualmente poemas e divulga-os na sua página do Facebook. Participou em cinco antologias organizadas pela Sui Generis: «Graças a Deus!», «Torrente de Paixões», «Fúria de Viver», «A Primavera dos Sorrisos» e «Sinfonia de Amor». Reside em Palmela. Perfil no Facebook: facebook.com/isabel.martins.395669
ABRAÇO Hoje, apetecia-me que me envolvesses em teus braços, Que me desses mil carinhos, muitos beijos, mil abraços, Que me levasses contigo, àquele jardim secreto, o teu... Onde não entra ninguém, ou deixas colher uma só flor... Que me dissesses baixinho que só eu sou o teu amor... Que me desses a tua mão para passearmos sozinhos, Naquele lugar dos sonhos onde não existem espinhos, Porque todo ele é sagrado e só tu podes... sabes pisar... Ficarmos juntos, num abraço, tão-somente p’ra te amar!...
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POESIA
JANICE REIS MORAIS JANICE REIS MORAIS Mineira de Conselheiro Lafaiete, sócio fundadora da AMAR (Ponto de Cultura AMAR). Desde 2015, participa na «Antologia Lafaiete em Prosa e Verso», anuário que em 2019 completa 25 anos. Depois de contar na revista «OLHAÍ» (de Dezembro 2018) que o seu foco em 2019 seria fazer arte, cruzou fronteiras cantando a sua aldeia em antologias pelo Brasil e em Portugal. Homenageou as violas de Queluz (Património Imaterial de sua cidade) na revista «Contos e Letras – Especial Bienal 2018», e com um novo poema nesta edição da revista «SG MAG». Perfil no Facebook: www.facebook.com/janice.reismorais
VIOLAS DE QUELUZ Minas Gerais das violas esse som que seduz Conselheiro Lafaiete se orgulha das violas de Queluz Famílias Meirelles e Salgado fabricavam o instrumento e unidos aos violeiros não deixam cair no esquecimento A viola foi consagrada um patrimônio cultural 29 de março data festiva tem oficinas, shows, etc e tal Espalha pela cidade esse som que seduz violeiros e cantadores das violas de Queluz!
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Maria Lascasas ĂŠ co-autora de Tempo de Magia e Sinfonia de Amor.
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POESIA
ROSA MARQUES ROSA MARQUES Nasceu na Madeira, onde viveu até aos dezoito anos. Após casar, mudou-se para Porto Santo, onde reside e trabalha como administrativa até à data. Preocupa-a a situação precária em que o mundo se encontra, a condição humana (principalmente as crianças) e todos os que vivem em condições desumanas, nos países subdesenvolvidos e nos países em guerra. Gosta de ler e de tudo o que está ligado à literatura e à arte. Participou em diversas obras colectivas, em Portugal e no Brasil, e publicou dois livros de poesia com o selo Sui Generis: «Mar em Mim» (reeditado em 2018) e «Prisioneiros do Progresso». Página da Autora: Facebook: Rosa Marques
SÃO JOÃO NA ILHA Porto Santo e o São João Sair à rua para ver... ou Participar no cortejo é já Uma longa tradição! Neste assinalado dia, 24 de Junho São João, és rei e senhor... Desta bela ilha, que hoje para ti Se vestiu a rigor! As marchas ensaiadas Bem ao jeito popular... Canções feitas por poetas da ilha Que tão bem a sabem cantar! As crianças bem organizadas Desfilam com graça e simplicidade São flores formosas que dão cor E embelezam a nossa cidade!
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SG MAG #08
Também entram no cortejo os jovens Casais de namorados. Trazem no olhar Um brilho novo... nos gestos A cumplicidade dos apaixonados! Ninguém fica indiferente ao ver As marchas populares a desfilar Todos se divertem... todos ousam As belas músicas cantarolar... Todos querem ver... o que aqui se recria Neste dia. Os usos e costumes... Os trajes antigos... e tudo o que hoje Representa a vida na pequena ilha! De longe vêm os visitantes à procura De alegria e diversão, ou apenas para ver As marchas, a linda homenagem... que o povo Da Ilha Dourada faz ao São João!
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POESIA
MARY ROSAS SOLIDÃO
MARY ROSAS Mary Cruz Penélope Plácido Rosas é natural da Venezuela, tem 53 anos e vive em Portugal desde 1967, em Paços de Brandão. Sempre gostou muito de poesia, mas só a partir de 2014 decidiu escrever com regularidade. Frequenta sessões de poesia. Participou em três antologias da Colecção Sui Generis: «Tempo de Magia», «Sinfonia de Amor» e «Luz de Natal». Perfil no Facebook: www.facebook.com/mary.rosas.984
Sentimo-nos sós Neste mundo esquisito Caminhando ao contrário da multidão Não se pode falar Não se pode sorrir Não se pode amar Não se pode brincar Sentimo-nos estranhos Num mundo em constante mudança Se falarmos Será que realmente nos ouvem? ou nos escutam? Ou seremos mais um elemento na multidão? Vamos através do telemóvel comunicar Talvez seja mais fácil não ter de olhar Não tocar Não sorrir Basta teclar sem parar. E num momento de “aparente” comunicação Reparamos que estamos na mais completa solidão Num quarto, num cantinho, ou em qualquer lado... Não interessa Comunicamos, cada vez mais... sozinhos. 288
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POESIA
TITO LÍVIO TITO LÍVIO Crítico de cinema e de teatro no Diário Popular, República, A Capital, vencedor de dois prémios no Diário de Lisboa Juvenil. Colaborador de vários jornais como Notícias da Amadora, Jornal de Letras, Jornal do Fundão, Diário do Algarve, O Setubalense e revistas Seara Nova e Manifesto. Membro do Conselho Editorial da revista Korpus, editada por Isidro Sousa entre 1996/2008. Durante dez anos (1995/2005), docente de Dramaturgia, História do Teatro, História do Cinema e História da Televisão. Júri de diversos Prémios da Casa da Imprensa, da Crítica e dos Globos de Ouro (SIC). Autor dos livros: «A Escrita e o Sono», «Senhor, Partem Tão Tristes», «Memórias de Uma Executiva», «As Tuas Mãos Sobre o Meu Corpo», «Ruy de Carvalho – Um Actor no Palco da Vida» e «Teatro Moderno de Lisboa (1961-1965) – Um Marco na História do Teatro Português» com a colaboração da actriz Carmen Dolores. Autor de «Sobreviventes: Dez Mulheres à Procura da Voz», peça concorrente ao prémio de originais de teatro da Sociedade Portuguesa de Autores. Abraçando as antologias Sui Generis, participou em «O Beijo do Vampiro», «Vendaval de Emoções», «Torrente de Paixões», «Ninguém Leva a Mal»,«Saloios & Caipiras», «Os Vigaristas» e «Sinfonia de Amor». Perfil no Facebook: facebook.com/titolivio.sousaaguiar
E ESTA SAUDADE LOUCA DE TI... Desta feita um poema meu de que gosto bastante, erótico, confessional e intimista, como é o tom geral da minha poesia e ainda inédito: “Há dias em que viver é uma rosa desfolhada no meu peito, aqueles em que te chamo e não estás e eu esperando por ti numa manhã em que virás acordar-me como um sol muito forte que de súbito aqueça o meu corpo. Há noites brancas em que as mãos são dois ramos secos de um outono precoce que nenhum vento agita aqueles em que me olho ao espelho e me afago para saber das carícias na minha pele. E esta saudade louca de ti que nunca cruzaste os meus caminhos, habitaste a minha casa ou me deste a beber da tua água. Em todas cidades pergunto o teu nome na esperança de encontrar um sinal uma mensagem um perfume. Abro a boca e não saem palavras creio que perdi mesmo o hábito de falar. As palavras são simples sinais convencionais com que diariamente mentimos e os gestos uma linguagem estranha por detrás da qual nos ocultamos. Há manhãs em que tudo me dói o corpo uma profunda ferida aberta e nem a luz penetra no meu quarto a cama vazia desoladora terra de ninguém.” Tenho o privilégio de saber transformar os momentos de tristeza e solidão em poesia que vem do coração. Rima e é verdade.
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Rosa Marques é co-autora de A Bíblia dos Pecadores, O Beijo do Vampiro, Vendaval de Emoções, Graças a Deus!, Ninguém Leva a Mal, Torrente de Paixões, Saloios & Caipiras, Sexta-Feira 13, Fúria de Viver, A Primavera dos Sorrisos, Tempo de Magia, Devassos no Paraíso, Os Vigaristas, Luz de Natal e Sinfonia de Amor.
SG MAG #08
CONTO
A NOITE DO LOBISOMEM THIAGO GUIMARÃES Poeta e escritor, cursou Letras pela Universidade Metodista. Em 2018 publicou o seu primeiro livro de poesias, «Poeta Alternativo», pela Versejar Editora. Perfil no Facebook: facebook.com/thiago.guimaraescorrea
“A cena que Borges viu foi um “baita” de um massacre, cinco pessoas mortas de uma maneira horrível, os corpos estavam estraçalhados, as vísceras espalhadas pelo chão, havia uma mulher, um homem, duas crianças e um senhor que parecia ser idoso, mas sua cabeça estava fora do corpo, provavelmente no quintal.”
POR THIAGO GUIMARÃES
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nar, não é inspetor? – Borges falou isso olhando para o retrato do seu mentor na polícia, o inspetor Carlos. Encerrado o seu turno foi para casa, precisava descansar um pouco, mal sabia ele que a noite seria longa.
Ouro-Azul 00h30min Borges ouviu o telefone tocar, já era tarde, o chamado foi da delegacia de Ouro-Azul, cidade vizinha de Bonança. – O quê?! Estou indo agora pra aí! Pegou o carro e saiu, era mais ou menos meia-noite e cinqüenta quando o delegado chegou no local, era uma casa na divisa das duas cidades, a perícia já estava lá e o delegado Neves também. – O que houve por aqui Neves? O delegado de Ouro-Azul era um tipo estranho, tinha cara de ressaca e diziam as boas e más línguas que ele secava um litro de cachaça num instante. Neves passou a mão nos lábios e disse: – Veja com seus próprios olhos, vamos, entre comigo! Como dizia no interior, a cena que Borges viu foi um “baita” de um massacre, cinco pessoas mortas de uma maneira horrível, os corpos estavam estraçalhados, as vísceras espalhadas pelo chão, havia uma mulher, um homem, duas crianças e um senhor que parecia ser idoso, mas sua cabeça estava fora do corpo, provavelmente no quintal. – Quem faria uma coisa dessas? – Nem posso imaginar quem, mas vou descobrir, se vou!
B
onança 19h30min
O delegado Borges recebeu um chamado urgente de uma pessoa, era voz de mulher, estava desesperada e parecia chorar: – Preciso de ajuda, estou correndo perigo, eu e minha família! Mas a ligação foi cortada antes que ele pudesse anotar o endereço da chamada, não conseguira identificar a ligação pois a delegacia ainda estava precária após o incêndio que quase destruíra a cidade há alguns meses. Borges ficou com aquilo na cabeça, coçou o bigode e ajeitou os óculos escuros, procurou todos os registros de ocorrência nas últimas horas e nada encontrara. – Às vezes até o faro de detetive pode se enga294
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– Borges a perícia descobriu vestígios de pelo em um dos corpos mas ainda não sabemos se é de algum animal! Noite de lua cheia, uma chacina, sua mãe sempre lhe dizia que os lobisomens aparecem nessas noites de quinta pra sexta-feira santa. – Essa é uma daquelas noites; Neves preciso tomar um café bem forte, acho que vamos virar a noite nesse caso! A casa foi revirada por dentro, os policiais não encontraram mais nenhuma evidência, fora a bagunça, pois quem quer que cometeu os assassinatos teve um pouco de trabalho para pegar as vítimas, um dos policiais correu para avisar o delegado: – Chefe encontrei algo suspeito, o telefone está fora do gancho, olhe! Borges imediatamente se lembrou da ligação que recebeu na delegacia. – Chefe pode ser a chamada que o senhor recebeu na delegacia, mas é estranho pois essas pessoas foram mortas depois da meia-noite! Borges procurou pela casa, descobriu fotos da família, eles se chamavam Barrington, um sobrenome inglês, aliás muito comum nas famílias de Bonança, viu também o quadro na sala, a pintura
era o retrato de uma senhora nobre com olhar de melancolia. – Gostou do retrato da baronesa Bórgia? O delegado olhou pra trás e viu o rosto da investigadora novata, Vânia Motta. – Baronesa?! Vânia era jovem, devia ter uns 25 anos mais ou menos, mas sabia de muita coisa para sua recente idade: – Sim, o retrato dessa nobre mulher é uma relíquia se for original, ainda mais sendo ela patrona da nossa cidade desde a época em que Bonança nem era Vila de Santa Clara, essas terras pertenciam a ela e ao barão seu marido. – Claro que já ouvi falar dela, agora concentração no trabalho! – Sei! Borges correu para seu carro e ligou seu laptop, acessando a internet pesquisou tudo sobre a baronesa Bórgia. – Mas que interessante, a baronesa era louca e diz a lenda que se transformava em lobisomem nas noites de lua cheia, ou lobismulher, aposto que a “sabe-tudo” não conhecia esse fato, mas que relação pode haver entre os Barrington e a baronesa?
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01h40min O corpo de Vânia Motta estava embaixo de uma árvore no meio do quintal, estava um pouco desfigurada, mas nenhum membro faltava no corpo dela como nos outros na sala. – O assassino ainda está solto e por perto, pode estar nos espreitando agora mesmo! – Ou pode até mesmo ser um de nós! – Ao pronunciar essas palavras Borges fez com que todos ali ficassem desconfiados uns dos outros. Perto dali uma pessoa espreitava, foi Borges que viu o vulto, pegou sua colt 45 e saiu. – Acho que vi algo, me dê cobertura Neves! – Mas o delegado não estava mais lá. – Já que estou sozinho nessa, vamos lá! Pulou a cerca da casa e saiu correndo na rua, na esquina viu de novo a pessoa e atirou. – Merda!
Voltou para a cena do crime, precisava de alguma pista, algo lhe faltava para descobrir o fio da meada, deduções não adiantavam neste momento, ele precisava de algo concreto, procurou pela casa toda e de repente sua intuição lhe disse que se alguém queria esconder algo poderia procurar no sótão. – Elementar meu caro Borges, é pra lá que eu vou! No sótão o delegado encontrou várias recordações de família, entre elas fotos de um rapaz que não estava entre os mortos na sala, parecia ter uns 27 anos mais ou menos: «Com amor Felipe Bórgia». – Espera aí! O delegado continuou procurando nas caixas velhas e empoeiradas até encontrar um baú em que estava escrito «Felipe Bórgia, recordações de família». – Felipe Bórgia Barrington, descendente da tal baronesa, isso é muito óbvio, mas ainda não explica tudo, a não ser que eu passe a crer em seres como os lobisomens! Neste momento ouviu-se um barulho no quintal da casa.
Andando entre os túmulos o policial procurava minuciosamente algum vestígio do suspeito parado diante do túmulo de seu mentor, o inspetor Carlos, ele derramou uma lágrima, foi quando sentiu uma pontada forte na cabeça e não viu mais nada.
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Borges correu atrás dele, sua intuição dizia que se o encontrasse estaria diante do assassino, parou em frente ao cemitério da cidade, talvez o único local não prejudicado pelo incêndio. – Entrar naquele lugar perto do que eu já passei deve ser moleza! Andando entre os túmulos o policial procurava minuciosamente algum vestígio do suspeito parado diante do túmulo de seu mentor, o inspetor Carlos, ele derramou uma lágrima, foi quando sentiu uma pontada forte na cabeça e não viu mais nada.
Começou a cavar com as próprias mãos, batia na superfície de madeira, suas mãos sangravam mas ele insistia até que conseguiu quebrar a madeira. – Preciso sair daqui!
02h45min Cavando até quase a exaustão, e ao mesmo tempo tentando segurar o pouco ar que lhe restava, Borges conseguiu colocar a mão pra fora e quando saiu do cemitério ouviu um uivo agudo e correu pra onde veio o barulho. – Será que balas comuns matam essas criaturas? Novamente avistou o vulto e desta vez seguiuo com cautela, a lua ainda ia alta no céu quando Borges conseguiu encurralar a pessoa que estava seguindo:
02h20min Borges acordou e não sabia onde estava, viu que se encontrava num lugar escuro e abafado, estava ficando sem ar. – Meu Deus, se eu estava no cemitério...
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– Parado ou eu atiro! A pessoa ergueu as mãos e se virou devagar para o delegado, era um rapaz jovem ainda, aos poucos Borges reconheceu o jovem da foto: – Felipe Bórgia Barrington, está preso! – Enquanto o senhor está me prendendo o verdadeiro assassino continua à solta e não vai descansar enquanto não matar todos nesse lugar! Borges abaixou o revólver e pegou o rapaz firme pelo braço: – Vamos companheiro! Quando o delegado chegou à cena do crime com Felipe, estavam todos trabalhando. – Finalmente Borges, ei, quem é o rapaz? – Felipe Bórgia Barrington, o outro filho do casal assassinado, o único sobrevivente da tragédia! Neves olhou para ele e os outros também. – Então o caso tá resolvido! – Não é assim como vocês pensam, Felipe não é o assassino! – Então pode se explicar rapazinho? – Pois bem, como vocês sabem nossa família é descendente dos Bórgia e da baronesa louca que ajudou a fundar essa cidade, ela era insana e diziam as lendas que ela se transformava em lobo nas noites de lua cheia! – Certo, continue rapaz, o que isso tem a ver com as mortes? – Além das cinco pessoas e de mim, existem duas irmãs minhas, uma delas herdou a maldição
da nossa ancestral e tornou-se lobisomem! Neves balançou a cabeça e tirou o palito dos dentes. – Deixe de contar lorotas rapaz e diga-me logo que você matou seus pais e sua família porque é um viciado em drogas! Borges olhou para Neves e para o rapaz: – Cala a boca delegado, deixe que o rapaz termine a sua versão dos fatos, a baronesa realmente existiu! Felipe respirou fundo e continuou: – Pois bem, quando ela nasceu foi amaldiçoada, viveu anos presa no sótão só nas noites de lua cheia, mas nessa noite ela escapou, minha mãe tentou ligar pedindo ajuda, depois disso eles foram massacrados por ela! – E você quer que nós acreditemos nessa história absurda de lobisomem? Estavam dentro da casa, na sala, de repente as luzes se apagaram e quando se acenderam Felipe havia desaparecido: – Merda, Borges!
03h30min Neves disse isso e olhou para os lados, toda a equipe da perícia e dos seus homens: – Mortos! Apenas Borges e Neves estavam vivos, parados 298
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um do lado do outro, alguns mortos com tiro, outros corpos destroçados e com as vísceras de fora: – Mas que merda cara, você deu confiança demais pras mentiras daquele moleque drogado! Ouviram ao longe um uivo tenebroso, os dois policiais pegaram as armas e ficaram de costas um pro outro. – Acho que é hora de usar todo nosso conhecimento de policiais! – Vamos nos dividir, você vai pra lá Borges, eu pra cozinha! Borges foi pra área de serviço, viu novamente a luz acabar. – Alguém desligou a chave geral, vou chamar o Neves! – Mas quando estava saindo dali novamente aquele uivo agudo ressoou. – Seria? Correu para o lado de fora e viu a fera gigantesca sob a luz da lua. – Tenho uma coisa pra você! Borges deu três tiros na criatura, tinha uma boa mira, um tiro pegou certeiro no bicho que caiu.
– O que você fez maldito? Borges olhou pra trás e viu a pessoa que menos esperava nessa hora: – Vânia?! Vânia estava apontando uma arma para ele, estava despenteada e com um pouco de sangue no rosto. – Você chegou perto da verdade, aliás, você descobriu quase tudo, atirou no meu namorado, seu infeliz! – Bem que eu desconfiei, Felipe Bórgia era seu namorado e assassinou a família porque é um lobisomem, ele pediu sua ajuda por telefone e você chegou primeiro na cena do crime, mas não conseguiu apagar as evidências porque Neves estava por aqui com sua equipe, depois você forjou sua própria morte e quando estávamos interrogando Felipe você desligou as luzes para que ele pudesse fugir e antes matar todos por aqui, ufa! Acertei? Vânia estava boquiaberta com a conclusão do delegado e com ódio também: – Pois bem, você descobriu tudo delegado, mas não vai viver pra contar a ninguém!
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04h59 min Borges estava amarrado no sótão com o delegado Neves ao seu lado. – Até quando vai continuar com isso? – Eu vou fugir está bem? Limparei os vestígios de que o lobisomem esteve por essas bandas e deixarei vocês dois mortos! Enquanto o delegado ganhava tempo, Neves cortava a corda que o prendia com ajuda de um canivete. – Vamos logo com isso! Neste momento Vânia apontava o revólver para o policial, mas Neves soltou-se e pulou em cima dela, os dois se engalfinharam e a arma disparou, Vânia levantou-se com o revólver na mão, olhou para Borges e caiu no chão morta. – Não esqueci as lições da academia de polícia! Borges riu: – Agora me solta daqui seu merda!
procurou Borges mas não o encontrou, o dia estava pra nascer e o delegado sumira.
06h00min O sol começava a nascer nas montanhas ao longe da pequena Bonança, Borges estava perto do corpo sem vida do pobre Felipe Bórgia, o delegado estava com um caderno nas mãos. – Esse era o diário de Felipe, aqui ele escreveu sobre a sua doença ou maldição, sabe-se lá, também sobre a cura que um dos seus ancestrais, um médico, havia criado em 1888. – Falando sozinho Borges? Ele olhou para trás e viu o seu companheiro Neves que se aproximava. – Eu já sabia que era você, deve ter ouvido o que falei! – Claramente delegado, nunca acreditei nessas coisas, mas creio em você, por isso achei melhor omitir tudo isso, vamos levar o corpo e dizer... sei lá, qualquer coisa, menos a verdade, é absurdo demais até para nós! – Felipe Bórgia tinha uma aparência tranquila agora... Como dizia a lenda, parecia que agora o lobisomem criatura atormentada havia finalmente encontrado a paz.
05h30min Neves contatou reforços da capital e os corpos dos policiais da perícia foram recolhidos pelo rabecão, entre eles o corpo de Vânia Motta. Neves
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Jeferson Sabran Ê co-autor de Sinfonia de Amor. (Nesta foto com Cinthia Gonçalez, co-autora da mesma obra.)
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MARIA ANGELA ALVARES CACIOLI Nasceu em 1954, na cidade de São Paulo (SP), Brasil. Formada em Letras e especializada em Literatura, pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Fundação Santo André. Leccionou Língua Portuguesa. Participou em grupos e oficinas literárias. Tem trabalhos em prosa e poesia editados em colectâneas e monografia, em revista académica. Perfil no Facebook: https://www.facebook.com/mariaange lacacioli
LER E ESCREVER: ESTRATÉGIAS DE PRODUÇÃO TEXTUAL
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o livro Ler e Escrever: estratégias de produção textual, as autoras ─ também de outras obras relacionadas a temas similares ─ mestres e doutoras em Língua Portuguesa pela PUC-SP, querem “apresentar de forma simples e didática as principais estratégias à disposição dos produtores de texto no momento da escrita” (p.9), ou seja, tratam da função didática sobre a produção de textos escritos. Elas conseguem demonstrar com propriedade e simplicidade os conceitos abordados. Ancoradas em estudiosos como Marcuschi, Bakhtin, Fávero, Schneuwly, Preti, entre outros, trazem teorias a serem aplicadas principalmente pelo professor em sala de aula, embora seus estudos destinem-se a qualquer pessoa com interesse em produção escrita. O livro, muito bem escrito e fartamente ilustrado, é dividido em oito capítulos. Primeiramente, ele ressalta as características
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do texto falado, do escrito e dos intermediários; fala da difícil adaptação da criança, ao ingressar na escola, ao texto escrito e da função do professor, que é orientá-la a fim de obter seu próprio modelo de texto escrito. Dentro do modo contemporâneo de se encarar a escrita, a obra salienta que a definição
de escrita é múltipla, mas, no final, sempre engloba linguagem, texto, quem escreve, para quem se escreve, dentro de um contexto, com finalidade de interação; é uma atividade que necessita de ativação e utilização de conhecimentos linguísticos, culturais, textuais, sociais, interacionais, etc., e se realiza com planejamento, execução, avaliação e revisão. O “como dizer” envolve escolha de um gênero textual para a comunicação ser eficaz, para que o leitor reconheça, através de pistas, o objetivo pretendido na interação. Portanto, o escritor faz, reformula, suprime, acrescenta sempre visando a um texto apropriado à compreensão do leitor, orientando-o para a construção de um sentido. A linguagem é uma atividade intencional e social; depende do repertório de cada um, da memória de sujeito social, para que a interação se efetive. Assim, é importante que o professor sugira temas aos alunos sobre assuntos conhecidos, uma vez que ninguém pode escrever sobre o que desconhece. Os conhecimentos devem ser, ao menos em parte, compartilhados. O livro também salienta que o título do texto prepara o leitor para o que vai encontrar nele; ativa em sua memória os conhecimentos arquivados tendo em vista a compreensão; permite prever, fazer hipóteses que, na leitura, serão confirmadas ou não. Ler e Escrever: estratégias de produção textual utiliza inúmeros exemplos de fácil entendimento, inclusive buscados nas histórias em quadrinhos, ricas de representações da escrita numa linguagem atual, que podem ser adaptadas pelo professor, em seus planos de aula, como meio de se explorar criatividade e possibilidades, aproveitando sua visão lúdica. O aluno aprenderá se divertindo. 305
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Este trabalho exibe consistência e clareza na abordagem sobre os tipos textuais, os gêneros textuais, a intertextualidade e seus modos de constituição. Trata da intertextualidade intergenérica e também das sequências textuais. Demonstra como usar referentes; como se faz a progressão referencial de um modo equilibrado; o que são cadeias referenciais na construção, organização e constituição de sentido dentro do texto; como se dá a orientação argumentativa; o que são progressão sequencial e progressão tópica e quais recursos utilizar para estruturá-las. Ainda fala da concepção de coerência, que é aquilo que dá interpretabilidade ao texto e depende do autor, do leitor e do texto, os três interagindo. Reforça-se aqui a ideia de que “texto escrito, uma vez finalizado, ganha ‘independência’ do seu autor/escritor” (p.77). Por fim, temos a apresentação dos recursos da
economia e elegância na construção textual. Economia é se dizer o essencial a fim de que o texto fique instigante e compreensível. Escrever elegantemente implica usar léxico adequado ao gênero escolhido que deve ser pertinente ao contexto. Recomenda-se uma leitura atenta do livro para apreensão dos conhecimentos, nele contidos, sobre produção de textos. Vale tê-lo sempre à mão, pois é uma obra que agrega ótimo conteúdo a um prático detalhamento. O professor pode usá-lo como ferramenta de trabalho em classe e, ao compartilhar o apreendido, satisfaz o intento didático das autoras. KOCH, Ingedore Villaça e ELIAS, Vanda Maria. Ler e escrever: estratégias de produção textual. São Paulo: Contexto, 2009. 220 p.
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LIVROS
ESCREVO COMO RESPIRO O tema deste novo livro de Maria de Fátima Soares é a poesia. Escrever começou por ser um querer muito grande, que se foi transformando numa dilecta e doce companhia. Um meio de entender e, quiçá, de procurar explicar o mais recôndito da sua alma e, assim, poder compreender igualmente a dos outros. Alcançá-los e ensaiar tocá-los, através do que a sua forma de escrever (em prosa ou poesia) lhes possa transmitir. «Este livro é a recolha de sentimentos e de vivências (minhas e também de outros) que deixei fluir no papel», remata a autora.
ESCREVO COMO RESPIRO Autora: Maria de Fátima Soares Colecção: A Voz da Lira Editora: Modocromia Nº de Páginas: 89 páginas 1ª Edição: Junho 2019 ISBN: 978-989-5442-17-1 Depósito Legal: 457170/19 Encomendas: https://www.facebook.com/Soares MariadeFatima Telefone: 263047905 Autora: 961674659
Maria de Fátima Soares nasceu em Lisboa, em 1956. Publicou vários livros de poesia, ficção, romance e infanto-juvenil: «Uma Porta no Vão da Escada» (Minerva, 2004), «Ascensão e Queda» (Papiro, 2009), «Conflito e Retaliação» (Papiro, 2009), «Pena ou Destino» (Bubok, 2010), «Acordar ao Entardecer» (Bubok, 2010), «Fio de Sangue» (Bubok, 2010), «Poemas na Bruma» (Corpos, 2010), «IN Constante» (Corpos, 2011), «Canela e Chocolate» (Bubok, 2011), «Alfred» (Bubok, 2012), «Jogos de Água Serena» (Lua de Marfim, 2013), «Um Vampiro Azarado» (Mágico de Oz, 2015), «Do Inferno Também se Volta» (Chiado Editora, 2015) e «Escrevo Como Respiro» (Modocromia, 2019). Participou em congressos, tertúlias, concursos e obras colectivas de várias editoras. Colaborou com a Literarte, a Divulga Escritor e alguns jornais. É membro da Academia de Letras e Artes de Fortaleza, da Academia de Cabo Frio, do Círculo de Escritores de Espanha e presidiu o Núcleo Académico de Artes de Lisboa. Recebeu vários prémios de poesia ao longo do seu trajecto literário. Da Sui Generis, participou em «A Bíblia dos Pecadores», «Tempo de Magia» e «Luz de Natal». 308
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LIVROS
A FÁBULA DO PRÍNCIPE NARSEU
A FÁBULA DO PRÍNCIPE NARSEU
Autor: Paulo Otávio Barreiros Gravina
Editora: Candinho (selo infantojuvenil da Editora Cândido) Nº de Páginas: 72 páginas Género: Narrativa de Fantasia 1ª Edição: Abril 2019 ISBN: 978-85-45548-18-8 Encomendas: po_gravina@yahoo.com https://editoracandido.loja2.com.br Contactos: Facebook: @paulo.gravina5 Instagram: @pobgravina Twitter: @GravinaPaulo Site: minhastraducoespoeticas.wordpres s.com
Uma dimensão povoada de criaturas fantásticas, belas e corajosas princesas, gigantes de um olho só, rainhas feiticeiras e sacerdotisas versadas nas artes divinatórias. Assim é o mundo mágico criado por Paulo Otávio Barreiros Gravina na sua mais recente obra: «A Fábula do Príncipe Narseu». O autor bebe na fonte das mitologias anglo-saxónica, grega e nórdica para contar a história do herdeiro bastardo do reino de Petauro. Ao longo das 72 páginas do livro, acompanhamos a trajectória do herói Narseu, que parte em uma jornada à procura de si próprio e rumo a seu destino. Uma obra de mistérios, enigmas, força e coragem que convida o leitor a se lançar em um universo lendário. «O livro é um convite àqueles para quem os desgostos do mundo não derrotaram a capacidade de fabular», diz Paulo Gravina. A história tem um apelo natural para jovens na faixa entre 13 e 17 anos, mas vai conquistar leitores de todas as idades em busca de aventura e fantasia. Paulo Gravina graduou-se em Economia e concluiu o mestrado em Literatura Brasileira na PUC-Rio. Trabalha com redacção, revisão, tradução e edição de livros e de textos. Participou em projectos de incentivo à leitura, mantém um blogue de tradução de poesias e letras de música e actua como professor e director-geral dos arquivos do Centro Dom Vital. Em 2017, lançou o seu primeiro livro: «Que Brazil é Esse? – O que eles disseram sobre o Brasil» (editora Livros Ilimitados). Em 2018, lançou dois livros que traduziu e editou: «Eureca» de Edgar Allan Poe e «Prefácio a Shakespeare» de Samuel Johnson, ambos em edição ilustrada. Publicou textos em jornais literários, sites de literatura e publicações académicas e participou nas antologias «Das Trevas» (2017), «Mundos» Vols. 6 e 7 (2018), «Luz de Natal» (2018) e «A Máquina Consciencial: Contos de Ficção Científica» (2019). 309
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LIVROS
DEVASSOS NO PARAÍSO
DEVASSOS NO PARAÍSO Contos Sensuais e Eróticos Autores: 30 Autores Organização: Isidro Sousa Colecção Sui Generis Editora Euedito Nº de Páginas: 274 páginas 1ª Edição: Dezembro 2017 ISBN: 978-989-8896-03-2 Depósito Legal: 434951/17 Encomendas: letras.suigeneris@gmail.com https://www.euedito.com/suigeneris http://letras-suigeneris.blogspot.com
Disponível na Amazon, na Libros.cc e na livraria online da Euedito.
Sensualidade e erotismo são dois temas que se acham presentes nas artes desde tempos remotos, tendo para a maioria das pessoas significados similares já que se esbarram constantemente como sinónimos por serem ambos associados à volúpia (prazer sexual, luxúria, deleite) ou à lubricidade (lascívia, sensualidade, libidinagem). Mas existem diferenças. Considera-se algo sensual quando desperta o interesse de alguém de maneira especial e intensa, e abundam os elementos que tornam algo sensual: alguns movimentos, certas formas, uma atmosfera envolvente, uma música de fundo, um perfume, etc. Além disso, conota-se frequentemente o sensual ao erotismo e à sexualidade pois vários estímulos provocam desejo, atracção. Porém, o sensual opõe-se ao usual e ao vulgar; o prazer que se sente é subtil, difícil de descrever e muito subjectivo. O erotismo, por sua vez, é uma manifestação da sexualidade cujas características variam segundo a sociedade que se tome como modelo. Apesar de definido num primeiro instante como “paixão de amor”, é necessário salientar o seu carácter revalorizador das formas próprias da sexualidade, tanto na vida pessoal e social como nas manifestações culturais. Sendo mais objectivos: o erotismo é o estímulo sexual sem apresentar o sexo de forma explícita; embora possa significar também uma representação explícita da sexualidade, podendo ser relacionado com o amor lascivo, designa, de um modo geral, não só um estado de excitação sexual mas também a exaltação do sexo no âmbito das artes. E é através desse apelo artístico que o conteúdo erótico se diferencia, nalguma medida, da pornografia. Porque o erótico e o sensual são temas que fascinam, na escrita literária, imensos autores, organizou-se uma obra colectiva com a presença dominante destes dois ingredientes, ou com a junção de ambos, mesclando-os nas narrativas, independentemente da abordagem que cada autor lhes confere: ora explícita, ora subtil ou mesmo latente, consoante a sensibilidade de quem escreve. Resultou numa antologia de Contos Sensuais e Eróticos que reúne textos de 30 autores lusófonos, cujo título, «Devassos no Paraíso», reflecte magistralmente os conteúdos da obra. 310
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CONFISSÕES DE AFRODITE Em «Confissões de Afrodite», Rita Queiroz apresenta o amor em toda a sua plenitude, explorando-o a partir dos sentidos humanos. A autora destaca-se pela leveza do seu fazer poético, fazendo-nos sentir as emoções do sujeito lírico e mergulhar no cálice prenhe do amor, provocando sensações tácteis, gustativas, olfactivas, auditivas e visuais em leitores ávidos por uma volúpia literária. A verve poética de Rita Queiroz retrata o amor como “um perfume de absinto em noites de girassóis”, que ora “embriaga os sentidos” e explode como vulcão, ora se manifesta em calmaria. «Confissões de Afrodite» exibe a geografia do amor, evidenciando o “reinado de Eros e Vénus”, ainda que “Tánatos ronde à espreita”. Rita Queiroz, escritora de mãos hábeis, escreve nos lençóis das páginas com batom vermelho e em braile, deixando no ar o rasto suave da gardénia na cama leve da poesia. CONFISSÕES DE AFRODITE Autora: Rita Queiroz
Sobre a autora...
Nº de Páginas: 90 páginas
Rita Queiroz é natural de Salvador, Bahia, Brasil. Professora universitária, filóloga (pesquisadora do manuscrito) e poeta, publicou vários livros: «Confissões de Afrodite», «O Canto da Borboleta», «Canibalismos» (Penalux 2019, 2018, 2017), «Ciranda, Cirandinha: Vamos Brincar com Poesia?» e «Colheitas» (Darda 2019, 2018). É organizadora de colectâneas, colunista na Revista Cultural Evidenciarte e integrante de diversas antologias, no Brasil e no exterior, e dos colectivos Confraria Poética Feminina e Mulherio das Letras. Participou na antologia «Luz de Natal» da Colecção Sui Generis.
Editora: Penalux
1ª Edição: Março 2019 ISBN: 978-85-5833-484-6 Encomendas: www.editorapenalux.com.br www.estantevirtual.com.br www.submarino.com.br www.amazon.com.br www.americanas.com.br
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LIVROS
O MISTERIOSO DESAPARECIMENTO
DA PRINCESA Este novo livro de Estêvão de Sousa, publicado na Amazon no início deste ano, apresenta uma história passada na Idade Média, nos tempos conturbados da Guerra da Independência da Escócia, em que se fala das aventuras (e amores) de alguns dos maiores heróis medievos e de como elas ficaram ligadas à História daquele belo país, perdurando ao longo dos séculos. Segundo o autor, «O Misterioso Desaparecimento da Princesa» é o primeiro volume de uma trilogia intitulada «A Escócia na Idade Média», que fala das aventuras de William Wallace e de outros heróis medievais.
O MISTERIOSO DESAPARECIMENTO DA PRINCESA Autor: Estêvão de Sousa Editora: Independently Published (Amazon) Nº de Páginas: 105 páginas 1ª Edição: Fevereiro 2019 ISBN-10: 1796765783 ISBN-13: 978-1796765786 Encomendas: estevaodesousa@hotmail.com www.amazon.com Página do Autor: www.facebook.com/francisco.estev aodesousa
O autor, Estêvão de Sousa, nasceu em Lisboa, em 1937. Estudou em Tomar, no Colégio Nuno Álvares e Escola Comercial Jacome Ratton, onde fez o curso geral de comércio. Foi, aos 15 anos, para Angola, permanecendo nesse país até aos 36 anos. Aí, fez um curso de geotecnia e mecânica de solos, no Laboratório de Engenharia de Angola. Como funcionário da Junta Autónoma de Estradas de Angola, exerceu as funções de técnico de estradas, com a categoria de chefe de trabalhos. Já em Portugal, fez um curso intensivo de gestão e administração de empresas e exerceu as funções de gerente comercial e Director Administrativo. Hoje, aposentado, escreve. Editou as seguintes obras literárias: «Nesta Terra Abençoada» (2014), «Tráfico no Rio Geba» (2014), «Irina – A Guerrilheira» (2015), «Rapto em Londres» (2017), «Romance em São Tomé» (2017), «Pedaços de Mim» (2017), «Contos, Estórias & Companhia» (2018), «A Profanação do Túmulo» (2018), «Pânico no Subúrbio» (2018), «O Misterioso Desaparecimento da Princesa» (2019), entre outras. Tem participações em várias obras colectivas, em Portugal e no Brasil, e colabora, também, em algumas revistas digitais. Da Colecção Sui Generis participou em «A Bíblia dos Pecadores», «O Beijo do Vampiro», «Saloios & Caipiras», «Fúria de Viver», «A Primavera dos Sorrisos», «Crimes Sem Rosto», «Devassos no Paraíso», «Luz de Natal», «Os Vigaristas» e «Sinfonia de Amor». 313
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LIVROS
A PEDRA DE MÁRMORE O livro «A Pedra de Mármore» de Dorivaldo Ferreira de Oliveira conta a história de um crime quase perfeito. Uma moça vestida de noiva é encontrada morta dentro de um caixão em um carreador, no meio de um canavial, às margens do Rio Pardo, no município de Ourinhos, uma cidade pequena no interior do Estado de São Paulo (Brasil) divisa com o Paraná. Um jovem detective fica encarregado das investigações, mas, devido à sua falta de experiência, pede ajuda ao tio aposentado da Polícia Federal e, juntos, eles precisam descobrir quem é a moça e quem é o assassino. A história tem início no interior de São Paulo, mas os acontecimentos que dão vida à trama se passam também em outras cidades que envolvem a capital, o norte e o litoral do Paraná.
A PEDRA DE MÁRMORE Autor: Dorivaldo Ferreira de Oliveira
Editora: PoloBooks
Nº de Páginas: 88 páginas Género: Ficção, Suspense, Polícial 1ª Edição: São Paulo-SP, 2018 ISBN: 978-85-5522-264-1 Encomendas: dorivaldo.f.oliveira@gmail.com
O autor: Dorivaldo Ferreira de Oliveira é professor de Geografia nível II e professor de nível I (1º ao 5º ano) na Rede Municipal de Educação na cidade de Ourinhos, Brasil. Casado, pai de dois filhos, nascido na cidade de Jaboti no Estado do Paraná e morador de Chavantes, São Paulo. Licenciado em Pedagogia, Geografia e pós-graduado em PsicoPedagogia Institucional, Educação Infantil, Educação Especial e História e Geografia. É autor de «A Pedra de Mármore», livro publicado em 2018. Participou em várias antologias: «Palavreiras» (Editora Autografia), «Luz de Natal» (Sui Generis), «Bem-vindos ao Jardim» (Editora Edições e Publicações), «Tecendo Aldrávias» (Editora Darda), «Bemvindos ao Jardim 2» (Editora Edições e Publicações), «Meu Eu Minhas Poesias e Contos» (Editora Intercâmbio Cultural) e «Eu Jardineiro» (Editora Pedras de Fogo). 314
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LIVROS
OS VIGARISTAS Os vigaristas são pessoas espertas, charmosas e persuasivas, têm boa aparência, transmitem confiança e têm a capacidade de assumir a aparência necessária para lidar com a situação do momento, podendo ser tanto do sexo masculino como feminino; enganam outras pessoas, tendo-se especializado em explorar os mais incautos por meios ardilosos, fraudulentos ou de má-fé, e passam a ser considerados criminosos quando os seus actos têm consequências graves, como obter lucros ilícitos, ganhando dinheiro através de fraude, enganando, mentindo e encenando situações que levam os mais ingénuos ou gananciosos a acreditar que estão a fazer um bom negócio mas, na verdade, estão a ser ludibriados.
OS VIGARISTAS Crónicas, Poemas e Contos do Vigário Autores: 26 Autores Organização: Isidro Sousa Colecção Sui Generis Editora Euedito Nº de Páginas: 240 páginas 1ª Edição: Novembro 2018 ISBN: 978-989-8896-08-7 Depósito Legal: 435955/17 Encomendas: letras.suigeneris@gmail.com
https://www.euedito.com/suigeneris http://letras-suigeneris.blogspot.com
Disponível na Amazon, na Libros.cc e na livraria online da Euedito.
Normalmente, os vigaristas são descritos pelo tipo de vigarices que praticam, que podem ir desde variações de golpes centenários à criação de golpes originais e à utilização das novas tecnologias e mesmo à forma de tornear as leis, sendo que o termo “vigarista” deriva de “conto do vigário”, expressão usada para descrever de forma genérica qualquer tipo de história que pareça verdadeira mas que, de facto, não o é e tem como único objectivo induzir quem a ouve a desembolsar dinheiro. É sobre o universo dos vigaristas e das suas vigarices que se debruçam os textos que integram esta obra colectiva, «Os Vigaristas», redigidos por 26 autores lusófonos, de Portugal, Brasil e Cabo Verde, em que se incluem narrativas de dois grandes vultos da Literatura Portuguesa: Camilo Castelo Branco e Fernando Pessoa. Uma especial atenção ao mestre Pessoa, que legou-nos uma deliciosa e sagaz história, escrita em 1926 com o sugestivo título «Um Grande Português» e republicada em 1929 já com o nome «A Origem do Conto do Vigário» – na qual ficciona a vida de Manuel Peres Vigário, um lavrador ribatejano que se terá aproveitado da ganância alheia para trapacear. Um conto preciosíssimo que não poderíamos deixar de incluir nas páginas desta tão sui generis antologia literária. 316
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LIVROS
A CLAUSURA DE KEMATIAN
A CLAUSURA DE KEMATIAN E OUTROS CONTOS INSÓLITOS
Autor: Nardélio F. Luz Editora Becalete
ISBN: 978-85-69358-65-7 Género: Ficção/Suspense/Terror Nº de Páginas: 112 páginas 1ª Edição: Novembro 2017 Encomendas: narfeluz@gmail.com Páginas do autor: escrivaninhafantasma.blogspot.com www.youtube.com/user/narfeluz www.facebook.com/nardelio.luz Instagran: @nardelio.luz Dados para comprar o livro: Conta Poupança / Caixa Econômica Federal Titular: Nardélio Fernandes da Luz Agência: 0162 – Conta: 00032275-3 Preço do Livro: R$ 35,00 (incluídas despesas postais para todo o Brasil)
A história da enigmática Kematian é o portal de entrada para o mundo de fantasias medonhas, onde o leitor mergulhará numa atmosfera de mistério e suspense, cujos personagens tão humanos quanto eu e você, com suas dores, medos e dramas pessoais, se vêem às voltas com arrepiantes seres sobrenaturais. São cinco viagens fantásticas por caminhos desconhecidos e labirintos interiores, onde a desolação e o medo por vezes são os únicos companheiros. Mas nem tudo é hostil... O triunfo, a paixão, a excitação, o amor e outros sentimentos benévolos também fazem parte dos cenários pretéritos e contemporâneos e das tramas bem engendradas que revelam finais surpreendentes. Nardélio F. Luz, o autor deste livro de (cinco) contos insólitos, é autodidacta. Mineiro de Araxá e radicado em Uberlândia desde a adolescência, exerceu a profissão de funileiro até 1998, quando fracturou a cervical num mergulho e sofreu uma lesão medular que o deixou tetraplégico. Leitor voraz desde a infância, rabiscou alguns textos na juventude sonhadora, mas só tomou gosto real pela escrita após a sua paralisia. Utilizando-se de adaptadores palmares para substituir os dedos inertes, começou a escrever “catando milho” no intuito de exercitar os poucos movimentos que lhe restaram nos braços e combater o ócio para evitar a depressão. Romântico incurável e fascinado por literatura fantástica, mistério e horror, escreve poemas, contos e outros textos. Inclusive sobre o dia-a-dia dos deficientes físicos, por acreditar que a informação é a melhor forma de combater preconceitos e discriminações. Além de contos publicados na Amazon, é autor de textos em várias antologias literárias e sites da internet. Em 2007 publicou o seu primeiro livro solo, a autobiografia «Vida Após a Vida», com 384 páginas, pela Editora Viena. Dez anos volvidos, publicou o segundo livro, «A Clausura de Kematian e Outros Contos Insólitos» (2017), pela Editora Becalete. Ultimamente tem-se dedicado à poesia e contos de suspense, mistério e terror.
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LIVROS
O QUE ZEUS MOSTROU AOS HOMENS Livro infanto-juvenil que tem como alvo os jovens leitores a quem é apresentada a mitologia grega, nomeadamente os deuses, assim como os seus parentescos, feições, virtudes e defeitos. Em simultâneo, surge nesta obra o tema da protecção do ambiente. Efeito de estufa, poluição e reciclagem são alguns dos conceitos que permitem ao leitor tomar contacto com a defesa do ambiente, levada a cabo pela determinação dos deuses. De acordo com Maria José Mestre, neste livro temos «a introdução da Cultura Clássica aos mais jovens, revelando pequenos itens da mitologia greco-latina através de acontecimentos reais, explicados, à maneira clássica, pela vontade dos deuses intervenientes. Os deuses da Antiguidade Clássica aparecem-nos aqui numa agradável atmosfera de conciliábulo onde se vão decidindo castigos pelas maldades dos homens e perdões para os que, habitantes da Terra, quase sempre menosprezada, vão reconhecendo a necessidade de cuidar da grande casa de todos nós, que é este planeta.»
O QUE ZEUS MOSTROU AOS HOMENS Autora: Marisa Luciana Alves Editora: Edições Toth 1ª Edição: Setembro 2018 ISBN: 978-989-54152-0-5 Depósito Legal: 444616/18 Encomendas: www.facebook.com/marisa.luciana.31
A autora, Marisa Luciana Alves, nasceu em Vinhais, em 1976, e é professora de Português-Inglês desde 1999. Apresentou e defende a tese sobre a construção da figura do ditador na literatura portuguesa, que lhe conferiu o grau de Mestre em Literatura Portuguesa. No seu percurso de escrita, participou em vinte e uma obras colectivas de várias editoras e conta já com cinco livros publicados: «O Que Zeus Mostrou aos Homens» (2018), «A Tua Receita, Meu Amor!» (2015), «O Sono da Primavera» (2014), «De Suplicar Por Mais...» (2013) e «Contando Memórias...» (2011). Foi a vencedora, em 2014, do 3º Concurso Literário da Papel D’Arroz Editora; a atribuição desse prémio resultou na publicação da novela «A Tua Receita, Meu Amor!». É co-autora da antologia «Sinfonia de Amor» da Colecção Sui Generis. 318
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CRÓNICA
SENSAÇÕES DE CULPA VIEIRINHA VIEIRA Nasceu em Vila Nova de Gaia, Portugal. Usa os heterónimos Lo Escrita e Maria de Mais, mas o seu nome mais conhecido é o pseudónimo Vieirinha Vieira. Formou-se em Contabilidade e Gestão, foi membro do Clube Juvenil Verbo na década de 90 e representou o jornal escolar “Nascente” em 1994. É mentora do projecto de leitura “Ginástica ao Cérebro”, frequentou cursos de teatro (da FLUP e do Palácio do Bolhão) e integra o Teatro Experimental do Orfeão da Feira. Colaborou em revistas, rádios, antologias e e-books, tem mais de 25 participações em livros colectivos e marcou presença em feiras do livro de Braga e Lisboa. Tem dois livros publicados: «A Menina Que Fui» (Pastelaria Studios Editora, 2016) e «Vestigium d’Arbor» (Chiado Editora, 2017). Participou nas antologias «Sinfonia de Amor» e «Luz de Natal» da Colecção Sui Generis. Perfil no Facebook: www.facebook.com/vieira.vieirinha.5
“Fazemos perguntas, expomos dúvidas, criamos problemas, arranjamos soluções e evoluímos. Muitas vezes sentimos culpa do bem que não fomos capazes de exercer, outras de fazer o bem para quem não merece nada! Mas somos simples na igualdade e complexos nas diferenças, muito embora não devêssemos deixar que outras complexidades extraiam o melhor de nós nem que estas se confundam com a nossa. Temos de acreditar! Acreditar mais, com mais força, mais coragem, mais tudo... Pois continuo a acreditar que cada um colhe o que planta. Sim, acredito! Na inteligência superior, num vasto mundo e extenso, muito embora a sensação de culpa me assombre, culpa de ser tarde de mais...” POR VIEIRINHA VIEIRA
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er carrega em mim sensações, medos e culpas numa coragem sobre-humana, no entanto ser humano com toda a sua intensidade, intensidade que nos humilde e exige. Fazemos perguntas, expomos dúvidas, criamos problemas, arranjamos soluções e evoluímos. Muitas vezes sentimos culpa do bem que não fomos capazes de exercer, outras de fazer o bem para quem não merece nada! Mas somos simples na igualdade e complexos nas diferenças, muito embora não devêssemos deixar que outras complexidades extraiam o melhor de nós nem que estas se confundam com a nossa. Temos de acreditar! Acreditar mais, com mais força, mais coragem, mais tudo... Pois continuo a acreditar que cada um colhe o que planta. (flores no jardim vida e seus aromas) Sim, acredito! Na inteligência superior, num vasto mundo e extenso, muito embora a sensação
Sem julgar mas jorrando pensamentos, brincadeiras, criatividade, enceno a vida na esperança de encontrar a fórmula perfeita, fórmula essa que um dia cheguei a pensar que todos procuravam. Mas não, não é verdade! Alguns procuram precisamente o contrário, está-lhes nas entranhas. Ou então simplesmente não acreditam, a vida ainda não lhes provou nada...
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de culpa me assombre, culpa de ser tarde de sempre culpada! Culpada pelo que fiz e pelo que mais... De deixar a minha ingenuidade ganhar, gadeixei de fazer. nhar, ganhar dores que deixam que esta se conSem julgar mas jorrando pensamentos, brincafunda com a bondade. deiras, criatividade, enceno a vida na esperança Já dizia o meu avô: «Oferecer é delicadeza, pede encontrar a fórmula perfeita, fórmula essa que gar é abuso.» Eu, que fui deixando pegadas por aí, um dia cheguei a pensar que todos procuravam. aprendi que o q.b. Mas não, não é verdade! Alvai regando a vida guns procuram precisamente sem a encharcar, o contrário, está-lhes nas enfazendo florir sem tranhas. Ou então simplespisar. Crescendo mente não acreditam, a vida no húmus da vida ainda não lhes provou nada... com toda a digniTrago no rosto um sorriso dade humana e branco e dourado, um sorriso dando graças a isalgodão com raios de sol pelo so. No decorrer, meio. Fruto de muito trabafui cultivando em lho. mim a vontade de Se acredito no céu? saber ser, estar e Sim, acredito! ter. Qualquer luEle vive aqui, bem dentro gar serve para ade mim. queles que vivem Que às vezes chove e abre da luz, porque o fendas profundas nas paredes intangível não lhes do meu eu? Sim, toda eu sou toca mas olha com fluente de sensações que me admiração e esinvadem as entranhas, e por panto. Não esquemais estranhas que pareçam cendo que foi do húmus que no fim tudo passa. Até eu e transcendi... esta culpa de não ter culpa de Minha família sempre me querer ser apenas eu. Sem Toda eu sou fluente de obriga a esta conexão à terra. deixar que outros façam de Como ser bom não é demim aquilo que não quero. sensações que me invadem feito, embora muitas vezes eu Balanço entre as culpas as entranhas, e por mais tenha vindo a sentir culpas, dos elementos ar, água, terra estranhas que pareçam errado está quem abusa dise fogo, todos com vantagens, so. E eu sou culpada por não todos com perigos, todos com no fim tudo passa. Até denunciar, na verdade não tedesvantagens. E estou aqui eu e esta culpa de não ter nho amigos, não! Fecho os eu, tão pequena entre eles a culpa de querer ser apenas olhos mas deparo na minha fazer um esforço para acredimão um tsunami... Embora a tar que sou grande, não seneu. Sem deixar que outros maturidade e evolução exijam do nada para lá da culpada de façam de mim aquilo de mim uma resposta eficaz e tudo... Apenas uma criança que não quero. rápida, eu fico estática na culfechada dentro de uma vida pa do fazer e não fazer, serei que cresceu. 324
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