Seguranca do paciente

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Curso de Capacitação em Segurança do Paciente

Estratégia de Ensino Técnico em Enfermagem sobre Segurança do paciente e Gerenciamento de riscos.

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Publicado pela Cetec Capacitações em 2015 com o título Segurança do Paciente e Gerenciamento de Riscos Cetec Capacitações, 2015 Material Didático utilizado durante a Capacitação de Professores dos Cursos Técnicos em Enfermagem das Etecs do Centro Paula Souza / Unidade de Ensino Médio e Técnico / Cetec Capacitações. Mesa-Redonda e Oficina Pedagógica sobre Segurança do Paciente e o Gerenciamento de Riscos Desenvolvido pela Equipe de Coordenadores de Projeto de Enfermagem. Cetec Capacitações / Unidade de Ensino Médio e Técnico / Centro Paula Souza, 2015 Organização: Shirley da Rocha Afonso Revisão gramatical: Yara M. D. Golfi Projeto gráfico e diagramação: Diego Santos Créditos das imagens http://www.freedigitalphotos.net/ http://www.wordle.net/

ISBN 978-85-99697-52-8

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Sumário Segurança do Paciente e o Gerenciamento de Riscos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6 ORIENTAÇÕES SOBRE O CURSO. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7 PROGRAMAÇÃO. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10 Discutindo sobre a qualidade em saúde e a importância do gerenciamento de risco . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12 Padronização dos Procedimentos: normas e rotinas da assistência de enfermagem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15 O processo de ensino em enfermagem e as metas de Segurança do Paciente. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26 Relacionamento interpessoal entre a enfermagem e a segurança do paciente. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33 Análise de causa raiz . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43 Pop higienização das mãos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43 Diagrama em espinha de peixe. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45 Considerando.... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46 A aliança mundial para a segurança do paciente e os desafios globais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47

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“É importante estabelecer uma Cultura de Segurança na formação do profissional de saúde para assegurar um cuidado com qualidade ao paciente”.

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Apresentação A expansão do Ensino Técnico no Brasil, fator importante para melhoria de nossos recursos humanos, é um dos pilares do desenvolvimento do país. Esse objetivo, dos governos estaduais e federal, visa à melhoria da competitividade de nossos produtos e serviços, visà-vis com os dos países com os quais mantemos relações comerciais. Em São Paulo, nos últimos anos, o governo estadual tem investido de forma contínua na ampliação e melhoria da sua rede de escolas técnicas - Etecs e Classes Descentralizadas (fruto de parcerias com a Secretaria Estadual de Educação e com Prefeituras). Esse esforço fez com que, de agosto de 2008 a 2011, as matrículas do Ensino Técnico (concomitante, subsequente e integrado, presencial e a distância) evoluíssem de 92.578 para 162.105. A garantia da boa qualidade da educação profissional desses milhares de jovens e de trabalhadores requer investimentos em reformas, instalações/laboratórios, material didático e, principalmente, atualização técnica e pedagógica de professores e gestores escolares. A parceria do Governo Federal com o Estado de São Paulo, firmada por intermédio do Programa Brasil Profissionalizado, é um apoio significativo para que a oferta pública de ensino técnico em São Paulo cresça com a qualidade atual e possa contribuir para o desenvolvimento econômico e social do estado e, consequentemente do país.

Almério Melquíades de Araújo Coordenador de Ensino Médio e Técnico

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Segurança do Paciente e o Gerenciamento de Riscos A reflexão sobre as estratégias de ensino em Segurança do Paciente e Gerenciamento de Riscos possibilita avaliar o impacto da formação do aluno Técnico em Enfermagem, disseminando o comportamento da cultura de segurança nas instituições de saúde. Elaborado com o objetivo de promover possibilidades estratégicas para as práticas pedagógicas do ensino sobre o tema Segurança do Paciente, vale lembrar que esse material não esgotará todas as discussões sobre quais estratégias são adequadas para o ensino desse tema, mas irá suscitá-lo para o desenvolvimento de aulas que atendam aos princípios técnicos e éticos. Então, professor(a), sinta-se também convidado(a) a se apropriar das estratégias de ensino aqui sugeridas, inseridas nas características e particularidades do Curso Técnico em Enfermagem

Shirley da Rocha Afonso Professora Coordenadora de Projetos Cetec Capacitações – Centro Paula Souza

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Orientações sobre o curso Objetivo do curso Atualizar os conhecimentos técnicos e pedagógicos dos professores de enfermagem sobre as Metas Internacionais de Segurança do Paciente, com o intuito de subsidiar os roteiros de aulas centrados em um cuidado de enfermagem criterioso e ético.

Segurança do Paciente e o Gerenciamento de Riscos Atualmente, é mundialmente reconhecido o movimento para a melhoria dos cuidados prestados ao paciente em serviços de saúde. Assim, a segurança do paciente assume um papel de grande relevância nestes serviços. A segurança do paciente pode ser entendida como o “conjunto de ações orientadas à proteção do paciente contra riscos, eventos adversos (EA) e danos desnecessários durante a atenção prestada nos serviços de saúde” (WHO, 2008). Por isso, acreditamos que o professor de enfermagem, conforme Cavellucci (s. dt.), mais do que um formador educacional, exerce um papel fundamental no processo de ensino-aprendizagem de seus alunos, passando a ser visualizado como um professor que contextualiza e transmite o senso de responsabilidade frente às diversas situações dos cuidados de enfermagem, de maneira que os alunos assumam posturas críticas e reflexivas sobre a formação em enfermagem.

Objetivos de aprendizado Ao final deste curso, os participantes deverão desenvolver as seguintes funções pedagógicas: 1. Promover a curiosidade e a criticidade sobre as técnicas de enfermagem segura e a implantação das metas internacionais de segurança do paciente; 2. Reconhecer que o processo educacional é inacabado,

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por isso, promover as descobertas e redescobertas da aprendizagem sobre as técnicas de segurança do paciente; 3. Respeitar a autonomia do educando, promovendo a construção do perfil de um profissional capaz de analisar as situações e os problemas e, a partir desse, tomar uma decisão assertiva; 4. Mostrar responsabilidade, tolerância e bom senso; 5. Integrar intenção e gesto, comprometendo-se com a educação como forma de intervenção no mundo e de transformação da realidade.

Quem deve ser convidado a participar do curso de capacitação? Docentes do Curso Técnico em Enfermagem das Escolas Técnicas Estaduais - Etecs - do Centro Paula Souza.

Como o curso foi organizado? A Oficina Pedagógica, com carga horária de 8 horas, será desenvolvida em evento presencial e intermediada pela discussão e apresentação dos temas em uma mesa redonda.

Sobre os textos de apoio para leitura A formação continuada de professores tem como foco principal de atenção construir um perfil de multiplicadores entre os professores do curso Técnico em Enfermagem das Etecs, intencionando o aprimoramento de estratégias técnicas e pedagógicas do trabalho docente. Por isso, com o intuito de incentivar a discussão e socialização dos temas aprendidos durante este curso, os textos de apoio para a leitura apresentam-se pelas sugestões de técnicas didáticas para o desenvolvimento das aulas de Segurança do Paciente. Foram selecionados a partir da relevância e similaridade com os temas abordados no curso de capacitação. Dessa forma, estamos alinhados com as diretrizes vigen-


tes, contribuindo para a socialização e multiplicação da melhoria da qualidade e prestação de serviços com segurança ao paciente.

Referência WHO. World Health organization. Sumary of the evidence on patient safety: implications for research. Edition: Ashishi Jha. 2008.

Mesa-Redonda: Implementação da Segurança do Paciente na Formação em Enfermagem Como ensinar o Técnico em Enfermagem integrando o tema Segurança do Paciente nos componentes curriculares? Tema 1 – A importância de reconhecer e prevenir o erro: a cultura do não punir Profª. Enf. Valéria Marques Reigada – Etec Parque da Juventude

Tema 3 – Como ensinar o aluno de enfermagem utilizando as ferramentas de identificação da Segurança do Paciente Profª. Enf. Gisele Fachini – Etec Alcídio de Souza Prado

Oficinas Pedagógicas: Gerenciamento de Riscos e a Segurança do Paciente Auxiliar os professores a compreender melhor as causas subjacentes aos eventos adversos durante os cuidados de enfermagem. Possibilitar aos participantes a aplicação dos fundamentos da vigilância em saúde no cotidiano das aulas teórico-práticas e estágios supervisionados, com vistas a gerenciar os riscos a danos para a segurança do paciente.

Avaliação Identificar os principais pontos aprendidos e discutir de que maneira podem ser aplicados em seu trabalho para melhorar a segurança do paciente.

Tema 2 – A Classificação Internacional da Segurança do Paciente inclusa nos currículos de enfermagem Profª. Enf. Marlene – Etec Parque da Juventude

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Programação Mesa Redonda – Implementação da Segurança do Paciente na Formação em Enfermagem Horário

Duração

Duração Acumulada

Conteúdo Credenciamento

8h às 8h30

0:30

0:30

Abertura Café

Material* Assinar a lista de presença

1º Etapa – MESA REDONDA 8h30 às 8h45

0:20

0:50

Tema 1 - A importância de reconhecer e prevenir o erro – a cultura do não punir

8h45 às 9h

0:20

1:10

Tema 2 - Classificação Internacional da Segurança do Paciente inclusa nos currículos de enfermagem

9h às 9h15

0:20

1:30

Tema 3 - Como ensinar o aluno de enfermagem utilizando as ferramentas de identificação da Segurança do Paciente

9h15 às 9h30

0:20

1:50

Discussão e debate entre plenárias

9h30 às 9h40

0:10

2:00

INTERVALO

*Para o participante - Leitura prévia, a partir da confirmação de inscrição

Oficina 1 – Gerenciamento de Riscos Horário

Duração

Duração Acumulada

Conteúdo

Material*

2º Etapa – Oficina de gerenciamento de riscos 9h40 às 9h50

0:10

2:10

Introdução SESSÃO UM

Tema 4 – aprendendo com os Erros Extraído de: Proqualis/Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde/Fiocruz, 2013. 9h50 às 10h05

0:20

2:30

DVD: Aprendendo com os erros

Todos assistem ao filme de 20 minutos, que apresenta o erro na administração de vincristina.

10h05 às 10h10

0:10

2:40

Teoria: análise de causa raiz

10h10 às 10h25

0:20

3:00

Grupos menores

Modelo de diagrama em espinha de peixe: Anexo I

10h25 às 10h35

0:10

3:10

Retorno à plenária

− Cada grupo apresenta suas principais conclusões à plenária. − Discussão em plenária.

10h35 às 10h45 *Para o participante

10

0:10

3:20

INTERVALO - 10 minutos


SESSÃO DOIS Todos assistem à análise do erro com base nos 3 fatores para o gerenciamento de riscos.

10:45 as 11:00

0:20

3:40

DVD: Análise do erro

11:00 as 11:20

0:20

4:00

Grupos menores:

Considerando...

11:20 as 11:30

0:15

4:15

Retorno à plenária.

Apresentação das principais conclusões de cada grupo, discussão em plenária e sessão de “tempestade de ideias” sobre como prevenir erros em suas organizações.

11:30 as 11:45

0:15

4:30

Conclusão e avaliação

Formulário de avaliação

11:45 as 13:00

1:15

5:45

INTERVALO - ALMOÇO

Oficina 2 – Segurança do Paciente Horário

Duração

Duração Acumulada

Conteúdo

Material*

3º Etapa – Oficina de trabalho em grupo Tema 5 – BUNDLE para Higienização das Mãos e Cirurgia Segura Extraído de Secretaria de Estado da Saúde do Paraná – HOSPSUS – 2013 13h às 13h10

0:10

5:55

13h10 às 13h25

0:20

6:10

13h25 às 13h35

0:10

6:20

13h35 às 13h50

0:20

6:40

Texto de apoio

Organizar-se em grupos a. leitura e discussão do texto de apoio

Estudo de caso

b. apontar os aspectos internos ao serviço de saúde (forças e fraquezas) e os aspectos externos (oportunidades e ameaças) c. apresentar em plenária e 5 minutos − Retornar aos grupos; – Eleger um coordenador e um relator;

13h50 às 14h05

0:20

– Retornar ao estudo dirigido anterior: A partir da análise das forças e fraquezas, oportunidades e ameaças

7:00

Elaborar o plano para a implementação dos bundles para a Higiene das Mãos e Práticas de Segurança do Paciente no Procedimento Cirúrgico; Estudo dirigido

Utilizar a Matriz – Plano para implementação dos bundles para a Segurança do Paciente: – (1) O quê?

14h05 às 14h20

0:20

– (2) Como?

7:20

– (3) Quem? – (4) Quando? – (5) Onde? – (6) Com quais recursos?

14:20 as 14:35

0:20

7:30

14:35 as 15:00

0:30

8:00

Relatar a atividade do grupo em 5 minutos Atividade Não Presencial (ANP)

− Criar um plano de aula sobre os temas abordados no curso – Aplicar o plano de aula com alunos ou professores da Etec

A programação foi estabelecida por uma margem aproximada de tempo. * Para o participante

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Discutindo a qualidade em saúde e a importância do gerenciamento de risco As definições dos atributos da qualidade Para saber um pouco mais sobre as definições de segurança do paciente, segundo o Instituto de Medicina dos Estados Unidos da América leia o quadro 1 – As definições dos atributos da qualidade, página 6, do documento de Referência para o Programa Nacional de Segurança do Paciente, Ministério da Saúde (2014). Este guia está presente em seu CD – Manual do Cursista.

Atualmente a qualidade de cuidados na saúde está se tornando uma cultura fundamental para que as organizações continuem melhorando e reconhecendo a importância em Segurança do Paciente. Essa cultura está crescendo devido ao entendimento dos valores, crenças e normas sobre as atitudes e comportamentos relacionados a um cuidado seguro (PAESE; DAL SASSO, 2013). Desse modo, pode-se definir a Segurança do Paciente como um conjunto de valores, experiências e atitudes que formam uma cultura comportamental em prol das características de um cuidado seguro, reconhecendo que os fatores relacionados às ações realizadas durante o cuidado podem desencadear erros.

Boa leitura!

Muitas vezes, quando há ocorrência dos erros durante as assistências de cuidados a um paciente, procura-se culpar um determinado problema ou pessoa. Porém, ao se julgar o evento de maneira pontual, esquece-se de que o erro cometido não foi gerado isoladamente; esquece-se de que existiram fatores que contribuíram para a geração desse problema. É importante ressaltar que o erro não está isolado. Ele não é apenas um evento que ocorreu. Para que haja o erro é necessário reunir um conjunto de ações que potencializam a ocorrência do evento, como uma infecção incisional pós-cirúrgica que só acontecerá se houver contaminação do ato cirúrgico associado a um material contaminado e a condição imunológica do paciente potencializar o processo infeccioso. Neste sentido, busca-se chamar a atenção sobre a importância de analisar os erros cometidos. É fundamental mudar a concepção de que um erro foi cometido isoladamente. Existem diversos fatores que contribuem para a ocorrência do erro, e muitas vezes, ele está associado a uma cadeia de ações que resultam em um evento adverso.

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Por isso, faz-se necessário mudar o modo como se vê o cuidado de enfermagem e, principalmente, como se ensina esse cuidado. É importante identificar, gerenciar e avaliar, não apenas uma determinada situação ou contexto, mas também os fatores que influenciam ou potencialmente podem influenciar a existência do evento. As definições sobre o cuidado seguro, de acordo com Brasil (2014), já vêm sendo discutidas na área de saúde desde Hipócrates, que assina o postulado afirmando “primeiro não cause o dano”. É possível observar também outras reflexões e ações através de Florence Nightingale e Ignaz Semmelweiss, que apresentam discussões e diretrizes iniciais para um controle, organização e avaliação do cuidado seguro. Ciente disso, a Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2004, propõe a implantação do Programa Aliança Mundial para a Segurança do Paciente, que chama atenção para os profissionais de saúde assumirem a responsabilidade da análise prévia sobre todos seus atos e consequências deles (COREN 2010). Isso se deu após as pesquisas realizadas em instituições hospitalares, que constataram que 50% dos casos diagnosticados e derivados dos erros poderiam ser evitáveis. Esse programa, de acordo com Santos et al (2010), com diretrizes centradas no cuidado do paciente seguro, visa sensibilizar e mobilizar profissionais de saúde para a busca de soluções que previnam os erros e seus eventos adversos. Reforça, também, a ideia do desenvolvimento de indicadores que orientam e interveem na ocorrência de situações que provocam erros. Nesse sentido, o Programa de Segurança do Paciente promove a mudança de comportamento entre os profissionais de saúde e sua assistência, tornando-a mais segura. Com essas discussões e pontuações, o Instituto de Medicina (IOM) dos Estados Unidos da América incorpora a Segurança do Paciente numa lista de atributos, que esta-


belecem as definições sobre o que é qualidade em saúde. “O IOM define qualidade do cuidado como o grau com que os serviços de saúde, voltados para cuidar de pacientes individuais ou de populações, aumentam a chance de produzir os resultados desejados e são consistentes com o conhecimento profissional atual” (BRASIL, 2014).

no sobre a assistência de enfermagem, devemos visar a cultura sobre a segurança, como exemplo, cuidados de enfermagem baseados em Procedimentos Operacionais Padrão, avaliação do cuidado ao paciente sustentado em checklists e a efetivação da comunicação multiprofissional.

Para alcançar uma cultura de qualidade em saúde, conforme Paese e Dal Sasso (2013), que visa a Segurança do Paciente, é necessário estabelecer uma gestão de comunicação e informação fundamental para realizar a manutenção da gestão de riscos, identificando, avaliando e estabelecendo as metas para um cuidado seguro ao paciente.

Essas estratégias podem reforçar a cultura da justiça e minimizar um perfil baseado em competição individual, o qual impõe um comportamento de punição sobre aquele profissional que erra. Por isso, a partir de agora, discutiremos os temas sobre Segurança do Paciente e o Gerenciamento de Riscos e refletiremos sobre o planejamento de aulas com essa temática.

Diante dessas questões, o presente material didático foi elaborado com o intuito de informar, esclarecer e orientar sobre os temas relevantes para a Segurança do Paciente, demonstrando a importância de fortalecer o gerenciamento de riscos que podem ocorrer durante a assistência de enfermagem. Nele serão suscitadas questões sobre a prática de enfermagem segura além de apresentar os aspectos fundamentais para o planejamento de aulas sobre este tema.

Referências

Para isso, concentramo-nos em três temas a fim de discutir a Segurança do Paciente e o Gerenciamento de Risco e suas estratégias didáticas. São eles: 1. Padronização dos Procedimentos: normas e rotinas da assistência de enfermagem; 2. O processo de ensino em enfermagem e as metas de Segurança do Paciente; 3. Relacionamento interpessoal entre a enfermagem e a segurança do paciente. A tarefa de se implementar um programa de gerenciamento de riscos não é fácil, mas é importante compreender a ampla variedade de elementos que provocam o erro. Além disso, como formadores dos profissionais de enfermagem, devemos transmitir esse entendimento e auxiliar os alunos durante o desenvolvimento de um perfil profissional comprometido e responsável para um cuidado com qualidade ao paciente. Ao ensinar o alu-

BRASIL. Ministério da Saúde. Documento de referência para o Programa Nacional de Segurança do Paciente. Fundação Oswaldo Cruz. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Brasília: Ministério da Saúde, 2014. COREN. Conselho Regional de Enfermagem. 10 passos para a segurança do paciente. São Paulo: COREN, 2010. Disponível em: <http://www.coren-sp.gov.br/sites/ default/files/10_passos_seguranca_paciente_0.pdf>. Acesso em: 14 mai 2015. PAESE, F.; DAL SASSO, G. T. M. Cultura da segurança do paciente na atenção primária à saúde. Texto e Contexto em Enfermagem. Florianópolis, v. 22, n. 2, 2010. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/tce/v22n2/ v22n2a05>. Acesso em: 06 mar 2015. SANTOS, J. O. et al. Condutas adotadas por técnicos de enfermagem após ocorrência de erros de medicação. Acta Paulista de Enfermagem. São Paulo, v. 23, n. 3, 2010.

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Padronização dos Procedimentos: normas e rotinas da assistência de enfermagem Ao planejar uma aula sobre as normas e rotinas dos serviços de enfermagem, é importante distinguir as diferenças entre Procedimentos Operacionais Padrão e Protocolos Clínicos. COREN GOIAS. Padronização na Enfermagem: o que é, como se faz e para quê? Matéria publicada em: 24 de março de 2014. Disponível em: http://www.corengo.org. br/padronizacao-na-enfermagem-o-que-e-como-se-faz-e-para-que_2585.html

A padronização1 dos procedimentos em enfermagem implica em estabelecer uma uniformização para cada ação executada pelos profissionais (GUERRERO; BECCARIA; TREVIZAN, 2008). Por isso, é importante estabelecer regras bem definidas para que cada membro execute o cuidado com a mesma atenção e dedicação. Essa padronização representa uma oportunidade para tornar o cuidado significativamente mais seguro. As ações são norteadas e executadas, de maneira que: - a insegurança é minimizada devido ao objetivo que a padronização se propõe; - permite o gerenciamento da qualidade dos serviços em enfermagem, implementando novas metodologias para a assistência eficaz das ações; - anula o comportamento descompromissado daquele que alega não conhecer o processo de realização das tarefas; - facilita a avaliação da realização de técnicas corretas e; - oferece maior segurança de execução das rotinas de uma unidade de saúde. [...] a implementação de sistema para o desenvolvimento da assistência de enfermagem, a partir de padrões e critérios, fundamenta-se no princípio de que essa assistência transcende a execução de ordens médicas e administrativas e, principalmente, direciona as reais necessidades do

1 A Fiocruz, Ministério da Saúde e Agência Nacional de Vigilância Sanitária publicaram seis Protocolos Básicos de Segurança do Paciente para orientar os profissionais na ampliação do cuidado seguro. Esses protocolos podem ser utilizados durante as aulas de Semiotécnica em Enfermagem. Acesse o CD Manual do Cursista e conheça um pouco mais sobre os protocolos. Fonte: http://portal.fiocruz.br/pt-br/content/programa-nacional-de-seguran%C3%A7a-do-paciente-lan%C3%A7a-normas-e-guias-para-atendimento-hospitalar.

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paciente através de visão holística e com conhecimento. E, assim, os padrões de enfermagem definem o seu campo de prática e proporcionam orientação para seu desempenho, projetam as competências desejadas e as exigências educacionais [...] (GUERRERO; BECCARIA; TREVIZAN, 2008).

Mas, para definir qual é a melhor forma de padronizar um cuidado seguro, é preciso compreender todo os fatores que envolvem uma determinada ação, incluindo as intercorrências e as possíveis faltas de recursos materiais, financeiros e humanos. Uma sugestão eficaz para o desenvolvimento da compreensão do aluno que aprende sobre as técnicas em cuidado ao paciente, é a apresentação e utilização do Procedimento Operacional Padrão (POP) para cada técnica de enfermagem ensinada. Acreditamos que só então ele perceberá a importância de seguir regras padronizadas para os procedimentos. A vantagem do POP é a possibilidade de integração entre o protocolo médico e as rotinas de enfermagem. Ou seja, a teoria e a prática se unem em um processo significativo para a construção de um perfil profissional adequado à segurança do paciente. Observe o modelo de POP no quadro 1.


Quando 1: Modelo de Procedimento Operacional Padrão para desenvolver a reflexão e criticidade do aluno durante as aulas de Semiotécnica em Enfermagem2. PROCEDIMENTO OPERACIONAL PADRÃO Número do POP: 000 Diabetes Gestacional

Data: 00/00/0000 Revisão: 1ª

PROTOCOLO MÉDICO Definição: É uma doença metabólica por hiperglicemia e por intolerância aos carboidratos, de intensidade variada, diagnosticada durante a gestação, podendo ou não persistir após o parto. Fatores de risco: •idade superior a 25 anos; •história pessoal; •parentes próximos com diabetes tipo I; •antecedentes obstétricos: macrossomia, polidrâmnio, morte fetal ou neonatal inexplicada, más formações e retardo do crescimento fetal. Exame físico geral: •baixa estatura •hipertensão arterial •disposição de gordura corporal central e excessiva. Exame obstétrico atual: •ganho de peso excessivo; •altura uterina maior que a esperada; •crescimento fetal excessivo; •polidrâmnio, pré-eclâmpsia. Conduta: A gestante que apresentar diabetes gestacional deve ser encaminhada ao serviço de referência. Dieta: Deve ser orientada de acordo com o estado nutricional da gestante, avaliando o IMC pré-gravídico, de tal maneira a permitir um ganho adequado de peso.

2  Modelo disponibilizado pela Universidade Federal do Triângulo Mineiro. Fonte: http://www.uftm.edu.br/proplan/images/gestao_organizacao/normas/15_Elaboracao_de_Procedimento_Operacional_Padrao_e_Protocolo_Medico.pdf

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Cálculo do IMC Pré-gravídico:

Ganho de peso recomendado para a gestante com diabetes gestacional

a) Quando o índice for normal, a ingestão calórica diária pode ser estimada por aquela pré-gravídica, acrescentando 3000 Kcal/dia a partir do 2º trimestre. b) Em gestantes com sobrepeso ou obesas, pequenas reduções calóricas podem ser recomendadas – dietas com até 1800 Kcal/dia não parecem induzir efeitos adversos ao feto. c) A dieta deve ser fracionada em 5 ou 6 refeições diárias. d) Evitar jejum prolongado e não omitir refeições. e) Aumentar a ingestão de água no intervalo das refeições. f) A gestante com bom controle, caso seja permitido, pode ingerir carboidratos de absorção rápida, como o açúcar, dentro do cálculo total da dieta. g) Diminuir o consumo de gorduras saturadas (creme de leite, manteiga, maionese, frituras, carnes gordas etc). h) Adoçantes artificiais não calóricos podem ser utilizados, evitando-se aqueles com sacarina. Atividade Física: Pacientes sedentárias devem ser orientadas a iniciar um programa de caminhadas regulares e/ou exercícios de flexão de braços. Controle glicêmico: a) É feito, sempre que possível, com glicemias de jejum e pós-prandiais semanais. b) A glicosúria não é útil na monitoração do controle metabólico na gravidez. Tratamento com insulina: a) Será indicada se, após 2 semanas de dieta, os níveis glicêmicos permanecerem elevados: • Glicemia de jejum: ≥ 105 mg%; • 2 horas pós-prandiais: ≥ 120 mg%. b) O crescimento fetal exagerado (circunferência fetal ≥ percentil 75), evidenciado em ecografia obstétrica realizada na 29ª e 33ª semanas de gestação, também é critério para o uso de insulina. c) A dose inicial de insulina deve ser em torno de 0,3 a 0,54 U/Kg, administrada várias vezes ao dia. Pode ser feita associação de insulina de ação intermediária e rápida, para o uso individual. Recomenda-se o uso de insulina humana. d) Recomenda-se, caso haja possibilidade, monitorização domiciliar da glicemia capilar, que deve ser feita de 3 a 5 vezes por dia.

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e) A necessidade insulínica tende a aumentar progressivamente durante a gravidez. f) É contraindicado o emprego de antidiabéticos durante a gravidez Conduta obstétrica: • O controle é o mesmo para gestação de risco: até 36 semanas de gestação, o exame deve ser semanal ou a cada duas semanas, de acordo com a evolução clínica; após a 36ª semana, deverá ser semanal. • Ocorre um aumento na incidência de alterações hipertensivas na gestação com diabetes, exigindo cuidados especiais para a sua identificação e manejo. • Para as gestantes em uso de insulina, deverá ser indicada a ultrassonografia e a cardiotocografia anteparto a partir de 32-34 semanas. Parto: • Nas gestantes com ótimo controle do metabolismo, deve ser aguardada a evolução espontânea do parto. • A via de parto é uma decisão obstétrica, após estimar peso fetal por avaliação clínica e ultrassonografia. • Gestantes em uso de insulina requerem atenção especial: • Se o parto for acontecer antes de 39 semanas de gestação, deve ser feita amniocentese para avaliar a maturidade pulmonar, com dosagem de Fosfatidilgliocerol e avaliação da relação entre Lecitina e Esfingomielina ou dosagem de corpos lamelares; • Quando o parto for programado, a gestante deve ficar em jejum e não receber a dose diária de insulina. • O controle da glicemia capilar deve ser feito de hora em hora e, quando o metabolismo estiver bom e estável, a monitorização deve ser de 2 a 4 horas, devendo ser mantida entre 70 e 110 mg%. • Recomenda-se a monitorização fetal intraparto e também a presença do neonatologista. Pós-Parto: • O aleitamento natural deve ser estimulado. • Observar os níveis glicêmicos nos primeiros dias pós-parto, pois muitas mulheres não necessitam mais usar insulina. Seu uso está indicado, quando ocorrer hiperglicemia no período de amamentação. • O estado de regulação da glicose deve ser reavaliado a partir de 06 semanas após o parto, empregando-se glicemia de jejum ou teste oral de tolerância com 75g de glicose.

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FLUXOGRAMA: RASTREAMENTO DE DIABETES GESTACIONAL Gestante em Investigação de Diabetes Gestacional

<90mg%

>90mg% Glicemia de jejum

dois ou mais fatores positivos

Sim

Não

>90mg% Glicemia de jejum a partir da 30ª

Rastreamento positivo

<90mg% >110mg%

TTG (Teste de Tolerância à Glicose) >140mg%

>140mg% TTG 75g/2h a partir da 20ª semana <140mg% Rastreamento negativo

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Diabetes Gestacional

Encaminhar ao Pré-Natal de Alto Risco


É o enfermeiro quem deve elaborar o Manual de Normas e Rotinas da Enfermagem ou Procedimento Operacional Padrão (POP), porém, destaca-se a importância de se incluir o Técnico em Enfermagem durante o planejamento desses padrões para identificar as especificidades de cada etapa realizada. É importante apresentar aos alunos a importância de um Procedimento Operacional Padrão durante a tomada de decisão frente a qualquer intercorrência, servindo como base estável para a avaliação do cuidado com qualidade e segurança, como representado no Quadro 2.

Quadro 2: Modelo de formulário para o desenvolvimento Procedimento Operacional Padrão da rotina de enfermagem3.

de um

ROTINA OPERACIONAL PADRÃO Nome da rotina: Finalidade: Competência: Fundamentação Legal: Normas: AGENTE

AÇÃO

NÃO CONFORMIDADE

Para isso, é possível considerar a inclusão de Fluxogramas ou Algorítimos de Decisão nessas normas de padronização das rotinas de enfermagem, conforme Quadro 3, permitindo rápida identificação e análise de possíveis eventos que podem gerar o erro do cuidado de enfermagem. Portanto, é interessante promover um processo de ensino ao aluno de enfermagem, baseada na interpretação e compreensão dos manuais de normas e rotinas de enfermagem.

3  O Manual de normas e rotinas de enfermagem do Hospital Getúlio Vargas está disponível no endereço: http://www.hgv.pi.gov.br/download/201207/HGV20_d747ba8b2b.pdf

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Quadro 3: Modelo de fluxograma de rotina de enfermagem para realização de curativo ortopédico4. DIAGRAMA DE APLICAÇÃO TÉCNICA Objetivo: Estabelecer o conforto, bem-estar e segurança do cliente, favorecendo a recuperação dos ferimentos.

Enfermeiros

Avaliar as condições do cliente

Fazer e/ou prescrever o curativo em 30'

Aux. e Téc. em Enfermagem

- Preparar os materiais para o curativo. - Lavar bem a ferida com SF 0,9% morno e em chuveirinho, furado com agulha 12 esterelizada. - Aplicar PVPI 1c em volta da ferida, não na ferida viva. - Lavar exaustivamente a área contaminada ou infectada com soro morno.

Verificar o fixador

- Aplicar óleo hidratante ou pomada composta, no 1º curativo, no tecido vivo para mantê-lo umedecido. - Ocluir com algodão hidrófilo ou ortopédico esterelizado em grande quantidade.

Com fixador

Sem fixador

- Não aplicar gaze seca ou similar sobre a ferida. - Enfaixar com crepe esterelizado.

Determinar ajuda Com faixa crepon erguer o membro pelo fixador e amarrar no quadro balcânico

Retirar as faixas de algodão e irrigar as gazes aderidas à ferida

- No uso de tala gessada, colocar luva d’água sobre protuberância óssea do calcâneo. - A partir do 2º curativo, quando surgir tecido morto ou necrose, usar papaína 10%. Com a evolução e melhora da ferida, usar de 6%, 3% ou composta ou, ainda, creme lanete até o final. - Trocar todo dia pelo menos uma vez. - Manter o curativo úmido. - Ao retirar o curativo velho, não puxe.

Fazer e/ou prescrever o curativo em 30'

4  Modelo disponibilizado pela Universidade Federal do Triângulo Mineiro. Fonte: http://www.uftm.edu.br/proplan/images/gestao_organizacao/normas/15_Elaboracao_de_Procedimento_Operacional_Padrao_e_Protocolo_Medico.pdf

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O Protocolo é considerado um sistema tecnológico em saúde. Aplica-se ao gerenciamento do cuidado, pois contempla tomadas de decisão e traz em sua organização etapas processuais em saúde, contribuindo para a legitimidade, autonomia profissional e segurança na assistência a ser prestada, como representado na Figura 1. É uma ferramenta da prática em saúde que deve ser flexível e atualizada.

Figura 1: Exemplo de Fluxograma para Lavagem Mãos, segundo o COREN São Paulo, 2012.

das

Lavagem das mãos

Colocar solução antisséptica

Enxaguar

Esfregar as mãos

Secar mãos e antebraços

Realizar movimentos de fricção

Mãos Limpas

Fonte: Guia para construção de protocolos assistenciais de enfermagem – COREN-SP5.

Os POPs podem ser mais eficazes se aplicados em conjunto com um checklist de procedimentos, controlando cada etapa do cuidado do paciente, como exemplo, o uso de BUNDLE na assistência de enfermagem cirúrgica, em que cada cuidado prestado ao paciente é checado nos diferentes períodos cirúrgicos (pré-operatório, transoperatório e pós-operatório), além de identificar as conformidades e não conformidades (Figura 2) identificadas durante o cuidado de enfermagem. 5  Disponível em: http://portal.coren-sp.gov.br/sites/default/files/guia%20constru%C3%A7%C3%A3o%20protocolos%2025.02.14.pdf

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Figura 2: Exemplo de Procedimento Operacional Padrão para Higienização das Mãos6.

Fonte: Hospital Getúlio Vargas: Procedimento Operacional Padrão – Enfermagem, 20127.

Ao realizar essa verificação ou utilizar essa lista de procedimentos, é possível tomar uma decisão para definir qual alternativa possibilita atingir o resultado esperado. Empregando esforços para planejar e elaborar um BUNDLE de procedimentos e, em seguida, executá-lo exige-se um comportamento de racionalidade, competência e consciência, pois são reunidas muitas etapas, como identificação do problema, dos fatores determinantes e condicionantes, proposições de soluções alternativas, avaliação e verificação da ações tomadas e resultados alcançados (HONÓRIO; CAETANO; ALMEIDA, 2011).

6  A imagem pode ser visualizada em Anexo 1. 7  O Manual de normas e rotinas de enfermagem do Hospital Getúlio Vargas está disponível no endereço: http://www.hgv.pi.gov.br/download/201207/HGV20_d747ba8b2b.pdf

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É recomendável utilizar a estratégia do Fluxograma e Procedimento Operacional Padrão de Enfermagem ao ensinar o aluno de enfermagem sobre as rotinas de cuidado em enfermagem. É importante promover um processo de ensino significativo ao aluno de enfermagem, de maneira que ele apreenda os valores sobre a necessidade de seguir padrões das técnicas seguras e incorporação das normas de biossegurança ao seu trabalho diário.

Figura 3: A estrutura conceitual para Classificação Internacional Segurança do Paciente. OMS8, s dt.

É possível visualizar este esquema no DOCUMENTO DE REFERÊNCIA PARA O PROGRAMA NACIONAL DE SEGURANÇA DO PACIENTE, em seu CD Manual do Cursista. MS. Ministério da Saúde. Fundação Oswaldo Cruz. Agência Nacional de Vigilância. Documento de referência para o Programa Nacional de Segurança do Paciente. Brasília: Ministério da Saúde, 2014.

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Diagrama disponível em: http://www.who.int/patientsafety/implementation/taxonomy/conceptual_framework/en/

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CONCLUSÃO A compreensão sobre os padrões de procedimentos ou normas de rotinas de enfermagem, como representada na Figura 3, pode facilitar o emprego da cultura de prevenção de erros nas instituições de saúde. [...] a implementação de sistema para o desenvolvimento da assistência de enfermagem, a partir de padrões e critérios, fundamenta-se no princípio de que essa assistência transcende a execução de ordens médicas e administrativas e, principalmente, direciona as reais necessidades do paciente através de visão holística e com conhecimento (GUERRERO; BECCARIA; TREVIZAN, 2008). O processo de ensino, baseado nessa compreensão faz com que, de acordo com Honório, Caetano e Almeida (2011, p. 883), o aluno perceba “[...] a eficácia do processo da prática assistencial [...]mediante uma estrutura concisa e promovendo a tradução do conhecimento para uma melhorar a prática”, oportunizando assim a identificação e avaliação da qualidade da assistência prestada.

REFERÊNCIAS GUERRERO, G. P.; BECCARIA, L. M.; TREVIZAN, M. A. Procedimento operacional padrão: utilização na assistência de enfermagem em serviços hospitalares. Revista Latino Americana de Enfermagem. Ribeirão Preto. v. 16, n. 6, 2008. Disponível em: <http://www. scielo.br/readcube/epdf.php?doi=10.1590/S0104-11692008000600005&pid=S010411692008000600005&pdf_path=rlae/v16n6/pt_05.pdf>. Acesso em: 25 mai 2015. HONÓRIO, R. P. P.; CAETANO, J. A.; ALMEIDA, P. C. Validação de procedimentos operacionais padrão no cuidado de enfermagem de paciente com cateter totalmente implantado. Revista Brasileira de Enfermagem. Brasília, v. 64, n. 5, 2011. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/reben/v64n5/a13v64n5.pdf>. Acesso em: 05 jun 2015.

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O processo de ensino em enfermagem e as metas de Segurança do Paciente O processo de ensino nos cursos técnicos de enfermagem vem sofrendo grandes transformações, sendo frequente a discussão sobre a inclusão das metas de Segurança do Paciente em seus currículos. A introdução dos conteúdos sugeridos pelo Guia Curricular Multiprofissional para Segurança do Paciente, da Organização Mundial da Saúde, ganha espaço e perspectiva para desenvolver competências de atuação na enfermagem. Medidas de prevenção de erros e maximização da cultura do cuidado seguro são exemplos constantes nos planos de ensino dos professores de enfermagem (FANK; BRIEN, 2008). Por isso, é importante estabelecer componentes curriculares centrados no paciente e no cuidado de enfermagem padronizado, oportunizando, assim, experiências de aprendizagens significativas para os alunos, de maneira que se evidencie uma cultura de segurança ética e eficaz em seu perfil de formação profissional. Neste sentido, A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda, desde 2002, a inclusão do tema Segurança do Paciente nas grades curriculares de todos os cursos da área da saúde, reforçando a compreensão sobre a importância de um trabalho assistencial livre de erros e com a cultura de cuidado seguro incorporado. O ensino de enfermagem deve garantir que o tema de Segurança do Paciente enfoque os fatores de riscos e as medidas preventivas de danos, nos variados cenários de assistência à saúde. Deve envolver ações de aprendizagem em que o aluno consiga experienciar práticas significativas para repercutir em uma formação e atuação profissional responsável e comprometida.

Outro aspecto relevante é a promoção de um processo de ensino baseado em valores, para o qual estabelece-se a cultura de reflexão antes da ação, enfocando as competências para a segurança do paciente e contribuindo para um cuidado com mais qualidade. Em contrapartida, se pensarmos em processo de avaliação do ensino baseado em competências, é necessário idealizar qual perfil de formação vamos estabelecer e determinar quais saberes e habilidades técnicas queremos que nossos alunos adquiram, de maneira que ele assuma uma postura pautada nesse de tipo de aprendizagem; na ética e responsabilidade para prestação de serviços com segurança.

Guia Curricular Multiprofissional para Segurança do Paciente A Organização Mundial da Saúde, em 2011, promove o lançamento de um guia que auxilia as instituições de saúde a incluir em seus currículos os conceitos e práticas de segurança do paciente. Para conhecê-lo acesse o site

http://www.who.int/patientsafety/education/curriculum/en/

Por isso, o Canadian Patient Safety Institute, em 2008, de acordo com Frank e Brien (2008), elaborou um modelo de competências para segurança do paciente que consiste em: 1. contribuir para a Cultura de Segurança do Paciente 2. trabalhar em equipes para a segurança do paciente 3. comunicar-se efetivamente para a segurança do paciente 4. gerenciar riscos à segurança 5. otimizar fatores humanos e ambientais 6. reconhecer, responder e revelar eventos adversos Essas são as metas que devem ser transmitidas aos alunos para que aprendam os valores do trabalho seguro em saúde, de maneira significativa e efetivem essas ações no dia a dia do trabalho. Há inúmeros exemplos na literatura que apresentam estratégias de ensino centradas na segurança do paciente, elas incluem:

O professor de enfermagem precisa elaborar estratégias de educação que reforcem os processos de atenção à saúde, desde o planejamento da ação do cuidado à execução das normas e rotinas padronizadas e sequenciais.

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A Universidade Federal de São Carlos mantém um laboratório virtual em que são desenvolvidos Jogos Interativos. Lá é possível encontrar o jogo Cuidando Bem, que apresenta os Protocolos de Segurança do Paciente do Ministério da Saúde.

Emprego da Metodologia da Problematização

Aulas expositivas e dialogadas com auxílio de recursos multimídia AULAS-DEBATES N de aulas

Duração

Para o professor

Para o aluno

Aula 1

0:30

1. Escolher um tema para realização de debate, baseado na Segurança do Paciente

1. Realizar a leitura do texto, disponibilizado pelo professor

2. Disponibilizar texto para leitura e estudo sobre este tema

2. Pesquisar novas literaturas baseadas nos aspectos que considera importantes e necessários para discussão em sala de aula

Acesse o site e conheça: http://www.loa.sead.ufscar.br/ cuidandobem.php

3. Solicitar aos alunos que façam a leitura do texto e realizem uma pesquisa sobre aspectos que consideram importantes e necessários para discussões, suscitadas a partir do texto lido 4. Elaborar 5 questões-chave baseadas no texto e no tema escolhido Aula 2

2:00

1. Moderar as considerações 2. Instigar o debate realizando as questões elaboradas durante o planejamento da aula

1. Cada aluno deverá apresentar suas considerações baseadas na leitura do texto e nas pesquisadas 2. Deverá defender seu ponto de vista e apresentar uma solução ou aprimoramento sobre o aspecto apontado 3. Cada aluno deverá fazer sua apresentação por 5 minutos (máximo).

2:30

Duração acumulada

Fóruns e seminários É possível também promover eventos baseados em comunicações orais científicas, como: JORNADA SOBRE SEGURANÇA DO PACIENTE Objetivo Discutir o gerenciamento de riscos no ambiente hospitalar e a biossegurança, além de promover a cultura da segurança do paciente Método 1. Aulas expositivas e dialogadas, baseadas em situações problemas, com auxílio de recursos multimídias. 2. As aulas serão conduzidas de forma a permitir a integração dinâmica entre os alunos e professor, por meio de discussões e debates. 3. Leitura de textos indicados para o aproveitamento dos estudos e aprofundamento sobre cada tema abordado. 4. Análise crítica dos textos de leituras. 5. Orientar os alunos sobre a dinâmica de apresentações de seminários e elaboração de textos, em seguida distribuir os seminários 6. Para avaliar as experiências de aprendizagem dos alunos, ao final da jornada eles farão autoavaliação sobre os temas abordados, refletindo sobre suas práticas Critério de avaliação Os alunos deverão ser avaliados pelo desenvolvimento da capacidade crítica e participação nas discussões em sala de aula, sobre os textos e seminários

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Estratégia para planejamento dos seminários Os seminários devem contemplar embasamento teórico sobre o tema, apresentar um caso real ou descrito na literatura, no intuito de exemplificar o assunto, como também abordar estratégias que possam ser utilizadas para aprimorar e operacionalizar a segurança, além de apontar os indicadores para o monitoramento desta.

Cronograma para as aulas expositivas e dialogadas com análise crítica dos textos de leituras9 Nº de aulas Aula 1

Duração 0:50

Para o professor 1. Aula expositiva dialogada, com recursos multimídias sobre:

Para o aluno Realizar pesquisa e estudo sobre os temas da Aula 2

- História da Segurança do Paciente - Conceitos de evento adverso, danos e erros 2. Solicitar aos alunos que realizem uma pesquisa sobre os temas da Aula 2 Aula 2

0:50

Debate e discussão sobre: - Higienização das Mãos - Biossegurança

Aula 3

0:50

Apresentar considerações, soluções e aprimoramentos sobre os aspectos discutidos dos temas

Aula expositiva dialogada, com recursos multimídias sobre: - Cultura da Segurança em ambiente hospitalar - Passagem de plantação e comunicação terapêutica

Aula 4

0:50

Seminário 1: Cuidado limpo, cuidado seguro

Aula 5

0:50

Seminário 3: Segurança na medicação

Seminário 2: Cirurgia segura Seminário 4: Prevenção da resistência antimicrobiana e a segurança do paciente Aula 6

0:50

Seminário 5: Pacientes para segurança do paciente Seminário 6: Identificação do paciente

Aula 7

0:50

Seminário 7: Comunicação e segurança do paciente Seminário 8: Soluções para a segurança do paciente

Aula 8

0:30

Promover discussões para que os alunos percebam seus desempenhos sobre a segurança do paciente

Autoavaliação

Acredita-se também que garantir a segurança dos pacientes pode ser produto de uma efetiva utilização das estratégias de atendimento durante a formação. Neste sentido, o uso de simulações na educação permite a prática de habilidades técnicas necessárias em um ambiente controlado, promovendo o crescimento profissional, criticidade e reflexão sobre os cuidados prestados ao paciente. [...] “os alunos são estimulados e capazes de definir problemas com precisão, separando informações possíveis de serem solucionadas, isto ocorre devido às abordagens de aprendizagem que sofrem modificações pelas formas de ensinar” (FONSECA et al, 2014).

9  Os temas sugeridos para o desenvolvimento dos Seminários foram extraídos do Enfermagem Dia a Dia – Segurança do Paciente. COREN-SP (2009).

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Outro exemplo, utilizado para dinamizar as aulas de Segurança do Paciente é o Estudo de Caso, observe o Quadro 4:

Quadro 4: Exemplo de plano de aula com utilização de Estudo de Caso10. Segurança do Paciente/Doente, o que é? Objetivo Descrever os conceitos fundamentais da área de segurança do paciente, considerando os contextos social, cultural e econômico. Método 1. Breve apresentação sobre a teoria 2. Apresentação de exemplos para aproximação do conteúdo à realidade do aluno 3. Discussão sobre o tema abordado e situação problema apresentada Sugestão de temas para aula expositiva e dialogada 1. Os cuidados inseguros nos países em desenvolvimento 2. Cuidados inseguros associados aos materiais médicos 3. Sangue inseguro e medicamentos falsificados 4. Deficiência de profissionais de saúde qualificados 5. Classificação Internacional de Segurança do Paciente 6. Fatores sistêmicos que resultam em dano ao paciente 7. Cultura de Segurança Exemplos • Uma enfermeira administra a um paciente/doente uma dose 4 vezes maior de metotrexate e o paciente/doente morre. • O cirurgião remove o rim sadio do paciente/doente. • O paciente/doente recebe uma dose de insulina 10 vezes superior, tem um choque hipoglicêmico, é reanimado, mas o incidente resulta em dano cerebral permanente. Apresentação de Caso Paciente/doente de 64 anos foi admitida num hospital com febre e diagnosticada com pneumonia, sendo prescrita penicilina. No segundo dia de internação, a paciente/doente desenvolveu uma erupção cutânea grave. O hospital estava superlotado e nenhum médico sênior estava disponível. O médico residente/interno, apesar da evolução dos sintomas, manteve o tratamento. No quarto dia, a paciente/doente apresentou-se desorientada, levantou do leito/cama à noite, escorregou, caiu e fraturou a bacia. O chão estava molhado. A paciente/doente faleceu no sétimo dia de internação/internamento. Quais foram as principais falhas? Discussão sobre os fatores causais apresentados na situação problema 1. Quais fatores individuais causaram o erro? 2. Quais foram as falhas sistêmicas que não evitaram a ocorrência de erros?

Pode-se lançar mão de alternativas para facilitar o processo de aprendizado do aluno, como o uso de vídeos para iniciar um debate de discussão sobre análise de eventos adversos em situações que ocorreram o erro. O vídeo consiste em uma estratégia de ensino de maior impacto na aprendizagem quando comparada com a linguagem escrita, pois possui uma série de imagens com movimentos gráficos, textos e sons que permitem ao espectador melhor compreensão do tema apresentado, facilitando a construção do conhecimento principalmente se possui até 10 minutos de duração. Diversas experiências de aprendizagem foram descritas com sucesso empregando o vídeo no ensino de alunos de enfermagem (MOREIRA et al, 2013).

10  Modelo utilizado pela Organização Mundial da Saúde. Curso Introdutório: Investigação em Segurança do Paciente.

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A presença das tecnologias no cotidiano da enfermagem, em especial no ambiente de trabalho, tem se tornado crescente e indispensável, sendo que, quando as mesmas são utilizadas e administradas de forma adequada e inteligente, podem beneficiar a prática do cuidado seguro.

Conclusão Sabe-se que, errar é humano e o erro pode estar presente no dia a dia de qualquer profissional. Observam-se relatos de grandes taxas de incidentes acometidos nas instituições de saúde, resultantes de uma prática não supervisionada e ações praticadas por profissionais mal capacitados. Portanto, é fundamental buscar a melhoria da qualidade da formação do Técnico em Enfermagem para contemplar as melhores práticas relacionadas à assistência de enfermagem. Para iniciar um processo de formação com melhoria na qualidade e segurança, é preciso empregar esforços repetitivos para alcançar os objetivos de aprendizagem do aluno. É importante compreender que ele deve passar por um processo intenso de treinamentos para apreender o conhecimento e as habilidades técnicas de forma adequada para a força de trabalho.

Para orientá-lo sobre o planejamento e organização de uma aula, baseada na Metodologia Simulação Realística, disponibilizamos o material didático utilizado na capacitação realizada em 2014. Acesse o CD Manual do Cursista e consulte Metodologias ativas: da teorização à contextualização

Os educadores necessitam estar preparados para criarem novas proposições para o desenvolvimento de habilidades em seus alunos, desenvolvendo experiências de aprendizagem para que se oportunize um processo de ensino no cuidado seguro e centrado no paciente, identificando os desvios de sua prática e auxiliando a determinar quais as ações que necessitam ser implantadas para sua correção. A educação dos futuros profissionais merece um maior destaque, enfatizando o desenvolvimento de competências técnicas que exijam a reflexão antes da ação, para garantir o cumprimento das metas de segurança do paciente. Dessa forma, lança-se o desafio em educar o futuro Técnico em Enfermagem de maneira ética, visando preencher uma lacuna de conhecimento sobre como desenvolver saberes e fazes específicos para um cuidado seguro e efetivo.

Referências FONSECA, A. S.; AFONSO, S. R.; FUJITA, M. L. Z. Metodologias ativas: da teorização à contextualização. 1. ed. São Paulo: Centro Paula Souza, 2014. 42 p. FRANK, J.R; BRIEN, S. The safety competencies: enhancing patient safety across the health professions. Ottawa (ON): Canadian Patient Safety Institute, 2008. Disponível em: <http:// www.patientsafetyinstitute.ca/English/toolsResources/safetyCompetencies/Pages/default. aspx>. Acesso em: 06 jun 2015. MOREIRA, C. B; et al. Construção de um vídeo educativo sobre detecção precoce do câncer de mama. Revista Brasileira de Cancerologia. São Paulo, v. 59, n. 3, 2013. Disponível em: <http://www.inca.gov.br/rbc/n_59/v03/pdf/10-artigo-construcaovideo-educativo-sobre-deteccao-precoce-cancer-mama.pdf>. Acesso em: 05 jun 2015.

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Relacionamento interpessoal entre a enfermagem e a segurança do paciente O processo de comunicação é essencial entre as pessoas, pois se constitui em um meio de transmissão da informação, resultante das necessidades humanas básicas de expressão. Esta expressão pode ser estabelecida por inúmeras maneiras, como a forma verbal, não verbal e paraverbal. A hospitalização, de acordo com Furegato (1999), é uma das situações que provocam mudanças súbitas na vida das pessoas, alterando a maneira de ser e estar no mundo. Neste sentido, é importante compreender que o paciente enfrenta essa separação com desconforto, insatisfação (pela perda dos limites) e negação da própria doença (independente do diagnóstico estabelecido). Essa perda das rotinas diárias pode desencadear mecanismos de defesa e apresentar comportamentos diferentes à fase anterior da doença. Neste momento ele se expressa, principalmente, pela forma não verbal e paraverbal (independente da faixa etária), portanto é necessário que o profissional de enfermagem saiba interpretar as manifestações corporais para estabelecer um processo de comunicação efetivo. Ao abordar o tema Comunicação, nas aulas sobre cultura de segurança do paciente, o professor de enfermagem pode valer-se da técnica SBAR para estabelecer um processo de aprendizagem mais efetivo, observe o Exemplo 1.

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Exemplo 1: Comunicação entre equipe multiprofissional sem aplicação da técnica SBAR Olá doutor, o Sr. P está tendo uma dor torácica. Ele estava andando no corredor e comeu bem no jantar. Não sei o que está acontecendo, mas já pedi um eletrocardiograma. Ele estava um pouco sudorêico quando teve a dor, mas já lhe dei todos os medicamentos inclusive a insulina e o antibiótico. Ele foi submetido a uma colectomia ontem e está em uso de uma bomba de PCA.

A técnica de SBAR11 consiste no estabelecimento sistemático e sequencial das informações para efetivar uma comunicação (clara, concisa, completa e uniforme), de maneira que seja possível identificar e verificar uma ordem das ações observadas e providenciadas, como: SITUAÇÃO 1. Quem você é? 2. Qual é a razão do chamado? 3. O que está acontecendo? BACKGROUND 1. Diagnóstico de admissão do paciente que você observou? 2. História resumida do paciente? 3. Qual é o tratamento atual do paciente? AVALIAÇÃO 4. 1. O que mudou, do momento que você observou para o momento de intercorrência? 5. 2. Quais são os dados do exame físico atual? 6. 3. Existem resultados significativos a serem apresentados? RECOMENDAÇÃO 7. 1. Há necessidade de transferir o paciente do local onde se encontra neste momento? 8. 2. Há necessidade de solicitar, com urgência, a pessoa que você está comunicando a informação? 9. 3. Qual é a sugestão de condutas para o paciente observado? 11  Técnica de SBAR apresentada pelo Dr. Antonio Capone Neto, do Hospital Israelita Albert Eistein. Fonte: http://apps.einstein.br/sien/docs/aulas/o-processo-de-comunicacao-e-a-seguranca-do-paciente-handover-communication.pdf

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Observe, no Exemplo 2, a mesma comunicação, agora com a aplicação da técnica de SBAR: Exemplo 2: Comunicação entre equipe multiprofissional com aplicação da técnica SBAR Olá doutor, aqui é a enfermeira RRR da Enfermaria Cirúrgica e estou acompanhando o paciente Sr. PPP. Ele teve uma dor torácica de forte intensidade há cerca de 5 minutos, acompanhada de dispneia e sudorese. É um homem de 68 anos, com história prévia de doença cardíaca, que sofreu uma colectomia ontem, sem complicações. Pedi um eletrocardiograma e minha preocupação é que ele esteja tendo um infarto ou embolia pulmonar. Seria muito interessante que o Sr. viesse aqui imediatamente.

A enfermagem desenvolve um processo de interação constante entre os pacientes mediante um encontro intencional e busca, de alguma forma e por algum propósito, estabelecer uma comunicação autêntica, específica e significativa para alcançar um objetivo comum, a comunicação terapêutica para o cuidado. Por isso, o conhecimento dos métodos de comunicação é essencial para a atuação da enfermagem, pois sua capacidade de interação está relacionada com as competências profissionais, que é solucionar conflitos, reconhecer limitações pessoais e enfrentar desafios. Quando o profissional de enfermagem estabelece esse processo de comunicação efetivo e o incorpora à sua rotina diária de trabalho, o paciente compreende que esse profissional será capaz de ajudá-lo em todos os momentos, auxiliando-o em sua recuperação. Espera-se que toda atuação da enfermagem deva ocorrer de maneira compreensiva, privilegiando o paciente como centro da assistência já que este profissional surgiu da necessidade de se ter pessoas cuidadoras dos doentes. Neste modelo, o terapeuta desenvolve um relacionamento estreito com o paciente; utiliza a empatia para perceber os sentimentos do paciente e utiliza o relacionamento como uma experiência interpessoal corretiva (RIBEIRO, 2005, p.36). Mas essa comunicação só será efetiva se todos os envolvidos souberem para que ela servirá. Em outras palavras, se os profissionais de saúde não compreenderem as metas institucionais, assim como o propósito do seu ambiente de trabalho, eles não cumprirão as rotinas e não estabelecerão processos de avaliação do cuidado, porque simplesmente não sabem “o que e para que” estão executando suas funções.

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Processo de comunicação e o gerenciamento de riscos As instituições de saúde impõem metas de qualidade que devem ser cumpridas em determinados prazos e, para isso, cobram de cada profissional a execução de regras e produtividade que devem atingir um processo de mecanização do processo de cuidar, dificultando o estabelecimento de uma comunicação terapêutica pautada na empatia, na escuta e no respeito ao paciente (PAULA; SCATENA, 2000). Neste sentido, é mais fácil desencadear um erro que coloque a segurança do paciente em risco. Por isso, a Enfermagem deve traçar um plano de gerenciamento dos riscos decorrentes pela falta de uma comunicação efetiva e estabelecer a importância de assistir o indivíduo, por meio de um cuidado compromissado, resultando em ações pautadas na ética e qualidade na prestação dos serviços em saúde. Uma comunicação eficiente traz confiança e influencia no bem-estar do paciente, além de resultar numa qualidade do cuidado voltada para a segurança do paciente. Um exemplo de estratégia de ensino que pode estabelecer o processo de comunicação para a segurança do paciente é a aplicação de oficina de trabalho em grupo, observe:

Quadro 5: Exemplo de roteiro de oficina – A comunicação efetiva Justificativa As oficinas com alunos de enfermagem possibilitam uma maior reflexão sobre o processo de comunicação entre a enfermagem e o paciente, já que são eles os protagonistas para estabelecer uma comunicação terapêutica com o paciente, instigando-os com perguntas e exemplos de situações que ocorrem no cotidiano, sempre privilegiando o diálogo no grupo. Preparação − As oficinas têm a duração de 1 hora/aula, ou seja, 45 ou 50 minutos, dependendo do período das aulas (nas turmas da noite as aulas são mais curtas). − É aconselhável verificar um espaço específico para oficina (sala de aula, laboratório de enfermagem etc.). − Nesse espaço, arrumar as cadeiras em um círculo grande (as carteiras podem ficar atrás desse círculo); ainda, preparar a utilização do “datashow”. Material necessário − “data-show” − tirinhas de papel (recortadas do tamanho necessário para escrever apenas uma palavra) − caixinha para recolher as tirinhas − folhas de papel.

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Roteiro da oficina Apresentação (10 minutos) − Após os estudantes sentarem-se em círculo, o professor explica o objetivo da oficina, enfocando a necessidade de se estabelecer a comunicação terapêutica para a segurança do paciente. − Entregar uma tirinha de papel para cada estudante e pedir para que eles escrevam a primeira palavra que lhes vem à cabeça quando ouvem “Comunicação” ou “Segurança do Paciente”. − Ressaltar que é a primeira palavra, não existe uma resposta certa ou errada e não precisa pensar muito; se não lembrar de nada pode escrever “nada” ou “não sei”; não vale repetir “segurança”. − Recolher a tirinha na caixinha e, depois, ler cada uma das palavras. As palavras mais escritas deverão ser apresentadas no quadro branco ou flipchart. − A partir das palavras que foram escritas, explicar qual a atuação do Técnico em Enfermagem para efetivar uma comunicação terapêutica, visando a segurança do paciente. (Aqui, você pode utilizar a técnica de SBAR, página 32). − Perguntar se alguém sabe outras formas de se estabelecer uma comunicação efetiva entre o paciente e a equipe de trabalho em saúde. − Enfatizar que, é importante que eles saibam como estabelecer um processo de comunicação efetivo e sobre quais são as consequências de uma comunicação interrompida ou errônea. Formas de comunicação (5 minutos) − Focar na atuação do Técnico em Enfermagem nas diferentes unidades de tratamento do paciente. − Explicar como são as formas de comunicação entre as diferentes faixas etárias. − Perguntar qual a primeira palavra que vem à cabeça quando ouvem a palavra “escrita” e “comunicação não-verbal e paraverbal”. − Perguntar o que se deve fazer quando a comunicação não é estabelecida com o paciente ou quando há equívocos na interpretação das informações transmitidas. − Citar exemplos de situações conflituosas quando a comunicação é equivocada. (Aqui, você pode ilustrar os exemplos por vídeos). − Finalizar a sessão reforçando sobre a postura do Técnico em Enfermagem quando se depara com paciente, familiares e profissionais de saúde com dificuldade de comunicação terapêutica. − Pedir para eles se separarem em grupos e formarem um círculo menor para cada grupo. O que fazer para estabelecer uma comunicação terapêutica? (25 minutos) − Quando eles estiverem organizados em grupos menores, passar o vídeo “Falha de comunicação causa erro médico em criança de 8 meses, de 03 de dezembro de 2014 ”, disponível no site da Globo Campo Grande e no Cd Manual do Cursista. − Distribuir uma folha de papel para cada grupo, solicitando que desenhem um exemplo de comunicação terapêutica eficaz. − Cada grupo terá um tema: passagem de plantão, anotação de enfermagem, relatando uma intercorrência, comunicando-se com o paciente e familiar. Além do desenho, o grupo também poderá pensar em outros exemplos do tema proposto, mas só precisa desenhar um. − Nesse momento, o professor deve atentar para o tempo, interagindo com os grupos para que eles não demorem muito no desenho (no máximo 10 minutos). Ao final, pedir para colocar o nome de todos os integrantes na folha. − Recolher as folhas e orientar para retornarem ao círculo maior. − Mostrar cada desenho para todos, no círculo maior. Por exemplo: vejam o desenho do grupo da aluna 1, aluna 2, [...] sobre o processo de escuta ao paciente (caminhar no círculo grande, mostrando o desenho para todos – isso pode demorar um pouco, porque na maioria dos desenhos há textos escritos, como uma charge ou uma tirinha). − Perguntar: • O que vocês entenderam desse desenho? • Era isso mesmo que o grupo tinha pensado? • Alguém conhece outros exemplos? − Fazer a abordagem em cada tema, explicando o processo adequado para estabelecer uma comunicação terapêutica eficaz. − Para cada tema abordado provocar os alunos, para que apontem quais consequências são geradas pela comunicação ineficaz e como realizar uma comunicação eficaz. − Por fim, ressaltar a importância de se estabelecer uma cultura de segurança do paciente e cumprimento de normas padronizadas.

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Divulgação: Concurso de Redação e Tirinha/Charge (5 minutos) − Para incentivar os alunos a refletirem sobre o tema Comunicação Terapêutica e a Segurança do Paciente, lançar um concurso de redação e de tirinha/charge para todos os alunos do curso de enfermagem, com o tema “Como realizar o gerenciamento de riscos e a segurança do paciente nas instituições de saúde? ” − Divulgar a data limite para a entrega dos trabalhos, bem como o regulamento dos concursos (número de linhas, jurados, ...) e os prêmios (publicação em jornal, camiseta Segurança do Paciente etc). − Divulgar também que será realizado um evento na escola para apresentar os resultados da oficina; nesse dia, os alunos poderão participar de outras formas (apresentação de paródias, peças de teatro, vídeos), devendo procurar a escola para informar sobre essas atividades.

Conclusão A importância e a complexidade da comunicação terapêutica representam a base e o fundamento para as relações enfermagem e paciente, constituindo um instrumento básico para o desenvolvimento das funções assistenciais de enfermagem. A utilização das técnicas de comunicação terapêutica visa à recuperação do paciente, oportunizando a aproximação da assistência de enfermagem com os seus princípios, que defende o cuidado integral, ao mesmo tempo em que se promove o bem-estar do paciente. Para alcançar uma comunicação satisfatória e prestar um cuidado humanizado é preciso que o profissional de enfermagem deseje envolver-se e acreditar que sua presença é tão importante quanto a realização de procedimentos técnicos, uma vez que nem sempre os procedimentos técnicos funcionam tão bem diante de situações de estresse como as relações pessoais que se revelam na comunicação terapêutica. Assim, é preciso reconhecer que ficar ao lado do paciente para ouvi-lo é uma ação terapêutica e é também determinante para o processo de recuperação da saúde.

Referências FUREGARO, A. R. F. Relações interpessoais terapêuticas na enfermagem. São Paulo: Scala, 1999. PAUL, A. A. D.; SCATENA, M. C. M. Interação enfermeiro-familiar de paciente com comunicação prejudicada. Revista Latino Americana de Enfermagem. São Paulo. v. 8, n. 4, 2000. RIBEIRO, M. I. L. C. A teoria, a percepção e a prática do relacionamento interpessoal. 2005. 106 f. (Doutorado em Enfermagem Psiquiátrica). Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, São Paulo, 2005.

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Análise de causa raiz A Segurança do Paciente consiste na prevenção de erros durante o cuidado de enfermagem prestado, eliminando os danos causados por tais erros. O erro cometido, durante o cuidado de enfermagem, resulta de um fator provocado externamente ou internamente àquele profissional. A cultura de punir o profissional, quando se detecta o erro, deve ser banida dos processos de gerenciamento de riscos, empregando esforços para se estabelecer uma cultura de não punição e adotando medidas de segurança para evitar os erros ou, se não for possível evitá-los, relatá-los imediatamente. Neste sentido, o método mais utilizado para investigar e analisar os erros cometidos durante o cuidado de enfermagem, é a análise de causa raiz que investiga todos fatores predisponentes a um erro, ou que potencializa ações de prevenção do erro (TEIXEIRA; CASSIANI, 2010). Além disso, o método não se resume em encontrar as causas, mas tenta resolver os processos falhos do cuidado, a fim de estabelecer um procedimento padronizado. É uma ferramenta muito utilizada para o gerenciamento de qualidade, pois investiga o “porquê as coisas deram errado”. Através de um processo sistemático, a análise de causa e raiz investiga o erro e reconstrói as sequências de cada etapa que levaram até aquele evento adverso, possibilitando a identificação dos fatores causais e, consequente, avaliação para implementação de estratégias de prevenção. Constitui-se na investigação das causas de ocorrências dos erros, por meio das perguntas: − O que aconteceu? − Como aconteceu? − Por que aconteceu? − O que pode ser feito para impedir que isso aconteça novamente? − As ações implementadas realmente melhoram a segurança dos processos?

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Exemplo 3: Abordagem Sistêmica Paciente de 76 anos, internado em um hospital do Polo Norte, com prescrição de lavagem do Cateter Venoso Central de Inserção Periférica (PICC) com Cloreto de Sódio a 0,9%. A enfermeira, inadvertidamente, administrou 10ml de Cloreto de Potássio concentrado... o paciente morreu em poucos minutos. FATORES QUE CONTRIBUÍRAM PARA O ERRO: fácil acesso ao Cloreto de Potássio no posto de enfermagem, medicamento parecido... AÇÕES MULTIDISCIPLINARES: acondicionamento dos medicamentos de forma correta; elaboração de protocolos; treinamentos das equipes...

Para desenvolver a análise de causa raiz é importante estabelecer: − Organize uma equipe de trabalho; » Não mais do que 8 a 10 pessoas » Formação e papéis desempenhados • Conhece a análise de causa raiz? • Conhece a área ou evento analisado? • Conhece as circunstâncias que cercaram o evento? • Tem atitude para implementar ações e recomendações? • Respeita os princípios de confidencialidade? − Descreva detalhadamente o que aconteceu e como; » Descrição detalhada do evento, incluindo sua cronologia » Áreas, serviços ou setores afetados pelo evento » Entreviste pessoas envolvidas no evento » Visite o local do evento » Investigue os procedimentos organizacionais » Analise os prontuários de pacientes − Identifique as causas proximais (diretamente responsáveis pela ocorrência do erro); − Identifique as causas raízes (resultado de um problema organizacional; um sistema maior do qual o processo faz parte); − Identifique e implemente ações para a redução do risco de recorrência do erro; » Estratégia de ação para redução do risco » Estabelecer a pessoa responsável pela execução » Estabelecer prazos de execução − Avalie a efetividade das ações tomadas. » Elaboração de indicadores quantificáveis » Esboçar a coleta de dados • Tipo de amostra

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• Tamanho • Tipo de observação • Análise pré-teste e pós teste • Teste piloto • Auditoria • Meta alcançável

Referência TEIXEIRA, T. C. A.; CASSIANI, S. H. B. Análise de causa raiz: avaliação de erros de medicação em um Hospital Universitário. Revista da Escola de Enfermagem USP. São Paulo. v. 44, n. 1, 2010.

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Anexo I POP Higienização das Mãos Modelo de Procedimento Operacional Padrão de Enfermagem do Hospital Getúlio Vargas12

12 O Manual de normas e rotinas de enfermagem do Hospital Getúlio Vargas está disponível no endereço: http://www.hgv.pi.gov.br/download/201207/HGV20_d747ba8b2b.pdf

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Anexo II Diagrama em espinha de peixe

Fatores individuais

Fatores ligados ao paciente

Fatores ligados à tarefa

Educação e treinamento

Fatores sociais e ligados à equipe

Vincristina administrada pela via espinhal

CondiçõesFerramenta de desenvolvida Equipamento e pela NHS National Patient Safety Agency, Reino Unido. Comunicação trabalho recursos

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Fatores organizacionais e estratégicos


Anexo III Considerando... Por favor, utilize as perguntas para refletir sobre a sua experiência como professor de enfermagem que irá desenvolver aulas sobre a Segurança do Paciente.

Normas e Rotinas de Enfermagem: 10. 1. É possível considerar o uso de procedimentos operacionais padrão e protocolos para desenvolver um aprendizado teórico e prático ao aluno, durante as aulas de Semiotécnica? 11. 2. Os alunos apreendem mais facilmente os significados conceituais e suas rotinas quando utilizam os procedimentos operacionais padrão e, em caso negativo, quais influências impedem a adoção de técnicas padronizadas?

O Currículo de Segurança do Paciente na Enfermagem: 12. 1. Como integrar a cultura de segurança do paciente nas Bases Tecnológicas dos componentes curriculares do Plano de Curso Técnico em Enfermagem? 13. 2. O que é preciso fazer para garantir um perfil de formação adequado para a segurança do paciente?

Relações Humanas:

14. 1. Quais estratégias são necessárias para que o aluno desenvolva um comportamento profissional ético e centrado no cuidado seguro? 15. 2. Como estabelecer uma cultura de trabalho em equipe colaborativa, cooperativa e empática?

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Anexo IV A aliança mundial para a Segurança do Paciente e os desafios globais

Texto extraído da Secretaria de Estado da Saúde do Paraná

Objetivo de leitura: Possibilitar aos participantes a compreensão dos fundamentos que orientam a Aliança para a Segurança do Paciente - justificativa, objetivos, etapas, desafios, metas para a segurança do paciente. Um marco importante para a segurança do paciente se deu em outubro de 2004, quando a OMS lançou formalmente a Aliança Mundial para a Segurança do Paciente, recomendando aos países maior atenção ao tema Segurança do Paciente (WHO, 2006). O elemento central da Aliança Mundial para Segurança do Paciente é o Desafio Global para Segurança do Paciente, que a cada biênio lança um tema prioritário a ser abordado. Em 2005-2006 o assunto selecionado foi a prevenção e controle das IRAS (Clean Care is Safer Care). Em 2007-2008, o tema prioritário foi Cirurgias Seguras Salvam Vidas (Safe Surgery Saves Lives). O primeiro Desafio Global para a Segurança do Paciente, da OMS, está voltado para a Higiene das Mãos (HM), medida simples, mas de muita importância para a prevenção de IRAS. A HM é considerada uma das medidas mais simples e mais eficazes para a prevenção e controle das IRAS. A situação ideal para a HM deve incluir produtos de ação microbicida rápida, capaz de reduzir a contaminação das mãos para níveis seguros e que não tenha efeito adverso significante na pele dos usuários. Atualmente, o uso de um produto para fricção higiênica sem o uso de água é amplamente recomendado, pela facilidade de sua distribuição na instituição. Ainda, estudos recentes sobre a introdução de novos métodos de HM apontam que o uso de preparação alcoólica aumentou

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a adesão a estas práticas. Apesar das diversas evidências científicas e das disposições legais, estudos observacionais mostram baixa adesão à HM nas unidades de internação de hospitais em todo o mundo. A baixa adesão às práticas de higienização das mãos ocorre devido a vários fatores, como: falta de tempo de profissionais de saúde pela alta carga de trabalho; ausência de pias; falta de insumos como sabão, antisséptico e papel-toalha; falta de estímulo; falha na atitude pessoal; presença de dermatites; ressecamento ou outras lesões de pele; falta de treinamento e informações. Sendo assim, novas estratégias e métodos devem ser empregados na prática diária dos serviços de saúde, de forma a aumentar a adesão dos profissionais de saúde às boas práticas de HM. Cabe ressaltar que em 2010, a ANVISA publicou a RDC n°. 42, de outubro de 2010 (BRASIL, 2010), que dispõe sobre a obrigatoriedade de disponibilização alcoólica para fricção antisséptica das mãos, pelos serviços de saúde. O Segundo Desafio Global para a Segurança do Paciente, Cirurgias Seguras Salvam Vidas, foi lançado pela OMS com o intuito de desenvolver diretrizes para tornar os procedimentos cirúrgicos mais seguros nos serviços de saúde. Problemas relacionados às cirurgias em países desenvolvidos representam pelo menos 50% dos Eventos Adversos (EA) evitáveis que resultam em óbito e sequelas. Nos países em desenvolvimento a infraestrutura precária e as más condições dos equipamentos para a saúde, o suprimento descontínuo, a sobrecarga de trabalho, a baixa capacitação técnica dos profissionais que estão desmotivados ou desatualizados, e a escassez de recursos financeiros para os custos dos serviços de saúde tornam ainda mais provável a ocorrência de EA. A OMS estima que ocorra um procedimento cirúrgico para cada 25 indivíduos por ano (OMS, 2008). O programa Cirurgias Seguras Salvam Vidas, desenvolvido pela OMS, visa à melhoria da segurança e redução do número de mortes e complicações cirúrgicas de quatro maneiras: 1. Prevenção de Infecção do Sítio Cirúrgico (ISC);


2. Anestesiologia segura; 3. Equipes cirúrgicas eficientes; 4. Mensuração de complicações ocorridas após a assistência cirúrgica. No Brasil, iniciativa conjunta do Ministério da Saúde (MS), Anvisa e OPAS/OMS, reuniu esforços para a viabilização do projeto Segurança do Paciente em serviços de saúde – Cirurgias Seguras Salvam Vidas (BRASIL, 2011). Sabe-se que o planejamento e a sistematização podem auxiliar na redução significativa da mortalidade e das complicações dos procedimentos cirúrgicos, independentemente do nível de complexidade. Para ajudar a reduzir a ocorrência de danos ao paciente durante o ato cirúrgico, a OMS elaborou e disponibilizou a Lista de Verificação de Segurança Cirúrgica (LVSC), desenvolvida para reforçar práticas de segurança cirúrgica. A checagem dos itens da LVSC da OMS é feita em três tempos: antes da indução anestésica (SIGN IN); antes da incisão (TIME OUT) e antes do paciente sair da sala de operação (SIGN OUT). A LVSC abrange pontos importantes na prevenção da ISC e dos EAs associados à assistência à saúde bem como do controle da resistência microbiana, tais como: 1. Identificação: do paciente, do sítio cirúrgico e do procedimento a ser realizado; 2. Confirmação: etapa na qual a profilaxia antimicrobiana, quando indicada, deve ser realizada 60 minutos antes da incisão cirúrgica e também é verificada a validação do processamento dos instrumentais cirúrgicos nesta etapa, e; 3. Registro: etapa fundamental para também avaliar a qualidade do procedimento cirúrgico. Cerca de 220 milhões de cirurgias são realizadas a cada ano. Neste montante, os estudos iniciais revelam uma diminuição da mortalidade superior a 40% e superior a 37% nas grandes complicações, sinalizando uma importante modificação nos resultados dos procedimentos cirúrgicos desde a intervenção da OMS, por meio da im-

plantação do Programa Cirurgias Seguras Salvam Vidas, incluindo a implementação da LVSC.

Referências BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. RDC n°. 42, de 25 de outubro de 2010. Dispõe sobre a obrigatoriedade de disponibilização de preparação alcoólica para fricção antisséptica das mãos, pelos serviços de saúde do país e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 26 out. 2010. BRASIL. Resolução da Diretoria Colegiada - RDC nº. 63, de 25 de novembro de 2011. Requisitos de Boas Práticas de Funcionamento para os Serviços de Saúde. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 28 nov. 2011. GALLOTTI, R. Eventos Adversos – o que são? Rev Assoc Med Bras, v.50 (2), p. 109-26, 2004. Kohn, L.; Corrigan, J.; Donaldson, M. To err is human: building a safer health system. Washington, DC: Committee on Quality of Health Care in America, Institute of Medicine: National Academy Press, 2000. MENDES, W. Avaliação da ocorrência de eventos adversos em hospital no Brasil. [tese]. Fundação Oswaldo Cruz. 2007. WHO (World Health Organization). The WHO Guidelines on Hand Hygiene in Health Care. First Global Patient Safety Challenge Clean Care Is Safer Care. Geneva: WHO Press, 2009. 262p. WHO (World Health Organization). World Alliance for Patient Safety: forward programme 2006-2007. Geneva: WHO Press, 2006. 56 p. WHO, World Health Organization. Sumary of the evidence on patient safety: implications for research. Edição: Ashish Jha. 2008. World Health Organization. WHO guidelines for safe surgery. Geneva: WHO; 2009.

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Bibliografia consultada PARANÁ. Secretaria de Estado da Saúde do Paraná. Manual das oficinas do curso de gestão hospitalar dos HOSPSUS. Curitiba: SESA, 2013, p. 128-132.

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